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Viviane Theiss
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – Universidade Regional
de Blumenau
Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala D 203- Bairro Victor Konder.
E-mail: vtheiss@al.furb.br
RESUMO
Este estudo tem como objetivo identificar as percepções de alunos e professores acerca da
avaliação interdisciplinar praticada no curso de Ciências Contábeis da Universidade Regional
de Blumenau. Como método de pesquisa, trata-se de uma pesquisa descritiva quanto aos
objetivos; um estudo de caso quanto aos procedimentos e qualitativa quanto à abordagem do
problema. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com o coordenador do
curso e a assessora pedagógica, além de um questionário com perguntas abertas distribuídas
para todos os professores e alunos da 3ª a 6ª fase do Curso de Ciências Contábeis, o montante
de respondentes caracterizou-se um total de 92 pessoas, destes 79 são alunos e 13 professores.
Procedeu-se também análise documental de relatórios de planejamento, do Plano Político
Pedagógico do curso e dos planos de ensino das disciplinas. Com os resultados processados é
possível concluir que a interdisciplinaridade deve permanecer no curso de Ciências Contábeis,
com a realização de encontros entre os professores no decorrer dos semestres, revisão das
estratégias e adaptação de melhorias sugeridas pelos alunos e outros professores, pois cada
turma é diferente, merecendo um tratamento específico.
1 Introdução
A universidade é um ambiente onde se promove a prática de investigação científica,
assim como, proporciona-se a formação do conhecimento de alunos críticos e criativos. Para
Gomes et. al. (2007), a investigação científica tem como objetivo a geração de conhecimento
e tecnologia, além de favorecer a expansão do saber. Os pesquisadores, como agentes da
pesquisa, contribuem para a promoção do processo da comunicação científica.
Entretanto, o modelo de educação, caracterizado como disciplinar e fragmentado, está
esgotado e não consegue gerar respostas aos problemas existentes, deste modo, o mundo atual
demanda profissionais com capacidade cognitiva e com competências sociais de nível
elevado, assim como flexibilidade, autonomia e disposição para adequação a ocorrências
1
novas (ALTHOFF, 2008). Neste contexto, as atividades dos docentes são caracterizadas pelo
desafio permanente em estabelecer relações interpessoais com os educandos, de modo que o
processo de ensino-aprendizagem seja articulado, além de fazer com que os métodos
utilizados cumprem com os objetivos a que se propõem (MAZZIONI, 2009).
Altheman (1998) apresenta a interdisciplinaridade como suporte à ciência e à pesquisa
no processo educacional, ajudando a minimizar o espaço vazio que se coloca entre a atividade
profissional e a formação acadêmica do indivíduo.
Planejamento é imprescindível para qualquer prática, inclusive a interdisciplinar.
Silveira (2005, p. 1) esclarece que “o planejamento é um processo que exige organização,
sistematização, previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir a eficiência e
eficácia de uma ação”. Neste caso, o projeto interdisciplinar deve, antes de tudo, ser discutido
e aprovado entre os docentes, para que haja uma harmonia no decorrer de sua realização,
inclusive para a sua posterior avaliação.
Avaliar, para Fazenda et al. (2009, p. 2), é “[...] atividade associada à experiência
cotidiana do ser humano, por isso, freqüentemente analisamos e julgamos os nossos
semelhantes, os fatos de nosso ambiente e as situações das quais participamos”. É por isso que
a prática interdisciplinar é um desafio para o professor, por ser mais dinâmica, se comparada
com outras formas de avaliação como, a prova escrita, por exemplo. O desafio para o aluno,
de ir a busca desse conhecimento fora da sala de aula, possibilita a existência de uma ligação
entre os conteúdos trabalhados e as disciplinas que compõem as matrizes curriculares dos
cursos de formação.
Por esses motivos que a questão problema deste estudo voltou-se a investigar: Qual a
percepção de alunos e de docentes acerca da avaliação interdisciplinar praticada no curso de
Ciências Contábeis da FURB? Deste modo, o objetivo deste estudo é identificar a percepção
dos alunos e professores acerca da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis.
Este artigo justifica-se pela interdisciplinaridade, no curso de graduação de Ciências
Contábeis, ter papel fundamental para a formação do contador, abrindo portas para múltiplas
compreensões dos fatos que norteiam a sua profissão, por meio da articulação das disciplinas
do curso, com outras áreas do conhecimento.
