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#TRANSFORMAÇÃODIGITAL #ESG

Da cadeia linear à circular – a quinta revolução


por Marcelo Souza

Mais que a covid-19 ou a guerra na Ucrânia, é a obsolescência programada que vem


tornando insustentável a cadeia de fornecimento como ela é hoje, bem como todo nosso
modo de produção e consumo. O atual agravamento da crise das supply chains pode ser o
empurrão que faltava para as empresas começarem a romper com isso e migrar ao modelo
de circularidade, que prevê fontes de fornecimento de matéria-prima diferentes e bem mais
acessíveis. Não é fácil mudar sob uma tempestade, mas ela torna a mudança mais urgente.
Conheça a mentalidade e os blocos construtivos necessários a essa transição.

36

S
e você foi comprar um pneu novo também com lojista que recolhem pro-
para seu carro em tempos recen- dutos dos consumidores; e usa pneus
tes e perguntou ao vendedor o que usados para fazer pneus novos.
aconteceria com o velho, já tem uma Trata-se da “economia circular”, que
ideia do que vou falar. É a marca do em 2019 já respondia por 9% da produ-
pneu que busca o velho na loja, fazendo ção total mundial em média, e subindo,
uma logística reversa. segundo o Circular Economy Club –
Isso significa que a cadeia de forne- CEC. Esta, mais do que a era digital, é a
cedores de uma empresa não precisa verdadeira “nova economia”.
mais ser só a supply chain tradicional; Há quase um boom de interesse pela
há uma “cadeia de consumidores”, pró- economia circular, e ele coincide com
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

xima da cadeia de distribuição – no o ritmo de transformação que o Oci-


caso, a fabricante de pneus busca seus dente tem vivido em sua história. Em
insumos não só com fornecedores, mas intervalos de poucas centenas de anos,

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alteram-se radicalmente a sociedade e de 2010, fui o responsável por cravar PETER DRUCKER
sua visão de mundo, o que inclui seus a primeira estaca da maior e até hoje
valores básicos, suas estruturas sociais mais moderna usina de reciclagem de ENTENDEU UM
e políticas, suas artes, suas principais eletrônicos da América do Sul. E hoje PADRÃO DO
instituições. Em questão de 50 anos, um participo das iniciativas de mudanças
OCIDENTE: EM
mundo novo emerge. Quem entendeu o de várias empresas.
padrão foi o “pai” da administração Pe- INTERVALOS
ter Drucker, num ensaio escrito para a como o problema se AGRAVou DE POUCAS
Harvard Business Review em 1992.
Estou convencido de que o padrão de Que a “velha economia” linear está CENTENAS
transformação radical está se repetindo com os dias contados, poucos duvidam, DE ANOS,
agora, rumo a uma economia regene- mesmo ela ainda respondendo por 91%
UMA GRANDE
rativa e restaurativa; estamos no arco da produção mundial. A população
dos 50 anos de mudança projetados mundial consome 1,6 planeta por ano. MUDANÇA
por Drucker. Isso porque a maioria de Seu modo de produção e consumo gera ACONTECE E
nós já entendeu que o sistema produ- 45% dos gases de efeito estufa ameaça-
tivo pautado na economia linear não é dores ao planeta. (Os outros 55% vêm UM MUNDO
sustentável em longo prazo, por explo- da energia de origem fóssil.) O descarte NOVO EMERGE.
rar excessivamente o capital natural e dos aparelhos celulares devido à falta É O QUE ESTÁ
potencialmente esgotá-lo, e, ao mesmo de atualização do dispositivo produz
tempo, por acumular resíduos. A pró- 53,6 milhões de toneladas de lixo ele- OCORRENDO
pria crise das supply chains que esta- trônico anualmente, segundo o Global AGORA
mos vivendo pode ser vista como uma E-Waste Monitor 2020. E o Brasil é o
evidência do fenômeno. quinto maior produtor de lixo eletrônico
O conceito de circularidade é fácil de do mundo; contribui com 2,1 milhões de
compreender por meio de uma gela- toneladas anuais, ou 10,2 quilos de lixo
deira quebrada. Imagine que você, em eletrônico per capita.
vez de descartá-la e comprar uma nova, Se esses dados não são prova suficien- 37
opte por desmontá-la e e consertá-la. O te de que está na hora de uma transfor-
que acontece? Na prática, a remanufa- mação radical, não sei o que pode ser.
tura, como a chamamos, economiza ao É por culpa da tecnologia que o pro-
fabricante muitos custos, de obtenção blema vem se agravando de modo ace-
de matéria-prima, de fabricação – de lerado? Não. Nem a culpa é da indústria
peças plásticas, gabinete, injeção de iso- baseada no fordismo, que trabalhava
lamento térmico –, de energia e água com uma demanda em massa, uma vez
etc. E o valor embarcado no equipa- que essa demanda deixou de existir faz
mento deixa de ser perdido. O fabrican- tempo. Tanto tempo que podíamos ter
te precisa fazer muitas mudanças: deve começado a abraçar a economia circu-
adaptar suas instalações e mão de obra lar nas primeiras decadas do século 20.
para desmonte e conserto, criar um “su- Com a crise financeira de 1929, o que
pply chain” com novos parceiros para ocorreu mesmo é que foi necessário
coletar geladeiras quebradas, comuni- encontrar maneiras rápidas de estimu-
car aos consumidores... enfim, ter novos lar a economia e gerar empregos. Foi
blocos construtivos para o negócio. aí que surgiu o conceito de “obsoles-
A atual crise das supply chains pode cência programada”, com o que muitos
ser um estopim para sua empresa co- consumidores se familiarizam apenas
meçar a migrar ao modelo de circula- após o uso dos smartphones.
ridade, e, ainda que essa transição não O conceito “obsolescência programa-
dependa só do executivo de sourcing/ da” foi criado pelo presidente da Gene-
procurement, sua contribuição é cru- ral Motors, Alfred P. Sloan, para desig-
cial. Se é mais fácil mudar quando nar o planejamento do momento em
estamos bem, é mais urgente mudar que seu produto se tornaria não funcio-
quando os problemas batem à porta. nal para forçar o consumidor a comprar
Executivo de produção de uma multi- uma nova geração de produtos. As em-
nacional, eu mudei. Em 1º de fevereiro presas que beiravam a falência viram na

