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Amilcar Freitas

Erika Oliveira de Almeida


Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

PROTOCOLO CLÍNICO
PARA A CONFECÇÃO DE
RESTAURAÇÕES CERÂMICAS
PROTOCOLO CLÍNICO
PARA A CONFECÇÃO DE
RESTAURAÇÕES CERÂMICAS
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Rodolfo Lamarck (Colaborador)

Design editorial
PROTOCOLO CLÍNICO
PARA A CONFECÇÃO DE
RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Amilcar Chagas Freitas Júnior


Erika Oliveira de Almeida
Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

Natal, 2021
Fundada em 1962, a Editora da UFRN (EDUFRN) permanece
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir livros com o
fim de divulgar o conhecimento técnico-científico produzido
na Universidade, além de promover expressões culturais do Rio
Grande do Norte. Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o
desafio de aliar uma tradição de quase seis décadas ao espírito
renovador que guia suas ações rumo ao futuro.

Publicação digital financiada com recursos do Fundo Editorial da UFRN. A seleção da obra
foi realizada pelo Conselho Editorial da EDUFRN, com base em avaliação cega por pares, a
partir dos critérios definidos no Edital nº 4/2019-EDUFRN, para a linha editorial Recursos
didático-pedagógicos.

Coordenadoria de Processos Técnicos


Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Protocolo clínico para a confecção de restaurações cerâmicas [recurso


eletrônico] / Amilcar Chagas Freitas Júnior … [et al.]. – Dados
eletrônicos (1 arquivo : 7936 KB). – Natal, RN : EDUFRN, 2021.
176 p. : il., , PDF ; 7936 Kb.

Modo de acesso: World Wide Web <http://repositorio.ufrn.br>.


Título fornecido pelos autores do recurso.
ISBN 978-65-5569-169-6

1. Restauração - Odontologia. 2. Cerâmicas dentárias. 3. Estética


Dentária. 4. Reabilitação Bucal – Tratamento. I. Freitas Júnior,
Amilcar Chagas.

CDD 617.6
RN/UF/BCZM 2021/14 CDU 616.314
Elaborado por Vânia Juçara da Silva CRB-15/805

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
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e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Editora da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte (EDUFRN), pela oportunidade de publi-
cação deste livro. Ademais, esses agradecimentos se estendem
aos pacientes que colaboraram e permitiram os registros
fotográficos para que esta obra fosse feita.
APRESENTAÇÃO

Neste livro, será apresentado um protocolo clínico simples e


seguro para a confecção de restaurações cerâmicas (facetas,
lentes de contato, fragmentos e coroas), abrangendo desde o
planejamento inicial até a cimentação adesiva, seguindo os
seguintes pontos: planejamento com realização do mock-up,
preparo de dentes com cimentação de pinos, moldagem de
passo único com afastamento pela técnica do duplo fio e
cimentação adesiva de laminados cerâmicos.
Para o sucesso em longo prazo de uma reabilitação oral
com materiais estéticos, é necessário que o profissional saiba
diagnosticar, planejar e executar adequadamente cada etapa
do tratamento. Isso depende do conhecimento e da per-
cepção de se conseguir enxergar o que está errado e saber
como corrigir. Dessa forma, ter conhecimento para indicar
e trabalhar corretamente com uma determinada cerâmica,
como preparar o dente para receber a cerâmica selecionada,
moldar o preparo, selecionar a cor da peça protética escolhida
e fazer os procedimentos de cimentação específicos para
cada tipo de cerâmica, são essenciais para a longevidade do
tratamento proposto.
Esperamos que esta obra venha a elucidar e esclarecer as
etapas clínicas das restaurações estéticas indiretas baseadas
em evidência científica, possibilitando um melhor tratamento
aos pacientes que necessitam desse tipo de reabilitação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO

PARTE I
Planejamento e mock-up ................................................................ 12

PARTE II
Preparos dentários .......................................................................... 20

PARTE III
Afastamento gengival e moldagem............................................... 41

PARTE IV
Cimentação adesiva ........................................................................ 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 61

REFERÊNCIAS.............................................................................. 63

AUTORES ....................................................................................... 64
INTRODUÇÃO

Até alguns anos atrás, a Odontologia Reabilitadora Estética


tinha como principal objetivo restaurar dentes para restabe-
lecer sua função mastigatória dentro de padrões estéticos
permitidos pelos materiais e técnicas disponíveis no mercado.
Atualmente essa preocupação ainda continua sendo o principal
objetivo do tratamento, embora o profissional contemporâneo
deva ser também capaz de realizar restaurações com padrões
estéticos de altíssima qualidade para corresponder às exi-
gências cada vez mais criteriosas dos pacientes (BOTTINO;
FARIA; VALANDRO, 2009). Muitas vezes, nossos clientes
exigem que as próteses sejam até melhores do que seus dentes
originais e os querem bem alinhados, brancos e perfeitos e
semelhantes aos dos artistas das televisões com alta definição.
No mercado odontológico existe uma quantidade e
variedade muito grande de produtos indicados para os mais
diversos procedimentos restauradores e que apresentam carac-
terísticas e propriedades capazes de atender as demandas
estéticas exigidas pelos pacientes. No entanto, nem sempre a
excelência do produto se transforma em reabilitação excelente.

