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Sexualidade na Infância

e na Adolescência

Profa. Dra. Ana Paula Sesti Becker


ana.becker@uniavan.edu.br
Planejamento – Aula de hoje: 25/03/22

o Sexualidade infantil
- Psicanálise e sexualidade da criança (Texto 3)
- Desenvolvimento psicossexual
- Dilemas, mitos e tarefas da sexualidade infantil
- Questões para discussão e intervenção

o Sexualidade na adolescência
- Características sociodemográficas
- Características e desafios da fase
- Processos grupais: estratégia de intervenção
- Questões para discussão e intervenção

o Atividade em duplas ou trios


Infância e suas representações

o Noção de pureza
o Indivíduo sem maldade/sem
malícia
o Imaturidade
o Fragilidade
o Indivíduo assexuado

(Advíncula, 2009)
Sexualidade Infantil

Psicanálise e a Sexualidade

o A sexualidade é constitutiva da subjetividade


humana;

o Não se restringe a sexualidade à genitalidade e à reprodução, enquanto


únicas fontes de prazer.

o A sexualidade está presente na vida do indivíduo desde a sua infância.


Refere-se às dimensões do prazer, bem-estar, desejos e excitações. Pode-
se percebê-la na amamentação, na retenção e expulsão dos excrementos,
nos exibicionismos, na manipulação dos genitais, etc.

o O corpo vai se tornando erotizado, em diferentes áreas, consideradas


zonas erógenas
Sexualidade Infantil

Psicanálise e a Sexualidade

o A presença de necessidades sexuais se manifesta por meio de pulsões. E a


pulsões são de natureza sexual, designadas de libido.

o PULSÃO = Significa energia. Trata-se de impulsos psíquicos que conduzem


o comportamento humano.

o ENERGIA = Libido = Pulsão de vida = Energia das pulsões sexuais

o Não confundir e reduzir o que é sexual ao âmbito genital.

o Neuroses (sintomas na vida adulta), desejos reprimidos e vivência da


sexualidade infantil.
Sexualidade Infantil

o Pulsão sexual infantil = pulsões parciais (aspectos perversos presentes na


sexualidade infantil); perversão = qualquer manifestação da sexualidade
que não seja o coito pênis-vagina.

o Disposição perverso-polimorfa infantil: Manifestação da sexualidade de


diferentes formas, não havendo primazia de uma zona erógena
determinada.

o Experimentação das zonas erógenas = zonas corporais que provocam


sensação de prazer. Geralmente vinculadas às funções fisiológicas vitais.

o Segundo Freud, a criança seria bissexual, antes de vivenciar o Complexo


de Édipo.
Fases da Sexualidade Infantil

FASE ORAL

o Zona erógena: Boca. É o vínculo que a criança tem


com o mundo nesta fase da vida.

o Incorporação do objeto.

o Prazer além da função biológica vital (alimentação);

o Deslocamento do seio para o polegar, por ex. Satisfação autoerótica.

o Neuroses na vida adulta, a partir das falhas do desenvolvimento


psicossexual.
Fases da Sexualidade Infantil

FASE ANAL

o Zona erógena: esfíncteres. Esse controle se


Transforma em uma nova fonte de prazer.

o Por volta do segundo ano de vida.

o Fezes = construção simbólica. Relacionada a própria produção. “Presente


para os pais”.

o Controle dos esfíncteres e o controle da criança sobre o subsistema


parental.
Fases da Sexualidade Infantil

FASE FÁLICA

o A sexualidade que até o momento era considerada


autoerótica, agora será estendida aos pais.
Desejos inconscientes.

o Complexo de Édipo. Atração pelo sexo oposto e rivalidade


com o mesmo sexo. Castração.

o A criança é desprovida de vergonha, demonstra curiosidade de ver os


órgãos sexuais e manipulá-los.

o Masturbação infantil
Fases da Sexualidade Infantil

FASE DA LATÊNCIA

o Fase de reorganização interna. Declínio dos impulsos


sexuais até a puberdade.

o Investimento no âmbito intelectual e social.

o Sentimentos de repugnância (nojo) e de vergonha são comuns nessa fase;

o Turma do Bolinha x Luluzinha


Fases da Sexualidade Infantil

FASE GENITAL

o Quando a escolha do objeto de amor fica fora do


próprio corpo e de fora da família.

o Marcado pelo encontro corporal, emocional e genital de um casal

o Inicia-se a vida sexual na adolescência/vida adulta.


