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HIDROSTÁTICA DO NAVIO
pelo
Prof. Sérgio Ribeiro e Silva
Fevereiro 2015
Nota do Autor
Os presentes apontamentos são uma reprodução mais cuidada das lições da disciplina de Hidrostática
do Navio, ministradas pelo autor ao curso de Licenciatura em Engenharia e Arquitectura Naval, do
Departamento de Engenharia Mecânica, do Instituto Superior Técnico (IST), durante o período 2009-
12 e 2014-15 em que foi responsável por esta cadeira.
Esclarece-se que o autor teve o privilégio de receber diverso material didáctico dos docentes an-
teriormente responsáveis por esta cadeira de Hidrostática do Navio. Durante o período 2009-12 este
material foi sendo revisto, actualizado e complementado com outros tópicos tidos como igualmente
importantes para os futuros Engenheiros e Arquitectos Navais. Designadamente, foram incluídos, uma
secção dedicada ao Método de Integração da Pressão no capítulo 1 e sempre que se enquadrasse no
contexto da matéria, mais alguns problemas hidrostáticos específicos das plataformas utilizadas na
indústria de exploração ’offshore’ do petróleo, da extracção de energia eólica ’offshore’ e das ondas.
Sublinhando-se ainda, a importância da inclusão do método de integração de pressão, actualmente
muito utilizado para estudar os problemas das plataformas flutuantes, e que por isso deverá ser ob-
jecto de uma proposta formal de revisão programática desta cadeira e do seu nome.
À data em que estes apontamentos estão a ser preparados, são atribuídas ao autor funções de do-
cência de outras cadeiras e diversas funções de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (IDT) que
dificultam de sobremaneira as tarefas de compor, rever e corrigir as provas. Por esse motivo, apela-se
à compreensão do leitor para eventuais falhas e imperfeições que porventura possam ser encontradas
nestes apontamentos.
i
Prefácio
Os presentes textos de apoio têm como objectivo principal fornecer aos futuros Engenheiros e Arqui-
tectos Navais os conhecimentos básicos que lhes permitam desenvolver as suas actividades de projecto,
de manutenção e de operação de navios e de outras estruturas flutuantes com níveis adequados de efi-
ciência e, especialmente, de segurança. Complementarmente, estes apontamentos poderão contribuir
para o aprofundamento dos conhecimentos do leitor sobre uma das qualidades náuticas dos navios mais
importantes: a flutuabilidade e a estabilidade. A propósito, recorda-se que os navios e outras estru-
turas flutuantes complexas são habitualmente concebidas e construídas cumprindo com determinados
limites operacionais pré-estabelecidos, capazes de assegurar adequados níveis de segurança. Portanto, o
exacto conhecimento desses limites é pois essencial para quem é responsável pela operação destes meios.
O estudo das qualidades náuticas dos navios baseia-se nos princípios da Mecânica dos Sólidos: Es-
tática e Dinâmica, designadamente o equilíbrio das forças e momentos, a teoria dos centros de massa
e as equações diferenciais do movimento (2/a Lei de Newton). Deste modo, antes de serem estudados
estes apontamentos sugere-se que seja efectuada uma breve revisão dessas matérias, para facilitar a
aprendizagem.
Estes apontamentos começam com uma parte introdutória sobre as propriedades dos fluidos e a
apresentação de dois princípios básicos da hidrostática: a lei fundamental da hidrostática e a lei de
Arquimedes, terminando esse primeiro capítulo introdutório com o estudo das forças de pressão em pla-
cas finitas e o Método de Integração da Pressão. Nos capítulos seguintes é apresentada a estabilidade
inicial do navio, ou também chamada a estabilidade a pequenos ângulos de inclinação, e de seguida é
efectuada a generalização do estudo da estabilidade para grandes ângulos de inclinação, onde inclusi-
vamente são apresentados os critérios gerais e específicos de estabilidade intacta dos navios, definidos
pela ’International Maritime Organization’ (IMO) e ratificados pelo Estado de Portugal. Segue-se um
capítulo onde são apresentados os critérios determinísticos e probabilísticos mais recentes da estabili-
dade em avaria (condição de alagamento). Destinando-se estes apontamentos aos futuros engenheiros
projectistas de navios e de outras estruturas flutuantes, são incluídos ainda outros capítulos sobre o
encalhe, a docagem e o lançamento à água de navios.
Para complementar estas lições e o aluno poder consolidar devidamente os conceitos teóricos apren-
didos, é ainda necessário resolver os exercícios práticos e as três fichas de trabalho (em anexo) assim
como e realizar dois trabalhos práticos de laboratório experimentais, que consistem: o primeiro, numa
prova de estabilidade com efeito de espelho líquido; e o segundo, no efeito de alagamento de um com-
partimento na estabilidade de um modelo à escala.
iii
iv
Conteúdo
Nota do Autor i
Prefácio iii
Conteúdo v
Lista de Figuras vi
v
vi CONTEÚDO
1.1 Diagrama comparativo do sólido parado capaz de resistir às forças tangenciais de corte
e do liquido incapaz de intrinsecamente resistir a essas mesmas acções tangenciais: (a)
Deflexão estática do sólido; (b) Círculo de Mohr para um elemento sólido; (c) Necessi-
dade de existir um vaso que contenha o fluido; (d) Círculo de Mohr para um elemento
líquido A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Diagrama de forças em equilíbrio que actuam numa partícula líquida em forma de cunha 4
1.3 Diagrama da distribuição de pressões numa coluna de fluido . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Diagrama e notação utilizada para a determinação da linha de acção da resultante das
forças de pressão hidrostática numa superfície plana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.5 Diagrama das forças de impulsão hidrostática numa superfície plana inclinada . . . . . 8
1.6 Diagrama de uma superfície plana sujeita a pressão hidrostática nas duas faces . . . . 9
1.7 Diagrama da resultante das forças de pressão hidrostáticas numa superfície curva . . . 10
1.8 Ilustração dos sistemas de coordenadas global e do painel . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.9 Diagrama da impulsão hidrostática numa superfície plana inclinada . . . . . . . . . . . 13
4.1 Diagrama ilustrativo das sucessivas posições do centro de carena e respectiva evoluta do
metacentro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.2 Diagrama ilustrativo do braço de estabilidade transversal produzido pelos vectores das
forças do peso e da impulsão do navio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.3 Curva típica dos braços de estabilidade do navio para ângulos até 90o . . . . . . . . . . 39
4.4 Curva típica dos braços de estabilidade do navio para ângulos até 180o . . . . . . . . . 40
4.5 Prova de estabilidade auto-adriçante do salva-vidas de 47 pés da USCG, para medição
do tempo que a embarcação demora a retomar a posição direita . . . . . . . . . . . . . 40
4.6 Tipos de equilíbrio do navio e respectivas curvas dos braços de estabilidade . . . . . . 41
4.7 Diagrama ilustrativo das características da curva dos braços de estabilidade . . . . . . 42
4.8 Diagrama ilustrativo do ângulo de bandada numa curva dos braços de estabilidade . . 43
4.9 Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação vertical do CG no binário endireitante
do navio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.10 Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação vertical do CG na curva dos braços de
estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.11 Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação transversal do CG no binário endirei-
tante do navio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.12 Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação transversal do CG na curva dos braços
de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
vii
viii LISTA DE FIGURAS
4.13 Fotografias ilustrativas da utilização expedita (lado esquerdo) e assistida (lado direito)
do efeito da movimentação transversal do CG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.14 Tabela ilustrativas dos métodos de cálculo manual das propriedades hidrostáticas do navio 48
4.15 Curva típica dos braços de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.16 Gráfico de carenas inclinadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.17 Curva de estabilidade dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.18 Curvas típicas dos momentos (braços) inclinante e endireitante . . . . . . . . . . . . . 50
4.19 Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante aplicado lentamente . . 51
4.20 Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante aplicado subitamente e
as suas relações energéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.21 Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante induzida por vento e
ondas e as suas relações energéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.22 Influência das alterações da forma da carena do navio na curva dos braços endireitantes 53
4.23 Influência da boca do navio na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . . . . . . 54
4.24 Influência da pontal do navio na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . . . . . 54
4.25 Influência da superestrutura do navio na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . 55
4.26 Influência dos castelos do navio na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . . . . 55
4.27 Influência do amassamento e do lançamento do navio na curva dos braços endireitantes 56
4.28 Influência do afinamento do encolamento do navio na curva dos braços endireitantes . 57
4.29 Influência da condição de carga do navio na curva dos braços endireitantes . . . . . . . 58
4.30 Influência dos espelhos líquidos na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . . . . 59
4.31 Influência das ondas longitudinais na curva dos braços endireitantes . . . . . . . . . . . 60
4.32 Exemplo de um calculador de estabilidade de bordo (Load Master) . . . . . . . . . . . 61
7.1 Exemplos de subdivisão estanque em navios; (a) Navio Porta-contentores; (b) Navio
Porta-helicópteros; (c) Navio Ro-Ro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
7.2 Fotografia ilustrativa da alteração da imersão (ou do bordo-livre) em caso de alagamento 75
7.3 Fotografia ilustrativa da alteração do caímento em caso de alagamento . . . . . . . . . 75
7.4 Fotografia ilustrativa da alteração do ângulo de adornamento em caso de alagamento . 76
7.5 Curva dos braços de estabilidade ilustrativa da redução dos braços em caso de alagamento 76
7.6 Curva dos braços de estabilidade ilustrativa do aparecimento de um ângulo de banda
em caso de alagamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
7.7 Fotografia ilustrativa medidas de controle do alagamento (escoramento de rombo) em
caso de alagamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
7.8 Fotografia ilustrativa do alagamento do tipo 2B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
7.9 Gráfico das curvas de comprimento alagável do navio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
7.10 Desenho ilustrativo da subdivisão estanque do ’HMS Titanic’ . . . . . . . . . . . . . . 81
7.11 Desenho ilustrativo da linha margem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
7.12 Fotos ilustrativas de um acidente com ocorrência de alagamento seguida de instabilidade
transversal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
7.13 Diagrama ilustrativo do procedimento de cálculo da altura de água na coberta de um
navio RO-RO e de passageiros (Acordo de Estocolmo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7.14 Mapa de distribuição das alturas de onda significativas no Báltico e Europa do Norte
para efeitos de cálculo da altura de água na coberta de um navio RO-RO e de passageiros
(Acordo de Estocolmo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7.15 Tabela sumário dos regulamentos internacionais baseados no sistema determinístico . . 84
7.16 Fluxograma do processo de cálculo de probabilidade de ocorrência de avaria . . . . . . 86
7.17 Fluxograma do processo de cálculo de probabilidade de de sobrevivência à avaria . . . 87
7.18 Gráfico de distribuição longitudinal de avaria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Lista de Tabelas
ix
Capítulo 1
O estudo inicial da estática dos fluidos (Hidrostática) será efectuado em três partes: (1) a descrição
das propriedades dos fluidos; (2) o estudo da pressão e da sua variação no interior de um fluido, e (3)
o estudo das forças de pressão em superfícies finitas planas e curvas.
