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CONHEÇA SEUS

DIREITOS E COMBATA
O PRECONCEITO

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Apresentação: Luciana Genro | 05

Conheça seus direitos | 08


Jurisprudência | 09
Legislação | 13

Projetos do PSOL | 22

Violência Contra LGBTs: | 30


Relatório da Comissão Especial | 31
Dados coletados | 35
Propostas de políticas públicas | 37

Contribuições para o debate:


Do medo à luta: LGBTs se organizam
para enfrentar Bolsonaro: | 42
Samir Oliveira

Politizar as Paradas LGBTs para


enfrentar Bolsonaro | 46
Taynah Ignacio

Corpos trans e travestis


são resistência: | 50
Natasha Ferreira

Dicas culturais: | 54
Filmes | 55
Livros | 60

Contatos Úteis | 68
CRÉDITOS E
AGRADECIMENTOS

Esta cartilha é um esforço de atualização


da Cartilha de Direitos LGBTs elaborada
pela Bancada do PSOL na Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul em 2015,
já esgotada. Esta nova edição traz um
resumo do relatório final da Comissão
Especial para Análise da Violência Contra a
População LGBT, proposta e presidida pela
deputada estadual Luciana Genro (PSOL)
no Parlamento gaúcho. E foi atualizada com
dados sobre violência contra a população
LGBT e com as 37 propostas concretas de
combate ao preconceito e promoção da
diversidade, elaboradas pela comissão.

Organização e planejamento
Luciana Genro
Samir Oliveira
Taynah Ignacio
Gabrielle Tolotti

Revisão
Juliana Almeida

Apoio
Setorial LGBT do PSOL-RS

Projeto Gráfico e Diagramação


Bela Daudt | StudioCactus.CC
APRESENTAÇÃO
Deputada Luciana Genro
Presidente da Frente Parlamentar
em Defesa da População LGBT

No Brasil, até pouco tempo atrás os de crueldade, pessoas mortas a pauladas,


problemas enfrentados pela população pedradas, facadas.
LGBT¹ eram tratados fora do âmbito
político, como se fossem questões Também entendemos a violência não
familiares, culturais ou casos de violência apenas como uma agressão física, mas a
comuns. Isso mudou. Tenho muito orgulho violência também enquanto uma agressão
de ter contribuído para esta mudança, psicológica, emocional, afetiva, patrimonial.
especialmente na oportunidade em que fui É o xingamento, a ofensa, a negativa
candidata à Presidência da República, em sem justificativas em uma entrevista de
2014. Dizer, em um debate presidencial, que emprego, o bullying escolar, a expulsão de
homofobia e transfobia matam, significou casa, enfim, atos que empurram as pessoas
elevar o problema da violência contra as que têm uma identidade de gênero ou uma
LGBTs ao patamar de um problema social orientação sexual diferente do padrão
sobre o qual ninguém pode se calar. heterocisnormativo para a marginalidade.
No caso das pessoas trans, esse processo
Quando falamos em violência contra é ainda mais agressivo. A imensa maioria
esta população estamos falando em crimes abandona a escola, é expulsa de casa e acaba
de ódio. Não se trata da violência a que tendo na prostituição a única alternativa de
todos nós estamos sujeitos, como assaltos sobrevivência.
e latrocínios - crimes graves que atingem
toda a sociedade, inclusive também a Como vocês lerão nesta cartilha, a
população LGBT. Neste caso estamos situação é grave e agravou-se nos últimos
APRESENTAÇÃO | LUCIANA GENRO

falando de crimes que atingem apenas esta tempos. Uma minoria com discursos de
população. Crimes cometidos por quem ódio ganhou legitimidade e isso acabou
não aceita a diversidade, a diferença. Por levando a um incremento da violência e
quem não aceita ver dois homens de mãos da sensação de medo. Ao mesmo tempo
dadas nas ruas ou uma mulher que não se há avanços no âmbito do poder judiciário
encaixe no padrão de feminilidade. Por e também uma massificação do apoio à
quem não aceita a existência de pessoas causa LGBT. As paradas do orgulho LGBT são
trans. São crimes cometidos com requintes acontecimentos gigantescos, com amplo

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apoio popular. Mesmo assim, a violência
segue ocorrendo.

Nossa comissão teve a missão de ouvir


as pessoas sujeitas a este tipo específico
de violência, os movimentos sociais que
lutam pela causa LGBT, os órgãos públicos
que têm, ou deveriam ter, políticas públicas
voltadas para este problema. A partir
desta escuta apresentamos propostas que
podem ajudar a enfrentar o problema.
Agradecemos imensamente a todos e todas O uso do termo LGBT é adotado
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que participaram de alguma forma deste para se referir a lésbicas, gays,


bissexuais e transgêneros
trabalho nas audiência públicas, nas visitas
(travestis, transexuais e
técnicas, nas reuniões de trabalho ou nas
transgêneros). Sabe-se que
respostas aos nossos ofícios. a sigla pode assumir outros
formatos, com a inversão da
Agradeço especialmente à equipe técnica ordem das letras, duplicação/
triplicação do “t” para
da comissão. Sem eles e elas este trabalho
agregar outras identidades e
teria sido impossível. Foram meses de
o acréscimo de letras (o “I” de
dedicação intensa, em meio a várias outras intersexual, o “Q” de Queer ou
demandas. Por fim, agradeço todo o carinho o “A” de assexual/agênero) ou o
que tenho recebido das pessoas LGBTs. aparecimento de um “+” como
sinal de agrupamento depois
Por onde eu ando recebo esta energia, um
da sigla. Dessa forma, o que se
incentivo fundamental para atravessar
percebe é que a denominação
estes tempos difíceis. Ninguém larga a mão está em aberto, sujeita a
de ninguém, seguiremos juntas e juntos e contestações, variações e
não deixaremos o ódio e a discriminação mudanças, sendo utilizada nesse
formato de representar uma
vencerem. Já disse um lutador que enfrentou
categoria ampla e complexa
muitas tormentas: a vida é bela, que as
do conjunto de diferentes
gerações futuras a livrem de todo o mal e identidades. (Tamires de
possam desfrutá-la plenamente. Oliveira Garcia, 2019).
APRESENTAÇÃO | LUCIANA GENRO

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JURISPRUDÊNCIA

DIREITOS
CONQUISTADOS
NA JUSTIÇA
Os principais direitos que a população
LGBT possui hoje em dia no Brasil são
resultado não de legislações aprovadas, mas
sim de decisões judiciais que acabam valendo
para todo o conjunto desta comunidade. São
as chamadas jurisprudências.

Essas jurisprudências são reflexo de


décadas de luta do movimento LGBT em
defesa de seus direitos. Assim é possível
hoje o casamento civil igualitário, a
criminalização da LGBTfobia, a adoção por
casais do mesmo sexo e a livre expressão da
identidade de gênero.

Ainda assim, a conquista destes direitos


não elimina a necessidade de uma lei
que os garanta, pois a composição dos
tribunais muda com o passar do tempo e
jurisprudências podem ser revistas. Por
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isso seguimos na luta para que o Congresso


Nacional aprove legislações que consolidem
todos esses direitos.

Entenda como cada um desses direitos


foi garantido pelo Judiciário no Brasil:

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CRIMINALIZAÇÃO
DA LGBTFOBIA
No dia 13 de junho de 2019 o Supremo esses atos de preconceito.
Tribunal Federal criminalizou a homofobia e
transfobia no Brasil. Mas como isso foi possível? O que isso significa?
Que LGBTfobia passou a ser um crime no
A decisão ocorreu quando o STF julgou Brasil, da mesma forma que o racismo. Ou
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
seja, um crime inafiançável, cuja pena pode
por Omissão (ADO). A maioria dos ministros
chegar até a prisão.
do Supremo entendeu que houve omissão
do Congresso Nacional ao não editar uma
lei que criminalize atos de homofobia e
Exija seus direitos!
transfobia no país. Se você foi vítima de preconceito,
saiba que a pessoa que o discriminou
Por isso, o tribunal decidiu que as está cometendo um crime e pode ser
condutas homofóbicas e transfóbicas responsabilizada por isso. Registre um
devem ser enquadradas na lei que prevê boletim de ocorrência em qualquer
o crime de racismo, até que o Congresso delegacia de polícia, relatando que você foi
aprove uma lei específica para criminalizar vítima de homofobia ou transfobia.

CASAMENTO
CIVIL IGUALITÁRIO
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Em 2011 o Supremo Tribunal Federal já poderiam solicitar uma união formal.


decidiu que a união estável entre pessoas do
mesmo sexo poderia ser considerada uma Contudo, os cartórios ainda se negavam
entidade familiar aos olhos da Constituição. a adotar a medida, alegando brechas na
Isso significou que, a partir daquele decisão do STF. Por isso, em 14 de maio de
momento, casais de homens e de mulheres 2013 o Conselho Nacional de Justiça - órgão

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que fiscaliza todo o Poder Judiciário pode solicitar em qualquer cartório do país
no país - editou a Resolução 175, em o registro de casamento no civil, tendo
que determinou que todos os cartórios assegurados os mesmos direitos garantidos
garantissem a casais homossexuais o a casais heterosexuais.
direito de se casarem no civil.
Exija seus direitos!
Com essa conquista, homossexuais Nenhum cartório pode recusar a registrar
passaram a usufruir de mecanismos legais o casamento civil entre pessoas do mesmo
que eram exclusividade dos casais hétero, sexo. Se você passou por esta situação,
como a partilha de bens e herança de parte denuncie para a Corregedoria do Conselho
do patrimônio do cônjuge em caso de morte. Nacional de Justiça no telefone (61) 2326-
5555​, das 7h às 20h, de segunda a sexta, ou
O que isso significa? pelo e-mail corregedoria@cnj.jus.br.
Que os casais de pessoas do mesmo sexo

MUDANÇA DE GÊNERO E
NOME NOS DOCUMENTOS
A população de travestis e transexuais inclusive a cirurgia de redesignação sexual
já não precisa mais ingressar na Justiça e até mesmo um laudo psiquiátrico. Agora
para modificar o nome ou o gênero em seus qualquer pessoa trans acima de 18 anos
documentos. Isso porque em março de 2018 pode ir a qualquer cartório do país solicitar a
o STF decidiu que essas alterações podem sua mudança de nome e gênero na certidão
ser feitas sem necessidade de autorização de nascimento - e, a partir daí, alterar todos
judicial, laudo médico ou comprovação de os demais documentos que queira.
cirurgia de redesignação sexual.
O que isso significa?
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Em junho de 2018 o Conselho Nacional Que o direito ao reconhecimento da


de Justiça publicou uma norma que define identidade de gênero das pessoas trans e
as regras para a mudança de nome e gênero travestis já é garantido no Brasil. Isso não
na certidão de nascimento ou de casamento quer dizer que é fácil acessar este direito.
de pessoas trans. Embora não seja necessário ter advogado
para ir ao cartório solicitar a mudança de
Antes desta decisão, era preciso nome e gênero, é preciso pagar uma taxa e
contratar advogado e ingressar com uma são exigidos muitos documentos e certidões,
ação na Justiça. Dependendo do juiz, poderia que nem sempre pessoas em situação de
ser exigido uma série de comprovações, vulnerabilidade irão ter em mãos.

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Exija seus direitos! • Cópia do RG

Qualquer cartório no país tem o dever • Cópia da identificação civil nacional (ICN),
de realizar a mudança de nome e gênero se for o caso;
nos documentos, sempre que todos os • Cópia do passaporte brasileiro, se for o caso;
critérios sejam preenchidos - ser maior de
18 anos e ter apresentado a documentação • Cópia do CPF
necessária. Não é necessário realizar • Cópia do título de eleitor;
o procedimento no cartório em que
você foi registrado. Se, por qualquer • Cópia de carteira de identidade social,
outro motivo, um cartório se recusou a se for o caso;
encaminhar a retificação, denuncie para • Comprovante de endereço;
a Corregedoria do Conselho Nacional de
Justiça no telefone (61) 2326-5555​, das 7h • Certidão do distribuidor cível
às 20h, de segunda a sexta, ou pelo e-mail (estadual/federal);
corregedoria@cnj.jus.br. • Certidão do distribuidor criminal
(estadual/federal);

• Certidão de execução criminal


Confira a lista de documentos
(estadual/federal);
e certidões necessárias para
• Certidão dos tabelionatos de protestos;
modificar nome e gênero nos
cartórios: • Certidão da Justiça Eleitoral

• Certidão de nascimento atualizada; • Certidão da Justiça do Trabalho

• Certidão de casamento atualizada, se for o caso; • Certidão da Justiça Militar, se for o caso.

ADOÇÃO
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No dia 19 de março de 2015 o Supremo juízes, mas a decisão do Supremo consolida


Tribunal Federal, através de uma decisão da um entendimento favorável sobre o assunto,
ministra Carmen Lúcia, reconheceu o direito garantindo que a interpretação em vigor da
de um casal gay de Minas Gerais de adotar Constituição é a de que o conceito de família
uma criança. Foi a primeira vez que o STF se engloba, também, casais LGBTs.
posicionou favoravelmente sobre o assunto.
O que isso significa?
Na prática, a adoção por casais Que casais homossexuais que desejem
homossexuais já vinha sendo permitida por adotar têm os mesmos direitos e devem

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seguir os mesmos passos que qualquer sua residência ou cidade. É lá que deve
casal heterossexual. ser feito o primeiro contato. Se você se
sentir discriminado ao longo do processo
Exija seus direitos! por ser LGBT, procure a corregedoria de
O processo de adoção deve ocorrer Justiça de seu Estado para apresentar
sempre junto à Vara da Família, uma denúncia e garantir seu direito.
Infância e Juventude mais próxima de

LEGISLAÇÃO
FEDERAL
A legislação em nível federal ainda empregadores de exigir documentos
é bastante limitada. Historicamente, o discriminatórios ou obstativos para
Congresso Nacional sempre se negou a contratação, incluindo dados relativos
levar adiante iniciativas que garantissem à sexualidade. Quaisquer anotações na
direitos à população LGBT. Os sucessivos Carteira de Trabalho e Previdência Social
governos pós-redemocratização do país que desabonem o trabalhador e que se
não mobilizaram suas bases parlamentares refiram ao seu gênero ou orientação
neste sentido. sexual, entre outros, são consideradas
discriminatórias. O descumprimento dessa
Com o governo Bolsonaro, há uma portaria pode gerar penalidades à empresa.
presidência abertamente inimiga da
população LGBT, que mobiliza sua base O que fazer para garantir
contra os direitos, a visibilidade e o bem esse direito?
estar deste segmento. A pessoa vítima de discriminação
no trabalho pode realizar denúncia na
Por isso é importante saber quais Superintendência Regional do Trabalho e
leis e medidas federais já garantem a Emprego do Rio Grande do Sul, na Av. Mauá,
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proteção e a dignidade das pessoas LGBTs. nº 1013 – Centro Histórico – Porto Alegre/
Confira abaixo: RS, ou pelo telefone (51) 3213-2800.

