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VISITAÇÃO DAS IGREJAS DOS CONCELHOS

DE FARO, LOULÉ E ALJEZUR PERTENCENTES À


ORDEM DE SANT’IAGO, 1565

Luísa Fernanda Guerreiro Martins (*)


Padre João Coelho Cabanita (**)

NOTA DE ABERTURA

Na sequência das nossas publicações das Visitações da Ordem de S. Tiago


ao concelho de Loulé de 1518 e 1534 divulgamos, nesta edição, visitações
desta Ordem aos concelhos de Faro, Loulé e Aljezur, relativas a 1565. Esta
obra, que julgamos ainda não ter sido publicada na íntegra, é de muito
interesse para o país e sobretudo para a nossa região, pois trata-se das
visitações a três concelhos do Algarve, com interesse sob o ponto de vista
religioso, arquitectónico e artístico, onde os curiosos destes temas podem
encontrar informações sobre a vida religiosa vivida no Algarve já na segunda
metade do século XVI, quando só se pensava no comércio e nas viagens
para as terras de “além-mar”, pois o Algarve era dos principais focos de
comércio do nosso país durante o século XVI.
Pela leitura desta obra, podemos avaliar as modificações ocorridas nas
Igrejas ao longo dos tempos e o aumento da vida religiosa, pois o número de
Igrejas e capelas vai tendo um aumento progressivo.

João Coelho Cabanita

(*)
Mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.
(**)
Pároco Aposentado.

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INTRODUÇÃO

No ano de 1993 a Secretaria de Estado da Cultura do Algarve publicou


a obra As Visitações da Ordem de Sant’Iago às Igrejas do Concelho de
Loulé no ano de 1534, da autoria de Pedro Ferreira Encarnação, na qual
participámos com um trabalho de transcrição paleográfica. Em 1996, a agora
denominada Delegação Regional do Algarve do Ministério da Cultura
publicou o II volume desta colecção de Visitações, com a obra intitulada
Visitação das Igrejas do Concelho de Loulé pertencentes à Ordem de
Sant’Iago – 1518, um trabalho conjunto dos autores que agora subscrevem
a presente obra.
Este III volume é dedicado ao Professor Doutor António Joaquim Ribeiro
Guerra, que tão cedo partiu mas que a memória de quantos com ele se
relacionaram, quer como alunos quer como colegas, jamais apagará. Nosso
colaborador constante nas leituras paleográficas e no esclarecimento de
dúvidas, foi sempre um Professor atento e disponível, amigo, e com uma
enorme capacidade de ensinar e fazer os alunos gostar da Paleografia,
mesmo os que apresentavam mais dificuldades. Um exemplo a não esquecer.
Perdoe-nos, caro Professor, as falhas que aqui surgirem. Falta-nos a sua
leitura.
Quanto às visitações, recordemos as louváveis publicações de Hugo
Cavaco, Francisco Lameira, Fernando Calapez Corrêa que nos têm permitido
desvendar um pouco da História do Algarve, especialmente no que respeita
à sua arte, religiosidade e outros aspectos sociais, económicos e culturais.
Se nos anteriores volumes nos restringimos à leitura paleográfica das
visitações realizadas no concelho de Loulé, neste trabalho acrescentámos
também os concelhos de Aljezur e Faro, por estarem, estes documentos,
necessitados de transcrição, já que se tornam elementos de trabalho
necessários para quem se dedica aos estudos de História Regional e Local,
História da Arte, História dos Descobrimentos. Felizmente, no Algarve, a
investigação histórica mantém-se viva, embora reconheçamos uma certa
ausência de diálogo construtivo entre os estudiosos, renitentes a uma atitude
de questionamento e partilha em prol da História.
A sequência desta obra obedece aos fólios dos manuscritos. O início da
obra corresponde ao fólio n.º 111 – Visitação da Ordem de Sant’Iago às
Igrejas do Concelho de Faro –, continuando no fólio n.º 134 – Visitação
da Ordem de Sant’Iago às Igrejas do Concelho de Loulé –, e passando ao
fólio n.º 154 – Visitação da Ordem de Sant’Iago às Igrejas do Concelho de
Aljezur.

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A sequência cronológica das visitas revela que o percurso dos visitadores
foi de sotavento para barlavento. Os visitadores D. Pedro de Meneses 1 e
João Fernandes Barregão2 chegaram a Faro ao terceiro dia do mês de Maio
de 1565 e nesse mesmo dia realizaram a visitação da igreja matriz e das
ermidas de: Santo António da Atalaia, Nossa Senhora da Esperança,
S. Sebastião da Cidade, Santa Maria Madalena, Nossa Senhora de Entre
Ambas as Águas, S. Cristóvão, S. João da Venda, Santa Bárbara. Se o
percurso no terreno corresponde à descrição ordenada das visitações,
parece-nos que, após a aldeia de Santa Bárbara, os visitadores voltaram
a Faro, para verem, ainda no seu arrabalde, a igreja de S. Pedro, seguindo
depois para S. Brás de Alportel.
Terminada a visitação ao concelho de Faro, os visitadores passaram
nesse mesmo dia ao concelho de Loulé, chegando à vila, provavelmente,
ao fim do dia. Rezaram na igreja matriz e aí pregaram, na porta, uma carta
mandando que todos os foreiros e outras pessoas que tivessem proprie-
dades mostrassem os respectivos títulos de foro e propriedade. Logo no dia
seguinte iniciaram a visitação à igreja de S. Clemente, matriz, passando às
ermidas de Santa Catarina e S. Sebastião e às capelas curadas de Nossa
Senhora, de Querença; S. Sebastião, de Salir; Nossa Senhora da Assunção,
de Alte. De regresso à vila de Loulé visitaram as ermidas de Nossa Senhora
da Piedade, Santa Catarina dos Gorjões, S. Domingos, Santa Ana, S. Lourenço
e Nossa Senhora de Farrobilhas da Armação. Terminaram o percurso pelo
concelho na capela curada de S. Sebastião, de Boliqueime.
Decerto que a visita ao concelho de Loulé terá levado mais do que
um dia, pela extensão do território e dispersão das igrejas, o que obrigava
a percursos diversificados que se prolongariam por uma semana ou mais.
Cumprida a missão, D. Pedro de Meneses, João Fernandes Barregão e
comitiva avançaram em direcção à vila de Aljezur, onde chegaram no
dia 25 de Maio. Aí procederam de modo semelhante ao do primeiro dia na
matriz de Loulé e, no dia seguinte, deram início à visitação, propriamente
dita, da matriz de Aljezur, igreja de Nossa Senhora de Alva, onde funcionava,
numa casa anexa ao edifício da igreja, o hospital3 denominado do Espírito
Santo. Daqui passaram às ermidas de S. Pedro, Santa Susana, S. Sebastião
e à capela curada de Nossa Senhora da Piedade, de Odeceixe.

(1)
Comendador da vila de Cacela e da igreja do Salvador de Santarém e Treze.
(2)
Prior da igreja de N.ª S.ª do Castelo da vila de Alcácer do Sal.
(3)
Local de recolha de pobres, sacerdotes, peregrinos.

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Se seguirmos os passos dos visitadores e atentarmos nos seus registos
verificamos que, o principal objectivo é reconhecer o estado funcional e
material das igrejas pertencentes à Ordem de Sant’Iago, de modo a controlar,
preservar e aumentar o seu património.
No decorrer da leitura da visitação, um relatório dos nossos dias, aper-
cebemo-nos das obrigações das pessoas para com a sua paróquia, da fé
que levava os homens algures terras da Índia, a prometerem oferendas às
igrejas e santos, a quem logo tratavam de pagar quando regressavam, do
funcionamento quotidiano de cada igreja, dos bens materiais e artísticos que
tanto valorizavam cada igreja que os possuía.
Para a transcrição respeitámos a ortografia e suas variantes (ex: cetim e
çetim, patena e patana) e a notação numérica dos fólios, com as seguintes
alterações: actualização da separação e junção de palavras, desdobramento
de abreviaturas, actualização dos sinais de pontuação, actualização mode-
rada da pontuação quando nos pareceu necessário para o entendimento
do texto, actualização de maiúsculas e minúsculas, substituição do «i» por
«j» procurando respeitar os actuais valores fonéticos, chamada de atenção
através de notas em casos de palavras riscadas ou formas gráficas ou
gramaticalmente incorrectas, indicação por (?) das palavras ilegíveis ou
sumidas por mancha ou rotura e, ainda, o uso do < > quando faltam uma ou
mais letras na palavra e temos a certeza de qual ou quais seriam, o uso do
ponteado quando o texto foi suprimido ou não tivemos acesso à sua
continuação. Optámos pela transcrição do luso-romano para a numeração
romana, de modo a facilitar a leitura.
Acompanhemos as visitações de D. Pedro de Meneses e João Fernandes
Barregão, visitadores da Ordem de Sant’Iago às igrejas dos concelhos de
Faro, Loulé e Aljezur.

GLOSSÁRIO

Abyto em pedra – as armas de S. Tiago, em pedra, usadas nas igrejas e túmulos


de pessoas da Ordem de Sant’Iago, ou ainda, em casas da mesma Ordem;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 5, p. 542;
Alambre – fio de metal, arame, o mesmo que âmbar; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 394;
Aljôfar – pérola miúda; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 1, p. 340;

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Ambre – substância sólida usada como perfume e empregada em medicina;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 1, p. 396;
Âmbulas de prata – vasilhas de prata para os santos óleos do baptismo, crisma
e unção; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 1, p. 397;
Anelhos – cabritos com um ano de idade; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 451;
Antifonayro – livro litúrgico onde se encontram as antífonas ou versículos que
se lêem ou cantam antes dos salmos; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 497;
Araes – pano ou tapeçaria vinda de Arras, Norte de França; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 632;
Banda do Evangelho – a direita de quem está no altar; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 520;
Banda da Epístola – a esquerda de quem está no altar; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. IX, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Beneficiado – clérigo a quem se atribue um benefício eclesiástico (uma renda);
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 2, p. 313;
Benefícios aprestemados – benefícios (cargos eclesiásticos) com préstamos
(rendas em terrenos ou propriedades com esse encargo); in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 401;
Bocaxim – espécie de entretela; antigo tecido de algodão de qualidade seme-
lhante ao fustão, e que servia para forrar trabalhos de tapeçaria, divisórias
de cortinados. O mesmo que tarlatana; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 4, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Boceta – caixa pequena; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 2, p. 366;
Brocadilho ou borcadilho – brocado ou borcado mais leve; in, Grande Enci-
clopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 5, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Brocado ou borcado – estofo de seda ricamente bordado em relevo de ouro
ou prata. Tecido de seda de origem oriental realçado de ouro e prata e
pertencendo à categoria dos panos chamados de “Damasco”. Os primeiros

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borcados eram completamente tecidos de ouro e prata e só no fim da Idade
Média a classificação se estendeu aos panos bordados de seda e muitas
vezes desprovidos de fios metálicos; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 4, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Caixa marchetada – caixa com embutidos de lavores; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 4 e 6, pp. 362 e 390;
Caliz de prata (...) ao romano – vaso quase cilíndrico de prata, ao estilo
romano; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 2, p. 510;
Canhamaço – estopa de cânhamo; tecido, estofo grosso feito com essa estopa
grossa do linho e o tecido feito com ela. Tecido grosseiro de linho, cânhamo
ou juta geralmente de cânhamo, em ponto de tafetá, constituído por fios
de espessura desigual e que não sofreram a branqueação; in, Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 5, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.
Capa d’asperges – Capa comprida que se usa por cima das vestes sagradas
para aspergir a água benta ou para dar mais solenidade a outras cerimónias
eclesiásticas; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 2, p. 47;
Çeo de quortinas (sic.) – parte superior ou dossel de uma armação de cortinas;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 3, p. 112;
Cetim – espécie de pano de seda, lustroso e fino; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 6, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Corporaes – pano onde se coloca o cálix e a hóstia no altar para a missa;
in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado,
tomo 3, p. 479;
Dalmáticas – Paramentos que os diáconos trazem por cima da alva, nas
funções do seu ministério; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 3, p. 625;
Damasco – tecido de linho, algodão ou lã, imitando o de seda, com a diferença
que na roupa adamascada os lavores são lustrosos e o fundo fosco; tecido
de seda que apresenta desenhos acetinados em fundo não brilhante; ou
pano de lã, linho ou algodão que imita esse tecido de seda, que se usa
especialmente em roupa de mesa. Tecido de seda ou lã com lavores fabri-
cado primitivamente em Damasco, de onde o trouxeram primitivamente os

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genoveses; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 8, Edi-
torial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Damasquilho – tecido adamascado de menos corpo, de seda ou lã; in, Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 8, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Domingall – Livro litúrgico onde estão as missas dos domingos; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 296;
Escabello – banco sem encosto, das igrejas, para os clérigos se sentarem
(mocho); in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 4, p. 545;
Escarlatim – espécie de tecido, menos fino que o escarlate; in, Grande Enci-
clopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 20, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.
Estipemdios do capelão – ordenado do capelão; in, Grande Dicionário da
Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 624;
Estopa (tupa) – a parte grossa do linho, que fica depois de o passarem pelo
sedeiro e com a qual se fazem panos grosseiros; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 10, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio
de Janeiro;
Fábrica da igreja – administração temporal duma igreja; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 62;
Figo choucho – figos secos; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 3, p. 160;
Firmall – broche antigo; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 5, p. 190;
Firmall de rubis – broche com que se seguram as vestes, de rubis; in,
Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo
5, p. 190;
Franjas de retroz – fios de seda, torcidos; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 10, p. 346;
Frontall – ornato da frente do altar; in, Grande Dicionário da Língua Por-
tuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 297;
Frontall de bocaxim – frontal de entretela; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 2 e 5, pp. 366 e 297;

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Frontall de chamalote – frontal de tecido de pêlo de camelo; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 3 e
5, pp. 120 e 297;
Frontall de godomiçil – frontal de tapeçaria de coiro pintado e dourado; in,
Dicionário de Língua Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 672;
Frontall de grãa – frontal de tingido de escarlate, cuja tinta é obtida de um
insecto; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 5, p. 474;
Fustão branco – pano de algodão, lã, linho ou seda, tecido em cordão mais
ou menos grosso, branco; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 2, p. 47;
Godomiçil – tapeçaria de couro pintado e dourado; in, Dicionário de Língua
Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 672;
Grã – tecido tinto com grã, um insecto empregado em farmácia e tinturaria.
Ao insecto também se dá o nome de cochinilha; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 12, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa,
Rio de Janeiro;
Grãos d’aljôfar – pérolas miúdas; in, Grande Dicionário da Língua Por-
tuguesa, de José Pedro Machado, tomo 1, p. 340;
Lambel – banda, tira, faixa; tecido listrado com que se cobriam assentos; in,
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 24, Editorial Enci-
clopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Mesa d’emgomços – mesa desdobrável; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4, p. 436;
Mortóreo – terreno estéril; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 7, p. 402;
Olivall no contio da serra – olival em terra coutada; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 3, p. 518;
Omyzio – estado de homiziado ou seja, fugido da Justiça; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 145;
Pano de canhamaço – tecido grosso, de cânhamo; in, Grande Dicionário da
Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 2, p. 554;
Pasioneyro – passionário; livro litúrgico que contém os Quatro Evangelhos
da Paixão de Cristo, que se lêem na Semana Santa; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 462;

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Patena – lâmina metálica sobre a qual se coloca a hóstia da missa; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 476;
Peça de figo – duas arrobas; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 8, p. 516;
Peça de paça – duas arrobas de uva passa; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 8, p. 516;
Per imposição de barrete – por imposição do barrete eclesiástico, para
receber cargo na igreja; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 2, p. 241;
Pessoas do abyto – pessoas da Ordem de Sant’Iago; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 5, p. 542;
Pontifical – capa comprida que o bispo usa nos ofícios solenes; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 9, p. 288;
Ramall – conjunto de fios; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, tomo 10, p. 96;
Ramall d’alambres – conjunto de fios aromatizados, de âmbar; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomos 1 e 10,
pp. 285 e 96;
Responso – palavras que se rezam ou cantam depois das leituras dos ofícios
divinos; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 10, p. 315;
Retrós – fio de seda ou conjunto de fios de seda torcidos; in, Grande Enciclo-
pédia Portuguesa e Brasileira, vol. 25, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro;
Samginhos d’Olamda ou pano de Aljazur – pequeno pano com que o sacer-
dote limpa o caliço de tecido de Holanda ou de Aljezur; in, Dicionário de
Língua Portuguesa, de Rafael Bluteau, 1799, tomo 1, p. 377;
Santorall – livro das igrejas onde estão as missas dos santos; in, Grande Dicio-
nário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 10, p. 604;
Sarja – tecido de seda, lã ou algodão, entrançado; in, Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 29, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa,
Rio de Janeiro;
Savastro – tira de pano diferente da cor do paramento; in, Grande Dicionário
da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 11, p. 18;

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Savastro de borcadilho – tira de pano diferente numa peça de vestuário de
brocado inferior; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José
Pedro Machado, tomo 4 e 11, p. 626 e 181;
Savastro de catasoll de seda – tira de pano diferente numa peça de vestuário
de tecido fino e lustroso; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado, tomo 4 e 11, p. 626 e 181;
Savastro de estopa – tira de pano, de cor diferente, de estopa; in, Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 4 e 11,
p. 626 e 181;
Savastro de tripe – tira de pano de tecido aveludado, de cor diferente, numa
peça de vestuário, por exemplo, da casula; in, Grande Dicionário da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado, tomo 11, p. 181;
Seda – introduzida na Península Ibérica provavelmente pelos Godos. Os
Árabes desenvolveram a indústria e propagaram-na pelo vasto império
tendo-a prosperado na Andaluzia. Nos séculos XII e XIII Veneza, Flo-
rença, Milão tinham a liderança do produto. Os séculos XV, XVI e XVII
alcançaram extraordinário desenvolvimento no sul da Península Ibérica.
Diz o padre Rafael Bluteau nos fins do século XVII: “... É uma mecânica
sem a qual não poderia trajar a nobreza, nem com mil castas de paramentos
luzir a igreja ...”; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.
38, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Sobrepeliz – espécie de pequena capa branca que os clérigos usam sobre a
batina; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 11, p. 248;
Toalha – pano de linho ou algodão; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 31, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Tripe – espécie de estofo aveludado; in, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, vol. 32, Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Veludo – tecido de seda ou de algodão, liso ou raso de um lado, e do outro
coberto de pêlos levantados e muito juntos que estão seguros pelos fios
da teia; in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 32, Edi-
torial Enciclopédia, Lda., Lisboa, Rio de Janeiro;
Vestimenta de ustedilha – vestimenta de tecido quinhentista; in, Visitação de
Igrejas Algarvias, de Francisco Ildefonso Lameira, Glossário, p. 124;
Vestimenta de zergantia – ou zergania, vestimenta de tecido indiano, de
algodão; in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro
Machado, tomo 12, p. 651.

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VISITAÇÃO DA ORDEM DE SANT’IAGO ÀS IGREJAS
DO CONCELHO DE FARO
(fl.111)
Vysitação da igreja de Nosa Senhora de Farão

Dom Pedro de Meneses, fidalguo da casa d’el-Rey noso senhor, comem-


dador das comemdas da villa de Caçella e da igreja do Salvador da villa de
Santarem e Treze, e João Fernandes Barregão, prior da igreja de Nosa
Senhora do Castello da villa d’Alcaçere do Sall, vysitadores do mestrado
de Santiaguo nesta comarca do Alguarve, eleytos em capitollo que se çele-
brou na çidade de Lisboa, fazemos saber que, por virtude do regimento
que trazemos de Sua Alteza e do dicto capitollo vysitamos a igreja de Nosa
Senhora, matriz da çidade de Farão ma maneira seginte.
Aos tres dias do mes de mayo de mill e quinhentos sasenta e çimquo
annos fomos a dicta igreja e vestidos o prior e as pesoas do abyto em suas
sobrepelizes e manto bramcos, ouvimos myssa cantada semdo muita gente
do povoo presente; e acabaada a myssa entramos a capitollo e fizemos venia
às pesoas do abyto.

Comemdador

Achamos por comemdador da metade do dízimo desta cidade, que


pertemçe à Ordem, Estevão de Brito; não vysitamos sua pesoa nem vimos
seus titolos por nom ser presente.
Prior

Achamos por prior da dicta igreja o licenciado Fernão Rodrigues, do


abyto de Santiaguo, o quall foy per nós perguntado pollo titollo de seu
abyto e profisão. Disse que tomara o abyto em Santo Estevão, na çidade de
Lisboa, e que lho lamçara dom Antonio Preto dom(sic.) prior moor que foy
do comvento de Palmella, por mandado d’el-Rey dom João, o terceiro,
que Deus dee a gloria, como governador e perpeto administrador que foy
da dicta Ordem. E amostrou ho titollo e lho ouvemos por bem.
(fl. 111v.)
Pergumtado pelo titollo de seu benefiçio e priorado e loguo apresentou
huma comfirmação de dom João de Mello, bispo que foy do Alguarve, per
que ho comfirmou a presentação d’el-Rey dom João, o terceiro, que Deus
dee a gloria, por lhe pertemçer in solydo como guovernador e perpeto
admynistrador que foy da dicta Ordem.

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Foy perguntado o dicto prior pelos tres votos sustanciaes da Regra e assy
pelas perguntas que tocavão a sua pessoa; respomdeo que o fazia o mylhor
que podia e estava prestes pera fazer.
Foy mais perguntado que obrigação tinha de myssas; disse que compria
inteyramente e dizia as myssas que se contém na vesitação antiga que foy
feyta pello mestre que aja gloria, na quall visitação se detriminou serem as
que estão escritas na dita visitação.
E mais he obrigado in solydo à cura das almas dos fregeses da dicta igreja
da dicta cidade e termo, e de lhe admynistrar todo-los outros sacramentos.

Benefiçiados

Achamos que há na dicta igreja seis benefiçiados .scillicet. dous que


têm benefiçios aprestemados que se pagão a custa da Ordem, huma e
outra a custa do bispo e cabydo e, dos outros quatro, duas se pagão a
custa da Ordem, e as outras duas a custa do bispo e cabydo. Os que se
pagão a custa da Ordem, el-Rey, como governador della, os apresentou e
o bispo os comfyrma e agora são os três abayxo.
Achamos por benefiçiado apresentado pella Ordem a Pero Gomçalves,
clérigo do abyto de Santiaguo. Perguntado pelo titollo de seu abyto e profis-
são e lyvro da Regra tudo mostrou e ouvemos por bom.
Foy perguntado pelo titollo de seu benefiçio e mostrou huma comfir-
mação do bispo do Alguarve, per que o comfirmou a presentação del-Rey
dom João, o terçeiro, que Deus
(fl. 112)
dee a gloria, por lhe pertemçer in solydo como governador e perpeto admynis-
trador que foy da dicta Ordem.
E o outro he Diogo de Brito que tem a ração aprestemada da Ordem, o
quall aprestimo he o dízimo do limite de Marchill, e de Pexam, e do lemyte
da Murta, o quall Dioguo de Brito não tem o abyto de Santiaguo, nem
serve o dicto benefiçio pessoallmente, e por ser ausente da terra nom vimos
seu titollo do benefiçio no que provemos.
E o outro benefiçiado apresentado pella Ordem he Simão Nunez, clérigo
da Ordem de São Pedro, e está servimdo o dicto benefiçio sem ter ho abyto
de Santiago no que provemos.
E perguntado pelo titollo de seu benefiçio logo mostrou huma comfir-
mação do bispo do Alguarve per que o comfirmou a presentação d’el-Rey

194
noso senhor in solydo por lhe pertemçer como governador e perpeto admynis-
trador que he da Ordem.
E os outros tres benefiçiados que o bispo e cabydo pagam sam Martim
Gomçalves, Fernam Moreyra, e Manuell Perez, menor, o quall tem o benefiçio
aprestemado.
Os ditos benefiçiados todos são obrygados dizer as oras canonycas dentro
na igreja segumdo custume, e de ajudar a todolos ofiçios devinos e de dizer
as mysas pelo povoo às somanas.
chamos por tisoureyro a Francisco Rodriguez, ho quall he apresentado
pello bispo comforme a composição que se fez antre a Ordem e o dicto
bispo e cabydo.

Cavaleiros do abyto

Achamos viver nesta çidade Francisco Lourenço e Inofre da Ponte,


cavaleyros do abyto. Visitamos suas pessoas e vymos seus titollos do abyto
e profissão, e lyvros da Regra, e tudo mostrarão e o ouvemos por bem,
soomente Inofre da Ponte nom tinha titolo do abyto e o lyvro da Regra
era dos muito antigos, no que provemos comforme a noso Regimento.
(fl. 112v.)

Juizes e ofiçiaes

Perguntamos ao juiz e vereadores e ofiçiaes da câmara e algumas pesoas


do povo pelo juramento dos Evamgelhos se o prior e benefiçiados servião
bem seus ofiçios e pela vida e onestidade das pesoas do abyto e achamos
que em tudo fazião o que devião.

Pregão

Mandamos apregoar pelo porteiro do comçelho se avia alguma pessoa


que se queyxase do comemdador, ou das pesoas do abyto, que viese a nós
e lhe fariamos todo comprimento de Justiça.

Vysitação pasada

Vysitamos a dicta igreja a quall estaa da maneira e feyções que se


contém na visitação antiga do mestre, somente se forrou ora de novo as duas
naves de bordos e achamos que se fez à custa do dinheiro da fábrica, semdo
o povo obrigado a isso, como vymos nos dictas visitações antigas.

195
Livro da prata

Esta igreja tem huma crux de prata e huma custódia com huma crux d’ouro
em çima, e hum tribolo, tudo grande e bom.
Há mais na dicta igreja oyto calizes de prata assy da igreja como das
capellas que nella estão.
Esta prata toda estaa asentada num lyvro que o prior tem em sua mão em
que estaa decrarado o peso e feyções de cada peça.
E assy estão no dicto livro todolos ornamentos novos e velhos e cousas
meudas do serviço da dicta igreja, o quall livro foy visto per nós; estaa tudo
muito bem decrarado e o aprovamos e ouvemos por bem.