1
2 CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE HIDROSTÁTICA
Figura 1.1: Diagrama comparativo do sólido parado capaz de resistir às forças tangenciais de corte e do
liquido incapaz de intrinsecamente resistir a essas mesmas acções tangenciais: (a) Deflexão estática do
sólido; (b) Círculo de Mohr para um elemento sólido; (c) Necessidade de existir um vaso que contenha
o fluido; (d) Círculo de Mohr para um elemento líquido A
1.2. PRESSÃO HIDROSTÁTICA NUM PONTO 3
com que tomam uma nova forma depende da sua viscosidade. Considere-se uma massa líquida contida
entre duas placas horizontais, uma placa inferior parada e uma outra placa superior, que se movimenta
horizontalmente, com velocidade constante. Considere-se as várias camadas horizontais de volumes
elementares de fluido, intercaladas entre essas placas e movendo-se a velocidades que diferem entre
si, com um dado gradiente de velocidade segundo a direcção vertical . Entre estas massas líquidas
vão ser também exercidas forças de contacto que serão iguais mas opostas, e que se designam por
tensões de corte tangenciais. Isaac Newton (1687) estabeleceu que num movimento unidireccional
deste fluido (regime laminar), a tensão de corte tangencial é proporcional ao gradiente da velocidade,
e matematicamente dada pela equação 1.1:
du
τ =µ (1.1)
dy
onde o coeficiente de proporcionalidade µ, designa-se por coeficiente de viscosidade dinâmica, o
qual é constante para as mesmas condições de pressão e temperatura. Também pode ser definida uma
viscosidade cinemática, dada pelo quociente da viscosidade dinâmica pela massa volúmica do liquido:
ν = µ/ρ. No escoamento de um fluido em presença de uma parede sólida não há escorregamento directo
do fluido sobre a parede. Este adere à parede a qual sofre uma força de corte ou de arrastamento no
sentido do movimento em consequência do escorregamento das camadas de fluido que se desloca sobre as
camadas de fluido aderentes à parede sólida. Assim, uma parede sólida na presença de um escoamento
paralelo à mesma provoca um gradiente de velocidade na direcção normal sendo a tensão de corte ou de
arrastamento igual ao produto da viscosidade pelo gradiente da velocidade junto à parede. Finalmente,
refere-se que no estudo da Hidrostática do Navio é costume fazer um conjunto de simplificações com
fundamento físico. As simplificações (hipótese básicas) adoptadas, quanto ao meio físico onde o navio
ou plataforma flutuante se encontra são:
• As ondas geradas pela oscilação ou movimento do casco do navio ou plataforma flutuante são
ignoradas.
dFn
p= (1.2)
dA
A pressão hidrostática num ponto é a mesma em qualquer direcção. Pode demonstrar-se este facto
considerando o equilíbrio de uma partícula líquida em forma de cunha com uma profundidade unitária
e com uma secção triangular com catetos iguais a dx e dy, tal como se mostra na Figura 1.2.
A pressão hidrostática que actua no corpo tem a direcção normal às faces como se indica na figura.
Para além destas forças a única outra que actua naquela massa é o seu peso P , o qual é igual ao
produto do volume pelo peso volúmico:
1
P = γ dxdy (1.3)
2
4 CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE HIDROSTÁTICA
Figura 1.2: Diagrama de forças em equilíbrio que actuam numa partícula líquida em forma de cunha
Para se aplicar as condições de equilíbrio é necessário multiplicar as pressões pelas áreas em que
actuam e determinar as componentes da pressão normal pn , segundo os eixos coordenados xx e yy.
Logo, nesta condição de equilíbrio obtém-se que:
X
Fx = px dy − ps dssinθ (1.4a)
X dxdy
Fy = py dx − ps dscosθ − γ (1.4b)
2
onde px , py e pn são as pressões médias nas faces. Tendo em conta as seguintes relações trigonométricas:
dx = dscosθ
dy = dssinθ
(1.5)
px dy − ps dy = 0
dxdy
py dx − ps dx − γ =0
2
(1.6)
No limite em que dx e dx tendem para zero a massa líquida tende para uma partícula líquida e o
produto torna-se um infinitésimo de ordem superior que se despreza. Neste caso conclui-se então que:
px = py = ps (1.7)
ou seja a pressão hidrostática num ponto fluido é igual em todas as direcções, pois o ângulo θ que se
tinha adoptado para a direcção de ps era arbitrária. Pese embora a demonstração tenha sido efectuada
para uma partícula de fluido bidimensional, poder-se-ia facilmente demonstrar o mesmo conceito de
isotropia da pressão hidrostática para o caso tridimensional, recorrendo para o efeito a um tetraedro
de fluido, com três faces pertencentes aos planos coordenados e a quarta face inclinada arbitrariamente
um ângulo θ.
1.3. EQUAÇÃO FUNDAMENTAL DA HIDROSTÁTICA OU LEI DE STEVIN-PASCAL 5
onde ps e pi são as pressões nas bases superior e inferior do cilindro, respectivamente, A é a área da
base e h é a diferença de cotas ou a altura do cilindro. Logo, a diferença de pressões resulta igual ao
peso da coluna líquida, dada por:
Considerando agora uma massa cilíndrica horizontal e estabelecendo a condição do equilíbrio das
forças horizontais, obtém-se que:
pois o peso do líquido não tem qualquer componente horizontal. Assim se demonstra que as partículas
que se encontram à mesma cota vertical estão sujeitas à mesma pressão hidrostática. Considere-se
novamente a massa líquida cilíndrica vertical, mas agora em contacto com a superfície livre do líquido
em vez de esta se encontrar totalmente imersa no seu seio. A pressão na base superior será agora a
pressão atmosférica pa , sendo o equilíbrio dado por:
γ(zs − zi ) = pi − pa (1.12)
Reescrevendo a equação 1.12 obtém-se a pressão na base inferior, dada por:
pi = pa + γ(zs − zi ) (1.13)
Definindo a origem das coordenadas na superfície livre obtemos finalmente que:
pi = pa + γzi (1.14)
A expressão 1.14 corresponde à Equação Fundamental da Hidrostática ou também designada por Lei
de Stevin1 -Pascal2 em homenagem a estes dois cientistas pioneiros do cálculo hidrostático. Consoante a
pressão hidrostática se refira à pressão atmosférica ou a zero absoluto, assim se denomina por pressão
relativa ou pressão absoluta. A unidade de pressão do sistema internacional é o Pascal [Pa], que é
igual a um Newton por metro quadrado. No sistema métrico gravitacional a unidade é o quilograma-
força por metro quadrado o qual equivale a g = 9.8 [N/m2 ]. Como estas unidades são muito pequenas
utiliza-se por vezes o [bar] que é sensivelmente igual a 1 [kgf/m2 ], ou seja: 1 [bar] = 105 [N/m2 ] = 1.012
[kgf/m2 ]. Dado que a pressão relativa se relaciona com uma diferença de nível de um líquido também
é frequente indicar-se a pressão pela equivalente altura de água. Assim, a pressão atmosférica normal
é equivalente a uma altura de 10.33 [m] de água, ou seja: 1.012 10 5 [N/m2 ] =1.033 10 4 [kgf/m2 ].
Figura 1.4: Diagrama e notação utilizada para a determinação da linha de acção da resultante das
forças de pressão hidrostática numa superfície plana
dF = γhdA (1.18)
onde h é a profundidade do elemento de área, a qual se relaciona com a abcissa do elemento por:
h = xsinα (1.19)
A impulsão será a resultante do sistema de pressões, dada por:
ZZ ZZ ZZ
I= dF = γhdA = γsinα xdA (1.20)
A A A
Figura 1.5: Diagrama das forças de impulsão hidrostática numa superfície plana inclinada
onde hG é a profundidade do centro de gravidade. O que esta expressão indica é que a impulsão que
actua naquela superfície plana é equivalente à que resultaria de se aplicar sobre toda a superfície uma
pressão uniforme e igual à que se faz sentir no centro de gravidade γhG . A expressão anterior indica
a intensidade da impulsão. Para que esta fique completamente definida torna-se necessário conhecer
o seu ponto de aplicação ou seja o centro de impulsão. As coordenadas deste ponto obtêm-se a partir
dos momentos das forças relativamente aos eixos coordenados:
ZZ ZZ
Myy = xdF = γsinα x2 dA = γsinαIyy (1.23)
A A
onde Iyy é o momento de inércia da área relativamente ao eixo dos yy. A abcissa do centro de impulsão
é então:
IG
xI = xG + (1.26)
AxG
o que implica que o centro de impulsão se situa para baixo do centro de gravidade uma distância
IG /(AxG ) medida ao longo da recta de maior declive. No caso particular em que a superfície con-
siderada seja horizontal, o ângulo alpha é zero pelo que a origem O desloca-se no limite para −∞
implicando que xG → ∞ e xI = xG . Neste caso a pressão hidrostática é uniforme em toda a superfície
e o centro de pressão coincide com o centro de gravidade. A ordenada do centro de pressão obtém-se
calculando o momento da pressão hidrostática relativamente ao eixo dos xx:
RR
Mxx xydA Ixy
yI = = A = (1.27)
I xG A xG A
O produto de inércia Ixy é nulo quando há simetria relativamente ao eixo dos xx e neste caso a
ordenada do centro de pressão é zero.
1.5. FORÇAS EM SUPERFÍCIES CURVAS 9
Figura 1.6: Diagrama de uma superfície plana sujeita a pressão hidrostática nas duas faces
Figura 1.7: Diagrama da resultante das forças de pressão hidrostáticas numa superfície curva
cuja ordenada é a ordenada do centro de gravidade do volume assim definido. Considere-se agora uma
direcção horizontal h e a componente das forças de pressão segundo aquela direcção é dada por:
Dependendo das funções P e Q que sejam escolhidas, podem calcular-se diferentes propriedades
hidrostáticas.
A obtenção de fórmulas analíticas para calcular propriedades relativas à linha de água do navio será
exemplificada para o caso da área da figura de flutuação.
Utilizando o Teorema de Green, a contribuição de cada painel para essa área, AF j , é dada por:
1.6. MÉTODO DE INTEGRAÇÃO DA PRESSÃO 11
ZZ Z
AF j = dAij = ydx (1.35)
Aj ∂A
Como este contorno é composto por p segmentos de recta, o segmento de recta k pode ser repre-
sentado como:
y = αx + β (1.36)
yk+1 −yk
onde α = xk+1 −xk e β = yk − αxk .
