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propriedade intelectual
da marca “Segurança
Comportamental”, aplicados
a bens e serviços, pelo INPI.
Página 4
Revista Segurança Comportamental | 2020 | Ano 10 | Número 13 | Anual | Distribuição: Gratuita | www.segurancacomportamental.com
Diretora Executiva: Natividade Gomes Augusto | Diretora do Conselho Editorial: Sónia P. Gonçalves |
Sub-Diretor do Conselho Editorial: César P. Augusto
A GENDA 2020
Temos planeado
realizar eventos (in
a prevenção e a strutivos e informa
proteção das lesõ tivos) que apoiam
com o trabalho, e s m us c o-esqueléticas re
através da prom lacionadas
oção da partilha
do conheciment
sobre: o
1) Gestão de diá
logos preventivo
2) Processo de sa s sobre LMERT.
3) Nova abordag fety & health coac
em preventiva à hing.
s LMERT, quando
a maioria das ve
as coisas dão ce zes
4) Crenças e valo rto.
res associados à
s LMERT, para pre
venir hábitos não
saudáveis.
5) Processo de a
nálise de doença
6) Acidentes oco s profissionais.
rridos quando exi
stem movimento
s de torção e de
flexão.
Todos os nossos e
ventos iniciam co
2020-2022 (LMER m a apresentaçã
T). É distribuído o o a campanha
material da cam
o slogan na cam panha. É promovi
panha, nos cartõ do
es, entre outros.
r
Editorial
Rosa Bernardo
Vogal do Conselho Editorial da Revista Segurança Comportamental
na especialidade de Saúde Ocupacional.
07 36
TECNOLOGIAS CONFIABILIDADE HUMANA E
Utilização excessiva do smartphone: COMPORTAMENTOS
implicações para os indivíduos pela Ergonomia cognitiva: confiabilidade
não recuperação. humana e comportamentos seguros.
Sónia P. Gonçalves Reflexão sobre o programa de
capacitação em ergonomia cognitiva
com foco na confiabilidade humana.
Claudia Olläy & Flavio Kanazawa Capa
Representa o cuidado ativo que se
deve ter na emissão e recepção da
12 46 mensagem quando se realizam os
Diálogos de Segurança e Sáude do
AVIAÇÃO GAMIFICAÇÃO Trabalho (DSST).
Fator humano – complementaridade Gamificação como técnica de Existem 4 tipos de DSST:
e independência entre Safety I & aprendizagem em segurança no - Preventivos Instrutivos
Safety II resulta em Safety III. trabalho. - Preventivos Compensatórios
Natividade Gomes Augusto Cláudio César Pontes - Preventivos Corretivos
- Corretivos de Emergência.
23 53
CONSTRUÇÃO CIVIL EMERGÊNCIA E
Riscos psicossociais: estudo de caso COMPORTAMENTOS Incremento do âmbito da propriedade
no setor da construção. Gestão da emergência e mudança intelectual da marca “Segurança
João Sequeira & João Areosa Comportamental”, aplicados a bens e
comportamental. Avaliação de serviços, devido à necessidade de maior
exercícios; Implementação de rigor técnico-científico no mercado.
Foi decidido pelo INPI – Instituto Nacional
medidas corretivas. da Propriedade Industrial, do Ministério da
José Goulão Marques Justiça da República Portuguesa autorizar
o alargamento da propriedade intelectual
da marca “Segurança Comportamental”,
a 7 classes, que abarcam todo o tipo
de consultoria, formação (presencial
e on-line), educação, pós-graduações,
eventos, seminários, workshop, congressos,
qualquer tipo de publicações (papel e
on-line), jogos, hardware, software, análise
comportamental, entre outros. O seu
titular pode obstar a que terceiros, sem
a sua autorização expressa produzem ou
comercializem tais bens ou serviços, e, em
Edição editada segundo o novo acordo certos casos, assegurando que tal conduta
ortografico português, sendo que, textos de possa ser punível em termos criminais.
autores brasileiros encontram-se editados em A marca "Segurança Comportamental" é
português do Brasil. composta por grafismos ou mesmo sem
eles, apenas com a expressão. A “Segurança
Comportamental” encontra-se aberta a
contribuir cooperativamente no mercado.
Assim, se pretender usar a referida marca,
deve submeter o seu pedido para
geral@segurancacomportamental.com.
Segurança Comportamental ®
6 ano 10 | número 13 | 2020
TECNOLOGIAS
Sónia P. Gonçalves
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa).
Centro de Investigação e Intervenção Social (CAPP).
Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG).
goncalves.sonia@gmail.com
O
s smartphones são como telefonar, enviar e receber emails, compras online
atualmente equipamentos e networking social, em qualquer lugar e em qualquer
que fazem parte do nosso hora. Apesar das vantagens de networking e das melhorias
dia-a-dia. A sua utilização está de produtividade provenientes da sua utilização, os
generalizada a nível global smartphones têm sido estudados relativamente ao seu uso
com valores de penetração excessivo e na forma como este fator pode interferir na
no mercado superiores vida dos indivíduos.
a 90% (para uma análise O crescimento exponencial da utilização do smartphone
mais aprofundada sugere-se a leitura dos Global Mobile tem sido, muitas vezes, associada a riscos para a saúde,
Consumer Survey realizados anualmente pela Deloitte). incluindo situações de ansiedade, depressão, isolamento
Os smartphones apresentam inúmeras vantagens, e burnout; riscos ao nível interpessoal como o aumento
possibilitando às pessoas realizar diversas atividades, de isolamento e conflitos familiares; bem como riscos
2009). As atividades de lazer (e.g., notícias das redes sociais que vamos
ver televisão) manifestem o seu recuperar? Sugestões de leitura:
potencial de recuperação habilitando
experiências específicas, como o Referências Bibliográficas • Cazzulino, F., Burke, R. V., Muller, V.,
afastamento psicológico do trabalho, Duggan, M. & Smith, A. 2015. Social Media Arbogast, H., & Upperman, J. S. 2014.
relaxamento, procura de desafios Update 2013. In https://www.pewresearch.
org/inter net/2013/12/30/social-media- Cell phones and young drivers: a
e controlo sobre as atividades de update-2013/ systematic review regarding the
lazer (Sonnentag & Fritz, 2007). O Cheever, N.A., Rosen, L, Carrier, A. 2014. Out
afastamento psicológico implica o of sight is not out of mind: The impact of
association between psychological
distanciamento mental do trabalho restricting wireless mobile device use on factors and prevention. Traffic
durante o horário fora do trabalho,
anxiety levels among low, moderate and high injury prevention, 15(3), 234-242.
users. Computers in Human Behavior, 37, 290–
enquanto o relaxamento é um estado 297. • Cheever, N. A., Rosen, L. D., Carrier,
caracterizado pela baixa atividade. Kruger, D.J. & Djerf, J.M. 2015. High Ringxiety: L. M., & Chavez, A. 2014. Out of sight
A procura de desafios refere-se aos Attachment Anxiety Predicts Experiences of is not out of mind: The impact of
Phantom Cell Phone Ringing. Cyberpsychol
processos associados com atividades Behav Soc Netw., 19(1), 56-59. restricting wireless mobile device
desafiantes e de aprendizagem. Billieux, J., Van der Linden, M., & Rochat, L. use on anxiety levels among
Por último, o controlo aplica-se 2008. The role of impulsivity in actual and
low, moderate and high users.
aos tempos de lazer referentes à problematic use of the mobile phone. Applied
Cognitive Psychology, 22(9), 1195-1210. Computers in Human Behavior, 37,
autodeterminação em decidir como
despender o tempo livre.
Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter, M. P. 2001. 290-297.
Job burnout. Annual Review of Psychology, 52,
Não há receitas, cada pessoa tem de 397-422. • Clayton, R. B., Leshner, G., & Almond,
investir no seu tempo de não trabalho, Sonnentag, S., & Geurts, S. A. E. 2009. A. 2015. The extended iSelf: The
Methodological issues in recovery research. In impact of iPhone separation
no seu tempo de recuperação, S. Sonnentag, P. Perrewé, & D. Ganster (Eds.),
identificar o que lhe permite Currents perspectives on job-stress recovery (pp. on cognition, emotion, and
recuperar. Termino com uma simples 1–36). Bingley, UK: Emerald. physiology. Journal of Computer‐
questão: será que é com os olhos no Sonnentag, S., & Fritz, C. 2007. The recovery
experience questionnaire: Development
Mediated Communication, 20(2),
telemóvel, a ignorar a vida à nossa and validation of a measure for assessing 119-135.
volta, a receber e-mail constantes recuperation and unwinding from work. Journal • Demirci, K., Akgönül, M., &
do trabalho ou a perdermo-nos em of Occupational Health Psychology, 12, 204– 221.
