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Estratégia e Inovação em Psicologia (1º Teste)

Tópicos da matéria:
Contextualização, Fundamentação e Pertinência da Disciplina

A Relevância da Estratégia e Inovação em Psicologia

Incerteza, Imprevisibilidade e Necessidade de Adaptação

Competências Fundamentais para o Sucesso no Mercado de Trabalho do Século XXI

Presente e Futuro na Psicologia

Situação da Psicologia em Portugal e no Mundo

Ameaças, Desafios e Oportunidades

Criatividade e Inovação

Transversalidade da Criatividade enquanto Competência

Criatividade, Inovação e Empreendorismo: Importância e Interligação

Fatores Influenciadores do Processo de Criatividade e de Inovação

(Já não sai!) Operacionalização, Implementação e Comunicação de Ideias

Empreendorismo e Intra-emprendorismo

Exemplos Reais de Ideias, Projetos e Negócios Inovadores em Psicologia

Design Thinking

Componentes Essenciais na Operacionalização e Implementação de Ideias

Componentes Essenciais na Comunicação e Apresentação de Ideias

Importância da Inovação e da Estratégia (e importância da disciplina no 3º ano) (Yayici,


2016) (Mootee, 2013)

1º - A nível de incertezas, imprevisibilidades e necessidade de adaptação

 Mundo cada vez mais complexo.


 Ritmo de mudança cada vez mais rápido.

2º - São competências fundamentais para o sucesso no mercado de trabalho no século XXI

 O mercado de trabalho reflete a transformação do mundo e a sua evolução, no sentido


da velocidade de mudança, complexidade e imprevisibilidade.
 Lidar com fatores de competitividade no mercado.
 Saber diferenciar-se no mercado.
Mercado trabalho  Competitividade  Diferenciação
Competências mais importantes para a adaptação ao mercado de trabalho (World Economic
Forum, 2016)

1. Criatividade
2. Curiosidade
3. Iniciativa
4. Colaboração
5. Pensamento crítico
6. Resolução de problemas
7. Comunicação
8. Adaptação

Importância de Inovar (Shalley, Zhou & Oldham, 2004) (Seelig, 2002) (Amabile, 1996)
 Hoje em dia, inovar é importante pois há muito a acontecer ao mesmo tempo. Torna-
se necessário chamar a atenção.
 Não temos todos que inovar. Mas devemos estar equipados com o conhecimento e as
ferramentas para inovar.

1º - Resolve crises, problemas e necessidades Os problemas que existem no


(reativo vs. Pro-ativo) momento devem ser resolvidos
Pouco ou inexistente envolvimento de Psicólogos por pensamentos inovadores e
(estudo comportamento) não pensamentos que já existe ou
que os criaram.
Problemas  Potencial
Inovação tem geralmente a ver
Crises  Oportunidades com algo que está à frente do seu
momento.
Necessidades e Desafios  Soluções inovadoras

2º - Criatividade e Inovação (novidade e utilidade)

Criatividade como competência central subjacente à inovação.


Criatividade como competência transversal – vida profissional + vida pessoal.
Criatividade como capacidade inata (talento natural) vs conjunto de competências e atributos
(treinável).
 São os ingredientes-chave para a eficiência e sobrevivência das organizações a longo-
prazo (criatividade como prioridade em muitas organizações mundiais)  mais
possibilidades
o Foi provado que para inovarem, as organizações precisam de exercitar
ativamente a criatividade.
o Criatividade  Maior resiliência (organizacional) (e.g. na época Covid-19)
(Shalley, Hitt & Zhou, 2015)
o Área profissional é importante para ser recrutado para uma organização, mas
também é importante o perfil de competências.
 Inovadores são bem-sucedidos em todas as áreas.

Importância da Estratégia (Idris Mootee)

 Necessária para interpretar a complexidade do mundo.


 Deve existir uma visão estratégica sobre a Psicologia como ciência e área profissional.
Para isso, deve estar presente uma noção sobre a situação da Psicologia tanto em
Portugal como no mundo – quais as ameaças, desafios e oportunidades existentes - e
encontrar uma intencionalidade para as nossas ações.
 “Multiple forces – technological, regulatory, competitive, and so on (…) act on a given
context to shape the rules of what is possible and probable”.

