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Tratados Endodonticamente
Ana Regina Cervantes Dias
Katia Regina Hostílio Cervantes Dias
Raphael Vieira Monte Alto
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
A B
Quantidade de estrutura dental remanescente
A quantidade e a qualidade do remanescente dentinário
são os fatores mais importantes e que ditam o tipo de mate-
rial restaurador a ser utilizado em um dente endodontica-
mente tratado.1
No que se refere à quantidade, uma regra simples a adotar
é a da quantidade de faces perdidas. Caso as paredes rema-
nescentes estejam em número igual ou superior às ausentes, a
colocação de pino não será necessária. Em outras palavras: “o
que saiu deve ser igual ou menor do que o que ficou.” C D
Entretanto, não basta ter a estrutura: deve haver ainda Figura 20.3A Pré-molar tratado endodonticamente. B Medição
qualidade e estética. Para que um remanescente seja capaz da espessura do remanescente coronário com especímetro. C Ins-
talação de um pino uma vez que o remanescente apresentava es-
de suportar e reter uma restauração, deve apresentar suporte
pessura inferior a 1,5mm e ausência de dentes contíguos. D Núcleo
dentinário de no mínimo 1,5mm de espessura (medido com de preenchimento em resina composta. Dente apto a receber res-
o especímetro), ausência de trincas em esmalte e estética.1 tauração indireta.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
RETENTORES INTRARRADICULARES
Quando um dente se encontra com grande percentual
de destruição, com trincas no esmalte, remanescente sem
estética, ou ainda se será pilar de uma prótese fixa ou remo-
vível, o núcleo de preenchimento não costuma ser suficien-
te para reter a restauração protética ou reforçar a porção
coronária. Nesses casos está indicado o uso de pinos intrar-
A B radiculares. Outras indicações e limitações estão listadas
no Quadro 20.1
Figura 20.4A Ausência de férula: pior prognóstico. B Férula em
toda a circunferência do remanescente: melhor prognóstico. Atualmente, o mercado odontológico dispõe de diversas
alternativas restauradoras, tanto pré-fabricadas como per-
Caso não seja possível a contenção cervical, deve-se op- sonalizadas, precedidas ou não de uma etapa laboratorial.6
tar por um sistema retentor intracanal do tipo monobloco Os principais sistemas e suas características estão listados no
(núcleos metálicos fundidos, pinos personalizados em cerô- Quadro 20.2 e ilustrados na Figura 20.5.
mero ou, ainda, modelados em fibra de vidro). Idealmente, os pinos devem ser biocompatíveis, de uso
A proteção de cúspides e um núcleo de preenchimento fácil, resistentes à corrosão e estéticos. Devem ainda preser-
com material adesivo costumam ser suficientes para restau- var dentina radicular e evitar grandes tensões na raiz. É im-
ração de dentes tratados endodonticamente, desde que não portante que o pino apresente boa relação custo-benefício e
estejam extensamente destruídos.10 é essencial que se una química/mecanicamente ao material
restaurador e/ou de preenchimento.
