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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS
FUNDAMENTOS DA CULTURA LITERÁRIA DE ROMA
PROFESSOR: FÁBIO FROHWEIN DE SALLES MONIZ
NOME: ANA PAULA DA SILVA FREITAS DRE: 122031311

O artigo de John Penney¹ aponta que os primeiros vestígios do latim são datados do século VII
a.C; E que o latim clássico se estabelece como a variedade de prestígio dominante por volta
século I a.C.

E que essa língua é rotulada por diversos teóricos como “latim arcaico”, “latim primitivo” ou
“latim antigo”, e essas terminologias reconhecem que há um continuum, porém uma divisão em
períodos foi recomendada por alguns estudiosos e essas divisões podem então ser aplicados em
sentidos mais restritos, que vão variar de autor para autor.

Ele ainda aponta que as evidências do latim arcaico são de poucas e breves inscrições que são
dedicatórias ou indicações de propriedades, em sua maioria. Existindo apenas algumas inscrições
em Roma ou regiões do Lácio, levantando dúvidas sobre a existência de variação dialetal, mas
insuficiente para responder essa questão. Essas inscrições não apresentam um contexto
arqueológico, o que dificulta sua datação. Tendo como único material disponível para o período
Arcaico textos fragmentados que aparecem em citações de autores posteriores.

Esses fragmentos têm sua importância para o latim antigo, mesmo com o aparecimento dos
primeiros textos literários, pois eram considerados documentos contemporâneos e que
mostravam evidências imprescindíveis para o rastreamento de mudanças ortográficas e
fonológicas. Sendo que estes mesmos, em grande parte, foram conservados em autores
posteriores, e estiveram sujeitos a modernização, sendo modificados para se adequarem às
normas clássicas.

Penny esclarece que existe datação para um certo número de inscrições em latim antigo, partindo
de circunstâncias históricas, mas para outros as pistas são paleográficas ou linguísticas, existindo
inscrições suficientes com uma data segura que vai permitindo o estabelecimento de uma
cronologia relativamente confiável. Neste período a diversidade dialetal vai surgindo, exemplo
que ele cita é a mudança do ditongo [ai] para uma vogal longa, ainda como exemplo temos o
início da carreira de Livio Andrônico, em 240 a.C, surgindo então textos literários que
enriquecem nosso conhecimento do latim antigo, muitos deles só são conhecidos por citações em
gramáticos ou outros autores antigos. temos textos em versos antigos que estão presentes na
métrica saturniana, exemplo a tradução da Odisseia por Livio Andrônico e o poema narrativo
sobre a Primeira Guerra Púnica por Névio, contendo apenas linhas perdidas. Os únicos poemas
saturnianos completos, mas curtos, são encontrados em inscrições, a exemplo: epitáfios da
família Cipião do século III e início do século II a.C. Teremos com os únicos textos completos
sobreviventes, as comédias de Plauto e Terêncio, e Plauto usando uma linguagem mais próxima
que temos do latim antigo, já no final do século III e na primeira metade do século II, neste
período o hexâmetro dactílico homérico é utilizado no verso latino por Ênio em um longo
poema narrativo, os Anais, apesar de importante esta obra vai servir de modelo para poetas
posteriormente, Virgílio em especial, restando apenas 600 versos que chegam até nós em
citações. O artigo ainda aponta para início da prosa literária latina com Catão por volta de 234 -
149 a.C. seus discursos ainda eram lidos com admiração na época de Cicero, embora só nos
tenha restado fragmentos em citações. A única prosa completa que sobreviveu do período do
latim antigo é Cato´s de Agri Cultura, com conselhos e instruções para proprietários de
propriedades, ressaltando que ele era apresentado num estilo mais elaborado e tendo a influência
do ensino retórico dos gregos, já evidenciando as diferenças de linguagem de acordo com o
gênero literário. Já no século II a.C, Políbio, historiador grego observa que existe uma
dificuldade para compreender os primeiros textos latinos, porque eram diferentes do latim
contemporâneo, as inscrições mais antigas, sobretudo as primeiras inscrições, devido as
diferentes convenções ortográficas adotadas e o surgimento de formas que não passaram por
mudanças fonológicas, levando em conta o desenvolvimento morfológico e o uso de vocabulário
que mais tarde é abandonado pela língua. E essas divergências ortográfica e fonológica vão além
do latim arcaico e continua por diferentes períodos. Penny também pontua sobre algumas
características mais marcantes ortográficas do latim arcaico, a exemplo, ele cita a convenção do
latim arcaico do C/K/Q, na realidade, uma convenção tomada dos etruscos, sendo o som do [k]
para letras diferentes... Lembrando que os etruscos não faziam distinção entre [g] e [k].
Diferente do latim que fazia tal distinção, e depois de adotada, não tinha mais sinal separado para
[g] e isso só vai ser sanado no século III a.C, com a invenção da letra G.
Uma importante mudança observada no artigo que ocorre nos períodos do latim arcaico e latim
antigo, é o desenvolvimento fonológico na questão do acento nas vogais átonas e sua influência,
no latim clássico o acento da palavra recaí sobre a penúltima sílaba, caso fosse pesada e sobre
antepenúltima se a penúltima fosse leve, nos primórdios do latim arcaico havia um forte acento
recaindo sobre a primeira sílaba de cada palavra e que buscava preservar o vocalismo das silabas
iniciais tônicas que acaba ocasionando um enfraquecimento de vogais curtas em outras sílabas
sendo que o que determina seu resultado é o ambiente fonético. E isso vai continuar evidente no
latim clássico, mesmo outras mudanças posteriores que vão ocorrendo na posição do acento. No
caso das formas verbais, vão surgir inscrições do latim arcaico e latim antigo que não serão
encontradas na língua clássica. Na morfologia nominal talvez apresente menos peculiaridades
nos primeiros textos, uma forma evidente citada é o caso do genitivo singular o uso da
desinência -osio da segunda declinação. Sendo observado numa dedicatória a Marte de Sacritum.
O pouco material do período arcaico não pode nos dar uma visão do vocabulário usado na época,
mesmo assim ainda é possível reconhecer um ou dois itens que posteriormente entrariam em
desuso, incluindo inclusive dois verbos. Já no período do latim antigo as evidências são mais
fartas, demostrando uma época de criatividade exuberante, surgindo em notável ritmo. Observa-
se ainda que essa variedade vigorosa vai dando lugar á pureza e precisão clássicas. Além dessas,
outras características do latim antigo ressurgem na língua popular posteriormente e
provavelmente não tem registro, que seria o uso de um adjetivo onde o latim clássico usa um
genitivo adnominal, aqui Penny usa de exemplo o “nostra erilis concubina” em oposição à
“concubina nostri eri” presente na obra de Plauto (PL.Mil.458). Isso demostra a produtividade no
período do latim antigo e o uso de adjetivos com significados puramente relacional. O artigo
ainda apresenta vários exemplos de mudanças em diversos campos, a nominalizarão com a
sintaxe verbal, como o verbo se comporta ao receber objetos diretos e outros complementos, na
linguagem clássica por como demostrado, um genitivo objetivo substitui o acusativo, mesmo
outras formas de complementos apareçam persistindo. E chegando por volta de 240 observa
significativas mudanças tanto na ortografia quanto na pronuncia como é exemplificado na grafia
de CAPTO, sem indicação da nasal final e sem a mudança da vogal de sílaba final
(class.captum). Posteriormente vai se ter um cuidado de representar a aspiração na escrita e
muito provável que na pronúncia também seja percebida. E a aspiração vai se espalhando por
algumas palavras puramente latinas.
No artigo de James Clackson² o termo latim clássico pode ser usado em dois sentidos diferentes.
Primeiro, pode se referir a um período cronológico na história da língua latina, de
aproximadamente 100 aC a 200 dC. Em segundo lugar, é usado para se referir à forma
padronizada do latim, a variedade consagrada pelos dicionários e livros de gramática.