Ciclo de desenvolvimento de competências (Kahneman ,2011)

Incompetência despercebida Incompetência percebida Competência


percebida Competência despercebida
+ Intuição de especialista

Incompetência despercebida - não está desenvolvida e não temos consciência dela (quase
como se fosse o nível 0 de dada competência).

Incompetência percebida – pessoa tem noção dos erros e sabe o que pode mudar para
melhorar.

Competência percebida – faço bem e sei o que e como o faço bem; capacidade está
desenvolvida, no entanto, tenho de fazer muito esforço para tal.

Competência despercebida – nem há esforço pois a competência já é feita naturalmente por


ter sido tão treinada.

Intuição de especialista – é basicamente como a competência despercebida, porém já no nível


máximo do seu desenvolvimento. Raciocínio rápido e estratégico, sem esforço. Experiência
prolongada (treino de 10 000 horas).

Situação da Psicologia em Portugal

A nível de…

Reconhecimento social – aumentou, sendo que passámos de quase 8000 a quase 23 000
durante a primeira década de 2000 (Antunes, 2011).

Empregabilidade – níveis de desemprego subiram dado ao grande aumento de licenciados


(Viegas Abreu, 2011).
Oportunidades de crescimento – diminuíram dado o grande aumento de licenciaturas.

Diversidade de áreas para trabalhar - ainda estamos longe de ter serviços com cobertura
mínima no que diz respeito à psicologia (e.g. ainda existem muitas escolas, centros de saúde,
organizações sem um único profissional da área) (Viegas Abreu, 2011).

Viabilidade de fundos/financiamento – ainda com muitas carências.

- +

Crescimento da formação superior em Elaboração e constituição formal de uma


Psicologia não regulamentado. ordem profissional – Ordem dos Psicólogos
Portugueses (2010).

Desproporcionalidade entre nível de Gradual incentivo e construção de uma


licenciaturas e número de oportunidades. Identidade Profissional.

Divisão entre psicólogos licenciados e Crescente capacidade de exercer pressão e


empregabilidade. influência sobre os poderes políticos.

Desconhecimento da relevância e Iniciativas de apoio ao exercício da profissão


abrangência da Psicologia e do papel do (e.g. Congressos, Revista Científica, Cursos
psicólogo. de Formação).

Estigma e estereótipos associados à Saúde Presença (finalmente) nos media.


Mental – patologização + desencorajador da
procura de psicólogos.

Ausência de literacia em saúde mental. Regulamentação da profissão (e.g. Estágio


Profissional, Código Deontológico).

Carências graves e condições deficitárias Globalização e aceleração do acesso à


para o apoio/financiamento a trabalho informação.
realizado por psicólogos.

Situação da Psicologia no Mundo (APA, 2009)

Crescente construção de Redes Internacionais (networking) - colaboração entre psicólogos de


dezenas de países, criando parcerias estratégicas e facilitando a partilha e produção de ideias e
conhecimento.

Psicólogos em ascenção a posições de poder – E.g. Vaira Vaike-Freiberga, psicóloga que se


tornou Presidente da Letónia (1999-2007), fazendo com que o país entrasse na UE. Parte do
mérito de Vaike-Freiberga foi atribuído ao seu conhecimento especializado sobre
comportamento humano e negociação.
Existem exceções que provam que a afirmação e evolução da Psicologia é possível – E.g. na
Noruega, os psicólogos adquiriram estatuto semelhante aos médicos, incluindo benefícios,
direitos e reconhecimento social; Psicoterapia é considerada a primeira linha de atuação face a
níveis de ansiedade e depressão ligeiros a moderados, obtendo prioridade sobre a medicação.

Acesso a áreas ou situações limite - crescente envolvimento e estabelecimento de serviços de


intervenção psicológica em países de pobreza extrema, bem como em situações de catástrofe
ou outras situações complexas.

Normas Europeias promotoras de homogeneidade e rigor no treino e formação - EFPA


(European Federation of Psychologists’ Association) estabeleceu várias normas dentro da
Comunidade Europeia tais como:

 Obrigatoriedade de 6 anos de formação (incluindo estágio profissional).


 Número de horas de formação e prática clínica supervisionada para o exercício da
psicoterapia: 500h de prática clínica supervisionada; 400h de modelos teóricos,
técnicas e metodologias de intervenção psicoterapêutica; 100h de psicoterapia
individual ou processo de desenvolvimento pessoal legítimo; 150h de seminários de
supervisão.