Visitações pasadas

Mandamos vir as visitações pasadas pera por ellas vermos ho que era
comprido e estava por comprir e as obrigações que cada hum tem.
(fl. 113)

Obrigação do povoo

Achamos que o povo he obrigado ao corregimento da prata desta igreja,


como vymos nas visitações pasadas, e por nos ser pedido pê-lo juiz e
regedores da camara desta cidade lha mandasemos entregar, provemos nysso
como se veraa nas detriminações.

Visitação do Santo Sacramento

Vysitamos o Santo Sacramento, o quall estaa em hum almareo na parede


da capella moor, à parte do Evamgelho, assy como se contém nas visitações
pasadas e estaa cuberto com humas curtinas de rede e dentro nelle hum
cofrinho de madre perla, em que estaa o Santo Sacramento, como comvinha,
e foy mostrado ao povo e adorado por todos.

Alampada

Achamos que a alampada que estaa diante do Santo Sacramento ser


provida pelos mordomos da Santa Comfraria à custa della, e o azeite que he
neçesario os mordomos ho dão ao tisoureyro e achamos estar sempre açesa
e bem provida como deve e nós lho louvamos muito e lhe emcomemdamos
que tenhão della espiçiall cuydado.

196
Pia de baptizar

Visitamos a pia de baptizar e os santos oleos, a quall pia estaa no corpo


da igreja entramdo pella porta primçipall a maão esquerda, çercada toda de
madeyra e cuberta e fechada com sua chave, os santos oleos estavão em
huma cayxa pequena marchetada, boa, com suas âmbulas de prata e tudo
estava como comvinha.

Campanayro

Visitamos o campanayro e sinos, os quaes estão em huma torre muito


alta, e sobem a ella por çimquoenta e tres degraos e tem a servintia per
huma escada d’alvenaria por dentro da igreja e ocupa parte della, tem tres
sinos dous delles são bons e o outro estaa femdido d’altabaxo, e nom serve
averaa quimze annos ou vinte, e pellas visitações pa
(fl. 113v.)
ssadas não achamos quem seja obrigado ao dicto campanayro e sinos, somente
achamos per imformação do prior e d’algoas pessoas que o povoo o fazia
antigamente.

Samcristia

Ha samcristia foy vista per nós, a quall he huma casa muito pequena,
não comveniente à tal igreja, e tem huns almareos muito pequenos, hos
quaes não são comvenientes pera os ornamentos.

Coro

Visytamos o coro e estaa da maneira que se conthem nas visitações


pasadas, e nelle estão huns orgãos na frontaria, os quaes mandou fazer
Alvaro de Caminha, naturall desta çidade, e lhe deyxou dez mill reis de
remda em foros de dinheiro e peças de figos pera o tamgedor que os
tamgesse e afinase, quando fose neçesaryo, como mais largamente consta
per hum testamento seu que estaa no cartoreo da camara desta çidade, e
mandou que ho tamgedor fose da sua geração, se o ouvese, e fose admynis-
trador, e achamos que tudo se cumpre como se conthem no dicto testamento.

Conta da fábrica

Tomamos conta do dinheiro da fábrica a Martim Gonçalvez benefiçiado


da dicta igreja e prior da fábrica della e achamos por boa conta dever à dicta

197
fábrica da igreja mill e quatroçentos çimquoenta e sete réis ......................
....................................................................................................... MCDLVII réis

Abyto

Achamos estar na chave d’aboboda, diante da porta prymçipall, ho abyto


de Santiago a modo d’espada, com quatro vieyras, tudo lavrado em pedra na
mesma chave.

Testamentos de difuntos

Achamos que huma Lianor Pimentel, molher que


(fl. 114)
foy de Simão Sueyro, cavaleiro, deixou çertos foros que amdasem(sic.) em
hum João de Crasto e seus erdeiros pera sempre e que a custa delles, os que
os posuyse, dese em cada hum anno as quimze vellas pera o ofiçio das
trevas à sua custa, pera sempre, e assy se usa e se faz, e tras agora estes foros
Simão de Crasto, filho do dicto João de Crasto.
Achamos ter esta igreja quinhentos reis de foro em humas casas em que
ora vive Manuel Alves, pydreiro no arrevalde, com obrigação de quatro
myssas rezadas cad’ano, e o sobejo pera a fábrica da igreja.
Tem mais a dicta fábrica cimquoenta réis de foro em hum Lourenço Dias,
morador em Moncarapacho.
Tem mais huma casinha com quintall com hum poço pera serviço da
igreja, que se comprou do dinheiro da fábrica, a quall estaa defronte da porta
travesa da parte da torre dos sinos.
Achamos ter esta igreja humas casas junto do adro della em que vive
ora o prior, e viveram os pasados, as quaes amdão anexas ao priorado e
forão vistas por nós, e estão bem repayradas, e escusamos por aquy as
comfrontações por que largamente estão nas visitações pasadas.

Comfraria de Nosa Senhora

Tomamos conta da comfraria de Nosa Senhora que estaa situada nesta


igreja, e das esmollas della e da comfraria que pagão os comfrades se diz
todo-los sabados do anno huma myssa cantada; e reçemçeadas as contas
achamos ficar devemdo o mordomo a dicta comfraria seis mill quinhentos
oytenta e sete reis.

198
(fl. 114v.) Capelas da igreja matriz

Achamos aver nesta igreja sete capellas que forão instituidas e se


lamçarão nellas os instituydores e deyxarão aos admynistradores dellas
muitas fazemdas e foros com emcarguo, algumas dellas, de myssa cotediana
e outras de çertas myssas pelo anno, e começamdo de provermos nisto
conforme a nosa obrigação e regimento achamos nas visitações antigas, que
forão feytas pelo mestre, que aja gloria, na era de dozoyto, que ja então
andavão emlheados muitos bens destas capellas e se compria mall com ha
obrigação dellas e foy isto certo do creçimento de diminuyção que achamos
aver ja algumas destas capellas, que se lhe não diz myssa por terem os
admynistradores dellas todos seus bens desbaratados e emleados, e outras
que se cumpre muito mall e com muito menos myssas da obrigação que tem,
pelo quall nos pareçeo bem não provermos nestas capellas assy por aver
muito tempo pera os embaraços dellas como por nom estarem na terra
alguns admynistradores delles, no que vossa Alteza deve mandar prover
com muita brevidade e com todo rigor de justiça que for posivell, porque
a nenhuma dellas falta admynistrador, faltamdolhe todo ho mais que lhe he
neçesareo assy nas myssas como em ornamentos e prata que ja tiverão, e
corregimento das paredes e abobodas dellas, e as capellas que nesta igreja
estão são as segintes.
Ha capella de Garçia Moniz, que he da imvocação de Santiaguo, de que
ora he admynistrador Gomez Moniz e Domimgos de Fomsequa, seu irmão.
Ha capella de Ruy Valente, que estaa junto da samcristia, da parte do
sull, da imvocação de São Jorge, de que he admynistrador Dyogo Alvarez,
filho de Domimgos Alvares.
Ha capella de Santana, que estaa no corpo da igreja de que foy insti-
tuydor della João Fernandez Garganta e faz nella enterrado e he ora admynis-
trador Pero Bayão de Fomsequa.
A capella de Pedr’Afomso d’Amcora, de que faz memção a visitação
pasada, que diz estar sepultado em hum moymento de pedra, de que então
era admynistrador Lourenç’Anes.
(fl. 115)4
mynistrador Pero d’Aranha e por seu faleçimento demandava a dicta

(4)
Este fólio não tem continuidade em ralação ao anterior; julgamos que o escrivão terá omiti-
do uma ou mais linhas já que a numeração dos fólios dos documentos está ordenada.

199
admynistração Fernão d’Aranha, que faleçeo nesta çidade e tinha muitos
bens e so dizia myssa cotidiana, e agora he admynistrador hum filho de
Duarte Alvares beneficiado, dono da orta d’Atalaya que está obrigada a estas
myssas.
Na capella da comfraria de Nosa Senhora se dizião satenta myssas pela
allma de Martim d’Azavia de que foy administrador hum João Perez,
clerigo de myssa, morador em Oulivemça, e agora he administrador ho
dicto Louremç’ Eanes.
Ha capella de Gill Estevens, que era hum altar da imvocação de Santa
Catrina, que estava na umbreyra do arco do cruzeyro, da parte do Evamgelho.
Ha capella de Breitiz Dias, que he da imvocação de Jhesus, junto da
pia de baptizar, de que ora he admynistrador huma filha de Diogo Barbato,
ja difunto.

Vysitação da irmyda de Santo Antonyo

Vysitamos a dicta irmyda de Santo Antonio d’Atalaya a quall estaa


muito acreçentada, da maneira que se comtem nas visitações pasadas, tem
huma capella d’aboboda de bayxo da torre d’Atalaya e nelle hum altar e
em cima a imagem de Santo Antonio, de vulto; sobre o arco do cruzeyro
estaa hum cruçifixo de vulto, velho, em hum respaldo, e guarda poo de
madeyra.
Ho corpo da igreja são as paredes de pedra e call guarneçidas e cayadas
por dentro e, de fora, madeyrado de castanho e de telha vãa, tem huma
casa de samcristia boa e nella huma memsa em que se vestem os padres e
hum respaldo;
(fl. 115v)
defronte da porta primcipall estaa hum alpemdre grande, com seus piares(sic.),
de pedra, e madeyrado de castanho, ripado e de telha vãa.
Achamos que esta irmyda foy acrecentada pelos moradores e comfrades
e devotos desta cidade e eles a repayrão de tudo ho que lhe he neçesareo e
nós ho aprovamos e louvamos muito. E das esmollas que ho irmitão tira
pelo povoo manda dizer huma myssa cada mes, pelos benfeytores.

Livro da prata e ornamentos

Hum caliz de prata com sua patana ........................................................ I caliz


Çimquo vestimentas, tres novas, de seda da Imdia e as duas de cetim fallso,

200
azull ............................................................................................ V vestimentas
Hum frontall de godomiçil(sic.) com ha imagem de Santo Antonio nelle
pintado ................................................................................................ I frontal
Outro frontall d’escarlatim vermelho, com huma crux de çetim verde .......
................................................................................................................. I frontal
Hum godomiçil gramde que está armado na parede do altar, muito
bom ......................................................................................................... I pano
Huma quortina de seda da Imdia ................................................ I quortina
Haa mais na dicta irmyda outro frontall e toalhas e outras meudezas que
derão devotos, que tudo estaa em aventayro no livro da comfraria.
Esta irmyda tem seus mordomos e escrivão, que recolhem as comfrarias e
esmollas, e dellas fazem as obras e repayrão a dicta irmyda e lhe foy tomado
conta per nós.

Vysitação da irmyda de Nosa Senhora da Esperança

Visytamos a dicta irmyda a quall he huma casa pequena, tem huma capella
e nella hum altar e
(fl. 116)
nella hum altar e em çima huma imagem de Nosa Senhora de vulto e São João
Baptista e Sant’Amaro e todas de vullto.
Ho corpo da igreja e a capella e as paredes são de pedra e call, guarne-
çida de dentro e de fora, e cayadas; a capella estaa forrada de bordos e
pintado o forro, e tem humas grades no arco do cruzeyro.
O corpo da igreja he madeyrado de castanho e forrado per çim<a>, tem
seu campanayro e huma campa.
Pegado com esta irmyda estaa huma casa em que se recolhe a irmytoa.
Achamos per imformação que João Amado, morador nesta çidade,
edificou esta irmyda aa sua custa, e nella estaa enterrado, e sua molher, e
ora tem cuydado della Rodrigo Amado, seu filho e a admynistra e governa.
Esta irmyda tem hum caliz de prata com sua patana(sic.) ................. I caliz
Huma vestimenta de damasquilho verde da Imdia, de todo comprida ......
......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de seda da Imdia, de coor de rosa, de todo comprida ......
.......................................................................................................... I vestimenta

201
Hum frontall de damasquilho da Imdia, usado ............................... I frontal
Outro frontall de seda da Imdia, usado .......................................... I frontall
Hum çeo de quortinas, de rede ............................................................ I çeo
Huma coroa de prata ........................................................................ I coroa

Vysitação da irmyda de São Sebastião da çidade

Visitamos a dicta irmyda, a quall esta da maneira e feyção que se contem


na visitação pasada, de Dio
(fl.116v.)
guo Çalema, e estaa bem repayrada e tem huma capela d’abóbada com
seu arco de pedraria; à parte do Evamgelho do altar moor estaa huma
capella, e he altar, e nelle huma imagem de São Roque e duas imagens de
santos, velhas.
Tem hum alpemdre que toma a frontaria da porta primçipall até a outra
porta travesa, e estaa jaa muito velho.
Achamos que ho povo desta çidade, com suas esmolas repayrão esta
irmyda do que lhe he neçesaryo, e pera isso tem seu mordomo e escrivão e
estão ora pera comçertarem o dicto alpemdre.

Livro dos ornamentos e prata

Hum caliz de prata com sua patana ................................................... I caliz


Duas vestimentas, huma de seda da Imdia com savastro de viludo pardo e
outra de bocaxim damascado, verde, com savastro de tripe preto .............
....................................................................................................... II vestimentas
Hum mysall .................................................................................... I mysall
Hum frontall d’escarlatim vermelho, bamdado de pano amarello, com
huma barrinha de viludo preto, e outra da mesma sorte ................. II frontaes
Huma toalha de Frandes pera ho altar e três manteis ................. IIII toalhas
Dous castiçaes ............................................................................ II castiçaes
Duas galhetas .............................................................................. II galhetas

Vysitação da irmyda de Santa Maria Madalena

Vysitamos a dicta irmida, a quall he somente huma capella d’abóbada com


hum arco de pedraria que estaa tapado com hum portall que he serventia

202
(fl.117)
pera a dicta capella, emquanto se não faz o corpo da igreja.
Achamos per imformação que esta casa desta irmyda cayo(sic.) e a tornou
edificar algumas pesoas de votos e o mais povo com suas esmollas e nos
aprovamos e louvamos muito a tall obra.
Achamos que hum Gil Eanes, lavrador, he admynistrador desta irmyda e
della tem carguo ao quall nom foy tomado conta por nom ser presente
e ser ausente da çidade pera muitos dias.

Vysitação da irmyda de Nosa Senhora d’Antrembalas Agoas

Visitamos a dicta irmyda, a quall está da maneira e feyções que se contém


nas visitações pasadas que fez Diogo Çalema e Antonio Fernandez, prior
visitadores que forão desta Ordem.
Achamos que os mareantes que dela têm cargo mandarão forrar as
paredes de azulejos, e sobre o arco da capella, na frontaria, mandarão pintar
em hum retavolo que toma de parede a parede, quatro paços da payxão em
quatro payneis e dourado per partes.
Esta irmyda tem muitos ornamentos, os quaes ouvemos por escusados
escrevê-los nesta visitação por estarem em seu livro d’aventayro que estaa
em poder dos mordomos; e nesta irmyda se diz myssa cantada todalas
segumdas feiras do anno pelos bemfeytores da casa, e aos sábados a sallva
com muita çera que tem, e as casas que tinha o irmytão e romeyros achamos
que ha çidade as mandou derribar.
(fl.117v.)

Vysitação da irmyda de São Cristóvão

Vysitamos a dicta irmyda a quall he huma soo casa gramde, sem capella,
tem hum altar d’alvanaria e nelle hum retavolo gramde de hum soo paynell,
pintado nelle a imagem de São Cristovão, e dourado pellas molduras, e
no frontespiçio hum Jhesus dourado e junto delle estava hum retavollo
pequeno, de que faz memção na vesitação pasada; diante do altar estavão
humas grades que tomão de parede a parede, fechadas com sua chave.
Ho corpo da igreja he feyto de pedra e call, madeyrado e forrado de
pinho, e tem seu portall de pedraria com suas portas.
Achamos per imformação que Isabel Cabrall, molher que foy de João
Alvarez de Camynha, mandou fazer esta irmyda por lho deyxar emarregado

203
ho dicto João Alvarez seu marydo e ora tem della cargo Inofre da Ponte, e
tem seu caliz e vestimenta.
Junto desta irmyda estaa huma casa em que vive hum irmitão per nome
Alvaro Farello e sostenta-se das esmollas dos fiéis cristãos, e alumia huma
alampada que estaa na dicta irmida.

Vysitação da capella curada de São Bertolomeu de Pexão

Visitamos a dicta capella a quall estaa em hum allto, soo, despovoado, e


estaa assy e da maneira que se contém na visitação pasada, a capela e
corpo da igreja estaa toda de telha vãa.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estaa no corpo da igreja entramdo
pela porta primcipall à mão esquerda cercada de grades de castanho, a pia
de baptizar he de pedra boa, e no çircuyto das grades, na parede, estaa hum
alma
(fl.118)
reo que serve d’estarem os santos oleos, e estavão em huma cayxa pequena.
Achamos por capelão Mem Rodriguez, clérigo da Ordem de São Pedro
e disse que estava apresentado pelo prelado com sua carta de cura, e os
fregeses lhe pagão seu estipemdio e lhe dão por anno vinte peças de figos
e vinte alqueyres de trigo que vall(sic.) tudo nesta terra oyto mill reis.
Os fregeses que tem esta capella são trynta e seis e vivem de rador da
igreja, espalhados, os quaes são obrigados à fábrica della, prata e orna-
mentos e mantimento do capelão, e disto não há contrato, soomente estão
neste custume e assy o fazem.
Desta capella aa çidade há huma legoa pequena e no camynho estão dous
ribeiros com suas pontes.
E desta capella a São Sebastião de Quelfes, que he outra capella curada,
haa huma legoa pequena, e pera a outra parte estaa São Martinho d’Estoy,
que he outra capella curada, e he desta capella meya legoa.

Livro da prata e ornamentos desta capella

Hum caliz de prata com sua patana ................................................... I caliz


Huma vestimenta de damasquilho da Imdia com savastro de çetim bramco
e nova ............................................................................................ I vestimenta
Hum frontall de tafetá branco com huma bamda no meyo, de borcadilho

204
da Imdia, com sua çanefa verde e franjado, usado ............................ I frontal
Haa mais nesta capella outros frontaes e vestimentas, tudo usado, e
outras meudezas de serviço da igreja que tudo estaa em aventayro no livro
da igreja, de que he escrivão o capelão.
(fl.118v.)

Detriminações desta capella

Mandamos aos eleytos e moordomos que desfação os dous altares que


estão junto do arco do cruzeyro por serem muito pequenos e nelles nom se
dyzerem myssa; e estão muito mall repayrados e as imagens que nellas
estão mandamos ao padre capelão que as enterre em lugar comveniente por
serem muito velhos e não serem pera estarem nos altares.
Mandamos aos dictos eleytos e mordomo que mandem forrar a capella
de pinho ou de estanho.
Mandarão fazer hum retavolo pera o altar, de madeira, pintado e dourado
por partes.
Huma crux de latão dourada ou de pau.
As quaes cousas acima mandamos aos fregeses eleytos e mordomos
que as comprem e ponhão na igreja dentro de hum anno, com pena de
çimquo cruzados, a metade pera os cativos, outra metade pera fábrica da
igreja e meyrinho da visitação.

Visitação de Sam Martinho d’Estoy, capela curada

Vysitamos a dicta capella curada, a quall estaa junto da aldeya d’Estoy


que seraa de vinte vezinhos, e em toda a fregisia averá duzentos vizinhos.
A capella moor he d’abóbada, tem hum altar d’alvanaria, sobem a elle
por çimquo degraos, junto delle na parede aa parte do Evamgelho, estaa
hum almareo forrado de damasco cramysim por dentro, e nelle estava hum
cofre forrado de viludo cramysim em que estaa ho santo sacramento como
comvinha foy mostrado
(fl.119)
e adorado per todos e estava fechado com suas portas pintadas cubertas com
humas quortinas de rede.
Ho corpo da igreja he de tres naves, tem os piares de pedraria e arcos d’alva-
naria madeyrado de castanho e de telha vãa.

205
Ho arco do cruzeyro he de pedraria gramde e bem lavrada, junto delle
estaa hum altar da parte do Evamgelho, d’alvanaria, e tem hum retavolo
pintado e dourado per partes e huma imagem de Nosa Senhora de vullto e
tinha huma coroa de prata na cabeça.
Ho portal primçipall e a travesa são de pedrarya bem lavrados e tem
sua samcristia com ho portall na capella e he de pedra e call, guarneçida e
cayada, madeyrada de castanho e emcaniçada.
Achamos por capelão a Luis Gonçalvez, clérigo da Ordem de São Pedro,
estaa apresentado pelo prelado com sua carta de cura e lhe pagão seu
estipemdio os fregeses e lhe dão cad’ano em trigo, vynho e figuo que valeraa
trynta mill reis.
Ho dicto capelão he obrigado dizer missa aos fregeses os domyngos e
festas do anno de guarda e admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Ho povo he obrigado à fábrica e ornamentos e prata desta capella, e
neste custume estão, e elles fizerão a igreja mayor aa pouco tempo e
achamos terem feito hum retavolo de madeyra muito bom, pera o altar moor,
e o têm ora a pintar.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estaa entrando pella porta primçi-
pall, à mão esquerda, de pedra muito bem lavrada, posta em hum tavoleiro
de pedraria e çercada de grades, e dentro no circuyto estaa hum almareo na
parede em que estão os santos oleos, e estavão como comvinha.
Desta capela à çidade haa huma legoa e no ca
(fl.119v.)
mynho ha huma ribeira que pasão por elle per huma ponte; desta capella
a São Bertolomeu, que he outra capella curada haa meya legoa; e de outra
bamda desta capella de São Martinho estaa a igreja de Nosa Senhora da
Comçeyção que he outra capella curada e está mey<a> legoa.
Na nave da bamda da Epístola estaa huma capella que fez Viçent’Eanes,
a quall por se danificar muito a fizerão de novo, e d’abóboda como ora
estaa, hum João de Sousa e outros herdeiros, na quall estaa hum altar e
nom se diz myssa nelle de obrigação.
Achamos per imformação dos fregeses desta capella que, faleçemdo o
dicto João de Sousa, deyxou em seu testamento ou çedolla que se comprase
hum foro de mill réis, por dez mill reis, que pera isso deyxou pera a dicta
fábrica, o quall emcarguo deyxou a seu filho Marcos de Sousa pode aver
dez ou doze annos, e até ora não he comprido nem podemos dar isto a
execução por nom ser o dicto Marcos de Sousa na terra e ser ausente della

206
per hum omyzio.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata pequena ............................................................. I crux


Hum caliz de prata sobredourado com sua patana ........................... I caliz
Tres vestimentas usadas e dous frontaes e outras cousas meudas, que
tudo serve na igreja, e estaa em aventayro, no livro da igreja, em mão do
capelão.
João Rodriguez Gorgão paga de foro a esta igreja cad’ano de humas
casas casas(sic.) duzentos e çimquoenta reis que deyxou Roque Machado,
cura que foy nesta igreja, e este se paga com comdição de se poder isentar
e não tem nenhuma obrigação.
Outro foro de duzentos reis que deyxou Pedr’Eanes em huma casa ha
quall trás Diogo Gomçalves e destes duzentos reis se dizem duas myssas
pella sua alma, cad’ano, e o sobejo pera fabrica da igreja.
(fl.120)
Tem mais a dicta capella huma casa e huma camara junto della em que
vive ho irmytão.

Detryminações desta capella

Por acharmos que os fregeses são obrigados a fábrica e corregimento


desta igreja e tudo o mais neçesareo della, emcomemdamos muito e
mandamos que com muita brevidade mamdem acabar de pintar ho retavolo
do altar moor.
Mandarão lagear a igreja o mais çedo que puderem.
Mandarão fazer huma crux de pao, dourada, pera o altar, e huma tavoa
com as palavras de sacra.
Huns castiçaes bons pera o altar moor e huma caldeira pera agoa benta,
d’asperges.

Capela curada de São Sebastião de Quelfes

Vysitamos a dicta capella curada, a quall teraa çem vyzinhos, a capella


moor he d’abóboda, tem hum altar d’alvanaria e nelle estaa hum retavolo
de çimquo payneis, pintado e dourado per partes, e no meyo hum emcasa-
mento em que estaa a imagem de São Sebastião.

207
Ho corpo da igreja he de tres naves e por estar danificada foy ora
novamente tornada a edeficar pelos fregeses della, e estaa aimda por
gorneçer, e os piares(sic.) e arcos são de pedraria, e a porta primçipall está
imda por acabar e está tapada de pedra e barro junto do arco do cruzeyro
estão dous altares d’alvanaria e imda se não diz myssa nelles; estaa
madeyrada de castanho e de telha vãa.
Achamos por capelão Estevão Paes, clerigo do ábyto de Santiaguo e estaa
servimdo com carta de cura, apresentado pelos fregeses.
Vysitamos sua pessoa e vimos seus titolos do ábyto e pro
(fl.120v.)
fissão e livro da Regra; tudo tinha como comvinha e era obrigado.
Visytamos a pia de baptizar, a quall estaa no corpo da igreja, sem grades,
junto da porta primçipall; a pia he de barro verde vidrado, com seu pee de
pedra, e os santos oleos estavão como comvinha.
Achamos que ho povo he obrigado ao corregimento e fábrica e orna-
mentos della, e pagar o estipemdio do capelão; e neste custume estão e
assy o fazem.
Os dictos fregeses dão agora ao capelão hum moyo de triguo, e satenta
peças de figos.
Desta capella à igreja matriz de Farão haa duas legoas e meya.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata, pequena e velha ................................................ I crux


Hum caliz de prata dourado com sua patena ..................................... I caliz
Outro caliz de prata quebrada ........................................................... I caliz
Huma vestimenta de çetim preto com savastro do mesmo e barras de
viludo, de todo comprida e usada ..................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote cramysim, velha, de todo comprida ...........
.......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote cramysim, velha, de todo comprida, sem
alva ............................................................................................ I vestimenta
Huma capa d’asperges de chamalote cramysim, com savastro de viludo
azull ............................................................................................... I capa
Outra vestimenta d’usteda preta .............................................. I vestimenta

208
Hum frontall de chamalote cramysim e outro preto .................... II frontaes
(fl.121)
Haa mais algumas meudezas que tudo estaa em aventayro no livro da
igreja que estaa na mão do capelão.

