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NEURECTOMIA EM EQUINOS: Tratamento paliativo - REVISÃO


Bárbara Cristina Silva Mota Domingues1
Paloma Cristina Santos Carvalho1
Marcela Viana Triginelli2

RESUMO
Dado a utilização constante dos equinos para a vida atlética ou outras funções que
exigem um grande desempenho dos mesmos, esse esforço pode ocasionar algumas
patologias, principalmente do sistema locomotor, entre elas a mais frequente é a
síndrome do navicular que tem como característica a dor crônica. Quando nos
referimos a dor crônica, existem inúmeros tratamentos, porém, nem todos os casos
obtém respostas positivas, desse modo pode-se optar por um tratamento paliativo não
curativo: a neurectomia. A neurectomia digital palmar/plantar (NDP), utilizada mais
frequentemente em equinos como uma forma de prolongamento da vida útil e melhoria
do bem-estar é realizada de forma simples, na qual é seccionado uma parte do nervo
interrompendo a sua transmissão nociceptiva. Apesar das diversas técnicas que
podem ser empregadas nesse procedimento, a técnica da guilhotina e a técnica de
stripping são as mais utilizadas, podendo ser associadas a neurorrafia para melhores
resultados. Embora existam algumas diferenças entre as técnicas, ambas foram
consideradas satisfatórias, não apresentando complicações graves no pós-cirúrgico,
tendo em vista que além da escolha da técnica adequada, é necessário ter a cautela
para que a cirurgia seja asséptica e que seja realizado o acompanhamento do
paciente pelo resto de sua vida visando seu bem-estar.

Palavras-chave: Bem-estar. Dor. Guilhotina. Neurectomia.

1. INTRODUÇÃO

O sistema locomotor dos equinos é exigido além do que podem suportar


principalmente animais atletas que são submetidos a exercícios de impacto, com
movimentos repetitivos e de alta intensidade podem culminar em algumas patologias
(MARANHÃO et al., 2006).

1Graduando do curso de medicina veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG,
barbaracsmd@hotmail.com; paloma_dos@yahoo.com
2Professora do curso de medicina veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG,

marcela.triginelli@newtonpaiva.br
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Dado a domesticação de equinos, estes são utilizados com frequência para diversos
tipos de trabalho e desempenho atlético que como consequência esses animais tem
uma exigência (física principalmente) acima de seus limites naturais (GOODSHIP e
BIRCH, 2001) e pode levar a vários problemas de saúde, sendo o sistema locomotor
(com uso constante de serviço) uma das casuísticas mais frequentes de atendimento
médico em equinos dentre as patologias temos algumas mais importantes e mais
frequentes, como a síndrome do navicular, comum em cavalos atletas, laminite, broca
e rachaduras (SIMÕES.L, 2019)

O tratamento de dor crônica na medicina é tão desafiador na humana quanto na


veterinária (FALEIROS et al.,2008) e por muito tempo o tratamento da dor e sua
importância com relação ao bem-estar animal receberam pouco enfoque na Medicina
Veterinária (BORGES, 2010 e ALVES et al.,2016).

A busca de tratamentos conservativos clínicos e cirúrgicos um exemplo é a


neurectomia (Neurectomia digital palmar/plantar- NDP) trata-se um procedimento
cirúrgico utilizado para alívio da dor que consiste no corte e retirada de um segmento
de um nervo específico, comumente realizado no nervo digital palmar ou plantar
(SANTANA, 2004).

Assim como toda medida cirúrgica a neurectomia traz complicações. Como,


surgimento de neuromas dolorosos, dessensibilização incompleta, tempo insuficiente
de ação neurolítica química e reinervações (DABAREINER et al., 1997; NICOLETTI
et al., 2007; KOCH, 2011; REZAIE et al., 2011). E quando esta técnica é aplicada de
forma indiscriminada por muito médicos veterinários traz descredibilidade controle de
dor crônica, por não tratar a doença de base da claudicação.

