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ReviVale

Campus Araçuaí

FOGUETE DE GARRAFA PET COMO FERRAMENTA PARA O


ENSINO DE FÍSICA

Agamenon Pereira Xavier1


Diane Gomes Campos2
Ramon Santana Vieira3
Camila Giardini de Oliveira Cruz4

Recebido em: 11/2021


Aprovado em: 01/2022

RESUMO

O foguete de garrafa PET (Polietileno tereftalato) corresponde a uma atividade experimental


que pode ser utilizada de diversas maneiras, como por exemplo: objeto de pesquisa, atividade
de recreação científica, utilização em feiras e mostras de Ciências, bem como ferramenta para
o ensino de física, sendo esta a abordagem principal deste trabalho. O foguete de garrafa PET
aborda diversos fenômenos científicos e físicos, como pressão, velocidade, impulso, força de
arrasto, hidrodinâmica, aerodinâmica, movimento balístico, terceira lei de Newton, entre
outros. As combinações de todas essas grandezas físicas explicam o funcionamento da
atividade experimental. A partir do foguete de garrafa PET podemos trabalhar conceitos
matemáticos como a função quadrática ou de segundo grau, que descreve a trajetória do
foguete desde o lançamento até sua queda ao nível do solo. O foguete de garrafa PET tem seu
movimento baseado no mesmo princípio dos foguetes espaciais, sendo seu movimento
explicado pela terceira lei de Newton; que diz que, ao expulsar o “combustível” para uma
direção oposta, uma força de mesma intensidade e mesma direção, mas com sentido oposto
age sobre o foguete, levando-o para frente. Neste trabalho também discorremos sobre a
história dos foguetes, o princípio de funcionamento dos foguetes de garrafa PET, e
apresentamos o desenvolvimento das equações da trajetória e alcance máximo. É importante
destacar que, além das potencialidades apontadas, construir e realizar os lançamentos do
foguete, configuram numa atividade instigante e divertida.

Palavras-chave: Foguete de garrafa PET. Atividade Experimental. Ensino Física.


Modelagem matemática.

1
Doutor em Ensino, Filosofia e História das Ciências, docente, IFNMG campus Araçuaí.
2
Discente, Engenharia Agrícola e Ambiental, IFNMG campus Araçuaí.
3
Discente, Engenharia Agrícola e Ambiental, IFNMG campus Araçuaí.
4
Discente, Medicina, UFV.

ISSN 2764-300X ReviVale | Araçuaí | v. II | n. 1 | out. 2021/jun. 2022 1


FOGUETE DE GARRAFA PET
COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE FÍSICA

PET BOTTLE ROCKET AS A TOOL FOR TEACHING PHYSICS

ABSTRACT

The PET (polyethylene terephthalate) bottle rocket corresponds to an experimental activity


that can be used in different ways, such as: research object, scientific recreation activity, used
in science fairs and exhibitions, as well as a tool for teaching physics, this being the main
approach of this work. The PET bottle rocket addresses several scientific and physical
phenomena, such as pressure, velocity, impulse, drag, hydrodynamics, aerodynamics, ballistic
motion, Newton's third law, among others. The combination of all these physical quantities
explains the functioning of the experimental activity. From the PET bottle rocket we can also
work on mathematical concepts such as the quadratic or second degree function, which
describes the trajectory of the rocket from launch to its fall to ground level. The PET bottle
rocket has its motion based on the same principle as space rockets, and its motion is explained
by Newton's third law; which says that, when expelling the “fuel” in an opposite direction, a
force of the same intensity and direction but with the opposite direction acts on the rocket,
driving it forward. In this work we also discuss the history of rockets, the working principle of
PET bottle rockets, as well as the development of the trajectory and maximum range
equations. It is important to highlight that, in addition to the potentialities pointed out,
building and carrying out the rocket launches constitute an exciting and fun activity.

Keywords: PET bottle rocket. Experimental Activity. Physical Education. Mathematical


modeling.