Akpinar, A. 2015. Relationship of
smartphone use severity with sleep
quality, depression, and anxiety
O termo recovery refere-se ao in university students. Journal of
behavioral addictions, 4(2), 85-92.
processo que desfaz as reações • Fritz, C. & Sonnentag, S.
de tensão causadas por fatores 2005. Recovery, Health, and
stressores do trabalho (Meijman Job performance: effects of
weekend experiences. Journal of
& Mulder, 1998). A recuperação ocorre occupational health psychology, 10
durante os períodos de tempo em que (3), 187-199.
não existem exigências semelhantes às • Lee, Y. K., Chang, C. T., Lin, Y., &
Cheng, Z. H. 2014. The dark side of
exigências impostas pelo trabalho, ou smartphone usage: Psychological
quando novos recursos (e.g., energia ou traits, compulsive behavior and
technostress. Computers in Human
sentimentos de controlo) são criados.
Behavior, 31, 373-383.
Normalmente, a recuperação acontece • Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter,
durante períodos de descanso no trabalho, M. P. 2001. Job burnout. Annual
Review of Psychology, 52, 397-422.
noites livres, fins-de-semana ou férias."
portanto, não há nada a medir. Perante esta realidade há que 4. Com o desenvolvimento, o aumento
8. Reforços à abordagem são pensar a gestão da segurança de da complexidade e variabilidade nos
evidenciados com o facto dos forma diferente e surgem novos sistemas, este pressuposto bimodal,
reguladores e autoridades exigirem pressupostos para a nova abordagem da Safety I, deixa de ser válido, sendo
relatórios detalhados sobre acidentes, de segurança, designada Safety II: aqui os ajustes comportamentais cada
e, o trabalho dos profissionais está 1. Os sistemas são cada vez mais vez mais importantes.
facilitado, com a existência de complexos, mutáveis, impossíveis 5. A variabilidade do sistema, nem
inúmeros modelos que alegam ser de decompor porque as partes são a variabilidade do desempenho
capazes de explicar por que as coisas interdependentes, e, mais intratáveis. humano, serão eliminadas
dão errado. Isso significa que o funcionamento completamente com a padronização
9. Eventos adversos são descritos em de algumas partes do sistema só é nem com os procedimentos.
muitos artigos e livros e debatidos em conhecido em parte ou até totalmente 6. Para que a tecnologia funcione,
congressos, seminários e workshops. desconhecido. as pessoas e organizações devem
A gestão da segurança baseada nestes 2. A mutação acelerada dos sistemas trabalhar de modo a eliminar, reduzir
pressupostos torna-se um tanto conduz que o detalhe das descrições e controlar o excesso de variabilidade.
inadequada para o mundo atual. Não das funções fique incompleto a meio 7. As pessoas não são um problema a
há dúvidas de que o mundo em que ou rapidamente desatualizado. ser resolvido ou padronizado, elas são
vivemos se tornou mais complexo 3. A periodicidade da revisão do a solução adaptável.
e interdependente e que esse trabalho prescrito não acompanha a 8. Há poucos reforços positivos à
desenvolvimento continua a acelerar, velocidade da mudança dos sistemas abordagem Safety I. Em BBS (Behavior
tanto na forma de trabalhar como na organizacionais. A grande maioria das Based Safety), nomeadamente
nossa vida quotidiana. O grupo de empresas faz anualmente a "revisão nas Observações Preventivas de
profissionais de segurança depara-se pela gestão", requisito obrigatório Segurança as orientações são para
com problema grave da continuidade do sistema normativo de gestão (ISO que haja 20 reforços positivos para
da ocorrência de eventos indesejáveis. 9001:2015). 1 reforço negativo. Temos outras
Safety I Safety II
Investimento (investimento em segurança = (investimento em segurança = investimento
Acidentes
em segurança custos em produtividade)
Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel
+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
técnicas que identificam eventos transportes. “No setor da energia, desenvolvimento continua a acelerar.
desejáveis, ou seja, coisas que deram distinguem-se essencialmente três Embora esta identificação dos setores
certo, como por exemplo as auditorias tipos de infraestruturas: (i) produção e através da legislação me faça sentido,
com as boas práticas, os inquéritos transporte de eletricidade; (ii) produção, a mesma não dispensa a classificação
com perguntas abertas. No entanto, o refinação, tratamento, armazenagem e dos níveis de complexidade estrutural
foco da gestão da segurança (Safety I) transporte de petróleo por oleodutos; e funcional, através de métodos
é o negativo. e (iii) produção, refinação, tratamento, técnico-científicos.
9. Passar da visão que o investimento armazenagem e transporte de gás por
em segurança é um custo para gasodutos e terminais para gás natural MESMO PONTO DE
uma visão que o investimento em estado líquido. Relativamente PARTIDA, GESTÃO
em segurança é investimento em ao setor dos transportes, podemos
produtividade. observar cinco tipos de infraestruturas: DIFERENTE E RESULTADOS
Segundo Hollnagel, Wears & (i) rodoviário; (ii) ferroviário; (iii) aéreo; IGUAIS
Braithwaite (2015), Safety II é a nova (iv) por vias navegáveis interiores; Embora o fenómeno de variabilidade
abordagem de gerir a segurança, e (v) marítimo” (DL n.º 62/2011). no desempenho baseie as duas
no entanto, ela também vai exigir Parece-me que posso afirmar que abordagens, a gestão desse
métodos e técnicas de gestão de os sistemas complexos surgiram, mesmo fenómeno tem diferenças
segurança que possam avaliar, numa primeira fase, da necessidade significativas. Uma delas a abordagem
investigar e analisar os eventos que de mais segurança, mais saúde e do conhecimento, entendimento e
dão certo, no sentido de verificar como resiliência sistémica, ou seja, de “(…) explicação dos eventos ocorridos.
é o seu funcionamento, aceitando uma maior capacidade de intervenção Na abordagem Safety I há crença
e gerindo a sua variabilidade no ao nível da segurança e resiliência” na causalidade, baseada nos
desempenho, através da capacidade (DL n.º 62/2011). Embora esta modelos lineares simples, como a
de ajustes. identificação seja a nível de segurança teoria de dominós (Heinrich, 1931)
Como esta nova abordagem (security), sou de opinião que a ou compostos como o modelo
à segurança ainda é recente, segurança (safety) deva considerar do queijo suíço (Reason, 1990). É
aproximadamente de uma década, esta identificação, para já, pois a perfeitamente razoável assumir-se
atualmente depara-se com diferença é que os fatores agressivos que as consequências (efeitos) são
várias dificuldades e escassez de da primeira são maioritariamente precedidas por causas, no entanto,
conhecimento teórico (conceptuais, oriundos do contexto exterior e é um erro supor que as causas
metodológicos) e prático. os fatores agressivos da segunda possam ser sempre identificadas,
Durante a minha instrução no são maioritariamente oriundos nomeadamente a causa-raiz. Assim,
Gabinete Nacional de Segurança, do contexto interior, sobre o as “causas” são reconstruídas ou
da Presidência do Conselho de mesmo sistema organizacional, inferidas e não encontradas. O próprio
Ministros (2015-2016) apreendi tendencialmente sociotécnico, Reason (1997) afirma que “em nossas
que os sistemas complexos complexo, interdependente e de tentativas atuais, o pêndulo pode ter
organizacionais estão na maioria dos difícil decomposição. Para corroborar oscilado demais para a identificação de
casos associados às infraestruturas esta minha ideia, referencio os possíveis erros e fatores contribuintes
críticas (IC) de uma nação e de um trabalhos na aviação (navegação de acidentes que estão amplamente
continente, identificados através aérea) de Reason, Hollnagel & Paries separados, no tempo e no espaço, dos
do seu “alcance”, “magnitude” e (2006) e na saúde de Hollnagel, Wears eventos em si”.
“efeitos no tempo”. As IC têm funções & Braithwaite (2015), que apresentam Fomentado pela Organização
essenciais para a sociedade cuja a gestão da segurança (safety) Europeia para a Segurança da
disrupção ou destruição teria um segundo a abordagem de Safety Navegação Aérea, designada por
impacto significativo na capacidade II. Apesar de à data de hoje estes Eurocontrol, constitui-se um grupo
de assegurar serviços essenciais “(…) setores identificados funcionarem em de trabalho para rever a teoria do
para a saúde, a segurança e o bem- regime de sistemas organizacionais queijo suíço na análise de acidentes,
-estar económico e social da sociedade complexos sou de opinião de que o próprio J. Reason que fazia parte do
nos sectores da energia e transportes a maioria das organizações irá ter grupo, questionou o uso do modelo
(...)” (DL n.º 62/2011). Subjacente que funcionar, no futuro, com base sob este título provocativo: “O queijo
à identificação e designação de em sistemas mais complexos, tendo suíço já passou da data de validade?”
