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AUTARQUIA DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE - AESA

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE - CESA


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
DIONE PEREIRA BARBOSA
LUCIANO DE SOUZA CAMÊLO

A PRÁTICA DO BULLYING NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

ARCOVERDE-PE
2010
1
DIONE PEREIRA BARBOSA
LUCIANO DE SOUZA CAMÊLO

A PRÁTICA DO BULLYING NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

TCC apresentada à Coordenação do Curso de


Licenciatura em História do Centro de Ensino Superior
de Arcoverde, como requisito parcial à obtenção do grau
de Licenciatura em História, sob a orientação da Profº.
Esp. Maria do Carmo Amaral Pereira.

ARCOVERDE-PE
2010
2
DIONEPEREIRA BARBOSA
LUCIANO DE SOUZA CAMÊLO

A PRÁTICA DO BULLYING NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

TCC apresentada à Coordenação do Curso de Licenciatura Plena em História do Centro de Ensino


Superior de Arcoverde, como requisito parcial à obtenção do grau de Licenciatura em História.

Aprovada em: _____/_____/2010

Profº Esp. Maria do Carmo Amaral Pereira


3
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à dona Maria e seu Francisco, Cândida Carina Pereira
Barbosa, Maria Luiza de Souza Camêlo e Carmem Lúcia Pereira Araujo.
Aos grandes amigos que estão ou estiveram presentes em minha vida
durante os quatros anos de curso, mas que de alguma forma contribuíram para a
concretização deste sonho.

4
AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as coisa que a nós oferece;


Aos funcionários e Alunos da Escola Monsenhor José Kehrle, em especial
ao Gestor Carlos Fernando de Melo Torres, por ter nos concedido a honra do
estágio na referida escola.
A Professora Maria do Carmo, nossa orientadora, por sua dedicação ao
nosso trabalho e pacificação das nossas angústias.

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Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender

(Renato Russo)
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RESUMO

Esta pesquisa consistiu em analisar as questões motivadoras para a prática do


bullying no ambiente escolar, levando em consideração a vida socioeconômica dos
alunos, questões referentes à estrutura familiar e também ao ambiente escolar no
qual os jovens estão inseridos. O objetivo essencial deste trabalho foi identificar as
condições que levam aos estudantes a praticarem o bullying contra seus colegas,
observando os fatores que possam influir no comportamento bullying, e sem
esquecer a influência que tem o ambiente escolar no qual os estudantes atuam.
Sendo assim, desta maneira conscientizar o educando de que a prática do bullying
além de maléfica para a vítima é também para o proprio futuramente. A metodologia
aplicada para a pesquisa foi o estudo e a análise de bibliografias de especialistas na
área do estudo da prática do bullying, proporcionando o embasamento teórico para
poder haver uma melhor compreensão nos estudos de casos, que foram obtidos
através de questionários respondidos por alunos da escola campo de pesquisa que
é a Escola Monsenhor José Kehrle, no município de Arcoverde-PE, escola qual
atende a populações da periferia da cidade. Na pesquisa foram entrevistados alunos
e professores que estão locados nas séries finais do ensino fundamental (5ª a 8ª
séries) do período da manhã.

Palavras-Chaves: Bullying; Estrutura Familiar; Estudantes; Ambiente Escolar;


Ensino Fundamental.

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SÚMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 09
1 O BULLYING UM FENÔMENO MUNDIAL.................................................... 14
1.1 O que é o bullying............................................................................. 15
1.2 A origem dos estudos do fenômeno no Mundo..............................
18
1.3 O bullying no Brasil........................................................................... 20
2 O BULLYING NAS ESCOLAS....................................................................... 23
2.1 Vítimas, autores e testemunhas: caracterizando o bullying..........
23
2.2 O bullying e os conflitos do cotidiano escolar................................
29
2.3 Combatendo a prática do bullying nas escolas.............................. 31
3 O ESTUDO DO BULLYING NA ESCOLA MONSENHOR JOSÉ KEHRLE.. 34
3.1 A comunidade do JK e a Escola Monsenhor José Kehrle............. 35
3.2 O desenvolvimento da pesquisa...................................................... 35
3.3 O resultados....................................................................................... 37
CONCLUSÕES......................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 43
APÊNDICE................................................................................................................ 44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a prática do bullying na sala de aula das séries


finais do ensino fundamental, sendo que o estudo apontará as situações cotidianas
onde acontece o bullying na escola. Podendo assim identificar a sua origem e
apontar as possíveis soluções para este problema que tem chamado atenção nas
escolas, não só do estado pernambucano mais de todo o Brasil.
A temática surgiu a partir da observação do cotidiano escolar durante os
estágios supervisionados. O bullying é um tema que vem ganhando notoriedade no
cenário educacional brasileiro. A pesquisa contou com entrevistas dos alunos, para
tentarmos identificar em que momento é mais comum ocorrer a sua prática,
identificando os praticantes as vítimas e as testemunhas.
Bullying, palavra de origem inglesa que significa valentão, designa qualquer
tipo de comportamento agressivo com a intenção de oprimir, amedrontar, humilhar,
descriminar, bater, ferir e entre outros tipos de comportamentos agressivos, esse
comportamento é caracterizado pela premeditação sistemática, onde há todo um
planejamento da ação que se articula de forma repetitiva de agressão verbal,
psicológica ou física, é importante diferenciar o bullying de conflitos eventuais,
repentinos, normais numa convivência estudantil repleta de situações propícias ao
conflito momentâneo, esporádica e despossuída de conseqüências mais relevantes
ou traumatizantes nem estigmatizantes.
A prática do bullying tornou-se comum no cotidiano escolar brasileiro. O que é
visto como brincadeira, na verdade é uma forma cruel de repressão, esta prática
pode ter diversas conseqüências, tais como: depressão, baixa auto-estima,
isolamento, dificuldade nas relações sociais entre outras.
Este tema é importante, pois trata de uma questão muito comum na escola e
que pode ser trabalhada, no intuito de conscientização e prevenção do bullying no
cotidiano escolar. O estudo desta temática pode contribuir para a melhoria das
relações sociais que ocorrem dentro da escola e dentro, até mesmo, da comunidade

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o bullying hoje em dia e estudado dentro de uma metodologia científica, utilizando
métodos e procedimentos adequados e atribuindo-se a importância nova aos
comportamentos antigos, sobretudo no âmbito escolar. Essa necessidade de uma
nova abordagem surgiu em conseqüência de vários eventos, entre eles o aumento
do número de suicídio entre crianças e adolescentes europeus.
De forma geral este trabalho tem objetivo analisar as duas formas de bullying
existente dentro da escola, o bullying direto, que inclui agressões físicas como bater,
chutar, tomar pertences, e verbais, como apelidar de maneira pejorativa e
discriminatória, insultar, constranger, e o bullying indireto, a qual possivelmente
causa mais prejuízo já que pode criar traumas irreversíveis e se apresenta através
de disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à
discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social, possibilitando assim refletir
sobre sua origem e formas de combatê-lo.
Abordou-se desde os indícios de vitimização que a família deve observar no
seu filho, de uma simples dor de cabeça, a falta de apetite, dores de estômago,
tonturas, mudança de humor de maneira inesperada com explosões de irritação, até
características comportamentais como; timidez em excesso, isolamento domiciliar,
introspecção, insegurança, ansiedade, auto-estima baixa, a perda de objetos e
dinheiro com freqüência, e o filho na condição de agressor a fazer as seguintes
observâncias, não aceitar um não, reage com agressão quando é contrariado, não
demonstra sentimento de compaixão, ri exageradamente, rotula seus amigos com
apelidos que os ridicularizam, gosta de levar vantagem em todas as situações, é
preconceituoso, entre outros aspectos.
Até as medidas a serem tomadas pelos pais que devem ter uma abertura com
seu filho para que possa haver sempre um diálogo para que o pai esteja sempre
bem informado do que ocorre diariamente com seu filho na escola, não estimulando
se algo descobrirem através dessas conversas o revide aos ataques, e sim sugerir
que evitem o agressor e procure a ajuda do professor, treinador ou de outro adulto
que saiba agir nesses casos. E demonstraremos com imensa preocupação as
conseqüências, as quais não poupam nenhum dos envolvidos.
Sendo que algumas experiências são menos traumatizantes, mas outras
deixam estigmas até o resto da vida, sobretudo nas vítimas. Nos agressores as

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conseqüências podem vitimá-las no futuro, de acordo com o rumo que sua vida
tomar. Alguns agressores adotam a violência como estilo de vida, chegando à
marginalização. Muitos expectadores não superam os temores de envolvimento, a
angústia de não poder ajudar e se tornam pessoas inseguras ou com baixa
autoestima.
Todos os envolvidos podem assim comprometer sua vida profissional,
pessoal ou familiar no futuro. Veremos que existem programas de prevenção e
combate ao bullying nas escolas. Tais programas apresentam os critérios para
identificação do bullying na escola e mostram os procedimentos adequados para a
intervenção de combate e as estratégias de prevenção.
Vê-se também que a prevenção e o combate das ações intimidatórias que
caracterizam o fenômeno bullying nas escolas é constituído de medidas efetivas no
âmbito da instituição escolar envolvendo os agentes desse universo, e qualquer
ação que pretenda eficácia pressupõe a atuação de todos os envolvidos no contexto
escolar: a direção, os professores, os funcionários e os alunos.
A implantação de projetos de intervenção necessita, também, da participação
de profissionais externos à instituição como: psicólogos, pedagogos,
psicopedagogos, educadores e especialistas na temática do bullying.
Conscientizando os educandos de que a prática do bullying além de desagradável
pode comprometer o desenvolvimento social dos seus colegas. Podendo assim
desta maneira contribuir para diminuir os indicies de evasão, e até mesmo o
problema de violência escolar.
Especificamente este tema procura transmitir aos educandos as maneiras
como ocorre a pratica do bullying, conscientizando que sua prática, além de errada
pode ter conseqüências podendo gerar danos psicológicos e físicos a vítima que o
seguem até na fase adulta. Fazer que educadores e pais pudessem identificar os
diversos personagens do fenômeno bullying, desde a vítima típica, que é aquela que
serve de bode expiatório para um grupo, geralmente pouco sociável, que sofre as
conseqüências dos comportamentos agressivos de outras e que não dispõe de
recurso, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas
prejudiciais.

