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A filosofia para os Iorubás

A linguagem é a origem de uma cultura, a partir da comunicação


são construídas tradições, modos de viver e formas de se
comportar em sociedade. O Brasil tem o português e libras como
línguas oficiais, mas a formação multicultural no território permitiu a
entrada de outras línguas na nossa composição étnica. Em 2010, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contabilizou
274 línguas indígenas, e, de acordo com estudos históricos, esse
número já somou mais de 1.000 antes da invasão portuguesa.
Essas línguas também compõem a cultura brasileira e, misturadas
entre si, produzem a nossa percepção do mundo exterior e de nós
mesmos. O iorubá é um dos idiomas mais antigos trazidos pela
diáspora dos povos africanos, chegando aqui em meados do século
XVI. Na cultura iorubá, a linguagem é predominantemente oral e
tem seu passado registrado por meio de mitos, ou seja, histórias
que transmitem conhecimento sobre os antepassados, o território e
a natureza.

“A gente pode definir o iorubá como cultura, língua e etnia”, resume Márcio. Esse povo de origem
milenar tem suas raízes no sudoeste do continente africano, local que atualmente corresponde à Nigéria e
parte do Benin. Com cerca de 20 milhões de falantes, o idioma também está presente em outros países
como Cuba, Gana e Costa do Marfim. A cultura iorubá chega ao Brasil nos primeiros navios negreiros, com
um fluxo migratório maior nos 3° e 4° ciclos da escravidão, conforme explicou o professor. Os iorubás,
assim como os bantos, foram grupos étnicos vindos nesse período e contribuíram em diversos aspectos da
identidade brasileira, não só na língua, como também na gastronomia e na arte. O professor Jagum
acrescentou que, no território brasileiro, houve influências de línguas africanas e do próprio português. O
mesmo aconteceu na Nigéria, que usa uma versão mais atualizada do iorubá e teve influência do inglês,
inserido no país durante a colonização britânica.

A língua é o ponto de partida para a comunicação entre as pessoas e o entendimento do mundo ao redor.
No caso do iorubá, uma particularidade gramatical propõe uma noção de tempo diferente do nosso
entendimento. Para nós, o tempo é linear: passado, presente futuro. Estamos condicionados a pensar
assim, com início, meio e fim. “Para eles, isso tudo é sincrônico, então, passado, presente e futuro
acontecem ao mesmo tempo. Por isso, o envolvimento com os ancestrais e como isso desemboca no
idioma”, esclarece Márcio. O que permite essa mudança de percepção é a ausência de tempos verbais na
gramática, os verbos são sempre conjugados no infinitivo e é a interação no momento presente que dá a
contextualização temporal. “Não é uma linguagem escrita, é uma linguagem sentida”, sugere o
pesquisador. (Márcio Jagum, professor e pesquisador do iorubá)

Presente no nosso vocabulário em palavras como axé e acarajé, no Brasil é falado o iorubá arcaico, “é
como se fosse um português de Camões”, exemplificou Márcio, ao explicar que a língua ficou congelada,
uma vez que seu uso é predominantemente nas práticas religiosas do candomblé e umbanda. “A finalidade
é sempre transversal, a quem valoriza essa cultura e a quem tem interesse por essa religiosidade”,
defendeu o professor. Foi o caso de Jhonny Navega, que aprendeu a língua, motivado pelo interesse
religioso, buscando ter mais independência na interpretação dos cantos e mitos. Ele já estuda desde 2015
e, há dois anos, cursa o Programa de Línguas Estrangeiras Modernas (PROLEM), da Universidade
Federal Fluminense, uma das poucas instituições que ensinam a língua no Estado do Rio. Jhonny avalia a
importância de estudar essas culturas, que não são devidamente valorizadas no currículo escolar. “Passou
batido da escola. Teria que ensinar iorubá na escola assim como teria que ensinar o guarani, o
tupi-guarani, outros idiomas indígenas”, opina.
Escola Estadual de Ensino Fundamental Helena Litwin Schneider
Profª Jéssica Hoffmann
Componente curricular: História e Geografia
Turma 91
Nome: ____________________________________________________________ Data: _____________________

Após a leitura do texto sobre os povos Iorubás, responda:

1) O que representa a linguagem para os povos Iorubás?


2) Segundo o texto, quais são as origens dos povos Iorubás e quais os impactos
desses povos na cultura brasileiras?
3) Por que a “noção de tempo” é diferente para os Iorubás?
4) Por que segundo o texto, no Brasil é falado o iorubá arcaico?

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