De acordo com Fazenda (1993), o problema da interdisciplinaridade geralmente é a
integração entre professores das equipes, conteúdos e metodologias das disciplinas adotadas,
programação dos cursos e expectativa dos educandos, com a formação recebida e a execução
das funções, posteriormente assumidas. Desta forma, é interessante verificar a efetivação da
interdisciplinaridade, analisando-se a percepção de professores e alunos, por meio da
avaliação interdisciplinar que ocorre em uma instituição de ensino superior, levantando os
principais avanços e limitações que estão ocorrendo no momento da prática, com a
possibilidade de adequação e sugestões de melhoria.
A escolha da instituição se justifica pelo curso de graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Regional de Blumenau realizar uma prática de avaliação interdisciplinar desde o
ano de 2008, por meio de um trabalho envolvendo diversas disciplinas ao longo de cinco
semestres consecutivos. Neste caso, analisou-se a percepção de alunos e professores, por meio
de entrevistas com o coordenador do curso responsável pelo planejamento e acompanhamento
da prática interdisciplinar, a assessora pedagógica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e
um questionário adaptado para professores e alunos do curso de Ciências Contábeis, além de
análise documental, como relatórios de planejamento, o Plano Político Pedagógico do curso e
os planos de ensino das disciplinas, no intuito de ver se o conceito de interdisciplinaridade e a
maneira como está sendo aplicada a proposta está adequada, bem como analisar entre as
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percepções de alunos de diferentes fases, se a prática interdisciplinar contribui para a sua
formação acadêmica.
Japiassú A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de
(1976) integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa.
Zabala É a interação de duas ou mais disciplinas. Essas interações podem implicar transferências de leis de
(1998) uma disciplina a outra, originando, em alguns casos, um novo corpo disciplinar.
A interdisciplinaridade a que se almeja deve ser encarada na sua dimensão histórica, e sua prática
Bufrin exige um processo em que as ciências não sejam tratadas como disciplinas isoladas e os objetos
(1998) passem a ser tratados em seu contexto.
Processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de
integração das disciplinas do currículo escolar, entre si, e com a realidade, de modo a superar a
fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer
Luck criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo a serem capazes de enfrentar os
(1995) problemas complexos, amplos e globais da realidade atual.
Na interdisciplinaridade se estabelece uma interação entre duas ou mais disciplina, em que cada
Passos disciplina em contato é modificada e passa a depender, claramente, das outras. O enriquecimento é
(2004) recíproco e acontece uma transformação de suas metodologias de pesquisa e de seus conceitos.
Figura 1 - Definições de interdisciplinaridade
Fonte: Adaptado de Padoan e Clemente (2006) e Fazenda (1993).
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disciplinas aplicadas em sala de aula, que proporcionam uma visão geral do contexto da
profissão pretendida.
Contudo, Fazenda (1993) esclarece que nas universidades, a prática interdisciplinar é
praticamente inexistente, existindo somente em uma escala bastante reduzida, ou de modo
escamoteado, quase imperceptível, de certos encontros pluridisciplinares. Todavia,
geralmente tais encontros se realizam apenas com práticas individuais, deixando de lado, o
que a autora esclarece, como uma atitude feita de curiosidade, de sentido da aventura, das
relações existentes entre as coisas e que escapam da observação comum, pois o
interdisciplinar cultiva o desejo de enriquecimento por enfoques novos, combinação das
perspectivas, ultrapassando os caminhos já batidos e dos saberes já adquiridos, instituídos e
institucionalizados.
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problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser
humano.
Isso quer dizer que os alunos, a partir da prática interdisciplinar, poderão ter livre
acesso a diversos campos do conhecimento, não se fixando exclusivamente da didática e do
conteúdo apresentado em sala de aula, sendo estes, muitas vezes insuficientes ou limitados,
impossibilitando conhecimentos extras, que geralmente só a prática profissional estabelece e
que os alunos estarão convivendo após a sua formação.
