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Universidade˗ Save
Massinga
2022
Docente:
PhD. Manuel Matine
Universidade˗ Save
Massinga
2022
Índice
I. Introdução......................................................................................................................3
2
1.1.Objectivos....................................................................................................................4
1.1.2. Geral........................................................................................................................4
1.1.3.Específicos................................................................................................................4
1.1.4.Metodologia..............................................................................................................4
2.6.Conclusão..................................................................................................................14
I. Introdução
3
Este trabalho está constituído por três subtemas: o primeiro traz a contextualização da
Primavera Árabe, o segundo traz as falácias da Responsabilidade de Proteger e da
intervenção humanitária, o ultimo traz a história do derrube de Muammar al-Kadhafi na
Líbia e os factores que ditaram a queda do regime de Kadhafi.
1.1.Objectivos
4
1.1.2. Geral
1.1.3.Específicos
1.1.4.Metodologia
Na óptica de Castro (2019, p. 110) nome Primavera Árabe foi forjado pela midia
ocidental, emulando a insurgência de cidadãos da antiga Tchecoslováquia contra o
arbítrio soviético em 1968, a chamada Primavera de Praga. O que mostra o poder da
média ocidental na geopolítica, bem como demostra a lógica reinante no cenário
político-económico internacional, provado pelos seus mecanismos que criam condições
favoráveis para a actuação de um bloco mediático claro em conluio com esse projecto
da sua hegemonia.
Na mesma linha de ideia, Harvey (2003, p. 132) mostra como a mídia facilitou que o
poder político e económico voltasse a centralizar-se primariamente nos EUA e nos
mercados financeiros de outros países centrais (Tóquio, Londres, Frankfurt).
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Outra falácia seria o do peso das redes sociais em todos esses eventos, pois a taxa de
penetração da Internet em junho de 2010 era de modestos 5,4% da população Líbia,
segundo dados da Internet Usage Statistics. Em março de 2011, no início da convulsão,
somente 1,1% de líbios tinha uma conta criada no Facebook, o que refuta a
mobilização popular via redes sociais (Duarte, 2019, p. 111).
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Para Duarte (2019, p. 111) ao longo da década de 1970, o dirigente líbio passaria
paulatinamente a apoiar o terrorismo internacional de inspiração árabe e antiocidental e
antijudaica. O ponto culminante dessa trajectória seria marcado pelo atentado de
Lockerbie, na Escócia, em Dezembro de 1988, quando um avião da companhia aérea
Pan-Americano explodiu no ar por conta de artefactos explosivos supostamente
plantados por agentes líbios, resultando na morte de 259 pessoas.
Vale lembrar que em 2003, Kadafi resolveu se reaproximar dos Estados Unidos, muito
provavelmente assustado pela invasão do Iraque, abrindo mão de seu programa de
armas de destruição em massa e fornecendo aos serviços de inteligência ocidentais os
esquemas do mercado subterrâneo do ciclo atômico, passando a participar ativamente da
Guerra ao Terror, fornecendo suas masmorras para tortura e interrogatório de islamitas
radicais entregues pelo governo norte-americano (Duarte, 2019, p. 111).
Entre diversas situações, segundo Duarte (2019, p. 112) mesmo após uma
reaproximação com o Ocidente, Kadhafi gerava mais ruídos do que em seus tempos de
financiador do terrorismo internacional.
Em meio a esse cenário interno e externo, o regime foi colhido pela tempestade
chamada Primavera Árabe no início de 2011. Não por coincidência, as manifestações
irromperão inicialmente na região de Bengazi. A cidade portuária localizada no leste
líbio sempre foi o principal polo de oposição ao regime de Kadafi, sendo
costumeiramente punida econômica e militarmente pelo regime do Kadhafi. Os
protestos contra o governo central, no início de fevereiro daquele ano reuniram uma
massa de descontentes contra o regime, muito provavelmente infiltrada por agentes
provocadores.
