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Motores Dois Tempos

Engenharia Mecânica – ULBRA

Motores Dois Tempos


Cristiano Baierle de Azevedo
Engenharia Mecânica – ULBRA – Canoas/RS

INTRODUÇÃO: Os motores dois tempos contam com uma


arquitetura mais simples, em relação aos
motores de quatro tempos. Estes motores
O motor de combustão interna de ciclo dois normalmente não possuem válvulas,
tempos tem como principal característica a eliminando-se a necessidade do uso de tuchos,
realização de um ciclo completo em apenas hastes, dentre outros componentes utilizados
dois cursos de movimento no êmbolo , ao no acionamento de válvulas. O cárter deste tipo
contrário de motores de quatro tempos, que de motor possui dimensões reduzidas. Nele, se
utilizam cada curso para realizar uma das recebe a mistura ar – combustível – óleo
quatro funções (admissão, compressão, lubrificante, e sua construção deve conter uma
combustão e exaustão). ótima vedação, pois em motores ciclo Otto, é
nele que se dá a pré-compressão.
Este tipo de motor já foi muito utilizado em
automóveis, mas, principalmente devido ao Embora não haja a necessidade de válvulas de
fato de serem muito poluentes, deixaram de ser admissão e exaustão, tais processos são
usados. Tais motores ainda são comumente facilitados por um sistema de varredura, ou
utilizados em motocicletas e em máquinas lavagem, forçado, o qual será discutido mais
como motosserras. adiante.

CARACTERÍSTICAS DOS MOTORES


DOIS TEMPOS UTILIZAÇÃO DE MOTORES DOIS
TEMPOS EM AUTOMÓVEIS

Embora o uso do motor dois tempos já tenha


sido incentivado em diversos países, em
automóveis pequenos e baratos, estes foram se
tornando obsoletos devido à dificuldade em
reduzir sua emissão de gases nocivos à
atmosfera.

Sob o ponto de vista histórico, uma


característica que sempre foi ressaltada a
respeito dos motores de dois tempos é sua
capacidade em produzir mais energia por curso
de movimento do êmbolo. O especialista em
motores aeronáuticos da Rolls-Royce, Dr.
Figura 1 – Principais componentes de um motor de dois
tempos
Stanley Hooker, descrevia o motor de quatro
tempos como “um tempo do motor para

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produzir energia e três tempos para jogá-la FUNCIONAMENTO DOS MOTORES


fora”. DOIS TEMPOS

É interessante ressaltar que os motores de dois


tempos e os motores de quatro tempos Motor Dois Tempos Ciclo Otto:
originaram-se praticamente na mesma época,
aproximadamente no ano de 1870, assim, seria
razoável presumir que ambos os tipos de
motores começaram com uma oportunidade
igual de sucesso. O fato do motor de quatro
tempos ter se tornado o mais amplamente
adotado, possivelmente pode ser explicado por
este ter um maior potencial de
desenvolvimento futuro. Este é um critério que
muitas vezes podem ser aplicados às idéias
rivais em todos os ramos da engenharia.

O primeiro sucesso da aplicação de motores a


dois tempos é geralmente atribuído a um
engenheiro mecânico escocês, sir Dugalg Clerk
(1854-1932), é por esta razão que o motor
ciclo dois tempos é também conhecido como
“Ciclo Clerk”.

Figura 3 – Diagrama de Funcionamento do Motor Dois


tempos Ciclo Otto

O ciclo alternativo inicia com a combustão da


mistura ar – combustível – óleo lubrificante
acima do pistão, produzindo um rápido
aumento na pressão e na temperatura,
empurrando o pistão para baixo, produzindo
potência (figura 3a).
Figura 2: Automóvel DKW
Antes de ocorrer tal aumento de temperatura e
Uma das marcas que mais utilizou o motor pressão, quando o êmbolo está no ponto morto
dois tempos foi a alemã DKW (figura 2), superior (PMS), ainda na posição representada
utilizando-o nos modelos fabricados entre na figura 3a, a janela de admissão induz ar da
1939 e 1966, e o aperfeiçoou, desenvolvendo o atmosfera para o carter, devido ao aumento de
sistema Lubrimat, que consistia num volume no Carter, que faz com que a pressão
reservatório especial para o armazenamento de interna fique inferior à atmosférica.
óleo dois tempos, e uma bomba específica, que
enviava o lubrificante para o motor, Quando ocorrer o movimento do êmbolo
eliminando a necessidade de adição de óleo no devido à expansão de gases provenientes da
próprio combustível. combustão, permitindo, então, a saída de tais
gases (figura 3b), a área livre para passagem
destes gases aumenta com o giro do eixo de
manivelas, e a pressão do cilindro se reduz.

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específica baixa e elevado consumo de


O processo de exaustão está quase se combustível.
completando e, com ambas as janelas
desobstruídas pelo pistão, o cilindro se conecta
diretamente ao cárter através do duto de
admissão (figura 3c).

Se a pressão no cárter for superior à pressão no


cilindro, então uma mistura fresca entra no
cilindro e se inicia os processos de admissão e
lavagem. O pistão então se aproxima do ponto
de fechamento da janela de exaustão e o
processo de lavagem se completa (figura 3d).
Após a janela de exaustão estar totalmente
fechada, o processo de compressão se inicia até
que o processo de combustão novamente Figura 4 – Arranjo de Lavagem em loop.
ocorra.

