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Dengue o livro

Quinta-feira, 19 de novembro de 2009


Porque se acabou com a SUCAM?

O fim da SUCAM e o retorno da dengue e da febre amarela. Não podemos tratar destas doenças sem citar o
fim dos mata mosquitos da Sucam em 1991 na era Collor. A eliminação, pura e simples, da Sucam criou
problemas sérios para a rede básica de saúde. A volta da dengue e, principalmente da febre amarela e
consequência deste ato impensado.
É preciso lembrar que o guarda da Sucam foi o único funcionário público da saúde que todo brasileiro
conhecia e confiava. Acreditamos que se devem passar as endemias de menor repercussão para os estados ou
municípios, como já foi feito com as verminoses intestinais. Mas no nosso entender o combate ao Aedes, que
agora já são dois: aegypti e albopictus deveriam passar a ser feito por um serviço centralizado como foram o
mata mosquito da Sucam. Em 22 de maio de 1970, o Decreto nº 66.263 criou a Superintendência de
Campanhas de Saúde Pública (Sucam). A atuação da Sucam, como anunciava o próprio nome da instituição,
caracterizou-se por equipes fardadas, submetidas a uma rígida hierarquia e disciplina, e eram preparados
para as condições de trabalho em campo; de grande mobilidade e eficácia, realizavam a busca ativa dos
pacientes, mesmo os das comunidades e povoados de mais difícil acesso, que eram cuidadosamente
documentados e tinham seus domicílios periodicamente recenseados e recadastrados os dados demográficos.
Os dados da Sucam, eram considerados mais precisos e confiáveis que os do próprio Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).

A Sucam era o único serviço público disponível em muitos desses povoados. Entre eles mesmos recrutavam-
se funcionários e os capacitavam em nível médio; assim, mantinham e facilmente criavam laços de amizade
entre as comunidades em que atuavam, conquistando a simpatia, o respeito e a colaboração da população
estratégia à qual se deve, portanto, em grande medida, seu sucesso operacional. Porque a Sucam era um
órgão de administração direta, as endemias eram pesadas e a Sucam sempre trabalhou bem nisso, ou seja, na
parte verticalizada. A Sucam não dava a mínima para os administradores locais, porque a responsabilidade
dela era traçar, jogar seus contingentes e sufocar a endemia. É possível perceber a importância da autonomia,
da ex-Sucam, em relação aos interesses de políticos locais e regionais, para assegurar o caráter técnico do
planejamento e a qualidade das ações executadas o que, definitivamente a recém-fundada Funasa não
herdou. Os indicadores de saúde atualmente disponíveis e mais frequentemente utilizados estão
desagregados por municípios, e não permitem traçar, em grandes linhas, o perfil epidemiológico da
população, características gerais das redes de serviços públicos e de saúde; que não permitem identificar as
grandes diferenças entre os perfis epidemiológicos e as necessidades de habitantes do perímetro urbano, das
de comunidades rurais do mesmo município, por exemplo. Enquanto nossa legislação supõe a socialização
de condições básicas para o exercício da cidadania, a ideia de que todos os usuários do SUS tenham
condições de ao menos chegar às "portas de entrada" do sistema, e de participar e se fazer representar em
suas instâncias de controle social. Entre as distorções e dificuldades mais frequentemente enfrentadas pelos
Conselhos Municipais de Saúde estão à ingerência dos gestores na definição de sua representação de
usuários e o controle daqueles sobre a agenda e dinâmica das reuniões: sobretudo em municípios de
população predominantemente rural, suas reuniões ficam condicionadas à liberação dos recursos, à vontade
política de Secretários de Saúde e Prefeitos. Vivemos, portanto num país de faz de conta. Acreditamos que
determinadas políticas de saúde devam ser centralizadas e outras descentralizadas. Prova disto que
afirmamos foi à declaração do excelente ministro da saúde no Rio do janeiro num domingo de abril: O
ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse neste domingo que estava previsto o elevado número de
casos de dengue com mortes sob análise no município de Itabuna (BA), que decretou situação de emergência
por conta da epidemia. "O que houve ali foi uma crônica da morte anunciada", afirmou Temporão, após o
lançamento do Plano Nacional de Atividade Física, no Rio de Janeiro. Segundo o ministro, durante as
eleições, no final do ano passado, apesar dos alertas da pasta, o trabalho de combate ao mosquito da dengue
foi interrompido na cidade. "O processo eleitoral lá parou o trabalho de combate ao vetor (mosquito Aedes
aegypti). Quando a nova administração entrou, era tarde demais", explicou.

"A prefeitura simplesmente desestruturou todo o sistema de combate ao vetor e, lamentavelmente, estamos
acompanhando isso", completou. Entendendo-se que vivemos num país extenso e com várias culturas e
situações dispares. Em muitas regiões temos acesso a serviços de saúde, mas não temos acesso a serviços de
qualidade em outros casos não há nem serviços ineficientes! Há muito ainda a fazer, felizmente algo está
sendo feito pelo governo federal e estadual da Bahia e do Rio do janeiro que conhecemos. Ainda a
esperança. Fica a pergunta, porque não copiar o método de Cuba que deu certo?
As histórias dos agentes da malária

Narciso Netto

Os agentes de saúde da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), antiga Sucam, que trabalham no tratamento e controle de
casos de malária, dentre outros agravos, no Estado do Acre, deveriam ser considerados heróis, pois desde o começo
enfrentam os mais diversos infortúnios e dificuldades no desempenho de suas funções. Houve uma época que somente eles
levavam saúde e informações para os mais isolados recantos dessa terra.

