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Incremento do âmbito da

propriedade intelectual
da marca “Segurança
Comportamental”, aplicados
a bens e serviços, pelo INPI.
Página 4

Revista Segurança Comportamental | 2020 | Ano 10 | Número 13 | Anual | Distribuição: Gratuita | www.segurancacomportamental.com
Diretora Executiva: Natividade Gomes Augusto | Diretora do Conselho Editorial: Sónia P. Gonçalves |
 Sub-Diretor do Conselho Editorial: César P. Augusto

Utilização Excessiva do Smartphone: Não Recuperação

Aviação: Safety I & Safety II | Construção Civil: Riscos Psicossociais

Confiabilidade Humana e Comportamentos | Gamificação | Emergência e Comportamentos

OBSERVAÇÕES E SAFETY I & SAFETY II CULTURA DE PROGRAMA MELHORIA DOENÇAS ACIDENTES,


DIÁLOGOS Preventivos Fatores e Falhas SEGURANÇA E SAÚDE CONTÍNUA - PROFISSIONAIS - QUASE-ACIDENTES
de Segurança e Saúde Humanas - Análise e Integração do Investigação e -Investigação,
(5.ª ed.) (1.ª ed.) Intervenção (1.ª ed.) Factor Humano Análise (1.ª ed.) Pré-investigação e
(1.ª ed.) Análise (5.ª ed.)
27 a 29 / 05 / 2020 12 e 13 /10 / 2020, 19 e 20 /10 /2020, 26 e 27 /10 / 2020, 16 e 17 / 11/2020, 24 a 17 / 11/ 2020
Página 43 Página 15 Página 51 Página 52 Página 25 Página 58
Revista Segurança Comportamental é parceira da Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA).
Irá apoiar a campanha 2020-2022, sobre
PREVENÇÃO DE LESÕES MUSCULOSQUELÉTICAS
RELACIONADAS COM O TRABALHO

A GENDA 2020
Temos planeado
realizar eventos (in
a prevenção e a strutivos e informa
proteção das lesõ tivos) que apoiam
com o trabalho, e s m us c o-esqueléticas re
através da prom lacionadas
oção da partilha
do conheciment
sobre: o
1) Gestão de diá
logos preventivo
2) Processo de sa s sobre LMERT.
3) Nova abordag fety & health coac
em preventiva à hing.
s LMERT, quando
a maioria das ve
as coisas dão ce zes
4) Crenças e valo rto.
res associados à
s LMERT, para pre
venir hábitos não
saudáveis.
5) Processo de a
nálise de doença
6) Acidentes oco s profissionais.
rridos quando exi
stem movimento
s de torção e de
flexão.
Todos os nossos e
ventos iniciam co
2020-2022 (LMER m a apresentaçã
T). É distribuído o o a campanha
material da cam
o slogan na cam panha. É promovi
panha, nos cartõ do
es, entre outros.
r
Editorial

TEMPOS DE MUDANÇA PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA …

Durante os últimos anos, mais especificamente em 2019, continuamos a acompanhar os desenvolvimentos


da ciência, de ferramentas práticas sobre a gestão da segurança baseada em comportamentos e
fatores humanos. A sociedade moderna caracteriza-se por uma abundância de informação, associada
à sua globalização, num quadro de mudança permanente, imprevisível e turbulenta. São tempos
loucos para o conhecimento prático nas empresas que têm diariamente novos desafios e também
o conhecimento científico que sofre uma alteração profunda, com a progressiva substituição do
determinismo clássico por um paradigma emergente. Não há dúvidas de que o mundo em que vivemos
se tornou mais complexo e interdependente e que esse desenvolvimento continua a acelerar, tanto na
forma de trabalhar como na nossa vida quotidiana. Num mundo complexo, cheio de incertezas diárias
e de variabilidade, as ferramentas de gestão tradicionais tendem a tornam-se obsoletas, é necessário
que os trabalhadores adotem padrões de comportamentos em contexto mais simples, no entanto,
em contextos mais complexos devem estar preparados para serem adaptativos e ajustáveis. Em 2019,
a “Segurança Comportamental” e os seus parceiros estiveram focados em inserir na sua linha de
intervenção esta realidade complexa, otimizando a já existente. Assim, nesta edição surgem temas ultra
inovadores, como exemplo a gestão da segurança baseada na abordagem “safety II” e a “gamificação”
como uma técnica de aprendizagem, de sucesso, aplicada à segurança. Como temas de continuidade
apresentamos o uso “excessivo da tecnologia” e o impacto na saúde do indivíduo. Ainda sobre este
tema, registamos o nosso desagrado com o uso de robots ou drones para auxiliar a gestão da segurança,
como algumas empresas já fazem, já que estes não têm nem identificam emoções e muito menos as
percebem e, não conseguem contextualizar o que observam. Como temos de continuidade temos ainda
o reforço da “ergonomia cognitiva”, dos “riscos psicossociais” e da “emergência e comportamentos”.
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério da Justiça da República Portuguesa autorizou
o alargamento do registo da propriedade intelectual da marca “Segurança Comportamental”, a 7 classes,
que abarcam todo o tipo de consultoria, formação (presencial e on-line), educação, pós-graduações,
eventos, seminários, workshop, congressos, qualquer tipo de publicações (papel e on-line), jogos,
hardware, software, análise comportamental, entre outros. A origem deste facto esteve na necessidade
de maior rigor técnico-científico no mercado, já que a aplicação da mesma tem sido desatualizada,
mas essencialmente deturpada, e por isso sem obtenção de resultados, descredibilizando-a. A marca é
composta por grafismos ou mesmo sem eles, apenas com a expressão. A “Segurança Comportamental”
encontra-se aberta a receber pedidos para contribuição cooperativamente, no mercado.
A parceria com a EU-OSHA (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho) continua a ser
uma das nossas prioridades, tendo já sido apresentada a nossa agenda de participação 2020 para
a próxima campanha sobre a LMERT (Lesões Músculo-Esqueléticas Relacionadas com o Trabalho)
que irá decorrer entre 2020-2022, integrando eventos e publicações instrutivas e informativas.
As nossas intervenções continuarão a estar alinhadas com a Agenda para o desenvolvimento
sustentável das Nações Unidas e Orientações da Organização Internacional do Trabalho.
Para terminar, informamos com muita alegria que a Revista Segurança Comportamental ficará disponível
gratuitamente ao público com o objetivo de apoiar a mudança de mentalidades tão necessária nestes
tempos de mudança… Contamos consigo!

Rosa Bernardo
Vogal do Conselho Editorial da Revista Segurança Comportamental
na especialidade de Saúde Ocupacional.

Segurança Comportamental ® 3 ano 10 | número 13 | 2020


Sumário

07 36
TECNOLOGIAS CONFIABILIDADE HUMANA E
Utilização excessiva do smartphone: COMPORTAMENTOS
implicações para os indivíduos pela Ergonomia cognitiva: confiabilidade
não recuperação. humana e comportamentos seguros.
Sónia P. Gonçalves Reflexão sobre o programa de
capacitação em ergonomia cognitiva
com foco na confiabilidade humana.
Claudia Olläy & Flavio Kanazawa Capa
Representa o cuidado ativo que se
deve ter na emissão e recepção da
12 46 mensagem quando se realizam os
Diálogos de Segurança e Sáude do
AVIAÇÃO GAMIFICAÇÃO Trabalho (DSST).
Fator humano – complementaridade Gamificação como técnica de Existem 4 tipos de DSST:
e independência entre Safety I & aprendizagem em segurança no - Preventivos Instrutivos
Safety II resulta em Safety III. trabalho. - Preventivos Compensatórios
Natividade Gomes Augusto Cláudio César Pontes - Preventivos Corretivos
- Corretivos de Emergência.

23 53
CONSTRUÇÃO CIVIL EMERGÊNCIA E
Riscos psicossociais: estudo de caso COMPORTAMENTOS Incremento do âmbito da propriedade
no setor da construção. Gestão da emergência e mudança intelectual da marca “Segurança
João Sequeira & João Areosa Comportamental”, aplicados a bens e
comportamental. Avaliação de serviços, devido à necessidade de maior
exercícios; Implementação de rigor técnico-científico no mercado.
Foi decidido pelo INPI – Instituto Nacional
medidas corretivas. da Propriedade Industrial, do Ministério da
José Goulão Marques Justiça da República Portuguesa autorizar
o alargamento da propriedade intelectual
da marca “Segurança Comportamental”,
a 7 classes, que abarcam todo o tipo
de consultoria, formação (presencial
e on-line), educação, pós-graduações,
eventos, seminários, workshop, congressos,
qualquer tipo de publicações (papel e
on-line), jogos, hardware, software, análise
comportamental, entre outros. O seu
titular pode obstar a que terceiros, sem
a sua autorização expressa produzem ou
comercializem tais bens ou serviços, e, em
Edição editada segundo o novo acordo certos casos, assegurando que tal conduta
ortografico português, sendo que, textos de possa ser punível em termos criminais.
autores brasileiros encontram-se editados em A marca "Segurança Comportamental" é
português do Brasil. composta por grafismos ou mesmo sem
eles, apenas com a expressão. A “Segurança
Comportamental” encontra-se aberta a
contribuir cooperativamente no mercado.
Assim, se pretender usar a referida marca,
deve submeter o seu pedido para
geral@segurancacomportamental.com.

Segurança Comportamental ® 4 ano 10 | número 13 | 2020


RECOMENDA!
SEGURANÇA COMPORTAMENTAL NA SOCIEDADE

Segurança Comportamental ®
6 ano 10 | número 13 | 2020
TECNOLOGIAS
Sónia P. Gonçalves
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa).
Centro de Investigação e Intervenção Social (CAPP).
Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG).
goncalves.sonia@gmail.com

UTILIZAÇÃO EXCESSIVA DO SMARTPHONE:


IMPLICAÇÕES PARA OS INDIVÍDUOS PELA NÃO
RECUPERAÇÃO

Os smartphones são atualmente equipamentos que fazem parte


do nosso dia-a-dia. A sua utilização está generalizada a nível global
com valores de penetração no mercado superiores a 90%. Apesar
de algumas vantagens, há também desvantagens associadas a
riscos para a saúde, incluindo situações de ansiedade, depressão,
isolamento e burnout; riscos ao nível interpessoal como o aumento
de isolamento e conflitos familiares, entre outros. Em termos de
recuperação não há receitas, cada pessoa deve identificar de que
forma pode recuperar e agir de acordo com essa análise.

O
s smartphones são como telefonar, enviar e receber emails, compras online
atualmente equipamentos e networking social, em qualquer lugar e em qualquer
que fazem parte do nosso hora. Apesar das vantagens de networking e das melhorias
dia-a-dia. A sua utilização está de produtividade provenientes da sua utilização, os
generalizada a nível global smartphones têm sido estudados relativamente ao seu uso
com valores de penetração excessivo e na forma como este fator pode interferir na
no mercado superiores vida dos indivíduos.
a 90% (para uma análise O crescimento exponencial da utilização do smartphone
mais aprofundada sugere-se a leitura dos Global Mobile tem sido, muitas vezes, associada a riscos para a saúde,
Consumer Survey realizados anualmente pela Deloitte). incluindo situações de ansiedade, depressão, isolamento
Os smartphones apresentam inúmeras vantagens, e burnout; riscos ao nível interpessoal como o aumento
possibilitando às pessoas realizar diversas atividades, de isolamento e conflitos familiares; bem como riscos

Segurança Comportamental ® 7 ano 10 | número 13 | 2020


TECNOLOGIAS

associados ao uso do telemóvel


durante a condução, podendo originar
acidentes, entre outros. A utilização
compulsiva do smartphone está a
tornar-se problemática, tendo os
investigadores encontrado sintomas
provenientes da dependência
Os utilizadores excessivos excessiva dos smartphones. Podemos
falar de uma situação de dependência
do smartphone exibem do smartphone quando a utilização
excessiva do smartphone que interfere
sinais como: com a vida diária dos utilizadores.
Como qualquer dependência temos
(1) preocupação com o associados atos repetitivos de falta de
smartphone; controlo que precipitam problemas
pessoais e sociais.
(2) aumento do tempo despendido Alguns estudos revelam dados
preocupantes, 46% dos utilizados
na utilização do smartphone de do smartphone afirmaram que não
“conseguem viver sem o seu telemóvel”
forma a atingir o mesmo nível de (Duggan & Smith, 2015), quando
separados dos mesmos experienciam
satisfação; sentimentos de ansiedade (Cheever
et al., 2014) e sintomas fisiológicos
(3) esforços repetitivos e sem de abstinência (Clayton et al., 2015).
sucesso para controlar, reduzir ou Além disso, muitos indivíduos relatam
terem a sensação de que o seu
parar a utilização; smartphone está a vibrar, mesmo em
situações de ausência de notificações
(4) sentimentos de inquietação (Kruger & Djerf, 2016).
Podemos incluir ainda
quando tentam reduzir a utilização; comportamentos de verificação
automática do telemóvel, visualização
(5) prejudicar relações significantes, do telemóvel imediatamente antes de
adormecer e imediatamente a seguir
empregos ou oportunidades a acordar, programação de alertas
educacionais e de carreira devido ao para verificação de redes sociais
durante a noite, verificação constante
uso do smartphone; de chamadas perdidas, mensagens e
emails, ou durante um encontro de
(6) utilizar o smartphone como amigos ou familiares ninguém trocar
um olhar, mas apenas estarem ligados
forma de aliviar o humor disfónico, ao telemóvel. Quem já esteve num
restaurante e viu famílias completas
como o sentimento de culpa. ao telemóvel? Quando é que vamos
levantar os olhos e ver o que se passa
à nossa volta?
Alguns estudos sobre a utilização
problemática do smartphone
apontam diferenças entre géneros,
nomeadamente que os indivíduos
do sexo feminino têm uma utilização

Segurança Comportamental ® 8 ano 10 | número 13 | 2020


do smartphone mais intensiva do carreiras no século XXI. A persistência uma reação afetiva à exposição
que os indivíduos do sexo masculino do burnout ao longo do tempo e a prolongada de stresse no trabalho,
(Billieux, Van der Linden & Rochat, sua prevalência em todo o mundo isto é, a situações em que as exigências
2008; Sánchez-Martínez & Otero, suporta a ideia de que o burnout do trabalho excedem os recursos
2009; Geser, 2006), e que estão mais reflete um desafio fundamental da adaptativos dos indivíduos (Schaufeli
propensas a experienciar dependência vida profissional (Maslach, Schaufeli & et al., 2009). Desta forma, é importante
em relação ao smartphone (Billieux, Leiter, 2001; Schaufeli, Taris & Rhenen, que os indivíduos ingressem em
Van der Linden & Rochat, 2008; Geser, 2008). Os indivíduos simplesmente experiências de recuperação que
2006; Leung, 2008). Além disso, não ignoram as frustrações no lhes permita distanciar do trabalho.
indivíduos mais jovens revelam maior trabalho, mas ao invés reagem de Os indivíduos têm a necessidade de
utilização e sintomas de dependência uma forma que, posteriormente, se recuperar dos esforços despendidos
do smartphone do que indivíduos reflete na sua energia (exaustão), durante o horário de trabalho, uma
mais velhos (Billieux et al., 2008; envolvimento (despersonalização) vez que a recuperação previne a
Leung, 2008). e eficácia (Leiter, Bakker & Maslach, exaustão e permite estar apto para o
2014). próximo dia de trabalho (Meijman &
NO TRABALHO… Este estado de stresse crónico e Mulder, 1998); Sonnentag, 2003).
Enquanto os smartphones podem intenso é caracterizado pela exaustão As experiências de recuperação
ser utilizados para uma variedade mental e fatiga física, distanciamento referem-se ao processo que potencia a
de propósitos relacionados com o do trabalho e perda de energia. recuperação do stresse experienciado
trabalho (e não-trabalho), uma das Paralelamente, é percecionada como no trabalho (Sonnentag & Geurts,
funções que recebe mais atenção no
que respeita ao trabalho é o e-mail.
O e-mail é, atualmente, o método
principal de comunicação, e a maior
parte dos trabalhadores verificam o seu
e-mail muito frequentemente devido
à quantidade de mensagens que
recebem. Este padrão estende-se ao "Definição de burnout
e-mail no smartphone, o que contribui Exaustão emocional – sentimentos de
para o aumento das exigências
no seu trabalho comunicadas por desgaste e esgotamento dos recursos
e-mail. O uso do e-mail fora das emocionais.
horas de trabalho tornou-se normal
e aceitável para mesmos, isto é, é Despersonalização – adopção de
encarado como parte do seu papel atitudes negativas, frias e distanciadas
enquanto trabalhador. Contudo, esta
normalidade percebida não o previne face ao trabalho.
de se tornar um problema. Redução de realização pessoal
A utilização compulsiva do
smartphone para questões – diminuição de sentimentos de
relacionadas com o trabalho significa competência e eficácia profissional.
estar sempre disponível e nunca
ausente do trabalho. Esta necessidade (Maslach, 1999)
de estar continuadamente a verificar e
a responder a e-mails pode contribuir
para maiores níveis de stresse e até
burnout.
Apesar do conhecimento
considerável acerca da natureza do
burnout no trabalho, as suas causas
e consequências, este continua a ser
considerado como a maior crise de
Segurança Comportamental ® 9 ano 10 | número 13 | 2020
TECNOLOGIAS

2009). As atividades de lazer (e.g., notícias das redes sociais que vamos
ver televisão) manifestem o seu recuperar? Sugestões de leitura:
potencial de recuperação habilitando
experiências específicas, como o Referências Bibliográficas • Cazzulino, F., Burke, R. V., Muller, V.,
afastamento psicológico do trabalho, Duggan, M. & Smith, A. 2015. Social Media Arbogast, H., & Upperman, J. S. 2014.
relaxamento, procura de desafios Update 2013. In https://www.pewresearch.
org/inter net/2013/12/30/social-media- Cell phones and young drivers: a
e controlo sobre as atividades de update-2013/ systematic review regarding the
lazer (Sonnentag & Fritz, 2007). O Cheever, N.A., Rosen, L, Carrier, A. 2014. Out
afastamento psicológico implica o of sight is not out of mind: The impact of
association between psychological
distanciamento mental do trabalho restricting wireless mobile device use on factors and prevention. Traffic
durante o horário fora do trabalho,
anxiety levels among low, moderate and high injury prevention, 15(3), 234-242.
users. Computers in Human Behavior, 37, 290–
enquanto o relaxamento é um estado 297. • Cheever, N. A., Rosen, L. D., Carrier,
caracterizado pela baixa atividade. Kruger, D.J. & Djerf, J.M. 2015. High Ringxiety: L. M., & Chavez, A. 2014. Out of sight
A procura de desafios refere-se aos Attachment Anxiety Predicts Experiences of is not out of mind: The impact of
Phantom Cell Phone Ringing. Cyberpsychol
processos associados com atividades Behav Soc Netw., 19(1), 56-59. restricting wireless mobile device
desafiantes e de aprendizagem. Billieux, J., Van der Linden, M., & Rochat, L. use on anxiety levels among
Por último, o controlo aplica-se 2008. The role of impulsivity in actual and
low, moderate and high users.
aos tempos de lazer referentes à problematic use of the mobile phone. Applied
Cognitive Psychology, 22(9), 1195-1210. Computers in Human Behavior, 37,
autodeterminação em decidir como
despender o tempo livre.
Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter, M. P. 2001. 290-297.
Job burnout. Annual Review of Psychology, 52,
Não há receitas, cada pessoa tem de 397-422. • Clayton, R. B., Leshner, G., & Almond,
investir no seu tempo de não trabalho, Sonnentag, S., & Geurts, S. A. E. 2009. A. 2015. The extended iSelf: The
Methodological issues in recovery research. In impact of iPhone separation
no seu tempo de recuperação, S. Sonnentag, P. Perrewé, & D. Ganster (Eds.),
identificar o que lhe permite Currents perspectives on job-stress recovery (pp. on cognition, emotion, and
recuperar. Termino com uma simples 1–36). Bingley, UK: Emerald. physiology. Journal of Computer‐
questão: será que é com os olhos no Sonnentag, S., & Fritz, C. 2007. The recovery
experience questionnaire: Development
Mediated Communication, 20(2),
telemóvel, a ignorar a vida à nossa and validation of a measure for assessing 119-135.
volta, a receber e-mail constantes recuperation and unwinding from work. Journal • Demirci, K., Akgönül, M., &
do trabalho ou a perdermo-nos em of Occupational Health Psychology, 12, 204– 221.
Akpinar, A. 2015. Relationship of
smartphone use severity with sleep
quality, depression, and anxiety
O termo recovery refere-se ao in university students. Journal of
behavioral addictions, 4(2), 85-92.
processo que desfaz as reações • Fritz, C. & Sonnentag, S.
de tensão causadas por fatores 2005. Recovery, Health, and
stressores do trabalho (Meijman Job performance: effects of
weekend experiences. Journal of
& Mulder, 1998). A recuperação ocorre occupational health psychology, 10
durante os períodos de tempo em que (3), 187-199.
não existem exigências semelhantes às • Lee, Y. K., Chang, C. T., Lin, Y., &
Cheng, Z. H. 2014. The dark side of
exigências impostas pelo trabalho, ou smartphone usage: Psychological
quando novos recursos (e.g., energia ou traits, compulsive behavior and
technostress. Computers in Human
sentimentos de controlo) são criados.
Behavior, 31, 373-383.
Normalmente, a recuperação acontece • Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter,
durante períodos de descanso no trabalho, M. P. 2001. Job burnout. Annual
Review of Psychology, 52, 397-422.
noites livres, fins-de-semana ou férias."

Segurança Comportamental ® 10 ano 10 | número 13 | 2020


SEGURANÇA COMPORTAMENTAL NO TRABALHO

Segurança Comportamental ® 11 | número


número 13 | 2020
Segurança Comportamental ®
ano 10
11 ano 10 | 13 | 2020
AVIAÇÃO

Natividade Gomes Augusto


Socióloga. Pós-graduada em gestão de segurança e saúde no trabalho.
Pós-Graduada em sistemas integrados, qualidade, ambiente, segurança e responsabilidade social.
Especialista em BBS. CEO da PROATIVO, Instituto Português.
direcao@pro-ativo.com

FATOR HUMANO – COMPLEMENTARIDADE E


INDEPENDÊNCIA ENTRE SAFETY I & SAFETY II
RESULTA EM SAFETY III

A abordagem Safety I baseada pela gestão de eventos que dão


errado, tornou-se desadequada nas organizações atuais, mais
complexas, interdependentes e de difícil decomposição. Surge a
abordagem Safety II, que gere a segurança através da avaliação,
investigação e análise de eventos que dão certo. A gestão do fator
humano em Safety I é apresentado como um risco, entretanto,
em Safety II é visto como um recurso necessário para a resiliência
do sistema. A autora realizou um estudo exploratório, durante o
ano de 2019, no setor da aviação, num contexto organizacional
sociotécnico onde são aplicadas as abordagens Safety I & Safety
II. Entre outras conclusões, a variabilidade não esperada no
exercício da atividade é uma realidade, e, as decisões e os ajustes
de sucesso realizados pelos trabalhadores para dar resposta
a essa variabilidade também. Assim, a autora defende que há
necessidade e possibilidade de um equilíbrio complementar,
embora independente, entre a abordagem Safety I & Safety II,
que ela designa por Safety III. No fim do artigo, são identificadas
algumas práticas que concretizam este equilíbrio.