Detriminação desta capela atrás de São Sebastião

Mandamos aos eleytos e mordomos e aos mais fregeses que mandem


fazer huma pya de baptizar de pedra boa, porque a que tem nam serve, por
ser de barro.
Mandarão çercar a pia de grades de bordo, ou de castanho, com sua
chave, fechadas.
No mesmo circuyto farão hum almareo na parede, forrado de madeyra
em que estarão os santos oleos.
Mandarão comçertar o caliz que estaa quebrado.
Mandarão fazer huma fresta na capella, por estar escura.
Mandarão fazer sobre a porta primçipall hum espelho de pedra com sua
vidraça e ao pee do espelho mandarão poor ho ábyto de Santiago, lavrado
em pedra.
Mandarão pintar sobre ho arco do cruzeyro hum cruçifixo, que seja de
vulto.
Mandarão comçertar o pee da crux, de maneira que não bulla e este<ja>
fixo.
Estas cousas açima ditas mandamos aos eleytos e mordomos e aos mais
fregeses que mandem fazer, e ponhão na igreja, sob pena de çimquo cruzados
pera os cativos e fábrica da igreja e meyrinho, e se faraa dentro de hum anno.
(fl.121v.)

Capela curada de Nosa Senhora da Comçeyção

Vysitamos a dicta capella, a quall estaa em hum alto e tem çimquoenta


fregeses.
Ha capella moor he d’abóboda, soobem ao altar por çimquo degraos, ho
altar he d’alvenaria e nelle estaa hum retavolo de portas, pequeno, velho e
pintado; nelle estaa a imagem de Nosa Senhora de vulto, e outra imagem
pequena com os Menimos Jhesus; no arco do cruzeyro estão humas grades
velhas.

209
Ho corpo da igreja he feyto de pedra e cal, guarnecido e cayado de huma
soo nave, madeyrado de castanho e forrado de canas; sobre a porta primcipall
estaa hum campanayro com huma campa quebrada.
Ho corpo da igreja estaa todo lageado, junto do arco do cruzeyro estão
dous altares pequenos da imvocação de Nosa Senhora e outro de Sant’Ana.
Vysitamos a pia de baptizar e os santos oleos, a quall estaa entramdo pela
porta primçipall, a mão esquerda, çercada de grades de pao de castanho,
velhas; a pia he de pedra e bem feyta, com seu pee e cubertura de madeyra.
E os santos oleos estavão em hum almareo na capela, fechado, com suas
portas de bordo, e estavão como comvinha.
Os fregeses desta capella são obrigados à fábrica, prata e ornamentos
della, e neste custume estão e assy o fazem e elles a amanharão ora de
novo, e pagão ho mantimento ao capelão.
Achamos por capelão Pedro Alvarez, clérigo da Ordem de São Pedro,
e nos disse que ho bispo o mandara a esta capella com sua carta de cura, e
os fregeses lhe pagão seu estipemdio, e lhe dão, em trigo, e figo, cad’ano, que
valeraa oyto mill reis.
Desta capella à çidade haa meya legoa, e a São Martinho d’Estoy outra
meya legoa, e outra meya a São João da Vemda, e a meia legoa a São Berto-
lomeu de Pexão.
(fl.122)

Livro dos ornamentos e prata

Huma crux de prata com seu cruçifixo .............................................. I crux


Tres calezes(sic.) de prata com suas patanas .............................. III calezes
Além das quatorze figuras pequenas de prata que estão na visitação
antiga, tem mais agora oyto contos d’ouro, cheas d’ambre, com hum firmall
de rubis, com tres grãos d’aljofar, e tres vieyras d’ouro, tudo em hum ramall
d’alambres.
Outro ramall gramde, de corações, e outro pequeno, com estremos de
prata ..................................................................................................... II ramaes
Outro ramall de contas d’azevinho e coraes meudos, com sete estremos
de prata .................................................................................................. I ramall
Huma coroa de prata com duas pontas d’ouro que serve a cabeça de
Nosa Senhora .......................................................................................... I coroa

210
Huma vestimenta de damasquilho da Imdia, de todo comprida e nova .......
.......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho bramco da Imdia com savastro de
borcadilho, de todo comprida e nova, que deu Ruy Barreto Mascarenhas,
difunto.
Çimquo vestimentas de seda, de todo compridas delas(sic.) novas e
usadas .......................................................................................... V vestimentas
Nove frontaes de seda, huns novos, outros usados ................... IX frontaes
Duas capas d’asperges ................................................................... II capas
E as mais cousas que haa na igreja estaa tudo em aventayro no livro della,
que estaa em mão do capelão.

Detriminações desta capella

Mandamos e emcomemdamos muito aos eleytos


(fl.122v.)
e mordomo e aos mais fregeses desta capella que mandem comçertar a chave
d’abóbeda da capella por estar muito perigosa e em risco de cair e não estaa
como cumpre à casa de tamta romagem.
Mandarão mais fazer humas grades pera estarem no arco do cruzeyro
porque as que tem são muito velhas.
Huma távoa das palavras de sacra e huma crux de pao, dourada.

Vysitação da capela de São João da Vemda, curada

Vysitamos a dicta capella curada a quall teraa até çimquoenta fregeses


e esta capella estaa assy e da maneira que se contem na visitação passada,
que foy feyta por Diogo Çalema, cavaleiro da Ordem e António Fernandez,
prior dos Colos; soomente os fregeses fizerão a capela de novo e o arco do
cruzeyro; a capela moor he d’abóboda.
Visitamos a pia de baptizar e os santos oleos, a quall estaa entramdo pela
porta primcipall, a mão esquerda, cercada de grades fechadas com sua chave;
a pia he de pedra lavrada e tapada com sua tapadoyra, per cima, de tavoas,
e os santos oleos estavão como comvinha.
Achamos por capelão a Francisco Vieyra, clérigo da Ordem de São
Pedro, e disse que servia com carta de cura do perlado e o estipemdio lhe
pagão os fregeses e lhe dão trynta e çimquo alqueyres de trigo e trynta e

211
çimquo peças de figos.
Achamos que os fregeses são obrigados à fábrica e prata, ornamentos
desta capella, e neste custume estão; e pagão o mantimento do capelão.
Desta igreja à çidade haa huma légoa pequena(sic.) e a Nosa Senhora da
Comçeyção, que he outra capela curada, haa meia légoa.
(fl.123)

Livro da prata e ornamentos

Hum caliz de prata com sua patana, que se fez do dinheiro que dantes
avia ........................................................................................................... I calez
Achamos que tem mais, além dos ornamentos que se contém na visistação
pasada, as cousas segintes.
Huma vestimenta de damasco branco com savastro de damasco cramesim
nova, de todo comprida ................................................................ I vestimenta
Huma capa de chamalote alionado com savastro de çetim fallso, laram-
jado ........................................................................................................... I capa
Hum frontall de chamalote branco com humas tiras de tafetá cramysim ....
................................................................................................................ I frontal
Outro frontall de chamalote emcarnado que estava no altar ........... I frontal
Hum myssall gramde, romão(sic.), novo ...................................... I missal
Tres toalhas de Frandes ............................................................... III toalhas
Sete toalhas da Imdia, de mãaos, do altar ................................... VII toalhas
Huma crux com hum crucifixo de prata ............................................. I crux
Huma capa de tumba de chamalote preto, com sua crux bramca no
meyo ......................................................................................................... I pano
Huma memsa d’emgomços ............................................................ I mensa
Hum tribulo de metall ................................................................... I tribullo
Haa mais na dicta igreja outras meudezas que tudo estaa em aventayro no
livro da igreja, em mão do capelão.

Detriminações desta capella

Mandamos aos eleytos e mordomos e aos mais fregeses desta dicta capella
que mandem pôr na igreja as cousas segintes.

212
Primeiramente mandarão fazer huma távoa com as palavras de sacra pera
o altar.
(fl.123v)
Mandarão fazer huma casa pera samcristia omde ora tem feyto ho portall
pera ella.
Mandarão fazer humas grades pera o arco do cruzeyro.
E mandamos aos dictos eleytos e mordomos e aos mais fregeses que
mandem lagear a dicta igreja e as pesoas que tiverem sepulturas no corpo
da igreja mandamos que os lageem dentro de hum anno e nom na lageamdo
que fiquem devolutas à dicta igreja e, acabado o dicto tempo nom semdo
lageadas, mandamos ao capelão e mordomos que as não deyxem abrir
sem as pagarem de novo, sob pena de as pagarem à sua custa.
E mandamos aos erdeiros da sepultura que estaa na capella moor que
dentro de hum anno ponhão huma campa de pedra na dicta sepultura, e
os que nom quiserem comtribuir percão a posse que tinhão de se emterrar
nella, e fique soomente aos que a lagearem.
E as cousas açima dictas mandamos e emcomemdamos muito aos eleytos
e mordomo e aos mais fregeses que mandem fazer e pôr na igreja dentro em
dous annos que se acabarão per Natal de sasenta e seis.

Capela curada de Santa Bárbara

Visitamos a dicta capella, a quall estaa da maneira e feyções que se


comtem nas visitações pasadas, e achamos feyto mais na dicta igreja a nave
do meyo forrado de novo de bordas, bem feyto, e fizerão mais huma casa
sobradada em que vive o capelão, junto da igreja.
Esta igreja estaa em hum alto, junto della não vive mais que ho capelão
e irmitão e averá nesta igreja noventa fregeses que vyvem espalhados.
Vysitamos a pia de baptizar e os santos oleos, e estaa entramdo pela porta
primcipall, a mão esquerda, çercada de grades, e a pia he de pedra, bem feyta,
tapada com sua tapadoyra, os santos oleos estão em hum almareo, na capela
moor, e estavão como comvinha.
(fl.124)
Achamos por capelão Viçente’Anes, clérigo da Ordem de São Pedro, o
quall dise que o bispo ho manda com sua carta de cura a esta capella, e os
fregeses lhe pagão seu estipemdio e lhe dão por anno hum moyo de triguo e
trynta peças de figos.

213
O capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses todo-los domimgos e
festas de guarda do anno, e admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Desta capela à çidade haa huma legoa, e a capela de São João que he outra
capela curada há quasi meia légoa.
Achamos que os fregeses são obrigados à fábrica, prata e ornamentos
desta igreja, e neste custume estão, e também o fazem das esmollas e remdi-
mento da igreja e o que lhe faltão de suas casas o dão e assy pagão o
mantimento do capelão, como dicto he.
Achamos pelas visitações pasadas que o Mestre, que aja glória, fez merçe
das ofertas e oferiçimento desta igreja pera a fábrica e ornamentos della
ho que pertemçia à Ordem, que he a metade das dictas ofertas e assy se usa
e as recolhem comforme a provisão que foy vista per nós.

Livro da prata e ornamentos

Hum caliz gramde, de prata, sobredourado, com sua patena ............. I caliz
Outro caliz de prata, com sua patana ................................................. I caliz
Outro caliz de prata, com sua patana .…................................…… I caliz
Huma coroa de prata ............................................…………......……. I coroa
Huma crux de prata .....................................................................…….. I crux
Huma crux de colo, de prata ............................................................... I crux
Hum frasquinho de prata, sobredourado .................................. I frasquinho
(fl.124v)
Humas vergas de prata .................................................................... I vergas
Trinta e sete peças de prata, pequenas ................................. XXXVII peças
Quarenta e sete peças de prata, que estão em poder do irmytão, pera se
oferecerem aos romeyros ................................................................ RVII peças
Hum ramall de contas de coraes e outro de lambres ........................ contas
As vestimentas que achámos no aventayro na vysitação pasada, diserão
o capelão e fregeses que ja haa alguns annos que queymarão humas
vestimentas velhas e que serão aquellas, e as que ora haa são as segintes.
Huma vestimenta de damasco bramco com savastro de veludo cramysim,
de todo comprida, usada ................................................................ I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho branco da Imdia, com savastro de tafetá
cramysim, de todo comprida, usada ................................................ I vestimenta

214
Outra vestimenta de damasquilho verde, de todo comprida, usada .........
.......................................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote preto, com savastro de çetim preto, de
todo comprida, usada ..................................................................... I vestimenta
Hum frontal de chamalote cramysim .............................................. I frontal
Dous frontaes de chamalote vermelho e azull ............................... I frontal
Outro frontal de chamalote preto, da Coresma ............................... I frontal
Huma capa de chamalote azull, com savastro de chamalote amarello .......
.................................................................................................................... I capa
Duas corrediças de sarga (sic.) vermelha ................................ II corrediças
Hum páleo de damasco cramysim, todo framjado de retroz com quatro
canudos de prata das varas ..................................................................... I páleo
(fl.125)
E as mais meudezas que haa na dicta igreja estão em aventayro no livro da
igreja, na mão do capelão.

Porpriedades

Humas terras de pão, que deyxou Lionor Fernandez, difunta, que estão
junto da igreja, as quaes amdão arremdadas agora por quatro mill reis .......
.......................................................................................................... MMMM reis
Huma courella de terra junto do rybeiro da Jordana, que tem arvores,
ouliveiras e figueyras.
Huma vinha que tras ora ho irmitão em seu poder.
Hum foro de huma vinha em pesoas que tras ora Gaspar Afonso em
primeira pesoa e paga cad’ano ......................................................... MMM reis
Outro foro que lhe faz Felypa da Ponte, viúva, de humas casas e ouliveiras
e figueyras e paga cad’ano seisçentos e çimquoenta reis .................... DCL reis

Detriminações desta capella

Mandamos aos eleytos e mordomos que mandem fazer hum frontall de


damasco bramco, com bamdas de viludo cramysim e franjado.
Mandarão comprar huma távoa de sacra pera ho altar moor.
Huns castiçaes gramdes pera o altar moor.

215
De custume antigo foy sempre emlegerse hum mordomo nesta igreja,
por parte da Ordem, pera arrecadar a metade das ofertas que pertemçem à
dicta Ordem, e por que ho Mestre, que aja glória, fez merçe e esmolla à
dicta casa, desta sua parte, per provisão sua, que estaa no livro do tombo da
dicta capella
(fl.125v)
mandamos que assy se cumpra e se faça mordomo e prior por parte da
Ordem, como soy a ser.
E as chaves do çepo, e da arca das esmollas mandamos per visitação
que, o dicto mordomo que servir por parte da Ordem, tenha huma dellas.
E mandamos aos mordomos e eleytos que não abrão o dicto çepo sem
estar o escrivão da casa presente pera lamçar em receita ho que assy acharem
nelle.
E também se abriraa ho dicto çepo perante algumas pesoas do poovo,
pera averem as esmollas do dicto çepo, porquanto se aqueyxarão que os
mordomos abrirão ho dicto çepo, soos.
E mandamos ao capelão que nom comsinta nenhuma pessoa na capella
moor, nem na samcristia, emquanto se diser myssa, por sermos imformados
que se faz muito gramde torvação aos ofiçios devinos.

Vysitação da igreja de São Pedro no arravalde, capella


curada anexa a matriz

Vysitamos a dicta igreja, a quall estaa assy e da maneira que se contém


nas visitações passadas e os fregeses della fazem ora huma igreja nova às
suas custas, ficando a velha dentro nella, em que se diz myssa ao povo e
lhe admynistrão os Santos Sacramentos emquanto se não acabar a nova e
a fazem pela forma da igreja matriz.
Queremdo visitar o Santo Sacramento como acustumavamos en toda-las
igrejas, semdo presente por parte do bispo e cabydo o doctor mestre Dioguo
Lopes, cónego da See de Sylves, nos requereo que nom visitasemos esta
igreja nem o santo sacramento nem pia de baptizar e oleos santos, por
pertemçer somente da visitação della ao bispo e cabydo que he ordinário,
damdo por
(fl.126)
rezão que esta igreja era perochial novamente criada pelo prelado, sem ter
nenhuma obrigação a Santa Maria, que he a igreja antiga da Ordem, na

216
quall somente tem a Ordem a visitação; e por rezão disto o prelado apresenta
aqui o cura, o quall cura nenhuma obrigação tinha ao prior de Santa Maria,
igreja da Ordem, posto que a Ordem pague a metade do estipemdio ao cura
della, e nos requereo, por parte do bispo, como procurador seu que hera
por procuração sua, que loguo apresentou que nom quisesemos nisso imsistir,
por que faria seus protestos e requirimentos e mandaria ao cura que nom
abrise o sacrayro nem a pia nem a mostrase os santos óleos, semdo a tudo
isto presente Francisco Raposo, escrivão do auditoreo eclesiastico, que
comsigo trazia pera isso.
E depois de sobre isto se altercarem de huma parte e da outra muitas
rezões, das quaes podião naçer escamdolos e deferemças antre o bispo e
Ordem, e alegarmos per parte della que esta dicta igreja he anexa a igreja
de Santa Maria, matriz desta cidade, e assy pera pagar a Ordem a metade
do estipemdio do dicto cura sem acharmos provisão do mestre, que aja
glória, nem de Sua Alteza. Pera isto assy ser e acharmos que foy sempre
visitada pelos visitadores da Ordem, sem aver nenhuma comtradição de
nenhuma parte, nos pareçeo bem, assy por avitarmos escamdalos e
disemções, como por ser presente o dicto doctor pera asistir nesta visitação,
comforme a composisão feyta antre o bispo e a Ordem, e ser tam lomge
da corte que não podia dar conta a Vossa Alteza, pera nysso prover sem
passar muito tempo e recreçerem emfadamentos, asemtamos que todos,
juntamente, visitasemos o Santo Sacramento, pia e santos oleos .scillicet.
que o dicto doctor vestido em huma capa, e nos juntamente com ho manto
bramco e o padre João Fernandez, vysitador, com outra capa, fosemos ao
altar moor, e o dicto doctor tirase o Santo Sacramento e o mostrase ao povo
e de todos fosse adorado como foy, e achamos estar como comvinha; e da
mesma maneira fizemos na visitação da pia e santos óleos.
(fl.126v)
E ambos protestamos, por parte do bispo e Ordem, que a dicta vysi-
tação feyta desta maneira não perjudicase a pose que a Ordem tem, nem
ao direito que ho bispo diz que tem com quem pareçe, que Vossa Alteza
deve mandar asentar a quem pertemçe a visitação desta igreja, por escusar
deferemças, e o provimento do cura della, por acharmos que paga a Ordem
a metade do seu estipemdio per provisão de dom João de Mello, bispo
que foy deste Alguarve cujo trelado levamos pera Vossa Alteza prover
como for servido.
Achamos por capelão da dicta igreja António Gonçalves, que he cura della
com carta do prelado, e tem de seu estipemdio à custa da Ordem e bispo e
cabydo, hum moyo e meio de trigo de medida deste Algarve ..... I moyo e meio

217
E duas pipas de vinho ..................................................................... II pipas
Em dinheiro .................................................................................... MM reis
E nam tem ho pee do altar, per ser da igreja matriz.
Achamos que os fregeses desta igreja são obrigados ao corregimento prata e
ornamentos della, e neste custume estão, e elles têm ora à sua custa
primcipiado a dicta igreja, muito boa, e o fazem também das esmollas della
e nós aprovamos este custume e louvamos muito.

Livro da prata e ornamentos da igreja

Quatro calizes de prata, com suas patanas .................................. IIII calizes


Hum tribulo de prata, bom, com quatro cadeyas ............................ I tribulo
(fl. 127)
Achamos que os mareantes desta çidade têm huma crux de prata que
elles amandarão fazer, e a têm em seu poder, e a dão pera a igreja, quando
se há mester.
As vestimentas que faz menção as visitações pasadas achamos serem ja
gastadas, e as que tem são as seguintes.
Huma vestimenta de viludo cramysim, nova, com savastro de viludo verde,
entretalhado de çetim amarello, de todo comprida ...................... I vestimenta
Outra vestimenta de çetim falso, verde, com savastro de çetim falso,
vermelho, nova ................................................................................. I vestimenta
Outra vestimenta de çetim falso cramysim com savastro de çetim falso
amarello, nova, e de todo comprida ............................................... I vestimenta
Outra vestimenta de tafetá preto, com savastro de çetim preto, usada, de
todo comprida ................................................................................ I vestimenta
Çimquo vestimentas velhas que servem cotidianamente de todo com-
pridas ........................................................................................... V vestimentas
Duas dalmáticas de chamalote preto com savastro de damasco preto,
novas, e de todo compridas .......................................................... II dalmáticas
Duas dalmáticas de viludo verde com barras de tafetá da mesma coor,
usadas, e tem soomente capellos .................................................. II dalmáticas
Hum frontall de rede, forrado de bocaxim preto ............................. I frontal
Outro frontall de chamalote preto, franjado de retroz .................... I frontal

218
Outro frontall de chamalote amarello, com huma crux de tripe, vermelho ....
................................................................................................................ I frontal
Hum pontificall .scillicet. manto e dalmáticas de todo comprido e novo,
de damasco branco, com savastro de damasco cramysim, todo framjado,
que deu de esmolla António Dias, mareante ................................... I pontifical
(fl.127v)
Hum santorall e domimgall e hum antifonayro.
Quatro misaes, de custume romão .............................................. IIII misaes
Hum pasioneyro ....................................................................... I pasioneyro
Hum breviayro gramde, do coro, usado ...................................... I breviayro
E as mais cousas que ha na igreja, e nela servem, estão em aventayro no
livro da igreja, que aquy escusamos por serem cousas meudas.
Achamos aver nesta igreja huma capella da imvocação de Jhesus que
edificou Pedr’Afomso, cavaleiro, e sua mulher, e deyxarão foros e proprye-
dades e dellas se disesem em cada hum anno vinte cruzados em myssas e
agora he admynistrador Álvaro Perez, seu neto, e achamos que se cumpre
a obrigação; soomente averaa dous annos que se nom dizem estas myssas,
por mandado do provedor, pera se tornar a edificar a capella com a igreja
nova que se faz.
Achamos que humas netas de Vicente Symão fazem de foro trezentos e
noventa reis de humas terras que têm na campina, termo desta çidade, o
quall foro he pera fabrica desta igreja soomente ........................ CCCXC réis
A mulher que foy de Lamçarote Rodriguez faz de foro de humas suas
casas, duzentos e dez réis .................................................................. CCX réis
João Lopez da Ortiz faz de foro à dicta fábrica de humas estalagens,
quatrocentos reis .............................................................................. CCCC réis
Belchior Rodriguez, oleyro, faz de foro à dicta fábrica trezentos reis de
huma casa com obrigação de duas myssas rezadas e o sobejo pera a dicta
fábrica ................................................................................................ CCC reis
Afoms’Eanes, almocreve, faz de foro vinte çimquo reis de humas casas ......
.............................................................................................................. XXV reis
(fl.128)
Gimar Lopez, filha de João d’Ornellas, faz de foro vinte çimquo reis de
humas casas ....................................................................................... XXV reis
Huma filha de Jan’Afomso(sic.) Anjo faz de foro oytenta réis de humas

219
casas ................................................................................................ LXXX réis
Luis Alvares Cavaco faz de foro trezentos reis de hum figueyrall que tem
em Quelfes, com obrigação de duas mysas e o sobejo pera a fábrica ...........
.............................................................................................................. CCC reis
Achamos aver nesta igreja huma bulla de perdões de cardeaes, e
comçede que toda a pessoa que der esmolla pera a fábrica desta igreja,
çimquo festas do anno, ganhem seisçentos dias de perdões em cada festa, a
quall bulla foy vista por nós e aprovamos e ouvemos por boa.
Foy visto ho livro da receita e despesa da dicta fábrica da igreja, do remdi-
mento della, e achamos estar lyquidamente em mão de Domimgos Dias,
mordomo, çimquo mill noveçentos e quimze réis ................. BMCMXV réis

Vysitação da capela curada de Sam Bras d’Alportell

Vysitamos a dicta capella, a quall estaa em hum alto, e haa nesta fregisia
çento e çimquoenta fregeses e delles morão no termo de Loulee.
Ha igreja achamos que foy feyta de novo há pouco tempo porque, a que
damtes tinhão, era pequena; tem agora huma capella d’abóboda, e nella
hum altar d’alvanaria com ha imagem de Sam Brás, de vulto, e por çima, hum
sobreçeo de quortinas; nesta capella estaa hum portall que he servimtia
pera samcristia, a quall he feyta de pedra e call, madeyrada de castanho e
emcaniçada.
(fl.128v)
Ho corpo da igreja he de tres naves, com piares de pedraria e arcos
d’alvanaria, madeyrado de castanho, com telha vãa; junto do arco do
cruzeyro estão dous altares, ho da parte da Epístolla tem hum retavollo
em preto e nelle hum emcasamento em que estaa huma imagem de Nosa
Senhora, de vulto, e no outro altar estava huma imagem de Santo António
e outra de Santa Eufemya.
Ho portall he de pedraria, gramde e bom, com suas portas novas de
dous postigos; pera porta travesa soobem por seis degraos, e estaa começada
lagear, tem hum campanayro feyto em torre, sobre a parede, junto da porta
primçipal da parte do sull, e tem huma campa pequena.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estava entramdo pella porta prim-
çipall, a mão esquerda, çercada de grades, a pia he de pedra bem lavrada;
os santos oleos estavão em hum almáreo que estaa na capela, pintado, e
estavão como comvinha.

220
Achamos por capelão Pero Matoso, clérygo da Ordem de São Pedro,
com sua carta de cura do perlado, e os fregeses lhe pagão seu estipemdio
e lhe dão em cada hum anno tres moyos de triguo torrado pelos fregeses.
O dicto capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses todo-los domyngos
e santos de guarda, e admynistrar-lhe os Santos Sacramentos.
Desta capella a çidade haa duas legoas gramdes e de mao camynho.
Os fregeses desta capella são obrigados à fábrica, prata, e ornamentos
della e neste custume estão e assy o fazem e elles a fizerão da maneira que
ora estaa.
Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata ......................................................................... I crux


Hum caliz de prata com sua patana ................................................... I caliz
(fl.129)
Outro caliz pequeno de prata, velho .................................................. I caliz
Huma vestimenta de damasco bramco com savastro de viludo cramysim,
nova, e de todo comprida .......................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho azull com savastro de viludo preto,
de todo comprida, usada ................................................................ I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote preto, com savastro de chamalote roxo,
usada, e de todo comprida ............................................................ I vestimenta
Hum frontall de borlatim(?) usado, e outro de pano azull, velho, e tres
de pano da Imdia, pintados .............................................................. V frontaes
Hum çeo de quortinas de çetim fallso, pardo, velho ........................... I çeo
E as mais cousas que haa meudas na dicta igreja estão em aventayro no
livro da igreja.
E por nos foy tomado conta o mordomo da igreja, do remdimento e
despesa dellas.

