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Projeto de vaso de pressão pelo ASME e software de

elementos finitos

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Felipe de Almeida Rosa
Tuani da Silva Carvalho 2

Resumo
O seguinte trabalho objetivou o dimensionamento de um vaso de pressão seguindo o
código ASME Seção VIII, Divisão I, e com determinados valores pré-estabelecidos, foi
possível calcular a espessura mínima do casco e dos tampos elípticos do vaso de
pressão. Com os valores geométricos obtidos, fez-se um modelo 3D e simulou-se as
condições indicadas no problema. Ao comparar os resultados analíticos e numéricos,
obteve-se valores interessantes, corroborando a semelhança dos resultados obtidos
pelas equações da norma e analisando por software de elementos finitos Fusion 360.

Palavras-chave: Vaso de pressão; ASME; FEA; NR 13

Introdução
Os vasos de pressão desempenham um papel fundamental em inúmeros
processos
industriais, desde plantas químicas até instalações de geração de energia. Esses
recipientes contêm fluidos ou gases sob diferentes níveis de pressão, tornando o seu
projeto e construção de importância primordial. Dimensionar corretamente um vaso
de pressão é um passo crítico para garantir a sua segurança, eficiência e longevidade.
A Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos (ASME) estabeleceu um
conjunto de normas globalmente reconhecidas para o projeto, fabricação e inspeção
de vasos de pressão. Adotar os códigos da ASME não é apenas uma recomendação,
mas

1 Graduando em Engenharia Mecânica. E-mail: felipe.almeida@aluno.cefet-rj


2 Graduando em Engenharia Mecânica. E-mail: tuani.carvalho@aluno.cefet-rj.br
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um requisito fundamental para garantir a integridade estrutural e a confiabilidade


operacional desses recipientes.
O uso de software de Análise de Elementos Finitos (FEA) surge como uma
ferramenta indispensável no processo de projeto e validação de vasos de pressão.
Ele permite aos engenheiros simularem e analisar o comportamento estrutural de
geometrias complexas sob diferentes condições de carga. Ao dividir o recipiente em
elementos discretos, o software de FEA calcula distribuições de tensão, deformações
e outros parâmetros críticos. Isso possibilita a identificação de áreas de preocupação
e a otimização do design para atender aos requisitos de segurança e desempenho,
além de possibilitar a realização de testes virtuais antes da construção física do vaso
de pressão. Isso evita retrabalhos e ajustes dispendiosos, resultando em projetos mais
eficientes e econômicos.
Um dos principais objetivos de dimensionar um vaso de pressão de acordo com
as normas da ASME é assegurar que ele possa suportar as forças internas e externas
que encontrará durante sua vida operacional. Isso inclui considerações para fatores
como pressão, temperatura, propriedades do material e condições ambientais. Não
levar em conta adequadamente essas variáveis pode resultar em falhas catastróficas,
representando riscos significativos para pessoal e infraestrutura circundante.

ASME
O código ASME foi criado em 1911, ainda como Comitê de Caldeiras do ASME,
com a publicação da primeira edição do Código em 1914-1915, exclusivamente para
caldeiras estacionárias (Seção I). Em 1924 seria publicada a Seção VIII, referente a
vasos de pressão não sujeitos a chama. Até a década de 60 era exigido apenas que
a espessura do equipamento fosse capaz de suportar a tensão máxima atuante e que
o material fosse suficientemente dúctil, de forma a acomodar, sem riscos imediatos,
tensões de pico e tensões geradas em regiões de descontinuidades geométricas. Esta
parte corresponde a Divisão I.
A Divisão I da ASME estabelece regras para a determinação dos componentes
mais importantes do VP, casco, tampos, reduções, flanges, bocais e reforços,
submetidos à pressão externa ou interna. Ela também informa sobre outras cargas e
reforços que devem ser considerados, porém não estabelece uma metodologia para
isto.
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Essa Divisão é limitada a uma pressão interna máxima de 20,685 MPa, e