IC está a abrangência do seu em conta que o mundo em que (Reason, Hollnagel & Paries, 2006, p.1).
âmbito, que, no caso português, vivemos se tornou mais complexo, Os sistemas sociotécnicos cada vez
versa os setores da energia e dos interdependente e que esse mais complicados exigem modelos
Segurança Comportamental ® 16 ano 10 | número 13 | 2020
Quadro n.º 3 – Síntese de Diferenças Significativas entre Safety I & Safety II
SAFETY I SAFETY II
Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel.
Fonte: Revisão da autora do “Princípio que coisas certas e erradas acontecem de forma diferente, em Safety I; e, de forma igual, em
Safety II”, de Hollnagel, Wears & Braithwaite (2015).
• Os seres humanos são vistos predomi- • Os seres humanos são vistos como um
Visão do fa- nantemente como um risco ou perigo, recurso necessário para a flexibilidade e a
tor humano principalmente porque são o mais variá- resiliência do sistema.
vel dos componentes.
Foco • Eles são um problema a ser resolvido. • Eles oferecem soluções flexíveis para mui-
tos problemas em potencial.
Comporta- • Controlo de comportamentos individuais • Compreensão detalhada do comporta-
mento e de grupo. mento de grupo.
• Padronizado conforme prescrito nos • Ajustabilidade razoável eliminando as
procedimentos, na tentativa de eliminar a combinações inesperadas na variabilidade
Desempe-
variabilidade omnipresente no desempe- omnipresente no desempenho quotidiano.
nho
nho que poderá levar a falhas e defeitos.
Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel.
Quadro n.º 6 - Ajustes dos trabalhadores à variabilidade de atividade critica, em modo de pressão temporal
Figura 3: Desproporcionalidade entre o que dá certo e o que dá errado Decreto Lei n.º 62/2011, de 9 de maio -
Estabelece os procedimentos de identificação e
de proteção das infraestruturas essenciais para
a saúde, a segurança e o bem-estar económico
e social da sociedade nos sectores da energia e
transportes e transpõe a Diretiva n.º 2008/114/
CE, do Conselho, de 8 de dezembro
Dekker, S. 2012. Just Culture: Balancing Safety
and Accountability. CRC Press. Taylor & Francis
Group. Reino Unido Abingdon.
Errado Dekker, S. 2014. Safety Differently: Human
Factors for a New Era, 2nd Edition. CRC Press.
Taylor & Francis Group. Reino Unido Abingdon.
Certo Finkel, M. 2011. On Flexibility: Recovery from
Technological and Doctrinal Surprise on the
Battlefield. Stanford, CA: Stanford University
Press.
Heinrich, H. W. 1931. Industrial accident
prevention: A scientific approach. New York:
McGraw-Hill.
Hollnagel, E. 2004. Barriers and accident
prevention. Aldershot, UK: Ashgate.
Hollnagel, E. 2009. The ETTO principle: Efficiency-
Fonte: Hollnagel, Wears & Braithwaite (2015). thoroughness trade-off. Why things that go right
sometimes go wrong. 1st Edition. Farnham,
Reino Unido: Ashgate.
do sistema. Acresce ainda que a da variabilidade no desempenho Hollnagel, E. 2012. FRAM: The Functional
facilidade de observar é maior em quotidiano e a importância dos Resonance Analysis Method. Farnham, Reino
pequenos eventos frequentes. ajustes. Unido: Ashgate.
Hollnagel, E., Braithwaite, J. & Wears, R. L. 2013
5. Em vez de só aprender com Independente do tipo e nível Resilient health care. Farnham, Reino Unido:
eventos segundo a sua gravidade, em que a sua instituição estiver, Ashgate.
devemos aprender com os eventos uma coisa é certa, se não tem um Hollnagel, E., Woods, D. D. e Leveson, N. G. 2006.
segundo sua frequência. Um grande sistema organizacional sociotécnico, Resilience engineering: Concepts and precepts.
Aldershot, Reino Unido: Ashgate.
número de pequenas melhorias no complexo, interdependente, irá ter Hollnagel, E.; Wears, R.L.; Braithwaite, J. 2015.
desempenho quotidiano pode contar no futuro, tendo por base que o From Safety-I to Safety-II: A White Paper.The
mais do que uma grande melhoria no aceleramento e a interdependência Resilient Health Care Net. University of Southern
desempenho excepcional. societal é já uma realidade. Desta Denmark, Dinamarca, University of Florida, EUA,
e Macquarie University, Australia
6. Elabore e mantenha uma visão forma, prepare-se para a mudança Ishikawa, K. 1985. What is total quality control,
geral e abrangente do trabalho, tanto seguindo o ditado “nem tanto ao The Japanese Way, Englewood Cliffs:Prentice
a curto como a longo prazo. Assim mar, nem tanto à terra”, ou seja, “nem Hall
podemos prever e, portanto, prevenir tanto de Safety I, nem tanto de Safety Rasmussen, J. e Svedung, I. 2000. Proactive risk
management in a dynamic society. Karlstad,
o acumular de pequenos problemas II, construa Safety III”. Penso que esta Suécia: Swedish Rescue Services Agency.
ou falhas, realizando pequenos ultra-nova abordagem, Safety III, só Reason J. 1990. Human error. New York:
ajustes para mitigar combinações ficará obsoleta quando uma geração Cambridge University Press; 1990.
de pessoas não tiver lembrança de um Reason, J. T. 1997. Managing the risks of
potencialmente prejudiciais de organizational accidents. Aldershot, Reino
variabilidade no desempenho. único evento indesejável. Até lá estará Unido: Ashgate Publishing Limited.
7. Devem ser atribuídos recursos, entre nós, os gestores e técnicos de Reason, J., Hollnagel, E., & Paries, J. 2006.
segurança! Revisiting the Swiss Cheese Model of Accidents.
especialmente o tempo, para a European Organisation for the Safety of air
reflexão, a troca de experiências Navigation, EUROCONTROL Experimental
e para aprendizagem. Se houver Referências bibliográficas Centre EEC, Note No. 13/06. Bruxelas
Augusto, N. 2019. Curva de distribuição normal Shorrock, S. e Licu, T. 2013. Target culture:
preocupação em demasia em concluir melhorada de eventos de segurança. Evento lessons in unintended consequences. Acedido
uma atividade, um processo, não há Instrutivo Investigação e análise de acidentes e em 09 janeiro 2020, https://humanisticsystems.
tempo para identificar melhorias nos quase-acidentes de trabalho - falhas humanas. com/2013/07/02/target-culture-lessons-in-
ajustes. Lisboa, Proativo, IP unintended-consequences/
Augusto, N. 2012. Programa de Segurança
8. Complemente a identificação e
e Saúde Comportamental. International
determinação de falhas humanas Conference on Health Techonology assessment
como causas dos acidentes com and quality management. Escola Superior de
a compreensão da necessidade Tecnologia da Saúde de Lisboa: Lisboa.
R
ESUMO pelo Comité dos Altos Responsáveis e em que medida é que os riscos
Os riscos psicossociais da Inspeção do Trabalho em 2012; o psicossociais afetam a segurança
relacionados com o Inquérito Europeu sobre as Condições e a saúde dos trabalhadores numa
trabalho são uma das de Trabalho (realizado pela Eurofound empresa do setor da construção civil?
grandes ameaças para desde 1990), destacando-se o quarto
a saúde e segurança (2005) e quinto (2010) pelo maior RISCOS PSICOSSOCIAIS NOS
dos trabalhadores nos relevo dado à temática; e ainda LOCAIS DE TRABALHO
dias de hoje, em especial para aqueles o Inquérito Europeu às Empresas Segundo a OIT (Organização
que se encontram a laborar numa sobre Riscos Novos e Emergentes Internacional do Trabalho, 2010),
área que apresenta vários fatores (promovido pela AESST em 2009) têm os fatores psicossociais têm sido
desfavoráveis, como é exemplo o setor potenciado esta maior visibilidade reconhecidos como questões
da construção civil e obras públicas. social. Daí que muito se fale nos riscos mundiais que afetam potencialmente
O presente artigo apresenta os psicossociais como riscos emergentes todas as profissões e trabalhadores,
resultados de um estudo empírico (Neto, et al., 2014). em todos os países. O aumento
sobre riscos psicossociais, realizado Segundo (Cockell, 2008), na indústria da flexibilidade, da precariedade
numa empresa de construção civil da construção civil há um alto laboral, a intensificação do trabalho
e obras públicas, constituída por 16 índice de instabilidade, um grande e as relações sociais desestruturadas,
departamentos e 485 trabalhadores. contingente de trabalhadores fazem entrar em jogo algumas
Pretende-se dar a conhecer uma informais, uma alta rotatividade práticas de assédio e intimidação, as
realidade que para quem trabalha no e elevado grau de flexibilidade quais favorecem o aparecimento dos
setor poderá não ser surpreendente, na utilização de mão--de-obra, transtornos psicossociais causados
mas, muitas vezes, será desvalorizada. principalmente entre os operários. A pelo trabalho.