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Vários são os motivos que podem estar relacionados com a
ausência de sucesso, mas certamente a deficiência de domínio
da técnica indicada e a falta de conhecimento das propriedades
dos materiais cerâmicos podem ser alguns dos responsáveis
pelo insucesso do tratamento reabilitador, mesmo quando
se utiliza um excelente material (MAGNE; BELSER, 2003).
Portanto, o profissional tem que saber diagnosticar,
planejar e executar adequadamente cada etapa do trata-
mento. Isso depende do conhecimento e da percepção de se
conseguir enxergar o que está errado e saber como corrigir.
Para isso, faz-se necessário ter entendimento para indicar
e trabalhar corretamente com uma determinada cerâmica,
como preparar o dente para receber a cerâmica selecionada,
moldar o preparo, selecionar a cor da cerâmica e fazer os
procedimentos de cimentação específicos para cada tipo de
cerâmica (FRADEANI, 2009).

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PARTE I
Planejamento e mock-up

Na prótese fixa tradicional, era muito comum o profissional


realizar o preparo dos dentes pilares, moldar e somente ao
final do tratamento esperar que o técnico em prótese dentária
(TPD) atendesse as expectativas do dentista e do paciente
quanto à forma e cor da restauração cerâmica. Dessa forma,
muitas vezes o TPD tinha que encontrar uma maneira de
adaptar funcionalmente as peças protéticas às condições
já estabelecidas nos preparos dentários e, depois, quando
possível, à forma e estética dentária. Como resultado, em
situações com espaço inadequado para o material restaura-
dor, por exemplo, era frequente observar restaurações com
sobrecontorno prejudicando a estética e saúde periodontal
ou, ainda, restaurações não inseridas no conceito de biomi-
metismo (Quadro 1) (BARATIERI, 2001; BOTTINO; FARIA;
VALANDRO, 2009).

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Quadro 1 – Conceitos de Biomimetismo

BIOMIMETISMO (BIOS = vida; MIMESIS = imitação)

Arte de imitar a natureza


Conceito geral
em sua perfeição

Arte em imitar os dentes naturais


Conceito relacionado
hígidos nas suas formas, cores, texturas
à odontologia
e comportamentos ópticos e mecânico.

Fonte: Os autores (2021)

Atualmente, deve-se respeitar a filosofia do tratamento


restaurador protético integrado e centrado principalmente nos
benefícios biológicos, mecânicos e estéticos para o paciente.
Dessa forma todo o tratamento baseia-se em um planejamento
reverso, no qual o dentista só deve realizar qualquer interven-
ção invasiva (como por exemplo os preparos dentários) após a
realização do mock-up e aprovação do paciente (ANCHIETA
et al., 2014).
Quando traduzido da língua inglesa, o termo mock-up
significa maquete ou modelo. Mas quando se pensa em
Odontologia, este termo significa ensaio restaurador intrao-
ral e permite ao paciente pré-visualizar o resultado final do
tratamento sem que nenhum tipo de desgaste dentário seja
realizado. Dessa forma, o mock-up torna-se uma importante
ferramenta para o dentista obter a confiança de seu paciente
quanto aos benefícios estéticos associados ao tratamento

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

proposto (CALAMIA, J. R; CALAMIA, C. S., 2007; KINA;


BRUGUERA, 2008).
Através do mock-up pode-se mostrar ao paciente possí-
veis resultados decorrentes da alteração de forma e cor dos
elementos dentários. Além disso, possibilita o dentista avaliar
o resultado do enceramento de diagnóstico integrado às
demais referências estéticas presentes no rosto do paciente,
como linha média, linha interpupilar, linha alta do sorriso,
integração do posicionamento dentário com os lábios etc.
Certamente, essa percepção não poderia ser obtida apenas
com o enceramento realizado nos modelos de estudo. Em
algumas situações, o mock-up funciona também como um
guia para a realização de plastias gengivais, atuando inclusive
como guia cirúrgico (CALAMIA, J. R; CALAMIA, C. S.,
2007; KINA; BRUGUERA, 2008).
Para a realização do mock-up, faz-se necessária uma mol-
dagem inicial para obtenção dos modelos de estudo, nos
quais será realizado o enceramento diagnóstico (Figuras 1
a 3). Por meio de um guia de transferência feito com a pasta
pesada das siliconas ou de matrizes plásticas fabricadas a
vácuo (Figura 4), esse enceramento será copiado e levado à
boca do paciente. De forma prática, realizá-lo diretamente na
boca do paciente utilizando resinas bisacrílicas (ProtempTM,
3M ESPE; Systemp, Ivoclar; LuxatempTM, DMG; Structur

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2 SC, Voco), o que permite também uma prova da cor da


restauração pois estão disponíveis em variadas tonalidades
(Figuras 5 a 7) (KINA; BURGUERA, 2008).

Figura 1 – Condição clínica inicial

Fonte: Os autores (2021)

Figura 2 – Modelo de estudo da condição inicial

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 3 – Modelo com enceramento de diagnóstico

Fonte: Os autores (2021)

O mock-up é principalmente recomendado quando há


necessidade de alteração da forma (casos de dentes conoides,
diastemas etc.), comprimento ou posição do dente no arco,
sendo válido principalmente nas situações em que apenas
um aumento do volume dental é necessário. Quando se faz
necessário algum desgaste dentário para a resolução estética
do caso (exemplo: dentes anteriores superiores muito vestibu-
larizados), a técnica do mock-up pode não ser possível (KINA;
BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).