3 Metodologia
Neste estudo identificam-se as percepções de alunos e professores acerca da avaliação
interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis, configurando-se quanto aos objetivos, como
uma pesquisa descritiva. Quanto aos procedimentos da pesquisa, caracteriza-se como um
estudo de caso, no qual o pesquisador aprofunda seu conhecimento a respeito de determinado
caso específico. Para Yin (2005, p. 20), “[...] estudo de caso permite uma investigação para se
preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real”.
Neste caso, foi definida uma instituição de ensino superior para analisar-se a prática
da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis. A instituição escolhida foi a
Universidade Regional de Blumenau – FURB, que desenvolve a prática interdisciplinar há
três anos no curso. Esta prática é realizada em cinco fases, das oito que compõem a matriz
curricular deste curso, ou seja, em um bom período da formação acadêmica. Desta forma,
quanto à abordagem do problema desta pesquisa, enfatiza-se a abordagem qualitativa, que
segundo Raupp e Beuren (2009), trata de uma análise mais profunda em relação ao fenômeno
que está sendo estudado, destacando características não observadas por meio de um estudo
quantitativo, podendo ser uma forma adequada para conhecer a natureza de um fenômeno
social.
De acordo com o objetivo deste artigo, os dados foram coletados por meio de
entrevistas realizadas com a coordenação do curso de Ciências Contábeis e a assessora
pedagógica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. A documentação utilizada foi à
disponível no sítio eletrônico da universidade, relatórios de planejamento efetuado pelos
organizadores da prática, o PPP do curso e os planos de ensino das disciplinas, além de um
questionário com perguntas abertas distribuído para todos os professores das disciplinas
envolvidas, bem como os alunos do curso.
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Alunos e professores que realizam a prática interdisciplinar do curso de
Universo 179
Ciências Contábeis, do segundo ao sexto semestre
Alunos e professores que já realizaram e estão realizando a prática
Amostra 157
interdisciplinar do curso de Ciências Contábeis, do terceiro ao sexto semestre
A amostra da pesquisa foi subdividida em dois grupos: grupo de alunos e de professores que responderam
Total de 92 respondentes:
(79 alunos) e (13 professores)
Figura 2 - População e amostra da pesquisa
Fonte: dados da Pesquisa
“Participo das reuniões para definir objetivos, temas, procedimentos dos trabalhos interdisciplinares”.
“Participo das reuniões de departamento, onde se define as metas de cada fase”. “Não me sinto participante do
planejamento apesar de fazer parte das disciplinas integradas na interdisciplinaridade”.
“Em partes, somente no planejamento do semestre, ou melhor, na turma em que leciono”.
“Sim, na formação do tema e do problema a ser pesquisado, bem como no acompanhamento que se refere à
elaboração do trabalho”.
Figura 3 - Participa do planejamento da avaliação interdisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa
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A mesma questão foi enviada aos alunos. Em suas respostas os alunos mencionaram
que a aplicação da avaliação acontece por meio de um trabalho escrito, que contêm os
assuntos das matérias estudadas no decorrer do semestre, que depois de finalizado, é
apresentado para todo o grupo de estudantes que participam da prática interdisciplinar. Quem
aplica são os professores de cada fase, sendo avaliada pelos mesmos. O conceito final se
estabelece a partir da avaliação do referencial teórico, em que cada professor avalia
exclusivamente a sua disciplina, representando 50% da nota final, e o restante desta avaliação,
pelo do desempenho do grupo na apresentação.
É interessante destacar as dificuldades enfrentadas por esses alunos, no qual muitos
trabalham e não conseguem ter tempo, disposição ou oportunidades para a realização da
pesquisa, por isso o que geralmente acontece, é uma “distribuição” entre os membros das
equipes, pela responsabilidade de elaborar o referencial teórico uma única disciplina, ou seja,
cada membro da equipe aprofunda uma disciplina no trabalho, não se constituindo neste caso
uma reflexão interdisciplinar.
Neste contexto, pode-se verificar que todo o trabalho desenvolvido pelos alunos
somente é representado por estas duas formas, ficando prejudicada a avaliação do processo
em que o aluno esteve desenvolvendo este trabalho. Cabe lembrar, de acordo com Fazenda et
al. (2009), que não é possível medir toda a aprendizagem, mas apenas amostras dos resultados
alcançados. Para que a medição seja considerada válida, é preciso que seja extensa, e que as
amostras sejam representativas do conjunto. Dessa maneira, a avaliação não tem um fim, mas
é um meio a ser utilizado pelos professores para o aperfeiçoamento do processo de
aprendizagem para que este obtenha o sucesso necessário, em todo seu desenvolvimento.
