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NOTA DE ABERTURA
(*)
Mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.
(**)
Pároco Aposentado.
183
INTRODUÇÃO
184
A sequência cronológica das visitas revela que o percurso dos visitadores
foi de sotavento para barlavento. Os visitadores D. Pedro de Meneses 1 e
João Fernandes Barregão2 chegaram a Faro ao terceiro dia do mês de Maio
de 1565 e nesse mesmo dia realizaram a visitação da igreja matriz e das
ermidas de: Santo António da Atalaia, Nossa Senhora da Esperança,
S. Sebastião da Cidade, Santa Maria Madalena, Nossa Senhora de Entre
Ambas as Águas, S. Cristóvão, S. João da Venda, Santa Bárbara. Se o
percurso no terreno corresponde à descrição ordenada das visitações,
parece-nos que, após a aldeia de Santa Bárbara, os visitadores voltaram
a Faro, para verem, ainda no seu arrabalde, a igreja de S. Pedro, seguindo
depois para S. Brás de Alportel.
Terminada a visitação ao concelho de Faro, os visitadores passaram
nesse mesmo dia ao concelho de Loulé, chegando à vila, provavelmente,
ao fim do dia. Rezaram na igreja matriz e aí pregaram, na porta, uma carta
mandando que todos os foreiros e outras pessoas que tivessem proprie-
dades mostrassem os respectivos títulos de foro e propriedade. Logo no dia
seguinte iniciaram a visitação à igreja de S. Clemente, matriz, passando às
ermidas de Santa Catarina e S. Sebastião e às capelas curadas de Nossa
Senhora, de Querença; S. Sebastião, de Salir; Nossa Senhora da Assunção,
de Alte. De regresso à vila de Loulé visitaram as ermidas de Nossa Senhora
da Piedade, Santa Catarina dos Gorjões, S. Domingos, Santa Ana, S. Lourenço
e Nossa Senhora de Farrobilhas da Armação. Terminaram o percurso pelo
concelho na capela curada de S. Sebastião, de Boliqueime.
Decerto que a visita ao concelho de Loulé terá levado mais do que
um dia, pela extensão do território e dispersão das igrejas, o que obrigava
a percursos diversificados que se prolongariam por uma semana ou mais.
Cumprida a missão, D. Pedro de Meneses, João Fernandes Barregão e
comitiva avançaram em direcção à vila de Aljezur, onde chegaram no
dia 25 de Maio. Aí procederam de modo semelhante ao do primeiro dia na
matriz de Loulé e, no dia seguinte, deram início à visitação, propriamente
dita, da matriz de Aljezur, igreja de Nossa Senhora de Alva, onde funcionava,
numa casa anexa ao edifício da igreja, o hospital3 denominado do Espírito
Santo. Daqui passaram às ermidas de S. Pedro, Santa Susana, S. Sebastião
e à capela curada de Nossa Senhora da Piedade, de Odeceixe.
(1)
Comendador da vila de Cacela e da igreja do Salvador de Santarém e Treze.
(2)
Prior da igreja de N.ª S.ª do Castelo da vila de Alcácer do Sal.
(3)
Local de recolha de pobres, sacerdotes, peregrinos.
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Se seguirmos os passos dos visitadores e atentarmos nos seus registos
verificamos que, o principal objectivo é reconhecer o estado funcional e
material das igrejas pertencentes à Ordem de Sant’Iago, de modo a controlar,
preservar e aumentar o seu património.
No decorrer da leitura da visitação, um relatório dos nossos dias, aper-
cebemo-nos das obrigações das pessoas para com a sua paróquia, da fé
que levava os homens algures terras da Índia, a prometerem oferendas às
igrejas e santos, a quem logo tratavam de pagar quando regressavam, do
funcionamento quotidiano de cada igreja, dos bens materiais e artísticos que
tanto valorizavam cada igreja que os possuía.
Para a transcrição respeitámos a ortografia e suas variantes (ex: cetim e
çetim, patena e patana) e a notação numérica dos fólios, com as seguintes
alterações: actualização da separação e junção de palavras, desdobramento
de abreviaturas, actualização dos sinais de pontuação, actualização mode-
rada da pontuação quando nos pareceu necessário para o entendimento
do texto, actualização de maiúsculas e minúsculas, substituição do «i» por
«j» procurando respeitar os actuais valores fonéticos, chamada de atenção
através de notas em casos de palavras riscadas ou formas gráficas ou
gramaticalmente incorrectas, indicação por (?) das palavras ilegíveis ou
sumidas por mancha ou rotura e, ainda, o uso do < > quando faltam uma ou
mais letras na palavra e temos a certeza de qual ou quais seriam, o uso do
ponteado quando o texto foi suprimido ou não tivemos acesso à sua
continuação. Optámos pela transcrição do luso-romano para a numeração
romana, de modo a facilitar a leitura.
Acompanhemos as visitações de D. Pedro de Meneses e João Fernandes
Barregão, visitadores da Ordem de Sant’Iago às igrejas dos concelhos de
Faro, Loulé e Aljezur.
GLOSSÁRIO
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Ambre – substância sólida usada como perfume e empregada em medicina;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 1, p. 396;
Âmbulas de prata – vasilhas de prata para os santos óleos do baptismo, crisma
e unção; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 1, p. 397;
Anelhos – cabritos com um ano de idade; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 451;
Antifonayro – livro litúrgico onde se encontram as antífonas ou versículos que
se lêem ou cantam antes dos salmos; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 497;
Araes – pano ou tapeçaria vinda de Arras, Norte de França; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 632;
Banda do Evangelho – a direita de quem está no altar; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 520;
Banda da Epístola – a esquerda de quem está no altar; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. IX, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Beneficiado – clérigo a quem se atribue um benefício eclesiástico (uma renda);
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 2, p. 313;
Benefícios aprestemados – benefícios (cargos eclesiásticos) com préstamos
(rendas em terrenos ou propriedades com esse encargo); in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 401;
Bocaxim – espécie de entretela; antigo tecido de algodão de qualidade seme-
lhante ao fustão, e que servia para forrar trabalhos de tapeçaria, divisórias
de cortinados. O mesmo que tarlatana; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 4, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Boceta – caixa pequena; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 2, p. 366;
Brocadilho ou borcadilho – brocado ou borcado mais leve; in, Grande Enci-
clopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 5, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Brocado ou borcado – estofo de seda ricamente bordado em relevo de ouro
ou prata. Tecido de seda de origem oriental realçado de ouro e prata e
pertencendo à categoria dos panos chamados de “Damasco”. Os primeiros
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borcados eram completamente tecidos de ouro e prata e só no fim da Idade
Média a classificação se estendeu aos panos bordados de seda e muitas
vezes desprovidos de fios metálicos; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 4, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Caixa marchetada – caixa com embutidos de lavores; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 4 e 6, pp. 362 e 390;
Caliz de prata (...) ao romano – vaso quase cilíndrico de prata, ao estilo
romano; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 2, p. 510;
Canhamaço – estopa de cânhamo; tecido, estofo grosso feito com essa estopa
grossa do linho e o tecido feito com ela. Tecido grosseiro de linho, cânhamo
ou juta geralmente de cânhamo, em ponto de tafetá, constituído por fios
de espessura desigual e que não sofreram a branqueação; in, Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 5, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.
Capa d’asperges – Capa comprida que se usa por cima das vestes sagradas
para aspergir a água benta ou para dar mais solenidade a outras cerimónias
eclesiásticas; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 2, p. 47;
Çeo de quortinas (sic.) – parte superior ou dossel de uma armação de cortinas;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 3, p. 112;
Cetim – espécie de pano de seda, lustroso e fino; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 6, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Corporaes – pano onde se coloca o cálix e a hóstia no altar para a missa;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 3, p. 479;
Dalmáticas – Paramentos que os diáconos trazem por cima da alva, nas
funções do seu ministério; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 3, p. 625;
Damasco – tecido de linho, algodão ou lã, imitando o de seda, com a diferença
que na roupa adamascada os lavores são lustrosos e o fundo fosco; tecido
de seda que apresenta desenhos acetinados em fundo não brilhante; ou
pano de lã, linho ou algodão que imita esse tecido de seda, que se usa
especialmente em roupa de mesa. Tecido de seda ou lã com lavores fabri-
cado primitivamente em Damasco, de onde o trouxeram primitivamente os
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genoveses; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 8, Edi-
torial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Damasquilho – tecido adamascado de menos corpo, de seda ou lã; in, Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 8, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Domingall – Livro litúrgico onde estão as missas dos domingos; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 296;
Escabello – banco sem encosto, das igrejas, para os clérigos se sentarem
(mocho); in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 4, p. 545;
Escarlatim – espécie de tecido, menos fino que o escarlate; in, Grande Enci-
clopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 20, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.
Estipemdios do capelão – ordenado do capelão; in, Grande Dicionário da
Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 624;
Estopa (tupa) – a parte grossa do linho, que fica depois de o passarem pelo
sedeiro e com a qual se fazem panos grosseiros; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 10, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Fábrica da igreja – administração temporal duma igreja; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 62;
Figo choucho – figos secos; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 3, p. 160;
Firmall – broche antigo; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 5, p. 190;
Firmall de rubis – broche com que se seguram as vestes, de rubis; in,
Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo
5, p. 190;
Franjas de retroz – fios de seda, torcidos; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 10, p. 346;
Frontall – ornato da frente do altar; in, Grande Dicionário da Língua Por-
tuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 297;
Frontall de bocaxim – frontal de entretela; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 2 e 5, pp. 366 e 297;
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Frontall de chamalote – frontal de tecido de pêlo de camelo; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 3 e
5, pp. 120 e 297;
Frontall de godomiçil – frontal de tapeçaria de coiro pintado e dourado; in,
Dicionário de Língua Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 672;
Frontall de grãa – frontal de tingido de escarlate, cuja tinta é obtida de um
insecto; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 5, p. 474;
Fustão branco – pano de algodão, lã, linho ou seda, tecido em cordão mais
ou menos grosso, branco; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 2, p. 47;
Godomiçil – tapeçaria de couro pintado e dourado; in, Dicionário de Língua
Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 672;
Grã – tecido tinto com grã, um insecto empregado em farmácia e tinturaria.
Ao insecto também se dá o nome de cochinilha; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 12, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa,
Rio de Janeiro;
Grãos d’aljôfar – pérolas miúdas; in, Grande Dicionário da Língua Por-
tuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 340;
Lambel – banda, tira, faixa; tecido listrado com que se cobriam assentos; in,
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 24, Editorial Enci-
clopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Mesa d’emgomços – mesa desdobrável; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 436;
Mortóreo – terreno estéril; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 7, p. 402;
Olivall no contio da serra – olival em terra coutada; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 3, p. 518;
Omyzio – estado de homiziado ou seja, fugido da Justiça; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 145;
Pano de canhamaço – tecido grosso, de cânhamo; in, Grande Dicionário da
Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 2, p. 554;
Pasioneyro – passionário; livro litúrgico que contém os Quatro Evangelhos
da Paixão de Cristo, que se lêem na Semana Santa; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 462;
190
Patena – lâmina metálica sobre a qual se coloca a hóstia da missa; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 476;
Peça de figo – duas arrobas; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 8, p. 516;
Peça de paça – duas arrobas de uva passa; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 516;
Per imposição de barrete – por imposição do barrete eclesiástico, para
receber cargo na igreja; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 2, p. 241;
Pessoas do abyto – pessoas da Ordem de Sant’Iago; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 542;
Pontifical – capa comprida que o bispo usa nos ofícios solenes; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 288;
Ramall – conjunto de fios; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 10, p. 96;
Ramall d’alambres – conjunto de fios aromatizados, de âmbar; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 1 e 10,
pp. 285 e 96;
Responso – palavras que se rezam ou cantam depois das leituras dos ofícios
divinos; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 10, p. 315;
Retrós – fio de seda ou conjunto de fios de seda torcidos; in, Grande Enciclo-
pédia Portuguesa e Brasileira, vol. 25, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Samginhos d’Olamda ou pano de Aljazur – pequeno pano com que o sacer-
dote limpa o caliço de tecido de Holanda ou de Aljezur; in, Dicionário de
Língua Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 377;
Santorall – livro das igrejas onde estão as missas dos santos; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 10, p. 604;
Sarja – tecido de seda, lã ou algodão, entrançado; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 29, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa,
Rio de Janeiro;
Savastro – tira de pano diferente da cor do paramento; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 11, p. 18;
191
Savastro de borcadilho – tira de pano diferente numa peça de vestuário de
brocado inferior; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José
Pedro Machado, tomo 4 e 11, p. 626 e 181;
Savastro de catasoll de seda – tira de pano diferente numa peça de vestuário
de tecido fino e lustroso; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 4 e 11, p. 626 e 181;
Savastro de estopa – tira de pano, de cor diferente, de estopa; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4 e 11,
p. 626 e 181;
Savastro de tripe – tira de pano de tecido aveludado, de cor diferente, numa
peça de vestuário, por exemplo, da casula; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 11, p. 181;
Seda – introduzida na Península Ibérica provavelmente pelos Godos. Os
Árabes desenvolveram a indústria e propagaram-na pelo vasto império
tendo-a prosperado na Andaluzia. Nos séculos XII e XIII Veneza, Flo-
rença, Milão tinham a liderança do produto. Os séculos XV, XVI e XVII
alcançaram extraordinário desenvolvimento no sul da Península Ibérica.
Diz o padre Rafael Bluteau nos fins do século XVII: “... É uma mecânica
sem a qual não poderia trajar a nobreza, nem com mil castas de paramentos
luzir a igreja ...”; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.
38, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Sobrepeliz – espécie de pequena capa branca que os clérigos usam sobre a
batina; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 11, p. 248;
Toalha – pano de linho ou algodão; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 31, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Tripe – espécie de estofo aveludado; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 32, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Veludo – tecido de seda ou de algodão, liso ou raso de um lado, e do outro
coberto de pêlos levantados e muito juntos que estão seguros pelos fios
da teia; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 32, Edi-
torial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Vestimenta de ustedilha – vestimenta de tecido quinhentista; in, Visitação de
Igrejas Algarvias, de Francisco Ildefonso Lameira, Glossário, p. 124;
Vestimenta de zergantia – ou zergania, vestimenta de tecido indiano, de
algodão; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 12, p. 651.