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Suas características são: aspecto físico mais frágil que o de seus
companheiros; medos de que lhe causem danos ou ser fisicamente ineficaz nos
esportes ou brigas, sobretudo no caso dos meninos; coordenação motora deficiente,
ansiedade e aspectos depressivos, sentem dificuldade de impor-se ao grupo, tanto
física como verbalmente, e tem uma conduta habitual não agressiva, motivo pelo
qual parece denunciar ao agressor que não irá revidar se atacada e que é “presa
fácil” para os seus abusos, a vítima provocadora, que com seu comportamento atrai
reações agressivas com as quais não consegue lidar com eficiência, a vitima
agressora, a qual reproduz os maus tratos sofridos, o agressor, de ambos os sexos,
que costuma ser o indivíduo que manifesta pouca empatia o mesmo tem a tendência
de usar a agressão em situações de conflito. Ele se impõe pela força física
subjugando os demais. O agressor identifica na sala a vítima pelas características
psicológicas de ansiedade, insegurança, passividade, timidez e de aparente
fragilidade, e o espectador que presencia o bullying, porém não o sofre nem o
pratica, e que representa a grande maioria dos alunos que convive com o problema
e adota a lei do silêncio por temer se transformar em novo alvo do agressor.
Também evitar a ocorrência do bullying, instruindo os educandos na identificação e
impedindo a sua prática.
O trabalho apresenta um estudo com bibliografia especializada no assunto e
está desenvolvido em três capítulos, o presente estudo trabalhou com observação
no campo de pesquisa e coleta de dados. Esses dados foram coletados entre os
alunos da Escola Monsenhor José Kehrle, localizados nas séries finais do Ensino
fundamental II (5ª a 8ª) do período da manhã.
Também procurou-se através de leituras de casos reais explicitar de forma
clara e objetiva a ocorrência de bullying, bem como após essas leituras realizar um
debate com professores e alunos presentes a fim que se promova uma interação
entre leitores e os tais expectadores com o intuito do estreitamento das relações de
confiança entre ambos. De modo geral, a pesquisa, visou investigar as causas e as
práticas do bullying na escola, analisando também suas causas exteriores, como por
exemplo, estrutura familiar e socioeconômica do estudante.
Acreditamos que a decorrência da prática do bullying seja por falta de
conhecimento dos educandos e educadores, das conseqüências que podem surgir.

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Saber diferenciar uma brincadeira de um assédio moral é de suma importância para
que os jovens possam se conscientizar que sua prática gera conseqüências. Desta
maneira temos como hipóteses as seguintes: Família desestruturada. (problemas de
alcoolismo, pais separados, violência doméstica) Problemas socioeconômicos
(desemprego, renda familiar pequena, trabalho infantil) E por ultima hipótese temos
a cultura transmitidas pelos meios de informação (violência na TV, filmes violentos,
desenhos que incite a violência).
A Pesquisa aconteceu na Escola Monsenhor José Kehrle, no bairro do JK na
cidade de Arcoverde, Pernambuco. A escola atende as comunidades carentes
próxima de sua localização, como Bairro da Boa Esperança e Cidade Jardim, além
de algumas comunidades da zona rural de Arcoverde, como Batalha, Pedra
vermelha. A escola conta com cerca de mil e setecentos alunos divididos em três
turnos que vão desde o ensino básico ao ensino médio. A pesquisa será trabalhada
com alunos do turno da tarde das séries finais do ensino fundamental (5ª a 8ª
séries).
Foi utilizado questionários individuais para os alunos, para que possam nos
informar de suas condições no seio familiar e socioeconômico da sua família. Os
questionários irão conter dados referentes à identificação do educando, mas os
quais não serão divulgados para que não haja nenhum tipo de julgamento e nem
constrangimentos. Exibição de vídeos e produção de relatórios acerca do tema
exibido.

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1 O BULLYING UM FENÔMENO MUNDIAL

O fenômeno bullying vem tornando-se cada dia mais presente no cotidiano


escolar, como por meio de estudos realizados. O que se tinha como brincadeiras
entre colegas de escola tornaram-se objeto de estudo e motivo de preocupação nas
escolas e nas sociedades de todo o mundo. O que antes passava despercebido aos
olhos dos educadores hoje é motivo de estudo e discussões por diversos setores
das sociedades.
Diversos setores sim, pois o bullying não é a apenas um fenômeno presente
nas escolas, e sim em todos os lugares da sociedade, seja na empresa, onde
trabalhamos, seja no clube que freqüentamos, seja na nossa vizinhança e até
mesmo na Igreja que freqüentamos, o bullying se faz presente em todos lugares
onde possa haver socialização de pessoas. Ele se faz ainda mais presente em
lugares ode possa haver uma mobilidade social, tornando-se assim uma poderosa
arma para repressão psicológica do individuo, impossibilitando que a vitima deste
mal possa se desenvolver no ambiente.
Nas escolas, onde este fenômeno é mais freqüente, a prática do bullying gera
um mal com conseqüências gravíssimas. Afeta o desenvolvimento psicossocial das
vitimas, podendo até mesmo levar a casos de suicídio. Compreender o que é o
bullying, desde sua origem até seus estilos específicos é de grande importância para
o combate a esse fenômeno que vem sendo cada vez mais rotineiro nas escolas do
mundo inteiro. Como tentar entender porque algumas pessoas são tão cruéis com
as outras, BEANE nos esclarece o seguinte: “Agressores e vítimas são produtos de
nossa sociedade e reflexo da qualidade de nossas famílias, escolas e comunidades.
Ambos são vítimas e precisam de ajuda.” (2010 p.39)
Dr. Beane Ph. D no assunto de bullying define diferentes tipos de motivos
para a prática do bullying, como por exemplo: temperamento, influências sociais,
confiança na própria superioridade, influência da mídia, preconceito, inveja, proteger

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a própria imagem, medo vingança, egocentrismo, ambiente familiar ruim, baixa
autoestima, e entre outras coisas. (BEANE, 2010) Mas um dos pontos mais
importante que Dr. Beane nos chama atenção é referente ao ambiente escolar

O clima social da escola e a qualidade da supervisão oferecida no local são


de grande importância. Um ambiente escolar em que faltam afeto e
aceitação para todos os alunos é mais possível de abrigar problemas
relacionados ao bullying e a questão de disciplina. Além do mais, a escola
que não tem altas expectativas de comportamento dos alunos e uma política
de repreensão eficiente está sujeita a criar um ambiente no qual os bullies
prosperam. (2005, p. 55)

A compreensão desse fenômeno nos dará a possibilidade de sabermos como


agir em um meio onde há prática do bullying. Outro fator importante é a
conscientização das pessoas envolvidas com casos de bullying, essa atitude já é
consideravelmente importante para a redução de casos. Torna o jovem consciente
de que sua atitude pode gerar um efeito onde trará conseqüências graves para a
vida da vitima ou do autor desse tipo de atitude poderá dar resultados significativos.

1.1 O que é o bullying

Para que possamos entender o que significa o termo “bullying” faremos uma
explanação geral da nossa sociedade contemporânea e explicaremos o termo nas
suas formas etimológicas e ideológicas, bem como a lei que trata o mesmo. É
importante ressaltarmos que não estamos lhe dando com um fenômeno novo, pois o
Bullying surgiu ao mesmo tempo em que surgiram as escolas, então o que fez
mudar a forma de tratá-lo.
Sabemos que sempre existiram diferenças culturais, religiosas, criação
familiar, entre outras. Sabemos também que a globalização, que nos permitiu ter
acesso a informações que antes eram limitadas, nos colocou diante de uma nova
realidade, partilhamos informações e vivenciamos através desses meios a realidade
dos demais povos, fazendo que nos dê a sensação de que estamos vivendo em
uma pequena cidade do interior onde conhecemos a todos e vivenciamos as
mesmas dificuldades e enfrentamos uma só realidade.