Dessa forma, o presente trabalho tem o objetivo de atualizar os conhecimentos sobre


a neurectomia, avaliando suas indicações, vantagens e desvantagens no tratamento
de dor em equinos, as técnicas aplicadas e de pontuar que este processo é paliativo
não curativo. Salientando a importância da indicação correta de tal procedimento que
pode comprometer a vida de trabalho ou esportiva de um equino.

2. DESENVOLVIMENTO
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2.1 Aspectos anatômicos de membros distais e principais considerações


equinas (falar dor crônica em equinos)

Conhecer a anatomia animal em um aspecto geral além de constituir uma disciplina


básica para formação Médico Veterinário, constitui uma importante ferramenta na
elaboração do diagnóstico e no sucesso da escolha da conduta clínica e cirúrgica
(DYCE; SACK; WENSING, 2010).

Na anatomia equina quando pensamos na porção ortopédica de parte distal de


membros equinos envolve a osteologia musco-esquelética, a artrologia e inervação.
Sendo que na primeira; está dividida em: carpo ou tarso, metacarpo ou metatarso e
falanges, bem com suas articulações e osso sesamóides. Segundo Silva (2014); a
constância de contato dessas regiões com superfícies mais resistentes é um fator de
risco tendo em vista que inúmeros problemas clínicos podem acontecer; como lesões
de osso (sesamóide distal/navicular), ruptura de tendões (principalmente Tendão
flexor digital profundo- TFDP; ligamentos colaterais, ligamentos suspensórios) tudo
isto devido a esforço repetitivo em que certos animais podem ser submetidos para
trabalho ou esporte.

Cerca de 60% do peso dos cavalos está distribuído nos membros torácicos sendo que
a maioria dos problemas locomotores dos equinos estão relacionados a esses
membros (RAYMOND et al., 2011 e Silva (2014).

Ainda levando em consideração o aspecto de lesões crônicas que ocasionam dor nos
equinos, faz-se necessário de acordo com Alves et al. (2016), conhecer os aspectos
clínicos, experimentais e conceito da dor em equinos e seus respectivos desafios para
intervir de maneira correta no tratamento da dor crônica instituindo uma terapêutica
multimodal com uso de medicamentos analgésicos, neurolíticos (a base amônia ou
álcool) entre outros em conjunto ou não com intervenção cirúrgica.

A dor tem por definição revisada em 2020, pela Associação Internacional para o
Estudo da Dor (IASP), como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável
associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão”
(De Santana et al., 2020); em que a definição mais adequada é dada por Muir (2010),
destacando a dor como uma experiência sensorial ou emocional aversiva, em que o
dano ou ameaça à integridade tecidual pelo animal possui alterações fisiológicas e
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comportamentais, ou seja, o objetivo é sempre evitar o dano e promover recuperação


independente da lesão real ou potencial em especial o equino.

Portanto conhecer o conceito da dor têm-se a sua classificação que de acordo com
klaumann et al.; (2008), classificam a dor como: aguda, quando sua ocorrência é
recente, ou crônica, quando a duração é prolongada.

2.2. Principais afecções sistema locomotor de equinos

As principais afecções sistema locomotor de porções distais dos membros dos


equinos são as doenças degenerativas podais , como a síndrome do navicular (onde
estima-se que a síndrome seja responsável por um terço de todas as claudicações
crônicas de membros anteriores em equinos (STASHAK & PARKS, 2011)),
calcificação das cartilagens alares; tendinite do flexor digital profundo; tensinovite; que
são algumas doenças de caráter crônico, sem característica regressiva ao tratamento
clínico (STASHAK; 2006) que culminam em claudicação e quadros de dores crônicas.

