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Laurinda António
Vanito João Frederico

Resistência no Sudão (Mahadismo)

Licenciatura em ensino de história com habilitação em documentação

Universidade Rovuma

Extensão de cabo delgado

2023
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Laurinda António

Vanito João Frederico

Licenciatura em ensino de história com habilitação em documentação

Trabalho de carácter avaliativo a ser entregue ao


departamento de Letras e Ciências Sociais, na
cadeira de História de África, 2º semestre do 2ºano,
sob orientação do docente:

MA. Mouzinho Mariano Lopes Manhalo

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2023
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Índice
Introdução........................................................................................................................................4

Conceito de Resistência...................................................................................................................5

Resistência no Sudão (Mahadismo).................................................................................................5

Antecedentes da Resistência do Sudão............................................................................................5

A revolução mahdista......................................................................................................................6

Os levantes mahdistas....................................................................................................................10

Movimentos de oposição nas montanhas da Núbia e no sul do Sudão.........................................11

Conclusão......................................................................................................................................14

Referências bibliográficas.............................................................................................................15
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Introdução

O presente trabalho tem como tema Resistência no Sudão (Mahadismo), com os seus respectivos
objectivos:

Objectivo geral

 Conhecer a resistência no Sudão.

Objectivos específicos

 Identificar os movimentos que manifestaram a resistência no Sudão;


 Descrever as formas de resistência.

A metodologia usada para a elaboração do mesmo foi através de leituras de algumas obras
relacionado ao tema, que constituíram como analise e crítica do conteúdo e a consulta electrónica
de alguns sites referenciado ao mesmo. Como e característico de um trabalho
científico/didáctico, nunca e acabado por estar sempre sujeita em novas descobertas.
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Conceito de Resistência

Resistência: Na linguagem histórico-política, se designam sob o termo Resistência, todos os


movimentos ou diferentes formas de oposição, seja activa e passiva. Como indica o próprio
termo, trata-se mais de uma reacção que de acção, de uma defesa do que de uma ofensiva, de
uma oposição do que de uma revolução. A Resistência nasce em toda a parte, como fenómeno
espontâneo, de um ato voluntário ou da conscientização de indivíduos e pequenos grupos,
dispostos a rebelar-se e a não aceitar uma determinada acção, (BOBBIO, 1983:1114).
Resistência no Sudão (Mahadismo)

Antecedentes da Resistência do Sudão

Amadu filho de El˗hadj reservado e inclinado para compromisso era muito culto e comandava
um império muito díspar (diferente), alem de Segu e de Kaart, onde se elevam as grandes
fortalezas de Nioro e de Diala, havia o território de Dinguiraye, confiado ao seu irmão Aguibu, e
Macina colocados sob as ordens do seu sobrinho, Tidjani.

Rapidamente as relações entre Amadu com a Franca se vão azedar em 1880, era assinado
um tratado entre ele e Gallieni, estipulando a liberdade de comércio mas com posição
privilegiada para Franca. Franca comprometia˗se no entanto, a nunca conquistar um país
que pertencesse aos Toucoulers. (KI˗ZERBO, 2002, p. 92).

A chegada dos franceses a Bamaco era uma ameaça real para Amadu, e com seus novos tratados
com a franca facilitou a eliminação de Mamadu Lemine, ao mesmo tempo que recusa fazer uma
causa comum com Samori. Em fim protestou contra intromissões francesas.

Em 1888, Archinard nomeado comandante militar do Sudão passou aos actos contra Amadu e
Samori apodera˗se metodicamente das fortalezas toucoulers, lança no Nigir canhoeiros que
permitiu a marchande a reconhecer as fortificações de Segu, enquanto tenta mistificar Amadu
por meio de uma carta repleta de protesta de paz. Em 1890 é tomado segu e a comocao que isso
provoca desencadeia greves entre os trabalhadores sudaneses do Senegal.