Substituindo a equação (1.36) em (1.35), a fórmula analítica que dá a contribuição de cada painel
para a área da figura de flutuação é:
p xk+1
X 1
AF j = αx2 + βx (1.37)
2 xk
k=1
A área da figura de flutuação do navio será então obtida por soma das contribuições obtidas para
os N P painéis:
NP
X
AF = AF j (1.38)
j=1
√ n2y 2
n x − − √nx nz
x x0 nx +ny 1−nz 2 xp
y = y0 + ny − √ nx
ny nz
− √1−n 2
yp (1.39)
nx 2 +ny 2 z
z z0 n 0 −sqrt1 − n 2 zp
z z
12 CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE HIDROSTÁTICA
Substituindo estas expressões na (1.42) e calculando o integral, a fórmula analítica para a força
hidrostática é:
p
H
X 1 2 1p 2
1 2 3 2 2
|Fij | = ρg z0 α∆yp + β∆yp + (1 − nz ) α ∆yp + αβ∆yp + β ∆yp (1.45)
2 2 3
k=1
I=∆ (1.46)
Considere-se um corpo qualquer imerso num líquido, tal como é ilustrado
na Figura 1.9.
A resultante das pressões hidrostáticas que actuam na parte esquerda do
corpo é igual ao produto dessas pressões pela projecção da área num plano vertical. O mesmo se
aplica às resultantes das forças que actuam no outro lado do corpo. Como a projecção num plano
vertical, das superfícies laterais do corpo é a mesma, conclui-se que as forças horizontais estão em
equilíbrio. Quando o corpo em consideração é uma massa do mesmo líquido em que está imerso ele
estará em equilíbrio o que leva a concluir que a impulsão tem de ser igual e de sentido oposto ao
peso do volume de líquido envolvido pela superfície de contorno. Dado que a impulsão depende só
do volume envolvido pela superfície de contorno, quando o corpo é constituído por uma substância de
diferente peso específico o valor da impulsão não se altera, mas o corpo deixa de estar em equilíbrio.
Se a densidade do corpo é maior do que a do líquido o peso é maior do que a impulsão e o corpo
afunda-se até tocar no fundo de onde vai receber uma reacção igual à diferença do peso e impulsão.
No caso contrário o corpo sobe até à superfície livre ficando com parte do seu volume fora de água por
forma a que o seu volume submerso vezes o peso específico de líquido seja igual ao seu peso. O corpo
está então a flutuar. Sendo a impulsão igual ao peso do volume de líquido deslocado pelo corpo, o seu
ponto de aplicação coincidirá com o centro do volume imerso ou seja com o centro de carena.
3
Arquimedes (287-212 A.C.): Nasceu em Siracusa cerca do ano 287 A.C.; Estudou em Alexandria; Formação em
Filosofia e Matemática enquadrado pelo célebre rigor lógico Grego; Excelente desempenho no domínio da Geometria e
da Mecânica; Escreveu a sua obra prima ’Àcerca da Flutuação dos Corpos’ (AFC); Fundador da hidrostática de navios,
enunciando os princípios físicos da flutuação e da estabilidade; Morreu em Siracusa 212 A.C..
Capítulo 2
Os corpos que tenham um peso específico inferior ao do liquido, que se encontra em contacto com o
corpo, ficam a flutuar de forma a diminuir o volume do liquido deslocado e assim receber da parte
do liquido uma impulsão que iguale o seu peso. A parte imersa do corpo flutuante é designada
por querena ou carena, e segundo o princípio de Arquimedes a impulsão é igual ao peso do volume
do liquido deslocado, ou seja, o volume da carena. O equilíbrio dos corpos flutuantes estuda as
condições de equilíbrio dos mesmos. A aplicação das condições gerais da estática estudadas no capítulo
anterior indica que, para haver equilíbrio, o sistema de forças exteriores que actuam no corpo tem de
ter resultantes nulas relativamente ao centro de gravidade do corpo. Isto implica que o somatório
das forças seja nulo e que o somatório dos momentos relativamente àquele ponto também seja nulo.
Numa situação estática, as únicas forças que actuam num flutuador livre são o seu peso e a sua
impulsão. Por isso, quando as forças não estão em equilíbrio, a resultante é uma força vertical capaz
de provocar uma translação segundo aquela direcção. Por outro lado, havendo um momento resultante,
este irá provocar uma rotação do flutuador. Pode então dizer-se que as duas condições de equilíbrio
a satisfazer dizem respeito à translação vertical e à rotação, denominando-se respectivamente por
primeira e segunda condição de equilíbrio. Esquematicamente, pode considerar-se que um flutuador
abandonado livremente num liquido em repouso procuraria a sua posição de equilíbrio em duas fases
distintas. Primeiro satisfazia a condição de equilíbrio à translação vertical, procurando a posição em
que o seu peso iguale a impulsão. Posteriormente, rodava sem alterar o volume da carena (inclinações
isocarénicas) até que satisfizesse a condição do equilíbrio à rotação. Estas duas fases, serão de seguida
estudadas separadamente.
15
16 CAPÍTULO 2. EQUILÍBRIO DOS CORPOS FLUTUANTES
δ∆ + ∆ δ∇
∇1 = = ∇0 + (2.1)
γ γ
onde ∇0 é o volume inicial e ∇1 o final. Se o corpo for posto a flutuar num liquido com um peso
específico diferente, o seu peso não se alterará, ou seja, matematicamente:
δ = γ0 ∇0 = γ1 ∇1 (2.2)
No entanto, o corpo assumirá uma nova posição de equilíbrio em que o volume de carena é dado
por:
∆ γ0
∇1 = = ∇0 (2.3)
γ1 γ1
e onde γ0 é o peso específico do líquido inicial e γ1 é o peso específico do líquido final. A variação do
volume de carena é então dada por:
γ0
δ∇ = ∇1 − ∇0 = ∇0 −1 (2.4)
γ1
Quando as variações do volume de carena são pequenas é apropriado considerar-se que a figura de
flutuação se mantém inalterada. Neste caso, as variações do volume de carena representam volumes
cilíndricos, dadas por:
δ∇ = Aw δi (2.5)
δ∆ = δ∇γ = Aw δi γ (2.6)
∆u = γAw (2.7)
Aw
∆u = γ [ton/cm] (2.8)
100
Esta grandeza permite que para pequenas variações de peso do flutuador se obtenha directamente
a correspondente variação de imersão:
δ∆
δi = (2.9)
∆u
No caso de variação da densidade do líquido, a variação de imersão será dada por:
δ∇ ∇0 γ0
δi = = −1 (2.10)
Aw Aw γ1
Por exemplo, a passagem da flutuação em água salgada para água doce corresponde a um aumento
da imersão:
∆ 1.025 ∆ ∆
δi = − 1 = 0.025 = 40 (2.11)
∆u 1.000 ∆u ∆u
em que ∆u representa o deslocamento unitário em água salgada (γ = 1.025 [ton/m3 ]).
2.2. EQUILÍBRIO À ROTAÇÃO 17
h = x tan φ (2.12)
onde x é a abcissa do centro da área dA e φ é o ângulo de rotação da linha de água. O elemento de
volume é então dado por:
onde o integral se estende à área A− que corresponde aos valores negativos de x no plano z. Através
de raciocínio idêntico demonstra-se que o volume adicionado à carena é:
ZZ
∇+ = x tan φdA+ (2.15)
A+
onde o último integral se estende por toda a área da figura de flutuação. Dado que δ∇ tem de ser
zero, esta condição só será satisfeita se o último integral se anular. Este integral representa o momento
da área e este só se anula quando é calculado relativamente a um eixo que contenha o centroide da
área. No caso da figura de flutuação, o centroide da área denomina-se centro de flutuação. Conclui-se
assim que para pequenas rotações isocarénicas os flutuadores rodam em torno de um eixo que contem
o centro de flutuação.
∇w W− W+
B0 B1 = (2.17)
∇0
onde ∇0 é o volume da carena e o volume do menisco é ∇w . As coordenadas dos centros dos meniscos
obtém-se pelo quociente dos momentos das áreas pelas áreas totais:
RR
A− x(x tan φ)dA−
XW− = RR (2.18a)
A+x tan φdA+
2
RR
A+ x dA+
XW+ = RR (2.18b)
A+ xdA+
∇0 B0 B1 = ∇w W− W+ (2.20)
ou seja:
∇w W− W+ Iyy tan φ
δXB = B0 B1 = = (2.21)
∇0 ∇0
Daqui se conclui que o deslocamento longitudinal δXB depende do momento de inércia da figura
de flutuação, do ângulo de rotação e do volume de carena. O deslocamento transversal do centro de
carena δYB obtém-se de forma análoga, ou seja, o momento de um elemento de volume relativamente
ao eixo dos xx é dado por:
RR RR
A− dMxx tan φ A− xydA−
YB− = RR = (2.23a)
A− d∇ ∇−
ZZ
tan φ
YB+ = xydA+ (2.23b)
∇+ A+
A distância entre os centros dos meniscos é dada por YB− + YB+ e a correspondente variação do
centro de carena é:
∇w YB− + YB+
ZZ
tan φ Ixy
δYB = = xydA = tan φ (2.24)
∇0 ∇0 A ∇0
onde Ixy é o produto de inércia da área. Para além do transporte longitudinal e transversal do volume
de carena há também um movimento vertical do mesmo. O momento do elemento cilíndrico de volume
d∇ relativamente ao plano x0y é igual ao produto do volume pela coordenada do seu centro de volume,
o qual está a uma ordenada igual a metade da altura (h/2 = x/2 tan φ):
x
dMxx =
tan φd∇ (2.25)
2
A ordenada do centro do menisco removido obtém-se pela razão do momento total do volume pelo
volume total:
tan2 φ A− x2 dA−
RR RR
A− dMxx
ZB− = RR = (2.26)
A− d∇ 2∇w
e analogamente para o centro do volume adicionado:
tan2 φ A+ x2 dA+
RR
ZB+ = (2.27)
2∇w
O transporte vertical do volume de carena é igual às distância entre os dois pontos, ou seja, à soma
das distâncias dos pontos ao plano x0y dada por:
∇w ZB− + ZB+ tan2 φIyy
δZB = ZB− + ZB+ = = (2.28)
2∇0 2∇0
Comparando este resultado com a variação de abcissa resulta:
tan2 φ
δZB = δXB (2.29)
2
As expressões que quantificam a variação das coordenadas do centro de carena com uma rotação
φ do flutuador constituem uma representação paramétrica de uma superfície no espaço que define
o lugar geométrico das posições do centro de carena. Quando se faz coincidir a origem dos eixos
coordenados com a posição do centro de carena, as variações de posição daquele ponto passam a ser
as suas coordenadas em valor absoluto, dadas por:
Iyy
XB = tan φ (2.30a)
∇0
Ixy
YB = tan φ (2.30b)
∇0
Ixy
ZB = tan2 φ (2.30c)
∇0
A análise destas expressões permite concluir que para pequenos valores de φ, o centro de carena
move-se assintoticamente no plano x0y pois ZB será muito menor que XB ou YB . Daqui se infere
20 CAPÍTULO 2. EQUILÍBRIO DOS CORPOS FLUTUANTES
que a superfície dos centros de carena é perpendicular ao eixo dos zz na vizinhança da posição inicial
do centro de carena. Portanto, a impulsão será perpendicular às superfície dos centros de carena, já
que é vertical. Com o aumento da inclinação φ, o centro de carena vai ocupar uma posição com uma
ordenada ZB diferente de zero. A inspecção da expressão de ZB indica que esta é sempre positiva já
que a tan φ está elevada ao quadrado e o momento de inércia e volume de carena são sempre positivos.