Ameaças, desafios, oportunidades

Ameaças – competidores ou “concorrentes” diretos da atuação na Psicologia (coaches,


sociólogos, assistentes sociais, psiquiatras…).

o Life coaches – profissionais não psicólogos, sem formação profissional. Trabalho vago,
“resolvem” os problemas das pessoas mais rapidamente, mas usam apenas
conhecimentos básicos da Psicologia (e.g. dão 3 hipóteses para o cliente resolver o seu
problema). Não cumprem códigos de ética e códigos deontológicos.
o Psiquiatras – são ameaça para nós e nós para eles, porém cada lado também
complementa o outro. Processos/Diagnóstico (psiquiatras) vs. Conteúdo/Temas
(psicólogos).
o Outros profissionais com acesso a especialização em psicoterapia.
o “Profissões” sem evidência científica clara que procuram atuar no mesmo domínio de
intervenção (e.g. astrólogos, cartomantes, reiki).

Desafios – fatores facilitadores vs. fatores obstaculizadores do crescimento da Psicologia.

Integração em equipas interdisciplinares* vs. diferenciação de competências

Trabalhar em equipas interdisciplinares pode ter vantagens ou desvantagens, muitas vezes é


fundamental. Porém, deve sempre ter-se em conta que há competências que só cabem a dao
profissional.
o Ato médico / Ato de enfermagem / Ato psicológico – são todas profissões que visam
coisas diferentes e possuem competências distintas que só cabem ao próprio, mas
todas podem e muitas vezes até trabalham em conjunto.
o Competências centrais exclusivas – há competências que só cabem aos profissionais da
área. Por exemplo, o psicólogo/psicoterapeuta sozinho é capaz de ajudar no
tratamento de certas perturbações sem a necessidade de fármacos. E.g. se a Maria
sofrer de Perturbação Depressiva Major, a medicação que aumenta a serotonina
(hormona do bem-estar) provavelmente vai ajudá-la. Porém, os resultados podem não
ser duradouros e nesse ponto de vista o psicólogo pode ter um papel mais relevante:
fazer com que a Maria tenha mudanças e aprendizagens a longo prazo.
o *(Tendo em conta o exemplo que se segue) nestes casos deve haver uma
avaliação psicológica intermediária caso o medicamento não esteja a fazer o
efeito que deveria, com objetivo de descobrir o porquê de tal não estar a
acontecer (trabalho psiquiatra – psicólogo).
o O que é que nós fazemos que mais ninguém faz (apoio psicológico vs. intervenção
psicológica) – o psicólogo é o trabalhador do conhecimento. Não basta apoiar os
clientes, deve-se dar insight das nossas intervenções psicológicas, ou seja, ajudar o
outro a encontrar soluções. Além de ajudarmos o cliente a estabelecer pontos com ele
mesmo, devemos também ajudar o mesmo a estabelecer pontos relacionais com
outros indivíduos (Jaime F. Silva).

Fator facilitador | Desconstrução de estereótipos associados à Psicologia / Saúde Mental

Fator facilitador | Evolução e progresso científico e interventivo decorrente das neurociências

Fator obstaculizador | Dificuldade numa compreensão clara da diversidade e relevância das


funções do psicólogo (e.g. linguagem como principal ferramenta de atuação; neurocirurgião vs
carpinteiro, uso do berbequim)

Oportunidades – possíveis passos para a inovação e evolução através da Psicologia.

 Afirmação, coesão e união da classe profissional.


 Capacitação para o futuro do mercado de trabalho.
Sucesso – construto passível de infinitas variáveis e interpretações. Tem 3 grandes
variáveis: Visão – Estratégia – Ação (Vídeo Jaime F. Silva): permitem essa capacitação

Visão – capacidade para sonhar o que ainda não existe. Na visão o indivíduo não deve
esquecer o seu próprio arquétipo cultural (e.g. Portugal – Descobrimentos). Não se deve ter
uma visão térrea.
Estratégia
Ação concreta – transforma os objetivos, ou seja, a visão, em resultados.