Direitos Trabalhistas:

A portaria 41 do Ministério do Trabalho


e Emprego, de 28 de março de 2007, proíbe

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Direitos Previdenciários: Há uma decisão judicial que reconhece
a aplicabilidade da Lei Maria da Penha
A Instrução Normativa do INSS nº 20, de também para mulheres trans.
10 de outubro de 2007, prevê o benefício de
pensão por morte e auxílio-reclusão à(ao) O que fazer para garantir
parceira(o) homossexual, referente a óbitos esse direito?
ou prisões ocorridas a partir de 5 de abril O Supremo Tribunal Federal decidiu,
de 1991, exigindo-se apenas a comprovação em fevereiro de 2012, que a Lei Maria da
de vida em comum. O companheiro ou a Penha tem validade mesmo sem denúncia
companheira homossexual integram o rol da vítima. A agressão contra a mulher pode
de dependentes do(a) segurado(a) e tem ser denunciada 24 horas por dia, através
direito aos mesmos benefícios que teria um de ligação para o número 180 (Central de
casal heterossexual. A alteração veio a partir Atendimento à Mulher), sendo garantido
de uma decisão judicial reconhecendo o anonimato da vítima ou de quem
esse direito, na Ação Civil Pública nº denunciar – qualquer pessoa próxima da
2000.71.00.009347-0, e foi garantida após a mulher pode ser denunciante. A Central de
instituição da união estável e do casamento Atendimento à Mulher (180) tira dúvidas
entre homossexuais pelo Poder Judiciário. e oferece informações a respeito da Lei
Maria da Penha e atendimento psicológico,
O que fazer para garantir jurídico e social à mulher vítima de
esse direito? violência, orientando como agir e procurar
Desde a Ação Civil Pública nº ajuda. A denúncia pode ser feita, ainda,
2000.71.00.009347-0, o INSS tem diretamente na polícia, pelo número 190 ou
reconhecido os direitos previdenciários prestando queixa em qualquer Delegacia
acima, bastando comprovação da vida em de Defesa da Mulher.
comum, que pode ser realizada por registro
em cartório, união estável, casamento etc.
Embora o INSS pretenda ainda reverter a
decisão nos tribunais superiores, até este Direito à Saúde:
momento a norma vale em todo o território
nacional. Em caso de descumprimento, A Resolução nº 1/99 do Conselho Federal
pode-se recorrer ao Poder Judiciário. de Psicologia impede ações de psicólogos no
sentido de agir coercitivamente a orientar
homossexuais a tratamentos não solicitados
e ações que favoreçam a patologização da
Proteção contra Violência: homossexualidade, assim como impede que
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se pronunciem publicamente de modo a


A Lei 11.340/06 (Maria da Penha) reforçar preconceitos sociais existentes em
deixa expressa nos artigos 2º e 5º a sua relação a homossexuais como portadores
abrangência também a casais de lésbicas, de desordem psíquica. É essa resolução que
protegendo a companheira agredida não permite a tentativa da chamada “cura
de forma igual aos casos envolvendo gay”, que gera apenas maior sofrimento
heterossexuais. A Lei Maria da Penha prevê psíquico na população LGBT, que não é
proteção à mulher vítima de violência física, portadora de desordem psíquica por ser
psicológica, sexual, patrimonial e moral. LGBT. A Portaria nº 2.836 do Ministério da

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Saúde, institui a Política Nacional de Saúde Nome social:
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (Política Nacional O Decreto Presidencial Nº 8.727, de 28
de Saúde Integral LGBT) no âmbito do SUS, de Abril de 2016, assegura a transexuais e
com objetivo de combater a discriminação travestis o uso de seu nome social em todos
e o preconceito institucional no SUS para a os órgãos públicos, autarquias e empresas
redução das desigualdades e garante acesso estatais federais. Essa medida vale para
ao processo transexualizador na rede do funcionários públicos e também usuários
SUS, além de outras providências. dos serviços.

O que fazer para garantir O que fazer para garantir


esse direito? esse direito?
Psicólogos que descumpram a Resolução Ao procurar algum serviço público
01/1999 do CFP devem ser denunciados federal, exija o seu direito de ser tratada
em seu respectivo Conselho Regional de ou tratado de acordo com seu nome social.
Psicologia. A discriminação no âmbito do De acordo com o decreto, não é necessário
SUS deve ser denunciada na Ouvidoria do sequer ter carteira de nome social para
SUS, número 136. Em Porto Alegre, também que este direito seja garantido. Caso esse
pode ser utilizada a ouvidoria da Prefeitura, direito não seja respeitado, procure a
pelo número 156. No caso de dificuldades ouvidoria do órgão público em questão
de acesso, pode-se exigir, inclusive, o para fazer uma denúncia.
cumprimento do dever constitucional de
prestação de atendimento pelo Estado no
Poder Judiciário.

LEGISLAÇÃO
ESTADUAL
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Algumas das leis mais avançadas no lei federal. De modo geral, são leis em
combate à discriminação por diversidade âmbito administrativo, muitas vezes
de orientação sexual e de gênero no desconhecidas do público e cuja eficácia
Brasil estão em âmbito estadual e se torna bastante limitada se não houver
municipal. As punições trazidas por exigência de sua aplicação pelas pessoas
elas, no entanto, não têm caráter penal, ofendidas. No Estado do Rio Grande do
pois crimes só podem ser definidos por Sul, as legislações englobam:

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Direito à Identidade: Combate à discriminação
e ao preconceito:
O Decreto 49.122/2012 instituiu no
nosso Estado a Carteira de Nome Social A Lei Estadual 11.872/2002 é a lei
para Travestis e Transexuais, sendo direito antidiscriminação do Rio Grande do Sul.
de todas e todos. O Decreto 48.118/2011 Essa Lei foi concebida para realizar a
garante a essas pessoas o direito à escolha promoção e o reconhecimento da liberdade
pelo nome social, independente do registro de orientação, prática, manifestação,
civil, nos procedimentos e atos dos Órgãos identidade, preferência sexual, abrangendo
da Administração Direta e Indireta, com o em seus efeitos protetivos pessoas naturais
nome civil reservado para uso interno na e jurídicas que sofrerem qualquer medida
instituição, apenas. Esse mesmo decreto discriminatória em virtude de sua ligação
autoriza as escolas estaduais a incluir com integrantes de grupos discriminados.
nome social nos registros escolares, como Para garantir isso, a Lei define um rol de
forma de diminuição da evasão escolar da atos atentatórios à dignidade, incluindo
população T. Nesse sentido, é interessante ofensas coletivas e difusas, e sujeita a ela
citar, ainda, o Parecer 739/2009 do todas as pessoas, físicas ou jurídicas, que
Conselho Estadual de Educação, que mantêm relação com a Administração
aconselha escolas do Sistema Estadual de Pública Estadual, direta ou indireta,
Ensino a adotar o nome social. inclusive aquelas que exercem atividades
econômicas ou profissionais sujeitas à
O que fazer para garantir fiscalização estadual. A Administração
esse direito? Pública Estadual também está sujeita à Lei,
Para fazer a Carteira de Nome Social, que ainda inclui proteção a trabalhadores
basta a pessoa interessada comparecer a públicos e privados LGBTs.
um posto de identificação (mesmos locais
que confeccionam carteira de identidade,
como o Tudo Fácil, por exemplo) com a
certidão original de nascimento e a última Atos atentatórios à
via da carteira de identidade. A emissão da dignidade na abrangência da
carteira é gratuita, mas haverá cobrança Lei Estadual 11.872/2002:
de taxa no caso de necessidade de emissão
de segunda via. A escolha pelo nome social • A prática de qualquer tipo de
nos atos da Administração Pública deve ser ação violenta, constrangedora,
feita na apresentação para atendimento intimidatória ou vexatória, de ordem
e no preenchimento de documentos moral, ética, filosófica ou psicológica;
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(inclusive nas escolas estaduais), estando


o servidor que se negar a habilitar o uso • Proibir o ingresso ou permanência
do nome social sujeito a penalidades. em qualquer ambiente ou
Denúncias em caso de descumprimento estabelecimento público ou privado,
desse decreto podem ser realizadas aberto ao público;
pelo número 100, o Disque Denúncia de
violações a Direitos Humanos. • Praticar atendimento selecionado que
não esteja devidamente determinado
em lei;

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• Preterir, sobretaxar ou impedir a Penalidades previstas na Lei
hospedagem em hotéis, motéis, Estadual 11.872/2002 a quem
pensões ou similares; pratique atos atentatórios:
• Preterir, sobretaxar ou impedir • Advertência;
a locação, compra, aquisição,
arrendamento ou empréstimo de • Multa;
bens móveis ou imóveis de qualquer
finalidade; • Rescisão do contrato, convênio,
acordo ou qualquer modalidade
• Praticar o empregador, ou seu de compromisso celebrado com a
preposto, atos de demissão direta ou Administração Pública direta ou
indireta, em função da orientação indireta;
sexual do empregado;
• Suspensão da licença estadual para
• A restrição à expressão e à funcionamento por 30 (trinta) dias;
manifestação de afetividade
em locais públicos ou privados • Cassação da licença estadual para
abertos ao público, em virtude das funcionamento;
características previstas no art. 1º;
• No caso de servidores públicos
• Proibir a livre expressão e estaduais, as penalidades aplicáveis
manifestação de afetividade do são as previstas no Estatuto do Servidor
cidadão homossexual, bissexual ou Público.
transgênero, sendo estas expressões e
manifestações permitidas aos demais O que fazer para garantir
cidadãos; esse direito?
A prática dos atos discriminatórios
• Preterir, prejudicar, retardar abrangidos pela Lei 11.872/2002 é apurada
ou excluir, em qualquer sistema mediante processo administrativo, que
de seleção, recrutamento ou pode ser iniciado por reclamação da pessoa
promoção funcional ou profissional, ofendida, por comunicado de organizações
desenvolvido no interior da não-governamentais ou, ainda, por ato
Administração Pública Estadual ou ofício de autoridade competente.
direta ou indireta; Denúncias podem ser realizadas pelo
número 100, o Disque Denúncia de
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• A recusa de emprego, impedimento violações a Direitos Humanos.


de acesso a cargo público, promoção,
treinamento, crédito, recusa de
fornecimento de bens e serviços
ofertados publicamente, e de qualquer
outro direito ou benefício legal ou
contratual ou a demissão, exclusão,
destituição ou exoneração fundados
em motivação discriminatória.

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LEGISLAÇÃO
MUNICIPAL
DE ALGUNS MUNICÍPIOS DO RS

Porto Alegre Educação para a


Diversidade:

A Lei 8.423/2004 estabelece no sistema


Combate à Discriminação e municipal de ensino a Educação Antirracista e
ao Preconceito: Antidiscriminatória, incluindo-se a temática
“discriminação de orientação sexual”.
O artigo 150 da Lei Orgânica Municipal
define que “os estabelecimentos comerciais, O que fazer para garantir
industriais, prestadores de serviços esse direito?
entidades educacionais, creches, hospitais, Embora alguns parlamentares
associações civis, públicas ou privadas conservadores tenham garantido a exclusão
que, por seus proprietários, prepostos do debate de diversidade sexual e de gênero
ou representantes praticarem atos do Plano Municipal de Educação, já existe,
discriminatórios a gays, lésbicas, travestis, há 11 anos, uma lei que garante o combate à
transexuais, bissexuais ou a qualquer pessoa discriminação em Porto Alegre. Infelizmente,
em decorrência de sua orientação sexual, não vem sendo aplicada, sendo papel dos
sofrerá pena de multa e/ou suspensão do movimentos sociais e dos representantes
alvará de funcionamento”. Essa lei tem se das vozes progressistas nos cargos públicos
mostrado inócua em Porto Alegre, pela total exigir a efetivação desse direito.
paralisia da promoção de políticas públicas
que temos testemunhado na Capital. Mas é
uma lei importante e precisamos exigir sua
aplicação e fiscalizar as atitudes dos gestores Direito à Identidade:
públicos para promoção desse direito.
Projeto de lei recentemente aprovado
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O que fazer para garantir na Câmara de Vereadores (PLL 151/14)


esse direito? assegura a travestis e transexuais, ao serem
As denúncias devem ser feitas na atendidos em estabelecimentos privados,
Unidade de Direitos de Diversidade Sexual em órgãos da Administração Direta e
e Gênero, situada à Rua dos Andradas, nº em entidades da Administração Indireta
1643 / 5° andar, ou pelo Disque Denúncia do Município de Porto Alegre, o direito à
dos Direitos Humanos de Porto Alegre, utilização de seu nome social constante
pelo número 0800-642-0100, de segunda a na Carteira de Nome Social para Travestis
sexta-feira, das 8h30min às 18h. e Transexuais, instituída pelo Decreto

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Estadual nº 49.122, de 17 de maio de 2012, outros consumidores que se encontrem
e determina que esses locais façam constar em idêntica situação e adoção de atos
em seus cadastros gerais o nome social de coação, de ameaça ou de violência.
utilizado por travestis e transexuais. Considera-se infrator dessa Lei a pessoa que
direta ou indiretamente tiver concorrido
O que fazer para garantir para o cometimento da infração. As
esse direito? sanções previstas são multa, suspensão ou
A Carteira de Nome Social deve ser cassação de alvará para estabelecimentos, e
feita nos postos de identificação (ver Seção suspensão ou afastamento para agentes do
Legislação Estadual). poder público.

O que fazer para garantir


esse direito?
Todo e qualquer cidadão pode comunicar
às autoridades competentes qualquer
violação à Lei Municipal 1.549/2007. O
Novo Hamburgo
Disque Denúncia da cidade funciona pelo
telefone (51) 3288-5100. A cidade conta,
ainda, com um Centro de Referência
em Direitos Humanos, que funciona de
Combate à Discriminação e
segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas,
ao Preconceito:
com atendimento no 3º andar da Casa da
Cidadania – Rua David Canabarro, nº 20,
Novo Hamburgo conta com uma
Centro, Novo Hamburgo/RS.
lei antidiscriminação específica, a
Lei Municipal 1.549/2007. Ela busca a
promoção e o reconhecimento da liberdade
de orientação, prática, manifestação,
identidade, preferência sexual, a
partir da definição de penalidades aos
estabelecimentos localizados no município São Leopoldo
que discriminem pessoas em virtude
de sua orientação sexual. A lei entende
discriminação como: constrangimento ou
exposição ao ridículo, proibição ou cobrança Combate à Discriminação e
extra para ingresso ou permanência ao Preconceito:
em local de acesso ao público geral,
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atendimento diferenciado ou selecionado, São Leopoldo é outro município que


preterimento quando da ocupação e/ou conta com uma lei antidiscriminação
imposição de pagamento de mais de uma específica, a Lei nº 6.010/2006. Assim como
unidade, nos casos de hotéis, motéis ou a lei estadual e outras municipais, esta
similares, preterimento em aluguel ou norma dispõe sobre o reconhecimento da
aquisição de imóveis para fins residenciais, liberdade de orientação sexual e identidade
comerciais ou de lazer, preterimento em de gênero e estipula uma série de condutas
exames, seleção ou entrevista para ingresso discriminatórias que podem ser punidas
em emprego, preterimento em relação a pela prefeitura em âmbito administrativo.

19
Entre as condutas passíveis de punição, Gravataí
estão impedir ou dificultar o ingresso
ou permanência em espaços públicos,
logradouros públicos, estabelecimentos
abertos ao público e prédios públicos; Multas a estabelecimentos
impedir ou dificultar o acesso de cliente, que discriminem:
usuário de serviço ou consumidor, ou
recusar-lhe atendimento; impedir o O município de Gravataí possui a Lei nº
acesso ou utilização de qualquer serviço 1.877/2002, que estabelece penalidades aos
público; criar embaraços à utilização das estabelecimentos que discriminam pessoas
dependências comuns e áreas não privadas em virtude de sua orientação sexual. A
de qualquer edifício; praticar, induzir ou lei penaliza o estabelecimento comercial,
incitar através dos meios de comunicação a industrial, entidades, associações,
discriminação, o preconceito ou a prática de representações, sociedades civis ou
qualquer conduta vedada por esta lei; negar de prestação de serviços que, por seus
emprego, demitir, impedir ou dificultar a proprietários ou prepostos, declarados em
ascensão em empresa pública ou privada; sentença judicial condenatória transitada
impedir ou obstar o acesso a cargo ou função em julgada, que discriminem pessoas
pública ou certame licitatório; inibir ou em função de sua orientação sexual. A
proibir a manifestação pública de carinho, norma considera discriminação atos como
afeto, emoção ou sentimento; adotar atos constrangimento, proibição de ingresso
de coação, de ameaça ou de violência; ou permanência, preterimento quando
proibir, inibir ou dificultar a manifestação da ocupação, atendimento diferenciado
pública de pensamento. A legislação prevê e cobrança extra para ingresso ou
multas, sanções e até cassação de alvará a permanência. O texto prevê a aplicação de
estabelecimentos privados que promovam multas a esses estabelecimentos.
discriminação e processos administrativos
e até demissões, no caso de servidores O que fazer para garantir
públicos municipais. esse direito?
Se você sofrer algum tipo de
O que fazer para garantir discriminação em estabelecimentos
esse direito? comerciais e públicos de Gravataí, denuncie
Todo e qualquer cidadão pode junto à Ouvidoria Municipal, nos telefones
comunicar às autoridades competentes (51) 3600-7028 / 7293 ou presencialmente na
qualquer violação à Lei nº 6.010/2006 Av. José Loureiro da Silva, 1350- Centro, das
diretamente à Secretaria Municipal de 9h às 18h. Também é possível mandar um
CONHEÇA SEUS DIRETOS | LEGISLAÇÃO

Direitos Humanos de São Leopoldo, das 9h e-mail para ouvidoria@gravatai.rs.gov.br.