De facto, pode concluir-se que a superfície dos centros de carena, que tem a forma de um elipsóide,
está sempre acima da posição inicial do centro de carena. A forma da superfície de carena depende da
figura de flutuação e dos eixos de inércia que forem escolhidos. Os eixos principais de inércia são eixos
perpendiculares relativamente aos quais os momentos de inércia da figura de flutuação são máximos e
mínimos e o produto de inércia é nulo. Quando existem eixos de simetria numa figura, estes coincidem
com os eixos principais de inércia. Em flutuadores é frequente os eixos principais de inércia coincidirem
com as maiores e menores dimensões, ou seja com o eixo longitudinal e com o transversal, embora só
o primeiro seja normalmente um eixo de simetria. Quando um flutuador se inclina em torno de um
eixo principal de inércia, a trajectória do centro de carena está contida no plano de inclinação pois o
produto de inércia é nulo e portanto YB = 0. O plano de inclinação é o plano vertical que é normal
ao eixo de rotação e que contém o centro de carena e o centro de gravidade. Uma rotação em torno
de um eixo qualquer pode sempre ser decomposta em duas rotações em torno dos eixos principais de
inércia. Quando as rotações em torno dos eixos principais de inércia são suficientemente pequenas para
se poder substituir tan φ por φ diz-se que é aplicável a Teoria Metacêntrica. Note-se que para φ = 10o
a razão tan φ/φ é 0.990, para φ = 20o é 0.959 e para φ = 30o é de 0.907. Daqui se pode verificar que a
substituição é perfeitamente adequada para valores de φ até 7o ou 10o e que em certas aplicações até
se poderia entender aquele domínio a 30o .
Iyy
XB = tan θ (2.31a)
∇
Iyy
ZB = tan2 θ (2.31b)
2∇
ds = BM L dθ (2.32)
podendo deduzir-se que:
s 2 2
ds dXB dZB
BM L = θ= + θ=0 (2.33)
dθ dθ dθ
dXB Iyy
= (2.34a)
dθ ∇
dXB Iyy
|θ=0 = θ|θ=0 (2.34b)
dθ ∇
Desta expressão facilmente se deduz que o raio de curvatura longitudinal BM L é dado por:
Iyy
BM L = (2.35)
∇
2.2. EQUILÍBRIO À ROTAÇÃO 21
Uma dedução semelhante a esta para rotações em torno do eixo dos xx permitiria deduzir o raio
de curvatura transversal BM T é dado por:
Ixx
BM T = (2.36)
∇
Estes resultados permitem concluir que para pequenas rotações, no domínio de validade da teoria
metacêntrica os raios de curvatura são constantes. Logo, a superfície dos centros de carena, naquela
vizinhança é uma circunferência e o seu centro de curvatura é denominado metacentro. O metacentro
está uma distância BM acima do centro de carena ZB . Logo as ordenadas dos metacentros longitudinal
ZML e transversal ZMT serão dados por:
ZML = ZB + BM L (2.37a)
ZMT = ZB + BM T (2.37b)
MI = ∆GG1 (2.38)
Este momento inclinante pode ser decomposto em momentos relativamente aos eixos transversal e
longitudinal, dados por:
MIL = YG ∆ (2.39a)
MIT = XG ∆ (2.39b)
Considerando ângulos inferiores a 10o , tem-se que cos θL ≈ 1 logo GM L ≈ ZML − ZG , donde se
deduz que:
Considerando-se agora as rotações transversais, pode obter-se de modo análogo a seguinte expres-
são:
As expressões entre parêntesis nas duas últimas equações denominam-se altura metacêntrica e são
determinantes na resistência que o flutuador oferece à inclinação. No domínio da teoria metacêntrica as
ordenadas dos metacentros são iguais aos raios metacêntricos quando a origem dos eixos coordenados
coincide com a posição do centro de carena e os senos dos ângulos são aproximadamente iguais aos
ângulos. Com estas modificações as formulas anteriores podem ser reescritas como:
XG = (ZML − ZG ) θL (2.43a)
YG = (ZMT − ZG ) θT (2.43b)
XG
θL = (2.44a)
Z ML − Z G
YG
θT = (2.44b)
Z MT − Z G
A partir das componentes das rotações em torno dos eixos coordenados é possível determinar o
ângulo de rotação real:
q
θ= 2 + θ2
θL (2.45)
T
o qual se vai dar num plano que faz um ângulo β com o eixo xx tal que:
θT
tan β = (2.46)
θL
Note-se que quando a origem dos eixos coordenados não coincide com a posição do centro de carena,
a expressão da altura metacêntrica será alterada para:
(ZM − ZG ) = ZB + BM − ZG = BM − (ZG − ZB ) (2.47)
ou seja o raio metacêntrico vai ser subtraído da altura do centro de gravidade relativamente ao centro
de carena, o que é um resultado geral aplicável também às situação anterior em que ZB = 0.
2.3. ESTABILIDADE DO EQUILÍBRIO 23
do equilíbrio, o qual é indiferente. Finalmente, o equilíbrio é instável quando ZM < ZG GM < 0
pois com a inclinação cria-se um momento que é proporcional às inclinação e que tende a aumentá-la.
MI L
sin θL = (2.51)
∆ (ZML − ZG )
tendo em atenção que para pequenos ângulos se pode substituir sin θL por θL .
No caso em que o momento inclinante é provocado por uma movimentação transversal de um peso
p de uma distância yp tem-se que:
MI L
tan θL = (2.54)
∆BM L
O valor elevado de BM L e consequentemente os valores muito pequenos que normalmente θL tem
levam a que seja preferível medir diferenças de imersão a vante e a ré nos flutuadores do que medir os
ângulos θL . A diferença entre estas imersões denomina-se caimento d = δT , o qual é dado por:
Lpp MI
d= (2.56)
∆BM L
É ainda conveniente definir o momento de caímento unitário Mu , que tal como o próprio nome
sugere é o momento inclinante necessário para produzir o caímento de uma unidade, dado por:
∆BM L
Mu = (2.57)
Lpp
logo, facilmente se deduz que o caímento provocado por um momento inclinante qualquer será sim-
plesmente dado por:
MI
d= (2.58)
Mu
2.5. EQUILÍBRIO A GRANDES ÂNGULOS DE INCLINAÇÃO 25
Ixx
ZMT = BM T + ZB = + ZB (2.59)
∇
O lugar geométrico das posições do metacentro durante uma inclinação do flutuador a grandes
ângulos denomina-se evoluta metacêntrica.
Capítulo 3
• Secções ou cortes longitudinais quando são a intersecção da superfície do casco por planos para-
lelos ao plano de mediania ou de simetria. São projecções em verdadeira grandeza no plano de
mediania e são rectas nos outros dois planos;
• Secções transversais ou balizas de traçado quando são a intersecção da superfície do casco por
planos verticais perpendiculares ao plano de mediania. Projectam-se em verdadeira grandeza no
plano transversal;
• Secções horizontais, linhas de flutuação ou linhas de água quando são a intersecção da superfície
do casco por planos horizontais paralelos ao plano base.
Note-se que se faz a distinção entre as linhas de água de traçado, que correspondem à intersecção
de planos paralelos ao plano base com a superfície do casco na posição direita do navio, e as linhas de
água que se obtêm pela intersecção do plano de flutuação real com o casco, o que pode acontecer para
27
28CAPÍTULO 3. ESTÁTICA DO NAVIO A PEQUENOS ÂNGULOS: TEORIA METACÊNTRICA
posições inclinadas do navio, ou seja, com caimento e/ou adornamento. A linha de água carregada
corresponde às figura de flutuação que se obtem quando o navio flutua direito e com o máximo de
carga que o navio pode ter em serviço. Em regra, a linha de água mais baixa que se considera no
plano geométrico é a linha base que é coincidente com a intersecção do plano de mediania do navio
com o plano base. O conjunto das secções projectadas nos planos longitudinal, horizontal e transversal
constituem o plano geométrico ou o plano de formas do navio (ver Figura 3.2). As secções que se
representam no plano geométrico são normalmente equidistantes, embora em parte dos extremos se
incluam também secções ou intervalos iguais a metade, para uma melhor definição das zonas extremas
do navio, que em regra são mais enformadas pelo que têm maiores variações na geometria.
O número de secções incluídas no plano geométrico varia com o país e de estaleiro para estaleiro. Nos
nossos estaleiros é frequente utilizarem-se 11 linhas de água numeradas de #0 a #10, correspondendo
a primeira à linha base e a última à flutuação carregada. Para definir a forma do navio acima da linha
de água carregada utilizam-se mais algumas linhas de água, a 12, 14 e eventualmente a 16. O número
de secções transversais que normalmente se adopta são 21, correspondendo a dividir o comprimento
do navio em 20 partes iguais. A baliza que corresponde ao meio do navio denomina-se meio navio ou
meia nau e recebe o número #0. A secção mestra é a secção transversal de maior largura e muitas
vezes coincide com o meio navio. As balizas para vante e para ré numeram-se de #0 a #10, sendo
usual representar as balizas com números par. No entanto, muitas vezes também se representam as
balizas #8 1 /2 , #9 1 /2 e #10 1 /2 , pois estas balizas correspondem a zonas onde há grandes variações
da geometria do casco. Dada a simetria do navio só se costuma desenhar meias balizas sendo usual
ter as balizas de vante às direita do traço do plano de mediania e as de ré à esquerda. O plano de
mediania é representado com a proa do navio à direita e as secções longitudinais são definidas por planos
30CAPÍTULO 3. ESTÁTICA DO NAVIO A PEQUENOS ÂNGULOS: TEORIA METACÊNTRICA
equidistantes, dividindo-se a meia boca em duas ou quatro partes. Para completar a representação da
superfície do casco é necessário representar também as linhas de intersecção desta com os pavimentos
do navio, o que vai originar linhas com um andamento diferente de qualquer uma das anteriores. A
linha da borda é a intersecção da superfície do casco com a superfície do convés. As intersecções com
as superfícies dos pavimentos chamam-se linhas dos pavimentos à amurada. A intersecção do convés
com o plano de mediania é a linha do convés a meio. A linha de construção é a intersecção do plano de
mediania com a superfície do fundo do casco. A linha base define-se como passando pela intersecção
entre a linha de construção e a perpendicular a meio. O ponto de referência para definir a linha de
construção varia com o tipo e material de construção. Se o navio não tiver caimento de traçado a linha
base coincide com a linha de construção. A linha recta do vau define-se em secções transversais como
a recta que une os pontos de intersecção da secção com o contorno superior do vau.
boca na ossada, no forro, na flutuação e máxima consoante os pontos de referência utilizados. Numa
secção transversal o pontal é a distância vertical entre a linha de construção e a linha recta do vau
nessa secção e o pontal de construção é o pontal a meio navio. A linha de tosado é o lugar geométrico
das intersecções da recta do vau no plano diametral do navio, e representa a linha do convés às borda.
