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APRESENTAÇÃO

Considerando-se que a cultura do cafeeiro apresenta condições


adequadas para a implantação de estratégias e táticas de Manejo Integrado
de Pragas (MIP) e que tanto o bicho-mineiro quanto a broca-do-café são
pragas-chave nesta cultura, decidiu-se elaborar este Manual com o objetivo
de disponibilizar aos cafeicultores planos de amostragem para esses insetos.
Espera-se que as informações aqui contidas possam contribuir para o manejo
de insetos e, assim, reduzir o impacto negativo dos produtos fitossanitários
nos agroecossistemas cafeeiros.
2

MÉTODOS DE AMOSTRAGEM
DO BICHO-MINEIRO-DO-CAFEEIRO
E DA BROCA-DO-CAFÉ

JAIR CAMPOS MORAES1


GERALDO ANDRADE CARVALHO1
RONALD ZANETTI1

1. INTRODUÇÃO

A avaliação da densidade populacional de insetos-praga e de seus


inimigos naturais é um dos pontos chave do Manejo Integrado de Pragas –
MIP, e é considerada por muitos pesquisadores e extensionistas como sendo
o ponto de estrangulamento na adoção das estratégias e táticas dessa filosofia
de controle de pragas.
Não há dúvida de que as amostragens de insetos que fornecerão subsídios
para a tomada de decisão de controle ou não do inseto-praga demandam
tempo e um custo para o qual o produtor rural, na maioria das vezes, ainda
não se encontra preparado para assumir. No entanto, acredita-se que a
utilização de planos de amostragem é a forma mais adequada para a
determinação do momento do controle químico, o que permite a conservação
e fomento de populações de inimigos naturais no agroecossistema.

2. AMOSTRAGEM
De acordo com os planos de amostragem, a avaliação do
agroecossistema consiste no levantamento da densidade populacional de
insetos-praga e de seus inimigos naturais, levando-se em consideração o
estádio fenológico da cultura e as condições climáticas presentes na lavoura.
De posse dessas informações e considerando os níveis de controle e de dano,
isto é, a densidade populacional do inseto que causa dano econômico, toma-
se a decisão de controlá-lo ou não.
Os planos de amostragem podem ser do tipo comum ou seqüencial.
Na amostragem comum tem-se um número fixo de amostras por unidade de
área, enquanto que na seqüencial esse número é variável em função da

1
Professor do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras. CP.
37, 37200-000, Lavras, Minas Gerais.
3

densidade populacional do inseto-praga. Outro aspecto que deve ser


considerado num plano de amostragem é o tipo de caminhamento, isto é, a
maneira como se deve deslocar no campo para realizar as amostragens.
Em cafezais recomenda-se o caminhamento em ziguezague para
amostragem comum e em espiral para a seqüencial. Além disso, o cafezal
deve ser dividido em talhões de aproximadamente 2 a 5 ha, podendo variar
em função da topografia do terreno, variedade, idade, práticas culturais, etc..
Após a divisão e identificação dos talhões, todo o monitoramento e controle
de insetos-praga, além de outras práticas culturais normais para a cultura,
deverão ser executados e anotados para os respectivos talhões.

2.1 BICHO-MINEIRO-DO-CAFEEIRO

O adulto do bicho-mineiro-do-cafeeiro Leucoptera coffeella (Guérin-


Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é uma mariposa de 6,5 mm de
envergadura, com as asas brancas na parte dorsal apresentando uma
mancha escura nas extremidades (Figura 1).

Figura 1 – Adulto do bicho-mineiro-do-cafeeiro.


A mariposa abriga-se durante o dia na face inferior das folhas do
cafeeiro e ao anoitecer abandona o esconderijo, iniciando a oviposição. Os
ovos são colocados na página superior das folhas, numa média de sete/noite,
em pontos isolados da mesma folha ou em diferentes folhas (Figura 2). São
achatados, brancos, com cerca de 0,3 mm de comprimento, sendo a sua
casca (córion) de aspecto transparente e permanece aderida à folha. Uma
fêmea, durante a sua vida, é capaz de colocar até mais de 50 ovos, com um
período embrionário variando de 5 a 21 dias, dependendo das condições de
temperatura e umidade.
4

Figura 2 – Ovo do bicho-mineiro.