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Isto tudo, é claro, nos remeteu a uma nova forma de tratarmos alguns
aspectos comuns a todas as classes sociais de qualquer parte do mundo, como a
violência, a qual teve sua representatividade no passado através de povos que a
utilizavam como forma de sobrevivência, pois eram assim que as espécies humanas
conseguiam manterem-se vivas e ater sobrepor-se a outras, como a exemplo do
mundo animal.
Hoje em dia, o que há, é uma necessidade de concorrência, onde não se faz
necessário a violência física, mental e psicológica para que se consiga sobreviver e
conquistar objetivos. Podemos concorrer a uma disputa por uma vaga de trabalho
apenas com o nosso melhor currículo ou nossa postura e segurança em uma
entrevista diante de quem nos deseja contratar.
Nas escolas podemos adquirir nosso espaço diante dos demais colegas e
educadores de forma amigável e respeitosa, o que iremos tratar aqui, é justamente o
outro lado desta transcrição no âmbito escolar, quando dentro deste ambiente, é
utilizado como citado anteriormente a utilização de meios de violência de cunho
físico, mental e psicológico. Sendo necessário, é claro sabermos diferenciar o
bullying de um conflito eventual, repentino, normais na convivência entre estudantes
que podem ter várias situações propícias aos conflitos de momentos, esporádicos e
despossuídos de conseqüências mais relevantes ou traumatizantes nem
estigmatizastes, pois existem os conflitos que fazem parte da nossa vida, os quais
podem até ajudar a preparar o indivíduo, impondo a ele limites, respeito ao próximo,
entre outros fatores psicológicos positivos necessários ao seu desenvolvimento. Já
que sabemos que o Bullying a ser tratado aqui é o do âmbito escolar e que é
importante sabermos diferenciá-los de outras situações, vamos ver o que significa
como e definido em lei e suas diversas formas de caracterização.
O Bullying é uma palavra de origem inglesa e adotada em muitos países para
definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sobre
tensão. (FANTE, 2005).
Devemos entender por bullying o comportamento intencional, logo,
premeditado, sistematizado, planejado, articulado de forma repetitiva de agressão
verbal, psicológica ou física adotada, sobretudo no âmbito escolar ou externo a

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escola. Numa abordagem etimológica a palavra bullying “é um verbo derivado do
adjetivo inglês bully, que significa valentão, tirano”. (Gabriel Chalita In: MELO, 2010).
A palavra Bull, touro, boi, em inglês é adjetivada para bully, valentão, que
quando substantivada fica bullying, aquele que exerce a valentia contra outrem. Por
afetar a condição psíquica (estado psicológico) da pessoa no gesto da humilhação
moral caracterizado pela agressão verbal gratuita, injustificada e repetida, também é
comumente definida como assédio moral. Nessa perspectiva pode ocorrer no âmbito
familiar, no ambiente de trabalho, na escola ou em quaisquer outros meios sociais.
(MELO, 2010)
É ainda, “uma ação de transgressão individual ou de grupo, que é exercida de
maneira continuada, por parte de um indivíduo ou de um grupo de jovens definidos
como intimidadores nos confrontos com uma vítima predestinada”. (Constantini In:
MELO, 2010)
Os comportamentos incluídos no bullying são bem variados. Comumente
identificados na humilhação, uso de palavras ofensivas, difusão de boatos, fofocas,
exposição ao ridículo, transformação em bode expiatório e acusações infundadas,
isolamento, ameaças, insultos, ostracismo, sexualização, ofensas raciais étnicas ou
de gênero. (Middelton-Moz e Zawadski In: MELO, 2010)
Segundo a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à
Infância e à Adolescência), (apud Josevaldo Araújo de Melo, 2010) o termo bullying
compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que
ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra
outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de
poder.
Ainda de acordo com a ABRAPIA (In: MELO, 2010), por não existir uma
palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying
possíveis, o quadro a seguir relaciona algumas ações que podem está presentes.

Colocar apelidos Agredir Zoar


Fazer Sofrer Ofender Gozar
Quebrar pertences Excluir Encarnar
Humilhar Isolar Sacanear

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Discriminar Ignorar Intimidar
Perseguir Assediar Empurrar
Aterrorizar Dominar Ferir
Amedrontar Bater Roubar
Tiranizar Chutar
Juridicamente os atos de bullying configuram atos ilícitos, não porque não
estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem
princípios constitucionais (ex: dignidade da pessoa humana), e o código civil, que
determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar.
A responsabilidade pela prática de atos de bullying pode se enquadrar
também no código de defesa do consumidor, tendo em vista que as escolas prestam
serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram
nesse contexto. É importante salientar que existem estados como São Paulo e Rio
de Janeiro que possuem leis complementares.
Em anos recentes, muitas vítimas têm movido ações judiciais diretamente
contra os agressores por “imposição de sofrimento emocional” e incluindo suas
escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade conjunta. Em outros
países como, por exemplo, os Estados Unidos existem outros recursos legais para
esse tipo de ação, tais como processar o professor por falta de supervisão
adequada, violação dos direitos civis, discriminação ou de gênero de assedio moral.

1.2 A origem dos estudos do fenômeno no Mundo

Segundo a estudiosa de casos de bullying, Cléo Fante, a prática do fenômeno


é tão antiga quanto à escola. O diferencial para os novos olhares de estudos sobre
bullying está na forma sistematizada de estudo do fenômeno no mundo, ou seja, o
uso de procedimentos baseados metodologia científica para a identificação do
problema e a intervenção. Caracterizando assim o objeto a ser estudado e aplicando
técnicas e métodos que visam à ação racionalizada no combate de sua prática.
Para a pesquisadora essa prática acontece em 100% das escolas do mundo,
nenhuma escola está imune a esse fenômeno, o diferencial está nas

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particularidades de cada caso, na freqüência e na forma em que a escola trata o
assunto em questão.
As primeiras pesquisas existentes datam da década de 70, quando na Suécia
esse fenômeno começara a chamar atenção da sociedade. Este fenômeno veio
preocupar os pais e professores da sociedade sueca com as possíveis
conseqüências para os autores, vítimas e figurantes da prática. A partir dessa época
o bullying começa a ganhar notoriedade na sociedade com o registro nos anos 80,
de casos de suicídio entre crianças da Noruega, estando os mesmos ligados a
casos do bullying.
Com as ocorrências de casos de bullying surgi um dos primeiros
pesquisadores a conseguir detectar o bullying, é o pesquisador Dan Olweus da
universidade de Bergen, esse pesquisador conseguiu elaborar uma pesquisa onde
foi possível identificar e diferenciar uma vítima do bullying de um conflito cotidiano
escolar. A pesquisa de Olweus é bastante extensa, pois ele trabalhou com 84 mil
educandos quatrocentos professores e cerca de mil pais, de vários períodos da
escola, ele pode constatar os seguintes números: de sete estudantes entrevistados
um afirma ter sido vítima do bullying.
O governo Norueguês interveio nesta situação realizando campanha contra a
prática do bullying conseguindo assim a considerável redução de 50% dos casos
como explica a pesquisadora Cléo Fante:

Esse estudo constatou que, a cada sete alunos, um estava envolvido em


casos de bullying. Essa situação originou uma campanha nacional, com
apoio do governo norueguês, que reduziu em cerca de 50% os casos de
bullying nas escolas; tal Fato incentivou outros países, como Reino Unido,
Canadá e Portugal, a promoverem campanhas de intervenção. (2005 p. 45)

O estudo de Olweus baseia-se na criação de regras contra o bullying entre os


estudantes e fazendo com que os pais e professores se envolvam na luta contra a
sua prática e dessa maneira conscientizar os educandos a respeito da prática do
fenômeno e assim fazer a promoção da proteção das vitimas.
A partir desse estudo, pesquisadores de outros países começaram a se
interessar pelo fenômeno e diversas outras pesquisas foram surgindo. Em outras
pesquisas feitas pelo mundo apontaram que em torno de 5% a 35% dos estudantes
estão envolvidos na prática do fenômeno, essa porcentagem leva em consideração
19
educandos vítimas e educandos que praticam o bullying. (SILVA, 2010) Os outros
países que se interessaram pelo estudo do fenômeno foram: Canadá, Grã-Bretanha,
Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Grécia e estados Unidos. A cada estudo
realizado era possível constatar o quão aterrador era os resultados das pesquisas.
Nos Estados Unidos a prática do bullying chamou a atenção dos
pesquisadores causando muito interesse, pois houve um crescimento significativo
nos casos, os estudiosos acreditam que o futuro dos jovens envolvidos com a
prática do bullying será conturbado, principalmente os que são denominados autores
do fenômeno é que mais serão afetados com as conseqüências de sua prática.
Os estudos se intensificaram mais nos anos 90, sendo estudados tanto por
instituições privadas como pelos governos. O bullying está sendo tratado como um
fenômeno global, em pesquisas realizadas nas escolas americanas, com estudantes
de 6 a 10 anos de idade, aponta 11% apontam ser vitimas da prática.
Em pesquisas divulgadas no jornal El País, da Espanha, diz que a cada
quatro estudantes do primário um já sofreu maus-tratos por parte de colegas de
escola, o mesmo jornal traz ainda um dado mais alarmante, em 1997, a prática do
bullying foi tida como a uma das principais causas de suicídio de 766 jovens no país.
(FANTE, 2005)
Este fenômeno despertou no mundo muita atenção, principalmente por suas
conseqüências, o que na maioria das vezes passava-se por uma brincadeira tornou-
se objeto de muito estudo e de muita preocupação para os pais, professores e
autoridades. Todos os esforços demonstrados nas linhas acima demonstram essa
preocupação. Os estudos iniciais mostraram que a situação era mais grave do que
parecia e é por essa gravidade que se iniciariam os estudos dos casos.

