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UTOPIA E DIREITO
ERNST BLOCH E A ONTOLOGIA JuRfDICA DA UTOPIA
ISBN: 85-7674-298-5
Contato: editora@quartierlatin.art.br
www.editoraquartierlatin.com. br
SUMÁRIO
Nota ...................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO
UTOPIA E DIREITO
No Brasil, as notícia s filosófi cas sobre Ernst Bloch vêm da década de 1960 - ao mesmo tempo
da introdução dos pensamentos de Lukács e da Escola de Frankfurt - por meio dos pio ne iros
estudos sistemáticos do francês Pierre Furter. Nas décadas seguintes, destacam-se os estudos
de Luiz 8 ic ca, do Rio de Ja ne iro, tratando da onto logia e da política de Bloch, e , no sul, de
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UTOPIA E DlR.E!TO
SOBRE A OBRA
A cada dia a razão penetra na França, tanto nas lojas dos co-
merciantes como nas mansões dos senhores. Cumpre, pois,
cultivar os frutos dessa razão, tanto mais por ser impossível
impedi-los de nascer.6
7 FERRAZ J1i., lercio Sampaio. Funçfio Social da Dogmática jurídica. São Paulo, Max limonad,
1998, p. 193.
- UTOPIA E DIREITO
8 "A partir do século XVII em diante, o linearismo e a concepção progressista da história afírmam-
se cada vez mais, colocando a fé numa linha de progresso infinito, uma fé que já havia sido
proclamada por Leibniz, predominante no século do 'iluminismo', e popularizada no século
XIX pelo triunfo das idéias dos evolucionistas. Temos de esperar até o nosso próprio sécu lo para
ver o começo de determinadas reações contra esse linearismo histórico, e um certo reavivamento
do interesse na teoria dos ciclos; é assim que, na economi a política, estamos sendo testemunhas
da reabilitação da idéia de ciclo, flutuação, oscilação pe riódica; que, na filosofi a, o mito do
eterno retorno é reavivado por Nietzsche; o u que, na filosofia da história, um Spengle r ou um
Toynbee manifestam preocupação com o problema da periodicidade". fuALJE, op. cit., p. 126.
9 SPENCLER, Oswald. O homem e a técnica. Lisboa, Guimarães Editores, 1993, p. 119.
ALYSSON Lf.ANORO MASCARO
11 "Uma pretensa 'supe ração' do marxismo limitar-se-á, na pior das hipóteses, a um retorno ao pré-
marxismo e, na melhor, à redescoberta de um pensamento já contido na filo sofia que se acreditou
superar". SARTRE, Jean-Paul. Criíica da razão dialética. Rio de Janeiro, DP&A, 2002, p. 21.
UTOPIA E DtRElTO
A TRANSFORMAÇÃO É MORAL
A TRANSFORMAÇÃO É MORAL
UTOPIA E D IREITO
DA SECULARIZAÇÃO À REVOLUÇÃO
UTOPIA E DIREITO
15 S0toN, Ari Marcelo. "A Polêmica acerca da origem dos Direitos Fu ndamentais: do Contrato
Social à O eclaraçao a me ri cana". ln Revista di! Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP,
vol. 4. Porto Alegre, Síntese, 2002, p. 1 35.
16 M >.RRAMAO, Giacomo. Céu e Te rra. Genealogia da Secularização. São Pa ulo, Ed. Unesp,
1997, p . 23 .
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ÜTOP!A E ÜIR.EITO
17 FERRAZ )R., Te rcio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, Decisão, Dominação.
São Paulo, Atlas, 2003, p. 7 1 .
18 ÜST, François. O lempo do direito. Bauru, Edusc, 2005, p. 193: " É bem em direção a um paraíso
terrestre que colocamos o pé na estrada, e a promessa da felicídade - uma idéia nova e la também
- está no fim do caminho. Um caminho aclarado pelas luzes da razão e aberto pe la energia
formidável de idé ias-forças como libe rdade, iguald ade e, ta lvez mesmo, frate rnidade. Sem
dúvida, ainda estamos longe do cômputo fin al, mas a humanid ade é perfectíve l - logo, a
pedagogia estará inscrita no ce nt ro do pro jeto prometêico. Desde o início, uma certeza: a sorte
das gerações futuras será mais invejável do que a das gerações presentes".
ALYSSON LEANDRO MASCARO
19 "O ímpeto utópico que anima a teoria de Marx constitui, para o melhor e para o pior, uma
dimensão necessária de seu desenvolvimento". MALER, Henri. Congédier L'Utopie? l.'ulopie
sefon Karl Marx. Paris, L' Harmattan, 1994, p. 1 2.
ÜTOPIA E DIREITO
20 MA~x. "Teses Sobre Feuerbach". ln LA BICA, Georges. As 'Teses sobre Feuerbach ' de Karl Marx.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990, p. 34.
21 lbid., p. 35.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
Não se pode dizer, contudo, que haja uma m era oposição entre
aqueles que, por serem humanistas, divisam uma utopia alargada ao
marxismo e aqueles que, por serem estrururalisras, rejeitam a aborda-
gem do tema da utopia. Isto porque Ernst Bloch, que é quem, dentre
os marxistas, mais se dedica ao aprofundamento do tema, não pode
22 Lôwv, Michael. A teoria da re voluçao no jovem Marx. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 38.
23 NAVES, Márc io Bilharinho . Marx. Ciência e Revolução. S ~ o Paulo, Moderna/Uni c amp,
2000, p. 79 .
ALYSSON LEANDRO MASCARO
24 "Gramsci definiu, numa fórmula muito feliz , o marxismo como um historicismo absoluto e um
humanismo absoluto. A leitura de O Capital - com a condição, bem entendido, de se ler o que
está escrito nele, e não um suposto 'discurso silencioso', 'reconstituído', 'apesar da letra de
Marx' - confirma inteiramente essa definição. [...] Parece-nos que os principais momentos do
humanismo em O Capital são: a) o desvendamento das relações entre os homens atrás das
categorias reificadas da economia capitalista; b) a crítica da 'desumanidade' do capitalismo;
c) o socialismo como possibilidade objetiva de uma sociedade onde a produção é racional-
mente controlada pelos homens". LOwv, Michael. Método dialético e teoria política. Rio de
janeiro, Paz e Terra, 1978, pp. 62 e 63.
ÜTOPIA E DIREITO
25 '\"Isso significa que a ideo logia prolet~ria não é o diretamente oposto, a inversão, o reverso da
.
; ideologia burguesa, mas é uma ideologia tota lmente diferente, que leva e m si outros valores,
·: que é crítica e revolucionária. Porque é, já agora, apesar de todas as vicissitudes de sua história,
portadora desses valores, já agora realizados nas o rganizações e nas prâticas de luta o perária,
pelo que a ideologia proletária antecipa o que serão os aparelhos ideológicos do Estado da
transição socialista, adianta, pela mesma razão, a supressão do Estado e a supressão dos
aparelhos ideológicos de Estado no comunismo". A LTHUSS{K, Louis. Aparelhos ideológicos de
· Es.L!Jdo. Rio de Janeiro, Graal, 1985, p. 128.