Segurança Comportamental ® 12 ano 10 | número 13 | 2020


I
NTRODUÇÃO pensar a gestão da segurança de o que poderá acontecer (o futuro), e,
Atualmente todo forma diferente e surgem novos planear, executar e monitorizar as
o sistema de pressupostos para a nova abordagem ações.
segurança visiona a de segurança, designada por Safety
segurança como a II ou Diferently Safety ou ainda por PORQUE SURGE A GESTÃO
ausência de eventos Positive Safety. DE SEGURANÇA BASEADA
indesejáveis. O Embora algumas empresas
portuguesas já tenham começado a NA ABORDAGEM “SAFETY
nível de segurança é inversamente
proporcional ao número de adotar esta nova abordagem à gestão II”?
resultados adversos. Assim, diz-se da segurança, desconheço que haja Na atualidade todo o sistema de
que um sistema é seguro se esses publicações em Portugal sobre este segurança nomeadamente, regulador,
resultados ocorrerem raramente ou tema. Assim, pretendo com este artigo gestores, técnicos e trabalhadores
não ocorrerem, ou se o risco for visto iniciar e desenvolver a reflexão entre visionam a segurança como a
como aceitável. A segurança está a ser gestores, profissionais, observadores ausência de eventos indesejáveis,
definida pelo seu oposto, pelo que e investigadores de segurança. O de acidentes, quase-acidentes,
acontece quando ela está ausente, e artigo inicia com a explicação do atos inseguros, ou então, como um
não quando está presente. Esta visão surgimento desta nova abordagem, nível de risco aceitável. Esta visão é
é designada por Safety I, presume apresenta de seguida as diferenças designada por Safety I, presume que
que as coisas dão errado devido a significativas em termos de gestão de as coisas dão errado devido a falhas
falhas ou disfunções identificáveis em segurança. A gestão do fator humano ou disfunções identificáveis em
componentes específicos: tecnologia, em Safety I é apresentado como componentes específicos: tecnologia,
procedimentos, trabalhadores e um risco, principalmente porque é procedimentos, trabalhadores e
as organizações nas quais estão o mais variável dos componentes, as organizações nas quais estão
inseridos. A gestão da segurança sendo um problema a ser resolvido, inseridos. Apresento os pressupostos
baseada nestes pressupostos torna-se entanto em Safety II, é visto como sobre Safety I consideráveis razoáveis,
um tanto inadequada para o mundo um recurso necessário para a nas décadas de 70-80:
atual. flexibilidade e a resiliência do sistema, 1. Os sistemas, locais e postos de
A sociedade moderna caracteriza-se sendo que oferecem soluções trabalho podem ser planeados e
por uma abundância de informação, flexíveis para muitos problemas mantidos corretamente.
associada à sua globalização, num em potencial. Termino referindo 2. Os procedimentos são abrangentes,
quadro de mudança permanente, que a abordagem Safety I e Safety completos e corretos.
imprevisível e turbulenta. São II representam, na minha opinião, 3. Os trabalhadores comportam-se
tempos loucos para o conhecimento duas visões complementares da como planeado e conforme instrução
prático nas empresas que têm segurança, embora independentes, e recebida.
diariamente novos desafios e não duas abordagens incompatíveis 4. Foram previstas todas as
também o conhecimento científico ou conflitantes, como por exemplo contingências e o sistema está com
que sofre uma alteração profunda, apresenta Sidney Dekker (2014). Esta capacidade de recursos e resposta
com a progressiva substituição complementaridade independente apropriados.
do determinismo clássico por um eu designo como abordagem Safety 5. Perante eventos indesejáveis, os
paradigma emergente onde a mais III. Devo admitir que concordo com o sistemas podem decompor-se nas
recentemente “teoria do caos”, é uma autor quando afirma que “a segurança suas partes e assim os profissionais de
nova abordagem à complexidade é uma responsabilidade ética e não uma segurança conseguem compreender
em sistemas dinâmicos. Não há responsabilização burocrática” e eu e gerir as contingências, mesmo
dúvidas de que o mundo em que acrescento detalhada excessivamente aquelas não previstas no planeamento
vivemos se tornou mais complexo em procedimentos. A concretização e procedimentos.
e interdependente e que esse deste equilíbrio complementar, inclui 6. Existe o pressuposto de que os
desenvolvimento continua a acelerar, algumas práticas novas em gestão sistemas possam ser decompostos e
tanto na forma de trabalhar como na de segurança, segundo a abordagem que os componentes de um sistema
nossa vida quotidiana. O grupo de Safety III. Hollnagel & Woods (2009) funcionam de modo bimodal, isto
profissionais de segurança depara-se referem que para controlar e manter é, o seu funcionamento é correto ou
com problema grave da continuidade um ambiente seguro é necessário incorreto.
da ocorrência de eventos indesejáveis. conhecer o que aconteceu (o 7. Se o nível de segurança for perfeito,
Perante esta realidade há que passado), o que acontece (o presente), não existem resultados adversos;

Segurança Comportamental ® 13 ano 10 | número 13 | 2020


AVIAÇÃO

portanto, não há nada a medir. Perante esta realidade há que 4. Com o desenvolvimento, o aumento
8. Reforços à abordagem são pensar a gestão da segurança de da complexidade e variabilidade nos
evidenciados com o facto dos forma diferente e surgem novos sistemas, este pressuposto bimodal,
reguladores e autoridades exigirem pressupostos para a nova abordagem da Safety I, deixa de ser válido, sendo
relatórios detalhados sobre acidentes, de segurança, designada Safety II: aqui os ajustes comportamentais cada
e, o trabalho dos profissionais está 1. Os sistemas são cada vez mais vez mais importantes.
facilitado, com a existência de complexos, mutáveis, impossíveis 5. A variabilidade do sistema, nem
inúmeros modelos que alegam ser de decompor porque as partes são a variabilidade do desempenho
capazes de explicar por que as coisas interdependentes, e, mais intratáveis. humano, serão eliminadas
dão errado. Isso significa que o funcionamento completamente com a padronização
9. Eventos adversos são descritos em de algumas partes do sistema só é nem com os procedimentos.
muitos artigos e livros e debatidos em conhecido em parte ou até totalmente 6. Para que a tecnologia funcione,
congressos, seminários e workshops. desconhecido. as pessoas e organizações devem
A gestão da segurança baseada nestes 2. A mutação acelerada dos sistemas trabalhar de modo a eliminar, reduzir
pressupostos torna-se um tanto conduz que o detalhe das descrições e controlar o excesso de variabilidade.
inadequada para o mundo atual. Não das funções fique incompleto a meio 7. As pessoas não são um problema a
há dúvidas de que o mundo em que ou rapidamente desatualizado. ser resolvido ou padronizado, elas são
vivemos se tornou mais complexo 3. A periodicidade da revisão do a solução adaptável.
e interdependente e que esse trabalho prescrito não acompanha a 8. Há poucos reforços positivos à
desenvolvimento continua a acelerar, velocidade da mudança dos sistemas abordagem Safety I. Em BBS (Behavior
tanto na forma de trabalhar como na organizacionais. A grande maioria das Based Safety), nomeadamente
nossa vida quotidiana. O grupo de empresas faz anualmente a "revisão nas Observações Preventivas de
profissionais de segurança depara-se pela gestão", requisito obrigatório Segurança as orientações são para
com problema grave da continuidade do sistema normativo de gestão (ISO que haja 20 reforços positivos para
da ocorrência de eventos indesejáveis. 9001:2015). 1 reforço negativo. Temos outras

Quadro n.º 1 – Investimento em segurança: custo vs produtividade

Safety I Safety II
Investimento (investimento em segurança = (investimento em segurança = investimento
Acidentes
em segurança custos em produtividade)

=0 Custo desnecessário Desempenho diário ainda será melhorado


(+)
>0 Custo justificado Investimento justificado

=0 Economia justificada Desempenho pode continuar aceitável, mas


não irá melhorar
(-) >0 Falta de sorte ou erro de julga- Erro de julgamento e decisão
mento e decisão

Fonte: Construção própria baseada em Hollnagel, Wears & Braithwaite (2015).

Segurança Comportamental ® 14 ano 10 | número 13 | 2020


Quadro n.º 2 – Abordagens Safety I & Safety II, e, Sistemas Tecnológicos e Sociotécnicos

Variáveis SAFETY I SAFETY II

Tipos • Sistemas tecnológicos • Sistemas sociotécnicos


Estrutura • Simples e tratáveis • Complexa e intratáveis
Detalhes • Certos • Incertos
Trabalho • Planeado • Quotidiano
Decomposição • Facilmente decompostos • Dificilmente decompostos
Compostos • Independentes ou menos interdependentes • Interdependentes
• Os “componentes” do sistema tecnológico • Os componentes humanos e organizacionais são
podem assumir dois estados (bimodais), funcio- de difícil decomposição, assumindo vários tipos
Funções
nando corretamente ou não. de resultados funcionais, sendo por isso variáveis
e flexíveis.
• objetivos definidos com base em falhas do • objetivos definidos com base na resiliência do
Objetivos
sistema sistema
• É atingido e confiável quando o trabalho • É atingido e confiável porque as pessoas são flexí-
Desempenho realizado é idêntico ao trabalho imaginado no veis e adaptáveis à variabilidade, principalmente
planeamento e prescrito nos procedimentos. em sistemas organizacionais complexos.

Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel

SAFETY I & SAFETY II - Fatores Humanos e


Falhas Humanas
Lisboa | 12 e 13 outubro de 2020

+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

Segurança Comportamental ® 15 ano 10 | número 13 | 2020


AVIAÇÃO

técnicas que identificam eventos transportes. “No setor da energia, desenvolvimento continua a acelerar.
desejáveis, ou seja, coisas que deram distinguem-se essencialmente três Embora esta identificação dos setores
certo, como por exemplo as auditorias tipos de infraestruturas: (i) produção e através da legislação me faça sentido,
com as boas práticas, os inquéritos transporte de eletricidade; (ii) produção, a mesma não dispensa a classificação
com perguntas abertas. No entanto, o refinação, tratamento, armazenagem e dos níveis de complexidade estrutural
foco da gestão da segurança (Safety I) transporte de petróleo por oleodutos; e funcional, através de métodos
é o negativo. e (iii) produção, refinação, tratamento, técnico-científicos.
9. Passar da visão que o investimento armazenagem e transporte de gás por
em segurança é um custo para gasodutos e terminais para gás natural MESMO PONTO DE
uma visão que o investimento em estado líquido. Relativamente PARTIDA, GESTÃO
em segurança é investimento em ao setor dos transportes, podemos
produtividade. observar cinco tipos de infraestruturas: DIFERENTE E RESULTADOS
Segundo Hollnagel, Wears & (i) rodoviário; (ii) ferroviário; (iii) aéreo; IGUAIS
Braithwaite (2015), Safety II é a nova (iv) por vias navegáveis interiores; Embora o fenómeno de variabilidade
abordagem de gerir a segurança, e (v) marítimo” (DL n.º 62/2011). no desempenho baseie as duas
no entanto, ela também vai exigir Parece-me que posso afirmar que abordagens, a gestão desse
métodos e técnicas de gestão de os sistemas complexos surgiram, mesmo fenómeno tem diferenças
segurança que possam avaliar, numa primeira fase, da necessidade significativas. Uma delas a abordagem
investigar e analisar os eventos que de mais segurança, mais saúde e do conhecimento, entendimento e
dão certo, no sentido de verificar como resiliência sistémica, ou seja, de “(…) explicação dos eventos ocorridos.
é o seu funcionamento, aceitando uma maior capacidade de intervenção Na abordagem Safety I há crença
e gerindo a sua variabilidade no ao nível da segurança e resiliência” na causalidade, baseada nos
desempenho, através da capacidade (DL n.º 62/2011). Embora esta modelos lineares simples, como a
de ajustes. identificação seja a nível de segurança teoria de dominós (Heinrich, 1931)
Como esta nova abordagem (security), sou de opinião que a ou compostos como o modelo
à segurança ainda é recente, segurança (safety) deva considerar do queijo suíço (Reason, 1990). É
aproximadamente de uma década, esta identificação, para já, pois a perfeitamente razoável assumir-se
atualmente depara-se com diferença é que os fatores agressivos que as consequências (efeitos) são
várias dificuldades e escassez de da primeira são maioritariamente precedidas por causas, no entanto,
conhecimento teórico (conceptuais, oriundos do contexto exterior e é um erro supor que as causas
metodológicos) e prático. os fatores agressivos da segunda possam ser sempre identificadas,
Durante a minha instrução no são maioritariamente oriundos nomeadamente a causa-raiz. Assim,
Gabinete Nacional de Segurança, do contexto interior, sobre o as “causas” são reconstruídas ou
da Presidência do Conselho de mesmo sistema organizacional, inferidas e não encontradas. O próprio
Ministros (2015-2016) apreendi tendencialmente sociotécnico, Reason (1997) afirma que “em nossas
que os sistemas complexos complexo, interdependente e de tentativas atuais, o pêndulo pode ter
organizacionais estão na maioria dos difícil decomposição. Para corroborar oscilado demais para a identificação de
casos associados às infraestruturas esta minha ideia, referencio os possíveis erros e fatores contribuintes
críticas (IC) de uma nação e de um trabalhos na aviação (navegação de acidentes que estão amplamente
continente, identificados através aérea) de Reason, Hollnagel & Paries separados, no tempo e no espaço, dos
do seu “alcance”, “magnitude” e (2006) e na saúde de Hollnagel, Wears eventos em si”.
“efeitos no tempo”. As IC têm funções & Braithwaite (2015), que apresentam Fomentado pela Organização
essenciais para a sociedade cuja a gestão da segurança (safety) Europeia para a Segurança da
disrupção ou destruição teria um segundo a abordagem de Safety Navegação Aérea, designada por
impacto significativo na capacidade II. Apesar de à data de hoje estes Eurocontrol, constitui-se um grupo
de assegurar serviços essenciais “(…) setores identificados funcionarem em de trabalho para rever a teoria do
para a saúde, a segurança e o bem- regime de sistemas organizacionais queijo suíço na análise de acidentes,
-estar económico e social da sociedade complexos sou de opinião de que o próprio J. Reason que fazia parte do
nos sectores da energia e transportes a maioria das organizações irá ter grupo, questionou o uso do modelo
(...)” (DL n.º 62/2011). Subjacente que funcionar, no futuro, com base sob este título provocativo: “O queijo
à identificação e designação de em sistemas mais complexos, tendo suíço já passou da data de validade?”
IC está a abrangência do seu em conta que o mundo em que (Reason, Hollnagel & Paries, 2006, p.1).
âmbito, que, no caso português, vivemos se tornou mais complexo, Os sistemas sociotécnicos cada vez
versa os setores da energia e dos interdependente e que esse mais complicados exigem modelos
Segurança Comportamental ® 16 ano 10 | número 13 | 2020
Quadro n.º 3 – Síntese de Diferenças Significativas entre Safety I & Safety II

SAFETY I SAFETY II

• Definida como a qualidade necessária e • Definida como a qualidade necessária e suficiente


Conceito de suficiente de um sistema para assegurar que o de um sistema para assegurar que o número de
segurança número de eventos indesejáveis seja aceitavel- eventos desejáveis seja progressivamente mais
mente baixo. elevado.
• Evitar que o menor número possível de coisas • Assegurar que o maior número possível de coisas
Foco dê errado. dê certo, baseado no facto que a maioria das
vezes dá sempre certo (veja figura n.º 3).
• Maioritariamente reativo – responder quando • Completamente proativo – procurar “prever de-
algo acontece ou quando é classificado como senvolvimentos e eventos e manter a capacidade de
Princípios um risco inaceitável. adaptação para responder com eficácia às surpresas
inevitáveis" (Finkel, 2011), facilitando o trabalho
quotidiano.
• Identificar e descrever as atividades e tarefas. • Identificar e descrever as atividades.
• Identificar os perigos (falhas e disfunções), ava- • Identificar a variabilidade da função e do desem-
liar o risco e determinar o seu nível. penho diário, avaliar o ajuste aproximado bom.
• Determinar o nível de intervenção adequado. • Determinar o nível de intervenção adequado.
Avaliação
• Criar barreiras para eliminar, reduzir ou controlar • Criar avanços para exponenciar, aumentar ou
os riscos. controlar variabilidade da função e variabilidade
do desempenho quotidiano.

• Ocorrências indesejáveis. • Ocorrências desejáveis.


• Cauda esquerda da distribuição normal (figura • Centro da distribuição normal (figura n.º 2).
n.º 2). • Eventos muito frequentes.
• Eventos raros. • Representam o habitual.
• Muito diferentes do habitual. • Difíceis de observar.
Ocorrências
• Fáceis de observar. • Primazia à frequência.
• Primazia à gravidade. • Fáceis de explicar, gerir e monitorizar.
• Difíceis de explicar. • Utilizar modelos não lineares para identificar as
• Utilizar modelos lineares para identificar os conexões.
efeitos e tentar procurar as causas.
• Investigam-se e analisam-se os acidentes, se- • Investigam-se e analisam-se os pré-acidentes,
gundo modelos lineares. assim como, os acidentes segundo modelos
• A finalidade de uma investigação é identificar não-lineares.
o que deu errado, procurar as falhas e defei- • A finalidade de uma investigação é compreender
tos, identificando os fatores contribuintes e as porque é que coisas geralmente dão certo, servin-
Investigação e
causas, eliminá-las ou introduzir barreiras, de do também como base para explicar porque oca-
análise
forma que não haja repetição, restabelecendo o sionalmente dão errado, e, de seguida impulsionar
trabalho planeado. a sua repetição constante do que deu certo.
• O modo de ocorrência do evento é se há desvio • O modo de ocorrência do evento é se há desvio
ou não do desempenho padronizado e prescrito ou não do desempenho de ajustes à variabilidade
em procedimentos do trabalho.
• Há a aplicação crença na causalidade, baseados • Não há a aplicação da crença na causalidade,
Resultados dos nos modelos lineares simples ou compostos, baseado nos modelos não lineares, onde não
eventos onde há possibilidade de decomposição do há possibilidade de decomposição do sistema e
sistema. Os resultados são “resultantes”. explicação causal. Os resultados são emergentes.
• Dados e indicadores de não segurança, ou seja, • Dados e indicadores de segurança, ou seja, de
de quando há ausência de segurança. quando a segurança está presente.
Medição
• Relação com as manifestações não aceitáveis de • Relação com as manifestações aceitáveis de alta
elevada gravidade. frequência.

Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel.

Segurança Comportamental ® 17 ano 10 | número 13 | 2020


AVIAÇÃO

Figura 1: Mesmo ponto de partida, gestão diferente e resultados iguais

Fonte: Revisão da autora do “Princípio que coisas certas e erradas acontecem de forma diferente, em Safety I; e, de forma igual, em
Safety II”, de Hollnagel, Wears & Braithwaite (2015).

Quadro n.º 4 – Abordagens Safety I & Safety II e Pessoas

Variáveis SAFETY I SAFETY II

• Os seres humanos são vistos predomi- • Os seres humanos são vistos como um
Visão do fa- nantemente como um risco ou perigo, recurso necessário para a flexibilidade e a
tor humano principalmente porque são o mais variá- resiliência do sistema.
vel dos componentes.
Foco • Eles são um problema a ser resolvido. • Eles oferecem soluções flexíveis para mui-
tos problemas em potencial.
Comporta- • Controlo de comportamentos individuais • Compreensão detalhada do comporta-
mento e de grupo. mento de grupo.
• Padronizado conforme prescrito nos • Ajustabilidade razoável eliminando as
procedimentos, na tentativa de eliminar a combinações inesperadas na variabilidade
Desempe-
variabilidade omnipresente no desempe- omnipresente no desempenho quotidiano.
nho
nho que poderá levar a falhas e defeitos.

• Eliminar a variabilidade através da padro- • Gerir a variabilidade, através de ajustes,


nização prescrita do trabalho real. porque as atividades não podem ser deta-
• Disciplina operacional, face ao padrão. lhas ao milímetro devido à complexidade
do sistema.
• Capacidade de ajustes à variabilidade quotidia-
na e "corriqueira".

Fonte: Construção própria baseada nos estudos de Hollnagel, Reason, Paries, Dekker e Finkel.