192
VISITAÇÃO DA ORDEM DE SANT’IAGO ÀS IGREJAS
DO CONCELHO DE FARO
(fl.111)
Vysitação da igreja de Nosa Senhora de Farão
Comemdador
193
Foy perguntado o dicto prior pelos tres votos sustanciaes da Regra e assy
pelas perguntas que tocavão a sua pessoa; respomdeo que o fazia o mylhor
que podia e estava prestes pera fazer.
Foy mais perguntado que obrigação tinha de myssas; disse que compria
inteyramente e dizia as myssas que se contém na vesitação antiga que foy
feyta pello mestre que aja gloria, na quall visitação se detriminou serem as
que estão escritas na dita visitação.
E mais he obrigado in solydo à cura das almas dos fregeses da dicta igreja
da dicta cidade e termo, e de lhe admynistrar todo-los outros sacramentos.
Benefiçiados
194
noso senhor in solydo por lhe pertemçer como governador e perpeto admynis-
trador que he da Ordem.
E os outros tres benefiçiados que o bispo e cabydo pagam sam Martim
Gomçalves, Fernam Moreyra, e Manuell Perez, menor, o quall tem o benefiçio
aprestemado.
Os ditos benefiçiados todos são obrygados dizer as oras canonycas dentro
na igreja segumdo custume, e de ajudar a todolos ofiçios devinos e de dizer
as mysas pelo povoo às somanas.
chamos por tisoureyro a Francisco Rodriguez, ho quall he apresentado
pello bispo comforme a composição que se fez antre a Ordem e o dicto
bispo e cabydo.
Cavaleiros do abyto
Juizes e ofiçiaes
Pregão
Vysitação pasada
195
Livro da prata
Esta igreja tem huma crux de prata e huma custódia com huma crux d’ouro
em çima, e hum tribolo, tudo grande e bom.
Há mais na dicta igreja oyto calizes de prata assy da igreja como das
capellas que nella estão.
Esta prata toda estaa asentada num lyvro que o prior tem em sua mão em
que estaa decrarado o peso e feyções de cada peça.
E assy estão no dicto livro todolos ornamentos novos e velhos e cousas
meudas do serviço da dicta igreja, o quall livro foy visto per nós; estaa tudo
muito bem decrarado e o aprovamos e ouvemos por bem.
Visitações pasadas
Mandamos vir as visitações pasadas pera por ellas vermos ho que era
comprido e estava por comprir e as obrigações que cada hum tem.
(fl. 113)
Obrigação do povoo
Alampada
196
Pia de baptizar
Campanayro
Samcristia
Ha samcristia foy vista per nós, a quall he huma casa muito pequena,
não comveniente à tal igreja, e tem huns almareos muito pequenos, hos
quaes não são comvenientes pera os ornamentos.
Coro
Conta da fábrica
197
fábrica da igreja mill e quatroçentos çimquoenta e sete réis ......................
....................................................................................................... MCDLVII réis
Abyto
Testamentos de difuntos
198
(fl. 114v.) Capelas da igreja matriz
(4)
Este fólio não tem continuidade em ralação ao anterior; julgamos que o escrivão terá omiti-
do uma ou mais linhas já que a numeração dos fólios dos documentos está ordenada.
199
admynistração Fernão d’Aranha, que faleçeo nesta çidade e tinha muitos
bens e so dizia myssa cotidiana, e agora he admynistrador hum filho de
Duarte Alvares beneficiado, dono da orta d’Atalaya que está obrigada a estas
myssas.
Na capella da comfraria de Nosa Senhora se dizião satenta myssas pela
allma de Martim d’Azavia de que foy administrador hum João Perez,
clerigo de myssa, morador em Oulivemça, e agora he administrador ho
dicto Louremç’ Eanes.
Ha capella de Gill Estevens, que era hum altar da imvocação de Santa
Catrina, que estava na umbreyra do arco do cruzeyro, da parte do Evamgelho.
Ha capella de Breitiz Dias, que he da imvocação de Jhesus, junto da
pia de baptizar, de que ora he admynistrador huma filha de Diogo Barbato,
ja difunto.
200
azull ............................................................................................ V vestimentas
Hum frontall de godomiçil(sic.) com ha imagem de Santo Antonio nelle
pintado ................................................................................................ I frontal
Outro frontall d’escarlatim vermelho, com huma crux de çetim verde .......
................................................................................................................. I frontal
Hum godomiçil gramde que está armado na parede do altar, muito
bom ......................................................................................................... I pano
Huma quortina de seda da Imdia ................................................ I quortina
Haa mais na dicta irmyda outro frontall e toalhas e outras meudezas que
derão devotos, que tudo estaa em aventayro no livro da comfraria.
Esta irmyda tem seus mordomos e escrivão, que recolhem as comfrarias e
esmollas, e dellas fazem as obras e repayrão a dicta irmyda e lhe foy tomado
conta per nós.
Visytamos a dicta irmyda a quall he huma casa pequena, tem huma capella
e nella hum altar e
(fl. 116)
nella hum altar e em çima huma imagem de Nosa Senhora de vulto e São João
Baptista e Sant’Amaro e todas de vullto.
Ho corpo da igreja e a capella e as paredes são de pedra e call, guarne-
çida de dentro e de fora, e cayadas; a capella estaa forrada de bordos e
pintado o forro, e tem humas grades no arco do cruzeyro.
O corpo da igreja he madeyrado de castanho e forrado per çim<a>, tem
seu campanayro e huma campa.
Pegado com esta irmyda estaa huma casa em que se recolhe a irmytoa.
Achamos per imformação que João Amado, morador nesta çidade,
edificou esta irmyda aa sua custa, e nella estaa enterrado, e sua molher, e
ora tem cuydado della Rodrigo Amado, seu filho e a admynistra e governa.
Esta irmyda tem hum caliz de prata com sua patana(sic.) ................. I caliz
Huma vestimenta de damasquilho verde da Imdia, de todo comprida ......
......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de seda da Imdia, de coor de rosa, de todo comprida ......
.......................................................................................................... I vestimenta
201
Hum frontall de damasquilho da Imdia, usado ............................... I frontal
Outro frontall de seda da Imdia, usado .......................................... I frontall
Hum çeo de quortinas, de rede ............................................................ I çeo
Huma coroa de prata ........................................................................ I coroa
202
(fl.117)
pera a dicta capella, emquanto se não faz o corpo da igreja.
Achamos per imformação que esta casa desta irmyda cayo(sic.) e a tornou
edificar algumas pesoas de votos e o mais povo com suas esmollas e nos
aprovamos e louvamos muito a tall obra.
Achamos que hum Gil Eanes, lavrador, he admynistrador desta irmyda e
della tem carguo ao quall nom foy tomado conta por nom ser presente
e ser ausente da çidade pera muitos dias.
Vysitamos a dicta irmyda a quall he huma soo casa gramde, sem capella,
tem hum altar d’alvanaria e nelle hum retavolo gramde de hum soo paynell,
pintado nelle a imagem de São Cristovão, e dourado pellas molduras, e
no frontespiçio hum Jhesus dourado e junto delle estava hum retavollo
pequeno, de que faz memção na vesitação pasada; diante do altar estavão
humas grades que tomão de parede a parede, fechadas com sua chave.
Ho corpo da igreja he feyto de pedra e call, madeyrado e forrado de
pinho, e tem seu portall de pedraria com suas portas.
Achamos per imformação que Isabel Cabrall, molher que foy de João
Alvarez de Camynha, mandou fazer esta irmyda por lho deyxar emarregado
203
ho dicto João Alvarez seu marydo e ora tem della cargo Inofre da Ponte, e
tem seu caliz e vestimenta.
Junto desta irmyda estaa huma casa em que vive hum irmitão per nome
Alvaro Farello e sostenta-se das esmollas dos fiéis cristãos, e alumia huma
alampada que estaa na dicta irmida.
204
da Imdia, com sua çanefa verde e franjado, usado ............................ I frontal
Haa mais nesta capella outros frontaes e vestimentas, tudo usado, e
outras meudezas de serviço da igreja que tudo estaa em aventayro no livro
da igreja, de que he escrivão o capelão.
(fl.118v.)
205
Ho arco do cruzeyro he de pedraria gramde e bem lavrada, junto delle
estaa hum altar da parte do Evamgelho, d’alvanaria, e tem hum retavolo
pintado e dourado per partes e huma imagem de Nosa Senhora de vullto e
tinha huma coroa de prata na cabeça.
Ho portal primçipall e a travesa são de pedrarya bem lavrados e tem
sua samcristia com ho portall na capella e he de pedra e call, guarneçida e
cayada, madeyrada de castanho e emcaniçada.
Achamos por capelão a Luis Gonçalvez, clérigo da Ordem de São Pedro,
estaa apresentado pelo prelado com sua carta de cura e lhe pagão seu
estipemdio os fregeses e lhe dão cad’ano em trigo, vynho e figuo que valeraa
trynta mill reis.
Ho dicto capelão he obrigado dizer missa aos fregeses os domyngos e
festas do anno de guarda e admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Ho povo he obrigado à fábrica e ornamentos e prata desta capella, e
neste custume estão, e elles fizerão a igreja mayor aa pouco tempo e
achamos terem feito hum retavolo de madeyra muito bom, pera o altar moor,
e o têm ora a pintar.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estaa entrando pella porta primçi-
pall, à mão esquerda, de pedra muito bem lavrada, posta em hum tavoleiro
de pedraria e çercada de grades, e dentro no circuyto estaa hum almareo na
parede em que estão os santos oleos, e estavão como comvinha.
Desta capela à çidade haa huma legoa e no ca
(fl.119v.)
mynho ha huma ribeira que pasão por elle per huma ponte; desta capella
a São Bertolomeu, que he outra capella curada haa meya legoa; e de outra
bamda desta capella de São Martinho estaa a igreja de Nosa Senhora da
Comçeyção que he outra capella curada e está mey<a> legoa.
Na nave da bamda da Epístola estaa huma capella que fez Viçent’Eanes,
a quall por se danificar muito a fizerão de novo, e d’abóboda como ora
estaa, hum João de Sousa e outros herdeiros, na quall estaa hum altar e
nom se diz myssa nelle de obrigação.
Achamos per imformação dos fregeses desta capella que, faleçemdo o
dicto João de Sousa, deyxou em seu testamento ou çedolla que se comprase
hum foro de mill réis, por dez mill reis, que pera isso deyxou pera a dicta
fábrica, o quall emcarguo deyxou a seu filho Marcos de Sousa pode aver
dez ou doze annos, e até ora não he comprido nem podemos dar isto a
execução por nom ser o dicto Marcos de Sousa na terra e ser ausente della
206
per hum omyzio.
207
Ho corpo da igreja he de tres naves e por estar danificada foy ora
novamente tornada a edeficar pelos fregeses della, e estaa aimda por
gorneçer, e os piares(sic.) e arcos são de pedraria, e a porta primçipall está
imda por acabar e está tapada de pedra e barro junto do arco do cruzeyro
estão dous altares d’alvanaria e imda se não diz myssa nelles; estaa
madeyrada de castanho e de telha vãa.
Achamos por capelão Estevão Paes, clerigo do ábyto de Santiaguo e estaa
servimdo com carta de cura, apresentado pelos fregeses.
Vysitamos sua pessoa e vimos seus titolos do ábyto e pro
(fl.120v.)
fissão e livro da Regra; tudo tinha como comvinha e era obrigado.
Visytamos a pia de baptizar, a quall estaa no corpo da igreja, sem grades,
junto da porta primçipall; a pia he de barro verde vidrado, com seu pee de
pedra, e os santos oleos estavão como comvinha.
Achamos que ho povo he obrigado ao corregimento e fábrica e orna-
mentos della, e pagar o estipemdio do capelão; e neste custume estão e
assy o fazem.
Os dictos fregeses dão agora ao capelão hum moyo de triguo, e satenta
peças de figos.
Desta capella à igreja matriz de Farão haa duas legoas e meya.
208
Hum frontall de chamalote cramysim e outro preto .................... II frontaes
(fl.121)
Haa mais algumas meudezas que tudo estaa em aventayro no livro da
igreja que estaa na mão do capelão.
209
Ho corpo da igreja he feyto de pedra e cal, guarnecido e cayado de huma
soo nave, madeyrado de castanho e forrado de canas; sobre a porta primcipall
estaa hum campanayro com huma campa quebrada.
Ho corpo da igreja estaa todo lageado, junto do arco do cruzeyro estão
dous altares pequenos da imvocação de Nosa Senhora e outro de Sant’Ana.
Vysitamos a pia de baptizar e os santos oleos, a quall estaa entramdo pela
porta primçipall, a mão esquerda, çercada de grades de pao de castanho,
velhas; a pia he de pedra e bem feyta, com seu pee e cubertura de madeyra.
E os santos oleos estavão em hum almareo na capela, fechado, com suas
portas de bordo, e estavão como comvinha.
Os fregeses desta capella são obrigados à fábrica, prata e ornamentos
della, e neste custume estão e assy o fazem e elles a amanharão ora de
novo, e pagão ho mantimento ao capelão.
Achamos por capelão Pedro Alvarez, clérigo da Ordem de São Pedro,
e nos disse que ho bispo o mandara a esta capella com sua carta de cura, e
os fregeses lhe pagão seu estipemdio, e lhe dão, em trigo, e figo, cad’ano, que
valeraa oyto mill reis.
Desta capella à çidade haa meya legoa, e a São Martinho d’Estoy outra
meya legoa, e outra meya a São João da Vemda, e a meia legoa a São Berto-
lomeu de Pexão.
(fl.122)
210
Huma vestimenta de damasquilho da Imdia, de todo comprida e nova .......
.......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho bramco da Imdia com savastro de
borcadilho, de todo comprida e nova, que deu Ruy Barreto Mascarenhas,
difunto.
Çimquo vestimentas de seda, de todo compridas delas(sic.) novas e
usadas .......................................................................................... V vestimentas
Nove frontaes de seda, huns novos, outros usados ................... IX frontaes
Duas capas d’asperges ................................................................... II capas
E as mais cousas que haa na igreja estaa tudo em aventayro no livro della,
que estaa em mão do capelão.
211
çimquo peças de figos.
Achamos que os fregeses são obrigados à fábrica e prata, ornamentos
desta capella, e neste custume estão; e pagão o mantimento do capelão.
Desta igreja à çidade haa huma légoa pequena(sic.) e a Nosa Senhora da
Comçeyção, que he outra capela curada, haa meia légoa.