Al.YSSON LEANDRO MASCARO
Ca rlos Nelson Coulinho enxerga duas possíveis visões paradigmáticas, urna mais apropriada
ao jovem Marx, outra ao Marx maduro, respectivamente: a revolução como ruptura imediata
ou como um processo contínuo, ligando-se ao problema da tomada do poder do Estado e de
seu perecimento. "A depender do modo 'restrito' ou 'amplo' de conceber o Estado, resulta -
na história da teoria política marxista - a e laboração de do is diferentes paradigmas de revolu-
ção socialista, que definiria esquematicamente como 'explosivo' e 'processua l"'. CovnNHO,
Carlos Ne lson. Marxismo (' política. A dualidade de poderes e ou1ros ·ensaios. São Paulo,
Cortez, 1996, p. 13.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
A DIALI!TICA DO PROGRESSO
27 MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras Escolhidas. Vol. 1. São Paulo, Alfa-Ômega, s/d, p . 22.
AfYSSON LEANDRO MASCARO
30 NAves, Márcio Bilha rinho. Marx. Ciência e Revolução, op. cit. , p. 60.
ALYSSON LEANDRO M ASCARO
A UTOPIA EM MARX
A utopia em Marx é, mais que um tema, um resultado implícito
- e raras vezes por ele próprio explicitado - de seu pensamento e do
apontamento de sua práxis política.33 Por isso, não é um sistema fe-
31 Ko NmR, Lea ndro. O futuro da filosofia da práxis. Rio d e Jane iro, Paz e Terra, 1992, p. 65.
32 "Mesmo em obras de fo rte c aráte r economicista co mo Reforma social ou revolução?, A ac umu·
lação do capital e a Anticrítica, e m que insiste na teoria do colapso, Luxemburg repete que o
socialismo não resulta automaticamente das contradições objetivas do capitalismo, que é
necessá rio o 'conhecimento subjetivo, po r parle da classe operária, da ine lutabilidade da
supressão da economia capita lista por meio de uma revolução (Umwa/zung) social'. O u seja,
e la compreendeu, desde o início de sua carreira política, que a economia por si só não levará
ao socialismo*. LOUREIRO, Isabel Maria. Rosa Luxemburg. Os dilemas da ação revolucionária.
São Paulo, Ed. Unesp, 1995, p. 33.
33 "Retomando a expressão de Marx no Dezoilo Brumário, é claro que os homens estão limitados
pela s condições herdadas do passado, no entanto, eles fa zem a histó ri a, não fazem apenas
repetir o que se sabe, cada geração fa z algo diverso . [. .. J Trata-se da a ção em que os homens
são capazes de criar o novo, os projetos iluminadores da c riação de uma nova sociedade . São
os so nhos de sonha r acordado que propici11m isto, são as utopias". LOPES, José Re inaldo de
Lima. Direilo e lransformação social. Belo Horizonte, Nova Alvorada, 1997, p. 62.
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UTOPIA E DIREITO
34 Chavance nomeia o pensamento de Marx como "dialética teleológic a". C HAVANCE, Bernard.
•La dialectique utopique du capitalisme et du communisme c hez Ma rx". ln Marx en perspective.
Paris, École des hautes études en sciences socia les, 1985, p. 130.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
35 ABENSOUR, Miguel. O Novo Espirita Utópico. Campinas, Editora da Unicamp, 1990, p. 20.
3 fi MAlEK, Henri. Congédier L'Ulopie? L'utopie selon Karl Marx, op. cit., pp. 15 e seg.
ALYSSON l.EANoRO M ASCARO
tão chamados socialistas utópicos. Tal qual apontará mais tarde Ernst
Bloch, Engels enxerga um primeiro movimento popular de utopia -
diverso e mesmo anterior àquela utopia constituída meramente pelos
sonhos dos pensadores burgueses como Morus - em personagens do
povo como Thomas Münzer, desembocando todo esse processo nas
lutas socialistas do século XIX.
E se, em termos gerais, a burguesia podia arrogar-se o direito
de representar, em suas lutas com a nobreza, além dos seus
interesses, os das diferentes classes trabalhadoras da época, ao
lado de todo grande movimento burguês que se desatava,
eclodiam m ovimentos independentes daquela classe que era o
p recedente mais ou menos desenvolvido do proletariado mo-
derno. Tal fo i na época da Reforma e das guerras camponesas
na Alemanha a tendência dos anabatistas e de Thomas Münrer;
na grande Revolução Inglesa, os "levellers", e n a Revolução
Francesa, Babeuf. Essas sublevações revolucionárias de uma
classe incipiente são acompanhadas, por sua vez, pelas corres-
pondentes manifestações teóricas: nos séculos XVI e XVII
aparecem as descrições utópicas de um regime ideal d a socie-
dade; no século XVIII , teorias já abertamente comunistas,
como as de Morelly e Mably. A reivindicação da igualdade
não se limitava aos direitos políticos, mas se estendia às con-
dições sociais d e vida de cada indivíduo; já não se tratava de
abolir os privilégios de classe, mas de destruir as próprias dife-
renças de classe. Um comunismo ascético, ao modo espartano,
que renunciava a todos os gozos da vida: tal foi a primeira
forma de manifestação da nova teoria. Mais tarde vieram os
três grandes utopistas: Saint-Simon, em que a tendência con-
tinua ainda a se afirmar, até certo ponto, junto à ten dência
proletária; Fourier e Owen, este último , num país onde a pro-
dução capitalista estava mais desenvolvida e sob a impressão
engendrada por ela, expondo em forma sistem ática uma série
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UTOPIA E DIREITO
37 EN GELS, Friedrich. "Do soc ial ismo utópico ao socialismo c ie ntífico". ln MA~ X, Ka rl e ENGELS,
Friedric h. Obras Escolhidas. Vol. 2. São Pau lo, Alfa-Ómega, s/d, p. 304.
38 ibid., p. 305.
ALYSSON LEANDRO M ASCARO
'<Pode-se dizer, assim, que Er~gels reclama, para si e para Marx, não
uma negação da utopia, ~as o seu afastamento, ~~quanto ciência en~ -
cerrada em si mesrhâ, de especulaçã~ ·· d~ futur.~.. IT1elhor. Para cu~~
p(i.r,.os propósitos ~:la·-~topia, ~~ria preciso destruir o método utópico.
39 lbid., p. 332.
CAPÍTULO 3
PSICANÁLISE E UTOPIA
40 "Esse é o empreendimento que Fre ud retoma na virada da década de 1920 para a de 1930 por
me io de três escritos que colocam a questão do destino do homem por intermédio do das
comunidades humanas: O futuro de uma ilusão (1927), O mal-estar nil cultura (1929), e Por
que a guerra? (1 933). [...] O futuro de uma ilusão, que ina ugura a trilogia fre udia na, coloca o
princípio fundador que é o vetor das e laborações 'sociológicas' da psicanálise: o desenvol-
vimento da civilização está submetido ao mesmo processo que rege o da gênese do eu . Como
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UTOPIA E DIREITO
o eu, a civilização tem de fato dois objetivos: controlar as excitações externas (isso que r dizer
domina r as forças da natureia) e regu lar as tensões intern as (entre seus membros) inere ntes à
sua própria organização. Este princ íp io pre lim inar e stando reconhecido , Freud faz uma
constatação surpreende nte : os homens não podem nem s uportar a c ivil ização nem viver sem
ela, eles devem e sta r juntos/sep a radamente ." REv- FLAuo, Henry. "Os fundamentos
metapsicológicos de O m al-estar na cultura• . ln Em torno de O mal-estar na culwra, de Freud.
S~o Paulo, Escuta, 2002, p. 8.
