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SUPERINTENDÊNCIA DE REGULAÇÃO ECONÔMICA

SRE

METODOLOGIAS PARA
REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA
DAS CONCESSIONÁRIAS DE DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA

Nota Técnica n.º 122/2005-SRE/ANEEL


Brasília, 19 de abril de 2005

1
ÍNDICE

I - OBJETIVO __________________________________________________________________________________ 3
II – INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________________ 3
III – ASPECTOS LEGAIS _________________________________________________________________________ 5
IV - O REGIME DE REGULAÇÃO POR INCENTIVOS – UMA VISÃO GERAL _______________________________ 6
IV.1 - O REPOSICIONAMENTO TARIFÁRIO_______________________________________________________ 9
IV.2 – O FATOR X ___________________________________________________________________________ 11
IV.3 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DA QUALIDADE DO SERVIÇO_________________________________ 13
IV.4 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DAS PERDAS DE ENERGIA ELÉTRICA _________________________ 14
IV.5 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DAS RECEITAS EXTRA-CONCESSÃO __________________________ 15
V – A REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA DA CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA _ 15
V.1 – CÁLCULO DA RECEITA REQUERIDA ______________________________________________________ 16
V.1.1 – Custos Operacionais Eficientes_________________________________________________________ 16
V.1.2 – Remuneração do Capital______________________________________________________________ 19
V.1.2.1 – Custo do Capital Próprio __________________________________________________________ 20
V.1.2.2 – Custo do Capital de Terceiros ______________________________________________________ 24
V.1.2.3 – Estrutura de Capital ______________________________________________________________ 25
V.1.2.4 – Custo Médio Ponderado do Capital (WACC)___________________________________________ 26
V.1.2.5 – Base de Remuneração Regulatória__________________________________________________ 27
V.1.2.6 – Cálculo da Remuneração Bruta do Capital Próprio e de Terceiros __________________________ 27
V.1.2.7 – Quota de Reintegração Regulatória (Depreciação)______________________________________ 28
V.1.3 – Valor da Parcela A___________________________________________________________________ 28
V.1.3.1 – Compra de Energia Elétrica________________________________________________________ 29
V.1.3.2 – Encargos Tarifários ______________________________________________________________ 32
V.1.5 – Total da Receita Requerida____________________________________________________________ 36
V.1.6 – Receita Verificada ___________________________________________________________________ 36
V.1.7 – Outras Receitas_____________________________________________________________________ 36
V.1.8 – Cálculo do Reposicionamento Tarifário___________________________________________________ 37
VI – CÁLCULO DO FATOR X ____________________________________________________________________ 38
VI.1 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xe _________________________________________________________ 40
VI.2 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xc _________________________________________________________ 42
VI.3 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xa _________________________________________________________ 43
VI.4 – APLICAÇÃO DO FATOR X NOS REAJUSTES TARIFÁRIOS____________________________________ 45
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA ____________________________ 45
VIII – COMPONENTES TARIFÁRIOS FINANCEIROS EXTERNOS À REVISÃO TARIFÁRIA___________________ 47
IX – ABERTURA DAS TARIFAS E REALINHAMENTO TARIFÁRIO ______________________________________ 50
IX.1 – A ESTRUTURA TARIFÁRIA ATUAL _______________________________________________________ 50
IX.2 – ADEQUAÇÃO DA ESTRUTURA TARIFÁRIA ATUAL – ASPECTOS LEGAIS _______________________ 51
IX.3 – ABERTURA DAS TARIFAS DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA _______________________ 54
X – ANEXOS__________________________________________________________________________________ 57
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Nota Técnica n.º 122/2005-SRE/ANEEL
Em 19 de abril de 2005.

Assunto: metodologias para revisão tarifária periódica


das concessionárias de distribuição de energia
elétrica.

I - OBJETIVO
1. A presente Nota Técnica tem por objetivo apresentar as metodologias que são utilizadas nos processos
de revisão tarifária periódica das concessionárias de distribuição de energia elétrica.

2. Na seção II apresenta-se uma breve caracterização do contrato de concessão de distribuição de energia


elétrica. A seção III apresenta os aspectos legais do processo de revisão tarifária periódica da
concessionária, destacando-se a legislação pertinente e o contrato de concessão. A seção IV apresenta
uma visão geral do regime de regulação por incentivos aplicável às concessionárias de distribuição de
energia elétrica.

3. A revisão tarifária periódica da concessionária é apresentada nas seções V e VI, onde se explicita as
metodologias adotadas para obtenção do reposicionamento tarifário e do Fator X, respectivamente. As
considerações finais sobre o processo de revisão tarifária periódica encontram-se na seção VII.

4. Na seção VIII são apresentados os componentes tarifários financeiros externos à revisão tarifária
periódica que devem ser agregados às tarifas resultantes da revisão, isto é, a Conta de Compensação de
Variação de Valores de Itens da Parcela A (CVA); a Recomposição Tarifária Extraordinária (RTE) e os
custos administrativos adicionais decorrentes do racionamento, entre outros. Finalmente, na seção IX
aborda-se a abertura das tarifas e o realinhamento tarifário.

II – INTRODUÇÃO

5. Os contratos de concessão das distribuidoras de energia elétrica foram assinados a partir de 1995,
portanto, antes da criação da ANEEL. Em cada um desses contratos foram estabelecidas as tarifas iniciais
e os mecanismos de suas alterações: i) reajuste tarifário anual; ii) revisão tarifária extraordinária; e iii)
revisão tarifária periódica. Tais mecanismos tiveram sua origem na política tarifária aprovada pelo
Conselho Nacional de Desestatização (CND), em novembro de 1995.

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6. Segundo o contrato de concessão, a receita inicial da concessionária é dividida em duas parcelas. A
Parcela A envolve os chamados “custos não gerenciáveis” da concessionária, relacionados à atividade de
distribuição de energia elétrica e explicitamente indicados no contrato. São custos cujos montantes e
variações escapam à vontade ou influência da concessionária, como a energia elétrica adquirida para
atendimento aos clientes, os custos de transmissão e os encargos setoriais1. A Parcela B compreende o
valor remanescente da receita, envolvendo, portanto, os ditos “custos gerenciáveis”. São custos próprios
da atividade de distribuição e de gestão comercial dos clientes, que estão sujeitos ao controle ou influência
das práticas gerenciais adotadas pela concessionária – ou seja - os custos de operação (pessoal, material
e serviços de terceiros). Além destes, a Parcela B inclui a remuneração do capital e os tributos. Os
contratos de concessão contemplam procedimento específico para reajuste dessas parcelas durante cada
ano do período tarifário.

7. Ao iniciar-se o primeiro período tarifário, cada concessionária tem em seu respectivo contrato de
concessão a definição da estrutura tarifária com seus valores iniciais que, aplicados ao seu mercado,
definem a receita anual do primeiro ano do período tarifário (RA). Em cada reajuste anual do período
tarifário, o valor da Parcela A (VPA) é obtido pelas condições vigentes de cada um dos itens que
compõem a citada parcela (compra de energia e outros). O novo valor da Parcela B (VPB) é obtido pela
diferença entre RA e VPA, corrigido pela variação do IGP-M observada nos 12 meses anteriores à data do
reajuste. Tais regras estimulam a concessionária a reduzir os custos de operação (cobertos pela Parcela B
da receita) ao longo do período anterior à revisão tarifária, uma vez que custos menores para um mesmo
nível real de tarifas implicam em maiores benefícios para a concessionária, sob a forma de maior
remuneração do capital. Portanto, a remuneração da concessionária não está garantida, mas depende de
uma gestão eficiente dos chamados custos gerenciáveis.

8. Em cumprimento ao contrato de concessão, o Regulador, em cada ano do primeiro período tarifário,


aplicou estritamente o procedimento de reajuste tarifário anual estabelecido no contrato. Dessa forma, a
evolução das tarifas, ao longo do primeiro período tarifário, foi uma conseqüência exclusiva da aplicação
desse mecanismo contratual.

9. As participações relativas da Parcela A e da Parcela B na receita anual da concessionária modificaram-se


durante o primeiro período tarifário, na medida em que, enquanto a Parcela A foi atualizada de acordo com
os valores vigentes de cada um de seus componentes, a Parcela B foi obtida por resíduo e, após,
atualizada pelo IGP-M. Considerando que determinados itens da Parcela A se ajustaram acima do IGP-M,
como foi o caso da energia de Itaipu, indexada à taxa de câmbio, o resultado foi o aumento da
participação relativa da Parcela A na receita anual da concessionária ao longo do primeiro período
tarifário.

10. Analisando-se o assunto do ponto de vista da concessionária de distribuição que recebe como receita a
Parcela B, a alteração das participações das Parcelas com relação à receita total da empresa não implica
necessariamente em perda de remuneração. A evolução efetiva da remuneração depende dos seguintes
aspectos: i) se o valor da Parcela B, determinado por resíduo no início do primeiro período tarifário era
suficiente para cobrir os custos operacionais e assegurar um adequado retorno sobre o capital investido, e
ii) se o ajuste anual da Parcela B – por diferença e pela variação do IGP-M – modificou, favoravelmente ou
não, a condição inicial do contrato.

1Convém observar que, com o início da redução dos contratos iniciais e a conseqüente liberdade de aquisição de
energia no mercado de preços livres, as concessionárias passaram a ter capacidade de gerenciar a aquisição da
energia pelo menor preço.
4
III – ASPECTOS LEGAIS
11. A previsão de realização de revisão tarifária periódica está consignada em lei e nos contratos de
concessão do serviço público de distribuição de energia elétrica, portanto, trata-se de obrigação legal e
contratual, cabendo à ANEEL sua implementação, conforme disposto no § 2º do art. 9º da Lei nº 8.987, de
13 de fevereiro de 1995:

“Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio
econômico-financeiro”.

12. Da mesma forma, o art. 29 da referida Lei estabelece que:

Art. 29. Incumbe ao poder concedente:

V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das normas
pertinentes e do contrato”.

13. À ANEEL, como titular das competências reservadas ao Poder Concedente, nos termos do art. 3° da Lei
n° 9.427, de 26 de dezembro de 1996, com explícita remessa ao art. 29 da Lei n° 8.987/95, cumpre
regular o serviço público de distribuição de energia elétrica e efetuar as revisões tarifárias periódicas. Por
sua vez, o art. 15 da referida lei define a remuneração do serviço pelo preço como:

“(...) o regime econômico-financeiro mediante o qual as tarifas máximas do serviço público de


energia elétrica são fixadas em ato específico da ANEEL, que autorize a aplicação de novos
valores, resultantes de revisão ou de reajuste, nas condições do respectivo contrato”.

14. O inciso X, do art. 4º, do Anexo I, do Decreto nº 2.335, de 6 de outubro de 1997, estabelece a
competência da ANEEL para atuar, na forma da lei e do contrato, nos processos de definição e controle de
preços e tarifas, homologando seus valores iniciais, reajustes e revisões, e criar mecanismos de
acompanhamento de preços.

15. Os contratos de concessão para distribuição de energia elétrica estabelecem, na cláusula que trata das
tarifas aplicáveis na prestação dos serviços, que a ANEEL, de acordo com cronograma previsto no
contrato, procederá às revisões dos valores das tarifas de comercialização de energia, conforme
estabelecem os contratos de concessão da CONCESSIONÁRIA, em sua cláusula sétima:

“Quinta Subcláusula - O PODER CONCEDENTE, de acordo com o cronograma apresentado nesta


subcláusula procederá às revisões dos valores das tarifas de comercialização de energia, alterando-
os para mais ou para menos, considerando as alterações na estrutura de custos e de mercado da
CONCESSIONÁRIA, os níveis de tarifas observados em empresas similares no contexto nacional e
internacional, os estímulos à eficiência e a modicidade das tarifas. Estas revisões obedecerão ao
seguinte cronograma: a primeira revisão será procedida um ano após o quarto reajuste anual
concedido, conforme previsto na Segunda Subcláusula; a partir desta primeira revisão, as
subseqüentes serão realizadas a cada 5 (cinco) anos.

Sexta Subcláusula - No processo de revisão das tarifas, estabelecido na Subcláusula anterior, o


PODER CONCEDENTE estabelecerá o valor de X, que deverá ser subtraído ou acrescido na
5
variação do IVI ou seu substituto, nos reajustes anuais subseqüentes, conforme descrito na Quarta
Subcláusula. Para os primeiros sete reajustes anuais, o valor de X será zero.”

16. Assim, o atual modelo de concessão do serviço público de distribuição de energia elétrica estabeleceu o
denominado regime de preços máximos, cuja finalidade precípua é a eficiência na prestação do serviço e
a modicidade tarifária, com vantagens para os usuários do serviço. Dessa forma, a revisão tarifária
periódica constitui o instrumento regulatório do novo regime econômico e financeiro mediante o qual se
assegura que os ganhos de eficiência empresarial se expressem em modicidade tarifária. Assim, o art. 14
da Lei n° 9.427/96 estabelece que o regime econômico e financeiro da concessão de serviço público de
energia elétrica compreende:

“IV - apropriação de ganhos de eficiência empresarial e da competitividade”.

IV - O REGIME DE REGULAÇÃO POR INCENTIVOS – UMA VISÃO GERAL


17. A missão essencial do Regulador de um serviço com características de monopólio natural (como é o caso
da distribuição de energia elétrica) é garantir que sejam respeitados os direitos dos clientes cativos e dos
prestadores do serviço que atuam com eficiência e prudência. Os clientes cativos, isto é, aqueles que não
têm a possibilidade de escolher o prestador do serviço, têm o direito de receber o serviço com os níveis de
qualidade estabelecida na legislação aplicável – em especial, o contrato de concessão – e de pagar uma
tarifa justa. O prestador do serviço que atua com eficiência e prudência tem o direito de obter cobertura
dos custos operacionais e adequado retorno sobre o capital investido, dadas as características do negócio
regulado.

18. Assim, são competências e obrigações fundamentais do Regulador, entre outras: i) determinar quais são
as tarifas justas; ii) evitar que se produzam situações de abuso de posição dominante, derivada da
situação de monopólio; iii) verificar se os níveis de qualidade do serviço efetivamente recebido pelos
consumidores são os estabelecidos na legislação aplicável.

19. Isso implica na realização de um monitoramento da qualidade do serviço para cada consumidor individual
e, no caso de serem constatadas situações de descumprimento dos níveis exigidos, aplicar penalidades
ao prestador que atuem como um forte desestímulo à repetição dessas situações. É desejável que os
valores das penalidades sejam totais ou parcialmente revertidos aos consumidores afetados por esses
descumprimentos, já que são eles que sofrem suas conseqüências.

20. Para determinar as tarifas justas a serem pagas pelosclientes do serviço monopolista de distribuição de
energia elétrica, o Regulador deve levar em consideração que as tarifas são formadas por dois
componentes fundamentais: i) custos operacionais vinculados à operação e manutenção dos ativos
necessários para a prestação do serviço, gestão comercial dos clientes, direção e administração da
empresa; e ii) remuneração dos ativos efetivamente necessários para a prestação do serviço, com os
níveis de qualidade exigidos na legislação, de modo a assegurar a sustentabilidade econômica do
negócio. O Regulador estará cumprindo com suas atribuições e obrigações essenciais na medida em que
as tarifas estabelecidas contemplem custos operacionais que atendam aos critérios de eficiência e
remuneração dos ativos efetivamente necessários para prestar o serviço com a qualidade exigida,
considerando um retorno adequado às características do negócio.

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21. Se as tarifas não contemplam simultaneamente esses dois aspectos, o Regulador não somente não
estará cumprindo sua missão fundamental, como também, - o setor poderá evoluir para condições
inconvenientes. Assim, uma situação potencialmente perigosa é aquela em as tarifas cobrem os custos
operacionais eficientes, porém resultam insuficientes para remunerar os ativos. Nesse caso, onde o
prestador não obtém as receitas tarifárias requeridas para remunerar os ativos, a conseqüência mais
provável é uma progressiva deterioração da qualidade do serviço recebido pelos clientes. Como esse
fenômeno não ocorre de forma instantânea, mas em geral trata-se de um processo gradual, existe um
sério risco de que o problema seja detectado quando seus efeitos tenham se tornado graves e
irreversíveis. Se isso ocorre, os consumidores serão os principais prejudicados. A única forma de evitar
que isso ocorra é fixar tarifas adequadas e realizar una medição efetiva da qualidade do serviço prestado,
aplicando as penalidades aplicáveis nos casos de descumprimento.

22. Ao final do primeiro período tarifário, de acordo com o contrato de concessão, o Regulador procede à
primeira revisão tarifária periódica. Trata-se da primeira oportunidade em que o Regulador pode atuar no
âmbito das tarifas aplicáveis ao serviço de distribuição de energia elétrica. A essência da revisão tarifária
periódica consiste em se definir um novo valor de receita para o serviço de distribuição (Parcela B). Esse
valor deve ser determinado considerando-se que as tarifas reguladas devem refletir os conceitos
fundamentais de custos operacionais eficientes e adequada remuneração. A determinação do valor da
Parcela B, mediante a consideração desses conceitos, deve responder à seguinte questão: quais são os
valores das tarifas pelos quais estaria disposto a prestar os serviços de distribuição, nas
condições previstas no contrato de concessão, um hipotético distribuidor entrante eficiente que
teria que construir toda a infra-estrutura de distribuição de energia elétrica necessária ao
atendimento de uma determinada área de concessão? Com efeito, são esses valores de tarifas que
simulam uma competição entre a concessionária e um hipotético distribuidor entrante, e esses seriam os
valores justos a serem pagos pelos clientes da concessionária.

23. O prestador de serviço de distribuição necessita que a tarifa cubra: i) custos operacionais eficientes e ii)
adequado retorno sobre capital investido para construir a infra-estrutura necessária para prestar o serviço
de distribuição. O prestador precisa arrecadar, por intermédio da tarifa, ao longo do contrato de
concessão, o valor total de seu investimento, mais uma adequada remuneração sobre o mesmo. Pode-se
dizer que o prestador está disposto a realizar um empréstimo equivalente ao valor total investido, desde
que receba uma taxa de retorno igual à obtida pela remuneração adequada (definida pelo Regulador). Os
consumidores da concessionária pagarão esse empréstimo (amortização mais remuneração) por
intermédio das tarifas.

24. Diferentemente do regime de custo do serviço, no regime de tarifa pelo preço as tarifas são estabelecidas
no momento da assinatura do contrato de concessão e permanecem constantes com base em indexador
previsto nos contratos por um período de tempo previamente determinado, em geral quatro anos. Ao final
desse período se procede à revisão tarifária. Esse intervalo no qual as tarifas permanecem fixas
proporciona à concessionária oportunidade de aumentar seus benefícios mediante medidas de redução de
custos e ganhos de eficiência, dado o nível de qualidade exigido na prestação do serviço.

25. No momento da revisão tarifária são estabelecidas novas tarifas com base em custos eficientes, de forma
que os consumidores sejam beneficiados pelas reduções de custos e pela maior eficiência que a
concessionária teve a oportunidade de obter. Dessa forma, a remuneração do capital investido na
prestação do serviço não é pré-determinada (como no regime de custo do serviço), mas pode ser
acrescida como resultado da redução dos custos de operação, uma vez que os contratos prevêem

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mecanismos que procuram fazer as tarifas permanecerem constantes em termos reais. As atuais regras
jurídicas e econômicas relativas ao regime tarifário dos contratos de concessão do serviço público de
distribuição de energia elétrica no Brasil constituem uma vertente do regime de regulação por incentivos.
Sua finalidade precípua é o aumento da eficiência e da qualidade na prestação do serviço, atendendo ao
princípio de modicidade tarifária, conforme estabelecido pelo art. 14 da Lei n° 9.427, de 26 de dezembro
de 1996, o regime econômico e financeiro da concessão de serviço público de energia elétrica
compreende “IV - apropriação de ganhos de eficiência empresarial e da competitividade”.

26. Pelas razões expostas, o valor da Parcela B resultante da revisão tarifária periódica é específico para
cada concessionária e não é correto afirmar que exista qualquer relação entre esse valor e o valor da
Parcela B do último ano do primeiro período tarifário. Conforme exposto anteriormente, o contrato de
concessão determina que sejam repassadas integralmente as variações anuais de custos observadas na
Parcela A. Já a Parcela B – calculada por resíduo – é reajustada anualmente pelo IGP-M, com vistas à
sua atualização monetária, sendo que o referido índice de preços é ajustado por um “Fator X”,
determinado pela ANEEL na revisão tarifária periódica.

27. O Gráfico 1 tem a finalidade de ilustrar o efeito do regime de preços máximos sobre as tarifas. Para
simplificar, supõe-se que as variações do índice que reajusta anualmente a Parcela B (IGP-M) e dos
custos da Parcela A sejam iguais a zero ao longo do primeiro período tarifário (1999-2003). A tarifa (ou
“preço máximo”), inicialmente fixada em T1, permanece com seu valor fixo (em termos reais) no primeiro
período tarifário, ou seja, até a primeira revisão tarifária periódica. Isso significa que a concessionária tem
a oportunidade de reduzir custos de operação – o que está expresso pela área azul do Gráfico 1 – e,
assim, aumentar sua remuneração ao longo desse período. Se a concessionária for eficiente, poderá se
apropriar do aumento da remuneração resultante de sua gestão ao longo desse período.