(fl.123)
Hum caliz de prata com sua patana, que se fez do dinheiro que dantes
avia ........................................................................................................... I calez
Achamos que tem mais, além dos ornamentos que se contém na visistação
pasada, as cousas segintes.
Huma vestimenta de damasco branco com savastro de damasco cramesim
nova, de todo comprida ................................................................ I vestimenta
Huma capa de chamalote alionado com savastro de çetim fallso, laram-
jado ........................................................................................................... I capa
Hum frontall de chamalote branco com humas tiras de tafetá cramysim ....
................................................................................................................ I frontal
Outro frontall de chamalote emcarnado que estava no altar ........... I frontal
Hum myssall gramde, romão(sic.), novo ...................................... I missal
Tres toalhas de Frandes ............................................................... III toalhas
Sete toalhas da Imdia, de mãaos, do altar ................................... VII toalhas
Huma crux com hum crucifixo de prata ............................................. I crux
Huma capa de tumba de chamalote preto, com sua crux bramca no
meyo ......................................................................................................... I pano
Huma memsa d’emgomços ............................................................ I mensa
Hum tribulo de metall ................................................................... I tribullo
Haa mais na dicta igreja outras meudezas que tudo estaa em aventayro no
livro da igreja, em mão do capelão.
Mandamos aos eleytos e mordomos e aos mais fregeses desta dicta capella
que mandem pôr na igreja as cousas segintes.
212
Primeiramente mandarão fazer huma távoa com as palavras de sacra pera
o altar.
(fl.123v)
Mandarão fazer huma casa pera samcristia omde ora tem feyto ho portall
pera ella.
Mandarão fazer humas grades pera o arco do cruzeyro.
E mandamos aos dictos eleytos e mordomos e aos mais fregeses que
mandem lagear a dicta igreja e as pesoas que tiverem sepulturas no corpo
da igreja mandamos que os lageem dentro de hum anno e nom na lageamdo
que fiquem devolutas à dicta igreja e, acabado o dicto tempo nom semdo
lageadas, mandamos ao capelão e mordomos que as não deyxem abrir
sem as pagarem de novo, sob pena de as pagarem à sua custa.
E mandamos aos erdeiros da sepultura que estaa na capella moor que
dentro de hum anno ponhão huma campa de pedra na dicta sepultura, e
os que nom quiserem comtribuir percão a posse que tinhão de se emterrar
nella, e fique soomente aos que a lagearem.
E as cousas açima dictas mandamos e emcomemdamos muito aos eleytos
e mordomo e aos mais fregeses que mandem fazer e pôr na igreja dentro em
dous annos que se acabarão per Natal de sasenta e seis.
213
O capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses todo-los domimgos e
festas de guarda do anno, e admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Desta capela à çidade haa huma legoa, e a capela de São João que he outra
capela curada há quasi meia légoa.
Achamos que os fregeses são obrigados à fábrica, prata e ornamentos
desta igreja, e neste custume estão, e também o fazem das esmollas e remdi-
mento da igreja e o que lhe faltão de suas casas o dão e assy pagão o
mantimento do capelão, como dicto he.
Achamos pelas visitações pasadas que o Mestre, que aja glória, fez merçe
das ofertas e oferiçimento desta igreja pera a fábrica e ornamentos della
ho que pertemçia à Ordem, que he a metade das dictas ofertas e assy se usa
e as recolhem comforme a provisão que foy vista per nós.
Hum caliz gramde, de prata, sobredourado, com sua patena ............. I caliz
Outro caliz de prata, com sua patana ................................................. I caliz
Outro caliz de prata, com sua patana .…................................…… I caliz
Huma coroa de prata ............................................…………......……. I coroa
Huma crux de prata .....................................................................…….. I crux
Huma crux de colo, de prata ............................................................... I crux
Hum frasquinho de prata, sobredourado .................................. I frasquinho
(fl.124v)
Humas vergas de prata .................................................................... I vergas
Trinta e sete peças de prata, pequenas ................................. XXXVII peças
Quarenta e sete peças de prata, que estão em poder do irmytão, pera se
oferecerem aos romeyros ................................................................ RVII peças
Hum ramall de contas de coraes e outro de lambres ........................ contas
As vestimentas que achámos no aventayro na vysitação pasada, diserão
o capelão e fregeses que ja haa alguns annos que queymarão humas
vestimentas velhas e que serão aquellas, e as que ora haa são as segintes.
Huma vestimenta de damasco bramco com savastro de veludo cramysim,
de todo comprida, usada ................................................................ I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho branco da Imdia, com savastro de tafetá
cramysim, de todo comprida, usada ................................................ I vestimenta
214
Outra vestimenta de damasquilho verde, de todo comprida, usada .........
.......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote preto, com savastro de çetim preto, de
todo comprida, usada ..................................................................... I vestimenta
Hum frontal de chamalote cramysim .............................................. I frontal
Dous frontaes de chamalote vermelho e azull ............................... I frontal
Outro frontal de chamalote preto, da Coresma ............................... I frontal
Huma capa de chamalote azull, com savastro de chamalote amarello .......
.................................................................................................................... I capa
Duas corrediças de sarga (sic.) vermelha ................................ II corrediças
Hum páleo de damasco cramysim, todo framjado de retroz com quatro
canudos de prata das varas ..................................................................... I páleo
(fl.125)
E as mais meudezas que haa na dicta igreja estão em aventayro no livro da
igreja, na mão do capelão.
Porpriedades
Humas terras de pão, que deyxou Lionor Fernandez, difunta, que estão
junto da igreja, as quaes amdão arremdadas agora por quatro mill reis .......
.......................................................................................................... MMMM reis
Huma courella de terra junto do rybeiro da Jordana, que tem arvores,
ouliveiras e figueyras.
Huma vinha que tras ora ho irmitão em seu poder.
Hum foro de huma vinha em pesoas que tras ora Gaspar Afonso em
primeira pesoa e paga cad’ano ......................................................... MMM reis
Outro foro que lhe faz Felypa da Ponte, viúva, de humas casas e ouliveiras
e figueyras e paga cad’ano seisçentos e çimquoenta reis .................... DCL reis
215
De custume antigo foy sempre emlegerse hum mordomo nesta igreja,
por parte da Ordem, pera arrecadar a metade das ofertas que pertemçem à
dicta Ordem, e por que ho Mestre, que aja glória, fez merçe e esmolla à
dicta casa, desta sua parte, per provisão sua, que estaa no livro do tombo da
dicta capella
(fl.125v)
mandamos que assy se cumpra e se faça mordomo e prior por parte da
Ordem, como soy a ser.
E as chaves do çepo, e da arca das esmollas mandamos per visitação
que, o dicto mordomo que servir por parte da Ordem, tenha huma dellas.
E mandamos aos mordomos e eleytos que não abrão o dicto çepo sem
estar o escrivão da casa presente pera lamçar em receita ho que assy acharem
nelle.
E também se abriraa ho dicto çepo perante algumas pesoas do poovo,
pera averem as esmollas do dicto çepo, porquanto se aqueyxarão que os
mordomos abrirão ho dicto çepo, soos.
E mandamos ao capelão que nom comsinta nenhuma pessoa na capella
moor, nem na samcristia, emquanto se diser myssa, por sermos imformados
que se faz muito gramde torvação aos ofiçios devinos.
216
quall somente tem a Ordem a visitação; e por rezão disto o prelado apresenta
aqui o cura, o quall cura nenhuma obrigação tinha ao prior de Santa Maria,
igreja da Ordem, posto que a Ordem pague a metade do estipemdio ao cura
della, e nos requereo, por parte do bispo, como procurador seu que hera
por procuração sua, que loguo apresentou que nom quisesemos nisso imsistir,
por que faria seus protestos e requirimentos e mandaria ao cura que nom
abrise o sacrayro nem a pia nem a mostrase os santos óleos, semdo a tudo
isto presente Francisco Raposo, escrivão do auditoreo eclesiastico, que
comsigo trazia pera isso.
E depois de sobre isto se altercarem de huma parte e da outra muitas
rezões, das quaes podião naçer escamdolos e deferemças antre o bispo e
Ordem, e alegarmos per parte della que esta dicta igreja he anexa a igreja
de Santa Maria, matriz desta cidade, e assy pera pagar a Ordem a metade
do estipemdio do dicto cura sem acharmos provisão do mestre, que aja
glória, nem de Sua Alteza. Pera isto assy ser e acharmos que foy sempre
visitada pelos visitadores da Ordem, sem aver nenhuma comtradição de
nenhuma parte, nos pareçeo bem, assy por avitarmos escamdalos e
disemções, como por ser presente o dicto doctor pera asistir nesta visitação,
comforme a composisão feyta antre o bispo e a Ordem, e ser tam lomge
da corte que não podia dar conta a Vossa Alteza, pera nysso prover sem
passar muito tempo e recreçerem emfadamentos, asemtamos que todos,
juntamente, visitasemos o Santo Sacramento, pia e santos oleos .scillicet.
que o dicto doctor vestido em huma capa, e nos juntamente com ho manto
bramco e o padre João Fernandez, vysitador, com outra capa, fosemos ao
altar moor, e o dicto doctor tirase o Santo Sacramento e o mostrase ao povo
e de todos fosse adorado como foy, e achamos estar como comvinha; e da
mesma maneira fizemos na visitação da pia e santos óleos.
(fl.126v)
E ambos protestamos, por parte do bispo e Ordem, que a dicta vysi-
tação feyta desta maneira não perjudicase a pose que a Ordem tem, nem
ao direito que ho bispo diz que tem com quem pareçe, que Vossa Alteza
deve mandar asentar a quem pertemçe a visitação desta igreja, por escusar
deferemças, e o provimento do cura della, por acharmos que paga a Ordem
a metade do seu estipemdio per provisão de dom João de Mello, bispo
que foy deste Alguarve cujo trelado levamos pera Vossa Alteza prover
como for servido.
Achamos por capelão da dicta igreja António Gonçalves, que he cura della
com carta do prelado, e tem de seu estipemdio à custa da Ordem e bispo e
cabydo, hum moyo e meio de trigo de medida deste Algarve ..... I moyo e meio
217
E duas pipas de vinho ..................................................................... II pipas
Em dinheiro .................................................................................... MM reis
E nam tem ho pee do altar, per ser da igreja matriz.
Achamos que os fregeses desta igreja são obrigados ao corregimento prata e
ornamentos della, e neste custume estão, e elles têm ora à sua custa
primcipiado a dicta igreja, muito boa, e o fazem também das esmollas della
e nós aprovamos este custume e louvamos muito.
218
Outro frontall de chamalote amarello, com huma crux de tripe, vermelho ....
................................................................................................................ I frontal
Hum pontificall .scillicet. manto e dalmáticas de todo comprido e novo,
de damasco branco, com savastro de damasco cramysim, todo framjado,
que deu de esmolla António Dias, mareante ................................... I pontifical
(fl.127v)
Hum santorall e domimgall e hum antifonayro.
Quatro misaes, de custume romão .............................................. IIII misaes
Hum pasioneyro ....................................................................... I pasioneyro
Hum breviayro gramde, do coro, usado ...................................... I breviayro
E as mais cousas que ha na igreja, e nela servem, estão em aventayro no
livro da igreja, que aquy escusamos por serem cousas meudas.
Achamos aver nesta igreja huma capella da imvocação de Jhesus que
edificou Pedr’Afomso, cavaleiro, e sua mulher, e deyxarão foros e proprye-
dades e dellas se disesem em cada hum anno vinte cruzados em myssas e
agora he admynistrador Álvaro Perez, seu neto, e achamos que se cumpre
a obrigação; soomente averaa dous annos que se nom dizem estas myssas,
por mandado do provedor, pera se tornar a edificar a capella com a igreja
nova que se faz.
Achamos que humas netas de Vicente Symão fazem de foro trezentos e
noventa reis de humas terras que têm na campina, termo desta çidade, o
quall foro he pera fabrica desta igreja soomente ........................ CCCXC réis
A mulher que foy de Lamçarote Rodriguez faz de foro de humas suas
casas, duzentos e dez réis .................................................................. CCX réis
João Lopez da Ortiz faz de foro à dicta fábrica de humas estalagens,
quatrocentos reis .............................................................................. CCCC réis
Belchior Rodriguez, oleyro, faz de foro à dicta fábrica trezentos reis de
huma casa com obrigação de duas myssas rezadas e o sobejo pera a dicta
fábrica ................................................................................................ CCC reis
Afoms’Eanes, almocreve, faz de foro vinte çimquo reis de humas casas ......
.............................................................................................................. XXV reis
(fl.128)
Gimar Lopez, filha de João d’Ornellas, faz de foro vinte çimquo reis de
humas casas ....................................................................................... XXV reis
Huma filha de Jan’Afomso(sic.) Anjo faz de foro oytenta réis de humas
219
casas ................................................................................................ LXXX réis
Luis Alvares Cavaco faz de foro trezentos reis de hum figueyrall que tem
em Quelfes, com obrigação de duas mysas e o sobejo pera a fábrica ...........
.............................................................................................................. CCC reis
Achamos aver nesta igreja huma bulla de perdões de cardeaes, e
comçede que toda a pessoa que der esmolla pera a fábrica desta igreja,
çimquo festas do anno, ganhem seisçentos dias de perdões em cada festa, a
quall bulla foy vista por nós e aprovamos e ouvemos por boa.
Foy visto ho livro da receita e despesa da dicta fábrica da igreja, do remdi-
mento della, e achamos estar lyquidamente em mão de Domimgos Dias,
mordomo, çimquo mill noveçentos e quimze réis ................. BMCMXV réis
Vysitamos a dicta capella, a quall estaa em hum alto, e haa nesta fregisia
çento e çimquoenta fregeses e delles morão no termo de Loulee.
Ha igreja achamos que foy feyta de novo há pouco tempo porque, a que
damtes tinhão, era pequena; tem agora huma capella d’abóboda, e nella
hum altar d’alvanaria com ha imagem de Sam Brás, de vulto, e por çima, hum
sobreçeo de quortinas; nesta capella estaa hum portall que he servimtia
pera samcristia, a quall he feyta de pedra e call, madeyrada de castanho e
emcaniçada.
(fl.128v)
Ho corpo da igreja he de tres naves, com piares de pedraria e arcos
d’alvanaria, madeyrado de castanho, com telha vãa; junto do arco do
cruzeyro estão dous altares, ho da parte da Epístolla tem hum retavollo
em preto e nelle hum emcasamento em que estaa huma imagem de Nosa
Senhora, de vulto, e no outro altar estava huma imagem de Santo António
e outra de Santa Eufemya.