Detriminações desta capella

Mandamos aos eleytos e mordomos e aos mais fregeses que mandem


telhar a igreja, por estar per muitas partes descuberta.
E mandarão lagear a igreja da maneira que tem começado, e requererão as
pesoas que tiverem sepulturas que as lageem dentro neste anno, sob pena de
ficarem devylutos(sic.) à igreja.

221
E junto da pia de baptizar mandarão fazer hum almáreo forrado de
madeyra, em que estavão os santos oleos.
(fl.129v)
Mandarão fazer dous panos de calizes, porque os que tem não são pera
servir.
Por se nos aqueyxarem os mordomos que as pesoas que se enterrão na
igreja, seus erdeiros e testamenteiros pagão muito mall as sepulturas, e o
lageamento dellas, mandamos ao capelão que não deyxe abrir sepultura
nenhuma, sem primeiro ser paga, ou penhor de prata ou d’ouro.
E mandamos aos fregeses e mordomos que mandem fazer huma tumba
pera os difuntos, e huma capa deste, da prata, com huma crux bramca pera
cobrir a dicta tumba.
Por acharmos que a mensa(sic.) da comfraria de Nosa Senhora se
alevanta aos domyngos e às festas de Nosa Senhora, e se põem junto do
esteyo do arco do cruzeyro, omde faz muito nojo às molheres e pesa na
igreja, detriminamos e mandamos per visytação que a dicta mensa se ponha
junto do altar de Nosa Senhora, emcostada à parede por se escusarem
deferemças.
E mandamos aos dictos eleytos e mordomos e fregeses que cumprão
estas cousas açima, dentro em hum anno, com pena de çimquo cruzados, a
metade pera os cativos, outra metade pera a fábrica da igreja e meyrinho da
visitação.

Contia da fábrica da igreja matriz e despesa ordinária della

Achamos que tem esta igreja matriz de fábrica, em cada hum anno, à custa
da comenda e do bispo e cabydo, trynta mill reis.
Tem mais a dicta fábrica quinhentos e çimquoenta reis de foro como
diz a visitação que fica na igreja e nesta atrás, com obrigação de quatro
myssas.
(fl.130)

Despesa ordinária da fábrica

Achamos per imformação que tomamos que se pode gastar nesta igreja
do dinheiro da fábrica, tres arrobas de çera, e nellas, e nos oleos santos e
outras meudezas pode montar o gasto ordinário da fábrica desta igreja em
cada hum anno oytto mill reis pouco mais ou menos ..................... VIIIM reis

222
Mantimento do Prior

O prior tem de mantimento em cada hum anno em triguo çeento e çimquo


alqueyres ........................................................................................ CV alqueires
Em çevaada dous moyos e meio ........................................ II moios e meio
Em vinho dous tonéis que são quatro pipas .................................. IIII pipas
Em dinheiro dezanove mill e trezentos reis ....................... XIXM CCC reis
A metade do pee do altar da mão beyjada he do prior e a outra do
bispo e cabydo, e do mais pee d’altar tem a terça parte, e de toda-las anexas
tem a metade em que entra a de São Pedro, e não tem nada na capella de
Santa Bárbara por ter provisão do mestre, que aja glória.

Benefiçiados

Cada hum dos benefiçiados tem de mantimento em cada hum anno


satenta e dous allqueyres e meio de triguo ................. LXXII alqueires e meio
Em vinho, tres pipas ....................................................................... III pipas
Em dinheiro, mill reis ........................................................................ M reis
(fl.130v)

Mantimento do tesoureiro

Ho tisoureyro tem de mantimento à custa da Ordem do bispo e cabydo,


em cada hum anno, quarenta alqueyres de triguo ........................ XL alqueires
Em vinho, huma pipa ......................................................................... I pipa
Em dinheiro, mill e duzentos réis ............................................... M CC réis
Ho mantimento do prior e dos tres benefiçiados da Ordem he paguo da
remda da Ordem, à custa da comemda, e o mantimento do tisoureyro se
paga o mantimento a metade a custa da Ordem, e outra metade do bispo e
cabydo.

Remdimento da Comemda

Achamos per imformação que remde esta comemda duzentos e satenta ou


oytenta mill reis lyquido pera o comemdador .sclillicet. duzentos e dez do
comemdador Estevão de Brito e os satenta ou oytenta do ramo do figuo
que tem António Coelho ..................................................... CC LXXXM reis

223
Foros da Ordem

Achamos por imformação e pelo tombo e visitações pasadas que a


Ordem tinha nesta çidade duzentos e çimquoenta réis de foro em humas
casas em Fatiota, as quaes trazia Isabell Pousada, filha de João Pousado,
cavaleiro, e por acharmos este foro amdar emlheado e que se não paga
nada das dictas casas, mandamos Afomso Fernandez, que disse ser feytor
do comemdador, e que
(fl.131)
per elle requereo cousas nesta visitação que, per nom se hobrigar as casas
ao dicto foro, pera que a Ordem nam perca o seu e faraa niso a diligência
neçesaria e a faraa saber ao comemdador.

Detriminações geraes

Porque creça a devoção no povo e folgem de fazer bem à igreja mandamos ao


prior della, ou quem seu cargo tiver, que em cada hum anno diga dous domyngos
em sua estação os ornamentos e cousas que naquelle anno se derão à dicta igreja,
e quem as deu, emcomemdamdo que digão hum pater pello dicto bemfeytor.

Apomtador

Por que omde nom haa pontador o serviço da igreja pereçe e se não faz
muitas vezes como deve, ordenamos e mandamos que ho aja e o prior
seraa o primeiro anno, e após elle, ho benefiçiado mais antiguo e dahy em
diante amdaraa por todos, cada hum seu anno, dos quaes mandamos
que oyto dias antes de São João se ordena o dicto apontador pelo modo
que dicto he, e nom ho fazemdo assy, perca cada hum mill reis de seu
mantimento e o que sair por apontador e nam quiser tomar juramento nem
servir, perca cimquo cruzados do seu mantimento daquelle anno ho quall
juramento tomaraa perante todos, e lhe seraa dado pelo prior que ho faça
bem e direitamente como deve, a quall penna seraa a metade
(fl.131v)
pera a fábrica da igreja, outra metade pera o meyrinho da vysitação; e o
provedor das visitações veraa se se cumpre ho comtiudo neste capitollo.
E mandamos ao dicto apontador que assy for eleyto que aponte ho
prior e beneficiados comforme as constituições do perlado deste bispado,
e os pontos que assy fizerem faraa o dicto apontador conta no fim do anno
que anotar nelles, e por sua çertidão lhe ouver de pagar seus mantimentos,

224
pera que deles lhe sejão descontados os dictos pontos, os quaes, o dicto
apontador repartiraa pelo prior e benefiçiados, como se custuma.

Detrimynações partyculares

Mandamos a Martim Gomçalves, prior da fábrica desta igreja, que dos


mill quatroçentos çimquoenta e sete reis que tem em sua mão da fábrica,
e dos trynta mill reis que há-de arrecadar este São João que vem, mande
acabar o pontificall bramco, de todo comprido, pera o quall ho prior tem
jaa o damasco que pera isso he neçesareo, com seu pano de pulpito.
Mandaraa mais fazer tres távoas de sacra pera os altares.
E as mais cousas que pera esta igreja são neçesárias nom mandamos
fazer por nom aver ora dinheiro e ser gastado, e vão por apontamento pera
Sua Alteza prover como for servido.

Benefiçiados sem abyto

Por acharmos nesta igreja Dioguo de Brito e Symão


(fl.132)
Nunez benefiçiados apresentados pela Ordem sem terem o abyto,
mandamos aos ditos beneficiados que até dia de Nosa Senhora d’Agosto
este que vem de sasenta e çimquo e nos vão tomar o abyto ao convento
e tirar provisão de Sua Alteza e nom o fazemdo assy, mandamos ao prior,
em vyrtude d’obediemçia, e com pena de dez cruzados pera a fábrica e
comvento de Palmella, os nom aja mais por benefiçiados na dicta igreja,
nem lhe acudão com nenhuns réditos nem mantimentos dos benefiçios,
nem os tinha mais por benefiçiados como se contém em noso mandado, do
socresto(?) da remda que fica em mão do dicto prior, que mandamos pasar
sobre isto.

Pera o tisoureyro

Mandamos ao prior da fábrica que do dinheiro della, de São João em


diante, não dêe mais os ditos cruzados do dinheiro da fábrica que ora
daa o tisoureyro por mandado do bispo assy por este dinheiro da contia da
fábrica desta igreja, e como porque quando se ouver de acreçentar algum
mantimento neste cargo de tesoureyro, ou noutros alguns, não há-de ser
à custa da fábrica se não à custa da Ordem, bispo e cabydo, como se contém
na composição feyta antre a dicta Ordem, byspo e cabydo e fazemdo-se

225
algum acreçentamento, deve-se consedar(sic.) diso conta a Sua Alteza,
como governador e perpeto admynystrador que he da Ordem, e o mesmo
se entemderá que ouvera de ser feyto no mantimento que se daa à custa da
Ordem, bispo e cabydo ao cura de São Pedro do aravalde desta çidade,
no que provemos per noso mandado de socresto que fica em mão do Licenciado
Fernão Rodriguez, prior da matriz.

Obrigação do povoo

Mandamos aos regedores desta çidade de Farão que mandem cayar e


pimçelar ho
(fl.132v)
corpo da igreja por dentro, por estar muito preta, e não como cumpre ao tall
templo, e isto por acharmos pertemçer ho corregimento do corpo da igreja ao
povo desta çidade.
E por lhe isto pertemçer, e o regimento da prata da dicta igreja, como
estaa claro em toda-las visitações pasadas, poderão ter a prata em sy e da sua
mão a dêe a hum padre ou tisoureyro da dicta igreja com a fiança que lhes
bem pareçer como achamos nas visitações pasadas que soyão fazer.
E assy achamos mais nas dictas visitações fazerem os regedores desta
çidade hum recebedor do dinheiro das sepulturas, por lhe pertemçer, pella
obrigação que tambem tem ao corpo da igreja, ho que farão agora se quiserem
e lhe pareçer bem.
Por acharmos que ho prior desta igreja e a receita da fábrica della
mandavão gastar o dinheiro da dicta fábrica nas cousas que lhe parecião
neçesareas à igreja, gastamdo às vezes nas cousas que a dicta fábrica não
tem obrigação, lhe mandamos que mais se não gaste, se não no que for
mandado per visitação, e soomente poderão gastar nas despesas ordinarias
que ficão declaradas nesta visitação, sob pena de, a tall despesa que assy
mais fizerem, ser às suas custas, avemdo quem no requeyra.

Sobre os enterramentos

Fomos imformados por muitos homens primçipaes desta çidade que nos
requererão que mandasemos ao prior e benefiçiados desta igreja <que> fosem
aos enterramentos com os defuntos, <...do> os se vão a São Francisco de
que o povo <reçebe> escamdalo, pelo que mandamos ao prior, <em> virtude
d’obediencia e aos benefiçiados, que vão aos dictos enterramentos <com>
muita diligemcia e não ho deyxem de fazer esto que tenhão deferemças

226
(fl.133)
com os frades sobre as ofertas como dizem que tem, <se> não he comprimdo,
assy avemdo quem disse sua queyxa aos vysytadores da Ordem serão castigados
como lhes pareçer.

Sobre os dízimos

E mandamos ao prior que amostre muitas vezes em suas pregações e


estações, a seus fregeses, que pagem bem os dizimos, porque fomos imformados
que se pagão neste termo muito mall e não absolva pesoa alguma que dever
dizimos comforme as constituições do prelado.

Arca pera as vysitações

Por acharmos que nesta igreja não haa arca onde estejão os livros das
visitações e tombos das capellas, mandamos ao prior da fábrica que, do
dinheiro della, mande fazer huma arca pequena, com tres chaves, em que
estejão os dictos lyvros, e as chaves terão o prior huma, e o benefiçiado mais
antiguo outra, e a outra o tesoureiro da fábrica.
E mandamos ao prior e a quem tever outras chaves, a quallquer pessoa
que comprir a ver o trelado d’alguns capitolos desta visitação lho encomem-
damos e mandamos ao dicto prior que mande dar os trelados das vysitações
das capellas curadas aos mordomos e capelães dellas, pelo escrivão, dantre
ssy asinadas por elle, como juiz da Ordem que he desta comarca.
E pera que venha à notiçia de todos ho contiudo nesta nosa visitação
mandamos ao prior, em virtude d’obediemçia que tanto que lhe for dada, logo
o primeiro domimgo começe de pubricar à estação lemdo-a pausadamente,
de maneira que todos o posão entemder e asentaraa nas costas della o dia
em que acabou de pubricar, e acabada a meteraa na arca, como fica dicto atras,
ho que compriraa com pena de quinhentos reis pera os captivos e meyrinho
da visitação, Felype Rodriguez, escrivão da dicta visitação que ho escrivy,
aos omze dias do mes de mayo de mill e quinhentos sasenta e çimquo annos.
(Assinaturas ilegíveis)

227
VISITAÇÃO DA ORDEM DE SANT’IAGO ÀS IGREJAS
DO CONCELHO DE LOULÉ
(fl. 134)
Loulee
Vysytação da Igreja de São Clemente matriz da villa de Loulee

Dom Pedro de Meneses, fydallguo da casa del Rey nosso senhor, comem-
dador das comemdas da vylla de Caçella e da Igreja do Sallvador da villa
de Santarem e Treze, e João Fernandez Baregão, prior da Igreja de Nosa
Senhora do Castello da villa d’Alcaçere do Sall, vysitadores do mestrado
de Santyago nesta comarca do Alguarve, eleytos em capitollo geral que se
çelebrou na çidade de Lisboa, fazemos saber que, por vontade do regimento
que trazemos de Sua Alteza e do dicto capitollo, visitamos a Igreja de São
Clemente, matriz da villa de Loulee, na maneira seginte.
Aos três dias do mês de mayo de mill e quinhentos sassenta e cimquo
annos chegamos a esta villa de Loulee. Feyta oração na dicta Igreja mandamos
pregar na porta a carta e mandado do nosso prior aos fureyros e pessoas que
trazem propriedades, a mostrarem seus titollos.
Ao segumdo dia fomo<s> à Igreja e, vestidos o prior e beneficiados em
suas sobrepelizes, ouvimos myssa e pregação; e acabado entramos a capitollo
e fizemos vénia às pessoas do abyto.

Comendador

Achamos por comemdador desta villa Lopo Furtado. Não visitamos sua
Igreja nem vimos seus titollos por nom ser presente.
Achamos por prior a Belchior Luís, cleriguo do abyto de Santiaguo. Foy
perguntado pelo titollo de seu abyto e profissão e lyvro da Regra. Tudo tinha
e o ouvemos por bem.
Perguntado pello titollo de seu ofíçio e priorado; mostrou huma comfir-
mação de Dom Fernando Coutinho, bispo que foy do Alguarve, por que o
comfirmou a apresentação do mestre que aja glória por lhe pertemçer in solydo.
Foy mais perguntado o dicto prior pellos tres votos sustançiaes da Regra
e assy pellas perguntas que tocavão a sua igreja; respomdeo que ho fazia o
mylhor que podia e estava prestes pera o fazer.
(fl. 134 v.)
Foy mais perguntado o dicto prior que hobrigação tinha de missas na
dicta Igreja. Disse que elle dizia as myssas ao povoo as festas primçipaaes

228
de Nosso Senhor .scilicet. a myssa do dia de Natall e dia de Çimza, dia de
Ramos e de fazer o ofiçio nestes dias. Item mais he obrigado de fazer o ofíçio
e dizer as myssas quintas feiras de Lava Pees e sesta feira e sabado santo e
dia de pascoa e dia d’acemssão e fazer o ofíçio aa vespera de pinticoste e
dizer myssa ao dia da trimdade e dia de Corpo de Deus e levar o Santo Sacra-
mento na procissão. Item mais diz as missas das festas de Nossa Senhora e
dia do apostollo Santiaguo e a mesma obrigação achamos nas visitações
passadas, que foy detriminado pelo mestre que aja gloria antre o prior e
beneficiados, e nós mandamos que assy se cumpra.
E mais he obrigado .in solido. à cura das allmas dos moradores da dicta
villa e termo e de lhe admynistrar todollos outros Sacramentos.
E polla ração que tem o dicto prior anexa ao priorado, he obrigado dizer
myssa sua somana asy como cada hum dos outros benefiçiados.
Achamos que haa na dicta Igreja quatro beneficiados, dous que são pagos
à custa da Ordem e os outros dous são pagos à custa do bispo e cabydo de
Silvees. E os dous que são pagos à custa da Ordem, el Rey nosso senhor como
governador della os apresenta e o bispo os comfirma.
Achamos por benefiçiado apresentado no benefiçio da Ordem, João Vaz,
clériguo do abyto, o quall nos apresentou seu tytollo do abyto e profissão e
lyvro da Regra e tudo ouvemos por bem.
Perguntado pello titollo de seu benefiçio loguo o presentou, huma comfir-
mação do bispo do Alguarve por que ho comfirmou a apresentação do mestre
que aja glória por lhe pertemçer in solydo.
E o outro benefiçiado he Francisco Rodriguez, clériguo do abyto de
Santiaguo, o quall nos mostrou seu titolo do abyto e profissão e lyvro da
Regra e tudo ouvemos por bem.
(fl. 135)
Perguntado pelo titollo de seu benefíçio loguo nos apresentou huma
comfirmação do bispo do Algarve per que o comfirmou a apresentação d’el
Rey noso senhor como governador e perpetuo admynistrador que he da
Ordem de Santiaguo por lhe pertemçer in solydo.
Achamos que o prior não serve seu priorado pessoalmente por ser jaa
muito velho e mouco e porém, vive na villa e he presente na igreja e tem ora
por cura que administra os sacramentos aos fregeses, Francisco Gomçalves.
Os dictos benefiçiados todos são obrigados de cantar as oras canonycas
dentro na Igreja segundo custume e de ajudar a todolos ofiçios devinos e
dizem as myssas polo povoo às somanas.

229
Achamos por tisoureyro da dicta Igreja António Vaaz, clerigo da ordem
de São Pedro, o quall he apresentado pelo bispo comforme à composição
que se fez antre a Ordem e o dicto bispo e cabydo.

Juiz e Vereadores

Perguntado o Juiz e Vereadores e oficiaes da camara e algumas pessoas


do povoo pelo juramento dos Evamgelhos seo prior e benefiçiados do abyto
servião bem seus ofiçios e por sua vida e onestidade e achamos que en tudo
fazião o que devião.

Pregão

Mandamos apregoar pelo porteiro do comçelho se avia alguma pessoa


que se queyxasse do comemdador ou das pessoas do abyto que viesse a nós e
lhe fariamos todo comprimento de Justiça.

Vysytação da Igreja

Vysitamos a dicta Igreja e defronte da porta primçipall estaa hum tavoleiro


lageado e a porta primçipall he de pedraria bem lavrada e
(fl. 135v)
a capella moor he d’aboboda e tem hum altar d’alvanaria. Sobem a elle por
çimquo degraos, tem hum retavollo pintado e dourado por partes, de três
payneis no do meyo estaa hum cruçifixo; no da parte do Evangelho huma
imagem de Nossa Senhora com hum minino Jhesus no colo, e no da parte
da Epistolla São Clemente Papa, tudo pintado a óleos. E no pee do retavolo,
junto do Sacrayro, estão pintados de huma parte Santiaguo, nosso patrão,
com hum abyto em çima da cabeça e da outra parte São Pedro; e o arco do
cruzeyro he de pedraria.
Ho corpo da Igreja he de três naves, com esteyos e colunas de pedra e
arcos d’alvanaria, madeyrada e forrada de bordos, bem feyta. Da parte do
Evamgelho, da capella moor estaa huma capella d’aboboda, de Nosa
Senhora, e tem hum retavollo muito velho e despintado. E junto della estaa
outra capela d’aboboda, da imvocação de São Brás e tem hum altar d’alvanaria
e hum retavollo pintado e dourado per partes, novo, de çimquo paynéis e
nelle hum emcasamento em que estaa a imagem de São Brás, de vullto; da
parte da epistolla estaa outra capella d’aboboda, da imvocação de Santo
António, com hum retavolo em çima do altar, pequeno, de portas, velho e
despintado. Nas ombreiras, junto do arco do cruzeyro, estão dous altares

230
d’alvanaria; no da parte do Evamgelho estaa nelle hum cruçifixo muito
velho e huma imagem de Nossa Senhora, de vullto, e outra de São João, da
mesma maneira, muito velhos; e o da outra parte he da imvocação de Nossa
Senhora e tem hum retavollo pintado e dourado, novo.
E junto da porta da samcristia estaa hum altar metido em hum arco da
parede e entramdo pela porta primçipall, à mam direita, estáa huma capela
d’aboboda da imvocação de Nossa Senhora da Comçeyção, e tem hum altaar
d’alvanaria e nelle hum retavollo pintado e dourado, de seis paynéis.
Sobre a porta primçipall estaa ho coro de madeyra, bem feyto, com a
frontaria lavrada, de madeyra, e a servintia pera elle he per huma escada de
pedrarya no corpo da Igreja e tem duas portas travessas de pedraria com suas
portas boas.
A samcristia he huma casa pequena com hum arco no meyo d’alvanaria
e huma janella que vay pera rua sem portas, com huma grade de fe
(fl. 136)
rro, e tem huns almareos muito roins e velhos, e hum lavatoreo descomçertado.
E tem hum sobrado na metade della que a faz escura e nos diserão que
noutro tempo servia este sobrado de dormirem os padres nelle, quando estavão
em tremtayro, e agora serve das despesas da Igreja.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata, gramde, usada, que pesa assy como estaa com huma
forma de pao e no pee hum cano de metall, vynte marcos e meio ............. I crux
Hum turibullo de prata, bramco, já velho, com quatro cadeyas, que pesa
cimquo marcos, três omças, duas oytavas, com a caldeira que tinha dentro ....
........................................................................................................... I turibulloo
Hum caliz de prata sobredourado, com sua patana, lavrado de folhagem e
huma crux no pee, o quall estaa quebrado e pesa dous marcos ................ I caliz
Hum caliz de prata, bramco, gramde, com sua patana, que pesa dous
marcos, sete omças e meia ....................................................................... I caliz
Outro caliz de prata, dourado e velho, lavrado no pee e vaso de folhagem,
com sua patana, e no vaso tem hum letreyro e na marca huns esmaltes, que
pesa dous marcos, çimquo onças ............................................................ I caliz
Outro caliz de prata, branco, novo, com pee de perafuso, de romano com
sua patana, que pesa dous marcos e huma omça ..................................... I caliz
Outro caliz do mesmo teor e feyções que pesa dous marcos menos huma

231
omça ......................................................................................................... I caliz
Outro caliz pequeno de prata, velho e quebrado, com sua patana, que
pesa hum marco e tres omças .................................................................. I caliz
Outro caliz pequeno de prata, quebrado no pee, que servia de dar a
comunhão aos emfermos, com sua patana, que pesa hum marco e meio, com
estanho no pee........................................................................................ I caliz
(fl. 136v.)
Duas coroas de prata, huma gramde, outra pequena, que pesão çimquo
omças e duas oytavas .............................................................................. I calliz
Hum relyquayro de prata, dourado, com a Imagem de Nosa Senhora de
huma parte e, da outra, Santa Barbara, que pesa com a fita, meya omça
.......................................................................................................... I riliquayro
Seis campaynhas de prata, douradas, pequenas que forão de hum caliz, e ou-
tros pequenos, de prata, que pesão seis oytavas e meia ............. VI campaynhas

Ornamentos

Hum pontificall de damasco, bramco, com savastro de vylludo cramysim


.scillicet. Frontall, capa, vestimenta e dalmáticas todo comprido, novo ............
............................................................................................................. I pontifical
Huma vestimenta de tafetá cramysim, com barras de veludo da mesma côor,
toda comprida e usada ................................................................... I vestimenta
Duas dalmáticas da mesma côr, soomente tem estolla e capellos e many-
pulos ........................................................................................... II dalmáticas
Huma vestimenta de cetim preto, franjada, sem alva, nova ........ I vestimenta
Outra vestimenta velha de borcado, sem allva nem estolla ........ I vestimenta
Outra vestimenta de damasco azull, com savastro de veludo azull, de todo
comprida, usada .............................................................................. I vestimenta
Tres vestimentas de ustedilha, usadas, de todo compridas ..... III vestimentas
Outra vestimenta, muito velha, de damasco cramysim sem savastro nem
allva ............................................................................................... I vestimenta
Huma capa de viludo cramysim, muito velha ..................................... I capa
Outra capa muito velha de chamalote azull ........................................ I capa
Hum frontall de bocaxim, preto ..................................................... I frontall

232
(fl. 137)
Duas toalhas de framdes, velhas, do altar moor ............................ II toalhas
Outra toalha da Ímdia, que serve quando dão ho Santo Sacramento ......
................................................................................................................. I toalha
Tres myssaes velhos ................................................................. III myssaes
Hum baptistério ........................................................................ I baptistério
Hum domyngall e hum santorall e hum antifonayro ........................ II livros
Huma caldeira d’agoa bemta ......................................................... I caldeira
Huma bacia d’oferta ........................................................................... I bacia
Dous castiçaaes do altar moor, velhos e roins ........................... II castiçaaes

Visitação do Santo Sacramento

Visitamos ho Sacramento, ho quall estaa no alltar mor, ao pee do retavollo


que ocupa parte della, pintado e dourado, bem lavrado e bom. De dentro he
dourado e nelle estaa huma cayxa de pao quadrada, forrada de viludo
cramysim e dentro hum cofrinho pequeno, forrado de cetim cramysim de
dentro e de fora, em que estava o Santo Sacramento e estava como comvinha
e foy visto e adorado de todos.

Alampada

Achamos a alampada que estaa diante do Santo Sacramento ser provida


pelos mordomos da Comfraria do Santo Sacramento à custa della e achamos
estar bem provida e sempre açesa, como deve ser, e nós lho louvamos muito e
emcomemdamos que dela tenhão espiçiall cuydado.