Por conta disto, Nishio e Rizzi (2019, p.119) através da Resolução nº 1970, de 26 de
fevereiro, do Conselho de Segurança da ONU impôs um embargo de armamentos contra
a Líbia, a cargo da OTAN, por meio da Operation Unified Protector, e determinou o
congelamento de bens da família Kadafi. Para Souza (s/d, p. 11) esta operação só foi
possível graças a aprovação de votos favoráveis de Estados Unidos, França, Reino
Unido, África do Sul, Bósnia-Herzegovina, Colômbia, Líbano, Nigéria e Portugal,
contra as abstenções de Alemanha, Brasil, China, Índia e Rússia; sob os auspícios do
Capítulo VII da Carta da ONU, as potências ocidentais passaram a comandar
bombardeios aéreos à Líbia.
Para Firens (2020, p. 34) as operações dependiam dos EUA principalmente para o
suporte relacionado ao sistema de logística, bem como ao sistema de Inteligência,
Vigilância e Reconhecimento, mas o Comando e Controle das operações acabaram por
ser transferidos do AFRICOM para a OTAN no dia 31 de março daquele ano. A
operação recebeu o nome de Unified Protector, e previa a execução de quatro principais
planos operacionais: um bloqueio naval, uma zona de exclusão aérea, uma missão de
proteção civil e uma missão humanitária.
Nos momentos iniciais das acções, e em um curto intervalo de tempo, os EUA e o Reino
Unido já haviam disparados centenas de mísseis Tomahawk nos principais nós centrais
do sistema de defesa aérea do regime de Kadhafi, principalmente na costa da Líbia.
Após o enfraquecimento da defesa aérea, a coalizão começou a realizar diversos ataques
aéreos contra outros alvos na Líbia, de forma que, após 72 horas, a zona de exclusão
aérea já havia sido estabelecida, numa Operação denominada Odyssey Dawn (Firens,
2020, p. 31).
Para Oliveira (2015, p. 674) a imposição de uma Zona de Exclusão Aérea, através da
resolução 1973 do CSONU, apoiou-se no princípio da Responsabilidade de Proteger,
adotado pela ONU desde 2005. De acordo com esse princípio, os Estados têm a
responsabilidade de proteger suas próprias populações de genocídios, crimes de guerra,
limpezas étnicas e crimes contra a humanidade, e mesmo da ameaça de qualquer um
deles. A comunidade internacional, por sua vez, tem a responsabilidade de ajudar os
Estados a cumprirem as suas responsabilidades de proteção e, em casos em que um
Estado se mostre incapaz de cumprir a responsabilidade de proteger sua população, a
comunidade internacional tem a responsabilidade de agir rápida e assertivamente, sob
os auspícios da Carta da ONU, utilizando meios diplomáticos, humanitários e quaisquer
outros meios pacíficos de maneira apropriada, para ajudar a proteger aquelas
populações.
Entretanto, o discurso, todavia, foi construído com base em diversas premissas falsas,
dentre as quais se destaca a ideia de que as forças kadafistas teriam recorrido,
imediatamente, ao uso de recursos letais no combate às manifestações, que por sua vez
teriam sido realizadas em todo o país e de forma pacífica. O facto é que desde o início,
as manifestações foram marcadas pela participação de rebeldes armados, enquanto as
forças do governo respondiam usando armas não-letais. A escalada de violência,
todavia, teria levado as forças estatais a alterarem seu posicionamento, passando a usar
armamentos letais. Além disso, os protestos tiveram início na região em torno da
cidade de Benghazi, no Leste do país, historicamente um foco de insurreições contra o
governo Kadafi. Outro facto que prova está falácia reside no facto de que as forças leais
ao governo também sofreram um número elevado de baixas, sobretudo nas tentativas de
tomar as cidades de Az Zawiya e Misrata, em que foram reprimidas e derrotadas pelas
forças rebeldes. As mortes ocorridas nos embates entre as forças nacionais e os rebeldes
na Líbia foram fruto de combates armados, em que os rebeldes dispunham de
capacidades similares às das forças nacionais, não se configurando como um ataque do
governo à sua população, mas sim como uma guerra civil (Ibid., p. 676).