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Na percepção dos alunos, a interdisciplinaridade é uma atividade de aplicação de
vários conhecimentos aprendidos em sala. É interligar as disciplinas e encontrar um ponto
comum entre elas. Relacionar a teoria com a prática, conciliando as disciplinas.
Dentre as respostas dadas pelos alunos, apresentam-se algumas que evidenciam seu
entendimento sobre o que seja interdisciplinaridade:
“A relação entre as disciplinas, representado entre as diversas áreas de estudo da contabilidade e afins”.
“É aplicar tudo o que aprendemos em sala de aula em situações reais, para melhor fixação e aplicação do
conhecimento”.
“É a junção de todas as disciplinas, visando maior entendimento sobre como cada uma faz parte da outra, e
como deverão ser usadas na nossa futura profissão”.
“Interdisciplinaridade é colocar a teoria na prática fora da sala de aula, aprofundando assim os conhecimentos e
temas”.
“Outra visão sobre todo o assunto”.
Figura 5 - Conceito de interdisciplinaridade na percepção dos alunos
Fonte: Dados da pesquisa
4.3.2 Opinião dos professores sobre a avaliação interdisciplinar que ocorre no curso de
Ciências Contábeis da FURB.
De acordo com os dados apurados, apresenta-se na Tabela 1:
Tabela 1 - Percepção professores na avaliação interdisciplinar
Percepções Positiva Indiferente Negativa
Professores 38% 31% 31%
Fonte: Dados da Pesquisa.
“A turma aceita bem o processo e os alunos mostram-se interessados em produzir um bom trabalho“.
“Considero que o processo é adequado. Os grupos apresentam seus trabalhos em seminários e são avaliados
tanto pela apresentação oral como o conteúdo”.
“A ideia é válida. Com este processo o aluno encontra a aplicabilidade do conteúdo administrado”.
“A interdisciplinaridade evolui bastante, todavia uma dificuldade relaciona-se com sua aplicação em semestres
com novos professores”.
Figura 6 - Opinião dos professores satisfeitos com a avaliação interdisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa
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Alguns professores informaram estar cientes da necessidade de um aprimoramento
constante no processo, sendo representados pela Tabela 1, correspondendo 31% das
percepções, conforme alguns exemplos a seguir:
“Considero muito interessante e proveitosa esta forma de aplicação e avaliação. Há necessidade, no entanto, de
verificar a inserção das disciplinas, pois nem todas são de fácil conexão com as demais dentro do semestre”.
“Acho a proposta válida, porém, como está em fase de desenvolvimento, acredito que pode melhorar”.
“A avaliação pelo pouco que pude participar está embrionária, tendo muito ainda que se desenvolver”.
Figura 7 – Percepções de aprimoramento da avaliação interdisciplinar pelos professores
Fonte: Dados da pesquisa
“A aplicação é sobre um trabalho em grupo, onde não beneficia os alunos mais esforçados porque a nota é
única. É falha para os alunos que faltam no dia, não possibilitando outra data para apresentar”.
“A avaliação é fraca. A primeira avaliação deveria ser com os professores, que poucos conhecem sobre a
existência de um projeto eficaz. O tempo envolvido por parte dos professores deveria contar como atividade
vinculada há horas aula (fora das aulas normais)”.
“Acho que ainda não consegue realizar de fato a interdisciplinaridade. Deve ser remodelada”.
Figura 8 - Opinião dos professores insatisfeitos com a avaliação interdisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio das percepções apresentadas, e de acordo com Fazenda (1993; 2009), cada
professor tem a sua maneira de aplicar a interdisciplinaridade, bem como o processo de
avaliação, desta forma, ambos devem ser considerados como um processo contínuo. É
necessário para este caso, conscientização e interesse por parte do professor em unir e
construir conhecimentos, usando o artifício de interdisciplinaridade para melhor ensinar ao
aluno.
4.3.3 Opinião dos alunos sobre a avaliação interdisciplinar que ocorre no curso de Ciências
Contábeis da FURB.