às 14h, na Rua Dom João Becker, 754 - 3º
Andar - Centro. O telefone da Secretaria
é (51) 2200-0265 | 0266. E o e-mail é
gabinete.direitoshumanos@saoleopoldo.rs.gov.br.

20
Canoas

Respeito ao nome social:


O Decreto nº 37/2015 determina que
o nome social de pessoas transexuais e
travestis seja respeitado em todos os órgãos
da administração pública municipal de
Canoas, sem necessidade de apresentação
de registro civil.

O que fazer para garantir


esse direito?
Se você teve seu nome social
desrespeitado em algum órgão público
de Canoas, denuncie junto à Central de
Atendimento ao Cidadão, na Rua Ipiranga,
120, no Centro de Canoas. Ou também
pelos telefones 0800-5101234 / 51.32361088
/ 51.32361086 / 51.32361059. Também é
possível enviar uma denúncia por e-mail para
atendimento.cidadao@canoas.rs.gov.br.

TEVE SEUS
DIREITOS VIOLADOS?
FALE COM A GENTE!
Neste capítulo procuramos colocar
CONHEÇA SEUS DIRETOS | LEGISLAÇÃO

sempre os contatos diretos das instituições


que podem atuar para garantir direitos da
população LGBT nas mais diversas áreas. Se
você não conseguiu o atendimento desejado
ou se sentiu violada ou violado em seus
direitos ao buscar esse atendimento, entre
em contato com o mandato da deputada
Luciana Genro no WhatsApp. O número da
nossa equipe é (51) 99116-4755.

21
PROJETO
22
DO PSOL
PROJETOS

OS
DO PSOL
O PSOL é um partido comprometido
com a defesa da população LGBT. Em 2014,
Luciana Genro foi candidata a presidente
da República e falou, pela primeira vez em

L
um debate, sobre homofobia e transfobia.

Os mandatos do PSOL possuem


diversos projetos que asseguram direitos
à comunidade LGBT e fortalecem a luta
contra o preconceito. Também é do PSOL
o único deputado federal assumidamente
PROJETOS DO PSOL

LGBT do Congresso, David Miranda.

Confira projetos em defesa da população


LGBT apresentados pelo PSOL.

23
LUCIANA GENRO Deputada estadual (PSOL-RS)

BOs para a população LGBT Direito a servidores LGBTs


- PL 26/2019 - PLC 41/2019
Para que os órgãos de segurança pública Ninguém deve ter menos direitos por
possam ter dados a respeito da violência ser LGBT. Por isso o PLC 41/2019 estende
contra a população LGBT, é fundamental as licenças à gestante, à adotante e à
que os Boletins de Ocorrência contem com paternidade no serviço público estadual
campos para informações a respeito de para os casais homoafetivos.
orientação sexual e identidade de gênero. O
PL 26/2019 estabelece essa obrigação.

Combate à LGBTfobia
- PL 42/2019
Escola livre de discriminação
- PL 30/2019 Este projeto introduz melhorias na Lei n.º
11.872/2002, que dispõe sobre a promoção e
A luta contra a LGBTfobia começa desde a reconhecimento da liberdade de orientação,
infância. É preciso educar os pequenos para prática, manifestação, identidade,
o respeito à diversidade, assim as crianças preferência sexual e dá outras providências.
de hoje não se tornarão os agressores O projeto atualiza a legislação, deixando
de amanhã. O PL 30/2019 institui o claro que cabe aos órgãos de Estado que
programa “Escola Livre de Discriminação lidam com a temática dos Direitos Humanos
por Orientação Sexual e Gênero” na rede a investigação e punição administrativa de
estadual de ensino público do Rio Grande casos que envolvam discriminação contra a
do Sul, com o objetivo de tornar o ambiente população LGBT.
escolar um espaço de inclusão, debate e
acolhimento a todo e qualquer participante
da comunidade escolar, sem qualquer
discriminação à população LGBT, além de
combater a LGBTfobia nas escolas.
PROJETOS DO PSOL

24
Centro de Referência LGBT Frente Parlamentar em
- Emenda 274/2019 Defesa da População LGBT

A deputada estadual Luciana Genro Assim que encerraram-se as atividades


apresentou a Emenda 274 ao orçamento da Comissão Especial para Análise da
estadual para 2020. A emenda tem por Violência Contra a População LGBT,
objetivo destinar o valor de R$ 500 mil para a a deputada Luciana Genro criou na
estruturação, em Porto Alegre, de um Centro Assembleia gaúcha a Frente Parlamentar
Estadual de Referência para a População em Defesa da População LGBT. A iniciativa
LGBT no Rio Grande do Sul. Mais do que foi a forma encontrada para dar um caráter
um aparelho do Estado, trata-se de uma permanente às ações que começaram a
política pública totalmente necessária a ser desenvolvidas pela comissão, que por
uma população vulnerável, vítima diária do ser especial poderia funcionar por apenas
preconceito, da discriminação e da violência quatro meses. Em articulação com os
LGBTfóbica. O Centro de Referência tem por movimentos sociais, a Frente Parlamentar é
objetivo oferecer atendimento jurídico, de um espaço de luta e mobilização em defesa
saúde, de assistência social e de educação das pautas LGBTs na Assembleia Legislativa.
para a população LGBT vulnerável e vítima
de violência.

FERNANDA MELCHIONNA Deputada Federal (PSOL-RS)

Escola Sem Discriminação lidar com temas relacionados à diversidade


sexual e de gênero nas salas de aula.
em todo o país
- PL 3741/2019

Assim como o PL 30/209 de Luciana


Genro, este projeto assinado pelos
Empregabilidade de
deputados federais do PSOL Fernanda
Melchionna, Sâmia Bomfim e David pessoas trans
Miranda cria o “Programa Escola sem - Emenda 39840011/2019
PROJETOS DO PSOL

Discriminação” para o combate à violência


contra LGBTs. Uma iniciativa voltada a A deputada federal Fernanda Melchionna
professores de instituições públicas de apresentou emenda ao orçamento da União
todo o país, que receberão formação para destinando R$ 250 mil para o financiamento

25
de projetos da sociedade civil organizada e êxito na instituição, bem como no combate
(ONGs e movimentos sociais) destinados às diversas formas de discriminação. A
a ações que estimulem ou desenvolvam verba deverá ser aplicada para potencializar
a empregabilidade de pessoas travestis e as ações dos núcleos de ações afirmativas,
transexuais ou a qualificação destas pessoas Grupos de Trabalhos, Comitês e Comissões
ao mercado de trabalho. A emenda prevê relacionadas às temáticas de raça, etnia,
que a seleção de instituições parceiras deve gênero, sexualidade, pessoas com deficiência
acontecer por meio de processo seletivo e outras necessidades específicas, além da
em edital público com participação do aquisição de mobiliários e equipamentos
Conselho Estadual de Promoção dos para atualização tecnológica dos Núcleos
Direitos LGBT. Devem ser selecionadas cinco de Meio Ambiente e Diversidade de Gênero
instituições para receber R$ 50.000,00 da instituição.
cada, para a realização dos projetos com
tempo máximo de execução de 12 meses e
com representatividade de no mínimo três
regiões do Estado ou, no caso de ausência
de propostas de outras regiões, com foco em
Delegacias de combate
Porto Alegre e Região Metropolitana. à intolerância - Emenda
39840023/2019

Esta emenda da deputada federal


Diversidade no Instituto Fernanda Melchionna busca colaborar no
estruturação da Delegacia de Polícia de
Federal de Educação,
Combate à Intolerância, a ser criada pela
Ciência e Tecnologia Polícia Civil do RS, com a finalidade de
Farroupilha (IFFar) - prevenir e reprimir as infrações penais
Emenda 39840005/2019 resultantes de discriminação ou de
preconceito de raça, cor, etnia, religião
Esta emenda da deputada federal procedência nacional, identidade de gênero
Fernanda Melchionna destina R$ 250 mil ou orientação sexual, com foco especial na
para o desenvolvimento de ações de estímulo violência sofrida pela comunidade LGBT. A
à diversidade no Instituto Federal de emenda no valor de R$ 200 mil tem como
Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha finalidade a aquisição de uma viatura
(IFFar). Os recursos visam à valorização das para patrulhamento.
minorias sociais, seu ingresso, permanência
PROJETOS DO PSOL

26
ROBERTO ROBAINA
Vereador de Porto Alegre (PSOL-RS)

Política municipal de Ambulatório Trans de


defesa e de promoção da Porto Alegre - Emenda 131
cidadania e direitos LGBT
O vereador Roberto Robaina conseguiu
- PLL 211/2017 aprovar para o orçamento de 2019 uma
emenda que assegura R$ 100 mil para
O projeto dispõe sobre a promoção e
aplicação em política de saúde integral da
reconhecimento da liberdade de orientação,
população LGBT em Porto Alegre. Esta verba
prática e preferência sexual e manifestação
foi utilizada pela prefeitura para estruturar
e identidade de gênero. A medida estabelece
o primeiro Ambulatório Trans da cidade,
a criação de uma política municipal de
localizado no Centro de Saúde Modelo.
defesa e de promoção da cidadania e
Robaina já havia aprovado recursos para o
direitos LGBT em Porto Alegre. A iniciativa
ambulatório trans em 2018, mas eles não
regulamenta o processo de denúncia de
haviam sido empenhados pelo município.
LGBTfobia na cidade, estipulando multas
e sanções aos infratores. Ainda determina
que o poder público ofereça formação
em direitos humanos e diversidade aos
servidores municipais.

FERNANDA MIRANDA Vereadora de Pelotas (PSOL-RS)

Formação para guardas municipais em Pelotas. Pela emenda


do PSOL, o curso de formação de guardas
guardas municipais
municipais terá que prever em seu conteúdo
- Emenda 1219/2017 programático temas ligados ao respeito aos
PROJETOS DO PSOL

direitos humanos, igualdade de gênero,


A vereadora Fernanda Miranda atuação sem preconceito étnico-racial,
apresentou uma emenda ao projeto que respeito à cidadania, respeito à diversidade
dispõe sobre concurso público e formação de religiosa, de gênero, de orientação sexual.

27
DAVID MIRANDA Deputado Federal (PSOL-RJ)

Proteção a LGBTs vítimas de Prevenção ao suicídio de


violência - PL 2653/2019 LGBTI+ - PL 5096/2019

E se tivéssemos uma Lei Maria da Este projeto do deputado federal David


Penha para LGBTs? É exatamente isso que Miranda institui, no âmbito da Política
propõe o deputado federal David Miranda Nacional de Prevenção da Automutilação e
com este projeto. A medida dispõe sobre do Suicídio, recortes e conteúdos voltados
a proteção de pessoas em situação de para a prevenção do suicídio entre a
violência baseada na orientação sexual, população LGBTI+. A iniciativa prevê que
as políticas públicas e ações voltadas à
identidade de gênero, expressão de gênero
prevenção da automutilação e do suicídio
ou características biológicas ou sexuais.
deverão conter recortes ou implementar
conteúdos voltados para a prevenção do
suicídio entre a população LGBTI+.
PROJETOS DO PSOL

28
JEAN WYLLYS
Deputado Federal (PSOL-RJ)

Pela livre identidade de Casamento civil igualitário


gênero - PL 5120/2013 - PL 5120/2013

Batizado de Lei João Nery, este projeto Este projeto garante a pessoas do mesmo
garante às pessoas trans o direito ao sexo o direito ao casamento civil, garantindo
reconhecimento de sua identidade de assim os mesmos direitos que este instituto
gênero, sem necessidade de que tenham confere a casais heterossexuais. Assim
que ingressar na Justiça para retificar como no caso da identidade de gênero,
os registros de nome e gênero em seus o casamento civil igualitário já é uma
documentos. Com esta medida, bastaria uma realidade no Brasil, graças a decisão do
ida a um cartório para fazer as mudanças. A Poder Judiciário. Contudo, uma lei aprovada
proposta é semelhante à lei que já existe na pelo Congresso poderia garantir este direito
Argentina. Este direito já existe no Brasil, de forma mais sólida.
mas por força de determinação judicial.

TALÍRIA PETRONE Deputada Federal (PSOL-RJ)

Dados sobre violência contra atendido nos serviços de saúde, assistência


social e segurança pública no Brasil. Assim
LGBTs - PL 2777/2019
PROJETOS DO PSOL

será possível obter dados sobre este grave


Este projeto determina que sejam coletadas problema e, consequentemente, elaborar
informações sobre violência motivada por políticas públicas destinadas a resolvê-lo.
LGBTfobia sempre que um caso deste tipo for

29
COMISSÃ
LGBT
Deputados participantes da Comissão Suplentes: Aloísio Classmann (PTB), Dr
na AL: Thiago Duarte (DEM), Ernani Polo (PP),
Gerson Burmann (PDT) e Pepe Vargas (PT).
Titulares: Presidente Luciana Genro (PSOL),
Vice-Presidente Rodrigo Maroni (PODE),
Relatora Sofia Cavedon (PT), Capitão Macedo
(PSL), Eric Lins (DEM), Issur Koch (PP), Equipe da Comissão Especial para análise
Jeferson Fernandes (PT), Juliana Brizola da violência contra a população LGBT:
(PDT), Kelly Moraes (PTB), Luiz Henrique Gabrielle Tolotti, Izabel Belloc, Samir
Viana (PSDB), Paparico Bacchi (PL) e Valdeci Oliveira, Tamires de Oliveira Garcia,
Oliveira (PT). Taynah Ignacio.

30
ÃO
UMA COMISSÃO
PARA ANALISAR
A VIOLÊNCIA
CONTRA LGBT S
A violência contra a população LGBT
atinge níveis alarmantes no Brasil. O
monitoramento feito por movimentos
sociais, baseado em notícias publicadas
na imprensa, aponta que somos o país
que mais mata LGBTs no mundo. Mas não
existem dados oficiais por parte do poder
público, baseados em registros de boletins
de ocorrência, denúncias e ações na Justiça,
que forneçam elementos para uma análise
criteriosa do problema. Isso é muito grave,
pois sem esses dados é impossível elaborar
políticas públicas e traçar estratégias que
enfrentem esta violência.

Foi para jogar luzes sobre este problema


que a Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Sul criou, por iniciativa da deputada
Luciana Genro (PSOL), a Comissão Especial
para Análise da Violência Contra a
População LGBT. Entre março e agosto de
2019 a Comissão percorreu municípios do
RS, realizou audiências públicas, visitas
técnicas e reuniões com organizações do
movimento LGBT.

Neste capítulo, faremos um esforço


de sintetizar os dados compilados no
COMISSÃO LGBT

relatório final da Comissão, que contou


com 162 páginas e 37 propostas concretas
de enfrentamento à violência contra a
população LGBT.