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Figura 4 – Guia de transferência ou índex confeccionado sobre o modelo encerado

Fonte: Os autores (2021)

Figura 5 – (A) Inserção da resina bisacrílica no índex. (B) Inserção do conjunto


resina bisacrílica mais índex na boca para obtenção do mock-up

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 6 – Mock-up em posição

Fonte: Os autores (2021)

Figura 7 – Sorriso do paciente com o mock-up realizado

Fonte: Os autores (2021)

Veja a seguir um checklist das principais características


estéticas a serem examinadas num sorriso (Figura 8):
1. Eixo dental
2. Margem gengival (zênite)

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3. Contato interdental
4. Ameia incisal interdental
5. Ameia gengival interdental
6. Perfil de emergência (fechamento interdental)
7. Forma interdental
8. Borda incisiva
9. Proporção dentária
10. Caracterização dental
11. Textura de superfície
12. Cor

Figura 8 – Sorriso inicial com as principais características estéticas a serem


observadas

Fonte: Os autores (2021)

Todas estas características devem estar em harmonia para


compor um sorriso com estética aceitável. Caso contrário, o
dentista deve ser capaz de identificar aquelas que estão fora dos
padrões e planejar o que deve ser feito para corrigi-las (KINA;
BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).

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PARTE II
Preparos dentários

Somente após a aprovação do mock-up pelo dentista e paciente,


inicia-se a fase de preparos dentários (KINA; BRUGUERA,
2008).
Um erro comum em preparos dentários é considerar que a
simples redução do dente corresponde aos espaços necessários
para a confecção da prótese dentária. Sem antes saber qual
será a posição final da restauração e estabelecer uma referên-
cia, os preparos dentários não passam de simples desgastes
dentários. Por isso, antes de iniciar qualquer desgaste dentário
com finalidade protética, é necessário o planejamento através
de um enceramento de diagnóstico definindo a anatomia e
a posição dentária desejada no final da reabilitação. Com
isso, o dentista poderá ter critérios bem definidos a partir de
guias de silicona para realizar os desgastes de forma seletiva
e conservadora (KINA; BRUGUERA, 2008).

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Tipos de guias de silicona que podem ser úteis para orien-


tar o dentista na realização dos preparos dentários (Figuras
9 a 15):

Figura 9 – Guia vestíbulo-lingual seccionado horizontalmente para orientar a


quantidade de desgaste vestibular

Fonte: Os autores (2021)

Figura 10 – Guia palatino para orientar a quantidade de desgaste incisal

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 11 – Guia vestíbulo-lingual seccionado sagitalmente para orientar o


desgaste tanto na vestibular como na lingual/palatina

Fonte: Os autores (2021)

Figura 12 – Guia indicando haver necessidade de maior quantidade de desgaste


na face distal do canino

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 13 – Espaço suficiente para o material restaurador em toda a extensão


do preparo após desgaste na distal do canino

Fonte: Os autores (2021)

Figura 14 – Guia palatino mostrando não haver necessidade de redução incisal


para obtenção de espaço (2mm) para aplicação da cerâmica

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 15 – Preparos dentários realizados após a utilização de guias de desgastes

Fonte: Os autores (2021)

Um outro fator que o clínico deve ficar atento na rea-


lização de preparos dentários é a tomada de decisão pelo
design da peça protética a ser confeccionada e selecionar o
material restaurador, determinando as espessuras necessárias
(quantidade de desgaste) para adequada solidez estrutural
da peça protética (KINA; BRUGUERA, 2008; BOTTINO;
FARIA; VALANDRO, 2009).
Veja a seguir os diferentes tipos de restaurações cerâmicas
disponíveis (Figura 16):

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Figura 16 – Principais tipos de restaurações cerâmicas (metal-free) disponíveis


para o planejamento de reabilitações orais estéticas

Fonte: Os autores (2021)

O objetivo básico dos preparos dentários é a obtenção


dos espaços adequados para a confecção de restaurações
cerâmicas com solidez estrutural e estética satisfatória. Ao
mesmo tempo, não se pode esquecer de que as restaurações
cerâmicas precisam de um eixo de inserção para que possam
ser assentadas sobre o pilar. Nesse sentido, às vezes a obtenção
de um eixo de inserção demanda desgastes específicos na
estrutura dentária (KINA; BRUGUERA, 2008).

Características dos preparos para


Laminados Cerâmicos:

• Redução Vestibular – A quantidade de desgaste a ser


realizada na face vestibular pode variar entre 1,5mm

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a até mesmo ausência de desgaste (lentes de contato).


Tudo vai depender basicamente de 3 fatores (KINA;
BRUGUERA, 2008):
1) se há necessidade de acréscimo de volume
(vestibularização) ou redução de volume (lin-
gualização) para posicionar a restauração final;
2) tipo de material escolhido para a restauração
protética, observando a espessura necessária
para atingir a rigidez estrutural;
3) grau de escurecimento do substrato den-
tário comparado ao resultado final da cor
pretendida.
• Redução Incisal – A quantidade de desgaste a ser remo-
vida em altura na região incisal deve variar de 1,5 a
2mm. No entanto, o desenho da redução incisal pode
variar segundo os critérios de retenção e preservação
de estrutura dentária sadia. Assim, temos 3 opções
de redução incisal, como ilustradas nas figuras 17 a
19 (KINA; BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA;
VALANDRO, 2009):

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Figura 17 – Sem redução incisal

