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CONGRESSO DE VIENA E A SANTA ALIANÇA

O Congresso de Viena foi uma conferência realizada entre os


embaixadores das grandes potências europeias, que ocorreu em
Viena, capital da Áustria, entre setembro de 1814 e junho de 1815. O
objetivo do Congresso de Viena era redesenhar o mapa político da
Europa após a queda do Império Napoleônico, restaurando os tronos
das famílias reais que haviam sido derrotadas pelas forças de
Napoleão Bonaparte. Assim surgiu a Santa Aliança – acordo militar
que tinha por objetivo conter a difusão do ideário revolucionário
francês, mantendo o Absolutismo como filosofia de Estado. O tratado
da Santa Aliança foi assinado no dia 26 de setembro de 1815, em
Paris.

Poderes na Política Europeia


O sentimento expresso no Congresso de Viena era de
conservadorismo, ou seja, uma filosofia baseada no desejo de
preservar os modos e pensamentos tradicionais. O conservadorismo
do século XIX foi uma reação contra as ideias do Iluminismo e as
grandes mudanças efetuadas durante a Revolução Francesa. Os
principais líderes do conservadorismo eram europeus da alta classe,
que tinham muito a perder com as mudanças sociais. Os
conservadores acreditavam que os revolucionários franceses haviam
praticamente destruído a civilização humana.
Opondo-se ao conservadorismo havia o liberalismo, filosofia
originária do Iluminismo e da Revolução Francesa. O liberalismo
enfatizava a liberdade individual, a igualdade perante a lei e a
liberdade religiosa e de expressão. Tanto a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão francesa e a Declaração de Direitos (Bill of
Rights) norte-americana expressavam tais ideais.
No século XIX, os liberais eram, em sua maioria, pessoas da classe
média, como banqueiros, comerciantes, advogados, jornalistas,
universitários e intelectuais. Os liberais apoiavam uma Constituição
escrita, um governo parlamentarista e a proteção dos direitos naturais
dos homens. Alguns liberais, porém, não apoiavam a ideia de
compartilhar o poder com o povo e acreditavam que governantes
deveriam ser alfabetizados e educados ou donos de propriedade.
O nacionalismo crescia na Europa durante o século XIX. Sentimentos
nacionalistas haviam sido fortemente expressos durante a Revolução
Francesa; os combatentes da Revolução não lutaram por dinheiro ou
para apoiar algum líder popular, mas sim, pela nação francesa. Em
outros países da Europa, os movimentos nacionalistas - campanhas
por independência e reformas - ganhavam muitos adeptos.

O Congresso de Viena
Representantes no Congresso de Viena decidiram restaurar o
conservadorismo na Europa e impedir a disseminação de ideais
liberais e nacionalistas. Eles tinham quatro objetivos principais:
restaurar o equilíbrio de poder europeu, retirar as liberdades que o
povo europeu havia conquistado, trazer antigos governantes de volta
ao poder e construir uma paz duradoura no continente.
Ao Congresso de Viena compareceram nove monarcas governantes,
entre eles, o czar Alexandre II da Rússia, o rei Frederico Guilherme III,
da Prússia e o anfitrião e imperador Francisco I, da Áustria. A maioria
dos outros representantes era composta de aristocratas.

Alexandre II da Rússia e imperador Francisco I da Áustria


Uma personalidade, em particular, se destacou no Congresso -
o príncipe Klemens von Metternich, sagaz diplomata austríaco.
Metternich tinha verdadeira aversão às ideias liberais que foram
introduzidas durante a Revolução Francesa. Metternich acreditava que
os ideais de liberdade e igualdade causaram 25 anos de guerra e
problemas sociais (1789-1814).
Metternich
Metternich também desprezava o movimento nacionalista, pois ele
representava uma ameaça perigosa ao Império Austríaco. Diferentes
nações viviam sob o domínio austríaco; Metternich temia que se esses
povos exigissem sua independência e o Império Austríaco entrasse
em colapso.