Para uma melhor compreensão das opiniões dos alunos de diferentes semestres de
estudo, em relação à avaliação interdisciplinar que ocorre, apresenta-se a seguir na Figura 9:
Semestre Percepções
“É uma iniciativa boa, mas que ainda é muito desorganizada no sentido de assuntos a serem
aplicados e tempo para fazer”. “É como um trabalho complexo que acaba tirando a atenção para
Sexto outras matérias”. “Um trabalho demorado e enrolado, onde muitas vezes nem os professores entre
Semestre si sabem o que é pra fazer”. Apesar de, “a avaliação interdisciplinar ser muito interessante, pois faz
com que os alunos coloquem em prática os assuntos que são ensinados pelos professores no
semestre”.
“A intenção é interessante, apesar de que a metodologia aplicada deixa a desejar em alguns
aspectos, seja por parte dos professores, seja por parte dos acadêmicos. Sobre a avaliação já
discordo um pouco, pois é a nota que mais vale então o aluno se dedica mais no interdisciplinar do
que nas provas”. “É falha. Não há uma organização adequada para que o trabalho seja feito
Quinto
corretamente. Temos prazo para entregar, mas os professores é que acabam não cumprindo com
Semestre
seus prazos, para que possamos nos prepara com antecedência”. “Vejo que é feito de modo
incorreto, pois cada professor se preocupa somente com sua matéria, assim como nós alunos
também, pois dividimos o trabalho. Desta forma, cada um “aprende” um pouco das matérias
específica que fez. Também acredito que são mal coordenados, não sendo ouvidas as opiniões de
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quem faz e nunca disponibilizando antecipadamente a parte prática”.
“O interdisciplinar atrapalha todo o desenvolvimento do semestre, pois os alunos que estudam no
Quarto
período noturno, mal têm tempo para resolver os exercícios passados em sala. O aprendizado é
Semestre
baixo, e o nível de “estresse” é muito alto, o que prejudica o aluno”.
“Vejo essa avaliação com bons olhos. Acredito que seja importante essa “experiência” para o aluno.
Aprendemos coisas que em sala de aula não aprendemos no dia a dia”. “É boa, pois faz os alunos
interagirem e trabalharem em equipe. Simplesmente faz o grupo “correr” atrás de aprendizado, o
que poderá ser muito efetivo para os que realmente que aplicam, no futuro”. “Estamos vendo na
Terceiro
prática que todas as disciplinas se cruzam em determinados momentos e que é de fundamental
Semestre
importância essa ligação para alcançar-nos bons resultados”. “É um bom método de aprendizado,
somos obrigados, de certo modo, a ler pesquisas e se aprofundar, não estudamos apenas para
provas. Porém, acho que ainda há muito a melhorar, pois há bastante falta de comunicação entre os
professores e os alunos”
Figura 9 - Opinião dos alunos sobre a avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis da FURB
Fonte: Dados da pesquisa
“A prática interdisciplinar é boa, mas está sendo de forma fragmentada. Eles fazem este trabalho no
“desespero”, pois precisam dar conta de todos os outros compromissos do semestre. Devido a isto cada aluno
fica responsável por uma disciplina. Neste sentido seu conhecimento fica focado numa disciplina”.
“Os alunos geralmente dividem as matérias, cada um faz um pedaço. Portanto a contribuição em relação ao
conhecimento adquirido é pequena. Entretanto no aspecto de exposição (apresentação pública) o trabalho
contribui e muito com o desenvolvimento acadêmico”.
“Contribui no sentido da oportunidade dos mesmos participar nos debates, porém prejudica com a participação
de alunos na apresentação de outros semestres onde diminui o número de horas aula e os alunos não
participarem das apresentações”.
“Avaliação serve para medir conhecimentos adquiridos, mas no curso não é um trabalho feito por diversas
pessoas, cada qual um pedaço, não caracterizando um trabalho interdisciplinar”.
Figura 11 - Percepções de ressalvas sobre a contribuição da avaliação interdisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa
Percebe-se que é necessária uma maior integração do professor com o aluno, pois a
avaliação contribui sim na formação, possibilitando a oportunidade de conhecer o que
acontece na realidade, compreendendo os fatos. Entretanto, deve ser mais bem planejada, fato
este descrito na percepção do aluno, em que apresentam as seguintes argumentações, ao
considerar se a avaliação interdisciplinar contribui para a sua formação acadêmica:
“Sim, o objetivo é fazer com que os alunos trabalhem o lado pessoal e profissional, as apresentações melhoram
e o ato de falar em público”.