Na óptica de FAGE (2010, p. 386) “as dificuldades financeiras da administração Egípcia, que
eram evidentes em 1876, a que se seguiu o desaparecimento de Ismail três anos mais tarde,
tornaram impossível prosseguir os planos para Sudão. A escravatura e outras formas de dura
exploração renasceram”.
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Um religioso sudanês, Muhmmad Ahmad, proclamou˗se em 1881 Mahdi e deu inicio a uma
revolta que se tornaria nacional e que o exercito Egípcio foi incapaz de conter. O movimento
mahdista conseguiu apelar imediatamente para os chefes religiosos muçulmanos e para os
traficantes de escravos que pensavam que a administração colonial no Egipto interferia
demasiado na sociedade tradicional, e para homens importantes que associavam a escravatura ao
tributo e a outras formas de opressão.

A revolução mahdista

O Sudão era desde 1821 administrado pelo governo turco do Egito. Por volta de 1880, os povos
egípcios e sudanês lutavam para se libertar da tutela de uma aristocracia estrangeira. A ideia da
djihad e da resistência islâmica à dominação estrangeira, propagada no Egito por Urabi,
encontrou igualmente um poderoso eco junto ao movimento revolucionário militante dirigido por
Muhammad Ahmad al -Mahdi no Sudão. Seu movimento, o Mahdiyya, era essencialmente uma
djihad – uma guerra santa – e, como tal, reclamava o apoio de todos os muçulmanos. Seu
objetivo fundamental, como atestam repetidamente as cartas e proclamações do Mahdi, era
reviver a fé pura e primitiva do Islã, “expurgada das heresias e das excrescências”, e propagá -la
no mundo inteiro, se necessário pela força. O autêntico fervor espiritual da revolução mahdista
estava expresso no bay’a (juramento de obediência) que os adeptos do Mahdi (a quem ele
próprio chamava os Ansar, seguindo assim o exemplo do profecta) deviam fazer ao chefe ou a
seu representante, antes de serem admitidos no Mahdiyya. No bay’a, os Ansar juravam
fidelidade ao Mahdi “renunciando a este mundo e abandonando -o, contentando -se com o que
está com Deus, desejando o que está com Deus e o mundo futuro”. E acrescentavam: “Nós não
fugiremos à djihad”.

Afirmar que a revolução mahdista era religiosa não significa que a religião tenha sido a
única causa da sua origem. Havia outros fatores, secundários, todos derivados das faltas
cometidas pela administração turco-egípcia, totalmente corrupta, faltas que tinham
provocado o descontentamento geral no Sudão. As violências consequentes à ocupação
do país, em 1820 -1821, tinham criado um forte desejo de vingança, e os elevados
impostos que os turcos arrancavam pela força só faziam agravar a situação. (IBIDEM,
Pág. 86)
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Além disso, as tentativas feitas pelo governo para eliminar o comércio de escravos tinham
descontentado certos sudaneses do norte, pois ameaçavam uma importante fonte de riqueza e até
a base da economia agrícola interna do país. Por fim, os favores que os turcos concediam ao
povo Shaykiyya e à seita Khatmiyya parecem ter suscitado a inveja dos outros grupos locais e
religiosos, estimulando -os a apoiar o Mahdi.

O chefe da revolução, Muhammad Ahmad ibn Abdallah, era um homem pio, cujo ideal era o
Profeta Maomé [Muhammad] em pessoa. Como este último, Muhammad assumiu o papel de
Mahdi aos 40 anos de idade, comunicou isso em segredo a um grupo de adeptos fiéis e depois
fez o anúncio público e oficial. Com isso, entrou em confronto militar direto com o governo
anglo-egípcio durante quatro anos (1881 -1885). Este o subestimou no início, considerando -o
um simples darwish (mendigo), conforme o prova a fraca e desorganizada expedição que foi
enviada contra ele à ilha de Aba. Seguiu -se breve escaramuça, na qual os Ansar obtiveram uma
vitória fácil e rápida, ficando a administração numa confusão completa. O Mahdi e seus adeptos
consideraram a vitória miraculosa. A clarividência política e o gênio militar do Mahdi se
refletem na sua decisão de “emigrar”, depois do combate de Aba, para Djabal Kadir, nas
montanhas da Núbia.