Novas Fronteiras Europeias

Em 1815, os representantes reunidos em Viena terminaram de


elaborar um acordo de paz. Com isso pretendiam restaurar o equilíbrio
de poder ao modificar as fronteiras da Europa.
Para conter o poder da França, os aliados fortalecerem os vizinhos do
país. A Suíça, a leste, recuperou sua independência. A Holanda, a
nordeste, tornou-se um reino que passou a incluir a Bélgica. O
Piemonte, no norte da Itália, foi tomado da França e entregue ao
Reino da Sardenha. A Áustria adquiriu os estados italianos da
Lombardia e Vêneto e outros territórios no Mar Adriático. A Prússia
recebeu terras na fronteira oriental da França, mas não tantas quanto
desejava.
Os outros aliados também foram recompensados por fazer oposição a
Napoleão. A Rússia foi autorizada a manter a Finlândia e uma grande
parte da Polônia; a Suécia recebeu a Noruega. A Grã-Bretanha
manteve suas posses no exterior que havia conquistado durante as
Guerras Napoleônicas, incluindo a colônia holandesa do Cabo, na
África do Sul.
Em um de seus atos mais significativos, o Congresso, liderado por
Metternich e pelos líderes de outras potências europeias, organizou os
39 estados germânicos (alemães) em uma Confederação
Germânica. Esta aliança de estados independentes era dominada
pela Áustria, incomodando os nacionalistas alemães que exigiam um
território unido.
Um dos princípios que guiavam o Congresso era o de legitimidade.
Esta era a ideia de que os monarcas que haviam sido depostos
durante a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas eram
governantes de suas nações por direito. A Dinastia de Bourbon já
havia sido reinstaurada na França. Agora, o Congresso impôs outros
governantes "legitimados" em seus tronos. A monarquia voltou à
Espanha, Portugal e Sardenha, e o Papa recuperou os Estados
Papais.
O acordo firmado em Viena manteve a paz na Europa por muitos
anos. Nenhum país tornou-se poderoso o suficiente para dominar o
continente, e nenhum governo ficou insatisfeito com o acordo a ponto
de iniciar uma guerra para desfazê-lo.

Novos Acordos Europeus


Em março de 1815, o governo dos reis Bourbon na França foi
repentinamente interrompido pelo retorno de Napoleão. A volta de
Napoleão, apesar de sua pouca duração, trouxe de volta o temor das
potências europeias de uma nova guerra. Em 1815, Rússia, Áustria,
Prússia e Grã-Bretanha concordaram em continuar com a Quádrupla
Aliança que haviam formado um ano antes. Esses países também
passaram a realizar reuniões futuras para manter a paz na Europa, e
monitorar as mudanças de fronteiras que seriam realizadas conforme
os acordos do Congresso de Viena.
Em 1815, monarcas europeus haviam alcançado outros acordos,
chamados de Santa Aliança. A Santa Aliança foi um compromisso
assumido pelos monarcas de seguir os princípios cristãos de caridade
e de paz ao governar seus súditos e negociar com outros líderes
europeus. A maioria dos monarcas europeus assinou este pacto. A
Grã-Bretanha, todavia, duvidou de sua utilidade e se recusou a
assiná-lo.
Além dos acordos firmados em Viena, Metternich buscou outros
modos para impedir a disseminação de ideias liberais e nacionalistas.
Encorajou os governantes da Europa a resistir contra qualquer
ameaça à ordem por eles estabelecida. Estes esforços foram
chamados de Sistema de Metternich.
Agindo de acordo com o Sistema de Metternich, líderes conservadores
censuraram livros e jornais, além de prenderem muitos liberais. Mas
apesar dos esforços de Metternich, o espírito da revolução crescia na
Europa. Liberais e nacionalistas em muitos países continuaram a
organizar sociedades secretas, imprimir jornais revolucionários, coletar
armas e planejar revoltas.

Espanha
Um dos maiores desafios ao Sistema de Metternich ocorreu na
Espanha. O rei Fernando VII, que voltou ao trono espanhol em 1814,
foi um líder cruel que prendia e exilava muitos reformistas. Em 1820,
oficiais do exército espanhol se rebelaram contra o rei e forçaram-no a
adotar uma antiga e liberal Constituição espanhola. Temendo que
essa rebelião se espalhasse a outros países, as superpotências
europeias enviaram um exército francês para combater os rebeldes
espanhóis em 1823. Os líderes da revolta espanhola foram
brutalmente punidos e Fernando continuou no poder.

Fernando VII

Itália
Revoltas também ocorreram em 1820, na Itália. Reformistas queriam
unir os diversos estados italianos sob um único governo e desejavam
libertar sua nação das potências estrangeiras que controlavam os
estados. Exércitos austríacos rapidamente esmagaram as revoltas,
primeiramente em Nápoles, e em seguida no Piemonte. Governantes
de outros estados italianos aprisionaram e executaram líderes dos
movimentos de reforma; como consequência, milhares de italianos
fugiram para outras terras.

Rússia

Grupos revolucionários secretos também foram formados na Rússia e


liderados por jovens oficiais que haviam sido influenciados pelas
ideias liberais da França. Eles esperavam ocidentalizar a Rússia e
criar uma Constituição. Todavia, esses oficiais russos não tinham o
apoio de seu povo. Seu levante em dezembro de 1825 - a Revolta
Dezembrista - foi facilmente esmagada por um novo czar, Nicolau I.
Cinco líderes da revolta foram enforcados e outros exilados para a
Sibéria. Para impedir a disseminação de ideias liberais em seu país,
Nicolau I iniciou uma rígida censura da imprensa. Ele também criou
uma polícia secreta para espionar possíveis reformistas.