Logo após a eclosão, as lagartas penetram no interior da folha,


permanecendo entre as duas epidermes e alimentando-se do parênquima
foliar. As áreas atacadas vão secando e aumentando de tamanho à medida
que as lagartas vão-se desenvolvendo. A película superior do tecido seco é
facilmente destacável e esta injúria é denominada de “mina”. Em alguns
casos pode-se encontrar mais de uma lagarta por mina (Figura 3).

Figura 3 – Mina com lagartas do bicho-mineiro.

A duração da fase de lagarta oscila entre 9 a 40 dias. Quando


completamente desenvolvidas (com cerca de 6,0 mm de comprimento),
abandonam a folha pela parte superior da mina, tecem um fio de seda e
descem até a “saia” do cafeeiro. Geralmente, na página inferior da folha as
lagartas tecem um casulo de coloração branca e com formato característico
de “X” (Figura 4), onde passam para a fase de pupa com duração de 5 a 26
dias. Após esse período, emergem as mariposas na proporção de 1 macho: 1
fêmea, cuja longevidade média é de 15 dias.
5

O ciclo evolutivo varia de 19 a 87 dias principalmente em função da


temperatura e, em condições normais, podem ocorrer 8 a 12 gerações/ano.

Figura 4 – Casulo do bicho-mineiro-do-cafeeiro.

Clima seco e/ou manipulação ambiental que proporcione condições


microclimáticas de baixa umidade relativa no cafezal, favorecem a ocorrência
desse inseto-praga. Dessa forma, a abertura de novas fronteiras em áreas de
cerrado para o cultivo do cafeeiro, a partir de meados de 1970, favoreceu a
ocorrência contínua desse inseto, mesmo durante a época das chuvas.
O bicho-mineiro-do-cafeeiro causa desfolha afetando a
produtividade e a longevidade das plantas. Os sintomas são mais visíveis na
parte superior da planta, ocorrendo intenso desfolhamento quando a
infestação é grande. A desfolha acentuada próxima ao período de floração é
muito prejudicial à produção em razão do baixo vingamento de frutos e do
baixo rendimento (frutos grandes, porém com maior volume de casca).
Pesquisas conduzidas na região sul de Minas Gerais demonstraram
que o ataque do bicho-mineiro, na época de floração do cafeeiro, pode causar
uma redução de mais de 50% na produção devido ao desfolhamento.
A amostragem do bicho-mineiro deve ser realizada observando-se a
presença de minas (independente do número) nas folhas do 3o ou 4o pare de
um ramo localizado no terço mediano da planta (Figura 5).
6

Figura 5 – Amostragem no 3o ou 4o par de folhas do ramo no terço mediano


da planta.

Considerando que, às vezes, uma ou mais folhas desses pares


possam ter caído e para evitar uma amostragem tendenciosa, recomenda-se
observar primeiramente a folha da “mão direita” do 4o par; na ausência dessa,
observar a folha da “mão esquerda” do mesmo par, e na falta dessa, observar
a folha da “mão direita” do 3o par; na ausência dessa, avaliar a folha da “mão
esquerda”. Se no ramo a ser amostrado não houver folhas nos 4o e 3o pares,
realizar a amostragem em outro ramo do terço mediano da planta.
Atualmente, podem-se recomendar para o monitoramento do bicho-
mineiro dois planos de amostragem:

a) Amostragem comum: são examinadas 3 folhas/planta, em 20


plantas/talhão, sendo anotado numa ficha o número de folhas com minas.
Posteriormente, deve-se multiplicar o número de folhas minadas pela
constante 1,67 (100/60) para obter a porcentagem de folhas minadas.
Exemplo: como pode ser observado na Tabela 1, das 60 folhas
amostradas/talhão, 16 apresentam minas; realizando-se a operação 16 x 1,67
obtêm-se 26,7% de folhas minadas.
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Tabela 1 - Ficha de campo para a amostragem do bicho-mineiro e de vespas predadoras.