Considerações sobre a Lavagem:

A lavagem, ou varredura, consiste no processo


de empurrar a carga proveniente da combustão
para fora do cilindro com o auxílio de uma
nova entrada de ar. Este processo é essencial
para o bom funcionamento do motor. Para uma
lavagem eficiente, é necessário projetar uma
sincronização ideal, desde a admissão até a
exaustão. Isso irá assegurar que o fluxo de ar
nunca é interrompido ou variado bruscamente.

Existem diferentes processos de lavagem, em Figura 5 – Lavagem através de pistão com defletores.
cada um se obtém um fluxo diferente de gases
de admissão e de exaustão. Na lavagem em
“loop” (figura 4), o objetivo é produzir um
processo de lavagem no cilindro de tal forma
que o ar admitido no cilindro seja admitido Lubrificação para Motores Dois Tempos
para o lado do cilindro distante da janela de
exaustão, através de um pistão de topo plano. A lubrificação dos motores dois tempos ciclo
Otto é feita através da adição de óleo
Existe também a lavagem transversal (figura lubrificante no próprio combustível. O óleo
5), onde o topo do pistão assume o formato de deve possuir baixa temperatura de combustão,
um defletor, que, por direcionarem melhor o facilitando a combustão de partículas espessas
fluxo, tendem a oferecer boas características que entram na câmara de combustão.
em baixas velocidades e baixas potencias, no
entanto, sob cargas plenas a eficiência de A proporção do óleo que deve adicionado ao
lavagem não é boa, e, combinada com uma combustível é indicada pelo fabricante e pode
câmara de combustão não-compacta variar entre 2 a 4% em relação ao volume de
preenchida com protuberâncias defletoras combustível.
expostas, o motor apresenta uma potência

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Motor Dois Tempos Ciclo Diesel: Imediatamente depois, o orifício de admissão é


descoberto, o ar contido na câmara de ar,
No motor dois tempos operando a ciclo Diesel alimentada pelo compressor, entra no cilindro,
não ocorre a pré-compressão no Carter. Existe expelindo os gases queimados residuais pelos
um carregamento forçado por meio de um orifícios do escapamento (figura 6d).
compressor volumétrico rotativo ou de uma
ventoinha.

Este motor possui um sistema de lubrificação


semelhante aos motores de quatro tempos: leva
óleo no Carter, possui bomba de óleo, filtro,
etc.

SO = fendas de exaustão abertas


SS = fendas fechadas
EB = início da injeção
EE = fim da injeção
De AO à SO, expandem-se os gases de
combustão.
De AS à SS, carga posterior (algumas vezes
sob alta pressão).

Pode-se tomar como valores médios para os


pontos de distribuição:
Figura 6 – Diagrama de Funcionamento do Motor Dois AO ~70º antes do PMI.
Tempos ciclo Diesel AS ~30º depois do PM.I
SO ~40º antes do PMI.
Quando o pistão se aproxima do ponto morto SS ~40 depois do PMI
superior, os orifícios de escapamento e
admissão são fechados e a compressão Figura 7 – Diagrama de Pressões em um motor dois
combustão do combustível injetado ocorre tempos ciclo Diesel
(figura 6a). As pressões elevadas, geradas pela
combustão no tempo motor, repelem o pistão
em sentido oposto, que age na biela, fazendo o
virabrequim girar (figura 6b). MOTORES DOIS TEMPOS VERSUS
MOTORES QUATRO TEMPOS
No fim do tempo motor, a posição do pistão
permite a abertura do orifício do escapamento. Algumas generalizações e comparações podem
A saída deve ser projetada de modo a garantir ser feitas entre os motores de dois e de quatro
a evacuação rápida dos gases queimados no tempos, em suas formas básicas:
coletor de escapamento (figura 6c).

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• O motor de dois tempos gera duas vezes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


mais potência por curso do êmbolo. Em
teoria, poderia se esperar que o motor de
dois tempos produzisse o dobro de Internal Combustion Engine Fundamentals
desempenho em relação ao motor de quatro John B. Heywood
tempos de dimensões volumétricas 1988, McGraw Hill
equivalentes. Isto não acontece na prática,
principalmente devido às dificuldades Light and Heavy Vehicle Technology
encontradas na exaustão, que é pouco M. J. Nunney – 4th Edition, Elsevier Ltd.
eficaz.
Apostila “Máquinas Térmicas I – Motores de
• Ao gerar mais potência por revolução, o Combustão Interna”
motor de dois tempos tende a gerar um Prof. Luiz Carlos Martinelli – Unijuí – Campus
fluxo mais suave de potência, exceto em Panambi/RS
baixas rotações, quando o motor pode
queimar combustível de forma irregular, o
que pode resultar em lavagens pobres.

• Uma evidente vantagem prática sobre o


motor dois tempos é a simplicidade
mecânica conferida pela sua construção, o
que contribui para um motor mais
compacto, de construção menos
dispendiosa e, conseqüentemente, com
menos requisitos de manutenção.

• O consumo de combustível é
negativamente afetado pela má lavagem,
que pode permitir que parte da nova
entrada de ar e combustível saia pelo
escapamento antes da compressão.

• No motor de dois tempos ainda existe um


maior risco de sobreaquecimento, o que
pode tornar necessário definir um limite de
desempenho máximo utilizável. É mais
difícil para resfriar um motor dois tempos
de forma satisfatória, visto que não há o
benefício da segunda revolução, sem
combustão, que ocorre nos motores de
quatro tempos.

• Para a lubrificação dos motores dois


tempos é necessário introduzir óleo
lubrificante no combustível. Todo o
conjunto do motor é lubrificado e, o uso
deste óleo tende a aumentar nocivamente
as emissões de exaustão.

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