41 "Fre ud adota uma tripartição da mente: o ego que é o nosso núcleo consciente; o id, ou seja,
o 'd epósito' inconscie nte dos impu lsos reprimidos; e o superego, representante do s p rincípi-
os éticos (essa tripartição lembra de longe a platônica, evitando, no entanto, qualquer juízo
de valor). Através de todas as suas obras, Freud semp re destaca, be m ao contrá rio de
McOou gall , a extre ma p lasticidade dos instintos básicos (libido, impul so d a morte , cuja
projeção é a 'agressão'; no que se refere à doutrina dos impulsos, a psicaná lise d e Freud
passou por vári as modific ações) e toda teoria psica nalítica é, e m essênc ia, urna expos iç ão da
varieda de d as manifestações dos impulsos, em conseqüência de condições variáveis de .
amb iente, aos quais os instintos tendem a adaptar-se de forma diversa•. RosENmD, Anato!. O
pensamento psicológico. São Pa ulo, Perspectiva, 2003, p. 11 8 .
ALYSSON LEANDRO MASCARO
42 FRwo, Sigmund. Além do Princípio de Prazer. Rio de Janeiro, Imago, 2003, p. 12.
UTOPIA E DIREITO
45 "A questão decisiva consiste em saber se, e até que ponto, é possível diminuir o ônus dos
sacrifícios instintuais impostos aos homens, reconciliá-los com aqueles que necessariamente
devem permanecer e fornece r-lhes uma compensação". FREUD, Sigmund. O Futuro d e uma
Ilusão. Rio de Janeiro, Imago, 1997, p. 13.
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WrLHELM RErcH
47 "Reieh vai focalizando questões básicas da vida e da existência, d as socie dade s e de sua
espera nça no Homem. Em oposição ao seu antigo mestre Sigmund Freud, fran c amente pessi-
mista em relação ao Homem (formul ação da pulsão de morte, por exemplo). Reich faz uma
declaração de fé n~ humanidade. Assim, afirma Reich: 'só tu podes libertar-te'. Combate os
regimes tota litá rios e adiante revela o signifi cado de Deus: · ... é a energia cósmica primordial
do Universo' . Desse modo, vai formando um pa inel com os en foques religioso, filosófi co,
psicológico e sociológico". (MIARA, Marcus Viníci us. Reich - o descaminho necessário. Intro-
dução à clinica e à política reichianas. Rio de Janeiro, Sette Letras, 1998, p. 77.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
48 RE1cH, Wilhe lm. Análise do Caráter. São Pau lo, Martins Fontes, 2001 , p. 172.
ta por causa da personalidade autoritária de tais classes. Daí ser neces-
sário desvendar, além das razões político-econômicas imediatas, uma
formação autoritária do caráter.
49 REICH, Wilhelm. Psicologia de M assas do Fascismo. São Paulo, Martins Fontes, 2001 , pp. 28 e 30.
50 "O socialismo clássico enfatiza a luta e o sacrifício, o traba lho e o he roísmo, e ad ia para um
futuro nebuloso a realização da fe licidade individual, quando raiar, g raças ao desenvolvi-
mento das forças produtivas, o reino da liberdade. A Sexpol, ao advogar o desenvolvimento
da genital idade como pré-condição da ação política, e mesmo como seu conteúdo efetivo,
inverte a seqüência temporal, e conte sta o determinismo d a etapa. A felicidade não é uma
recompe nsa futura , mas o próprio conteúdo da política da vida". RouANET, Sérgio Pa ulo.
Teoria Cnlica e Psicanálise. Rio de Jane iro, Tempo Brasileiro, 1998, p. 4 8.
ÜTOPIA E DIREITO
ERICH FROMM
52 FROMM, Erich. A Arte de A mar. São Paulo, M artins Fontes, 2000, pp. 163 e 164.
UTOPIA E DIREITO
. . . '. -. '
53 FROMM, Erich_ p Dogma de Crisloe.Qutros Ensaios sobre Religião, Psicologia e Cultura. Rio de
Janeiro, Guariabara, 1986, p. 119 __' · ·
54 lbid., p. 124. -
ALYSSON LEANDRO MASCARO
A UTOPIA EM MARCUSE
60 "Numa época em que a psicanálise era ainda bastante estigmatizada, Horkheimer foi um dos
primeiros a reconhecer sua importância, tendo se submetido, entre 1928 e 1929, a sessões
com Karl Landauer, um antigo a luno de Freud. [... I Já o interesse de Adorno pela obra de Freud
era mais teórico do que prático. [... ) Em todos os seus trabalhos importantes da década de
1930 aparecem referências à psicanálise, ou, antes, tentativas de se apropri ar dela com
objetivos de e mpreende r uma crítica da cultura contemporânea" . D u ARTE, Rodrigo. A dorno/
Horkheímer & A Dí,1/élica do Esclarecímemo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002, p. 20 .
ALYSSON LEANDRO MASCARO
61 RouANH, Sérgio Paulo. Teoria Cdlica e Psicanálise. Op. cit., pp. 11 O e 111.
UTOPIA E DIREITO
62 ADORNO e HOKKHEIMER. Dialética do Escl,1recimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985, p. 15.
63 "Diante das transformações por que passou o capitalismo no século XX, Adorno não vê outra
possibilidade para a filosofia senão a de examinar o existente sob a luz da promessa de
rede nção que, por um !ado, foi perdida quando da passagem à 'sociedade administrada', e
que, por outro, ilumina tragicamente a própria história da fil osofia". NoaRE, Marcos. A D ialética
Negaliva de Theodor W: Adorno. São Paulo, Fapesp/lluminuras, 1998, p. 40.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
64 MA~CUSE, Herbert. Eros e Civilização. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, s/d, p. 220.
65 "Em Eros e Civilização, sua tese é a de que Freud equivocou-se quando viu na culpa e na
infelicidade o inevitável tributo pago pelos indivíduos pa ra se protegerem da destruição
mútua. [... ] Marcuse não aceita essa dialética. Em seu entender, e la mostra dois grandes
defeitos. Em primeiro lugar, Freud teria tomado 'a civilização' como sinl\nimo de interiorização
das necessidades alienadas do capitalismo industrial. Em segundo, Freud, malgrado ele
próprio, confundiu eros com sexualidade. Se, de fato, uma sociedade afogada em sexualida-
de não pode ser feliz, há como pensar numa sociedade feliz e pacificada, sob o regime do
erotismo". COSTA, Jurandir Freire. "Utopia sexual, utopia amorosa". ln Ulopia e mal-estar na
cultura: perspectivas psicanalilicas. São Paulo, Hucitec, 1997, p. 117.
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U TOPIA E DIREITO
A UTOPIA EM MARCUSE
67 tbid., p. 139.
UTOPIA E DIREITO
69 MARCUSE, Herbert. Cultura e Sociedade. Vol. 1. São Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 145.
70 "Marcuse procurou demonstrar que o que diferenciava nossa época histórica de qualque r
out ra já vivid a pe la humanidade era o fato de que nela vive ríamos num outro e stado
ÜTOPIA E DIREITO
tecnológico, num outro estágio d e civilização. O desenvo lvime nto ace le rado das novas
tecnologi as - já perfeitame nte delineadas em meados da década de 60, fazia antever que as
mesmas poderiam abrir caminho para novas possibilidades de liberação para o ho mem".
So.~~ES, Jorge Coe lho. Marcuse: uma trajetória. l ondrina, Ed. UEL, 1999, p. 170.