28. Ao final do primeiro período tarifário procede-se à primeira revisão tarifária periódica da concessionária.
Essa revisão reveste-se de particular importância, tanto para a concessionária como para o consumidor.
Até então, o consumidor pagou as tarifas históricas e essa revisão se apresenta como a primeira
oportunidade dada ao regulador para estabelecer tarifas justas. A concessionária, por sua vez, teve a
oportunidade de auferir ganhos mediante reduções de custos e, na revisão, serão discutidos os custos
operacionais e a remuneração que deverão ter cobertura tarifária. Além disso, ela deverá cumprir metas
de eficiência futuras que serão estabelecidas nesse processo.

29. O processo de revisão tarifária é realizado em duas etapas. Na primeira etapa, denominada
reposicionamento tarifário, são estabelecidas tarifas compatíveis com a cobertura dos custos
operacionais eficientes – para um dado nível de qualidade do serviço – e com uma remuneração justa e
adequada sobre investimentos realizados com prudência. As novas tarifas são estabelecidas no nível T2
do Gráfico 1. A segunda etapa consiste no cálculo do Fator X, que é o estabelecimento de metas de
eficiência para o segundo período tarifário que serão expressas na tarifa.

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Gráfico 1 – Regime de Regulação por Incentivos
Preços máximos
Ganhos de eficiência
efetivos obtidos no
1º período tarifário: período
Tarifa X = 0; Inflação = 0

T2 Reposicionamento
T1 tarifário
Custos de operação
e remuneração do capital
(Parcela B)

Custos não-gerenciáveis Custos não-gerenciáveis


(Parcela A) (Parcela A)

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

30. A determinação das variáveis do reposicionamento tarifário e o cálculo do Fator X devem ser realizados
de forma a considerar que todos os procedimentos e análises fazem parte de um único processo, que é a
revisão tarifária periódica. A inconsistência regulatória derivada de um tratamento fragmentado do
conjunto de temas que integram a revisão tarifária periódica teria conseqüências negativas bastante
significativas, podendo conduzir a resultados (níveis tarifários) totalmente diferentes dos objetivos
fundamentais que se procura obter. É necessário, dessa forma, assegurar que exista total coerência entre
o tratamento regulatório de cada componente da revisão tarifária e o aplicado aos demais componentes.

31. Em particular, deve-se assegurar a consistência entre o enfoque adotado para a definição e remuneração
dos ativos necessários para prestar o serviço e a determinação do que se consideram como custos
operacionais eficientes associados a essa prestação. Não se pode falar de “custos operacionais eficientes”
se não se vincula essa definição a uma determinada definição regulatória da remuneração dos ativos
necessários para prestar o serviço de distribuição de energia elétrica, com o nível de qualidade requerido.
Se o procedimento definido para a remuneração dos ativos permite à concessionária a reposição dos
mesmos ao fim de sua vida útil, assim como um adequado retorno sobre o capital investido, nos “custos
operacionais eficientes” se devem incluir todos os itens (manutenção preventiva, troca de componentes,
etc.) necessários para assegurar que esses ativos mantenham inalterada sua capacidade para cumprir o
serviço que se requer deles durante toda essa vida útil.

IV.1 - O REPOSICIONAMENTO TARIFÁRIO

32. Conforme mencionado, no reposicionamento tarifário se trata de estabelecer o nível de custos


operacionais eficientes e uma justa remuneração do capital a serem cobertos pelas tarifas.

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33. A determinação dos “custos operacionais eficientes” constitui, efetivamente, um dos grandes desafios
da revisão tarifária. A análise dos custos da própria empresa sujeita o regulador aos efeitos da "assimetria
de informação". Conceitualmente, a assimetria de informação se refere ao fato de que o prestador do
serviço regulado é quem gerencia todas as informações (técnicas, operativas, financeiras, contábeis, etc.)
vinculadas à prestação do serviço regulado. O Regulador, por sua vez, tem acesso parcial e limitado às
informações, que, em geral, são fornecidas pela própria empresa regulada. Embora o regulador possa
realizar auditorias permanentes nas informações recebidas, é evidente que a situação de ambas as partes
no que se refere ao acesso e manejos dessas informações são totalmente assimétricos.

34. Os enfoques regulatórios baseados nas análises de informações fornecidas pelas concessionárias
potencializam os efeitos negativos dessa situação assimétrica e se desenvolvem, em geral, em condições
prejudiciais para o Regulador e, conseqüentemente, para os clientes do serviço cujos direitos
devemproteger. Isso é particularmente evidente quando a análise se refere à informação contábil das
empresas. Nesses casos, a possibilidade de manipulação ou “gaming” das informações pelas
concessionárias do serviço é bastante elevada. Alguns casos ocorridos recentemente em países
desenvolvidos, amplamente difundidos em todo o mundo e que envolvem grandes empresas
multinacionais, são exemplos muito eloqüentes dessa situação. Por outro lado, a assimetria de informação
“contamina” a relação entre os agentes do processo regulatório. O Regulador, consciente da existência
dessa condição, pode adotar uma atitude preventiva ou de suspeita, que se reflete no uso excessivo e até
contraproducente do recurso das auditorias sobre a gestão empresarial. É óbvio que isso não contribui
para criar um ambiente favorável entre as partes e, o que é mais grave, constitui um desvio do Regulador
com relação ao que devem ser suas funções. Regulação econômica é um conceito completamente
diferente de fiscalização, controle e auditoria. Ademais, no caso em que o Regulador comprove que um
agente regulado tenha feito uso indevido do poder que lhe confere a condição de assimetria de
informação, é claro que isso afetará o relacionamento futuro entre as partes, muito mais além do episódio
concreto a que se refere.

35. Pelas razões expostas, existe uma marcada tendência para uma ação regulatória não baseada em
informações fornecidas pelas concessionárias e em auditorias das mesmas, mas na definição externa de
parâmetros de eficiência que permitam determinar as tarifas dos serviços regulados e, ao mesmo tempo,
constituam referências para orientar a gestão empresarial sem, contudo, incorrer em ingerências indevidas
na empresa.

36. No que diz respeito à remuneração sobre o capital investido a ser incluída nas tarifas, há que se
considerar a necessidade de preservar a atratividade de investimentos para o setor, o que implica que a
remuneração deve corresponder exclusivamente ao custo de oportunidade do capital do investidor. O
cálculo da remuneração requer que se defina o valor do investimento a ser remunerado (ou base de
remuneração) e a taxa de retorno adequada a ser aplicada sobre esse valor. Considerando ainda que
as empresas podem financiar suas atividades com capital próprio e capital de terceiros (dívidas) e que o
custo de cada alternativa de financiamento é diferente, há que se definir a participação desses capitais no
financiamento das atividades da concessionária, isto é, a estrutura de capital – uma vez que distintas
estruturas de capital possuem custos de capital diferenciados. Dessa forma, a taxa de retorno deve refletir
o custo do capital próprio e o custo do capital de terceiros, ponderado pela participação desses capitais no
capital total. Efetivamente, a definição de uma estrutura de capital adequada constitui um tema regulatório
da maior importância. A premissa aqui se baseia no fato de que, no mundo real, as empresas estão
permanentemente tentando reduzir seu custo de financiamento mediante uma composição adequada de
capital próprio e dívidas no capital total. Para tanto, buscam encontrar o grau ideal de alavancagem –

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participação de dívidas no capital total (D/V) – dado que o custo de capital de terceiros é mais barato que
o custo de capital próprio, porém existe uma restrição dada pelo risco de default associado a elevados
graus de alavancagem. Isso justifica uma abordagem regulatória para a participação dos capitais no
capital total a ser remunerado, aqui denominada de estrutura ótima de capital.

37. Os detalhamentos dessas metodologias, adotadas pela ANEEL, encontram-se descritas no item V – A
REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA DA CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA.

IV.2 – O FATOR X

38. Uma vez que as tarifas tenham sido reposicionadas segundo a abordagem descrita na seção anterior,
são então estimados os ganhos de produtividade para o período tarifário subseqüente que não estão
associados a uma gestão mais eficiente da concessionária – que correspondem à área verde no Gráfico 2.
No caso do serviço de distribuição de energia elétrica, no qual a evolução tecnológica é gradual
(diferentemente de setores como o de telecomunicações), esses ganhos de produtividade projetados têm
como causa principal alterações na escala do negócio. Durante o período tarifário se produzirão
incrementos nas vendas da concessionária, tanto pelo maior consumo dos clientes existentes
(crescimento vertical) como pela incorporação de novos clientes na área servida (crescimento horizontal).
Esse incremento nas vendas será atendido pela concessionária com custos incrementais decrescentes
com relação aos definidos no reposicionamento tarifário. Esse ganho de produtividade do negócio, que
não decorre de uma maior eficiência na gestão da concessionária distribuidora, deve ser repassado aos
consumidores mediante a aplicação de um redutor do índice que reajusta a Parcela B da receita (IGP-M) e
esse redutor consiste no Fator X. A novas tarifas máximas para o próximo período tarifário corresponderão
à curva pontilhada do Gráfico 2.

Gráfico 2 – Regime de Regulação por Incentivos


Fator X

Ganhos estimados de
produtividade

Tarifa 2º período tarifário:


X > 0; Inflação = 0
T1 T2
Custos de operação
e remuneração do capital
(Parcela B)

Custos não-gerenciáveis Custos não-gerenciáveis


(Parcela A) (Parcela A)

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

11
39. Assim como no primeiro período tarifário, a concessionária distribuidora tem um forte incentivo para obter
uma maior eficiência em sua gestão, já que poderá reter como benefícios a diferença entre os custos
operacionais eficientes definidos na revisão tarifária periódica e os que efetivamente possa alcançar. Da
mesma forma, se essa diferença é negativa, a concessionária sofrerá uma redução em suas expectativas
de benefícios. Na realidade, aquelas concessionárias que durante o primeiro período tarifário conseguiram
funcionar com custos operacionais inferiores aos reconhecidos nas tarifas vigentes no período, retiveram
como benefícios essas diferenças de custos. Essa situação se repete nos períodos tarifários seguintes, já
que constitui um dos elementos fundamentais do enfoque regulatório baseado em incentivos, como o que
se aplica atualmente no serviço de distribuição de energia elétrica no Brasil.

40. A aplicação efetiva do Fator X no segundo período tarifário (segundo o que estabelece os contratos de
concessão o Fator X foi igual a zero durante no primeiro período tarifário) determina que os ganhos de
eficiência só poderão ser apropriados pela concessionária na medida em que ultrapassarem o Fator X, ao
longo do segundo período (2004 – 2006). Portanto, quanto maior for a eficiência da concessionária, tanto
maior será seu benefício. Se, porém, a concessionária não explorar seu potencial de eficiência, o
resultado será a sujeição a uma perda ou, pelo menos, a uma redução de benefícios. A área em amarelo
do Gráfico 3 corresponde aos benefícios que podem ser auferidos pela concessionária ao realizar uma
trajetória de custos ainda mais eficientes que os considerados no reposicionamento tarifário.

Gráfico 3 – Regime de Regulação por Incentivos


Fator X

Ganhos estimados de Ganhos efetivos de


produtividade eficiência
Tarifa

T1 T2
Custos de operação
e remuneração do capital
(Parcela B)

Custos não-gerenciáveis Custos não-gerenciáveis


(Parcela A) (Parcela A)

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

41. Poderia se argumentar contra a ampliação da remuneração obtida pela concessionária eficiente e que os
ganhos de eficiência deveriam refletir-se imediatamente na redução das tarifas, de modo a beneficiar
unicamente os consumidores. Esse raciocínio é contraditório com os princípios fundamentais da regulação
por incentivos e, portanto, se revela indefensável. É que a determinação de que todo ganho de eficiência
seja imediatamente repassado aos consumidores significaria um desincentivo para a obtenção de

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eficiência pela concessionária, isto é, se nenhum benefício lhe trouxesse a redução dos custos, a
concessionária não realizaria esforço algum nesse sentido.

IV.3 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DA QUALIDADE DO SERVIÇO

42. Em serviços que apresentam características de monopólio natural, é competência do regulador


estabelecer normas e padrões em matéria de parâmetros de qualidade do serviço prestado, seja quanto
aos aspectos técnicos (freqüência e duração de interrupções) ou quanto ao atendimento comercial (prazos
máximos para solução de reclamações, possibilidade de efetuar trâmites por modalidades que
representem maior grau de conforto, etc.). O Regulador tem ainda a responsabilidade essencial de
verificar se, na realidade, os clientes cativos estão recebendo efetivamente um serviço de qualidade de
acordo com o definido nessas normas (e contemplado nas tarifas vigentes). Este aspecto é de
fundamental importância quando se aplica um enfoque regulatório baseado em incentivos, como o regime
tarifário de “preços máximos” vigente no Brasil para a determinação das tarifas das concessionárias
distribuidoras.

43. É imprescindível que todo regime de regulação por incentivos inclua a definição, e a implementação
efetiva de um regime de qualidade do serviço técnico, e atendimento comercial recebidos pelos clientes,
que compreenda:

i) A determinação de parâmetros de qualidade e valores dos mesmos que reflitam um


nível de qualidade mínimo;

ii) A efetiva medição desses parâmetros para cada cliente individual;

iii) A definição e aplicação de penalidades para os casos em que o serviço não alcança os
níveis mínimos de qualidade exigidos, com valores determinados com base no custo
da energia não fornecida. É desejável que essas penalidades sejam pagas pela
concessionária distribuidora aos clientes afetados pelo serviço de qualidade
inadequada.

44. Deve-se considerar que a não implementação de um regime de qualidade nesses termos conduz a
situações extremamente perigosas para o bom funcionamento do setor regulado. No regime de regulação
por incentivos as empresas reguladas maximizam seus lucros quanto maior for a redução que obtêm em
seus custos reais, com relação aos valores considerados nas tarifas, contra os quais “competem”. Uma
das modalidades para obter a redução de custos é minimizar os investimentos e custos operacionais
(operação e manutenção de redes e gestão comercial). A conseqüência é uma deterioração progressiva
na qualidade do serviço que recebem os clientes. Dessa forma, torna-se imprescindível a definição e
aplicação de um regime de qualidade do serviço, estabelecendo-se valores de penalidades que
desincentivem fortemente a possibilidade desse comportamento das empresas reguladas. Observe-se que
a situação descrita pode alcançar um nível de risco máximo em eventuais casos de agentes privados que
estejam considerando a possibilidade de terminar ou devolver sua concessão.

13
IV.4 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DAS PERDAS DE ENERGIA ELÉTRICA

45. Há necessidade de se definir um tratamento regulatório para as perdas de energia elétrica. É reconhecido
que a concessionária distribuidora não possui controle sobre os custos da Parcela A, embora seja possível
admitir que a concessionária teve certa capacidade para negociar os preços de compra de energia
elétrica, dadas as condições e restrições determinadas pela legislação vigente. No entanto, é lícito afirmar
que a concessionária possui uma forte capacidade de gestão sobre as perdas de energia elétrica, que
influem na quantidade de energia elétrica comprada considerada para o cálculo da Parcela A. Com efeito,
essas quantidades correspondem à soma das vendas da distribuidora com as perdas incorridas nas
atividades desenvolvidas para fazer chegar a energia elétrica desde os pontos de produção até os pontos
de consumo. Tais perdas podem ser separadas em: a) perdas associadas ao transporte de energia
elétrica pelas redes de transmissão e distribuição envolvidas, denominadas “perdas técnicas”; e b) as
chamadas “perdas não técnicas”, definidas como a diferença entre as perdas totais e as perdas técnicas.
Esse segundo tipo de perda está diretamente associado à gestão comercial da concessionária
distribuidora.

46. A regulação econômica do serviço de distribuição deve transmitir sinais de eficiência em todos os temas
relacionados à sua esfera de competência. Em particular, é importante considerar que um nível elevado de
perdas se traduz na necessidade de incrementar a energia elétrica disponível na atividade de geração. No
âmbito mundial e, em particular em todos os países em desenvolvimento, o custo marginal de longo prazo
de geração pode ser muito mais alto que os custos associados à redução de perdas técnicas e não
técnicas na atividade de distribuição. Na redução das perdas totais da distribuição os componentes de
custo mais importantes são a mão-de-obra local, equipamentos e materiais, que, no caso do Brasil, são
fabricados em sua totalidade no próprio país. Isso tem conseqüências positivas para a economia do país,
já que o processo gera uma importante demanda de mão-de-obra e, ao mesmo tempo, evita incorrer em
evasão de divisas. Por outro lado, se obtém benefícios ambientais, já que toda a expansão do parque
gerador de energia elétrica afeta o entorno local e/ou global, de acordo com a fonte de energia primária
em questão.

47. A experiência dos países da América Latina que realizaram reformas no setor elétrico na década de 90
mostra que, com um enfoque regulatório que proporcione incentivos adequados para a eficiência de
gestão, podem se obter resultados excelentes no esforço de redução de perdas no serviço de distribuição,
com inquestionáveis benefícios para as concessionárias, seus consumidores e para a sociedade em seu
conjunto. Assim, com a finalidade de calcular os montantes de energia que a concessionária deve
comprar, o Regulador determina, para cada ano de um período tarifário, o nível máximo de perdas a
serem admitidas sobre as quantidades de energia elétrica que a concessionária distribuidora prevê vender
para atender seu mercado. Essa determinação pode ser feita mediante a fixação de um valor único para
todo o período tarifário ou mediante a definição de uma “trajetória” ou curva decrescente. Com o valor
“regulatório” de perdas determinado dessa forma, se calcula o montante de energia a ser considerado na
Parcela A das tarifas da concessionária. Isso significa valorar as perdas ao preço representativo das
compras de energia elétrica da distribuidora. Do exposto se depreende que a concessionária distribuidora
tem um forte incentivo para reduzir as perdas a níveis inferiores ao “padrão regulatório”, já que poderá
reter como benefício, durante o período tarifário, a diferença entre esse montante e o valor que possa
obter na realidade, valorada ao preço de compra. O incentivo é máximo para reduzir as perdas “não
técnicas”, já que, nesse caso, a empresa distribuidora venderá a energia envolvida pela tarifa regulada
(soma da Parcela A e da Parcela B).

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48. Finalmente, é importante destacar que, no caso de o Regulador não fixar esse patamar máximo admitido
de perdas e permitir o repasse sem limitações à Parcela A das perdas informadas pelas concessionárias
distribuidoras, estaria incorrendo em uma conduta duplamente negativa. Com efeito, por um lado, estaria
convalidando uma gestão ineficiente do setor, pelas razões expostas acima. Adicionalmente, e esse
aspecto é ainda mais grave, prejudicaria aos consumidores que cumprem as suas obrigações, que
estariam vendo refletidas nos valores de suas tarifas as perdas causadas por aqueles que não cumprem
regularmente essas obrigações, e que incorrem em fraude ou uso irregular da energia. O tratamento das
perdas regulatórias a ser adotado pela ANEEL encontra-se descrito no item V.1.3.3.

IV.5 – TRATAMENTO REGULATÓRIO DAS RECEITAS EXTRA-CONCESSÃO

49. No que diz respeito às receitas extra-concessão, o Regulador está apresentando, no Anexo IV desta Nota
Técnica, uma metodologia de avaliação com vistas a determinar a parcela dessas receitas que serão
destinadas a contribuir para a modicidade tarifária. A metodologia baseia-se em conceitos da regulação
por incentivos análogos aos empregados para a regulação do serviço de distribuição de energia elétrica
(serviço básico). Nos termos dessa metodologia, definem-se ex ante os ganhos presumidos do prestador
do serviço na exploração das Atividades Complementares e Adicionais (ACA) ao serviço básico
(distribuição), assim como os critérios de distribuição desses ganhos entre a empresa regulada e os
usuários do serviço básico. Enquanto essa metodologia não for aplicada, o Regulador adotará um
percentual fixo das receitas extra-concessão para efeito de modicidade tarifária.

50. Para definir o tratamento regulatório dos ganhos obtidos por atividades complementares e adicionais ao
serviço básico, reconhece-se o caráter essencialmente estratégico do assunto e a notória inconveniência
de apoiar esse tratamento através da informação fornecida pela empresa regulada. A partir desse
reconhecimento, o tratamento regulatório das ACA deve contemplar os seguintes elementos
fundamentais: i) assegurar que a realização dessas atividades não implique em nenhuma classe de
impacto negativo às condições de prestação do serviço básico; e ii) aplicar um enfoque metodológico
simples, claro, transparente e não evasivo, que dê ensejo ao desenvolvimento de atividades
complementares e adicionais ao serviço básico por parte das concessionárias distribuidoras de energia
elétrica, no sentido de se lhes permitir maximizar a eficiência global do processo (empresas prestadoras e
seus clientes cativos).