NÚCLEOS DE PREENCHIMENTO
Quadro 20.1 Indicações e limitações dos pinos
Com frequência, os dentes tratados endodonticamente
exibem pouco remanescente dentinário graças ao processo Indicações
carioso e ao acesso endodôntico. Nessa situação, convém Dentes anteriores/pré-molares com menos de 50% de coroa
clínica remanescente
iniciar a restauração com núcleos de preenchimento, que Dentes anteriores com tratamento endodôntico com acesso que
possibilitam o futuro preparo cavitário com todas as caracte- fragilizou o remanescente dental
rísticas de estabilidade e retenção. Destruição coronal extensa
Os núcleos de preenchimento também são indicados Prevenção de fraturas pela bifurcação
Dentes que sofrem forças horizontais, de cisalhamento ou
para reconstrução de grandes destruições coronárias in- de compressão intensas e concentradas (pilares, desoclusão
ternas e socavamento do esmalte, funcionando como uma de guia)
dentina artificial. Economizam estrutura durante o preparo Limitações
e podem ser utilizados com ou sem retenções intrarradicula- Ausência de suporte ósseo adequado
res ou intradentinárias em dentes vitais e não vitais. Ausência de férula
Limitações endodônticas (raízes dilaceradas ou curtas)
Atualmente, são preferidos os materiais adesivos (resi-
nas ou cimentos ionoméricos), que fortalecem o remanes-
cente dental, além de não influírem na cor da restauração Quadro 20.2 Classificação e características dos pinos
final. As resinas compostas estão indicadas para dentes que Característica Classificação
receberão restaurações indiretas, enquanto o cimento de io-
Forma Paralelo/cilíndrico (maior retenção, risco de
nômero de vidro está mais indicado para dentes que serão perfuração) Cônico (anatomia semelhante
restaurados de maneira direta, especialmente os modifica- ao conduto)
dos por resina (híbridos), que permitem preparo imediato. Dupla conicidade (adaptação e retenção)
Existem vários sistemas reforçados com resina especí- Superfície Lisa (menor retenção)
Rugosa, serrilhada (maior retenção)
ficos para preenchimento. Alguns contam inclusive com a
Rosqueada (rosqueamento pode gerar
adição de partículas metálicas com o objetivo de aumentar trincas)
a resistência do material. Geralmente de polimerização dual Material Metal: aço inoxidável (resistência); titânio
ou autopolimerizáveis, possibilitam a inserção em incremen- (biocompatibilidade) Cerâmica: óxido de
to único, o que reduz o tempo clínico e a tensão de contração zircônio; dissilicato de lítio (estética e
de polimerização. rigidez)
Fibras: carbono (estética inferior), vidro
Apesar disso, resinas fotopolimerizáveis podem ser utili- (estética), quartzo (estética e resistência)
zadas com a mesma finalidade, desde que se respeitem a téc- Técnica Personalizado: modelado em cerômero,
nica incremental e o fator C de configuração cavitária. Nesse resina (resiliência, estética), Fundido em
caso, os incrementos deverão ser de no máximo 2mm, cada metal, cerâmica (rigidez, adaptação)
Pré-fabricado: metal, cerâmica, fibras
um não unindo mais do que duas paredes.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
Figura 20.5 Principais tipos de retentores intrarradiculares. A Núcleo metálico fundido. B Núcleo cerâmico fundido. C Núcleo em cerôme-
ro. D Pino modelado em resina composta. E Pino pré-fabricado de titânio (Flexi-Post®/EDS). F Pino pré-fabricado em aço inoxidável (Reforpost
Aço®/Angelus). G Pino cerâmico (Cosmopost®/Ivoclar Vivadent). H Pino pré-fabricado de fibra de carbono (Reforpost Carbono®/Angelus). I Pino
de fibra de vidro (Reforpost®/Angelus). J Pino pré-fabricado em fibra de quartzo (D. T. Light-Post®/RTD).
Retentores intrarradiculares personalizados zada ou não e podem sofrer desgaste e/ou adição de fibras
Os pinos podem ser personalizados em metal, cerâmica, e/ou resina de modo a melhorar sua adaptação ao conduto
cerômero ou resina composta direta. Nesses sistemas há a radicular.
formação de um monobloco restaurador, onde núcleo e pino Atualmente, os sistemas de fibra de vidro personalizados
fazem parte da mesma estrutura. ou pré-fabricados são os mais indicados para restauração de
A maioria dos pinos personalizados é confeccionada dentes tratados endodonticamente e extensamente destruídos.