É MITO??

o Falar com a criança sobre a sexualidade a


deixará hiperssexualizada.

o Falar com a criança sobre a sexualidade despertará a vontade


dela amadurecer precocemente no âmbito sexual.

Em geral, é um mito. Depende do modo como esse


diálogo é feito.

Responder as crianças de modo sincero, específico e coerente com a sua


capacidade cognitiva e psicológica, ante às demandas da sexualidade é
um modo assertivo, ético e respeitoso de conceder-lhe o direito ao
conhecimento humano.
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

Amostra: 111 prontuários de crianças com idades entre 2 a 12 anos em uma


clínica-escola de Psicologia (61% meninos e 38% meninas).

Queixas das triagens:

Problemas de Origem Comportamental (Problemas de conduta, dificuldades


de relacionamento), observadas em (65,77%) das triagens; Problemas
Emocionais (Transtornos emocionais) presentes em (25,23%); Problemas
Escolares (Problemas de aprendizagem, dificuldades cognitivas e no
ambiente escolar) identificadas em (22,52%); e Problemas Somáticos
(Manifestações associadas a distúrbios somáticos) referentes a (11,71%) das
queixas.
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

Referente à perspectiva parental sobre o desenvolvimento sexual infantil,


observou-se que (52,25%) das triagens indicaram que segundo os pais ou
responsáveis, as crianças apresentaram curiosidade sexual.

Já em (27,03%) das triagens, observou-se a indicação de que as crianças não


apresentaram curiosidade, e em (20,72%) das triagens, tais dados não foram
investigados.

Curiosidades apresentadas pelas crianças: Relatos sobre as diferenças sexuais


anatômicas abrangendo (24,45%) das triagens; Nascimento dos bebês com
(18,9%); curiosidades sobre o preservativo (camisinha) em (8,89%), sobre o
namoro (5,55%), sobre o ato sexual, masturbação e cenas de TV (4,44%).
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

- Observou-se que em (44,15%) das triagens, os pais ou responsáveis


referiram que tentam explicar; (9,1%) relataram que não explicam; (6,5%)
afirmam que repreendem a criança; (5,19%) indicaram que não sabem
como explicar ou dizem somente o que julgam necessário para a idade da
criança e em (29,87%) das triagens realizadas não foi investigado esse
assunto.

- Educação sexual com as crianças = verificou-se que em (37,5%) dos casos


esta não foi realizada, sendo que em (23,22%) das triagens, constatou-se
que a família é quem realiza esta educação. Em (14,28%) das triagens
observou-se que a escola foi apontada como responsável pela educação
sexual das crianças.
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

- Em relação ao comportamento de masturbação presente no


desenvolvimento infantil, observou-se que em (35,58%) das triagens os
pais ou responsáveis não a reconheceram como parte da manifestação
da sexualidade na infância. Em (25,96%) das triagens constatou-se o
reconhecimento da masturbação na sexualidade infantil, sendo que em
(2,88%), os pais ou responsáveis não souberam responder a esse
assunto. Em (35,58%) das triagens, não ocorreu investigação desta
temática.
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

Referente ao comportamento da criança dormir com os pais ou


responsáveis verificou-se que em (40,74%) das triagens, havia referência
de que a criança dormia em quarto separado dos pais.

