Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DESAFIOS PARA O
FUTURO
SST passa por transformações, com revisão de
normas e modernização dos sistemas de gestão.
Mesmo com os avanços obtidos, especialistas
apontam que é possível avançar mais
FOTO: SISTEMA ESO
106
107
emissão do CAT (Comunicação de isso por uma questão de medidas to, com o advento desse tipo de
Acidente de Trabalho), documen- que precisavam ser tomadas no tecnologia, ficará muito mais fá-
to que todas as empresas devem curto prazo, com resultados tam- cil acessar indicadores de saúde,
preencher em caso de ocorrência bém de curto prazo”, afirma José não só de saúde ocupacional, re-
de acidentes de trabalho, de traje- de Assis Pires de Miranda Junior, lacionadas a doenças de trabalho,
to, doenças ocupacionais ou óbi- médico coordenador do SESI-SP. como também de indicadores de
tos de seus colaboradores. O especialista explica que es- saúde populacional. “Isso facilita
Para Lima Júnior, a partir da im- sa dinâmica sempre existiu, mas muito na tomada de decisões de
plementação da PNSST - Política que a pandemia acabou trazendo ações que ele deve implementar.
Nacional de Segurança e Saúde no maior agilidade na tomada de de- Ações essas sempre buscando a
Trabalho, e do PLANSAT - Plano cisões. “O médico, por essência, prevenção de novos afastamento
Nacional de Segurança e Saúde no conhece o ambiente de trabalho no ambiente de trabalho”, afirma.
Trabalho, será possível ter políticas como ninguém e aquela popula- Embora as empresas de gran-
públicas importantes para a me- ção como poucos. Esse conheci- de porte já façam uso de sistemas
lhoria da SST nos ambientes labo- mento é valioso para os gestores. voltados para essa finalidade, Mi-
rais, o que pode impactar, inclusi- Imagina que a empresa vai abrir randa reconhece que pequenas e
ve, nas subnotificações. uma linha de montagem. A equi- médias empresas, ainda não estão
“Entendo que a PNSST (De- pe de saúde deve ser chamada. É preparadas para atender à nova
creto n° 7.602 07/11/2011 D.O.U., ela quem vai definir os sistemas normalização.
08/11/2011 - Seção 1) e o PLANSAT, de ergonomia necessários e dizer “O fato é que é uma mudan-
são compromissos de governo, tra- quais trabalhadores podem atuar ça que precisa acontecer. É impor-
balhadores e empregadores com em determinada linha. Esse conhe- tante. O PGR tem por objetivo re-
a promoção do trabalho decente, cimento é muito estratégico para duzir a sobrecarga do médico do
em condições de segurança e saú- qualquer empresa. E a pandemia trabalho e essa tarefa de monito-
de no trabalho em nível nacional e trouxe isso à superfície”, avalia. rar os riscos ocupacionais, na me-
devem ser implantados com a in- Em relação às mudanças na le- dida em que esses riscos serão con-
tegração dos bancos de dados dos gislação, Miranda defende o avan- trolados. Isso faz com que o perfil
ministérios envolvidos nas ques- ço tecnológico, como a interação desse profissional, cada vez mais,
tões de SST”, assinala. do Programa de Gerenciamen- se volte para dois caminhos: a pro-
to de Riscos (PGR) com o Progra- moção do bem-estar físico e men-
Pandemia gerou avanços ma de Controle Médico de Saú- tal do trabalhador, e a adequação
É de conhecimento que a de Ocupacional (PCMSO) na NR-7, do ambiente de trabalho, inserindo
covid-19 mexeu com a rotina de por exemplo. No seu entendimen- o trabalhador em um local compa-
empregados e empregadores no
mundo todo, inclusive no Brasil.
Para especialistas da área de pre-
venção, no entanto, ela não só al-
terou as formas de trabalho den-
tro das empresas, como promoveu
uma importante mudança para a
área, trazendo maior visibilidade
ao profissional de SST, principal-
mente aos médicos de trabalho.