Considerando agora a linha paralela às linha base que contem o ponto mais baixo, define-se o tosado
numa secção transversal como a distância vertical daquela recta às intersecção da recta do vau no plano
diametral. Os tosados a vante e a ré são naturalmente os valores do tosado nas secções transversais
que existem sobre as perpendiculares a vante e a ré. A imersão do navio numa dada flutuação e numa
secção transversal é a distância vertical da linha de construção ao plano da flutuação medida nessa
secção. Valores correntemente utilizados são a imersão a vante, a ré e média, que são os valores da
imersão nas perpendiculares a vante, a ré e a meio navio. A imersão média TP PM N é a média das
imersões a vante TP PAV e a ré TP PAR :
TP PAV + TP PAR
TP PM N = (3.1)
2
Quando a linha de construção não coincide com a linha base diz-se que o navio tem caimento de
construção dc , o qual é igual às diferença entre a imersão a ré e a vante:
dc
TP PAV = TP PM N − (3.3a)
2
dc
TP PAR = TP PM N + (3.3b)
2
pois o caimento de construção reparte-se igualmente pelas perpendiculares a vante e a ré. Enquanto
as imersões medem a distância da linha de flutuação à face superior da quilha, o calado é a distância
à face inferior, ou seja, ao ponto mais baixo de cada secção. Para muitos efeitos práticos é este valor
que interessa pois permite quantificar o espaço que fica livre abaixo da quilha. Em casos normais a
diferença entre imersão e calado é insignificante para navios de aço com quilha chata. No entanto,
em zonas onde há apêndices no casco esta diferença já pode ser significativa. A diferença também
pode ser relevante no caso de navios de madeira. Para medir os calados existem nos navios as marcas
dos calados colocadas nas perpendiculares a vante e a ré. O traço que fica na linha de água indica
o calado do navio naquela secção. As marcas dos calados estão indicadas nos dois bordos dos navios
sendo numeradas em decímetros a estibordo à proa e a bombordo a ré e em pés a bombordo à proa
e estibordo a ré. A numeração em decímetros é indicada com algarismos árabes com um decímetro
de altura enquanto a numeração em pés é indicada com números romanos com meio pé de altura. Os
calados a vante e a ré deverão ser considerados como a média entre os valores lidos num e noutro bordo
e serão os mesmos quando o navio não está adornado.
flutuabilidade depende do tipo de navio mas oscila entre 80% a 120% do volume de carena em navios de
passageiros e entre 25% e 40% nos navios de carga. O bordo livre mínimo, ou equivalentemente, a linha
de carga máxima, estão estabelecidos na Convenção Internacional das Linhas de Carga 1966, entrando
em vigor em Portugal pelo Decreto-Lei Nr.49209 de 26 de Agosto de 1969. Aqueles valores têm em
vista prover o navio com uma reserva de flutuabilidade adequada para o navio resistir a uma avaria,
permitir que a tripulação trabalhe no convés com razoável segurança, não permitir a entrada de água
pelas aberturas do convés e não permitir cargas que provoquem esforços excessivos na estrutura do
navio. A Convenção Internacional das Linhas de Carga aplica-se a navios de mercantes que efectuem
viagens internacionais e tenham mais de 150 toneladas de arqueação bruta. Existe ainda legislação
nacional que obriga à existência de um bordo livre mínimo para outras embarcações.
L
4≤ ≤ 10 (3.4a)
B
B
1.8 ≤ ≤4 (3.4b)
T
L
10 ≤ ≤ 30 (3.4c)
T
Os coeficientes de finura representam a razão entre áreas e entre volumes, servindo de medida do
grau de esbelteza da carena (ver Figura 3.4).
Começando por considerar as razões de áreas, define-se o coeficiente da flutuação CW como a razão
entre a área da flutuação AW e a área do rectângulo circunscrito, que tem por lados o comprimento
na flutuação L e a boca na flutuação B:
AW
CW = (3.5)
LB
O Coeficiente da secção mestra CM é a razão entre a área imersa da secção mestra AM e a área do
rectângulo circunscrito, que tem por lados a boca na flutuação L e a imersão a meio T :
AM
CM = (3.6)
BT
Para além destes dois coeficientes relativos à razão de áreas há mais dois que resultam da razão
de volumes. O coeficiente de finura total CB é a razão entre o volume da carena ∇ limitado por uma
dada linha de flutuação e o volume do paralelepípedo circunscrito, com os lados iguais ao comprimento,
boca e imersão naquela flutuação:
∇
CB = (3.7)
LBT
O coeficiente de finura prismático ou cilíndrico CP é a razão entre o volume da carena e o cilindro
circunscrito que tem por secção a parte imersa da secção mestra:
∇
CP = (3.8)
AM L
Combinando as várias expressões indicadas, é fácil verificar a relação existente entre aqueles coefi-
cientes:
3.4. COEFICIENTES DE FORMA 33
∇ AM
CB = = CP CM (3.9)
AM L BT
• 1. Casco e acessórios;
• 4. Instalação eléctrica;
• 5. Equipamentos de comunicações;
O peso dos equipamentos obtém-se por informação dos respectivos fornecedores enquanto que o do
casco é calculado a partir dos escantilhões dos elementos.
3.6. CURVA DAS CARENAS DIREITAS 35
Nos capítulos anteriores foi estudada a estabilidade do navio a pequenos ângulos, recorrendo à Teoria
Metacêntrica. Assumiu-se a hipótese de que, para inclinações pequenas (até 7o a 10o ), o ponto de
intersecção da linha de acção da impulsão com o plano de mediania não se afasta significativamente
do metacentro inicial. No entanto, para ângulos superiores, a superfície dos centros de carena, que é
elíptica, já não pode ser aproximada por uma circunferência de raio igual ao raio metacêntrico e por
conseguinte uma nova abordagem à questão da estabilidade dinâmica é introduzida neste capítulo.
Logo, o momento endireitante (ME ) também deixa de poder ser obtido a partir de:
Portanto, a grandes ângulos de inclinação, avalia-se a estabilidade do navio com recurso ao momento
endireitante como produto do braço de estabilidade pelo deslocamento do navio, dado simplesmente
por:
37
38 CAPÍTULO 4. ESTABILIDADE DO NAVIO A GRANDES ÂNGULOS
Figura 4.1: Diagrama ilustrativo das sucessivas posições do centro de carena e respectiva evoluta do
metacentro
ME = ∆GZ (4.3)
Tal como se pode observar na Figura 4.2, o braço de estabilidade é a distância horizontal (paralela,
portanto, à linha de água inclinada L1 A1 ) entre as linhas de acção (verticais) do peso do navio e
da impulsão. Esta distância varia com o ângulo de inclinação devido às modificações das formas da
carena do navio que vão ocorrendo com o aumento de φ. Note-se que a linha de flutuação na Figura
4.2 se encontra inclinada um ângulo igual ao ângulo de rotação do plano de mediania do navio. No
entanto, em vez de desenharmos esta linha na posição indicada, podemos desenhá-la direita e a linha
de flutuação, desde que, claro está, as forças do peso e da impulsão sejam representadas por vectores
perpendiculares à linha de flutuação inclinada. Sendo que esta apresentação que corresponde a manter
o navio fixo e inclinar o plano de flutuação, tem a vantagem de se poder representar várias flutuações
na mesma figura.
Uma vez que o braço de estabilidade é uma grandeza geométrica dependente da inclinação do
navio, para um dado volume da carena e uma dada posição do centro de gravidade (G), este pode ser
representado apenas em função de φ, num gráfico a que se chama curva dos braços de estabilidade.
Uma curva típica dos braços de estabilidade, para navios de formas usuais, têm a forma apresentada
na Figura 4.3.
Tal como se pode observar na Figura 4.4, podemos obviamente considerar uma gama de ângulos
de inclinação superiores a 90o . Nesta curva as posições de equilíbrio são dadas por GZ = 0, pois nesta
A curva dos braços de estabilidade é simétrica em relação à origem das coordenadas devido à simetria
em relação ao plano de mediania de um navio normal. A posição de equilíbrio correspondente ao ponto
0o é de equilíbrio estável, pois para um pequeno desvio dessa posição o binário de estabilidade tende a
restaurar a posição de equilíbrio; pelo contrário, a posição de equilíbrio correspondente ao ponto 120o
é de equilíbrio instável porque o binário de estabilidade criado por um pequenon desvio dessa posição
tende a aumentar esse desvio.
A parte da curva que, em geral, interessa ao estudo do equilíbrio e da estabilidade é a que vai de 0o
a 90o . Quando o navio atingir o ângulo de inclinação correspondente ao ponto 120o , qualquer pequeno
desvio para além desse ângulo o fará virar, pois só ficará em equilíbrío estável na posição 180o . No
entanto, existem algumas embarcações especiais que são projectadas e construídas de modo a terem
sempre tendência a voltar à posição direita, tal como é o caso dos salva-vidas de 47 pés da USCG
mostrado na Figura 4.5.