71 ''Logo, a revolução no século XX não será apenas econômica, S()cial e p()lítica, ma s também
cultural. É necessário reformul ar a teoria marxista, não só porque mudaram a estrutura e a
consc iência da classe traba lhadora, mas ta mbé m po rque o capitalismo conseguiu estabilizar-
se. Numa pa lavra, é preciso pensar a revolução no âmbito da sociedade de consumo. Daí o
fascínio exercido pelas idéias de Marcuse sobre as revoltas estudantis dos anos 60, quando se
percebeu q ue o capitalismo podia ser posto em xeque nào em virtude de carênc ias mater iais,
mas espirituaisN. L OUl(E l~O, Isabel Maria. "Herbert Ma rcuse -A relaçlio entre teoria e prática". ln
Capltulos do Marxismo O cidental. São Paulo, Ed. Unesp/Fapesp, 1998, p. 117.
ALYSSON LEAN DRO MASCARO
Não
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progresso ou no devir mecânico
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73 "Dissemos que para Marx, como para Hegel, a verdade está na totalidade negativa. [... ) O
caráter histórico da d ia lética marxista abarca a negatividade vigente e a sua negação . Um dado
estado de coisas é negativo e só pode ser tornado positivo pe la libe rtação das possibilidades
a e le inerentes. Isto, a negaçao da negaç ão, se realiza pelo estabelecimento de uma nova
ordem de coisas. A negatividade e sua negação são duas fases dife rentes do mesmo processo
histórico, associadas pela ação histórica do homem. O "novo" estado é a verdade do velho,
mas esta verdade não cresce firme e automaticamente a partir do estado mais antigo; ela só
pode ser libe rtada por uma ação autônoma dos homens, ação que anulará a totalidade do
estado negativo existente''. MARCUSE, Herbert. Razão e Revolução . Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1978, pp. 286 e 287.
ALYSSO N LEAND RO M ASCARO
76 MARCuse, Herbert. " Não basta destruir. Sobre a estratégia da esquerda". ln A Grande Recusa
Hoje, op. cir., pp. 84 e 86.
CAPfTULO 5
77 •Lukács e Bloch integravam o círculo de inte lectua is que freqüentavam os seminá rios privados
de Max Weber e m He idelbe rg, antes da 1• Guerra Mundial e procu ravam inc utir nos demais
pa rticipa ntes seu s ideais neo-rom â nticos. Jaspers, que també m faz ia parte daque le gru po,
recorda-se de ambos como 'gnóst icos que compartilhavam suas fantas ias teosófi cas em círcu-
los sociais'". SOLON, Ari Marce lo. Teori<1 da soberania como p roblema da norma j urídica e da
decisão. Po rto Alegre, Sérgio Fabris, 1997, p. 177.
UTOPIA E DIREITO
78 ScH OLEM, Ge rshom. O C olem, Benjamin, Buber e outros j ustos : Jud<iica /. São Paulo, Pe rspec-
tiva, 1994, p. 2 1O.
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UTOPIA E DnUlJTO
Lukács, por sua vez, tem duas fases distintas em seu pensamento
messiânico. O marxismo lhe rep~·esentará n ão uma superação que ain-
da carreia consigo a escatologia, como ocorreu com Bloch, e sim um
afastamento da temática d a utopia mística. M as nas primeiras obras,
como na Teo ria do Romance, a inspiração de Lukács - no que era ple-
namente acom panhado por Bloch - é claramente a mística russa. Os
russos, segundo o entendimento de Lukács, po r meio de D ostoievski,
Tolstoi e outros, haviam logrado um afastamento da vil mercantilização
alem ã e ocident al. 79 N estes, a alma se esvaziava em troca d a
79 Gabriel Cohn, tratando de Weber: "Além de suas repetidas refe rências a To lsto i, há indíc ios de que
Dostoievski exerceu considerável fascínio sobre e le, tanto assim que forneceu temas para boa
parcela de seus contatos com o jovem Lukács, que na época estava às vollas com preocupações
semelhantes". COHN, Ga briel. Crítica e Resignaçao. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 158.
Al.YSSON LEANDRO MASCARO
80 LuK ÁCS,Georg. A cearia do romance. São Paulo, Duas Cidades/34, 2000, p. 160.
81 "Ne sse momento, entretanto, os caminhos dos dois amigos apocalípticos dosto ievskianos de
Heidelberg começam a se separa r: enqua nto Bloch continua ainda a se referir às fontes
religiosas místicas, messiânicas e heréticas - em seu Thom;is Munz er se diz seguidor da
'imensa t radição' da qual participam os cátaros, os valdenses e os albigenses, Eckha rt, os
hussitas, Münzer, os anabatistas, Sébastie n Frank etc.-, Lukács, exilado em Viena, torna-se um
dos principais di rigentes do Partido Comunista Húngaro, e a problemática religiosa desapa-
rece pouco a pouco de sua obra. E quando, dez anos mais tarde, publica em Moscou uma
v iolent a diatribe contra o 'reacionári o' Dostoievs ki (que Bloc h não perdoará jamais), o
rompimento ideológico entre os doi s homens se consuma". LOWY, Michael. Romantismo e
messianismo. São Pau lo, Perspectiva/Edusp, 1990, p. 66.
UTOPIA E DIREITO
82 LówY, Michael. A Evolução Po/(tica de Lvkács. São Paulo, Cortez, 1'198, p. 296.
Al.YSSON WNDRO MASCARO
83 Theodor Adorno, nas Notas de Literatura, é um dos primeiros a apontar uma indissoc iável
característica utópica no ensaio, que pode ser observada no pensamento de Bloch: "O ensaio
não apenas negligencia a certeza indubitáve l, como também renuncia ao ideal d essa certeza.
Torna-se verd adeiro pe la marc ha de seu pensamento, que o leva para a lém de si mesmo, e não
pela obsessão em buscar seus fu ndamentos como se fossem lesou ros e nte rrados. O que
ilumi na seus con ceitos é um terminus ad quem, que perma nece oculto ao p róprio ensa io, e
não um evidente terminus a quo. Assim, o próprio método do ensaio expressa sua intenção
utópica. Todos os seus conceitos devem ser expostos de modo a c a rregar os outros, cada
conceilo deve ser articu lado por suas configurações com os demais. No ensaio, elementos
d iscretame nte separados entre si são reunidos em um todo legível; ele não constrói nenhum
an da ime ou estrutura . Mas, e nquanto configu ração, os e lementos se cristalizam po r seu
movimento. Essa configuração é um campo de forças, assim como cada formação do espírito,
sob o olhar do e nsaio, deve se transformar em um campo de forças". A DORNO, Theodor. Notas
sobre literatura /. São Paulo, Duas Cidades/Ed. 34, 2003, p. 30.
UTOPIA E DIREITO
84 Cf. M ü NSTER, Arno. Utopia, messianismo e apocalipse nas primeiras obras de Ernst Bloch. Silo
Paulo, Ed. Unesp, 1997, pp. 165 e seg.
AlYSSON LEANDRO MASCARO
Lukács tem fases marcadas em suas obras, o que leva seus intérpre-
tes a separarem um jovem pensador do escritor da maturidade. Bloch,
87 "A novidade consiste em que, a partir da década de 1930 [... ] Lukács não é mais um
intelectual que, da crítica da cultura movida por um anticapitalismo radical ('anticapitalismo
romântico'), extraia conseqüências ético-políticas exteriores à práxis política; ao contrário, na
década de 1930, é a política que dá novas formas e conteúdos à problematização da cultura
moderna, em um contexto em que, ao mesmo tempo, se afasta da atividade política direta".
MACHAUO, Carlos Eduardo Jordão. Um capítulo da hislória da modernidade escélica: debate
sobre o expressionismo. São Paulo, Ed. Unesp, 1998, p. 22.