51. O enfoque descrito no Anexo III apóia-se no critério de incentivar o aproveitamento das economias de
escala a partir de uma análise ex ante das ACA. Procura-se assim, dar ao prestador do serviço um
paradigma de alta previsibilidade para o planejamento dessas atividades e, em particular, a certeza quanto
à caracterização de uma parte pré-definida dos benefícios que se obtém por esse conceito.
Adicionalmente, a dependência do Regulador de informação ex post é mínima, o que reduz notavelmente
os efeitos do fenômeno da assimetria de informação.

V – A REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA DA CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE


ENERGIA ELÉTRICA
52. Conforme mencionado na seção IV, a revisão tarifária periódica é realizada em duas etapas: o
reposicionamento tarifário e o Fator X. No reposicionamento tarifário se trata de calcular a Receita
Requerida da concessionária, que consiste na receita compatível com a cobertura de custos operacionais
15
eficientes e com um retorno adequado sobre o capital prudentemente investido. Como a Receita
Requerida é calculada em bases anuais, se trata de estabelecer um fluxo de receita compatível com os
custos econômicos da prestação do serviço referenciados ao período de 12 meses subseqüentes à data
da revisão tarifária. Para a concessionária esse período anual, denominado ano-teste, compreende os 12
meses subseqüentes ao mês da data da revisão tarifária periódica.

53. O reposicionamento tarifário é o resultado da comparação entre a Receita Requerida (em R$) para o ano-
teste e a Receita Verificada (em R$) da concessionária no mesmo período. A Receita Verificada
corresponde à receita que seria por ela auferida com as tarifas vigentes antes da revisão tarifária periódica
aplicadas ao mercado de venda do ano-teste. Para efeito de modicidade tarifária, são deduzidas da
Receita Requerida as receitas obtidas pela concessionária mediante a exploração de atividades extra-
concessão, a receita de suprimento de energia elétrica a outras concessionárias e outras receitas,
conforme apresentado na equação a seguir.

Receita de
Receita Receita extra- Uso dos Sistemas de Outras
Reposicionamento
Requerida - concessão - Distribuição
- Receitas
Tarifário (%)
= Receita de Fornecimento + Receita de Suprimento
Verificada

V.1 – CÁLCULO DA RECEITA REQUERIDA

54. Conforme já mencionado, a receita da concessionária é constituída das Parcela A e B. Na revisão tarifária
periódica o Regulador determina os valores dessas parcelas, mantendo a neutralidade da Parcela A e
estabelecendo novos valores para a Parcela B.

V.1.1 – Custos Operacionais Eficientes

55. Conforme mencionado na subseção IV.1, há uma marcada tendência para uma ação regulatória não
baseada em informações sobre custos operacionais fornecidas pelas próprias empresas reguladas e em
auditorias desses custos, mas na definição externa de parâmetros de eficiência que permitam determinar
as tarifas dos serviços regulados e, ao mesmo tempo, constituam referências para orientar a gestão
empresarial sem, contudo, incorrer em ingerências indevidas na empresa. A abordagem adotada pela
ANEEL para o cálculo dos custos operacionais eficientes na revisão tarifária periódica constitui um
exemplo concreto desse tipo de ação. Trata-se de uma metodologia que permite determinar os custos
associados à execução dos processos e atividades de operação e manutenção das instalações elétricas,
gestão comercial de clientes, direção e administração, em condições que assegurem que a concessionária
distribuidora poderá obter os níveis de qualidade do serviço exigidos e que os ativos necessários
manterão sua capacidade de serviço inalterada durante toda sua vida útil.

56. É reconhecido que, na ocorrência de condições efetivas de competição, o mercado funciona como o mais
eficiente alocador de recursos. Estas condições não estão presentes no caso do serviço de distribuição de

16
energia elétrica – pois que constitui um monopólio natural, caracterizado por ter uma função sub-aditiva de
custos e em alguns casos rendimentos crescentes de escala. Nestes casos, a regulação substitui a
concorrência mediante intervenção direta no mercado, fixando um conjunto de incentivos e de restrições
que permitam simular condições de concorrência na prestação do serviço. No caso dos custos
operacionais é necessário estabelecer o nível de custos associados a uma gestão eficiente dos mesmos.
São precisamente esses custos eficientes que se devem considerar ao determinar as tarifas que os
clientes cativos da concessionária estão obrigados a pagar.

57. A premissa básica dessa abordagem é que as empresas prestadoras de serviços públicos estão em
condições de gerar demanda e desenvolver um mercado competitivo de fornecimento de uma parte
importante dos processos e atividades requeridos para o serviço de distribuição de energia elétrica. Um
exemplo bastante representativo é o das atividades de ciclo comercial. Quando isso ocorre, esses
processos e atividades podem ser contratados na própria região (área de concessão) da empresa real sob
análise. Nesse caso, os preços de mercado configuram um referencial importante para a discussão sobre
os custos eficientes para a prestação do serviço de distribuição.

58. Nos casos em que o mercado de fornecimento de certos processos e atividades não tenha sido
desenvolvido pela concessionária, ou existam restrições legais ou determinadas por outras normas à
contratação de serviços (terceirização), os custos de prestação de uma atividade podem ser calculados
partindo-se da definição das principais tarefas que a compõem, atribuindo-se os recursos físicos (mão-de-
obra e material) necessários e valorando-os a preços do mercado da região da concessionária. Essa
abordagem permite então que se estabeleça uma referência de mercado para os custos operacionais que
seja aderente às condições reais da área geográfica da concessão, ou seja, ao ambiente no qual a
concessionária desenvolve sua atividade. Essa “Empresa de Referência” considera, portanto, as
condições geográficas, climáticas e econômicas reais onde a empresa está localizada, de forma que os
custos operacionais de referência não são construídos de forma abstrata.

59. Por outro lado, esse processo de construção dos custos operacionais não se realiza como uma “re-
engenharia” dos processos e atividades da concessionária. Trata-se de uma abordagem “não invasiva”, já
que não se discute a forma como a concessionária está gerenciando seus custos operacionais. Antes,
trata-se de desenhar uma referência com a qual a concessionária deverá competir, sendo dessa forma
incentivada a manter seus custos dentro dos valores reconhecidos para lograr a rentabilidade esperada,
ou até superá-la. Dependendo da distância entre os custos operacionais da concessionária e os custos
operacionais eficientes calculados por essa abordagem, pode ser conveniente estabelecer uma trajetória
de convergência para a concessionária atingir os níveis eficientes de custos operacionais. Nessas
condições, a meta de custos eficientes pode ser atingida pela concessionária ao longo de um período de
tempo. É necessário reconhecer que a empresa real enfrenta certas “heranças do passado” que não estão
contempladas (e nem devem estar) no desenho regulatório da “Empresa de Referência”. Essas “heranças”
são específicas de cada contrato de concessão e representam certas restrições e obrigações para a
empresa concessionária, as quais, em geral, não se estendem de forma permanente no tempo, nem
compreendem todas as áreas de atividade da distribuidora.

60. O processo para a determinação dos custos operacionais eficientes da concessionária de distribuição
comprende as seguintes etapas: a) desenho preliminar de uma “Empresa de Referência” para a área de
concessão da concessionária; b) entrega, à concessionária, da documentação correspondente a esse
desenho preliminar, outorgando-lhe um prazo para realizar suas observações e comentários. O objetivo foi
conferir à concessionária distribuidora a oportunidade de aportar elementos específicos da área de

17
concessão sob sua responsabilidade, com vistas aprimorar o desenho preliminar (aspectos sócios-
geográficos, climáticos, normativos e de outra natureza suprimidos ou não considerados
adequadamente); c) apresentação formal, pela concessionária à ANEEL, de relatórios contendo seus
comentários e observações com relação ao desenho preliminar; d) análise, pela ANEEL, da
documentação mencionada em (c) e solicitação, à concessionária, de esclarecimentos e informações
complementares; e) entrega, pela concessionária, dos esclarecimentos e informações complementares; f)
elaboração, pela ANEEL, de uma proposta ajustada de “Empresa de Referência”, a partir da análise de
todos os elementos obtidos durante o processo, os quais estão sendo submetidos à presente Consulta
Pública.

61. Após esse processo, foram determinadas as fontes de referência para os salários nominais a serem
considerados na “Empresa de Referência” (ER) para o contrato de concessão da concessionária. Sobre o
salário base considerado para a ER foram considerados: i) encargos legais para todos os empregados e
outros encargos como adicional de periculosidade de 30%, aplicado apenas para os empregados da ER
que trabalham em área de risco; ii) outras remunerações garantidas em Acordo Coletivo de Trabalho, ,
referentes a contribuição a previdência privada, plano de saúde, vale alimentação, lanche e refeição, vale
transporte, auxílio creche, acidente de trabalho, cesta básica, e seguro de vida em grupo.

62. Considerou-se também um montante igual a 1,5% do custo salarial total para contemplar custos de
treinamento e reciclagem dos empregados. Ainda no que se refere a salários, não são contemplados nos
custos operacionais da ER as parcelas indicadas a seguir, por entender-se que não é cabível que sejam
pagas pelos clientes do serviço: i) participação em lucros e resultados; ii) verbas rescisórias; iii) “turnover”
do quadro de pessoal; iv) gratificação de férias adicional à gratificação constitucional; v) passivos de FGTS
e INSS; vi) déficit de Fundações; e vii) passivos trabalhistas.

63. No que diz respeito a outros itens de custos, não são considerados na ER: i) Serviços taxados (2ª via de
fatura, inspeção comercial, cortes e religamentos, etc), pois entende-se que esses serviços devem ser
pagos pelos clientes que geram os respectivos custos à concessionária, mediante a cobrança de taxas
específicas, e, portanto, não devem ser incluídos na tarifa que pagam os clientes em condição “regular”; e
ii) Contingências Cíveis e Trabalhistas; Indenização Perdas e Danos; Doações, Contribuições e
Subvenções; uma vez que se entende que tais custos devem ser absorvidos pela concessionária, por ser
ela que está em melhores condições de “gerenciá-los” e não por seus clientes cativos em condição de
serviço regular.

64. Com relação à inadimplência dos clientes (“provisão para devedores duvidosos”), está se adotando um
conceito de custo operacional “transitivo” da “Empresa de Referência”, que evolui seguindo uma “trajetória
regulatória” descendente, sob a forma de um percentual do faturamento bruto (sem o ICMS) verificado no
ano anterior ao da revisão tarifária periódica, cujo valor final é igual a 0,2% ao concluir-se o segundo
período tarifário, da seguinte forma: i) ano da revisão tarifária periódica = 0,5%; ii) primeiro ano posterior a
revisão = 0,4%; iii) segundo ano posterior a revisão = 0,3%; iv) terceiro ano posterior a revisão = 0,2%; v) a
partir do quarto ano posterior a revisão tarifária periódica considera-se uma inadimplência “regulatoria”
permanente de 0,2%.

18
65. O Regulador estabelece a trajetória regulatória decrescente para a inadimplência com vistas a evitar que
os consumidores em situação regular paguem pelos consumidores inadimplentes – o que constituiria uma
clara injustiça2.

66. É importante registrar que os custos operacionais eficientes da “Empresa de Referência” correspondente
à concessão da concessionária incluem as despesas requeridas para a incorporação e operação dos
sistemas informatizados de gestão (SIG) que tornam possível o cumprimento de todas as funções de
suporte do ciclo comercial, assim como a gestão das anomalias no fornecimento elétrico que recebem os
clientes (interrupções no serviço e outras perturbações) com altíssima confiabilidade. Esses SIG
constituem ferramentas de gestão imprescindíveis para uma “utility” e, ao mesmo tempo, permitem realizar
una medição efetiva da qualidade do serviço técnico e comercial que recebe cada cliente de
concessionária. Por isso considera-se que a regulação aplicável à atividade deve reconhecer esses
custos.

67. Do ponto de vista da gestão da atividade regulada pelo Regulador, a efetiva implantação dos SIG tem
uma importância fundamental. Os SIG permitem realizar o acompanhamento das atividades comerciais e
de gestão de reclamações para cada cliente individual e são facilmente “auditáveis”. A utilização desses
sistemas permite medir de uma forma efetiva a qualidade do serviço que recebe cada um dos clientes do
serviço prestado em condições de monopólio, tanto nos aspectos “técnicos” como nos comerciais,
tornando possível o cumprimento desse compromisso essencial do regulador. Através da instalação de
terminais de consulta em suas dependências, o regulador pode acessar as informações dos SIG em
caráter de usuário de consulta, isto é, sem nenhuma possibilidade de modificar essa informação. Esse
acesso lhe permitirá realizar seu próprio acompanhamento, sem necessidade de realizar consultas
específicas à empresa sobre a qualidade do serviço técnico e comercial recebido pelos clientes.

68. É importante enfatizar que os SIG devem ser implantados pela concessionária distribuidora e utilizados
como ferramentas que tornam possível uma gestão mais eficiente e transparente do serviço prestado. O
Regulador pode e deve exigir o cumprimento dessa obrigação, na medida em que os custos
correspondentes estão contemplados na “Empresa de Referência”.

V.1.2 – Remuneração do Capital

69. A remuneração sobre o capital investido, que deve ser incluída nas tarifas, é o resultado da aplicação da
taxa de retorno adequada para a atividade de distribuição no Brasil sobre o investimento a ser
remunerado, ou base de remuneração.

70. Para o cálculo da taxa de retorno a ANEEL está adotando a metodologia internacionalmente consagrada
do Custo Médio Ponderado de Capital (Weighted Average Cost of Capital - WACC), incluindo o efeito dos
impostos sobre a renda3. Esse enfoque busca proporcionar aos investidores um retorno igual ao que seria
obtido sobre outros investimentos com características de risco comparáveis. A seguir, apresenta-se um

2 Um exemplo notório dessa injustiça ocorre quando prefeituras e empresas de água e saneamento deixam de pagar
suas contas de energia elétrica. Os impostos municipais e a fatura de serviços de água e saneamento já incluem tais
despesas, de forma que a inclusão, nas tarifas de energia elétrica, de provisão para esses devedores, implica um
pagamento em duplicidade pelo consumidor de energia elétrica.
3 Para efeito de cálculo de impostos sobre a renda, no Brasil, os juros pagos são dedutíveis.

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resumo da metodologia e dos resultados obtidos. Os detalhes podem se encontrados no Anexo II. O Custo
Médio Ponderado de Capital (WACC) está expresso na fórmula a seguir.

E D
WACC = rcapm · + rd · · (1 - T ) (1)
(D + E) (D + E)

onde:

rcapm = Custo do capital próprio;


rd = Custo do capital de terceiros;
E = Capital próprio;
D = Capital de terceiros;
T = Alíquota do Imposto de Renda Pessoa Jurídica + Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido.

V.1.2.1 – Custo do Capital Próprio

71. Para o custo de capital próprio se adota o método CAPM (Capital Assets Pricing Model), que busca
identificar a percepção do mercado sobre os verdadeiros riscos do setor, partindo-se das seguintes
premissas: i) os ativos de distribuição de energia elétrica representam alternativas de investimentos que
competem com outros ativos pelos recursos dos investidores potenciais; ii) os diversos ativos disponíveis
proporcionam um retorno diretamente proporcional ao risco que representam; e iii) há um ativo “livre de
risco” acessível a todos os investidores, cujo retorno serve de referência para mensurar o prêmio de risco
exigido para investir em outros ativos, como os riscos associados às condições macroeconômicas de
países em desenvolvimento, por exemplo.

72. O custo de capital próprio assim calculado proporciona um retorno adequado sobre o capital investido,
considerando apenas os riscos inerentes à atividade regulada, de forma a manter a atratividade de capital
e, conseqüentemente, a sustentabilidade da prestação do serviço no longo prazo.

73. O modelo de custo do capital próprio pelo método Capital Asset Pricing Model (CAPM) encontra-se
expresso na fórmula a seguir.

rCAPM = r f + b d ( rm - r f ) + rr (2)

Custo do Taxa livre Beta Prêmio de Outros


Capital Próprio de risco desalavancado risco de prêmios de
mercado risco

20
74. Para a taxa livre de risco utilizou-se o rendimento do bônus do governo dos EUA com vencimento de 10
anos e duration4 de aproximadamente 8 anos (UST10). Deve-se ressaltar que, para efeito de comparação
entre dois fluxos de caixa, mais relevante que a data de vencimento dos fluxos de caixa é a duration
desses fluxos. Portanto, é mais indicado trabalhar com esse tipo de título de renda fixa para estimar a taxa
livre de risco aplicável ao caso de que se trata. O período considerado foi de março/1995 a junho/2002 e a
taxa de juros média anual apurada foi de 6,01%.

75. O prêmio de risco de mercado foi calculado subtraindo-se a taxa livre de risco do retorno médio da série
histórica dos retornos diários do S&P500, que consiste num índice composto pelas ações das 500 maiores
empresas negociadas na bolsa de Nova Iorque. Com base nas séries históricas de 1926 a 2000, o valor
apurado para o prêmio de risco de mercado foi de 7,76%.

76. O cálculo do Beta envolveu os seguintes passos: i) cálculo do Beta alavancado para a amostra de
empresas (predominantemente) de distribuição de energia elétrica dos EUA, isto é, os Betas das
empresas considerando sua estrutura de capital real, que exprime os riscos de negócio e financeiro da
empresa; ii) desalavancagem dos Betas obtidos para cada empresa, utilizando-se o grau de alavancagem
específico de cada empresa e a alíquota de 34% de imposto de renda dos EUA, obtendo assim o Beta
associado ao risco do negócio (bi,u); iii) cálculo da média aritmética desses Betas, cujo resultado chamar-
se-á de Beta desalavancado; e iv) realavancagem dos Betas desalavancados das concessionárias de
distribuição da amostra relevante, usando-se a estrutura de capital estabelecida sob o enfoque regulatório
(ver item V.1.2.3) e a alíquota de 34% de impostos, composta de 25% da alíquota do imposto de renda e
9% de Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido.

77. Para se proceder ao cálculo dos Betas de empresas de distribuição de energia elétrica dos EUA foram
selecionadas 15 empresas para as quais se dispõe de séries históricas longas e cujas ações possuem
bastante liquidez no mercado. O Beta dessas empresas foi estimado com base nos dados de março/1995
a junho/2002, na estrutura de capital média dos últimos 5 anos, no capital total em 2001 e no Beta
desalavancado de cada empresa. O Beta médio das ações, ponderado pelo tamanho dos ativos da
empresa, é igual a 0,30, e o Beta desalavancado médio é igual a 0,159.

78. Os prêmios de risco do negócio e financeiro foram calculados adotando-se uma estrutura ótima de
capital de 50% de capital próprio e 50% de capital de terceiros (conforme estabelecido no item V.1.2.3),
aplicando-se as equações abaixo. Como resultado, obteve-se 1,24% para o risco do negócio e 0,81% para
o risco financeiro. Portanto, a soma dos prêmios de risco do negócio e financeiro foi estimada em 2,05%.

rN = bU¢⎡⎣ rM - rf ⎤⎦ = 0,159 7, 76]= 1, 23 (3)

4 Indicador utilizado pelos analistas de instituições financeiras para medir a sensibilidade de títulos à variação da taxa
de juros. É calculado com base no fluxo de caixa do título, do pagamento de juros e principal, em cada prazo contratual,
bem como no valor presente do título. Em outras palavras, a duration mede o prazo médio no qual o detentor do título
terá recebido o pagamento total. Contudo, como existem constantes variações de taxa de juros no mercado, haverá
conseqüentemente variações no valor presente do título e na sua duration. Quando ocorre um aumento de taxa de
juros, o valor presente diminui e a duration também diminui. A duration de carteira é a média ponderada das durations
dos ativos e representa o prazo médio do pagamento total da carteira.
21
⎛ D (1 - T )⎞
rF = ⎜ ⎟ bU¢⎡⎣ rM - rf ⎤⎦ = 0, 66 ·1, 23 = 0,81 (4)
⎝ P ⎠

79. É importante observar que a taxa livre de risco, o Beta desalavancado e o prêmio de risco de mercado
estão referenciados ao mercado dos EUA. O elemento rr da equação (2) refere-se ao risco da atividade
de distribuição de energia elétrica no Brasil e inclui os prêmios de risco país, risco cambial e de risco
relativo ao regime regulatório.

80. O prêmio de risco país se calcula pela diferença entre o prêmio de risco soberano do Brasil e o prêmio
de risco de crédito do Brasil. O prêmio de risco soberano é o spread que um título de renda fixa do
governo brasileiro denominado em dólares paga sobre a taxa livre de risco dos EUA. O prêmio de risco de
crédito Brasil é computado como o spread sobre a taxa livre de risco que estão pagando os bônus
emitidos por empresas dos EUA com a mesma classificação de risco que o Brasil (B1). Representando por
r S o prêmio de risco soberano e por rCB o prêmio de risco de crédito Brasil, o prêmio de risco Brasil
( rB ), é dado por:

r B = r S - rCB (5)

81. Para o cálculo do prêmio de risco soberano utilizou-se a série histórica diária do índice Emerging Markets
Bonds Index relativo ao Brasil (EMBI+Brazil), calculado pelo JP Morgan, de 29 de abril de 1994 a 6 de
agosto de 2002, resultando no valor médio de 8,29%. Para se calcular o prêmio de risco de crédito do
Brasil foram selecionadas as empresas com classificação de risco B1 que tinham série de títulos de longo
prazo com liquidez desde 1994. Calculando a média dos spreads dessas empresas ao longo da série, foi
encontrado o percentual de 4,21%. Assim, o prêmio de risco país é de 4,08%.