pela técnica indireta, necessitando moldagem ou modelagem
do conduto radicular, além de um laboratório de prótese, à Retentores intrarradiculares pré-fabricados
exceção dos núcleos em cerômero, que só exigem moldagem Os pinos pré-fabricados encontram-se disponíveis em
e, eventualmente, um laboratório de prótese, e os modelados uma variedade de composições (fibras de vidro e/ou car-
em resina composta, confeccionados pela técnica direta. bono, metal ou cerâmica) e morfologias (rosqueados, lisos,
Dentre os sistemas personalizados, a forma mais tradi- com retenções, cônicos, paralelos e de dupla conicidade). As
cional de retentor intrarradicular é o núcleo metálico fun- técnicas de uso são continuamente simplificadas, e os siste-
dido, de estética inferior, exige uma etapa laboratorial e é mas tornam-se mais retentivos e menos danosos a cada dia.18
passível de sofrer corrosão.11-13 Já os sistemas personalizados A classificação e as características dos pinos pré-fabricados
fundidos em cerâmica de dióxido de zircônio ou dissilicato estão listadas no Quadro 20.2 e exemplos de cada sistema
de lítio têm estética avançada. A injeção de cerâmica ao re- estão ilustrados na Figura 20.5.
dor do pino aumenta a adaptação e a retenção, porém tornou Os sistemas pré-fabricados conservam o remanescente
o procedimento complexo e dispendioso.14-16 e tornam o tratamento fácil e rápido, sem custo laboratorial.
Os núcleos fundidos, tanto em metal como em cerâmica, Além disso, são estéticos, mesmo os metálicos ou de fibra
têm radiopacidade e excelente adaptação. No entanto, a in- de carbono, uma vez que são envolvidos por uma resina de
conveniência do elevado módulo de elasticidade desses ma- preenchimento.
teriais contribui para a concentração de tensões e o aumento Atualmente, os sistemas rígidos metálicos ou cerâmicos
do risco de fratura radicular do tipo desfavorável (quando o são preteridos em relação aos retentores flexíveis em fibra, as-
remanescente não pode ser aproveitado). sociados a resinas epóxicas e eventualmente compostas, que
Os sistemas de pinos personalizados em cerômero e mo- apresentam características mais próximas às da dentina.19,20
delados com resina demonstram capacidade de adaptação e Os pinos pré-fabricados flexíveis de fibra de vidro se
resiliência semelhante à dentina, o que diminui o risco de destacam entre os sistemas pré-fabricados e são os mais uti-
fratura radicular desfavorável. Todavia, necessitam de um lizados na atualidade. Sua composição, baseada em fibras de
conduto radicular expulsivo, assim como os núcleos fun- vidro envolvidas em matriz de resina, oferece biocompatibi-
didos, o que, muitas vezes, demanda desgaste da estrutura lidade, resiliência, estética, ausência de corrosão e proprie-
dental, o que poe enfraquecê-la.17 dades mecânicas semelhantes às da dentina.21
Os pinos personalizados de fibra de vidro contêm fi- Esses pinos encontram-se disponíveis em diversos kits
bras de vidro embebidas em matriz polimérica polimeri- compostos por retentores de diferentes formatos e diâme-
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
tros, que se adaptam à maior parte dos formatos das raízes10 adaptação do pino à anatomia do conduto radicular10,27 do
(Figura 20.6A). Quando cimentados por meio de procedi- que a adaptação da anatomia endodôntica ao pino.24,28
mentos adesivos, impedem o enfraquecimento das raízes Os fabricantes de pinos pré-fabricados recomendam o
causado pelo rosqueamento dos pinos ativos.22 Além disso, desgaste do conduto radicular, adaptando o conduto ao pino
em caso de fratura, a probabilidade de esta ser favorável selecionado. Dependendo da anatomia radicular, essa mano-
(com recuperação e reaproveitamento do remanescente) é bra pode pôr em risco a integridade do remanescente den-
maior em comparação aos núcleos fundidos. tário, aumentando o risco de fratura em virtude da concen-
A composição e a configuração dos sistemas de pinos de tração de tensões em pontos enfraquecidos, além de haver
fibra de vidro sofrem evolução constante com a finalidade de a possibilidade de perfuração da raiz durante o preparo do
aumentar a resistência e a adaptação do pino às paredes do conduto radicular.28,29
conduto radicular.23 Nesse contexto, para melhorar a adaptação do pino de
Os pinos devem se adaptar, da melhor maneira possí- fibra de vidro ao conduto radicular, são propostas as alternati-
vel, às paredes do conduto radicular. Como o conduto radi- vas descritas no Quadro 20.3 e exemplificadas na Figura 20.7.