mínima de 0,103 MPa, para o caso de pressão externa está limitada a 0,103 MPa.
As tensões primárias de membrana, normais às paredes do vaso, induzidas
pelo carregamento imposto ao vaso não deverão ultrapassar os valores estabelecidos
para as tensões admissíveis. Em caso de existir tensões devido à carga de vento ou
sísmica, podemos majorar a tensão admissível em 20%.
Essa Divisão resume-se ao dimensionamento para a pressão nos
componentes principais. Ela não apresenta métodos de análises computacionais para
avaliação nesses componentes, das tensões resultantes e de esforços localizados.
Para essas análises, tem-se que consultar outra literatura.
A Divisão II da ASME é uma alternativa à Divisão I, pois adota critérios e
detalhes de projeto, fabricação, exames e testes mais rigorosos, como também,
tensões admissíveis superiores, e não limita a pressão de projeto. O critério de projeto
adota classificação de tensões para as mais usuais combinações de carregamento,
análise de fadiga para condições cíclicas do equipamento e gradientes térmicos, e a
análise de tensões em descontinuidades geométricas. É adotada a teoria da máxima
tensão de cisalhamento, Critério de Tresca, por sua facilidade de aplicação e por ser
adequada à análise por fadiga. A intensidade de tensão resultante não deve
ultrapassar a tensão máxima admissível.

Categorização das tensões


Em um projeto baseado na análise elástica, diferentes tipos de carregamentos
ou tensões requerem limites de tensões admissíveis diferentes. A ASME VIII define
as seguintes categorias de tensões:
• Tensões Primárias:
(a) Tensões de membrana primárias gerais, (Pm);
(b) Tensões de membrana primárias locais, (Pl);
(c) Tensões de flexão primárias, (Pb).

• Tensões Secundárias, (Q).


• Tensões de Pico, (F).

A tensão primária é a tensão desenvolvida por um carregamento imposto,


necessária para satisfazer as leis de equilíbrio das forças internas e externas e dos
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componentes atuantes. Já a tensão secundária é a tensão desenvolvida pelo auto


restrição da estrutura, com base no fato de que este sistema é um sistema virtual e
que o seu ciclo de funcionamento, condição de operação, não foi determinado. Deve
ser satisfeito um padrão de deformação imposto em vez de equilíbrio com
carregamentos externos. E por fim, a tensão de pico, é a maior tensão numa região
considerada do equipamento. Sua importância está, na maioria das vezes, ligada à
sua utilização como fonte de falha por fadiga.
Nos códigos de projeto, tem-se que as tensões admissíveis da divisão 2 são
expressas em função de múltiplos dos valores da tensão admissível que vemos na
divisão 1.

Fonte: ASME
Figura 1 - Tensões admissíveis em função de múltiplos valores da tensão admissível

As regiões destas tensões são mostradas na tabela 4.1 da ASME.


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E os limites da intensidade é demonstrado na tabela 4.2 da mesma divisão.


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NR 13
A NR envolvendo vasos de pressão é a NR-13, que especifica procedimentos
obrigatórios onde estão localizadas caldeiras de qualquer origem monitoramento de
energia, projeto, operação e manutenção, inspeção e supervisão de inspeção de
caldeiras e vasos de pressão de acordo com regulamentações profissionais nacionais
atuais. A última atualização desta NR foi concluída 28 de abril de 2014. Como
inovação, os pipelines serão considerados vasos de pressão e, portanto, devem ser
avaliados.
Para a classificação de um vaso de pressão é necessário analisar o produto da
pressão máxima de operação em kPa e o volume interno em 𝑚3 .
7