 Áreas emergentes na Psicologia (e.g. performance desportiva, gerontologia,


organizacional, militar, neuropsicologia...) (cada vez existem mais).
 Articulação com outras áreas - maior produção de conhecimento, ideias, soluções,
produtos, serviços:
o Economia (e.g. Economia Comportamental)
o Comportamento do Consumidor (Marketing, Publicidade, Persuasão e Influência
sobre tomada de decisão)
o Engenharia (usabilidade, match produto-consumidor, interface máquina-humano,
ergonomia...)
o Gestão (liderança, gestão de pessoas, resolução de conflitos, ...)
o Nutrição (adesão terapêutica, comunicação, variáveis psicológicas na eficácia da
prescrição de um plano alimentar...)
o Medicina & Enfermagem (competências de comunicação, prevenção/intervenção
do burnout...)
o Direito & Política (tomada de decisão, elaboração de leis ajustadas ao
comportamento humano, influência social…)
o Polícia (e.g. ajudar a controlar impulsos dos profissionais da área)
o Desporto (psicologia como contribuidor de desempenho dos atletas – pode
trabalhar duas dimensões: vida pessoal e vida profissional) Nota: Bob Rotella

 Exemplos de psicólogos/figuras ou conhecimento psicológico que receberam Prémio


Nobel: Herbert Simon (Economia), Edgar Moniz (Fisiologia/Medicina), Bertrand Russell
(Literatura)  Descobertas que se relacionam com Psicologia e abriram caminhos para
a mesma.

Exercícios:

1. Idea journal (ideias soltas vs. Ideias sólidas) – anotar metas diárias, realizações,
observações, ideias para projetos, citações ou outras inspirações (Shalley, Hitt & Zhou,
2015).
2. Psychology is everywhere – relacionar profissão no papel com a Psicologia.
Pesquisar/refletir/argumentar como o conhecimento da Psicologia pode acrescentar
valor a essa área.

Criatividade: competência e ingrediente-chave


The Oxford Handbook of Creativity, Innovation and Entrepreneurship (Shalley, Hitt & Zhout,
2015)

 Quanto mais estáticos permanecerem os negócios, maior a probabilidade de eles


morrerem.
 Algo inovador é criativo, mas algo criativo não é necessariamente inovador.

Criatividade (gera ideias novas e úteis) Inovação (executa as ideias criativas)


Empreendorismo (transformação de ideias criativas e processos de inovação em
projetos/organizações/negócios que sejam geradores de valor, que possam preencher uma
necessidade no mercado, ou que preconizem a criação de novos mercados através do
desenvolvimento e rentabilização de inovadores produtos ou serviços)

Criatividade: construto, competência, conjunto de processos* que se revelam fundamentais


em várias etapas, desde a elaboração de uma ideia até à sua total operacionalização. A
criatividade vai influenciar:
 Forma como se observa, interpreta e se reflete sobre a realidade.
 Forma como se constrói um insight potencialmente novo e útil.
 Capacidade para desenvolver um plano de implementação.
 Competência para a resolução de problemas.
 Sustentabilidade (modelo de negócio/financiamento/elaboração de propostas para
candidatura a financiamentos).
 Comunicação estratégica e direcionada para os diferentes público-alvo relevantes.

*Esse processo de desenvolvimento de ideias criativas envolve um conjunto de cognições e


comportamentos que aumentam a probabilidade de gerar resultados mais criativos.

 Ser capaz de analisar a realidade/contexto de forma abrangente.


 Ter abertura a novas experiências.
 Desafiar pressupostos.
 Vontade em romper com visões dogmáticas e paradigmas já existentes.
 Tolerar a ambiguidade e a incerteza.
 Capacidade para assumir riscos.
 Experiência prévia que possibilita ver/reconhecer padrões que outros possam não ter
visto.
 Reorganizar ideias de diferentes áreas/contextos ou construir novas ligações.

Breve viagem histórica mundial da inovação

 Em geral, dado todo o conhecimento e investigação acumulados, observa-se uma


transição de inovações com elevado potencial disruptivo para inovações com baixo
potencial disruptivo, em que as mudanças são sobretudo incrementais.
 Inovação disruptiva – novo produto que entra no mercado e o inova (pode ter
diferentes níveis de intensidade, por exemplo atingir 10 pessoas ou 10 000).
Inovação incremental – parte-se do que já foi feito, com maior ênfase no processo
(forma de fazer algo) do que a total originalidade da ideia. Ou seja, desenvolve o que já
existe.
 À medida que o tempo passa, torna-se mais desafiante gerar mudança disruptiva.