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O AVANÇO NA obsolescência programada um meio de E do lado dos produtores, as em-


EUROPA melhorar sua situação. Isso significava presas? Bem, essa nova economia é
projetar um menor tempo de vida útil maior do que programas de recicla-
Na União Europeia, em- dos equipamentos, aliado a um forte gem ou de lixo zero. Mas não é ne-
presas como ABB, Bil- apelo publicitário, o que tornaria o con- nhum bicho-de-sete-cabeças. Depen-
lerudKorsnäs, Komatsu, sumo cada vez mais consolidado. de de pensar modelos de negócio que
LKAB, Metso, Sandvik,
Scania e Volvo são al-
Infelizmente, isso fez com que as pes- aproveitem o máximo do valor dos
gumas que já migraram soas começassem a sofrer o que parece materiais, fazendo com que circulem
do modelo linear de ser uma “obsolescência psicológica”, muitas vezes na economia e reduzin-
extrair-produzir-des- que é o desejo pelo novo antes mesmo do, assim, a necessidade de novas ex-
cartar para um modelo
circular de produzir- de o produto velho ter seu prazo de va- trações de recursos.
-usar-reusar-produzir lidade vencido. De modo geral, para a economia cir-
de novo-reciclar. Johan Não há dúvida de que a obsoles- cular, quanto maior a vida útil de um
Frishammar e Vinit
Parida, professores
cência programada conseguiu salvar produto ou material, maior o lucro,
de empreendedorismo a economia machucada pelo crash enquanto, para a economia linear,
e inovação da Luleå da bolsa de valores de Nova York em quanto menor a vida útil, maior o lu-
University of Techno- 1929. Mas, se durou quase cem anos, cro. Assim, em termos econômicos,
logy em Estocolmo,
Suécia, estudaram essas não conseguirá durar outros cem. Já a economia linear considera que os
empresas por cinco somos 7,7 bilhões de pessoas morando mercados são infinitos e os estoques
anos, acompanhando neste planeta, seremos 9 bilhões em finitos, enquanto a economia circular
como criam capturam 2030, e isso nos faz consumir o capi- vê mercados e estoques infinitos.
e entregam valor, e
descobriram que onde tal natural num ritmo muito superior Por que o conceito de estoque muda?
estão as maiores ao de sua capacidade de regeneração. Durante 250 anos, consideramos esto-
dificuldades. A ideia de Alfred Sloan pode ter sido ques somente os materiais que estão
Em artigo publicado
muito boa para gerar demanda num de posse de uma organização. E que, a
pela MIT Sloan Mana- momento de crise aguda, bem como partir do momento em que esses pas-
gement Review Brasil, para provocar avanços tecnológicos e de sam a ser propriedade de um utiliza-
38 descreveram os quatro gestão. Mas gerou outra crise econômi- dor, devem ser desconsiderados como
maiores desafios e
como solucioná-los: (1) ca crônica, ao aquecer a disputa pelo estoque. Mas não faz sentido achar que
alinhar incentivos entre domínio de mercados e levar ao empo- os produtos, após vendidos, deixam de
os parceiros do ecos- brecimento de populações inteiras e, ser estoques. Eles são microestoques;
sistema, (2) olhar para
além do ecossistema
consequentemente, a movimentos po- armazenam mão de obra, energia e
existente (e ver velhos líticos extremistas como o fascismo na materiais. Entendendo-os dessa ma-
rivais como colabora- Itália e o nazismo alemão, e, por tabela, neira, saberemos que, quanto mais uti-
dores, por exemplo), à segunda guerra mundial, com grande lizarmos um produto ou material, mais
(3) envolver os clientes
profundamente no desperdício de vidas e recursos. aproveitaremos o valor armazenado
negócio, inclusive em O colapso do sistema da economia nesse estoque.
cocriação, e (4) ter um linear é inevitável. O que vai no lugar? Quatro princípios, na análise da Ellen
bom plano para manter
MacArthur Foundation, pavimentam
a implementação am-