4.2. CURVA DOS BRAÇOS DE ESTABILIDADE 39
Figura 4.2: Diagrama ilustrativo do braço de estabilidade transversal produzido pelos vectores das
forças do peso e da impulsão do navio
Figura 4.3: Curva típica dos braços de estabilidade do navio para ângulos até 90o
40 CAPÍTULO 4. ESTABILIDADE DO NAVIO A GRANDES ÂNGULOS
Figura 4.4: Curva típica dos braços de estabilidade do navio para ângulos até 180o
Figura 4.5: Prova de estabilidade auto-adriçante do salva-vidas de 47 pés da USCG, para medição do
tempo que a embarcação demora a retomar a posição direita
4.3. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA CURVA DOS BRAÇOS DE ESTABILIDADE 41
Figura 4.6: Tipos de equilíbrio do navio e respectivas curvas dos braços de estabilidade
Embora não seja prático, poderíamos também representar a estabilidade do navio a partir da curva
do momento endireitante, que é afinal uma curva dos braços de estabilidade a uma escala superior. O
sinal do momento endireitante (ou do braço de estabilidade) dá-nos pois a natureza do equilíbrio. O
seu valor a determinado ângulo de inclinação a partir da posição de equilíbrio dá-nos a medida do grau
de estabilidade, ou seja, a tendência do navio voltar á posição inicial, que em estática é equivalente
a dizer-se a resitência que o navio oferece á inclinação. Mais rigorosamente podemos então definir o
equilíbrio do navio pelo seguinte quociente:
dME GZ
=∆ (4.4)
dφ dφ
Portanto, a estabilidade é medida pelo coeficiente angular da curva do binário de estabilidade (ou
braço de estabilidade) na posição de equílibrio considerada, que corresponde ao conceito de estabilidade
da mecânica clássica. Designa-se por estabilidade inicial e é medida pela derivada do binário de
estabilidade (ou braço de estabilidade) na posição de equilíbrio.
Figura 4.7: Diagrama ilustrativo das características da curva dos braços de estabilidade
• A curva não se afasta apreciavelmente da tangente da curva na origem até cerca dos 10o .
• A curva é crescente, e desde que o bordo livre seja suficientemente grande, afasta-se acima da
tangente até um ponto de inflexão que corresponde à imersão da borda.
• A partir deste ponto o braço de estabilidade continua a crescer, embora não tão rapidamente,
até um valor máximo a que corresponde a ângulo de estabilidade máxima.
• A partir deste ponto a curva decresce até que o braço de estabilidade se anula no ângulo de
estabilidade nula ou ângulo de extinção de estabilidade.
• Domínio de estabilidade.
• Reserva de estabilidade.
Figura 4.8: Diagrama ilustrativo do ângulo de bandada numa curva dos braços de estabilidade
Interessa também analizar em detalhe cada um destes elementos acima listados, estabelecendo
relações com o tipo de resposta do navio às acções inclinantes normalmente induzidas pelo meio em
que este flutua.
Declive da curva dos braços de estabilidade na origem (altura metacêntrica):
• O declive inicial da curva dos braços de estabilidade (altura metacêntrica) indica a rapidez com
que cresce o braço de estabilidade à medida que o navio se inclina.
• Um declive inicial muito elevado indica um rápido crescimento do braço de estabilidade, o que
torna o navio muito ’rijo’, isto é, com baixos períodos de balanço e forte reacção a momentos
inclinantes.
• Um declive inicial baixo indica que o crescimento do braço de estabilidade é lento, o que torna o
navio ’macio’, isto é, com elevados períodos de balanço e pouca reacção a momentos inclinantes.
Domínio de estabilidade:
• Domínio de ângulos de adornamento para os quais existe momento endireitante positivo.
• Quanto maior fôr o domínio de estabilidade, menos provável é que o navio sossobre.
• Se o navio fôr inclinado a qualquer ângulo dentro do seu domínio de estabilidade, possuirá um
momento endireitante que tenderá a endireitar o navio uma vez terminada a acção exterior.
Ângulo de estabilidade máxima:
• Ângulo ao qual ocorre o maior braço de estabilidade e logo o momento endireitante.
• O momento endireitante é igual ao deslocamento vezes o braço de estabilidade máximo.
• Quanto maior fôr o momento endireitante máximo, menos provável será o sossobramento do
navio.
• Inclinação produzida por estabilidade inicial negativa corrígivel através de uma redução da altura
do centro de gravidade até que a altura metacêntrica inicial seja positiva.
Figura 4.10: Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação vertical do CG na curva dos braços de
estabilidade
Figura 4.12: Diagrama ilustrativo do efeito da movimentação transversal do CG na curva dos braços
de estabilidade
Figura 4.13: Fotografias ilustrativas da utilização expedita (lado esquerdo) e assistida (lado direito)
do efeito da movimentação transversal do CG
4.4. GRÁFICO DE CARENAS INCLINADAS 47
• Curvas Isóclinas.
O método mais utilizado para preparar o diagrama de carenas inclinadas é o método computa-
cional, o qual procederá à integração numérica das semi-bocaduras do navio, existindo no mercado
diversos programas para o efeito (AutoHydro, da Autoship, GHS, da General Hydrostatics, etc.). His-
toricamente e antes do aparecimento do computador pessoal, desenvolveram-se numerosos métodos de
cálculo manual, tal como se pode observar na tabela mostrada na Figura 4.14.
As curvas de carenas inclinadas de um navio são influenciada pelas variações da posição vertical
do centro de gravidade. No entanto, se for considerado que a posição do centro de gravidade é fixa, a
expressão do braço de estabiliade poderá ser apresentado em função do ângulo de inclinação transversal
φ e do deslocamento do navio ∆, matemáticamente dadas por:
GZ = f (φ, ∆) (4.7)
e expressas na unidade [m], tal como pode ser obervado nas Figuras 4.15 e 4.16.
Note-se que as curvas de carenas inclinadas e as curvas dos braços de estabilidade não são mais
que as intersecções de planos ∆ = const e φ = const com a superfície definida pela expressão 4.7.
Para calcular a curva dos braços de estabilidade de um navio com deslocamento ∆ e cota do centro de
gravidade KG, deverá intersectar-se as curvas cruzadas com o deslocamento ∆, retirando os valores
dos braços de estabilidade KN . Deverá então corrigir-se os valores destes para a altura correcta do
centro de gravidade, utilizando-se para o efeito a seguinte equação:
GZ = KN − KG − KP sin φ (4.8)
onde KP é a cota do pólo utilizado para calcular os braços KN .
Zφ
U= ∆GZdφ (4.9)
0o
48 CAPÍTULO 4. ESTABILIDADE DO NAVIO A GRANDES ÂNGULOS
Figura 4.14: Tabela ilustrativas dos métodos de cálculo manual das propriedades hidrostáticas do navio
Zφ
u= GZdφ (4.10)
0o
A curva que representa o braço de estabilidade dinâmica é pois a curva integral da curva dos
braços de estabilidade. Esta designa-se por Curva ou Diagrama de Estabilidade Dinâmica. Tal como é
ilustrado na Figura 4.17, pode portanto ser representada sobre a curva dos braços de estabilidade (ou
Diagrama de Estabilidade Estática) e possuí as seguintes características:
diagrama de estabilidade, tal como é ilustrado na Figura 4.18. Tal como acontece com o momento endi-
reitante, um momento inclinante é, em geral, também uma função dependente do ângulo de inclinação
do navio.
• p = o peso movimentado;
A acção do vento sobre as obras mortas do navio provoca um momento inclinante dado por:
Figura 4.19: Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante aplicado lentamente
• Uw = velocidade do vento;
• h = braço entre o centro geométrico da área Ap e o centro de resistência lateral do casco (situado
geralmente a meia imersão).
A mudança de rumo de um navio pode gerar um ângulo de adornamento significativo. Este ângulo
pode ser elevado se a manobra ocorrer a velocidade de avanço média/alta. O momento inclinante é
então dado por:
∆U 2 l
MI = cos φ (4.13)
gR
onde:
• ∆ = deslocamento do navio;
• U = velocidade do navio;
• l = distância vertical entre o centro de resistência lateral do casco (situado geralmente a meia
imersão) e o centro de gravidade do navio;
Figura 4.20: Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante aplicado subitamente e as
suas relações energéticas
Figura 4.21: Curvas típicas dos momentos (braços) endireitante e inclinante induzida por vento e ondas
e as suas relações energéticas
corresponde à energia cinética nula. Tal como é ilustrado na Figura 4.20, se o momento inclinante fôr
tal que o ângulo φ1 excede os valores em que o ângulo é estável (a > b), o navio sossobra.
A φ0 chama-se, neste caso, ângulo crítico dinâmico e é o ângulo de equilíbrio correspondente ao
momento inclinante que, aplicado subitamente, fará o navio atingir o ângulo de equilíbrio instável.
Note-se que caso seja aplicado subitamente no navio um momento inclinante a que corresponde um
ângulo de equilíbrio maior do que o ângulo crítico dinâmico, o navio sossobrará. O efeito de um
momento inclinante subitamente aplicado é produzir ângulos de inclinação maiores do que os obtidos
quando o mesmo momento é aplicado gradualmente. Na prática, as acções inclinantes mais comuns
(vento e ondas) estão a meio termo entre o súbito e o lento. Uma situação potencialmente perigosa
ocorre se o navio estiver inclinado a barlavento pelas ondas e for actuado por uma rajada de vento, tal
como é ilustrado na Figura 4.21. Neste caso, mesmo que o momento inclinante não seja elevado a área
compreendida entre as duas curvas até à posição de equilíbrio poderá ser tal que o navio sossobre.
Tal como será explicado com maior detalhe e analizado na capítulo seguinte, o sossobramento
ocorrerá embora o ângulo de equilíbrio correspondente aquele momento seja inferior ao ângulo crítico
dinâmico.
4.7. FACTORES QUE INFLUENCIAM A CURVA DOS BRAÇOS DE ESTABILIDADE 53
Figura 4.22: Influência das alterações da forma da carena do navio na curva dos braços endireitantes
Note-se que aumento do pontal provoca uma subida do centro de gravidade por adição de pesos
situados em posição alta no navio, necessários para aumentar o pontal do navio. A pequenos ângulos de
inclinação, os braços de estabilidade descem. Assim, o pontal não deve ser aumentado para aumentar
a estabilidade do navio, a menos que alguma diminuição dos braços de estabilidade a pequenos ângulos
possa ser admitida. No entanto, acrescenta-se que neste caso poderão ser tomadas medidas para baixar
o centro de gravidade de modo a anular a subida deste devida ao aumento do pontal.
Figura 4.26: Influência dos castelos do navio na curva dos braços endireitantes
da água. Pois os efeitos benéficos da superestrutura só podem ser considerados para o cálculo da
reserva de flutuabilidade e estabilidade se esta possuir meios de tornar estanque as suas aberturas. Tal
como facimente se percebe a partir da observação da Figura 4.26, os castelos de proa têm efeitos na
estabilidade do navio semelhantes aos das superestruturas.
Figura 4.27: Influência do amassamento e do lançamento do navio na curva dos braços endireitantes
ângulos de adorno. Note-se que o aumento do braço de estabilidade devido à movimentação vertical
(para cima) do centro de carena é compensado pela subida do centro de gravidade do navio.
A altura metacêntrica é aumentada pela diferença entre a subida do centro de carena e a subida
do centro de gravidade. Um efeito adicional, dependente da existência de lançamento no costado do
navio, poderá ser o aumento da inércia da figura de flutuação devido ao facto de o navio se afundar.