“Facilita a comunicação entre as pessoas do mesmo curso sem falar do conhecimento”.
“Nós acadêmicos nos esforcemos para poder aprender mais para não ficar só no que há em sala”.
“Concordo que agrega muitos valores, dentre eles, ética profissional para podermos ter uma visão geral e
específica, analisando caso a caso. Conforme os semestres vão passando o nível de cobrança fica maior.
Contribui também para discutirmos o certo e o errado que muitas vezes acontece dentro dos escritórios sendo
as empresas”.
Figura 12 – Contribuições sobre a avaliação interdisciplinar pelos alunos
Fonte: Dados da pesquisa
Entretanto, a maioria dos alunos percebe que este processo poderia ser melhorado,
tanto que alguns apresentaram estar desmotivados com a avaliação.
“Deveria contribuir, mas não está acontecendo porque tudo tem ficado para as últimas semanas
(desorganização), e acabamos tendo que fazer de qualquer jeito”.
“Talvez se fosse mais organizado sim. Porém do jeito que está acontecendo, não me contribui com muita
coisa”.
“Não. Atualmente desde sua aplicação até a apresentação essa atividade é dividida entre os acadêmicos. Logo,
cada um fica com apenas uma disciplina e com isso o conhecimento fica restringido apenas à pessoa que ficou
responsável pela sua parte”.
Figura 13 - A percepção dos alunos desmotivados sobre a contribuição interdisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa
13
“Acredito que deve permanecer, pois em um ambiente profissional tão disputada, como é a área de
contabilidade, os profissionais que conseguiram trabalhar de uma maneira interdisciplinar, sem dúvidas têm a
seu lado um diferencial”.
“Deve sim, porém somente se for feito um planejamento muito superior ao atual, onde o aluno sinta gosto em
fazer e não sentimentos contrários, a inter é muito bom, o que falta é a maneira correta de desenvolver”.
“Não, pois todos os semestres os alunos não recebem explicações adequadas, os professores deixam tudo para
entregar em cima da hora e com isso, os alunos acabam se desesperando por que o trabalho é entregue de
qualquer maneira pela falta de tempo”.
“Não, por que não há interdisciplinaridade. Há apenas um encontro de disciplinas feitas por cada membro do
grupo juntas em um único trabalho”.
“Se não houver melhoria, não defendo, pois não está agregando mais conhecimento e sim atrapalhando a
concentração em sala de aula”.
Figura 14 – Opiniões dos alunos, que a avaliação interdisciplinar deva permanecer no curso de contabilidade
Fonte: Dados da pesquisa
É possível verificar que a turma do quinto semestre é a mais crítica, com 64% da
opinião da turma estar defendendo que a avaliação interdisciplinar não deva mais ocorrer no
curso. Percebe-se também que as turmas do sexto e do quarto semestre estão parcialmente
igualadas e divididas, com a opinião de continuar com a prática interdisciplinar ou não.
Porém, conforme demonstra a Tabela 3, a terceira fase se diferencia das demais
apresentadas, no qual se percebe uma opinião mais positiva. Destaca-se que esta turma
participou da avaliação interdisciplinar uma única vez.
5 Considerações finais
Este estudo teve como objetivo identificar a percepção dos alunos e professores acerca
da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis, por meio de entrevistas, com a
coordenação do curso de Ciências Contábeis e a assessora pedagógica do Centro de Ciências
Sociais Aplicadas, análise da documentação disponível no sítio eletrônico da universidade,
relatórios de planejamento efetuado pelos organizadores da prática, o PPP do curso e os
planos de ensino das disciplinas, além de um questionário com perguntas abertas distribuído
para todos os professores e alunos das disciplinas envolvidas.
Na entrevista, a assessora pedagógica destacou que em todos os anos são organizados
encontros, palestras para discutir as novas propostas da prática interdisciplinar. Da mesma
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forma, o coordenador do curso argumentou que todos os docentes recebem orientações e estão
conscientes da importância interdisciplinar para a formação dos alunos.