Em (22,22%) das triagens havia relatos de que a criança dormia no mesmo


quarto dos pais, sendo que em (8,33%) havia indicação de que a criança
dormia apenas com a mãe e em (0,93%) das triagens foi observado que a
criança dormia com o pai. Em (27,78%) das triagens esse aspecto não foi
investigado.
Resultados de pesquisa: Perspectivas parentais sobre a sexualidade de
crianças atendidas em clínica-escola de Psicologia
(Silva, Schmitz & Menezes, 2015)

- Ocorrência de intimidade sexual dos pais ou responsáveis quando a


criança dormia no mesmo quarto que o casal, constatou-se que em
(46,23%) das triagens esse aspecto não foi investigado;

- Em (23,58%) dos prontuários havia relatos dos respondentes de que a


criança observava os pais namorando (abraços e beijos);

- Em (18,87%) das triagens houve referência de que esse comportamento


não ocorria na presença das crianças, e em (11,32%) dos registros foi
apontada a ocorrência de relações sexuais dos pais ou responsáveis
quando a criança dormia no mesmo cômodo.
https://www.youtube.com/watch?v=UcTVmzgUSKg
Mães e Pais falam com seus filhos sobre como são feitos os bebês
Sexualidade Infantil

Como vocês pensam que deve ser esclarecido


para a criança as suas dúvidas sobre sexualidade?
Temas da Sexualidade Infantil

o Masturbação infantil:
- Fonte de curiosidade e de alívio para as tensões
- Verificar se há frequência excessiva
- O que está acontecendo no ambiente familiar, escola, e outros contextos
que a criança participa?
- Existe o acesso a conteúdos que não deveriam estar a disposição da
criança? (celular, vídeos,...)
- Abuso sexual (criança hiperssexualizada)

Reflexões...
- Proteger o mundo adulto do mundo infantil (subsistema conjugal e
parental);
- Delimitação de fronteiras (ex. beijo na boca; descontruir a concepção de
lugares que não pertencem a criança – “namoradinho da mamãe”, etc.)
Sexualidade na Adolescência

o Período significativo de mudanças evolutivas e de transição


- Transformações corporais (puberdade)
- Construção da identidade
- Valores familiares, sociais, individuais, biológicos...
- Tarefa da fase: diferenciação
- Papéis de gênero (o que é ser homem/mulher para mim?)
- Quais os meus modelos de gênero?
- Quem eu fui, quem eu sou e quem eu serei?
- Métodos contraceptivos
- Masturbação e pornografia (sofrimento psíquico/compulsão)
- Paternidade e maternidade na adolescência
- Álcool e outras drogas
Sexualidade e Adolescência:
fatores de risco e de proteção
Sexualidade e Adolescência:
fatores de risco e de proteção

o Mapear os fatores de risco e de proteção

- Rede de apoio social e significativa


(família, amigos, vizinhos, escola, igreja, bairro, etc.);

- Presença ou não de: violência, pobreza, problemas de saúde física e/ou


mental, histórico de dependência química dos pais e/ou cuidadores,
tráfico de drogas, abandono, falecimento de pessoas significativas;

- Estratégias de enfrentamento (coping): com foco na emoção; foco no


problema; práticas religiosas; busca de suporte social.

(Lazarus & Folkman, 1984)


Sexualidade na Adolescência

Dados Estatísticos
- Segundo dados do Ministério da Saúde, a média de idade da primeira
relação sexual no Brasil é de 14,9 anos, sendo que as mulheres iniciam
mais tardiamente do que os homens.

- Estudos têm mostrado que quanto menor a idade da inicia o sexual,


maiores ser o as chances de ocorrerem prejuízos à saúde durante e
após a adolescência (Gonçalves et al., 2015).
Sexualidade na Adolescência

o Ênfase do artigo no método para a exploração da temática da


sexualidade

o Construcionismo social: Práticas colaborativas (Harlene Anderson)

o Método – dialógico: conversar com as pessoas de modo valorativo,


entendendo o ser humano como um ser único ao invés de dividi-lo
em categorias de pessoas.
Práticas colaborativas e a sexualidade
na adolescência

o Posicionar-se de forma crítica e questionadora sobre o


conhecimento entendido como verdade universal;

o Evitar generalizações, o que significa não criar categorias


definidoras de ações, pois se corre o risco de não entender as
pessoas nas suas singularidades;