Grécia
A primeira revolução nacional bem-sucedida ocorreu na Grécia. Em
1821, patriotas gregos se rebelaram contra o governo dos turcos
otomanos. A solidariedade aos gregos era forte em outros países:
europeus e norte-americanos admiravam a antiga cultura grega e os
russos consideravam a luta grega como sendo uma guerra santa -
uma batalha de cristãos contra os turcos muçulmanos. Muitos
aventureiros de outros países europeus lutaram a favor dos gregos.
Em 1827, Grã-Bretanha, França e Rússia entraram na guerra ao lado
de seu aliado europeu, e em 1829, a Grécia conquistou sua
independência.

França
O espírito do liberalismo se manteve vivo na França. Quando Luís
XVIII se tornou rei em 1814, estava ciente de que o povo francês não
aceitaria a volta da monarquia absoluta no país. Portanto, Luís
proclamou um decreto, permitindo a permanência de muitos dos
direitos obtidos pelo povo durante a Revolução Francesa. De acordo
com o decreto, uma Legislatura poderia existir na França, mas apenas
ricos proprietários de terra poderiam elegê-la. O decreto do monarca
também garantia liberdade de expressão, imprensa e religião.
Todavia, muitos nobres franceses, liderados pelo irmão do rei, Carlos,
consideraram o decreto muito liberal. Eles queriam um retorno ao
Antigo Regime francês.
Luís XVIII
Quando Luís XVIII morreu, em 1824, seu irmão tornou-se rei. Carlos
X tentou trazer de volta os privilégios especiais para a nobreza e o
clero. Em julho de 1830, ele dissolveu a Legislatura, começou a
censurar a imprensa, e limitou os direitos de voto da burguesia.
O povo de Paris, liderado por estudantes e liberais da classe média,
rebelou-se. Trabalhadores e estudantes se amontoaram nas ruas no
que ficou conhecido como a Revolução de Julho de 1830. Para
impedir o movimento dos soldados do governo, eles construíram
barricadas com pedras pavimentadas, mobílias, troncos de árvores e
vagões. Atrás destas barreiras, com armas nas mãos, eles cantaram a
"Marselhesa" (La Marseillaise), a canção da Revolução Francesa.
Muitos soldados se recusaram a atirar nos rebeldes. O rei, temendo
por sua vida, fugiu para a Grã-Bretanha.

Carlos X
Os revolucionários franceses pretendiam estabelecer uma república
democrática. Porém, os liberais da classe média que controlavam a
rebelião preferiam manter a monarquia. Eles nomearam um novo rei,
Luís Filipe I, para substituir Carlos X.
Luís Filipe I ficou conhecido como "Rei Cidadão". Em vez de usar os
mantos reais, ele se vestia como um empresário. Em vez de honrar a
bandeira da família real, ele adotou a bandeira branca, vermelha e
azul da Revolução. Ainda assim, as políticas de Luís Filipe I
favoreciam empresários e banqueiros. Isto não satisfez os nobres
conservadores e nem mesmo os radicais, que haviam lutado na
Revolução de Julho de 1830. O poder de voto ainda permanecia
principalmente nas mãos da aristocracia, que constituía menos de 3%
da população de homens adultos.

Bélgica
A revolução de 1830 na França incentivou rebeliões semelhantes em
outras partes da Europa. Na Bélgica, um país católico governado por
holandeses protestantes, divergências culturais e religiosas resultaram
numa revolta. Incentivados pelos acontecimentos em Paris, os
patriotas belgas proclamaram sua independência da Holanda. Em
1831, os governos europeus reconheceram a Bélgica como nação
independente.

Polônia
Pouco após o início da crise belga, uma rebelião teve início na
Polônia. O Congresso de Viena havia estabelecido um novo reino da
Polônia governado pelo czar russo, mas os poloneses não tinham
perdido a esperança de obter sua independência.
Estudantes e oficiais do exército polonês foram influenciados pelos
eventos na França e Bélgica. Quando o czar ameaçou enviar soldados
poloneses para esmagar a revolução, os poloneses voltaram-se contra
o governo russo. Contudo, os soldados russos rapidamente se
sobressaíram no conflito, e o czar Nicolau I impôs um governo ainda
mais autoritário na Polônia. Outras rebeliões ocorreram na Polônia
durante o século XIX, mas nenhuma delas foi bem-sucedida.

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