PLANTAS AMOSTRADAS (20 plantas/talhão)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 % Ação

1 x x x x x
Não
Folhas 26,7
2 x x x x x x x x
controlar
minadas
3 x x x

Folhas 1
com
2
sinais de
predação
por 3
vespas

Data: Talhão No: Assinatura do Técnico:


8
Nesse tipo de amostragem deve-se utilizar o caminhamento em
ziguezague (Figura 6) ou serpenteado em cafezal adensado (Figura 7).

Figura 6 – Caminhamento em Figura 7 – Caminhamento


ziguezague. serpenteado.

O nível de controle para o bicho-mineiro é de 40% de folhas


minadas no inverno e de 20% de folhas minadas no verão.

b) Amostragem seqüencial: nesse tipo o número de amostras é


variável. Além disso, o caminhamento deve ser do tipo espiral, amostrando
apenas 1 folha/planta, sendo que as 10 primeiras plantas devem ser
amostradas nas bordas do talhão, porém evitando-se as plantas das três
primeiras fileiras (Figura 8).

2
1
4

10

12
6

Figura 8 – Caminhamento em espiral para amostragem


seqüencial.
9

Para realizar a amostragem seqüencial é necessária a elaboração


de uma tabela (Tabela 2), a qual deve conter as seguintes colunas: planta (1
a 30), limite inferior, nota acumulada e limite superior.
A cada folha amostrada, as seguintes notas deverão ser atribuídas:
 nota 0 = folha com uma ou mais minas;
 nota 1 = folha sem minas.

Essas notas deverão ser somadas de forma cumulativa e anotadas


na coluna correspondente. Exemplo: na Tabela 2 observa-se que a folha
amostrada na 1a planta não estava minada e recebeu nota 1; a 2a estava
minada e recebeu nota zero; portanto, o valor acumulado é igual a 1 (nota da
1a planta + a da 2a ); a 3a não estava minada e, assim, obteve-se o valor
acumulado de 2 (1 + 1); a 4a estava minada e recebeu nota zero,
permanecendo a nota acumulada igual a 2; a 5a e 6a folhas, não estando
minadas, receberam nota 1, perfazendo notas acumuladas iguais a 3 e 4,
respectivamente; a 7a folha, estando minada, originou um valor acumulado
igual a 4 (nota anterior acumulada até a 6a folha + zero), e assim
sucessivamente. A partir da 10a folha amostrada (número 10 da coluna
planta), podem-se tomar as seguintes decisões:

1a - quando a nota acumulada for menor que a do limite inferior da


tabela, interrompe-se a amostragem e recomenda-se o controle do bicho-
mineiro;
2a - se a nota acumulada for maior que a do limite inferior e menor
que a do limite superior, recomenda-se continuar com as amostragens;
3a - quando a nota acumulada for igual ou maior que a do limite
superior, interrompe-se a amostragem e não se recomenda nenhum controle.

Nesse exemplo pode-se observar que da 10a a 16a plantas, a


decisão foi continuar amostrando (“decisão 2”). Na 17a planta, tanto a nota
acumulada como o valor do limite superior foram iguais a 14 e, portanto, a
amostragem deve ser interrompida e não se recomenda o controle (“decisão
3”).
Pode ocorrer que, após amostrar a 30a folha, a nota acumulada
fique entre os números 18 e 23. Nesse caso, a população de insetos no talhão
é de tal ordem que impossibilita a tomada de decisão. Portanto, recomenda-
se nova amostragem na metade da freqüência, ou seja, se as amostragens
estavam sendo realizadas mensalmente, fazer outra nesse talhão após 15
dias. Nesse período, a população do bicho-mineiro poderá aumentar ou
reduzir, e consequentemente, pode-se optar ou não pelo controle do inseto.
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Tabela 2 - Ficha de campo para a amostragem