82. Para o cálculo do prêmio de risco cambial utilizou-se a metodologia de Wolff [1997,2000]5, aplicada pela
primeira vez para dados brasileiros em Garcia & Olivares [2000]6. Uma descrição mais completa dos
cálculos pode ser encontrada no Anexo I. Nos termos dessa metodologia, o risco cambial é definido como
a diferença entre o spread do câmbio no mercado futuro e a expectativa de desvalorização cambial; e a
realização da desvalorização cambial é a expectativa de desvalorização adicionada de um “ruído branco” 7.
Assim, aplica-se um procedimento estatístico (filtro de Kalman) para se eliminar o “ruído branco”. O prêmio
de risco cambial calculado a partir dos dados mensais do mercado futuro de câmbio da Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BMF) de julho de 1999 a junho de 2002 foi de 2,0%.

5Wolff, Christian C. P. [1997] "Forward Foreign Exchange Rates, Expected Spot Rates, and Premia: A Signal-Extraction
Approach". The Journal of Finance, 42,395-406; Wolff, Christian C. P. [2000]. "Measuring the Exchange Risk Premium:
Multi-Country Evidence from Unobserved Components Models". Journal of International Financial Markets, Institutions
and Money, 10, 1-8.
6Garcia, M. e G. Olivares [2000] "O prêmio de risco da taxa de câmbio no Brasil durante o plano Real", mimeo, PUC-
Rio.

7O ruído branco é um fator transitório atípico que tende a se dissipar ao longo do tempo. Na linguagem estatística, um
processo estocástico é definido como ruído branco quando a média é nula e a variância constante (ver Anexo II).
22
83. Para o cálculo do prêmio de risco do regime regulatório considerou-se que o risco do regime
regulatório dos EUA encontra-se refletido no Beta daquele mercado. Contudo, é reconhecido que o regime
de regulação por “preços máximos” apresenta maiores riscos que o regime de regulação por taxa de
retorno adotado nos EUA, de forma que se faz necessário determinar o risco adicional derivado do regime
regulatório brasileiro.

84. Com base no exposto, a estimação do risco regulatório baseou-se na diferença entre os Betas das
empresas americanas (regulação por taxa de retorno) e da Inglaterra (regulação por preços máximos).
Como os dois países adotam regimes regulatórios diferenciados e ambos se caracterizam como
economias de risco reduzido, é correto afirmar que a diferença entre os Betas deve refletir a diferença
entre os riscos vinculados ao respectivo regime regulatório. Ressalte-se que a diferença entre os Betas
deve ter como referência os Betas desalavancados, caso contrário o risco regulatório dependeria do grau
de alavancagem, o que não faz sentido. De acordo com os estudos OFFER [1999]8 e OFGEM [1999]9, o
Beta para empresas de distribuição de energia elétrica na Inglaterra foi estimado como sendo igual a 1,0.
Procedendo-se à desalavancagem desse Beta pela estrutura de capital ótima da Inglaterra (50% capital
próprio e 50% capital de terceiros) e adotando-se a alíquota de imposto de renda inglês de 30%, chega-se
ao Beta desalavancado da Inglaterra de 0,588. Considerando-se que o risco do regime regulatório inglês é
semelhante ao risco do regime regulatório brasileiro, o prêmio de risco regulatório brasileiro acima do risco
regulatório dos EUA deve ser igual a:

(bRU - bEUA )· ⎡⎣rM - rf ⎤⎦ = (0,588 - 0,159)· 7,76 = 3,33% (6)

85. Do exposto, o custo do capital próprio nominal em dólares é de 17,47%, como resultado da equação a
seguir.

rCAPM = r f + b d ( rm - r f ) + rr (7)
onde:

rCAPM = 17,47% (custo de capital próprio);


r f = 6,01% (taxa livre de risco);
b = 26,39% (Beta);
rm - r f = 7,76% (prêmio de risco de mercado);
rr = 9,41% (outros prêmios de risco); sendo:

rr = rR +rB +rX (8)

8 OFFER [1999], “Reviews of Public Electricity Suppliers 1998 to 2000: Distribution Price Control Review Final
Proposals”, consultation paper, maio de 1999.

9 OFGEM [1999], “Reviews of Public Electricity Suppliers 1998 to 2000: Distribution Price Control Review Final
Proposals”, dezembro de 1999.
23
onde:
rR = 3,33% (prêmio de risco regulatório);
rB = 4,08% (prêmio de risco Brasil);
rX = 2,00% (prêmio de risco cambial).

86. Deflacionando-se pela inflação média anual da economia norte-americana de 2,40% (referente ao
período de fev/95 a jun/02), obtém-se o custo de capital próprio real de 14,72%.

V.1.2.2 – Custo do Capital de Terceiros

87. Para o custo de capital de terceiros está se adotando uma abordagem similar à do capital próprio, ou
seja, se trata de adicionar à taxa livre de risco os prêmios de risco adicionais exigidos para se emprestar
recursos a uma concessionária de distribuição no Brasil. Esse enfoque impede que as tarifas sejam
afetadas por uma gestão financeria imprudente na captação de recursos de terceiros ou por decisões de
captação de dívidas vinculadas a outros interesses. O custo do capital de terceiros foi calculado pelo
método CAPM de dívida, conforme a seguinte expressão:

rd = r f + rC + rB + rX (9)

Custo do Taxa livre Prêmio de Prêmio de risco da Prêmio de


capital de de risco risco de atividade de risco
terceiros crédito distribuição no Brasil cambial

88. A estimação do custo de capital de terceiros tem como componentes a taxa livre de risco, o prêmio de
risco de crédito, o prêmio de risco da atividade de distribuição de energia elétrica no Brasil e o prêmio de
risco cambial. A taxa livre de risco e os prêmios de risco Brasil e cambial foram calculados no item V.1.2.1.
Resta determinar o prêmio de risco de crédito.

89. O prêmio de risco de crédito deve representar o spread acima da taxa livre de risco que pagam
empresas com o mesmo risco que as distribuidoras de energia elétrica brasileiras. Todas as distribuidoras
de eletricidade brasileiras classificadas pela Moody’s receberam a classificação BA1, ou seja, uma
classificação melhor que a dos títulos do governo brasileiro. Assim, adotou-se como prêmio de risco de
crédito de uma distribuidora de energia elétrica brasileira a média dos prêmios de risco de crédito de
empresas dos EUA com risco BA1 que tenham emitido títulos de longo prazo desde 1994 e que tenham
liquidez. Esse prêmio de risco resulta em 3,67%.

90. O custo do capital de terceiros nominal em dólares resulta em 15,76%, nos termos da equação a seguir.

rd = r f + rC + rB + rX = 15,76% (10)

sendo:
24
rd = custo do capital de terceiros nominal em dólares;
r f = 6,01% (taxa livre de risco);
rC = 3,67% (prêmio de risco de crédito);
rB = 4,08% (prêmio de risco Brasil);
rX = 2,0% (prêmio de risco cambial).

V.1.2.3 – Estrutura de Capital

91. A definição da estrutura de capital para efeito do cálculo da remuneração do capital a ser incluída nas
tarifas baseou-se no fato de que, no mundo real, as empresas estão permanentemente tentando reduzir
seu custo de financiamento mediante uma composição adequada de capital próprio e dívidas no capital
total. Para tanto, buscam encontrar o grau ideal de alavancagem – participação de dívidas no capital total
– dado que o custo de capital de terceiros é mais barato que o custo de capital próprio, porém existe uma
restrição dada pelo risco de default associado a elevados graus de alavancagem. Isso justifica uma
abordagem regulatória para a participação dos capitais no capital total a ser remunerado, aqui
denominada de estrutura ótima de capital. Além da estrutura de capital das concessionárias de
distribuição do Brasil, considerou-se a estrutura verificada em países que adotam o mesmo regime
regulatório que o Brasil, porém, com mais tempo de funcionamento do regime regulatório e, portanto, de
maturação das empresas reguladas.

92. Assim, a estrutura ótima de capital baseou-se em dados empíricos das empresas de distribuição de
energia elétrica dos seguintes países que utilizam o regime regulatório de preços máximos: Argentina,
Chile, Brasil, Austrália e Grã-bretanha. A partir da análise do comportamento da relação capital de
terceiros/capital total (relação D/V) dessas empresas, foi obtida a estrutura ótima de capital para as
concessionárias brasileiras de distribuição de energia elétrica. Os procedimentos adotados encontram-se
detalhados no Anexo II.

93. Primeiramente, obteve-se uma faixa de valores para a relação D/V do grupo de países formado por
Argentina e Chile, aqui chamado de grupo 1. A razão para o agrupamento desses dois países é que
ambos são economias em desenvolvimento, cujas empresas de distribuição de eletricidade estão sujeitas
ao regime de regulação por preços máximos. Obteve-se como resultado uma faixa de 36,38% a 55,28%
para o Chile e de 30,13% a 40,46% para a Argentina, e de 33,25% a 47,87% para o grupo 1.

94. A seguir, agrupou-se a Austrália e a Grã-Bretanha (grupo 2), países com alto grau de desenvolvimento e
que aplicam o regime de regulação por preços máximos no setor de distribuição de eletricidade. Usando o
mesmo método usado para o grupo 1, obteve-se uma faixa de 60,93% a 63,94% para a Austrália, de
31,15% a 51,24% para a Grã-Bretanha, e de 46,04% a 57,59% para o grupo 2.

95. O próximo passo consistiu em combinar as faixas desses dois grupos de países de maneira a obter uma
faixa de referência para os dados brasileiros. Como resultado, obteve-se uma faixa de 33,25% a 57,59%.
Em princípio esse resultado poderia refletir o intervalo de variação que se esperaria encontrar para
empresas distribuidoras de eletricidade de países que já adotam o regime de regulação por “preços
máximos” há mais tempo que o Brasil.

25
96. Em seguida, obteve-se a faixa para a relação D/V das empresas brasileiras, de 51,22% a 70,11%.
Finalmente, realizou-se a interseção dessa faixa com a faixa de referência obtida para os dois grupos de
países, resultando na faixa de 51,22% a 57,59%. No entanto, um ajuste final ainda é necessário.
Considerando o benefício fiscal dado a juros sobre dívida e capital próprio no Brasil, chega-se à conclusão
que as empresas brasileiras têm relativamente menos incentivos para usar dívida comparativamente às
empresas de outros países. Assim, seria razoável admitir-se uma faixa entre 50% e 55% para a estrutura
de capital no Brasil. Diante disso, a ANEEL optou por utilizar uma meta pontual de 50% para a
participação de dívida no capital total de empresas brasileiras de distribuição de energia elétrica.

V.1.2.4 – Custo Médio Ponderado do Capital (WACC)

97. Com base no exposto, o Custo Médio Ponderado do Capital, ou seja, a taxa de retorno adequada para
investimentos em distribuição de energia elétrica no Brasil é de 11,26%, conforme apresentado na tabela a
seguir:
Tabela II
Custo Médio Ponderado do Capital (WACC)
⎛ P ⎞
Estrutura de Capital Meta ⎜ ⎟ 50,00%
⎝ P +D⎠
Taxa Livre de Risco ( r f ) 6,01%
Beta médio de empresas distribuidoras do EUA desalavancado ( b u ) 15,90%
Beta médio realavancado pela estrutura meta de capital BZ ( b ) 26,39%
[
Spread de risco de mercado rM - r f ] 7,76%
Risco do negócio e financeiro b [rM - r f ] 2,05%
Risco Soberano ( rS ) 8,29%
B
Risco Crédito empresas EUA mesmo risco BZ (B1) ( r ) C 4,21%
Risco Crédito empresas EUA mesmo risco de empresas distribuidoras BZ - B1( rC ) 3,67%
Risco País ( rB = rS - rCB ) 4,08%
Risco Cambial ( rX ) 2,00%
( )[ ]
Risco Regulatório b uRU - b u EUA · rM - r f ( rR ) 3,33%
[ ]
Custo de Capital Próprio Nominal rP = r f + b rM - r f + rB + rX + rR 17,47%
Custo de capital de terceiros nominal em dólares rD = r f + rC + rB + rX 15,76%
P D
WACC nominal em dólares rWACC = rP + rD (1 - T ) 13,93%
P+D P+D
Taxa de inflação EUA ( p ) 2,40%
r 1 + rWACC
WACC real rWACC = -1 11,26%
1+p

26
V.1.2.5 – Base de Remuneração Regulatória

98. Para o montante de investimento a ser remunerado – base de remuneração – a ANEEL está
considerando o valor dos ativos necessários para prestar o serviço de distribuição, nos termos da
Resolução ANEEL nº 493, de 3 de setembro de 2002 e da Nota Técnica n.º 178/2003-SFF/SRE/ANEEL.

99. A definição para a base de remuneração foi precedida de ampla discussão pública (Audiência Pública
AP/ANEEL nº 005/2002), onde as concessionárias distribuidoras, representadas pela ABRADEE,
posicionaram-se em favor da adoção do valor econômico mínimo da privatização10. Essa abordagem foi
julgada inadequada pela ANEEL por vários motivos. Primeiramente, levou-se em consideração que o valor
aportado pelos investidores nas privatizações não teve como contrapartida investimentos no serviço
concedido, uma vez que correspondeu à aquisição do controle acionário das concessionárias de
distribuição, tendo sido apropriado pelo controlador original. Considerou-se também que o preço mínimo
de venda do controle acionário obedeceu a critérios que não guardam relação com princípios regulatórios,
mas sim com as conveniências do controlador original da concessionária. Além disso, considerou-se que
os recursos aportados pelos investidores expressavam expectativas de lucros futuros próprias do
investidor. Não seria razoável sancionar tais expectativas nas tarifas, uma vez que isso implicaria em
imputar aos consumidores eventuais distorções nas expectativas de lucros.

100. O conceito chave da Resolução nº 493/2002 é refletir apenas os investimentos prudentes na


definição das tarifas dos consumidores. Trata-se dos investimentos requeridos para que a concessionária
possa prestar o serviço de distribuição cumprindo as condições do contrato de concessão (em particular
os níveis de qualidade exigidos), avaliados a “preços de mercado” e “adaptados” através dos índices de
aproveitamento definidos na referida Resolução.

101. No momento atual, as concessionárias de distribuição encontram-se em processo de cumprimento da


avaliação dos ativos estabelecida na Resolução nº 493/2002 e da Nota Técnica n.º 178/2003-
SFF/SRE/ANEEL. Cabe à ANEEL avaliar a razoabilidade dos montantes resultantes das avaliações
realizadas, no contexto do disposto no parágrafo anterior. Por outro lado, na hipótese da concessionária
não proceder à avaliação dos ativos e ao encaminhamento das informações nos prazos compatíveis com
o cronograma da revisão tarifária periódica, cabe à ANEEL arbitrar o valor da base de remuneração a ser
considerada na presente revisão.

V.1.2.6 – Cálculo da Remuneração Bruta do Capital Próprio e de Terceiros

102. A partir do custo de capital próprio real de 14,72%, obtido no item V.1.2.1, procede-se ao cálculo da
remuneração líquida do capital próprio (RLCP) nos termos da equação a seguir:

RLCP = a · BA · rP , (11)

onde:

BA = base de remuneração;
rp = custo de capital próprio real;

10
O valor econômico mínimo é superior ao preço mínimo, pois que corresponde ao valor pago pelas ações
pertencentes ao bloco de controle acionário, aplicado a 100% das ações da concessionária.
27
a = participação do capital próprio no capital total a ser remunerado.

103. Por conseguinte, a remuneração bruta do capital próprio (RBCP) é dada pela equação, onde t é a
alíquota do imposto:

RLCP
RBCP = . (12)
1-t

104. Com base no custo do capital de terceiros nominal de 15,76%, obtido no item V.1.2.4, procede-se ao
cálculo da remuneração bruta do capital de terceiros (RBCT) nos termos das equações a seguir:

RNLCT = rD x (1-t) ;
RLCT = [(1 + RNLCT) / (1 + p) ] – 1;
r´D = RLCT / (1 - t)
RBCT = (1 - a) x BA x r´D (13)

Onde:

RNLCT = remuneração nominal líquida de capital de terceiros;


RLCT = remuneração líquida de capital de terceiros;
r´D = custo real do capital de terceiros

105. Portanto, a remuneração do capital a ser considerada na Receita Requerida é o somatório da


remuneração bruta do capital próprio e da remuneração bruta do capital de terceiros.

V.1.2.7 – Quota de Reintegração Regulatória (Depreciação)

106. A quota de reintegração regulatória é composta das quotas de depreciação e de amortização e


representa a forma de recomposição dos investimentos realizados para prestação do serviço ao longo da
vida útil desses bens. Esse percentual reflete a taxa média de depreciação e amortização dos ativos da
concessionária. O valor apurado de quota de reintegração é obtido pela multiplicação da taxa média de
depreciação pela Base de Remuneração Bruta.

V.1.3 – Valor da Parcela A

107. A Parcela A inclui os denominados custos “não-gerenciáveis” da concessionária, isto é, custos cujos
montantes e variação não são administrados pela concessionária. Tais custos referem-se à compra de
energia elétrica11, e aos encargos tarifários, que são compostos de encargos setoriais e transporte de
energia.

11Conforme já salientado (ver nota de rodapé no 1), o início da redução dos contratos iniciais e a conseqüente liberdade
de aquisição de energia no mercado de preços livres modificam esse conceito, na medida em que as concessionárias
distribuidoras passam a ter capacidade de gerenciar a aquisição da energia pelo menor preço.
28
V.1.3.1 – Compra de Energia Elétrica

108. Para atendimento a seu mercado de referência, a concessionária de distribuição compra energia
elétrica de diferentes empresas de geração e sob diferentes condições, mediante contratos entre a
distribuidora e a empresa geradora (contratos iniciais e contratos bilaterais) e, no caso da energia
produzida por Itaipu Binacional, mediante quotas definidas pela legislação. Algumas concessionárias
complementam a compra de energia elétrica com geração própria e aquisições no Mercado Atacadista de
Energia Elétrica – MAE.

109. Para os contratos iniciais, tanto o montante de energia elétrica quanto o valor da tarifa para aquisição
dessa energia são homologados pela ANEEL. De acordo com a Lei n.º 9.648, de 27 de maio de 1998, os
contratos iniciais terão seus montantes reduzidos a partir de 2003, na proporção de 25% ao ano. Dessa
forma, a vigência dos contratos iniciais será até 2005 e, a partir de 2006, passa a ser livre a negociação de
compra e venda de energia elétrica. A Lei n.º 10.438/2002 estabeleceu, para as concessionárias
geradoras federais, que parte da energia elétrica proveniente da redução dos contratos iniciais a ser
descontratada a partir de 2003, seja negociada em leilões públicos de energia elétrica. Esses leilões foram
regulamentados pela Resolução ANEEL n.º 423, de 9 de agosto de 2002. A Lei n.º 10.604, de 17 de
dezembro de 2002, permite que as concessionárias de geração federal celebrem aditivos aos contratos
iniciais, de forma que, nesse caso, não se aplicaria a redução prevista na Lei n.º 9.648/2002.

110. A Lei n.º 5.899, de 5 de julho de 1973, estabelece a obrigatoriedade das concessionárias distribuidoras
localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste adquirirem quotas partes da energia elétrica
destinadas ao Brasil proveniente de Itaipu Binacional. As quotas partes são obtidas por intermédio do
rateio da energia de Itaipu, na proporção da energia elétrica vendida pela concessionária no ano anterior.
A tarifa de Itaipu é estabelecida em dólares dos EEUU e os valores pagos pela concessionária são
convertidos em Reais pela cotação do câmbio oficial do dia do pagamento.