88 "Leo Naphta é Carl Schmitt. Ou, pelo menos, antes dele, todas essas idéias já haviam sido
proclamadas por Schmitt. (. ..] Apesar desta conclusão, como apontamos elementos de conso-
nância entre Bloch, Lukács e Schmitt nao é de se estranhar que todos se identificassem com
esta personagem". SolON, Teoria da soberania como problema da norma jurfdica e da decisão,
op. cic., p. 184.
Al.YSSON LEANDRO MASCARO
lar à .....formação
·~------~· _, ..... ,....
.... ..
mais íntima
.
do homem, como a religião. O pano de
91 J1MÉNEZ, José. La estelica como utopia antropologica. Bloch y Marcuse. Madrid, Tecnos, 1983, p. 75.
92 8LocH. Erbschatt dieser Zeit, op. cit., p. 69.
.Al.YSSON LEANDRO MASCARO
93 Bicca, tratando da recusa de Lukács à utopia de Bloc h: "O tema utopia dá ense jo para o
surgimento das primeiras discussões decisivas entre Bloch e Lukács. [... l Sua recusa da utopia
apóia-se essencialmente em quatro censuras, que resumem a sua c rítica: 1) a utopia provoca
uma separação entre consciência e ser, isto é, uma mud ança na consciência sem tra nsforma-
ção do ser histórico-social; 2) do ponto de vista epistemológico, e la é um empirismo camufla-
do; 3) em suas formas modernas, ela era, no fundo, ideologia do futuro capitalismo liberal; 4)
há nela, realmente, uma cisão entre conteúdo ideológico-utópico e ação concreta. Daí se
conclu i: a utopia é apenas a ' reprodução fantástica da insolubilidade do próprio problema"'.
BicCA, luiz. Marxismo e Liberdade. São Paulo, loyola, 1987, p. 130.
94 LuKÃcs, Georg. História e Consciência de Classe. São Paulo, Martins Fontes, 2003, pp. 382 e 383.
UTOPIA E DIREITO
95 "O proletariado como um todo, assim como as partes, está livre das contradições que perpas-
sam cada proletário singular; Lukács dá um salto do proletário isolado ao proletariado, que
ele não hesita em imediatamente valorizar como substância. A dialética do geral e do particu-
lar, cuja falta foi um motivo essencial da impossibilidade de solução das antinomias do
pensamento burguês, é resolvida em favor da generalidade"_ NEGT, Oskar e KLUGE, Alexander.
O que há de polllico na polilica? Sao Paulo, Ed_ Unesp, 1999, P- 124.
CAPÍTULO 6
O SER-ArNDA-NAo
96 "Parece-me que a grande força de Bloch não reside somente na sua sen sibilidade e na sua
generosidade, mas na capacidade de falar com profundidade das coisas as mais simples. (. .. )
Bloch nos fala por meio de um tom distante e familiar. Ele evoca a pai sagem espiritual,
filosófic a, estética de sua geraçao e nos impulsiona a interrogar sobre a nossa. Sua obra não
comporta nenhuma resposta, e sim indagações. Ele parece atravessar as épocas, as gerações,
como uma estranha música que ressoa em cada um de maneira diferente, com a mesma
emoção". PALMIER, Jean-Michel. "Em relisant ' l'esprit de l' utopie' ou Priere pour un bom usage
d'Ernst Bloch". ln Réificalion el Utopie: Ernsl Bloch & Gyórgy Lukács un siêcle apres. Actes clu
Colloque Goethe !nslitul. Paris, Actes Sud, 1986, p. 263.
Al.YSSON WNORO M ASCARO
98 "A impressiona nte polêmica de Ma rx e Engels fe z com que, tanto de ntro qua nto fora do
marxismo, o termo '_utópico' pJssasse a ser aplicado correntemente a um socialismo que apela
à razão, à justiça e à vontade do home m de orde nar uma socie dade desarticul ada, ao invés de
limitar-se a apresentar à c onsciência ativa o que as condiçôes de p rod ução já haviam prepa-
rado di aleticamente. Co nsidera -se como utó pico todo socialismo voluntarista , o que, de
modo a lgum, significa que esteja isento de utopia o soc ialismo que a e le se o põe, e que
poderia ser classificado de necessitarista, por declarar que sua única e xigênc ia é que se faça
o necessário para que sobrevenha a evolução . O s elementos utópicos que este conté m são,
evide nte me nte, de outro gê nero e afetam a outra ordem de id éias". BuBE ~, Martin. O socialismo
utópico. São Paulo, Perspectiva, 1986, p. 20.
UTOPIA E DIR.EITO
99 "Porque dão seu dinamismo à filosofia política, as utopias, como observou Ernst Bloch,
propõem aos homens os meios para proverem seu destino à luz de uma visão global do
desenvolvimento histórico. Por isso, segundo observou Bloch, o Princípio da Esperança
anima o mundo. [ ... ! !.".ar.a. que a utopia seja força progressista, é preciso transformar as
aspirações em militância, a esperança em decísão·patítica". HERKENHOFF, João Baptista. Direito
e Utopia. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2001, p. 14.
l 00 Bwrn, Ernst. Das Prinzip Hoffnung, !. Frankfurt, Suhrkamp, 1985, p. 50 e seg.
Ai.YSSON LEANDRO MASCARO
1 01 Luiz Bicca aponta diferenças entre o sonho diurno e o sonho noturno na perspectiva de
Bloch: "Tais traços diferenciadores são: a) o fato de que as fantasias diurnas se processam sob
absoluto controle do sujeito, podendo, a qualquer momento, ser iniciadas ou interrompidas,
sempre que o Eu assim quiser. São, por conseguinte, manifestações de consciência ou,
quando muito, pré-conscientes; bl semelhante atividade do Eu pressupõe de forma necessária
a ausência do fator interno de censura [___ J Ademais, os sonhos diurnos são marcados ainda:
c) pela intenção de ser de outro modo, de uma vida ou mundo melhor; d) pela possibilidade,
na consciência, de se ir até o fim, de se alcançar os objetivos almejados"_ B1cCA, Luiz.
Racionalidade moderna e subjetividade. São Paulo, Loyola, 1997, p. 234.
---·-~- ---- -·-~ - -··-··--· - ·--·
105 "A Doc1,1 Spes é a esperança esclarecid a e cognoscente". M1 s~AH 1 , Robert. Qu'est-ce que
l'érhique? Paris, Armand Colin, 1997, p. 101.
106 "A esperanç a não é uma qualidade íntima dependente d a personalidade, não é um estado
anímico da psicologia ind ividual, é uma dimensão humaname nte onto lógica do Ser, mas não
exclusivamente do ser do ho mem, e sim também do ser da realidade". L 1WALLE, Adrián Gurza.
ulncitación para recuperar e l futuro. Una lcctura de la Razón Espera nzada d e Ernst 6lnch". ln
Cadernos de Filosofia Alemã, vol. 3. São Paulo, FFLCH-USP, 1997, p. 32.
ALYSSON LEANDRO MASCAR.O
107 "0 parentesco é rigoroso entre Heidegger e lukács na análise daquilo que He idegge r
denomina por 'ontologia tradicional', daquilo que lukács chama fi losofia tradicional ou o
pensamento e a ciência positivistas, que consiste precisamente na separação dos juízos de
fato e dos juízos de valor, na afirmação que o conhecimento conhece os objetos indepen-
denteme nte do sujeito, daí precisamente afirmando que há um sujeito e um objeto. Sobre
esse ponto de vista, Lukács e Heidegger estão rigorosamente de acordo: o mundo não está
aí, dado imediatamente em face de uma consciência cognoscente que o conhece tal qual
ele o é e que o julga logo e m seguida". G oLOMANN, Lucien. Lukác.s et Heidegger. Paris,
De nõel, 197 3, p. 95 .