1.3 O bullying no Brasil

O estudo sobre o fenômeno bullying no Brasil começou muito tarde, se


compararmos a outros países que desde os anos 70 se empenham para identificar e
agir para extinguir este fenômeno nas escolas. Os estudos no Brasil iniciaram-se no
Brasil no meado dos anos 90, mas ainda hoje inicio da a segunda década do novo

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milênio as pesquisas ainda são poucas as pesquisas sobre o fenômeno. Podemos
citar aqui, os estudos da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à
Infância e à Adolescência – ABRAPIA, que desde o ano de 2001 tem se dedicado ao
estudo e divulgação de casos de bullying no Brasil. Em pesquisa feita com 11
escolas do Rio de Janeiro, com turmas de 5ª a 8ª séries, a ABRAPIA pode obter os
seguintes resultados:

• Dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2.217) admitiram ter tido algum
tipo de envolvimento direto ou indireto na prática do bullying, seja como alvo
(vítima), seja como autor (agressor).
• Houve um pequeno predomínio do sexo masculino (50,5%) sobre o sexo
feminino (49,5% na participação ativa das condutas de bullying.
• As agressões ocorrem principalmente na própria sala de aula (60,2%),
durante o recreio (16,1%) e no portão das escolas (15,9%).
• Em torno de 50% dos alvos (vítimas) admitem que não relataram o fato
aos professores, tampouco aos pais. (SILVA, 2010 p.113)

Além do trabalho desenvolvido pela a ABRAPIA, ainda é válido lembrar os


trabalhos desenvolvidos por pesquisadores individuais, como é o caso da Educadora
Cléo Fante que desde o inicio do ano 2002 vem pesquisando o fenômeno bullying
nas escolas da Cidade de São José do Rio Preto onde a mesma criou o Programa
Educar para a Paz, (RUOTTI, ALVES, CUBAS, 2006 p. 204) um programa pioneiro
no Brasil que combate a prática do bullying no Brasil. Além também de Marta
Canfield que desenvolve trabalhos no Rio Grande do Sul e Carlos Neto no Rio de
Janeiro, o Centro de Estudos Multidisciplinar de Orientação sobre o Bullying -
CEMEOBES, que vem acompanhando oito escolas cidades do Brasil. A
CEMEOBES, no ano de 2007 relato que 45% dos jovens brasileiros pesquisados
apresentaram uma incidência com o fenômeno bullying. (MELO, 2010 p. 26)
Os estudos no Brasil estão começando a ganhar notoriedade da sociedade e
das autoridades, os casos de ocorrência de bullying no Brasil tem chamado a
atenção. No ano de 2003 no interior de São Paulo o jovem Edilmar de Freitas de 18
anos invadiu a escola que ele havia estudado e com uma arma atirou em que estava
presente, ferindo oito pessoas, logo após os disparos ele se suicidou. A motivação
desse fato foi foi motivada por que Edilmar, vítima de constantes apelidos e
humilhado por ser obeso. (SILVA, 2010 p.118)
Outro caso também parecido aconteceu na Bahia na cidade de Remanso
outro jovem invadiu a escola armado com uma arma de fogo ele matou duas
21
pessoas e feriu outras três, o jovem tentou cometer suicídio mas não obteve
sucesso, a motivação também é a mesma: revolta por ser motivo de constantes
humilhações entre os colegas de escola. (SILVA, 2010 p.119)
Como exemplo de combate a esta prática, temos o Projeto de Lei (nº 350, de
2007) de autoria do Deputado estadual Paulo Alexandre (PSDB-SP), onde o Poder
Executivo fica autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, onde haja
uma ação interdisciplinar e com participação da comunidades nas escolas públicas e
privadas do estado de São Paulo. (SILVA, 2010 p.119)
E mais recentemente temos uma ação mais significativa de combate a prática
do bullying, que foi a ação do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, que no dia 20 de
Outubro de 2010 lançou a cartilha de orientação aos pais e professores para
identificar a prática do bullying. Essa atividade faz parte do Projeto Justiça na
Escola, programa do CNJ que visa aproximar a Justiça da Escola no combate aos
problemas que estão presentes no cotidiano escolar brasileiro, como por exemplo, o
bullying.
Essa atitude demonstra que as pesquisas no Brasil começam a chamar a
atenção de outros setores da sociedade brasileira, para esse mal que está presente
em 100% das escolas do mundo. É necessário que todos participem do combate a
prática desse fenômeno, que tanto tem crescido no Brasil. Pois bullying não é
brincadeira, é assunto sério e deve ser combatido no foco do problema, que hoje
demonstram está sendo as escolas do Brasil.
Ana Beatriz Barbosa Silva, diz que “está mais do que na hora de políticos de
todos os estados brasileiros tomarem consciência da importância do combate ao
bullying.” Só que não podemos esquecer que não é somente através de leis que
mudaremos essa realidade, mas o trabalho de conscientização é ainda mais
importante para a compreensão deste fenômeno. E este trabalho deve ter inicio na
escola, mas deve ser continuado em casa, através dos pais e responsáveis dos
estudantes, afinal de contas a base familiar faz parte da construção do caráter do
educando.

22
2 O BULLYING NAS ESCOLAS

O bullying é uma palavra inglesa que ainda não possui uma tradução para o
Brasil. Originado da palavra bully, que significa: valentão, tirano, mandão, brigão. E a
expressão bullying corresponde ao conjunto de atitudes físicas ou psicológicas
sendo definido como um desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa,
colocando-a sobre tensão.
Existe toda uma premeditação dessas atitudes. A vítima do bullying é
escolhida e passa a sofrer agressões de forma repetitiva, tais vítimas se defendem
ineficaz mente. O bullying apresenta toda uma sistematização que inclui: a
premeditação, o planejamento, e a execução de forma verbal, psicológica e física,
articulados e repetitivos dentro do âmbito escolar.
É importante observar alguns aspectos para que o bullying não seja
confundido com situações de conflitos produzidos no âmbito escolar, como, por
exemplo, uma briga que venha ocorrer de forma esporádica dentro âmbito escolar,
pois nem toda violência pode ser caracterizada como bullying.
Para que a violência atenda a tipologia do bullying é necessário que
contemple a agressão psicológica, moral ou física; denote a intenção de ferir,
intimidar, ofender, discriminar, perseguir ou amedrontar; precisa haver uma
sistematização freqüência nas ações e por fim deixar marcas, seqüelas ou
conseqüências para o vitimado. O bullying será trabalhado neste TCC no âmbito
escolar.

2.1 Vítimas, autores e testemunhas: caracterizando o bullying

Algumas atitudes podem se configurar em formas diretas ou indiretas da


prática do bullying. Porém, dificilmente a vítima recebe apenas um tipo de maus-

23
tratos; normalmente, os comportamentos desrespeitosos dos bullies costumam vir
em “bando”.
Essa versatilidade de atitudes maldosas contribui não somente para a
exclusão social da vítima, como também para muitos casos de evasão escolar, e
pode se expressar das mais variadas formas, como as listadas a seguir:

VERBAL

Insultar
Ofender
Xingar
Fazer gozações
Colocar apelidos pejorativos
Fazer piadas ofensivas
Zoar

FÍSICO E MENTAL

Bater
Chutar
Espancar
Empurrar
Ferir
Beliscar
Roubar, furtar ou destruir os pertences da vítima
Atirar objetos contra as vítimas

PSICOLÓGICO E MORAL

Irritar

24
Humilhar e ridicularizar
Excluir
Isolar
Ignorar, desprezar ou fazer pouco caso
Discriminar
Aterrorizar ou ameaçar
Chantagear e intimidar
Tiranizar
Dominar
Perseguir
Difamar
Passar bilhetes e desenhos entre os colegas de caráter ofensivo
Fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais comum entre meninas)

SEXUAL

Abusar
Violentar
Assediar
Insinuar

Existem três tipos de vítima: a típica, a provocadora e a agressora.


A vítima típica possui alguma característica que as diferencia do padrão que
aquele grupo ou agressor considera relevante, mas que na verdade não justificariam
tais atitudes. Segundo Silva (2010),

As vítimas são os alunos que apresentam pouca habilidade de socialização.