cular tem formato cônico, o ideal é que o pino também tenha
esse formato. No entanto, pinos cônicos apresentam menor PROTOCOLOS CLÍNICOS PARA O USO DE
retenção quando comparados aos cilíndricos.24 Além disso, PINOS DE FIBRA
nem sempre a conicidade padrão fornecida pelo fabricante
Como ressaltado previamente, a seleção do sistema de
corresponde à conicidade individualizada de cada dente.
retenção intrarradicular depende de inúmeros fatores. Além
Com o objetivo de resolver esse impasse, a indústria odon-
disso, a decisão final é subjetiva, fundamentada na experiên-
tológica desenvolveu pinos de conicidade dupla.25 Mesmo
cia profissional, bem como na filosofia de trabalho. A fim de
assim, por se tratar de um sistema pré-fabricado, sua adapta-
nortear a maneira mais adequada de execução desse proce-
ção nem sempre é perfeita (Figura 20.6C).
dimento, seguem alguns critérios de eleição:
Quando os pinos pré-fabricados são utilizados em dentes
com condutos alargados, costuma haver um espaço excessivo t Pinos pré-fabricados diretos: para dentes com bom re-
entre o pino e as paredes do conduto radicular. Nesses casos, o manescente coronal, que serão restaurados com restaura-
aumento demasiado na espessura do cimento diminui a reten- ções diretas ou próteses unitárias e que apresentam eixo
ção do pino e reduz a resistência à fratura das raízes.16 protético coincidente com o longo eixo dental (Figura
A adaptação da anatomia endodôntica ao pino pode ser 20.5E a J).
perigosa do ponto de vista biomecânico, visto que a possibi- t Pinos personalizados modelados: para dentes com pou-
lidade de fratura radicular aumenta à medida que o tecido co remanescente coronal e maior expulsividade radicular,
dentário remanescente é removido.26 Como o elo mais fraco que receberão restaurações diretas ou próteses unitárias e
no sistema dente/retentor intrarradicular é a parede radi- que apresentam eixo protético coincidente com o longo
cular, são desejáveis seu reforço e proteção.3 É preferível a eixo dental (Figura 20.5C e D).
Figura 20.6A Kit de pinos de fibra (Exacto®/Angelus). Observe os diferentes diâmetros dos pinos e das brocas conformadoras de canal
correspondentes. B Pino de fibra de vidro cônico (White-Post®/FGM). C Pino de fibra de vidro de dupla conicidade (Light-Post®/RTD). D Pino
de fibra de vidro paralelo (Reforpost®/Angelus).
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
Técnica Características
Pino acessório em fibra de vidro Aumenta o volume de fibra dentro do conduto e diminui a quantidade de agente cimentante30
Pino rosqueável em fibra de vidro Canaleta interna permite rosqueamento com segurança; pode ser cimentado da maneira convencional31
Pino de fibra de vidro elíptico Instrumentação ultrassônica preserva a estrutura dental remanescente, especialmente em canais ovais32
Pino de fibras adaptáveis Fibras de vidro impregnadas por resina não polimerizada; maior assentamento dentro do conduto.