31
Uma das diversas
Audiências Públicas
realizada pela Comissão
Especial LGBT.

Brasil é o país que mais mata O relatório mais recente do GGB foi lançado
no início de 2019, registrando que em 2018
LGBTs no mundo
ocorreram 420 mortes por LGBTfobia no Brasil
Os mais atualizados índices que - entre 320 homicídios e 100 suicídios. Com
monitoram a violência física letal contra a relação à identidade das vítimas, os dados
população LGBT no Brasil são os do Grupo revelam que 191 eram gays (45%), 164 trans
Gay da Bahia (GGB). A ONG compila e divulga (39%), 52 lésbicas (12%), 8 bissexuais (2%) e 5
anualmente dados sobre os números de heterossexuais (1%). Nessa conta, as pessoas
mortes com vítimas que sejam lésbicas, trans representam a categoria mais vulnerável
gays, bissexuais, travestis ou transexuais. As a mortes violentas, motivo pelo qual a ONG
informações têm como base apenas notícias avalia que o risco de uma pessoa trans ser
que são divulgadas na imprensa. assassinada é 17 vezes maior do que um gay.

Local dos Bar 1,33%

Boate
Assassinatos 0,67%

Casa/Terreno Abandonado 4,67%

Festa de aniversário 0,67%

Hospital 1,33%

Lago 0,67% 0,67%

Matagal 4%

Motel 1,33%

Praia 2,67%

Residência 17,33%

Fonte: Dossiê Salão de Beleza 0,67%


COMISSÃO LGBT

“Monitoramento de Terminal de Ônibus 0,67%


Assassinatos e Violação
Vala 0,67%
de Direitos Humanos de
Via Pública 59,33%
Pessoas Trans no Brasil”
(Rede Trans Brasil, 2019) Não informado 4%

32
Ainda sobre os crimes letais, a Associação por armas brancas perfuro-cortantes em
Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil 99 casos (23,6%), ao tempo que 97 episódios
(ANTRA) afirma que o Brasil segue sendo o foram de mortes provocadas por agressões
país que mais mata travestis e transexuais físicas (23,1%), com espancamento,
no mundo. O “Dossiê: Assassinatos e asfixia, pauladas, apedrejamento, corpo
Violência Contra Travestis e Transexuais carbonizado, entre outras.
no Brasil em 2018”, desenvolvido em
parceria com o Instituto Brasileiro Trans de Os dados do GGB coincidem com o
Educação (IBTE), aponta para a ocorrência estudo elaborado pela Rede Trans Brasil,
163 assassinatos de pessoas trans em 2018, que aponta que em 47% das travestis e
sendo 158 travestis e mulheres transexuais, transexuais assassinadas em 2018 foram
4 homens trans e 1 pessoa não-binária, mortas a tiros e 22%, a facadas. A imensa
ressaltando-se que apenas 15 casos tiveram maioria das vítimas (59,33%) foi assassinada
os suspeitos presos, o que representa um em vias públicas.
esclarecimento de 9% dos delitos.
Considerando os dados das denúncias
Em 2018 a Rede Nacional de Pessoas Trans dirigidas ao Disque 100, verifica-se que
- Brasil elaborou o dossiê: “Monitoramento no Rio Grande do Sul, entre 2011 e 2017
de Assassinatos e Violação de Direitos foram registradas 547 notificações de
Humanos de Pessoas Trans no Brasil”. De violência contra LGBTs. É possível perceber
acordo com a entidade, 150 pessoas trans que 27,79% dos casos aconteceram na rua,
foram vítimas fatais de violência no Brasil 26,87% em casa; 6,22% no trabalho; 4, 39% na
naquele ano. O relatório da organização foi casa do suspeito; 2,38% na escola; 2,38% no
entregue pessoalmente à Deputada Luciana hospital; 1,10% na igreja; 0,91% na delegacia
Genro por Marcelly Malta, vice-presidente de polícia; 0,55% no ônibus; e 0,55% em
da Rede Trans Brasil. casas prisionais. O gráfico em relação aos
números totais do relatório anual do Disque
Dados da ONG internacional Direitos Humanos é esclarecedor:
Transgender Europe demonstram uma
realidade assustadora: Foram registrados
2.982 assassinatos de pessoas trans no
Local da violação da vítima
mundo inteiro, entre janeiro de 2008 e
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
setembro de 2016 no mundo. O Brasil está Transexuais e transgêneros
no topo deste ranking, com 1.238 mortes.

Escola | 3%
Local de Trabalho | 3%
Casa do suspeito | 5%
Crimes de ódio contra Órgãos Públicos | 7%
nossas vidas Outros | 24%
Rua | 27%

Consta no relatório do Grupo Gay da Bahia Casa da vítima | 31%


COMISSÃO LGBT

que a causa das mortes de LGBTs registradas


em 2018 reflete a mesma tendência dos
anos anteriores, predominando o uso de Fonte: Relatório 2017 do Disque Direitos Humanos
armas de fogo em 124 casos (29,5%), seguido (Ministério dos Direitos Humanos, 2018)

33
O Grupo de pesquisa “Lesbocídio – Brasil passou por uma eleição marcada
As histórias que ninguém conta”, da por inúmeros discursos de ódio contra
Universidade Federal do Rio de Janeiro a população LGBT, sendo proclamados
(UFRJ), elaborou em 2018 o estudo: “Dossiê inclusive pelo presidente eleito, o que
sobre lesbocídio no Brasil: de 2014 até deixa claro que estas circunstâncias foram
2017”. O relatório final demonstra que 54 decisivas para legitimar o preconceito que
mulheres lésbicas foram assassinadas no além de passar a ser mais demonstrado,
Brasil em 2017, um aumento de mais de também resultou em condutas mais
237% no número de casos em relação ao ano violentas.
de 2014. O maior percentual é observado
entre mulheres de 20 a 24 anos (30%). E Em recente pesquisa da plataforma
54% dos casos envolve vítimas lidas como Gênero e Número desenvolvida nas cidades
não-feminilizadas. de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador
foram ouvidas 400 pessoas sobre suas
Mesmo considerando uma possível percepções sobre violência(s) contra LGBTs
subnotificação e a dificuldade de catalogar no período eleitoral e violência(s) contra
esses dados, os registros demonstram um LGBTs nas redes sociais. Nesta pesquisa, os
cenário grave para a população LGBT: as dados indicam que o principal cenário de
ruas e suas próprias residências não são
violência foram as ruas e locais públicos,
lugares seguros.
com um total de 83% dos casos, enquanto
espaços familiares chegaram a 38,5%.

A violência política e a A partir destes dados, foi possível


perceber que o cenário nacional de
violência nas ruas
violência contra a população LGBT piorou
É preciso avaliar que em 2018 o desde o último pleito eleitoral. Constatou-

Onde aconteceram as
violências?
Ruas/ 83%
Espaços Públicos

Comércio/ 46%
Serviço Público

Espaços 38,5%
familiares

Mercado de 23%
trabalho

Escola/ 19%
Universidade

Espaços 12%
COMISSÃO LGBT

religiosos

Fonte: Pesquisa “Violência Contra LGBTs+ nos Contextos Eleitoral e


Pós-Eleitoral (Plataforma Gênero e Número, 2019)

34
se que 51% das pessoas entrevistadas pela parcial dos resultados demonstra que a
pesquisa da plataforma Gênero e Número maioria dos LGBTs entrevistados (35%)
sofreram pelo menos uma agressão durante sofreu violência nas vias públicas de Santa
o segundo semestre de 2018 - antes, ao Maria, enquanto 21,67% sofreram violência
longo e depois das eleições. em suas casas.

Os resultados dessa pesquisa indicam


um efetivo aumento da percepção de Respostas de local em
violências cometidas contra pessoas LGBTs percentagem do total
desde o começo das eleições de 2018 até as
primeiras semanas 2019. Neste período, ser
LGBT no Brasil significou, para ao menos
92,5% dos/as participantes, levar a vida
cotidiana em meio a um ambiente político
mais agressivo. Ainda, 56% das travestis
e pessoas trans afirmaram ter sofrido
violência mais de três vezes motivada por
orientação sexual e identidade de gênero
durante as eleições de 2018.

Dados sobre violência contra


LGBTs no Rio Grande do Sul Lar (Local onde reside) | 21,67%

Ao longo dos quatro meses de trabalho, a Casa de familiares/parentes | 10%

Comissão Especial da Assembleia, presidida Transporte público coletivo


por Luciana Genro, identificou a ausência (ônibus, seletivos/ “azulzinho”) | 3,33%

de dados oficiais por parte dos órgãos Via/logradouro público (praças, parques,
ruas …) | 35%
de segurança a respeito das violações
cometidas contra a população LGBT. Assim Sistema de saúde público (Hospitais, UPA,
postos de saúde, CAPS, CREAS, CRAS…) | 3,33%
como os dados em âmbito nacional que
Estabelecimentos privados (lojas,
existem são fruto do trabalho incansável de shopping, supermercados, consultórios,
laboratórios…) | 8,33%
organizações do movimento LGBT, em nível
estadual a situação se repete. Coletivos se Universidade/faculdade | 5%

organizam para produzir pesquisas próprias Escola | 3,33%


em suas cidades e regiões, obrigando o
Boate/casa noturna | 5%
poder público a reconhecer a existência
Órgão Público (repartições públicas,
desta realidade de violências cotidianas secretarias, Ipergs, delegacias…) | 5%
contra uma população vulnerável.
COMISSÃO LGBT

É o caso do Coletivo Voe, de Santa


Maria, que, até o momento da conclusão Fonte: Coletivo VOE, de Santa Maria, que entregou à
dos trabalhos da Comissão, ainda estava Comissão relatório parcial com pesquisa sobre violência
finalizando sua pesquisa. O levantamento contra LGBTs na cidade.

35
Em Caxias do Sul, os dados do Centro de agressões, era possível selecionar mais de
Referência LGBT demonstram a demanda uma opção na pesquisa. Por isso se verificou
frequente por atendimento a esta população que a imensa maioria dos casos (69,9%)
na cidade. De agosto de 2018 a maio de ocorreu na rua e em vias públicas. Em
2019 foram realizados 200 atendimentos segundo lugar ficaram os estabelecimentos
jurídicos com advogado vinculado ao Centro, públicos (39,2%), seguidos pelo ambiente
60 atendimentos com assistente social e 38 familiar e doméstico (32,9%) e por
atendimentos com profissionais da psicologia. estabelecimentos particulares (30,1%).

A ONG Identidade LGBT, também de A pesquisa do coletivo Identidade LGBT


Caxias, elaborou uma pesquisa realizada ainda demonstrou que as agressões mais
entre os dias 1º e 10 de julho de 2019 para sofridas pela população LGBT em Caxias
verificar a situação da violência contra a do Sul foram: verbais (83,9%), psicológicas
população LGBT em Caxias do Sul. Ao todo, (63,6%) e físicas (46,2%). Os percentuais
143 pessoas responderam aos questionários. elevados indicam que, em muitos casos,
mais de um tipo de agressão foi efetuado
Verificou-se que 64,3% das pessoas já no mesmo episódio. Quanto ao perfil dos
sofreram algum tipo de violência por ser agressores, o levantamento indica que
LGBT. E 97,2% dos entrevistados conhecem a imensa maioria (78,3%) é composta
alguém que já sofreu este tipo de violência. por pessoas desconhecidas das vítimas,
Em relação ao local onde ocorreram as enquanto 30,8% são parentes e familiares.

Qual o tipo de
violência sofrida?
143 respostas

Psicológica 63,6%
(91 respostas)

Verbal 83,9%
(120 respostas)

Física 46,2%
(66 respostas)

Tortura 0,7%
(1 respostas)

Discriminação 63,6%
(91 respostas)

Sexual 16,1%
(23 respostas)

Nunca ocorreu
0,7%
(1 respostas)

Fonte: Pesquisa da ONG Identidade LGBT que mapeou violência contra


COMISSÃO LGBT

LGBTs em Caxias do Sul.

36
POR UM RIO GRANDE DO
SUL SEM PRECONCEITO

37 propostas de Grande do Sul, dos casos de violência/


enfrentamento à homicídios por motivação LGBTfóbica, com
discriminação e apoio à a devida publicação destas informações
população LGBT conforme determina Lei 11.343/1999. Para
tanto, é preciso que o sistema da Polícia
As 37 propostas listadas a seguir Civil permita a inclusão da tipificação do
foram resultado do esforço de quatro crime de LGBTfobia, bem como a inclusão
meses de trabalho da Comissão Especial da identidade de gênero e/ou a orientação
para Análise da Violência Contra a sexual da vítima. Também é necessário
População LGBT, presidida pela deputada que o atendimento da Brigada Militar e da
Luciana Genro (PSOL) na Assembleia Polícia Civil às ocorrências desse tipo de
gaúcha. Foram elaborações feitas através crime garanta adequado registro.
de consultas a movimentos sociais,
pesquisadores e autoridades das áreas Estas propostas foram encaminhadas
da saúde, educação, segurança pública e através de dois projetos de lei da deputada
direitos humanos. Luciana Genro. O PL 26/2019 determina
que seja incluído nos boletins de ocorrência
os itens “orientação sexual”, “identidade
de gênero” e “nome social”. E o PL
82/2019 estabelece a transparência de 30
indicadores da área da segurança pública
1. Criação de uma Frente Parlamentar no Rio Grande do Sul, dentre eles os dados
em Defesa da População LGBT na Assembleia a respeito do perfil de vítimas por gênero e
Legislativa do Rio Grande do Sul que siga o orientação sexual.
trabalho da Comissão Especial Para Análise
da Violência Contra a População LGBT. 3. Criação de Centros de Referência
LGBT no Estado, para o acolhimento e
A Frente Parlamentar foi criada dia acompanhamento multidisciplinar de
13/08/2019 por iniciativa da deputada pessoas LGBTs vítimas de violências,
Luciana Genro. Acompanhe através da nossa trabalhando em rede e articulação com os
página: facebook.com/LucianaGenroPSOL demais equipamentos estatais de proteção,
COMISSÃO LGBT

ou do nosso site: www.lucianagenro.com.br . a exemplo do Centro de Referência em


Direitos Humanos na Prevenção e Combate
2. Mapeamento, por parte da Secretaria à Homofobia - CCH, do Município de São
Estadual de Segurança Pública do Rio Paulo, criado pelo Decreto nº 52.652, de 16

37
38
39
de setembro de 2011. das mulheres transexuais e dos homens
trans em situação de vulnerabilidade
Para tirar esse projeto do papel, a social, bem como a humanização dos
deputada Luciana Genro apresentou a serviços públicos, a exemplo do Programa
Emenda 274/2019 que destina R$ 500 mil TransCidadania instituído pelo Decreto nº
do orçamento público gaúcho para a criação 55.874/2015 e regulamentado pelo Decreto
de um Centro Estadual de Referência LGBT nº 58.227/2018, ambos do Município de
em Porto Alegre. São Paulo/SP.

4. Casa de passagem para LGBTs 8. Política de atendimento integral para


expulsos de casa e vítimas de violência, com tratamento e prevenção de HIV e Aids no
acolhimento para abrigamento provisório, Estado, com campanhas de esclarecimento
de modo a garantir sua integridade física e nas escolas.
emocional, bem como realizar diagnóstico
da sua situação para encaminhamentos 9. Mapeamento, por parte da gestão
necessários, trabalhando em rede e dos serviços penitenciários, em parceria
articulação com os demais equipamentos com as organizações do movimento LGBT,
estatais de proteção. de identificação da população LGBT nas
instituições penitenciárias do Estado,
5. Reserva de vagas de trabalho a para que se tenha informações sobre
candidatas e candidatos transexuais esta realidade que possam embasar a
e travestis nos concursos públicos formulação de políticas públicas.
promovidos pelo Estado do Rio Grande do
Sul e nas empresas privadas que recebam
incentivos fiscais no Rio Grande do Sul.