111. Quando a energia adquirida mediante "contratos iniciais" e de Itaipu não for suficiente para o
atendimento ao mercado de sua área de concessão, a concessionária distribuidora pode adquirir energia
adicional de empresas geradoras, firmando contratos de compra e venda de energia por períodos
determinados, denominados de “contratos bilaterais”. O preço dessa compra é livremente negociado entre
as partes. Entretanto, a ANEE, nos termos da legislação vigente, estabeleceu um limite de preço a ser
repassado às tarifas de fornecimento denominado Valor Normativo - VN. O VN consiste num limite ou teto
de repasse das despesas incorridas pela distribuidora com as compras de energia elétrica, mediante
contratos bilaterais, para as tarifas de fornecimento aos consumidores finais. Os Contratos Bilaterais
precisam ser obrigatoriamente registrados na ANEEL e, no caso de serem celebrados com partes
relacionadas, precisam ser aprovados pela ANEEL, segundo o estabelecido nos respectivos contratos de
concessão. Essa aprovação deve se dar no marco das competências da ANEEL estabelecidas no art. 3º
da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, considerando, em particular, o disposto nos incisos VIII e IX.
Caso a ANEEL não registre ou não aprove o contrato bilateral, as respectivas despesas de compra de
energia não podem ser repassadas às tarifas de fornecimento. A Lei n.º 10.604/2002 também estabeleceu
que, a partir de 1º de janeiro de 2003, as concessionárias de distribuição somente poderão estabelecer
contratos de compra e venda de energia elétrica por meio de licitação na modalidade de leilão, ou por
meio dos leilões públicos das empresas geradoras. Entretanto, a mesma Lei dispensou a exigência de
licitação quando a compra for feita entre sociedades coligadas, controladas ou vinculadas a controlador
comum, até o limite da auto-contratação. Assim, as concessionárias de distribuição podem adquirir energia
elétrica de partes relacionadas no montante de até 30% de suas necessidades de energia elétrica.

29
112. Recentemente, a Lei no 10.848, de 15 de março de 2004, estabeleceu em seu art 1º que a
comercialização de energia elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados de serviços e
instalações de energia elétrica, bem como destes com seus consumidores, no Sistema Interligado
Nacional - SIN, dar-se-á mediante contratação regulada ou livre, nos termos dessa Lei e de seu
regulamento. Dessa forma, o Decreto n° 5.163, de 30 de julho de 2004, regulamentou a comercialização
de energia elétrica, a ser realizada no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e no Ambiente
Contratação Livre (ACL), de forma que no ACR são realizadas as operações de compra e venda de
energia elétrica entre agentes vendedores e agentes de distribuição por meio de leilões de compra de
energia elétrica proveniente de empreendimentos de geração existentes ou novos empreendimentos de
geração, enquanto que, no ACL, as operações são realizadas mediante contratos bilaterais livremente
negociados.

113. Além disso, o Decreto n° 5.163/2004 determinou, no Inciso II do art. 2°, que os agentes de distribuição
deverão garantir, a partir de 1° de janeiro de 2005, o atendimento da totalidade de seus respectivos
mercados por intermédio de contratos registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica,
CCEE, e quando for o caso, homologados ou registrados pela ANEEL. No cumprimento da obrigação de
contratação para o atendimento à totalidade do mercado dos agentes de distribuição, será contabilizada a
energia elétrica contratada até 16 de março de 2004; contratada nos leilões de compra de energia elétrica
proveniente de empreendimentos de geração existentes e de novos empreendimentos; e proveniente de
geração distribuída, de usinas que produzam energia elétrica a partir de fontes eólicas, pequenas centrais
hidrelétricas e biomassa (contratadas na primeira etapa do Proinfa), e de Itaipu Binacional.

114. Em relação aos custos de aquisição de energia elétrica, o Decreto n° 5.163/2004 delegou aos
Ministérios de Minas e Energia e da Fazenda o estabelecimento, em ato conjunto, de mecanismos de
compensação das variações não consideradas no reajuste tarifário promovido no ano anterior. Nesse
sentido, a Portaria Interministerial n° 361, de 26 de novembro de 2004, deu nova redação à Portaria
Interministerial n° 25, de 24 de janeiro de 2002, incluindo os custos com aquisição de energia elétrica nos
itens da Parcela A que compõem a Conta de Compensação de Variação de Valores de Itens da Parcela A
– CVA.

115. Cabe destacar que o contrato de concessão de distribuição de energia elétrica da CONCESSIONÁRIA
estabelece cláusula que dispõe que “A CONCESSIONÁRIA obriga-se a obter a energia elétrica
requerida pelos usuários ao menor custo efetivo, dentre as alternativas disponíveis, quando
comparado com os custos observados no contexto nacional e internacional.”

116. Para o cálculo dos custos com compra de energia elétrica são tomados como ponto de partida os
montantes adquiridos pela concessionária mediante contratos iniciais, Itaipu, contratos bilaterais, e leilões
públicos de energia. Para compor a Parcela A da Receita Requerida são considerados apenas os
montantes de compra de energia elétrica necessários para o atendimento ao mercado de referência
previsto para o ano-teste, acrescido de um adicional a título de perdas de energia elétrica. A diferença a
maior desse montante com relação aos contratos de compra de energia elétrica acrescida de
empreendimentos próprios de geração distribuída é considerada sobra de energia contratada e não é
considerada na Receita Requerida.

30
117. Para manter a neutralidade da Parcela A torna-se necessário calcular a valoração dos montantes de
energia admitidos para o ano-teste pelas tarifas que estarão vigentes na data de revisão tarifária periódica
da concessionária.

118. Considerando que o ano-teste abrange o período de vigência dos contratos iniciais, considera-se o
efeito da redução desses contratos, nos termos da Lei nº 9.648/98.

119. Os requisitos de energia elétrica da CONCESSIONÁRIA, no ano teste, em MWh, é o montante


energia elétrica para atendimento ao mercado de fornecimento e suprimento a outras concessionárias,
acrescido do montante de energia elétrica para cobertura das perdas elétricas admitidas. As perdas
elétricas são compostas pelas perdas na rede básica e pelas perdas no sistema de distribuição (perdas
técnicas e comerciais).

V.1.3.3 – Tratamento Regulatório das Perdas de Energia Elétrica na Parcela A

120. No que se refere aos conceitos expostos no item V.1.4.2, sua à implementação efetiva será realizada
da seguinte forma:

i) Para o primeiro ano do período tarifário subseqüente à revisão, a ANEEL fixará o valor
das “perdas regulatórias totais” no item V.1.3.1;

ii) No transcurso do primeiro ano após a revisão tarifária a ANEEL realizará estudos para
determinar as perdas técnicas da rede elétrica considerada para efeito de fixação da
Base de Remuneração (ver item V.1.2.5), segundo procedimentos e enfoques
metodológicos a serem definidos previamente;

iii) Uma vez estabelecido o valor das perdas técnicas, a ANEEL procederá à fixação das
“perdas regulatórias totais” a serem consideradas no cálculo da Parcela A em cada ano
do período tarifário. Com essa finalidade, serão definidos valores anuais a serem
admitidos para as perdas “não técnicas”. Assim como no caso da inadimplência dos
consumidores (ver seção V.1.1), será estabelecida uma “trajetória regulatória” para as
perdas, definindo-se uma curva decrescente que permita à concessionária gerenciar
sua redução progressiva;

121. A ANEEL definirá o padrão de perdas regulatórias a ser aplicado em cada ano dos períodos tarifários
subseqüentes.

122. O valor da despesa com compra de energia elétrica de Itaipu Binacional é apurado com base na tarifa
de repasse de potência de Itaipu Binacional e nos montantes de potência e energia associada. Para
valoração dessa despesa é considera uma taxa de câmbio em R$/US$, dado que a tarifa de Itaipu é fixada
em dólares.

123. O valor da despesa com compra de energia por meio de contratos iniciais é apurado com base na tarifa
homologada pela ANEEL e nos montantes sazonalisados de energia. Nos montantes de energia são
consideradas as reduções de conforme dispõe a Lei n.º 9.468/1998.

31
124. O valor da despesa com compra de energia por meio de contrato bilateral com terceiro é apurado
considerando o limite de repasse às tarifas de fornecimento de energia elétrica pelos critérios do Valor
Normativo – VN, conforme legislação em vigor.

125. O valor da despesa com compra de energia do leilão de 2002 é apurado considerando as regras de
preço e reajuste previstas em cada contrato e nas Resoluções ANEEL n.ºs 248/02 e 487/02.

126. O valor da despesa com compra de energia nos leilões de que trata a Lei n.º 10.848, de 15 de março
de 2004, regulamentada pelo Decreto n.º 5.163, de 30 de julho de 2004 é apurado com base no preço
médio dos Contratos de Comercialização de Energia Elétrica em Ambiente Regulado – CCEAR.

127. Caso a CONCESSIONÁRIA, para o Ano Teste, de acordo com o balanço energético, apresentar
sobras de montante de energia elétrica, essas são valorizadas pelos preço médio de todos os contratos
excetuado Itaipu e os contratos iniciais. Quando a COCESSIONÁRIA apresenta déficit, o respectivo
montante é valorado pelo preço médio dos Contratos de Comercialização de Energia Elétrica em
Ambiente Regulado – CCEAR.

V.1.3.2 – Encargos Tarifários

128. Os encargos tarifários são todos definidos em Leis e seus valores são estabelecidos por Resoluções
ou Despachos da ANEEL, para efeito de pagamento pelas concessionárias e de repasse às tarifas de
fornecimento de energia elétrica. Alguns desses encargos foram inicialmente definidos em Decretos e,
posteriormente, convalidados em Lei, constituindo, dessa forma, políticas de Governo para o setor elétrico.
Esses encargos tarifários são: i) Conta de Consumo de Combustíveis (CCC); ii) Reserva Global de
Reversão (RGR); iii) Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica (TFSEE); iv) Operador Nacional
do Sistema (ONS); v) Contribuição Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH); vi) Uso das
Instalações da Rede Básica (RB); vii) Uso das Instalações de Conexão (IC); (viii) Transporte de Energia
Elétrica Proveniente de Itaipu Binacional (TI); ix) Conta de Desenvolvimento Energético (CDE); x)
Montante de Uso de Sistema de Transmissão – MUST para os Contratos Iniciais e de Itaipu; xi) Contrato
de Uso do Sistema de Distribuição – CUSD; xii) Pesquisa e Desenvolvimento – P&D.

129. A Reserva Global de Reversão (RGR) foi criada pelo Decreto n.º 41.019, de 26 de fevereiro de 1957.
A Lei n.º 9.648/98 definiu que a RGR seria extinta em 31/12/2002, entretanto, a Lei n.º 10.438, de 26 de
abril de 2002, estendeu sua vigência até 2010. Trata-se de parcela cujo valor anual é estabelecido pela
ANEEL com a finalidade de prover recursos para reversão, encampação, expansão e melhoria do serviço
público de energia elétrica, para financiamento de fontes alternativas de energia elétrica, para estudos de
inventário e viabilidade de aproveitamentos de potenciais hidráulicos, e para desenvolvimento e
implantação de programas e projetos destinados ao combate ao desperdício e uso eficiente da energia
elétrica. Seu valor anual equivale a 2,5% dos investimentos efetuados pela concessionária em ativos
vinculados à prestação do serviço de eletricidade e limitado a 3,0% de sua receita anual. A Quota de RGR
fixada anualmente é paga mensalmente em duodécimos pelas concessionárias às Centrais Elétricas
Brasileiras - ELETROBRÁS, que é a gestora dos recursos arrecadados para esse fim.

130. A Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) foi criada pelo Decreto n.º 73.102, de 7 de novembro
de 1973. Refere-se ao rateio dos ônus e vantagens do consumo de combustíveis fósseis para geração de
energia termoelétrica. Esse tipo de geração de energia apresenta custos superiores à geração
hidroelétrica, na medida em que requer a utilização de combustíveis, como óleo combustível, óleo diesel,

32
gás natural e carvão. A geração termoelétrica se faz necessária quando as condições de geração de
energia hidroelétrica são insuficientes para o atendimento ao mercado. Além disso, a geração
termoelétrica também se faz necessária nas regiões do país localizadas fora da área de atendimento pelo
sistema interligado, como na região Norte, nos denominados sistemas isolados. Os custos da geração
termoelétrica são rateados por todos os consumidores do país, mediante a fixação de valores anuais para
cada concessionária de distribuição, em função do seu mercado e podem variar em função da
necessidade maior ou menor do uso das usinas termoelétricas. Os valores da CCC são fixados
anualmente pela ANEEL com base nas informações prestadas pela ELETROBRÁS com relação às
condições previstas de hidraulicidade, à taxa esperada de crescimento do consumo para o ano corrente e
aos preços esperados dos combustíveis. A Quota da CCC fixada anualmente é paga mensalmente pelas
concessionárias à ELETROBRÁS, que é a gestora dos recursos arrecadados para esse fim. Anualmente
são estabelecidas Quotas de CCC para os seguintes sistemas elétricos: i) Sistema Interligado
Sul/Sudeste/Centro-Oeste; ii) Sistema Interligado Norte/Nordeste; e iii) Sistemas Isolados. A Lei n.º
9.648/98 e a Resolução ANEEL n.º 261, de 13 de agosto, estabeleceram que, a partir de 1º de janeiro de
2006, ficará extinto o benefício da sistemática de rateio de ônus e vantagens decorrentes do consumo de
combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica nos sistemas elétricos interligados. Essa redução
se dará na proporção de 25% ao ano a partir de 2003. A Lei n.º 9.648/2002 e, posteriormente, a Lei n.º
10.438/2002, mantiveram até 2018 a sistemática de rateio do custo de consumo de combustíveis para
geração de energia elétrica nos sistemas isolados.

131. A Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica (TFSEE) foi instituída pela Lei n.º 9.427, de 26
de dezembro de 1996, e equivale a 0,5% do benefício econômico anual auferido pela concessionária. Trata-
se de parcela cujo valor anual é estabelecido pela ANEEL com a finalidade de constituir sua receita e
destina-se à cobertura do custeio de suas atividades. A TFSEE fixada anualmente é paga mensalmente em
duodécimos pelas concessionárias.

132. A Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH) foi criada pela Lei n.º
7.990, de 28 de dezembro de 1989. O cálculo da CFURH baseia-se na geração efetiva das usinas
hidrelétricas, de acordo com a seguinte fórmula: CFURH = TAR x GH x 6,75%, onde TAR refere-se à Tarifa
Atualizada de Referência estabelecida anualmente pela ANEEL (em R$/MWh) e GH é o montante (em
MWh) da geração mensal da usina hidrelétrica. Do montante arrecadado mensalmente a título de
compensação financeira, 45% se destinam aos Estados, 45% aos Municípios, 4,4% ao Ministério de Meio
Ambiente, 3,6% ao Ministério de Minas e Energia, e 2% ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Esse
encargo não se aplica à CONCESSIONÁRIA.

133. Para o atendimento ao mercado consumidor de sua área de concessão a concessionária de


distribuição recebe a energia elétrica adquirida das empresas geradoras através de instalações de
transmissão (subestações e linhas de transmissão). São instalações pertencentes a empresas constituídas
especificamente para esse fim, denominadas empresas Transmissoras, que consistem na rede básica de
transmissão de energia elétrica. As concessionárias distribuidoras pagam pelo o uso da rede básica.
Algumas distribuidoras necessitam, adicionalmente, de instalações de conexão para conectar-se às
instalações da rede básica ou estão ligadas a outras concessionárias de distribuição. As atividades de
coordenação e de controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica são executadas pelo
Operador Nacional do Sistema - ONS. As instalações da rede básica são disponibilizadas pelas
Transmissoras para o ONS mediante contrato de prestação de serviços de transmissão. As
concessionárias de distribuição acessam a rede básica mediante contrato de uso do sistema de
transmissão que celebram com o ONS, enquanto que as instalações de conexão são disponibilizadas

33
diretamente aos acessantes pelas proprietárias dessas instalações, mediante contrato de conexão ao
sistema de transmissão. Esta forma de operação foi estabelecida pela Lei n.º 9.074, de 7 de julho de 1995
e pela Lei n.º 9.648/1998 e respectivos Decretos regulamentadores.

134. O Uso das Instalações da Rede Básica de Transmissão de Energia Elétrica refere-se aos valores
pagos pelas concessionárias de distribuição às Transmissoras conforme Contrato de Uso do Sistema de
Transmissão – CUST celebrado com o ONS pelo acesso à rede básica de transmissão do sistema
interligado. Tais encargos são calculados mensalmente pelo ONS, com base nos valores de demanda de
potência multiplicados por tarifa específica estabelecida pela ANEEL. Essa tarifa, por sua vez, é função da
receita anual permitida para as concessionárias detentoras da rede básica de transmissão (Transmissoras),
também estabelecida pela ANEEL, para cobrir os custos decorrentes da atividade de transmissão. Como
entidade executora das atividades de coordenação e controle da operação e transmissão de energia
elétrica nos sistemas interligados, cabe ao ONS administrar os serviços de transmissão, cobrar os
encargos de uso das instalações de rede básica às concessionárias distribuidoras e creditá-los às
Transmissoras, de acordo com as medições mensais de demanda de potência efetuadas por estas.

135. O Uso das Instalações de Conexão refere-se ao uso, pelas concessionárias distribuidoras, das
instalações de conexão não integrantes da rede básica e pertencentes às Transmissoras, para conectar-se
às instalações da rede básica de transmissão. Os encargos de uso dos sistemas de conexão referem-se
aos valores pagos pelas concessionárias distribuidoras às Transmissoras, em função do uso das
instalações destas, e são objeto de contrato entre as partes. Os valores desses encargos são estabelecidos
anualmente pela ANEEL. Para as instalações mais recentes são estabelecidos Contratos de Conexão entre
as distribuidoras e as transmissoras.

136. Cabe ao Operador Nacional do Sistema - ONS coordenar e controlar a operação dos sistemas
elétricos interligados, bem como administrar e coordenar a prestação dos serviços de transmissão de
energia elétrica por parte das Transmissoras aos usuários acessantes da rede básica. Assim, além dos
encargos relativos ao uso das instalações da rede básica, as concessionárias distribuidoras pagam
mensalmente valores relativos ao custeio das atividades do ONS.

137. O Transporte da Energia Elétrica Proveniente de Itaipu Binacional refere-se ao custo de transporte da
quota parte de energia elétrica adquirida pela concessionária, daquela geradora. A despesa com transporte
de energia elétrica proveniente de Itaipu é o resultado da multiplicação do montante de demanda de
potência (MW) adquirida pela tarifa de transporte de Itaipu fixada pela ANEEL em R$ /MW. As
distribuidoras detentoras das quotas partes de Itaipu pagam também pelos Encargos de Uso da Rede
Básica atribuídos à Itaipu Binacional, de forma proporcional às suas quotas.

138. A Conta de Desenvolvimento Energético – CDE foi criada pela Lei n.º 10.438/2002. Trata-se de
parcela cujo valor anual é estabelecido pela ANEEL com a finalidade de prover recursos para: i) o
desenvolvimento energético dos Estados; ii) a competitividade da energia produzida a partir de fontes
eólica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, gás natural e carvão mineral, nas áreas atendidas pelos
sistemas elétricos interligados; iii) promover a universalização do serviço de energia elétrica em todo o
território nacional. A CDE, cuja duração é de 25 anos, é fixada anualmente e paga mensalmente pelas
concessionárias à ELETROBRÁS, que é a entidade que movimentará os recursos arrecadados para esse
fim.

34
139. A despesa referente ao Montante de Uso de Sistema de Transmissão – MUST está baseada nas Leis
n.º 8.987/95, n.º 9.427/96, n.º 9.6489/98, e n.º 10.438/02, que assegura aos fornecedores e respectivos
consumidores livre acesso aos sistemas de transmissão de concessionário e permissionário do serviço
público de energia elétrica, mediante ressarcimento do custo do transporte envolvido, calculado com base
em critérios fixados pelo poder concedente por meio das Resoluções ANEEL nº 281/99, n.º 655/02, n.º
219/03.

140. O encargo referente a Pesquisa e Desenvolvimento Energético (P&D) foi criado pela lei nº. 9.991, de
24 de julho de 2000, que estabelece que as concessionárias e permissionárias de serviços públicos de
distribuição de energia elétrica ficam obrigadas a aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo, setenta e
cinco centésimos por cento de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor
elétrico e, no mínimo, vinte e cinco centésimos por cento em programas de eficiência energética no uso
final. Os contratos de concessão das distribuidoras de energia elétrica estabeleciam que este encargo
compunha a Parcela B, sendo tratado como um custo gerenciável. Contudo, Pesquisa & Desenvolvimento
tem natureza de Encargo Tarifário, ou seja, sua alocação mais adequada é tratá-lo como Parcela A.

141. Conforme já mencionado, a Parcela A deve ser neutra para efeito tarifário, ou seja, se reconhece que
a concessionária não deve ser indevidamente beneficiada ou prejudicada por eventos que não pode
controlar (exceto o ressalvado quanto aos preços dos montantes de energia elétrica adquirida para
substituir a redução dos contratos iniciais). Assim, os custos da Parcela A são integralmente repassados às
tarifas. O valor total apurado para a Parcela A da concessionária é calculado pela soma da compra de
energia elétrica com os encargos tarifários.

142. O Contrato de Concessão de todas as distribuidoras de energia elétrica estabeleciam que os


encargos referentes à Contribuição para o Programa de Integração Social - PIS, Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público - PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
- COFINS faziam parte da Parcela B, sendo tratado como um custo gerenciável. Contudo, PIS/PASEP tem
natureza semelhante ao ICMS. Desse modo, ficou estabelecida, por meio da Audiência Pública no
045/2004, de 20 de janeiro de 2005, a exclusão da tarifa do PIS/PASEP e da COFINS.