Fonte: NR13
Figura 2: Classificação de categoria de vasos de pressão

Geometria

Antes de aplicar as equações da norma ASME Seção VIII Divisão I, é


importante entender a geometria do vaso de pressão e dos componentes presentes
neste projeto. No enunciado do problema, é dito que o diâmetro interno do caso é de
600 mm, com comprimento entre tangentes de 1500 mm. Sobre os tampos, é dito que
são dois tampos elípticos, com trecho reto de 40 mm. A pressão de projeto é de 2
MPa, onde pode operar até a 85 ºC. O material para a construção dos tampos e do
casco é SA-516 Gr.70. Além disso, neste projeto há a inclusão de 2 bocais, sendo um
weld neck e long weld neck, de 4 e 2 polegadas de diâmetro, respectivamente.
Conforme ilustrado na norma N 2054, da Petrobras, todo vaso de pressão precisa de
bases. Sendo elas na vertical ou horizontal.
Como estas geometrias independem da espessura do casco e tampo,
apresentar-se-á, então, a geometria dos supracitados componentes.

Geometria dos tampos


A partir do diâmetro interno indicado pelo enunciado, o método utilizado para a
criação do tampo consistiu em analisar o seguinte catálogo da Codismon. Percebe-se
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que há 2 tampos elípticos possíveis, sendo eles o NR 21 e NR 65. Nestre trabalho, foi
selecionado o tampo NR21, pois ele possui um melhor desempenho com tensões
locais devido ao seu maior raio knuckle.

Figura 3 –Tampo NR21 da Codismon

Geometria do casco
A geometria do casco é um cilindro com diâmetro de 600 mm, com 1420 mm
de tamanho. Note que o comprimento entre tangentes leva em consideração a parte
reta dos tampos.

Figura 4 –Geometria do casco com os tampos


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Geometria do suporte horizontal


Utilizando a norma N 2054, tendo em vista o diâmetro do casco, as dimensões
do suporte horizontal, ou sela, ficaram com as seguintes medidas:

Figura 5 e 6 – Geometria do suporte horizontal do vaso de pressão, com vista isométrica

Geometria do suporte vertical


Novamente, utilizando a norma N 2054 como base foi possível realizar o
projeto. Note que foi colocada uma placa de apoio para facilitar a soldagem entre o
vaso de pressão e a coluna. A parte inferior da chapa será soldada na linha de
tangência inferior do vaso.
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Figura 7 e 8 –Geometria do suporte vertical do vaso de pressão

Geometria do weld neck


A geometria do pode ser obtida através de catálogo de fabricantes. Nesse caso,
este foi o catálogo utilizado. Assim, a geometria ficou:

Figura 9 –Geometria do weld neck


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Note que, segundo o catálogo, o dimensionamento é restrito apenas ao flange.


O tubo que sai do vaso de pressão foi dimensionado pelos autores deste trabalho.
Para tal, foi escolhido um tubo com o diâmetro interno do flange, que é de 4 polegadas,
e foi atribuída a espessura desse tubo de 5 mm. Para checar se o tubo resistia a essa
pressão, foi feito uma análise numérica, onde obteve-se o seguinte resultado:

Figura 10 – Ensaio do tubo com 5 mm de espessura do weld neck

Por isso, conclui-se que a espessura de 5 mm é segura, pois a tensão de Von


Mises atuante na peça gerou um fator de segurança superior a 3. O tubo utilizado no
flange possui um comprimento de 100 mm.

Geometria do long weld neck


Tal como ilustrado na seção anterior, a geometria do long weld neck pode ser
obtida através de catálogo de fabricantes. Nesse caso, este foi o catálogo utilizado.
Assim, a geometria ficou:
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Figura 11 – Geometria do long weld neck

Note que o catálogo indica uma grande espessura para o tubo, bem superior
aos 5 mm dimensionado anteriormente.