seqüencial do bicho-mineiro.
Bicho-mineiro-do-cafeeiro
Limite Nota Limite
Planta
inferior acumulada superior
1 - 1 -
2 - 1 -
3 - 2 -
4 - 2 -
5 - 3 -
6 - 4 -
7 - 4 -
8 - 5 -
9 - 6 -
10 5 7 10
11 5 8 10
12 6 9 11
13 7 10 12
14 7 11 12
15 8 12 13
16 9 13 14
17 9 14 14
18 10 15
19 10 16
20 11 16
21 12 17
22 12 18
23 13 18
24 14 19
25 14 20
26 15 20
27 16 21
28 16 22
29 17 22
30 (18) (23)
Propriedade: Talhão No: Estádio fenológico:

Data: Ação:
11

As lagartas do bicho-mineiro são predadas por algumas espécies de


insetos, sendo os mais importantes as vespas sociais, que podem ser
amostradas através dos sinais de predação. Uma mina predada apresenta
sinais de rupturas provocadas pelas mandíbulas das vespas, que cortam o
tecido foliar para retirar as lagartas do bicho-mineiro de seu interior (Figura
9).

Figura 9 – Folha de cafeeiro com uma mina contendo sinais de predação por
vespas predadoras.

Como pode ser observado na Tabela 3, a letra “p” refere-se à folha


que apresenta pelo menos uma mina com sinais de predação. No exemplo,
das 16 folhas minadas, 9 apresentam sinais de predação. Assim, através de
uma regra de três, tem-se:

16 folhas minadas ------- 9 folhas com sinais de predação


100 folhas minadas ----------------------x
x = 56,2% de folhas contendo minas com sinais de predação por
vespas.

O nível de não-ação (NNA) é de 40% de minas com sinais de


predação. Portanto, no exemplo da Tabela 3 o NNA foi atingido, implicando
em concluir que a ação de vespas predadoras é suficiente para manter a
população do bicho-mineiro abaixo do nível de dano econômico, ou seja, não
havendo necessidade de controle, uma vez que o inseto-praga está sendo
naturalmente controlado. Dessa forma, se mais de 40% das minas
apresentarem sinais de predação, não é necessário recomendar o controle,
mesmo que a porcentagem de folhas minadas seja superior ao nível de
controle (NC).
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Tabela 3 - Ficha de campo para a amostragem do bicho-mineiro e de vespas predadoras.


PLANTAS AMOSTRADAS (20 plantas/talhão)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 % Ação

1 x x x x x
Não
Folhas 26,7
2 x x x x x x x x
controlar
minadas
3 x x x

Atingiu o
Folhas
nível de
com 1 p p 56,5
não-ação
sinais de
(NNA)
predação
por 2 p p p p p

vespas
3 p p

Data: Talhão No: Assinatura do Técnico:


14

Por outro lado, se for considerada apenas a porcentagem de folhas


com minas intactas (sem sinais de predação), obtêm-se: 7 (total de 16 folhas
minadas menos 9 folhas com minas predadas, resultando em 7 folhas com
minas intactas) x 1,67 (constante) = 11,7% de folhas com minas intactas.
Quando se consideram lesões intactas, o nível de controle, ao longo do ano,
é de 30% de folhas minadas com lagartas vivas. Nessa metodologia a ação
dos inimigos naturais é avaliada indiretamente, pois consideram-se como
minas apenas aquelas em que o inseto-praga continua vivo.
Como no exemplo apresentado, o nível de controle do bicho-mineiro
não foi atingido; a decisão é continuar com as amostragens que deverão ser
quinzenais, ou, no máximo, mensais.

2.2 BROCA-DO-CAFÉ

A broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera:


Scolytidae) é também considerada praga-chave da cultura do cafeeiro nas
principais áreas produtoras, atacando frutos em qualquer estádio de
maturação, desde verde até seco.
Na fase adulta, a broca-do-café é um pequeno besouro preto
brilhante, de formato cilíndrico e ligeiramente recurvado para a região
posterior do corpo (Figura 10).