10 8 "Mais do que dec larar em crise a cultura moderna, mais que realizar a c rítica da civilização
contemporânea, Heidegger fez o processo de toda a históri a do ocidente desde os seus
começos gregos. {... ] Não propõe uma reforma nem revisão, mas uma nova partida. [... ] A
filosofia heidegge riana teve, contudo, influxo profundo em mais de uma teoria revolucioná-
ria, entre as quais, por mais atual, pode-se citar a de Herbert Marcuse". PE~ E1RA, Aloysio Ferraz.
Estado e direito na p erspectiva da libertação. Uma crítica segundo Martin He idegger. São Paulo,
RT, 1980, pp. 215 e 217.
UTOPIA E DIREITO
1 09 MAMAN, Jeannette Antonios. Fenomenologia Existen cial do Direito. São Paulo, Quartier Latin,
2003, p. 134.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
111 BLOOi, Ernst. Das Ma lerialismusproblem, seine Ceschichte und Subswnz. Frankfurt, Suhrkamp,
1985, p. 143.
11 2 "B loch não recua diante da utilização da faculdade do julgamento, segundo Kant, ampliada
por meio da Filosofia da Natureza, de Schel ling. Ao mesmo tempo que o homem socializado
se a lienou, também a natureza 'se perdeu', e exige, na perspectiva do projeto malogrado do
seu 'sujeito' ocu lto, ser interpretada como natura naturans e ser levada a seu termo por
UTOPIA E DIREITO
114 " Die Schichte n der Kategorie Mõglichkeit". BLOCH, Ernst. Das Prinzip Hoffnung, /, op. cil., pp.
258 e seg.
115 ALB()f{NOZ, Suz<ma. É1ic,1 e Utopia. Ensaio sobre Ernst Bloch. Porto Alegre, Movimento, 1985,
p. 31. Do trecho deste livro se valem alguns exemplos.
116 "Porém, é preciso frisar, o fato de um pensamento apresentar-se com sentido, com significa-
ção, não quer di zer que necessariamente seja verdadeiro ou que deva sê-lo, isto é, que
corresponda ou deva corresponder a alguma coisa na rea lidade. Ele deve ' poder' corresponder,
mas não que efe tivamente corresponda ou deva corresponder à realidade. O pensamento
pode ter sentido, e por isso não carecer de objeto, mas pode não ter uma correspondência no
mundo real. Entretanto, porque não tenha essa correspondênc ia efetivamente comprovada,
não quer dizer que perca seu sentido ou a sua significação". ALVES, Alaõr Caffé. Lógica.
Pensamento Formal e Argumentação. São Paulo, Edipro, 2000, p. 193.
11 7 f u RTER, Pie rre. A dialética da esperança . Uma interp retação do pens<1menco ucópico de Ernst
Bloch . Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1974, pp. 112 e seg.
UTOPIA E DIREITO
fórmula oncológica que aponta para o fato de que o homem ainda não é
todo. Suzana Albornoz assim revela tal formulação, num poético relato:
CAPÍTULO 7
120 (OMl'ARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo, Saraiva,
1999, p. 4 4.
1 21 josé Eduardo Faria exprime a dificuldade do pensamento juríd ico em supe rar a dicotomia
e ntre o jusnatura lismo tradicio na l e o positivismo : "Ta l cetic ismo, todavia , não deve ser
entendido como uma desistência da luta pelo reconhecimento e pela e fetivação dos dire itos
humanos, por se considerá-la inviável a priori. Ao co ntrá rio do o timismo idea li sta e das
antinomias muitas veies presentes nas trad icionais declarações de d ireitos, o pessim ismo da
razão permite superar visões a meu ve r algo simplórias, limitad as e banalizadas dos d ireitos
huma nos, abrindo desta ma ne ira c aminho para novas formas de luta em sua defesa. Deixan-
do -se de lado as co ncepções jusnaturalistas tradicionais (que, ao ope rar por categorias trans-
históricas e essencia listas, visam converter d ife rentes formas de poder, e hierarq uia na 'ordem
natura l das coisas') e as conhecidas co nc epçõe s juri sdicistas (que sofrem d e contradiçõe s
crônicas a sere m examinadas ma is à frente), os direitos humanos enca rados numa perspectiva
ma is política ou substantiva do q ue jusnaturali sta clássic a ou lóg ico-form a l possibilitam
ações se mpre incertas quanto à obte nção de resu ltados concretos no ·curto prazo, te ndo em
v ista sua form a lização leg isl a tiv a, m as pote ncial me nte de sa fia do ras e efetiv a me nte
transformadoras a mé dio e longo prazo". F AAIA, josé Eduardo. "Democrac ia e Gove rnabilid ade:
os dire itos humanos à luz da globalização econômica". ln Direito e globalização econômica:
imp licaç ões e perspectivas. Sào Paulo, Malhe iros, 1998, p. 150.
UTOPIA E DIREITO
1 22 BLOCH, Ernst. Naturrecht und menschliche Würde. Frankfurt, Suhrkamp Vcrlag, 1985, p . 234.
-· .,,.,
UTOPIA E DIREITO
ao, o direito natural, para Bloch, é um problema antes que uma assertiva
ie é um mote genérico de temas vastos construídos historicamente an-
u:s que uma metafísica dedutiva.
12 3 lbid. , p. 53.
UTOPIA E DIREITO
1 24 Jbid. , p. 53.
1 25 lbid. . p. 20.
Al.YSSON LEANDRO M ASCAR.O
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.... ,·:~.... • ,~,~...... ~·•.::..~• • • ••. ~··
. .. •• , , . , • •••• • ' •• ··:;.. - • ' •••
1 26 lbid. , p. 32.
Al.YSSON LEANDRO M ASCARO
1 30 Jbid., p. 62 .
131 lbid., pp. 315 e seg.
Ar.YSSON LEANDRO MASCARO
i_
j
1
i
i.
respeiro da proximidade da Revolução Francesa e da Declaração de
Direiros com o Bill ofRights americano ou com o Contrato Social de
Rousseau, 132 Bloch dirá que a quescão é mais profunda, uma vez que
as afinidades da Revolução Francesa se deram por ambas as partes e
que Rousseau, m ais profundamence, estava, em outro diapasão, bem
distinto, o de resgatar a perspectiva do cidadão da Antiguidade.
132 "Neste sentido, o fi lósofo Ernst Bloch chama a atenção, no brilhante e~t udo Direito N,1tural e
Dignidade Humana , a posslveis conexôes e iníluências reciprocas entre o direito de liberdade
de consc iência religiosa e o direito natural ta l qual desenvolvido por Roussea u". SOLoN, "A
Polêmica acerca da orige m dos Direitos fundamentais: do Co ntrato Soci al à Declaração
americana", op. cil., p. 1 3.5.
133 BLOCH, Ernst. N,1turrech1 und m enschlich e Würde, op. cil., p. 82.
UTOPIA E DIREITO
134 lbid.,p.116.
135 lbid. , p. 132.
f~
!'