Fonte: Os autores (2021)

Figura 18 – Redução incisal inclinada em 45o com a face palatina

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 19 – Redução incisal com sobrepasse palatino (overlap)

Fonte: Os autores (2021)

A ausência de redução incisal, apesar de propiciar maior


preservação da estrutura dentária, não é recomendada, pois
o recobrimento incisal evita tensões cisalhantes na interface
dente/restauração proporcionando melhor distribuição de
estresse na própria restauração. Além disso, a redução incisal
possibilita a criação de espaço suficiente para o TPD realizar
uma estratificação adequada da cerâmica na região da borda
incisal e, ainda, melhor estabilização do laminado durante e
após o assentamento sobre o preparo. Com relação ao desenho
do recobrimento incisal, o sobrepasse palatino (overlap) deve
ser evitado por apresentar maior quantidade de desgaste de
estrutura dentária, além de criar áreas de maior concentração

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de tensão e maior susceptibilidade à fratura especialmente


na região do chanfro incisal (KINA; BURGUERA, 2008;
BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).
Desse modo, a forma ideal é a redução incisal em 45o
com a face palatina, pois apresenta a melhor combinação
entre resistência, estética e facilidade de preparo (Figura 20).

Figura 20 – Redução incisal com formato ideal

Fonte: Os autores (2021)

• Desenho e localização do término cervical –


Recomenda-se a utilização de chanfros circulares e é
aceitável a localização supragengival em casos de subs-
tratos claros. Margens intrassulculares são indicadas
na presença de remanescentes dentários escurecidos
(KINA; BRUGUERA, 2008).

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• Desenho e localização das margens proximais – Na


presença de restaurações classe III com prognóstico
duvidoso ou no fechamento de diastemas, é recomen-
dado o envelopamento proximal (rompimento dos pon-
tos de contato) (Figura 21). Margens intrassulculares na
região interproximal é indicada nos casos de fechamento
de diastemas ou triângulo interdentário aberto (black
space). Quando decidir pelo não rompimento do ponto
de contato, as margens proximais do preparo devem ser
estendidas até o ponto de contato para mascarar a linha
de cimentação (Figura 22) (KINA; BRUGUERA, 2008).

Figura 21 – Preparos dentários para laminados cerâmicos realizados com


rompimento dos pontos de contato, pois havia a necessidade de fechamento de
diastemas (pilares protéticos afastados)

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 22 – Preparos dentários para laminados cerâmicos realizados sem


rompimento dos pontos de contato

Fonte: Os autores (2021)

Veja na sequência o caso completo desta mesma paciente


antes e após o fechamento dos diastemas (Figuras 23 a 32).

Figura 23 – (A) Vista frontal do sorriso inicial da paciente. (B) Vista lateral
do sorriso da paciente com presença de facetas diretas de resina composta
deficientes: escurecidas, sem lisura de superfície e diastemas

A B

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 24 – (A) Moldagem inicial do arco superior com silicona de adição


(Express XT, 3M ESPE). (B) Moldagem inicial do arco inferior com silicona de
adição (Express XT, 3M ESPE)

A B
Fonte: Os autores (2021)

Figura 25 – (A) Modelo inicial. (B) Modelo com enceramento de diagnóstico


obtido para o planejamento do caso

A B

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 26 – (A) Vista frontal do sorriso durante o ensaio clínico. (B) Vista lateral
do sorriso durante o ensaio clínico

A B

Fonte: Os autores (2021)

Figura 27 – (A) Guia palatino de silicona obtido a partir do enceramento


diagnóstico para orientar a quantidade de desgaste necessária. (B) Preparos
dentários para laminados cerâmicos

A B
Fonte: Os autores (2021)

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Figura 28 – Detalhes do molde obtido realizado pela técnica da dupla mistura


com silicona de adição (Express XT, 3M ESPE). Presença das saias de silicona
fluida (em azul) reproduzindo o espaço do sulco gengival

Fonte: Os autores (2021)

Figura 29 – (A) Vista frontal do sorriso inicial da paciente. (B) Vista frontal
do sorriso após o tratamento com 4 laminados cerâmicos IPS e.max (Ivoclar
Vivadent)

A B

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 30 – (A) Vista frontal aproximada do sorriso inicial da paciente. (B) Vista
frontal aproximada do sorriso após o tratamento com 4 laminados cerâmicos
IPS e.max (Ivoclar Vivadent)

A B

Fonte: Os autores (2021)

Figura 31 – Sorriso da paciente após 6 meses de tratamento

Fonte: Os autores (2021)

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 32 – Sorriso aproximado da paciente após 6 meses de tratamento

Fonte: Os autores (2021)

- O que fazer em casos de substratos escuros (dentes


escurecidos ou pinos metálicos)?
É comum em nossa rotina clínica nos depararmos com
substratos escuros, como nos casos de núcleos metálicos
fundidos e até mesmo dentes escurecidos pelos mais diversos
fatores. Nestas situações, cuja resolução clínica apresenta
maior dificuldade com restaurações livres de metal, podemos
lançar mão de alguns artifícios para mascarar o substrato
escurecido. Estes artifícios estão relacionados à quantidade
e extensão dos desgastes durante os preparos dentários, à
seleção adequada das pastilhas cerâmicas e à seleção adequada
do tipo e cor do cimento resinoso (Figuras 33 e 34) (KINA;
BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).