Pode ser cortado, afinado e condensado dentro do conduto radicular, só se tornando rígido após
fotopolimerização33
Modelagem do pino com resina Melhor adaptação do pino ao conduto radicular. Indicado para condutos expulsivos e alargados17
composta
Adaptação do pino ao conduto O desgaste axial da porção apical do pino aumenta a adaptação ao conduto radicular e preserva a
pelo desgaste do pino estrutura dental26
Figura 20.7 Propostas para melhorar a adaptação do pino ao conduto. A Pinos acessórios (Reforpin®/Angelus). B Pino de fibra rosqueável
(Flexi Fiber®/EDS). C Pino elíptico (Ellipson-Post®/RTD). D Fibras adaptáveis (Interlig®/Angelus). E Pino modelado por acréscimo. F Pino mo-
delado por desgaste com disco de papel.
t Pinos personalizados fundidos: para dentes com pouco por osso.30 O pino deve ter, no mínimo, comprimento igual
remanescente coronal, que serão pilares de próteses par- ao da coroa e o menor diâmetro possível, sempre respeitan-
ciais fixas e/ou que apresentam eixo protético diferente do do a anatomia radicular e o selamento apical de guta-percha
longo eixo dental (Figura 20.5A e B). de, no mínimo, 4mm.
Após aferição da medida do conduto, com o auxílio de
Independentemente do tipo de sistema, é essencial, em
primeiro lugar, o exame radiográfico do elemento a ser res- sondas periodontais ou limas endodônticas, associadas a ré-
taurado, para que se possam observar a qualidade do trata- guas milimetradas, inicia-se a desobstrução com calcador de
mento endodôntico, a anatomia radicular e a situação pe- ponta romba aquecido, de tamanho compatível com o canal
riapical. Casos duvidosos podem se beneficiar das técnicas (Kerr 9, 10 e 11; Paiva 2, 3 e 4) ou brocas tipo Largo. O cur-
de tomografia computadorizada tipo cone beam. Os exames sor é muito importante, assim como o isolamento do campo
radiográficos e tomográficos também auxiliam o diagnósti- operatório.
co da situação periodontal e da quantidade e qualidade do Ao chegar ao comprimento indicado, o profissional pro-
suporte ósseo. move outra tomada radiográfica para conferir a qualidade da
O profissional deve procurar usar pinos com o maior desobstrução e detectar possíveis resíduos de guta-percha nas
comprimento possível. A profundidade de desobstrução paredes do canal. Estes podem ser removidos com instrumen-
deve obedecer aos princípios de retenção, ou seja, o com- tos aquecidos, brocas tipo Largo, ou com as brocas conforma-
primento do pino deve ocupar dois terços da raiz sustentada doras de canal oferecidas pelos fabricantes dos pinos.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
Pinos diretos de fibra de vidro modelo é vazado com gesso tipo IV e enviado ao laboratório
Após a desobstrução, o profissional escolhe o pino pré- de prótese (Figura 20.9A a D).
-fabricado que melhor se adapta às paredes do conduto e Esse tipo de pino pode ser cimentado com cimentos
promove outra tomada radiográfica para conferir o assenta- resinosos ou ionoméricos. Em se tratando dos cimentos io-
mento do pino. noméricos, o condicionamento do conduto é realizado com
Caso o pino não se tenha assentado, podemos seguir ácido poliacrílico a 10% por 10 segundos, seguido de lava-
dois caminhos: (1) conformação do conduto com brocas gem e secagem com pontas de papel absorvente.
específicas para o sistema ou (2) desgastes podem ser pro- Em caso de uso de pinos modelados diretamente, o con-
duzidos na porção apical do pino com discos de papel de duto sofrerá modelagem após desobstrução. Para isso esco-
granulação média. Desgastes demasiados do remanescente lhe-se o pino de fibra de vidro pré-fabricado mais adequado,
radicular devem ser evitados. e o canal é isolado com gel hidrossolúvel. O pino de fibra é
Em seguida, corta-se o pino na altura desejada com uma limpo com álcool, silanizado, e recebe uma camada de adesi-
ponta diamantada em alta rotação, sob refrigeração ar/água. vo, que é fotoativado por 20 segundos. Uma resina composta
Para a confecção do corte, deve-se ter em mente que um de alta viscosidade é manipulada em forma de cone sobre o
núcleo de preenchimento será confeccionado e deverá estar pino e o conjunto inserido no conduto.