136 "Com imaginação e fantasia, o direito natural é reinterpretado à luz da obra bachofeniwa, das
seitas cristãs gnósticas e do romantismo de Schilling e não se surpreenda o leitor se a mistura
de todos esses ingredientes resultar numa nova teologia políticJ -revo lucíonária". Sot0N,
Teoria da soberania como prob lem~ da norma jurídica e da clecisão, op. cit., p. 172.
UTOPIA E DIREITO
Este algo que pode resultar de Hegel muito melhor que a cruz do
Estado é o marxismo, cujo método é haurido das fonte s hegelianas .
Bloch faz em Hegel a inflexão para a superação do próprio estatalismo
hegeliano por meio do método hegeliano-marxista. A rosa contra a
-~~y_z e a espada é a utopia jurídica contra o Estado e a domina~ao . No
pensamento de Bloch , é Hegel a chave com a qual Marx supera, en-
fim, ao próprio Hegel.
Para Kelsen, Bloch reserva uma crítica bastante peculiar, que co-
meça primeiro por apontar, classicam ente, para os limites d o
formalismo kelseniano, mas que, de forma surpreendente, posterior-
mente identifica em seu pensamento uma mistura de geometria não-
euclidiana, que Bloch qualifica como axiomática e dedutiva, com um
scocismo medieval, partindo do primado da vontade sobre o entendi-
mento.14 1 Estes dois métodos (a dedução formalista e a vontade), se-
parados e muito diferentes entre si historicam ente, hão de se encon-
trar no pensamento jurídico de Kelsen.
fcom a teoria de Kelsen do puro caráter prescritivo da norma
fundamental (e, como conseqüência, d a vari abilidade da
141 Ari Solo n, trata ndo da confrontação de Bloch a Kelse n, afirma; "Inicia o ataque a Ke lsen com
os chavões usuais que ju lgamos ter re futado ao longo de nossa análise; a ' lógica do dever'
não admite nenhuma determinação empírica; a oposição a bstrata entre ser e dever-ser suscita
um desinteresse pe lo ser e a d outrina pura despreza a sociologia e a an álise econômica. Há
um ú nico ponto de sua crítica que, com a lguma retificação se concilia pe rfeitamente em nossa
análise. Após mostrar como a doutrina kelseniana poderia ter seu ponto de surgimento no
scotismo medieval (a afi rmação do primado da vontade sobre o e ntendimento faze ndo derivar
todas as d ete rminações inte lectuais da vontade divina, que n~o se prende a nenhuma lógica
do entendimento), Bloch afi rma ter o irracionalismo campo livre". SoLON, Teoria da soberania
como problema da norma jurídica e da decisão, p. 168.
UTOPIA E DIREITO
142 Bt.OCH, Ernst. Nalurrecht und menschliche Würde, op. cit., p. 171.
I!
1: Al.YSSON !JlANDRO MASCARO
r
li
mas o decisionismo de Schrnitt é a negação do direito dos burgueses
mér~antis e~ riomedo capitalismo monopolista. Para isso, até mesmo o
uso schmi~tiano de Hobbes é amplamente distorcido, 143 porque, se este
aponta para o contrato social como resolução da natureza, Schmitt apon-
ta para a exceção. "A falsificação desemboca em assassinato. Como dita-
dura do crime consumado". 144
1 43 "A apreciação d a obra de Schmitt é ainda mais desfavorável, inclusive com insultos desneces-
sários. No capítulo de seu livro '0 de cisionismo de Carl Schmitt ou o anti-d ire ito natural',
Bloch acusa Schmitt de ter fals ificado Hobbes, um autor liberal preocupado com a segurança
pessoal e a manutenção da paz para fi ns fa scistas. Não seria Bloc h que falsifica Schmitt, pois
ao reivi ndicar para o decisionismo a construção liberal de Ho bbes, como poderia ela cu lmi-
nar no fascismo em que pese a máscara usada pe lo seu auto r d ura nte certo tempo para
protegê-lo? Bloc h, porém, estava convencido, ao contrário d e nós, que, há muito, j á se
ocu ltava sob aquela máscara um rosto fascista. [... ] Pelo menos, Bloch entende u, me lhor do
que Ke lsen, que Schmitt não era nenhum jusnatura lista". SOLON, Teoria da soberania como
problema da norma jurídica e da decisão, p. 1 69.
1 44 BLocH, N.iturrechl und mensch/iche Würde, op. cit., p. 175.
1 45 LMER, Ce lso. A reconstrução dos direitos humanos. Um diálogo com o pensamento de Hann ah
Arendt. São Paulo, Companhia das Letras, 1988, p. 287.
CAPÍTULO 8
1 48 lbíd., p. 199.
149 lbic/. , p. 203.
UTOPIA E DIREITO
Ü DIREITO EM MARX
A posição de Bloch dentro do marxismo jurídico é surpreenden-
te. Bloch empunha a bandeira de um largo projeto de humanismo,
que vê no marxismo a heran ça dos mais profundos sonhos de justiça já
vislumbrados na história. Isto, no entanto, não faz de Bloch um vago
humanista jurídico marxista, do tipo reformista que ainda considere e
dê relevo ao d ireito e às instituições burguesas.
1 50 De outro modo , Lukács situa-se de maneira crítica - quiçá, neste ponto, contraditória - no painel
das duas verte ntes marxistas ace rca do direito e da política estatal: "Não há, portanto, justificativa
plausível para que Lukács, te ndo definido corno 'te mporal' o Di reito, afirme a 'unive rsalidade' da
política nos te rmos em que o fez . [... ) Conceber a po litica como prática ideológica universal - e
não enqu anto d ime nsão alienada da ex istê ncia humana - e o s ilê nc io acerca do Estado na
reprodução socia l pa recem indica r áreas e m que a tragédia soviética se fez mais di ret amente
presente nas investigações ontológicas de Lukács". LESSA, Sérgio. "Lukács: Direito e Política". ln
Lukács e a acu,1/idade do marxismo. São Paulo, Boitem po, 2002, pp. 120 e 121.
UTOPIA E. DIREITO
Tal ligação entre direito e capi~al l~.~;i Bl~0 ~- ªn':lnc.:~~r que, com
o fim da propriedade privada, a jurisprudência perderá sua função,
perecendo também." Isto porque Bloch denuncia o direito, com gran-
de força imagética, como sendo um "museu das antiguidades jurídi-
cas".· No entanto, Bloch traça uma distinção entre, de um lado, o di-
reito e, de outro, os seus princípios, pelo que denomina a estes de
"museu bem distinto dos postulados jurídicos". Nesta distÍnção entre
di~eito e postulados reside a dialética das heranças aproveitáveis e não-
aproveitáveis da história jurídica para a utopia socialista. /
15 1 5ERllA, Franc isco. Historia, política y dere cho em Ernst Bloch. Madrid, Trotta, 1 998, p. 219.
152 BLOCH, Naturrecht und me nschliche Würde, op . cil. , p. 209.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
,,...,
Al.YSSON LEANDRO M ASCARO
15 5 Jbid., p. 232.
UTOPIA E DIREITO
l 56 "Os direitos humanos constituem, assim, um prius, em refe rência a qualquer derivação normativa
(Blochl na medida em que estabelecem os marcos do processo de libertaç ão. Entretanto, o
positivismo acaba por desvirtuá-los, vendo o dire ito subjetivo co mo fac uldade atribuída pela
norma a u m sujeito por e la mesma estabe lecido. Esta aberração, após reduz ir o Dire ito à
norma (como o bisco ito à lata), reduz o Direito Subjetivo e o Sujeito de Direito à mesma
norma (de tal sorte que, não só confun de a lata e o biscoito, mas ainda atribui à lata o poder
de criar a boca e o apetite de quem possa co mê-lo)". LYRA F1LHO, Roberto . Desordem e
Processo. Porto Alegre, Scrgio Fabris, 1986, p. 309.