Figura 10 – Adulto da broca-do-café atacando fruto tipo cereja.

As fêmeas medem cerca de 2 mm de comprimento e os machos 1,4


mm. Os élitros (asas anteriores) são revestidos de cerdas e de escamas
filiformes características. Os machos possuem as asas posteriores
15

(membranosas) rudimentares e, portanto, não voam e nunca deixam os frutos


onde se desenvolveram.
Após o acasalamento, as fêmeas, saindo dos frutos caídos no solo
ou pendentes nas plantas onde passaram a entressafra, voam à procura de
frutos da nova safra. A postura é realizada em frutos verdes com a semente
formada, maduros (cerejas) e secos. Frutos na fase inicial de crescimento
(“chumbinho”) podem ser perfurados pelas fêmeas, que os abandonam sem
realizar a oviposição. Esses frutos geralmente murcham e caem em
conseqüência dessa injúria. A perfuração do fruto é realizada na região da
coroa (Figura 11), sendo, geralmente, uma por fruto, mas em condições de
alta infestação pode-se observar mais de um orifício/fruto. Em frutos secos,
as perfurações podem ser feitas em qualquer ponto. As fêmeas abrem túneis
até atingir a semente onde constróem galerias de formato piriforme e iniciam
a oviposição.

Figura 11 – Orifício de penetração da broca-do-café no fruto.

Os ovos são brancos (Figura 12), elípticos, com brilho leitoso e


apresentando 0,5 a 0,8 mm de comprimento. Após 4 a 10 dias da oviposição,
eclodem as larvas que, no início, alimentam-se desagregando pequenas
partículas da câmara onde nasceram (Figura 12). Decorridos alguns dias, a
semente perde grande parte de seu peso. O período larval dura em média 14
dias, sendo que no seu máximo crescimento a larva mede cerca de 2 mm.
Empupa nas próprias galerias, sendo de coloração branca, com as antenas,
asas e peças bucais castanho-claras. A duração da fase de pupa é de
aproximadamente 7 dias. Ao final desse período, emerge o adulto que é
amarelo-escuro nos primeiros dias, tornando-se posteriormente de coloração
preta. A longevidade média da fêmea é de cerca de 156 dias, com oviposição
variando de 31 a 119 ovos. A proporção sexual é de 10 fêmeas : 1 macho. O
ciclo evolutivo médio é de aproximadamente 30 dias, podendo ocorrer até 7
gerações/ano.
16

Figura 12 – Ovo e larvas da broca-do-café no interior do grão.

O clima pode afetar a ocorrência da broca-do-café, sendo que as


chuvas influenciam direta ou indiretamente a intensidade de infestação desse
inseto-praga. A ocorrência de chuvas em épocas anormais pode prejudicar a
colheita, aumentando a quantidade de café caído no solo, o que servirá de
alimento para a broca-do-café na entressafra. Nesse período, a umidade
relativa do ar influencia positivamente na intensidade de infestação dessa
praga, sendo que o inverno úmido com muito orvalho favorece a sua
sobrevivência. Dessa forma, culturas adensadas e/ou sombreadas podem
favorecer a broca através da redução de luminosidade e manutenção de
maior teor de umidade no cafezal.
As larvas broqueiam os frutos (Figura 13) destruindo-os parcial ou
totalmente e, dessa forma, podem-se enumerar os seguintes prejuízos e/ou
danos: a) queda de frutos novos perfurados, b) perda de peso das sementes e
c) perda da qualidade, pela depreciação do café na sua classificação por tipo,
pois cinco grãos brocados constituem um defeito.
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Figura 13 – Injúrias da broca-do-café nos grãos.