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Figura 33 – (A) Preparos de dentes escurecidos. (B) Cimentação de coroas à base


de dissilicato de lítio (IPS e.max) com pastilha de alta opacidade (HO – high
opacity). (C) Sorriso final da paciente

A B C
Fonte: Os autores (2021)

Figura 34 – Vista lateral do sorriso final com duas coroas cerâmicas (IPS e.max
HO) sobre dentes escurecidos

Fonte: Os autores (2021)

No que diz respeito ao desgaste seletivo da estrutura


dentária, deve-se ter em mente que quanto mais escurecido
for o substrato, maior será a quantidade de desgaste neces-
sária para que se obtenha um espaço mais adequado para
uma restauração cerâmica com maior espessura (KINA;

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BRUGUERA, 2008). No mínimo 0,8mm de espessura de


desgaste na face vestibular faz-se necessária para mascarar
substratos escuros, desde que associado a cerâmicas de dentina
mais opacas (Figura 35). Logicamente, se for possível realizar
uma quantidade de desgaste mais profunda, pode-se trabalhar
com mais segurança para obtenção de uma cor mais clara na
restauração final. Além disso, deve-se estender ao máximo
o término cervical para região subgengival, pois a margem
cervical da restauração é a região mais crítica para o masca-
ramento, principalmente em pacientes com linha de sorriso
alta. Em função do exposto, em caso de substrato escurecido
normalmente, opta-se pela realização de preparo para coroa
total. No entanto, o profissional deve estar ciente e informar
ao paciente que em casos onde o biótipo do tecido gengival é
fino, independente do tipo de restauração (laminado ou coroa
total), certamente alterações de cor irão transparecer pela
gengiva e representarão limitações estéticas para a solução
do caso (KINA; BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA;
VALANDRO, 2009).
Com relação à escolha do material restaurador, deve-
-se optar por sistemas cerâmicos que apresentem pastilhas
injetadas (press) com maior controle de passagem de luz.
Assim, no caso do sistema a base de dissilicato de lítio (IPS
e.max – Ivoclar Vivadent), pode-se optar por pastilhas de

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alta opacidade HO (high opacity) para casos mais severos


de escurecimento ou por pastilhas de média opacidade MO
(medium opacity) para casos mais brandos de escurecimento.
Em situações onde existir um núcleo metálico fundido cimen-
tado, por exemplo, deve-se optar por pastilhas HO ou ainda,
por sistemas cerâmicos a base de zircônia, como o LAVA
System (3M ESPE). Nestes casos, os preparos devem ser para
coroas totais (KINA; BRUGUERA, 2008).

Figura 35 – Simulação ilustrando o mascaramento da cor do substrato realizado


com infraestruturas cerâmicas de 0,8mm de espessura em todos os casos

Fonte: Os autores (2021)

Observe, na figura acima, que quando utilizada pastilha


de alta translucidez (HT – high translucency), não se consegue
mascarar a cor do substrato, mas quando utilizada pastilha
de alta opacidade (HO – high opacity), é possível mascarar
completamente a cor do substrato.
Outro fator que também interfere na cor final da res-
tauração é a cor do cimento resinoso. Na prática, é o fator
que menos influencia (aproximadamente 10%). Contudo,
em casos de laminados muito finos, como por exemplo as

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

lentes de contato, esta discreta influência pode significar a


transição entre a satisfação ou não do paciente. Para se valer
da possibilidade de variação de cor do cimento, é necessário
selecionar cimentos que apresentem em seu kit a pasta try-in,
que são pastas matizadas que acompanham os cimentos
resinosos e permitem tanto o dentista como o paciente ava-
liarem a tonalidade final da restauração cerâmica, prevendo
a estética e conferindo previsibilidade de resultado (KINA;
BRUGUERA, 2008). Mais detalhes sobre a utilização dos
cimentos resinosos veneers e das pastas try-in você verá no
capítulo de Cimentação.

40
PARTE III
Afastamento gengival e moldagem

O objetivo principal da moldagem é produzir uma réplica


fiel (modelo de gesso) dos dentes preparados e tecidos adja-
centes. Neste sentido, a cópia adequada dos términos cervi-
cais, especialmente aqueles localizados abaixo da margem
gengival, constitui uma condição crítica para o sucesso do
tratamento. Portanto, faz-se necessário o afastamento mecâ-
nico da margem gengival, que pode ser realizado de duas
maneiras: com casquete de resina ou com fios afastadores. A
grande desvantagem dos casquetes de resina é que os mesmos
podem se deslocar durante a moldagem de transferência,
principalmente quando esta não é realizada com o mesmo
material de moldagem que está presente no interior do cas-
quete (normalmente um poliéter) (KINA; BRUGUERA, 2008;
BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).
Dessa forma, a técnica de moldagem e de afastamento
gengival recomendada é a técnica de moldagem de dupla
mistura (pasta pesada + pasta fluida) realizando o afastamento