“Com a pandemia, esses profis-
sionais foram chamados para falar
diretamente com o presidente da
empresa, o que não era comum. A Jófilo Moreira Lima Jr., ex-secretário Edenilza Campos de Assis Mendes,
responsabilidade ficou nítida. Tudo de SST do Ministério do Trabalho médica do Trabalho
108
Treinamento contínuos
Com tantas novidades a cami-
nho, uma das palavras de ordem,
Jorge Chahoud, engenheiro de Nathan Franco Ribeiro, diretor de que não pode ficar de fora das dis-
Segurança do Trabalho Marketing do Sistema ESO cussões a respeito de SST, tem si-
do o treinamento e que são mais
que necessários. Para o consultor
Sair do papel transparente para todas as partes em Segurança do Trabalho, Cosmo
Uma das preocupações de es- interessadas”. Para o sucesso da Palasio de Moraes Júnior, infeliz-
pecialistas em SST é a de que mu- implantação de um sistema de ges- mente para muitos profissionais e
danças nas normas demorem para tão, ele defende ainda duas ques- ainda para muitas organizações es-
“sair do papel”, impedindo o avan- tões como fundamentais: profis- se tema ainda não passa de uma
ço necessário ao setor. sionais em número suficiente para mera formalidade para atender al-
O engenheiro de segurança do atuar na área, dentro das compa- guma exigência ou requisito.
trabalho e especialista em Higiene nhias, e que haja maturidade por “Talvez o grande problema do
Ocupacional, Jorge Chahoud, aler- parte das empresas. treinamento – embora esses sejam
ta que, quando se aborda o tema “A primeira serve para fazer imensos – não esteja diretamente
Gestão de Saúde e Segurança do com que o sistema fique encorpa- no próprio treinamento, mas nas
Trabalho é muito comum que os do e possa ser implantado com su- condições que se tem para traba-
processos que a compõe sejam to- cesso; ele deve conter boas práti- lhar que nem de longe favorecem
dos fragmentados e, muitas vezes, cas e permitir uma compreensão ou em muitos casos permitem que
absolutamente cartoriais. Ele des- mais detalhada sobre o escopo de aquilo que se ensina possa ser pos-
taca ainda a importância de pro- sua abordagem. Em geral, os pro- to em prática”, considera. Ele diz
fissionais de saúde e segurança do fissionais dos Serviços Especiali- que não é difícil uma empresa fa-
trabalho revisitarem conceitos téc- zados em Engenharia de Segu- zer treinamento pró-forma, só por-
nicos, fazendo uma autoanálise so- rança e em Medicina do Trabalho que a norma ou a lei exigem.
bre sua realidade e suas limitações. - SESMT (quando existir) ficam ‘so- “Para todos os males da falta
“Me parece que o cenário é litários’ pela falta de massa crítica de segurança e saúde no trabalho
bastante desconfortável para al- nas organizações sobre a seguran- em nosso País existe um único re-
guns profissionais que se acostu- ça e saúde no trabalho. Pela nor- médio: a aplicação da lei! Podemos
maram a preencher planilhas de ma Regulamentadora 4 é notório inventar – como sempre inventa-
maneira inconsistente, ou seja, não que o dimensionamento do SESMT mos isso ou aquilo – um gráfico
há base técnica nos levantamen- não atende a grande maioria das mais ou menos colorido – , mas,
tos, havendo uma corrida em bus- organizações brasileiras”, aponta. enquanto não houver de fato res-
ca de modelos, continuando assim A segunda questão, com re- ponsabilização para determinados
a insistir em documentos absoluta- lação à maturidade da empresa, casos de acidentes, tudo seguirá
mente cartoriais. Esta realidade in- Jorge Chahoud avalia que resul- da mesma forma e não digo isso
felizmente está presente”, afirma. tados esperados e poucos desvios apenas em relação aos maus em-
Ele aponta ainda que “uma acabam gerando maior compro- presários, mas também em relação
gestão de SST deve ser conduzi- misso de todos os trabalhadores a algumas consultorias e profissio-
da de forma dinâmica, objetiva e influenciando de forma direta a nais de nossa área”, conclui.
110
111