Metodologia e resultados
Estudo analítico
A Divisão I da ASME estabelece regras para a determinação os componentes
mais importantes do Vaso de pressão, casco, tampos, reduções, flanges, bocais e
reforços, submetidos à pressão externa ou interna. Ela também informa sobre outras
cargas e reforços que devem ser considerados, porém não estabelece uma
metodologia para isto. Essa Divisão é limitada a uma pressão interna máxima de
20,685 MPa, e mínima de 0,103 MPa. As tensões primárias de membrana, normais
às paredes do vaso, induzidas pelo carregamento imposto ao vaso não deverá
ultrapassar os valores estabelecidos para as tensões admissíveis.
Sabendo que temos análise para toda a solda ensaiada radiograficamente
(100%) e 85% da solda ensaiada, análise em espessura não considerando a adição
para a corrosão e espessura considerando essa adição, foi-se dividido os cálculos
para a espessura, pressão máxima e tensão no casco e tampo em 4 partes os dados
para o cálculo seguem na tabela 1.
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Tabela 1 – DADOS DE PROJETO


Dados Valores

Raio interno (R) 300 mm

Pressão interna de projeto (P) 2MPa

Espessura para corrosão (C) 1,6 mm

Temperatura de projeto 85 ◦ C

Redução por conformação (%) 37%

Altura máxima do fluido 1500 mm

Fluido Água

Material SA – 516 Gr 70

Limite de escoamento (𝑆𝑦 ) 260MPa

Tensão admissível (𝑆𝑎𝑑𝑚 ) Divisão 1 137,7 MPa

Pressão de operação (𝑃𝑜 ) 1,5 MPa

Comprimento entre tangentes (L) 1500mm

Comprimento do trecho reto do tampo 40 mm

Telles [1] nos traz em seu livro as seguintes equações, estas que seguem a
norma da ASME divisão 1.

Equações para dimensionamento:

• Para o tampo 2:1 elíptico


Espessura mínima (Considerando a redução na conformação)

𝑃𝑅
𝑒 = (𝑆𝐸 − 0,1𝑃 + 𝐶) ⋅ 1,37

Pressão máxima de trabalho admissível


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𝑆𝐸𝑒
𝑃𝑀𝑇𝐴 = 𝑅−0,1𝑒

Tensão circunferencial (ASME 2010)

𝑃𝐿𝑀
𝑆𝑡𝑎𝑚𝑝𝑜 = + 0,1 𝑃
2𝑒

Sendo que M é o fator de correção

1
𝑅 2
𝑀 = 0,25 [3 + (𝐿) ]

• Para o casco cilíndrico

Espessura mínima
𝑃𝑅
𝑒 = (𝑆𝐸 − 0,6𝑃 + 𝐶)

Pressão máxima de trabalho admissível

𝑆𝐸𝑒
𝑃𝑀𝑇𝐴 = 𝑅−0,6𝑒

Tensões
𝑃𝑜 𝑅
𝜎𝜃 = 𝑒

𝑃𝑜 𝑅
𝜎𝑙 = 2𝑒

Tensão crítica Div 1

𝑃𝑅 1
𝑆 = ( + 0,6 𝑃 ) ⋅ ( )
𝑒 𝐸

Análise para 100% da solda ensaiada


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Para o casco a tensão mais importante para a análise dos resultados pela
divisão 2, é a tensão circunferencial.

Tabela 2 – Espessuras, PTMA e tensões para condição de 100% da solda ensaiada

Tampo Casco

C=0 C=1,6 C=0 C=1,6


4,38 mm após 5,98 mm após 4,42 mm 6,02 mm
conformação conformação

2,0 MPa 2,7 MPa 2,0 MPa 2,7 MPa

257,96 MPa 188,79MPa 102,38 MPa 75,05 MPa

Análise para 85% da solda ensaiada

Tabela 3 – Espessuras, PTMA e tensões para condição de 85% da solda ensaiada

Tampo Casco

C=0 C=1,6 C=0 C=1,6


5,16 mm após 6,76 mm após 5,21 mm 6,81 mm
conformação conformação

2,0 MPa 2,7 MPa 2,0 MPa 2,7 MPa

219,23 MPa 167,19 MPa 86,88 MPa 66,85 MPa

Levando em consideração que não se encontra comercialmente chapas para a


fabricação exatamente nessas espessuras. Para os quatro casos de análise temos
uma espessura mínima comercial para o casco e para o tampo:

• Espessura comercial mínima para o Casco = 8mm = 5/16”


• Espessura comercial mínima para o Tampo = 12,7 mm = ½"
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No tampo, tendo em vista a conformação, a espessura final da fabricação ficará


com 8 mm.