6. Implementação, em diálogo com o


Conselho Estadual de Promoção dos Direitos
LGBTs e demais organizações do movimento
LGBT, de uma política permanente de
capacitação e qualificação de servidores
públicos estaduais e municipais no Rio
Grande do Sul em temas relativos aos
direitos da população LGBT, com iniciativas
pensadas de acordo com as especificidades
de cada área de atuação.

7. Projeto de Reinserção Social


Transcidadania: estabelecimento e
implementação, nas esferas estadual e
municipal, de programa de promoção
COMISSÃO LGBT

dos direitos humanos, a autonomia


financeira, a elevação de escolaridade, a
qualificação profissional e a preparação
para o mercado de trabalho das travestis,

40
10. Formação continuada de agentes 15. Criar um Comitê Estadual para
de segurança pública (Polícia Civil, Polícia a Prevenção e Combate à Tortura do Rio
Militar, SUSEPE) em temas relativos aos Grande do Sul e um Mecanismo Estadual de
direitos das pessoas LGBTs nos cursos Prevenção e Combate à Tortura, vinculados
iniciais e qualificações anuais, bem como administrativamente à Assembléia
em todos os demais cursos e capacitações. Legislativa, para o fim de erradicar e
Estas formações devem ocorrer em parceria prevenir a tortura e outros tratamentos ou
com o Conselho Estadual de Promoção penas cruéis, desumanas ou degradantes, a
dos Direitos LGBTs e de organizações do exemplo do disposto na Lei nº 5.778/2010,
movimento LGBT. do Rio de Janeiro.

11. Restabelecimento do Setor de 16. Adoção, nas estruturas de gestão


Fiscalização de Presídios das Varas de penitenciária do Rio Grande do Sul, de
Execuções Criminais, na Comarca de Porto políticas específicas de reinserção social
Alegre, bem como expansão de projetos da população em privação de liberdade,
similares às demais varas de execuções com formação profissional aos apenados e
criminais regionais do Estado. acompanhamento dos egressos. Trata-se de
uma proposta para toda a massa carcerária,
12. Permissão para que pessoas travestis mas que também beneficiará a população
e transexuais possam utilizar, no âmbito do LGBT em privação de liberdade, por ser uma
sistema prisional gaúcho, as roupas adequadas das que tem mais dificuldade de inserção no
ao gênero com o qual se identificam. mundo do trabalho.

13. Estabelecimento, por parte da Estas políticas estão previstas no PL


gestão dos serviços penitenciários, em 93/2019, apresentado pela deputada
parceria com as organizações do movimento Luciana Genro na Assembleia Legislativa,
LGBT, de diretrizes para o tratamento da que cria o Programa Estadual de
população LGBT em privação de liberdade, Enfrentamento à Reincidência no âmbito
com determinação de criação de alas do sistema penal gaúcho.
e celas específicas para a população de
homens gays, bissexuais e mulheres trans 17. Criar o Programa Estadual de
e travestis em todas as unidades penais Enfrentamento à Reincidência no âmbito
gaúchas masculinas e em todos os regimes do sistema penal gaúcho.
de cumprimento das penas.
Tal programa pode ser criado com a
14. Ampliação do número de itens a aprovação do referido PL 93/2019, que a
que cada pessoa encarcerada tem o direito deputada Luciana Genro apresentou na
de receber em visitas, modificando a Assembleia gaúcha.
Portaria nº 160/2014 da Superintendência
de Serviços Penitenciários (Susepe). Trata- 18. Alteração na Lei n. 11.314/1999, que
se de uma proposta para toda a massa dispõe sobre a proteção, auxílio e assistência
COMISSÃO LGBT

carcerária, mas que também beneficiará a às vítimas de violência, ampliando o rol de


população LGBT em privação de liberdade, pessoas protegidas.
por ser uma das que menos recebe visitas de
familiares nas prisões.

41
A lei pode ser alterada com a aprovação criado se for aprovado o PL 30/2019, que
do PL 20/2019, de autoria da deputada a deputada Luciana Genro apresentou na
Luciana Genro. O projeto inclui no escopo Assembleia Legislativa. A iniciativa tem o
da legislação de proteção às vítimas de objetivo de tornar o ambiente escolar um
violência uma série de agressões físicas ou espaço de inclusão, debate e acolhimento a
psicológicas contra grupos vulneráveis. todo e qualquer participante da comunidade
escolar, sem qualquer discriminação
19. Estabelecimento de um sistema à população LGBT, além de combater a
de denúncia pública estadual de agressões LGBTfobia nas escolas.
contra LGBTs, a exemplo do canal de
denúncias de violência contra a mulher 24. Cotas para pessoas trans na UERGS.
existente na Rede Lilás. Atualmente a universidade reserva 50%
das vagas para pessoas economicamente
Este sistema de denúncia está previsto hipossuficientes, negros e índios e 10%
no PL 42/2019, apresentado por Luciana para pessoas com deficiência. A Comissão
Genro na Assembleia Legislativa, que recomenda que seja feito um estudo pela
determina que o governo disponibilize um universidade para adoção de um percentual
link público em seus sites para realização de de cotas para o ingresso de pessoas trans.
denúncias de discriminação por motivação
LGBTfóbica. 25. Garantia de acesso de pessoas
trans a banheiros, vestiários e demais
20. Estabelecimento de um programa espaços segregados por gênero de acordo
de proteção a defensores de direitos com o gênero com o qual se identificam, em
humanos e a pessoas em situação de risco todos os órgãos da administração pública
grave por LGBTfobia. estadual, com recomendação da mesma
garantia aos órgãos das administrações
21. Criação de um Observatório da públicas municipais no Rio Grande do Sul.
Violência Contra a População LGBT para
coletar dados dos números e tipos de 26. Campanhas educativas, no Estado
violência cometidas. e nos municípios, de combate ao bullying
contra LGBTs.
22. Capacitação continuada de
funcionários dos Centros de Referência a 27. Concessão de isenção do valor de
Vítimas de Violência em temas relacionados passagens rodoviárias intermunicipais,
aos direitos da população LGBT. no Estado, para pessoas em tratamento
de HIV/Aids.
23. Instituir, em diálogo entre a
Secretaria Estadual de Educação, o Conselho 28. Diálogo da Secretaria Estadual de
Estadual de Promoção dos Direitos LGBTs Saúde com o movimento LGBT para verificar
e organizações do movimento LGBT, o as necessidades regionais de criação de
programa “Escola Livre de Discriminação por ambulatórios de saúde LGBTs no Rio Grande
COMISSÃO LGBT

Orientação Sexual e Gênero” na rede estadual do Sul, em parceria com as secretarias


de ensino público do Rio Grande do Sul. municipais de Saúde.

Tal programa tem previsão de ser 29. Criação, pela Secretaria Estadual

42
da Saúde, em diálogo com as organizações seja fiscalizada, também, pelo Conselho
de mulheres lésbicas e bissexuais, de Estadual de Promoção dos Direitos LGBTs,
uma diretriz para a assistência à saúde de com possibilidade de destinação de uma
lésbicas, mulheres bissexuais e que fazem parte destes recursos para o apoio à
sexo com outras mulheres. realização das paradas do orgulho LGBT no
Rio Grande do Sul.
30. Criação, no âmbito das secretarias
estaduais pertinentes ao tema, de um 35. Apoio técnico do governo do Estado
programa de acompanhamento de ISTs, e da Assembleia Legislativa para que os
distribuição de insumos de prevenção e de municípios possam viabilizar a criação de
segurança no trabalho para profissionais conselhos municipais de promoção dos
do sexo. direitos LGBTs.

31. Ampliação da oferta, no Sistema 36. Isenção de taxas, junto ao Poder


Público de Saúde, dos métodos PREP e PEP Judiciário, para retificação de nome de
de prevenção ao HIV. pessoas trans nos cartórios.

32. Estabelecimento, no âmbito dos 37. Alterar o Estatuto e Regime Jurídico


hospitais que gerenciam programas de Único dos Servidores Públicos Civis do
cirurgia para redesignação genital, de Estado do Rio Grande do Sul, estendendo
subsídio financeiro a pessoas em situação as licenças à gestante, à adotante e à
de vulnerabilidade financeira para a paternidade, para os casais homoafetivos.
manutenção do pós-operatório.
O PLC 41/2019, de autoria da deputada
33. Recomendação aos municípios Luciana Genro, garante esses direitos
gaúchos que institucionalizem, reivindicados nesta proposta.
através de lei municipal, a promoção
e o reconhecimento da liberdade de
orientação, prática, manifestação,
identidade, preferência sexual e identidade
de gênero, estabelecendo penalidades aos
estabelecimentos públicos ou privados,
seus proprietários, prepostos, responsáveis
ou servidores públicos que discriminem
pessoas em virtude de sua orientação sexual
e identidade de gênero.

34. Criação de um fundo estadual de


fomento a políticas públicas para a população
LGBT e de combate à LGBTfobia, com editais
voltados à instituições de interesse público
COMISSÃO LGBT

e universidades para financiamento


de ações contra a discriminação e
desenvolvimento de pesquisas sobre a
população LGBT, cuja execução das verbas

43
DO
MEDO À
44
LUTA
DO MEDO À
LUTA: LGBT S
SE ORGANIZAM
PARA ENFRENTAR
BOLSONARO

À
Samir Oliveira
Jornalista e militante LGBT. Atuou na
Comissão Especial para Análise da
Violência Contra a População LGBT e
constrói a Setorial LGBT do PSOL-RS.

Os dias que se seguiram à vitória de Jair


Bolsonaro no segundo turno das eleições de
2018 foram marcados por um sentimento
de medo profundo entre a comunidade
LGBT. Era como se, de repente, nossas vidas
estivessem ainda mais em risco. Como
se passássemos a viver sob o fio de uma
espada, pronta para decepar nossos sonhos,
DO MEDO À LUTA

nossas conquistas e nossas possibilidades


de ser e amar.

Eu senti esse medo. Meus amigos

45
sentiram este medo. Foi impossível não se
deixar tomar por este sentimento. Ainda
mais quando muitos de nós percebemos,
como foi o meu caso, que este projeto
violento de Brasil foi eleito com o apoio de
nossos familiares, amigos e conhecidos.
Como pode uma política que agride nossa
existência receber o voto entusiasmado de
quem diz nos amar? O Brasil ainda ficará
devendo esta resposta a milhões de LGBTs
por um bom tempo.

O sentimento imediato era de que os


57 milhões de brasileiros que votaram em
Bolsonaro não toleravam nossa existência.
Como viver em um país que está disposto
a patrocinar nosso extermínio? Conheço
gente que não conseguiu suportar. Pessoas
que partiram antes das eleições e não
pretendem mais voltar. E pessoas que ainda
estão pensando em se mandar de vez.

Assim como percebi medo e horror,


também vi brotar um sentimento de
resistência muito grande entre LGBTs.
Mais do que nunca, nossa estética virou
uma forma de afrontar o sistema. As cores
do arco-íris, que tanta repulsa causam à
base de apoio mais dura do bolsonarismo,
ostentam nosso orgulho. As paradas LGBTs
continuam levando multidões às ruas,
demonstrando ao mundo que não iremos
voltar ao armário.

A criminalização da LGBTfobia pelo STF


foi uma conquista civilizatória em tempos
de Bolsonaro. A decisão do Supremo de
equiparar LGBTfobia ao crime de racismo é
um espinho na garganta do bolsonarismo.

Também causa indigestão a esta gente


DO MEDO À LUTA

o fato de que um casal gay se encontra


no epicentro da oposição ao governo. O
jornalista Glenn Greenwald e o deputado
federal David Miranda (PSOL-RJ) viram

46
suas vidas serem reviradas do avesso O medo experimentado após o resultado
pela segunda vez. A primeira aconteceu eleitoral vai, aos poucos, cedendo lugar
quando revelaram ao mundo a rede suja à certeza de que não estamos sozinhos.
de espionagem dos Estados Unidos. Agora Mas apenas nossos aliados de sempre não
Glenn, com a coragem característica dos bastam. Precisamos conduzir um esforço
bons jornalistas, desnudou a tragédia de diálogo com setores da base bolsonarista
farsesca de um juiz-acusador e de um que não compactuam com ideias fascistas
procurador apaixonado por si mesmo. E com - base essa que vem sendo corroída desde
isso atraiu para si a fúria do bolsonarismo e a posse do presidente. Ao que tudo indica,
os insultos dignos de quinta série associados Bolsonaro seguirá seu mandato agarrado
à sua sexualidade e à sua família. Nem ao que existe de mais alucinado, radical e
mesmo sua mãe, com câncer em estágio intransigente em sua base de apoio. Suas
terminal, foi poupada da peçonha que declarações absurdas e as palhaçadas
assola o Brasil contemporâneo. cotidianas servem para manter um núcleo
fiel energizado, mas afastam franjas
A conjuntura política é grave. Não importantes do bolsonarismo que não estão
podemos contar apenas com nosso dispostas a ir para o vale tudo em nome de
voluntarismo diante da corrosão uma cruzada ideológica da extrema-direita.
democrática que o país vive. O melhor que
temos a fazer é nos organizarmos para Essas pessoas precisam estar do nosso
enfrentar este período histórico. Nossa lado na luta pelos direitos sociais, contra o
resistência individual precisa encontrar autoritarismo e em defesa das chamadas
na luta coletiva um elo que dê sentido à “minorias”. Muitas pesquisas já demonstram
revolta e à mobilização por transformações evidências fartas de que nem todo mundo
estruturais no Brasil. que votou em Bolsonaro é racista, misógino
e LGBTfóbico. Não podemos desprezar
Bolsonaro nada mais é do que a face este dado, pois não iremos virar este jogo
mais desumana de um sistema podre que apenas com nossas próprias forças. Temos
recorreu ao medo para rebaixar ainda mais que energizar nossas bases e falar para os
as condições de vida da classe trabalhadora. nossos também, mas precisamos ir além,
O recrudescimento da opressão contra a encontrando em nossa organização coletiva
população LGBT está inserido neste projeto um canal para ampliarmos nossas vozes e
nefasto de país, em que interessa ao furarmos as bolhas.
capitalismo que nós sejamos considerados
cidadãos de segunda categoria, para que
possamos ser mais facilmente explorados.

Por isso, nossa resistência precisa


andar lado a lado de uma luta que também
seja antissistêmica, encontrando sentido
nas trincheiras ao lado das mulheres,
DO MEDO À LUTA

da negritude, do sindicalismo, dos


ambientalistas, dos estudantes, e de todas
e todos que estejam dispostos a apontar um
novo rumo para o país.

47
POLITIZA
AS PARA
48
DAS LGB
POLITIZAR
AS PARADAS
LGBT S PARA
FORTALECER O
ENFRENTAMENTO
A BOLSONARO

AR
A-
Taynah Ignacio
Militante sapatão, é uma das
organizadoras da Parada Livre de Porto
Alegre, faz parte do Movimento Esquerda
Socialista (MES), tendência fundadora do
PSOL, e atua na Setorial LGBT do PSOL/RS.