O aumento da imersão deve-se ao facto de as secções serem agora mais finas abaixo da linha de água
e ter de ser reposta a condição de equilíbrio vertical. Esse facto levará a um maior raio metacêntrico,
logo a uma maior altura metacêntrica.
Figura 4.28: Influência do afinamento do encolamento do navio na curva dos braços endireitantes
Figura 4.29: Influência da condição de carga do navio na curva dos braços endireitantes
4.8. CADERNO DE ESTABILIDADE E CALCULADOR DE ESTABILIDADE A BORDO 59
Figura 4.30: Influência dos espelhos líquidos na curva dos braços endireitantes
• Verificar automaticamente se o navio está dentro dos limites impostos pelas regras internacionais
de estabilidade;
• Optimizar a sequência de carga e realizar provas de estabilidade antes de sair do porto, conforme
visto no capítulo anterior.
60 CAPÍTULO 4. ESTABILIDADE DO NAVIO A GRANDES ÂNGULOS
Figura 4.31: Influência das ondas longitudinais na curva dos braços endireitantes
Figura 4.32: Exemplo de um calculador de estabilidade de bordo (Load Master)
62 CAPÍTULO 4. ESTABILIDADE DO NAVIO A GRANDES ÂNGULOS
Capítulo 5
63
Capítulo 6
Existem várias situações que ocorrem, ou podem ocorrer, durante a vida operacional do navio que
envolvem a aplicação de forças num ou mais pontos do fundo do navio. Estas forças têm efeitos
negativos na condição geral do navio, pelo que interessa estudar essas situações de modo a acautelar
eventuais perigos para o navio.
A primeira situação deste tipo é o encalhe do navio, acidente este bastante vulgar.
A segunda situação é a docagem, uma operação periódica que deve portanto ser estudada atentamente.
A terceira situação é o lançamento à água, que marca o início da vida do navio e envolve uma série de
cuidados que adiante serão referidos.
6.1 Encalhe
6.1.1 Definição e Efeitos do Encalhe
O encalhe de um navio ou embarcação, geralmente acidental, consiste em tocar no fundo e ficar nele
preso sem flutuar.
Antigamente, procedia-se ao encalhe propositado do navio, em locais apropriados, de modo a proceder
à beneficiação do fundo ou por outro motivo.
O encalhe traduz-se na aplicação de uma força num determinado ponto ou área do fundo do navio.
Esta força, dirigida de baixo para cima, é igual, em intensidade, à diferença entre o deslocamento do
navio e a sua impulsão. Pode demonstrar-se que os efeitos dessa força poderão ser:
• Uma subida virtual do centro de gravidade, provocando uma variação da altura metacêntrica
transversal.
A magnitude das variações acima listadas irá depender do navio e também da morfologia do fundo
em que ocorre o encalhe. Deste modo e tal como é ilustrado nas Figuras 6.1 e 6.2, existem duas
situações distintas: encalhe em fundos rochosos e encalhe em fundos arenosos.
65
66 CAPÍTULO 6. ENCALHE, DOCAGEM E LANÇAMENTO À ÁGUA
O volume da carena é agora menor do que antes de a maré baixar, sendo a diferença representada
pela fatia de carena (assinalada a tracejado) compreendida entre as linhas de água inicial, L1 A1 , e a
linha de água final, L2 A2 .
O centro de impulsão, que é função da carena do navio, mudou assim de localização, encontrando-se
agora em B2 .
Para que permaneça em equilíbrio, o navio a flutuar com a linha de água L2 A2 apoia-se sobre o ponto
de encalhe. Logo, recebe nesse ponto uma reacção do fundo (R), igual ao peso de fluido compreendido
na faixa de carena perdida (entre L1 A1 e L2 A2 ).
Para libertar o navio do encalhe seria necessário retirar de bordo um peso igual à reacção R no ponto de
encalhe. Tal deve-se a que sem o peso R a bordo o navio teria um novo deslocamento, agora reduzido,
que seria igual à impulsão que actua na carena até à linha de água L2 A2 . Ou seja, o navio poderia
agora flutuar livremente e, portanto, libertar-se do ponto de encalhe. A reacção pode ser calculada
aproximadamente usando:
R = ∆u δT (6.1)
A reacção poderia ainda ser calculada, mais exactamente, usando o GCD para retirar os desloca-
mentos do navio à imersão inicial, ∆1 , e final, ∆2 , calculando-se então R por meio de:
R = ∆1 − ∆2 (6.2)
O encalhe tem também exerce um efeito nefasto sobre a estabilidade transversal do navio. Pois o
efeito da força de encalhe R é equivalente a desembarcar um peso com o mesmo valor de R e localizado
no ponto de encalhe.
Uma vez que se desembarcou um peso do ponto de encalhe, o centro de gravidade do navio sobe,
passando de G1 para G2 . Logo, o centro de gravidade sobe de uma distância vertical dada por:
RKG2
G1 G2 = (6.3)
∆1 − R
Considere-se que um navio que se encontra encalhado num determinado ponto K se inclinou a um
pequeno ângulo φ, tal como é ilustrado na Figura 6.4.
Pode verificar-se que a impulsão é uma força vertical com valor de ∆1 − R, onde R é a força de
encalhe. Fazendo o equilíbrio de momentos em torno de G, para determinar o momento endireitante
6.1. ENCALHE 69
• O efeito da força de encalhe é equivalente a uma subida virtual do centro de gravidade. Essa
subida é por sua vez equivalente a um desembarque de um peso de magnitude R localizado na
quilha;
• O termo entre parêntesis pode assim ser encarado como sendo uma altura metacêntrica virtual.
Também a posição vertical do metacentro transversal passa do ponto M1 para o ponto M2 . Isto
deve-se ao facto de que a altura do centro de carena se altera por virtude da passagem da linha de
água L1 A1 para a linha de água L2 A2 .
Deve-se também ao facto de que o raio metacêntrico se altera na passagem da linha de água L1 A1 para
a linha de água L2 A2 . Portanto, a altura metacêntrica transversal do navio, na linha de água L2 A2 é
então dada por:
RKG1 ∆1 KG1
GM 2 = KM 2 − KG2 = KM 2 − KG1 + = KM 2 − (6.6)
∆1 − R ∆1 − R
Suponhamos agora que um navio encalhou no fundo a uma distância transversal dt da quilha (plano
de mediania) e a uma distância longitudinal df do centro de flutuação. Após algum tempo, o nível da
maré desceu uma quantidade δT .
Pretende-se calcular os calados finais após a descida da maré bem como a reacção no fundo. Para tal
usa-se, para resolver este problema, o seguinte artifício:
Os efeitos do encalhe num ponto qualquer do fundo são os mesmos que a desembarque de um
peso igual à reacção R no ponto de encalhe. Assim, a dita reacção R tem o efeito de provocar uma
diminuição uniforme da imersão e uma variação do caímento.
A diminuição uniforme da imersão corresponde à passagem da linha de água L1 A1 para a linha de
água L2 A2 . A variação de caimento corresponde à passagem da linha de água L2 A2 para a linha de
água L3 A3 . Portanto, pdemos também expressar essa variação de calado como:
df R Rdf df
Tf = Ti − s − d ⇔ Tf − Ti = − − (6.7)
Lpp ∆u Mu Lpp
Por outro lado, a variação do calado no ponto de encalhe é exactamente igual à descida da maré
nesse ponto (δT ), sendo esta então dada por:
R Rdf df
δT = − − (6.8)
∆u Mu Lpp
Logo, sabendo quanto é a descida da maré, conseguimos saber o valor da reacção R. Os calados do
navio, após a variação do nível da maré, à qual está associada a reacção no fundo R, são dados por:
70 CAPÍTULO 6. ENCALHE, DOCAGEM E LANÇAMENTO À ÁGUA
Lpp
R Rdf 2 − xf
TAVf = TAVi − − (6.9a)
∆u Mu Lpp
Lpp
R Rdf 2 + xf
TARf = TARi − + (6.9b)
∆u Mu Lpp
O facto de a reacção R estar aplicada a uma distância dt do plano de mediania resulta também num
adornamento. Pensando a reacção R como um desembarque de um peso à distância dt da mediania, a
coordenada transversal do centro de gravidade passa a ser:
Rdt
yG = (6.10)
∆1 − R
O adornamento é dado por:
yG Rdt
tan φ = = (6.11)
GM 3 (∆1 − R) GM 3
• Deterioração global da estrutura do navio, entendido como viga-navio, podendo levá-lo a partir-
se.
Nos casos em que as medidas rápidas de bordo para libertar o navio não resultam, geralmente,
opta-se por aguardar uma subida da maré e recorrer então ao auxílio de rebocadores.
6.2 Docagem
Docagem é uma operação periódica, às vezes forçada devido a acidente, em que o navio é introduzido
numa doca-seca que é posteriormente esgotada.
O navio pode também ser alado para um plano inclinado. A docagem do navio é uma operação que
tem de ser realizada durante a vida operacional do navio. Destina-se a efectuar reparações e vistoria
nas obras vivas do navio, as quais não podem ser efectuadas a nado.
1. Navio:
a) Comprimento total
b) Comprimento entre perpendiculares
c) Boca máxima no convés
d) Deslocamento (na altura do lançamento)
e) Posição do C.G. (na altura do lançamento)
2. Projecto:
a) Caderno de pesos
b) Vertical integral ou curvas de Bonjean (preferível)
c) Carenas direitas e inclinadas
d) Plano geométrico
e) Plano de ferros
3. Carreira de construção:
a) Inclinação
b) Comprimento total
c) Largura total
Cálculos de Lançamento
Capítulo 7
O estudo da estabilidade do navio em avaria (neste caso quando sujeito a um alagamento) será efectuado
em três partes: (1) a descrição dos métodos de cálculo dos efeitos do alagamento; (2) os métodos de
subdivisão do navio e; (3) o estudo dos critérios de estabilidade do navio em avaria determinísticos e
probabilísticos.
• Anteparas transversais.
• Anteparas longitudinais.
• Duplos-fundos ou pavimentos estanques.
A utilização de subdivisão estanque em navios era já feita na China no século XIII e é hoje utilizada
na generalidade dos navios e embarcações, tal como se mostra na Figura 7.1.
No final do século XIX as sociedades classificadoras estabeleceram regras empíricas para a instala-
ção de anteparas em navios mercantes (surgem os piques tanques de ré e vante, espaços de máquinas
e espaços de carga).
O interesse nesta área foi constante durante todo o final do século XIX e princípio do século XX,
estimulado por acidentes como o do ’HMS Titanic’. Dessa tragédia resultou a convocação de uma
Conferência Internacional sobre a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS) que decorreu em
Londres em 1913.