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COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE FÍSICA

1. INTRODUÇÃO

O processo de ensino e aprendizagem muitas vezes impõe desafios aos professores e


estudantes que nem sempre (para alguns autores, poucas vezes) podem ser superados
repetindo a “fórmula” de aulas teóricas em sala de aula (aulas tradicionais). Entre outros
motivos, o ensino de física, em qualquer nível, do ensino fundamental ao curso superior, é
afetado tanto pela dificuldade dos estudantes em interpretar matematicamente as leis e
equações propostas, quanto pelo entendimento teórico e dos vários formalismos utilizados.
Neste sentido, Vilani (1984) diz que na graduação os formalismos são complexos e nem
sempre se aproximam das aplicações concretas e familiares aos alunos; enquanto no ensino
médio a matemática é reduzida à álgebra e os exercícios são aplicações simplificadas das
fórmulas e leis, muitas vezes assemelhando-se a uma caricatura da ciência.
No Ensino Médio, a disciplina física é considerada como “barreira” para muitos
estudantes, com notas baixas comparadas a outros componentes curriculares, grande índice de
recuperações, o que em muitas situações causa desmotivação no seu estudo. Segundo Abreu
(2018) um sério problema no ensino de física na educação básica é a falta de interesse por
parte dos discentes nos conteúdos veiculados, que se distancia de sua vivência social.
Teoricamente a disciplina Física deveria despertar o interesse dos discentes, por ter como base
de estudo os fenômenos que acontecem no dia a dia. Entretanto, muitos docentes encontram
dificuldades em atrair a curiosidade dos estudantes para as temáticas propostas nas aulas.
Uma das alternativas apontada por estudiosos da área para a melhoria do ensino de
Física, passa pela utilização de práticas experimentais nas salas de aula. Para Xavier (2018) as
atividades experimentais são fundamentais para o ensino de ciências, e em específico para o
ensino de Física. Pinho Alves (2000) diz que é quase unânime a aceitação ao uso da
experimentação no ensino de Física, ou pelo menos, não há movimentos contrários à presença
do laboratório didático no seu ensino.
Outro fator importante relacionado ao bom desempenho dos estudantes é a motivação.
Neste sentido, Leiria e Mataruco (2015) apontam que a motivação é um dos pilares de
sustentação da eficiência do processo de ensino e aprendizagem, e as atividades experimentais
desempenham essa função muito bem.
O foguete de garrafa PET permite a criação desta ponte entre conhecimento teórico e
aplicação prática; fornece um exemplo prático do que o aluno estuda, principalmente ao
considerar que os princípios físicos que regem o movimento do foguete de garrafa PET são os

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mesmos que regem o movimento de foguetes em geral, e estes fenômenos são numerosos
dentro dos estudos da hidrodinâmica. Nesse sentido, Luiz, Souza e Domingues (2016)
afirmam que a prática é bastante útil para contextualizar o conhecimento teórico no ensino de
física. Assim, o experimento foguete de garrafa PET se configura como um instrumento de
ensino-aprendizagem de vários fenômenos físicos; bem como é uma oportunidade de
aperfeiçoar todo o aprendizado teórico do aluno com demonstrações práticas de baixo risco e
acessíveis economicamente. Além do que, as atividades experimentais têm suma importância
por permitir tratamento quantitativo e comparação de resultados (XAVIER, 2012).
O foguete de garrafa PET possibilita uma riqueza enorme de fenômenos físicos a
serem estudados, tal como afirma Souza (2007), quando diz que o experimento do foguete de
garrafa PET traz em seu cerne uma vasta gama de fenômenos científicos para o estudo. Como
exemplos de fenômenos físicos que estão atrelados ao lançamento e voo do foguete, podemos
citar a pressão, velocidade, impulso, força de arrasto, hidrodinâmica, aerodinâmica,
movimento balístico, segunda e terceira leis de Newton, entre outros; bem como pode-se
abordar diversos conhecimentos matemáticos, como função polinomial do 2º grau,
trigonometria, identidades trigonométricas, derivação e integração.
Observando a importância das práticas experimentais e o foguete de garrafa PET, é
perceptível a importância que este experimento pode ter no aprendizado de um aluno,
especialmente o aluno mais desinteressado. Souza (2007) ainda diz que o foguete de garrafa
PET é uma ótima alternativa de estudos aprofundados para o ensino médio, bem como pode
ser utilizado no ensino de conteúdos de cursos superiores de exatas. Para ele,
“a teoria envolvida durante o lançamento, mostra aplicabilidade de assuntos como
segunda e terceira leis de Newton, conceitos de momento linear e velocidade
relativa, movimento de um fluido perfeito utilizando a equação de Bernoulli e a
equação de continuidade e expansão adiabática de um gás ideal” (SOUZA, 2007).