Relyquias

Achamos aver nesta igreja humas reliquias muito


(fl. 137v.)
antigas e estão tidas em muita veneração as quaaes são hum pequeno (sic.)
do veo de Santa Crara, e cabellos e manto de São Francisco com seus escritos
que o dizião e estão metidos em huma custódia de prata dourada dentro em
hum canudo de cristall e hum osso de hum dedo de São Brás que estaa no
meyo do canudo da custódia.

233
Pia de baptizar

Vysitamos a pia de baptizar a quall estaa em hum arco, debayxo da escada


que vay pera o côro, a modo de capella, com suas grades fechadas e os santos
oleos estavão como comvinha, em hum almareo junto do altar moor.

Campanayros

Vysitamos o campanayro ho quall he huma torre de cantaria allta e muyto


boa em que estão dous sinos gramdes e boons, e sobre a capella moor estaa
huma campaynha em hum campanayro com que tamgem quando levantão
a Deus e tudo estava como se contém na visitação pasada.
Tomamos conta da fábrica da Igreja a António Afomso Pousado, mordomo
della, e tomadas as contas, fica lyquidamente em sua mão, quarenta mill
e noveçentos satenta e dous reis ......................................... XLMXCLXXII

Cruçifixo

Sobre o arco do cruzeyro estaa hum respaldo de madeyra, com seu guarda
poo, em que estaa hum cruçifixo e huma imagem de Nosa Senhora e São João
tudo muito velho e não he pera servir.

Abyto

Sobre a porta primçipall estaa ho abyto de Santiago lavrado em peedra,


bem feyto.
(fl. 138)
Capela da Comçeição que estaa dentro na Igreja

Achamos que nesta capella, que estaa entramdo pella porta prymçipall
a mão direita, a edificou hum Fernão Peres Camacho e sua molher, Costamça
Vaz, e a dotou com mill e trezentos reis de foro, os quaes se gastasem em
ornamentos e cousas da dita capella e o sobejo se gastase em myssas rezadas
pelas suas allmas, e achamos ora por admynistrador Francisco Camacho e pela
imformação que tomamos do prior e benefiçiados achamos que se cumpre
inteiramente com a obrigação da capella.

Capela da Resureição

No altar que estaa junto da porta da samcristia achamos que tem a imvo-

234
cação da Resureição e neste alltar estaa instituyda huma capella que instituyo
Catrina Vaaz, molher que foy de Francisco de Leyria, de que he admynistrador
e capelão António Vaz, clerigo do abyto de São Pedro, pertemçemdo-lhe a
admynystração por ser parente mais chegado da dita Catrina Vaaz. Tem por
obrigação meyo anno de myssas rezadas e ornar ho altar e a dita difunta
deyxou de propriedade as cousas segintes:
A metade de hum oulivall no contio da serra ................................. oulivall
A metade de humas casas que estão na corredoyra desta vylla que forão
de Francisco de Leyria ........................................................................... casas
Em Boliqueime quarenta e sete alqueyres e meio de triguo ..................
.................................................................................................. XLVII alqueyres
Em Gillvarzynho, quimze alqueyres de triguo e tres mill reis em dinheiro e
duas peças e meia de figo choucho ......... XV alqueires e meio, II peças e meia
Oytocentos reis nas casas da praça que estão junto da estalagem que tras
hum João Fernandez de Faro .......................................................... DXXX reis
Çem reis em São Frausto no monte de João Rodriguez ........... cento de reis
E mandamos ao dito António Vaz, admynistrador, que dentro em dous
annos cumpra com a obrigação que tem de ornar o dito altar comprando
caliz e vestimenta e hum myssall e hum frontall do teor da vestimenta e
todo ho mais que for neçesareo.
(fl. 138v.)
E achamos que o dito admynistrador cumpre com sua obrigação das myssas
e mandamos ao apontador da Igreja que aponte se se dizem estas myssas, pera
daqui por diante se saber se se dizem.

Capella de Sam Bras

Achamos que foy instituyda esta capella por Gomçalo Memdez Caeyro
e mandou que se disesem myssa rezada cotidiana, pera quall dotou hum
moyo de triguo no moynho d’Alte e dozaseis alqueyres d’ azeite no oulivall
da Costa e dozasete peças de figuo e paça e dous mill reis em dinheiro e humas
casas em Farão.
E achamos por capelães desta capella Luís Domimges (sic.) vygayro e Jorge
Caeyro e achamos por admynistrador Antonyo Cordovill.
E por acharmos que tinha neçesidade esta capella de humas cortinas pera
cobrir o retavollo e toalhas pera o altar e galhetas e humas grades no arco da
capella mandamos que dos remdimentos da dita capella se comprem dentro

235
em dous annos que seraa este de sasenta e çimquo e sasenta e seis.

Capella de Santo António

Na capella de Santo António quee estaa dentro na igreja, da parte da


Epistolla, se canta huma capella que tem d’obrigação vinte myssas rezadas
e ao presente não se dyzem mais de quimze mysas por que se acreçentou a
esmolla a trynta reis.
Achamos esta capella estar muito danificada, sem frontall nem toalhas,
nem outra cousa alguma que posa servir no altar; só por ho admynistrador
desta capella nom estar na terra e ser na Imdia, nom visitamos com elle a
capella e provemos nas cousas segintes como nos pareçeo serviço de nosso
senhor.
E por acharmos na verba do testamento da instituyção desta capella que
manda que lhe digão vinte myssas sem lhe limitar salário e a dita capella
remder muito mais da obrigação por que pasa de vinte mill reis, mandamos
que se proveja nella as cousas segintes: primeiramente se dirão daqui por
diante vinte missas e não quinze, comforme à verba do testamento e as que
se deyxarão por dizer até gora mandamos ao prior e benefiçiados que obriguem
ao admynistrador que as mande dizer.
(fl. 139)
Hum frontall de chamalote de cores, com suas barras de seda e franjas de
retroz.
Outro frontall preto pera a Coresma.
Um par de toalhas pera ho altar.
Outro paar pera ho saçerdote limpar as mãos.
Huns castiçaes.
Mandar avedar a capella por riba, que lhe nom chova como ora faz, e
mandá-la cayar por dentro.
E mandamos a dona Lyanor Choynha, molher de Lisuarte d’Aragão admy-
nistrador que ora he, que ella, como procuradora de seu marido e reçebe ora
desta fazemda desta capella, que mande comprir todas estas cousas aquy
mandadas per visitação, até ho Natall que viraa e não comprimdo tudo isto
mandamos Afoms’Eanes, remdeiro dos bens da dita capella, que nom lhe
acuda com cousa allguma até com efeyto comprir sob pena de pagar as ditas
cousas à sua custa e dez cruzados pera fábrica desta Igreja e assy o prometeo
e asynou aqui e fica asinado na propria visitação da Igreja.

236
Capella de Nosa Senhora

Visitamos a capella de Nosa Senhora que estaa à parte do Evamgelho.


Achamos que foy instituyda pellos Taydes (sic.) e ao presente a posue dona
Isabell de Bayros. Tem d’obrigação nove myssas cantadas nas nove festas de
Nosa Senhora e daa d’esmolla, quimze alqueires de triguo, e quanto a isto
cumpre sua obrigação.
Visitamdo os ornamentos da própia capella achamos estar mall ornada,
mandamos que cumpra as cousas segintes, deste São João que vem a hum anno,
sob pena de não comprimdo ficar a dita capella devoluta à Igreja.
Mandaraa cortar ho altar por ser muito comprido e desvayrado, çimquo
pallmos dous e meio de cada parte.
Mandaraa comprar huma pedra d’ara por que a que tem ao presente nam
he deçente pera se çelebrar.
(fl. 139v.)
Mandaraa comprar hum frontall de chamalote de cores com sua franja e
barras de cetim como se ora custuma.
Mandaraa pintar ho retavolo por estar muito apagado.
Mandaraa comprar huns castiçaes.
Duas toalhas pera sobre o alltar.

Capela de Paderna (sic.)

Achamos nesta igreja estar hum gasiguo entramdo pela porta do soll a mão
direita, no quall gasiguo estaa situada huma obrigação de myssas que chamão
agora a capella de Paderna.
Emformando-nos da instituyção desta capella achamos per imformação
que foy instituyda por hum Amdre Martinz e Marianes, sua molher, que
estão enterrados no próprio gasiguo e deyxarão de obrigação certas myssas
rezadas e por a capella ser de muita remda os visitadores e provedores
obrigarão ao admynystrador dizer noventa myssas rezadas, as quaes achamos
que se cumpre e as propriedades desta capella são as segintes.
Hum moynho em Paderna, termo d’Albofeyra.
Humas terras de pão, também em Paderna.
Huma erdade nos Quartos, termo desta villa.
Duas courellas de terra na Costa, termo desta villa.

237
Noventa reis de foro em huma casa na rua de Jorge Neto.
Achamos ser admynistrador desta capella João Afonso cóneguo na See
de Syllves provido nella pello Bispo de Sillves por ser de sua provisão e
comfirmado per imposição de barrete.

Comfraria de Nosa Senhora dos Sábados

Visitamos a dita comfraria a quall estaa situada


(fl. 140)
na capella de Nosa Senhora, da bamda do Evamgelho do altar moor e achamos
que todolos sabados do anno se diz huma myssa cantada com a çera que
há na dita comfraria e vimos ho livro de sua receita e despesa e, pellas
esmollas da comfraria serem poucas e não abramjerem mais que a huma
myssa rezada, he a çera dos padres da igreja cantão a dita myssa por sua
devoção pagamdo-lhe soomente trynta reis d’esmolla a quem diz a myssa.

Comfraria de Nosa Senhora da Luz

Visitamos a dita comfraria a quall he dos pretos, que estaa situada no


altar da umbreira do arco do cruzeyro, da bamda da Epistolla e vimos o livro
de sua receita e despesa e, pellas esmollas que há na comfrarya dos comfrades
e outros se diz myssa rezada, todolos domimgos do anno com sua çera e assy
todollas festas de Nosa Senhora e nom remde mais a dita comfraria que pera
esta despesa açima.

Comfraria de São João

Visitamos a dita comfraria que estaa situada no altar da umbreira do arco


do cruzeyro, da parte do Evamgelho, e das esmollas e comfrarias dos
comfrades se diz myssa todolos domyngos do anno e vimos seu livro de
receita e despesa e per elle vimos que não haa mais remdimento que pera
se dizer myssa rezada todolos domyngos do anno e achamos que esta
comfraria foy ordenada ora novamente, pello quall nom tem imda çera e
achamos que os comfrades querem mandaar fazer hum retavollo e nós lho
emcomemdamos e louvamos muito.

Comfraria do Nome de Jhesus

Achamos que há nesta igreja huma comfraria do nome de Jhesus e das


esmollas e comfrarias della achamos que se diz, no altar moor, huma myssa

238
cantada todallas primeiras sestas feiras do mês com sua çera.
(fl.140v.)

Irmyda de Santa Catrina

Vysitamos a dita irmyda a quall he toda de pedra e call, tem huma capella
d’aboboda e hum altar d’alvanaria e em çima a imagem de Santa Catrina, de
vullto.
Ho corpo da igreja tem hum arco pello meeyo, d’alvanaria, madeyrada de
castanho e emcanyçado e junto do arco do cruzeyro estão dous altares muito
pobres, sem ornamentos, e tem seu caliz e vestimenta que estaa em poder do
ermitão que vive junto da dita irmida.
Achamos que esta irmyda se repayra das esmollas dos fiéis de Deus e
tem seu mordomo que as recolhe e as gasta no que he neçesario e estaa bem
repayrada.
Irmyda de São Sebastião do reballde

Visitamos a dita irmyda a quall estaa assy e da maneira que se contém na


visitação pasada e somente os mordomos, das esmollas da casa, mandarão
forrar a capella e estaa forrada de madeyra de pinho. As paredes estão muito
pretas e as imagens das paredes despintadas, que se não emxergão, e o
mesmo o cruçifixo que estaa sobre o arco do cruzeyro.
E achamos por mordomo desta irmyda Bastião Perez que tem em seu
poder huma vestimenta de horganza, velha, e hum caliz quebrado no pee e a
patana toda quebrada e mandamos que se nom diga mais myssa com elle
e o mordomo poderaa pedir nas eyras as esmollas que lhe quiserem dar
comçertar ho dito caliz.
E mandamos ao dito mordomo que do dinheiro que ora tem em sua mão,
da dita irmyda, mande cayar a igreja e capella moor e as imagens que estão
nas paredes e mande pintar de novo ho cruçifixo sobre o arco do cruzeyro.

Capella curada de Nosa Senhora de Querença

Visytamos a dita capella curada a quall estaa


(fl. 141)
em hum alto despovoado e vive junto com ella o irmytão, a igreja estaa assy
e da maneira que se contém nas visitações pasadas, soomente tem de novo
hum retavollo na capella, de çimquo payneis, bem pintado, e hum enca-

239
samento no meyo, em que estaa a imagem de Nosa Senhora, e hum sacrayro
em bayxo, e da bamda do Evamgelho tem de novo a Sancristia de pedra e
call de telha vãa, de huma agoa, comveniente a esta igreja e o corpo della
estaa bem lageado, madeyrado de novo, de telha vãa.
Visitamos a pia de baptizar a quall estaa, entramdo pella porta primciipall,
a mão esquerda; a pia de pedra com sua tapadoura per çima çercada de
grades, sobre a pia estaa hum almareo de madeira em que estão os santos
óleos e por nom serem imda vimdos os santos oleos, nom os visitamos.
E por acharmos a pedra da pia quebrada mandamos que se faça outra de
novo.
Achamos por capelão a Jorge Caeyro, clériguo do abyto de São Pedro
provido na dita capella pelo bispo, com sua carta de cura e os fregeses lhe
paguão seu estipemdio e lhe dão, cada fregês, dous alqueyres de trigo e hum
de çevada e o pee d’altar he da matriz.
Ho dito capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses os domyngos e festas
do anno, de guarda e administrar-lhes os santos sacramentos.
Desta capella à igreja há huma legua e outra he São Sebastião de Salir
que he outra capela curada e no camynho haa dous ribeiros; alguns dos
fregeses têm antre sy e a capella alguns ribeiros.
Achamos que avia na fregisia sasenta até satenta fregeses espalhados per
montes e elles são obrigados à prata e ornamentos e comçerto da igreja e
pagar o capelão e neste custume estão e assy o fazem.

(fl. 141v.)

Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata boa ..................................................................... I crux


Hum caliz de prata sobredourado, novo, d’obra romana, com sua patana ....
................................................................................................................... I caliz
Seis peças de prata .scillicet. duas mãos, dous pees e dous olhos .............
............................................................................................................... VI peças
Huma vestimenta de damasco branco, com savastro de veludo cramysim,
de todo comprida .............................................................................. I vestimenta
Hum frontall do mesmo e hum vestido de Nosa Senhora ................ I frontal
Outras duas vestimentas de seda, usadas, de todo compridas ....................
....................................................................................................... II vestimentas

240
Dous frontaes de pano muito fino, hum delles com huma bamda de çetim
amarello no meyo ............................................................................ II frontaes
E as mais cousas meudas que há na dita igreja estão asentadas no livro da
igreja, em aventayro.
Achamos estar de tudo bem provida esta igreja e tem seu livro em que
asentão as esmollas que se faz à Igreja e vistas <as> contas achamos ter d’esmolla
pouco mais ou menos aquillo que se gasta nas cousas neçesarias na igreja.

Detriminação desta capella

Mandamos aos mordomos que ora são que, do dinheiro que carregou
sobre elles dos mordomos do anno pasado mandem fazer huma crux de pao,
dourada, e huma távoa com as palavras de sacra, ho que mandarão fazer e
porão no altar até o primeiro dia d’Agosto que vem e mandarão fazer huma
cayxa pera a crux forrada de couro.

Capela curada de São Sebastião de Salir

Vysitamos a dita igreja de São Sebastião de Salir,


(fl. 142)
a quall estaa emm hum alto, e junto com ella vive o capelão em huma casa
da mesma igreja, e o irmytão noutra; ha dita igreja estaa assy e da maneira
que se contém nas visitações pasadas, soomente tem de novo hum retavollo
pintado no altar moor e dourado, per partes de cimquo payneis, e ao pee delle
hum sacrayro pequeno, dourado, e em çima a verónica de Nosso Senhor
pintada a oleo; tem de novo huma casa de pedra e call madeyrada de castanho
e forrada de cortiça, que serve de Samcristia.
Ho corpo da igreja estaa na maneira da visitação pasada, tem de novo a
nave do meyo forrada de bordos, madeyrada; tem sido muito boa; no altar
que estaa junto do arco do cruzeyro, da parte do Evamgelho, estaa a imagem
de Nosa Senhora, de vulto, os arcos da nave da parte da Epystolla estão
muito pemdentes e perigosos para cair. E assy hum canto do alpemdre, da
parte do sull, estaa aberto e o mesmo alpemdre muito desbaratado e chove
por elle.
Vysitamos a pia de baptizar, a quall estaa à mão esquerda entramdo pella
porta primçipall, çercada de grades. A pia he de pedra coberta com sua
capa de pao. Os santos oleos estão em hum almareo de madeyra metido na
parede, no circuyto das grades e estavão os santos oleos em huma buçeta
gramde e estavão como comvinha.

241
Achamos por capelão Bartolomeu Neto, cleriguo do abyto de São Pedro e
tinha sua carta de cura do perlado e os fregeses lhe pagão seu estipemdio e lhe
daa, cada hum, hum alqueire e meio de triguo.
Desta capella à igreja matriz haa duas legoas e tem no camynho duas
ribeiras que muitas vezes impedem pasagem e, desta capella a Nosa Senhora
d’Alte, que he outra capella curada, há huma legoa e meia.
Nesta capella achamos que há çento e çimquoenta fregeses e são obry-
gados à fábrica, prata e ornamentos della e pagar ho estipemdio do capellão
e neste custume estão e assy o fazem.
Achamos aver nesta capella huma comfraria de Nosa Senhora situada no
alltar, da parte do Evamgelho, omde
(fl.142v.)
estaa a imagem de Nosa Senhora, de vulltoo, e das esmollas e comfrarias se diz
myssa aos sabados e festas de Nosa Senhora com sua çera, ao que soomente
abramgem as esmollas della.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux de prata com ho pee de castellos ..................................... I crux


Hum caliz de prata, bramco, gramde, com sua patana, novo ............. I caliz
Duas vestimentas vermelhas, usadas ..................................... II vestimentas
Huma vestimenta de chamalote preto, com savastro de çetim preto, de todo
comprida e nova ............................................................................. I vestimenta
Hum frontall roxo e amarello, de tafetaa, do altar moor ................. I frontal
Houtro frontall de lambel ................................................................. I frontal
E as mais cousas que servem na igreja estão em aventayro no livro della, em
poder do capellão.
Vymos ho livro do remdimento da igreja, da receita e da despesa, e achamos
carregar sobre os mordomoos que ora são.
E assy haa mais na dita igreja alguns foros e propriedades, das quaes tem
livro sobre sy, de tombo, omde os tem per aventayro e declarado o que dellas se
paga e são as segintes.
Quarenta e çimquo alqueyres de triguo ................................ XLV alqueires
Dous mill e noveçentos reis de foros ........................................ MMCM reis

242
(fl. 143)

Detrimynações desta capella atrás

Os fregeses, mordomos e eleytos desta dita capella mandarão com toda


brevidade comçertar os arcos da parte da Epístola por estarem muito perigosos
e pera cayrem, como elles sabem, e isto mandarão fazer dentro neste anno de
sasenta e çimquo.
Mandarão comprar huma crux de pao dourada, de largura de tres dedos,
pera estar no altar moor porque a de prata nom pode servir de contino.
Huma távoa com as palavras de sacra pera o altar moor.
Mandarão comçertar ho cadeyrado e azelha da pia baptismall de maneira
que se possa fechar, o que tudo comprirão dentro neste anno, sob pena de
çimquo cruzados.

Capella curada de Nosa Senhora d’Assumção d’Alte

Visitamos a dita capella que he da imvocação d’Assumção de Nosa


Senhora, de tres naves, tem a capella d’aboboda, sobem ao altar moor por
çimquo degraos, estaa hum retavollo dourado de quatro payneis, pintado, e
nelle hum emcasamento em que está a imagem de Nosa Senhora, de vullto,
velha e gastada do tempo, com hum vestido de tafetaa azull, barrada de tafetaa
cramysim; em bayxo, hum sacrayro domde estava o Santo Sacramento,
comtinuadamente forrado de çetim e dentro nelle estava hum cofre forrado
de çetim em que estava ho Santo Sacramento e foy visto per nós e mostrado
ao povo e adorado per todos.
Ho corpo da igreja, a nave do meyo estaa forrado de bordo, sobre arcos
d’alvanaria e colunas de pedra, e foy acreçentada depois da visitação pasada; as
(fl. 143v.)
outras duas naves são madeyradas de castanho e de telha vãa toda lageada.
Junto do arco do cruzeyro estaa hm altar da parte do Evamgelho, de Nosa
Senhora, e he huma imagem ja velha e gastada. E junto della estão outras
imagens de santos, da mesma maneira, velhas e gastadas do tempo. E da parte
da Epystolla está outro alltar do Espirito Santo e tem hum retavolo pintado,
pequeno, do Espirito Santo, e de huma parte São Sebastião de vullto e da outra
Santo Antonio.
Visitamos a pia de baptizar que estaa emtrando pella porta primçipall, à
mão esquerda, cercada de grades de bordo, com sua fechadura. A pia he de

243
pedra boa, tem hum almareo metido na parede, com suas partes e fechadura
em que estão os santos oleos. E os não visitamos por não estarem ao presente
aqui, por nom serem vimdos novos da matriz.
Emtramdo pella porta primçipall, à mão direita, estaa hum portall pera
huma torre que os fregeses fazem de novo pera os sinos, com hum caracoll
que he servintia pera ella; sobre a capella moor estaa huma campa em seu
campanayro. E no corpo da igreja, junto da porta da torre, estaa hum sino
bom pera se pôr nella.
Na capella moor, na parte do Evamgelho, estaa hum portall de pedraria
que vay pera a samcristia que he de pedra e call, madeyrada de castanho,
ripada junto e emboçada de call; e chove nella pera algumas partes e tem
neçesydade de mais luz.
Desta capella à igreja matriz haa tres legoas, tem duas ribeiras no camynho
e estaa huma legoa de Paderne, que he capella curada do termo d’Albofeyra,
e estaa duas legoas d’Albofeyra e duas legoas de São Bertolomeu de Silves
capella curada. E outras duas de Boliqueyme, que he outra capella curada
do termo de Loulee.
Achamos por capelão Francisco Memdez cleriguo do abyto de São Pedro,
serve a dita capella com carta do perlado e os fregeses lhe pagão
(fl. 144)
ho estipemdio e lhe dão cad´ano tres moyos e meyo de triguo torrado por
elles. E o pee do altar he da fabryca desta igreja, per provisão somente, que
aja gloria e bispo e cabydo.
O dito capelão he obrigado dizer myssa ao povo todolos (sic.) doomyngos
e festas do anno de guarda e todallas segumdas feiras do anno e sabados e
admynistrar-lhe os santos sacramentos.
Esta capella estaa junto da aldeya que seraa de satenta vizinhos e em toda
a fregisia com a dita aldeya averaa duzentos fregeses.
Achamos que os fregeses são obrigados a fábrica, prata e ornamentos
della e pagar ho estipemdio do capelão e neste custume estão e assy o fazem.

Livro da prata e ornamentos

Huma vestimenta <riscado pelo escrivão> crux de prata com ho Cristo


dourado ...................................................................................................... I crux
Hum caliz grande de prata, dourado, grande e bom, novo, com sua patena ....
................................................................................................................... I caliz

244
Outro caliz de prata bramco com sua patana(sic.) usado .............. I caliz
Huma vestimenta de damasco, com savastro de viludo cramysim, usada,
de todo comprida ............................................................................ I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote alionado, com savastro de chamalote
amarello, usada, de todo comprida ............................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote preto com savastro de tupa, preto, usada ....
.......................................................................................................... I vestimenta
Hum frontall de damasco cramysim com bandas de viludo azull, novo .......
................................................................................................................. I frontal
(fl. 144v.)
Outro frontall de damasco emcarnado, usado .................................. I frontal
Outro frontall de fustão branco ........................................................ I frontal
Huma capa d’asperges de damasco cramysym com savastro de viludo
verde ........................................................................................................ I capa
Ha mais na dita igreja outras cousas meudas que tudo estaa em aventayro
no lyvro da igreja.
Achamos ha comfraria do Santo Sacramento com sua bulla e tinha os
ornamentos segintes.
Huma vestimenta de viludo cramysim, com savastro de viludo azull, vil,
franjada e toda comprida ............................................................... I vestimenta
Hum páleo de damasco cramysim, com huma crux pello meyo de damas-
quylho .................................................................................................... I paleo
Achamos que tinha esta igreja muitas propriedades com emcarreguo de
myssas e tudo carrega sobre a fábrica della porquanto pelos testamentos, ho
remaneçente he da fábrica da dita igreja e estaa tudo em seu aventayro em
livro de tombo e em boa arrecadação e achamos que tudo se cumpre.
Achamos aver nesta capella huma comfraria de Nosa Senhora; das mysas
do sabado e das esmollas e comfrarias dos comfrades se diz huma myssa
rezada todo-los sabados do anno, com sua çera, e achamos pasar a despesa pela
receita.
Haa mais na dita capella, huma Comfraria de Jhesus e das esmollas della
se diz huma myssa rezada a primeira sesta feira de todo-los meses do anno,
com sua çera. E achamos pasar a despesa pela receita por ser muito pobre.
(fl. 145)
E tomamos conta da fábrica da igreja e do remdimento della e achamos

245
os mordomos deverem à dita fábrica tres mill çento quarenta e oyto reis, os
quaes ficão em sua mão.