Nesta conferência foi adoptado um método de projecto da subdivisão que era uma síntese das propostas
de várias nações, mas nunca entrou em uso devido à Primeira Guerra Mundial e devido à oposição
de vários interesses. Em anos subsequentes reuniram-se várias conferências SOLAS que têm vindo a
aprovar critérios de subdivisão e estabilidade em avaria. Os requisitos incidindo sobre a flutuabilidade
e estabilidade em avaria são especialmente rigorosos no que se refere aos navios militares. No caso
destes navios, espera-se que a subdivisão permita não só permanecer a flutuar, mas também manter a
mobilidade. Onde, mesmo em caso de avaria (alagamento), espera-se que um navio militar não perca
totalmente a sua mobilidade por efeito da sobreimersão, adorno e/ou caimento. Espera-se também que
o navio mantenha a sua manobrabilidade intacta após alagamento, desde que o sistema de manobra
se mantenha intacto. Estas qualidades náuticas dependem contudo da imersão do navio, ângulo de
adornamento e do caímento do navio, os quais devem ser minimizados após avaria por meio da incor-
poração de subdivisão.
73
74 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA
Figura 7.1: Exemplos de subdivisão estanque em navios; (a) Navio Porta-contentores; (b) Navio Porta-
helicópteros; (c) Navio Ro-Ro
7.2. CONSEQUÊNCIAS DO ALAGAMENTO NA ESTABILIDADE E FLUTUABILIDADE 75
Figura 7.2: Fotografia ilustrativa da alteração da imersão (ou do bordo-livre) em caso de alagamento
• Alteração da imersão (ou do bordo-livre), de modo a que o volume da parte não danificada do
navio equilibre o deslocamento do navio antes da avaria, subtraíndo o peso de eventuais líquidos
que se encontrem nos compartimentos alagados (tal como se mostra na Figura 7.2).
• Alteração do caímento, de modo a que o centro de carena da parte intacta do navio se coloque
na vertical do centro de gravidade do navio (tal como se mostra na Figura 7.3).
• Alteração da estabilidade do navio por mudança da altura do centro de carena e do raio meta-
cêntrico. A altura do centro de carena geralmente aumenta. O raio metacêntrico pode aumentar
ou diminuir, dependendo da forma do casco.
Figura 7.5: Curva dos braços de estabilidade ilustrativa da redução dos braços em caso de alagamento
• Surgimento de um ângulo de banda devido a altura metacêntrica negativa (tal como se mostra
na Figura 7.6).
Pode subdividir-se os compartimentos alagados de um navio em dois tipos básicos no que diz
respeito à comunicação com o mar:
• Compartimentos com comunicação livre com o mar (tipo 2), tal como se mostra na Figura 7.8.
7.2. CONSEQUÊNCIAS DO ALAGAMENTO NA ESTABILIDADE E FLUTUABILIDADE 77
Figura 7.6: Curva dos braços de estabilidade ilustrativa do aparecimento de um ângulo de banda em
caso de alagamento
Figura 7.7: Fotografia ilustrativa medidas de controle do alagamento (escoramento de rombo) em caso
de alagamento
78 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA
Os compartimentos destas duas categorias podem ainda pertencer a uma de duas categorias no que
diz respeito ao seu extremo superior:
• Compartimentos que são fechados no topo e que estão completamente cheios de água (tipo A).
• Compartimentos que são abertos no topo ou estão parcialmente cheios (Tipo B), tal como se
mostra na Figura 7.8.
No primeiro caso, a superfície da água no compartimento não pode mudar de posição devido à
presença de um pavimento estanque que limita verticalmente o compartimento.
No segundo caso, nada impede que a superfície da água dentro do compartimento mude de posição
como consequência da alteração da posição de equilíbrio do navio.
Os alagamentos mais seguros são aqueles dos tipos 1A e 2A, pois correspondem a casos em que a
progressão do alagamento pode ser controlada.
Mais perigoso que os anteriores é um alagamento do tipo 1B devido à presença de uma superfície
líquida.
Portanto, concluímos ainda que o alagamento mais perigoso de todos corresponde ao 2B, pois além de
existir um espelho líquido a quantidade de água altera-se constantemente pois à medida que o navio
muda de posição o nível interior da água acompanha o nível exterior.
No Método do Peso Embarcado a água proveniente do alagamento é tratada como um peso acres-
centado (embarque de peso), devendo ter-se sempre em conta a presença de espelhos líquidos.
No Método da Perda de Impulsão a água proveniente do alagamento e o próprio compartimento
alagado são tratados como não pertencendo ao navio, isto é, como se esse compartimento deixasse de
pertencer ao navio, originando uma perda de impulsão.
7.3. MÉTODOS DE CÁLCULO DOS EFEITOS DE ALAGAMENTOS 79
Ambos os métodos podem ser aplicados ao cálculo da posição de equilíbrio do navio após um
alagamento de qualquer dos tipos anteriores.
Para compartimentos sem comunicação com o mar, mas alagados, é mais correcto, fisicamente, usar
o método do peso embarcado, pois a quantidade de água mantém-se constante e comporta-se como
pertencendo ao navio.
Para determinar os efeitos de um alagamento com água aberta é mais correcto, fisicamente, utilizar
o método da perda de impulsão pois a água embarcada comporta-se como não pertendo ao navio,
podendo a sua quantidade variar consoante os movimentos deste.
Quando o compartimento alagado não for limitado superiormente por um pavimento estanque e
exista água aberta, então a quantidade de água embarcada dependerá da posição do navio. Este facto
complicará de sobremaneira a utilização do método do peso embarcado neste caso, dado que o cálculo
da massa de água embarcada deverá seguir um processo iterativo.
Os métodos que seguidamente se apresentam dependem das seguintes hipóteses:
Nem todo o volume de um compartimento de um navio é alagável, uma vez que os compartimentos
se encontram geralmente preenchidos com carga ou maquinaria. Define-se então permeabilidade (µ) de
um compartimento como a percentagem do volume desse compartimento que pode ser ocupada com
água. A permeabilidade varia consoante o tipo de compartimento.
De forma inteiramente análoga, nem toda a área e momento de inércia da superfície de um comparti-
mento que atravesse a linha de água se perde com o alagamento deste, pelo que se aplica aí também a
permeabilidade.
Pode também acontecer o ar contido num compartimento não se poder escapar deste, o que causa a for-
mação de um espelho líquido e o aprisionamento do ar no topo do compartimento alagado, chamando-se
a este fenómeno ’pocketing’.
Neste método o alagamento é tratado como uma massa de água embarcada no navio, pelo que o
deslocamento aumenta e a posição do centro de gravidade altera-se. Em resumo, o método consiste
em:
80 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA
(2) Recalcular o deslocamento e a nova posição do centro de gravidade tendo em conta a massa de
água embarcada.
(4) Calcular a posição de equilíbrio final do navio (calados, adornamento) utilizando os métodos
anteriormente expostos para o embarque de pesos a bordo de navios.
(5) Se existir mais do que um compartimento alagado, a posição final do navio será resultado da
soma do embarque de pesos líquidos nos vários compartimentos alagados.
(1) Calcular a nova imersão do navio após o alagamento, sem considerar o caimento ou o adorna-
mento.
(3) Calcular o adornamento resultante da nova posição transversal do centro de carena, tendo em
conta que o centro de gravidade permanece fixo.
(4) Finalmente, calcula-se o caímento resultante da nova posição longitudinal do centro de carena,
tendo em conta que o centro de gravidade permanece fixo.
Figura 7.12: Fotos ilustrativas de um acidente com ocorrência de alagamento seguida de instabilidade
transversal
(4) Braço mínimo de 0.10 [m], incluindo o efeito do momento inclinante máximo (passageiros a um
bordo, lançamento de salva-vidas, pressão do vento).
(6) Braço de estabilidade superior a 0.05 [m] e domínio de estabilidade superior a 7o nas fases
intermédias do alagamento.
Figura 7.14: Mapa de distribuição das alturas de onda significativas no Báltico e Europa do Norte
para efeitos de cálculo da altura de água na coberta de um navio RO-RO e de passageiros (Acordo de
Estocolmo)
84 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA
Figura 7.15: Tabela sumário dos regulamentos internacionais baseados no sistema determinístico
• Não se tomava em consideração as proporções dos navios da época, bem como a imersão, as
permeabilidades e a estabilidade em avaria.
Iniciou-se então o estudo de um método probabilístico de subdivisão, que culminou com a aprovação
de um regulamento probabilístico de subdivisão obrigatório para todos os navios novos de carga e
passageiros com mais de 80 [m], construídos após o ano de 2009. Antes de chegar a esta fase, em 1973,
foi adoptada a Resolução A.265(VIII) pela assembleia da IMO, o primeiro regulamento probabilístico
de subdivisão e estabilidade em avaria de navios de passageiros.
Em 1974, na conferência SOLAS, esta resolução foi tornada equivalente ao método determinístico
habitual.
Em 1990, foi adoptada a Resolução MSC.19(58) pelo Comité de Segurança Marítima (MSC) da IMO,
que introduziu um regulamento probabilístico para navios de carga com mais de 100 [m].
A Resolução MSC.47(66) extendeu a aplicação deste regulamento a navios com mais de 80 [m].
O sub-commité de Estabilidade, Linhas de Carga e Navios de Pesca (SLF) está actualmente a estudar
a possibilidade de harmonização de ambos os regulamentos.
• Probabilidade de que a flutuabilidade e estabilidade do navio após avaria seja suficiente para
evitar o sossobramento ou adornamento excessivo do navio.
O efeito de um rombo no casco de um navio com uma determinada subdivisão depende, essencial-
mente, das seguintes circunstâncias:
Tendo em conta estes aspectos, o método probablístico assume que a probabilidade de sobrevivência
do navio é directamente proporcional a um índice de subdivisão atingido, A. Este índice é obtido pela
fórmula:
X
A= pi s i (7.1)
i∈I
7.6. CRITÉRIOS PROBABILÍSTICOS DE ESTABILIDADE EM AVARIA 85
Estes dados são utilizados para determinar distribuições probabilísticas, tais como a distribuição
longitudinal de avaria mostrada na Figura 7.18:
86 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA
Regra Titulo
Regra 1 Definições
Regra 2 Indíce de Subdivisão Requerido
Regra 3 Regras Especiais no que Diz Respeito à Subdivisão
Regra 4 Permeabilidades
Regra 5 Subdivisão e Estabilidade em Avaria
Regra 6 Indíce de Subdivisão Atingido
Regra 7 Subdivisão Longitudinal e Transversal Combinada
Regra 8 Informação sobre Estabilidade
90 CAPÍTULO 7. ESTABILIDADE DO NAVIO EM AVARIA