Segurança Comportamental ® 18 ano 10 | número 13 | 2020


mais completos e poderosos. Durante causa principal (ou mesmo a "raiz") ou que ocorrem retrospetivamente ou
a segunda metade do século XX, o o evento inicial. prospectivamente. Este método segue
foco das iniciativas de segurança 2) Quando, na década de 1990, quatro princípios: a equivalência de
industrial passou dos problemas se percebeu que a visão da "falha falhas e sucessos; o papel central
tecnológicos para os problemas em humana" não era sustentável, há a de ajustes aproximados; a realidade
fatores humanos e, finalmente, para preocupação de procurar como os emergente e a ressonância funcional.
os problemas ligados às organizações fatores ou condições de desempenho Sustentei teoricamente este estudo
e à cultura de segurança. Infelizmente, poderiam "forçar" as pessoas a também através de Kaoru Ishikawa
poucos dos modelos usados para falharem, ou seja, é visto como (1985) com a gestão da qualidade
analisar e explicar acidentes e falhas produto das condições e pressões do total, que serviu para organizar em
se desenvolveram da mesma forma. trabalho. termos metodológicos a observação
Esse foi o principal impulso para o 3) Já neste século, com o em “blocos de trabalho”, para que
desenvolvimento da engenharia desenvolvimento das sociedades todos os componentes da atividade
da resiliência na primeira década e a progressiva complexidades fossem observados.
deste século (Hollnagel, Woods & nas organizações, esta visão O objeto de estudo foi saber quais e
Leveson, 2006). A engenharia da não conseguiria explicar alguns como surgem as decisões e ajustes dos
resiliência, que suporta a abordagem eventos indesejáveis. Isso levou ao trabalhadores, perante a variabilidade
Safety II, reconhece que o mundo reconhecimento, fortemente apoiado na execução de atividade critica,
se tornou mais complexo e que, por pela engenharia da resiliência, de em modo de pressão temporal. A
isso, as explicações para eventos que fracassos e sucessos têm a “atividade critica” é caracterizada
indesejados não podem se limitar mesma fonte: variabilidade (Figura por um nível de risco muito elevado,
a uma compreensão das relações n.º 1). Assume-se aqui que a melhor sendo a probabilidade e a gravidade
de causa e efeito descritas por maneira de fazer as coisas é dar maior elevadas. O “modo de pressão
modelos lineares. Os resultados finais liberdade (Safety II) para que os vários temporal” é caracterizado por pressão
observáveis nos eventos podem, grupos dentro das empresas tomem no exercício da atividade, uma vez
por exemplo, dever-se a condições as suas próprias decisões, em vez do que a operação está parada ou muito
ou fenómenos temporários que uso puro e simples de comandos e condicionada durante a execução
existiram apenas num determinado controlos diretos (Safety I). dessa atividade critica. A paragem da
ponto no tempo e no espaço. A operação acima do tempo previsto,
abordagem Safety II propõe modelos ESTUDO EXPLORATÓRIO: condiciona a sociedade portuguesa,
não lineares para conhecimento, DECISÕES E AJUSTES europeia e mundial. A amostra foi de
entendimento e explicação dos apenas 15% do universo. A observação
eventos. Existem poucos modelos, DOS TRABALHADORES, foi realizada a esta atividade, durante o
no entanto, os que conheço procuram PERANTE A ano de 2019. O tempo de observação
conexões de fenómenos emergentes VARIABILIDADE DE UMA foi marcado pelo tempo de execução
da complexidade do sistema e não ATIVIDADE CRÍTICA, da atividade. O método foi qualitativo,
causas de efeitos. Por questão de EM MODO DE PRESSÃO através da técnica de observação
tamanho de artigo, apresento no não participante, em trabalho dito
quadro n.º 3 uma síntese das que TEMPORAL
"normal". O formulário de registo
considero as principais diferenças Para perceber como esta abordagem
continha os seguintes campos:
significativas entre a Safety I e Safety II. funciona na prática, realizei um estudo
exploratório, durante o ano de 2019, 1. Etapas/funções da atividade desse
no setor da aviação, num contexto local e tempo;
DIFERENÇAS NA GESTÃO organizacional sociotécnico, com 2. Pré-condições (sistema, recursos e
DO FATOR HUMANO sistema normativo implementado, tempo) de inputs das funções;
A compreensão do fator humano com cadeia hierárquica horizontal 3. Possíveis variabilidades de inputs;
na segurança passa por três etapas e trabalhadores altamente 4. Decisões grupais de ajustes perante
(Hollnagel, 2004 & 2012). especializados e instruídos em termos as variabilidades de desempenho;
1) Na visão clássica, o fator humano é de capacidades adaptativas e de 5. Controlos pré-existentes ou criados;
visto como propenso a erros ou como decisão. A base teórica é suportada 6. Variabilidades de outputs de cada
“máquinas” falíveis. Por exemplo, em Erik Hollnagel (2012) através etapa, durante a atividade
o objetivo de uma investigação da FRAM (Functional Resonance 7. Decisões grupais de ajustes perante
de acidente era, frequentemente Analysis Method), sendo um as variabilidades de outputs;
encontrar a "falha humana" que era a método que analisa as atividades 8. Conexões entre etapas e respetivos

Segurança Comportamental ® 19 ano 10 | número 13 | 2020


AVIAÇÃO

Quadro n.º 5 - Variabilidade de atividade critica, em modo de pressão temporal

• Contexto interno • Organizativo.


• Normativo.
• Cultural.
Variabilidade
• Contexto externo • Cenário geográfico.
• Meteorológico.
• Outros de natureza.

Fonte: Próprio estudo exploratório

Quadro n.º 6 - Ajustes dos trabalhadores à variabilidade de atividade critica, em modo de pressão temporal

• Trabalhadores • Conforto, através de menos


fadiga física e mental.
• Segurança e saúde, através de
maior precisão.
• Qualidade na execução da
Ajustes atividade.
• Organização • Confiabilidade para maior resi-
liência de sistema.
• Velocidade com supressão de
resíduos sistémicos.
• Outros de natureza.

Fonte: Próprio estudo exploratório

resultados; limitação de tempo cronológico pela 6) O processo de tomada de decisões


9. Reforços positivos. operação, redução do n.º de efetivos, em grupos com faixa etárias
Após registo, foram esclarecidos repetição da tarefa devido à falha de aproximadas demorou menos tempo.
alguns aspetos com os trabalhadores execução, equipamento de proteção 7) Os ajustes realizados pelos
observados. Foi realizada a individual danificado durante o trabalhadores, face à variabilidade,
análise qualitativa, identificação e trajecto, ferramentas necessárias para focam duas dimensões: trabalhadores
classificação dos dados. Os principias aquela atividade demasiadamente e organização (Quadro n.º 6).
resultados são os seguintes: pesadas, queda de ferramentas, 8) Alta variabilidade e respetivos
1) O trabalho real não correspondeu dificuldade de comunicação entre os ajustes inteligentes que confluem em
totalmente ao trabalho prescrito, no elementos da equipa, mal disposição eventos de sucesso (desejáveis para
entanto, as etapas principais foram de um dos trabalhadores. No contexto a segurança) conduzem a uma maior
seguidas. externo (Quadro n.º 5), a variabilidade satisfação e presença de reforços
2) As pré-condições de inputs de foi identificada pelas seguintes positivos fornecidos por terceiros ou
funções como por exemplo a perturbações: presença de colónia auto-reforço.
limitação do tempo cronológico de vespas e humidade no local de 9) À medida que a limitação de tempo
(pressão temporal) para a execução trabalho exterior. cronológico aumenta, os grupos
da atividade devido a obrigações 4) A variabilidade de saída mais abandonam o cumprimento dos
operacionais, influencia as decisões identificada foi devido à limitação de princípios e regras de segurança, ou
do grupo e os controlos criados. tempo cronológico pela operação, o seja, a resiliência do sistema torna-se
3) Nesta amostra, a variabilidade de que resultou em saídas pontuais, mais mais frágil.
desempenho foca maioritariamente tarde ou outras vezes omitidas. Tendo por base o pouco conhecimento
o contexto organizacional interno 5) Todas as decisões de ajustes à teórico que existe a nível global,
(Quadro n.º 5). Esta variabilidade foi variabilidade foram realizadas em até à data, e este pequeno estudo
notada nas seguintes perturbações: grupo. exploratório parece-me poder
Segurança Comportamental ® 20 ano 10 | número 13 | 2020
defender que haja necessidade de psicologicamente desvalorizamos o práticas novas incluídas nesta ultra-
um equilíbrio complementar, embora que dá certo e a grande maioria do nova abordagem que eu chamo de
independente, entre a abordagem tempo não pensamos nisso. Como as Safety III:
Safety I e Safety II, o que poderei coisas que dão certo são rotineiras, 1. Deve identificar os perigos e avaliar
designar de Safety III. sendo também a sua variabilidade os riscos, mas também conhecer a
no desempenho também rotineira, variabilidade e avaliar a capacidade
COMPLEMENTARIDADE E torna-se mais fácil efetuar a sua de ajustes.
INDEPENDÊNCIA ENTRE gestão. 2. Deve investigar e analisar o que dá
SAFETY I E SAFETY II Assim, segundo Hollnagel, Wears certo, ou seja, os eventos desejáveis,
& Braithwaite (2015) a gestão da e, o que dá errado, ou seja, os eventos
RESULTA EM SAFETY III segurança deve tentar assegurar indesejáveis. Após sustentação da
Suportada pelo pensamento de não só o que "menor número possível investigação e análise dos eventos
Hollnagel, Wears e Braithwaite (2015) de coisas dê errado (1/10000)" como que dão certo, o caminho será a
apresentei a curva de distribuição também que o "maior número possível investigação e análise também dos
normal melhorada de eventos de de coisas dê certo (9999/10000)". eventos que dão muito certo, ou
segurança (Figura n.º 2), na 4.ª edição Assim, é importante enfatizar que seja, os que se desviam ao padrão
do curso “Investigação e análise a abordagem Safety I e Safety II positivamente (Figura n.º 2, parte
de acidentes e quase-acidentes representam atualmente, na minha verde escuro).
de trabalho - falhas humanas”, em opinião, duas visões complementares 3. Aprenda com o que funciona
dezembro de 2019, aos setores dos da segurança, embora independentes, bem, que ajustes são feitos perante
transportes (rodoviário e marítimo), que irão confluir na abordagem aquela situação, no entanto, aprenda
setor das águas, setor da restauração, de Safety III, ou seja, a primeira e a também com o que falha e com os
indústria química, indústria segunda não são duas abordagens defeitos, os seus fatores contribuintes
cimenteira, indústria petrolífera, incompatíveis como defendem e as suas causas.
administração pública local, e, alguns autores (Dekker, 2014) ou 4. Observe e apreenda com o que
serviços. A Figura n.º 3 foca que a outros defendem a transição de uma acontece regularmente. Em vez de
probabilidade de ocorrerem eventos abordagem para a outra (Hollnagel, só analisar em profundidade eventos
desejáveis (coisas que dão certo) é Wears & Braithwaite, 2015). graves e únicos, devemos explorar
muito maior do que a probabilidade A concretização deste equilíbrio extensamente a regularidade dos
de ocorrerem eventos indesejáveis complementar, embora muitos eventos frequentes para
(coisas que dão errado). De facto, independente, abrange algumas entender os padrões de desempenho
Figura 2: Curva de distribuição normal de eventos de segurança, descrita

Fonte: Augusto, N. (2019)

Segurança Comportamental ® 21 ano 10 | número 13 | 2020


AVIAÇÃO

Figura 3: Desproporcionalidade entre o que dá certo e o que dá errado Decreto Lei n.º 62/2011, de 9 de maio -
Estabelece os procedimentos de identificação e
de proteção das infraestruturas essenciais para
a saúde, a segurança e o bem-estar económico
e social da sociedade nos sectores da energia e
transportes e transpõe a Diretiva n.º 2008/114/
CE, do Conselho, de 8 de dezembro
Dekker, S. 2012. Just Culture: Balancing Safety
and Accountability. CRC Press. Taylor & Francis
Group. Reino Unido Abingdon.
Errado Dekker, S. 2014. Safety Differently: Human
Factors for a New Era, 2nd Edition. CRC Press.
Taylor & Francis Group. Reino Unido Abingdon.
Certo Finkel, M. 2011. On Flexibility: Recovery from
Technological and Doctrinal Surprise on the
Battlefield. Stanford, CA: Stanford University
Press.
Heinrich, H. W. 1931. Industrial accident
prevention: A scientific approach. New York:
McGraw-Hill.
Hollnagel, E. 2004. Barriers and accident
prevention. Aldershot, UK: Ashgate.
Hollnagel, E. 2009. The ETTO principle: Efficiency-
Fonte: Hollnagel, Wears & Braithwaite (2015). thoroughness trade-off. Why things that go right
sometimes go wrong. 1st Edition. Farnham,
Reino Unido: Ashgate.
do sistema. Acresce ainda que a da variabilidade no desempenho Hollnagel, E. 2012. FRAM: The Functional
facilidade de observar é maior em quotidiano e a importância dos Resonance Analysis Method. Farnham, Reino
pequenos eventos frequentes. ajustes. Unido: Ashgate.
Hollnagel, E., Braithwaite, J. & Wears, R. L. 2013
5. Em vez de só aprender com Independente do tipo e nível Resilient health care. Farnham, Reino Unido:
eventos segundo a sua gravidade, em que a sua instituição estiver, Ashgate.
devemos aprender com os eventos uma coisa é certa, se não tem um Hollnagel, E., Woods, D. D. e Leveson, N. G. 2006.
segundo sua frequência. Um grande sistema organizacional sociotécnico, Resilience engineering: Concepts and precepts.
Aldershot, Reino Unido: Ashgate.
número de pequenas melhorias no complexo, interdependente, irá ter Hollnagel, E.; Wears, R.L.; Braithwaite, J. 2015.
desempenho quotidiano pode contar no futuro, tendo por base que o From Safety-I to Safety-II: A White Paper.The
mais do que uma grande melhoria no aceleramento e a interdependência Resilient Health Care Net. University of Southern
desempenho excepcional. societal é já uma realidade. Desta Denmark, Dinamarca, University of Florida, EUA,
e Macquarie University, Australia
6. Elabore e mantenha uma visão forma, prepare-se para a mudança Ishikawa, K. 1985. What is total quality control,
geral e abrangente do trabalho, tanto seguindo o ditado “nem tanto ao The Japanese Way, Englewood Cliffs:Prentice
a curto como a longo prazo. Assim mar, nem tanto à terra”, ou seja, “nem Hall
podemos prever e, portanto, prevenir tanto de Safety I, nem tanto de Safety Rasmussen, J. e Svedung, I. 2000. Proactive risk
management in a dynamic society. Karlstad,
o acumular de pequenos problemas II, construa Safety III”. Penso que esta Suécia: Swedish Rescue Services Agency.
ou falhas, realizando pequenos ultra-nova abordagem, Safety III, só Reason J. 1990. Human error. New York:
ajustes para mitigar combinações ficará obsoleta quando uma geração Cambridge University Press; 1990.
de pessoas não tiver lembrança de um Reason, J. T. 1997. Managing the risks of
potencialmente prejudiciais de organizational accidents. Aldershot, Reino
variabilidade no desempenho. único evento indesejável. Até lá estará Unido: Ashgate Publishing Limited.
7. Devem ser atribuídos recursos, entre nós, os gestores e técnicos de Reason, J., Hollnagel, E., & Paries, J. 2006.
segurança! Revisiting the Swiss Cheese Model of Accidents.
especialmente o tempo, para a European Organisation for the Safety of air
reflexão, a troca de experiências Navigation, EUROCONTROL Experimental
e para aprendizagem. Se houver Referências bibliográficas Centre EEC, Note No. 13/06. Bruxelas
Augusto, N. 2019. Curva de distribuição normal Shorrock, S. e Licu, T. 2013. Target culture:
preocupação em demasia em concluir melhorada de eventos de segurança. Evento lessons in unintended consequences. Acedido
uma atividade, um processo, não há Instrutivo Investigação e análise de acidentes e em 09 janeiro 2020, https://humanisticsystems.
tempo para identificar melhorias nos quase-acidentes de trabalho - falhas humanas. com/2013/07/02/target-culture-lessons-in-
ajustes. Lisboa, Proativo, IP unintended-consequences/
Augusto, N. 2012. Programa de Segurança
8. Complemente a identificação e
e Saúde Comportamental. International
determinação de falhas humanas Conference on Health Techonology assessment
como causas dos acidentes com and quality management. Escola Superior de
a compreensão da necessidade Tecnologia da Saúde de Lisboa: Lisboa.

Segurança Comportamental ® 22 ano 10 | número 13 | 2020


CONSTRUÇÃO CIVIL

João Sequeira João Areosa


Gestor do Departamento de Segurança numa empresa de Doutor em Sociologia; Investigador no CICS-NOVA (UNL);
Construção Civil e Obras Públicas; Mestre em Gestão de SST pelo Professor Convidado na ESCE/IPS
Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa. joao.s.areosa@gmail.com
jtmsequeira@gmail.com

RISCOS PSICOSSOCIAIS: ESTUDO DE CASO NO


SETOR DA CONSTRUÇÃO

Os riscos psicossociais relacionados com o trabalho são uma das


grandes ameaças para a saúde e segurança dos trabalhadores
nos dias de hoje. Foi realizado um estudo empírico numa
empresa de construção civil e obras públicas, utilizando o
método FPSICO. Este setor é caracterizado por alto índice de
instabilidade, alta rotatividade, elevado grau de flexibilidade,
precárias condições de trabalho, pressões de trabalho com prazos
apertados, horários alargados, deslocações da sua residência
habitual, entre outros. Os resultados apontam que os fatores de
exposição muito elevada são: carga de trabalho, participação/
supervisão e relações de apoio, e, suporte social. Os fatores
que apresentaram melhores resultados ao nível da exposição
são: tempo de trabalho, autonomia, exigências psicológicas, e,
variedade e conteúdo. As medidas preventivas apresentadas
são no âmbito da “gestão de topo” e no âmbito “organizacional”.

Segurança Comportamental ® 23 ano 10 | número 13 | 2020


CONSTRUÇÃO CIVIL

R
ESUMO pelo Comité dos Altos Responsáveis e em que medida é que os riscos
Os riscos psicossociais da Inspeção do Trabalho em 2012; o psicossociais afetam a segurança
relacionados com o Inquérito Europeu sobre as Condições e a saúde dos trabalhadores numa
trabalho são uma das de Trabalho (realizado pela Eurofound empresa do setor da construção civil?
grandes ameaças para desde 1990), destacando-se o quarto
a saúde e segurança (2005) e quinto (2010) pelo maior RISCOS PSICOSSOCIAIS NOS
dos trabalhadores nos relevo dado à temática; e ainda LOCAIS DE TRABALHO
dias de hoje, em especial para aqueles o Inquérito Europeu às Empresas Segundo a OIT (Organização
que se encontram a laborar numa sobre Riscos Novos e Emergentes Internacional do Trabalho, 2010),
área que apresenta vários fatores (promovido pela AESST em 2009) têm os fatores psicossociais têm sido
desfavoráveis, como é exemplo o setor potenciado esta maior visibilidade reconhecidos como questões
da construção civil e obras públicas. social. Daí que muito se fale nos riscos mundiais que afetam potencialmente
O presente artigo apresenta os psicossociais como riscos emergentes todas as profissões e trabalhadores,
resultados de um estudo empírico (Neto, et al., 2014). em todos os países. O aumento
sobre riscos psicossociais, realizado Segundo (Cockell, 2008), na indústria da flexibilidade, da precariedade
numa empresa de construção civil da construção civil há um alto laboral, a intensificação do trabalho
e obras públicas, constituída por 16 índice de instabilidade, um grande e as relações sociais desestruturadas,
departamentos e 485 trabalhadores. contingente de trabalhadores fazem entrar em jogo algumas
Pretende-se dar a conhecer uma informais, uma alta rotatividade práticas de assédio e intimidação, as
realidade que para quem trabalha no e elevado grau de flexibilidade quais favorecem o aparecimento dos
setor poderá não ser surpreendente, na utilização de mão--de-obra, transtornos psicossociais causados
mas, muitas vezes, será desvalorizada. principalmente entre os operários. A pelo trabalho.
Para avaliar os fatores de riscos todas essas situações ainda acrescem Um organismo espanhol (Instituto
psicossociais utilizou-se método as precárias condições de trabalho, Nacional de Seguridad e Higiene en
FPSICO, desenvolvido pelo Instituto em muitos casos, sub-humanas e el Trabajo, 2012) indica que os fatores
Nacional de Seguridad e Higiene en nocivas à saúde do trabalhador, o de risco psicossociais no trabalho
el Trabajo (INSHT) de Espanha. Este risco constante de acidentes e de se referem às condições que estão
método contém um conjunto de doenças profissionais, a instabilidade presentes numa determinada situação
questões cuja finalidade é identificar de emprego, a provisoriedade e e estão diretamente relacionados
os fatores demográficos e profissionais o constante processo adaptativo com as condições ambientais, com
que levam à exposição ao risco. a novas realidades de trabalho e a organização, procedimentos e
de vida, bem como a crise que se métodos de trabalho, com as relações
INTRODUÇÃO faz sentir neste setor. Por todos os entre os trabalhadores, com o
Os riscos psicossociais têm ganho motivos mencionados, podemos conteúdo do trabalho e das tarefas,
uma centralidade analítica e técnica afirmar que os fatores de risco e podem afetar a saúde psicológica
bastante significativa nas últimas psicossociais são uma regularidade na e fisiológica dos trabalhadores, assim
duas décadas. Em muito se fica a vida dos trabalhadores da construção como o seu desempenho laboral.
dever ao trabalho desenvolvido por civil, sendo, muitas vezes, a causa de Os fatores de risco psicossociais no local
instituições como a Agência Europeia doenças do foro psicológico. de trabalho têm demonstrado causar
para a Segurança e Saúde no Trabalho É pertinente referir que estes um impacto negativo na saúde física,
(AESST) e Fundação Europeia para trabalhadores estão sujeitos pressões mental e social dos trabalhadores
a Melhoria das Condições de Vida e de trabalho, com prazos apertados (Cox, et al., 2010), levando a um
de Trabalho (Eurofound) (Neto, et al., para conclusão das obras, horários aumento da despesa pública, devido
2014). alargados de trabalho, estão por o incremento dos custos nos cuidados
Iniciativas como a campanha “Locais vezes deslocados da sua residência de saúde (Cox, et al., 2010). Dentro da
de Trabalho Seguros e Saudáveis” da habitual e longe das respetivas extensa lista de riscos psicossociais
AESST, a decorrer desde 2000, com famílias. As empresas de construção relacionados ao trabalho o stresse é,
especial ênfase para as iniciativas de encontram-se num mercado de indiscutivelmente, aquele que tem
2002 (Contra o stresse no trabalho, elevada concorrência, onde impera a merecido maior atenção ao longo
trabalhe contra o stresse) e de 2014- lógica da sobrevalorização dos custos das últimas décadas. O burnout
2015 (Locais de trabalho saudáveis ao invés da qualidade de construção e e as múltiplas formas de assédio
contribuem para a gestão do do sentido de serviço ao cliente. são, talvez, os outros dois riscos
stresse); a campanha sobre os riscos Nesta investigação estabeleceu-se mais estudados. Devido à enorme
psicossociais no trabalho promovida como questão de partida: Quais são multiplicidade de riscos psicossociais,

Segurança Comportamental ® 24 ano 10 | número 13 | 2020


iremos apenas destacar estes três ao O burnout é um processo de resposta que seja apenas entendido como
longo deste ponto. ao stresse laboral crónico, em que fruto de personalidades frágeis ou
O stresse pode ser visto como um as principais manifestações são inadaptadas. Esta síndrome tem uma
mecanismo que ajuda a enfrentar a exaustão emocional e física, o relação estreita com a forma como
situações perigosas e predispõe cinismo e a ineficácia profissional, o trabalho está organizado, bem
o sujeito a agir, por vezes, de uma e cujas consequências se refletem como com o tipo de trabalho que é
maneira rápida e resoluta. Esta é negativamente a nível individual, realizado. Nas organizações, o burnout
uma reação sadia (inclusive para familiar, social e profissional (Ribeiro, expressa-se pelo aumento das taxas
a própria sobrevivência); porém, 2012). A síndrome de burnout de absentismo e/ou presentismo, pela
quando a exposição ao stresse é caracteriza-se por um processo diminuição da produtividade ou pelo
excessiva e/ou frequente, apesar de de cansaço emocional que leva abandono do emprego por parte do
estar dependente de características a uma perda de motivação e que trabalhador.
biopsicossociais do sujeito, ela pode pode prosseguir até sentimentos O assédio moral (mobbing)
produzir manifestações psicológicas de intolerância ao trabalho e uma compreende toda e qualquer
de maior gravidade: ansiedade, sensação profunda de fracasso conduta abusiva que se manifesta
descompensações, burnout ou (Areosa, 2017). Em situações limite especialmente por comportamentos,
depressão (Jorge, et al., 2018). No pode até conduzir ao suicídio (Dyrbye palavras, atos, gestos ou escritos que
debate sobre o stresse ocupacional et al., 2010; Areosa; Pinto; Rolo, 2017 possam atingir a personalidade, a
fica subjacente a interação entre cit in Areosa, 2017). dignidade ou a integridade física ou
as condições de trabalho e as Conforme refere Areosa (2017), psíquica da pessoa, pôr em perigo
caraterísticas do trabalhador. Porém, o burnout é um problema social o emprego desta ou degradar o
esta relação só se torna preocupante grave e deve ser tratado como clima de trabalho (Hirigoyen, 2002).
quando as exigências do trabalho uma questão de saúde pública. O Este fenómeno é caracterizado pela
ultrapassam as capacidades do seu impacto nas sociedades, nas humilhação regular do trabalhador.
trabalhador para lidar com essas organizações e na vida das pessoas Ao contrário de outras formas, o
mesmas situações (Jorge, et al., 2018). é suficientemente perigoso para assédio moral não é necessariamente

INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE DOENÇAS PROFISSIONAIS


16 e 17 de novembro 2020 | Lisboa | Portugal

+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas;
Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de Segurança e
Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

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Segurança
SegurançaComportamental
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CONSTRUÇÃO CIVIL

feito de forma brutal, pode ser dado para construir um diagnóstico intuito evolutivo, criando condições
de maneira discreta e caracteriza-se psicossocial numa empresa ou em para monitorizações continuadas,
principalmente pela frequência com áreas parciais da mesma (Instituto o que será útil para a identificação
que acontece, a intencionalidade e Nacional de Seguridad e Higiene en el de necessidades de mudanças na
o abuso exercido sobre o assediado. Trabajo, 2012). organização e na otimização dos
Porém, deve-se ter o cuidado de O Método FPSICO foi desenvolvido recursos humanos e do seu bem-estar
não confundi-lo com mau humor ou pelo Instituto Nacional de Segurança (Neto, et al., 2014). Ele é composto
nervosismo. Por exemplo, se realizado e Higiene no Trabalho de Espanha por quatro instrumentos: uma ficha
uma só vez, não se constitui como (INSHT) com o intuito de favorecer de caracterização das condições
assédio (Heloani, 2004; Garcia; Tolfo, a identificação de fatores de risco prévias, uma ficha de possíveis
2011; Soares; Oliveira, 2012; Bobroff; psicossociais, incluindo características indicadores de efeitos na organização,
Martins, 2013, cit in Morais, et al., sociodemográficas das pessoas e dos um questionário para recolha
2018). postos de trabalho em estudo (Neto, das perceções e características
et al., 2014). Permite obter resultados dos trabalhadores e fichas para a
METODOLOGIA dos trabalhadores de forma planificação de ações preventivas.
Para concretizar os objetivos individual e coletiva, mas a utilização Neste estudo, foi aplicado o
e considerando a abordagem individual é desencorajada, tanto questionário individual a partir da
quantitativa deste estudo optou-se pela natureza interna da utilização definição de fatores psicossociais,
pela utilização do Método de Avaliação do método como pela informação que apresenta questões relativas às
de Fatores Psicossociais (FPSICO). O que se procura (Neto, et al., 2014). Por condições presentes no trabalho,
principal objetivo deste método é o estes motivos, os resultados obtidos à organização e ao conteúdo do
de proporcionar uma ferramenta para foram analisados de forma coletiva, trabalho, que podem afetar tanto o
a identificação e avaliação de fatores garantindo-se também o anonimato normal desenvolvimento do trabalho
risco psicossociais. A aplicação do dos respondentes. como a saúde dos trabalhadores
método fornece assim informação Este método também serve um (Instituto Nacional de Seguridad e

Tabela 1-Critérios para avaliar a probabilidade de risco

Tabela 2-Determinação do nível de exposição

Segurança Comportamental ® 26 ano 10 | número 13 | 2020


Higiene en el Trabajo, 2012). Para
complementar esta escala, é utilizado, Gráfico 1-Distribuição dos trabalhadores em função do sexo
juntamente, um questionário para a
obtenção de dados sociodemográficos
e socioprofissionais dos trabalhadores.
O questionário do Método FPSICO
contempla 44 questões, algumas
delas com vários itens, perfazendo
assim um total de 89 questões. Este
dá-nos a informação acerca de 9
fatores, especificamente:
1. Tempo de trabalho (TT);
2. Carga de Trabalho (CT);
3. Exigências Psicológicas (DP);
4. Autonomia (AU);
5. Conteúdo do trabalho (VC);
Tabela 3-Distribuição dos trabalhadores em função do grupo etário
6. Supervisão/Participação (PS);
7. Desempenho (DR);
8. Interesse pelo trabalhador /
Faixa Etária n Percentagem (%)
compensação (ITC);
9. Relações e apoio/suporte social 16-24 anos 4 2,04
(RAS).
25-34 anos 18 9,18
INTERPRETAÇÃO DE 35-44 anos 83 42,35
RESULTADOS DO MÉTODO 53 27,04
45-54 anos
FPSICO
Para determinar o nível de risco da 55-64 anos 36 18,37
empresa (objetivo final da ferramenta) Mais de 65 anos 2 1,02
a pontuação de cada trabalhador
Total 196 100
em cada fator é transformada num
percentil, para posteriormente
se contabilizar a percentagem de
trabalhadores que se situam em cada Fonte: Questionários aplicados, maio de 2018
uma das categorias estabelecidas
segundo do critério da Tabela 1 empresa portuguesa que exerce a aeroportos);
(Prieto, et al., 2000). Em função das sua principal atividade no setor da - Obras de arte (túneis, viadutos,
percentagens de trabalhadores em construção civil e obras públicas. pontes, etc.);
cada categoria, deve-se verificar a A fundação da empresa remonta à - Obras marítimas e portuárias;
eventual existência de exposição década de 1970. O crescimento da - Obras hidráulicas;
aos fatores de risco psicossociais em organização é acompanhado pela - Construção civil;
estudo (Tabela 1). expansão geográfica, iniciando-se - Requalificação urbana;
O nível de exposição mede a nessa mesma década a atividade nos - Infraestruturas desportivas.
frequência de exposição ao risco, Açores e na Madeira. Atualmente Indústria:
para um risco concreto, e pode ser desenvolve também atividades em - Exploração de pedreiras;
estimado em função dos tempos de Angola, Marrocos, Cabo Verde e - Produção e comercialização de
permanência nas áreas de trabalho Equador. agregados, misturas betuminosas e
(Mendonça, 2013), tal como se pode As atividades desenvolvidas pela betão hidráulico.
observar na Tabela 2. empresa abrangem praticamente Imobiliário
todos os domínios das Obras Públicas - Promoção imobiliária.
CARACTERIZAÇÃO DO e diferentes áreas de negócios, A empresa, em Portugal Continental,
CONTEXTO INSTITUCIONAL nomeadamente: exerce as suas atividades em diversos
ONDE DECORREU A Engenharia e construção: locais do território nacional sendo
INVESTIGAÇÃO - Vias de comunicação terrestres (auto- constituída por uma média de 500
O estudo foi desenvolvido numa estradas, estradas, vias ferroviárias e trabalhadores, distribuídos de acordo

Segurança Comportamental ® 27 ano 10 | número 13 | 2020


CONSTRUÇÃO CIVIL

Tabela 4-Distribuição dos trabalhadores em função do departamento


com os seus principais centros de
produção localizados, nos distritos
de Beja, Coimbra, Évora, Faro, Lisboa,
Departamento n Percentagem (%) Santarém, Setúbal e Viseu.
Administração/Direção 1 0,51
CARACTERIZAÇÃO DA
geral
AMOSTRA
Contabilidade e Finanças 8 4,08 A amostra é constituída por 196
Estudos e Propostas 12 6,12 trabalhadores da empresa em estudo,
sendo que o pedido de preenchimento
Gestão administrativa 1 0,51 do questionário foi requerido aos
central 485 funcionários que trabalham
Gestão de equipamento 17 8,67 em Portugal Continental, obtendo-
Gestão de manutenção 20 10,20 se assim uma taxa de resposta de
cerca de 40%. Para a caraterização
Gestão de Património 0 0,00
desta amostra, descrevem-se as
Gestão de Sistemas 14 7,14 características: sexo (Gráfico 1), idade
Recursos Humanos 3 1,53 (Tabela 3), número médio de horas de
trabalho diárias, departamento afeto
Serviços Jurídicos 5 2,55
e o nível de cansaço antes e depois da
Aprovisionamento 5 2,55 atividade laboral.
Produção 52 26,53 Na empresa em estudo, à qual
Betão 17 8,67 estão vinculados os indivíduos que
compõem a amostra, o número de
Indústria 10 5,10 trabalhadores do sexo masculino
Misturas Betuminosas 3 1,53 é muito superior ao número de
Pedreiras 28 14,29 trabalhadores do sexo feminino.
Relativamente à idade, existe
Total 196 100
nesta amostra predominância
Fonte: Questionários aplicados, maio de 2018
do grupo etário entre os 35 e 44
anos, representando 48,35 % dos
trabalhadores.
Quanto à distribuição da amostra por
Tabela 5-Distribuição de trabalhadores em função das horas diárias de trabalho
departamentos (Tabela 4), veja-se que
cerca de 26,53% pertence à Produção,
sendo o departamento que apresenta
Horas diárias de trabalho n Percentagem (%)
o maior número de trabalhadores na
4 horas 1 0,51 empresa e na amostra. Segue-se o
departamento das Pedreiras com uma
6 horas 1 0,51
percentagem de 14,29% e a Gestão de
7 horas 2 1,02 manutenção com 10,20%.
42 21,43 Por uma questão de simplificação do
8 horas
estudo, optou-se por agregar alguns
9 horas 49 25,00 departamentos, nomeadamente
10 horas 68 34,69 a Direção Geral com a Produção,
a Contabilidade e Finanças com a
11 horas 17 8,67
Gestão Administrativa Central e a
12 horas 15 7,65 Gestão da manutenção com a Gestão
14 horas 2 1,02 do Equipamento. O diretor geral
Total 196 100 tem um grande foco nas obras da
empresa e, portanto, na produção. A
Contabilidade e Finanças com a Gestão
Fonte: Questionários aplicados, maio de 2018 Administrativa Central, por uma
questão de tipologia de trabalho que

Segurança Comportamental ® 28 ano 10 | número 13 | 2020


desempenham e partilha do espaço escala de 0 a 10 (0 representa nada pode ser: adequada (irregularmente),
físico. A Gestão da manutenção com cansado e 10 exausto), a maioria dos melhorável (algumas vezes durante a
a Gestão do Equipamento, dado que trabalhadores, encontra-se abaixo jornada de trabalho e com um período
têm a mesma chefia e o trabalho é do nível 5, representando 72,45% da curto de tempo), risco elevado (várias
sempre em torno dos equipamentos/ amostra. Quanto ao nível de cansaço vezes durante a jornada de trabalho,
máquinas da empresa. depois da jornada de trabalho a maior se bem que com tempos curtos) e
Na amostra recolhida, é de notar percentagem, 70,41%, encontra-se risco muito elevado (várias vezes
que a maioria dos trabalhadores acima do nível 5 traduzindo-se num durante a jornada laboral com tempo
que pertencem aos departamentos nível de cansaço elevado no fim da sua prolongado).
de Produção, Indústria, Betão, atividade laboral. Este resultado vai ao Assim, após a recolha da informação,
Pedreiras e Misturas Betuminosas, encontro daquilo que é preconizado observa-se no gráfico 2, a estimativa
gestão da manutenção e gestão de pelo filósofo (Han, 2015), o qual da “probabilidade de exposição”
equipamento, realizam atividades afirma que vivemos atualmente em para o total da amostra, de modo
operacionais, enquadrando-se nas “sociedades do cansaço”. É conhecido a que se consiga dar resposta a um
categorias profissionais de serventes, que a maioria dos trabalhadores dos principais objetivos gerais deste
pedreiros, encarregados, condutores- exerce a atividade laboral por mais estudo: Avaliar a exposição de riscos
manobradores, motoristas, de 8 horas. Este facto poderá justificar psicossociais nos trabalhadores de
operadores, mecânicos e serralheiros. os resultados obtidos relativamente uma empresa do setor da construção.
Quanto à distribuição dos ao nível de cansaço após jornada de É notório que nos fatores Carga de
trabalhadores em função das horas trabalho. Trabalho, Supervisão/Participação
diárias de trabalho, constata-se que e Relações de Apoio/Suporte Social
mais de metade dos trabalhadores ANÁLISE DOS FATORES DE existe um elevado risco de exposição
laboram 9 a 10 horas diárias, RISCO PSICOSSOCIAIS (percecionado pelos trabalhadores),
representando 59,69% da amostra De acordo com Rodrigues et al. (2013), sendo que a amostra se distribui
(Tabela 5). um dos passos da avaliação de riscos maioritariamente no “risco muito
Retira-se da Tabela 6, no que se refere psicossociais é a estimativa destes elevado” com percentagens de 51 %,
à distribuição de trabalhadores em riscos, sendo que após a recolha da 55% e 50% respetivamente; isto indicia
função do cansaço antes da jornada informação, dever-se-á estimar a que os trabalhadores se encontram
de trabalho, classificada numa “probabilidade de exposição”, que várias vezes expostos a estes fatores

Tabela 6-Distribuição de trabalhadores em função do cansaço antes e depois da jornada de trabalho

Nível de cansaço antes Nível de cansaço


Percentagem
de iniciar a jornada de n depois da jornada n Percentagem (%)
(%)
trabalho de trabalho
0 34 17,35 0 0 0,00
1 22 11,22 1 0 0,00
2 35 17,86 2 18 9,18
3 37 18,88 3 4 2,04
4 14 7,14 4 8 4,08
5 27 13,78 5 28 14,29
6 9 4,59 6 28 14,29
7 7 3,57 7 32 16,33
8 11 5,61 8 46 23,47
9 0 0,00 9 13 6,63
10 0 0,00 10 19 9,69
Total 196 100,00 Total 196 100,00

Fonte: Questionários aplicados, maio de 2018

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CONSTRUÇÃO CIVIL

Gráfico 2-Resumo da exposição para cada um dos nove fatores analisados pelo método FPSICO 4.0.

Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
(Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2017).

de risco, durante a jornada laboral. 2008; Leka et al., 2010), baixos níveis ou enfrentam conflitos interpessoais
Os fatores aqui identificados estão de apoio e estímulo para a resolução e/ou falta de apoio social (AESST,
relacionados com a incapacidade de de problemas e desenvolvimento 2013; Eurofound & EU-OSHA, 2014;
lidar com as exigências da profissão, pessoal; à Supervisão/Participação GilMonte, 2009, 2012; Leka et al., 2003;
ou seja, se uma pessoa sentir que as (Leka et al., 2003; Leka et al., 2008; Leka Leka et al., 2008; Leka et al., 2010).
exigências do trabalho são excessivas et al., 2010); e às Relações de Apoio/ O Gráfico 3 representa o resumo
e que não consegue lidar com elas, Suporte Social os relacionamentos no da exposição aos 9 fatores de risco
tais exigências podem provocar trabalho que podem provocar pressão psicossociais em estudo analisados
stresse, devido: à Carga de Trabalho psicológica quando os trabalhadores pelo método FPSICO, para a variável
(AESST, 2013; Eurofound & EU-OSHA, sofrem discriminação, possuem más independente Sexo, apresentando-
2014; Gil-Monte, 2009; Leka et al., relações com os superiores/colegas e/ se o resultado da soma das situações
Segurança Comportamental ® 30 ano 10 | número 13 | 2020
Adequadas com as Melhoráveis e as Verifica-se que, de uma forma geral, Ao nível da gestão de topo
situações de Risco Elevado com as de quase todos os departamentos têm É importante que antes da aplicação
Risco Muito Elevado. uma maior perceção de exposição de medidas organizacionais, ou seja,
Nos fatores Tempo de Trabalho, aos fatores de risco Relações de medidas preventivas que devem
Autonomia e Relações de Apoio Apoio e Suporte Social, Participação/ ser adotadas/aplicadas diretamente
e Suporte os indivíduos do sexo Supervisão e Carga de Trabalho. aos trabalhadores, exista um
masculino percecionam estar mais Para além destes fatores de risco, envolvimento e preocupação por
expostos aos riscos psicossociais, os departamentos de Gestão de parte dos superiores hierárquicos da
pois apresentam valores mais Sistemas, Gestão da manutenção empresa, em dar os primeiros “passos”
elevados. No caso do sexo feminino, e Gestão de Equipamento e o de no processo de prevenção.
percecionam estar mais expostas Estudos e Propostas, apresentam Assim apresentam-se algumas
aos riscos psicossociais nos fatores também uma maior perceção ao fator medidas que deverão ser tomadas a
Carga de Trabalho, Participação e de risco Interesse pelo Trabalhador/ este nível:
Supervisão, Interesse e Compensação Compensação. . Estabelecer políticas orientadas
pelo Trabalhador e Desempenho, pois para combater os fatores de risco
apresentam valores mais elevados do MEDIDAS DE PREVENÇÃO psicossociais e promover um clima
que o sexo masculino. Para prevenir os efeitos da exposição saudável na empresa, nomeadamente:
Na Tabela 7 apresenta-se o mapa aos fatores de risco psicossociais na - Políticas de coesão das equipas, com
resumo da exposição aos 9 fatores saúde dos trabalhadores caberá à envolvimento dos trabalhadores e das
de risco psicossociais em estudo gestão da empresa implementar as chefias (em todos os níveis);
analisados pelo método FPSICO, medidas de prevenção adequadas, - Política de combate ao stresse;
para a variável independente Setor sendo que no presente caso, estas - Política de combate ao assédio moral
/ Departamento, apresentando-se foram desenvolvidas de acordo com e sexual;
o resultado da soma das situações os resultados obtidos e estão de . Envolvimento de todos os
Adequadas com as Melhoráveis e as acordo com as orientações da AESST trabalhadores nas grandes decisões
situações de Risco Elevado com as de (Agência Europeia para a Segurança e da empresa, através da criação de
Risco Muito Elevado. Saúde no Trabalho, 2013). grupos de trabalho;

Gráfico 3-Análise da exposição aos fatores de risco psicossociais relativamente ao sexo

Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2018, output FPSICO 4.0

Segurança Comportamental ® 31 ano 10 | número 13 | 2020


CONSTRUÇÃO CIVIL

Tabela 7-Mapa de riscos psicossociais: Setor-Departamento afeto / Fator de Risco

Legenda: Tempo de trabalho (TT); Carga de Trabalho (CT); Exigências Psicológicas (DP); Autonomia (AU); Conteúdo do trabalho (VC); Supervisão/
Participação (PS); Desempenho (DR); Interesse pelo trabalhador/compensação (ITC); Relações e apoio/suporte social (RAS).
Fonte: Questionários Aplicados, maio de 2018, output FPSICO 4.0

. Estabelecimento das orientações com o plano de desenvolvimento os centros de produção da empresa,


estratégicas da empresa e divulgação profissional dos trabalhadores; envolvendo todos diretores, gestores
das mesmas a todos os colaboradores; . Implementação de um sistema e chefias;
. Realizar nova avaliação de riscos de avaliação de desempenho, com . Apresentação da situação financeira
psicossociais, devendo ser incluídas objetivos e metas definidas em da empresa e estabelecer objetivos
todas as empresas do grupo. conjunto com os trabalhadores; financeiros a atingir;
Ao nível organizacional . Realização de campanhas . Explorar a possibilidade de
Devem apresentar-se medidas de desenvolvimento pessoal/ disponibilizar consultas de psicologia
transversais à empresa que irão profissional com o levantamento das no trabalho, através da empresa
diminuir a exposição aos fatores de necessidades de formação em todos de serviços externos de saúde ou
risco psicossociais identificados e os departamentos, com elaboração através de parcerias com clínicas
proporcionar melhorias, promovendo e divulgação do plano de formação especializadas de psicologia;
um ambiente de trabalho mais e efetiva implementação conforme . Implementação de um programa
saudável, tais como: cronograma estabelecido; atividades de grupo e de parcerias
. Desenvolvimento de um plano . Formação sobre liderança e gestão estratégicas dispersas por todas as
de gestão de carreiras, alinhado do tempo e de prioridades, em todos áreas geográficas onde a empresa

