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Mestre em Educação, Arte e História da Cultura – Universidade Mackenzie (SP)
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Nos primeiros prospectos e propagandas do Instituto Evangélico, a instituição era apresentada como fundada
em 1869, vindo somente mais tarde a ter sua idade atrelada à data do início das atividades em Lavras (1893). Em
1928 teve o seu nome mudado para Instituto Gammon em homenagem ao seu fundador, e mais tarde, em 2003,
por decisão do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, passou a ser denominado Instituto
Presbiteriano Gammon, como é conhecido nos dias atuais.
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economia linguística particular e articulada na linguagem das fontes, para se ter uma
ideia das experiências e sentimentos dos contemporâneos do período de fundação
da instituição escolhida como objeto de investigação histórica. A historiografia
alusiva à essa instituição tem sido relativamente unânime ao vincular sua trajetória
histórica ao resultado de certa convergência “virtuosa” entre fatores contextuais
externos e, por outro lado, fatores intrínsecos ao empreendimento educacional dos
missionários que se fixaram no município lavrense, procedentes dos Estados
Unidos. Verifica-se, com efeito, que a maioria dos pesquisadores tem proposto em
suas teses ou dissertações a existência de uma conexão entre dois grupos de
fatores que teriam contribuído para o êxito da entidade educacional protestante na
cidade de Lavras3, a saber: a) os ideais que permeavam as políticas públicas e
econômicas do Brasil no início do século XX (Primeira República); b) os princípios
que norteavam os ideais da educação protestante.
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De forma mais ou menos extensa, é possível encontrar a menção deste assunto em quase todas as teses e
dissertações elencadas nas considerações iniciais deste trabalho.
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partes constituintes de um contexto cultural do final século XIX e início do século XX,
conforme aponta Carvalho (2012), pois como indicado nos primeiros parágrafos, o
objetivo é ocupar-se da análise de “conceitos passados” com o propósito de ter-se
“uma ideia das esperanças e anseios, das angústias e sofrimentos dos
contemporâneos de então” (KOSELLECK, 2006, p.268). Busca-se por meio de uma
consideração da economia linguística do passado, uma apreensão mais efetiva do
contexto histórico relacionado à iniciativa educacional que se investiga.
Azevedo (1996, p.258) afirma que o Positivismo “não tardou a exercer influência e a
desempenhar, como doutrina, um papel importante na vida intelectual e política do
Brasil, nos fins do Império e no período republicano”. Uma figura ilustre dentre eles
foi o professor de Matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro Benjamin
Constant, o mais influente de todos. Diversos autores atribuem a Proclamação da
República como resultado natural desse movimento4. Hack (2000, p.85) afirma que a
pedagogia norte-americana trazida pelos missionários estadunidenses, representada
por essas primeiras iniciativas educacionais, “causou um grande impacto, numa
época em que republicanos e positivistas buscavam mais liberdade de ação e
liberdade no pensar”.
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Dentre eles: AZEVEDO (1996); VALENTIM (2010); BEZERRA (2016).
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(2012, p.2), entende, e com razões para tal, que a questão da proximidade do
Protestantismo com o Liberalismo se deu muito mais como uma “convergência de
interesses do que uma similaridade de ideias”. Em sua concepção, o período e
contexto político, social e econômico do final do século XIX e início do século XX,
permitiu que o Protestantismo de missão batesse às portas do Brasil e recebe a
permissão para entrar. O próprio Samuel Rhea Gammon, fundador da Escola
Agrícola de Lavras, traz claras alusões à essa realidade em sua obra The
Evangelical Invasion of Brazil,.
Rossi (2010) confirma que foi no século XIX que tais perspectivas de
instrução e modernização da agricultura se tornaram pautas de discussão política
também no Brasil. É nesse momento que começaram a surgir escolas, técnicas e
tecnologias de produção, conforme será abordado em capítulo posterior deste
trabalho.
Um projecto util
Entre nós succede em geral que os meninos, depois de estudarem as
primeiras letras, vão para casa de seus paes, onde se empregam quasi
sempre em serviços improductivos, quando não passam os dias na mais
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Não se nega aqui que não tenha havido algum tipo de resistência ao trabalho
desenvolvido em Lavras. Na própria abordagem acima citada, que enaltece o
Instituto Evangélico, é possível encontrar referência às oposições que ali foram
enfrentadas. Algumas dessas oposições são relatadas de forma muito peculiar na
obra biográfica escrita por Clara Gammon, no entanto, nestes mesmos relatos fica
também evidente que a elite da cidade ou “o melhor povo” estava do lado dos
missionários, conforme as palavras do Capitão da cidade em uma ocasião em que
cidadãos católicos foram convulsionados por frades em “missão” para invadir o
colégio: “É somente a ralé que está ameaçando os senhores, o melhor povo está do
seu lado” – D. Carlota Kemper, a importante escudeira no projeto educacional de
Gammon, respondeu ao distinto cavalheiro nos seguintes termos: “Mas é a ralé que
atira as pedras”. Em seus escritos, o próprio Dr. Gammon fala sobre “atitude tomada
pelos melhores elementos da sociedade”, no sentido de defender os missionários ou
o colégio (GAMMON, 2003, p.73), por representarem a esperança de “modernização
e progresso” para o município.
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A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - classificado em termos similares por Antônio Flávio Pierucci
(1945-2012), que foi Professor titular e Chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, até
o seu falecimento no ano de 2012.
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Conjunto de documentos composto especialmente pelo Breve Catecismo de Westminster, Catecismo Maior de
Westminster e Confissão de Fé de Westminster.
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em Lavras eram originários, uma igreja conhecida na história especialmente por seu
forte compromisso com a ortodoxia calvinista, expressa nos referidos documentos
confessionais7.
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No século XIX houve uma divisão entre presbiterianos dos EUA, gerando duas denominações, uma
especialmente representada pelos os estados do norte e outra pelos estados do sul, sendo essa última conhecida
como defensora da Velha Escola, ou seja, com princípios especialmente conservadores em relação à teologia
calvinista. Ver SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição Confessional: Necessidade, Relevância e Extensão. Belo
Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002.
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Tal carência foi constatada por Gammon enquanto percorria a região em suas
viagens a cavalo nas fazendas e localidades rurais próximas, onde moravam
famílias que por ele eram evangelizadas. De acordo com Benjamim Hunnicutt, em
entrevista dada ao jornal “O Agrário” em 1958, nessas viagens Samuel Gammon
“percebia problemas tanto no cultivo da terra como na criação do gado. Os métodos
adotados eram arcaicos e tradicionais”, também tratados pejorativamente na época
como “rotinas”.
8 Considerações Finais
7 CORPUS DOCUMENTAL
DR SAMUEL Rhea Gammon. Tribuna do Povo. Lavras MG, anno VII, n° 354, 8 de
Jul. 1928
INSTITUTO Evangélico. Vida Escolar. Lavras, Anno II, nº23, 1 de jun. 1908;
MUNICIPIO de Lavras. Revista do Archivo Publico Mineiro. Belo Horizonte, anno IV,
p. 588-608, 1899.
Lei
Jornais Diversos
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Fernando de. A Cultura Brasileira. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ;
Brasília: Editora UnB, 1996.
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COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à Republica. 7ª ed. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 1999.
DIAS, João Castanho. A Terra Prometida de Lavras. São Paulo: Editora Barleus,
2009.
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. Campinas: Luz para
o Caminho, 1990
GAMMON, Clara. Assim Brilha a Luz: a vida de Samuel Rhea Gammon. 2ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003.
RIBEIRO, João. História do Brasil. 9ª ed. São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1920.