Dada a relevância da atividade experimental Foguete de Garrafa PET, no Brasil existe


a Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), ligada a Olimpíada Brasileira de Astronomia e
Astronáutica (OBA). Estas são competições experimentais no âmbito escolar que abrangem
alunos, familiares e professores. Ela possui 4 níveis dispostos gradativamente de acordo com
a série escolar. No ano de 2018, foram aproximadamente 120 mil participantes, evidenciando
a grandeza da Mostra, bem como confirma que o estudo da física pode ser divertido e
aprazível, além de oferecer muito conhecimento ao participante (OBA, 2019).

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2. RECORTE HISTÓRICO

A história do foguete se originou a bastante tempo, e o seu aprimoramento se deu ao


longo de muitos anos e com diversas finalidades.
Segundo Pôrto (c2019), os foguetes foram criados na china no século XIII como forma
de entretenimento em cerimônias religiosas e comemorações, sendo depois usado como arma
em guerras. Em 1232 existe o primeiro registro de uso militar de um foguete, na batalha do
cerco de kai-feng-fu, no qual os chineses os utilizaram contra os mongóis. Neste sentido,
Oliveira (2008), no diz que,
“Os chineses foram os primeiros a experimentar tubos cheios de pólvora com arcos
para fins militares. Nestes lançamentos acabaram descobrindo que os tubos
contendo pólvora poderiam lançar-se com a impulsão dos gases liberados pela
reação química. Nascia o primeiro foguete” (OLIVEIRA, 2008, p. 4).

Pôrto (c2019) explica que o conhecimento sobre foguetes se espalhou pela Ásia, por
países como Coréia e Japão e depois rompeu as fronteiras continentais para Europa, nas
batalhas de Legnica, na Polônia em 1241 e contra Bagdá em 1248.
Durante o século XX, os foguetes foram bastante utilizados, tanto na segunda guerra
para levar bombas (mísseis), quanto na guerra fria durante o período da corrida espacial e
disputa de propaganda. Após a segunda guerra mundial os foguetes foram aprimorados para
um movimento balístico de máximo alcance horizontal, e assim nasceram os mísseis
intercontinentais.
Ainda no século XX, Iuri Gagarin se tornou o primeiro homem a viajar pelo espaço,
levando a União Soviética à uma vantagem momentânea na corrida espacial e de propaganda;
vantagem esta que só foi revertida com a Apollo 11, onde Neil Armstrong se tornou o
primeiro homem a colocar os pés na lua. Durante o século XX os foguetes se tornaram algo
além de armas e meios de transporte, tornaram-se um símbolo de poder e avanço tecnológico,
uma propaganda altamente eficiente que viria a ter relevância na disputa econômico-social-
ideológica que ocorria.
Atualmente os foguetes exercem importante papel na comunicação, através dos
satélites, e pesquisa, como por exemplo, nos lançamentos efetuados pela NASA.

3. ELEMENTOS DO FOGUETE DE GARRAFA PET

O foguete de garrafa PET que tem o seu funcionamento a base de água e ar, é um
experimento que ganhou popularidade por sua simplicidade e inovação. Sendo construído

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geralmente a partir de garrafas PET de 2 L, utiliza um sistema de água e ar comprimido em


alta pressão, para que, quando liberados, possam gerar o impulso no foguete.
As imagens abaixo apresentam o foguete de garrafa PET e diversos elementos que o
constitui.
Figura 1 – Foguete de Garra PET e base de lançamento

Fonte: Foto dos autores, 2020.