Para avaliar os fatores de riscos todas essas situações ainda acrescem Um organismo espanhol (Instituto
psicossociais utilizou-se método as precárias condições de trabalho, Nacional de Seguridad e Higiene en
FPSICO, desenvolvido pelo Instituto em muitos casos, sub-humanas e el Trabajo, 2012) indica que os fatores
Nacional de Seguridad e Higiene en nocivas à saúde do trabalhador, o de risco psicossociais no trabalho
el Trabajo (INSHT) de Espanha. Este risco constante de acidentes e de se referem às condições que estão
método contém um conjunto de doenças profissionais, a instabilidade presentes numa determinada situação
questões cuja finalidade é identificar de emprego, a provisoriedade e e estão diretamente relacionados
os fatores demográficos e profissionais o constante processo adaptativo com as condições ambientais, com
que levam à exposição ao risco. a novas realidades de trabalho e a organização, procedimentos e
de vida, bem como a crise que se métodos de trabalho, com as relações
INTRODUÇÃO faz sentir neste setor. Por todos os entre os trabalhadores, com o
Os riscos psicossociais têm ganho motivos mencionados, podemos conteúdo do trabalho e das tarefas,
uma centralidade analítica e técnica afirmar que os fatores de risco e podem afetar a saúde psicológica
bastante significativa nas últimas psicossociais são uma regularidade na e fisiológica dos trabalhadores, assim
duas décadas. Em muito se fica a vida dos trabalhadores da construção como o seu desempenho laboral.
dever ao trabalho desenvolvido por civil, sendo, muitas vezes, a causa de Os fatores de risco psicossociais no local
instituições como a Agência Europeia doenças do foro psicológico. de trabalho têm demonstrado causar
para a Segurança e Saúde no Trabalho É pertinente referir que estes um impacto negativo na saúde física,
(AESST) e Fundação Europeia para trabalhadores estão sujeitos pressões mental e social dos trabalhadores
a Melhoria das Condições de Vida e de trabalho, com prazos apertados (Cox, et al., 2010), levando a um
de Trabalho (Eurofound) (Neto, et al., para conclusão das obras, horários aumento da despesa pública, devido
2014). alargados de trabalho, estão por o incremento dos custos nos cuidados
Iniciativas como a campanha “Locais vezes deslocados da sua residência de saúde (Cox, et al., 2010). Dentro da
de Trabalho Seguros e Saudáveis” da habitual e longe das respetivas extensa lista de riscos psicossociais
AESST, a decorrer desde 2000, com famílias. As empresas de construção relacionados ao trabalho o stresse é,
especial ênfase para as iniciativas de encontram-se num mercado de indiscutivelmente, aquele que tem
2002 (Contra o stresse no trabalho, elevada concorrência, onde impera a merecido maior atenção ao longo
trabalhe contra o stresse) e de 2014- lógica da sobrevalorização dos custos das últimas décadas. O burnout
2015 (Locais de trabalho saudáveis ao invés da qualidade de construção e e as múltiplas formas de assédio
contribuem para a gestão do do sentido de serviço ao cliente. são, talvez, os outros dois riscos
stresse); a campanha sobre os riscos Nesta investigação estabeleceu-se mais estudados. Devido à enorme
psicossociais no trabalho promovida como questão de partida: Quais são multiplicidade de riscos psicossociais,
+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas;
Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de Segurança e
Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
® ||número
Segurança
SegurançaComportamental
Comportamental ® 25
25 ano
ano10
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2020
CONSTRUÇÃO CIVIL
feito de forma brutal, pode ser dado para construir um diagnóstico intuito evolutivo, criando condições
de maneira discreta e caracteriza-se psicossocial numa empresa ou em para monitorizações continuadas,
principalmente pela frequência com áreas parciais da mesma (Instituto o que será útil para a identificação
que acontece, a intencionalidade e Nacional de Seguridad e Higiene en el de necessidades de mudanças na
o abuso exercido sobre o assediado. Trabajo, 2012). organização e na otimização dos
Porém, deve-se ter o cuidado de O Método FPSICO foi desenvolvido recursos humanos e do seu bem-estar
não confundi-lo com mau humor ou pelo Instituto Nacional de Segurança (Neto, et al., 2014). Ele é composto
nervosismo. Por exemplo, se realizado e Higiene no Trabalho de Espanha por quatro instrumentos: uma ficha
uma só vez, não se constitui como (INSHT) com o intuito de favorecer de caracterização das condições
assédio (Heloani, 2004; Garcia; Tolfo, a identificação de fatores de risco prévias, uma ficha de possíveis
2011; Soares; Oliveira, 2012; Bobroff; psicossociais, incluindo características indicadores de efeitos na organização,
Martins, 2013, cit in Morais, et al., sociodemográficas das pessoas e dos um questionário para recolha
2018). postos de trabalho em estudo (Neto, das perceções e características
et al., 2014). Permite obter resultados dos trabalhadores e fichas para a
METODOLOGIA dos trabalhadores de forma planificação de ações preventivas.
Para concretizar os objetivos individual e coletiva, mas a utilização Neste estudo, foi aplicado o
e considerando a abordagem individual é desencorajada, tanto questionário individual a partir da
quantitativa deste estudo optou-se pela natureza interna da utilização definição de fatores psicossociais,
pela utilização do Método de Avaliação do método como pela informação que apresenta questões relativas às
de Fatores Psicossociais (FPSICO). O que se procura (Neto, et al., 2014). Por condições presentes no trabalho,
principal objetivo deste método é o estes motivos, os resultados obtidos à organização e ao conteúdo do
de proporcionar uma ferramenta para foram analisados de forma coletiva, trabalho, que podem afetar tanto o
a identificação e avaliação de fatores garantindo-se também o anonimato normal desenvolvimento do trabalho
risco psicossociais. A aplicação do dos respondentes. como a saúde dos trabalhadores
método fornece assim informação Este método também serve um (Instituto Nacional de Seguridad e
Gráfico 2-Resumo da exposição para cada um dos nove fatores analisados pelo método FPSICO 4.0.
Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
(Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2017).
de risco, durante a jornada laboral. 2008; Leka et al., 2010), baixos níveis ou enfrentam conflitos interpessoais
Os fatores aqui identificados estão de apoio e estímulo para a resolução e/ou falta de apoio social (AESST,
relacionados com a incapacidade de de problemas e desenvolvimento 2013; Eurofound & EU-OSHA, 2014;
lidar com as exigências da profissão, pessoal; à Supervisão/Participação GilMonte, 2009, 2012; Leka et al., 2003;
ou seja, se uma pessoa sentir que as (Leka et al., 2003; Leka et al., 2008; Leka Leka et al., 2008; Leka et al., 2010).
exigências do trabalho são excessivas et al., 2010); e às Relações de Apoio/ O Gráfico 3 representa o resumo
e que não consegue lidar com elas, Suporte Social os relacionamentos no da exposição aos 9 fatores de risco
tais exigências podem provocar trabalho que podem provocar pressão psicossociais em estudo analisados
stresse, devido: à Carga de Trabalho psicológica quando os trabalhadores pelo método FPSICO, para a variável
(AESST, 2013; Eurofound & EU-OSHA, sofrem discriminação, possuem más independente Sexo, apresentando-
2014; Gil-Monte, 2009; Leka et al., relações com os superiores/colegas e/ se o resultado da soma das situações
Segurança Comportamental ® 30 ano 10 | número 13 | 2020
Adequadas com as Melhoráveis e as Verifica-se que, de uma forma geral, Ao nível da gestão de topo
situações de Risco Elevado com as de quase todos os departamentos têm É importante que antes da aplicação
Risco Muito Elevado. uma maior perceção de exposição de medidas organizacionais, ou seja,
Nos fatores Tempo de Trabalho, aos fatores de risco Relações de medidas preventivas que devem
Autonomia e Relações de Apoio Apoio e Suporte Social, Participação/ ser adotadas/aplicadas diretamente
e Suporte os indivíduos do sexo Supervisão e Carga de Trabalho. aos trabalhadores, exista um
masculino percecionam estar mais Para além destes fatores de risco, envolvimento e preocupação por
expostos aos riscos psicossociais, os departamentos de Gestão de parte dos superiores hierárquicos da
pois apresentam valores mais Sistemas, Gestão da manutenção empresa, em dar os primeiros “passos”
elevados. No caso do sexo feminino, e Gestão de Equipamento e o de no processo de prevenção.