Em geral são tímidas ou reservadas e não conseguem reagir aos
comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra eles.
Normalmente são mais frágeis fisicamente ou apresentam alguma “marca”
que as destaca da maioria dos alunos: São gordinhas ou magras demais,
altas ou baixas demais; usam óculos; são “Caxias”, deficientes físicos;
apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais
destacados; usam roupa fora de moda; são de raça, credo, condição
socioeconômica ou orientação sexual diferente. (p. 37)

25
Na verdade na vítima típica, é escolhida uma dessas características para dar
início às provocações e os agredidos não possuem habilidade para reagir ou fazer
cessar essas condutas prejudiciais.
São pessoas sensíveis, tímidas, passíveis, submissas, possuem baixa estima,
dificuldade de aprendizagem, possuem aspectos depressivos e de ansiedade,
motivos pelos quais parece denunciar ao agressor que não vai revidar se atacada e
que é presa fácil para seus abusos.
A vítima provocadora insulta o agressor e não possui nenhuma habilidade
para defender-se do mesmo, nesse grupo encontram-se crianças ou adolescentes
hiperativos, impulsivos e dispersos que acabam criando um ambiente tenso na
escola.
Os hiperativos geralmente têm atitudes que incitam os agressores, esses
indivíduos não fazem isso por falta de caráter, mas como parecem estar o tempo
todo ligados a uma tomada acabam atraindo o agressor para o ataque.
Os impulsivos criam uma situação provocadora, e quando o mesmo que
geralmente arrepende-se do fato, percebe criou uma situação que fugiu ao seu
controle.
Os dispersos acabam isolando-se do grupo, e não interagindo com o grupo,
acabam entrando na característica de um não sociável, tanto eles, quantos os
hiperativos e impulsivos não possuem características físicas que influenciam no
início dessas agressões.
A vítima agressora faz valer os velhos ditos populares “Bateu, levou” ou “
Tudo que vem tem volta”. Ela produz os maus-tratos sofridos como forma de
compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil, vulnerável, e
comete contra esta todas as agressões sofridas.
Autores – São os que cometem as agressões, tem em sua personalidade
traços de desrespeito e crueldade, de ambos os sexos, costuma manifestar poça
empatia, essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança
que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de intenso assédio
psicológico.

26
O agressor normalmente se apresenta mais forte que seus companheiros de
classe que suas vítimas em particular; pode ter a mesma idade ou ser um pouco
mais velho que suas vítimas; pode ser fisicamente superior nas brincadeiras, nos
esportes e nas brigas, sobretudo no caso dos meninos, os agressores podem agir
em grupo ou sozinho, quando ele está acompanhado de seus “seguidores”, seu
poder de “destruição” ganha reforço exponencial o que amplia seu território de ação
e sua capacidade de produzir mais e novas vítimas.
Em geral, as meninas exercem o bullying diferente dos meninos. Elas tendem
a espalhar boatos maliciosos, intimidar (sussurrando insultos ou rindo em grupo, alto
o suficiente para que seus alvos escutem), destruir a reputação de outro, dizer a
outras para que deixem de gostar de uma menina que querem se vingar.
Elas tendem a usar a exclusão social como principal arma, em lugar de
agressão física direta, embora estudos indiquem que também elas têm se tronado
cada vez mais agressivas fisicamente na última década. O bullying direto é a forma
mais comum entre os agressores (bullies) masculinos.
A agressão social ou bullying indireto é a forma mais comum em bullies do
sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao
isolamento social. Este isolamento é obtido através de uma vasta variedade de
técnicas, que incluem:

▪ Espalhar comentários;

▪ Recusa em se socializar com a vítima

▪ Intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima

▪ Criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo


a etnia da vítima, religião, incapacidades entre outras coisas).

O bullying escolar não privilegia o gênero: Atua nos dois com a mesma
desenvoltura, respeitando a especificidade de cada um. O masculino
prioriza o uso da força, da supremacia física e da intimidação. O feminino
utiliza-se da agressão psicológica através da humilhação e exclusão,
podendo ser tão ou mais cruel perverso. (Araújo, 2010 p. 31)

27
E também segundo Simmons apud Araújo, existe uma diferença entre a
prática de bullying masculina e a prática feminina, na menina ele destaca o seguinte:

O bullying praticado pelas meninas a não é menos cruel que o dos meninos.
Ela constata que manifestação de raiva das meninas segue regras e tabus
sociais. Elas crescem aprendendo a ser gentis e a sorrir o tempo todo, sem
espaço para manifestar os sentimentos que afloram na hora da raiva. A
ordem é sempre dissimular e fingir que não sentem raiva ou contrariedades.
Essa interiorização de sentimentos faz com que elas adotem outros
métodos agressivos através dos relacionamentos. A agressão feminina
atinge mais o psicológico, mas não é menos cruel. (p.32 )

Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não


aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de
pequenos delitos, como furtos, roubo, ou vandalismo, e são provenientes de famílias
desestruturadas, freqüentemente é de família desestruturada, em que há pouco ou
nenhum relacionamento afetivo. Os pais ou responsáveis exercem supervisão
deficitária e oferecem comportamentos agressivos ou violentos como modelo para
solucionar os conflitos.
Os espectadores são os alunos que presenciam as agressões, ou seja, eles
nem sofrem nem praticam o bullying, não saindo assim em defesa da vítima, nem
tampouco ajudando o agressor a machucá-la.
Espectadores passivos: são os que assumem a lei do silêncio e ficam inertes
as situações, só observando, pois o mesmo tem medo de se tornar a próxima vítima
do agressor, geralmente recebe ameaças por parte deles para se manterem em
silêncio. Neste grupo encontram-se aqueles que ao presenciarem cenas de violência
ou que trazem embaraços aos colegas, estão propensos a sofrer as conseqüências
psíquicas, umas vez que suas estruturas psicológicas também são frágeis.
Espectadores ativos: São os alunos que ao presenciarem as cenas de
agressão, ficam inflamando a situação com palavras de apoio aos agressores, e
rindo da situação e xingando os agredidos, alguns articuladores dos ataques
encontram-se na platéia presenciando as agressões, ou seja, tramaram tudo e agora
estão só vendo o circo pegar fogo.

28
Espectadores neutros: Por viverem em comunidades ou lares desestruturados
onde é comum a violência vêem com naturalidade a situação, não demonstrando
sensibilidade pelas situações de bullying. De acordo com Silva (2010)

Seja lá como for os espectadores, em sua grade maioria, se omitem em


face dos ataques de bullying. Vale apenas salientar que a omissão, nesses
casos, também se configura em uma ação imoral e/ou criminosa, tal qual a
omissão de socorro de uma vítima de acidente de trânsito. A omissão só faz
alimentar a impunidade e contribuir para o crescimento da violência por
parte de quem a pratica, ajudando a fechar a ciranda perversa dos atos de
bullying. (p 47)

2.2 O bullying e os conflitos do cotidiano escolar

O bullying nas escolas pode também assumir, por exemplo, a forma de


avaliações abaixo da média, não retorno das tarefas escolares, segregação de
estudantes competentes por professores incompetentes ou não-atuantes, para
proteger a reputação de uma instituição de ensino, o bullying geralmente ocorre em
áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente.
Ele pode acontecer em praticamente qualquer parte, dentro ou fora do prédio
da escola. É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos tipos de
conflitos e tensões. É normal que aja algumas ações agressivas em sala de aula,
uns fazem isso por diversão, outros, por demonstração de uma força maior perante
seus colegas, se auto- afirmando como fortões da sala.
Esse comportamento agressivo certamente influenciará nas atividades dos
alunos, promovendo interações ásperas, veemente violentas, essas interações
ocorrem por nas salas de aula geralmente possuírem vários agressores em
potencial.
Devido ao temperamento irritadiço do agressor e à sua acentuada
necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva pelo uso
da força, as adversidades e as frustrações que surgem acabam por provocar
reações intensas. Ás vezes, essas reações assumem caráter agressivo em razão
da tendência do agressor a empregar meios violentos nas situações de conflitos.
29
Em virtude da sua força física, seus ataques violentos mostram-se desagradáveis e
dolorosos para os demais.
Geralmente o agressor prefere atacar os mais frágeis, pois tem a certeza de
poder dominá-los, porém não teme brigar com os outros alunos da classe: sentem-
se fortes e confiantes.
Se há na classe um aluno que apresenta características psicológicas como
ansiedade, insegurança, passividade, timidez, dificuldade de impor-se e de ser
agressivo e com freqüência se mostrar fisicamente indefeso, ele logo será
descoberto pelo agressor e tornando-se um alvo ideal.
Sua ansiedade, ausência de defesa e seu choro produzem um forte
sentimento de superioridade e de supremacia no agressor, que pode então
satisfazer alguns impulsos de vingança.
Em geral o agressor consegue fazer com que outros alunos unam a eles
formando grupos. Conseguem também induzir aqueles que lhes são mais íntimos a
escolherem um alvo, que têm em sua aparência, em sua forma de vestir ou em sua
maneira algo que demonstre que é presa fácil.
Na maioria das vezes, entretanto, os professores ou outros alunos
profissionais da escola não percebem a agitação ou não se encontram presentes no
local quando acontecem os ataques à vítima; assim, os próprios alunos ficam
entregues a si mesmos para resolver seus conflitos.
É comum que a vítima não conte para os professores e para os pais o que lhe
acontece na escola. Também é comum que os outros alunos também participem dos
maus tratos, já que todos sabem que ele é o mais fraco e não se atreve a revidar e,
por outro, que nenhum dos alunos mais fortes da classe sairão em sua defesa.
A partir do momento em que os valentões da classe o atacam, o aluno
agredido chega até a estranhar quando pouco hostilizado, pois, no fundo, acredita
que não tem valor e que não é merecedor dos ataques. Aos poucos vai se isolando
dos seus colegas de classe, uma vez que sua reputação torna-se pior entre os
mesmos por causa das gozações e dos ataques abertos, ficando evidente para
todos que não servem para nada.
Não raro alguns alunos são tomados pelo medo de que sua reputação seja
ameaçada em estarem em companhia dos alunos alvo de gozações ou que o