Detriminação

Por acharmos que os fregeses desta capella estão ora fazemdo huma torre
muito custosa pera os sinos, pera a quall hão mester muito dinheiro, nom
provemos em mais que nas cousas segintes.
Mandarão os mordomos fazer huma crux de pao dourada pera o altar moor
de largura de tres dedos.
Huma tavoa com as palavras de sacra.
Hum mysall romano de boa letra.
Achamos nesta igreja estarem em poder de Jorge Memdez de Sarreya
dez mill reis que deyxou João Correya, seu amo, à igreja, pera se fazer
huma custódia pera o Santo Sacramento nas procisões soblenes(sic.) ou pera
comprar huma terra pera igreja, com emcarguo de hum respomso cantado
pera sempre nos domyngos. E por aver nisto dúvida entre os mordomos e
o dito testamenteiro ordenamos, por nos pareçer bem com ho pareçer de
alguns dos mordomos, que estes dez mil réis se entregem aos mordomos do
Santo Sacramento, queremdo-se elles obrigar ao emcarreguo de mandarem
dizer o respomso, ficamdo-lhe a custódia à dita comfraria, por ser cousa
neçesaria pera admynistração do Santo Sacramento e, nom a queremdo açeytar
os mordomos e elygidos da igreja com a moor brevidade que for posivell
comprarão os ditos dez mill reis em foro que remda pera a igreja; e o dito
testamenteiro depositou hum jarro de prata pelos ditos dez mil réis, o quall
jarro de prata foy emtrege a Pedro Estevens, mordomo do Santo Sacramento,
e o dito testamenteiro lhe entregará os ditos dez mil reis daqui a hum mês;
e do dia que lhe for emtregue ficaraa a igreja obrigada mandar dizer o dito
respomso pela alma do dito dyfunto e o dito Jorge Memdez de Sarreya o
prometeo e o asinou.
(fl. 145v.)

Irmyda de Nosa Senhora da Piedade junto da villa

Visitamos a dita irmyda a quall tem huma capella d’aboboda feyta de


novo, em quadra de huma soo chave. Ho altar he d’alvanaria, com hum
frontall de rede e humas toalhas e castiçaes, tudo bem comçertado. No altar
estaa hum retavollo de madeyra e nelle hum emcasamento omde estaa
metida a imagem de Nosa Senhora de vullto e junto do altar estão duas

246
tavoas a modo de retavolo e nellas pintado os martiryos de Cristo. Junto
do altar, da parte da Epistolla, estaa hum arquibanco a modo d’altar, bem
comcertado e nelle hum retavolo da Piedade.
Tem hum alpemdre quadrado, do tamanho da capella pouco mais ou
menos, emgalgado, e estaa descuberto, e nos foy dito pello mordomo Pedro
Alvarez que este Verão se há-de cobrir ou fazer d’abobada e nós lho louvamos
muito e emcomemdamos.
Achamos que averaa doze annos que foy esta irmyda edificada de novo
por Bertolomeu Fernandez, çerralheyro, a sua custa, e jaz nella enterrado,
e nas costas da dita irmyda estaa huma casa madeyrada de castanho, de telha
vãa, em que vive ho irmytão per nome Francisco da Payxão.
Nesta irmyda haa huma vestimenta muito velha que lhe derão os padres
do moesteiro. E tem hum caliz de prata que deyxou a molher do dito edificador
e vimos as contas do remdimento da dita irmyda.

Irmyda de Santa Catarina dos Gorgões

Visitamos a dita irmyda e tem hum arco de pedraria e a capella emca-


nyçada e hum altar d’alvanaria e estava sem toalhas e nelle huma imagem de
Santa Catrina de vullto velha e gastada do tempo.

Ho corpo da igreja he gramde, madeyrado madeyrado (sic.) de castanho


e emcanyçado, e está mall telhado, tem hum portall de pedra e humas portas
velhas, sem ferrolho nem fechadura.
(fl. 146)
Há nesta irmyda huma vestimenta de pano de lynho, velha, e hum caliz de
prata e pedra d’ara, corporaes, misall e galhetas.
Hum frontall de bocaxim e humas toalhas e hum çeo de quortinas.

Propriedades

Huma courella de terra com suas figueyras e huns pees d’ouliveiras que
amda arremdado em cada hum anno por çento e satenta reis ....... C LXX reis
E tem mais tres ouliveiras e hum mortoreo que foy vinha e nom remde ora
nada à dita irmyda.
Achamos que esta irmyda se repayra e comçerta pelos vyzinhos que
vivem junto della quando tem neçesidade e nós lho louvamos muito e emco-
memdamos e vimos seu lyvro e tudo he cousa pobre.

247
Irmyda de São Domingos

Vysitamos a dita irmyda. A capella he madeyrada de madeira muito velha


e hum altar d’alvanaria e nelle a imagem de São Domyngos de vullto, muito
velha, gastada do tempo, e humas toalhas muito velhas.
Ho corpo da igreja he de bom tamanho e tem dous altares junto do arco
do cruzeyro, e cada hum deles tem sua imagem de santos muito velhas e
gastadas, que nom são pera estar no altar; estaa madeyrado de castanho e de
telha vãa e estaa de tall maneira que se nom serve ante cristãos. As paredes
de toda a irmyda são de pedra e barro, estão pera caiar, e tem huma casa velha
em que viveo hum irmytão. E tem outros edifiçios à roda e huns chãos à roda
della, com ouliveiras e figeyras que nom rendem nada.
(fl. 146v.)
Irmyda de Santana na estrada

Visitamos a dita irmyda e tem huma capella, sobem ao altar por dous
degraos e nelle hum frontal velho e humas toalhas e em cima a imagem de
Santana, de vullto.
Ho corpo da igreja he de bom tamanho lageada, as paredes são de pedra
e call e está descuberto e o telhado derribado, e humas portas velhas, e o arco
do cruzeyro, femdido per partes, tem hum campanayro com sua campa.

Achamos que hum Álvaro Feliz edificou esta irmyda e lhe nam deixou
nenhuns bens, tem huma vestimenta de cetim azull e hum frontall que esta
em mão de António Cordovill.

Irmyda de São Lourenço

Visitamos a dita irmyda e achamos, por çerta imformação que Ruy


Barreto Mascarenhas deyxou em testamento, que se fizese esta irmyda de
novo, e achamos estar call e madeira na igreja pera se co<me>çar a dita obra
e os pidreiros ha têm ja d’empreytada, e o dito difunto deyxou à dita huma
vestimenta de seda da Imdia e hum caliz e galhetas de prata, os quaes orna-
mentos estão imda em mão d’Alvaro Barreto, testamenteiro.

Irmyda de Nosa Senhora de Ferrobylhas d’Armação

Visitamos a dita irmyda; a capella he forrada de bordos de encanaria (sic.),


toda forrada d’azulejos, com humas grades no arco da capella; sobem ao

248
altar por tres degraos forrados d’azulejos. O altar he d’alvenaria, forrado
d’azulejos, e nelle huma imagem de vullto de Nosa Senhora, muito devoto
e de tras, na parede, hum godomiçil de imagens ornado de retavollos.
Ho corpo da igreja he de bom tamanho; junto do arco do cruzeyro estão
dous altares. Ho da parte do Evamgelho tem hum retavollo pintado, velho, da
Naçemça de Christo e da adoração dos Reis; no altar, da bamda da Epistolla,
estaa huma imagem de vullto de São Lourenço e hum retavollo pequeno,
pintado, e nelle a imagem de Nosa Senhora e Santo António e outro retavolo
pequeno, d’Anunçiação estaa madeyrado e forrado muito bem; sobre o arco
do cruzeyro estaa hum devoto cruçifixo, de vullto, e Nosa Senhora de huma
bamda e São João do outro. Da banda do norte tem hum portall com suas
portas boas e da bamda do ponente estaa huma torre gramde de tres sobrados
com suas janellas, domde se vigião aos mouros. Em çima da torre estaa huma
campa boa. Servem-se pera esta torre por dentro da igreja.
Achamos que tem seu livro de receita e de despesa e mordomos e escrivão,
e lhe nom tomamos conta por estar ho livro em Farão domde vivem os ditos
armadores. E vimos os ornamentos e são os segintes.
Hum caliz de prata com sua patana, bom ........................................... I caliz
Huma coroa de prata sobredourada ................................................... I coroa
Huma vestimenta nova de seda da Imdia, marchetada com seu savastro de
catasoll de seda, roxo, de todo comprida ........................................ I vestimenta
Outra vestimenta de damasco azull com savastro de cetim cramysim, de
todo comprida .............................................................................. I vestimenta
Outra vestimenta de zergania, velha, de todo comprida ............................
......................................................................................................... I vestimenta
Hum frontall de borcadilho da Imdia, novo .................................... I frontal
Outro frontall de grãa vermelho, barrado de viludo verde ............. I frontal
Tres frontaes velhos que servem de lote .................................... III frontaes
Hum çeo de quortinas de rede, bom .................................................... I çeo
E as mais cousas meudas que haa na dita igreja estão em aventayro no livro
della, em mão dos mordomos.
(fl. 147v.)
Achamos per imformação que os mareantes e armadores têm cuydado
desta irmyda e elles a repayrão de tudo ho que há mester e tem azulejos pera
forrarem toda e nós lho louvamos muito e emcomemdamos.

249
Capella curada de São Sebastião de Bolyqueyme

Visitamos a dita capella curada, a quall estaa em hum alto despovoado.


A capella moor he d’abobada e estaa pera cair, arrotoada; sobem ao altar por
tres degraos; o arco do cruzeyro he de pedraria, bem lavrado.
Ho corpo da igreja he de tres naves com esteyos e colunas de pedra e
arcos d’alvanaria feyta toda de pedra e call, por guarneçer de dentro e de
fora, madeyrado de castanho e de telha vãa. Junto do arco do cruzeyro estão
dous altares, no da parte do Evangelho estaa hum retavolo de portas dourado
e pintado pellas bordas de tres payneis. No do meyo estaa São Sebastião e
em huma das portas a temtação de Nosso Senhor no deserto, e noutro a
saudação de Santa Isabel e neste altar se diz myssa ao povo, por nom estar
ho altar moor pera isso, e a capella, sobre a capella estaa em hum campanayro,
o portall da porta primçipall e traveso são de pedraria.
Visitamos a pia de baptizar, a quall estaa entrando entrando pela porta
primçipall, a mão esquerda, no corpo da igreja, sem grades; a pia he de pedra
com sua capa dourada per çima.
Achamos por capelão Luis Memdes Neto, cleriguo de myssa da Ordem
de São Pedro; estaa na capella com carta de cura do perlado e os fregeses lhe
pagão seu estipemdio, e estaa taxada a cada hum dous alqueyres de triguo que
remderão com suas quebras dous moyos e meio.
Ho dito capelão he obrigado dizer myssa aos fregeses os domyngos e
santos de guarda do anno e segundas feiras dos fieis de Deus e ao sabado
de Nosa Senhora, e admynystrar os santos sacramentos
(fl. 148)
Desta capella a igreja matriz haa duas legoas e huma legoa d’Albofeira.
Achamos que os fregeses são obrigados à fábrica, pratas e ornamentos
desta capella e a pagar o estipemdio ao capellão e neste custume estão e assy
ho fazem e averaa nesta fregisia noventa fregeses.

Livro dos ornamentos e pratas

Hum caliz de prata com sua patana ................................................... I caliz


Huma vestimenta de damasco amarello com savastro de viludo cramysim,
nova e comprida ............................................................................. I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote roxo, de todo comprida, usada ..............
......................................................................................................... I vestimenta

250
Hum frontall de bom pano verde, com barras de viludo preto ........ I frontal
E as mais cousas meudas que haa na igreja estão em seu lyvro em aventayro.

Detrimynações

Mandamos e emcomemdamos muito aos mordomos e eleytos e fregeses


desta capella que, na mais brevidade que poder ser, fação a capela de novo,
que estaa pera cair, e goarneção a igreja e acabem a samcristia que têm
começado.
E porão humas grades na pia baptismall e hum almareo junto della forrado
de madeira, em que estarão os santos oleos com suas portas fechadas.
(fl. 148v.)

Comtia da fábrica

Achamos nom se pagarem a esta igreja da fábrica mais que doze mill réis,
estamdo nos apomtamentos que deu o bispo do Alguarve sobre as tayxas das
fábricas destas igrejas do Alguarve, vinte mill reis a São Clemente de Loulé,
matriz da dita villa.
E assy tem mais hum foro em Vascão de cento e dez reis ............... CX reis
E em Pero Jorge çem reis ..................................................................... C reis
Na corte dos Bargamções quinze alqueires de trigo e tres de çevada .......
.................................................................................. XV alqueires, II alqueires

Despesa ordinaria da fábrica

Achamos que se gasta cada’ano do trigo da fábrica em trazer os santos


oleos e junto(?) e cousas meudas das emdoemças, dous mill reis pouco mais
ou menos ............................................................................................. IIM reis

Mantimento do Prior

Ho prior tem de mantimento em triguo dous moyos e meio .scillicet. dous


moyos por rezão do priorado e meio moyo do benefiçio anexo .....................
............................................................................................... II moyos e meio
Em çevada, dous moyos e meio ........................................ II moyos e meio
Em vinho, çento e trynta e çimquo almudes .scillicet. çento e oyto do
priorado e vinte sete da reção anexa ...................................... XXX V almudes

251
Em dinheiro, quatro mill duzentos e trynta reis .scillicet. tres mill sete-
çentos e trynta reis do priorado e quinhentos da reção anexa. .............
............................................................................................. IVM CC XXX reis
E tem mais o dito prior, à custa do bispo e cabydo, outra meia ração que
he, em dinheiro quinhentos réis e em trigo trynta alqueires e em vinho vinte
e dous almudes ................................ VC reis, XXX alqueires, XXII almudes
fl. 149)
E tem mais o pee do altar a metade que ha outra ametade he do bispo e
cabydo de Sillves.

Mantimento dos benefiçiados

Os dous benefiçiados que ha nesta igreja, da Ordem, cada hum delles em


triguo em trigo(sic.) çento e çimquo alqueyres ........................... C V alqueires
Em vinho, dous toneis .................................................................... II toneis
Em dinheiro, mill e duzentos e sasenta réis ............................. MCCLX réis

Mantimento do tisoureyro

Ho tisoureyro tem de mantimento em cada hum anno, à custa da Ordem e


bispo e cabydo, oytoçentos réis em dinheiro e quarenta alqueyres de triguo, e
huma pipa de vinho .................... I pipa de vinho e os bolos dos baptizados
Achamos que remde esta comemda, lyquido, pera o comemdador, quatro-
çentos mill réis ................................................................................ CDM réis
Achamos que a ordem tinha nesta villa certos foros, os quaes, na visitação
pasada que foy feyta na era de dezoyto, amdavão jaa emlheados e o mestre, que
aja gloria, deu poder a hum Memd’Afonso Cerveira, fidalguo, morador nesta
villa, que os tirase por demanda, à sua custa, e vemcemdo as ditas propriedades,
que lhe mandaria fazer dellas aforamento e achamos nom se fazer nisto dili-
gemçia alguma nem ha quem disto dee rezão.

Capella moor

Achamos estar no meyo da capella moor, emterrada, a molher de João


Neto de Contreiras, morador nesta villa, com licença do bispo dom João de
Mello, na quall licença lhe daa pera sy e seus erdeiros do quall nos mostrou
a propria provisão do bispo por suas dalmaticas e vestimentas de chamalote
preto que prometeo pera a dita igreja e achamos deyxar a molher do dito João
Neto, difunta, huma verba em seu testamento em que deyxa a sua filha a terça

252
dos seus bens e falecemdo sem filhos, fique a dita terça à fábrica da igreja.
(fl. 149v.)
Detriminações

Por que creça a devoção no povoo e folgem de fazer bem à igreja mandamos
ao prior della que em cada hum anno diga, dous domyngos, em sua estação, os
ornamentos e cousas que naquelle anno se derão à dita igreja, e quem as deu
emcomemdamdo que digão hum pater noster pello dito bem feytor.
Mandamos a Antonio Afomso Pousado, mordomo da fábrica desta igreja
que, dos quarenta mill noveçentos satenta e dous reis que tem em sua mão
da fábrica e dos seis mill reis que há-de arrecadar do comemdador, que tem
em sua mão, pera o quall lhe fica mandado noso e dos doze mill reis que
há-de arrecadar deste anno pelo São João que vem, que tudo faz em soma:
quarenta e oyto mill noveçentos satenta e dous réis mande fazer e faça as
cousas segintes.
Mandaraa fazer duas vestimentas de chamalote de cores, pera servirem de
cote, com humas estremas de franja de seda de cores, em lugar de savastro, de
todo compridas.
Hum frontall de chamalote vermelho, com suas barras de damasco verde e
sua çanefa de franja, das mesmas cores.
Hum pano de púlpito do proprio teor do frontal.
Huma capa e hum frontall e pano de pulpito pretos, pera as Coresmas, do
teor que for o pontificall que João Neto de Comtreiras se obrigou per seu
asynado daar a igreja, esta carregação que vem do figuo, per rezão da obrigação
que pera isso tinha.
Hum par de toalhas de Frandes pera altar moor.
Huns castiçaes dos altos pera o altar moor.
Meia duzia de galhetas da feyção nova.
(fl. 150)
Duas sobrepelyzes de pano de lynho pera dous moços ajudarem à myssa
do dia.
Meya duzeya de guardas de corporaes per pôr as hóstias em cima.
Meia duzea de fumdas pera os calizes.
Hum pano de canhamaço pera debayxo das toalhas do alltar moor e
tirarão o capacho que ora tem, porque além de não ser onesto, he perigoso
pera o caliz.

253
Meya duzeya de samginhos d’Olamda ou pano d’Aljazur.
Quatro mysaes manuaes, de boa letra.
Hum mysal gramde pera o altar moor.
Hum santorall e hum domyngall empressos pera ofiçiarem as myssas no coro.
Meia duzeya de toalhas de mãos pera os altares.
Humas reedes de verga d’arame grosa nos espelhos do cruzeyro e coro, pello
imcoveniente das curujas.
Tres tavoas com as palavras da sacra.
Hum cruçifixo de vullto da grandura do velho pera o cruzeyro sem as
imagens que dantes tinha.
Hum almareo no circuyto das grades da pia forrado com suas portas e fecha-
dura em que estarão os santos oleos.
Mandaraa fazer humas portas na genella <da> samcrystia.
Mandaraa comçertar ho lavatoreo da samcristia e duas toalhas pera limpar
as mãos.
(fl. 150v.)
Huma estante pera dous lyvros pera cantarem no coro.
Hum escabello pera os ministros se asentarem à myssa do dia.
Mandamos ao dito prior que estas cousas ponha na igreja e compre per
todo este anno de sasenta e çimquo, sob pena de vinte cruzados a metade
pera a fábrica da igreja outra metade pera os cativos e meyrinho da visitação.
E as mais cousas que são neçesarias à dita igreja não provemos nisso pello
dinheiro da fábrica não bramger a mais e o levamos per apontamento pera Sua
Alteza prover como for serviço de noso senhor e seu.

Obrigação do povoo

Por acharmos que ho povoo tem obrigação à prata desta igreja, e a tem
em seu poder, e estar ora quebrado ho trybullo mandamos que o mandem
comçertar por ser neçesareo pera o culto divino.
E mandarão fazer dos dous caliz pequenos, velhos e quebrados, hum bom
e grande, e comçertar ho pee do caliz dourado que está quebrado.
E assy mandarão cayar as paredes de dentro do corpo da igreja e comçertar
o lageamento do corpo da igreja por estar muito mall tratado.

254
Prior da fábrica

Mandamos ao prior da fábrica que arreende seis mill reis que o comem-
dador tem em sua mão da dita fábrica, comforme ao mandado que pera isso
lhe fica, o quall lhe daraa o prior e delle cobraraa conheçimento.
(fl. 151)
Tombo da igreja

Mandamos ao prior e benefiçiados que farão tombo dos bens e proprie-


dades da dita igreja, de que elles levão os foros e remdimentos, o que lhe foy
mandado fazer per visitação com pena de dez cruzados o que nom comprirão,
da quall pena os avemos por relevados e lhe mandamos sob a mesma pena
dos dez cruzados que assy ho cumprão dentro neste anno de sasenta e çimquo,
a quall pena seraa a metade pera a fábrica da igreja, outra metade pera os
cativos e meyrinho da visitação.

Aos benefiçiados

Por acharmos per imformação que antre o prior e benefiçiados avia


algumas deferemças sobre o serviço da igreja e regimento della mandamos
aos benefiçiados, em virtude d’obediemçia, que elles nom tenhão com elle
nenhuma deferemça e lhe sejão obedientes nas cousas que tocar a serviço de
noso senhor e seu carrego, ho que lhe ora mandamos, sem pena, pola
comfiança que temos de o assy fazerem comforme a suas obrigações.

Sobre os dízimos

Mandamos ao prior que a moestre muitas vezes em sua estação, a seus


fregeses, que pagem bem os dizimos por que fomos imformados que se
pagavão neste termo muito mall e não absollva pesoa alguma que dever
dizimos, comforme às constituyções do perlado.

Sobre os enterramentos e proçisão das emdoemças

Por acharmos per imformação que ho prior


(fl. 151v.)
e benefiçiados são remyssos em acompanhar e enterrar os difuntos que têm
pouco de seu, e vêm-nos a queyxar o povoo pello escamdallo que disso haa,
lhe mandamos que sejão nisto muito diligentes, e tanto que forem chamados,

255
assy da parte da mysericordia como tambem por parte d’outras pesoas pobres,
os vão acompanhar, por dar bom exemplo de suas pessoas, sob pena de
serem por isto castigados e repremdidos, visto tambem como ho bispo lho tem
mandado per sua provisão, a quall nesta parte avemos por bem que se cumpra
nos benefiçiados da Ordem, sob as penas nelle conteudas, e o mesmo lhe
emcomemdamos muito que fação na proçisão das emdoenças por sermos
imformados que o nom fazem, o que lhe he muito estranhado diante de Deus
e do povoo.

Sobre o dinheiro das sepulturas

Por acharmos que ha deferemças nesta igreja sobre o pagar das sepulturas
e sobre o lagear dellas, ordenamos e mandamos ao prior que não deyxe
abrir nenhuma sepultura sem primeiro a pagarem ou penhor d’ouro ou prata,
sob pena de ho pagar de sua casa, e o dito penhor d’ouro ou prata seraa
tambem pera o lageamento della.
Por acharmos que Maria d’Amdrade, difunta, deyxou huma verba em
seu testamento em que mandou que ha enterrasem na capella moor, na
sepultura de sua irmãa, e deyxou por isso mill reis pera fábrica da igreja, os
quaes achamos nom serem imda pagos, mandamos ao prior da fábrica que
requeyra ao visitador que lhe mande pagar os ditos mill reis pera a fábrica
da dita igreja, por lhe pertemçerem.
(fl. 152)

Arca pera as visitações

Por acharmos que nesta igreja não haa arca pera as visitações omde
estejão com os trellados das capellas, ordenamos e mandamos que esta
visitação e as mais que ao diante ouver estejão na arca que haa na igreja do
cartoiro, fechada com tres chaves, as quaes teraa o prior huma e o benefiçiado
mais velho outra da Ordem, e o do bispo outra.
E mandamos ao prior e a quem tiver as outras chaves que a quallquer pessoa
que comprir aver o trelado d’alguns capytollos desta visitação, lhos dêm.
E mandamos ao prior que mande às capellas curadas anexas à sua igreja os
treslados das visitações que ora nellas fizemos e as entregaraa a cada capelão das
ditas capellas com conhecimento de como lhos emtreguou, ho que faraa sob pena
d’obediençia e com pena de quynhentos réis, a metade pera os cativos e outra
metade pera o meyrinho da visitação.

256
E por que venha à notiçia de todos ho conteudo desta nosa visitação mandamos
ao prior da igreja, ou quem seu cargo tiver, que tanto que lhe for dada, loguo o
primeiro domynguo a começa de pobricar lemdo-a pausadamente, de modo que
todos ho entemdão, e poraa nella çertidão do dia que a acabou de pobricar pera se
saber, e acabada assy de pubricar a meteraa na arca como fica dito, na quall
visitação asistio e visitou comnosco juntamente por parte do bispo e cabydo do
Alguarve, o doctor Dioguo Lopes coneguo na See de Sillves, comforme a
composição feyta sobryso antre a Ordem e o dito bispo do Algarve, e no primçipio
desta visitação se não continuou com elle por esquecimento, a quall vay asynada
por todos. Felype Rodrigues, escrivão da visitação, por el-Rey noso senhor que
ho escrivy aos dezanove dias do mes de mayo de mill e quinhentos sasenta e
çimquo annos.
Doutor Diogo Lopez
João Fernandez Barregão, prior
Álvaro de Menezes, comendador

VISITAÇÃO DA ORDEM DE SANT’IAGO ÀS IGREJAS


DO CONCELHO DE ALJEZUR *
(fl. 154)
Vysitação da vila d’Aljazur

Dom Pedro de Meneses, fidalguo da casa d’el- rey nosso senhor, comemdador
das comemdas da villa de Caçella e da igreja do Salvador da villa de Santarem e
Treze, e João Fernandez Barregão, prior da igreja de Nossa Senhora do Castello
da villa d’Alcaçere do Sall, visitadores do mestrado de Santiaguo nesta comarca
do Algarve e alguns lugares do campo d’Ourique, eleytos em capitollo gerall que
se çelebrou na çidade de Lisboa, fazemos saber que per virtude do regimento que
trazemos de Sua Alteza e do dicto capitollo, visitamos a igreja de Nossa Senhora
d’Allva, matriz da villa d’Aljazur.
Aos XXV dias do mês de Mayo de mill e quinhentos sasenta e çimquo
annos chegamos à dicta villa; feyta oração na dicta igreja mandamos
pregar na porta della a carta e mandado nosso, pera os foreyros que trazem
propriedades da Ordem mostrarem seus titollos.
Ao segumdo dia fomos à igreja e vestido o prior em sua sobrepeliz, e
muita gente do povo presente, ouvimos myssa e, acabado, entramos a capitollo
e fizemos vénia ao dicto prior soomente.

* No copro documental desta "Visitação" faltam os fólios 155v e 156v.

257
Comemdador

Achamos por comemdador dom João de Castello Bramco, não visitamos


sua pessoa nem vimos seus titollos, por nom ser presente.

Prior

Achamos por prior o Licenciado Jerónimo Cardoso do abyto de Santiaguo.