Segurança Comportamental ® 32 ano 10 | número 13 | 2020


desenvolva atividade (ginásios, áreas valores aceitáveis no que respeita à de São Carlos, 2008.
Coelho, J. A. 2008. Uma introdução à
comerciais, instituições culturais, etc.); perceção da exposição a este fator de
psicologia da saúde ocupacional: prevenção
. Acompanhamento semanal dos risco, e o segundo apresentou valores dos riscos psicossociais no trabalho. Porto :
trabalhadores sinistrados por acidente muito elevados de exposição ao Edições Universidade Fernando Pesso, 2008.
de trabalho ou doença profissional risco, o que está contrário ao estudo 9789896430092.
Cox, T., Leka, S. & Kortum, E. 2010. Psychosocial
com mais de 15 dias de incapacidade efetuado por Silva et al. (2012). risks and work-related stress in developing
temporária absoluta, por um técnico Pretendeu-se com este estudo countries: health impact, priorities, barriers and
da área dos recursos humanos ou do oferecer um singelo contributo solutions. International Journal of Occupational
departamento de segurança. para a identificação dos principais Medicine and Environmental Health. 23, 225–
238.
fatores de risco psicossociais e o seu Han, B-C. 2015. Sociedade do cansaço. São Paulo
CONCLUSÕES grau de exposição, por parte dos : Vozes.
Este estudo apresenta-se como um trabalhadores, numa empresa do Hirigoyen, M-F. 2002. Assédio moral: a violência
pequeno contributo para uma melhor setor da construção civil. Pretendeu-se perversa no cotidiano. Rio de Janeiro : Bertrand
Brasil, 2002.
compreensão da temática dos riscos também apresentar algumas medidas Instituto Nacional de Seguridad e Higiene
psicossociais, constituindo-se como de prevenção que visam a manutenção en el Trabajo. 2012. Factores psicosociales:
uma primeira incursão à avaliação e e a promoção da saúde, da segurança metodología de evaluación. [http://www.insht.
identificação de riscos psicossociais e bem-estar dos trabalhadores, tendo- es/InshtWeb/Contenidos/Documentacion/
NTP/NTP/926a937/926w.pdf ] 2012. 272-13-
no local de trabalho, nomeadamente se definido um plano de ação / plano 015-4.
no contexto de trabalho das empresas de acompanhamento de objetivos a Jorge, I. & Areosa, J. 2018. Stress e trabalho:
do setor da construção civil e obras implementar na empresa, bem como percepções de docentes terapeutas
ocupacionais do Brasil e Portugal. International
públicas. a forma de as controlar e monitorizar.
Journal on Working Conditions. 16, 139-157.
Os fatores de maior risco (exposição Foi elaborado um plano de Mendonça, A. L. 2013. Métodos de avaliação de
muito elevada) foram os seguintes: acompanhamento de implementação riscos: Contributo para a sua aplicação no setor
Carga de Trabalho, Participação/ das medidas propostas com definição da construção civil. [https://sapientia.ualg.pt/
bitstream/10400.1/3670/1/Relat%C3%B3rio_
Supervisão e Relações de apoio e de objetivos a cumprir, devendo Avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20%20
Suporte Social. Os estudos de Silva ser realizada uma nova avaliação Riscos.pdf ] Faro : Universidade do Algarve.
et al. (2012) demonstraram que as de riscos psicossociais, para que se Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2013.
“exigências cognitivas” (Carga de consiga perceber qual o impacto das Morais, A., Ferraz, D. & Areosa, J. 2018.
Relações de trabalho na dinâmica do
Trabalho) são valores críticos; isto vai medidas implementadas na redução capitalismo contemporâneo: uma antecâmara
de encontro com os resultados do dos fatores de risco psicossociais na para o suicídio? Revista TMQ – Techniques,
nosso estudo. Contudo, obtiveram- empresa. Methodologies and Quality. Número especial,
se outros fatores não contemplados 2018, 12-28.
Neto, H., Areosa, J. & Arezes, P. 2014. Manual
por (Silva, et al., 2012), o que vem Referências bibliográficas sobre Riscos Psicossociais no Trabalho. Porto :
demostrar que não se podem fazer AESST. 2007. Expert forecast on emerging Civeri Publishing.
psychosocial risks related to occupational safety
grandes generalizações. and health. Luxemburgo : Office for Official
Organização Internacional do Trabalho. 2010.
Os fatores que apresentaram melhores Riscos emergentes e novas formas de prevenção
Publications of the European Communities, num mundo de trabalho em mudança.
resultados ao nível da exposição 2007. 978-92-9191-140-0. Organização internacional do Trabalho. [Online]
adequada foram: Tempo de Trabalho, Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Abril de 2010. [Citação: 12 de novembro de
Trabalho. 2013. Guia eletrónico para a gestão de
Autonomia, Exigências Psicológicas riscos psicossociais e de stresse. [https://eguides.
2018.] https://www.ilo.org/public/portugue/
region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf.
e Variedade e Conteúdo. Estes osha.europa.eu/stress/PT-PT/] Santiago de 978-989-8076-53-3.
resultados estão, em parte, de acordo Compostela, Espanha : Agência Europeia para a Prieto, G. & Muñiz, J. 2000. Un modelo para
com estudos de Silva et al. (2012), Segurança e Saúde no Trabalho, 2013. 978-92- evaluar la calidad de los tests utilizados en
9240-097-2. España. Papeles del Psicólogo. 77.
onde obtiveram melhores pontuações Areosa, J. 2017. Burnout - Um processo de Rodrigues, A. et al. 2013. Documento de
para os fatores: transparência do desumanização como autodefesa. Revista referência: Atuação dos Industriais no âmbito do
papel laboral desempenhado Segurança. 239, 29-33. SIR (Segurança e Saúde do Trabalho). [https://
Borges, H. & Martins, A. 2004. Migração
(Desempenho), comunidade social no www.dgs.pt/saude-ocupacional/documentos-
e sofrimento psíquico do trabalhador na so/documento_atuacao-dos-industriais-no-
trabalho (Relações de Apoio e Suporte construção civil: uma leitura psicanalítica. ambito-do-sir-pdf.aspx] s.l.: Autoridade para
Social), autoeficácia (Autonomia) e Physis: Revista de Saúde Coletiva. 14, 129-146. as Condições de Trabalho & Direção-Geral de
significado do trabalho (Conteúdo de Cockell, F. F. 2008. Da enxada à colher de Saúde.
pedreiro: trajetórias de vulnerabilidade
Trabalho). Verificando-se a existência social na construção civil. (Tese de
Silva, C. et al. 2012. Questionnaire COPSOQ:
de diferenças para os fatores Portugal e países africanos de língua oficial
doutoramento). [https://repositorio.ufscar. portuguesa. s.l.: Universidade de Aveiro.
Exigências Psicológicas e Relações de br/bitstream/handle/ufscar/3320/1858.
Apoio e Suporte Social, em que no pdf?sequence=1&isAllowed=y] São Paulo :
Engenharia de Produção - Universidade Federal
presente estudo o primeiro obteve
Segurança Comportamental ® 33 ano 10 | número 13 | 2020
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Segurança Comportamental ® 35 ano 10 | número 13 | 2020


CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS

Cláudia Olläy Flávio Kanazawa


Fisioterapeuta do Trabalho e Ergonomista. Doutoranda na Faculdade de Engenheiro Mecânico e, de Segurança do Trabalho. Doutorando na Faculdade
Motricidade Humana (FMH) – Universidade de Lisboa. de Motricidade Humana (FMH) – Universidade de Lisboa.
kanazawafl@uol.com.br kanazawaflavio@uol.com.br

ERGONOMIA COGNITIVA:
CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS
SEGUROS
Reflexão sobre O Programa de Capacitação em
Ergonomia Cognitiva com foco na Confiabilidade
Humana.

Pouco se sabe, porém, muito se atribui à questão do erro humano ou


fator humano relacionado aos acidentes de trabalho. Nesse contexto, a
implementação do “programa de capacitação em ergonomia cognitiva
com foco na confiabilidade humana” é uma das possibilidades para
fazer diferença na mudança de comportamento. Esta pesquisa é do tipo
revisão sistemática de literatura sob a perspectiva de estudo explicativa.
O estudo evidenciou que este programa é viável e favorável à empresa
que deseja prevenir e/ou diminuir os acidentes de trabalho por erro
humano.

I
-
INTRODUÇÃO valores que são considerados pelo trabalhador quando
Os mecanismos estruturais e mentais ele está mediado por situações de risco ou por situações
que levam ao comprometimento do nas quais ele está oprimido pelo tempo são difíceis de
desempenho humano ao trabalho é uma serem mensurados ou qualificados (Barros & Scandelar,
das áreas mais complexas da ergonomia. 2006).
Compreender os aspectos que levam as Para Iida (2005, p. 423), “(...) o erro humano é um
pessoas adotarem determinados comportamentos no ato involuntário que se desvia daquele normal ou
ambiente de trabalho, ou ainda, determinar quais os pretendido. O erro humano está relacionado com o
Segurança Comportamental ® 36 ano 10 | número 13 | 2020
processamento cognitivo humano”. trabalho. As falhas humanas podem o comportamento do trabalhador,
Os fatores técnico, organizacional estar associadas à negligência, sono, haja vista há necessidade de
e humano são os mais comuns alcoolismo e outras deficiências do redução sistemática da ocorrência
no que tange a desencadear o ser humano. Quando se trata de de agravos relacionadas ao trabalho
acidente de trabalho. O acidente de negligência ou desatenção por parte como constante desafio para todos
trabalho advindo do fator humano do trabalhador, não é comum se aqueles que atuam nos sistemas
é comumente apontado, haja vista verificar o que ocorreu anteriormente de saúde, segurança e recursos
a necessidade de rápida resolução ao acidente, ou seja, quais foram às humanos das empresas. Em Portugal,
do problema e, assim, definição decisões anteriormente tomadas no mesmo período, os dados sobre
da responsabilidade. Os acidentes que favoreceram a ocorrência do acidentes de trabalho estão na
de trabalho são as fontes mais acidente. São muitas as variáveis a ordem de 625.414 (PORDATA, 2019).
importantes de agravos à saúde serem investigadas no que refere ao Assim como o Brasil, um número
(Doppler, 2007). conhecimento do trabalhador sobre elevado e que precisa ser revertido
Os fenômenos comportamentais determinado assunto de segurança, rapidamente, também.
relativos à prevenção dos acidentes haja vista cada trabalhador aprender A situação apresentada deixa
têm sido fonte de interesse e de uma determinada maneira. evidente a necessidade das
investimento por parte do governo, Contudo, alguns aspectos são empresas na busca de intervenções
de empresas e de profissionais no inerentes no tocante ao processo para a eliminação ou, pelo menos
que diz respeito à segurança do ensino-aprendizagem, como: a falta a diminuição dos acidentes
trabalho. Profissionais do campo da de instrução e capacitação; o não de trabalho, com isso cresce a
segurança, empresas de prestação entendimento completo das rotinas preocupação em preparar as equipes
de serviços e grandes empresas e procedimentos da empresa; a internas das empresas para ir além
brasileiras têm utilizado o termo tendência de relevar os perigos e da investigação e gerenciamento
“segurança comportamental” para riscos; o manuseio inadequado de dos riscos ocupacionais. A
referir-se ao conjunto de estratégias ferramentas ou materiais por falta preocupação está fortemente ligada
que utilizam para atuar sobre os de informação (Paula, 2016; Iida, ao entendimento da motivação do
comportamentos dos trabalhadores, 2005). fator humano na adoção ou não do
dos grupos e da própria empresa, a Dados da Previdência Social comportamento seguro.
fim de torná-las capazes de prevenir demonstram que em três anos (2015 Por entender a necessidade,
acidentes de trabalho (Aguiar, 2005). a 2017) ocorreram no Brasil 1.757.410 estudiosos da ergonomia buscam
Para Iida (2005, p. 422) “(...) a acidentes de trabalho (AEAT, 2017). elucidar para as empresas o
ergonomia tem uma visão mais Este resultado evidencia o quanto quanto a ergonomia cognitiva
abrangente, pois irá estudar, se faz relevante refletir e agir se desenvolveu nos últimos anos
principalmente, as interações do sobre o processo de análise dos e, assim suas aplicações estão
sistema com o seu usuário”. Nesse acidentes que possuem relação com cada vez mais presentes nas
contexto, a lógica dos ergonomistas
nos dias atuais preconiza a
concepção de sistemas de trabalho
que levem em consideração as
questões das competências dos "Dados da Previdência Social demonstram
trabalhadores, além de processos de que em três anos (2015 a 2017) ocorreram
trabalho que favoreçam a saúde e
segurança dos trabalhadores, assim no Brasil 1.757.410 acidentes de trabalho
como a segurança da operação (AEAT, 2017). (...) Em Portugal, no mesmo
(Abrahão et al. 2009).
Para Iida (2005) muito se conhece período, os dados sobre acidentes de
sobre os problemas e as possíveis trabalho estão na ordem de
soluções da engenharia quanto
às questões de falhas mecânicas e 625.414 (PORDATA, 2019).
materiais do sistema. Pouco se sabe,
porém, muito se atribui à questão
do erro humano ou fator humano
relacionado aos acidentes de
Segurança Comportamental ® 37 ano 10 | número 13| 2020
CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS

em questão emergiu pelo fato


dos autores serem consultores
(...) mudança de foco dos de empresas na área de saúde e
ergonomistas em não mais segurança do trabalho e, professores
de universidade, também. No dia
buscar culpados dos acidentes a dia dos autores se faz presente
do trabalho, ocorreu, o diálogo tanto junto à empresa
como ao trabalhador, e o que mais
principalmente, devido aos insucessos se observa, é o distanciamento entre
na implantação desses sistemas que o tipo de treinamento que precisa
ser realizado pela equipe interna
eram projetados com uma lógica que não ou externa da empresa e, o que
contemplava os processos cognitivos realmente é realizado. Outra questão
é em relação à como o treinamento
envolvidos na ação, e, assim, apresentavam é realizado. Em ambas as situações o
muitas dificuldades na operação do sistema processo de ensino-aprendizagem
fica a desejar.
(Abrahão et al. 2009)." O estudo tem como objetivo
levar o leitor a refletir sobre a
questão da implementação do
Programa de Capacitação em
Ergonomia Cognitiva com foco na
Confiabilidade Humana.
empresas que querem mudar sua que tem levado cada vez menos,
realidade mórbida de doenças e uma modificação do dispositivo II - FUNDAMENTAÇÃO
acidentes de trabalho para uma técnico e, mais costumeiramente, TEÓRICA
prática de condições de trabalho modificação dos procedimentos de 2.1.Ergonomia Cognitiva
saudáveis e seguras, assim como trabalho, da atividade de trabalho e A ergonomia cognitiva não tem
de comportamentos de segurança das competências dos trabalhadores como propósito compreender como
no trabalho. Nesse sentido se faz para realizar a tarefa (Moraes & funciona a cognição humana, mas,
necessário pensar “fora da caixinha” Mont’Alvão, 2009). estudar a relação entre o homem e
e passar a entender a ergonomia Portanto, cabe a reflexão sobre a o trabalho, mediada pela utilização
cognitiva como medida de inovação questão central deste artigo: de artefatos em uma determinada
nas questões do comportamento - A equipe de segurança no trabalho tarefa (Canãs & Waems, 2001 apud
humano. está preparada para atender as Abrahão et al., 2009). Portanto, o
Portanto, a mudança de foco dos demandas das empresas, assim ergonomista visa compreender
ergonomistas em não mais buscar como dos próprios trabalhadores e explicar o tratamento de
culpados dos acidentes do trabalho, no que se refere ao comportamento informações construídas pelos
ocorreu, principalmente, devido aos seguro sob o ponto de vista da trabalhadores num dado contexto
insucessos na implantação desses confiabilidade humana? mediado pelos objetivos e
sistemas que eram projetados com Nesse contexto, a implementação exigências da tarefa. Nesse sentido,
uma lógica que não contemplava os do Programa de Capacitação em a Ergonomia Cognitiva se volta a
processos cognitivos envolvidos na Ergonomia Cognitiva com foco na estudar as questões relacionadas à
ação, e, assim, apresentavam muitas Confiabilidade Humana é uma das carga mental de trabalho, tomada de
dificuldades na operação do sistema possibilidades para fazer diferença decisão, desempenho especializado,
(Abrahão et al. 2009). na mudança de comportamento. O interação homem-computador,
Sob essa nova perspectiva, verifica- trabalhador precisa significar o seu confiabilidade humana, estresse
se que o modelo mental do aprendizado, a fim de apreender profissional e formação (relacionada
ergonomista atualizado, orienta- o que foi gerado na capacitação e, a projetos envolvendo seres
se nas questões da Organização assim, através de comportamentos humanos e sistemas) (International
do Trabalho, em outras palavras, seguros contribuírem para a Ergonomics Association, 2000).
quem faz o que e como o faz, e se prevenção de acidentes de trabalho. A fim de entender a influência da
poderia fazê-lo melhor. Fator esse A motivação inicial para o estudo atividade mental nos estudos da

Segurança Comportamental ® 38 ano 10 | número 13 | 2020


ergonomia cognitiva, é necessário assunto, segue fundamentação adequada. Verificar como o
saber como as informações são sobre o esquema acima: trabalhador utiliza as informações
normalmente processadas e que 1ª. ETAPA: CAPTAÇÃO DA disponíveis para desenvolver uma
fatores auxiliam o funcionamento INFORMAÇÃO representação mental do problema
cognitivo. A reflexão inicial A informação que o trabalhador e, com isso, propor soluções é o
sobre o assunto começa com o recebe precisa ser associada e papel do ergonomista (Abrahão et
entendimento de que a atividade combinada com o conhecimento al., 2009).
mental de trabalho se classifica em previamente armazenado no 4ª. ETAPA: TOMADA DE DECISÃO
trabalho cerebral e processamento cérebro e que deve ser apreendido O processo de tomada de decisão e
cognitivo humano (Kroemer & (Kroemer & Grandjean, 2005). busca de solução está relacionado
Grandjean, 2005): 2ª. ETAPA: RESGATE DA MEMÓRIA com a ação de pensar (raciocínio).
-Trabalho cerebral - é um processo É o processo de armazenamento A tomada de decisão é determinada
de pensamento que exige da informação no cérebro, além de em fração de segundos e para
criatividade. A informação recebida ser responsável pelas operações: tal, a faculdade de percepção ou
precisa ser associada e combinada Codificação - Retenção - Recuperação reconhecimento de formas se dá
com o conhecimento previamente (Iida, 2005; Kroemer & Grandjean, com grande rapidez, no qual o
armazenado no cérebro e que deve 2005). A memória é modulada pelas sistema cognitivo se estabiliza e, é
ser apreendido. Fatores decisivos emoções, pelo nível de consciência possível o reconhecimento imediato
para esse resultado incluem o e pelo estado de humor. Depois de de uma situação ou objeto, e,
conhecimento, a experiência, a percebida e processada, apenas uma encontrar a solução (Lévy, 2004).
agilidade mental e a habilidade de parte da informação é armazenada Após a compreensão sobre atividade
pensar e formular novas ideias. na memória (Iida & Guimarães, mental de trabalho, cabe nesse
- Processamento cognitivo humano 2016; Kroemer & Grandjean, 2005; momento, explicar a respeito de
- é o processo que permite a Daniellou, Simard & Boissiéres, carga mental de trabalho, haja vista
transmissão da informação ou 2010). ambos os assuntos terem relação
comunicação, desde a fonte 3ª. ETAPA: RESOLUÇÃO DE direta com ergonomia cognitiva. O
até um receptor, para tanto é PROBLEMAS conceito de carga mental de trabalho
necessário haver um meio para a sua É um processo que engloba a é originado de carga de trabalho,
propagação, conforme figura 1: análise dos elementos do problema sendo esta última uma denominação
Para melhor compreensão do e a busca pela estratégia mais para caracterizar a interação entre as

Figura 1 – Processo cognitivo humano.

Legenda: Memória de curta duração – MCD. Memória de longa duração - MLD


Fonte: os autores.

Segurança Comportamental ® 39 ano 10 | número 13| 2020


CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS

exigências da tarefa e a capacidade trabalhadores (Moraes, 2009). Nesse procedimentos no seu ambiente de
de realização humana (Cardoso & contexto, cabe a reflexão sobre trabalho, ou ainda, determinar quais
Gontijo, 2012). As cargas de trabalho o que é confiabilidade humana os valores que são considerados
são definidas como exigências e, não somente, sobre a questão pelo trabalhador quando ele está
ou demandas psicobiológicas do de comportamento humano sob mediado por situações de risco ou
processo de trabalho, provocando, o ponto de vista do que é um por situações nas quais ele está
ao longo prazo, impacto negativo comportamento seguro ou inseguro. oprimido pelo tempo são difíceis de
à saúde do trabalhador (Greco, Confiabilidade humana é o termo serem mensurados ou qualificados
Oliveira & Gomes, 1996 apud Ollay & utilizado na gestão da falha (Barros & Scandelar, 2006).
Kanazawa, 2016). humana, e pode ser conceituado Esse é o ponto exato para explicarmos
A carga de trabalho pode ser como a “probabilidade de uma a relação entre tomada de decisão
classificada segundo (Dejours, 1980 tarefa ser desempenhada com e erro humano. O erro humano
apud Wisner, 1994) em carga física sucesso pelo homem”. Não existem é considerado, genericamente,
e carga mental, conforme o quadro pessoas à prova de falhas, o ser quando uma sequência do processo
n.º 1. humano falha (muito ou pouco) da atividade mental falha na busca
no cumprimento de uma tarefa. do resultado esperado (Guber,
2.2. Confiabilidade Humana A gestão é o desenvolvimento de 1998). De acordo com o autor, na
O ergonomista numa visão mais condições ambientais apropriadas e, relação do homem com a máquina,
moderna orienta-se essencialmente com recursos (materiais e humanos) o equipamento é cada vez mais
em direção à Organização do disponíveis para executá-las (Iida, confiável, enquanto que o fator
Trabalho: quem faz o que e, 1991 apud Barros & Scandelar, 2006). humano continua sendo a questão
como o faz, e ainda, se poderia Os mecanismos estruturais e mentais mais preocupante no que se refere
fazê-lo melhor. Isto implica que levam ao comprometimento do ao acidente de trabalho. Portanto,
menos frequentemente, uma desempenho humano no trabalho se faz necessário que a equipe
modificação do dispositivo técnico é uma das áreas mais complexas de segurança da empresa mude
e, mais usualmente, melhorias dos da ergonomia e outras ciências. o modelo metal de investigação
procedimentos de trabalho, da Compreender os aspectos que levam dos acidentes de trabalho para
atividade e das competências dos as pessoas adotarem determinados um modelo mental que focalize

Quadro n.º 1 – Classificação da carga de trabalho

a) Carga Física a.1) Esforço físico


b) Carga Mental b.1) Esforço mental b.1.1) Carga psíquica:
sentimentos e emoções.
b.1.2) Carga cognitiva:
memória, raciocínio e
decisões.

Quadro n.º 2 – Classificação de erros humanos

Erros de Percepção - Falha em perceber um sinal e identificação incor-


reta de uma informação.
Erros de Decisão - Erros de lógica, avaliações incorretas e escolha de
opções erradas.
Erros de Ação - Movimento incorreto, posicionamento errado,
troca de controle, força insuficiente e demora na
ação.

Fonte para Quadro n.º 1 e Quadro n.º 2: Dados da Pesquisa

Segurança Comportamental ® 40 ano 10 | número 13 | 2020


Quadro n.º 3 – Erro humano e condições de trabalho

Falta de Treinamento Estresse Má Iluminação


Instruções Erradas Monotonia Organização Inade-
quada do Trabalho
Fadiga Posto de Trabalho dentre outras
Deficiente

Fonte: Dados da Pesquisa

as questões que motivaram o mudança, é necessário identificar obtém a redução da probabilidade


trabalhador a provocar o erro e, as variáveis que contribuem para do evento ocorrer, é possível dizer
assim o acidente de trabalho. o comportamento, criando assim, que esse indivíduo mudou seu
Para Iida (2005) a classificação de condições para que as mesmas comportamento (Aguiar, 2005).
erros humanos ocorre em três tipos sejam reorganizadas, alterando o
de situações: erros de percepção, resultado desse comportamento 2.3. Treinamento eficaz
erros de decisão e erros de ação, (Botomé, 2001). Para Iida (2005), os treinamentos
conforme quadro n.º2. Para a segurança no trabalho, o são atividades que proporcionam o
O autor refere ainda, que o erro comportamento ideal é aquele enriquecimento da memória a partir
humano pode ser agravado por que possui como resultado a não do conhecimento operacional.
condição de trabalho com as ocorrência de doenças e acidentes Dessa forma, um treinamento sobre
características expressas no quadro de trabalho. Partindo desse princípio a execução da tarefa faz com que
n.º 3. um comportamento preventivo é o conhecimento operacional seja
A temática confiabilidade humana, aquele que resulta na identificação internalizado, e assim, assimilado
tomada de decisão e erro humano do perigo, avaliação do risco, assim pelo trabalhador, podendo ser
possui relação com a questão da como na tomada decisória correta realizado de forma individual e
mudança de comportamento. por parte do trabalhador frente a sistematizada. Segundo o autor, em
Portanto, cabe nesse ponto do situações de trabalho. relação ao conteúdo do treinamento,
artigo a seguinte questão relativa à Quase sempre, as organizações deve haver preocupação para que
prevenção de acidentes de trabalho: estão utilizando vários tipos de proporcione uma aprendizagem
- O que significa mudar mudanças de comportamento ao significativa, portanto, o conteúdo
comportamentos? É estabelecer mesmo tempo em seus programas pode ser dividido nas categorias
controles, sistemáticas, criar de treinamento. Ao desenvolverem de conhecimento e habilidades,
conteúdo para treinamento que habilidades nas pessoas, também, conforme quadro n.º4.
mude os comportamentos das estão transmitindo informações e Para a Ergonomia Cognitiva o centro
pessoas? (Paula, 2016). incentivando o desenvolvimento da abordagem é o trabalhador que é
Na mudança de comportamento de atitudes e de conceitos, definido como sendo um especialista
o que é esperado é a capacidade simultaneamente. A mudança de que processa conhecimentos
do trabalhador em fazer sínteses comportamento em segurança específicos, mas, sobretudo,
comportamentais, isto é, reorganizar pode ser entendida como alteração conhecimentos operacionais para
as relações que, estabelecidas naquilo que o trabalhador executar certo grupo de tarefas
entre as variáveis, compõem o consegue produzir na interação no contexto de uma determinada
comportamento de forma a modificar com o meio. Se o indivíduo obtém, atividade operacional (Barros &
o resultado de seu trabalho. No alta probabilidade de ocorrer um Scandelar, 2006).
entanto, para que seja possível esta acidente e, no momento seguinte, Como dito anteriormente, a

Segurança Comportamental ® 41 ano 10 | número 13| 2020


CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS

Quadro n.º 4 – Conteúdos dos treinamentos em relação à ergonomia cognitiva

Conhecimentos - Ampliar a memória declarativa.