41
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

gengival utilizando duplo fio (dois fios de diferentes diâme-


tros). Para isso, o material a ser utilizado para a moldagem
deve apresentar precisão e estabilidade dimensional, resis-
tência à deformação e excelente capacidade de reprodução
de detalhes. Dentre os materiais atualmente disponíveis no
mercado e que reúnem estas características temos os poliéteres
(Impregum – 3M) e as siliconas de adição (variadas marcas).
Basicamente, a escolha do material de moldagem depende de
uma relação de custo-benefício que está associada à consis-
tência do material de moldagem e ao tipo de moldeira a ser
utilizada: poliéter quando for utilizar moldeiras individuais,
e siliconas de adição quando for utilizar moldeiras de estoque
(KINA; BRUGUERA, 2008).
O afastamento gengival pela técnica do duplo fio é uma
opção eficiente e pouco traumática aos tecidos periodontais.
Inicialmente deve-se inserir um primeiro fio de pequeno
diâmetro (diâmetros 0000 ou 000), chamado de fio de com-
pressão, objetivando o afastamento vertical e o selamento da
porção mais profunda do sulco, a fim de conter os fluidos
sulculares, principalmente quando existir algum sangramento.
O segundo fio deve ser de maior diâmetro (diâmetros 00,
0, 1, 2 ou 3), a ser escolhido de acordo com o tamanho do
sulco gengival. O segundo fio deve ser colocado sobre o fio
de compressão a fim de realizar o afastamento horizontal das

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Amilcar Chagas Freitas Júnior
Erika Oliveira de Almeida
Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

margens gengivais e deve ser removido imediatamente antes


da inserção do material de moldagem (KINA; BRUGUERA,
2008).
Veja a seguir o passo a passo para a moldagem utilizando
a técnica de moldagem de passo único e de dupla mistura rea-
lizando o afastamento gengival utilizando duplo fio (Figuras
36 a 39):

Figura 36 – Sondagem do sulco gengival para a seleção do diâmetro adequado


do fio de afastamento

Fonte: Os autores (2021)

43
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 37 – Fio sendo inserido seco ou umedecido (em água ou hemostop) com
a espátula inclinada em direção à estrutura dentária

Fonte: Os autores (2021)

Observe na figura acima que o fio está sendo inserido


através de uma inclinação de 45° da espátula. A inserção do
fio não deverá ser feita no sentido vertical.

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Erika Oliveira de Almeida
Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

Figura 38 – (A) Dente preparado com a presença do primeiro e segundo fio. (B,
C e D) Inserção do material fluido no interior do sulco gengival com o auxílio
de uma ponta misturadora fina imediatamente após a retirada do segundo fio.
(E) Injeção de todo o material fluido

A B C

D E

Fonte: Os autores (2021)

Após a injeção de todo o material fluido, a moldeira de


estoque metálica é carregada com a silicona densa e intro-
duzida sobre os preparos recobertos com a silicona fluida
(Figura 39).

45
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 39 – (A) Molde obtido com silicona de adição (Express XT – 3M) pela
técnica de moldagem de dupla mistura. (B) Saia de silicona fluida na região
vestibular do preparo para faceta reproduzindo o espaço do sulco gengival

A B

Fonte: Os autores (2021)

46
PARTE IV
Cimentação adesiva

O principal objetivo da cimentação é a união entre o substrato


dentário e a restauração cerâmica por meio de um agente
cimentante. Para a cimentação de restaurações cerâmicas, o
material de escolha é o cimento resinoso, pois proporciona
elevados valores de retenção, além de melhorar a adaptação
marginal, prevenir microinfiltração e aumentar a resistência
mecânica tanto do dente restaurado como da própria restau-
ração cerâmica. Além disso, os cimentos resinosos apresentam
menor solubilidade ao meio bucal comparados aos cimentos
a base de fosfato de zinco e de ionômero de vidro (KINA;
BRUGUERA, 2008; BOTTINO; FARIA; VALANDRO, 2009).
Veja no quadro a seguir as indicações dos principais
cimentos resinosos disponíveis no mercado (Quadro 2):

47
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Quadro 2 – Classificação dos cimentos resinosos (baseada no modo de ativação)


e suas principais indicações
Marca do
Tipo de cimento Nome do cimento Indicação do cimento
cimento

Variolink Venner Ivoclar Vivadent


RelyX Veneer 3M/Espe Facetas de porcelana e
Fotoativados
Insure/Insure lite Cosmedent resina
Illusion Bisco

Peças indiretas com mais


RelyX ARC 3M/Espe
de 2mm de espessura;
Dupla ativação Duo-Link Bisco
restaurações opacas; pinos;
Clearfil DC Kuraray
núcleos e peças metálicas

Peças indiretas com


Panavia 21
Kuraray mais de 2,5mm de
Quimicamente Cement Luting
Bisco espessura; restaurações
ativados composite
Bisco metalocerâmicas; núcleos
Post Cement HI-X
ou pinos

RelyX U200 3M/Espe


Coroas totais (substrato
Clearfil AS Cement Kuraray
Autoadesivos em dentina) e pinos
Multilink Automix Ivoclar Vivadent
intrarradiculares
Panavia F 2.0 Kuraray

Fonte: Os autores (2021)

O procedimento de cimentação só deve ser realizado após a


prova das restaurações cerâmicas, que pode ser didaticamente
dividida em duas etapas: prova seca (ajustes dos pontos de
contato e da oclusão) e prova úmida (seleção da cor do cimento
a ser realizada com as pastas try-in presente nos kits dos
cimentos fotoativados veneer) (KINA; BRUGUERA, 2008).
O protocolo de cimentação compreende 4 etapas (KINA;
BRUGUERA, 2008):
(I) Prova e escolha da cor do agente cimentante (Figuras
40 a 42)

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Erika Oliveira de Almeida
Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

Figura 40 – (A) Inserção da pasta try-in (cimento Rely X veneer) de uma cor
mais clara que a peça protética. (B) Inserção da pasta try-in (cimento Rely X
veneer) de uma cor neutra

Fonte: Os autores (2021)

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 41 – Utilização da pasta try-in (cimento Rely X veneer) com duas cores
diferentes

Fonte: Os autores (2021)

Figura 42 – Simulação da utilização de uma mesma faceta cerâmica (0,8mm


de espessura) sendo posicionada sobre o mesmo substrato com diferentes cores
de cimento

Fonte: Os autores (2021)

Na figura acima, note a influência da cor do cimento na


cor final da restauração, especialmente na região cervical
mais delgada.