Leonardo da Vinci - pintura, escultura, arquitetura, ciência, anatomia, literatura; antecipou no


início do século XVI a invenção do helicóptero, tanque de guerra, paraquedas…

Thomas Edison - variadíssimas invenções, entre as quais a luz elétrica e o telefone...

Nikolas Tesla - contributo essencial para as redes de distribuição de energia elétrica; antecipou
em 1893 que um dia seria possível comunicar à distância através de dispositivos wireless...

Louis Pasteur - contributo decisivo para a vacinação.

Alexander Flemming - contributo decisivo para a invenção de antibióticos.

Sigmund Freud - pressupostos da Psicanálise: introdução do diálogo como ferramenta


terapêutica; possibilidade de sermos moldados pelas nossas experiências no passado;
existência de diferentes níveis de consciência...
Steve Jobs (CEO Apple) - contributo decisivo para a importância do design industrial: mudança
disruptiva/incremental (processo vs. ideia).

o Apple: pode ser tanto inovação disruptiva – os produtos têm especificidades


inovadoras (e.g. software dos computadores) – como inovação incremental – apesar
de tudo, as primeiras inovações (computador e telemóvel) eram coisas que já existiam
na altura, mas que foram aperfeiçoadas (e.g. computador muito mais fino).

Jeffrey Bezos (CEO Amazon) - reinvenção de uma forma eficiente de distribuição de livros e
outros materiais: mudança disruptiva/incremental (processo vs ideia).

Elon Musk (CEO Tesla; SpaceX; The Boring Company) - criação da PayPal, novas formas de
viajar no espaço (SpaceX), bem como novas formas de transporte (Hyperloop) e de
armazenamento de energia solar (Solar City): mudança disruptiva/incremental (processo vs
ideia).

o Na Tesla inovou a vários níveis: carros mais atrativos com design mais apelativo; carros
com menos peso; carros com energia elétrica.

Mecanismos subjacentes aos processos de criatividade (Shaller, Hitt & Zhou, 2015)

 Empreendedorismo é a procura de oportunidades para além dos recursos que um


controla no momento (Howard H. Stevenson).
 Não temos grande maneira de mexer com a criatividade, mas sim com estes
mecanismos.
 Tudo isto é facilitado por estilos de liderança favoráveis a cada tópico.

Mecanismos motivacionais
Mecanismos afetivos Variáveis contextuais (liderança)
Mecanismos cognitivos

Mecanismos motivacionais [Oldham & Cummings (1996); Jung & Avolio (1999); Shin & Zhou
(2003; 2007)]

Motivação Intrínseca: determinante fundamental, pois é o que energiza indivíduos para


persistirem em função da extrapolação de expectativas e/ou capacidades. Variáveis como
valores, objetivos e ambições pessoais são potenciadores desta dimensão.

Contextos organizacionais (com estilos de liderança adequados) devem promover:

 Inspiração
 Autonomia
 Valorização do conhecimento, competência e experiência individual
 Proporção entre skill vs. Challenge
 Encorajamento e reforço positivo de produção de novas ideias
 Postura construtiva e não promotora de juízos de valor
 Experienciação de prazer e diversão na realização da tarefa.
Autoeficácia: resulta do cruzamento entre expectativas elevadas orientadas para a inovação e
elevada qualidade das interações líder-colaborador (Scott & Bruce, 1994). Perceção de
autoeficácia como um fator preponderante (Ford, 1996).

Creative self-eficacy (autoeficácia orientada para a criatividade): crença na própria capacidade


para produzir resultados criativos (Tierney e Farmer, 2002). Pode mesmo exercer uma
influência igual ou superior do que a própria capacidade para ser criativo.

Mecanismos afetivos

Regulação emocional: quer sejam mecanismos mobilizados pelo indivíduo, quer sejam
favorecidos por um contexto organizacional e estilo de liderança eficaz e estável, potenciam a
performance criativa. Existem importantes diferenças individuais nos tipos de emoção
potenciadora de criatividade.

Estados emocionais que podem ser favorecedores de criatividade: Broaden and Build Theory
of Emotions (Magyar-Moe, 2009; Frederickson 1998; 2001)

Emoções negativas - estreitam e limitam, momentaneamente, o fluxo de pensamento, tomada


de decisão e ação (e.g. visão de túnel – importância para o funcionamento adaptativo e de
sobrevivência – fight or flight response). São particularmente úteis para pensar de forma
específica, contribuindo para uma reflexão com maior profundidade.