Habilidades - Ampliar a memória operacional.

Fonte: Dados da Pesquisa

memória faz parte do processo um comportamento a menos que possibilitaram entender a ergonomia
cognitivo humano, nesse sentido, encontrem oportunidade para fazê- cognitiva e sua relação com o erro
uma etapa cognitiva importante lo. Em segundo lugar, é impossível humano; assim como a importância
para o estudo do comportamento prever quando uma mudança de da inclusão dos fatores humanos
humano, mais especificamente, do comportamento irá acontecer na análise de riscos; o quanto as
comportamento seguro, haja vista a (Borghi, 2008). É por essa razão formações inadequadas de equipes
memória ser a base para o processo que o processo de identificação do dificultam a tomada de decisão por
de aprendizagem (Paula, 2016). perigo e avaliação do risco, pelo parte da gestão da empresa e, por
Nesse contexto, cabe dizer que homem nem sempre é objetivo, ou fim, que as formações adequadas
a aprendizagem é o processo quem sabe racional, mas fortemente são a base para o conhecimento
pelo qual adquirimos novos influenciado por fatores diversos que e a mudança do comportamento
conhecimentos e armazenamos variam de indivíduo para indivíduo, humano. As palavras chave adotadas
na memória de longa duração. O em função de sua estrutura mental. foram “ergonomia cognitiva”, “erro
processo de aprendizagem inicia Essas diferenças individuais na humano”, “confiabilidade humana” e
com uma apresentação verbal avaliação do risco de acidentes, na “comportamento seguro”.
da informação, em que se deve tomada de decisão e habilidades
descrever como realizar a tarefa. executivas frente ao risco, devem IV - CONSIDERAÇÕES
Essa informação é armazenada de ser desenvolvidas e estimuladas FINAIS
forma declarativa. O conhecimento nos processos educativos para que Toda e qualquer empresa deve
é tudo que aprendemos e, portanto, os comportamentos seguros sejam oferecer treinamentos aos
apreendemos, ou seja, sabemos, mais frequentes. trabalhadores que propiciem a
faz parte de nós. Nesse sentido, aquisição de conhecimentos tanto
o conhecimento envolve algum III - MÉTODO declarativos (normas técnicas,
tipo de operação ou uso dessa A pesquisa é do tipo revisão manuais de operação, endereços
informação (Iida, 2005). sistematica de literatura sob a de fornecedores, etc.) como
Para que a aprendizagem possa ser perspectiva de estudo explicativa. operacionais (como projetar, como
considerada uma aprendizagem O período de busca do material fabricar, como controlar a qualidade,
significativa o material aprendido selecionado compreendeu 1994 como distribuir o produto e assim
deve ser relacionável com a a 2019 e, na língua portuguesa. por diante) (Iida, 2005). É importante
estrutura cognitiva do aprendiz, o Nesse sentido, o estudo limitou a que o processo de capacitação, seja
material deve ser potencialmente pesquisa na seleção de 13 livros concebido considerando a natureza
significativo e o aprendiz deve e uma matéria da International da atividade do trabalhador, assim
relacionar o material à sua estrutura Ergonomics Association (2019), a como a adequação ao seu nível
cognitiva. Entenda-se aqui aprendiz fim de apresentar os conceitos e educacional e de experiência
como trabalhador (Aguiar, 2005). aplicações da Ergonomia Cognitiva profissional e os respectivos
Várias barreiras podem ser sob a luz de autores diversos. riscos envolvidos, dessa forma, o
encontradas antes que a Informações sobre acidentes de trabalhador terá mais condições
aprendizagem se traduza realmente trabalho foram coletadas no Anuário de agir, na prática, conforme o que
em mudanças de comportamentos Estatístico de Acidentes do Trabalho foi ensinado. Ao invés da ênfase
observáveis. Primeiramente, os e, na Base de Dados de Portugal; nos conteúdos, pouco efetiva no
trabalhadores não podem mudar as 04 dissertações de mestrado desenvolvimento do trabalhador,
Segurança Comportamental ® 42 ano 10 | número 13 | 2020
os programas de educação em tomada de decisão. Especificamente, Confiabilidade Humana tem como
segurança no trabalho devem ser em se tratando de mapas cognitivos, objetivo capacitar à equipe de
orientados para a construção de conhecidos como mapas mentais, segurança no trabalho a respeito da
uma consciência crítica que permita também, sua utilização deve ser temática Ergonomia Cognitiva, com
ao trabalhador o desenvolvimento sistemática, sendo o conhecimento foco nas questões de Confiabilidade
de sua capacidade de compreender, analítico e não-analítico utilizado Humana, a fim de que a equipe se
criticar e intervir em sua realidade de de forma balanceada para se obter a torne competente e autônoma para
trabalho, transformando-a (Catania, melhor decisão (Barddal, 2016). trabalhar com a problemática em
1999). A fim de facilitar ao leitor, os questão, de forma consciente, critica
Em termos didáticos o treinamento autores do presente artigo e reflexiva junto aos trabalhadores
de tomada de decisão deve ser apresentam para reflexão a da empresa.
essencial, uma vez que propõe proposta de implementação do A formação deve adotar a
um modelo de raciocínio que Programa de Capacitação em metodologia ativa e ser estruturada
integra os processos cognitivos Ergonomia Cognitiva com foco em módulos, além de contar
analíticos e não-analíticos a partir em Confiabilidade Humana – com atividades educativas,
da metacognição. Em se tratando tendo como meta o homem que que podem variar de palestras,
das estratégias educacionais a teoria aprende para ensinar e ensina cursos, mini-cursos, treinamentos,
dos dois sistemas, assim como a para aprender, sustentado por três oficinas, grupos de estudo, até
utilização de Mapas Cognitivos pilares: Capacitação - Criatividade – webconferências e fóruns. A carga
devem ser adotadas por possuir Inovação. horária total está atrelada as
fortes evidências científicas, O Programa de Capacitação em necessidades da empresa.
principalmente nas questões de Ergonomia Cognitiva com foco em A estrutura do Programa de

Observações/Diálogos Preventivos de
Segurança e Saúde no Trabalho (5.ª ed.)
27, 28 e 29 de maio de 2020 | Lisboa | Portugal

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Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

Segurança Comportamental ® 43 ano 10 | número 13|


|2020
2020
CONFIABILIDADE HUMANA E COMPORTAMENTOS

Capacitação em Ergonomia U. (Ed.), Filosofia: Diálogos e horizontes,


Cognitiva com foco em EDIPUCRS, Porto Alegre, RS, 687-708.
Cardoso, M.S. and Gontijo, L.A. 2012. Avaliação
Confiabilidade Humana para
da carga mental de trabalho e do desempenho
equipes de Segurança no Trabalho de medidas de mensuração: NASA TLX e SWAT,
deve seguir os seguintes passos: Gest. Prod., Vol. 19, N. 4, 873-884, São Carlos,
1. Levantamento das necessidades SP.
da empresa e dos profissionais; Catania, C.A. 1999. Aprendizagem:
Programa de 2. Elaboração dos objetivos de comportamento, linguagem e cognição, 4th

Capacitação aprendizagem;
ed., Artes Médicas, Porto Alegre, RS.
Daniellou, F., Simard, M. and Boissieres, I.
3. Seleção de conteúdos ou temas;
em 4. Organização da grade
2010. Fatores Humanos e Organizacionais
da Segurança Industrial: um estado de arte,
Ergonomia programática; Cadernos da Segurança Industrial, ICSI,
5. Definição dos métodos e técnicas Toulouse, França.
Cognitiva com foco de ensino-aprendizagem; Doppler, F. 2007. Trabalho e saúde, in: Falzon,

em Confiabilidade 6. Execução do programa com


P. (Ed.), Ergonomia. Blucher, São Paulo, SP, pp.
47-58.
contínua avaliação do processo e
Humana deve seguir dos resultados.
Guber, N. 1998. Responsabilidade no projeto do
produto: uma contribuição para a melhoria da
os seguintes passos: O estudo evidenciou que o segurança do produto industrial. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção), EPS/
Programa de Capacitação em
1. Levantamento Ergonomia Cognitiva com foco na
CTC/UFSC, Florianópolis, SC.
Iida, I. and Guimarães, L.B.M. 2016. Ergonomia:
das necessidades Confiabilidade Humana é viável projeto e produção. 3rd ed., Blucher, São Paulo,
e favorável à empresa que deseja
da empresa e dos prevenir e/ou diminuir os acidentes
SP.
Iida, I. 2005. Ergonomia: Projeto e Produção,
profissionais; de trabalho por erro humano. 2nd ed., Blucher, São Paulo, SP.
International Ergonomics Association, [on-
2. Elaboração Referências Bibliográficas
line] available: www.iea.cc/whats/index.html
[Accessed 21 Setembro 2019].
dos objetivos de Abrahão, J., Sznelwar, L., Silvino, A., Sarmet, M. Kroemer, K.H.E. and Grandjean, E. 2005.
& Pinho, D. 2009. Introdução à ergonomia: da
aprendizagem; prática à teoria, Blucher, São Paulo, SP.
Manual de ergonomia: adaptando o trabalho
ao homem, 5th ed., Bookman, Porto Alegre,
3. Seleção de Aguiar, M.A. 2005. Psicologia aplicada
à administração: uma abordagem
RS.
Lévy, P. 2004. As tecnologias da inteligência: o
conteúdos ou temas; interdisciplinar, Saraiva, São Paulo, SP.
Barddal, R. 2016. Raciocínio clínico e
futuro do pensamento na era da informática,
Editora 34, São Paulo, SP.
4. Organização da ergonomia cognitiva: uma abordagem dos Ministério da Fazenda (MF) et al. 2017.
erros diagnósticos a partir da teoria dos
grade programática; dois sistemas, Dissertação (mestrado) –
Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho:
AEAT 2017, Ministério da Fazenda et al.,
5. Definição dos Universidade Federal de Santa Catarina,
Centro Tecnológico, Programa de Pós-
Brasília, DF.
Moraes, A. and Mont’Alvão, C. 2009.
métodos e técnicas de Graduação em Engenharia de Produção,
Florianópolis, SC.
Ergonomia: conceitos e aplicações, 2AB, Rio de
Janeiro, RJ.
ensino-aprendizagem; Barros, M.H.B. and Scandelar, L. 2006.
Confiabilidade humana no trabalho: uma
Ollay, C.D. and Kanazawa, F.K. 2016.

6. Execução do abordagem ergonômica na prevenção da falha


Análise Ergonômica do Trabalho: Prática de
Transformação das Situações de Trabalho,
humana em um processo de reestruturação
programa com produtiva, Anais, XIII SIMPEP, Bauru, SP.
Andreoli, São Paulo, SP.
Paula, S. R. 2016. Transformando
contínua avaliação Base de Dados de Portugal Contemporâneo
[on-line] available: www.pordata.pt/Portugal/
conhecimento em comportamento: estudo
de caso de empresas de manufatura e
do processo e dos de+trabalho+total+e+mortais-72 [Accessed
01 outubro 2019].
serviços, Dissertação (Mestrado Profissional),
Universidade Federal de Pernambuco, Centro
resultados." Borghi, L. D. K. 2008. Avaliação de de Artes e Comunicação. Departamento
resultados do Treinamento: Uma análise das de Design, Programa de Pós Graduação em
Metodologias disponíveis e sua aplicação em Ergonomia, Recife, PE.
empresas brasileiras, Dissertação (Mestrado Wisner, A. 1994. A inteligência no trabalho:
profissionalizante em administração), textos selecionados de ergonomia, translated
Faculdade de Economia e Finança/IBMEC, Rio by Ferreira, R. L., Fundacentro, São Paulo, SP.
de Janeiro, RJ.
Botomé, S.P. 2001. Sobre a noção de
comportamento”, in: Feltes, H.P. and Zilles,

Segurança Comportamental ® 44 ano 10 | número 13 | 2020


RECOMENDA!

Segurança Comportamental ® 45 ano 10 | número 13| 2020


GAMIFICAÇÃO

Cláudio César Pontes


Consultor em Saúde e Segurança do trabalho. Alpinista Industrial e Docente
no Serviço Social de Aprendizagem Industrial – SENAI.
claudioc.pontes@hotmail.com

GAMIFICAÇÃO COMO TÉCNICA DE


APRENDIZAGEM EM SEGURANÇA NO TRABALHO

Atualmente, as mais diversas áreas, incluindo a segurança no trabalho,


estão adotando a tendência de engajar pessoas por meio da lógica dos
jogos, a chamada – gamificação. Gamificação é um termo aportuguesado
adaptado do inglês (do original gamification) que consiste no uso das
mecânicas dos jogos para despertar o engajamento de um público
específico. Há elementos essenciais que devem de ser considerados e
erros que não devem ser cometidos, no planeamento e implementação
desta técnica. A essência da gamificação é trazer a participação e o
conhecimento do colaborador para o centro da atividade, deixando
de ser um mero elemento passivo e assumindo o protagonismo que
lhe cabe. Bons resultados são encontrados entre o “casamento” da
gamificação e tecnologia.

I
NTRODUÇÃO pessoas por meio da lógica dos jogos, a chamada –
Ganhar pontos, rankings, desafios, feedbacks gamificação. Do aprendizado de idiomas a prática de
instantâneos e títulos de campeão. Já passou exercícios, dos corredores do MIT (Instituto Tecnológico
o tempo em que estes elementos eram de Massachusetts), as reuniões de marketing de grandes
exclusivos dos jogos que utilizávamos para empresas, a gamificação tem sido largamente utilizada
nosso lazer. Hoje, as mais diversas áreas e aprimorada para que possamos realizar tarefas ou
estão adotando a tendência de engajar atividades de forma mais descontraída e prazerosa.

Segurança Comportamental ® 46 ano 10 | número 13 | 2020


Mas o que tem isso de relevante "Existem diversas teorias comportamentais
para a segurança do trabalho?
Estimados colegas prevencionistas, por trás dessa ferramenta, como a teoria
certamente já questionaram o quão da diversão (Koster, 2004), que trata,
importante são os treinamentos
para conscientizar os trabalhadores entre outras coisas sobre os aspectos
sobre os riscos nos contextos de da percepção humana relacionados com
trabalho. Porém, devemos ser
honestos, alguns treinamentos são a forma de abordagem, assim como, a
maçantes e os temas, apesar de recompensa positiva (Skinner, 1974), onde
importantes, são repetidos tantas
vezes que os trabalhadores têm que um estímulo é dado ao participante para
fazer um esforço para se manterem incentivar que determinada
interessados ou mesmo despertos.
Quantos facilitadores de prevenção ação ou postura se repita.
já saíram desses treinamentos com
a sensação de que os trabalhadores
estavam ali apenas de corpo para o sistema respiratório dos mais do que eu sobre o tema. Foi
presente. Caímos então no risco de trabalhadores é obrigatório elaborar uma experiência frustrante para
projetar a culpa do “mau resultado” o Programa de Proteção Respiratória mim como facilitador. Tenho mais
exclusivamente ao colaborador, – PPR, o qual prevê, entre outras de uma década de experiência
taxando-os de desinteressados coisas, o treinamento anual com uma como facilitador na profissão de
e relapsos quanto a sua própria carga horária mínima de 4 horas. prevencionista em segurança do
segurança. Caro leitor da Revista Segurança trabalho, acredito na importância
Mas será mesmo que a culpa é deles? Comportamental, não irei mentir, a e relevância desta profissão um
Será que é possível fazer com que os apresentação do treinamento não fervor quase religioso, no entanto,
temas apresentados se tornem algo estava ajustado às necessidades, depois de ter experienciado a
mais atrativos? expectativas e exigências dos situação que descrevi, fiz um auto-
trabalhadores da sociedade atual, reflexão e convenci-me de que devia
AUTO-REFLEXÃO PARA A nem focada nos aspetos positivos mudar buscando algo que tornasse
MUDANÇA tão importantes para a mudança os treinamentos mais atrativos.
Certa vez li uma interessante frase cultural. Era composta por 63 Comecei a pesquisa e leitura literária
sobre educação: “Somos professores slides padronizados de textos e determinei a gamificação como
nascidos no século XX, ensinando intercalados por fotos pessoas com solução.
alunos nascidos no século XXI doenças terminais e ameaças de
utilizando técnicas do século IXX”. advertências e punições. Outro GAMIFICAÇÃO E
Esta frase me marcou bastante e aspeto evidenciado como não ESTRATÉGIAS DE
creio que o principal motivo disto foi favorável à aprendizagem, era IMPLEMENTAÇÃO
porque a li a primeira vez eu estava porque uma parcela considerável É importante entender o conceito
a meio de renovação do Programa daqueles trabalhadores tinham de gamificação antes de tudo. Mas
de Proteção Respiratória de uma mais de dez anos de antiguidade o que é de fato a gamificação?
grande empresa de produção de de empresa e de função e já Gamificação é um termo
cimento do Brasil. tinham participado tantas vezes aportuguesado adaptado do inglês
Uma das muitas exigências nesse mesmo treinamento, que (do original Gamification) que
legais brasileiras é que, uma desconfio pelo desenrolar da ação consiste no uso das mecânicas dos
vez identificado algum risco que conheciam tanto quanto, ou jogos para despertar o engajamento
Segurança Comportamental ® 47 ano 10 | número 13| 2020
GAMIFICAÇÃO

de um público específico (Camilo, que determinada ação ou postura ser suportadas pela implementação
2019). Existem diversas teorias se repita. Em outras palavras, de boas práticas em outros
comportamentais por trás dessa é transformar os treinamentos contextos que há muitas décadas
ferramenta, como a teoria da mais maçantes em algo divertido, já a utilizavam de uma forma ou
diversão (Koster, 2004), que trata, desafiante e compensador para outra para engajar seus membros.
entre outras coisas sobre os aspectos o público-alvo. Em segurança no Sejam os grupos de escuteiros com
da percepção humana relacionados trabalho, o público-alvo são os suas belas insígnias ou a reservada
com a forma de abordagem, assim trabalhadores que participam maçonaria com seus níveis a
como, a recompensa positiva do treinamento. As estratégias serem alcançados. Para iniciar o
(Skinner, 1974), onde um estímulo é de implementação da técnica de seu planejamento de aplicação
dado ao participante para incentivar gamificação nas empresas podem da técnica de gamificação deve

Quadro 1
Elementos essenciais da técnica de gamificação

Elementos Descrição

• Desafio • A existência de desafios é importante para engajar as pessoas pois gera uma sensação de pod-
er vir a ser vitorioso. Um ponto importante neste sentido é usar problemas reais do ambiente
de trabalho, desafiando os profissionais a solucioná-los.
• Risco • Não vamos expor nossos colaboradores a risco de acidentes... Mas bem, a existência do risco
de perder pontos, vidas ou ter que recomeçar o jogo em caso de erro aumenta o entusiasmo,
a atenção e a concentração dos nossos “jogadores”.

• Incerteza • A incerteza está diretamente ligada ao risco. Também podemos chamar esse elemento de
azar, onde se o colaborador escolher a caixa errada, ou abrir o envelope equivocado terá
algum tipo de punição branda, como voltar ao começo do jogo. Ações dessa natureza tornam
a atividade bastante excitante.
• Mistério • Investigação de acidentes ou incidentes fictícios (ou não) com de uma lacuna entre informa-
ções desconhecidas e conhecidas são um estímulo interessante aos trabalhadores.

• Emoção • Estímulos que gerem emoções intensas (seja alegria ou raiva) fazem com que o participante
viva os momentos com mais intensidade, guardando a experiência na memória.
• Ação • Consiste em fazer com que os colaboradores saiam de suas cadeiras e vão “em busca do
objetivo”, em um treinamento sobre ergonomia, por exemplo, fazer com que os trabalhadores
reproduzam os movimentos “certo e errado”, dando mais foco ao movimento corporal certo, ou
ainda, a sempre divertida mimica de segurança.
• Progresso • Uma prática comum em palestras tradicionais são as avaliações para verificação do quanto o
colaborador absorveu do conteúdo. Para muitos trabalhadores, sobretudo para os com menor
escolaridade, esse momento é uma verdadeira tortura. Em processos gamificados a verificação
do progresso é feita de maneira mais dinâmica através de feedbacks instantâneos. Os próprios
colaboradores podem medir ativamente seu desempenho.
• Oportunidade • Aqui temos um importante elemento de valorização dos profissionais. Algo de veras interes-
sante nos treinamentos gamificados é a oportunidade de os colaboradores demonstrarem seu
conhecimento e experiência nas atividades em equipe ou ao enfrentar os desafios.

Fonte: Busarello ( 2016).