percecionam estar mais expostas Estudos e Propostas, apresentam Assim apresentam-se algumas
aos riscos psicossociais nos fatores também uma maior perceção ao fator medidas que deverão ser tomadas a
Carga de Trabalho, Participação e de risco Interesse pelo Trabalhador/ este nível:
Supervisão, Interesse e Compensação Compensação. . Estabelecer políticas orientadas
pelo Trabalhador e Desempenho, pois para combater os fatores de risco
apresentam valores mais elevados do MEDIDAS DE PREVENÇÃO psicossociais e promover um clima
que o sexo masculino. Para prevenir os efeitos da exposição saudável na empresa, nomeadamente:
Na Tabela 7 apresenta-se o mapa aos fatores de risco psicossociais na - Políticas de coesão das equipas, com
resumo da exposição aos 9 fatores saúde dos trabalhadores caberá à envolvimento dos trabalhadores e das
de risco psicossociais em estudo gestão da empresa implementar as chefias (em todos os níveis);
analisados pelo método FPSICO, medidas de prevenção adequadas, - Política de combate ao stresse;
para a variável independente Setor sendo que no presente caso, estas - Política de combate ao assédio moral
/ Departamento, apresentando-se foram desenvolvidas de acordo com e sexual;
o resultado da soma das situações os resultados obtidos e estão de . Envolvimento de todos os
Adequadas com as Melhoráveis e as acordo com as orientações da AESST trabalhadores nas grandes decisões
situações de Risco Elevado com as de (Agência Europeia para a Segurança e da empresa, através da criação de
Risco Muito Elevado. Saúde no Trabalho, 2013). grupos de trabalho;
Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2018, output FPSICO 4.0
Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2018, output FPSICO 4.0
ERGONOMIA COGNITIVA:
CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS
SEGUROS
Reflexão sobre O Programa de Capacitação em
Ergonomia Cognitiva com foco na Confiabilidade
Humana.
I
-
INTRODUÇÃO valores que são considerados pelo trabalhador quando
Os mecanismos estruturais e mentais ele está mediado por situações de risco ou por situações
que levam ao comprometimento do nas quais ele está oprimido pelo tempo são difíceis de
desempenho humano ao trabalho é uma serem mensurados ou qualificados (Barros & Scandelar,
das áreas mais complexas da ergonomia. 2006).
Compreender os aspectos que levam as Para Iida (2005, p. 423), “(...) o erro humano é um
pessoas adotarem determinados comportamentos no ato involuntário que se desvia daquele normal ou
ambiente de trabalho, ou ainda, determinar quais os pretendido. O erro humano está relacionado com o
Segurança Comportamental ® 36 ano 10 | número 13 | 2020
processamento cognitivo humano”. trabalho. As falhas humanas podem o comportamento do trabalhador,
Os fatores técnico, organizacional estar associadas à negligência, sono, haja vista há necessidade de
e humano são os mais comuns alcoolismo e outras deficiências do redução sistemática da ocorrência
no que tange a desencadear o ser humano. Quando se trata de de agravos relacionadas ao trabalho
acidente de trabalho. O acidente de negligência ou desatenção por parte como constante desafio para todos
trabalho advindo do fator humano do trabalhador, não é comum se aqueles que atuam nos sistemas
é comumente apontado, haja vista verificar o que ocorreu anteriormente de saúde, segurança e recursos
a necessidade de rápida resolução ao acidente, ou seja, quais foram às humanos das empresas. Em Portugal,
do problema e, assim, definição decisões anteriormente tomadas no mesmo período, os dados sobre
da responsabilidade. Os acidentes que favoreceram a ocorrência do acidentes de trabalho estão na
de trabalho são as fontes mais acidente. São muitas as variáveis a ordem de 625.414 (PORDATA, 2019).
importantes de agravos à saúde serem investigadas no que refere ao Assim como o Brasil, um número
(Doppler, 2007). conhecimento do trabalhador sobre elevado e que precisa ser revertido
Os fenômenos comportamentais determinado assunto de segurança, rapidamente, também.
relativos à prevenção dos acidentes haja vista cada trabalhador aprender A situação apresentada deixa
têm sido fonte de interesse e de uma determinada maneira. evidente a necessidade das
investimento por parte do governo, Contudo, alguns aspectos são empresas na busca de intervenções
de empresas e de profissionais no inerentes no tocante ao processo para a eliminação ou, pelo menos
que diz respeito à segurança do ensino-aprendizagem, como: a falta a diminuição dos acidentes
trabalho. Profissionais do campo da de instrução e capacitação; o não de trabalho, com isso cresce a
segurança, empresas de prestação entendimento completo das rotinas preocupação em preparar as equipes
de serviços e grandes empresas e procedimentos da empresa; a internas das empresas para ir além
brasileiras têm utilizado o termo tendência de relevar os perigos e da investigação e gerenciamento
“segurança comportamental” para riscos; o manuseio inadequado de dos riscos ocupacionais. A
referir-se ao conjunto de estratégias ferramentas ou materiais por falta preocupação está fortemente ligada
que utilizam para atuar sobre os de informação (Paula, 2016; Iida, ao entendimento da motivação do
comportamentos dos trabalhadores, 2005). fator humano na adoção ou não do
dos grupos e da própria empresa, a Dados da Previdência Social comportamento seguro.
fim de torná-las capazes de prevenir demonstram que em três anos (2015 Por entender a necessidade,
acidentes de trabalho (Aguiar, 2005). a 2017) ocorreram no Brasil 1.757.410 estudiosos da ergonomia buscam
Para Iida (2005, p. 422) “(...) a acidentes de trabalho (AEAT, 2017). elucidar para as empresas o
ergonomia tem uma visão mais Este resultado evidencia o quanto quanto a ergonomia cognitiva
abrangente, pois irá estudar, se faz relevante refletir e agir se desenvolveu nos últimos anos
principalmente, as interações do sobre o processo de análise dos e, assim suas aplicações estão
sistema com o seu usuário”. Nesse acidentes que possuem relação com cada vez mais presentes nas
contexto, a lógica dos ergonomistas
nos dias atuais preconiza a
concepção de sistemas de trabalho
que levem em consideração as
questões das competências dos "Dados da Previdência Social demonstram
trabalhadores, além de processos de que em três anos (2015 a 2017) ocorreram
trabalho que favoreçam a saúde e
segurança dos trabalhadores, assim no Brasil 1.757.410 acidentes de trabalho
como a segurança da operação (AEAT, 2017). (...) Em Portugal, no mesmo
(Abrahão et al. 2009).
Para Iida (2005) muito se conhece período, os dados sobre acidentes de
sobre os problemas e as possíveis trabalho estão na ordem de
soluções da engenharia quanto
às questões de falhas mecânicas e 625.414 (PORDATA, 2019).
materiais do sistema. Pouco se sabe,
porém, muito se atribui à questão
do erro humano ou fator humano
relacionado aos acidentes de
Segurança Comportamental ® 37 ano 10 | número 13| 2020
CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS
exigências da tarefa e a capacidade trabalhadores (Moraes, 2009). Nesse procedimentos no seu ambiente de
de realização humana (Cardoso & contexto, cabe a reflexão sobre trabalho, ou ainda, determinar quais
Gontijo, 2012). As cargas de trabalho o que é confiabilidade humana os valores que são considerados
são definidas como exigências e, não somente, sobre a questão pelo trabalhador quando ele está
ou demandas psicobiológicas do de comportamento humano sob mediado por situações de risco ou
processo de trabalho, provocando, o ponto de vista do que é um por situações nas quais ele está
ao longo prazo, impacto negativo comportamento seguro ou inseguro. oprimido pelo tempo são difíceis de
à saúde do trabalhador (Greco, Confiabilidade humana é o termo serem mensurados ou qualificados
Oliveira & Gomes, 1996 apud Ollay & utilizado na gestão da falha (Barros & Scandelar, 2006).