No início do século I a.C, sabemos de vários romanos escrevendo e discutindo a ortografia e a


gramática latinas. No entanto, não é até meados do século II d.C. que vemos evidências diretas
da adoção de uma tradição gramatical grega. A dívida com as ideias gregas sobre a linguagem e
com os modelos helenísticos de fala correta é evidente ao longo da história do latim clássico.

Cornelius Sisenna é relatado por Varro (registrado em Gellius 2. 9) por ter usado o ativo
concordo "concordo" no lugar da forma tradicional e estereotipada, depoente concordo. Apenas
cinco dos vinte e cinco livros originais de Lingua Latina sobreviveram, mas continua sendo uma
fonte vital para as atitudes linguísticas do período.

Pode ser significativo que Varro em nenhum lugar especifique um único romano como um
analogista ou anomalista. É possível que diferentes escritores e falantes tenham usado todos os
argumentos disponíveis para justificar a variedade do latim que era usado por eles e seus grupos
sociais imediatos. Dado o espírito altamente competitivo do final da República, é provável que
muitos dos principais romanos usassem a linguagem para se posicionar. e menosprezar os outros.

O uso do alofone aspirado de oclusivas silenciosas (p t c) em algumas palavras. a confiança nas


características da fala como uma marca de status social e educação pode ser vista em debates
sobre a pronúncia de palavras individuais. Esses erros de fala refletem claramente
sobrecorreções, ou seja, tentativas dos falantes de atualizar sua linguagem para incorporar um
recurso que lhes falta.
Referências bibliográficas:

1. PENNY, John. A Companion to the Latin Language. West Sussex: Blackwell,


2011.Edição de James Clackson.
2. CLACKSON, James (ed.). A Companion to the Latin Language. West Sussex: Blackwell,
2011.

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