Ho portall he de pedraria, gramde e bom, com suas portas novas de
dous postigos; pera porta travesa soobem por seis degraos, e estaa começada
lagear, tem hum campanayro feyto em torre, sobre a parede, junto da porta
primçipal da parte do sull, e tem huma campa pequena.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estava entramdo pella porta prim-
çipall, a mão esquerda, çercada de grades, a pia he de pedra bem lavrada;
os santos oleos estavão em hum almáreo que estaa na capela, pintado, e
estavão como comvinha.
220
Achamos por capelão Pero Matoso, clérygo da Ordem de São Pedro,
com sua carta de cura do perlado, e os fregeses lhe pagão seu estipemdio
e lhe dão em cada hum anno tres moyos de triguo torrado pelos fregeses.
O dicto capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses todo-los domyngos
e santos de guarda, e admynistrar-lhe os Santos Sacramentos.
Desta capella a çidade haa duas legoas gramdes e de mao camynho.
Os fregeses desta capella são obrigados à fábrica, prata, e ornamentos
della e neste custume estão e assy o fazem e elles a fizerão da maneira que
ora estaa.
Livro da prata e ornamentos
221
E junto da pia de baptizar mandarão fazer hum almáreo forrado de
madeyra, em que estavão os santos oleos.
(fl.129v)
Mandarão fazer dous panos de calizes, porque os que tem não são pera
servir.
Por se nos aqueyxarem os mordomos que as pesoas que se enterrão na
igreja, seus erdeiros e testamenteiros pagão muito mall as sepulturas, e o
lageamento dellas, mandamos ao capelão que não deyxe abrir sepultura
nenhuma, sem primeiro ser paga, ou penhor de prata ou d’ouro.
E mandamos aos fregeses e mordomos que mandem fazer huma tumba
pera os difuntos, e huma capa deste, da prata, com huma crux bramca pera
cobrir a dicta tumba.
Por acharmos que a mensa(sic.) da comfraria de Nosa Senhora se
alevanta aos domyngos e às festas de Nosa Senhora, e se põem junto do
esteyo do arco do cruzeyro, omde faz muito nojo às molheres e pesa na
igreja, detriminamos e mandamos per visytação que a dicta mensa se ponha
junto do altar de Nosa Senhora, emcostada à parede por se escusarem
deferemças.
E mandamos aos dictos eleytos e mordomos e fregeses que cumprão
estas cousas açima, dentro em hum anno, com pena de çimquo cruzados, a
metade pera os cativos, outra metade pera a fábrica da igreja e meyrinho da
visitação.
Achamos que tem esta igreja matriz de fábrica, em cada hum anno, à custa
da comenda e do bispo e cabydo, trynta mill reis.
Tem mais a dicta fábrica quinhentos e çimquoenta reis de foro como
diz a visitação que fica na igreja e nesta atrás, com obrigação de quatro
myssas.
(fl.130)
Achamos per imformação que tomamos que se pode gastar nesta igreja
do dinheiro da fábrica, tres arrobas de çera, e nellas, e nos oleos santos e
outras meudezas pode montar o gasto ordinário da fábrica desta igreja em
cada hum anno oytto mill reis pouco mais ou menos ..................... VIIIM reis
222
Mantimento do Prior
Benefiçiados
Mantimento do tesoureiro
Remdimento da Comemda
223
Foros da Ordem
Detriminações geraes
Apomtador
Por que omde nom haa pontador o serviço da igreja pereçe e se não faz
muitas vezes como deve, ordenamos e mandamos que ho aja e o prior
seraa o primeiro anno, e após elle, ho benefiçiado mais antiguo e dahy em
diante amdaraa por todos, cada hum seu anno, dos quaes mandamos
que oyto dias antes de São João se ordena o dicto apontador pelo modo
que dicto he, e nom ho fazemdo assy, perca cada hum mill reis de seu
mantimento e o que sair por apontador e nam quiser tomar juramento nem
servir, perca cimquo cruzados do seu mantimento daquelle anno ho quall
juramento tomaraa perante todos, e lhe seraa dado pelo prior que ho faça
bem e direitamente como deve, a quall penna seraa a metade
(fl.131v)
pera a fábrica da igreja, outra metade pera o meyrinho da vysitação; e o
provedor das visitações veraa se se cumpre ho comtiudo neste capitollo.
E mandamos ao dicto apontador que assy for eleyto que aponte ho
prior e beneficiados comforme as constituições do perlado deste bispado,
e os pontos que assy fizerem faraa o dicto apontador conta no fim do anno
que anotar nelles, e por sua çertidão lhe ouver de pagar seus mantimentos,
224
pera que deles lhe sejão descontados os dictos pontos, os quaes, o dicto
apontador repartiraa pelo prior e benefiçiados, como se custuma.
Detrimynações partyculares
Pera o tisoureyro
225
algum acreçentamento, deve-se consedar(sic.) diso conta a Sua Alteza,
como governador e perpeto admynystrador que he da Ordem, e o mesmo
se entemderá que ouvera de ser feyto no mantimento que se daa à custa da
Ordem, bispo e cabydo ao cura de São Pedro do aravalde desta çidade,
no que provemos per noso mandado de socresto que fica em mão do Licenciado
Fernão Rodriguez, prior da matriz.
Obrigação do povoo
Sobre os enterramentos
Fomos imformados por muitos homens primçipaes desta çidade que nos
requererão que mandasemos ao prior e benefiçiados desta igreja <que> fosem
aos enterramentos com os defuntos, <...do> os se vão a São Francisco de
que o povo <reçebe> escamdalo, pelo que mandamos ao prior, <em> virtude
d’obediencia e aos benefiçiados, que vão aos dictos enterramentos <com>
muita diligemcia e não ho deyxem de fazer esto que tenhão deferemças
226
(fl.133)
com os frades sobre as ofertas como dizem que tem, <se> não he comprimdo,
assy avemdo quem disse sua queyxa aos vysytadores da Ordem serão castigados
como lhes pareçer.
Sobre os dízimos
Por acharmos que nesta igreja não haa arca onde estejão os livros das
visitações e tombos das capellas, mandamos ao prior da fábrica que, do
dinheiro della, mande fazer huma arca pequena, com tres chaves, em que
estejão os dictos lyvros, e as chaves terão o prior huma, e o benefiçiado mais
antiguo outra, e a outra o tesoureiro da fábrica.
E mandamos ao prior e a quem tever outras chaves, a quallquer pessoa
que comprir a ver o trelado d’alguns capitolos desta visitação lho encomem-
damos e mandamos ao dicto prior que mande dar os trelados das vysitações
das capellas curadas aos mordomos e capelães dellas, pelo escrivão, dantre
ssy asinadas por elle, como juiz da Ordem que he desta comarca.
E pera que venha à notiçia de todos ho contiudo nesta nosa visitação
mandamos ao prior, em virtude d’obediemçia que tanto que lhe for dada, logo
o primeiro domimgo começe de pubricar à estação lemdo-a pausadamente,
de maneira que todos o posão entemder e asentaraa nas costas della o dia
em que acabou de pubricar, e acabada a meteraa na arca, como fica dicto atras,
ho que compriraa com pena de quinhentos reis pera os captivos e meyrinho
da visitação, Felype Rodriguez, escrivão da dicta visitação que ho escrivy,
aos omze dias do mes de mayo de mill e quinhentos sasenta e çimquo annos.
(Assinaturas ilegíveis)
227
VISITAÇÃO DA ORDEM DE SANT’IAGO ÀS IGREJAS
DO CONCELHO DE LOULÉ
(fl. 134)
Loulee
Vysytação da Igreja de São Clemente matriz da villa de Loulee
Dom Pedro de Meneses, fydallguo da casa del Rey nosso senhor, comem-
dador das comemdas da vylla de Caçella e da Igreja do Sallvador da villa
de Santarem e Treze, e João Fernandez Baregão, prior da Igreja de Nosa
Senhora do Castello da villa d’Alcaçere do Sall, vysitadores do mestrado
de Santyago nesta comarca do Alguarve, eleytos em capitollo geral que se
çelebrou na çidade de Lisboa, fazemos saber que, por vontade do regimento
que trazemos de Sua Alteza e do dicto capitollo, visitamos a Igreja de São
Clemente, matriz da villa de Loulee, na maneira seginte.
Aos três dias do mês de mayo de mill e quinhentos sassenta e cimquo
annos chegamos a esta villa de Loulee. Feyta oração na dicta Igreja mandamos
pregar na porta a carta e mandado do nosso prior aos fureyros e pessoas que
trazem propriedades, a mostrarem seus titollos.
Ao segumdo dia fomo<s> à Igreja e, vestidos o prior e beneficiados em
suas sobrepelizes, ouvimos myssa e pregação; e acabado entramos a capitollo
e fizemos vénia às pessoas do abyto.
Comendador
Achamos por comemdador desta villa Lopo Furtado. Não visitamos sua
Igreja nem vimos seus titollos por nom ser presente.
Achamos por prior a Belchior Luís, cleriguo do abyto de Santiaguo. Foy
perguntado pelo titollo de seu abyto e profissão e lyvro da Regra. Tudo tinha
e o ouvemos por bem.
Perguntado pello titollo de seu ofíçio e priorado; mostrou huma comfir-
mação de Dom Fernando Coutinho, bispo que foy do Alguarve, por que o
comfirmou a apresentação do mestre que aja glória por lhe pertemçer in solydo.
Foy mais perguntado o dicto prior pellos tres votos sustançiaes da Regra
e assy pellas perguntas que tocavão a sua igreja; respomdeo que ho fazia o
mylhor que podia e estava prestes pera o fazer.
(fl. 134 v.)
Foy mais perguntado o dicto prior que hobrigação tinha de missas na
dicta Igreja. Disse que elle dizia as myssas ao povoo as festas primçipaaes
228
de Nosso Senhor .scilicet. a myssa do dia de Natall e dia de Çimza, dia de
Ramos e de fazer o ofiçio nestes dias. Item mais he obrigado de fazer o ofíçio
e dizer as myssas quintas feiras de Lava Pees e sesta feira e sabado santo e
dia de pascoa e dia d’acemssão e fazer o ofíçio aa vespera de pinticoste e
dizer myssa ao dia da trimdade e dia de Corpo de Deus e levar o Santo Sacra-
mento na procissão. Item mais diz as missas das festas de Nossa Senhora e
dia do apostollo Santiaguo e a mesma obrigação achamos nas visitações
passadas, que foy detriminado pelo mestre que aja gloria antre o prior e
beneficiados, e nós mandamos que assy se cumpra.
E mais he obrigado .in solido. à cura das allmas dos moradores da dicta
villa e termo e de lhe admynistrar todollos outros Sacramentos.
E polla ração que tem o dicto prior anexa ao priorado, he obrigado dizer
myssa sua somana asy como cada hum dos outros benefiçiados.
Achamos que haa na dicta Igreja quatro beneficiados, dous que são pagos
à custa da Ordem e os outros dous são pagos à custa do bispo e cabydo de
Silvees. E os dous que são pagos à custa da Ordem, el Rey nosso senhor como
governador della os apresenta e o bispo os comfirma.
Achamos por benefiçiado apresentado no benefiçio da Ordem, João Vaz,
clériguo do abyto, o quall nos apresentou seu tytollo do abyto e profissão e
lyvro da Regra e tudo ouvemos por bem.
Perguntado pello titollo de seu benefiçio loguo o presentou, huma comfir-
mação do bispo do Alguarve por que ho comfirmou a apresentação do mestre
que aja glória por lhe pertemçer in solydo.
E o outro benefiçiado he Francisco Rodriguez, clériguo do abyto de
Santiaguo, o quall nos mostrou seu titolo do abyto e profissão e lyvro da
Regra e tudo ouvemos por bem.
(fl. 135)
Perguntado pelo titollo de seu benefíçio loguo nos apresentou huma
comfirmação do bispo do Algarve per que o comfirmou a apresentação d’el
Rey noso senhor como governador e perpetuo admynistrador que he da
Ordem de Santiaguo por lhe pertemçer in solydo.
Achamos que o prior não serve seu priorado pessoalmente por ser jaa
muito velho e mouco e porém, vive na villa e he presente na igreja e tem ora
por cura que administra os sacramentos aos fregeses, Francisco Gomçalves.
Os dictos benefiçiados todos são obrigados de cantar as oras canonycas
dentro na Igreja segundo custume e de ajudar a todolos ofiçios devinos e
dizem as myssas polo povoo às somanas.
229
Achamos por tisoureyro da dicta Igreja António Vaaz, clerigo da ordem
de São Pedro, o quall he apresentado pelo bispo comforme à composição
que se fez antre a Ordem e o dicto bispo e cabydo.
Juiz e Vereadores
Pregão
Vysytação da Igreja
230
d’alvanaria; no da parte do Evamgelho estaa nelle hum cruçifixo muito
velho e huma imagem de Nossa Senhora, de vullto, e outra de São João, da
mesma maneira, muito velhos; e o da outra parte he da imvocação de Nossa
Senhora e tem hum retavollo pintado e dourado, novo.
E junto da porta da samcristia estaa hum altar metido em hum arco da
parede e entramdo pela porta primçipall, à mam direita, estáa huma capela
d’aboboda da imvocação de Nossa Senhora da Comçeyção, e tem hum altaar
d’alvanaria e nelle hum retavollo pintado e dourado, de seis paynéis.
Sobre a porta primçipall estaa ho coro de madeyra, bem feyto, com a
frontaria lavrada, de madeyra, e a servintia pera elle he per huma escada de
pedrarya no corpo da Igreja e tem duas portas travessas de pedraria com suas
portas boas.
A samcristia he huma casa pequena com hum arco no meyo d’alvanaria
e huma janella que vay pera rua sem portas, com huma grade de fe
(fl. 136)
rro, e tem huns almareos muito roins e velhos, e hum lavatoreo descomçertado.
E tem hum sobrado na metade della que a faz escura e nos diserão que
noutro tempo servia este sobrado de dormirem os padres nelle, quando estavão
em tremtayro, e agora serve das despesas da Igreja.
Huma crux de prata, gramde, usada, que pesa assy como estaa com huma
forma de pao e no pee hum cano de metall, vynte marcos e meio ............. I crux
Hum turibullo de prata, bramco, já velho, com quatro cadeyas, que pesa
cimquo marcos, três omças, duas oytavas, com a caldeira que tinha dentro ....