o Privilegiar o conhecimento local, o que garante o entendimento de


que as pessoas sabem mais sobre elas mesmas (como seus hábitos,
verdades, valores etc.) que qualquer outra pessoa.
Práticas colaborativas e produção de sentidos
na sexualidade

o Investigação mútua – processo de criação conjunta;

o Expertise relacional – entendimento de que as pessoas são


especialistas de si próprias e os profissionais são especialistas no
espaço e das ações colaborativas;

o Não saber – proposta humilde de saber com o outro ao invés de


saber sobre o outro;

o Ser público – compartilhamento dos pensamentos dos


profissionais em voz alta (metacomunicação);
Práticas colaborativas e produção de sentidos
na sexualidade

o Ser espontâneo e viver com a incerteza – fluxo de conversa


natural entre as pessoas que guia os caminhos, que são incertos;

o Transformações mútuas – envolvimento ativo de todas as pessoas


em processo de influência e transformação;

o Uma orientação para a vida cotidiana – colaboração e conexão


com as pessoas é postura filosófica de igualdade para qualquer
relação.
PALAVRA-CHAVE NA INTERVENÇÃO
COLABORATIVA COM ADOLESCENTES

PROTAGONISMO

Não adotar postura de


culpabilização
Resultados de pesquisa: Comparação de dúvidas sobre sexualidade
entre crianças e adolescentes (Mantovani, Tres, Silva & Moura, 2014)

Objetivo: identificar as principais preocupações e curiosidades de crianças


e adolescentes sobre sexo e sexualidade durante ações de educação sexual
na escola.

Amostra: 190 adolescentes de 13 a 17 anos de 13 escolas estaduais e 300


crianças de 9 a 11 anos de três escolas municipais de Foz do Iguaçu, Paraná.

Análise frequencial por temática.


Resultados de pesquisa: Comparação de dúvidas sobre sexualidade
entre crianças e adolescentes (Mantovani, Tres, Silva & Moura, 2014)

Resultados: As dúvidas coincidentes entre crianças e adolescentes


foram sobre gravidez, mudanças corporais, sistemas reprodutores
masculino e feminino e menstruação. Tais temas, embora
coincidentes, apresentaram-se em maior frequência entre as crianças.
Os adolescentes apresentaram alta frequência de dúvidas sobre
comportamento sexual e DSTs.
Resultados de pesquisa: Comparação de dúvidas sobre sexualidade
entre crianças e adolescentes (Mantovani, Tres, Silva & Moura, 2014)
Resultados de pesquisa: Comparação de dúvidas sobre sexualidade
entre crianças e adolescentes (Mantovani, Tres, Silva & Moura, 2014)
Resultados de pesquisa: Comparação de dúvidas sobre sexualidade
entre crianças e adolescentes (Mantovani, Tres, Silva & Moura, 2014)
ATIVIDADE EM SALA

o Intervenção sexualidade infantil: o Intervenção sexualidade juvenil:

Supõe-se que você, enquanto Supõe-se que você, enquanto psicólogo


psicólogo escolar, foi solicitado para escolar, foi solicitado para realizar um
acompanhar um caso de uma criança trabalho de grupos com adolescentes,
(Luíza*, 8 anos) que tem apresentado a respeito da sexualidade.
o comportamento compulsório de Como você iria desenvolver esse
masturbação na frente dos colegas e projeto?
da professora durante as aulas. Qual o método teórico você iria
adotar?
Como faria a escolha dos temas dentro
Quais intervenções você iria propor?
da sexualidade?
Como você iria manejar essa
Quais as possíveis facilidades e
temática com os pais e/ou
dificuldades em trabalhar com grupos
responsáveis?
de adolescentes?
Muito Obrigada!

Profa. Dra. Ana Paula Sesti Becker


ana.becker@uniavan.edu.br
Insta: @anap.becker

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte


do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora
da procura, fora da beleza, da alegria e do amor.”
(Paulo Freire)

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