Análise de tensões Divisão 2


Tensão primária de membrana generalizada (𝑃𝑚 ) existente em locais longe de
descontinuidades e concentrações de tensão, ocasionadas por forças mecânicas.
Sendo assim temos a TMG se encontra neste projeto, na área total do casco e no
centro do tampo, e podemos calculá-la como sendo a tensão circunferencial.
Tensão de Membrana Localizada (𝑃𝑙 ) existente próximos a descontinuidades,
ocasionadas por forças mecânicas. Sendo encontrada nas áreas da descontinuidade
das soldas, entre tampo e casco, casco e bocal, e bocal e tampo.
Tensão de Flexão (𝑃𝑏 ) existente em locais longe de descontinuidades e
concentrações de tensão, ocasionadas por forças mecânicas. Que quando analisada
𝑅
em vasos de pressão de parede fina 𝑒
≥ 10 pode ser considerada depressível.

Sabendo disso, a figura 1 mostra quais são as limitações para essas tensões.
Para a tensão de membrana generalizada temos no casco, com os valores analíticos
a seguir utilizando a espessura mais crítica:

2
𝑃𝑚 ≤ 𝑆𝑎𝑑𝑚 ≤ 𝑆
3 𝑦

𝜎𝜃 = 102,38 𝑀𝑃𝑎 = 𝑃𝑚 ≤ 137,7 𝑀𝑃𝑎 ≤ 173,33 𝑀𝑃𝑎

No tampo, tem-se no topo tensão de membrana e flexão.

𝑃𝑙 + 𝑃𝑏 ≤ 1,5 𝑆𝑎𝑑𝑚 ≤ 𝑆𝑦

206,55 𝑀𝑃𝑎 ≤ 𝑃𝑙 = 𝑆𝑡𝑎𝑚𝑝𝑜 = 222,33 𝑀𝑃𝑎 + 𝑃𝑏 = 0 ≤ 260𝑀𝑃𝑎

Pela divisão 1 a tensão analítica no tampo ultrapassa o limite da tensão admissível,


porém na divisão 2 a tensão admissível é de 166,2 MPa sendo assim, o valor de 𝑆𝑡𝑎𝑚𝑝𝑜
aceito.
Próximo à mudança de curvatura as tensões são as principais e flexão
secundária.
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𝑃𝑙 + 𝑃𝑏 + 𝑄 ≤ 3 𝑆𝑎𝑑𝑚 ≤ 2 𝑆𝑦

Nas áreas de ligamento, casco/tampo, casco/bocal, tampo/bocal as tensões atuantes


são as mesmas.

𝑃𝑙 + 𝑃𝑏 + 𝑄 ≤ 413,1 𝑀𝑃𝑎 ≤ 520𝑀𝑃𝑎

Estudo numérico
Os estudos numéricos foram realizados no software Fusion 360. Este software
foi escolhido pela praticidade de poder modelar e simular no mesmo ambiente. Os
modelos 3D dos bocais, do tampo e do casco foram feitos conforme ilustrado nos
desenhos técnicos supracitados. A espessura do casco e tampo adotados foram de
4.4 mm. A primeira análise feita envolve o vaso de pressão na horizontal, sem flanges.
Na próxima figura, ilustra-se a distribuição de tensões ao longo do vaso de pressão
sem bocal e na posição horizontal.