143. Em decorrência do advento das Leis no 10.637, de 30 de dezembro de 2002, no 10.833, de 29 de


dezembro de 2003, e no 10.865, de 30 de abril de 2004, a sistemática dos tributos referentes ao
PIS/PASEP e à COFINS sofreu significativa alteração. Essas leis estabeleceram o princípio da não-
cumulatividade que, para atender a premissa de neutralidade sob o ponto de vista da arrecadação,
trouxeram a conseqüente alteração de alíquota e arranjo de deduções, que buscam assegurar a geração
de créditos a compensar. Essas alterações na legislação tributária trouxeram, para o cálculo tarifário,
dificuldades operacionais em se implementar uma alíquota econômica que repasse para as tarifas o
montante correto e necessário associado aos tributos. Dessa forma, em virtude da dinâmica de apuração
dos créditos a compensar, não é razoável manter os tributos na parcela “blindada” da receita das
concessionárias (Parcela B, que somente é aberta em processos de revisões tarifárias). O Parecer no
324/2004-PF/ANEEL evidencia que a proposta apresentada pela ANEEL na AP 045/2004, de homologar
as tarifas sem o efeito do PIS/PASEP e COFINS, evita práticas invasivas por parte do Regulador em
matéria de competência de outros órgãos públicos ou na própria gestão dos concessionários, ajustando-se
ao modelo tarifário que rege o setor elétrico brasileiro (tarifa pelo preço). Adicionalmente, ressalta o
mencionado Parecer que, ao se estender ao PIS/PASEP e COFINS o mesmo tratamento conferido ao
ICMS, a sociedade poderá ter mais acesso a informações nas faturas de energia elétrica, o que confere
maior efetividade ao direito do consumidor de receber informações claras e adequadas sobre os custos

35
que compõem o serviço de distribuição de energia elétrica. A ANEEL não mais mensurará ou analisará
previamente comportamentos adotados pelos concessionários no trato de suas obrigações tributárias,
para conferir repasse tarifário à composição de suas receitas. Porém, o Regulador não poderá deixar de
acompanhar e validar todas as práticas que regem a nova sistemática desses tributos, já que passam a ter
repercussão direta no valor a ser despendido pelos consumidores no pagamento das faturas de energia
elétrica. Assim, a CONCESSIONÁRIA incluirá no valor total a ser pago pelo consumidor, a exemplo do
ICMS, as despesas do PIS/PASEP e COFINS efetivamente incorridas em função do exercício da atividade
de distribuição de energia elétrica.

144. Portanto, na Receita Requerida da concessionária não consta a despesa referente ao pagamento de
PIS/PASEP, bem como as despesas com o ICMS.

V.1.5 – Total da Receita Requerida

145. A Receita Requerida da concessionária é formada pela soma das Parcelas A e B. A Parcela A é
composta pela Compra de Energia e pelos Encargos Tarifários. A Parcela B é composta por Custos
Operacionais Eficientes, Remuneração do Capital e Quota de Reintegração.

V.1.6 – Receita Verificada

146. A Receita de Fornecimento Verificada (estimada para o ano-teste) é o resultado da aplicação das
tarifas de fornecimento em vigor sobre o mercado de venda (fornecimento) considerado para o ano-teste.

V.1.7 – Outras Receitas

147. As Receitas de Atividades extra-concessão compreendem as receitas resultantes de operações


realizadas pela concessionária que não estão relacionadas diretamente ao objeto da concessão, ou seja,
atividades empresariais desenvolvidas por meio de outros negócios que não os de Geração, Transmissão,
Distribuição e Comercialização de energia elétrica. Segundo informações prestadas pela concessionária,
a mesma não possui receita com atividades extra-concessão.

148. A concessionária aufere ainda receitas oriundas do uso do sistema de distribuição, de rendas de
prestação de serviços, de arrendamento e de aluguéis, e de outras receitas.

149. A Receita de Suprimento é considerada na Receita Verificada.

150. Na Receita Verificada também devem ser tratados os valores relativos a subvenção econômica de
acordo com os critérios unificados estabelecidos para a concessão de descontos para as unidades
consumidoras integrantes da Subclasse Residencial Baixa Renda, com a finalidade de contribuir para a
modicidade da tarifa de fornecimento de energia elétrica, conforme legislação vigente e nos termos da
Resolução ANEEL nº 89, de 25 de outubro de 2004.

36
V.1.8 – Cálculo do Reposicionamento Tarifário

151. O Regulador está consciente que, em alguns casos, a aplicação imediata das tarifas justas pode
representar um impacto econômico significativo sobre os consumidores de energia elétrica. Entretanto,
entende-se que essa circunstância não pode nem deve invalidar a aplicação dessas tarifas, uma vez que
as conseqüências poderiam ser muito mais negativas para esses mesmos consumidores. Considerando
essa realidade, a ANEEL está propondo a aplicação das tarifas resultantes da revisão tarifária periódica
em etapas, de modo a atenuar o impacto sobre os consumidores e, ao mesmo tempo, manter inalterada a
condição de equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão associada a essas tarifas. Este é
um direito da concessionária distribuidora que o Regulador respeitará estritamente.

152. No marco do princípio do equilíbrio econômico-financeiro estabelecido no contrato de concessão e com


vistas ao atendimento da proposta mencionada no parágrafo anterior, a ANEEL está definindo o seguinte
procedimento para aplicação do índice de reposicionamento tarifário (RT) resultante do processo de
revisão tarifária periódica:

i) quando o RT resultante da revisão tarifária for superior ao índice que resultaria da hipótese
de ser calculado o reajuste tarifário anual da concessionária (IRT), as tarifas serão
reposicionadas em percentuais equivalentes a este último;

ii) para garantir a condição de equilíbrio econômico-financeiro, a diferença entre RT e IRT será
convertida em acréscimos à Parcela B a serem adicionados em cada um dos cinco anos do
próximo período tarifário, de modo que o fluxo de fundos da concessionária distribuidora
durante o segundo período tarifário assegure-lhe a taxa de retorno (WACC) definida na
presente revisão tarifária;

iii) dessa forma, o reposicionamento tarifário será implementado em duas etapas. A primeira,
correspondente ao percentual de IRT; a segunda, correspondente à diferença entre o RT e o
IRT, será implementada ao longo do segundo período tarifário.

153. Nos termos da equação apresentada no início da seção V, o reposicionamento tarifário (RT) da
CONCESSIONÁRIA é dado por:

RT = [(Receita Requerida – Outras Receitas) / Receita Verificada]

154. Dessa forma, para que a CONCESSIONÁRIA tenha receita capaz de cobrir custos operacionais
eficientes e adequada remuneração sobre investimentos prudentes, suas tarifas de fornecimento de
energia elétrica devem ser repocionadas em, em média, pelo percentual do RT.

155. Esse reposicionamento assegura, no momento da revisão tarifária periódica, o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato de concessão de distribuição de que a CONCESSIONÁRIA é titular. Com a
aplicação das regras de reajuste tarifário anual esse equilíbrio deverá ser mantido até a próxima revisão.

37
VI – CÁLCULO DO FATOR X
156. Conforme já exposto, além do reposicionamento tarifário, a revisão tarifária periódica compreende
uma segunda etapa, na qual se calcula o denominado Fator X. Os contratos de concessão das
distribuidoras determinam que o valor da Parcela B da receita será ajustado anualmente no período
tarifário entre revisões, aplicando-se ao valor vigente dessa parcela o índice “IGP-M – X”. Nos termos dos
contratos de concessão:

“Sexta Subcláusula - O reajuste será calculado mediante a aplicação, sobre as tarifas homologadas,
na “Data de Referência Anterior” do Índice de Reajuste Tarifário (IRT), assim definido:

VPA1 + VPB0 x (IVI ± X)


IRT = -------------------------------------
RA0

onde:

VPA1 - Valor da Parcela A referido na Subcláusula anterior, considerando-se as condições vigentes


na data do reajuste em processamento e a energia comprada em função do “Mercado de
Referência”, aqui entendido como mercado de energia garantida da CONCESSIONÁRIA, nos doze
meses anteriores ao reajuste em processamento;

RA0 - Receita Anual, calculada considerando-se as tarifas homologadas na “Data de Referência


Anterior” e o “Mercado de Referência”, não incluindo o ICMS;

VPB0 - Valor da Parcela B, referida na Subcláusula anterior, considerando-se as condições vigentes


na “Data de Referência Anterior”, e o “Mercado de Referência”, calculado da seguinte forma:

VPB0 = RA0 - VPA0

onde:

VPA0 - Valor da Parcela A referida na Subcláusula anterior, considerando-se as condições vigentes


na “Data de Referência Anterior” e a energia comprada em função do “Mercado de Referência”;

IVI - Número índice obtido pela divisão dos índices do IGPM da Fundação Getúlio Vargas, ou do
índice que vier a sucedê-lo, do mês anterior à data do reajuste em processamento e o do mês
anterior à “Data de Referência Anterior”. Na hipótese de não haver um índice sucedâneo, o PODER
CONCEDENTE estabelecerá novo índice a ser adotado; e

X - Número índice definido pela ANEEL, de acordo com a Oitava Subcláusula desta Cláusula, a ser
subtraído ou acrescido ao IVI.

“Oitava Subcláusula - No processo de revisão das tarifas, estabelecido na Subcláusula anterior, o


PODER CONCEDENTE estabelecerá os valores de X, que deverá ser subtraído ou acrescido na
variação do IVI ou seu substituto, nos reajustes anuais subseqüentes, conforme descrito na
Subcláusula Sexta. Para os primeiros cinco reajustes anuais, o valor de X será zero.”
38
157. A abordagem da ANEEL para o Fator X foi objeto das audiências públicas AP ANEEL nº 023/2002 e
043/2003. A Nota Técnica nº 214/2003/SRE/ANEEL, disponibilizada na audiência pública AP ANEEL nº
043/2003, apresentou o método de fluxo de caixa descontado como metodologia de cálculo para o fator
X12 . Ao longo do processo da Audiência AP ANEEL nº 043/2003, a metodologia proposta recebeu
contribuições, críticas, sugestões e comentários de diversos agentes, que foram analisados pela
SRE/ANEEL. Com base nesta análise, a ANEEL estabeleceu a metodologia de cálculo do Fator X,
mediante a Resolução ANEEL nº 55/2004, que passou a ser composto por três componentes, Xe, Xc e Xa.

158. O componente Xe contempla unicamente os efeitos dos ganhos esperados de produtividade


derivados da mudança na escala do negócio por incremento do consumo de energia elétrica na área
servida, tanto por maior consumo dos consumidores existentes como pela incorporação de novos
consumidores no período entre revisões tarifárias. Os ganhos de eficiência não são considerados pelo
Fator X uma vez que, no reposicionamento tarifário, os requisitos de eficiência associados à gestão dos
custos operacionais já estão contemplados nos custos operacionais eficientes, determinados mediante
“Empresa de Referência” e que serão reajustados anualmente por IGP-M – X até a próxima revisão
tarifária. Caso os ganhos de eficiência fossem incorporados pela metodologia do Fator X, o reajuste
tarifário anual não asseguraria a manutenção da condição de equilíbrio econômico-financeiro definida no
reposicionamento tarifário.

159. A abordagem que assegura plena consistência entre o reposicionamento tarifário e o cálculo do Fator
X realiza-se aplicando a metodologia de cálculo do método de fluxos de caixa descontados, do tipo
“forward looking”. A determinação do Fator X mediante a aplicação desse procedimento contempla, além
da produtividade derivada dos ganhos de escala que uma concessionária obtém ao atender uma maior
demanda com custos incrementais menores que os reconhecidos no reposicionamento tarifário, o impacto
que os investimentos associados ao atendimento desta demanda tem sobre a base de remuneração. No
atual ciclo de revisões tarifárias, essa metodologia evita que seja considerada de forma inadequada uma
projeção dos ganhos de eficiência produzidos no período posterior à privatização das distribuidoras, que
não são sustentáveis em períodos seguintes. Também se assegura que a concessionária poderá reter,
durante o segundo período tarifário, aqueles benefícios que obtenha como conseqüência de uma gestão
mais eficiente que a definida como referência no reposicionamento tarifário (custos reais menores que os
considerados para a “Empresa de Referência”).

160. Adicionalmente, considerou-se importante contemplar dois outros componentes no Fator X, o


componente Xc e o componente Xa. O componente Xc reflete a avaliação dos consumidores sobre a sua
concessionária, sendo obtido mediante a utilização do resultado da pesquisa Índice ANEEL de Satisfação
do Consumidor (IASC). De acordo com o método de cálculo do componente Xc, aquelas concessionárias
que não prestarem um serviço, na percepção de seus consumidores, que alcance um determinado nível
de satisfação esperado13 serão penalizadas. De forma simétrica, aquelas concessionárias que superarem
o nível de satisfação esperado serão beneficiadas.

12
Para maiores detalhes, ver nas Notas Técnicas Nos. 326/2002/SRE/ANEEL. e 214/2003, disponibilizadas nas Audiências
Públicas AP ANEEL Nos 023/2002 e 043/2003, no endereço eletrônico www.aneel.gov.br

13Tanto o índice de satisfação dos clientes como os procedimentos para sua medição através pesquisa realizadas por empresas
especializadas, são determinados pela ANEEL antes do início do período tarifário.

39
161. O componente Xa consiste na determinação da Resolução CNPE n.º 1, de 4 de abril de 2003, que
estabeleceu “(...) que a ANEEL, mantido o critério de reajuste contratual da Parcela B da receita da
concessionária de distribuição de energia elétrica pela variação do IGPM + X, defina metodologia de
cálculo dos valores de X a serem aplicados nos reajustes tarifários anuais considerando, para o
componente mão de obra da parcela B, índice que reflita o valor da remuneração da mão de obra do setor
formal da economia brasileira.”

162. Isso posto, estabeleceu-se o componente Xa de forma a refletir a aplicação do Índice de Preço ao
Consumidor Amplo (IPCA) para a componente mão-de-obra da Parcela B da concessionária. A
metodologia definida permite determinar o valor do componente Xa de modo que a aplicação do índice
(IGPM – Xa), em cada reajuste tarifário anual, assegure a preservação da condição de equilíbrio
econômico-financeiro definida no reposionamento tarifário.

163. Assim, visando manter o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão e tendo em conta
a natureza contratual da aplicação do índice IGP-M – X, a abordagem adotada para o cálculo do Fator X é
constituída de três componentes. O primeiro refere-se exclusivamente aos ganhos de produtividade (Xe), o
segundo consiste em um “fator de qualidade” (Xc), vinculado ao nível de satisfação que têm os clientes
com o serviço que recebem da concessionária14, e o terceiro consiste na determinação estabelecida na
resolução CNPE n.º 1, de 4 de abril de 2003 (Xa).

VI.1 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xe

164. Como todo valor resultante da aplicação de um enfoque de tipo “forward looking”, os ganhos de
produtividade calculados com a metodologia de fluxo de caixa descontado dependem das hipóteses
adotadas com relação ao comportamento de certas variáveis chaves no segundo período tarifário, em
particular número de clientes; venda de energia; PIB; investimentos da concessionária na expansão da
rede necessários para atender à demanda projetada; custos operacionais eficientes; depreciações e
imposto de renda. As premissas e projeções adotadas, e o detalhamento do cálculo de Xe encontram-se
disponíveis no Anexo V.

165. Nos termos da Resolução ANEEL nº 55/2004, as equações (1) e (2) explicam como o fluxo de caixa
da concessionária de distribuição no período tarifário:

FC 1 = RO 1 - TRIB 1 - O & M 1 - Inv 1 (1)

A1= A0+ Inv1 - d1 (2)


onde:

FC1 = Fluxo de caixa da concessionária no período tarifário;


RO1 = Receitas operacionais da concessionária no período tarifário, igual ao valor da Parcela B da receita;
TRIB1 = Tributos PIS/PASEP, COFINS e P&D;
O&M1 = Custos de operação e manutenção da concessionária no período tarifário, tendo em conta a evolução
da componente devida à “trajetória regulatória” adotada para a inadimplência dos consumidores;
A1 = Valor dos ativos da concessionária ao final do período tarifário;
14 Medido
por empresas especializadas em pesquisa de opinião pública sobre satisfação do consumidor, segundo procedimentos definidos
pela ANEEL.
40
A0 = Valor atual dos ativos da concessionária na data da revisão tarifária;
d1 = Valor da depreciação no período tarifário;
Inv1 = Investimentos realizados no período tarifário

166. A equação a seguir apresenta a evolução financeira da concessionária pela abordagem de fluxo de
caixa descontado, onde se iguala o valor atual dos ativos (A0) com o valor presente líquido (VPL) dos
fluxos de caixa, adicionado do valor presente líquido dos ativos ao final do período tarifário (A1).

A 0 = VPL ( FC 1 ) + VPL ( A1 ) (3)

167. A capacidade real de geração de fluxo de caixa da concessionária durante o período tarifário, é dada
pela relação entre as equações (1) e (2) com a equação (3):

A 0 = VPL ( RO1 - TRIB1 - O & M1 - Inv1 ) + VPL ( A 0 + Inv1 - d 1 ) (4)

que também pode ser expressa como:

( RO1 - TRIB1 - O&M1 - Inv1 ) ( A 0 + Inv1 - d 1 )


A 0= + (5)
(1 + r ) (1 + r )

168. O componente Xe, a ser determinado é aquele para o qual a taxa de desconto “r”, que equilibra a
equação anterior, considerando a soma das anuidades para um período de “N” anos, assim como o
regime fiscal vigente no Brasil para o imposto de renda, é igual ao WACC. Dessa forma, assegura-se que
a receita da Parcela B no período tarifário considerado seja suficiente para cobrir os custos operacionais e
permitir um retorno igual ao WACC sobre os ativos iniciais e investimentos realizados no período.

N
⎡ ( ROi ( 1 - X e )( i -1 ) - TRIBi - O &M i - di ) * ( 1 - g ) + d i - Invi ⎤

AN
A 0= ⎢ i ⎥+ N
. (6)
i =1 ⎢⎣ ( 1 + rWACC) ⎥⎦ ( 1 + rWACC)

sendo:
g = alíquota do imposto de renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e AN o valor dos
ativos no final do período tarifário.

169. Do exposto, percebe-se que essa abordagem para o cálculo de Xe é plenamente consistente com a
determinação de custos operacionais pelo método de “Empresa de Referência”.

170. O Contrato de Concessão de todas as distribuidoras de energia elétrica estabeleciam que os


encargos referentes ao PIS/PASEP faziam parte da Parcela B, sendo tratado como um custo gerenciável.
Contudo, o PIS/PASEP tem natureza semelhante ao ICMS, cuja cobrança é feita em separado da tarifa.
Assim, para dar maior consistência ficou estabelecida, por meio da Audiência Pública no 045/2004, de 20
de janeiro de 2005, a exclusão da tarifa do PIS/PASEP.

41
171. Os contratos de concessão das distribuidoras de energia elétrica também estabeleciam que o P&D
compunha a Parcela B. Contudo, Pesquisa e Desenvolvimento tem natureza de Encargo Tarifário, ou seja,
sua alocação mais adequada é tratá-lo como Parcela A. Desse modo, para dar maior coerência à sua
natureza de encargo, ficou estabelecido, por meio da Audiência Pública no 045/2004, de 20 de janeiro de
2005, que Pesquisa e Desenvolvimento Energético passa a integrar a Parcela A da concessionária de
distribuição de energia elétrica.

172. Levando-se em conta que o fluxo de caixa estabelecido pelas equações (1) e (2) refletem os itens da
Parcela B, tem-se que TRIB1 = 0, visto que tais tributos foram excluídos da parcela de custos gerenciáveis
da concessionária (Parcela B).

VI.2 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xc

173. O componente Xc é obtido por meio do modelo benchmark, no qual é estipulado um benchmarking
único que cada concessionária deverá superar, sendo assim premiada, caso contrário será penalizada. O
valor de Xc será calculado em cada reajuste tarifário anual, segundo o procedimento descrito a seguir:

IASCb - IASCc
Xc =
14
Sendo Xc limitado ao intervalo -1 £ X c £ 1 .

Onde:

IASCC = Último Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor disponível na data do reajuste tarifário anual
relativo à concessionária, determinado segundo metodologia definida pela ANEEL para cálculo desse índice
de satisfação; e
IASCb = Benchmarking de índice de satisfação.

174. O IASC tem como objetivo avaliar a partir da percepção dos consumidores o grau de satisfação com
as concessionárias de distribuição de energia elétrica. Para geração do índice de satisfação (IASC) por
concessionária, utilizam-se as médias obtidas pela empresa nos indicadores de Satisfação Global,
Desconformidade Global, e Distância para uma Empresa Ideal, ponderadas pelos respectivos pesos.

175. Para esse cálculo, é considerada a amplitude da escala. Ou seja, numa avaliação péssima, os
escores mínimos alcançados correspondem ao ponto 1 nas três escalas, ponderados pelos pesos de cada
indicador na variável latente. Da mesma forma, o escore máximo possível de ser alcançado é o ponto 10
em cada escala, ponderado pelo peso correspondente na relação com a variável latente.