BTS
As paradas do orgulho LGBT já são uma
tradição consagrada no Brasil. Graças
à coragem de muitos militantes que
POLITIZAR AS PARADAS LGBTS

organizaram as primeiras paradas em


1997 - sendo a de Porto Alegre a segunda
mais antiga do país. Atualmente o Brasil já
conta com mais de 300 paradas, reunindo
cerca de 13 milhões de pessoas todos os
anos - sendo assim o país líder em eventos
deste tipo no mundo. A própria Parada

49
de São Paulo é consagrada como a maior discursos de enfrentamento ao preconceito.
do mundo, levando mais de 3 milhões de Essa multidão de corpos e expressividades
pessoas à Avenida Paulista no ano de 2019. demonstra todos os anos que a população
LGBT existe, resiste e pode, sim, ocupar os
Por conta da organização da Parada Livre espaços centrais das cidades.
de Porto Alegre, vivo de perto a realidade de
quem precisa resolver todo tipo de problema No Brasil de Bolsonaro, em que a
relacionado ao evento. E como militante do intolerância saiu do armário, mais do que
movimento LGBT tenho a oportunidade nunca é preciso que as paradas se politizem
de estabelecer contatos e comparecer às e possam atuar como fóruns de articulação
mais diversas paradas no interior gaúcho, do movimento e de LGBTs que ainda não
tomando ciência das distintas realidades se organizam em nenhum espaço de
que formam o panorama destes eventos. militância.

Portanto quero neste texto propor Para isso, é fundamental que as paradas
uma reflexão a partir das realidades que contem com organizações coletivas e
vivo e presencio, contribuindo para uma democráticas, que envolvam ativistas das
formulação política que possa ajudar mais diversas origens e que tenham clareza
a fortalecer as paradas em termos de quanto ao caráter político transformador
organização, de disposição de luta e de destes eventos. Esta firmeza é determinante
aumento de consciência da população LGBT para a busca de recursos, evitando que uma
sobre seus direitos e sobre os desafios que parada precise recuar em suas bandeiras
precisam ser enfrentados. para atender a interesses de empresas ou de
governos.
Um dos maiores percalços enfrentados
pelas organizações das paradas é Em Porto Alegre, tradicionalmente os
evidentemente financeiro. As ativistas e governos dos mais diferentes partidos e
os ativistas penam para conquistar apoio. matizes ideológicos sempre entenderam
Outra questão que sempre fica nos debates que era papel do poder público apoiar
está relacionada ao caráter das paradas: as diversas manifestações culturais da
afinal de contas, elas são uma festa ou um cidade, como a Parada Livre e o Carnaval.
ato político? Em 2017 o governo Marchezan, do PSDB,
decidiu romper com essa lógica, eliminando
São as duas coisas. E é fundamental qualquer tipo de apoio a estes dois grandes
que permaneçam assim. As paradas são eventos da capital gaúcha, que atraem um
uma festa porque constituem o momento público de todo o Estado e movimentam a
máximo de expressão da cultura e da economia da cidade.
arte LGBT. E são um ato político porque
POLITIZAR AS PARADAS LGBTS

reverberam em eventos de massas a luta Diante deste ataque, a organização da


contra o preconceito e a busca de direitos. Parada Livre se mobilizou para conseguir
Estamos falando de eventos que reúnem apoio, sendo em 2017 com apoio de uma
dezenas de milhares de LGBTs que se produtora e em 2018 arrecadando mais
deslocam das periferias de suas cidades e de R$ 80 mil com a mobilização da cidade
do interior de seus estados para celebrar em torno do evento, conseguindo garantir
performances, apresentações artísticas e recursos inclusive para a edição de 2019.

50
Firmar parcerias com empresas e
governos não é nenhum pecado capital ao se
organizar uma parada. O problema ocorre
quando as paradas, na busca pelo apoio
de empresas, acabam se transformando
em eventos meramente comerciais,
inclusive cobrando quantias absurdas para
participações em trios elétricos. Assim
como é problemático quando, em busca de
parceria com governos, as paradas abaixem
a cabeça para o grupo político no poder e
abdiquem de seu papel crítico na cobrança
por políticas públicas.

Por isso o ideal é que exista um meca-


nismo público, transparente e democrático
de financiamento das paradas no Brasil.
Que pode, sim, envolver recursos públicos e
privados. Mas a construção deste mecanismo
não é uma tarefa fácil nestes tempos em que
se cristaliza um conceito neoliberal na gestão
do Estado, fortalecendo o entendimento de
que não caberia ao poder público apoiar este
tipo de atividade. Esse pressuposto ideológico
ganha um aliado poderoso na ignorância e
no preconceito típicos do conservadorismo
bolsonarista, que não se importa em colocar
o Estado a serviço do neopentecostalismo
religioso, mas que retira qualquer incentivo
público às pautas ligadas à cultura, à arte e à
população LGBT.

Diante de todo esse cenário, as paradas


tornam-se oportunidades fundamentais
de construção da luta contra o ódio
bolsonarista. E precisam atuar também
como espaços de organização do movimento
LGBT e de fortalecimento das mais diversas
POLITIZAR AS PARADAS LGBTS

lutas - como ocorreu em Porto Alegre com os


protestos diante do fechamento da exposição
Queermuseu. Mais do que nunca é preciso
entender que não se trata apenas de um
dia de festa, mas sim de um ano inteiro de
trabalho envolvendo organização, atuação
política e mobilização.

51
52
SEJAMOS NÓS AS
REVOLUCIONÁRIES
DO NOSSO TEMPO!
CORPOS TRANS E
TRAVESTIS SÃO
RESISTÊNCIA!

Natasha Ferreira
Ativista dos direitos humanos e defensora
da comunidade LGBT. Estuda Gestão
Pública e constrói a Setorial LGBT do
PSOL-RS e a Emancipa Mulher, uma escola
feminista e antirracista em Porto Alegre. SEJAMOS NÓS AS REVOLUCIONÁRIES DO NOSSO TEMPO!

Desde o final da ditadura nos anos 1980,


com a operação Tarântula, que buscava o
extermínio das travestis, sabemos o quanto
nossos corpos e nossas expressões são
subversivas para a sociedade cisnormativa.

As pessoas “T” (travestis, transexuais


e transgêneros) resistem ao tempo e
às opressões de um período de muito
obscurantismo político. Período esse

53
que muitos tentam relembrar quando atacadas, agora pelo governo mesmo,
homenageiam torturadores. sem escrúpulo algum. Neste cenário de
incertezas e onde pessoas Ts são perseguidas
Em 2014, na disputa presidencial, a mando dos ditos “cidadãos de bem”, um
a candidata do PSOL, Luciana Genro, efeito rebote precisa ser destacado: a nossa
inaugurou um debate necessário em luta central é contra o capitalismo!
rede nacional: o Brasil é o país que mais
mata pessoas trans/travestis no mundo, Hoje o Brasil que lidera o ranking de
mas afinal o que os governos têm feito de mortes da população T, lidera a evasão
forma real para que possamos ter as nossas escolar, lidera o número de travestis que
liberdades garantidas? estão em situação de rua. Ao mesmo
tempo lideramos o ranking de acesso à
A verdade é que tivemos poucos avanços pornografia com mulheres trans e travestis.
nos anos de progressismo brasileiro. O direito Essa contradição revela bem o quanto a
de retificar nossos nomes foi garantido moralidade social proferida pelo atual
somente em 2018 pelo STF. Importante presidente é tóxica, nos deixando cada vez
lembrar que hoje não somos mais taxadas mais na margem.
de doentes mentais, a transexualidade
foi retirada das patologias do Código O mercado de trabalho é cada vez mais
Internacional de Doenças (CID) e as nossas uma lenda para nós, pois a exigência
identidades são reconhecidas pelo Estado. capitalista nos exclui automaticamente,
afinal quantas de nós estão em escolas
Mas nesses anos todos a evasão escolar ou conseguiram concluir o Ensino
de pessoas “T” aumentou drasticamente. Fundamental?
O SUS, que todEs nós pagamos, nunca
atualizou sequer a ficha de atendimento Por anos o Estado decide quem tem
básico, respeitando pelo menos nossa direito de viver e quem luta para sobreviver.
identidade social.
Mas nem tudo é espinho, afinal sempre
Na campanha de 2018, Bolsonaro usou lutamos por coisas mínimas e agora a luta
da onda de ódio, criada por ele mesmo, para se agiganta.
distribuir as chamadas fake news.
SEJAMOS NÓS AS REVOLUCIONÁRIES DO NOSSO TEMPO!

Precisamos romper com a lógica do


Fomos atacadas com muita força capital financeiro, conservador e anti-
na campanha eleitoral, onde acusavam minorias sociais. Este sistema nos tem como
e acusam até hoje as escolas de terem pessoas de segunda classe, onde servimos
doutrinação LGBT. E a pauta “T” foi alvo como estatísticas de barbáries. Ou nos
central da disputa política com a farsa da sobra apenas as ruas e esquinas na busca
“ideologia de gênero”, dentre mamadeiras por dias melhores. As poucas de nós que
com genitálias e livros ensinando ou conseguem o mínimo de dignidade estão
propagando uma “agenda gay”. sozinhas e muitas vezes caem no conto
da meritocracia: se eu consegui as outras
Com a vitória eleitoral dos setores mais também conseguem.
conservadores e parasitários da sociedade
nós sentimos logo de cara que seríamos Importante ressaltar que os

54
meritocráticos não reconhecem o abismo
da desigualdade social no Brasil, e por
vezes acabam culpando quem foi mandada
embora de casa ainda jovem, sem escola,
sem casa e sem dignidade nenhuma.

Em Porto Alegre o vereador Roberto


Robaina contribuiu na luta para garantir
o Ambulatório Trans, política de muita
resistência em meio ao desmonte do SUS.
A nossa deputada Luciana Genro é hoje
referência nas lutas LGBTs. Ela presidiu
a Comissão Especial para Análise da
Violência Contra a População LGBT, tivemos
o relatório aprovado por unanimidade em
uma histórica conquista na Assembleia
conservadora gaúcha.

Precisamos identificar quem está na luta


lado a lado com a gente. JuntEs podemos
enfrentar Bolsonaro e impor derrotas a essa
onda do ódio e intolerância.

Ser uma pessoa T anti-capitalista


não é mais uma simples escolha, é
uma necessidade. Conectar a luta pelos
nossos corpos e buscar um Estado mais
humanizador só é possível rompendo com a
lógica sistêmica e anti-povo.

Nossos corpos são políticos, nossas lutas


são justas e nossos sonhos são por igualdade. SEJAMOS NÓS AS REVOLUCIONÁRIES DO NOSSO TEMPO!

TRANSforma tua indignação em luta!

55
DICAS
56
CULTURA
DICAS
DE FILMES
E SÉRIES

AIS
O cinema desconstrói, há muitas
décadas, o preconceito contra LGBTs.
Selecionamos alguns dos filmes e séries
DICAS CULTURAIS

mais marcantes neste sentido, com


narrativas que humanizam a diversidade
sexual e de gênero e propõem olhares que
quebram estereótipos.

57
Azul é a Cor Mais Quente Má Educação
La Vie d’Adèle. Dirigido por Abdellatif La Mala Educación. Dirigido por Pedro
Kechiche. França/Bélgica/Espanha, 2013. Almodóvar. Espanha, 2004.

A vida de Adele é sacudida ao conhecer Almodóvar traz o relato da vida de


Emma, uma jovem de cabelos azuis, e sentir- Ignacio e Enrique, dois garotos que
se atraída por ela. descobrem o amor em uma escola
religiosa nos anos 1960 e reencontram-se
na vida adulta.

C.R.A.Z.Y.
C.R.A.Z.Y. Dirigido por Jean-Marc Vallée.
Canadá, 2005. Milk – A Voz da Igualdade
Milk. Dirigido por Gus Van Sant. EUA, 2008.
A história trata do drama de um jovem
que se descobre homossexual nas décadas Filme que garantiu o Oscar de melhor
de 1960 e 1970 e sua conturbada relação ator a Sean Penn, traz a história de Harvey
com um pai conservador e homofóbico. Milk, primeiro político abertamente
homossexual a ser eleito para o Congresso
dos Estados Unidos.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho


Dirigido por Daniel Ribeiro. Brasil, 2014.
Orações para Bobby
Conta a história de um jovem cego, Prayers for Bobby. Dirigido por Russell
Leonardo, excluído por seus colegas na Mulcahy. EUA, 2009.
escola. A chegada de Gabriel à escola muda
os planos e a vida de Leonardo. Baseado em fatos reais. Mary Griffith,
uma mãe extremamente religiosa, perde
o controle quando descobre que seu filho,
Bobby, é homossexual. A não aceitação de
Jogo da Imitação Bobby pela família leva a um trágico desfecho
The Imitation Game. Dirigido por Mortem e, sua mãe, a uma busca desesperada pela
Tyldum. EUA/Reino Unido, 2014. compreensão da homossexualidade e a uma
cruzada em defesa dos direitos LGBT.
Embora não seja um filme de temática
predominantemente LGBT, merece menção
por tratar da história de Alan Turing, o pai da
computação moderna. Turing foi o cientista Paris is Burning
que deu as bases para toda a computação Paris is Burning. Dirigido por Jennie
como conhecemos, e foi condenado pela Livingston. EUA, 1990.
DICAS CULTURAIS

Justiça inglesa à castração química por


ser homossexual. O estado mental em que Documentário que traz a cena drag
Turing ficou o levou ao suicídio. queen de Nova York nos anos 1980.

58
Pride Tomboy
Pride. Dirigido por Matthew Warchus. Tomboy. Dirigido por Céline Sciamma.
Reino Unido, 2014. França, 2011.

Uma história de solidariedade do A história de um menino transexual


movimento LGBT com a União Nacional de de 10 anos de idade, focada na
Mineiros do Reino Unido, no contexto das importância da identidade de gênero
greves contra o governo de Margaret Thatcher na interação social e nas dificuldades de
em 1984. Traz a importante conexão das lutas ser uma pessoa transexual na sociedade
contra a exploração e as opressões, com as heterocisnormativa.
quebras de barreiras necessárias para tanto.

Transamérica
Priscilla, a Rainha do Transmerica. Dirigido por Duncan Tucker.
Deserto EUA, 2005.
The Adventures of Priscilla, Queen of the
Desert. Dirigido por Stephen Elliot. Reino Filme estadunidense independente
Unido/Austrália, 1994. que trata de Bree, uma mulher transexual
que, prestes a passar por cirurgia de
Talvez o maior clássico do cinema transgenitalização, descobre que tem um
LGBT, Priscilla dispensa apresentações filho de 17 anos que necessita de ajuda. Bree
e é considerado um filme praticamente é proibida de passar pela cirurgia por sua
definitivo para as drag queens. psicóloga até resolver tal questão.

Stonewall - A Luta Pelo Moonlight: Sob a


Direito de Amar Luz do Luar
Stonewall. Dirigido por Nigel Finch. Reino Moonlight. Dirigido por Barry Jenkins.
Unido/EUA, 1995. EUA, 2017.

Aborda os acontecimentos de 28 de junho Um dos filmes mais recentes dessa lista,


de 1968, a Rebelião de Stonewall, marco do “Moonlight” acompanha a vida de Chiron
movimento pelos direitos das pessoas LGBT. e a descoberta da sua sexualidade desde a
infância até a vida adulta. Usando como
cenário a realidade de um jovem negro
da periferia de Miami, o obra mostra de
Tatuagem maneira sutil as transformações vividas
Dirigido por Hilton Lacerda. Brasil, 2013. pelo personagem principal na busca por
sua identidade.
DICAS CULTURAIS

Um romance entre um soldado e o líder


de um grupo teatral no contexto da ditadura
civil-militar brasileira, observado de uma
perspectiva marginal.

59
A Garota Dinamarquesa Sex Education
The Danish Girl. Dirigido por Tom Hooper. Sex Education. Dirigido por Laurie Nunn.
EUA, Reino Unido, 2015. Reino Unido, 2019.

Interpretado por Eddie Redmayne, que Na série Sex Education, o personagem


chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Otis (Asa Butterfield) interpreta um
Ator, o filme aborda a questão de identidade adolescente não muito sociável que vive
de gênero. Na década de 1920, um casal com a sua mãe, uma terapeuta especialista
de artistas parte em uma jornada de amor em sexualidade. Ao contrário do que se
incondicional quando o marido anuncia sua imagina, Otis ainda é virgem, mas isso não
intenção de viver a vida como uma mulher. significa que ele não entenda de sexo. Então,
ele aproveita todo o seu conhecimento para
ajudar os seus colegas de escola.