Independentemente do fato de apresentar um paralelo com a vida do Profeta, esta hidjra


(hégira) marcou de fato uma reviravolta na história do Mahdiyya. Ao afastar a revolução
da região do Nilo, estabelecendo-a no oeste do Sudão, os sudaneses desta área tornaram -
se a coluna vertebral – militar e civil – da revolução, enquanto declinava o papel das
populações que viviam às margens do Nilo. (HOLT Pag.86-87)

A batalha de Shaykan, travada a 5 de novembro de 1883, marcou outra reviravolta da revolução


mahdista. Nessa época, o quediva Tawfik e seu governo estavam dispostos a esmagar o Mahdi,
que controlava então as principais cidades da província de Kordofan. Os egípcios enviaram um
corpo expedicionário, formado pelos remanescentes do exército de Urabi e comandado por um
oficial inglês, Hicks Pasha. Os Ansar aniquilaram totalmente o adversário na floresta de
Shaykan, perto de al -‘Obeid. A vitória encheu de orgulho o Mahdi e seu movimento. Enquanto
numerosos sudaneses aderiam à revolução, delegados de vários países muçulmanos vieram
felicitar o Mahdi por sua vitória contra os “infiéis”. A consequência imediata de Shaykan foi o
colapso total da administração turco -egípcia no oeste do Sudão. Os mahdistas assumiram o
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controle das províncias de Kordofan, Darfur e Bahr al -Ghazal. O Mahdi estava, entretanto,
prestes a passar à segunda fase das operações: tomar Khartum e pôr fim à dominação turco -
egípcia sobre o Sudão.

Os mahdistas atacaram em seguida a região oriental do Sudão, sob o hábil comando de Osman
Digna. Digna obteve numerosas vitórias sobre as forças governamentais e não tardou a ameaçar
os portos do Mar Vermelho, defendidos pelos britânicos, do que resultou uma intervenção militar
destes, de resto pouco eficaz. Com a exceção de Souakin, os Ansar controlavam a totalidade do
Sudão oriental e impediam o transporte de reforços e de munições para Khartum pela estrada
Souakin -Berbere.

Após a batalha de Shaykan, a política britânica relativamente ao Sudão sofreu importante


mudança. Antes, o Reino Unido dizia tratar -se de um problema puramente egípcio, mas, depois
da batalha, concluiu que seus interesses imperiais exigiam que o Egito se retirasse imediatamente
do Sudão.

Ordenou então que o governo egípcio evacuasse o país e encarregou o general Charles
Gordon de fazer cumprir a ordem. Entrementes, o Mahdi avançava sobre a capital,
colocando o general Gordon numa situação muito perigosa. Após demorado cerco, as
forças mahdistas atacaram a cidade, mataram Gordon a 26 de janeiro de 1885 e puseram
fim à dominação turco -egípcia no Sudão. (ABU SALIM, Pag.87)

No espaço de quatro anos (1881-1885), o movimento Mahdiyya de revolta religiosa


transformara-se em poderoso Estado militante, que iria dominar o Sudão por catorze anos. Suas
instituições administrativas, financeiras e jurídicas, assim como a legislação, estavam
estritamente baseadas no Corão e na Sunna, muito embora o Mahdi ocasionalmente promulgasse
novas formas de legislação acerca de problemas prementes, como a situação das mulheres e da
propriedade de terras.