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Erika Oliveira de Almeida
Laércio Almeida de Melo
Tasiana Guedes de Souza Dias

(II) Preparo da superfície cerâmica (Figuras 43 a 46)

Figura 43 – Aplicação de ácido fluorídrico

Fonte: Os autores (2021)

A aplicação do ácido fluorídrico a 5% ou 10% deve ser


realizada em todas as cerâmicas ácido-sensíveis (a base de
dissilicato de lítio = 20 seg, demais tipos de cerâmicas = 1
a 2 min).

51
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 44 – Aplicação de ácido fosfórico

Fonte: Os autores (2021)

A aplicação do ácido fosfórico a 37% por 30 seg tem por


objetivo limpeza/remoção de detritos da superfície cerâmica.
Essa conduta é indicada principalmente na utilização prévia
de um ácido fluorídrico a 10%.

Figura 45 – Aplicação do silano

Fonte: Os autores (2021)

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Laércio Almeida de Melo
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O silano deve ser aplicado por meio de fricção e em seguida


deve-se deixá-lo volatilizar por um tempo de 1 min.

Figura 46 – Aplicação do adesivo e sua fotopolimerização

Fonte: Os autores (2021)

A aplicação do adesivo deve ser realizada em uma camada


fina e, se necessário, aplicam-se jatos de ar suavemente. Em
seguida, fotopolimeriza-se a camada de adesivo. Em casos
de laminados muito delgados (menos de 1mm), pode deixar
para fotopolimerizar com a peça protética em posição junto
com o cimento.
(III) Preparo da superfície dentária (Figuras 47 a 49)
Após limpeza da superfície do preparo com pedra-pomes e
água, realizar o condicionamento seletivo com ácido fosfórico
a 37% entre 15 seg (dentina) e 30 seg (esmalte).

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 47 – Condicionamento seletivo com ácido fosfórico a 37%

Fonte: Os autores (2021)

Figura 48 – Lavagem abundantemente com água para a remoção do ácido

Fonte: Os autores (2021)

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Figura 49 – (A) Aplicação de fina camada de adesivo. (B) Fotopolimerização


do adesivo

A B

Fonte: Os autores (2021)

Caso a restauração cerâmica apresente menos de 1mm de


espessura, a fotopolimerização do adesivo pode ser realizada
quando a peça protética estiver em posição para minimizar
possíveis desadaptações em decorrência da espessura da
camada de adesivo.
(IV) Cimentação propriamente dita (Figuras 50 a 52)
Após a manipulação do cimento resinoso e inserção da
peça protética sobre o preparo, pode-se remover o excesso
de cimento antes da polimerização com um microbrush ou
pincel (Figuras 50).

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 50 – Remoção do excesso de cimento resinoso

Fonte: Os autores (2021)

A remoção de excessos também pode ser feita por meio


de uma fotopolimerização por mais ou menos 5 seg e em
seguida remove-se o excesso de cimento ainda na fase pré-gel
com uma sonda exploradora (Figura 51).

Figura 51 – Remoção do cimento após a sua fotopolimerização inicial

Fonte: Os autores (2021)

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Laércio Almeida de Melo
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Após completa polimerização do cimento resinoso (fotopo-


limerização por 40 seg em cada face da restauração), retira-se
o fio afastador para remover qualquer resto de cimento de
dentro do sulco (Figura 52).

Figura 52 – Remoção do fio afastador após a fotopolimerização completa do


cimento resinoso

Fonte: Os autores (2021)

Nas ilustrações a seguir você encontra um resumo com


os principais grupos de cerâmicas encontrados no mercado
atual com seus respectivos protocolos de condicionamento
(Figuras 53 a 56 e Quadro 3).

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Figura 53 – Protocolo de condicionamento para cerâmicas feldspáticas

Fonte: Os autores (2021)

Figura 54 – Protocolo de condicionamento para cerâmicas dissilicato de lítio

Fonte: Os autores (2021)

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Laércio Almeida de Melo
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Figura 55 – Protocolo de condicionamento para cerâmicas alumina

Fonte: Os autores (2021)

Figura 56 – Protocolo de condicionamento para cerâmicas zircônia

Fonte: Os autores (2021)

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PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

Quadro 3 – Protocolo clínico para a cimentação de laminados cerâmicos


PASSO A PASSO PARA A CIMENTAÇÃO DE LAMINADOS E COROAS

NA REGIÃO ANTERIOR E POSTERIOR

• DENTES ANTERIORES

– CERÂMICA:
e.MAX, (Ivoclar): ácido-sensível a base de dissilicato de lítio
 Tratamento de superfície clínico: ácido fluorídrico
10% (20s) + lava e secar + ácido fosfórico 37% (30s) + silano
(volatilizar 1min) + fina camada de adesivo (foto)

– CIMENTO:
Laminados (menos 1mm espessura): fotoativados (RelyX
Veneer ou Variolink Veneer)
Laminados (mais de 1mm espessura): dual (RelyX ARC)
Coroas: Autocondicionante (RelyX U200)
*Cimentos fotoativados e duais necessitam de condicionamento
do substrato dental: ácido fosfórico 37% (30s esmalte e 15s
dentina) + adesivo (Foto)
* Quando usar cimentos duais deve-se usar adesivos de 2 frascos
(primer + adesivo) juntamente com o ativador e catalizador.