Nos questionamentos direcionados aos professores, na questão que trata do
planejamento da avaliação interdisciplinar, foi possível verificar que as percepções da maioria
dos professores é positiva, participando das reuniões iniciais, do planejamento junto com
todos os professores, em que são definidos os temas, procedimentos e metas. Entretanto,
existe a necessidade de realização de uma avaliação formal da proposta entre os professores
de cada semestre individualmente, junto com a coordenação, no decorrer do procedimento,
além da verificação dos planos estratégicos realizados.
Em se tratando da aplicação da avaliação interdisciplinar no curso, os professores
apresentam como um trabalho realizado no semestre, no qual é atribuída uma nota para o
trabalho escrito individual, e uma nota de apresentação, caracterizada como sendo uma nota
de prova. Quando esta mesma pergunta é direcionada para os alunos, a percepção que eles
apresentam deste trabalho, é por ser avaliado somente por duas maneiras, o trabalho escrito e
a apresentação, não sendo considerada a dedicação que o aluno teve em desenvolver este
trabalho.
Com o intuito de verificar a compreensão tanto dos alunos, como a dos docentes do
curso de Ciências Contábeis, sobre o conceito de interdisciplinaridade, os resultados são
satisfatórios. Na análise da opinião dos professores sobre a avaliação interdisciplinar
realizada, os docentes apresentaram opiniões diferenciadas, das quais 38% das percepções
apresentam dados satisfatórios, apóiam a ideia da avaliação interdisciplinar; 31% das
percepções corroboram com a prática que está sendo realizada, porém admitem a necessidade
de melhorias. Contudo, é possível destacar que 31% dos docentes manifestaram percepções
negativas, destacando que a prática interdisciplinar que realizada deve ser remodelada.
Entre os alunos é possível verificar as diferenças nos distintos semestres. Do sexto ao
quarto semestre os alunos apontam por maiores organizações por parte dos professores ao
aplicarem a prática interdisciplinar, estando até pré-dispostos a realizar tal avaliação, por
entenderem que o trabalho interdisciplinar é importante. Os alunos sentem a falta da presença
de uma orientação adequada por parte do professor. Outro ponto a ser destacado foi a
satisfação da turma do terceiro semestre, se comparada com as demais, apesar de já haverem
indícios de má preparação da interdisciplinaridade, por meio do trabalho que está sendo
realizado, conforme suas opiniões.
Verificou-se também se a avaliação interdisciplinar contribui para a formação do
acadêmico, na visão do professor e do próprio docente. Entretanto, evidenciou-se a
necessidade de uma maior integração entre professor e aluno, pois a avaliação contribui sim
na formação do aluno, possibilitando a oportunidade de conhecer o que acontece na realidade,
compreendendo os fatos. Portanto, deve ser mais bem planejada, fato este descrito na
percepção do aluno, que realmente entende a essência e a importância da interdisciplinaridade
na sua formação, porém percebe falta de planejamento.
Depois destas observações, foi analisado se a avaliação deve permanecer no curso. As
percepções são claras, o trabalho deve permanecer, porém de forma melhor organizada. Cabe
destacar que esta metodologia de aplicação da interdisciplinaridade na universidade
pesquisada, está em vigor há apenas três anos. A coordenação preocupa-se com a
conscientização da importância de uma prática interdisciplinar, procurando-se trazer
palestrantes e realizar minicursos, orientando os professores de como realizar a prática e
avaliar os alunos, porém sua aplicação vai ao encontro da perspectiva teórica metodológica de
ensino de cada professor, ocasionando contradições com o descrito na análise. Como proposta
de melhoria, para este caso, cabe a realização de encontros entre os professores no decorrer
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dos semestres, revisando as estratégias traçadas no início, e adaptando melhorias sugeridas
pelos alunos e outros professores, pois cada turma é diferente, merecendo um tratamento
específico.
Sugere-se para pesquisas futuras a verificação da percepção dos alunos e docentes que
apresentam a prática interdisciplinar em outras universidades. Outra sugestão será analisar
como ocorre o planejamento ou a metodologia que os docentes utilizam, qualificando o
processo interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis.
REFERÊNCIAS
RABELO, E. H. Avaliação: novos tempos, novas práticas.7. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. 144
p, il.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre, RS:
Bookman, 2005. 212 p, il.
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