As relações do Estado mahdista com o mundo exterior eram rigorosamente governadas pela
djihad. O Mahdi e seu califa, Abdullah ibn al -Sayyid Muhammad, escreveram cartas de
advertência (indharat) – virtualmente, ultimatos – a certos dirigentes, como o quediva do Egito, o
imperador da Turquia e o da Abissínia, para que aceitassem a missão do Mahdi, ameaçando-os
com uma djihad imediata se não respondessem afirmativamente.
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O Mahdi não viveu tempo bastante para dar prosseguimento a sua política (morreu em junho de
1885), mas a djihad tornou -se o alvo de toda a política externa do califa Abdullah, sucessor dele.
Não obstante os pesados problemas administrativos e financeiros que tinha de enfrentar,
Abdullah prosseguiu com a djihad em duas frentes: contra o Egito e a Etiópia. Sob o comando de
Abd al-Rahman al-Nudjumi, as forças mahdistas invadiram o Egito, mas foram batidas em
Tushki no ano de 1889. O avanço mahdista na frente oriental também foi detido, e os Ansar
perderam Tokar em 1891 e Kassala em 1894. O engajamento ideológico do califa na djihad
havia arruinado os esforços do imperador da Etiópia para concluir uma aliança africana entre o
Sudão e a Etiópia contra o imperialismo europeu. De fato, para concluir a aliança, o califa exigia
que o imperador aderisse ao mahdismo e ao Islão. O resultado dessa atitude dogmática foi uma
série de embates armados, que enfraqueceram os dois Estados, fazendo deles presas fáceis para o
imperialismo europeu.

Em março de 1896, o governo imperial britânico decidiu invadir o Sudão e constituiu -se
para tanto um exército, comandado pelo general H. H. Kitchener. Durante a primeira fase
da invasão, de março a setembro de 1896, as forças inimigas ocuparam toda a província
de Dongola, sem encontrar resistência séria da parte dos sudaneses. Isso se devia a sua
superioridade técnica e ao fato de o califa ter sido surpreendido pela ofensiva. (HOLT,
Pag.88)

Como o califa tinha suposto, a ocupação de Dongola não era senão o prelúdio para um ataque
generalizado ao Estado mahdista. Enquanto Kitchener avançava para o sul, o califa mobilizava
as suas tropas, decidido a resistir ao invasor. Comandados pelo emir Mahmud Ahmad, os Ansar
tentaram rechaçar, sem êxito, o inimigo perto do rio Atbara, em 8 de abril de 1898. Três mil
sudaneses foram mortos e mais de quatro mil feridos. O próprio Mahmud foi capturado e
encarcerado em Roseta, no Egito, onde morreu alguns anos depois. Após a derrota de Atbara, o
califa decidiu enfrentar o inimigo perto da capital, Omdurman, pois era evidente que os
problemas de suprimento e de transporte lhe proibiam qualquer deslocamento importante de
tropas.

Os sudaneses combateram o inimigo com admirável coragem na batalha de Karari, a 2 de


setembro de 1898. Mais uma vez o armamento superior do adversário os derrotou. Quase
11 mil sudaneses foram mortos e perto de 16 mil feridos. Ao compreender que a batalha
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estava perdida, o califa retirou -se para leste da província de Kordofan, onde esperava
reunir seus partidários e atacar o inimigo na capital. (HOLT, Pág. 89)

Sua resistência foi um problema para a nova administração durante um ano, mas foi finalmente
vencido na batalha de Umm Diwaykrat, a 24 de novembro de 1899. Após a batalha, o califa foi
encontrado morto sobre o seu tapete de orações de pele de carneiro; todos os demais chefes e
generais mahdistas tinham sido mortos ou capturados. O Estado mahdista desmoronou mas,
enquanto realidade religiosa e política, o Mahdiyya sobreviveu. (HOLT, Pág. 88-89)

Os levantes mahdistas

Embora as autoridades britânicas tivessem proibido a seita mahdista, importante parte da


população ficou -lhe fiel. A maioria dos sudaneses traduzia sua hostilidade continuando a ler o
ratib (livro de orações mahdista) e a praticar diversos rituais mahdistas. Somente um punhado de
adeptos do Mahdi tentou várias vezes repelir pela força os “infiéis”. Não houve ano, entre 1900 e
1914, sem levantes mahdistas no norte do Sudão. A principal fonte de inspiração de tais revoltas
era a doutrina muçulmana do nabi ‘Isa (Profeta Jesus). Os muçulmanos em geral acreditavam
que o Mahdi voltaria para restaurar a justiça na Terra depois que ela tivesse conhecido o reino da
injustiça. Sua missão seria temporariamente freada pelo al -masih al -dadjdjal (o Anti -Cristo). O
nabi ‘Isa, no entanto, logo viria para garantir a permanência do glorioso Mahdiyya. Os Ansar
consideravam os ingleses como a encarnação do al-dadjdjal e muitos deles pensavam que ‘Isa os
expulsaria do país. (IBRAHIM, Pag.90-91)

