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O USO DE IMAGENS DE SATÉLITE E O

ENSINO DE GEOGRAFIA
GEOGRAFIA
A importância da utilização das técnicas de geoprocessamento e
fotointerpretação como recurso para utilização pedagógica em sala de aula.



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Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar a importância da utilização das


técnicas de geoprocessamento e fotointerpretação como recurso para utilização
pedagógica em sala de aula. Devido ao avanço científico e tecnológico, faz-se
necessário aprimorar as técnicas didáticas, principalmente frente às mudanças
encontradas nas mentes da juventude, seus interesses, percepções e anseios.
Permitir que o estudante, deparando-se com esta tecnologia, pense e analise seu
proceder no tocante ao meio ambiente, pode ser considerado o ponto alto da
utilização deste recurso.

Palavras-chave: Ensino de Geografia, Fotointerpretação, meio ambiente,


tenocologia, didática.

Com o advento das modernas técnicas espaciais, dentre elas os satélites


artificiais, tornou-se possível visualizar a Terra através da coleta de diferentes
dados e da obtenção de imagens da sua superfície, por meio de sensores remotos.
Os dados que são gerados pelos diversos sensores remotos, sobretudo os que
estão a bordo de satélites, segundo Santos (1998), têm servido de base para o
desenvolvimento e realização de projetos associados às atividades humanas no
mundo inteiro e em diversas escalas, além de auxiliar em relação a ocupação dos
espaços geográficos, favorecendo a realização do planejamento sócio econômico
ambiental sustentável.

Devido a sua importância para o mundo moderno, compreende-se que todo o


conhecimento produzido e acumulado sobre a utilização destas técnicas deva
servir para sanar as dificuldades e crimes ocasionados contra todo o meio-
ambiente e boa parte da superfície da Terra. Utilizar os recursos técnicos para
alavancar, em sala de aula, estudantes mais conscientes e críticos em relação a
preservação do Planeta, pode e deve ser o marco referencial da educação neste
século. A proposta de trabalho com os recursos de sensoriamento remoto na
escola não se limita a uma mera transferência mecânica de informações.

Não se trata de proceder apenas à divulgação de suas características e


potencialidades, mas sobretudo de refletir sobre elas e trabalhar suas relações
com a prática pedagógica e com o tratamento dos conteúdos curriculares em suas
relações com a vida, visando a construção do conhecimento por professores e
alunos. Como afirma o educador Gutierrez (1979), "o mero fato de interpretar ou
apropriar-se de um saber não é suficiente para que, com propriedade de termos,
possamos falar de aprendizagem ‘autêntica’. Somente pode chamar-se autêntico
o conhecimento que em si mesmo e por si mesmo seja produtivo e transformador,
o que requer do preceptor que ele o transforme em conhecimento seu e
reestruture à sua maneira a informação".

A evolução histórica das geotecnologias

Historicamente a observação e a representação da superfície terrestre têm se


apresentado como relevante na organização e desenvolvimento das sociedades.
Desde os tempos remotos até a atualidade, as informações e dados espaciais têm
sido descritos de forma gráfica pelos antigos cartógrafos e utilizados por
navegadores e demais profissionais. A obtenção de informações sobre a
distribuição geográfica dos recursos naturais alavancou o desenvolvimento de
inúmeros países, permitindo a ocupação territorial e a geração de postos de
trabalho e renda.

Neste contexto, até meados dos anos 1960, os documentos, cartas e mapas eram
gerados apenas na forma analógica, impossibilitando análises mais precisas e
detalhadas, resultantes de combinação entre diferentes mapas e dados. Já a partir
da década de 1970, com a grande evolução da tecnologia da informática, da
aerofotogrametria e do sensoriamento remoto, tornou-se possível obter,
armazenar e representar informações geoespaciais em ambiente computacional,
abrindo espaço para o surgimento do Geoprocessamento.
Paralelo a esse desenvolvimento surgiram inúmeros métodos matemáticos e
estatísticos para o tratamento de informações geográficas, possibilitando
mapeamentos de vastas áreas com elevado grau de precisão, assim como
mapeamentos específicos, por exemplo: tipos e usos de solo, vegetação, geologia,
geomorfologia, distribuição da população, distribuição de clima, hidrografia e de
recursos minerais.

Assim, a partir da década de 1980, a tecnologia dos Sistemas de Informações


Geográficas (SIG) inicia seu período de acelerado crescimento, culminando com
a criação de centros de pesquisas, marcando o estabelecimento do
Geoprocessamento como disciplina científica independente.

Atualmente, o somatório dos esforços de inúmeros setores têm possibilitado a


aproximação entre várias disciplinas relacionadas com a identificação, o registro,
a análise e a apresentação dos fenômenos geográficos, estabelecendo um novo
conceito, o da “Geotecnologias”. Essa alternativa tem se consolidado com
enorme potencial, pois apresenta custo relativamente baixo e os conhecimentos
são gerados e adquiridos localmente, tornando-se indispensáveis para o
planejamento urbano e regional, permitindo ainda o controle e monitoramento do
uso eficiente dos recursos naturais e a conservação do meio ambiente. Assim
sendo, justifica-se a importância do uso desta tecnologia em sala de aula como
um recurso pedagógico atual e eficiente.