Na figura 1, apresentamos imagens em posições distintas do foguete de garrafa PET e


a base de lançamento. O foguete foi construído a partir de duas garrafas PET de 2 litros, aletas
laterais para dar estabilidade durante o voo, e estas são feitas com de pastas de arquivo. A
base de lançamento subdivide em duas partes, sendo uma delas feita de tubos e conexões PVC
(policloreto de vinila); e o suporte construído de madeira, que permite a variação no ângulo de
lançamento.
Figura 2 – Sistema de fixação; transferidor e sistema de ajuste de ângulo; Manômetro

Fonte: Foto dos autores, 2020.

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A figura 2 é composta de três imagens: esquerda, centro e direita. A imagem da


esquerda mostra o esquema de fixação do foguete à base de lançamento. Um cano de PVC
com um corte tipo escama vai encaixado dentro da garrafa PET, por onde entra o ar, e a
garrafa é fixada no seu bocal, através de abraçadeiras de nylon e uma luva PVC de maior
diâmetro. A imagem do centro apresenta um transferidor acoplado a base de lançamento, que
por meio de uma dobradiça, é possível alterar facilmente o ângulo de lançamento do foguete.
A imagem da direita exibe o manômetro, também adaptado a base de lançamento, o qual é
utilizado para medir a pressão interna do foguete de garrafa PET. O Manômetro utilizado está
calibrado em duas unidades de medida: PSI (Pound-force per square inch – libra-força por
polegada ao quadrado) e kgf / cm2 (quilograma-força por centímetro ao quadrado).

4. PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO FOGUETE DE GARRAFA PET

Costa (2009) utiliza de uma metáfora para explicar de modo bem simples o
funcionamento do foguete de garrafa PET:
“consiste em um processo semelhante ao de se abrir uma garrafa de champanhe,
onde ao agitar a garrafa dessa bebida é liberado gás que aumenta a pressão dentro da
garrafa até o ponto em que a rolha escapa e sai, abrindo a garrafa” (COSTA, 2009,
P.7).

No entanto, nesta seção apresentamos de modo mais detalhado o funcionamento do


foguete de garrafa PET.
Os principais princípios físico-matemáticos que explicam a impulsão e a trajetória dos
foguetes não apresentam grandes diferenças dentre os mais variados modelos de foguetes
existentes, desde os foguetes “reais”, aos foguetes de garrafa PET. Segundo Xavier (2012) os
foguetes têm como principal componente o propulsor, armazenando a energia química em
forma de combustível, que então transfere sua energia para o foguete durante o voo. O
propulsor, somado ao combustível interno, chega a ser o componente com maior percentual
de massa dentre todos os componentes na massa final do foguete.
O foguete é feito basicamente de uma garrafa PET e aletas laterais (para dar
estabilidade no voo). O foguete de garrafa PET é colocado sobre a base de lançamento com
uma quantidade de água em seu interior. Para que ocorra o lançamento, com o auxílio de uma
bomba de ar, é aumentada a pressão no interior da garrafa, proporcionando um acumulo de
energia potencial (energia armazenada) a ser utilizada para o lançamento do foguete. Ao
liberar o foguete da base de lançamento, a pressão interna começa a empurrar a água para fora
do foguete. A figura 3 representa o foguete de garrafa PET instantes antes do lançamento. A

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figura evidencia a pressão interna Pint , que é maior que a pressão externa, ou seja, a pressão

atmosférica PAtm ; além de indicar outros elementos, como a área da câmera do foguete, A ; a

área de saída da água (área do bocal), A 0 ; a altura, h , da coluna de água; e também a


velocidade de descida da água dentro da câmera e do jato de água que sai do bocal,
respectivamente representadas por V e u .
Figura 3 – Representação Foguete de Garrafa PET antes do lançamento

Fonte: Xavier, 2012.