........................................................................................................... I turibulloo
Hum caliz de prata sobredourado, com sua patana, lavrado de folhagem e
huma crux no pee, o quall estaa quebrado e pesa dous marcos ................ I caliz
Hum caliz de prata, bramco, gramde, com sua patana, que pesa dous
marcos, sete omças e meia ....................................................................... I caliz
Outro caliz de prata, dourado e velho, lavrado no pee e vaso de folhagem,
com sua patana, e no vaso tem hum letreyro e na marca huns esmaltes, que
pesa dous marcos, çimquo onças ............................................................ I caliz
Outro caliz de prata, branco, novo, com pee de perafuso, de romano com
sua patana, que pesa dous marcos e huma omça ..................................... I caliz
Outro caliz do mesmo teor e feyções que pesa dous marcos menos huma
231
omça ......................................................................................................... I caliz
Outro caliz pequeno de prata, velho e quebrado, com sua patana, que
pesa hum marco e tres omças .................................................................. I caliz
Outro caliz pequeno de prata, quebrado no pee, que servia de dar a
comunhão aos emfermos, com sua patana, que pesa hum marco e meio, com
estanho no pee........................................................................................ I caliz
(fl. 136v.)
Duas coroas de prata, huma gramde, outra pequena, que pesão çimquo
omças e duas oytavas .............................................................................. I calliz
Hum relyquayro de prata, dourado, com a Imagem de Nosa Senhora de
huma parte e, da outra, Santa Barbara, que pesa com a fita, meya omça
.......................................................................................................... I riliquayro
Seis campaynhas de prata, douradas, pequenas que forão de hum caliz, e ou-
tros pequenos, de prata, que pesão seis oytavas e meia ............. VI campaynhas
Ornamentos
232
(fl. 137)
Duas toalhas de framdes, velhas, do altar moor ............................ II toalhas
Outra toalha da Ímdia, que serve quando dão ho Santo Sacramento ......
................................................................................................................. I toalha
Tres myssaes velhos ................................................................. III myssaes
Hum baptistério ........................................................................ I baptistério
Hum domyngall e hum santorall e hum antifonayro ........................ II livros
Huma caldeira d’agoa bemta ......................................................... I caldeira
Huma bacia d’oferta ........................................................................... I bacia
Dous castiçaaes do altar moor, velhos e roins ........................... II castiçaaes
Alampada
Relyquias
233
Pia de baptizar
Campanayros
Cruçifixo
Sobre o arco do cruzeyro estaa hum respaldo de madeyra, com seu guarda
poo, em que estaa hum cruçifixo e huma imagem de Nosa Senhora e São João
tudo muito velho e não he pera servir.
Abyto
Achamos que nesta capella, que estaa entramdo pella porta prymçipall
a mão direita, a edificou hum Fernão Peres Camacho e sua molher, Costamça
Vaz, e a dotou com mill e trezentos reis de foro, os quaes se gastasem em
ornamentos e cousas da dita capella e o sobejo se gastase em myssas rezadas
pelas suas allmas, e achamos ora por admynistrador Francisco Camacho e pela
imformação que tomamos do prior e benefiçiados achamos que se cumpre
inteiramente com a obrigação da capella.
Capela da Resureição
No altar que estaa junto da porta da samcristia achamos que tem a imvo-
234
cação da Resureição e neste alltar estaa instituyda huma capella que instituyo
Catrina Vaaz, molher que foy de Francisco de Leyria, de que he admynistrador
e capelão António Vaz, clerigo do abyto de São Pedro, pertemçemdo-lhe a
admynystração por ser parente mais chegado da dita Catrina Vaaz. Tem por
obrigação meyo anno de myssas rezadas e ornar ho altar e a dita difunta
deyxou de propriedade as cousas segintes:
A metade de hum oulivall no contio da serra ................................. oulivall
A metade de humas casas que estão na corredoyra desta vylla que forão
de Francisco de Leyria ........................................................................... casas
Em Boliqueime quarenta e sete alqueyres e meio de triguo ..................
.................................................................................................. XLVII alqueyres
Em Gillvarzynho, quimze alqueyres de triguo e tres mill reis em dinheiro e
duas peças e meia de figo choucho ......... XV alqueires e meio, II peças e meia
Oytocentos reis nas casas da praça que estão junto da estalagem que tras
hum João Fernandez de Faro .......................................................... DXXX reis
Çem reis em São Frausto no monte de João Rodriguez ........... cento de reis
E mandamos ao dito António Vaz, admynistrador, que dentro em dous
annos cumpra com a obrigação que tem de ornar o dito altar comprando
caliz e vestimenta e hum myssall e hum frontall do teor da vestimenta e
todo ho mais que for neçesareo.
(fl. 138v.)
E achamos que o dito admynistrador cumpre com sua obrigação das myssas
e mandamos ao apontador da Igreja que aponte se se dizem estas myssas, pera
daqui por diante se saber se se dizem.
Achamos que foy instituyda esta capella por Gomçalo Memdez Caeyro
e mandou que se disesem myssa rezada cotidiana, pera quall dotou hum
moyo de triguo no moynho d’Alte e dozaseis alqueyres d’ azeite no oulivall
da Costa e dozasete peças de figuo e paça e dous mill reis em dinheiro e humas
casas em Farão.
E achamos por capelães desta capella Luís Domimges (sic.) vygayro e Jorge
Caeyro e achamos por admynistrador Antonyo Cordovill.
E por acharmos que tinha neçesidade esta capella de humas cortinas pera
cobrir o retavollo e toalhas pera o altar e galhetas e humas grades no arco da
capella mandamos que dos remdimentos da dita capella se comprem dentro
235
em dous annos que seraa este de sasenta e çimquo e sasenta e seis.
236
Capella de Nosa Senhora
Achamos nesta igreja estar hum gasiguo entramdo pela porta do soll a mão
direita, no quall gasiguo estaa situada huma obrigação de myssas que chamão
agora a capella de Paderna.
Emformando-nos da instituyção desta capella achamos per imformação
que foy instituyda por hum Amdre Martinz e Marianes, sua molher, que
estão enterrados no próprio gasiguo e deyxarão de obrigação certas myssas
rezadas e por a capella ser de muita remda os visitadores e provedores
obrigarão ao admynystrador dizer noventa myssas rezadas, as quaes achamos
que se cumpre e as propriedades desta capella são as segintes.
Hum moynho em Paderna, termo d’Albofeyra.
Humas terras de pão, também em Paderna.
Huma erdade nos Quartos, termo desta villa.
Duas courellas de terra na Costa, termo desta villa.
237
Noventa reis de foro em huma casa na rua de Jorge Neto.
Achamos ser admynistrador desta capella João Afonso cóneguo na See
de Syllves provido nella pello Bispo de Sillves por ser de sua provisão e
comfirmado per imposição de barrete.
238
cantada todallas primeiras sestas feiras do mês com sua çera.
(fl.140v.)
Vysitamos a dita irmyda a quall he toda de pedra e call, tem huma capella
d’aboboda e hum altar d’alvanaria e em çima a imagem de Santa Catrina, de
vullto.
Ho corpo da igreja tem hum arco pello meeyo, d’alvanaria, madeyrada de
castanho e emcanyçado e junto do arco do cruzeyro estão dous altares muito
pobres, sem ornamentos, e tem seu caliz e vestimenta que estaa em poder do
ermitão que vive junto da dita irmida.
Achamos que esta irmyda se repayra das esmollas dos fiéis de Deus e
tem seu mordomo que as recolhe e as gasta no que he neçesario e estaa bem
repayrada.
Irmyda de São Sebastião do reballde
239
samento no meyo, em que estaa a imagem de Nosa Senhora, e hum sacrayro
em bayxo, e da bamda do Evamgelho tem de novo a Sancristia de pedra e
call de telha vãa, de huma agoa, comveniente a esta igreja e o corpo della
estaa bem lageado, madeyrado de novo, de telha vãa.
Visitamos a pia de baptizar a quall estaa, entramdo pella porta primciipall,
a mão esquerda; a pia de pedra com sua tapadoura per çima çercada de
grades, sobre a pia estaa hum almareo de madeira em que estão os santos
óleos e por nom serem imda vimdos os santos oleos, nom os visitamos.
E por acharmos a pedra da pia quebrada mandamos que se faça outra de
novo.
Achamos por capelão a Jorge Caeyro, clériguo do abyto de São Pedro
provido na dita capella pelo bispo, com sua carta de cura e os fregeses lhe
paguão seu estipemdio e lhe dão, cada fregês, dous alqueyres de trigo e hum
de çevada e o pee d’altar he da matriz.
Ho dito capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses os domyngos e festas
do anno, de guarda e administrar-lhes os santos sacramentos.
Desta capella à igreja há huma legua e outra he São Sebastião de Salir
que he outra capela curada e no camynho haa dous ribeiros; alguns dos
fregeses têm antre sy e a capella alguns ribeiros.
Achamos que avia na fregisia sasenta até satenta fregeses espalhados per
montes e elles são obrigados à prata e ornamentos e comçerto da igreja e
pagar o capelão e neste custume estão e assy o fazem.
(fl. 141v.)
240
Dous frontaes de pano muito fino, hum delles com huma bamda de çetim
amarello no meyo ............................................................................ II frontaes
E as mais cousas meudas que há na dita igreja estão asentadas no livro da
igreja, em aventayro.
Achamos estar de tudo bem provida esta igreja e tem seu livro em que
asentão as esmollas que se faz à Igreja e vistas <as> contas achamos ter d’esmolla
pouco mais ou menos aquillo que se gasta nas cousas neçesarias na igreja.
Mandamos aos mordomos que ora são que, do dinheiro que carregou
sobre elles dos mordomos do anno pasado mandem fazer huma crux de pao,
dourada, e huma távoa com as palavras de sacra, ho que mandarão fazer e
porão no altar até o primeiro dia d’Agosto que vem e mandarão fazer huma
cayxa pera a crux forrada de couro.
241
Achamos por capelão Bartolomeu Neto, cleriguo do abyto de São Pedro e
tinha sua carta de cura do perlado e os fregeses lhe pagão seu estipemdio e lhe
daa, cada hum, hum alqueire e meio de triguo.
Desta capella à igreja matriz haa duas legoas e tem no camynho duas
ribeiras que muitas vezes impedem pasagem e, desta capella a Nosa Senhora
d’Alte, que he outra capella curada, há huma legoa e meia.
Nesta capella achamos que há çento e çimquoenta fregeses e são obry-
gados à fábrica, prata e ornamentos della e pagar ho estipemdio do capellão
e neste custume estão e assy o fazem.
Achamos aver nesta capella huma comfraria de Nosa Senhora situada no
alltar, da parte do Evamgelho, omde
(fl.142v.)
estaa a imagem de Nosa Senhora, de vulltoo, e das esmollas e comfrarias se diz
myssa aos sabados e festas de Nosa Senhora com sua çera, ao que soomente
abramgem as esmollas della.
242
(fl. 143)
243
pedra boa, tem hum almareo metido na parede, com suas partes e fechadura
em que estão os santos oleos. E os não visitamos por não estarem ao presente
aqui, por nom serem vimdos novos da matriz.
Emtramdo pella porta primçipall, à mão direita, estaa hum portall pera
huma torre que os fregeses fazem de novo pera os sinos, com hum caracoll
que he servintia pera ella; sobre a capella moor estaa huma campa em seu
campanayro. E no corpo da igreja, junto da porta da torre, estaa hum sino
bom pera se pôr nella.
Na capella moor, na parte do Evamgelho, estaa hum portall de pedraria
que vay pera a samcristia que he de pedra e call, madeyrada de castanho,
ripada junto e emboçada de call; e chove nella pera algumas partes e tem
neçesydade de mais luz.
Desta capella à igreja matriz haa tres legoas, tem duas ribeiras no camynho
e estaa huma legoa de Paderne, que he capella curada do termo d’Albofeyra,
e estaa duas legoas d’Albofeyra e duas legoas de São Bertolomeu de Silves
capella curada. E outras duas de Boliqueyme, que he outra capella curada
do termo de Loulee.
Achamos por capelão Francisco Memdez cleriguo do abyto de São Pedro,
serve a dita capella com carta do perlado e os fregeses lhe pagão
(fl. 144)
ho estipemdio e lhe dão cad´ano tres moyos e meyo de triguo torrado por
elles. E o pee do altar he da fabryca desta igreja, per provisão somente, que
aja gloria e bispo e cabydo.
O dito capelão he obrigado dizer myssa ao povo todolos (sic.) doomyngos
e festas do anno de guarda e todallas segumdas feiras do anno e sabados e
admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Esta capella estaa junto da aldeya que seraa de satenta vizinhos e em toda
a fregisia com a dita aldeya averaa duzentos fregeses.
Achamos que os fregeses são obrigados a fábrica, prata e ornamentos
della e pagar ho estipemdio do capelão e neste custume estão e assy o fazem.
244
Outro caliz de prata bramco com sua patana(sic.) usado .............. I caliz
Huma vestimenta de damasco, com savastro de viludo cramysim, usada,
de todo comprida ............................................................................ I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote alionado, com savastro de chamalote
amarello, usada, de todo comprida ............................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote preto com savastro de tupa, preto, usada ....
.......................................................................................................... I vestimenta
Hum frontall de damasco cramysim com bandas de viludo azull, novo .......
................................................................................................................. I frontal
(fl. 144v.)
Outro frontall de damasco emcarnado, usado .................................. I frontal
Outro frontall de fustão branco ........................................................ I frontal
Huma capa d’asperges de damasco cramysym com savastro de viludo
verde ........................................................................................................ I capa
Ha mais na dita igreja outras cousas meudas que tudo estaa em aventayro
no lyvro da igreja.
Achamos ha comfraria do Santo Sacramento com sua bulla e tinha os
ornamentos segintes.
Huma vestimenta de viludo cramysim, com savastro de viludo azull, vil,
franjada e toda comprida ............................................................... I vestimenta
Hum páleo de damasco cramysim, com huma crux pello meyo de damas-
quylho .................................................................................................... I paleo
Achamos que tinha esta igreja muitas propriedades com emcarreguo de
myssas e tudo carrega sobre a fábrica della porquanto pelos testamentos, ho
remaneçente he da fábrica da dita igreja e estaa tudo em seu aventayro em
livro de tombo e em boa arrecadação e achamos que tudo se cumpre.