Conta a história que um dia durante umas das suas viagens de desobriga o padre Paolino Baldassari, personagem histórico
da região de Sena Madureira, chegou à uma colocação e achou que estava no local mais isolado do Acre, onde nunca
nenhum tipo de assistência do governo deveria ou poderia ter chegado. Mas, para sua surpresa, lá estava colada na porta a
ficha que os guardas de malária colocam e assinam durante suas visitas.

Atualmente, ainda há muitos desses guardas de malária ou “Seu Malária”, como são chamados nos seringais e colônias.
Mais, também há um grande contingente de aposentados e doentes por tanto tempo expostos aos mais diversos tipos de
inseticidas, como o DDT, que foi usado durante anos e pelas dificuldades do trabalho.

As dificuldades do serviço vêm do fato de que antigamente para se realizar um serviço de tratamento de malaria levavam-se
meses, pois não havia estrada asfaltada e às vezes nem mesmo estrada. O guarda passava vários períodos longe da família,
o que de certa forma gerou certo folclore sobre sua vida e trabalho.

É fato corrente entre eles que o guarda só tem data certa pra sair de casa e nunca uma data certa de voltar. Todos esses
fatos geraram muitas situações verídicas que passaram a ser tratadas como causos por quem as escuta hoje e não conhece
a realidade do trabalho desses heróis.

Quando foi criada, a antiga Superintendência de Campanhas (Sucam) tinha um regimento interno e uma hierarquia muito
semelhante com a dos militares. O guarda deveria estar, dentre outras coisas, sempre com a farda impecável e se
apresentar-se dizendo seu nome, seu posto, número e o número de sua turma sempre que na presença do supervisor ou
chefe de turma.

Aconteceu que certo dia, quando um supervisor foi até determinada turma que estava de folga e acampada em uma colônia
na BR 317, o primeiro guarda que ele viu, além de ligeiramente embriagado, não se apresentou como deveria. Então o
supervisor procurou o chefe de turma e o advertiu sobre o comportamento inadequado dos seus guardas. Assim que o
supervisor saiu o chefe da turma chamou o guarda e também o advertiu. Passados alguns dias o supervisor teve que voltar
até aquela turma só que assim que ele desceu do carro o guarda que havia sido advertido foi até ele bateu continência, se
apresentou como mandava o regulamento e arrematou: - Agora tu vai lá no meu chefe e diz de novo, fofoqueiro!

Outro fato verídico aconteceu na cidade de Envira, no Amazonas. Sabendo que ia acontecer um grande arraial na cidade, os
guardas de malária deixaram a embarcação em que viajavam na Foz do Envira e foram para a festança na cidade em uma
voadeira. No arraial, dois guardas começaram um flerte com duas irmãs, bem receptivas, que foram para a festa na
companhia da mãe, que vendo aquilo e sabendo da fama de namorador dos guardas de malaria ficou de olho.

Durante o arraial ficou combinado entre os guardas e as moças que assim que as luzes fossem apagadas na cidade -
naquela época as luzes eram apagadas depois das 22 horas - eles iriam até a casa delas, que deveriam armar as redes em
um local de fácil acesso, e iriam namorar em outro local com mais privacidade e liberdade.

Acontece que a velha mãe, prevendo o que poderia acontecer com as filhas, trocou de lugar com elas. Como tudo já estava
acertado, os guardas esperaram as luzes apagarem e foram até a casa para pegar as moças, só que para a surpresa deles
assim que eles tocaram nas redes chamando as namoradas quem acordou e foi logo fazendo um escândalo que acordou
toda a pequena cidade foi a velha que aos gritos de socorro tarado colocou os dois amigos pra correr até que conseguiram se
esconder em um barranco na beira do rio, onde esperaram tudo voltar a normalidade para em seguida sumir dali.

As histórias são muitas. Certa vez, em um ramal distante, um guarda se apaixonou por uma moradora local e resolveu que
iria trazê-la para a cidade e assumi-la como mulher. Mas, como a vida do “Seu Malária” nunca é fácil, a sua amada já era
casada, coisa fácil de revolver achou ele, já que ela também estava apaixonada por ele. Bastava roubá-la do marido, fugir
com ela para a cidade.

Ele contou sua intenção para a amada, que lhe disse que tal dia seria o ideal, pois seu marido não estaria em casa. Tudo
armado, chegou o tal dia e o combinado era que ele entraria na casa dela pela janela do quarto e sairiam direto pra cidade
antes do dia amanhecer. Quando a hora chegou o guarda apaixonado pulou a janela e na escuridão total foi até a cama da
amada, pegou sua mão e começou a chamá-la. Enquanto acariciava a sua mão, ele pensava: “Como é grossa e forte a mão
dela, deve ser porque ela trabalha no pesado, mas isso vai ser passado vou dar pra ela vida de rainha”.

Só então ele percebeu o estranho barulho de unhas roçando na parede de paxiúba. Ele então diz: “Meu amor, o que você
ainda ta procurando numa hora dessas?” E como resposta veio àquela voz grossa, que ele diz lembrar até hoje: “Tô
procurando meu terçado, que eu não sei onde coloquei, que é pra te matar cabra safado”. Há quem jure que o guarda pulou a
janela e foi correndo até a cidade mais próxima.

Todos esses fatos são verdadeiros e hoje são contados quando as turmas estão nas estradas, acampadas no mato ou de
favor em alguma casa de farinha nos ramais ou igarapés do interior. Quando as turmas de “Seus Malária” estão cuidando
anonimamente de acreanos que se encontram em locais onde somente eles e mais alguns ousam ir. O Acre deve muito a
esses homens e a hora de fazer esse reconhecimento está passando, mais alguns anos e talvez não se ouça mais alguém
dizer: “Bom dia ‘Seu Malária’, pode entrar”!

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