Kanazawa, 2016). humana, e pode ser conceituado Esse é o ponto exato para explicarmos
A carga de trabalho pode ser como a “probabilidade de uma a relação entre tomada de decisão
classificada segundo (Dejours, 1980 tarefa ser desempenhada com e erro humano. O erro humano
apud Wisner, 1994) em carga física sucesso pelo homem”. Não existem é considerado, genericamente,
e carga mental, conforme o quadro pessoas à prova de falhas, o ser quando uma sequência do processo
n.º 1. humano falha (muito ou pouco) da atividade mental falha na busca
no cumprimento de uma tarefa. do resultado esperado (Guber,
2.2. Confiabilidade Humana A gestão é o desenvolvimento de 1998). De acordo com o autor, na
O ergonomista numa visão mais condições ambientais apropriadas e, relação do homem com a máquina,
moderna orienta-se essencialmente com recursos (materiais e humanos) o equipamento é cada vez mais
em direção à Organização do disponíveis para executá-las (Iida, confiável, enquanto que o fator
Trabalho: quem faz o que e, 1991 apud Barros & Scandelar, 2006). humano continua sendo a questão
como o faz, e ainda, se poderia Os mecanismos estruturais e mentais mais preocupante no que se refere
fazê-lo melhor. Isto implica que levam ao comprometimento do ao acidente de trabalho. Portanto,
menos frequentemente, uma desempenho humano no trabalho se faz necessário que a equipe
modificação do dispositivo técnico é uma das áreas mais complexas de segurança da empresa mude
e, mais usualmente, melhorias dos da ergonomia e outras ciências. o modelo metal de investigação
procedimentos de trabalho, da Compreender os aspectos que levam dos acidentes de trabalho para
atividade e das competências dos as pessoas adotarem determinados um modelo mental que focalize
memória faz parte do processo um comportamento a menos que possibilitaram entender a ergonomia
cognitivo humano, nesse sentido, encontrem oportunidade para fazê- cognitiva e sua relação com o erro
uma etapa cognitiva importante lo. Em segundo lugar, é impossível humano; assim como a importância
para o estudo do comportamento prever quando uma mudança de da inclusão dos fatores humanos
humano, mais especificamente, do comportamento irá acontecer na análise de riscos; o quanto as
comportamento seguro, haja vista a (Borghi, 2008). É por essa razão formações inadequadas de equipes
memória ser a base para o processo que o processo de identificação do dificultam a tomada de decisão por
de aprendizagem (Paula, 2016). perigo e avaliação do risco, pelo parte da gestão da empresa e, por
Nesse contexto, cabe dizer que homem nem sempre é objetivo, ou fim, que as formações adequadas
a aprendizagem é o processo quem sabe racional, mas fortemente são a base para o conhecimento
pelo qual adquirimos novos influenciado por fatores diversos que e a mudança do comportamento
conhecimentos e armazenamos variam de indivíduo para indivíduo, humano. As palavras chave adotadas
na memória de longa duração. O em função de sua estrutura mental. foram “ergonomia cognitiva”, “erro
processo de aprendizagem inicia Essas diferenças individuais na humano”, “confiabilidade humana” e
com uma apresentação verbal avaliação do risco de acidentes, na “comportamento seguro”.
da informação, em que se deve tomada de decisão e habilidades
descrever como realizar a tarefa. executivas frente ao risco, devem IV - CONSIDERAÇÕES
Essa informação é armazenada de ser desenvolvidas e estimuladas FINAIS
forma declarativa. O conhecimento nos processos educativos para que Toda e qualquer empresa deve
é tudo que aprendemos e, portanto, os comportamentos seguros sejam oferecer treinamentos aos
apreendemos, ou seja, sabemos, mais frequentes. trabalhadores que propiciem a
faz parte de nós. Nesse sentido, aquisição de conhecimentos tanto
o conhecimento envolve algum III - MÉTODO declarativos (normas técnicas,
tipo de operação ou uso dessa A pesquisa é do tipo revisão manuais de operação, endereços
informação (Iida, 2005). sistematica de literatura sob a de fornecedores, etc.) como
Para que a aprendizagem possa ser perspectiva de estudo explicativa. operacionais (como projetar, como
considerada uma aprendizagem O período de busca do material fabricar, como controlar a qualidade,
significativa o material aprendido selecionado compreendeu 1994 como distribuir o produto e assim
deve ser relacionável com a a 2019 e, na língua portuguesa. por diante) (Iida, 2005). É importante
estrutura cognitiva do aprendiz, o Nesse sentido, o estudo limitou a que o processo de capacitação, seja
material deve ser potencialmente pesquisa na seleção de 13 livros concebido considerando a natureza
significativo e o aprendiz deve e uma matéria da International da atividade do trabalhador, assim
relacionar o material à sua estrutura Ergonomics Association (2019), a como a adequação ao seu nível
cognitiva. Entenda-se aqui aprendiz fim de apresentar os conceitos e educacional e de experiência
como trabalhador (Aguiar, 2005). aplicações da Ergonomia Cognitiva profissional e os respectivos
Várias barreiras podem ser sob a luz de autores diversos. riscos envolvidos, dessa forma, o
encontradas antes que a Informações sobre acidentes de trabalhador terá mais condições
aprendizagem se traduza realmente trabalho foram coletadas no Anuário de agir, na prática, conforme o que
em mudanças de comportamentos Estatístico de Acidentes do Trabalho foi ensinado. Ao invés da ênfase
observáveis. Primeiramente, os e, na Base de Dados de Portugal; nos conteúdos, pouco efetiva no
trabalhadores não podem mudar as 04 dissertações de mestrado desenvolvimento do trabalhador,
Segurança Comportamental ® 42 ano 10 | número 13 | 2020
os programas de educação em tomada de decisão. Especificamente, Confiabilidade Humana tem como
segurança no trabalho devem ser em se tratando de mapas cognitivos, objetivo capacitar à equipe de
orientados para a construção de conhecidos como mapas mentais, segurança no trabalho a respeito da
uma consciência crítica que permita também, sua utilização deve ser temática Ergonomia Cognitiva, com
ao trabalhador o desenvolvimento sistemática, sendo o conhecimento foco nas questões de Confiabilidade
de sua capacidade de compreender, analítico e não-analítico utilizado Humana, a fim de que a equipe se
criticar e intervir em sua realidade de de forma balanceada para se obter a torne competente e autônoma para
trabalho, transformando-a (Catania, melhor decisão (Barddal, 2016). trabalhar com a problemática em
1999). A fim de facilitar ao leitor, os questão, de forma consciente, critica
Em termos didáticos o treinamento autores do presente artigo e reflexiva junto aos trabalhadores
de tomada de decisão deve ser apresentam para reflexão a da empresa.
essencial, uma vez que propõe proposta de implementação do A formação deve adotar a
um modelo de raciocínio que Programa de Capacitação em metodologia ativa e ser estruturada
integra os processos cognitivos Ergonomia Cognitiva com foco em módulos, além de contar
analíticos e não-analíticos a partir em Confiabilidade Humana – com atividades educativas,
da metacognição. Em se tratando tendo como meta o homem que que podem variar de palestras,
das estratégias educacionais a teoria aprende para ensinar e ensina cursos, mini-cursos, treinamentos,
dos dois sistemas, assim como a para aprender, sustentado por três oficinas, grupos de estudo, até
utilização de Mapas Cognitivos pilares: Capacitação - Criatividade – webconferências e fóruns. A carga
devem ser adotadas por possuir Inovação. horária total está atrelada as
fortes evidências científicas, O Programa de Capacitação em necessidades da empresa.
principalmente nas questões de Ergonomia Cognitiva com foco em A estrutura do Programa de
Observações/Diálogos Preventivos de
Segurança e Saúde no Trabalho (5.ª ed.)
27, 28 e 29 de maio de 2020 | Lisboa | Portugal
+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
Capacitação aprendizagem;
ed., Artes Médicas, Porto Alegre, RS.
Daniellou, F., Simard, M. and Boissieres, I.
3. Seleção de conteúdos ou temas;
em 4. Organização da grade
2010. Fatores Humanos e Organizacionais
da Segurança Industrial: um estado de arte,
Ergonomia programática; Cadernos da Segurança Industrial, ICSI,
5. Definição dos métodos e técnicas Toulouse, França.
Cognitiva com foco de ensino-aprendizagem; Doppler, F. 2007. Trabalho e saúde, in: Falzon,
I
NTRODUÇÃO pessoas por meio da lógica dos jogos, a chamada –
Ganhar pontos, rankings, desafios, feedbacks gamificação. Do aprendizado de idiomas a prática de
instantâneos e títulos de campeão. Já passou exercícios, dos corredores do MIT (Instituto Tecnológico
o tempo em que estes elementos eram de Massachusetts), as reuniões de marketing de grandes
exclusivos dos jogos que utilizávamos para empresas, a gamificação tem sido largamente utilizada
nosso lazer. Hoje, as mais diversas áreas e aprimorada para que possamos realizar tarefas ou
estão adotando a tendência de engajar atividades de forma mais descontraída e prazerosa.
de um público específico (Camilo, que determinada ação ou postura ser suportadas pela implementação
2019). Existem diversas teorias se repita. Em outras palavras, de boas práticas em outros
comportamentais por trás dessa é transformar os treinamentos contextos que há muitas décadas
ferramenta, como a teoria da mais maçantes em algo divertido, já a utilizavam de uma forma ou
diversão (Koster, 2004), que trata, desafiante e compensador para outra para engajar seus membros.
entre outras coisas sobre os aspectos o público-alvo. Em segurança no Sejam os grupos de escuteiros com
da percepção humana relacionados trabalho, o público-alvo são os suas belas insígnias ou a reservada
com a forma de abordagem, assim trabalhadores que participam maçonaria com seus níveis a
como, a recompensa positiva do treinamento. As estratégias serem alcançados. Para iniciar o
(Skinner, 1974), onde um estímulo é de implementação da técnica de seu planejamento de aplicação
dado ao participante para incentivar gamificação nas empresas podem da técnica de gamificação deve
Quadro 1
Elementos essenciais da técnica de gamificação
Elementos Descrição
• Desafio • A existência de desafios é importante para engajar as pessoas pois gera uma sensação de pod-
er vir a ser vitorioso. Um ponto importante neste sentido é usar problemas reais do ambiente
de trabalho, desafiando os profissionais a solucioná-los.