Emoções positivas – muito importantes pois promovem o desenvolvimento e otimização de


recursos, potenciando a eficiência do fluxo de pensamento, tomada de decisão e ação –
favorece a interligação de informação proveniente de contextos diferentes. São
particularmente relevantes para competências/construtos/processos associados à resiliência,
perseverança, bem-estar subjetivo, contribuindo para uma reflexão com maior abrangência.

Nota: apesar desta “comparação”, também há muito boas ideias a surgir aquando a presença
de emoções negativas.

Mecanismos cognitivos

Processamento cognitivo extensivo e trabalhoso é requerido para a presença de criatividade


(Amable, 1996).

Condições (facilitadas por estilos adequados de liderança):

 Acesso a informação relevante e disponibilização de recursos adequados.


 Investimento na formação e desenvolvimento dos colaboradores (perspetiva micro
CFO vs. perspetiva macro CEO).
 Incentivar a partilha de informação e ideias (competição vs. cooperação).
 Encorajamento de uma participação ativa (e proativa) dos trabalhadores.
 Devolução pormenorizada e construtiva de feedback sobre a performance.

Fases do processo criativo (Amabile, 1983; 1996) (Zhang & Bartol, 2015)
1. Identificação de um problema ou necessidade
2. Preparação
3. Elaboração de ideias
4. Avaliação e implementação de ideias

1. Identificação de um problema ou necessidade - observar atentamente a realidade


circundante.
Fatores facilitadores: ter um mindset direcionado para a procura de novas ideias, por
vezes estimulado pela insatisfação com circunstâncias atuais. Ter motivação intrínseca
para explorar tais novas situações, assumir riscos e tolerar a incerteza e a possibilidade
de falhar.

2. Preparação – conhecimento que temos: explorar, aprofundar, reunir informação e


recursos sobre a necessidade identificada, proveniente de múltiplas fontes. Principal
objetivo desta fase consiste na aquisição de todos recursos relevantes possíveis para
dar sustentação e fundamentação aos passos seguintes, na procura/elaboração de
ideias ou soluções para o problema/necessidade.

3. Elaboração de ideias – usar esses conhecimentos para perceber o que já existe ou não
(a nossa ideia pode já existir). Confronto com novas ideias, soluções, formas de
abordar o problema/necessidade.
É um processo de brainstorming guiado por objetivos específicos, tentativa-erro, com
foco na elaboração do maior número de ideias/alternativas possíveis, fazendo a ponte
entre informação existente e novas possibilidades.

4. Avaliação e implementação de ideias – avaliação da ideia: se a mesma está a


compensar ou não, em que medida poderá ser bem-sucedida, como será
implementada, de que forma dá uma resposta eficaz ao problema/necessidade
identificada...
É avaliado o nível de adequação, originalidade e diferenciação da ideia:
O que estou a fazer é mais do mesmo?
Quão fácil é perceber a diferença entre a minha ideia e outros “concorrentes”?
Quem vai beneficiar da minha ideia?
Como é que determinado aspeto da sua vida será melhor por causa da minha ideia?
Etc.

Ideias e Processos de Criatividade e Inovação

Van Phillips - 21 anos, aluno universitário e atleta


 Se conseguem colocar o homem na lua, porque é que ninguém consegue criar um pé
decente?
Em 1976 num incidente invulgar é vítima de uma colisão entre 2 barcos, perdendo os sentidos.
Acorda no hospital dias depois, reparando que lhe tinha sido amputado a perna (do joelho
para baixo). Recebe uma prótese: feita de madeira, pesada, dura, feia, com a qual sentia
grande dificuldade em deslocar-se. Perante sentimentos de frustração e revolta, amigos e
familiares brindavam-no com a frase “a partir de agora vais ter de aceitar viver assim”.
Van Phillips, a partir da revolta tem um insight libertador: reconhece que terá que aceitar a
realidade inalterável de que é um “amputado” recusando-se, no entanto, a aceitar as
dificuldades na sua locomoção e a ter uma prótese que em nada o ajudava a ser autónomo.
Decide explorar a área das próteses, chegando mesmo a mudar de curso.
1. Primeiro sinal de um inovador: a recusa em aceitar a realidade existente.
2. Identificação de um problema/necessidade: desenvolver um tipo de prótese mais
funcional.

