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Flora ::.

A Mantiqueira é revestida por vários andares de


vegetação remanescentes de ecossistemas
primitivos, além de vegetação com vários graus
de interferência ou degradação antrópica nas
áreas não ocupadas por agropecuária e núcleos
urbanos. A flora é característica e diversificada,
particularmente no Planalto do Itatiaia, possuindo
um número bastante alto de espécies endêmicas
(163 casos), restritas muitas vezes ao topo de
uma montanha isolada.
Segatas Vianna (1965) atribuiu para o Maciço do Itatiaia a seguinte
sucessão de tipos de vegetação por níveis de altitude, e que pode ser
aplicada a outras áreas da Mantiqueira:
Nível Baixo (400 a 700mts de altitude)

Entre 400 e 700 metros aproximadamente encontra-se a mata pluvial


ou floresta latifoliada perene tropical, muito rica em espécies e
indivíduos de várias famílias (palmácea, composta, leguminosa,
bignoniácea, etc.). No seu limite superior já não apresenta a mesma
pujança de níveis mais baixos.
Montanha Inferior (700 a 1000mts de altitude) e Montanha Média
(1000 a 1700mts de altitude)
A partir de 800 metros é o domínio da floresta latifoliada perene de
altitude (Kuhlmann, 1952), com árvores e arbustos baixos com
tendências à esclerofolia como troncos tortos e galhos retorcidos.
Predominam espécies das famílias: mirtácea, anacardiácea e
euforbiácea.
Montanha Elevada (1700 a 2000mts de altitude)
Entre 1600 e 2000 metros ocorre a floresta
subcaducifoliada subtropical, na qual o extrato
superior é dominado pela araucária (Alonso,
1977). As araucárias (Araucaria angustifolia)
formam nestas florestas grupamentos com as
copas um pouco abertas, tendo entre 25 e 30
metros de altura, enquanto a submata é
constituída por uma formação mais densa em que predomina o prinho-
bravo (Podocarpus lambertii), ao qual se associam exemplares de casca-
d'anta (Drymis winteri), guatambu (Aspidosperma sp e Jacaranda sp).
São freqüentes as epífitas, sobretudo líquens, samambaias, musgos,
cactos e gravatás. As plantas arbustivas compõem-se de samambaias
arborescentes e de algumas melastomatáceas, mirtáceas e rubiáceas.
Planalto (2000 a 2400mts de altitude) e Cume
(Acima de 2400mts de altitude)

Entre 2000 e 2400 metros encontram-se os campos de altitude, com


predominância de herbáceas das seguintes famílias mais importantes:
orquidácea, bromeliácea, gramínea, ciperácea, gentianácea, composta e
velloziácea. As plantas são portadoras de adaptações para o frio, como
densa pilosidade e folhas coriáceas, e algumas delas já estão
possivelmente adaptadas aos incêndios que se tornaram freqüentes no
Planalto. A vegetação destes campos apresenta-se em forma de ilha ou
em formações contínuas, sobre solos rasos e menos ricos em água e
húmus ou sobre encostas de grande declividade com afloramento
rochoso. Para a sobrevivência dos campos rupestres é fundamental a
manutenção de um cinturão de matas ao redor, preservando-os de
espécies invasoras com grande poder de dispersão e competição que,
invadindo os campos, exterminam a flora relíquia original.
.:: CLASSIFICAÇÕES ::.
Tipos de vegetação na Serra da Mantiqueira
>> FLORESTA SUBCADUCIFÓLIA SUBTROPICAL COM ARAUCÁRIA
A Floresta Subcaducifólia Subtropical com Araucária se restringe, na Região Sudeste, às
superfícies mais elevadas, onde aparece sob a forma de manchas, estando sua ocorrência
ligada não só a um clima mais ameno, como a solos mais ricos e profundos. Sua origem
local parece estar ligada às oscilações climáticas que ocorreram no passado, quando a
floresta do Brasil meridional avançava e se retraía, restando tais manchas como formas
relíquias. Ao que tudo indica, essa floresta foi constituída, de início, predominantemente
por gimnospermas.
Tais manchas se localizam em altitudes acima de 1.500 metros nas Serras da Mantiqueira e
do Mar, sendo mais importantes e constantes na primeira.
Fig. 3 — Dentre as
áreas da Região
Sudeste onde ocorre
a Floresta
Subcaducifólia Sub-
tropical com
araucária, temos a
de Campos do
Jordão, onde a
altitude e o clima
lhes são propícios.
No estrato superior
destaca-se o pinheiro
(Araucária
angustifolia), que,
por sua dominância
fisionómica, tão bem
caracteriza essa
floresta. Município
de Campos do Jordão — SP.
Aparecem em Itatiaia RJ, em Campos do Jordão, SP e no Estado de Minas Gerais, onde
formam como que uma faixa grosseira, descontínua, ocupando áreas dentro dos municípios
de Itamonte. Lima Duarte, Santos Dumont, Barbacena, onde praticamente desaparecem,
ressurgindo ao norte de Ouro Preto. Separadas dessa faixa há ocorrências ao norte e
noroeste de São João Dei Rei e no Espírito Santo a ocorrência da Araucária é notificada
por Ruschi (1950) nas proximidades do pico da Bandeira, no maciço do Caparão, em
altitude aproximada de 1.700 metros. (Fig. 3).
Sem apresentar a exuberância da sua área principal do
Brasil Meridional, tais manchas guardam muitas de suas
características, principalmente no que diz respeito à
fisionomia ressaltada pela presença do pinheiro brasileiro
(Araucária angustifolia), cuja forma peculiar é dada por
suas copas corimbiformes.