Houve levantes mahdistas em fevereiro de 1900, em 1902-1903 e em 1904. O mais


importante foi organizado e dirigido em 1908 por um renomado mahdista, Abd al -Kadir
Muhammad Imam, geralmente chamado Wad Habuba. (IBRAHIM, pag.91)

Wad Habuba pregava o mahdismo em Djazira e desafiou o governo na aldeia de Tukur, perto de
Kamlin. Foram despachadas tropas para capturá -lo, mas ele resistiu e dois funcionários foram
mortos. Enquanto as autoridades ainda se sentiam confusas com o incidente, Wad Habuba
lançava em maio um ataque de surpresa contra o inimigo na aldeia de Katfiya. Os mahdistas
combateram bravamente, mas dentro de alguns dias estava quebrada a espinha dorsal da revolta.
Exatamente à imagem do Mahdi, Wad Habuba “emigrou”, provavelmente em busca de asilo em
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Omdurman, onde esperava continuar na clandestinidade a propagação da causa mahdista. Mas


foi detido no caminho e publicamente executado em 17 de maio de 1908, enquanto grande
quantidade de partidários seus eram condenados à morte ou a longas penas de cárcere.
Submetido a um julgamento pouco equitativo, Wad Habuba desafiou os imperialistas britânicos
declarando ao tribunal:

“Minha aspiração é que o Sudão seja governado por muçulmanos, conforme a lei de Maomé, as
doutrinas e os preceitos do Mahdi. Conheço melhor o povo sudanês do que o governo. Não hesito
em dizer que a amabilidade e as lisonjas dele não passam de hipocrisia e de mentira. Estou pronto
a jurar que o povo prefere o mahdismo ao atual governo”. (IBRAHIM, pag.91)

Apesar da falta de coordenação e da incapacidade de levantar as massas, essas numerosas


revoltas messiânicas instauraram uma continuidade com o período do governo mahdista e
mostraram que o mahdismo persistia como força religiosa e política vital no Sudão. Por outro
lado, elas provavam que a resistência à dominação colonial era bastante viva entre muitos
sudaneses do norte. (IBRAHIM, Pag.91)

Movimentos de oposição nas montanhas da Núbia e no sul do Sudão

A oposição manifestada pelas populações nas montanhas da Núbia e no sul do Sudão constituía o
desafio mais sério que os colonialistas ingleses tiveram de enfrentar antes da Primeira Guerra
Mundial. Os numerosos levantes ocorridos nessas regiões do país, no entanto, tinham caráter
essencialmente local. Tratava -se de reações diretas às transformações introduzidas pelo
colonialismo na estrutura de diversas comunidades – transformações caracterizadas como um
atentado às instituições sociais e políticas destas últimas, substituídas por outras implantadas
pelos britânicos. Pág. (IBIDEM, 91-92)

Apesar da crueldade do domínio colonial, diversas comunidades núbias manifestaram


ativamente a sua oposição. Enquanto Ahmad al-Numan, mek de Kitra, declarava sua
aberta hostilidade, a população de Talodi se revoltava, em 1906, com a morte de alguns
funcionários e de soldados. A rebelião dirigida pelo mek Faki Ali na região de Miri foi
ainda mais séria. Ali molestou durante dois anos as forças governamentais, mas foi detido
em 1916 e encarcerado em Wadi Halfa. (IBIDEM, Pag.92).
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No sul do Sudão, a resistência foi conduzida e mantida pelo povo Nuer, que vivia nas terras
adjacentes ao rio Sobat e ao Nilo Branco. Habituados a governar seus próprios assuntos nas
administrações anteriores, que não exerciam sobre eles nenhum controle efetivo, os Nuer
recusaram -se a reconhecer a autoridade do novo governo e continuaram a hostilizá -lo. Dois de
seus chefes, Dengkur e Diu, se mostraram particularmente ativos a tal respeito.