Achamos aver nesta capella huma comfraria de Nosa Senhora; das mysas
do sabado e das esmollas e comfrarias dos comfrades se diz huma myssa
rezada todo-los sabados do anno, com sua çera, e achamos pasar a despesa pela
receita.
Haa mais na dita capella, huma Comfraria de Jhesus e das esmollas della
se diz huma myssa rezada a primeira sesta feira de todo-los meses do anno,
com sua çera. E achamos pasar a despesa pela receita por ser muito pobre.
(fl. 145)
E tomamos conta da fábrica da igreja e do remdimento della e achamos
245
os mordomos deverem à dita fábrica tres mill çento quarenta e oyto reis, os
quaes ficão em sua mão.
Detriminação
Por acharmos que os fregeses desta capella estão ora fazemdo huma torre
muito custosa pera os sinos, pera a quall hão mester muito dinheiro, nom
provemos em mais que nas cousas segintes.
Mandarão os mordomos fazer huma crux de pao dourada pera o altar moor
de largura de tres dedos.
Huma tavoa com as palavras de sacra.
Hum mysall romano de boa letra.
Achamos nesta igreja estarem em poder de Jorge Memdez de Sarreya
dez mill reis que deyxou João Correya, seu amo, à igreja, pera se fazer
huma custódia pera o Santo Sacramento nas procisões soblenes(sic.) ou pera
comprar huma terra pera igreja, com emcarguo de hum respomso cantado
pera sempre nos domyngos. E por aver nisto dúvida entre os mordomos e
o dito testamenteiro ordenamos, por nos pareçer bem com ho pareçer de
alguns dos mordomos, que estes dez mil réis se entregem aos mordomos do
Santo Sacramento, queremdo-se elles obrigar ao emcarreguo de mandarem
dizer o respomso, ficamdo-lhe a custódia à dita comfraria, por ser cousa
neçesaria pera admynistração do Santo Sacramento e, nom a queremdo açeytar
os mordomos e elygidos da igreja com a moor brevidade que for posivell
comprarão os ditos dez mill reis em foro que remda pera a igreja; e o dito
testamenteiro depositou hum jarro de prata pelos ditos dez mil réis, o quall
jarro de prata foy emtrege a Pedro Estevens, mordomo do Santo Sacramento,
e o dito testamenteiro lhe entregará os ditos dez mil reis daqui a hum mês;
e do dia que lhe for emtregue ficaraa a igreja obrigada mandar dizer o dito
respomso pela alma do dito dyfunto e o dito Jorge Memdez de Sarreya o
prometeo e o asinou.
(fl. 145v.)
246
tavoas a modo de retavolo e nellas pintado os martiryos de Cristo. Junto
do altar, da parte da Epistolla, estaa hum arquibanco a modo d’altar, bem
comcertado e nelle hum retavolo da Piedade.
Tem hum alpemdre quadrado, do tamanho da capella pouco mais ou
menos, emgalgado, e estaa descuberto, e nos foy dito pello mordomo Pedro
Alvarez que este Verão se há-de cobrir ou fazer d’abobada e nós lho louvamos
muito e emcomemdamos.
Achamos que averaa doze annos que foy esta irmyda edificada de novo
por Bertolomeu Fernandez, çerralheyro, a sua custa, e jaz nella enterrado,
e nas costas da dita irmyda estaa huma casa madeyrada de castanho, de telha
vãa, em que vive ho irmytão per nome Francisco da Payxão.
Nesta irmyda haa huma vestimenta muito velha que lhe derão os padres
do moesteiro. E tem hum caliz de prata que deyxou a molher do dito edificador
e vimos as contas do remdimento da dita irmyda.
Propriedades
Huma courella de terra com suas figueyras e huns pees d’ouliveiras que
amda arremdado em cada hum anno por çento e satenta reis ....... C LXX reis
E tem mais tres ouliveiras e hum mortoreo que foy vinha e nom remde ora
nada à dita irmyda.
Achamos que esta irmyda se repayra e comçerta pelos vyzinhos que
vivem junto della quando tem neçesidade e nós lho louvamos muito e emco-
memdamos e vimos seu lyvro e tudo he cousa pobre.
247
Irmyda de São Domingos
Visitamos a dita irmyda e tem huma capella, sobem ao altar por dous
degraos e nelle hum frontal velho e humas toalhas e em cima a imagem de
Santana, de vullto.
Ho corpo da igreja he de bom tamanho lageada, as paredes são de pedra
e call e está descuberto e o telhado derribado, e humas portas velhas, e o arco
do cruzeyro, femdido per partes, tem hum campanayro com sua campa.
Achamos que hum Álvaro Feliz edificou esta irmyda e lhe nam deixou
nenhuns bens, tem huma vestimenta de cetim azull e hum frontall que esta
em mão de António Cordovill.
248
altar por tres degraos forrados d’azulejos. O altar he d’alvenaria, forrado
d’azulejos, e nelle huma imagem de vullto de Nosa Senhora, muito devoto
e de tras, na parede, hum godomiçil de imagens ornado de retavollos.
Ho corpo da igreja he de bom tamanho; junto do arco do cruzeyro estão
dous altares. Ho da parte do Evamgelho tem hum retavollo pintado, velho, da
Naçemça de Christo e da adoração dos Reis; no altar, da bamda da Epistolla,
estaa huma imagem de vullto de São Lourenço e hum retavollo pequeno,
pintado, e nelle a imagem de Nosa Senhora e Santo António e outro retavolo
pequeno, d’Anunçiação estaa madeyrado e forrado muito bem; sobre o arco
do cruzeyro estaa hum devoto cruçifixo, de vullto, e Nosa Senhora de huma
bamda e São João do outro. Da banda do norte tem hum portall com suas
portas boas e da bamda do ponente estaa huma torre gramde de tres sobrados
com suas janellas, domde se vigião aos mouros. Em çima da torre estaa huma
campa boa. Servem-se pera esta torre por dentro da igreja.
Achamos que tem seu livro de receita e de despesa e mordomos e escrivão,
e lhe nom tomamos conta por estar ho livro em Farão domde vivem os ditos
armadores. E vimos os ornamentos e são os segintes.
Hum caliz de prata com sua patana, bom ........................................... I caliz
Huma coroa de prata sobredourada ................................................... I coroa
Huma vestimenta nova de seda da Imdia, marchetada com seu savastro de
catasoll de seda, roxo, de todo comprida ........................................ I vestimenta
Outra vestimenta de damasco azull com savastro de cetim cramysim, de
todo comprida .............................................................................. I vestimenta
Outra vestimenta de zergania, velha, de todo comprida ............................
......................................................................................................... I vestimenta
Hum frontall de borcadilho da Imdia, novo .................................... I frontal
Outro frontall de grãa vermelho, barrado de viludo verde ............. I frontal
Tres frontaes velhos que servem de lote .................................... III frontaes
Hum çeo de quortinas de rede, bom .................................................... I çeo
E as mais cousas meudas que haa na dita igreja estão em aventayro no livro
della, em mão dos mordomos.
(fl. 147v.)
Achamos per imformação que os mareantes e armadores têm cuydado
desta irmyda e elles a repayrão de tudo ho que há mester e tem azulejos pera
forrarem toda e nós lho louvamos muito e emcomemdamos.
249
Capella curada de São Sebastião de Bolyqueyme
250
Hum frontall de bom pano verde, com barras de viludo preto ........ I frontal
E as mais cousas meudas que haa na igreja estão em seu lyvro em aventayro.
Detrimynações
Comtia da fábrica
Achamos nom se pagarem a esta igreja da fábrica mais que doze mill réis,
estamdo nos apomtamentos que deu o bispo do Alguarve sobre as tayxas das
fábricas destas igrejas do Alguarve, vinte mill reis a São Clemente de Loulé,
matriz da dita villa.
E assy tem mais hum foro em Vascão de cento e dez reis ............... CX reis
E em Pero Jorge çem reis ..................................................................... C reis
Na corte dos Bargamções quinze alqueires de trigo e tres de çevada .......
.................................................................................. XV alqueires, II alqueires
Mantimento do Prior
251
Em dinheiro, quatro mill duzentos e trynta reis .scillicet. tres mill sete-
çentos e trynta reis do priorado e quinhentos da reção anexa. .............
............................................................................................. IVM CC XXX reis
E tem mais o dito prior, à custa do bispo e cabydo, outra meia ração que
he, em dinheiro quinhentos réis e em trigo trynta alqueires e em vinho vinte
e dous almudes ................................ VC reis, XXX alqueires, XXII almudes
fl. 149)
E tem mais o pee do altar a metade que ha outra ametade he do bispo e
cabydo de Sillves.
Mantimento do tisoureyro
Capella moor
252
dos seus bens e falecemdo sem filhos, fique a dita terça à fábrica da igreja.
(fl. 149v.)
Detriminações
Por que creça a devoção no povoo e folgem de fazer bem à igreja mandamos
ao prior della que em cada hum anno diga, dous domyngos, em sua estação, os
ornamentos e cousas que naquelle anno se derão à dita igreja, e quem as deu
emcomemdamdo que digão hum pater noster pello dito bem feytor.
Mandamos a Antonio Afomso Pousado, mordomo da fábrica desta igreja
que, dos quarenta mill noveçentos satenta e dous reis que tem em sua mão
da fábrica e dos seis mill reis que há-de arrecadar do comemdador, que tem
em sua mão, pera o quall lhe fica mandado noso e dos doze mill reis que
há-de arrecadar deste anno pelo São João que vem, que tudo faz em soma:
quarenta e oyto mill noveçentos satenta e dous réis mande fazer e faça as
cousas segintes.
Mandaraa fazer duas vestimentas de chamalote de cores, pera servirem de
cote, com humas estremas de franja de seda de cores, em lugar de savastro, de
todo compridas.
Hum frontall de chamalote vermelho, com suas barras de damasco verde e
sua çanefa de franja, das mesmas cores.
Hum pano de púlpito do proprio teor do frontal.
Huma capa e hum frontall e pano de pulpito pretos, pera as Coresmas, do
teor que for o pontificall que João Neto de Comtreiras se obrigou per seu
asynado daar a igreja, esta carregação que vem do figuo, per rezão da obrigação
que pera isso tinha.
Hum par de toalhas de Frandes pera altar moor.
Huns castiçaes dos altos pera o altar moor.
Meia duzia de galhetas da feyção nova.
(fl. 150)
Duas sobrepelyzes de pano de lynho pera dous moços ajudarem à myssa
do dia.
Meya duzeya de guardas de corporaes per pôr as hóstias em cima.
Meia duzea de fumdas pera os calizes.
Hum pano de canhamaço pera debayxo das toalhas do alltar moor e
tirarão o capacho que ora tem, porque além de não ser onesto, he perigoso
pera o caliz.
253
Meya duzeya de samginhos d’Olamda ou pano d’Aljazur.
Quatro mysaes manuaes, de boa letra.
Hum mysal gramde pera o altar moor.
Hum santorall e hum domyngall empressos pera ofiçiarem as myssas no coro.
Meia duzeya de toalhas de mãos pera os altares.
Humas reedes de verga d’arame grosa nos espelhos do cruzeyro e coro, pello
imcoveniente das curujas.
Tres tavoas com as palavras da sacra.
Hum cruçifixo de vullto da grandura do velho pera o cruzeyro sem as
imagens que dantes tinha.
Hum almareo no circuyto das grades da pia forrado com suas portas e fecha-
dura em que estarão os santos oleos.
Mandaraa fazer humas portas na genella <da> samcrystia.
Mandaraa comçertar ho lavatoreo da samcristia e duas toalhas pera limpar
as mãos.
(fl. 150v.)
Huma estante pera dous lyvros pera cantarem no coro.
Hum escabello pera os ministros se asentarem à myssa do dia.
Mandamos ao dito prior que estas cousas ponha na igreja e compre per
todo este anno de sasenta e çimquo, sob pena de vinte cruzados a metade
pera a fábrica da igreja outra metade pera os cativos e meyrinho da visitação.
E as mais cousas que são neçesarias à dita igreja não provemos nisso pello
dinheiro da fábrica não bramger a mais e o levamos per apontamento pera Sua
Alteza prover como for serviço de noso senhor e seu.
Obrigação do povoo
Por acharmos que ho povoo tem obrigação à prata desta igreja, e a tem
em seu poder, e estar ora quebrado ho trybullo mandamos que o mandem
comçertar por ser neçesareo pera o culto divino.
E mandarão fazer dos dous caliz pequenos, velhos e quebrados, hum bom
e grande, e comçertar ho pee do caliz dourado que está quebrado.
E assy mandarão cayar as paredes de dentro do corpo da igreja e comçertar
o lageamento do corpo da igreja por estar muito mall tratado.
254
Prior da fábrica
Mandamos ao prior da fábrica que arreende seis mill reis que o comem-
dador tem em sua mão da dita fábrica, comforme ao mandado que pera isso
lhe fica, o quall lhe daraa o prior e delle cobraraa conheçimento.
(fl. 151)
Tombo da igreja
Aos benefiçiados
Sobre os dízimos
255
assy da parte da mysericordia como tambem por parte d’outras pesoas pobres,
os vão acompanhar, por dar bom exemplo de suas pessoas, sob pena de
serem por isto castigados e repremdidos, visto tambem como ho bispo lho tem
mandado per sua provisão, a quall nesta parte avemos por bem que se cumpra
nos benefiçiados da Ordem, sob as penas nelle conteudas, e o mesmo lhe
emcomemdamos muito que fação na proçisão das emdoenças por sermos
imformados que o nom fazem, o que lhe he muito estranhado diante de Deus
e do povoo.
Por acharmos que ha deferemças nesta igreja sobre o pagar das sepulturas
e sobre o lagear dellas, ordenamos e mandamos ao prior que não deyxe
abrir nenhuma sepultura sem primeiro a pagarem ou penhor d’ouro ou prata,
sob pena de ho pagar de sua casa, e o dito penhor d’ouro ou prata seraa
tambem pera o lageamento della.
Por acharmos que Maria d’Amdrade, difunta, deyxou huma verba em
seu testamento em que mandou que ha enterrasem na capella moor, na
sepultura de sua irmãa, e deyxou por isso mill reis pera fábrica da igreja, os
quaes achamos nom serem imda pagos, mandamos ao prior da fábrica que
requeyra ao visitador que lhe mande pagar os ditos mill reis pera a fábrica
da dita igreja, por lhe pertemçerem.