176. Para cada um dos indicadores acima mencionados, o intervalo 7-8 da escala corresponde à avaliação
indicada a seguir:

ƒ Satisfação Global: Satisfeito


ƒ Distância para a Empresa Ideal: Perto do Ideal
ƒ Desconformidade Global: Melhor que o esperado

42
177. Se uma concessionária é avaliada com ao menos 7 pontos em cada um desses indicadores e,
portanto, o IASC é maior ou igual que 70, isso indica que a performance da empresa é avaliada como
perto da ideal, melhor que o esperado e os seus clientes estão globalmente satisfeitos.

178. Pelos motivos expostos, parece então razoável considerar o valor de IASC = 70 como o
“benchmarking” ou referência para a aplicação da componente Xc do Fator X. Este valor deverá ser
aplicado de forma geral, para todas as concessionárias.

VI.3 – CÁLCULO DO COMPONENTE Xa

179. A metodologia definida para determinar o valor do componente Xa permite que a aplicação do índice
(IGPM - Xa), em cada reajuste tarifário anual, assegure a preservação da condição de equilíbrio
econômico-financeiro do contrato de concessão definida pelo reposicionamento tarifário.

180. Para fins de determinação de Xa, deve-se levar em conta que a Parcela B compõe-se de três
elementos:

i) Custos operacionais (CO) da concessionária;


ii) Remuneração sobre o capital e a depreciação, baseada na avaliação dos ativos efetivamente
necessários para a prestação do serviço de distribuição. A soma destes dois componentes da
remuneração é denominada de RC; e
iii) Tributos.

181. A seguir são apresentados os procedimentos e fórmulas para o ajuste de cada um desses elementos,
de forma a contemplar o componente Xa.

182. Índice de Ajuste dos Custos Operacionais (CO): O método de determinação dos custos
operacionais (CO) através da denominada Empresa de Referência (ER) permite estabelecer, para cada
concessionária distribuidora, as parcelas desses custos que correspondem, respectivamente, a materiais e
equipamentos (COME) e mão de obra (COMO). Obviamente, deve ser observado que COME + COMO = CO.

183. O IGP-M é um índice adequado para refletir a evolução do COME durante o período tarifário, enquanto
que o IPCA é um índice adequado para refletir a evolução do COMO. Para ajustar o valor de CO em cada
ano do período tarifário, pode-se aplicar a fórmula a seguir, onde IACO é o índice de ajuste dos custos
operacionais:

⎛ COME ⎞ ⎛ COMO ⎞
IACO = ⎜ ⎟ · IGPM + ⎜ ⎟ · IPCA (8)
⎝ CO ⎠ ⎝ CO ⎠

184. O valor anual do índice IACO resultante da equação acima é específico para cada concessionária.

43
185. Índice de Ajuste da Remuneração sobre o Capital e da Depreciação: O parâmetro RC refere-se à
remuneração sobre o capital e a depreciação da concessionária deve utilizar para prestar o serviço de
distribuição de energia elétrica. Esses valores são estabelecidos no momento da revisão tarifária
periódica.

186. A remuneração sobre o capital e a depreciação são proporcionais ao valor de reposição desses ativos
ou base de remuneração regulatória bruta (BRRb). O valor da BRR bruta deve ser determinado segundo
os procedimentos descritos na Resolução ANEEL nº 493/2002. Também pode ser considerado o
denominado Valor Novo de Reposição (VNR) dos ativos necessários para o serviço (adaptados), calculado
segundo o procedimento exposto no Anexo IIIIII desta Nota Técnica. Esse procedimento permite
estabelecer com razoável precisão, para os ativos de cada concessionária, as parcelas da BRRb (obtida
de acordo com a Resolução nº 493/2002) que correspondem, respectivamente, a materiais e
equipamentos (CCME) e a mão de obra (CCMO). Obviamente, deve ser observado que CCME + CCMO =
BRRb.

187. Para ajustar o valor do parâmetro RC durante o período tarifário pode-se então aplicar a fórmula:

⎛ CCME ⎞ ⎛ CCMO ⎞
IARC = ⎜⎜ ⎟ · IGPM + ⎜


⎜ BRR ⎟ · IPCA (9)
⎝ BRRb ⎠ ⎝ b ⎠

188. O valor do IARC resultante da equação acima também é específico para cada concessionária.

189. Índice de Ajuste dos Tributos: O índice de ajuste considerado para os tributos é o IGPM.

190. A partir do exposto anteriormente pode ser obtido um índice de ajuste da Parcela B da
Concessionária (IAPB) que faz que o valor determinado no reposicionamento tarifário seja mantido
inalterado em termos reais, assegurando dessa forma a preservação da condição de equilíbrio econômico-
financeiro do contrato de concessão definida na data da revisão tarifária periódica, da forma como segue.

⎛ CO ⎞ ⎛ RC ⎞ ⎛ TOE ⎞
IAPB = ⎜ ⎟ · IACO + ⎜ ⎟ · IARC + ⎜ ⎟ · IGPM (10)
⎝ VPB ⎠ ⎝ VPB ⎠ ⎝ VPB ⎠

onde:

RC = remuneração sobre o capital e a depreciação;


CO = custos operacionais;
TOE = tributos e outros encargos;
VPB = valor da Parcela B da receita da concessionária;

191. O valor de IAPB obtido pela aplicação das equações (8), (9) é (10) é determinado para cada
concessionária na respectiva data de reajuste tarifário anual, a partir dos valores reais dos índices IGP-M
e IPCA, registrados no período de 12 meses imediatamente anteriores a essa data.

192. Tem–se então que em cada reajuste tarifário anual a condição de equilíbrio econômico-financeiro
definido no reposicionamento tarifário é mantida se:

IGPMi – Xai = IAPBi


44
Ou seja:

Xai = IGPMi - IAPBi

VI.4 – APLICAÇÃO DO FATOR X NOS REAJUSTES TARIFÁRIOS

193. O Fator X tal que (IGPM – X) é aplicado à Parcela B da receita da concessionária em cada reajuste
tarifário anual do tarifário, de modo de contemplar o exposto nas seções anteriores, resulta da seguinte
igualdade:

VPB · (IGPM - X )= [VPB · (1 - X e - X C )]· (IGPM - X a )

Ou seja:

X = (X e + X C )· (IGPM - X a )+ X a

Sendo:

Xe; Xc; e Xa = componentes calculados conforme as seções VI.1, VI.2 e VI.3, respectivamente, em
percentuais.

IGPM = número índice obtido pela divisão dos índices do IGPM , da Fundação Getúlio Vargas, do
mês anterior à data do reajuste em processamento e o do mês anterior à “Data de Referência
Anterior”.

VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A REVISÃO TARIFÁRIA PERIÓDICA


194. Observa-se, pelo exposto, que o cumprimento coordenado, conforme previsto nos contratos de
concessão, das etapas do processo de revisão tarifária periódica, consistentes em: i) fixação de tarifas
(reposicionamento) no início do novo período tarifário, atendendo ao conceito de “custos eficientes de
operação” e adequada remuneração sobre investimentos prudentes; ii) fixação do Fator X, de forma a
contemplar mudanças na produtividade não associadas à gestão da concessionária distribuidora durante o
período tarifário que se inicia com a revisão, permite obter todos os objetivos fundamentais de um regime
de regulação por incentivos, quais sejam:

i) Estimular a concessionária de distribuição a buscar eficiência e redução de custos ao


longo do período tarifário que se inicia com a revisão tarifária, uma vez que poderá se
apropriar dos benefícios derivados dessa redução durante esse período;

ii) Assegurar que, ao início do novo período tarifário, sejam transferidos aos
consumidores todos os ganhos de eficiência que a concessionária esteve em
condições de obter durante o período anterior mediante uma gestão eficiente, definida
por meio de parâmetros representativos “externos”, isto é, não vinculados com o
desempenho efetivo da concessionária. Essa transferência se realiza de forma
independente do fato de a concessionária ter ou não explorado o potencial de ganhos
de eficiência e se apropriado, total ou parcialmente, desses ganhos de eficiência;
45
iii) Garantir a transferência aos consumidores dos ganhos de produtividade obtidos na
gestão do setor que possam ser produzidos durante o período tarifário que se inicia,
em virtude de mudanças na escala do negócio e outras razoes, não associadas à uma
eficiência da concessionária maior que a definida através dos “custos operacionais
eficientes” fixados no reposicionamento tarifário.

195. Em síntese, em face das abordagens adotadas pelo regulador na revisão tarifária, o reposicionamento
tarifário e o Fator X obrigam as concessionárias a prestar o serviço com eficiência para não incorrerem em
prejuízos no segundo período tarifário.

196. As abordagens adotadas pela ação regulatória visam incrementar a competitividade das empresas
distribuidoras e, indiretamente, do setor industrial e da economia como um todo. Dessa forma, podem
afetar interesses setoriais específicos. Tais abordagens têm gerado manifestações contrárias por parte de
agentes do setor elétrico em todas as instâncias, particularmente por parte daqueles que tinham
expectativa de receber uma remuneração sobre o valor pago na privatização e ter cobertura tarifária sobre
seus próprios custos ou mesmo uma estrutura de capital incompatível com a prestação do serviço público
de forma eficiente.

197. Importa ressaltar que os resultados obtidos no processo de revisão tarifária periódica são a
conseqüência da aplicação de metodologias que pretendem refletir, na prática, a missão essencial do
Regulador de um serviço com características de monopólio natural como é o caso da distribuição de
energia elétrica: garantir que sejam respeitados os direitos dos clientes cativos e dos prestadores do
serviço que atuam com eficiência e prudência. Como já exposto, os clientes cativos, isto é, aqueles que
não têm a possibilidade de escolher o prestador do serviço, têm o direito de receber o serviço com os
níveis de qualidade estabelecida na legislação aplicável – em especial, o contrato de concessão – e de
pagar uma tarifa justa. O prestador do serviço que atua com eficiência e prudência tem o direito de obter
um adequado retorno sobre o capital investido, dadas as características do negócio regulado.

198. As metodologias apresentadas nesta Nota Técnica têm por objetivo determinar quais são as tarifas
justas, assim como verificar se os níveis de qualidade do serviço efetivamente recebido pelos
consumidores são os estabelecidos na legislação aplicável. O Regulador entende que as tarifas
resultantes da aplicação das metodologias propostas nesta Nota Técnica são justas, já que contemplam
os conceitos fundamentais de custos operacionais que atendam a critérios de eficiência e remuneração
dos ativos efetivamente necessários para prestar o serviço com a qualidade exigida, considerando um
retorno adequado às características do negócio. Como já exposto, se as tarifas não contemplam
simultaneamente esses dois aspectos, o Regulador não somente não estará cumprindo sua missão
fundamental, como também, adicionalmente, o setor poderá evoluir para condições inconvenientes. Assim,
uma situação onde o prestador não obtém as receitas tarifárias requeridas para remunerar os ativos, a
conseqüência mais provável é uma progressiva deterioração da qualidade do serviço recebido pelos
clientes. Como esse fenômeno não ocorre de forma instantânea, mas em geral se trata de um processo
gradual, existe um sério risco de que o problema seja detectado quando seus efeitos tenham se tornado
graves e irreversíveis. Se isso ocorre, os consumidores serão os principais prejudicados.

199. A única forma de evitar que essa situação aconteça é fixar tarifas adequadas e realizar una medição
efetiva da qualidade do serviço prestado, aplicando as penalidades aplicáveis nos casos de
descumprimento. O Regulador tem a obrigação de cumprir estritamente esse princípio,
apresentando com total e absoluta transparência para o debate público suas propostas para

46
determinar as tarifas adequadas e descrevendo com a maior clareza possível os fundamentos que
sustentam cada uma dessas propostas.

VIII – COMPONENTES TARIFÁRIOS FINANCEIROS EXTERNOS À REVISÃO TARIFÁRIA


200. O valor da tarifa de fornecimento de energia elétrica encerra um conceito de custo econômico.
Entretanto, como decorrência de política de Governo para o setor elétrico foram criados componentes
tarifários financeiros que não fazem parte da base tarifária, não fazem parte da tarifa econômica, pois
referem-se a valores pagos pelos consumidores em cada período de 12 meses subseqüentes aos
reajustes ou revisões tarifárias.

201. Os componentes financeiros consistem: i) na Conta de Compensação de Variação de Valores de


Itens da Parcela A – CVA, para compensar os efeitos financeiros que ocorrem entre as datas de reajustes
tarifários para os itens da Parcela A; ii) na Conta Especial para compensar os custos administrativos das
concessionárias de distribuição durante o período de vigência do Programa Emergencial de Redução de
Consumo de Energia Elétrica – PERCEE (racionamento de energia elétrica); e iii) na Recomposição
Tarifária Extraordinária para recompor a receita da concessionária durante o racionamento de energia
elétrica, para compensar o montante relativo as variações de valores financeiros de itens da Parcela A,
constantes dos contratos de concessão, no período de 01/01/2001 a 25/10/2001 e para compensar o
montante relativo à compra de energia elétrica no âmbito do Mercado Atacadista de Energia Elétrica -
MAE durante a vigência do PERCEE.

202. A Medida Provisória n.º 2.227, de 4 de setembro de 2001, estabeleceu que as disposições da Lei n.º
10.192, de 14 de fevereiro de 2001 (Lei do Real) não se aplicam para os casos dos efeitos financeiros que
ocorrem entre as datas de reajustes tarifários para os itens da Parcela A. Como conseqüência, a Portaria
Interministerial dos Ministros de Estado da Fazenda e de Minas e Energia n.º 296, de 25 de outubro de
2001, posteriormente substituída pela Portaria Interministerial do Ministros de Estado da Fazenda e de
Minas e Energia n.º 25, de 24 de janeiro de 2002, criou, para efeito de cálculo do reajuste da tarifa de
fornecimento de energia elétrica, a Conta de Compensação de Variação de Valores de Itens da Parcela A
– CVA.

203. Essa conta se destina a registrar as variações, ocorridas no período entre reajustes tarifários, dos
valores dos seguintes itens de custo da Parcela A, de que tratam os contratos de concessão de
distribuição de energia elétrica: a) tarifa de repasse de potência proveniente de Itaipu Binacional, b) tarifa
de transporte de energia elétrica proveniente de Itaipu Binacional, c) quota de recolhimento da Conta de
Consumo de Combustíveis – CCC, d) tarifa de uso das instalações integrantes da rede básica, e)
compensação financeira pela utilização dos recursos hídricos, e f) encargos de serviços de sistemas –
ESS. A Portaria Interministerial dos Ministros de Estado da Fazenda e de Minas e Energia n.º 116, de 4
de abril de 2003, criou a Conta de Compensação de Variação de Valores da Conta de Desenvolvimento
Energético – CDE.

204. O saldo da CVA é definido como o somatório das diferenças, positivas ou negativas, entre o valor do
item na data do último reajuste tarifário da concessionária de distribuição e o valor do referido item na data
de pagamento, acrescida da respectiva remuneração financeira. A remuneração financeira incidirá sobre o
saldo da CVA de cada item da Parcela A, desde a data da ocorrência de diferença no valor do item até a

47
data de reajuste tarifário contratual subseqüente e será calculada com base na taxa de juros SELIC em
igual período.

205. O saldo da CVA deverá ser compensado nas tarifas de fornecimento de energia elétrica da
concessionária nos 12 (doze) meses subseqüentes à data de reajuste tarifário anual, sendo eventual
diferença considerada no cálculo do reajuste tarifário seguinte. O saldo da CVA não compensado será
remunerado com base na taxa de juros SELIC para o período, até a data de sua efetiva compensação.
Para efeito de cálculo da tarifa, a remuneração futura dos saldos da CVA será calculada utilizando-se uma
taxa de juros para o período de 12 (doze) meses subseqüentes à data do reajuste tarifário anual. A taxa
de juros projetada será dada pela menor taxa obtida na comparação entre a taxa média ajustada dos
financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC para títulos
públicos federais, divulgada pelo Banco Central do Brasil, referente aos trinta dias anteriores à data de
reajuste tarifário anual, e a projeção de variação indicada no mercado futuro, trinta dias antes da data de
reajuste tarifário anual, da taxa média de depósitos interfinanceiros negociados na Bolsa de Mercadorias e
Futuros para prazo de doze meses. No final do período verificar-se-á se o saldo da CVA foi efetivamente
compensado, levando-se em consideração as variações ocorridas entre o mercado de energia elétrica
utilizado na definição do reajuste tarifário da concessionária e o mercado verificado nos 12 (doze) meses
da compensação, bem como a diferença entre a taxa de juros projetada e a taxa de juros SELIC
verificada, sendo eventual diferença na compensação do saldo da CVA considerada no reajuste tarifário
anual subseqüente.

206. Para atender ao disposto na Portaria Interministerial n.º 25/2002 e na Portaria Interministerial n.º
116/2003, a ANEEL publicou as seguintes Resoluções: a ) Resolução n.º 491, de 20 de novembro de
2001, que estabelece procedimentos e critérios para repasse às tarifas de fornecimento de energia elétrica
da Conta de Compensação de Variação de Custos de Repasse de Potência de Itaipu Binacional - CVAEi;
b) Resolução n.º 492, de 20 de novembro de 2001, que estabelece procedimentos e critérios para repasse
às tarifas de fornecimento de energia elétrica da Conta de Compensação de Variação de Valores da
Quota de Recolhimento à Conta de Consumo de Combustíveis – CVACCC; c) Resolução n.º 493, de 20 de
novembro de 2001, que estabelece procedimentos e critérios para repasse às tarifas de fornecimento de
energia elétrica da Conta de Compensação de Variação de Valores da Tarifa de Transporte de Energia
Elétrica Proveniente de Itaipu Binacional – CVATI; d) Resolução n.º 494, de 20 de novembro de 2001, que
estabelece procedimentos e critérios para repasse às tarifas de fornecimento de energia elétrica da Conta
de Compensação de Variação de Valores da Tarifa de Uso das Instalações de Transmissão Integrantes da
Rede Básica – CVARB; e) Resolução n.º 495, de 20 de novembro de 2001, que estabelece procedimentos
e critérios para repasse às tarifas de fornecimento de energia elétrica da Conta de Compensação de
Variação de Valores da Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos – CVACF; f)
Resolução n.º 89, de 18 de fevereiro de 2002, que estabelece procedimentos e critérios para repasse às
tarifas de fornecimento de energia elétrica dos valores do Encargo de Serviços do Sistema – CVAESS, e g)
Resolução n.º 184, de 9 de abril de 2003, que estabelece procedimentos e critérios para repasse às tarifas
de fornecimento de energia elétrica dos valores da Conta de Desenvolvimento Energético - CDE –
CVACDE..

207. A Portaria Interministerial n° 361, de 26/11/2004, dos Ministros de Estado de Minas e Energia e da
Fazenda, dá nova redação aos artigos 1° e 7° da Portaria Interministerial n.º 25/2002, definindo para efeito
de cálculo da revisão ou do reajuste da tarifa de fornecimento de energia elétrica, a Conta de
Compensação de Variação de Valores de Itens da "Parcela A" – CVA destinada a registrar as variações,
ocorridas no período entre reajustes tarifários, dos valores dos seguintes itens de custo da "Parcela A", de

48
que tratam os contratos de concessão de distribuição de energia elétrica: I - tarifa de repasse de potência
proveniente de Itaipu Binacional; II - tarifa de transporte de energia elétrica proveniente de Itaipu
Binacional; III - quota de recolhimento à Conta de Consumo de Combustíveis - CCC; IV - quota de
recolhimento à Conta de Desenvolvimento Energético - CDE; V - tarifa de uso das instalações de
transmissão integrantes rede básica; VI - compensação financeira pela utilização dos recursos hídricos; VII
- encargos de serviços de sistema - ESS; VIII - quotas de energia e custeio do Programa de Incentivo
Fontes Alternativas de Energia Elétrica - Proinfa; e IX - custos de aquisição de energia elétrica.

208. Assim, a cada reajuste ou revisão tarifária é adicionada ou subtraída ao valor da tarifa de
fornecimento uma parcela financeira correspondente à soma dos saldos das contas de compensação
apurada nos 12 meses anteriores e que será paga ou recebida pelos consumidores nos próximos 12
meses.

209. A Portaria Interministerial n.º 25/2002, também estabeleceu que os itens de custo da Parcela A,
relacionados a seguir, previstos nos contratos de concessão de distribuição de energia elétrica, terão a
data de alteração de seus valores concatenada com a data de reajuste tarifário anual da concessionária
de distribuição de energia elétrica: i) energia comprada estabelecida nos contratos iniciais; ii) Quota de
Reserva Global de Reversão - RGR; iii) Taxa de Fiscalização de Serviço de Energia Elétrica; e iv)
encargos de conexão. Assim, a cada reajuste ou revisão tarifária as parcelas mencionadas sofrem
alteração, para mais ou para menos, na mesma data do reajuste ou da revisão.