• Risco • Não vamos expor nossos colaboradores a risco de acidentes... Mas bem, a existência do risco
de perder pontos, vidas ou ter que recomeçar o jogo em caso de erro aumenta o entusiasmo,
a atenção e a concentração dos nossos “jogadores”.
• Incerteza • A incerteza está diretamente ligada ao risco. Também podemos chamar esse elemento de
azar, onde se o colaborador escolher a caixa errada, ou abrir o envelope equivocado terá
algum tipo de punição branda, como voltar ao começo do jogo. Ações dessa natureza tornam
a atividade bastante excitante.
• Mistério • Investigação de acidentes ou incidentes fictícios (ou não) com de uma lacuna entre informa-
ções desconhecidas e conhecidas são um estímulo interessante aos trabalhadores.
• Emoção • Estímulos que gerem emoções intensas (seja alegria ou raiva) fazem com que o participante
viva os momentos com mais intensidade, guardando a experiência na memória.
• Ação • Consiste em fazer com que os colaboradores saiam de suas cadeiras e vão “em busca do
objetivo”, em um treinamento sobre ergonomia, por exemplo, fazer com que os trabalhadores
reproduzam os movimentos “certo e errado”, dando mais foco ao movimento corporal certo, ou
ainda, a sempre divertida mimica de segurança.
• Progresso • Uma prática comum em palestras tradicionais são as avaliações para verificação do quanto o
colaborador absorveu do conteúdo. Para muitos trabalhadores, sobretudo para os com menor
escolaridade, esse momento é uma verdadeira tortura. Em processos gamificados a verificação
do progresso é feita de maneira mais dinâmica através de feedbacks instantâneos. Os próprios
colaboradores podem medir ativamente seu desempenho.
• Oportunidade • Aqui temos um importante elemento de valorização dos profissionais. Algo de veras interes-
sante nos treinamentos gamificados é a oportunidade de os colaboradores demonstrarem seu
conhecimento e experiência nas atividades em equipe ou ao enfrentar os desafios.
As origens dessa história, bem como não tivesse ocorrido. Resulta das etapas do processo. Ganha
o conhecimento de quais partes que o procedimento interno da quem conseguir implantar o sistema
são reais e quais são exagero se empresa trazia 32 recomendações primeiro (mas contanto sempre,
perderam com os anos, mas ela de segurança e os trabalhadores além do conhecimento prévio,
exemplifica algo muito importante levantaram um total de 41. Destas com o elemento sorte através de
para nós: o conceito de que ninguém nove novas recomendações, 5 foram cartas de bonos ou reveses o que
conhecera tão bem o posto de incorporadas ao procedimento o torna realmente divertido). Ainda
trabalho quanto o próprio operador. padrão da empresa com o aval seguindo a linha da gamificação
Embora este exemplo não seja da diretoria. Este exemplo mostra temos a utilização dos óculos
propriamente sobre gamificação, o elemento “oportunidade” de realidade virtual, controles
no entanto, mostra a importância da gamificação, ou seja, nos manuais ou consoles, onde o aluno
da participação dos trabalhadores treinamentos, desde que haja é instruído e avaliado inteiramente
para a gestão. A essência da envolvência e colaboração dos num entorno virtual. Esta prática
gamificação é trazer a participação trabalhadores, podem resultar é particularmente interessante
e o conhecimento do colaborador soluções para melhorar o sistema de em capacitações onde o próprio
para o centro da atividade, deixando gestão de segurança. treinamento pode apresentar algum
de ser um mero elemento passivo e Dentro da área de segurança no risco como o caso do treinamento
assumindo o protagonismo que lhe trabalho, outro exemplo de sucesso de operação de máquinas pesadas,
cabe. é o jogo de tabuleiro chamado trabalhos em altura ou utilização
Um exemplo feliz foi a aplicação En Busca del TeISOro Perdido de extintores de incêndio. Três
da gamificação durante um desenhado pela empresa peruana empresas iberoamericanas têm-
treinamento de Operação Segura Ludo Prevención (Pinto, 2016) para se destacado na utilização desta
de Máquinas Agrícolas numa ensinar sobre a norma ISO 45001. ferramenta aplicada a SST, entre
determinada empresa. No lugar Mesmo o tema sendo considerado elas temos a chilena Qualitat (2018)
de descrever as recomendações insipido por muitas pessoas o a argentina InterBrain (Bogotá,
de segurança item por item, foram jogo consegue ser incrivelmente 2019) ou a espanhola Ludus (2017).
apresentados três casos fictícios de divertido e didático. Utilizando um Posso afirmar com propriedade de
acidentes onde os colaboradores, “mapa do tesouro” e dois baralhos causa que o susto que levamos ao
divididos em grupos de 5 pessoas, de cartas onde os colaboradores “cair” durante uma simulação em
deveriam apontar suas próprias devem completar as informações Realidade Virtual são realmente
recomendações para que o acidente ou situar o procedimento dentro instrutivos e parecem bem reais.
+ Informações
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Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
Reais o bastante para acelerar os divertido, mas sim mais interessante. deixar de nos esforçar em buscarmos
batimentos cardíacos e fazer com Afinal de contas, entretenimento respostas mais eficientes para os
que pensemos duas vezes antes com baixo teor de conhecimento novos desafios. Sobre a gamificação,
de subir alguma estrutura sem tampouco nos serve. O processo independente de nossas convicções
utilizar um cinto de segurança ou de gamificação deve contar com pessoais, nos convém seguir o
não cumprindo outras regras de desafios reais e incitadores. Senão conselho que um sábio escreveu
segurança. perde-se a graça. Parece-me que há muito tempo atrás... de que
em geral esse tipo de abordagem "devemos examinar tudo e reter o que
GAMIFICAÇÃO COM A possui uma boa aceitação por parte é bom”.
TECNOLOGIA dos colaboradores, sobretudo no
caso daqueles trabalhadores mais Referências Bibliográficas
Bons resultados também são Livros:
jovens, nascidos a partir dos anos
encontrados do casamento da Busarello, R. I. 2016. Gamification – princípios
90. Por se tratar de uma geração e estratégias. São Paulo, Pimenta Cultural.
gamificação com a tecnologia.
mais conectada e acostumada Camilo, J. 2019. Gestão de pessoas: práticas
Realidade virtual, realidade em treinamento e desenvolvimento, São Paulo,
com o meio digital eles possuem
aumentada, ambientes digitais, Editora Senac.
algumas características diferentes Koster, R. 2004. A theory of fun for game design.
aplicativos, plataformas e uma das gerações anteriores e, por essa Sebastopol, O'Reilly Media.
infinidade de outras tecnologias razão, seu processo de aprendizado Skinner, B. F. 1974. Sobre o behaviorismo. São
maximizam a eficiência dos Paulo, Editora Cultrix
também difere e os ecos da Site web:
treinamentos com a prática num gamificação ressoam mais fundo. Bogotá, D. 2019. Available http://www.
ambiente controlado. Desenvolver interbrainco.com, Mendonza [Accessed 06
January 2020].
treinamentos que estimulem os DESAFIO FINAL Ludus 2017. Available https://www.ludus-vr.
trabalhadores a quererem participar, Estimados colegas, embora nem com, Bilbao [Accessed 06 January 2020].
gerando mais que apenas o Pinto, P. 2016. Available https://
sempre nosso trabalho seja ludoprevencion.com, Lima [Accessed 06
sentimento de “cumprir obrigações”. devidamente priorizado dentro January 2020]
Devemos deixar claro, porém, que das organizações, ele é essencial Qualitat 2018. Available https://www.
qualitatgroup.com, Talcahuano [Accessed 06
o objetivo dessa técnica não é para garantir a segurança dos January 2020].
tornar o processo de aprendizado trabalhadores e nunca devemos
Segurança Comportamental ® 51 ano 10 | número 13| 2020
PROGRAMA DE MELHORIA CONTINUA BASEADO EM GESTÃO
DE COMPORTAMENTOS
BBL (BEHAVIOR BASED LEAN)
Trabalha
dores
Act Plan
Behavior
Based
Cultura
Lean
(BBL)
Do
Check
INSCRIÇÕES
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com:Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e Orientações da
Organização Internacional do Trabalho.