Perguntado pelo títolo de seu abyto e profissão tudo mostrou e o ouvemos por
bem
(fl. 154v.)
E perguntado pelo titollo de seu benefíçio loguo apresentou huma
comfirmação do bispo do Algarve, que ho comfirmou a apresentação de
Sua Alteza por lhe pertemçer in solydo como governador e perpetuo
admynistrador que he da Ordem.
E perguntado que obrigação tinha de myssas disse que avia pouco tempo
que fôra provido no priorado e que achara em custume que, ho prior passado
dizia myssa ao povoo os domyngos e festas de guarda e três dias da somana,
entramdo nos dictos três dias as festas que vêm na somana e disse que elle
assy o farya até servir o benefiçio que Sua Alteza tem provido, o quall nom
serve por o comemdador pôr embargos à servintia do benefiçio e estipemdio
delle, e disse que he obrigado pregar na dicta igreja ho Advento e Coresma
aos domynguos e hee obrigado in solydo à cura das almas dos fregeses e da
villa e termo.
Foy mais perguntado o dicto prior pellos três votos substamçiaes da
Regra e assy pellas perguntas que tocavão a sua pessoa respomdeo que o
fazia o mylhor que podia e estava prestes pera o fazer.

Juiz e vereadores

Perguntado os juizes e vereadores e ofiçiaes da câmara e algumas pessoas do


povoo pelo juramento dos Evamgelhos, seo prior servia bem seu ofiçio e por sua
vida e onestidade, e achamos que fazia ho que devia.

Pregão

Mandamos apregoar pello porteiro do comçelho se avia alguma pessoa que se


queyxase do comemdador ou do prior que viese a nós e lhe fariamos tudo
comprimento de Justiça.

258
(fl. 155)
Visitação da igreja

Vysitamos a dicta igreja a quall estaa em hum allto, junto da villa; sobem ao
tavoleiro da porta primçipall por sete degraos, ho corpo da igreja he de huma soo
nave, as paredes são de pedra e call, madeyrada de castanho, de duas ágoas, e de
telha vãa, e estaa muito desbaratado <no> lageamento.
Ho arco do cruzeyro he de pedraria antiguo e nelle humas grades pequenas de
castanho; sobem ao altar mor por dous degraos, he d’alvenaria e nelle hum retavollo
de três paynéis pintado e dourado per partes, novo e bom; no do meyo estaa
pintado Nossa Senhora da Piedade e nos outros Santiaguo, e Santo António; a
capella d’abóboda de huma soo chave, junto do arco do cruzeyro estão dous
altares pequenos ambos da imvocação de Nossa Senhora, e as imagens são de
vullto metidas em huns emcasamentos na parede, forradas de madeira, pintados a
modo de retavollos, ho da parte da Epístolla he novo, pintado e dourado per
partes e o mesmo a imagem de Nossa Senhora, he nova e dourada, com seu
mynino Jhesus no collo; no corpo da Igreja estão dous tavoleiros, hum gramde da
myssa e outro pequeno, da comfraria do Santo Sacramento.
Vysitamos a casa da samcristia, a quall he huma casa de pedra e call por
guarneçer, madeyrada de huma soo ágoa, e forrada de cortiça, mall telhada, nella
estaa huma távoa velha em que se revestem os padres, e os ornamentos não estão
na samcristia por estar despovoada e estão com a prata da igreja em casa de hum
mordomo feyto pela câmara.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux pequena de prata com seu cruçifixo e troços de três, que deu
dona Isabell de Memdanha ..................................................................... I crux
(fl. 156)
Huma vestimenta nova de usteda preta com savastro de tripe, de todo
comprida ....................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de damasquilho verde com savastro de viludo roxo, de
todo comprida............................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de pano preto, usada, comprida .................... I vestimenta
Seis toalhas e mantens, velhos ..................................................... VI toalhas
Hum frontall de damasco branco com huma franja, usado .......... I frontall
Dous frontaes de pano da Imdia pintados ................................... II frontaes

259
Hum sobreçeo de quortinas de seda da Imdia com çimquo corrediças que
servem no alltar-moor ................................................................................ I çeo
Hum sobreçeo de quortinas de pano da Imdia ...................................... I çeo
E as mais meudezas que haa na dicta igreja estão em aventayro, em mão
do mordomo feyto pella câmara.

Visitação do Santo Sacramento

Visitamos o sacrayro o quall estaa ao pee do retávollo do alltar moor,


hee hum almáreo pequeno, com sua porta pintada e dourada, e em çima
huma crux pequena, dourada; dentro he pintado d’azull e estava huma
buçeta quadrada dourada e de dentro forrada de viludo cramysim, e nella
estava ho santo sacramento como comvinha, e foy visto e adorado per todos.
(fl. 157)
Fábrica

Achamos que nesta igreja não haa fábrica nenhuma, estamdo na compo-
sição que se fez entre a Ordem e o bispo do Alguarve dez mill reis de fábrica
a esta igreja.
E achamos que o povoo tem feyto hum prior de fábrica que reçebe o
dinheiro das sepulturas e penitemçias e lhe foy tomado conta por nós e
achamos ser Estevão Pirez, mordomo, e fica lyquido, em sua mão, seis mill
trezentos quarenta e seis réis, os quaes gastaraa no que lhe fôr mandado
per visitação ....................................................................... VIMIIICRVI réis

Cruçifixo

Achamos estar sobre o arco do cruzeyro ho cruçifixo muito mall pintado,


e quasi se não emxerga, provermos nysso, como se veraa adiante.

Abyto

Achamos estar o abyto de Santiaguo sobre a porta primçipall lavrado em


pedra.

Comfraria do Santo Sacramento

Visitamos a Comfraria do Santo Sacramento e tomamos conta della a Felype


Gomçalvez, mordomo, e fica em sua mão mill quinhentos oytenta e hum reis.

260
(fl. 157v.)
Comfraria do Nome de Jhesus

Achamos aver nesta igreja a Comfraria do nome de Jhesus e estaa ora


esqueçida, pello que emcomemdamos aos mordomos do Santo Sacramento
que della tenhão cuydado e cumprão a obrigação da dicta Comfraria e a
tragão sempre nela, à dicta Comfraria, e mandamos ao prior que pubrique
na bulla(?), na estação e a emcomemde em dous sermões.

Comfraria de Nossa Senhora d’Allva

Achamos aver na dicta igreja huma Comfraria de Nosa Senhora d’Allva


e das esmollas e remdimentos della se diz todollos sábados do anno huma
myssa cantada, e às vezes rezada com sua çera, e achamos ora por mordomo
Fernão Paes e lhe foy tomado conta e achamos que fica líquido, em sua mão,
çimquoenta e dous mill, trezentos réis.
Achamos ter esta Comfraria hum caliz de prata com sua patana ...... I caliz
Huma vestimenta de damasco azull com savastro de borcadilho, nova e
comprida ......................................................................................... I vestimenta
Outra vestimenta de chamalote bramco com savastro de damasco
cramysim, nova e comprida ........................................................... I vestimenta
Huma coroa de prata, nova e boa ..................................................... I coroa

Gado

VIII bois tocados, que estão alugados em doze alqueyres de triguo cada
hum ................................................................................................... VIII bois
(fl. 158)
XIIII rezes de ferrolhos, seis vacas, quatro <...>llas e hum arall e três
ovelhas ............................................................................................. XIIII rezes
E tem algumas cabras que estão espalhadas pellas casas das pessoas que
as derão.

Comfraria de Nossa Senhora do Rosayro

Visitamos a dicta comfraria que estaa situada no alltar do cruzeyro, à parte


da epístolla, e dos remdimentos e comfraria, que tudo he muito pouco se
diz myssa todallas festas de Nosa Senhora e outras algumas pelos comfrades

261
vivos e defuntos com sua çera, e tomamos conta a Alvaro Preto, casado,
mordomo da dicta comfraria.

Vysitação do espritall(sic.) de Santo Espírito

Visitamos o dicto espritall e achamos que, do remdimento delle, se acre-


çentou a casa, e no alltar tem hum retavollo gramde, de hum paynell, pintado
ho Espírito Santo quando deçemdeo sobre os Apostollos.

Livro da prata e ornamentos

Hum caliz de prata dourado com ho pee de folhagem e o abyto de


Santiaguo e na patana, o mesmo ............................................................... I caliz
Outro caliz de prata, velho .................................................................... I caliz
(fl. 158v.)
Huma vestimenta de damasco cramysim com savastro de viludo verde, de
todo comprida ............................................................................... I vestimenta
Hum frontall de damasco cramysim com bamdas de borcadilho ..... I frontal

Gado do Esprito Santo

Cimquo bois mamços .......................................................................... V bois


Hum novilho .................................................................................. I novilho
Quatro vacas nojaes e duas paridas ............................................... IIII vacas
Dous anelhos e três araes ................................................................. V rezes
Achamos por mordomo a Pero Vaz, o quall traz estas rezes acima, e assy
tem em seu poder a prata e ornamentos e meudezas que haa no dicto espritall,
ao quall foy tomado conta per nós e fica líquido em sua mão dezesete mill
oytoçentos e dez réis ...................................................... XVII DCCC X réis
E achamos que na dicta capella se diz myssa todallas quyntas feiras do
anno à custa da remda da dicta capella.
E loguo visitamos o espritall de bayxo, em que se gasalhão os pobres, o
quall tem as casas que na visitação pasada faz memção e achamos por mordomo
Felype Gomçalves, o quall espritall tem muita roupa, e velha, e amda em seu
aventayro, por nós foy tomada ao dicto mordomo e fica líquido, em sua
mão, vinte seis mill quinhentos e noventa réis .................... XXVIM DXC réis
Vimos o tombo das suas propriedades e foros e achamos estarem claras e
amdarem em boa arrecadação.

262
(fl. 159)

Detriminação do espritall

Mandamos ao dicto Felype Gomçalves, mordomo, que do dinheiro açima,


que estaa em sua mão, mande comprar pera os pobres pera seu gasalhado, as
cousas segintes.
Três leytos de pao e hum delles pera saçerdotes e os dous pera gente comua.
Guarneçer a casa e pimçelar.
Duas cubertas boas e quatro lemçoes.
Dous colchões novos e a roupa que mais tem a mandaraa lavar e repayrar.
Estas cousas açima mandaraa fazer o dicto mordomo demtro em dous
meses, depois da pobrição deste, sob pena de çimquo cruzados, a metade
pera os cativos e outra metade pera o meyrinho da visitação.
E foy visto o tombo das propiedades e foros do dicto espritall e achamos
estarem como cumpre e amdarem em boa arrecadação.

Irmyda de São Pedro

Visitamos a dicta irmyda a quall tem as paredes, a metade de pedra e


call, outra metade de taypa, tudo por guarneçer, hee huma soo casa e tem
hum altar d’alvanaria e huma imagem de São Pedro de vullto, madeyrada de
castanho, e de telha vãa, e estaa muito mall repayrada.
Achamos esta irmyda ser muito antiga e o com-
(fl. 159v.)
çelho desta villa tem carguo della e emlege mordomo e lhe toma conta e
achamos ora por mordomo João Fernandez e lhe tomamos conta e fica
em sua mão trezentos e quarenta reis ........................................... CCC R reis
E mandamos ao mordomo que mande fazer huma imagem de vullto e a
porá no alltar, em huma cayxa de pao, a modo de retavollo, e mandaraa
guarneçer a igreja por dentro, pera o quall pediraa esmolla pellas eyras.

Irmyda de Santa Susana

Visitamos a dicta irmyda, a quall estaa das feyções e medida que se


contém nas visitações antigas; estaa ora muito danificada de tudo e a imagem
gastada do tempo e nam achamos quem seja obrigado a esta irmyda; tem

263
ora seu mordomo, que pede esmolla pelo povoo, e lhe foy tomado conta e
achamos que tem em seu poder mill e quatroçentos reis.
E mandamos a Domyngos Luís, mordomo que ora foy feyto por nós,
que dos mill e quatroçentos reis que ficão em seu poder e das esmollas que
tiraram este anno pellas eyras, mande comçertar o portall, e a parede delle,
que estaa pera cair, e hum cunhall da bamda da estrada, e a casa toda
ripada e telhada, e humas portas novas com sua fechadura e huma imagem
nova, de vullto.

Irmyda de São Sebastião

Visitamos a dicta irmyda, a quall estaa da maneira e feyções que se


contém nas
(fl. 160)
vysitações pasadas; esta era feyta de novo, que se fez das esmollas do
povoo e tem hum retavollo pequeno, mall pintado, e achamos por mordomo
Rodrigo Alvarez e lhe foy tomado conta por nós e achamos ter em sua mão
mill duzentos e dozanove réis e tem algum fato, tudo cousa pobre que estaa
em mão do mordomo .............................................................. M CC XIX réis
Achamos pelas vysitações passadas ho comçelho desta villa ser obrigado
ao repayro desta irmyda e corregimento della, e nós lho emcomemdamos
muito.
E mandamos ao dicto mordomo que, do dinheiro que fica em sua mão
e do mais que pidiraa este anno, pelo povoo, pellas eyras, mandaraa fazer
huma imagem de vullto de São Sebastião e a poraa em hum emcasamento
de madeira, no altar, e mandaraa telhar e ripar a dicta irmyda.

Coroa de Santo Espírito que he sobre sy

Ha dicta coroa de Santo Espírito he de prata dourada per partes, a quall


estaa ora em mão de Pero Vaz, o moço, mordomo, que lhe foy entregue pelos
ofiçiaes da câmara que são admynistradores, com as mais cousas e gado que
tem a dicta coroa.
E achamos que tem algumas rezes, entre bois e vacas, e do remdimento
dellas e outras esmollas se faz a festa do Esprito(sic.) Santo, e se daa de
comer ao povoo e a quantos vêm à dicta festa, e a pobres, à omra do Esprito
Santo, como têm de custume.

264
(fl. 160v.)

Capella curada de Nossa Senhora da Piedade na aldeya


dadoseyxes(sic.)

Visitamos a dicta irmyda, capella curada da imvocação de Nossa Senhora


da Piedade, a quall estaa junto da aldeya dadoseyxes que seraa de çimquoenta
vysinhos e em toda freguisia averaa pouco mais de sasenta fregeses.
Visitamos a igreja e achamos da maneira e feyções da visitação pasada,
tem de novo, no alltar moor, hum retavollo pintado e dourado per partes e
nelle hum emcasamento, em que estaa a imagem de Nossa Senhora de vullto;
a capella moor e o corpo da igreja he madeyrado de castanho e forrado.
Ao pee do retavollo estaa hum almareo embebydo no mesmo retavollo,
com a porta dourada, que serve de sacrayro. De dentro estaa pintado
d’amarello, e nelle hum cofre forrado de tella d’ouro e sua cravação dourada
e dentro forrada de veludo azull e nella estava o Santo Sacramento. Foi
visto por nós e adorado per todos.
Visitamos a pia de baptizar e estaa emtrando pella porta primçipall, à
mão esquerda, çercada de grades. A pia he de pedra e no çircuito das grades
estaa hum almareo em que estão os santos óleos e estavão como comvinha.
Achamos por capelão Álvaro Memdez, cleriguo do abyto de São Pedro.
Estaa apresentado pello bispo, com sua carta de cura, e os fregeses lhe pagão
o estipemdio e lhe dão cada hum dos fregeses dous alqueyres de triguo e
hum de çevada.
Ho dicto capelão he obrigado dize myssa aos
(fl. 161)
fregueses domyngos e festas e administrar-lhes celesinasticos(sic.) sacramentos.
Desta capella à igreja matriz d’Aljazur há duas légoas e no camynho estaa
huma ribeira gramde, que muitas vezes impede a pasagem.
Achamos que os fregeses desta capella são obrigados ao corregimento
da prata, ornamentos e fábrica della e pagar o estipemdio do capellão e neste
custume estão e assy o fazem e não haa comtrato nenhum.

Livro da prata e ornamentos

Huma crux boa, de prata, de castellos no pee ..................................... I crux


Dous calizes de prata sobredourado, hum e outro, bramcos ...... II calizes

265
Huma custodia de prata sobredourada, d’obra romana, nova e bem
obrada, com suas vydraças ............................................................... I custódia
Duas vestimentas, huma de damasco bramco e outra de chamalote
cramysim, ambas compridas, usadas ........................................ II vestimentas
Outra vestimenta de chamalote preto, usada ............................. I vestimenta
Tres frontaes, hum de chamalote e dous de godomiçis ............ III frontaes

E as mais cousas que haa na igreja, meudas, estão em aventayro, no livro


da igreja.
Detriminação

Por acharmos que os fregeses desta capella a têm muito comçertada como
cumpre, nós lhe emcomemdamos muito que, depois que acreçentarem a
igreja como têm detriminado, fação huma capella pera pya de baptizar e
mandarão ladrilhar ou lagear a igreja, e mandarão pôr hum cruçifixo de
vullto no cruzeyro, por ser neçessareo.
(fl. 161v.)

Comtia da fábrica

Achamos que não tem esta igreja ordenado nenhum de fábrica pera suas
despesas, estamdo na composição que se fez antre a Ordem e o bispo do
Alguarve, dez mill reis, os quaes se não pagarão até ora semdo-lhe muito
neçesareo.
E achamos que as despesas meudas da igreja, de cad’ano se gastão, e
fazem à custa do dinheiro da fábrica, das covas e das deçiprinas, que tudo he
muito pouco.
Mantimento do prior

Achamos que tem o prior de mantimento cad’ano em triguo, dous


moyos .................................................................................................... II moios
Em çevada, dous moyos e meio ....................................... II moios e meio
Em dinheiro vinte myll reis scillicet doze mill reis de seu ordenado e os
oyto mill reis por pregar ao povoo o Avento e Coresma, ou dar pregador
nos dictos tempos.
Ho dicto prior tem o carguo de tisoureyro na sua igreja e à custa da comem-
da, lhe dão pera as osteyas e vinho, em cada hum anno, mill réis .......... M réis

266
D’ordenado da tisouraria, quinhentos reis ......................................... D reis
Pera mandar catar os santos óleos, duzentos réis ............................ CC réis
Ho pee d’altar todo he do prior.
(fl. 162)
Remdimento da Comemda

Achamos que remde esta comemda, huns annos por outros, duzentos e
çimquoenta mill réis .................................................................. CC L mil réis

Casas da Ordem

Visitamos as casas da Ordem, as quaes estão muito danyficadas de tudo


e algumas dellas caydas, da maneira que se não pode viver nellas, e não
achamos emtrega por omde nos constase ho estado em que estavão quando
forão entreges ao comemdador, e por serem da Ordem, lhe mandamos fazer
dellas nova entrega por Mateus do Valle, tabalião desta villa, de que
trazemos o trelado e por elle se veraa o estado em que estão.
E mandamos Afomso Periz, mordomo do comemdador, que elle faça
saber loguo ao dicto comemdador que dentro em dous annos, mande fazer
e repayrar as dictas casas e alevantar como estavão antes que assy se
danificasem, por assy mandar Sua Alteza, em noso regimento, ho que
compriraa com pena de vinte cruzados pera o convento de Pallmella.

Castello

Visitamos o castello desta villa, o quall estaa todo desbaratado, sem viver
nimgem nelle, e achamos ser o comemdador, alcayde moor, pello qual
mandamos ao dicto Álvaro Periz, mordomo do comemdador, que elle
notefique ao dicto comemdador que, dentro em seis meses, faça delle
menajem a Sua Alteza, comforme o noso regimento, o que faraa, com
pena de vinte cruzados pera o comvento e foy-lhe
(fl. 162v.)
feyto nova entrega, comforme ao das casas.

Foros da Ordem

Visitamos os foros e moynhos da Ordem que haa nesta villa do mylhor


modo que poode ser, e mandamos fazer hum livro pera se tresladarem

267
todollos aforamentos, novos e velhos, e propriedades e regemgos da Ordem,
o quall lyvro fica entregue a Mateus do Valle, tabelião desta villa, pera que
depois de treladadas torne o lyvro à mão do feytor do comemdador dentro
em dous meses primeiros segintes.
E por que alguns foreyros não mostraram seus titollos no tempo que lhe
foy mandado, nem acharmos quem os aforase, mandamos ao dicto Alvaro
Pirez, mordomo, que as tais propiedades tirase do tombo e fizese diligemçia
pera que se podesem aforar a quem as quisese e isto compriraa até todo
mês de Julho, com pena de çimquo cruzados pera os cativos e meyrinho da
visitação.

Livro das capellas de Clemente Vicente e Fernão Mouro

Achamos que nesta igreja haa çertas propiedades de terras velhas e


casas e pomares que os dictos Clemente Vicente e Fernão Mouro deyxarão
com obrigação de myssas e achamos ser ora disto admynystrador Belchior
Luis, prior da villa de Loulee, e que foy desta villa por provisão do Mestre
que aja glória, segundo fomos imformados e poderão remder as dictas terras
hum moyo e meio de triguo pouco
(fl. 163)
mais ou menos, e nam vimos a provisão que disto tem nem soubemos se
compria a obrigação das myssas por nom estar presente e resideir em seu
priorado.

Detrimynações geraes

Por que creça a devoção no povo e folgem de fazer bem a igreja mandamos
ao prior della que em cada hum anno digo, dous domyngos, os ornamentos e
cousas que naquelle anno se derão à igreja e quem os deu emcomemdamdo
que digão hum pater noster pelo dicto bemfeytor da igreja.

Tombo dos adnyversayros

Mandamos ao prior que faça hum livro de tombo em que escreva todas as
myssas e adniversayros que a dicta igreja tem de difuntos e das mais que ao
diante ouver e se escrevão mais as propiedades, foros e capellas que nesta
igreja ouver de que os rendimentos pertençem a elle, dicto prior, o que
compriraa com pena de quinhentos reis pera os cativos e meyrinho da
visitação.

268
Sobre o rezar das oras

Porque a igreja he casa de oração, omde as oras canonycas se devem


rezar mandamos ao prior, em virtude d’obediençia que reze sua oras canonicas
na igreja com os
(fl. 163 v.)
padres que na dicta villa viverem com suas sobrepelizes vestidas, juntos em
coro.
E mandamos ao prior que faça livre destribuição das myssas que vierem
à dicta igreja e daraa dellas estribuição e das mais beneses que nella ouver
aos padres que servirem e o ajudarem na igreja e rezarem nella suas oras
como dicto he, e o que for revell e nom vier rezar suas oras nem servir a
igreja, o prior lhe poderaa tirar a benese ou ho gisamento por esse dya como
lhe mylhor pareçer.
E o prior seraa apontador emquanto nom ouver benefiçiado, e avemdo-o,
servirão alternante.
Doctrina Crisptãa

Por acharmos que o prior he obrigado a ensinar a doctrina crisptãa cada


dia e por isso tem mill reis d’estipemdio que entrão nos sete mill reis que
seu ante <rasurado>çesor tinha, lhe mandamos, em virtude d’obediemçia,
que tenha muito cuydado de a emsinar cada dia e seraa dicta a oras comve-
nientes, da huma ora até duas, mandamdo fazer sinall com os sinos, pera
que acudão e o poderaa emsinar na igreja matriz ou no Esprito Santo, o que
faraa, com pena de quinhentos reis pera os cativos e meyrinho da visitação.

Que os leygos nom estem (sic.) na capella

Mandamos ao prior que não comsinta estarem leygos


(fl. 164)
na capella moor aos domyngos e festa por ser serviço de Noso Senhor, e
nom se querendo sair nam celebre com elles, ho que o dicto prior compriraa
sob pena de quinhentos reis cada vez que ho consentir pera os cativos e
meyrinho da visitação, isto se não emtemderaa nas pessoas que forem curtos
da vista.
E mandamos que se guarde a ordem dos asentos dos homens e das
molheres que nós ora lhe ordenamos e mandamos ao prior que o faça comprir
que se estar os homens detrás e as molheres diante.

269
Pititoreos (sic.)

Por acharmos que nesta igreja haa alguns pititóreos, e comformando-nos


com ho noso regimento, mandamos ao prior que não consinta mais pedir
nenhuma pessoa na igreja pera nenhum pititóreo dos que tem licença de
Sua Alteza como governador e perpetu admynistrador que he da Ordem de
Santiaguo nem os que tiverem licença de seu prior.

Sobre o sair sobre as sepulturas

Mandamos ao prior que todollas segundas feiras do anno, depois da


myssa do dia saya sobre os finados com sua crux alevantada lamçada na
igreja e adro a voleta (sic.) com seus respomsos como se custuma com pena
de çem reis cada vez que ho deyxar desfazer pera a fábrica da igreja.
(fl. 164 v.)
Detriminações por titulares

Por acharmos que nesta igreja não haa ordenado de fábrica à custa da
comemda e Sua Alteza mandar em nosso regimento que omde a nom ouver
mandemos gastar à custa do comemdador nas cousas neçesarias pera o
serviço da igreja e culto devyno mandamos Afomso Periz que ora he mordomo
do comemdador que a custa das remdas desta comemda mande comprar e
fazer as cousas segintes.
Primeiramente mandaraa comprar huma vestimenta de chamalote preto
com suas barrinhas de viludo preto em lugar de savastros de todo comprida,
com seu frontall, capa d’asperges e pano de púlpito, tudo de hum teor e com
suas franjas pera os domyngos da Coresma.
Outro panno de púlpito de chamalote de coor, com barras de veludo pera
as festas, por nom ter a igreja nenhum.
Duas pedras d’aras, huma pequena pera o sacrayro e outra pera hum dos
altares.
Duas toalhas de Frandes pera os altares e dous pera as mãos.
Quatro guardas pera os corporaes e quatro sanginhos pera os <...>.
Duas peles de godomiçis pera debayxo dos castiçaes do alltar moor.
Dous castiçaes gramdes dos que se ora custumão pera o altar moor.
Dous mysaes manuaes romanos.
Huma tavoa com as palavras de sacra.