A broca-do-café pode ser amostrada através de dois planos:

a) Amostragem comum: examinar 500 frutos (cerca de 1 litro de


café verde/cereja) ao acaso, da primeira florada/talhão, no início da época de
trânsito da broca-do-café (novembro a janeiro, dependendo da região). Deve-
se percorrer o talhão em ziguezague, ou serpenteado (de forma semelhante
ao recomendado para o bicho-mineiro) e recolher os frutos de plantas
escolhidas ao acaso, em todo o talhão. O próximo passo é separar os frutos
brocados dos sadios e determinar a porcentagem de frutos brocados,
multiplicando o número de frutos brocados por 0,2 (constante).
Repetir as amostragens a cada 30 dias, até próximo à colheita.
Mesmo após a aplicação de inseticidas visando ao controle da broca-do-café,
devem ser realizadas amostragens para verificação da eficiência do controle.
Exemplo: supondo que nos 500 frutos amostrados sejam
observados 30 frutos brocados, obtém-se: 30 x 0,2 = 6,0% de frutos
brocados. Tendo em vista que o NC recomendado para a broca-do-café situa-
se entre 3 a 5% de frutos brocados, deve-se recomendar o controle da broca
nesse talhão.

b) Amostragem seqüencial: na amostragem seqüencial da broca-do-


café adota-se um procedimento semelhante ao do bicho-mineiro-do-cafeeiro.
Contudo, as notas zero ou um devem ser atribuídas aos ramos com ou sem
frutos brocados, respectivamente, amostrando-se um ramo, localizado na
“saia”, por planta. Exemplo: observa-se na Tabela 4 que o primeiro ramo
amostrado apresentou frutos brocados e, portanto, a nota atribuída foi igual a
zero. Nas plantas 2, 3, 4, 5 e 6, atribuiu-se nota 1 a cada uma, resultando
numa nota acumulada igual a 6 para a planta 7. Na planta 8 o ramo
18

amostrado tinha frutos brocados, e assim, 6+0 = 6; na planta 9 a nota foi 1 e


na planta 10 igual a zero.
Dessa forma, após amostrar 10 plantas (1 ramo/planta) podem-se
tomar decisões. Como 7 é menor que o limite inferior (9), interrompe-se a
amostragem e recomenda-se o controle da broca-do-café. Se a nota
acumulada ficar entre os limites, continuar a amostragem, e se for igual ou
maior que o limite superior, recomenda-se interromper a amostragem e não
controlar.
A grande vantagem da amostragem seqüencial em relação a
comum é a economia de tempo e dinheiro, principalmente quando a
população do inseto-praga é alta ou baixa, pois nesses casos é possível
tomar a decisão após amostrar poucas plantas.
19

Tabela 4 - Ficha de campo de amostragem seqüencial


da broca-do-café.

Broca-do-café

Limite inferior Nota Limite


Planta
acumulada superior
1 - 0 -
2 - 1 -
3 - 2 -
4 - 3 -
5 - 4 -
6 - 5 -
7 - 6 -
8 - 6 -
9 - 7 -
10 9 7 12
11 10 12
12 11 13
13 12 14
14 12 15
15 13 16
16 14 17
17 15 18
18 16 19
19 17 20
20 18 21
. . . .
. . . .
. . . .
30 28 30
31 29 31
32 29 32
33 30 33
34 (31) (34)
Propriedade: Talhão No: Estádio fenológico:

Data: Ação:
20

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, A.J.; MORAES, J.C.; MACIEL, T.M.R.; UEHARA, C.A.


Comparação de métodos de amostragem para a broca do café
Hypothenemus hampei. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS
CAFEEIRAS, 24, 1998, Poços de Caldas. Resumos... Poços de Caldas:
SDR/PROCAFÉ/PNFC, 1998. p. 218-220.

CURE, J.R.; SANTOS, R.H.S.; MORAES, J.C.; VILELA, E.F.; GUTIERREZ,


A.P. Fenologia e dinâmica populacional da broca do café Hypothenemus
hampei (Ferr.) relacionadas às fases de desenvolvimento do fruto. Anais da
Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v.27, n.3, p.325-335, set.,
1998.

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L;.


BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES,
S.B.; VENDRAMIM, J.D. Manual de entomologia agrícola. Piracicaba:
Ceres, 1988. 649p.