30
agressor desaprove essa amizade, fazendo dele a próxima vítima, assim o agredido
vai ficando cada vez mais isolado do restante da turma. Segundo Melo(2010)

...para que um comportamento seja caracterizado como bullying , é


necessário distinguir os maus-tratos ocasionais e não graves dos maus-
tratos habituais e graves:são comportamentos produzidos de forma
repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima;
apresentam uma relação de desequilíbrio de poder, dificultando a defesa da
vítima; ocorrem sem motivações evidentes; são comportamentos
deliberados e danoso. (p.30)

2.3 Combatendo a prática do bullying nas escolas

A metodologia utilizada para a prevenção e combate do buulying nas escolas


é sistematizada através de programas. Esses programas apresentam os critérios
para a identificação do bullying na escola e mostram procedimentos adequados para
a intervenção de combate e estratégias de prevenção.
É importante que as ações envolvam todos: a direção, os professores, os
funcionários e os alunos. A implantação de projetos de intervenção necessita
também de profissionais externos a instituição como; psicólogos, pedagogos,
psicopedagogos, educadores e especialistas na temática do bulllying.
A metodologia e os procedimentos utilizados no Brasil para a implantação de
programas ou projetos é baseada na experiência internacional dos pioneiros no
estudo do fenômeno bullying, sobretudo os pesquisadores europeus.
Veremos algumas estratégias segundo Melo (2010, pp. 52-56)
As estratégias são formatadas em linhas gerais em 04 categorias:
1. Estratégias gerais; 2. Estratégias em sala de aula; 3. Estratégias individuais;
4. Estratégias familiares.
1 Estratégias gerais: aplicar um questionário anônimo para identificar junto
aos alunos as ocorrências de bullying.
Criar um serviço de denuncia que seja confiável e preserve a identidade das vítimas,
já que a exposição é o principal motivo que leva a ausência de denúncia.

31
Treinamento de professores para a identificação, o diagnóstico e encaminhamento
do problema.
Esclarecer e discutir com toda comunidade o fenômeno bullying
Contar com a ajuda de especialistas no tema.
Apresentar peças de teatro tipificando a conduta bullying na sala de aula, no pátio e
no caminho para a escola.
Organização de dinâmicas de grupos com o tema tolerância e solidariedade.
Projeção de filmes que tratem do bullying, devidamente acompanhados de
discussão sobre o fenômeno abordado.
2 Estratégias em sala de aula: Promover palestras e esclarecimentos,
combate e prevenção do bullying.
Mostrar aos alunos a diferença entre bullying e a violência pontual.
Utilizar pequenos vídeos de esclarecimentos ou depoimentos de pessoas que foram
vitimadas.
Fazer uso de textos, artigos ou pesquisas elaboradas por profissionais da área.
Introduzir a discussão do fenômeno bullying através de histórias ou fábulas
3 Estratégias individuais: Entrevista individual com vítimas e agressores.
Falar com os pais dos envolvidos.
Ajuda e apoio para os pais, disponibilizando cartilhas, textos, artigos e pesquisas
sobre o tema bullying.
Os pais devem conversar com os filhos sobre o bullying escolar.
Promover a troca da turma ou de escola quando as outras estratégias não surtirem
efeito.
Tomar medidas para que as vítimas se sintam protegidas.
4 Estratégias familiares: Viabilizar o encontro com pais de vítimas e
agressores, acompanhamento por parte dos pais no trajeto escolar. Promover o
encontro dos pais para conscientização do fenômeno bullying.
O bullying traz conseqüências graves e abrangentes para as vítimas e,
promove, no âmbito cognitivo, o desinteresse pelos estudos, o déficit de
concentração e aprendizagem, a queda do rendimento intelectual, a reprovação e a
evasão escolar e vários danos a saúde, como taquicardia, tensão e dores

32
musculares, excesso de sono ou insônia, pesadelos, perda ou aumento do apetite,
entre outros. Segundo Fante (2005),

As conseqüências da condutora bullying afetam todos os envolvidos e em


todos os níveis, porém a vítima, que pode continuar a sofrer seus efeitos
negativos muito além do período escola. Pode trazer prejuízos em suas
relações de trabalho, em sua futura constituição familiar e criação dos filhos,
além de acarretar prejuízos para a sua saúde física e mental. (p.78-79)

Com a detecção do fenômeno do bullying nas escolas é possível


combater, pois muitas vezes o fenômeno ocorre nas escolas, mas demora-se a
aceitar que acontece e enquanto isso as conseqüências para os estudantes pode
até mesmo ser refletido na situação das notas das escolas.

33
3 O ESTUDO DO BULLYING NA ESCOLA MONSENHOR JOSÉ KEHRLE

Pesquisar a existência de bullying na escola é necessário para combatê-lo,


pois quando se detecta a ocorrência de bullying a ação deve ser de imediato, pois as
conseqüências para os afetados podem ser drásticas.
Os casos de bullying ocorrem naturalmente no ambiente escola, como já fora
discutido nos capítulos anteriores, a ocorrência do fenômeno se dá naturalmente,
mas muitas vezes confundimos com conflitos que fazem até mesmo parte da
formação do educando, sendo que muitas vezes os educadores não se apercebem
do mal que psicologicamente está causando ao praticante de bullying.
Às vezes as atitudes dos educadores frente a casos de bullying é a de
desvalorização das atitudes achando que um conflito em sala de aula nada mais é
do que atos de pura rebeldia por parte do educando, ou até mesmo, como diz o dito
popular: “é da idade”. Tem-se que ficar atentos e informarmo-nos dessa ocorrência
desses fatos, temos que ter na consciência que o bullying pode surgir por uma
brincadeira, mas a partir do momento que uma brincadeira torna-se motivo de
repressão psicológica e que agressões são cada vez mais crescentes significa que
passou da hora de agir.
A Escola Monsenhor José Kehrle não se diferencia de outras tantas
existentes nas periferias do Brasil, atende uma clientela humilde e com pouco
acesso a informação, sendo desta maneira, a escola uma via para preenchimento
dessa lacuna. Pesquisar a temática nessa escola pode nos revelar a dimensão que
se tem o assunto. Durante as pesquisas ao serem questionados sobre o significado
do bullying, muito dos educandos se mostraram conscientes de que aquela palavra

34
de origem inglesa representava algo nada agradável para a vida de quem já tivera
experiência com o fenômeno.
Sendo a escola local formação intelectual e que serve também para
socialização dos jovens a escola tem de servir de mediadora de conflitos causados
pelas diferenças culturais e sociais existentes na comunidade qual ela atende,
possibilitando desta maneira o dialogo entre os diferentes e aprendendo assim o
respeito mutuo.

3.1 A comunidade do JK e a Escola Monsenhor José Kehrle

A cidade de Arcoverde está localizada a cerca de 250km da capital


pernambucana, Recife. Segundo o último censo populacional realizado no ano de
2010, Arcoverde tem uma população com cerca de 70mil habitantes divididos em
onze bairros oficializados por lei orgânica. Desses onze bairros o JK pertence ao
bairro conhecido por Coronel Siqueira Campos, pois o bairro do JK surgiu após a
oficialização dos outros onze bairro de Arcoverde.
A Escola Monsenhor José Kehrle, tem como gestor Carlos Fernando de Melo
Torres. A Escola no ano de 2009 recebeu o prêmio Nacional de referência em
Gestão Escolar. Hoje conta hoje com 1552 alunos, distribuídos em três horários e
nas modalidades de ensino que são Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e
Ensino Médio. A escola, que segundo informações da Unidade do IBGE de
Arcoverde, pertence ao Bairro Coronel Siqueira Campos atende aos alunos das
seguintes comunidades, JK, Cidade Jardim, Boa Esperança, São Miguel, ao sítios
da zona rural de Arcoverde que são: Malhada Branca, assentamento Pedra
vermelha, sitio batalha, campo das sementeiras.O Ensino fundamental II (5ª a 8ª)
tem 542 alunos divididos em três horários, mas a pesquisa abrangeu os alunos do
período da manhã com a totalidade de 218 alunos entrevistados.