A Educação do Século XXI

Inúmeros termos ou expressões sobre educação são encontrados na literatura


educacional, assim, busca-se discutir sucintamente e objetivamente alguns desses
termos, visando trazer à tona as possíveis transformações conceituais ocorridas
no transcorrer da evolução do pensamento humano, e em especial das abordagens
pedagógicas ocorridas nas últimas décadas no Brasil, buscando clarificar os
conceitos à luz dos estudos de educadores. Nesse sentido através das reflexões,
inicia-se a abordagem sobre a concepção de “Educação”. Segundo Gadotti
(1993), a educação, no sentido primitivo tem a sua origem nos verbos latinos
“educare”, e “educere”. “Educare” expressa alimentar, amamentar, criar,
representando algo que se dá ou proporciona para alguém, representando a idéia
de algo que tem sua origem externa ao indivíduo e a ele se acrescenta. Já
“educere”, representa a idéia de conduzir para fora, fazer sair, tirar de,
representando um ato de desenvolver de dentro para fora, algo que o indivíduo já
traz dentro de si, liberando as suas forças latentes, que vêm à tona pelos
estímulos recebidos.

Dessa forma, a prática pedagógica decorrente da educação vigente, sofreu


inúmeras modificações no transcorrer da história, mudanças essas baseadas em
função dos valores cultivados pelo homem, derivados das necessidades práticas
da existência. As modificações e transformações ocorridas pressupõem
naturalmente a busca de novas formas de saber, e fazer, visando nem sempre a
realização dos seres, mas via de regra, buscava o fortalecimento dos instrumentos
que pudessem assegurar a predominância das políticas vigentes e das
necessidades do trabalho.

Pode-se afirmar que as exigências educacionais deste início de século, bem como
o verdadeiro sentido do vocábulo “educação”, impõe a idéia de incluir no projeto
de ensino o recurso do sensoriamento remoto que se constitui numa oportunidade
de aproveitar seu vasto potencial de uso e aplicações para a compreensão da
dinâmica do processo de intervenção/repercussão das relações sociais no
equilíbrio/desequilíbrio do meio ambiente, permitindo ultrapassar uma
perspectiva de abordagem restrita às ciências da natureza, comum na abordagem
desta questão, e avançar na perspectiva das ciências sociais e da pedagogia da
comunicação.

A utilização das técnicas de sensoriamento remoto em sala de aula na


preservação do meio ambiente

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As mudanças climáticas atuais, como o aquecimento global do planeta, os
desastres naturais, são mudanças ambientais que o homem da atualidade enfrenta
por conseqüência dos desflorestamentos indiscriminados, uso de petróleo,
incêndios e outras atividades antrópicas locais que têm efeito global. Para mudar
esta situação são necessários estudos que subsidiem o planejamento do uso da
terra e projetos de educação ambiental que mostrem a importância das ações
locais no contexto global.

Para se fazer educação ambiental em sala de aula, são necessárias ferramentas


que permitam uma visão espacial dos problemas ambientais e interação entre os
diversos componentes dos mesmos “... o uso de dados de Sensoriamento Remoto
tem um importante papel nas propriedades fundamentais dos sistemas
ecológicos, caracterizados pelo fluxo de organismos, matéria e energia, que
devem ser compreendidos dentro de um Ecossistema” (SAUSEN, 2005). Neste
contexto, a utilização das técnicas de geoprocessamento em sala de aula, tem
como objetivo implementar o uso da tecnologia de sensoriamento remoto como
recurso didático para educação ambiental na Educação Básica. Segundo Candau:

Um aspecto que deve ser cuidado de forma especial é a construção de práticas


coletivas e a participação em organizações e movimentos da sociedade civil.
Trata-se de educar a partir da prática para a construção comunitária e a
participação ativa no coletivo, como aspectos fundamentais na luta pelos direitos
humanos. É necessário estar permanentemente refletindo sobre o que se vive.
Neste sentido é imprescindível sistematizar as diferentes práticas educativas
(Vera Candau, 2002, p 161).

Utilizar esta prática educativa em sala de aula, permite que os alunos sejam
capazes de:

- perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente,


identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente
para melhoria do meio ambiente.

- saber utilizar diferentes fontes de informações e recursos tecnológicos para


adquirir e construir conhecimentos. (PCN MEC/SEF, 1998).

A utilização da tecnologia de sensoriamento remoto na escola, sendo uma


tecnologia ainda desconhecida de muitos educadores, fez-se necessário uma
orientação técnica para promover motivação para um novo aprendizado,
disponibilizar fundamentação teórica, apresentar materiais e recursos disponíveis,
mostrar exemplos do uso dessa tecnologia na educação básica e apresentar
algumas sugestões de atividades dentro do conteúdo programático, de forma a
preparar os professores para o uso da ferramenta como recurso didático.