Apesar da morte deles, respectivamente em 1906 e 1907, os Nuer não cessaram suas operações e,
em 1914, outro chefe Nuer, Dowl Diu, atacou um posto governamental. Não obstante as medidas
punitivas indiscriminadas, a resistência dos Nuer continuou se fortalecendo, até a grande revolta
popular de 1927.

Comandados por seu chefe Yambio, os Azande estavam decididos a interditar o acesso de seu
território a qualquer tropa estrangeira. Eles estavam ameaçados de invasão tanto pelos belgas
como pelo governo do Condomínio. Os belgas se mostravam particularmente ativos na fronteira
meridional do território azande. Parece que Yambio receava mais uma invasão belga do que
britânica e, portanto, imaginou neutralizar os britânicos com sinais de amizade, o que lhe
deixaria as mãos livres para fazer frente ao perigo belga, mais iminente. Convidou então os
ingleses a estabelecer um entreposto comercial no seu reino, esperando que eles não
conseguissem vir – mas, se viessem, iria combatê-los.

No fundo, parece que ele procurava jogar os britânicos contra os belgas, aparentemente
convencido de que os interesses ingleses no seu país levariam os belgas a pensar duas
vezes antes de o atacar. (IBIDEM, Pag.92).

Os britânicos, porém, aceitaram o convite e, em janeiro de 1903, uma patrulha saiu de Wau para
o país de Yambio. Ainda em marcha, foi atacada pelos Azande e se refugiou em Rumbek. Em
janeiro de 1904, o governo de Khartum enviou outra patrulha, que foi igualmente atacada pelos
Azande e teve de se retirar para Tonj.

Então os belgas se prepararam para atacar e Yambio mobilizou uma força de 10 mil
homens, que lançou, em audacioso ataque, contra o posto belga de Mayawa. Apesar da
coragem, os Azande, armados apenas de lanças, nada podiam contra as carabinas dos
belgas. A derrota minou o moral e o poderio militar dos Azande. (IBIDEM, Pag.92-93).
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Não obstante o enfraquecimento de suas forças, Yambio teve de fazer frente a uma expedição
governamental em janeiro de 1905. Foi finalmente vencido e preso, mas morreu pouco depois,
em 10 de fevereiro de 1905. Seu povo, no entanto, continuou a luta. Em 1908, alguns guerreiros
de Yambio tentaram organizar um levante e outros molestaram os ingleses durante a Primeira
Guerra Mundial. (IBIDEM, Pag.92-93).

Conclusão

Nenhuma região da África tenha resistido tão valentemente à conquista e ocupação europeias nos
anos de 1880 a 1914 como os países do nordeste do continente. A força dessa resistência se devia
ao fato de o sentimento patriótico que a inspirava se fortalecer com um sentimento religioso
ainda mais profundo. As populações do Sudão lutavam apenas por seus territórios, mas também
por sua fé.

O Sudão era desde 1821 administrado pelo governo turco do Egito. Por volta de 1880, os povos
egípcios e sudanês lutavam para se libertar da tutela de uma aristocracia estrangeira. A ideia da
djihad e da resistência islâmica à dominação estrangeira, propagada no Egito por Urabi,
encontrou igualmente um poderoso eco junto ao movimento revolucionário militante dirigido por
Muhammad Ahmad al -Mahdi no Sudão.
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Referências bibliográficas

ABŪ SALĪM, M. I. 1969. Manshurat al-Mahdiyya. Khartum.

HOLT, P. M., org. 1968. Political and Social Change in Modern Egypt. Londres, OUP. __. 1970.
The Mahdist State in the Sudan, 1881-1898, 2. ed. Oxford, Clarendon Press.

BOAHEN, Albert Adu. História geral da África VII: África sob dominação colonial,

IBRAHIM, H. A. 1974. “The policy of the Condominium government towards the Mahdist
political prisoners, 1898-1932”. SNR, LV:33-45.

IBRAHIM, M. A. 1969. “Hamlat al-Amir Mahmud Wad Ahmad ila al-Shamal

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