1
. INTRODUÇÃO
A abordagem escolhida, depois de
não tem capacidade, não reconhece as metodologias,
não tem conhecimentos nem capacidade para tal, os
muito refletida, pretende incidir sobre efeitos comportamentais de quem foi assim treinado,
o “quem” prepara e “como” prepara, serão, necessariamente distorcidos e poderão dar uma
treina ou protagoniza comportamentos falsa sensação de segurança e conduzir a perceções
de segurança, no caso vertente, no de risco erradas e por conseguinte a comportamentos
comportamento em emergência. É no inseguros.
treino e nos exercícios que se conhecem, repetem
uma vez, repetem várias vezes consecutivas e se cria o 2. O PLANEAMENTO
hábito seguro. Esta fase da preparação da validação da segurança será,
Se quem treina, conduz a aplicação da instrução prévia, eventualmente, desenvolvida noutra altura, porém será
adequado referi-la, resumidamente, e de Avaliação (ou permanecer A atuação dos elementos da equipa
como “ponte” para a coerência deste com a mesma designação, mas é variável com o tipo / método / base
artigo. Uma equipa de planeamento com conteúdo mais desenvolvido), / ambição/ formalidade / perspetiva
de exercícios é composta por um dirigido à equipa de condução / natureza / finalidade e abrangência
número restrito de elementos. A de exercícios. Esta equipa inclui a do exercício ou exercícios em causa(2),
atividade da equipa de planeamento subequipa de avaliação como muitas das respetivas artificialidades(3) e
começa na solidão do seu futuro outras que correntemente se podem assunções(4). Haverá uma hierarquia
chefe, baseado em diagnósticos de denominar somente de equipas entre os elementos. Onde se
necessidades, perceção e avaliação (para facilitação da exposição). destacam, entre outros:
da ameaça, análise de registos Assim, teremos a integração da
de segurança e das medidas de avaliação na equipa de condução. a. Diretor(5)
autoproteção em vigor e da base Surge em exercícios de grande
estruturante e profunda das 3. A CONDUÇÃO envergadura e relevância (exercícios
primeiras duas Etapas de Conceção A equipa de condução pode ser funcionais “mono” ou multi site,
de um exercício(1) (sem descurar (normalmente é) constituída por exercícios à escala real). Dirige,
as restantes), que vai construindo vários membros da equipa de supervisiona toda a condução do
um plano (o esqueleto; o Plano planeamento. Até convém, pois exercício
do Exercício), e socorrendo-se de terão a picture mais bem definida
pessoas de várias áreas técnicas ou e sem necessidade de explicações b. Controlador
departamentais, podendo evoluir detalhadas. Normalmente um é suficiente para
para a variante de Plano de Controlo exercícios médios, alicerçados
...
(1) Estabelecimento da Base, Desenvolvimento, Condução, Avaliação e Introdução de Medidas Corretivas
(2) Há diferentes tipos/ métodos/ abrangências de exercícios que podem ser feitos ao mesmo tempo, se relacionam e complementam. A
preparação da condução é um must sem falhas, e pode requerer vários meses, e até anos.
(3) Tudo aquilo que se finge ser, existir e que não é verdadeiro, mas que “ajuda” à realização do exercício.
(4) É a forma como as coisas se admitem realizadas e realizáveis. Podem ser consequência de Artificialidades. Um acesso a um espaço
pode estar obstruído. A desobstrução pode demorar horas. “Para efeito do exercício”, e se for esse o Objetivo, se um Elemento Partici-
pante executar determinada tarefa, assume-se que, de repente, todo o trabalho de desobstrução foi feito e é considerado realizado.
(5) Nalguns casos, de âmbito regional ou Distrital, poderá haver a figura, supra de Supervisor, coadjuvado por uma Célula de apoio
(ANEPC_ Portugal)
(6) Eventos sem os quais a sua ausência pode provocar que o exercício ou parte dele perca o sentido e venha a ter de ser substituído/
anulado a sua validade.
(7) Em exercícios de envergadura relevante é frequente a existência de Planos de Comunicações
+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações
Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de
Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
5. MEDIDAS CORRETIVAS equipa faz parte da estrutura da introdução das medidas corretivas,
De pouco serve um exercício se organização. Tal é muito difícil assim como, as lições apreendidas
não houver alterações a tomar, se quando essa equipa faz parte de sejam fundamentais na promoção
não houver lições aprendidas, se uma equipa externa de consultoria. da mudança comportamental em
não houver comportamentos a segurança.
melhorar. Se “tudo correu bem, sem 6. CONCLUSÃO
falhas”, então algo correu mesmo As equipas de avaliação, embora Referências bibliográficas
mal: a primeira etapa da conceção bem-intencionadas, com algum grau Autoridade Nacional de Emergência
de um exercício – estabelecimento e Proteção Civil 2012. Guia de
de amadorismo, sem preparação
Planeamento de Exercícios. Lisboa,
da base; e o primeiro passo do adequada e com comportamentos Autoridade Nacional de Proteção Civil
processo de desenvolvimento – inadequados, tendem a Federal Emergency Management Agency
avaliação das necessidades; foram perder credibilidade, causar 2006. Exercise Design, Washington,
mal analisados e mal estabelecidos. animosidade e a poucas alterações Federal Emergency Management Agency
Um exercício tem de trazer comportamentais poderão ser International Standard ISO
melhorias, pelo menos potenciais contrárias à justa pretensa de 22398:2013. Societal security —
e que só se virão a confirmar como aquisição de mais valias de Guidelines for exercises. Geneva.
tal, num novo exercício, na análise segurança. Em gestão da segurança Marques, G. 2008. Planeamento
diária dos níveis de segurança, na baseada em comportamentos, para Programação, Conceção, Desenvolvimento
análise dos registos de segurança. É que haja mudança comportamental, e Avaliação de Exercícios. Lisboa, Instituto
recomendável que haja uma “equipa Superior de Educação e Ciências
é importante que haja aderência
Marques, G. 2013. Validação de Planos
de seguimento” de introdução de incondicional de quem tem de Segurança. Aveiro. Mare Liberum
medidas corretivas - uma equipa de capacidade e qualidade, podendo NFPA 1600 2010. Standard for Disaster/
pressão e de vigilância constante ser líderes formais ou informais, e Emergency Management Programs
que vá alertando, doutrinando os que seja exercida de forma natural. Phelps, R. 2012. Emergency Managements
trabalhadores de uma organização. Para tal quem prepara tem de ser Exercises. From Response to Recovery.
Tendo por base a minha experiência, muito bem preparado e reconhecido, São Francisco, Chandi Media.
tal é facilitado quando essa considerado, daí que a avaliação e a
OBJETIVOS
- Conhecer os conceitos e princípios sobre BBSH e Safety & Health Coaching.
- Compreender a importância do Safety & Health Coaching na metodologia de Diálogos
Preventivos.
- Conhecer as competências do Safety & Health Coach
- Conhecer as competências do Safety & Health Coachee
- Saber realizar Safety & Health Coaching aplicado os Diálogos Preventivos, do tipo compensatório
e corretivo.
- Saber recolher e interpretar dados sobre as intervenções de Safety & Health Coaching.
- Compreender quais os níveis de maturidade da Cultura de Segurança e Saúde mais ajustados
a implantação do Safety & Health Coaching.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICCO
Capítulo I: BBSH (BEHAVIOR BASED SAFETY & HEALTH)
Capítulo II: ABORDAGENS DE SAFETY & HEALTH COACHING
Capítulo III: ABC E SUA IMPORTÂNCIA PARA A BBSH
Capítulo IV: APLICAÇÃO DE MÉTODOS E TÉCNICAS DE ABORDAGEM
Capítulo V: INDICADORES E REGISTOS
Capítulo VI: MATURIDADE DA CULTURA DE SEGURANÇA & SÁUDE PARA IMPLANTAÇÃO DO
SAFETY & HEALTH COACHING
Organização
INSCRIÇÕES
pARCEIROS
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional
do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.
Ficha Técnica
Diretora-Executiva: Natividade Gomes Augusto (direcao@segurancacomportamental.com). Diretora do Conselho Editorial: Sónia P. Gonçalves (sonia.goncalves@segurancacomportamental.com).
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