Tendo como base primordial de seu funcionamento a terceira lei de Newton, as forças
de ação e reação (foguete/água/ar) fazem com que o foguete seja impulsionado. Ao expulsar a
água de seu interior, devido à força gerada pela pressão interna do artefato, o foguete é jogado
para a direção oposta à agua, e esse par ação-reação, tem a mesma intensidade, mesma
direção, porém em sentidos opostos, ou seja, a mesma força que faz como que a água seja
expelida para baixo, empurra o foguete para cima.
O movimento do foguete de água, bem como de outros foguetes, pode ser modelado a
partir da segunda lei de Newton para sistemas com massa continuamente variável. De acordo
com Tipler e Mosca (2006), a equação pode ser descrita na forma:

dM
Onde, Fext .R é a força resultante externa e é a taxa de variação de massa da água.
dt
Os termos v , u e t são respectivamente a velocidade de subida do foguete, a velocidade com

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que a água é expelida e o tempo de impulsão. Sendo a força externa resultante, a força
responsável por acelerar o foguete.

5. VÔO DO FOGUETE DE ÁGUA: EQUAÇÃO DA TRAJETÓRIA E ALCANCE


MÁXIMO

O voo do foguete de garrafa PET depende de algumas variáveis, como a velocidade do


vento no local, do arrasto, do ângulo de ataque formado entre a força resultante e a direção da
ponta do foguete, do formato do foguete, posicionamento das aletas laterais e, principalmente,
do ângulo formado entre a direção de lançamento do foguete e o chão.
A trajetória do foguete é definida por uma função quadrática com concavidade virada
para baixo. O princípio que descreve satisfatoriamente este movimento é o princípio do
lançamento balístico.
A trajetória do foguete pode ser explicitada como um movimento balístico,
desprezando a resistência do ar. O movimento balístico, ou movimento oblíquo, é a junção de
movimentos na horizontal, movimento uniforme (MU), onde a velocidade é constante; e o
movimento vertical, movimento uniformemente variável (MUV), em que a aceleração é a
própria aceleração da gravidade. A figura 4 apresenta o exemplo de uma trajetória balística
em duas dimensões. A componente horizontal da velocidade está representada por vx e a

componente vertical da velocidade corresponde a v y .


Figura 4 – Trajetória de um movimento balístico

Fonte: Adaptado de <https://es.wikipedia.org/wiki/Trayectoria_bal%C3%ADstica>

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O caminho percorrido pelo foguete pode ser expresso pela equação da trajetória, a qual
demonstramos neste tópico. Partindo do Movimento Uniforme, que ocorre no eixo horizontal,
podemos descrevê-lo pela equação:

s f  si  v  t
s f - Espaço ou posição final;
si - Espaço ou posição inicial;
v - Velocidade;

t - Tempo.
O termo “ s ” será substituído por “ x ”, para representar o movimento no eixo “ x ” das
coordenadas cartesianas.

x f  xi  v  t
Considerando o espaço inicial como a origem, então esse termo corresponde a 0 (zero)

xf  v t
A velocidade no eixo x é uma das componentes da velocidade inicial em relação ao
ângulo  . Temos então:

x f  vx  t
Que pode ser escrita como,

x f  vi cos   t
Isolando o tempo,

xf
t
vi cos 
Já o movimento na vertical, também desprezando a resistência do ar, corresponde ao
Movimento Uniformemente Variado (MUV). Para o MUV, utilizamos a equação

1
s f  si  vi  t   a  t 2
2
Considerando que o movimento na vertical ocorre no eixo “ y ” do sistema de
coordenadas cartesianas, e sendo “ a ” a aceleração, que corresponde neste caso à aceleração
da gravidade  g  , e que o eixo y é positivo verticalmente para cima (sistema de referência

adotado), temos,

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1
y f  yi  viy  t   g  t 2
2
E como consideramos o espaço inicial igual a zero (origem), podemos escrever:

1
y f  viy  t   g  t 2
2
A velocidade inicial no eixo “ y ”, corresponde ao produto do módulo da velocidade

inicial e o seno do ângulo de lançamento ( viy  vi  sen ), assim,

1
y f  vi  sen  t   g  t 2
2
Como a equação da trajetória é composta de dos dois movimentos, Movimento
Uniforme e Movimento Uniformemente Variado, podemos substituir o tempo encontrado na
equação do Movimento Uniforme, na equação acima. A junção das duas equações dará:
2
 xf  1  xf 
y f  vi  sen      g   
 vi  cos   2  vi  cos  
Simplificando a velocidade inicial  vi  na primeira parte da equação, e elevando a

segunda parte da equação ao quadrado,

sen g  x 2f
y  xf 
cos  2   vi  cos  
2

Ou então,

g  x 2f
y  tg  x f 
2   vi  cos  
2

Sendo esta última denominada de equação da trajetória do movimento balístico do voo


do foguete.
Para determinar o alcance horizontal do foguete, também desprezando à resistência do
ar, partimos da equação do MUV, definida pela equação:

1
y f  yi  viy  t   g  t 2
2
E passando para o lado esquerdo da igualdade a posição inicial ( yi )

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1
y f  yi  viy  t   g  t 2
2
 x 
Substituindo o tempo pela equação anteriormente definida  t   , porém
 vi cos  

desconsiderando a posição inicial igual a 0 (zero), para assim considerarmos o alcance


horizontal como x , e levando em consideração que o objeto parte do solo e volta ao solo
(posição final igual a inicial, no eixo y ), podemos escrever,
2
 x  1  x 
0  0  v  y
   g  
 vi  cos   2  vi  cos  
i

Substituindo viy  ví  sen


2
 x  1  x 
0  0  vi  sen      g  
 vi  cos   2  vi  cos  

Simplificando vi no primeiro termo do lado direito da igualdade, e elevando ao


quadrado os itens entre parênteses no segundo termo,

sen g  x 2
0  x 
cos  2  vi2  cos 2 
x
Colocando em evidência o termo
cos 

x  g  x 
0  sen  
cos   2  vi2  cos  
Isolando o termo entre parênteses,

0  g  x 
  sen  
x  2  vi2  cos  
cos 
 g  x 
0   sen  
 2  vi2  cos  
Passando o termo negativo para o outro lado da igualdade, trocando o sinal

g  x
 sen
2  vi2  cos 

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Isolando x

sen  2  vi2  cos 


x 
g
Considerando a identidade trigonométrica, 2sen cos   sen  2  ; por fim, temos a

equação do alcance máximo do voo do foguete.

vi2
x   sen  2 
g
A partir desta equação, percebemos que para se ter o alcance máximo, o ângulo de
lançamento deve ser de 45º, já que o argumento da função seno é , e o seno tem valor
máximo igual a 1 (um).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos que a realização deste trabalho se mostra relevante, uma vez que foi
apresentado as potencialidades da utilização do experimento foguete de garrafa PET para o
ensino de Física, tanto para cursos de Ensino Médio, bem como para cursos superiores das
áreas de exatas.
A construção do foguete de garrafa PET por parte dos estudantes, aproxima-os da
prática experimental, e se construído em equipe, incentiva a prática colaborativa, interação,
estimula suas habilidades motoras e criativas.
Todas as etapas, da construção do experimento, à teorização do funcionamento do
foguete de garrafa PET; aliadas a uma metodologia de ensino (ficando livre para escolha do
docente, desde metodologias mais tradicionais à metodologias ativas), bem como a discussão
acerca das variáveis que influenciam no lançamento e no voo (pressão interna, aerodinâmica
do foguete, ângulo de lançamento, etc), a modelagem matemática e o desenvolvimento das
equações físicas envolvidas; têm grande potencial como ferramenta para o ensino de Física e
conceitos matemáticos. Por fim, é importante ressaltar que, além das potencialidades
apontadas, construir e realizar os lançamentos do foguete, configuram numa atividade
instigante e divertida.

REFERÊNCIAS

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garrafa pet no ensino da Física. Ciclo Revista: Experiências em formação no IF Goiano, Rio
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ISSN 2764-300X ReviVale | Araçuaí | v. II | n. 1 | out. 2021/jun. 2022 14

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