A implementação do sensoriamento remoto na educação ambiental vem atender a


necessidade de atualização da educação brasileira, no sentido de responder a
desafios impostos por processos globais, contribuindo assim para despertar
consciência ambiental e cidadã nos educandos.

Atualmente, um dos maiores problemas enfrentados pelas nossas instituições de


ensino é a grande escassez de recursos que possibilitem ao professor aulas não
apenas teóricas, mas também práticas. A utilização de tais recursos práticos na
abordagem dos conteúdos geofísicos é fundamental, devido a pouca abstração
dos alunos, principalmente pela idade que os mesmos apresentam. Além de tal
escassez, a maneira como tais conteúdos são apresentados para os educandos
também tem sido feita, muita das vezes, de forma equivocada. Vesentini (2000)
afirma que um ensino tradicional tem como base a aula expositiva, em que o
professor ensina os conceitos, dá as definições prontas e os exemplos para os
alunos, que devem somente assimilar esse conhecimento. Na verdade, cabe ao
aluno somente memorizar os conhecimentos ensinados e/ou repassados pelo
professor e nesse contexto na sala de aula o que se vê são atividades e conteúdos
pré-estabelecidos e desarticulados, o que limita a percepção da realidade tendo
uma imagem distorcida do fenômeno geocientífico.

A introdução das novas tecnologias, no ensino, é irreversível tanto no Brasil


quanto no mundo. Portanto, pesquisas precisam ser desenvolvidas para verificar a
performance didático-pedagógica desses recursos, junto aos alunos e aos
professores; adaptar as imagens orbitais para seu uso em sala de aula; e adequar
os materiais didáticos. O Ministério de Educação e Cultura (MEC) recomenda a
inclusão das novas tecnologias no Ensino Fundamental e Médio, conforme os
Parâmetros Curriculares Nacionais. O apoio do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), no sentido de ceder imagens orbitais para fins didáticos e de
promover uma formação específica para professores, é essencial. O Uso do
Sensoriamento Remoto deve auxiliar na produção do conhecimento, pois estão
ligados aos sabores das inquietações das mentes prodigiosas dos alunos
impulsionados pela beleza, movimento e cores das imagens de satélite que
despertam curiosidades gerando interesses pelo novo e desconhecido.

O proposto neste trabalho procurou visualizar a potencialidade deste recurso, que


utilizado pedagogicamente é gerador de conhecimento escolar e responsável pela
democratização das informações dos dados produzidos em laboratórios por
técnicos e cientistas.Trabalhar com o novo é instigante e com um recurso de
ponta tão distante do cotidiano da escola é revolucionário na metodologia das
aulas e no tratamento, nos procedimentos e estratégias dos conteúdos das
disciplinas.

Pode-se não ter resultados finais no trabalho com imagens de satélites em sala de
aula, mas um permanente processo de construção e desconstrução, onde podem-
se, aluno e professor, compreender como participantes de um grande e complexo
grupo social, com tradições e processos civilizatórios diferenciados.

Procura-se, através da integração dessas diferenças alcançar a utopia proposta por


Lévy, do coletivo inteligente em direção à ecologia cognitiva que une a
totalidade de seres - homens e máquinas - pensantes, contribuindo todos para a
memória coletiva comum em permanente processo de ampliação e
transformação. Apesar de algumas atividades nesse sentido terem um caráter
experimental e pioneiro em algumas escolas, deve-se acreditar que os resultados
obtidos e as avaliações futuras do desempenho das atividades desenvolvidas
pelas turmas gerarão discussões e deflagrará um aspiral de mobilização do corpo
de professores repensando sua metodologia e redirecionado suas ações e práticas
pedagógicas.

Refrências Bibliográficas:

GADOTTI, M.. Historia das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. 94 p.

GUTIERREZ, F. Linguagem total: uma pedagogia dos meios de


comunicação. São Paulo: Summus, 1979.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto Secretaria da Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

SANTOS, V. M. N. O uso escolar das imagens de satélite: socialização da


ciência e tecnologia espacial. in: Penteado, H.D. Pedagogia da comunicação. São
Paulo: Cortez, 1998.

Sausen, T. M. et al. Projeto EDUCA SeRe III- Atlas de Ecossistemas da


América do Sul e Antártica através de Imagens de Satélite. In: Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), 12, 2005, Goiânia Anais...São José
dos Campos: INPE, 2005. Artigos, p.1345-1352. CD ROM, ISBN 85-17-00018-
8.

CANDAU, V. M., Reinventar a Escola, Petrópolis, Vozes, 2002.

VESENTINI, José William . Para uma Geografia Crítica na escola, São Paulo,
SP, Editora Ática, 2000

Jones Godinho
Professor, Licenciado em Geografia

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