pliada (com parceiros) como fazer a transição o caminho para a desconexão do lucro
do novo modelo. com a produção em massa:
Para resolver esse problema que per- 1. Resíduos são recursos. Se ob-
dura desde os anos 1920, precisamos servarmos a natureza, perceberemos
fazer a transição para o oposto da ob- rapidamente que o termo resíduo é
solescência programada: cada produto uma criação do homem; na nature-
deve ter o máximo possível de vida útil, za, rejeitos de um process se tornam
preservando e aumentando o capital na- alimento para outro – um animal
tural do planeta. morto é devorado por outro animal
Do lado dos consumidores, isso sig- e as sobras são absorvidas pelo solo,
nifica que cada habitante da Terra deve nutrindo-o. Podemos diminuir o que
deixar de se ver como consumidor para chamamos de resíduos projetando os
se tornar um utilizador – e aprender a produtos para que possam ser reutili-
compartilhar, em vez de acumular. Não zados ou desmontados. Os nutrientes
é uma mudança de mentalidade trivial, em questão podem ser compostados
mas já está em curso nas novas gerações. e, seus polímeros, utilizados nova-

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QUE IDEIAS JÁ CIRCULAM NA SUA EMPRESA?
FAÇA O TESTE ABAIXO PARA ENTENDER QUÃO PERTO (OU LONGE) VOCÊ ESTÁ DA CIRCULARIDADE

N ão há como migrar à economia circular sem mudar o mindset. Confira se você entende – e con-
corda – com os nove elementos abaixo, os oito primeiros definidos pela Ellen MacArthur Foun-
dation e o último, duplo, por Marcelo Souza. Refletem o novo pensamento de produção e consumo.

( )E
 cologia industrial. Os vários setores ( )E
 codesign. Tem como objetivo princi-
devem cooperar, podendo se reunir em pal projetar ambientes, desenvolver pro-
parques industriais e adotar processos dutos e executar serviços que de alguma
integrados de produção nos quais os re- maneira irão reduzir o uso dos recursos
síduos gerados em um processo sirvam não renováveis e minimizar o impacto
como matéria-prima para outro ou, ainda, ambiental durante seu ciclo de vida.
possam ser utilizados como subprodutos
em outra indústria ou processo. ( )S
 imbiose industrial. Promove uma
integração entre atividade econômica,
( ) Engenharia do ciclo de vida. É preci- meio ambiente e bem-estar da comunida-
so identificar os impactos do ciclo de vida de, com o intercâmbio de resíduos, maté-
do produto e gerar soluções para reduzir ria-prima, energia e água, resultando em
os impactos negativos desse ciclo, desde a operações eficazes e rentáveis para todos.
concepção até o seu descarte e o descarte
de seus componentes. ( )B
 iomimética. Combina conhecimentos
de biologia, engenharia, design e planeja-
( )E
 conomia de performance. O objeti- mento, para que os negócios mimetizem
vo econômico deve ser criar o maior valor as soluções observadas na natureza para 39
de uso possível pelo maior tempo possí- a gestão de fluxos de energias e materiais.
vel para um produto, a fim de ter o menor
consumo de materiais e energia por ano ( )L
 ogística reversa. Ocorre em três eta-
de serviço. pas: (1) consumidor devolve produto/ em-
balagem à loja; (2) a loja o envia ao fabri-
( ) Do berço ao berço (C2C, em inglês). cante/importador; (3) o item devolvido é
Opõe-se à ideia de que a vida de um pro- reciclado ou tem o descarte adequado.
duto deve ser considerada “do berço ao
túmulo” – o processo linear de extração, ( )
Triple bottom line e ESG. Muda a
produção e descarte. Para uma indústria visão de resultados, que devem ser bons
C2C, a lógica é a do processo circular, de para o planeta, para as pessoas e para os
criação e reutilização, em que cada pas- acionistas. Boas práticas ambientais, so-
sagem de ciclo se torna um novo “berço” ciais e de governança guiam investimen-
para determinado material. tos e escolhas.