apoiado no pino. Além disso, o pino não pode ficar exposto Após fotopolimerização por 5 segundos, o pino é re-
ao meio oral, sob risco de degradação das fibras. tirado e é efetuada uma fotopolimerização extraoral por
O tratamento superficial do pino é realizado com desen- 1 minuto com o objetivo de complementar a fotopolime-
gorduração da superfície com álcool e/ou ácido fosfórico e rização da resina composta. Testa-se a adaptação do pino
aplicação de silano. A cimentação dos pinos de fibra deve ser modelado.
feita com cimentos resinosos autopolimerizáveis ou de presa Remove-se o isolante do conduto e do pino, os quais são
dual. Em caso de uso dos cimentos resinosos convencionais preparados para a sequência adesiva indicada pelo agente ci-
(precisam de condicionamento ácido e adesivo), o conduto mentante, resinoso ou ionomérico.
O caso clínico mostrado na Figura 20.10A a X ilustra
é condicionado com ácido fosfórico a 37% durante 15 se-
o passo a passo para instalação de retentores modelados de
gundos, seguido de lavagem e secagem com cones de papel
maneira direta em fibra de vidro no dente 21.
absorvente. Em seguida, aplica-se um sistema adesivo dual
de acordo com as instruções do fabricante.
Os cimentos resinosos autocondicionantes dispensam Pinos fundidos
o condicionamento ácido, ao passo que os resinosos autoa- Caso se opte pela utilização de pinos fundidos, após a
desivos dispensam tanto o condicionamento ácido como o desobstrução do conduto o profissional deve optar pela mo-
sistema adesivo. Esses sistemas reduzem os passos clínicos, delagem ou moldagem do conduto.
facilitam a técnica e diminuem os riscos de erro. Cada sis- A modelagem está indicada para os casos de núcleos
tema contém uma instrução de uso, que deve ser respeitada. metálicos fundidos e é realizada de maneira direta com re-
O cimento resinoso é manipulado e aplicado dentro do sina acrílica e suporte intracanal. O conduto é lubrificado e
conduto com auxílio de pontas aplicadoras tipo agulhada. A a resina fluida é inserida no conduto com auxílio de pontas
broca/lentulo é uma opção mais arriscada, pois o cimento aplicadoras agulhadas. O suporte intracanal é colocado e o
pode tomar presa precocemente. material de modelagem é removido e recolocado até a presa
Insere-se o pino no conduto, removem-se os excessos de da resina com o cuidado de evitar sua aderência às paredes
cimento e procede-se à fotopolimerização segundo as recomen- do conduto. Todos os ajustes, tais como espaço interoclusal e
dações do fabricante. Procede-se, então, à tomada radiográfica para guias funcionais, estabilidade e retenção do núcleo, são
final e, caso esteja tudo dentro do previsto, o pino estará pronto executados nessa etapa. A modelagem é enviada ao laborató-
para receber um núcleo de preenchimento em resina. rio de prótese dentro de um recipiente seco.
O caso clínico mostrado na Figura 20.8A a T ilustra o A moldagem está indicada para núcleos metálicos ou ce-
passo a passo para instalação de retentores diretos em fibra râmicos e é realizada com elastômeros e suporte intracanal.
de vidro em um molar superior. O material de consistência fluida é inserido no conduto com
seringas agulhadas, seguido do suporte intracanal.
Pinos modelados de fibra de vidro O material de moldagem de consistência pesada é in-
Caso se opte pela utilização de pinos personalizados em serido na moldeira e, após a presa, o molde é removido da
cerômero, após a desobstrução do conduto deve-se moldá-lo boca e o modelo é vazado com gesso tipo IV e enviado ao
com silicone de bases pesada e leve com auxílio de um su- laboratório de prótese.
porte canal. O suporte intracanal sustenta material de mol- Em se tratando de núcleos metálicos fundidos, a prefe-
dagem e evita deformação durante o vazamento do gesso. O rência recai sobre as ligas nobres, como ouro tipo 4 (ADA) ou
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
A B
C D
E F
G H
I B
Figura 20.8 Caso clínico que demonstra a sequência de instalação de pinos diretos de fibra de vidro. A Caso clínico inicial. B Sorriso inicial.