Segurança Comportamental ® 48 ano 10 | número 13 | 2020


seguir alguns elementos essenciais ELEMENTOS E EXEMPLOS
(Busarello, 2016), expressos no DE GAMIFICAÇÃO
quadro 1. Ainda sobre o elemento essencial
Através da mistura dos elementos “oportunidade”, não poderíamos
essenciais atrás descritos, podemos deixar de citar um famoso episódio
dizer que a técnica gamificação que ocorreu no Brasil nos anos
é uma ferramenta adaptável e oitenta em uma fábrica de Creme
versátil, podendo ser implementada Dental em São Paulo. Conta a
em diferentes tipos de empresa história que a máquina embaladora
como uma maneira mais eficiente do final da linha de produção às "Erros identificados
de a mensagem de segurança
ser transmitirmos, entendida
vezes permitia a saída de caixas que podem ocorrer
de creme dental sem o tubo. Um
e interiorizada. A gamificação grande problema para a reputação ao implantar a
torna a mensagem importante de
segurança mais amigável e menos
da empresa. Para solucionar o gamificação dentro
problema, os gestores contrataram
intimidadora, seja por meio de um grupo de engenheiros que em organizações:
dinâmicas, desafios, realização de desenvolveram um sistema de
tarefas, estratégias competitivas balanças de precisão colocadas nas
ou cooperativas. Também aqui se esteiras da saída da máquina. Essa 1) Criar “objetivos
devem aplicar os princípios básicos
da gestão de segurança baseada em
balança detetaria a presença de de conquista” com
caixas vazias e pararia o processo
comportamentos, ou seja, deve ser caso acusasse a presença de alguma. estrutura tradicional
dado primazia ao reforço positivo, Em seguida, um funcionário deveria
à repetição de comportamentos remover a caixa e apertar um botão
seguros, à disciplina, ao para que o processo continuasse. 2) Elevada divisão
cooperativismo e trabalho em
equipa e cuidado com o outro.
Simples não é mesmo? do grupo eleva a
Depois de muito trabalho intelectual
dos desenvolvedores e de alguns competição agressiva
GAMIFICAÇÃO E ERROS NA milhões de reais investidos,
SUA APLICAÇÃO finalmente o problema havia sido
Há já alguns erros identificados resolvido, porém... passadas poucas 3) Infantilizar as
que podem ocorrer ao implantar semanas, enquanto caminhava pela práticas
a gamificação dentro de nossas fábrica, um dos gestores viu que
organizações: todas as balanças que eles haviam
1. Criar “objetivos de conquista” instalado estavam desligadas. 4) “Suavizar” os danos
(sejam eles pontos, medalhas ou Indignado com a situação chamou o
níveis), mas manter a estrutura trabalhador responsável por aquela para a saúde.
tradicional de um treinamento e área e iniciou um “copioso” sermão.
isso seria simplificar em excesso a Muito respeitosamente, depois de
ferramenta; ouvir as reprimendas de seu chefe o
2. Ou ainda a divisão de equipes colaborador respondeu: “Sabe o que
em grupos menores, sem uma é doutor... toda vez que passava uma
estratégia devidamente desenhada, caixinha vazia a máquina parava e
que pode acabar estimulando uma alguém tinha que largar o que estava
competição agressiva e nociva ao fazendo, tirar a caixinha vazia e
grupo; reiniciar a linha. Dava muito trabalho,
3. Outro erro observado é o de então fizemos uma vaquinha,
infantilizar as práticas ou; juntamos R$80,00 [equivalente
4. “Suavizar” demais os possíveis a 17,25 euros] e compramos um
danos a saúde e a integridade física ventilador grande e colocamos do
dos trabalhadores fazendo com que, lado da esteira, aí toda vez que uma
ao invés de se conscientizarem dos caixa vazia passa na frente o vento a
riscos, o menosprezem. empurra ela para fora".

Segurança Comportamental ® 49 ano 10 | número 13| 2020


GAMIFICAÇÃO

As origens dessa história, bem como não tivesse ocorrido. Resulta das etapas do processo. Ganha
o conhecimento de quais partes que o procedimento interno da quem conseguir implantar o sistema
são reais e quais são exagero se empresa trazia 32 recomendações primeiro (mas contanto sempre,
perderam com os anos, mas ela de segurança e os trabalhadores além do conhecimento prévio,
exemplifica algo muito importante levantaram um total de 41. Destas com o elemento sorte através de
para nós: o conceito de que ninguém nove novas recomendações, 5 foram cartas de bonos ou reveses o que
conhecera tão bem o posto de incorporadas ao procedimento o torna realmente divertido). Ainda
trabalho quanto o próprio operador. padrão da empresa com o aval seguindo a linha da gamificação
Embora este exemplo não seja da diretoria. Este exemplo mostra temos a utilização dos óculos
propriamente sobre gamificação, o elemento “oportunidade” de realidade virtual, controles
no entanto, mostra a importância da gamificação, ou seja, nos manuais ou consoles, onde o aluno
da participação dos trabalhadores treinamentos, desde que haja é instruído e avaliado inteiramente
para a gestão. A essência da envolvência e colaboração dos num entorno virtual. Esta prática
gamificação é trazer a participação trabalhadores, podem resultar é particularmente interessante
e o conhecimento do colaborador soluções para melhorar o sistema de em capacitações onde o próprio
para o centro da atividade, deixando gestão de segurança. treinamento pode apresentar algum
de ser um mero elemento passivo e Dentro da área de segurança no risco como o caso do treinamento
assumindo o protagonismo que lhe trabalho, outro exemplo de sucesso de operação de máquinas pesadas,
cabe. é o jogo de tabuleiro chamado trabalhos em altura ou utilização
Um exemplo feliz foi a aplicação En Busca del TeISOro Perdido de extintores de incêndio. Três
da gamificação durante um desenhado pela empresa peruana empresas iberoamericanas têm-
treinamento de Operação Segura Ludo Prevención (Pinto, 2016) para se destacado na utilização desta
de Máquinas Agrícolas numa ensinar sobre a norma ISO 45001. ferramenta aplicada a SST, entre
determinada empresa. No lugar Mesmo o tema sendo considerado elas temos a chilena Qualitat (2018)
de descrever as recomendações insipido por muitas pessoas o a argentina InterBrain (Bogotá,
de segurança item por item, foram jogo consegue ser incrivelmente 2019) ou a espanhola Ludus (2017).
apresentados três casos fictícios de divertido e didático. Utilizando um Posso afirmar com propriedade de
acidentes onde os colaboradores, “mapa do tesouro” e dois baralhos causa que o susto que levamos ao
divididos em grupos de 5 pessoas, de cartas onde os colaboradores “cair” durante uma simulação em
deveriam apontar suas próprias devem completar as informações Realidade Virtual são realmente
recomendações para que o acidente ou situar o procedimento dentro instrutivos e parecem bem reais.

Parece-me que em geral esse


tipo de abordagem possui uma
boa aceitação por parte dos
colaboradores, sobretudo no caso
daqueles trabalhadores mais jovens, nascidos
a partir dos anos 90. Por se tratar de uma
geração mais conectada (...)"

Segurança Comportamental ® 50 ano 10 | número 13 | 2020


CULTURA DE SEGURANÇA E SAÚDE
Avaliação e Intervenção
19 a 20 de outubro 2020 | Lisboa | Portugal

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Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

Reais o bastante para acelerar os divertido, mas sim mais interessante. deixar de nos esforçar em buscarmos
batimentos cardíacos e fazer com Afinal de contas, entretenimento respostas mais eficientes para os
que pensemos duas vezes antes com baixo teor de conhecimento novos desafios. Sobre a gamificação,
de subir alguma estrutura sem tampouco nos serve. O processo independente de nossas convicções
utilizar um cinto de segurança ou de gamificação deve contar com pessoais, nos convém seguir o
não cumprindo outras regras de desafios reais e incitadores. Senão conselho que um sábio escreveu
segurança. perde-se a graça. Parece-me que há muito tempo atrás... de que
em geral esse tipo de abordagem "devemos examinar tudo e reter o que
GAMIFICAÇÃO COM A possui uma boa aceitação por parte é bom”.
TECNOLOGIA dos colaboradores, sobretudo no
caso daqueles trabalhadores mais Referências Bibliográficas
Bons resultados também são Livros:
jovens, nascidos a partir dos anos
encontrados do casamento da Busarello, R. I. 2016. Gamification – princípios
90. Por se tratar de uma geração e estratégias. São Paulo, Pimenta Cultural.
gamificação com a tecnologia.
mais conectada e acostumada Camilo, J. 2019. Gestão de pessoas: práticas
Realidade virtual, realidade em treinamento e desenvolvimento, São Paulo,
com o meio digital eles possuem
aumentada, ambientes digitais, Editora Senac.
algumas características diferentes Koster, R. 2004. A theory of fun for game design.
aplicativos, plataformas e uma das gerações anteriores e, por essa Sebastopol, O'Reilly Media.
infinidade de outras tecnologias razão, seu processo de aprendizado Skinner, B. F. 1974. Sobre o behaviorismo. São
maximizam a eficiência dos Paulo, Editora Cultrix
também difere e os ecos da Site web:
treinamentos com a prática num gamificação ressoam mais fundo. Bogotá, D. 2019. Available http://www.
ambiente controlado. Desenvolver interbrainco.com, Mendonza [Accessed 06
January 2020].
treinamentos que estimulem os DESAFIO FINAL Ludus 2017. Available https://www.ludus-vr.
trabalhadores a quererem participar, Estimados colegas, embora nem com, Bilbao [Accessed 06 January 2020].
gerando mais que apenas o Pinto, P. 2016. Available https://
sempre nosso trabalho seja ludoprevencion.com, Lima [Accessed 06
sentimento de “cumprir obrigações”. devidamente priorizado dentro January 2020]
Devemos deixar claro, porém, que das organizações, ele é essencial Qualitat 2018. Available https://www.
qualitatgroup.com, Talcahuano [Accessed 06
o objetivo dessa técnica não é para garantir a segurança dos January 2020].
tornar o processo de aprendizado trabalhadores e nunca devemos
Segurança Comportamental ® 51 ano 10 | número 13| 2020
PROGRAMA DE MELHORIA CONTINUA BASEADO EM GESTÃO
DE COMPORTAMENTOS
BBL (BEHAVIOR BASED LEAN)

26 e 27 de outubro de 2020 | 9H30 às 17H30


Lisboa | Portugal

Trabalha
dores

Act Plan
Behavior
Based
Cultura
Lean
(BBL)
Do
Check

INSCRIÇÕES

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Organização Internacional do Trabalho.

Segurança Comportamental ® 52 ano 10 | número 13 | 2020


EMERGÊNCIA E COMPORTAMENTOS

José Goulão Marques


Professor do Instituto Superior de Educação e
Ciências (Lisboa).
goulao.marques@iseclisboa.pt

GESTÃO DA EMERGÊNCIA E MUDANÇA


COMPORTAMENTAL
Avaliação de Exercícios; Implementação de Medidas Corretivas

Este artigo surge com o objetivo de apresentar a metodologia de gestão


de emergência, assim como, momentos onde surge a possibilidade de
promoção de mudança comportamental. São indicados requisitos de
treino, tanto ao nível do conhecimento como das metodologias de
quem treina, da qualidade de como se treina, dos critérios de avaliação
para validação interna e externa do treino e, finalmente, a capacidade
de integrar medidas corretivas, as vertidas das lições aprendidas. É
também apresentada uma integração da atividade de avaliação sob
a condução de exercícios, fruto de um adequado planeamento que
originará recomendações para melhoria.

1
. INTRODUÇÃO
A abordagem escolhida, depois de
não tem capacidade, não reconhece as metodologias,
não tem conhecimentos nem capacidade para tal, os
muito refletida, pretende incidir sobre efeitos comportamentais de quem foi assim treinado,
o “quem” prepara e “como” prepara, serão, necessariamente distorcidos e poderão dar uma
treina ou protagoniza comportamentos falsa sensação de segurança e conduzir a perceções
de segurança, no caso vertente, no de risco erradas e por conseguinte a comportamentos
comportamento em emergência. É no inseguros.
treino e nos exercícios que se conhecem, repetem
uma vez, repetem várias vezes consecutivas e se cria o 2. O PLANEAMENTO
hábito seguro. Esta fase da preparação da validação da segurança será,
Se quem treina, conduz a aplicação da instrução prévia, eventualmente, desenvolvida noutra altura, porém será

Segurança Comportamental ® 53 ano 10 | número 13| 2020


EMERGÊNCIA E COMPORTAMENTOS

adequado referi-la, resumidamente, e de Avaliação (ou permanecer A atuação dos elementos da equipa
como “ponte” para a coerência deste com a mesma designação, mas é variável com o tipo / método / base
artigo. Uma equipa de planeamento com conteúdo mais desenvolvido), / ambição/ formalidade / perspetiva
de exercícios é composta por um dirigido à equipa de condução / natureza / finalidade e abrangência
número restrito de elementos. A de exercícios. Esta equipa inclui a do exercício ou exercícios em causa(2),
atividade da equipa de planeamento subequipa de avaliação como muitas das respetivas artificialidades(3) e
começa na solidão do seu futuro outras que correntemente se podem assunções(4). Haverá uma hierarquia
chefe, baseado em diagnósticos de denominar somente de equipas entre os elementos. Onde se
necessidades, perceção e avaliação (para facilitação da exposição). destacam, entre outros:
da ameaça, análise de registos Assim, teremos a integração da
de segurança e das medidas de avaliação na equipa de condução. a. Diretor(5)
autoproteção em vigor e da base Surge em exercícios de grande
estruturante e profunda das 3. A CONDUÇÃO envergadura e relevância (exercícios
primeiras duas Etapas de Conceção A equipa de condução pode ser funcionais “mono” ou multi site,
de um exercício(1) (sem descurar (normalmente é) constituída por exercícios à escala real). Dirige,
as restantes), que vai construindo vários membros da equipa de supervisiona toda a condução do
um plano (o esqueleto; o Plano planeamento. Até convém, pois exercício
do Exercício), e socorrendo-se de terão a picture mais bem definida
pessoas de várias áreas técnicas ou e sem necessidade de explicações b. Controlador
departamentais, podendo evoluir detalhadas. Normalmente um é suficiente para
para a variante de Plano de Controlo exercícios médios, alicerçados

Em culturas de segurança reativas,


há receio de que uma avaliação possa
prejudicar um ou mais indivíduos, no
entanto, deve ser constantemente notado que
a observação e a avaliação devem incidir sobre
os desempenhos e funções e não sobre os
indivíduos."

...
(1) Estabelecimento da Base, Desenvolvimento, Condução, Avaliação e Introdução de Medidas Corretivas
(2) Há diferentes tipos/ métodos/ abrangências de exercícios que podem ser feitos ao mesmo tempo, se relacionam e complementam. A
preparação da condução é um must sem falhas, e pode requerer vários meses, e até anos.
(3) Tudo aquilo que se finge ser, existir e que não é verdadeiro, mas que “ajuda” à realização do exercício.
(4) É a forma como as coisas se admitem realizadas e realizáveis. Podem ser consequência de Artificialidades. Um acesso a um espaço
pode estar obstruído. A desobstrução pode demorar horas. “Para efeito do exercício”, e se for esse o Objetivo, se um Elemento Partici-
pante executar determinada tarefa, assume-se que, de repente, todo o trabalho de desobstrução foi feito e é considerado realizado.
(5) Nalguns casos, de âmbito regional ou Distrital, poderá haver a figura, supra de Supervisor, coadjuvado por uma Célula de apoio
(ANEPC_ Portugal)
(6) Eventos sem os quais a sua ausência pode provocar que o exercício ou parte dele perca o sentido e venha a ter de ser substituído/
anulado a sua validade.
(7) Em exercícios de envergadura relevante é frequente a existência de Planos de Comunicações

Segurança Comportamental ® 54 ano 10 | número 13 | 2020


em menos de dez objetivos e que levem a consensos. Por vezes
com finalidade bem definida. podem ser mais do que um,
Nestes assume o papel de principalmente em exercícios
Direção, de Árbitro e que garante, avançados e com a ajuda de
constantemente que a finalidade compiladores e, pontualmente, de
e objetivos e “pontos chave”(6) são avaliadores.
escrupulosamente cumpridos
ou metodicamente alterados. O f. Compilador
controlador, pensa rápido e reage Como o nome indica, registam
depressa. Tem, mais que os outros, e expõe a informação que é,
o exercício fortemente memorizado.
Relaciona-se intimamente com os
frequentemente, complexa de
“digerir”, perante um grande número
Há uma hierarquia
simuladores e avaliadores. “Está em de elementos participantes, eventos
todo o lado”. Mantém a segurança e registos. São fundamentais para entre os elementos
(por causa ou concomitante) durante não se perder a overview
todo o exercício. Mantém a pressão.
Suspende ou altera o curso dos g. Telefonistas
da equipa de
eventos (Guião). Acumula funções A gestão da informação é
de avaliação e simulação. Expõe fundamental. Frequentemente condução do
briefings e debriefings. Está atento acumulada com a função de
a reuniões e discussões entre os
participantes. Tem, frequentemente
simulador o telefonista é a base da
transmissão de informação, ordens,
exercício, onde se
um registador adjunto e muito pontos de situação e fundamental
próximo. na garantia de Segurança do destacam:
exercício(7).
c. Simulador
Muito frequentemente mais que 4. A AVALIAÇÃO
• Diretor;
um. É um “artista”. Injeta incidentes. Por mais que se possa dizer que um
Opera circuitos. Dialoga com os exercício é passível de ser realizado • Controlador;
elementos participantes (em fase sem avaliação, e nalguns casos é,
de treino / fase de avaliação).
Interpreta ações externas (exercícios
estranhamente, exigido que não haja
avaliação, como pode um exercício
• Simulador;
funcionais) e desempenha papéis ficar completo se não se sabe ou
(exercícios à escala real). Altera o se reconhecem áreas de fraquezas • Observadores;
ritmo e varia o stresse, (sempre com e de forças, áreas da conservar o
a concordância do Controlador).
É bom que “venha” da equipa de
desempenho, áreas a melhoria?
Como se conhece o patamar? Como
• Moderadores;
Planeamento. se sabe introduzir o grau medidas
corretivas? • Compilador;
d. Observadores A avaliação é importante, para
Podem ser considerados avaliadores
menos qualificados, quando usados
não dizer indispensável, mas
muitas vezes caracterizada por
• Telefonistas.
como elementos ativos ou meros condicionantes. Um exercício sem
“estagiários” em aquisição de avaliação estará completo? Podemos
experiência para evoluírem para tirar ilações?
outras funções dentro da equipa de A avaliação é uma vantagem, uma
condução benesse, é uma consulta à espera
de prescrição. É uma ferramenta de
e. Moderadores tomada de decisão.
Em determinados tipos de exercícios Em culturas de segurança reativas,
somente um elemento é suficiente, há receio de que uma avaliação
desde que tenha liderança e seja possa prejudicar um ou mais
organizado e capaz de coordenar indivíduos, no entanto, deve ser
discussões construtivas, discussões
Segurança Comportamental ® 55 ano 10 | número 13| 2020
EMERGÊNCIA E COMPORTAMENTOS

comportamental dos participantes,


desde que os mesmos se mostrem
Para se evoluir, há muito trabalho envolvidos e comprometidos.
de reforço positivo, honesto,
a. Avaliadores
constante e credível, de forma Os grandes protagonistas deste
a influenciar os potenciais avaliados para o artigo e os grandes protagonistas
de um exercício. Actuam isolados,
“lado bom, o lado do sucesso”. mas fortemente enquadrados.
Tanto o avaliador como o avaliado, devem Não devem ser notados (fly on
the Wall). Nem todas as pessoas
estar do mesmo lado, promovendo o foco na têm características para o serem.
segurança e na melhoria." Devem ser selecionados segundo
critérios específicos por quem tem
mais experiência. O avaliador tem
de ter características especiais e
particulares tais como domínio
constantemente notado que a pelo registo do cumprimento de das metodologias de avaliação,
observação e a avaliação devem requisitos legais, então não estará boa expressão falada e escrita,
incidir sobre os desempenhos e disposta a custear mais do que organizado, minucioso, insatisfeito,
funções e não sobre os indivíduos. isso. Alguns consultores também versátil, objetivo, motivado,
A avaliação é, muito frequentemente compactuam com essa decisão e honesto, conhecedor do plano em
em culturas de segurança reativas, assim, a finalidade deixa de ser a causa, perito em desenvolvimento
encarada com suspeição e melhoria do desempenho e passa, de exercícios(9). Como referido, os
agressividade. Para se evoluir, há rapidamente, à manutenção de um avaliadores “são transparentes” e
muito trabalho de reforço positivo, negócio pouco transparente não devem interferir, muito menos
honesto, constante e credível, de A Avaliação é transversal a todo o ciclo negativamente, de modo a causar
forma a influenciar os potenciais da emergência, pois esta acompanha stresse (a não ser que tal esteja
avaliados para o “lado bom, o lado todos os exercícios, desde o vertido nos objetivos). Usam muita
do sucesso”. planeamento à implementação documentação, principalmente
Tanto o avaliador como o avaliado, das medidas corretivas, fruto das baseada no estudo prévio do
devem estar do mesmo lado, lições aprendidas. Assim haja Plano de Controlo e Avaliação(10) ,
promovendo o foco na segurança capacidade logística/ financeira principalmente o Guião, Listas de
e na melhoria. Caso contrário, e vontade da gestão de topo das Verificação e Impressos de Avaliação.
podem emergir sensações como o organizações em as pôr em prática. Relacionam-se, intimamente, com os
“medo”, “desconfiança” e conduzir a A avaliação de desempenho é um Controladores e com os Simuladores.
comportamentos que mascaram a processo comparativo entre os
realidade, com objetivo da melhor comportamentos e práticas reais b. Equipa de Avaliação (subequipa
nota e não na melhoria do bem- e os comportamentos e práticas de Condução)
estar, da segurança, na prevenção, previstas(8) no planeamento. A O sucesso do avaliado é o sucesso
na preparação na resposta e na avaliação valida o planeamento. do avaliador. A equipa de avaliação
recuperação. Entre o trabalho real e prescrito pode ter um ou mais chefes, sendo
Uma boa avaliação consume existem com frequência distâncias. um deles o diretor. A estrutura da
recursos financeiros, humanos e Se o desempenho real for menor equipa depende de variados fatores,
materiais. Se a empresa estiver num do que o prescrito, através das principalmente da qualidade
nível de cultura organizacional ou lições apreendidas, poderá haver dos avaliadores e do âmbito do
de segurança caracterizada apenas probabilidade de haver alterações
...
(8) Indicadas no Guião, na “coluna” das Ações Esperadas
(9) Caracterizado pelos oito passos: Avaliação das Necessidades, Finalidade, Âmbito, Objetivos, Eventos, Ações Esperadas, Cenário e
Documentação
(10) Oriundo do Plano de Controlo e Plano de Avaliação ou do Plano do Exercício, mais o Manual do Participante, constitui a maioria da
documentação de suporte de um exercício válido e “perfumado”.
(11) Pode variar. Num mesmo exercício, repetido tempos depois, pode ter sido dado mais importância/maior ponderação a um desem-
penho, do que agora ao mesmo desempenho, porque os “pesos” relevantes são outros ou a Finalidade ou outras variáveis do desenvolvi-
mento são outras.
Segurança Comportamental ® 56 ano 10 | número 13 | 2020
exercício em causa. Quem tem a ações esperadas que determinam devem ser estabelecidas com base
responsabilidade de influenciar se aqueles foram atingidos ou em padrões e critérios definidos e
a mudança comportamental não. Os critérios baseiam-se nas contabilizados em ponderações.
em segurança, tem que assumir observações do desempenho, por
comportamentos seguros visíveis exemplo, através de grelhas de d. Relatório Final
aos olhos dos possíveis influenciados, avaliação, análises de compilação Abrangente, e muito suportado
que sejam coerentes, exemplares e de informação, tipo de diálogos pelo relatório de avaliação é a
constantes. O chefe da equipa terá entre os participantes, entre outros. ferramenta que auxilia o diagnóstico
de ser “muito experiente” e não só A métrica para ser objetiva e retirar das fragilidades e implica a tomada
“suficientemente experiente”. O ao máximo a subjetividade. Deve ser das medidas corretivas e que vai,
seu comportamento irá basear-se feita ponderadamente. As grelhas se bem elaborado ajudar a alterar
na sua tarimba, nas participações de avaliação devem estar divididas comportamentos de segurança. É
a materialização das conclusões
anteriores, naquilo que viu, em secções que terão “pesos”
da equipa de condução, baseadas
observou, ajudou e aprendeu. O diferentes no mesmo exercício e em
nas informações da avaliação. Pode
ato de avaliar treina-se. Treina-se no exercícios diferentes, dependendo, ir de um mero memorando a um
trabalho de equipa, na linguagem, como dito, da finalidade e objetivos. extenso documento de algumas
no uso da documentação, no Um mesmo desempenho, hoje, dezenas de páginas. As partes que o
diálogo com os participantes, nas pode ter uma avaliação diferente constituem podem, resumidamente
metodologias, nos critérios. O chefe amanhã, pois hoje a ponderação serem indicadas da seguinte forma:
da equipa de avaliação deve estar era mais importante (por exemplo) Introdução; Finalidade do Exercício;
a par do planeamento do exercício, no comando e controlo e noutro Resumo do Exercício; Listas de
do planeamento do programa dia na assistência a acidentados, Verificação; Pontos Fortes e Pontos
e/ou campanha de exercícios, exatamente com o mesmo guião e que necessitam revisão; e Sugestões
eventualmente em curso, do tipo de mesmos eventos. As avaliações finais / Recomendações.
instrução e treino dos participantes
e qual o nível atingido em exercícios
anteriores, baseados nos relatórios Quadro n.º 1 - Critérios definidos e contabilizáveis em ponderações
dos registos de segurança. Deve
conhecer bem a organização a Insatisfatório • Desempenho com resultados, ponderados, abaixo
exercitar, deve conhecer bem os dos 20% ou quando existirem procedimentos
avaliadores sobre a sua coordenação. que põem em risco pessoas e bens. Obrigatória a
repetição.
c. Metodologia da Avaliação Abaixo do Padrão • Desempenho com resultados, ponderados, entre
Consta de estratégias e os 21% e os 49%.
procedimentos. Baseia-se em
Minimamente • Desempenho com resultados, ponderados, entre
locais de posicionamento, no
satisfatório os 50% e os 55%.
foco da observação quantitativa
e qualitativa daquilo que se vai
dar maior atenção(11). Depende Satisfatório • Desempenho com resultados, ponderados, entre
de critérios, de métricas, de os 56% e os 63%.
ponderações e dos momentos Muito satisfatório • Desempenho com resultados ponderados, entre
de avaliação durante, quando os 64% e os 69%.
se analisam relatos anotados, e Bom • Desempenho com resultados, ponderados, entre
após o exercício, nas reuniões. A os 70% e os 90%.
metodologia de avaliação obriga
Muito Bom • Desempenho com resultados, ponderados, acima
a muitas reuniões (ex: cinco num
dos 90%.
exercício médio) e baseia-se no
plano de avaliação, nos objetivos, Não Avaliado • Por indicação da Organização exercitada;
nos eventos chave e na estrutura da • Início de um Programa de Treino;
equipa, nos problemas surgidos e na • Desempenho dececionante. Desaconselhável
documentação (impressos, listas de avaliar.
verificação). Os critérios de avaliação
devem estar intimamente ligados,
como sempre, aos objetivos e às
Segurança Comportamental ® 57 ano 10 | número 13| 2020
EMERGÊNCIA E COMPORTAMENTOS
Acidentes e Quase-Acidentes - Fatores Humanos na
Investigação, Pré-Investigação e Análise (5.ª ed.)
Safety I & Safety II
24, 25, 26 e 27 de novembro de 2020| 9H30 às 17H30 | Lisboa |
Portugal