Fig. 04 - Estruturalmente é constituída de um estrato superior dominado pelo


pinheiro (Araucária angustifolia), com uma altura média de 30 metros, sob o qual
surge um outro estrato arbóreo, com elementos de cerca de 20 metros de altura em
que predominam Mirtáceas, Lauráceas e Leguminosas e finalmente um estrato
arbustivo-herbáceo, onde sobressaem Mirtáceas, Compostas, Melastomatáceas e
Mirsináceas arbustivas e Ciperáceas, Compostas, Oxalidáceas, Verbenáceas e
Solanáceas herbáceas. Dois fetos ar-borescentes sobressaem nessa floresta: o xaxim
(Dicksonia seïlotoiana) e Alsophila elegans. Constata-se ainda uma riqueza em epífitas,
representadas sobretudo por Bromeliáceas, Orquidáceas, Gesneriácea e
Polípodiáceas. O grau de umidade em certos pontos é traduzido pela presença de
musgos.
>> VEGETAÇÃO DE CAMPO OU CAMPO DE ALTITUDE
A ocorrência dos Campos na Região Sudeste está intimamente ligada às
altitudes acima de 900-1.000 metros, motivo pelo qual são comumente
denominados de "campos de altitude". À altitude se aliam uma
topografia suave, solos rasos, drenagem incipiente e um clima mais
ameno.
Tais Campos são caracterizados por uma cobertura herbácea, muitas
vezes continua, em meio à qual podem aparecer arbustos isolados ou
em tufos.
Várias são as adaptações apresentadas pelas plantas campestres ao
meio descampado. Objetivam, na maior parte dos casos, a diminuição
da transpiração e da evaporação. Assim, são comuns as folhas
coriáceas, pequenas, quase pregueadas e com uma disposição próxima
da vertical. Também os órgãos subterrâneos são mais espessos, o que
proporciona um maior armazenamento de água e de substâncias
nutritivas.
Os Campos do Sudeste não são iguais aos do Brasil Meridional. Azevedo
(1960) chama a atenção para as diferenças tanto fisionómicas como
florísticas encontradas entre ambos, lembrando, entre elas, o caráter
esclerófilo acentuado dos arbustos e subarbustos e a profusão de certas
espécies de algumas famílias, como Veloziáceas, Eriocauláceas,
Xiridáceas e Melastomáceas encontradas nos primeiros. Mesmo dentro
do Sudeste existem diversificações, estabelecidas pelas condições do
ambiente.
As áreas campestres mais expressivas estão localizadas na Serra do
Mar, na Serra da Mantiqueira e no Espinhaço.
Fig. 7 — Os
Campos
limpos que
aparecem
na Região
Sudeste se
restringem
às áreas
mais
elevadas,
como nas
altas
superfícies
em torno de
Poços de
Caldas. A maior umidade e os solos mais espessos ao longo dos
vales favorece o desenvolvimento de uma vegetação de porte
arbóreo. Município de Poços de Caldas — MG.
Na Serra do Mar sobressaem os campos da Bocaina e os da serra dos
Órgãos.
Na serra da Bocaina aparecem em altitudes superiores a 2.000 metros.
O relevo é ondulado, com vales poucos profundos. Intercaladas
aparecem capoeiras, matas ciliares e várzeas brejosas. Segundo a
opinião de vários autores parecem ser esses Campos os mais antigos da
região, sendo o centro de origem de várias espécies. (Magna-nini,
1965).
As famílias dominantes são: as Compostas, as Melastomatáceas, as
Gramíneas e as Ciperáceas, que se apresentam sob a forma de um
tapete herbáceo contínuo ou em tufos de aspecto xerofítico (espécies
adaptadas à seca) (Azevedo,1958).
Nas matas ciliares é assinalada a presença do Podocarpus Lambertii e
nas várzeas, a cabeça-de-negro (Cortaderia modesta).
Os campos da serra dos Órgãos aparecem em altitudes superiores a
1.900-2.000 metros. O relevo é mais acidentado do que na área citada
anteriormente e o solo é raso, porém humoso.
A flora é pobre em espéceis e em indivíduos, entretanto é caracterizada
pela presença de grandes flores. Destacase a ocorrência da cabeça-de-