C Vista palatina do caso inicial. D Radiografias. E Acesso aos condutos. F Preparo dos condutos. G Pinos selecionados. H Prova dos pinos. I
Limpeza dos pinos com álcool. J Silanização dos pinos (continua).
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
L M
O P
Q R
S T
Figura 20.8 (Continuação) K Condicionamento ácido dos condutos. L Lavagem dos condutos. M Secagem com pontas de papel absorven-
te. N Aplicação do sistema adesivo e cimento resinoso. O Inserção dos pinos. P Fotopolimerização. Q Corte dos pinos. R Preparo para coroa
total. S Coroas cerâmicas instaladas. T Sorriso do caso concluído.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
A B
C D
Figura 20.9 Pino em cerômero e fibra de vidro. A Moldagem do conduto com silicone de adição. B Modelo em gesso. C Núcleo
personalizado em cerômero e pino de fibra de vidro. D Núcleo de cerômero instalado no modelo.
B C D
E F G
Figura 20.10 Caso clínico de pino modelado (técnica direta) no dente 21. A Sorriso inicial. B Vista aproximada do dente 21. C Remanes-
cente dental. D Preparo do conduto. E Prova do pino. F Lubrificação do conduto. G Após limpeza e silanização, o pino recebe uma camada
de resina composta fotopolimerizável (continua).
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
Figura 20.10 (Continuação) H Modelagem do conduto. I Fotopolimerização inicial por 5 segundos. J Remoção do pino modelado
para fotopolimerização adicional por 60 segundos. K Ajustes no pino. L Prova do pino modelado. M Construção do núcleo coronário com
resina composta fotopolimerizável. N Preparo do núcleo. O Remoção do pino. P Pino modelado. Q Limpeza do pino com ácido fosfórico.
R Silanização do pino. S Cimento resinoso aplicado no pino. T Cimentação do pino. U Pino cimentado. V Coroa cerâmica cimentada.
X Caso concluído.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
prata-paládio. Já para os pinos cerâmicos fundidos são prefe- irrigado com soro, seguido de lavagem e secagem com cones
ridos sistemas cerâmicos de cerâmica prensada injetada. de papel absorvente.
Após prova e ajuste do núcleo fundido, este é cimenta- O caso clínico apresentado na Figura 20.11A a O ilustra
do de modo convencional (com cimentos ionoméricos ou a moldagem pela técnica mista, em que a porção intracanal é
de fosfato de zinco), caso seja metálico, ou cimentado ade- modelada e a porção coronária é moldada.
sivamente, se cerâmico. Em se tratando do cimento fosfato O Quadro 20.4 resume o protocolo da instalação de re-
de zinco, o canal deve ser previamente limpo com EDTA e tentores intrarradiculares.
Figura 20.11 Sequência clínica de confecção de núcleos metálicos fundidos. A Remanescentes dentários – vista oclusal. B Rema-
nescentes dentários – vista vestibular. C Desobstrução dos condutos. D Prova dos suportes intracanais. E Lubrificação dos condutos. F
Aplicação de resina acrílica com auxílio de pincel. G Inserção dos suportes intracanal e conduto modelado. H Confecção do núcleo
coronário (continua).
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
Figura 20.11 (Continuação) I Porção coronária modelada. J Acabamento dos núcleos. K Núcleos fundidos. L Inserção do agente
cimentante. M Cimentação dos núcleos. N Núcleos cimentados. O Coroas cerâmicas cimentadas.
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Capítulo 20 ■ Restauração de Dentes Tratados Endodonticamente
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