1 ·~....-
'*
Estado fetichizado e só muito a contrapelo suavizado"Y 9 /.;
Por tal razão, aponta Bloch, todas as investidas que filósofos con-
temporâneos empreenderam, no sentido de estabelecerem pontes en-
. tre ~ir~it() e moral, esdo Jadadas ao fracasso, porque mantêm a estru-
cura cindida da sociedade de classes e, nela, acrescentam as aparências
da moralidade como se fosse um dado essencial. Hermano Cohen e
Max Scheler, empreendendo construções de tal cipo, não dão conta ..
·~e·· aenunciar, na realidade jurídica e social, a indignidade humana,
.~~-- fl1.~dida em que estabelecem fundamentos fenomenológicos ou
ap~i_o~íst~cos que acabam por identificar o poder e o domínio jurídico
à ~tic:a,. perdendo, assim, o potencial de crítica que a ética poderia
-~~p~~se_ntar ~1?.f~c<: d o próprio direito.
1 61 lbid. , p. 268.
162 lbid., p. 269.
163 lbid., p. 276.
1 ,,, ...
16 4 lbid., p. 299.
ALYSSON LEANDRO MASCARO
1 65 Jbid.' p. 301.
UTOPIA E DIREITO
1 66 lbid., p. 304.
Ar.YSSON WNDRO MASCARO
16 7 lbid. , p. 3 07.
168 /bid., p. 3 1O.
UTOPIA E Dnu-:ITO
A NÃO-CONTEMPORANEIDADE
170 RAuln, Gerard. "En cerclement technocratique et dépassement pratique - l'utopie concrete
comme théorie c ritique". ln Utopie - Marxisme selon Ernst Bloch. Payot, Paris, 1976, p. 302.
UTOPIA E Dil\.EITO
Neste
"-
ambiente,
. - --· ... -· ....... . -· .
dirá .Bloch,
~ . .
o dinheiro se torna o denominador
- . ~
173 "A experiência histórica da República de Weimar (1918- 1933) é marcada po r um sistema
políti co que perde sua legitimidade e capacidade de funcion amento à medi da em q ue é
confrontado com crises profundas no tocante à modernização ec onômica, soci al e cultural.
A situação sócio-econômica de estagnação do período de Weimar, marcada por estas inúme-
ras c rises, impossibi litou a existência d e uma conjuntura que pe rmitisse a realização dos
compromissos constitucio nais sociais com crescimento econômico. O questionamento da
legitimidade política da Constituição foi agravado, portanto, com a crise econô mica". füRcovic1,
Gilbe rto. Constituiç,io e Estado de Exceção Permanente. Atualidade de Weimar. Rio de Janeiro,
Azougue, 2004, p. 21.
174 MACHADO, Um capítulo da história da modernidade estética: debate sobre o expressionismo, o p.
cit., p. 57.
Al.YSSON LEANDRO MASCARO
O marxismo,
""·-- ···--· - · . . .
exprimia Bloch, era a única solução que não falseava
as contradições do seu tempo, porque percebia o fato de que a dialética
não e~~ ~ntre exterior e interior, entre outros povos e os alemães, mas
e~~; sin:i, na. maior parte, intrínseca ao próprio povo alemão, pois se tra-
tava de uma luta de classes que desmobilizava o seu conflito pela retórica
da salvação nacional. O marxismo sim, ao contrário do nazismo, aponta-
va para uma concreta utopia, porque sabia que os problemas do ontem
e d.o hoje -~Ó· ~~ resolveriam com u_m novo amanhã, e não com a volta a
um. onte~'[J~i'ficad~. No entanto, o marxismo fracass~va ao aposta~ n·~
s_~J~fr?:;~~;í~d~~~á~i~ ·d~ ~anguarda de seu tempo, sendo que a grande
0
176 MACHADO, Um capílulo da hislória da modernidade estética.· debate sobre o expressionismo, op.
cit., p. 62.
UTOPIA E DIREITO
do fenômeno de dominação. Essa lei cura, por sua vez, remonta a M arx,
uma vez que é possível uma leitura da dialética entre infra-estrutura e
superestrutura que não as enxergue como peças automaticamente
conexas, e sim como esferas da práxis e da vida social que se inter-
relacionam, com diferenças de etapas.
A ESCATOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
178 BLorn , Ernst. Thoma s Mün<er, Teólogo da Revolução. Rio de Janeiro, Tempo Brasilei ro,
1973, p. 206.
1 79 "O p rimeiro autor marxista a mudar radicalmente o arc abouço teórico, sem, no entanto,
abandonar a perspectiva marxista revolucionária foi Ernst Bloch. Como Engels, Bloch distin-
guiu duas corre ntes socia lmente opostas: de um lado a religião teocrátic a das igre jas oficia is,
o ópio do povo, um aparato mistificador a serviço dos poderosos; do outro, o submundo, a
re ligião subversiva e herética dos Albigenses, dos Hussitas, de Joaquim de Fio ri, Tomás
Münzer, Franz Von Baader, Wilhelm Weitling e Leon Tolstoy. Porém, ao contrário de Engels,
Bloch recusou-se a ver a religião unicamente como uma ' roupagem' acobertando inte resses de
c lasse; na verdade, c riticou essa concepçi'lo explicitamente, atribuindo-a unicamente a Kautsky.
Em suas formas de protesto e rebe ldes, a religião é uma das formas mais significativas de
consciência utópica, uma das expressões mais ricas do princípio esperança". l ôwv, Michael. A
guerra dos deuses. Religião e polícica na América laeina. Petrópolis, Vozes, 2000, p. 29.
UTOPIA E DIR.EITO
quanto para Garaudy, Paulo de Tarso, por meio da Epístola aos Roma-
nos, está vinculado ao poder, ao Estado, ao direito da dominação. E, de
modo contrário, o direito à libertação é uma oposição genuinamente
cristã em oposição à interpretação paulina favorável ao poder.
1 81 GA~ AUUY, Roger. Deus é necessário? Rio de Janeiro, forge Zahar, 1995, p. 92.
UTOPIA E DIREITO
182 BoFF, Leo nardo. Jesus Crislo Libertador. Petrópolis, Vozes, 2001 , p. 232.
18 3 "Para L. Boff e E. Bloch, o sujeito da escato logia utópica e da esperança históric a é, em
primeiro lugar, o home m oprimido e humilhado, o pobre para quem a e sperança utópica é a
esperança da libe rtação dos sofrimentos e d as injustiças sofridas no tempo pre sente, atravé s
da ação libertadora dos homens". M üNSTER, Arno. Ernst Bloclr. Filosofia da Práxis e Utopia
Concreta. São Paulo, Ed. U nesp, 1993, p. 11 6.
ALYSSON 1.EANORO M ASCARO
CONCLUSÃO
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Bloch, por humanista, poderia fincar posições conciliadoras e
conservadoras, de generosos descontos à realidade. Tomado na velha
dicotomia - até hoje vulgarmente utilizada - entre economicistas e
. humanistas, Bloch seria campeão destes últimos, contra aqueles. Pos-
tula-se aqui, no entanto, uma outra dicotomia do marxismo, que, mais
. apurada, possa servir a propósitos mais claros e a uma compreensão
filosófica mais acertada.
AfYSSON WNDRO MASCARO