3.2 O desenvolvimento da pesquisa

35
A pesquisa, que ocorreu que na Escola Monsenhor José Kehrle durante o
mês de outubro e novembro de 2010, teve como público alvo alunos do sexo
masculino e feminino das séries finais do Ensino Fundamental II, ou seja, de 5ª à 8ª
série, de idade entre 11 e 15 anos, todos os alunos entrevistados eram do período
da manhã. No total foram entrevistados 218 alunos, sendo 96 do sexo masculino e
122 do sexo feminino.
A pesquisa consistia em responder a um questionário com total de 22
questões, o questionário era respondido logo após uma conversa com os educandos
a respeito do que é bullying, era esclarecido aos educandos a diferença entre o
bullying e conflitos normais. Em virtude do comprimento das orientações do Estatuto
da Criança e Adolescente (E. C. A) art. 247, nenhuma entrevista realizada com os
educandos, que eram em sua totalidade menores de idade, sendo impedidos
legalmente de assumirem seus atos, o questionário não continha espaço para o
preenchimento de nome, desta maneira, preservando a integridade moral, evitando
exposições dos educandos.
No questionário a única forma para identificar a origem do educando era
através do espaço para preenchimento de sua série e turma de origem, explicitando
também o período em que estuda e a data da realização da pesquisa. A opção de
manter o sigilo dos educandos, além de seguir a orientação do E. C. A, faz com que
o aluno se sentisse seguro para preencher todo o questionário, pois além de o
educando expor casos de intimidação e agressão, ele responderia questões a
respeito de sua família, por exemplo, se seus pais são casados oficialmente ou se
são separados, quantas pessoas moram em sua casa, quantas pessoas trabalham,
quem são as pessoas que trabalham, quantas horas seus pais ficam em média em
casa.
Sabendo-se que existe um diferencial da prática do bullying entre meninos e
meninas esta pesquisa não procurou diferenciar estes casos, pois como o objetivo
maior desta pesquisa era identificar as principais causas da prática, então não foi
levado em consideração o sexo do educando e sim suas práticas. Como também
não foi levada em consideração a cor que o aluno se declara, ou seja, se ele se
declara negro, branco, pardo, indígena ou amarelo.

36
No contato com os educandos, durante a pesquisa, era possível perceber que
muitos deles já conheciam o fenômeno, talvez por serem vítimas, talvez por terem
vistos matérias na televisão, pois a temática tem sido muito explorada no universo
televisivo. A exemplo, temos o apresentador Serinho Groisman, apresentador do
programa Altas Horas, que vai ao ar na madrugada de sábado para o domingo na
rede Globo, que tem realizado campanha publicitária na TV contra a prática do
bullying, assim como o Jornal da Record que na última semana de outubro realizou
uma série de reportagens sobre o fenômeno nas escolas brasileiras.
Isso demonstra como o assunto tem chamado atenção da sociedade, as
conseqüências do bullying se da em longo prazo, mas os sinais de que uma criança
é vítima são facilmente percebidos. Uma das principais características é a falta de
vontade de freqüentar a escola e o rendimento escolar muito baixo, mas não
devemos confundir esse rendimento baixo, talvez causado por falta de vontade de
estudar por, digamos, preguiça, conversas paralelas, desinteresse e até mesmo por
gazear aula sem motivo aparente, com o aluno que tem ou tinha um bom
desenvolvimento nas aulas e que vem apresentando o baixo rendimento, e que a
cada dia vem se isolando na sala, uma aluno que se observa que é inteligente, mas
que começa apresentar uma queda no rendimento.
No questionário, foi utilizado a palavra “intimidado” para significar quem já
sofreu algum tipo de violência física, psicológica ou verbal. Essa questão foi
amplamente discutida em sala de aula, antes da aplicação dos questionários, pois
um dos significados do bullying é a intimidação, fazer com que o aluno se sinta
intimidado por outro e dessa maneira ser submetido a maus tratos entre eles.

3.3 O resultados

Os seguintes resultados foram obtidos a partir de entrevistas realizadas,


como já foi dito anteriormente, com alunos da Escola Monsenhor José Kehrle
localizados nas séries finais do Ensino Fundamental II do período da manhã.
Dos duzentos e dezoito alunos entrevistados, noventa e seis eram do sexo
masculino e cento e vinte e dois do sexo feminino. Entre todos os resultados

37
analisados podemos descrever a seguinte situação: dos duzentos e dezoito alunos
entrevistados sessenta e oito pessoas declararam que sofreram algum tipo de
intimidação. Em resultados por sala temos a seguinte divisão: 5ª “A” – 4 alunos; 5ª
“B” – 14 alunos; 5ª “C” – 10 alunos; 6ª “A” – 2 alunos 6ª “B” – 11 alunos; 7ª “A” – 10
alunos; 8ª “A” – 15 alunos.
Ao questionarmos a questão familiar, ou seja, como se caracteriza as famílias
desses alunos, tivemos as seguintes constatações: dos 68 alunos que declararam
ter sofrido algum tipo de intimidação, 22 disseram que seus pais são separados. A
média de pessoas que moram nas casas desses 68 alunos são de 5, por casa. Essa
é a média matemática, mas nas entrevistas encontramos realidades bem diferentes
dessas, por exemplo, em um questionário um aluno declarou que em sua casa
moram 16.
Quando questionados sobre quantas pessoas da casa trabalham, na média
matemática obtemos a seguinte resposta: 2 pessoas por casa, mas assim como na
média das pessoas que moram nas casas, existem casas em que ninguém
trabalha. Não questionamos aos entrevistados a renda familiar, pois por diversos
motivos, entre eles o fato de não terem conhecimento de quanto é a renda familiar,
talvez não obtivéssemos uma resposta correta. Ainda referente à renda familiar,
perguntou-se para os alunos quem são as pessoas da casa que trabalham, as
respostas foram na maioria as mães, com 37 pessoas que responderam; em
segundo lugar o pai com 36 pessoas, lembrando que nesta questão eram apontados
as pessoas que residem na casa e trabalham, por isso pode parecer que há uma
divergência nas respostas. Ainda existem outras pessoas que participam na
formação da renda em casa que são os irmãos/primos com 24 pessoas que deram
essas respostas; 5 alunos que responderam o questionário afirmam que também
trabalham, ainda aparecem o tios com 5 pessoas e os avós com 4 pessoas que
responderam a essas questão.
Quando se questiona o jovem sobre com que freqüência acontece os casos
de intimidação, 35 alunos apontam que acontece mais de uma semana; 15 afirmam
que a semana toda; 14 mais de 3 vezes durante a semana; 4 preferiram não
responder. Em complemento a esta questão, perguntou-se ao aluno qual o local em
que essas situações acontecem e 47 alunos afirmam que essas situações

38
acontecem em sala de aula; 9 responderam que acontecem no pátio; 8 em outros
locais citados como, por exemplo, no portão da escola, no campo de futebol; 1 aluno
respondeu que acontece no banheiro; 3 alunos não informaram o local mais
freqüente. Questionou-se ainda em que momento ocorre essa intimidação e 30
alunos informam que na hora em que acontece a troca de professores; 21 afirmam
que ocorre na hora do intervalo (ou seja, no momento em que saem para merendar);
9 afirmam que na volta para casa, ou seja, quando termina as aulas; 5 alunos
afirmam que acontece na hora da entrada na escola.
Perguntou-se ainda, aos jovens, qual o tipo de intimidação, ou seja, bullying,
que eles sofreram e 52 afirmaram que já foram vítimas da forma verbal, mais
precisamente sofreram agressões verbais; 19 afirmaram que foram vítimas de
agressões físicas; 5 responderam que foram ameaçados o que caracteriza agressão
psicológica. Nessa questão há uma discrepância nos resultados, mas o motivo para
isso é que em alguns casos os alunos responderam mais de 1 questão. Quando
questionamos por qual motivo isso ocorria temos as seguintes respostas: 26 alunos
responderam que não sabem o motivo para que isso ocorra, 23 afirmam que é
devido ao comportamento do aluno agressor; 8 afirmam que é por suas
características físicas; 7 afirma que isso acontece porque os outros alunos sentem
inveja deles; 3 afirmam que acham que é por prazer que eles fazem isso; 2 alunos
afirmam que isso ocorre devido sua personalidade.
Observa-se que a condição social não seja um dos fatores para que isso
ocorra, pois já que econômico e socialmente falando os perfis dos alunos são muito
parecidos: mães e pais que trabalham, moram em média de 5 pessoas em casa. O
número de pais separados é grande, mas em muitos casos existe a presença
masculina em casa na forma de um padrasto ou um tio.
Em outro momento do questionário, era perguntado aos alunos se eles já
haviam presenciado algum caso de bullying. Neste momento a pesquisa era sobre
as testemunhas desse tipo de comportamento agressivo, pessoas que presenciam
as agressões.
Das 218 pessoas entrevistadas 69 responderam que já presenciaram casos
de bullying. Estão distribuídos da seguinte maneira: 5ª “A” – 4 alunos; 5ª “B” – 7