negro (Cortadeira modesta) e da Criciúma (Chusquea pinifolia). Nos
locais onde o solo é mais turfoso dominam os musgos do género
Sphagnum, enquanto que sobre os afloramentos rochosos são
encontrados predominantemente liquens. Aliás, são estes pequenos
vegetais os primeiros a se instalarem nos ambientes rochosos, onde
além da deficiência de umidade há uma intensa insolação. São,
portanto, os primeiros componentes da xerosere, constituindo esta as
diversas etapas da evolução em meios deficientes em água.
Na Serra da Mantiqueira destacam-se os Campos do Itatiaia, a área de
Campos do Jordão e o alto rio Grande.
Os Campos do Itatiaia, em altitudes superiores a 1.900 metros,
apresentam-se com uma cobertura herbácea intercalada por arbustos de
pequeno porte e de aspecto tortuoso. Tratando da vegetação dessa
área, Magnanini (1935) diz que "não apresenta feição uniforme, ora
predominando uma fácies de Campo limpo, ora de Campo sujo, ora
prevalecendo maciços de pequenos arbustos e mesmo árvores baixas,
tudo mesclado com variados blocos rochosos cobertos de liquens de
cores avermelhadas, amareladas, cinza ou quase negras e de musgos
esverdeados e castanhos".
Azevedo (1958) ressalta a presença nos solos úmidos e escuros da
cabeça-de-negro (Cortadeiría modesta) e, nas escarpas mais íngremes e
nas fendas das rochas, da Criciúma (Chusquea pinifolia).
Ainda na Mantiqueira (1963), o mesmo autor assinalava a presença de
Campos ao longo de seu bordo oriental, incluindo áreas dos municípios
de Campos do Jordão, Camanducaia, Bom Repouso, Munhoz, Cambuí,
Passa Quatro e Pouso Alto. Outras áreas aparecem no alto curso do rio
Grande e seus afluentes Ingá, Aiuruoca e Mortes e na superfície elevada
em torno de Poços de Caldas. Para os primeiros, Azevedo constatou a
diversidade estacionai fisionómica e florística. No período seco
predominam as Gramíneas e Ciperáceas, que apresentam adaptações ao
ambiente mais seco, como o revestimento piloso, a diminuição no
tamanho das folhas e a murcha estacional. No período chuvoso surge
um estrato subarbustivo onde são comuns as espécies portadoras das
flores vistosas. Quanto à composição florística das Gramíneas a que
mais se destaca é o capim-rabo-de-burro (Arístina sp) e entre as
Ciperáceas temos o Cladium sp. Aparecem ainda Bacharís sp (Com-
posta) e os géneros Leandro, Miconia e Tibouchina, representantes das
Me-lastomatáceas. A vegetação é mais rala nos solos mais silicosos e
próximo aos afloramentos rochosos são comuns musgos, pteridófitas de
pequeno porte e Paepalanthus sp. (Fig. 7).
Nas superfícies elevadas em torno de Poços de Caldas e no alto rio
Grande os campos são encontrados em altitude acima de 1.800 metros
e em solos sílico-argilosos, id. ib. p. 75. O mesmo autor, em outro
trabalho (1962), caracterizou-os como comunidades herbáceas e
assinalou, entre outras espécies características, Claudium ensifolíum,
Arístida sp, Leandro, sp, Miconia sp, Tibouchina sp, Cernonia sp e o
Paepalanthus polyanthus.
Na serra do Espinhaço os Campos são encontrados em altitudes em
torno de 1.600-1.700 metros. Uma de suas características, segundo
Magalhães (1966) é a grande quantidade de agrupamentos de algumas
famílias botânicas e de espécies endémicas. A vegetação herbácea
ocupa as áreas planas ou de fracos declives e estão em solos silicosos e
bem drenados. Neste caso, predominam Eriocauláceas, Compostas e
Ciperáceas, como no trecho conhecido por serra do Cipó. Neste mesmo
trecho, nos solos ácidos e mal drenados a presença de musgos do
género Sphagnum é assinalada, enquanto que próximo aos
afloramentos aparecem.

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