Figura 12 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na horizontal

Esta análise denota que as pressões mais altas estão presentes nos tampos
do vaso de pressão, onde há tensões de membrana e flexão. Na figura abaixo, exibe-
se as tensões no modelo que sejam inferiores à 138 MPa.
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Figura 13 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na horizontal abaixo de 138 MPa

Agora, exibe-se onde ocorrem tensões superiores a 138 MPa. As regiões


críticas se concentram no tampo, principalmente na curva knuckle. A curvatura do
tampo NR 21 faz com que haja a soma de diversas tensões nesta região.

Figura 14 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na horizontal acima de 138 MPa

Figura 15 – Deformações no vaso de pressão sem flanges na horizontal


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Note que a região onde encontra-se o pico de tensão, em comparação às dimensões


do vaso de pressão, é relativamente pequena. É necessário atentar-se a esta região,
pois pode ser um foco de formação de trincas. Pelo fato de a tensão de pico ser inferior
ao dobro do limite de escoamento, considera-se que 285 MPa é um valor aceitável.
Na próxima figura, ilustra-se o comportamento da deformação ao longo do vaso
de pressão.

Figura 16 – Deformações no vaso de pressão sem flanges na horizontal

A segunda análise é feita com o vaso de pressão na horizontal e com flanges.


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Figura 17– Tensões no vaso de pressão com flanges na horizontal

Tal como no caso do vaso sem bocais, há a concentração de tensões na curva


knuckle do tampo. Porém, devido à remoção de área para posicionar os bocais, o
sistema acabou sendo fragilizado. Note que na base dos bocais, as tensões variam
entre 30 e 60 MPa. O bocal de 4 polegadas apresenta a maior deformação, devido a
sua menor espessura do tubo, de 5 mm.

Figura 18 – Deformações no vaso de pressão com flanges na horizontal


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Vale ressaltar que o volume removido para colocar os bocais foi recolocado no
formato de anel de reforço. O diâmetro interno do anel de reforço (d) é o diâmetro
externo do tubo. Para calcular o diâmetro externo do anel (D), utilizou-se a seguinte
equação:
𝜋 2
𝐴 = 𝑑
4

Essa área é a área removida pelo tubo conectado ao costado ou ao tampo do


vaso de pressão.
𝜋 2 𝜋
𝑑 = (𝐷2 − 𝑑 2 )
4 4

Essa equação relaciona a área removida com a área do anel de reforço. Essa
equação parte do pressuposto de que a espessura do anel é a mesma da chapa que
dá origem ao casco e tampo, neste caso, aproximadamente 4.4 mm. Fazendo um
rearranjo algébrico, é possível chegar nesta relação para descobrir o diâmetro externo
do anel.
𝐷 = √2 ⋅ 𝑑

A próxima análise é feita com o vaso de pressão na vertical, sem flanges.


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Figura 19 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na vertical

Figura 20 – Deformações no vaso de pressão sem flanges na vertical

Nota-se que na vertical as tensões ficam menores. Durante a realização deste


trabalho, foi possível notar que o posicionamento e espessura da chapa que fica em
contato com o vaso de pressão são muito relevantes na obtenção da tensão de von
Mises.
A análise do vaso na vertical com flanges segue abaixo:
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Figura 21 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na vertical

Figura 22 – Tensões no vaso de pressão sem flanges na vertical

Para facilitar na compreensão dos resultados analíticos obtidos, expor-se-á os


valores na tabela 4.

Tabela 4 – Resultados numéricos obtidos


Sem bocais Com bocais

Tensão máxima Deformação Tensão máxima Deformação


(MPa) máxima (mm) (MPa) máxima (mm)

Horizontal 285.97 0.82 286.64 0.85

Vertical 268.7 0.9 273.71 0.90

Classificação
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Segunda a NR13, podemos classificar o vaso de pressão apenas sabendo seu fluido
de trabalho, pressão e volume interno. Volume interno do vaso é de 0,016𝑚3 e a
pressão de 2000kPa. Com base na figura 2, temos:

Tabela 5 - Classificação do vaso de pressão


Classe Grupo Categoria

D ΙΙΙ 𝑉

Custo

No site de venda Alibaba, é possível comprar chapas de aço AS 516 gr 70 por


tonelada. Utilizando a espessura de parede de 4,4 mm, a massa do vaso de pressão
ficou em 130 kg, aproximadamente. Desta forma, seria necessário comprar a cota
mínima de 1 tonelada de aço, sob o custo de 600 dólares, desconsiderando o frete. O
flange weld neck da categoria #150 pode ser encontrado no Mercado Livre por 340
reais, desconsiderando o frete. Flange long weld neck de 2 polegadas e categoria
#150 pode ser encontrado neste site a 247 dólares, desconsiderando o frete. Desta
forma, o custo geral gira em torno de, no mínimo, nas cotações atuais, com dólar a
aproximadamente 4,9 reais, de 4,490 reais.

Discussão
O resultado obtido analiticamente e numericamente coadunam no sentido de
que, ao analisar as tensões no costado, observa-se uma tensão de membrana de
acordo com o dimensionado, girando em torno de 138 MPa, tanto na vertical, quanto
na horizontal, com e sem bocais. Já na região do tampo, onde devido às
características geométricas, há uma concentração de tensão, causando um fator de
segurança variando entre 0,9 e 0,95 nas 4 situações analisadas. Ressaltando que as
tensões de pico, utilizadas no cálculo do fator de segurança, ocorriam em áreas
diminutas em relação à geometria total do vaso de pressão. Conforme explicitado na
literatura acerca de vasos de pressão, essas tensões de pico são mais utilizadas para
identificar possíveis áreas de ocorrência de trincas do que como critério de falha
catastrófica.
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Conclusão

A utilização de MEF no projeto de vasos ainda está limitada pela necessidade


de alto investimento em softwares como ANSYS, além da necessidade de treinamento
para correta utilização dos mesmos. Um elemento mal escolhido ou executado de
MEF apresentará uma solução numérica válida mesmo que esse modelo não
represente corretamente o que se deseja analisar. Logo, não é recomendável utilizar
softwares tão avançados sem conhecer a teoria de Elemento Finitos.
Considerando a compreensão da ASME Div 1 e 2, os resultados obtidos neste
trabalho são satisfatórios levando em conta o tempo e capacidade de processamento
disponível. As tensões encontradas no costado e no tampo são próximas àquelas
encontradas no método analítico.
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Referências

[1] TELLES, Pedro C. Silva Livro VASO DE PRESSÂO 2ªed LTC 1996

ASME. 2010. American Society of Mechanical Engineers Boiler and Pressure Vessel
Code, Section VIII, Division 1, Pressure Vessels. New York: ASME

ASME. 2019. American Society of Mechanical Engineers Boiler and Pressure Vessel
Code, Section VIII, Division 2, Pressure Vessels. New York: ASME

SILVA, Adson Beserra. PROJETO DE VASO DE PRESSÃO SEGUNDO NORMA


ASME E ANÁLISE PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS, Recife 2015

GUIMARÃES, Ângela. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CRITÉRIOS DO CÓDIGO


ASME, SEÇÃO VIII DIVISÃO 1 E DIVISÃO 2, PARA TENSÕES DE CASCAS
DELGADAS DE REVOLUÇÃO, USANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS.
Rio de Janeiro 1987

Manual simplificado de projeto mecânico e de fabricação de Vasos de Pressão


conforme Código ASME Sec VIII Div 1 < https://www.petroblog.com.br/wp-
content/uploads/Manual-projeto-mecanico-vasos-de-pressao-ASME-VIII-1.pdf>

NORMA. NR-13, Caldeiras e Vasos de Pressão, 2014

PACHECO, Maurício Rangel; DA SILVA, Roberto Monteiro Basto; PACHECO, Pedro


Manoel C. L.; Introdução ao Método de Elementos Finitos com Utilização do Software
ANSYS®, CEFET-RJ.
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Anexo

Planilha de cálculos

Dimensionamento e simulação - Vaso de pressão de parede fina .xlsx

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