Laerte-se
Dirigido por Eliane Brum. Brasil, 2017.
Special
Laerte uma das cartunistas mais famosas Special. Dirigido por Ryan O’Connell.
do país. EUA, 2019.

Produção original Netflix, Laerte-se é Em Special, o jovem Ryan, interpretado


um documentário intimista sobre a vida da por Ryan O’Connel, também criador
cartunista transgênero Laerte. da série, tenta se tornar independente
apesar de suas dificuldades físicas
adquiridas pela paralisia cerebral. Ryan
também é homossexual e faz de tudo para
Grace & Frankie aproveitar o máximo de sua vida, como
Grace and Frankie. Dirigido por Tate Taylor uma pessoa “normal”.
e Scott Winant. EUA, 2015.

Com Jane Fonda e Lily Tomlin como


protagonistas, a série Grace & Frankie Nanette
conta a história de duas mulheres que Nanette. Dirigido por Madeleine Parry, Jon
se tornaram amigas (antes eram rivais) Olb. Australia, 2018.
após seus respectivos maridos revelarem
que estão apaixonados. Com a vida virada A comediante Hannah Gadsby,
de cabeça para baixo, elas começam a abertamente lésbica, leva o público aos risos
descobrir formas de lidar com a situação, em seu stand-up para a Netflix. Mas, em
visto que aconteceu depois de mui- meio à diversão, ela também relata todas
tos anos de casamento, quando já estavam as dificuldades que já enfrentou na vida
na terceira idade, tudo isso com muito devido a sua orientação sexual, incluindo
DICAS CULTURAIS

bom humor. casos graves de violência.

60
Crônicas de São Francisco Sense 8
Armistead Maupin’s Tales of the City. Sense 8. Dirigido por Lilly Wachowski,
Dirigido por Lauren Morelli. EUA, 2019. Lana Wachowski, J. Michael Straczynski.
EUA, 2015.
Em Crônicas de São Francisco, conhecemos
uma comunidade gay bastante unida da cidade A série da Netflix Sense8 mostra a vida
de São Francisco, na Califórnia. O foco da série de um grupo de pessoas que, de alguma
é na personagem Mary Ann, interpretada por forma, estão ligadas mentalmente. Em
Laura Linney, que deixou a comunidade há um determinado momento, descobrem
20 anos para seguir a sua carreira. Para isso, que precisam encontrar uma forma de
precisou deixar para trás seu agora ex-marido, sobreviver enquanto são caçadas por quem
Brian (Paul Gross), e a filha Shawna (Ellen Page). acredita que elas sejam uma ameaça ao
mundo. Como a turma se conecta de uma
forma peculiar, cenas de envolvimento
sexual entre pessoas do mesmo gênero
Pose acontecem, enquanto há uma personagem
Pose. Dirigido por Ryan Murphy, Brad lésbica e transexual na trama.
Falchuk, Steven Canals. EUA, 2018.

Na série Pose, que se passa em Nova York


no ano de 1986, Blanca (Mj Rodriguez) abriga A Morte e a Vida de Marsha
pessoas LGBT que foram expulsas de casa P. Johnson
pelo preconceito. A época marca a ascensão Dirigido por David France. EUA, 2017.
da cultura de luxo nos Estados Unidos e o
surgimento de bailes LGBT, com transexuais Enquanto enfrenta uma onda de
e drag queens como protagonistas da cena. violência contra mulheres trans, a ativista
Victoria Cruz investiga a morte de sua
Sob direção de Ryan Murphy, a série amiga Marsha P. Johnson, em 1992.
também conta com Evan Peters, Kate Mara,
Billy Porter e JamesVan Der Beek no elenco.

Amor Por Direito


Dirigido por Peter Sollett. EUA, 2016.

A policial de New Jersey Laurel Hester


(Julianne Moore) e a mecânica Stacie Andree
(Ellen Page) estão em um relacionamento sério.
O mundo delas desmorona quando Laurel
é diagnosticada com uma doença terminal.
DICAS CULTURAIS

Como sinal de amor, ela quer que Stacie receba


os benefícios da pensão da polícia após a sua
morte, só que as autoridades se recusam a
reconhecer a relação homoafetiva.

61
DICAS
DE LIVROS
Se antes a literatura LGBT se restringia e também os que se prestam a esclarecer
aos círculos acadêmicos, a abordagem pessoas heterocisgêneras interessadas.
dessa temática tem tido mais espaço Mas é relevante citar que há um crescente
ultimamente, ainda que mais focada número de romances com protagonistas
nas questões da população G. Aqui, LGBTs. É essencial dizer, também, que é
indicamos livros que versam sobre uma pequena lista dentro de uma vasta
questões importantes para o movimento gama de literatura.

Abaixo do Equador – Cultu- Abrindo o Armário – Encon-


ras do desejo, homos- trando uma Nova Maneira de
sexualidade masculina e Amar e Ser Feliz
comunidade gay no Brasil Julio Wiziack. Editora Jaboticaba, 2006.
Richard Parker. Editora Record, 2002.
Julio Wiziack, jornalista, revela dúvidas
Neste ensaio, Richard Parker mostra e conflitos que teve e como foi importante
o universo da sexualidade e da cultura para ele assumir, para o mundo, sua
do Brasil. O autor destaca a prostituição homossexualidade. ‘Abrindo o Armário’ é o
e a homossexualidade e faz análises depoimento cativante de um ser humano que
comparativas entre Rio de Janeiro e Fortaleza busca diferentes formas de amar e ser feliz.
através do ponto de vista da dinâmica de
um universo gay. Baseado em uma longa
pesquisa de campo – conduzida por Richard
Parker durante mais de quinze anos –, o livro Além do Carnaval – A Ho-
traça um detalhado painel etnográfico dos mossexualidade Masculina
múltiplos universos sexuais existentes nas no Brasil do Século XX
ruas, enfocando a prostituição masculina, James Naylor Green. Editora UNESP, 2000.
michês, transformistas, produtos e
estabelecimentos direcionados ao público Este livro inovador do brasilianista James
gay, direitos de homossexuais e o programa N.Green – ganhador do prêmio ‘Hubert
brasileiro de combate à AIDS. O autor explora Herring’, do Conselho de Estudos Latino-
as transformações nas identidades sexuais e Americanos na Costa do Pacífico (EUA), e o
culturais que tomaram forma no Brasil nas da Fundação ‘Paul Monette’ como o melhor
DICAS CULTURAIS

últimas décadas. trabalho sobre estudos gays e lésbicos –


mostra que por debaixo dos trajes à la Carmen
Miranda, típico mito de exportação da alegria e
descontração carnavalescas no Brasil, sempre

62
esteve escondido não a tolerância, mas o de todo o mundo, o autor apresenta-
preconceito. O estudo de Green se concentra nos a forma como, ao longo dos tempos,
na homossexualidade masculina no Rio de a homossexualidade era encarada por
Janeiro e em São Paulo, ao longo do século XX. diferentes povos e culturas.

Bicha (nem tão) má – LGBTs Casamento Igualitário


Bruno Bimbi. Editora Garamond, 2013.
em Telenovelas
Fernanda Nascimento. Editora Multifoco, 2015.
Quando, em fevereiro de 2007, vários
A participação de personagens LGBTs nas casais homossexuais começaram a entrar
telenovelas têm se acentuado nos últimos anos com ações na justiça argentina porque
e contribuído para o debate sobre a diversidade queriam se casar, parecia impossível que
de gênero e sexualidade. Bicha (nem tão) conseguissem. O autor explica a estratégia
má – LGBTs em telenovelas propõe uma que levou à conquista do casamento
discussão sobre as construções de sentidos igualitário na Argentina e conta aqui os
produzidas pelas narrativas midiáticas acerca bastidores da campanha, as estratégias
de uma população historicamente oprimida. A usadas, as pressões e as intrigas que
multiplicidade da identidade da personagem ninguém tinha revelado. Ele conta, também,
Félix, de Amor à Vida, é ponto de partida para como a experiência da Argentina serviu
compreender as complexidades e contradições para organizar a campanha pelo casamento
dessas representações. igualitário no Brasil.

Born To Be Gay – História da Coligay – Tricolor e de


Homossexualidade Todas as Cores
William Naphy. Edições 70 – Brasil, 2006. Leo Gerchmann. Editora Libretos, 2014.

Desde há muito que o Ocidente dá Léo Gerchmann conta com detalhes a saga
como adquirido que a sua concepção do de alegres herois, que tiveram o desplante
sexo e da sexualidade é, essencialmente, de dessacralizar o templo até então restrito
partilhada pelo resto do mundo. Contudo, a ‘homens com H’, como se chamavam os
nesta obra William Naphy mostra-nos que valentões. ‘Colygay - Tricolor e de todas as
nem sempre assim foi. Muitas culturas cores’ ressalta o corajoso pioneirismo dos
antigas aceitavam, encorajavam até, as rapazes que desejavam apenas torcer para seu
relações entre pessoas do mesmo sexo, fosse clube de coração, sem concessões à hipocrisia,
como ritual de entrada na adolescência ou mas acabaram subvertendo paradigmas.
com funções associadas ao culto, e só a Passados quase 40 anos, homossexualidade
DICAS CULTURAIS

ascensão do judeo-cristianismo obrigou ainda é um tabu no ambiente futebolístico.


à marginalização da homossexualidade. Mas, durante seus cinco anos de atividade, a
Numa análise que se inicia ainda antes de Coligay mostrou, a cada jogo, que não há maior
Sodoma e Gomorra e que abarca culturas frescura do que o preconceito.

63
Frente e Verso – Visões da –, o sexo foi incitado a se confessar, a
se manifestar. O Volume 2 – O uso dos
Lesbianidade
prazeres – assinala uma importante
Hanna Korich, Laura Bacellar e Lucia Facco.
transformação na história. Conservando
Editora Malagueta, 2011.
o objetivo de investigar como nasce, nas
sociedades ocidentais modernas, a noção
Nesta obra, três lésbicas falam sobre
de sexualidade, Foucault recua no tempo
casamento, homofobia, literatura,
até a Grécia clássica para investigar como
cultura, filhos, namoro, auto-estima e
a atividade sexual se constitui como
outros aspectos da vida de mulheres em
domínio de prática moral e modo de
relacionamentos assumidos com outras
subjetivação característicos do projeto de
mulheres. As autoras objetivam contribuir
uma ‘estética da existência’. No Volume 3
para a discussão do segmento lésbico na
– O Cuidado de Si –, o leitor vai entender
sociedade brasileira.
como a questão da verdade e o princípio
do conhecimento de si se desenvolvem
nas práticas de ascese. Precisamos
procurar saber por que o culto a si mesmo
História da Sexualidade desenvolveu-se até se transformar no que
vemos hoje.
(trilogia)
Michel Foucault. Editora Paz e Terra, 2014.

Ao longo dos anos 1970, Michel Foucault


dedicou seu trabalho no Collège de Imprensa Gay no Brasil
France à análise do lugar da sexualidade Flávia Péret. Publifolha Editora, 2012.
na sociedade ocidental. Sua reflexão
encontrou no sexo e na sexualidade a causa Imprensa Gay no Brasil busca
de todos os acontecimentos da vida social. reconstruir quase meio século de história
O filósofo empreendeu uma pesquisa da imprensa homossexual no país. Apenas
histórica, estabelecendo uma antropologia nos anos 1960, revistas abertamente
e uma análise dos discursos acerca desse homossexuais começaram a ser feitas e
tema tão fundamental para a condição distribuídas de mão em mão, em círculos
humana. A trilogia é reconhecidamente restritos do país. Em 1978, durante o
um dos grandes trabalhos do pensador. governo Ernesto Geisel, surgiu Lampião da
O Volume 1 – A vontade de saber – é Esquina, primeiro jornal gay de circulação
pensado como uma introdução geral aos nacional, que duraria até 1981. Nas
temas a serem desenvolvidos nos volumes décadas seguintes, enquanto os grupos de
seguintes. A vontade de saber é um livro defesa dos direitos de gays e lésbicas se
ousado e surpreendente por mostrar com consolidavam, jornais, revistas e panfletos
brilhantismo que, diferentemente do que se espalharam pelo Brasil. A obra traz
em geral se pensa, a sexualidade não foi ainda depoimentos de Aguinaldo Silva e
reprimida com o advento do capitalismo. João Silvério Trevisan a respeito da criação
DICAS CULTURAIS

Ao contrário, desde meados do século XVI de Lampião da Esquina e do jornalismo


– processo que se intensifica a partir do voltado a homossexuais.
século XIX com o nascimento das ciências
humanas e, sobretudo, da psicanálise

64
A Justiça e os Direitos de Luta, Resistência e Cidada-
Gays e Lésbicas – Juris- nia – Uma análise psico-
prudência Comentada política dos Movimentos e
Celio Golin, Fernando Altair Pocahy e Roger Paradas do Orgulho LGBT
Raupp Rios. Editora Sulina, 2003. Alessandro Soares da Silva.
Juruá Editora, 2008.
O ‘nuances’ - grupo pela livre expressão
sexual - é uma ONG que trabalha na defesa Este livro é um estudo comparativo sobre
dos direitos humanos dos homossexuais os movimentos homossexuais no Brasil,
desde 1991 na cidade de Porto Alegre/ Espanha e Portugal. Neste estudo, o autor
RS. Esta obra é mais uma iniciativa que traz as perspectivas, ideologias e metas
vem ao encontro da sua postura política frente às comunidades gays e às sociedades
de dar visibilidade e do aprofundamento nas quais estão inseridos.
das questões que envolvem a realidade
da homossexualidade dentro do cenário
brasileiro e mundial. Para o ‘nuances’,
o Estado brasileiro tem um papel
fundamental na construção de uma Manifesto Contrassexual
sociedade onde a palavra democracia tenha – Práticas Subversivas de
significado na vida de todos os brasileiros, Identidade Sexual
independentemente do lugar social onde Beatriz Preciado. N-1 Edições, 2014.
se situam. A Justiça e os Direitos De Gays
e Lésbicas – Jurisprudência comentada é Aqui, o filósofo espanhol Beatriz Preciado
uma obra que vem para contribuir de forma dinamita, com seu humor corrosivo e
decisiva na conquistas de direitos, bem rigor teórico, tudo aquilo que se entende
como, de forma qualificada, proporcionar por sexualidade. Os estereótipos homem/
aos interessados no tema um leque de mulher, homo/hétero, natural/artificial
decisões acompanhadas de comentários vão progressivamente sendo despedaçados
de estudiosos que vêm rompendo com o através das análises que o autor faz sobre o
silêncio hipócrita da sociedade brasileira dildo, a história do orgasmo e a atribuição de
sobre o tema da sexualidade. sexo. Se de início é curiosamente divertido, a
cada capítulo aprofunda-se nas contradições
relacionadas às noções contemporâneas
de gênero e desejo. É inspirado pelo
pensamento de Michel Foucault, Gilles
Deleuze, Judith Butler e Jacques Derrida que
o autor inaugura a contrassexualidade - uma
teoria do corpo que é, também, estratégia de
resistência ao poder.
DICAS CULTURAIS

65
Manual Prático dos agricultora que procura o serviço público
de saúde para adequar seu corpo ao que
Direitos de Homossexuais e
deseja para si.
Transexuais
Sylvia Mendonça do Amaral. Edições Inteli-
gentes, 2003.

O livro acompanha a evolução do direito de


Sopa de Letrinhas –
homossexuais e transexuais. A autora mostra Movimento homossexual e
que, a cada dia, um número maior de juízes produção de identidades
passa a aceitar esta proposição, com base em coletivas nos anos 90
um panorama de maior liberalidade social. Regina Facchini. Editora Garamond, 2005.