• DENTES POSTERIORES

– CERÂMICA:
LAVA (3M): ácido resistente a base de zircônia estalizada por
óxido de ítrio YTZP
 Tratamento de superfície clínico: primer para zircônia
(MZ Primer, Angelus)
– CIMENTO:
Coroas: autocondicionante (RelyX U200, 3M) ou
Panavia (Kuraray)
Fonte: Os autores (2021)

60
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se obter sucesso em reabilitações estéticas, o planejamento


do caso clínico é essencial. Por sua vez, esse planejamento
tem por objetivo promover uma longevidade do tratamento,
preservando as estruturas do sistema estomatognático. Vale
salientar que o atendimento às expectativas do paciente deve
ser considerado. Essas expectativas são observadas durante a
anamnese, na qual identifica-se, coleta-se e armazena-se um
grande número de informações do paciente.
Apesar da importância do planejamento dentro de uma
reabilitação, a sua realização não assegura o sucesso em longo
prazo, caso não se tenha o objetivo de eliminar os fatores
de riscos às falhas protéticas. Dentre os principais fatores,
destaca-se a cárie dentária, doença periodontal e o trauma
oclusal. Para a cárie dentária, a qual é uma doença crônica e
de etiologia multifatorial, deve-se ficar atento aos elementos
que contribem com a retenção de biofilme dentário, quais
sejam: presença de gaps entre a peça protética e o término
do preparo e o excesso de cimento. Na doença periodontal, a
orientação de higiene e o restabelecimento da saúde gengival

61
PROTOCOLO CLÍNICO PARA A CONFECÇÃO DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS

se fazem necessárias para evitá-la. Por fim, a ausência de


toque dos elementos posteriores durante os movimentos de
protrusão e lateralidade deve estar presente para diminuir
os riscos de traumas oclusais.

62
REFERÊNCIAS

ANCHIETA, R. B.; ROCHA, E. P.; WATANABE, U. M.; ALMEIDA,


E. O.; FREITAS-JÚNIOR, A. C.; MARTINI, A. P.; BARIONI, S. R.
P. Recovering the function and esthetics of fractured teeth using
several restorative cosmetic approaches. Three clinical cases. Dental
Traumatology, v. 28, p. 166-172, 2014.

BARATIERI, L. N. Odontologia restauradora: fundamentos e


possibilidades. São Paulo: Quintessence, 2001.

BOTTINO, M. A.; FARIA, R.; VALANDRO, L. F. Percepção: estética


em próteses livres de metal em dentes naturais e implantes. São Paulo:
Artes Médicas, 2009.

CALAMIA, J. R.; CALAMIA, C. S. Porcelain laminate veneers:


reasons for 25 years of success. Dent. Clin. North Am., [s. l.], v. 51, p.
399-417, 2007.

FRADEANI, M. Tratamento protético: reabilitação estética em prótese


fixa. São Paulo: Quintessence, 2009.

KINA, S.; BRUGUERA, A. Invisível: restaurações estéticas cerâmicas.


2. ed. Maringá: Dental Press, 2008.

MAGNE, P.; BELSER, U. Restaurações adesivas de porcelana


na dentição anterior: uma abordagem biomimética. São Paulo:
Quintessence, 2003.

63
AUTORES

AMILCAR CHAGAS FREITAS JÚNIOR


Possui especialização em prótese dentária pelo Conselho Regional de
Odontologia – São Paulo (CRO-SP), mestrado em prótese dentária
pela Faculdade de Odontologia, campus Araçatuba (FOA-UNESP) e
doutorado em prótese dentária pela FOA-UNESP e New York University
(NYU). Atualmente é sócio e professor de cursos de pós-graduação no
Grupo Innovation – Natal/RN.

ERIKA OLIVEIRA DE ALMEIDA


Possui especialização em prótese dentária pela Associação Brasileira de
Odontologia – Pernambuco (ABO-PE), mestrado em prótese dentária
pela Faculdade de Odontologia, campus Araçatuba (FOA-UNESP) e
doutorado em prótese dentária pela FOA-UNESP e New York University
(NYU). Atualmente é professora do Departamento de Odontologia na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

LAÉRCIO ALMEIDA DE MELO


Possui especialização em prótese dentária pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), mestrado em Odontologia pela UFRN
e doutorado em Saúde Coletiva pela UFRN. Atualmente é professor do
Departamento de Odontologia na UFRN.

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TASIANA GUEDES DE SOUZA DIAS
Possui especialização em prótese dentária pela Associação Brasileira
de Odontologia – Pernambuco (ABO-PE) e mestrado em Odontologia
pela Universidade Potiguar – Natal/RN (UNP). Atualmente é professora
de cursos de pós-graduação no Grupo Innovation – Natal/RN.

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Este livro foi produzido
pela equipe da EDUFRN
em agosto de 2021.

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