+ Informações
AQUI
Organização:
Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações
Unidas; Orientações da Organização Internacional do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de
Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

5. MEDIDAS CORRETIVAS equipa faz parte da estrutura da introdução das medidas corretivas,
De pouco serve um exercício se organização. Tal é muito difícil assim como, as lições apreendidas
não houver alterações a tomar, se quando essa equipa faz parte de sejam fundamentais na promoção
não houver lições aprendidas, se uma equipa externa de consultoria. da mudança comportamental em
não houver comportamentos a segurança.
melhorar. Se “tudo correu bem, sem 6. CONCLUSÃO
falhas”, então algo correu mesmo As equipas de avaliação, embora Referências bibliográficas
mal: a primeira etapa da conceção bem-intencionadas, com algum grau Autoridade Nacional de Emergência
de um exercício – estabelecimento e Proteção Civil 2012. Guia de
de amadorismo, sem preparação
Planeamento de Exercícios. Lisboa,
da base; e o primeiro passo do adequada e com comportamentos Autoridade Nacional de Proteção Civil
processo de desenvolvimento – inadequados, tendem a Federal Emergency Management Agency
avaliação das necessidades; foram perder credibilidade, causar 2006. Exercise Design, Washington,
mal analisados e mal estabelecidos. animosidade e a poucas alterações Federal Emergency Management Agency
Um exercício tem de trazer comportamentais poderão ser International Standard ISO
melhorias, pelo menos potenciais contrárias à justa pretensa de 22398:2013. Societal security —
e que só se virão a confirmar como aquisição de mais valias de Guidelines for exercises. Geneva.
tal, num novo exercício, na análise segurança. Em gestão da segurança Marques, G. 2008. Planeamento
diária dos níveis de segurança, na baseada em comportamentos, para Programação, Conceção, Desenvolvimento
análise dos registos de segurança. É que haja mudança comportamental, e Avaliação de Exercícios. Lisboa, Instituto
recomendável que haja uma “equipa Superior de Educação e Ciências
é importante que haja aderência
Marques, G. 2013. Validação de Planos
de seguimento” de introdução de incondicional de quem tem de Segurança. Aveiro. Mare Liberum
medidas corretivas - uma equipa de capacidade e qualidade, podendo NFPA 1600 2010. Standard for Disaster/
pressão e de vigilância constante ser líderes formais ou informais, e Emergency Management Programs
que vá alertando, doutrinando os que seja exercida de forma natural. Phelps, R. 2012. Emergency Managements
trabalhadores de uma organização. Para tal quem prepara tem de ser Exercises. From Response to Recovery.
Tendo por base a minha experiência, muito bem preparado e reconhecido, São Francisco, Chandi Media.
tal é facilitado quando essa considerado, daí que a avaliação e a

Segurança Comportamental ® 58 ano 10 | número 13 | 2020


SAFETY & HEALTH COACHING - PREVENÇÃO
EM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
(2.ª ed.)
18 e 19 de junho de 2019 | 9H30 às 17H30 - Lisboa | Portugal
APRESENTAÇÃO
A metodologia de Safety & Health Coaching e respetivas ferramentas auxiliam a liderança
(formal e informal), os técnicos de segurança e os multiplicadores de informação (formadores,
auditores, inspetores, etc.) a cumprirem as regras de segurança e saúde e a ajudarem os restantes
intervenientes no cumprimento dessas mesmas regras. O âmbito de aplicação é o sistema de
gestão de segurança e saúde no trabalho. A aplicação desta metodologia potencia não só os
resultados em segurança e saúde, eliminando ou reduzindo os acidentes e os incidentes de
trabalho, assim como as doenças profissionais ou doenças relacionadas com o trabalho, mas
também a motivação, o desempenho e a produtividade. As ferramentas que compõem esta
metodologia podem ser aplicadas a um grupo ou apenas a cada um dos intervenientes.

OBJETIVOS
- Conhecer os conceitos e princípios sobre BBSH e Safety & Health Coaching.
- Compreender a importância do Safety & Health Coaching na metodologia de Diálogos
Preventivos.
- Conhecer as competências do Safety & Health Coach
- Conhecer as competências do Safety & Health Coachee
- Saber realizar Safety & Health Coaching aplicado os Diálogos Preventivos, do tipo compensatório
e corretivo.
- Saber recolher e interpretar dados sobre as intervenções de Safety & Health Coaching.
- Compreender quais os níveis de maturidade da Cultura de Segurança e Saúde mais ajustados
a implantação do Safety & Health Coaching.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICCO
Capítulo I: BBSH (BEHAVIOR BASED SAFETY & HEALTH)
Capítulo II: ABORDAGENS DE SAFETY & HEALTH COACHING
Capítulo III: ABC E SUA IMPORTÂNCIA PARA A BBSH
Capítulo IV: APLICAÇÃO DE MÉTODOS E TÉCNICAS DE ABORDAGEM
Capítulo V: INDICADORES E REGISTOS
Capítulo VI: MATURIDADE DA CULTURA DE SEGURANÇA & SÁUDE PARA IMPLANTAÇÃO DO
SAFETY & HEALTH COACHING
Organização

INSCRIÇÕES
pARCEIROS

Esta ação interventiva está alinhada com: Agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas; Orientações da Organização Internacional
do Trabalho; Estratégias Europeia e Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, e; Campanhas da EU-OSHA.

Segurança Comportamental ® 59 ano 10 | número 13| 2020


Conselho Editorial Luso-Brasileiro:
INFORMAÇÕES SOBRE A CONSELHO EDITORIAL LUSO-BRASILEIRO
PUBLICAÇÃO Sónia P. Gonçalves (Diretora do Conselho Editorial). Psicóloga. Doutorada em psicologia do trabalho e das organizações pelo ISCTE-IUL.
DE ARTIGOS Investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP). Docente no ISCSP-ULisboa. Especialista em Psicologia da Saúde Ocupacional
e Gestão e Administração. Coach certificada. Facilitadora certificada de Legos Serious Play. áreas de interesse: segurança e saúde no trabalho, gestão
de recursos humanos. Autora de vários artigos de âmbito nacional e internacional, especialmente na área da psicologia da saúde ocupacional e na
1) Condições gerais
sua interface com a família.
a) São publicados artigos na área de segurança e conselhoeditorial@segurancacomportamental.com
saúde, nomeadamente segurança comportamental. César Petrónio Augusto (Sub-Diretor do Conselho Editorial). Licenciado em Engenharia Mecânica (ramo de produção), pelo Instituto Superior
b) A Revista tem periodicidade anual, sendo esta de Técnico. É Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho e possui um "Fast-Track" MBA, atribuído pelo Instituto Superior de Economia e
carácter independente. Gestão. Tem desenvolvido a sua carreira em empresas multinacionais dos setores Químico, Alimentar, Farmacêutico e da Embalagem, tendo
c) Fora desta periodicidade poderão ser publicados desempenhado as funções de Gestor de Projeto, Manager de HST, Diretor de Produção/Operações e Diretor de Manutenção e Melhoria Contínua.
números temáticos. É formador de excelência e melhoria contínua na gestão, onde a Segurança Comportamental se enquadra. É sub-diretor do Conselho Editorial da
"Revista Segurança Comportamental". Atualmente desempenha as funções de "Operational Excelllence Specialist", no grupo farmacêutico Vifor
d)A Revista reserva o direito de recusar artigos que Pharma, uma multinacional do setor farmacêutico..
não atendam às suas linhas editoriais e às modifi- Ana Boto. Licenciada em Engenharia de Materiais pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa. Trabalha no setor das utilities
cações sugeridas pelo Conselho Editorial. desde 2008, onde desempenhou funções enquanto Técnica Superior de Segurança e Saúde no Trabalho (CAP VI), com destaque, no âmbito da
e) Os autores serão notificados sobre a recepção prevenção e segurança no trabalho, para (i) definição, atualização e controlo da execução de políticas e ações corporativas; (ii) desenvolvimento e
de seus artigos dentro de um prazo máximo de 15 coordenação do Sistemas de Gestão; (iii) coordenação e consolidação do reporte de informação não financeira; e (iv) gestão de processos e sistemas
dias úteis. de informação. É ainda, formadora e auditora interna em segurança no trabalho, e vogal na SC 4 – Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no
Trabalho na Comissão Técnica (CT) 42 – Segurança e Saúde no Trabalho. Atualmente, exerce funções na área da sustentabilidade, onde participa (i)
f) Os artigos assinados serão de exclusiva responsab-
na implementação de estratégias, incluindo iniciativas e projetos, para o cumprimento de objetivos internos em alinhamento com os Objetivos de
ilidade dos autores e não expressam necessariamente Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas; e (ii) no reforço do posicionamento em temáticas de sustentabilidade e segurança através
a opinião da Revista. do relacionamento com stakeholders relevantes, na representação institucional em organizações e eventos nacionais e internacionais.
g) Os artigos tornam-se propriedade da Revista Se- Ana Paula Caldeira. Licenciada em engenharia química pelo IST; Pós-graduada em segurança e higiene do trabalho; Pós-graduada em Engenharia
gurança Comportamental e ficam disponibilizados da Qualidade; Pós-graduada em Gestão do Ambiente; Pós-graduada em Lean Management. Consultora, auditora certificada e formadora habilitada
por tempo indeterminado. pelo IEFP (2005) em Sistemas de Gestão da Qualidade (ISO 9001), Segurança Alimentar (ISO 22000 e FSSC 22000), Ambiente (ISO 14001) e Segurança
h) As traduções ficam a cargo do autor, embora essa e Saúde do Trabalho (OHSAS 18001).
Carlos Dias Ferreira. Licenciado em Ciências Sócio Militares Navais ramo Engenharia Naval pela Escola Naval; Pós-graduado em Segurança e
tradução possa ser assumida em regime de excepção Higiene do Trabalho pela UNL-FCT; Mestre em Segurança e Higiene do Trabalho pela IPS-ESCE. Docente universitário em pós-graduações área SHT
pela Revista Segurança Comportamental. e Ambiente; Consultor em Segurança nas áreas da segurança contra incêndios, Gestão da emergência, ATEX, análise de risco e investigação de
2) Avaliação acidentes. Diretor da SAFTENG, Lda.
a) Todos os originais serão submetidos ao Conselho Celestino Martins. Licenciado em ciências sociais, área vocacional de psicologia social. Pós-graduado em Segurança e Higiene no Trabalho pela
Editorial que decide, em revisão cega e com o pare- ESTS/IPS. Mestre em Segurança e Higiene no Trabalho pela ESCE/IPS. Desempenhou a função de Coordenador de Saúde Ocupacional e Segurança
cer de dois revisores (um técnico e um académico) das empresas de Betão, Portugal, do Grupo Cimpor. Desempenha a função de Analisa de Segurança, Saúde e Meio Ambiente como coordenador
do programa Segurança Baseada em Comportamentos na Unidade de negócios Portugal e Cabo Verde da CIMPOR.
sobre a aceitação dos artigos, emitindo parecer
Célio Gonçalo Marques. Doutorado em Ciências da Educação, especialidade de Tecnologia Educativa, pela Universidade do Minho. Professor do
conclusivo: Instituto Politécnico de Tomar e Presidente do Conselho Técnico-Científico da Escola Superior de Gestão. Investigador do CAPP (Universidade de
• Aprovado; Lisboa) e do Laboratório de Tecnologia Educativa (Universidade de Coimbra). A segurança informática está entre as suas áreas de atuação.
• Não aprovado; Diana Santiago Carreira. Doutorada em Geografia pelo King’s College London, mestre em "Gender, Development and Globalisation” pela London
• Aprovado com sugestões e/ou restrições School of Economics, ambos no Reino Unido, e licenciada em Relações Internacionais pela Korea University, na Coreia do Sul. Colaborou como
(artigos potencialmente de boa qualidade, consultora com organizações como a Friends of Africa International, Inc. em Nova Iorque e a UNESCO-Korea, em Seul. Especialista em assuntos de
mas com problemas pontuais de redacção, género e segurança humana.
Hamilton Júnior. Engenheiro Civil (1980). Engenheiro de Segurança do Trabalho (1983). Mestre (2001) e Doutorado (2009) em Engenharia Civil
argumentação, dados factuais, etc.); pela Universidade Federal De Santa Catarina. Professor reformado Dutro Associado II do Sector de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná,
• Reprovado com sugestões para reapresen- admitido em 1980. Especialista em Road Safety And Accidentes Prevention pelo Conselho Britânico – New CastleUponTyne – Inglaterra – 1990.
tação (artigos com boas ideias e/ou pontos de Hernâni Veloso Neto. Sociólogo. Professor Universitário, Investigador, Formador e Consultor. Especialista e mestrado em Engenharia Humana pela
partida, mas com problemas estruturais que Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Pós-Graduação em Sistemas Integrados de Gestão pela Universidade Fernando Pessoa.
precisam necessariamente ser equacionados). Doutoramento em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
b) Caso o artigo seja aprovado, a Revista Segurança João Areosa. . Licenciado em sociologia. Pós-graduado em Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. Mestre e Doutor em sociologia do trabalho,
do emprego e das organizações pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Docente no Instituto Politécnico de Setúbal (ESCE/IPS).
Comportamental enviará uma declaração de publi-
Investigador integrado no Centro de Interdisciplinar em Ciencias Sociais (CICS.NOVA) da Universidade Nova de Lisboa e Membro associado no
cação para assinatura do(s) autor(es). Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa.
c) O Conselho Editorial, dependendo da especifici- João Milhano. Licenciado e Mestre em Direito. Comissário da Policia de Segurança Pública. Formador de Segurança de Aviação Civil. Docente
dade da matéria, e caso considere necessário, poderá Universitário.
encaminhá-lo o artigo para parecer de Consultores José Luiz Alves. Engenheiro Químico, Doutorado em Engenharia pela Escola Politécnica de São Paulo (USP). Experiência industrial no Grupo
AD HOC. Rhodia, como auditor internacional de segurança de processos e Gerente de Tecnologia da América Latina. Consultor Principal na DNV GL Fundador
d) O Conselho Editorial poderá aprovar pequenas e Diretor da Interface Consultoria em Segurança e Meio Ambiente.
Juliana Bley. Mestre em Psicologia pela UFSC, Graduada em Psicologia pela PUCPR. Possui formação clínica em Terapia Relacional Sistémica e
alterações de carácter meramente formal, não sendo estudos avançados em educação de adultos e saúde integral e transdisciplinaridade. Consultora em vários segmentos empresariais com temas
admitida modificação de estrutura, conteúdo ou ligados a conscientização e mudança de comportamento em Saúde Integral e promoção da Segurança no Trabalho. É autora do livro
estilo sem o prévio consentimento do autor. “Comportamento seguro: a psicologia da segurança e a educação para a prevenção de doenças e acidentes”.
3) Normas para publicação de artigos Luciano Nadolny. Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Pessoas, FAE/CDE,
O artigo enviado para publicação na revista Segu- Mestrando em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná, certificado Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho pelo Conselho
rança Comportamental deve atender às seguintes Federal de Psicologia, Certificado em Investigação Apreciativa pela Case Western Reserve, Certificado de Competência em Ergonomia pelo
Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM). Analista Técnico na Gerência de Segurança e Saúde para a Indústria no Serviço Social da
normativas:
Indústria do Paraná.
a) Sinopse curricular: tamanho máximo de 500 Maria Odete Pereira. Psicóloga. Doutorada em gestão, na especialidade de gestão de recursos humanos. Professora Coordenadora da Escola
caracteres com espaço. Superior de Ciências Empresariais – IPS, Setúbal. É docente do Mestrado em Segurança e Higiene no Trabalho da ESCE/EST do IPS. Exerceu vários
b) Título e subtítulo: o título e os subtítulos devem cargos de Gestão, nomeadamente, no âmbito das funções Académicas.
registar os mais objetivamente possível os conteúdos Natividade Gomes Augusto. Licenciada em sociologia pelo ISCTE-IUL. Pós-graduada em Gestão de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho pelo
e a abordagens teórico-práticas. ISCSEM. Pós-Graduada em Sistemas Integrados, Qualidade, Ambiente, Segurança e Responsabilidade Social. Técnica Superior de Segurança numa
c) Resumo: no máximo 100 caracteres sem espaços, empresa do setor aeronáutico. Docente universitária. Diretora-Geral da Revista Segurança Comportamental. Diretora-Executiva da PROATIVO,
Instituto Português.
apresentado em português. Pedro Arezes. Licenciado em Engenharia de Produção pela Universidade do Minho e Doutorado em Engenharia Industrial e de Sistemas pela
d) Palavras-chaves: deverão ser apresentadas em mesma Universidade. Professor Catedrático de Engenharia Humana no Departamento de Produção e Sistemas da Escola de Engenharia da
português. Universidade do Minho. Investigador convidado do MIT e da Universidade de Harvard, nos EUA.
e) Saliências: todas as ideias mais importantes do Pedro Alexandre Marques. Licenciatura (2001) e Doutoramento em Engenharia Industrial (2013) pela Universidade Nova de Lisboa; Certified Six
artigo deverão ser sublinhadas. Sigma Black Belt pela American Society for Quality (2014); Investigador (2012-) e Consultor Sénior (2006-) no Instituto de Soldadura e Qualidade
f) Ilustrações: as imagens de ilustração (fotos + (ISQ) nas áreas de Engenharia da Qualidade, Seis Sigma, Sistemas de Gestão, Lean Management, Desenvolvimento de Produto, e Gestão da
Inovação.
desenhos) devem ser enviadas em arquivos JPG,
Rosa Bernardo. Licenciada em saúde ambiente Técnica superior de segurança e higiene do Trabalho. Técnica europeia de segurança contra
RGB, 1000 pixels de largura, altura na proporção. As incêndios. Formadora das disciplinas de SHT, AMART e SOE do curso técnico de segurança e higiene no trabalho e ambiente da escola profissional
imagens, que devem necessariamente ser enviados da APRODAZ, e do módulo de gestão de segurança, do curso de técnico de qualidade, da Escola de Novas Tecnologias dos Açores.
em separado, não podem, em hipótese alguma, ter Sónia Goulart. Licenciada em Assessoria de Direção e Administração pelo INP, pós-graduada em Gestão de Higiene e Segurança do Trabalho pelo
problemas de direitos autorais. ISCSEM. Especialista em Segurança de Informação. Consultora e formadora na área da Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Desenvolveu diversos
g) Referências bibliográficas: segue modelo Harvard. projetos de instalação e gestão de empresas, assumindo funções executivas na gestão operacional – vendas, após-venda, marketing e relação com
clientes, bem como na gestão de Recursos Humanos. Adjunta Editorial da Revista Segurança Comportamental.

Ficha Técnica
Diretora-Executiva: Natividade Gomes Augusto (direcao@segurancacomportamental.com). Diretora do Conselho Editorial: Sónia P. Gonçalves (sonia.goncalves@segurancacomportamental.com).
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Segurança Comportamental ® 60 ano 10 | número 13 | 2020


BEHAVIOR BASED SAFETY
Cultura de Segurança.
Proficiência em Risco. Observações e Diálogos Preventivos de
Segurança. Análise de Acidentes de Trabalho Segundo Modelo
de Falhas Humanas.
Gestão de Antecedentes. Gestão de Consequências.
Indíce de Não-Aceitáveis. Taxa de Preocupação.

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Segurança Comportamental ® 61 ano 10 | número 13 | 2020

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