Este livro é um estudo sobre o movimento


homossexual brasileiro no contexto da
O Movimento LGBT e segunda metade dos anos 1990. Realizado a
partir da cidade de São Paulo, este trabalho
a Homofobia – Novas
pretende contribuir e estabelecer diálogo
perspectivas de políticas com os estudos sobre movimentos sociais no
sociais e criminais Brasil contemporâneo. Tem como base uma
Clara Moura Masiero. Editora Criação pesquisa bibliográfica e documental, sobre a
Humana, 2014. trajetória de mais de 25 anos do movimento
homossexual brasileiro, e um trabalho de
Em O Movimento LGBT e a Homofobia campo realizado a partir da observação
– Novas perspectivas de políticas sociais e participante das atividades internas e
criminais, Clara Moura Masiero utiliza-se de externas do grupo CORSA – Cidadania,
conhecimentos jurídicos, criminológicos, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor –
sociológicos, psicológicos e históricos para Grupo de Conscientização e Emancipação
debater a questão da política de combate à das Minorias Sexuais, entre 1997 e 2000.
LGBTfobia. Masiero discute, a partir disso,
a legitimidade da demanda do movimento
LGBT e as possibilidades de políticas para o
combate à discriminação. Travestis e Prisões –
experiência social e
mecanismos particulares de
encarceramento no Brasil
O Nascimento de Joicy – Guilherme Gomes Ferreira. Editora
Transexualidade, jornalismo Multideia, 2015.
e os limites entre repórter e
personagem Obra que trata do drama de travestis
DICAS CULTURAIS

Fabiana Moraes. Editora Arquipélago, 2015. submetidas ao cárcere e da relação delas


com o sistema penal seletivo. Fruto de
Neste livro a jornalista Fabiana Moraes dissertação de mestrado do autor.
conta a história da transexual Joicy, ex-

66
Viagem Solitária – Contos Transantropológicos
Memórias de um transexual Atena Beauvoir. Editora Taverna, 2018.

trinta anos depois Em uma sociedade intolerante, machista


João W. Nery. Editora Leya Brasil, 2011.
e transfóbica, as personagens transexuais,
transgêneras e travestis de “Contos
Viagem Solitária conta a história de João
Transantropológicos” lutam pela própria
W. Nery, homem trans. Na obra, ele narra a
existência.
infância triste e confusa do menino tratado
como menina, a adolescência transtornada,
iniciada com a “monstruação” e o
crescimento dos seios, o processo de
autoafirmação e a paternidade. Revolucionário e Gay
James Green. Editora Civilização
Brasileira, 2018.

Neste livro, o historiador James N. Green


Devassos no Paraíso – A
apresenta a vida dessa extraordinária e
homossexualidade no Brasil, incansável figura, que se dedicou a tornar
da colônia à atualidade o mundo melhor e mais digno para todos.
João Silvério Trevisan. Editora Record, 2000. Ao mesmo tempo, o autor oferece detalhes
sobre como os grupos revolucionários
O livro de João Silvério Trevisan é contra o regime militar se articulavam,
praticamente um levantamento histórico como era a vida durante a ditadura – no
e antropológico sobre a homossexualidade Brasil e no exterior – e como se deu e o que
no Brasil. O jornalista traz relatos pouco estava em jogo nos processos de anistia e
divulgados dos tempos do Brasil colônia, abertura democrática.
avançando até o período imperial e os anos
2000. A narrativa aborda a presença de LGBTs
no mundo das artes, nos movimentos sociais e
na contracultura das décadas de 1960 e 1970. Nega Lu – Uma dama de
O autor ainda faz uma análise interessante a
respeito do surgimento de uma certa “mídia
barba malfeita
Paulo Cesar Teixeira. Editora Libretos, 2015.
LGBT” no período, da qual o jornal Lampião
da Esquina foi a expressão mais conhecida.
A obra apresenta a trajetória de Luiz
Fruto de uma intensa pesquisa documental
Airton Farias Bastos (1950/2005), que se
e historiográfica, Devassos no Paraíso é uma
autodenominava Nega Lu. Homossexual
obra única e essencial para quem deseja
negro, ganhou notoriedade na cena cultural
se debruçar sobre a trajetória política e de
e boêmia da capital gaúcha entre os anos
vivências da população LGBT no Brasil.
1970 e 1990. Personagem irreverente e
inovador, antecipou conquistas sociais
DICAS CULTURAIS

e comportamentais que só viriam a se


consolidar na segunda década do século XX.

67
BRTrans em relação ao duplo “crime/castigo”;
Silvero Pereira. Editora Cobogó, 2016. quer dizer, suas experiências no chamado
“mundo do crime” e a sociabilidade violenta
Criado a partir de fragmentos de a que estão submetidas e que as faz mais
histórias reais coletadas em conversas com facilmente detidas pela polícia, bem como
travestis, transexuais e transformistas, suas capturas pelas instituições de privação
a peça BR-Trans apresenta os sonhos, da liberdade.
os desejos, as vivências, as conquistas,
além de relatos de exclusão e violência,
presentes no cotidiano desta população de
norte a sul do país.
Sexualidade e gênero na
prisão: LGBTI+ e suas
passagens pela justiça
História do Movimento LGBT criminal
Guilherme Gomes Ferreira, Caio Cesar
no Brasil Klein. Somos, 2019.
James N Green, Renan Quinalha, Marcio Caetano,
Marisa Fernandeas. Editora Alameda, 2018.
O livro, de 412 páginas, reúne
contribuições de mais de 30 intelectuais que
O livro História do Movimento LGBT
lutam, no meio acadêmico ou no ativismo,
no Brasil busca reconstruir alguns temas
pela promoção dos direitos de LGBTI+ nas
e momentos privilegiados da história de
instituições de privação de liberdade. É
40 anos deste importante ator político do
resultado do projeto Passagens, realizado
Brasil contemporâneo, atentando para
pela ONG Somos e financiado pelo Fundo
a diversidade de sua composição e de
Brasil de Direitos Humanos.
perspectivas no interior do movimento.
A obra reúne diversos autores, estudiosos
e/ou protagonistas do surgimento do
movimento LGBT no Brasil para contar suas
histórias, alisar suas ações.

Vidas lixadas: crime e


castigo nas narrativas de
travestis e transexuais
brasileiras
Guilherme Gomes Ferreira. Editora
Devires, 2018.
DICAS CULTURAIS

O livro busca compreender como se dão


as experiências sociais de criminalização
das travestis, como grupo subalternizado,

68
DICAS CULTURAIS

45
69
70
CONTATOS
ÚTEIS
CONTATOS ÚTEIS

Aqui, trazemos contatos úteis para


denúncias de violações e para buscar auxílio
para promoção de direitos.

71
Frente Parlamentar em Disque-Denúncia Direitos
Defesa da População LGBT Humanos

A deputada Luciana Genro criou na Serviço de utilidade pública do


Assembleia Legislativa do Rio Grande governo federal em que podem ser feitas
do Sul a Frente Parlamentar em Defesa denúncias de casos de LGBTfobia, entre
da População LGBT. A iniciativa dá outros. Funciona 24 horas por dia, 7 dias
continuidade aos trabalhos da Comissão por semana, com ligação gratuita, tanto
Especial para Análise da Violência Contra de telefones fixos quanto de móveis. As
a População, que Luciana presidiu durante denúncias também podem ser feitas on-
quatro meses. A Frente Parlamentar é um line, pelo site do serviço.
espaço de toda a população LGBT gaúcha,
que pode encontrar neste instrumento Telefone: 100
uma ferramenta de luta em defesa de seus Site: www.disque100.gov.br/
direitos e de denúncia de abusos e violações.

Local: Gabinete da Deputada Luciana Genro


Endereço: Assembleia Legislativa (Praça da
Polícia Civil
Matriz, 101, 4º andar, sala 411)
Horário: Segunda a sexta, das 8h30 às
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul
18h30.
conta com um Departamento Estadual de
Telefone/Whatsapp: (51) 3210-2478 /
Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV).
(51) 99116.4755
Este departamento é responsável pela
estruturação de uma Delegacia de Combate
à Intolerância e Preconceito Racial. Até a
Ambulatório Trans de publicação desta cartilha, esta delegacia
ainda não havia sido criada - a previsão
Porto Alegre
seria para instalação no segundo semestre
de 2020.
Inaugurado em 2019, o Ambulatório
Trans de Porto Alegre funciona como um
espaço de atendimento integral à saúde
de travestis e transexuais no município,
contando com equipe multidisciplinar. Ministério Público do Estado
Funciona no segundo andar do Centro de do Rio Grande do Sul
Saúde Modelo e disponibiliza consultas
apenas às quartas-feiras, das 17h30 às No Ministério Público, é possível
21h30. realizar denúncias de violações aos direitos
humanos. Para realizá-las, é possível
Local: Centro de Saúde Modelo, 2º andar. o comparecimento pessoal, em que se
Rua: Jerônimo de Ornellas, 55, bairro relatará os fatos verbalmente, ou ainda,
CONTATOS ÚTEIS

Santana, Porto Alegre. encaminhar documento escrito com o


Agendamento via WhatsApp: (51) 9938-3572 relato. O MP orienta que o documento
Horário: às quartas, das 17h30min às contenha “relatos detalhados acerca das
21h30min irregularidades a serem investigadas pelo

72
Ministério Público Estadual” e, além das Defensoria Pública do
informações, “conter a identificação do
Estado do Rio Grande do Sul
denunciante, sua assinatura, bem como seu
endereço e demais formas de contato”.
A Defensoria Pública do Estado (DPE)
pode atuar em casos concretos de violações
Em Porto Alegre, existe uma Promotoria
de direitos, com uma equipe específica para
de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos
a questão de Direitos Humanos. O Centro de
específica, com equipe capacitada
Referência em Direitos Humanos (CDRH-
especificamente para lidar com as questões
DPE/RS) destina-se às vítimas de preconceito,
trazidas pelos denunciantes.
discriminação, intolerância, abusos e maus-
tratos, negligência e abandono.
Centro de Apoio Operacional dos Direitos
Humanos do MP/RS
Centro de Referência em
Endereço: Av. Aureliano de Figueiredo
Direitos Humanos
Pinto, nº 80, Torre Norte, 10º andar – Bairro
da DPE (Porto Alegre)
Praia de Belas – Porto Alegre/RS
Endereço: Rua Caldas Júnior, nº 352 –
Telefones: (51) 3295-1171 | (51) 3295-1172 |
Centro Histórico
(51) 3295-1141
Telefone: 0800-644-5556
E-mail: caodh@mprs.mp.br
Site: www.defensoria.rs.gov.br/
Site: www.mprs.mp.br/dirhum
Facebook: www.facebook.com/defensoriars/
Facebook: www.facebook.com/mprgs/

Promotoria de Justiça
de Defesa dos Direitos
Humanos (Porto Alegre)

Endereço: Rua Santana, nº 440 – Bairro


Santana
Telefone: (51) 3288-8911
E-mail: dhumanos@mp.rs.gov.br
Site: www.mprs.mp.br/promotorias/

Promotorias de Justiça
(interior do Estado)
Os cidadãos poderão obter o
endereço e forma de contato pelo link
www.mp.rs.gov.br/promotorias.
CONTATOS ÚTEIS

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Defensoria Pública do propor políticas públicas ao governo e
fiscalizar suas ações, além de ser consultado
Estado (interior do Estado)
a respeito de iniciativas para a população
LGBT. Apesar de não contar com estrutura
Os cidadãos do Interior podem encontrar
para apurar casos de LGBTfobia, o Conselho
o endereço e a forma de contato pelo link
também pode receber denúncias.
www.defensoria.rs.gov.br/atendimento/
interior.
E-mail: celgbt-rs@sdstjdh.rs.gov.br
Site: www.sjcdh.rs.gov.br/conselho-
estadual-de-promocao-dos-direitos-lgbt
Facebook: www.facebook.com/celgbtrs/
Secretaria de Justiça,
Cidadania e Direitos
Humanos do RS
Unidade de Direitos de
A SJCDH/RS conta com uma Diversidade Sexual e de
Coordenadoria de Diversidade Sexual,
Gênero - Porto Alegre
responsável pelas políticas públicas de
acolhimento e promoção dos direitos da
A prefeitura de Porto Alegre conta,
população LGBT. dentro da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social e Esporte, com uma
Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1.501 – Unidade de Direitos de Diversidade Sexual e
Bairro Praia de Belas – Porto Alegre/RS de Gênero. É o órgão municipal responsável
Telefone: (51) 3288-7373 por executar as políticas públicas de
E-mail: ouvidoria@sjdh.rs.gov.br promoção dos direitos da população LGBT.
Site: www.sjcdh.rs.gov.br
Facebook: www.facebook.com/SJCDH2019/ Endereço: Rua dos Andradas, nº 1.643/5º
Facebook da Coordenadoria: andar – Centro Histórico – Porto Alegre/RS
www.facebook.com/Coordenadoria- Telefone: (51) 3289-2068
Estadual-de-Diversidade-Sexual-do-Rio-
Site: www2.portoalegre.rs.gov.br/smdh/
Grande-do-Sul-704157916648777/

Centro de Referência às
Conselho Estadual de Vítimas de Violência (CRVV)
Promoção dos Direitos LGBT
O CRVV é um serviço oferecido pela
Criado pelo Decreto nº 51.504/2014, o Secretaria Adjunta da Mulher (ligada
Conselho Estadual de Promoção dos Direitos à Secretaria Municipal de Direitos
LGBT é formado por representantes eleitos Humanos de Porto Alegre) em parceria
CONTATOS ÚTEIS

de movimentos sociais da comunidade com o governo federal. Foi criado para


LGBT. É um órgão da sociedade civil “prestar informações e orientações às
vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania vítimas de violações de direitos, abuso de
e Direitos Humanos, com atribuição de autoridade, exploração sexual e qualquer

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tipo de discriminação”. Atende a qualquer
pessoa, sendo garantido o anonimato. Seu
serviço é focado em violações à vida e à
integridade de pessoas LGBTs, mulheres,
crianças e adolescentes, idosos, negros
e negras e portadores de deficiência. É
nele que funciona o Disque Denúncia
dos Direitos Humanos de Porto Alegre
(0800-642-0100).

Endereço: Rua dos Andradas 1643 – Sala


501 – Porto Alegre/RS
Telefone: 0800-642-0100 (segunda a sexta,
das 8h30min às 18h)

Serviço de Assessoria
Jurídica Universitária –
SAJU/UFRGS

O SAJU é um programa de extensão


universitária da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), com diversas ações no âmbito da
assistência, da promoção de direitos, entre
outros. O G8-Generalizando é o grupo que
trabalha com direitos sexuais e de gênero.
Entre suas várias ações, estão mutirões para
retificação de registro civil de pessoas trans.

Endereço: Faculdade de Direito da UFRGS.


Av. João Pessoa, nº 80 – Centro Histórico –
Porto Alegre/RS
Telefone: (51) 3308-3967
E-mail: g8generalizando@gmail.com
Site: www.ufrgs.br/saju/grupos/g8-
generalizando
Instagram: www.instagram.com/
g8generalizando
Facebook: www.facebook.com/
G8Generalizando/

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LUCIANA GENRO
É Deputada Estadual, integra a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos
e a Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia e é
procuradora-adjunta da Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa.

DENUNCIE A DISCRIMINAÇÃO
Se você sofreu algum tipo de discriminação, preconceito ou violência, denuncie!
Mande um e-mail para luciana.genro@al.rs.gov.br que encaminharemos seu
caso à Comissão de Direitos Humanos e à Frente Parlamentar em Defesa da
População LGBT.

ACOMPANHE O TRABALHO DE LUCIANA GENRO

lucianagenro.com.br (51) 991164755

@lucianagenro fb.com/LucianaGenroPSOL

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