GRAVENA, S. Manejo Integrado de Pragas no Cafeeiro no Brasil. Situação


Atual. In: FERNANDES, O.A.; CORREIA, A.C.B.; DE BORTOLI, S.A. (eds).
Manejo Integrado de Pragas e Nematóides. Jaboticabal: FUNEP, 1990.
p.81-106.

GREEN, D.S.A proposed origin of the coffee leaf-miner, Leucoptera coffeella


(Guérin-Meneville) (Lepidoptera: Lyonetiidae). Bulletin of the Entomological
Society of America, Washington, v. 30, n.1, p. 30-31, 1984.

LE PELLEY, R.H. Pests of Coffee. London: Longmans, 1968. 590p.

MACIEL, T.M.R.; MORAES, J.C.; AMARAL-CASTRO, N.R.; CARVALHO, A.


J. Avaliação de métodos de amostragem do bicho mineiro Perileucoptera
coffeella. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 24,
1998, Poços de Caldas. Resumos... Poços de Caldas:
SDR/PROCAFÉ/PNFC, 1998. p. 217-218.

MORAES, J.C. Manejo integrado de pragas do cafeeiro. In: GUIMARAES,


R. (Coord.). Cafeicultura: Tecnologias de produção, gerenciamento e
comercialização. Uberaba: D4 - Videographic, 1998. (CD-Rom).

REIS, P.R. Manejo integrado das pragas do cafeeiro em Minas Gerais. In:
FERNANDES, O.A.; CORREIA, A.C.B.; DE BORTOLI, S.A. Manejo
Integrado de Pragas e Nematóides, Jaboticabal: FUNEP, 1990. p.39-57.
21

REIS, P.R.; SOUZA, J.C. Manejo integrado do bicho-mineiro Perileucoptera


coffeella (Guérin-Méneville) (Lepidoptera: Lyonetiidae), e seu reflexo na
produção de café. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina,
v.25, n.1, p.77-82, abr., 1996.

SOUZA, J.C.; REIS, P.R. Broca-do-café: Histórico, reconhecimento,


biologia, prejuízos, monitoramento e controle. Belo Horizonte: EPAMIG, 1993.
28p. (Boletim Técnico, 40).
22

ANEXOS:

Fichas de campo para planos de amostragem comum e


seqüencial do bicho-mineiro-do-cafeeiro e da broca-do-café.
23

Ficha de campo para a amostragem comum do bicho-mineiro e de vespas predadoras.

PLANTAS AMOSTRADAS (20 plantas/talhão)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 % Ação

Folhas
2
minadas
3

Folhas 1
com
2
sinais de
predação
por 3
vespas

Data: Talhão No: Assinatura do Técnico:


24

Ficha de amostragem seqüencial do bicho-


mineiro-do-cafeeiro.
Bicho-mineiro-do-cafeeiro
Limite Nota Limite
Planta
inferior acumulada superior
1 - -
2 - -
3 - -
4 - -
5 - -
6 - -
7 - -
8 - -
9 - -
10 5 10
11 5 10
12 6 11
13 7 12
14 7 12
15 8 13
16 9 14
17 9 14
18 10 15
19 10 16
20 11 16
21 12 17
22 12 18
23 13 18
24 14 19
25 14 20
26 15 20
27 16 21
28 16 22
29 17 22
30 (18) (23)
Propriedade: Talhão No: Estádio fenológico:

Data: Ação:
25

Ficha de amostragem seqüencial da broca-do-café.

Broca-do-café
Limite Nota Limite
Planta
inferior acumulada superior
1 - -
2 - -
3 - -
4 - -
5 - -
6 - -
7 - -
8 - -
9 - -
10 9 12
11 10 12
12 11 13
13 12 14
14 12 15
15 13 16
16 14 17
17 15 18
18 16 19
19 17 20
20 18 21
. . . .
. . . .
. . . .
30 28 30
31 29 31
32 29 32
33 30 33
34 (31) (34)
Propriedade: Talhão No: Estádio fenológico:

Data: Ação:

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