(fl. 152)
Por acharmos que nesta igreja não haa arca pera as visitações omde
estejão com os trellados das capellas, ordenamos e mandamos que esta
visitação e as mais que ao diante ouver estejão na arca que haa na igreja do
cartoiro, fechada com tres chaves, as quaes teraa o prior huma e o benefiçiado
mais velho outra da Ordem, e o do bispo outra.
E mandamos ao prior e a quem tiver as outras chaves que a quallquer pessoa
que comprir aver o trelado d’alguns capytollos desta visitação, lhos dêm.
E mandamos ao prior que mande às capellas curadas anexas à sua igreja os
treslados das visitações que ora nellas fizemos e as entregaraa a cada capelão das
ditas capellas com conhecimento de como lhos emtreguou, ho que faraa sob pena
d’obediençia e com pena de quynhentos réis, a metade pera os cativos e outra
metade pera o meyrinho da visitação.
256
E por que venha à notiçia de todos ho conteudo desta nosa visitação mandamos
ao prior da igreja, ou quem seu cargo tiver, que tanto que lhe for dada, loguo o
primeiro domynguo a começa de pobricar lemdo-a pausadamente, de modo que
todos ho entemdão, e poraa nella çertidão do dia que a acabou de pobricar pera se
saber, e acabada assy de pubricar a meteraa na arca como fica dito, na quall
visitação asistio e visitou comnosco juntamente por parte do bispo e cabydo do
Alguarve, o doctor Dioguo Lopes coneguo na See de Sillves, comforme a
composição feyta sobryso antre a Ordem e o dito bispo do Algarve, e no primçipio
desta visitação se não continuou com elle por esquecimento, a quall vay asynada
por todos. Felype Rodrigues, escrivão da visitação, por el-Rey noso senhor que
ho escrivy aos dezanove dias do mes de mayo de mill e quinhentos sasenta e
çimquo annos.
Doutor Diogo Lopez
João Fernandez Barregão, prior
Álvaro de Menezes, comendador
Dom Pedro de Meneses, fidalguo da casa d’el- rey nosso senhor, comemdador
das comemdas da villa de Caçella e da igreja do Salvador da villa de Santarem e
Treze, e João Fernandez Barregão, prior da igreja de Nossa Senhora do Castello
da villa d’Alcaçere do Sall, visitadores do mestrado de Santiaguo nesta comarca
do Algarve e alguns lugares do campo d’Ourique, eleytos em capitollo gerall que
se çelebrou na çidade de Lisboa, fazemos saber que per virtude do regimento que
trazemos de Sua Alteza e do dicto capitollo, visitamos a igreja de Nossa Senhora
d’Allva, matriz da villa d’Aljazur.
Aos XXV dias do mês de Mayo de mill e quinhentos sasenta e çimquo
annos chegamos à dicta villa; feyta oração na dicta igreja mandamos
pregar na porta della a carta e mandado nosso, pera os foreyros que trazem
propriedades da Ordem mostrarem seus titollos.
Ao segumdo dia fomos à igreja e vestido o prior em sua sobrepeliz, e
muita gente do povo presente, ouvimos myssa e, acabado, entramos a capitollo
e fizemos vénia ao dicto prior soomente.
257
Comemdador
Prior
Juiz e vereadores
Pregão
258
(fl. 155)
Visitação da igreja
Vysitamos a dicta igreja a quall estaa em hum allto, junto da villa; sobem ao
tavoleiro da porta primçipall por sete degraos, ho corpo da igreja he de huma soo
nave, as paredes são de pedra e call, madeyrada de castanho, de duas ágoas, e de
telha vãa, e estaa muito desbaratado <no> lageamento.
Ho arco do cruzeyro he de pedraria antiguo e nelle humas grades pequenas de
castanho; sobem ao altar mor por dous degraos, he d’alvenaria e nelle hum retavollo
de três paynéis pintado e dourado per partes, novo e bom; no do meyo estaa
pintado Nossa Senhora da Piedade e nos outros Santiaguo, e Santo António; a
capella d’abóboda de huma soo chave, junto do arco do cruzeyro estão dous
altares pequenos ambos da imvocação de Nossa Senhora, e as imagens são de
vullto metidas em huns emcasamentos na parede, forradas de madeira, pintados a
modo de retavollos, ho da parte da Epístolla he novo, pintado e dourado per
partes e o mesmo a imagem de Nossa Senhora, he nova e dourada, com seu
mynino Jhesus no collo; no corpo da Igreja estão dous tavoleiros, hum gramde da
myssa e outro pequeno, da comfraria do Santo Sacramento.
Vysitamos a casa da samcristia, a quall he huma casa de pedra e call por
guarneçer, madeyrada de huma soo ágoa, e forrada de cortiça, mall telhada, nella
estaa huma távoa velha em que se revestem os padres, e os ornamentos não estão
na samcristia por estar despovoada e estão com a prata da igreja em casa de hum
mordomo feyto pela câmara.
Huma crux pequena de prata com seu cruçifixo e troços de três, que deu
dona Isabell de Memdanha ..................................................................... I crux
(fl. 156)
Huma vestimenta nova de usteda preta com savastro de tripe, de todo
comprida ....................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho verde com savastro de viludo roxo, de
todo comprida............................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de pano preto, usada, comprida .................... I vestimenta
Seis toalhas e mantens, velhos ..................................................... VI toalhas
Hum frontall de damasco branco com huma franja, usado .......... I frontall
Dous frontaes de pano da Imdia pintados ................................... II frontaes
259
Hum sobreçeo de quortinas de seda da Imdia com çimquo corrediças que
servem no alltar-moor ................................................................................ I çeo
Hum sobreçeo de quortinas de pano da Imdia ...................................... I çeo
E as mais meudezas que haa na dicta igreja estão em aventayro, em mão
do mordomo feyto pella câmara.
Achamos que nesta igreja não haa fábrica nenhuma, estamdo na compo-
sição que se fez entre a Ordem e o bispo do Alguarve dez mill reis de fábrica
a esta igreja.
E achamos que o povoo tem feyto hum prior de fábrica que reçebe o
dinheiro das sepulturas e penitemçias e lhe foy tomado conta por nós e
achamos ser Estevão Pirez, mordomo, e fica lyquido, em sua mão, seis mill
trezentos quarenta e seis réis, os quaes gastaraa no que lhe fôr mandado
per visitação ....................................................................... VIMIIICRVI réis
Cruçifixo
Abyto
260
(fl. 157v.)
Comfraria do Nome de Jhesus
Gado
VIII bois tocados, que estão alugados em doze alqueyres de triguo cada
hum ................................................................................................... VIII bois
(fl. 158)
XIIII rezes de ferrolhos, seis vacas, quatro <...>llas e hum arall e três
ovelhas ............................................................................................. XIIII rezes
E tem algumas cabras que estão espalhadas pellas casas das pessoas que
as derão.
261
vivos e defuntos com sua çera, e tomamos conta a Alvaro Preto, casado,
mordomo da dicta comfraria.
262
(fl. 159)
Detriminação do espritall
263
ora seu mordomo, que pede esmolla pelo povoo, e lhe foy tomado conta e
achamos que tem em seu poder mill e quatroçentos reis.
E mandamos a Domyngos Luís, mordomo que ora foy feyto por nós,
que dos mill e quatroçentos reis que ficão em seu poder e das esmollas que
tiraram este anno pellas eyras, mande comçertar o portall, e a parede delle,
que estaa pera cair, e hum cunhall da bamda da estrada, e a casa toda
ripada e telhada, e humas portas novas com sua fechadura e huma imagem
nova, de vullto.
264
(fl. 160v.)
265
Huma custodia de prata sobredourada, d’obra romana, nova e bem
obrada, com suas vydraças ............................................................... I custódia
Duas vestimentas, huma de damasco bramco e outra de chamalote
cramysim, ambas compridas, usadas ........................................ II vestimentas
Outra vestimenta de chamalote preto, usada ............................. I vestimenta
Tres frontaes, hum de chamalote e dous de godomiçis ............ III frontaes
Por acharmos que os fregeses desta capella a têm muito comçertada como
cumpre, nós lhe emcomemdamos muito que, depois que acreçentarem a
igreja como têm detriminado, fação huma capella pera pya de baptizar e
mandarão ladrilhar ou lagear a igreja, e mandarão pôr hum cruçifixo de
vullto no cruzeyro, por ser neçessareo.
(fl. 161v.)
Comtia da fábrica
Achamos que não tem esta igreja ordenado nenhum de fábrica pera suas
despesas, estamdo na composição que se fez antre a Ordem e o bispo do
Alguarve, dez mill reis, os quaes se não pagarão até ora semdo-lhe muito
neçesareo.
E achamos que as despesas meudas da igreja, de cad’ano se gastão, e
fazem à custa do dinheiro da fábrica, das covas e das deçiprinas, que tudo he
muito pouco.
Mantimento do prior
266
D’ordenado da tisouraria, quinhentos reis ......................................... D reis
Pera mandar catar os santos óleos, duzentos réis ............................ CC réis
Ho pee d’altar todo he do prior.
(fl. 162)
Remdimento da Comemda
Achamos que remde esta comemda, huns annos por outros, duzentos e
çimquoenta mill réis .................................................................. CC L mil réis
Casas da Ordem
Castello
Visitamos o castello desta villa, o quall estaa todo desbaratado, sem viver
nimgem nelle, e achamos ser o comemdador, alcayde moor, pello qual
mandamos ao dicto Álvaro Periz, mordomo do comemdador, que elle
notefique ao dicto comemdador que, dentro em seis meses, faça delle
menajem a Sua Alteza, comforme o noso regimento, o que faraa, com
pena de vinte cruzados pera o comvento e foy-lhe
(fl. 162v.)
feyto nova entrega, comforme ao das casas.
Foros da Ordem
267
todollos aforamentos, novos e velhos, e propriedades e regemgos da Ordem,
o quall lyvro fica entregue a Mateus do Valle, tabelião desta villa, pera que
depois de treladadas torne o lyvro à mão do feytor do comemdador dentro
em dous meses primeiros segintes.
E por que alguns foreyros não mostraram seus titollos no tempo que lhe
foy mandado, nem acharmos quem os aforase, mandamos ao dicto Alvaro
Pirez, mordomo, que as tais propiedades tirase do tombo e fizese diligemçia
pera que se podesem aforar a quem as quisese e isto compriraa até todo
mês de Julho, com pena de çimquo cruzados pera os cativos e meyrinho da
visitação.
Detrimynações geraes
Por que creça a devoção no povo e folgem de fazer bem a igreja mandamos
ao prior della que em cada hum anno digo, dous domyngos, os ornamentos e
cousas que naquelle anno se derão à igreja e quem os deu emcomemdamdo
que digão hum pater noster pelo dicto bemfeytor da igreja.
Mandamos ao prior que faça hum livro de tombo em que escreva todas as
myssas e adniversayros que a dicta igreja tem de difuntos e das mais que ao
diante ouver e se escrevão mais as propiedades, foros e capellas que nesta
igreja ouver de que os rendimentos pertençem a elle, dicto prior, o que
compriraa com pena de quinhentos reis pera os cativos e meyrinho da
visitação.
268
Sobre o rezar das oras
269
Pititoreos (sic.)
Por acharmos que nesta igreja não haa ordenado de fábrica à custa da
comemda e Sua Alteza mandar em nosso regimento que omde a nom ouver
mandemos gastar à custa do comemdador nas cousas neçesarias pera o
serviço da igreja e culto devyno mandamos Afomso Periz que ora he mordomo
do comemdador que a custa das remdas desta comemda mande comprar e
fazer as cousas segintes.
Primeiramente mandaraa comprar huma vestimenta de chamalote preto
com suas barrinhas de viludo preto em lugar de savastros de todo comprida,
com seu frontall, capa d’asperges e pano de púlpito, tudo de hum teor e com
suas franjas pera os domyngos da Coresma.
Outro panno de púlpito de chamalote de coor, com barras de veludo pera
as festas, por nom ter a igreja nenhum.
Duas pedras d’aras, huma pequena pera o sacrayro e outra pera hum dos
altares.
Duas toalhas de Frandes pera os altares e dous pera as mãos.
Quatro guardas pera os corporaes e quatro sanginhos pera os <...>.
Duas peles de godomiçis pera debayxo dos castiçaes do alltar moor.
Dous castiçaes gramdes dos que se ora custumão pera o altar moor.
Dous mysaes manuaes romanos.
Huma tavoa com as palavras de sacra.
270
(fl. 165)
Dous pares de galhetas da feyção que se ora custumão por, que as que tem
não são pera servir.
Hum pasionario pera se dizerem por elle as payxões e ofíçios das emdoemças.
Huns panos pretos pera os tres altares pera a Coresma, de canhamaço, tinto.
Huma estante pera o altar moor.
Hum pano de canhamaço pera estar no alltar debayxo das toalhas.
Mandaraa cobrir ho altar moor de tavoado por ser muito umedo e bayxo.
Huma caldeira d’agoa benta apartada da que ora tem por nom ser pera
servir e seraa dos que se ora custumão.
Estas cousas açima dictas mandamos o dicto Afonso Periz, mordomo do
comemdador, que as mande fazer e pôr na igreja à custa das remdas da
comemda sob pena de dez cruzados, a metade pera a fábrica da igreja e
outra metade pera os cativos e meirinho da visitação, o que tudo compriraa
sob a dicta pena, dentro neste anno de sasenta e çimquo.
E mandamos aos juizes desta villa que, não comprimdo o dicto mordomo
as cousas açima dictas no tempo, que elles o fa
(fl. 165v.)
rão comprir fazemdo ho resto na remda e o mais que for neçesareo.
271
Comfraria do Santo Sacramento
272
cruçifixo e poderaa gastar nella do dinheiro de Nosa Senhora até quimze
ou vinte cruzados pera a prata ou feytio.
Estas cousas açima lhe emcomemdamos muito que faça pera a dicta igreja
por lhe serem muito neçessareas.
Mandamos a Pero Vaz, mordomo do dicto Espritall que, dos dezasete mill
oytoçentos e dez réis que estão em sua mão, da dicta casa, mande forrar de
novo e madeyrar omde for neçesareo à dicta casa e comçertar o telhado e a
pymçellar toda por dentro, o que compriraa dentro em quatro meses que
começarão da pobricação desta em diante, porquanto fica o dinheiro em
sua mão, sob pena de dez cruzados, a metade pera a fábrica da igreja e
outra metade pera os cativos e meirinho da vysitação.