39
alunos; 5ª “C” – 6 alunos; 6ª “A” – 4 alunos 6ª “B” – 11 alunos; 7ª “A” – 17 alunos; 8ª
“A” – 20 alunos.
Das 69 pessoas que responderam a essa questão, quando questionadas
sobre o qual o tipo mais comum de bullying que eles presenciam, 47 responderam
que o tipo mais comum á agressão verbal, em segundo lugar aparece com 27
pessoas que afirmam ser a agressão física, 10 pessoas afirmam ser agressão
psicológica e outras 9 preferiram não responder. Nesta questão pode haver
diferenças na quantidades, pois em algumas entrevistas os alunos marcaram mais
de um tipo de violência presenciada. Quando questionamos qual foi a reação dos
alunos ao presenciarem esses casos 27 disseram que preferiram ficar calados, 22
tentaram impedir, 12 informaram que contaram a situação para algum funcionário da
escola, 6 alunos não responderam e dois afirmaram que contaram ao pai da pessoa
agredida. Também aparece diferença nas somas das quantidades, pois em alguns
casos foi respondidas mais de uma resposta.
Em pesquisas referenciadas nesse trabalho, observa-se que os estudiosos do
fenômeno afirmam que a reação mais comum as testemunhas seja ficar calada, pois
segundo eles, as testemunhas têm medo de se tornarem as próximas vítimas dos
agressores. É a situação apresentada nesta pesquisa, muitos preferiram o silêncio a
tomar alguma atitude.
Na terceira e última parte da pesquisa, perguntou-se aos alunos se eles já
praticaram o bullying. Dos 218 alunos entrevistados, apenas 47 alunos afirmaram
que já o praticaram, e estão distribuídos da seguinte formas: 5ª “A” – 8 alunos; 5ª “B”
– 5 alunos; 5ª “C” – 2 alunos; 6ª “A” – 1 alunos 6ª “B” – 5 alunos; 7ª “A” – 7 alunos;
8ª “A” – 19 alunos.
Ao analisarmos a condição socioeconômica do aluno que assume que prática
bullying, obtivemos os seguintes resultados. Dos 47 alunos que assumiram a prática
do fenômeno 11 dos entrevistados disseram que seus pais são separados, e em
suas casam moram em média de cinco pessoas. Já a média de pessoas dessas
famílias que trabalham são 2 pessoas por casa, logicamente sabemos que esta é a
média matemática, mas a realidade é que em algumas casa não trabalham
ninguém. No quesito em que perguntávamos quais as pessoas da casa trabalham
29 responderam que o pai, seguido das mães que aparecem com 22 pessoas

40
afirmando esta resposta, em terceiro aparece os irmãos com 17 respostas, temos
ainda algumas 6 pessoas que afirmam que os avós trabalham ou são aposentados,
3 alunos afirmam que eles também trabalham e por último temos os tios que são
citados por 2 alunos.
Para este momento da pesquisa apresentou-se um dado em que na primeira
parte da pesquisa não apresentamos, que é a quantidade de horas em que os pais
ficam em casa, esse dado pode revelar um pouco da presença dos pais nas vidas
dos alunos. A essa quês tão 17 alunos responderam que seus pais passam mais de
7 horas por dia em casa, 16 afirmam que seus pais ficam até 5 horas por dia em
casa, 7 afirmam que seus pais ficam até 7 horas por dia e os outros 7 afirmam que
seus pais passam o dia todo em casa.
Perguntou-se ainda aos alunos que responderam a esta parte da pesquisa,
qual o tipo de bullying mais comum que eles praticam e obtive-se as seguintes
respostas: agressão verbal aparece citada por 38 alunos, em seguida aparece com
12 respostas a agressão físicas e em último com 3 pessoas afirmando que a mais
comum é a violência psicológica. Há uma disparidade se somarmos os resultados,
mas acontece que o aluno poderia responder com mais de uma opção a esta
questão.
Quando procuramos saber qual o motivo para esses ataques tem-se as
seguintes respostas: 17 pessoas afirmam que revidaram a um ataque inicial, 14
alunos afirmaram que estavam sendo perturbados e por isso esse ataque, 5
afirmaram que estavam com raiva, outros 5 dizem que se sentiram ameaçados e por
isso o ataque, 2 alunos afirmaram que não passou de brincadeira e outros 4 alunos
não responderam. Para finalizar-se a entrevista perguntamos ainda aos alunos com
que freqüência eles praticam o bullying, e obtivemos as seguintes respostas: 30
alunos confessaram que mais de uma vez por semana, 8 alunos disseram que a
semana toda, 6 responderam que mais de 3 vezes por semana, os outros 3 não
responderam a esta questão.

41
CONCLUSÕES

A existência do bullying na escola estuda vem apenas comprovar o que os


teóricos que foram estudados para este trabalho já haviam exposto em seus
trabalhos, que todas as escolas do mundo existem casos do fenômeno. Isso não
significa dizer que o fator social influi para ocorrer. Nesse trabalho, por exemplo,
tentava-se fazer uma análise se a condição social iria influir no comportamento
agressivo e podemos dizer, que até onde se pode observar a questão social não tem
influência, pois os perfis socioeconômicos do alunos são muito parecidos, ou seja,
baixa renda, muitas pessoas que moram em casa, e nas casa poucas pessoas
trabalham.
Com a análise das respostas obtidas nos questionários que foram
respondidos pelos alunos, podemos observar que os casos de bullying que
encontramos na escola estão mais diretamente ligados ao tipo verbal, como sendo o
mais comum que ocorre dentro da escola, essas agressões são geradas como
forma de um revide um ato que foi gerado inicialmente por outro. Mas não podemos
esquecer que existem casos de agressão física, o que devem ser duramente
combatidos, pois além dos danos físicos que podem são causados pelas agressões,
há também os danos mentais que são causados em longo prazo.
O combate ao bullying deve ser concentrado, nesse caso, com a forma mais
poderosa que se tem para combatê-lo, a conscientização. O linguajar de uma

42
pessoa está devidamente associado a sua cultura, o comportamento de um jovem é
um reflexo não somente da sua realidade familiar, mas também o circulo de
amizades que o cerca, isso não significa dizer que o jovem deverá ser afastado de
seus amigos.
A escola deve sair em combate ao bullying, pois muitos dos pais
desconhecem tanto o significado da termo como as conseqüências e por esse
desconhecimento a escola deve pôr-se à frente e expor aos pais o que é este
fenômeno que tem preocupado tanto os educadores, podem causar e como
identificar e combater a sua prática.

REFERÊNCIAS

BEANE, Allan. Proteja seu filho do Bullying. Rio de Janeiro: Best Seller. 2010.

SILVA, Ana B. Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro:
Fontanar. 2010.

FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e


educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus Editora. 2005.

MELO, Josevaldo Araújo. Bullying na escola: como identificá-lo, como preveni-


lo, como combatê-lo. Recife: EDUPE. 2010.

RUOTTI, Caren; ALVES, Renato; CUBAS, Viviane de Oliveira. Violência na escola:


um guia para pais e professores. São Paulo: Andhep. 2006.

43
APÊNDICE

Série: Turma: Data: / /

1º - Qual o seu sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino


2º - Quantos anos você tem?
3º - Qual sua raça/cor?
( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda
( ) Amarela ( ) Indígena
4º - Seus pais são casados? ( ) Sim ( ) Não – Se são separados marque aqui( )
5º - Quantas pessoas moram na sua casa?

6º - Quem são as pessoas que moram com você?(ex.: pai, mãe, irmão...)

7º - Quantas pessoas que moram na sua casa trabalham?


8º - Quem são as pessoas da sua casa que trabalham? (ex.: pai, mãe, irmão...)

44
9º - Quanto tempo seus pais ficam em casa?(sem contar a hora em que eles
dormem) R: ( ) Até 5 horas por dia ( ) Até 7 horas por dia ( ) Mais de 7 horas
( ) O dia todo
10º - Você já foi intimidado na escola? ( ) Sim ( ) Não (caso negativa pular para o 16º
quesito )
11º - Quantas vezes na semana? ( ) Mais de 1 vez ( ) 3 vezes ( ) A semana toda
12º - Em que local da escola ocorre essa situação ( ) Sala de aula ( ) No pátio
( ) No banheiro ( ) Outro local:

13º - Em que momento ocorre?: ( ) Na entrada ( ) Na troca de professores


( ) No intervalo ( ) Na volta para casa
14º - Que tipo de intimidação? ( ) Xingamento ( ) Tapas ( ) Pontapé ( ) Socos
( ) Ameaças, quais tipos de ameaças?

15º - Por que isso acontece?

16º - Você já presenciou qualquer tipo de abuso a outros colegas? ( ) Sim ( ) Não
(caso negativo pular para o 19º )
17º - Qual o tipo?

18º - Qual sua reação? ( ) Ficou calado e não contou para ninguém
( ) Falou para algum funcionário da escola ( ) Contou ao pai do aluno ( ) Tentou
impedir
19º - Você já praticou algum tipo de abuso? ( ) Sim ( ) Não (caso negativo não
responder mais )
20º - O que você fez? ( ) Xingou ( ) Deu tapas ( ) Deu pontapés ( ) Deu socos
( ) Ameaçou
21º - Qual o motivo que lhe levou a fazer isso?

45
22º - Com que freqüência na semana você pratica? ( ) Mais de 1 vez ( ) 3 vezes
( ) A semana toda

46

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