210. A Medida Provisória n.º 2.198-5, de 24 de agosto de 2001, estabeleceu que o saldo da conta especial
formada com os custos administrativos adicionais incorridos pela concessionária durante o PERCEE serão
reconhecidos nas tarifas. Para atender essa determinação a ANEEL publicou a Resolução n.º 281, de 21
de maio de 2002, que estabelece procedimentos, condições e prazos para solicitação e homologação da
citada conta especial; e a Resolução n.º 600, de 31 de outubro de 2002, que estabelece que o saldo
homologado da conta especial apurado durante a vigência do PERCEE, será compensado nas tarifas de
fornecimento de energia elétrica na data do reajuste tarifário anual da concessionária de distribuição, com
vigência nos 12 meses subseqüentes. Essa conta especial, uma vez homologada pela ANEEL, será paga
em apenas um período de 12 meses, após esse período não mais retornará às tarifas.

211. A Medida Provisória n.º 14, de 21 de dezembro de 2001 e posteriormente a Lei n.º 10.438/2002
estabeleceu que as concessionárias de distribuição teriam direito à Recomposição Tarifária Extraordinária
- RTE prevista no art. 28 da Medida Provisória n.º 2.198-5/2001, sem prejuízo do reajuste tarifário anual
previsto nos contratos de concessão de serviços públicos de distribuição de energia elétrica.

212. A RTE foi implementada por meio de aplicação às tarifas de fornecimento de energia elétrica, pelo
prazo e valor máximos estabelecidos em Resolução da ANEEL, dos seguintes índices: i) até 2,9% (dois
vírgula nove por cento), para os consumidores integrantes das Classes Residencial, Rural e Iluminação
Pública; e ii) até 7,9% (sete vírgula nove por cento), para os demais consumidores. Posteriormente, por
meio da Resolução da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica – GCE n.º 130, o percentual de
2,9% foi também estendido aos consumidores eletrointensivos que consomem energia sob determinadas
condições estabelecidas na Resolução GCE. A RTE não se aplica aos consumidores integrantes da
Subclasse Residencial Baixa Renda. Os percentuais relativos à RTE já estão considerados nas tarifas de
fornecimento vigentes e permanecerão de acordo com os prazos estabelecidos na Resolução ANEEL no
484, de 29 de agosto de 2002.

49
213. Para implementar a RTE a ANEEL publicou as seguintes Resoluções: i) Resolução n.º 31, de 24 de
janeiro de 2002, que estabelece condições, prazos e procedimentos para solicitação e homologação da
RTE no período de racionamento compreendido entre 1º de junho de 2001 e 31 de dezembro de 2001; ii)
Resolução n.º 369, de 3 de julho de 2002, que estabelece condições, prazos e procedimentos para
solicitação e homologação da RTE no período de racionamento compreendido entre 1º de janeiro de 2002
e 28 de fevereiro de 2002; iii) Resolução nº 480, de 29 de agosto de 2002, que homologa o montante de
RTE relativa à recomposição de receita no período de 1º de junho a 31 de dezembro de 2001; iv)
Resolução nº 481, de 29 de agosto de 2002, que homologa o montante de RTE relativo à recomposição
de receita no período de 1º de janeiro de 2002 a 28 de fevereiro de 2002; v) Resolução 482, de 29 de
agosto de 2002, que homologa o montante relativo as variações de valores financeiros de itens da Parcela
A, constantes dos contratos de concessão, no período de 1º de janeiro a 25 de outubro 2001; vi)
Resolução 483, de 29 de agosto de 2002, que homologa o montante relativo à compra de energia no
âmbito do Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE, durante a vigência do PERCEE, no período de
1o de junho de 2001 a 28 de fevereiro de 2002; e vii) Resolução n.º 484, de 29 de agosto de 2002, que fixa
o prazo máximo de permanência da RTE nas tarifas de fornecimento de energia elétrica das
concessionárias de distribuição.

214. O saldo dos custos administrativos adicionais incorridos no racionamento, após homologação pela
ANEEL, serão considerados nas tarifas para vigência nos próximos 12 meses.

IX – ABERTURA DAS TARIFAS E REALINHAMENTO TARIFÁRIO


215. Sob a ótica da regulação econômica, o processo de definição da tarifa possui duas dimensões: nível
e estrutura tarifária. O nível tarifário está relacionado com a receita total auferida pela concessionária de
distribuição na venda de energia elétrica. Em última instância, as principais questões regulatórias se
expressam na definição do nível tarifário, isto é, na definição da Receita Requerida no momento do
reposicionamento tarifário, uma vez que é essa receita que deve contemplar os objetivos de
sustentabilidade financeira da concessionária distribuidora e eficiência na prestação do serviço, para os
padrões exigidos de qualidade.

216. Uma vez estabelecida a Receita Requerida, procede-se à sua alocação entre as distintas categorias
de consumidores (industrial, residencial, rural, comercial, etc), mediante a cobrança de tarifas
diferenciadas para cada categoria, o que resulta na denominada estrutura tarifária. A estrutura tarifária
pode diferenciar-se segundo diversos objetivos: entre clientes, regiões, entre custos fixos e variáveis, ou
segundo o nível e o perfil horário e o período de consumo. Na estrutura tarifária vigente no Brasil estão
refletidas não apenas as diferenças de custos de prestação do serviço entre consumidores, mas também
subsídios implícitos entre classes de consumidores (por exemplo, entre consumidores de baixa e alta
tensão) e subsídios explícitos associados a aspectos sociais e distributivos (por exemplo, tarifa para a
subclasse residencial baixa renda).

IX.1 – A ESTRUTURA TARIFÁRIA ATUAL

217. Na atual estrutura das tarifas de fornecimento de energia elétrica, concebida em meados da década de
80, os consumidores cativos foram diferenciados em dois grupos: no Grupo A (alta tensão) estão os

50
consumidores ligados em tensão igual ou superior a 2.300 volts; no Grupo B (baixa tensão) os
consumidores ligados em tensão inferior a 2.300 volts.

218. Para os consumidores do Grupo A as tarifas são divididas em dois tipos: tarifa convencional e tarifa
horo-sazonal. A tarifa convencional é constituída de um valor específico (R$/MWh) para a energia elétrica
consumida e outro valor (R$/kW) para a demanda de potência, independentemente das horas de
utilização do dia e dos períodos do ano. As tarifas horo-sazonais têm essa denominação porque referem-
se a valores que variam em função da utilização da energia elétrica e da demanda de potência ao longo
do dia e dos períodos do ano.

219. Os consumidores do Grupo A dispõem de duas das tarifas de fornecimento horo-sazonais (tarifa azul e
tarifa verde) além da tarifa convencional. A tarifa azul tem dois postos tarifários para a tarifa de demanda
(demanda na ponta e demanda fora da ponta) e quatro postos tarifários para a tarifa de energia (consumo
na ponta no período seco; consumo na ponta no período úmido; consumo fora de ponta no período seco;
e consumo fora da ponta no período úmido). A tarifa verde tem apenas uma tarifa para a demanda de
potência e quatro postos tarifários para a energia, da mesma forma que a tarifa azul.

220. Já os consumidores do Grupo B dispõem apenas da tarifa convencional, diferenciada por quatro
subgrupos: B1 – residencial; B2 – rural; B3 – outras classes; e B4 – iluminação pública. Estas tarifas,
denominadas monômias (R$/MWh), são definidas para aplicação de um único valor de tarifa sob o
consumo de energia elétrica. A tarifa convencional cobrada dos consumidores atendidos em baixa tensão
não possui qualquer tipo de sinalização. Assim, esses consumidores, muitas vezes, fazem uso do sistema
elétrico nos momentos mais críticos de operação do sistema, ocasionando a necessidade de
investimentos adicionais em capacidade que são refletidos, por sua vez, nas tarifas de fornecimento,
suprimento e uso dos sistemas de transmissão e distribuição.

IX.2 – ADEQUAÇÃO DA ESTRUTURA TARIFÁRIA ATUAL – ASPECTOS LEGAIS

221. A reestruturação tarifária foi um dos temas discutidos no âmbito do Comitê de Revitalização do
Modelo do Setor Elétrico, criado pela Resolução no 18, de 22 de junho de 2001, da Câmara de Gestão da
Crise de Energia Elétrica – GCE. As propostas do Comitê constam do Relatório de Progresso no 3 (temas
16, 17 e 29) e resultaram nos seguintes atos legais:

i) Medida Provisória nº 64, de 26 de agosto de 2002;


ii) Resolução CNPE nº 12, de 17 de setembro de 2002;
iii) Decreto nº 4.413, de 7 de outubro de 2002;
iv) Resoluções ANEEL nºs 665, 666 e 667 de 29 de novembro de 2002;
v) Lei nº 10.604, de 17 de dezembro de 2002;
vi) Decreto nº 4.562, de 31 de dezembro de 2002; e
vii) Decreto nº 4.667, de 4 de abril de 2003.

51
222. Os referidos atos legais definem uma adequação na política tarifária, com vistas a estabelecer tarifas
de fornecimento de energia elétrica mais isonômicas, transparentes e capazes de induzir à utilização mais
eficiente da energia elétrica.

223. A Medida Provisória no 64, de 26 de agosto de 20, dispõe no art. 5º que: “os consumidores de energia
elétrica das concessionárias ou permissionárias de serviço público que não exercem a opção dos art.s 15
e 16 da Lei n.º 9.074, de 7 de julho de 1995, deverão substituir os atuais contratos de fornecimento de
energia por contratos equivalentes de conexão e uso dos sistemas de distribuição e transmissão e
contratos de compra de energia elétrica, conforme regulamentação a ser estabelecida.” Essa MP foi
convertida na Lei n.º 10.604, de 17 de dezembro de 2002, que manteve a redação original do art. 5º e
estabeleceu que: “o valor da tarifa de energia elétrica referente aos contratos de compra de que trata o
caput será estabelecido em conformidade com a política energética e por regulamentação da ANEEL”.

224. A Resolução CNPE no 12, de 17 de setembro de 2002 e o Decreto n.º 4562, de 31 de dezembro de
2002, explicitaram e detalharam a política tarifária prevista na Lei n.º 10.604/2002, dispondo:

“Art. 1º Os consumidores do Grupo A, definidos na Resolução da Agência Nacional de Energia


Elétrica - ANEEL nº 456, de 29 de novembro de 2000, das concessionárias ou permissionárias de
serviço público de geração ou de distribuição de energia elétrica deverão celebrar contratos
distintos para a conexão, uso dos sistemas de transmissão ou distribuição e compra de energia
elétrica, nos termos de regulamentação a ser expedida pelo Poder Executivo.

§ 2º Os valores das tarifas de energia, que poderão ser estabelecidos com componentes
aplicáveis ao consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência ativas, de acordo com a
modalidade de fornecimento, para os contratos de compra de energia elétrica celebrados pelos
consumidores com concessionária ou permissionária de distribuição, serão estabelecidos, até a
data contratual dos respectivos reajustes ou revisões tarifárias, a partir da composição das
seguintes parcelas:

I - Parcela I, com peso de 75%, 50%, 25% e 0% em 2003, 2004, 2005 e 2006, respectivamente:
tarifa de energia calculada com base na tarifa de fornecimento da estrutura tarifária atual,
descontados os correspondentes custos de conexão e de uso do sistema de transmissão ou de
distribuição; e

II - Parcela II, com peso de 25%, 50%, 75% e 100% em 2003, 2004, 2005 e 2006,
respectivamente: tarifa de energia calculada com base no custo da energia disponível para
venda, acrescido do custo de comercialização, e, onde couber, de encargos setoriais e tributos.

§ 4º Os preços dos contratos de compra de energia elétrica dos consumidores finais das
concessionárias de serviço público de geração, celebrados em substituição aos contratos de
fornecimentos vigentes na data de publicação da Medida Provisória nº 64, de 26 de agosto de
2002, na forma do caput, serão reajustados, anualmente, pela variação do Índice Geral de Preços
ao Mercado - IGP-M ou, no caso de existência de contrato de fornecimento anterior que
estabeleça outra forma de reajuste, conforme as condições nele pactuadas.

Art. 4º A parcela da tarifa de fornecimento de energia elétrica dos consumidores do Grupo B,


correspondente a energia elétrica, será calculada, a partir de 2003, na forma estabelecida no § 2º

52
do art. 1º desta Resolução, devendo seu valor ser informado pela concessionária ou
permissionária de distribuição na fatura de energia elétrica.

Art. 5º A ANEEL estabelecerá, até 30 de novembro de 2002, a regulamentação necessária à


aplicação do disposto nesta resolução.”

225. O Decreto no 4.413, de 7 de outubro de 2002, que acrescenta dispositivos ao art. 9o do Decreto no
62.724, de 17 de maio de 1968, que estabelece normas gerais de tarifação para as empresas
concessionárias de serviços públicos de energia elétrica, dispõem:

“Art. 1o O art. 9o do Decreto no 62.724, de 17 de maio de 1968, alterado pelo Decreto no 3.653, de
7 de novembro de 2000, passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos:

"§ 1o Os consumidores do Grupo "A" das concessionárias ou permissionárias de serviço público


de geração ou de distribuição de energia elétrica deverão celebrar contratos distintos para a
conexão e uso dos sistemas de transmissão ou distribuição e para a compra de energia elétrica.

§ 2o A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL deverá regulamentar a substituição dos


atuais contratos de fornecimento de energia das concessionárias ou permissionárias de serviço
público de energia elétrica com consumidores do Grupo "A" por contratos equivalentes de
conexão e uso dos sistemas de transmissão ou distribuição e de compra de energia até as datas
definidas a seguir:

I - até 1o de julho de 2003, os consumidores, atendidos em qualquer tensão de fornecimento, em


cuja unidade consumidora a demanda contratada totalize, em qualquer segmento horo-sazonal,
mais que 3 MW;

II - até 1o de julho de 2004, os consumidores, atendidos em qualquer tensão de fornecimento, em


cuja unidade consumidora a demanda contratada totalize, em qualquer segmento horo-sazonal,
mais que 1 MW; e

III - até 1o de julho de 2005, os demais consumidores, atendidos em qualquer tensão de


fornecimento.

§ 3o O prazo para o término da vigência dos novos contratos, resultantes da substituição prevista
neste artigo, deverá ser o mesmo dos contratos originais substituídos.

§ 4o A ANEEL estabelecerá, até 30 de novembro de 2002, a regulamentação necessária à


aplicação do disposto neste artigo."

226. Para atender à determinação do §.4º do art 1º da Resolução CNPE n.º 12/2002, a ANEEL publicou a
Resolução ANEEL no 665, de 29 de novembro de 2002, que estabelece as condições para celebração de
contratos distintos para a conexão, para o uso do sistema de transmissão e distribuição e para compra de
energia elétrica, com responsável por unidade consumidora do "Grupo A", regulamentando o disposto no
art. 1º do Decreto no 4.413, de 7 de outubro de 2002 e a Resolução ANEEL no 666, de 29 de novembro de
2002, que estabelece procedimentos para a determinação das tarifas de energia elétrica de

53
concessionária ou permissionária de serviço público de distribuição, para o fim de substituição dos
contratos atuais de fornecimento dos consumidores finais.

227. O Decreto n.º 4667, de 4 de abril de 2003 estabeleceu em seu art. 1º que: “ o Decreto no 4.562, de 31
de dezembro de 2002, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 1º ..............................................................................................................

§ 2º Os valores das tarifas de energia, que poderão ser estabelecidas na forma monômia ou binômia
de acordo com a modalidade de fornecimento, para os contratos de compra de energia elétrica
celebrados pelos consumidores com concessionária ou permissionária de distribuição, serão
estabelecidas, até a data contratual dos respectivos reajustes ou revisões tarifárias, a partir da
composição das seguintes parcelas:

I - Parcela I, com peso de 90%, 75%, 50%, 25% e 0% em 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007,
respectivamente: tarifa de energia calculada com base na tarifa de fornecimento da estrutura tarifária
atual, descontados os correspondentes custos de conexão e de uso do sistema de transmissão ou de
distribuição; e

II - Parcela II, com peso de 10%, 25%, 50%, 75% e 100% em 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007,
respectivamente: tarifa de energia calculada com base no custo da energia disponível para venda,
acrescido do custo de comercialização, e, onde couber, de encargos setoriais e tributos.

§ 3º A metodologia de implantação da estrutura tarifária será anualmente revisada e aprimorada,


mantida a periodicidade definida no parágrafo anterior.”

228. Em síntese, os referidos atos legais estabelecem: i) a “abertura” da tarifa de fornecimento de energia
elétrica, de forma a explicitar as parcelas que a compõem (energia e uso dos sistemas de transmissão e
distribuição), e ii) o realinhamento tarifário com vistas à eliminação gradual dos subsídios cruzados
existentes entre as classes consumidoras. O realinhamento tarifário é o resultado da aplicação das tarifas
de energia, resultante dos custos com compra de energia, e da tarifa de uso dos sistemas de transmissão
e distribuição. Tanto os consumidores cativos quanto os consumidores livres estarão sujeitos às mesmas
tarifas de uso dos sistemas de transmissão e distribuição.

IX.3 – ABERTURA DAS TARIFAS DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA

229. Com a publicação da Medida Provisória no 64/2002 e da Resolução CNPE no 12/2002, os


consumidores do Grupo “A” deverão ter os atuais contratos de fornecimento de energia elétrica por
contratos de uso, conexão e compra de energia. Conseqüentemente, a tarifas de fornecimento deverão
ser segregadas em “tarifas fio” e tarifas de energia.

230. Os consumidores do Grupo “B”, por não terem que celebrar contratos de uso, conexão e compra de
energia deverão ter suas tarifas de fornecimento segregadas na fatura de energia elétrica, de forma a
explicitar os componentes relativos ao uso e à compra de energia, conforme definido no art. 4o da
Resolução CNPE no 12/2002.

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231. A Resolução ANEEL n.º 666, de 29 de novembro de 2002, estabeleceu os procedimentos para a
determinação das tarifas de energia elétrica dos consumidores finais das concessionárias de serviço
público de energia elétrica, referentes: i) aos contratos de compra de energia celebrados entre
consumidores do Grupo “A” e concessionária ou permissionária de serviço público de distribuição; e ii) à
parcela correspondente a energia elétrica da tarifa de fornecimento dos consumidores do Grupo “B”.

232. O procedimento de abertura deve ter como premissa a manutenção da receita auferida pela
concessionária.

IX.4 –ABERTURA DAS TARIFAS E REALINHAMENTO TARIFÁRIO

233. Nos termos do Decreto no 4.562, de 31 de dezembro de 2002, da Resolução CNPE no 12, de 17 de
setembro de 2002, da Resolução ANEEL no 666, de 29 de setembro de 2002, e do Decreto no 4.667, de 4
de abril de 2003, a ANEEL procede, simultaneamente à revisão tarifária periódica e ao reajuste tarifário
anual das concessionárias, à abertura e realinhamento das tarifas de fornecimento de energia elétrica
dessa concessionária, de forma a dar início ao cronograma de retirada gradual dos subsídios cruzados, ao
longo do período de 2003 a 2007.

234. A tabela a seguir apresenta uma comparação entre as tarifas médias de fornecimento de 19
concessionárias distribuidoras e as novas tarifas que seriam obtidas com o realinhamento tarifário (estudo
realizado em 2001). Pode-se observar que o realinhamento produzirá uma elevação nas tarifas para os
consumidores de alta tensão e uma redução para os consumidores de baixa tensão. Essas diferenças
entre as atuais tarifas de fornecimento e as tarifas resultantes do realinhamento expressam a distorção (ou
subsídio cruzado) implícita na estrutura tarifária vigente.

Tabela I
Novas Tarifas de Fornecimento
Média Brasil (19 empresas)
Grupo Tarifas Médias (R$/MW/h)
Atual Nova Variação %
BT 193,38 169,43 -12,38%
A4 124,65 138,14 10,83%
A 3a 100,19 117,61 17,39%
A3 85,65 106,84 24,74%
A2 75,58 98,34 30,12%
A1 63,44 89,53 41,12%

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EQUIPE TÉCNICA

Técnicos do Processo de Revisão Tarifária Periódica: Cristina Schiavi Noda, Fabiana Gazzoni Cepeda,
Shirley de Souza Meirelles, Denise Miranda Teixeira, Belarmino Elias, Maurício de Oliveira Abi-Chahin,
José Carlos Vilela Ribeiro

Líder do Processo de Revisão Tarifária Periódica: José Jurânio Rocha

Superintendente de Regulação Econômica: Cesar Antonio Gonçalves

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X – ANEXOS
235. Acompanham a presente Nota Técnica os seguintes Anexos:

i) Anexo I – Metodologia e Cálculo do Custo de Capital de Concessionárias de Distribuição de


Energia Elétrica no Brasil;

ii) Anexo II – Metodologia e Cálculo da Estrutura Ótima de Capital de Concessionárias de


Distribuição de Energia Elétrica no Brasil;

iii) Anexo IIII – Metodologia de Alocação das Receitas Extraconcessão na Receita do Serviço
Básico das Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica.

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