270
(fl. 165)
Dous pares de galhetas da feyção que se ora custumão por, que as que tem
não são pera servir.
Hum pasionario pera se dizerem por elle as payxões e ofíçios das emdoemças.
Huns panos pretos pera os tres altares pera a Coresma, de canhamaço, tinto.
Huma estante pera o altar moor.
Hum pano de canhamaço pera estar no alltar debayxo das toalhas.
Mandaraa cobrir ho altar moor de tavoado por ser muito umedo e bayxo.
Huma caldeira d’agoa benta apartada da que ora tem por nom ser pera
servir e seraa dos que se ora custumão.
Estas cousas açima dictas mandamos o dicto Afonso Periz, mordomo do
comemdador, que as mande fazer e pôr na igreja à custa das remdas da
comemda sob pena de dez cruzados, a metade pera a fábrica da igreja e
outra metade pera os cativos e meirinho da visitação, o que tudo compriraa
sob a dicta pena, dentro neste anno de sasenta e çimquo.
E mandamos aos juizes desta villa que, não comprimdo o dicto mordomo
as cousas açima dictas no tempo, que elles o fa
(fl. 165v.)
rão comprir fazemdo ho resto na remda e o mais que for neçesareo.

Prior da fábrica da igreja do povoo

Mandamos a Estêvão Periz, prior da fábrica das sepulturas e penitençias


que, dos seis myll trezentos quarenta e seis réis que estão em sua mão mande
fazer as cousas abayxo declaradas.
Mandaraa fazer çimquo ou seis bamcos antre grandes e pequenos pera
estarem na igreja e se asentarem os homens e os poraa na dicta igreja dentro
neste mes de Junho que vem, com pena de quinhentos réis pera os cativos e
meyrinho da visitação.
Huma capella pequena pera pia de baptizar pera que fique a igreja mais
despojada e dentro nella, hum almareo pera os santos óleos, forrado de
madeira e, das grades que ora tem, lhe farão grades pera o arco da capella e
isto dentro este anno de sasenta e çimquo.
Tiraraa huma carta d’escomunhão sobre o mysall que desapareçeo da
igreja, que podia valer quimze cruzados, e a mandaraa pubricar na villa, omde
lhe pareçer que he neçessareo, e isto faraa dentro em dous meses.

271
Comfraria do Santo Sacramento

Mandamos e emcomemdamos muito aos


(fl. 166)
do Santo Sacramento que do dinheiro que <haa> <na> dicta Comfraria mandem
forrar o <sacr>ayro de tafetaa cramysim por estar asy deçente.

Comfraria de Nosa Senhora d’Allva

Mandamos Afonso Periz, que ora novamente fizemos mordomo da dicta


Comfraria, que elle arrende de Fernão Paaes, mordomo que até ora foy da
dicta Comfraria, os çimquoenta e dous mill e trezentos réis que achamos
ficar devemdo na conta que lhe ora tomamos, na quall contia entrão
algumas peças d’ouro e prata e dinheiro que estão metidos na arca da
dicta comfraria, e este dinheiro lhe seraa paguo por todo Setembro que
vem, que hee o tempo que demos ao dicto Fernão Paaes pera o pagar, e
não ho pagando o faraa executar e fazer execução em seus beens de maneira
que seja paguo, e mandamos aos juízes da parte d’el Rey noso senhor que
semdo-lhe requirido pello dicto Afonso Periz o que dicto he lhe fação pagar
conforme ao conheçimento e obrigação que ho dicto Fernão Paaes diante
de nós fez com toda a deligemçia e brevidade que for posivell ho que
comprirão com pena de çimquo cruzados a cada hum delles se o assy nom
fizerem pera os cativos e fábrica da igreja e meyrinho.
E mandamos ao dicto Afonso Periz que tamto que arrecadar o dicto dinheiro
mande fazer as cousas segintes.
Primeiramente hum retavollo pera o alltar da Com
(fl. 166 v.)
fraria de bordos pintado a óleos e dourado com hum emcasamento no meyo
em que porão ha imagem de Nosa Senhora, de vullto, e no retavollo mandarão
pintar as imagens que tiverem devoção.
Huma imagem de vullto muito boa pera o emcasamento do retavollo.
Hum frontall de damasco azull com barras de borcadilho comforme a
vestimenta que tem.
Humas toalhas boas pera o alltar.
Da crux de prata da igreja e da tença que deyxou Giomar Vicente pera
ajuda de huma crux que ora estaa em poder de Breatiz (sic.) Barbuda (sic.)
mandaraa fazer huma cruz de prata da feyção que se ora custuma com seu

272
cruçifixo e poderaa gastar nella do dinheiro de Nosa Senhora até quimze
ou vinte cruzados pera a prata ou feytio.
Estas cousas açima lhe emcomemdamos muito que faça pera a dicta igreja
por lhe serem muito neçessareas.

Comfraria de Nosa Senhora do Rosayro

Mandamos a Álvaro Vicente, mordomo da dicta Comfraria, que do dinheiro


que tem em sua mão mande tapar o tavoado, a modo d’almareo ho arco que
estaa junto do altar da sua Comfraria, pera que tenha dentro a çera e cousas
que a ella pertemçe, e mandaraa picar e cayar as feguras que estão
(fl. 167)
<...> no dicto arco e tirallo <...> e tiralla sua arca da igreja e isto <fa>raa dentro
em dous meses com pena de quinhentos reis pera os cativos e meyrinho da
visitação.
Sant’Esprito

Mandamos a Pero Vaz, mordomo do dicto Espritall que, dos dezasete mill
oytoçentos e dez réis que estão em sua mão, da dicta casa, mande forrar de
novo e madeyrar omde for neçesareo à dicta casa e comçertar o telhado e a
pymçellar toda por dentro, o que compriraa dentro em quatro meses que
começarão da pobricação desta em diante, porquanto fica o dinheiro em
sua mão, sob pena de dez cruzados, a metade pera a fábrica da igreja e
outra metade pera os cativos e meirinho da vysitação.

Sobre as Comfrarias

Mandamos aos mordomos do Santo Sacramento e das mais comfrarias


que elles não tragão de remda nenhumas terras das dictas comfrarias,
nem bois d’aluguer, por ser muito em perjuízo das dictas comfrarias e
escamdollo do povoo, e as arremdarão em pregão a quem por ellas mais der
e isto se emtemderaa em todos os mordomos que ora são e ao diante forem,
com pena de mill réis a cada hum quem o comtrayro fizer, e na mesma pena
emcorrerão os juízes e vereadores que ho comsentirem, a quall pena seraa
pera os <cati>vos e meyrinho da visytação.
(fl. 167 v.)
<...>
<...> fraria de bordos <...> e dourado com hum emcasamento <...> juízes

273
e vereadores <...> e ao diante forem que não deyxem imagens a humas
pesoas de mordomos das dictas comfrarias, scillicet, a de Nosa Senhora
d’Alva e a do Santíssimo Espritall, mais que dous annos e no cabo delles
lhe tomarão conta com entrega pera se emtregar ao que novamente fizerem,
e avemdo dinheiro que pase de dez cruzados se meteraa em huma arca
de tres chaves, as quaes teraa o prior huma e o mordomo outra e o vereador
<...> lho a outra, por acharmos que as taes Comfrarias por terem fazemda
e remdimento amdão em huma pessoa muitos annos, e isto comprirão os
dictos juízes e vereadores sob pena de mill réis a cada hum, a metade pera
os cativos, outra metade pera o meyrinho da visitação.

Sobre os adnyversayros

Por sermos emformados que nesta igreja haa muitos adnyversayros e


que haa muitos annos que se não dizem alguns delles por que os admynis-
tradores não querem pagar ha esmolla das myssas, comforme a constituyção,
mandamos ao prior, em virtude d’obediemçia que, com muita diligemçia
faça comprir as taes obrigações avetemdo-os taes admynystradores dos ofiçios
devinos, até com efeyto comprirem, e nisto lhe emcarregamos muito sua
comçiemçia por ser sirviço de noso senhor e bem das allmas dos defuntos
que as taes crenças deyxarão.

Sobre os moradores d’Adoseyxa

Achamos nas visitações pasadas que (...)5

(5)
O documento arquivado na Torre do Tombo, Ordem de Santiago, Livro 230, Rolo 44,
termina assim os seus fólios, indiciando a continuação do registo da Visitação em outros
documentos que não estão neste Livro 230, os quais, até à data, não encontrámos.

274
CONCLUSÃO

As visitações de 1565 são fontes de informação de inegável importância


para o estudo da época quinhentista no Algarve. O circuito percorrido pelos
visitadores D. Pedro de Meneses e João Fernandes Barregão faz transparecer
a importância que a Ordem de Sant’Iago dava às igrejas que lhe pertenciam,
nomeadamente aos seus bens imóveis e móveis, ao modus faciendi dos
eclesiásticos e dos crentes. São estes a base da manutenção e enriquecimento
das igrejas, através da doação de bens em troca de missas por alma, orações de
salvação e cura, administração de sacramentos6. É ainda, ao povo, que os
visitadores questionam sobre o comportamento e desempenho de funções
das pessoas do hábito, ou seja, dos eclesiásticos pertencentes à Ordem de
Sant’Iago. As pessoas com mais posses instituíam capelas com os respectivos
administradores, como é o caso de sete capelas na igreja matriz de Faro,
que eram de Garcia Moniz, Rui Valente, João Fernandes Garganta, Pedro
Afonso de Âncora, Martim de Azavia, Gil Esteves e Beatriz Dias. Os admi-
nistradores eram, geralmente, familiares dos instituidores.
Quanto aos bens móveis das igrejas, salientemos os objectos de prata
(cálices, cruzes, coroas, bocetas, castiçais, colares, imagens, frascos, galhetas,
turíbulos), os ornamentos (tecidos e vestimentas de variadas origens, toalhas,
cortinas), imagens de santos, retábulos, missais e outras alfaias eclesiásticas.
A estrutura da visitação aplicava-se ao tipo de igreja que se visitava – matriz,
capela, ermida. Mas, no conjunto, iniciava pela apresentação dos visitadores,
data e identificação do local visitado. Passava-se à apresentação dos: comendador
da cidade, prior da igreja, beneficiados, cavaleiros da Ordem, juízes e oficiais
da Câmara da cidade ou vila. Reliam-se os registos das visitações de anos ante-
riores, para se ver o que se tinha ou não cumprido desde então. Reviam-se as
“obrigações do povo” e seu cumprimento. Visitava-se o Santo Sacramento, o
baptistério, o campanário, a sacristia, o coro, o dinheiro e bens deixados em testa-
mentos, as confrarias e suas esmolas, as capelas do interior de cada igreja e seu
estado de conservação e bens a elas adjacentes. Relativamente às ermidas e capelas
curadas, procedia-se de modo semelhante, reduzindo-se a visita à realidade mais
modesta das igrejas das freguesias, comparativamente às da cidade e vilas.
A visitação terminava com o registo de informações relativas ao rendi-
mento da Comenda e aos foros da Ordem. Apresentavam-se determinações
gerais e particulares com vista a um bom funcionamento das igrejas,

(6)
Vide “Testamentos de difuntos” (fls. 113v e 114) da Visitação às Igrejas do Concelho de
Faro, nesta obra.

275
obrigações dos beneficiados, tesoureiros, priores e povo, normas de actuação
sobre enterramentos, dízimos, registos e preservação dos livros das visitações
das igrejas que deveriam ficar bem guardados em arcas.
Ficava determinado que o prior da matriz, após terminada a cópia da
visitação, a lesse a partir do domingo seguinte ao fim da visita, “(…) lendo-a
pausadamente, de maneira que todos o posão entender e asentaraa nas
costas della o dia em que acabou de pubricar (…)”7.
Nas visitações de 1565, para além das informações fundamentais para
a história do património algarvio, chama-nos a atenção a profusão de dados
relativos ao nome e tipo de tecidos dos quais se faziam vestimentas, toalhas,
panos, frontais, capas, pálios, dalmáticas, pontificais. As tabelas que apre-
sentamos no final destas linhas8, mostram-nos que, de todos os tecidos que
ficaram registados nas Visitações como ornamentos das igrejas dos concelhos
de Faro, Loulé e Aljezur, destacam-se o chamalote, a seda, o damasco, o
cetim, o veludo, as toalhas, o tafetá, o bocaxim, o damasquilho, o pano, os
sanguinhos e os borcadilhos. Segue-se o registo de outros tecidos de menor
importância, no que respeita à qualidade e utilização, por vezes, para
pequenos complementos ou decorações – o godomicil, o tripe, o retrós, o
pano, o pano de canhamaço, o escarlatim, o linho, a usteda, a sarja, a hor-
ganza, o lambel, a tupa, o fustão, a zergania, a grã, o borcado, a ustedilha.
As igrejas dos concelhos de Faro, Loulé e Aljezur, de acordo com estas
visitações de 1565, possuíam uma considerável riqueza em vestimentas,
frontais, suvastros, toalhas, panos e outras manufacturas de tecidos finos
e de qualidade, originários, na maioria, de além mar. O chamalote, feito
a partir do pêlo de camelo, constituía um tecido forte, macio e quente,
com o qual se executavam vestimentas, capas, capas de aspergir que se
usavam por cima das vestes sagradas, suvastros – tira que simultaneamente
decorava a vestimenta e protegia do frio. Do chamalote não se produzia
apenas o vestuário. Faziam-se frontais, panos de púlpito, dalmáticas. A seda
tem papel de destaque. O curioso percurso da manufactura da seda, desde
os artesãos árabes, passando pelos venezianos, florentinos e milaneses,
chegando até aos povos da Península Ibérica, especialmente ao sul, onde se
aprimorou a produção do tecido, através da cultura dos bichos da seda e
das amoreiras. Em Loulé, a antiga Horta D’el-Rei teve os seus terrenos
plantados com aquela árvore, essencial à alimentação das lagartas. Os séculos

(7)
Vide fl. 133 da Visitação às Igrejas do Concelho de Faro, nesta obra.
(8)
Vide tabelas no final deste capítulo.

276
XV, XVI e XVII foram tempos de grande produção de seda na Península
Ibérica, não esquecendo porém, que o tecido já circulava neste território
provavelmente desde a presença dos Godos. Diz o padre Rafael Bluteau,
nos finais do século XVIII9: “(…) É uma mecânica sem a qual não poderia
trajar a nobreza, nem com mil castas de paramentos luzir a igreja (…)”. É de
facto o que verificamos com as vestimentas, frontais, cortinas, barras,
suvastros e extremas de franjas, todos de diversas cores, a não ser uma
vestimenta roxa. De notar que, apesar de se produzir o tecido na região
algarvia, alguns tecidos vinham da Índia, pormenor que o visitador fez
questão de notar cinco vezes para estabelecer a diferença em relação aos
outros tecidos de seda da região.
O damasco, tecido originário da cidade que lhe deu o nome, foi conhe-
cido na Europa pela mão dos genoveses. Feito a partir do linho, algodão
ou lã, imita a seda, mas distingue-se pelo brilho dos lavores em fundo
fôsco. A sua cor predominante é o carmesim, mas também pode aparecer
o branco, o azul, o encarnado, o amarelo e o verde. Os produtos manu-
facturados que predominam são as vestimentas, os pontificais, os frontais.
Seriam, decerto, tecidos importados, na maioria, do Oriente, garantia de uma
qualidade que as manufacturas europeias não atingiam.
O cetim, tecido que também imita seda e se reconhece pela lustrosidade
e brilho, constituía a maior parte do grupo de vestimentas e suvastros dos
registos das Visitações. Teria sido um produto importado, mas sobre o qual
conseguimos rara informação. Curiosa a menção “cetim falso”, relativamente
a outros ornamentos, e a aplicação do cetim para forrar cofres e sacrários.
O veludo, manufacturado a partir da seda ou do algodão, tem aspecto liso
de um lado e com pêlos finos e muito juntos do outro, sendo a sua base uma
teia de fios bem apertados. Embora nos registos das “Visitações” não apareça
a indicação da sua origem, seria essencialmente um produto de importação.
Relativamente às “toalhas”, que se confundem entre o produto e o tecido
de que são feitas, são panos de linho ou algodão, os quais seriam raros visto
o “visitador” ter apontado as suas origens: Índia e Flandres.
Das cores anotadas relativamente aos tecidos, predominam o preto, o
carmesim, o azul e o branco, o encarnado, o verde, o amarelo, o roxo.
As duas primeiras adaptadas à interiorização, padecimento e serenidade
religiosas. O azul e o branco significando a libertação e pureza celestiais.

(9)
In, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 28, Editorial Enciclopédia, Lda.,
Lisboa, Rio de Janeiro.

277
As três últimas cores servindo como decoração e realce das cores de base.
A quantidade de tecidos registados indiciam um circuito comercial,
ao qual os eclesiásticos e fregueses prestaram a atenção necessária para
adquirirem produtos belos, valiosos e de qualidade, para manifestarem a
fé e enriquecerem o património das igrejas e da Ordem. Quando não eram
os eclesiásticos a comprar os ornamentos, de acordo com as normas ema-
nadas em cada visitação, com os dízimos dos fregueses, eram os próprios
crentes que, como forma de manifestar a sua Fé ou de agradecer promessas,
ofereciam os tecidos mais finos que podiam adquirir ao santo ou capela que
adoravam. Temos os exemplos do administrador da capela de St.º António da
igreja matriz de S. Clemente, de Loulé, que se encontrava na Índia em 1565,
de onde traria, decerto, tecidos finos para a sua capela; e de Ruy Barreto
Mascarenhas que explicou, em testamento, que se reconstruísse a ermida
de S. Lourenço de Almancil, do concelho de Loulé, e deixou uma vestimenta
de seda da Índia, um cálice e galhetas de prata10.
As igrejas que nos parecem mais ricas, não só pelo material reunido,
como pela especificidade dos ornamentos apresentados, são as igrejas
matriz de Loulé e Faro, e com algum significado, a capela de Farrobilhas
de Armação, do concelho de Loulé, que desapareceu em 1596, quando se
verificou a invasão inglesa. Destruídos a povoação, o porto e a igreja, os
ingleses passaram a Faro. Pela descrição da visita, a igreja seria um edifício
bastante rico em azulejaria e ornamentos. Os pescadores11 da costa que actual-
mente corresponde à zona entre as praias da Quinta do Lago e do Ancão,
construíram num planalto o seu espaço de devoção, de pedra e cal, enquanto
mantinham as suas casas, barracas de colmo, à volta da igreja12. Actualmente,
ainda se consegue recolher cacos de azulejaria verde, azul e branca, que
comprovam a antiguidade e valor da construção que em tempos ali existiu, ao

(10)
Vide fólios 138v. e 146v., da “visitação” ao concelho de Loulé.
(11)
Maioritariamente do concelho de Loulé.
(12)
Ataíde Oliveira apresenta, na Monografia do Concelho de Loulé, 3ª ed., Algarve em
Foco Editora, Faro, 1989, excertos da “visitação” de 1565 respeitantes ao concelho
de Loulé e, sobre a igreja de N.ª S.ª de Farrobilhas diz que fôra erguida pelos moradores
de Loulé, com uma torre para defesa do porto, assim como a povoação e o próprio
porto. Em finais do século XV, as Cortes do rei D. João II ouviram representantes de
Loulé explicarem que ergueram a povoação de Farrobilhas, e sua igreja havia cerca
de vinte anos num local junto ao mar, onde a pescaria era rica e os pescadores eram
obrigados a vender o peixe na vila de Loulé ou a quem para lá se dirigisse a vender
mantimentos.

278
mesmo tempo que nos fazem questionar a versão do fogo posto.
Outros aspectos poderão ser analisados com mais pormenor relativamente
à informação que as Visitações fornecem. Destacámos os ornamentos, espe-
cialmente os tecidos. Poderíamos avançar para os ornamentos de ouro e prata,
os livros, os painéis e retábulos, a arquitectura, os aspectos sociais e econó-
micos que transparecem. Deixamos todas as outras análises ao critério e res-
ponsabilidade de quem vier a utilizar estas transcrições para os seus trabalhos.

ANEXO TABELAS

Tecidos Origem Cor Produto Tecidos/


manufacturado Páginas
Chamalote (26)13 S/ ind.14 (26) Preto (6) Frontal (9) 46; 47; 53; 54;
Azul (4) Vestimenta (7) 58; 65; 70; 92;
Vermelho (4) Capa (4)17 98; 99; 108;
Carmesim (3) Dalmáticas (2) 113; 124; 127;
De cores15 (3) Suvastro (2) 128; 144; 152;
Amarelo (2) Pano de púlpito (1) 159; 160; 170;
Roxo (2) Capa de aspergir (1) 171
Branco (1)
S/cor16 (1)
Seda (23) Índia (5); S/cor (21) Vestimenta (9) 51; 98; 106;
S/ ind. (18) De cores (1) Frontal (9) 120; 121; 128;
Roxo (1) Cortina (2) 141; 170; 171;
Barras (1) 172
Extremas de franja (1)
Suvastro (1)
Damasco (21) S/ind. (21) Carmesim (6) Vestimenta (7) 41; 53; 58; 59;
Branco (5) Frontal (4) 65; 70; 76; 91;
S/cor (3) Pontifical (4) 105; 113; 114;
Azul (2) 121; 123; 128;
Amarelo (1) 141; 143; 144;
Encarnado (1) 145; 152; 164
Preto (1)
Verde (1)

(13)
Número de vezes em que a palavra aparece no texto.
(14)
Sem indicação.
(15)
Mais do que uma cor.
(16)
Sem cor.
(17)
Capas de vestuário e de tumba.

279
Tecidos Origem Cor Produto Tecidos/
manufacturado Páginas
Cetim (14) S/ind. (14) S/cor (6); Vestimenta (4); 32; 91; 93;
Preto (3); Suvastro (3); 99; 119; 121
Amarelo (2); Banda (1);
Azul (1); Cofre forrado (1);
Branco (1); Cruz (1);
Verde (1); Cortinas (1);
Entretela (1);
Franjas e barras (1);
Sacrário forrado (1);

Veludo (13) S/ind. (13) Carmesim (4); Suvastro (6); 58; 91; 105;
Verde (3); Barras (2); 150; 160
Azul (2); Vestimenta (2);
Preto (2); Bandas (1);
Pardo (1); Dalmáticas (1);
Roxo (1); Cofre forrado (1);

Toalhas18 (12) Índia (8); S/cor (12); Toalhas da Índia (8); 33; 35;53; 92;
Flandres (4); Toalhas da Flandres (4); 9 7 ; 9 8 ; 1 0 0 ;
116; 117;118;
119; 128; 129;
130;141; 160;
161; 164

Tafetá (9) S/ind. (9) Carmesim (3) Frontal (2) 40; 53; 58;
Amarelo (1) Suvastro (2) 64; 65; 91
Azul (1) Vestimenta (2)
Branco (1) Barras (1); Barrado (1)
Preto (1) Vestido (1)
Roxo (1)
S/cor (1)

Pano (8) Índia (5) S/cor (6) Frontal (6) 32; 35; 54;
Aljezur (1) Preto (1) Pano19 (1) 70; 71; 76;
S/ind. (2) Verde (1) Vestimenta (1) 106; 118;
124; 128;
129; 141;
160; 161

(18)
As toalhas, além de serem o objecto de utilização prática e decorativa, eram identificadas
também como um determinado tipo de tecido próprio para a utilização que lhe era dada.
(19)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.

280
Tecidos Origem Cor Produto Tecidos/
manufacturado Páginas
Bocaxim (7) S/ind. (7) Damasco (1) Frontal (6) 35; 65; 92;
Preto (1) Vestimenta (1) 118
S/cor (5)
Damasquilho (6) Índia (4) S/cor (2) Vestimenta (5) 34; 39; 50;
S/ind. (2) Verde (2) Frontal (1) 58; 70; 141
Azul (1)
Branco (1)
Borcadilho (5) Índia (2) S/cor (5) Frontal (2) 40; 50; 121;
S/ind. (3) Savastro (2) 143; 145; 164
Bandas (1)
Sanguinhos20 (5) S/ind. (4) S/cor (5) Sanguinhos (5) 160; 129
Holanda (1)
Godomicil (4) S/ind. (4) S/cor (4) Frontal (2) 32; 210
Peles (2)
Retrós (3) S/ind. (3) S/cor (3) Franjas (3) 58; 65; 98
Tripe (3) S/ind. (3) Preto (1) Suvastro (2) 35; 65; 140
S/cor (1) Corrediças (1)
Vermelho (1) Cruz (1)
Escarlatim (2) S/ind. (2) Vermelho (1) Frontal (2) 32; 35
S/cor (1)
Linho (2) S/ind. (2) S/cor (2) Sobrepeliz (1) 118; 129
Vestimenta (1)
Usteda (2) S/ind. (2) Preta (2) Vestimenta (2) 47; 140
Pano de S/ind. (2) S/cor (2) Panos de canhamaço21(2) 129; 161
canhamaço (2)
Borcado (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 91
Fustão (1) S/ind. (1) Branco (1) Frontal (1) 113
Grã (1) S/ind. (1) Vermelho (1) Frontal (1) 121
Horganza (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 103
Lambel (1) S/ind. (1) S/cor (1) Frontal (1) 109
Sarja (1) S/ind. (1) Vermelha (1) Corrediças (1) 58
Tupa (1) S/ind. (1) S/cor (1) Suvastro (1) 113
Ustedilha (1) S/ind. (1) S/cor (1) S/cor (1) 91
Zergania (1) S/ind. (1) S/cor (1) Vestimenta (1) 121

(20)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.
(21)
Tecido e objecto manufacturado são sinónimos, tal como as toalhas.

281
FONTES E BIBLIOGRAFIA

FONTES

Arquivos Nacionais / Torre do Tombo


Ordem de Santiago, Livro 230, Rolo 44.

BIBLIOGRAFIA

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subsídios para o estudo da História da Arte no Algarve, Câmara Muni-
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ENCARNAÇÃO, Pedro Ferreira e MARTINS, Luísa – Visitações da Ordem
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Secretaria de Estado da Cultura – Delegação Regional do Algarve, 1993.
FREITAS, Pedro de – Quadros de Loulé Antigo, Lisboa, 1964.
JÚNIOR, Joaquim Alberto Iria – O Algarve e os Descobrimentos, 2 vols.,
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LAMEIRA, Francisco I. C. e SANTOS, Maria Helena Rodrigues – Visitação
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MARTINS, Luísa e CABANITA, João Coelho – Visitação das Igrejas do
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OLIVEIRA, Ataíde, Monografia do Concelho de Loulé – Câmara Municipal
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OLIVEIRA, Leal de – «Subsídios para a localização de Farrobilhas, antigo
porto do termo de Loulé», in Anais do Município de Faro, Faro, Câmara
Municipal, 1977.

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