Sobre as Comfrarias
273
e vereadores <...> e ao diante forem que não deyxem imagens a humas
pesoas de mordomos das dictas comfrarias, scillicet, a de Nosa Senhora
d’Alva e a do Santíssimo Espritall, mais que dous annos e no cabo delles
lhe tomarão conta com entrega pera se emtregar ao que novamente fizerem,
e avemdo dinheiro que pase de dez cruzados se meteraa em huma arca
de tres chaves, as quaes teraa o prior huma e o mordomo outra e o vereador
<...> lho a outra, por acharmos que as taes Comfrarias por terem fazemda
e remdimento amdão em huma pessoa muitos annos, e isto comprirão os
dictos juízes e vereadores sob pena de mill réis a cada hum, a metade pera
os cativos, outra metade pera o meyrinho da visitação.
Sobre os adnyversayros
(5)
O documento arquivado na Torre do Tombo, Ordem de Santiago, Livro 230, Rolo 44,
termina assim os seus fólios, indiciando a continuação do registo da Visitação em outros
documentos que não estão neste Livro 230, os quais, até à data, não encontrámos.
274
CONCLUSÃO
(6)
Vide “Testamentos de difuntos” (fls. 113v e 114) da Visitação às Igrejas do Concelho de
Faro, nesta obra.
275
obrigações dos beneficiados, tesoureiros, priores e povo, normas de actuação
sobre enterramentos, dízimos, registos e preservação dos livros das visitações
das igrejas que deveriam ficar bem guardados em arcas.
Ficava determinado que o prior da matriz, após terminada a cópia da
visitação, a lesse a partir do domingo seguinte ao fim da visita, “(…) lendo-a
pausadamente, de maneira que todos o posão entender e asentaraa nas
costas della o dia em que acabou de pubricar (…)”7.
Nas visitações de 1565, para além das informações fundamentais para
a história do património algarvio, chama-nos a atenção a profusão de dados
relativos ao nome e tipo de tecidos dos quais se faziam vestimentas, toalhas,
panos, frontais, capas, pálios, dalmáticas, pontificais. As tabelas que apre-
sentamos no final destas linhas8, mostram-nos que, de todos os tecidos que
ficaram registados nas Visitações como ornamentos das igrejas dos concelhos
de Faro, Loulé e Aljezur, destacam-se o chamalote, a seda, o damasco, o
cetim, o veludo, as toalhas, o tafetá, o bocaxim, o damasquilho, o pano, os
sanguinhos e os borcadilhos. Segue-se o registo de outros tecidos de menor
importância, no que respeita à qualidade e utilização, por vezes, para
pequenos complementos ou decorações – o godomicil, o tripe, o retrós, o
pano, o pano de canhamaço, o escarlatim, o linho, a usteda, a sarja, a hor-
ganza, o lambel, a tupa, o fustão, a zergania, a grã, o borcado, a ustedilha.
As igrejas dos concelhos de Faro, Loulé e Aljezur, de acordo com estas
visitações de 1565, possuíam uma considerável riqueza em vestimentas,
frontais, suvastros, toalhas, panos e outras manufacturas de tecidos finos
e de qualidade, originários, na maioria, de além mar. O chamalote, feito
a partir do pêlo de camelo, constituía um tecido forte, macio e quente,
com o qual se executavam vestimentas, capas, capas de aspergir que se
usavam por cima das vestes sagradas, suvastros – tira que simultaneamente
decorava a vestimenta e protegia do frio. Do chamalote não se produzia
apenas o vestuário. Faziam-se frontais, panos de púlpito, dalmáticas. A seda
tem papel de destaque. O curioso percurso da manufactura da seda, desde
os artesãos árabes, passando pelos venezianos, florentinos e milaneses,
chegando até aos povos da Península Ibérica, especialmente ao sul, onde se
aprimorou a produção do tecido, através da cultura dos bichos da seda e
das amoreiras. Em Loulé, a antiga Horta D’el-Rei teve os seus terrenos
plantados com aquela árvore, essencial à alimentação das lagartas. Os séculos
(7)
Vide fl. 133 da Visitação às Igrejas do Concelho de Faro, nesta obra.
(8)
Vide tabelas no final deste capítulo.
276
XV, XVI e XVII foram tempos de grande produção de seda na Península
Ibérica, não esquecendo porém, que o tecido já circulava neste território
provavelmente desde a presença dos Godos. Diz o padre Rafael Bluteau,
nos finais do século XVIII9: “(…) É uma mecânica sem a qual não poderia
trajar a nobreza, nem com mil castas de paramentos luzir a igreja (…)”. É de
facto o que verificamos com as vestimentas, frontais, cortinas, barras,
suvastros e extremas de franjas, todos de diversas cores, a não ser uma
vestimenta roxa. De notar que, apesar de se produzir o tecido na região
algarvia, alguns tecidos vinham da Índia, pormenor que o visitador fez
questão de notar cinco vezes para estabelecer a diferença em relação aos
outros tecidos de seda da região.
O damasco, tecido originário da cidade que lhe deu o nome, foi conhe-
cido na Europa pela mão dos genoveses. Feito a partir do linho, algodão
ou lã, imita a seda, mas distingue-se pelo brilho dos lavores em fundo
fôsco. A sua cor predominante é o carmesim, mas também pode aparecer
o branco, o azul, o encarnado, o amarelo e o verde. Os produtos manu-
facturados que predominam são as vestimentas, os pontificais, os frontais.
Seriam, decerto, tecidos importados, na maioria, do Oriente, garantia de uma
qualidade que as manufacturas europeias não atingiam.
O cetim, tecido que também imita seda e se reconhece pela lustrosidade
e brilho, constituía a maior parte do grupo de vestimentas e suvastros dos
registos das Visitações. Teria sido um produto importado, mas sobre o qual
conseguimos rara informação. Curiosa a menção “cetim falso”, relativamente
a outros ornamentos, e a aplicação do cetim para forrar cofres e sacrários.
O veludo, manufacturado a partir da seda ou do algodão, tem aspecto liso
de um lado e com pêlos finos e muito juntos do outro, sendo a sua base uma
teia de fios bem apertados. Embora nos registos das “Visitações” não apareça
a indicação da sua origem, seria essencialmente um produto de importação.
Relativamente às “toalhas”, que se confundem entre o produto e o tecido
de que são feitas, são panos de linho ou algodão, os quais seriam raros visto
o “visitador” ter apontado as suas origens: Índia e Flandres.
Das cores anotadas relativamente aos tecidos, predominam o preto, o
carmesim, o azul e o branco, o encarnado, o verde, o amarelo, o roxo.
As duas primeiras adaptadas à interiorização, padecimento e serenidade
religiosas. O azul e o branco significando a libertação e pureza celestiais.
(9)
In, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 28, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.
277
As três últimas cores servindo como decoração e realce das cores de base.
A quantidade de tecidos registados indiciam um circuito comercial,
ao qual os eclesiásticos e fregueses prestaram a atenção necessária para
adquirirem produtos belos, valiosos e de qualidade, para manifestarem a
fé e enriquecerem o património das igrejas e da Ordem. Quando não eram
os eclesiásticos a comprar os ornamentos, de acordo com as normas ema-
nadas em cada visitação, com os dízimos dos fregueses, eram os próprios
crentes que, como forma de manifestar a sua Fé ou de agradecer promessas,
ofereciam os tecidos mais finos que podiam adquirir ao santo ou capela que
adoravam. Temos os exemplos do administrador da capela de St.º António da
igreja matriz de S. Clemente, de Loulé, que se encontrava na Índia em 1565,
de onde traria, decerto, tecidos finos para a sua capela; e de Ruy Barreto
Mascarenhas que explicou, em testamento, que se reconstruísse a ermida
de S. Lourenço de Almancil, do concelho de Loulé, e deixou uma vestimenta
de seda da Índia, um cálice e galhetas de prata10.
As igrejas que nos parecem mais ricas, não só pelo material reunido,
como pela especificidade dos ornamentos apresentados, são as igrejas
matriz de Loulé e Faro, e com algum significado, a capela de Farrobilhas
de Armação, do concelho de Loulé, que desapareceu em 1596, quando se
verificou a invasão inglesa. Destruídos a povoação, o porto e a igreja, os
ingleses passaram a Faro. Pela descrição da visita, a igreja seria um edifício
bastante rico em azulejaria e ornamentos. Os pescadores11 da costa que actual-
mente corresponde à zona entre as praias da Quinta do Lago e do Ancão,
construíram num planalto o seu espaço de devoção, de pedra e cal, enquanto
mantinham as suas casas, barracas de colmo, à volta da igreja12. Actualmente,
ainda se consegue recolher cacos de azulejaria verde, azul e branca, que
comprovam a antiguidade e valor da construção que em tempos ali existiu, ao
(10)
Vide fólios 138v. e 146v., da “visitação” ao concelho de Loulé.
(11)
Maioritariamente do concelho de Loulé.
(12)
Ataíde Oliveira apresenta, na Monografia do Concelho de Loulé, 3ª ed., Algarve em
Foco Editora, Faro, 1989, excertos da “visitação” de 1565 respeitantes ao concelho
de Loulé e, sobre a igreja de N.ª S.ª de Farrobilhas diz que fôra erguida pelos moradores
de Loulé, com uma torre para defesa do porto, assim como a povoação e o próprio
porto. Em finais do século XV, as Cortes do rei D. João II ouviram representantes de
Loulé explicarem que ergueram a povoação de Farrobilhas, e sua igreja havia cerca
de vinte anos num local junto ao mar, onde a pescaria era rica e os pescadores eram
obrigados a vender o peixe na vila de Loulé ou a quem para lá se dirigisse a vender
mantimentos.
278
mesmo tempo que nos fazem questionar a versão do fogo posto.
Outros aspectos poderão ser analisados com mais pormenor relativamente
à informação que as Visitações fornecem. Destacámos os ornamentos, espe-
cialmente os tecidos. Poderíamos avançar para os ornamentos de ouro e prata,
os livros, os painéis e retábulos, a arquitectura, os aspectos sociais e econó-
micos que transparecem. Deixamos todas as outras análises ao critério e res-
ponsabilidade de quem vier a utilizar estas transcrições para os seus trabalhos.
ANEXO TABELAS
(13)
Número de vezes em que a palavra aparece no texto.
(14)
Sem indicação.
(15)
Mais do que uma cor.
(16)
Sem cor.
(17)
Capas de vestuário e de tumba.
279
Tecidos Origem Cor Produto Tecidos/
manufacturado Páginas
Cetim (14) S/ind. (14) S/cor (6); Vestimenta (4); 32; 91; 93;
Preto (3); Suvastro (3); 99; 119; 121
Amarelo (2); Banda (1);
Azul (1); Cofre forrado (1);
Branco (1); Cruz (1);
Verde (1); Cortinas (1);
Entretela (1);
Franjas e barras (1);
Sacrário forrado (1);
Veludo (13) S/ind. (13) Carmesim (4); Suvastro (6); 58; 91; 105;
Verde (3); Barras (2); 150; 160
Azul (2); Vestimenta (2);
Preto (2); Bandas (1);
Pardo (1); Dalmáticas (1);
Roxo (1); Cofre forrado (1);
Toalhas18 (12) Índia (8); S/cor (12); Toalhas da Índia (8); 33; 35;53; 92;
Flandres (4); Toalhas da Flandres (4); 9 7 ; 9 8 ; 1 0 0 ;
116; 117;118;
119; 128; 129;
130;141; 160;
161; 164
Tafetá (9) S/ind. (9) Carmesim (3) Frontal (2) 40; 53; 58;
Amarelo (1) Suvastro (2) 64; 65; 91
Azul (1) Vestimenta (2)
Branco (1) Barras (1); Barrado (1)
Preto (1) Vestido (1)
Roxo (1)
S/cor (1)
Pano (8) Índia (5) S/cor (6) Frontal (6) 32; 35; 54;
Aljezur (1) Preto (1) Pano19 (1) 70; 71; 76;
S/ind. (2) Verde (1) Vestimenta (1) 106; 118;
124; 128;
129; 141;
160; 161
(18)
As toalhas, além de serem o objecto de utilização prática e decorativa, eram identificadas
também como um determinado tipo de tecido próprio para a utilização que lhe era dada.
(19)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.
280
Tecidos Origem Cor Produto Tecidos/
manufacturado Páginas
Bocaxim (7) S/ind. (7) Damasco (1) Frontal (6) 35; 65; 92;
Preto (1) Vestimenta (1) 118
S/cor (5)
Damasquilho (6) Índia (4) S/cor (2) Vestimenta (5) 34; 39; 50;
S/ind. (2) Verde (2) Frontal (1) 58; 70; 141
Azul (1)
Branco (1)
Borcadilho (5) Índia (2) S/cor (5) Frontal (2) 40; 50; 121;
S/ind. (3) Savastro (2) 143; 145; 164
Bandas (1)
Sanguinhos20 (5) S/ind. (4) S/cor (5) Sanguinhos (5) 160; 129
Holanda (1)
Godomicil (4) S/ind. (4) S/cor (4) Frontal (2) 32; 210
Peles (2)
Retrós (3) S/ind. (3) S/cor (3) Franjas (3) 58; 65; 98
Tripe (3) S/ind. (3) Preto (1) Suvastro (2) 35; 65; 140
S/cor (1) Corrediças (1)
Vermelho (1) Cruz (1)
Escarlatim (2) S/ind. (2) Vermelho (1) Frontal (2) 32; 35
S/cor (1)
Linho (2) S/ind. (2) S/cor (2) Sobrepeliz (1) 118; 129
Vestimenta (1)
Usteda (2) S/ind. (2) Preta (2) Vestimenta (2) 47; 140
Pano de S/ind. (2) S/cor (2) Panos de canhamaço21(2) 129; 161
canhamaço (2)
Borcado (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 91
Fustão (1) S/ind. (1) Branco (1) Frontal (1) 113
Grã (1) S/ind. (1) Vermelho (1) Frontal (1) 121
Horganza (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 103
Lambel (1) S/ind. (1) S/cor (1) Frontal (1) 109
Sarja (1) S/ind. (1) Vermelha (1) Corrediças (1) 58
Tupa (1) S/ind. (1) S/cor (1) Suvastro (1) 113
Ustedilha (1) S/ind. (1) S/cor (1) S/cor (1) 91
Zergania (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 121
(20)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.
(21)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.
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FONTES E BIBLIOGRAFIA
FONTES
BIBLIOGRAFIA
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