mente com retenção de propriedades dularidade, versatilidade e adapta-


e mínima adição de energia. bilidade. Esses produtos são, assim,
2. Construir resiliência com mais resilientes a crises.
diversidade. Sem a interferência Podemos fazer a mesma coisa com
humana, os sistemas vivos são diver- nossa produção, pois ter materiais vin-
sos. A natureza possui um conjunto dos de uma variedade de origens, e de
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

de recursos que promovem a estabi- reutilização, atualização, reparação ou


lidade e criam produtos que visam a remanufatura, dá aos produtos maior
durabilidade a partir de maior mo- modularidade, versatilidade e adapta-

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bilidade. Isso minimiza a fragilidade A Ellen MacArthur Foundation


da velha cadeia linear pautada em ex- também identificou os blocos cons-
trair, produzir, consumir e descartar. trutivos essenciais da economia cir-
3. Usar energia de fontes re- cular que embasam a transição:
nováveis. Para uma completa mi- 1. Design para a economia cir-
gração para a economia circular, é cular. Hoje os projetistas da sua em-
imprescindível pensar em fontes re- presa devem conceber os produtos
nováveis de energia – é a lógica de para serem difíceis de consertar. Eles
atuação em ciclos fechados. têm de ver o design com novos olhos,
4. Adotar pensamento sistêmi- como uma poderosa ferramenta para
co. Como, na economia circular, os a preservação de valor de microesto-
mesmos materiais mudam de mãos ques. E passar a projetar o produto de
constantemente, passando por vários forma a facilitar o seu aproveitamento
players, é importante não se limitar à em múltiplos ciclos. Isso requer outros
compreensão do funcionamento de um critérios para uso de materiais, compo-
único ciclo. É aí que entra o pensamen- nentes, modularidade e durabilidade.
to sistêmico, como a habilidade essen- 2. Novos modelos de negó-
cial que permite entender as conexões cio. A economia circular encontrou
entre ideias, pessoas, organizações e na quarta revolução industrial uma
governos, criando oportunidades de si- grande aliada. As plataformas digi-
nergias que promovam a eficiência de tais abrem o caminho para os negó-
sistemas circulares prósperos. cios circulares, seja pela digitalização

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SAI A CADEIA TRADICIONAL, ENTRA O DIAGRAMA BORBOLETA
COMO FUNCIONA O SISTEMA DA ECONOMIA CIRCULAR

1 Recursos renováveis Recursos finitos


Gestão de fluxos Gestão de
renováveis Regenerar Substituir materiais Digitalizar Restaurar estoques

Agricultura/Coleta
Fabricante de componentes
2 Remanufaturar Reciclar
/ Restaurar
Fabricante de produtos Reutilizar /
Regeneração redistribuir
Biogás

Prestadores de serviço
Aproveitamento Compartilhar
em cascata
Consumidor Usuário
Manter/
Digestão prolongar
anaeróbica Coleta Coleta

Extração de matérias-primas
bioquimicas

3 MinImizar perdas sistêmicas e


externalidades negativas

FONTE: ELLEN MACARTHUR FOUNDATION.