Ainda de acordo com o autor acima, com a escalada da violência entre as forças
nacionais e os rebeldes, a União Africana (UA) estabeleceu, no dia 10 de março, uma
Comissão Ad Hoc de Alto Nível sobre a Líbia, em uma tentativa de mediar uma solução
pacífica para o conflito. Essa iniciativa estaria de acordo com a própria Carta da ONU,
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Cabe destacar que ainda que a resolução não previsse nenhum tipo de acção em solo,
EUA, França e Grã-Bretanha enviaram tropas especiais à Líbia, que foram responsáveis
não só por combater as forças kadafistas, mas também prover treinamento para os
rebeldes. Ainda, aponta-se que, apesar do embargo à venda de armamentos estabelecido
pela resolução 1970 e reforçada pela Resolução 1973, as potências ocidentais
(sobretudo França e Grã-Bretanha) foram responsáveis pelo fornecimento de
armamentos para os rebeldes. Além disso, cabe ressaltar que a Resolução não
previa o envolvimento na guerra civil, mas sim a proteção de civis desarmados e
ameaçados pelas forças do governo, e não a proteção (e o apoio) às forças rebeldes
armadas (Oliveira 2015, p. 677). Fica claro, dessa forma, que, apesar de um discurso de
protecção dos civis e de intervenção humanitária, os ataques da OTAN tinham
sobretudo o objectivo de remover (ou ao menos facilitar a remoção) de Kadafi do poder,
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a provar pelas declarações dos três líderes dos EUA, Inglaterra e Franca, Obama, Cameron
e Sarkozy, respectivamente, citados por Oliveira, nos seguintes termos:
realmente começar, comandada por uma nova geração de líderes” (2015, p. 677)
Segundo Netto (2012, p. 12) a batalha final que culminou com a captura e posterior
execução de Kadhafi, teve lugar em Misrata onde o ditador foi encontrado no
encanamento de esgoto. Kadhafi não estava apenas dominado, mas também ferido e
atordoado. Exactos 250 dias tinham se passado desde a eclosão dos primeiros protestos
em Benghazi. Os rebeldes que cercavam Kadhafi revelavam diferentes sentimentos:
incredulidade, cólera, vingança pura e simples, expressos de maneira caótica pelos
gritos repetidos de fúria e de excitação que se intercalavam entre as rajadas de armas
automáticas (Ibid., p. 13).
Esta campanha de bombardeios das forças rebeldes contou com apoio incondicional por
parte dos aviões da OTAN, portanto, o regime colapsaria em Agosto daquele ano de
2011, sendo Kadhafi executado.
No último dia da vida do homem que governou a Líbia por 42 anos, Netto (2012, p. 12)
mostra que entre os rebeldes líbios, um grupo empenhava-se no esforço, embora em
vão, de montar um cordão de isolamento e de fazer de Kadhafi um prisioneiro a ser
julgado. Outros, ao contrário, estavam sedentos de revanche e se aproximavam na ânsia
de lhe acertar um chute, um soco, de lhe arrancar os cabelos, de agredi-lo como a um
carrasco em meio a suas vítimas.
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Para além de Kadafi, também haviam sido capturadas altas autoridades do seu regime
com maior destaque para: Abu Bakr Yunis Jaber, ministro da Defesa; Mansour Dhao,
chefe de Segurança Pessoal; Ahmed Ibrahim, primo do ditador, chefe do Movimento
dos Comitês Revolucionários; e Mutassim, um dos filhos do coronel (Netto, 2012, p.
14).
2.6.Conclusão
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Chegados aqui, podemos concluir que o fenômeno da Primavera Árabe teve início na
Tunísia e percorreu quase muitos estados árabes do norte de África até a Ásia.
Entretanto, por si só, não se pode mobilizar argumentos para a queda do regime de
Muammar Kadhafi na Líbia, mas sim a intervenção OTAN nos conflitos entre o
governo soberano e os opositores, o que é normal em qualquer Estado, seja democrático
ou totalitário. Fica claro, a partir da análise realizada, que a intervenção ocidental,
apesar de ter sido justificada por meio de argumentos humanitários e do conceito de
Responsabilidade de Proteger, tratou-se, objectivamente, de um ataque à Líbia, que
respeitava aos interesses dos diversos atores envolvidos.
Netto, A. (2012). O Silencio contra Muamar Kadafi: São Paulo, Brasil: Editora
Schwarez.