Van Phillips inicia um processo de exploração, tentativa-erro e grande frustração (passo 3 –


elaboração de ideias):
 Crença na capacidade humana (comparação homem na Lua).*
 Explorou variadíssimos materiais, designs e combinações. Nenhuma solução parecia
funcionar totalmente: peso vs. durabilidade vs. flexibilidade vs. pragmatismo 
Processo caracterizado por questionamento sucessivo e estratégico
 10 anos passaram e uma crença central fez com que não desistisse: If you give the
mind time and space, it will do its own work on the problem, over time.*
*crenças como fatores impulsionadores da perseverança.

 Teve a sua melhor ideia num momento de puro devaneio em que faz uma associação
com uma memória distante de infância. Recordou-se de uma antiga espada chinesa do
seu pai, que tinha uma lâmina em formato curvo ( C ), que era mais forte e resistente
do que uma lâmina reta.
 Uma nova possibilidade emerge  “E se... em vez de uma prótese em formato L, fosse
possível criar uma prótese em formato C, como uma curva contínua, mais forte, mais
flexível?”.
Surgem questões: Que material vou usar? Que fornecedor contactar? Qual a melhor
técnica de corte? Etc.

Questões: um dos pontos de partida para a criatividade

 Procuramos o que não sabemos.


 Perguntamos para aceder ou explorar conhecimento.
 Inovação significa tentar formular novas questões que podem ser respondidas ao longo do
tempo. O que é possível agora? (Warren Berger, 2014)
 Uma boa questão pode dar respostas, inspirar outros para obter soluções, gerar novas
áreas de estudo (Stuart Firestein, 2014).
 À medida que o mundo se torna mais complexo e dinâmico, o valor das perguntas
aumenta e o valor das respostas diminui (Berger, 2014).
Respostas: fazem o contrário das questões, pois acabam o processo.

Questões permitem:
 Construir/modelar relações
 Mudar a forma como acedemos e processamos informação
 Acelerar a aprendizagem
 Influenciar a tomada de decisão
 Potenciar a imaginação
 Etc.
Questões relevantes na transição para mestrado, estágio curricular, percurso profissional
(incluindo em Psicologia):
 Como é que área em que estudo/trabalho está a mudar ou evoluir?
 Que padrões estão a emergir, o que será provável acontecer nos próximos anos?
 Quais das minhas competências serão importantes no futuro?
 Que competências devo desenvolver?
 Devo diversificar a minha aprendizagem ou especializar-me?
 Deverei centrar-me em encontrar um emprego ou criar o meu próprio emprego?

Boas perguntas Ideias Mudar a vida

Curiosidade Observação Interesse

Exemplo: Bespoke e Altlimpro (The Alternative Limb Project)

Surge uma frustração - Usar próteses ainda continua a


Questões relacionadas com
gerar embaraço para tantas pessoas, pois prejudica a sua
momentos de inovação
individualidade (pessoa passa a ser um “amputado”).
Porquê?
Porquê? - Porque é que alguém tem de sentir vergonha E se?
por algo de que não tem culpa? Porque é que não é Como?
possível ter orgulho?

E se? - E se uma prótese pudesse fazer alguém sentir-se orgulhoso? E se pudesse cultivar a
individualidade do seu utilizador?

Como? - Como é que vou fazer isto? Que tecnologia existe atualmente? O que é que já está a
ser feito? Que áreas devo conjugar para alcançar o meu objetivo?

Permitiram a criação de próteses personalizadas, consoante as características e gostos


individuais (e.g. prótese da perna com uma tatuagem).

Exemplo: Marc Randolph (co-fundador da Netflix)

Surge uma frustração - Como é que vou pagar a multa pesada por não devolver o DVD alugado
no tempo predefinido? Como é que vou justificar estes gastos à minha mulher?

Porquê? - Porque é que tenho sempre de ir a uma loja e pagar para ver um DVD? Porque é que
tenho que pagar multas por me esquecer de devolver no prazo?

E se? - E se houvesse uma forma melhor? E se assistir a séries fosse acessível a todos?

Como? - Como é que vou fazer isto? Por onde começo? De quem preciso para me ajudar?

VÍDEOS: https://www.ted.com/talks/elon_musk_the_future_we_re_building_and_boring?
gclid=EAIaIQobChMIgMurtaL61gIVCjPTCh3G3gIEEAAYS
https://www.ted.com/talks/scott_summit_beautiful_artificial_limbs/up-next

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