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de produtos, seja pela conectividade Relacionamentos duradouros A OIT PREVÊ A
que facilita o compartilhamento des- com os clientes. Na economia li-
tes. Nesse novo mundo, uma empresa near, as empresas tratam de vender CRIAÇÃO DE 95
não mais precisa ser uma gigante para um produto e partem para projetar a MILHÕES DE
prover soluções inovadoras. próxima venda. Na economia circu-
NOVOS POSTOS
3. Ciclos reversos. É preciso lar, buscam usar a venda como opor-
construir a cadeia de fluxos reversos tunidade contínua de criação de valor DE TRABALHO
necessária para a retroalimentação e relacionamento com o cliente. ATÉ 2030, COM
da economia circular, que está mais Redução de custos e aumento
próxima do que é a cadeia de distri- de receita. Com produtos mais ro- UM AUMENTO
buição no atual modelo econômico do bustos, fica desnecessária a produção DE 5% NA
que da supply chain tradicional. Isso em massa custosa; surgem os mode-
CIRCULARIDADE
requer muita capacidade de gerir in- los de negócio de receita recorrente,
formações: se cada produto é um mi- como a locação de equipamentos.
croestoque, ter os dados sobre ele é o Criação de empregos. A Organi-
que nos leva a um patamar elevado de zação Internacional do Trabalho estima
controle e gestão – dados e analytics que até 2030, num cenário de 5% de
da quarta revolução industrial tam- aumento na substituição de extração de
bém são aliados nessa gestão. Upskil- recursos naturais por reciclagem, have-
ling e reskilling, dos profissionais e rá um aumento de 95 milhões de novos
da empresa, serão necessários. postos de trabalho nos setores de servi-
4. Condições sistêmicas viabi- ços e gestão de resíduos – em reparo, MARCELO SOUZA é
lizadoras. A produção circular só remanufatura, reciclagem... CEO da Indústria
vai ganhar maior produtividade com Fortalecimento local. Por mudar Fox – Economia
os mecanismos de mercado. Estes o conceito de consumidor para o de Circular e presidente
terão papel fundamental ao buscar utilizador, a economia circular fomenta do conselho de
o apoio de políticas públicas, insti- muito a área de serviços e, naturalmen- administração da
tuições de ensino e formadores de te, estimula a localização dos negócios, Ilumi Materiais 41
opinião. Tais mecanismos incluem criando uma economia mais resiliente e Elétricos, conselheiro
promoção de colaboração, revisão de menos suscetível a crises globais. do Centro das
incentivos, estabelecimento de regras Negócios colaborativos. Econo- Indústrias do
ambientais internacionais adequadas Estado de São Paulo
mia circular é perfeitamente compatí-
e acesso facilitado a financiamentos. (Ciesp) – Regional
vel com a economia de mercado, mas a
É isso que vai motivar cada vez mais Jundiaí. Engenheiro
abordagem às relações comerciais, hoje
investidores a mergulhar na onda. de formação –
mais competitiva, torna-se mais colabo-
bacharelado que
rativa, como nos ecossistemas digitais.
Por fim, a Ellen MacArthur Founda- ele financiou
tion propôs a representação visual da A UNIÃO EUROPEIA ESTÁ EVOLUIN-
vendendo sucatas
circularidade, que batizou de diagrama DO RÁPIDO rumo à economia circular,
de papelão –, tem
borboleta. [Veja figura à esquerda.] com a criação de condições sistêmicas especializações em
viabilizadoras de que falamos. E o Bra- transformação digital
pelo Massachusetts
mudanças no horizonte sil? Começamos a olhar para o assun-
Institute of
to na Conferência Eco-92, sediada no
Se o fornecimento tem tirado o sono Rio, ao definir que teríamos uma po- Technology (MIT) e
dos gestores, não depender de recur- lítica nacional de resíduos sólidos. E, em economia circular
sos naturais para crescer é uma chan- após 21 anos de debates, em 2013, nossa pela University
ce de voltar a dormir bem. Negócios principal condição viabilizadora nasceu. of California em
pautados na economia circular não A PNRS proporciona instrumentos Berkeley. Este
são impactados pela elevação dos pre- práticos para coleta seletiva, logística artigo é baseado nos
ços das matérias-primas, como vemos reversa, descarte de resíduos sólidos highlights de seu
agora e veremos cada vez mais se a ex- desenvolvimento de cooperativas de ca- livro recém lançado
tração continuar a ser acima do ponto tadores e da cadeia da reciclagem etc. O Economia Circular: o
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

de regeneração. A segurança no forne- prazo-limite para os municípios se ade- mundo rumo à quinta
cimento é uma das novidades da nova quarem vem sendo prorrogado – agora revolução industrial.
economia. Veja outras: é 2024 –, mas já entramos no jogo.

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