E segundo Stashak & Parks (2011) ao tratar claudicação ou outra afecção de porções
distais dos membros, é preciso compreender a dor destes animais, seus aspectos
fisiológicos e que qualquer intervenção no tratamento estamos buscando equilíbrio
entre osteoclasto e osteoblasto e readequar a metabolização óssea corroborando
klaumann et.al.; (2008), que as classificações de dor também ajudam a instituir uma
terapêutica adequada, cirúrgica ou medicamentosa sempre levando consideração
cada animal e cada particularidade do mesmo, porém com a mesma finalidade, tratar
causa base da dor.

2.3 Aplicações cirúrgicas

Doenças crônicas ortopédicas, de origem podal, são comumente tratadas


clinicamente (Guitierrez-Nibeyro et al., 2011) com diferentes modalidades
terapêuticas desde o casqueamento e ferrageamento corretivos, até a utilização de
anti-inflamatórios não esterioidais (AINES), para buscar melhor resposta clínica.

E para buscar de alguma forma a dessensibilização de nervos periféricos, pode se ter


o uso de neurolíticos, a realização de neurectomia (cirúrgico), no entanto, a má
utilização de técnicas de dessensibilização nervosa, em conjunto com resultados
insatisfatórios tem-se uma certa descrença da efetividade de tal intervenção
(HARKINS et al., 1997; CAMPOS et al., 2013).
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Como observado por Reis (2017), parte das abordagens cirúrgicas englobam
procedimentos como: neurectomia digital palmar/palmar, que é considerada um
procedimento paliativo; porque alivia apenas a dor assim como, a bursoscopia do osso
navicular, desmotomia dos ligamentos colaterais do osso navicular e desmotomia do
ligamento acessório do TFDP sendo que todas essas como paliativo no manejo da
dor. Porém, a neurectomia palmar/plantar (NP) apesar de ser utiliza da há décadas
(DABAREINER et al.,1997; NICOLETTI et al.,2007; KOCH, 2011; REZAIE; MOUSAVI;
MOHAJERI, 2011) para aliviar dores crônicas ainda há poucas citações de NP quanto
ao sucesso da intervenção a longo prazo e principalmente quanto ao seu pós-cirúrgico
(ROCHA, 2016).

2.3.1 Neurectomia

A neurectomia tem sido utilizada em equinos que não apresentam resultados


satisfatórios em relação aos demais tratamentos convencionais desde o século XIX.
Nesses casos pode-se optar de forma paliativa por esse procedimento cirúrgico que
consiste em realizar a interrupção na transmissão nociceptiva através da secção de
uma parte do nervo onde retiram a percepção de dor aguda que é importante para
defesa animal e infelizmente pode gerar aumento de estímulo doloroso crônico
(NICOLETTI et al., 2007). Apesar de não possuir caráter curativo e não impedir o
progresso da doença, possui como principal finalidade o prolongamento da vida útil,
melhor qualidade e bem-estar de equinos principalmente dos atletas acometidos por
dores crônicas (NICOLETTI et al., 2007; KOCH, 2011; REZAIE; MOUSAVI;
MOHAJERI, 2011).

Em equinos a neurectomia é aplicada com maior frequência nas porções distais dos
membros, sendo conhecida como NDP (neurectomia digital palmar/plantar), utilizada
em afecções como: fraturas da falange distal e/ou do osso navicular, doenças
degenerativas como a síndrome do navicular, calcificações de cartilagens ou outras
afecções que necessitam da dessensibilização dessas estruturas.

Porém, a principal causa de claudicação crônica em equinos atletas em sua maior


parte de atividades como salto e corrida, a síndrome do navicular, seria a mais
indicada para esse procedimento (PEIXOTO e SOUZA, 2004; ESCOBAR et al., 2008).
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2.3.1.1 Técnicas e indicações

Como todo procedimento cirúrgico, a NDP possui diversas técnicas nas quais são
mais utilizadas a técnica da guilhotina (TG), a técnica da secção nervosa e cobertura
epineural (TCE) e a técnica de stripping ou pull-through (TS) (BLACK, 1992;
DABAREINER et al., 1997; FALEIROS et al., 2008; REZAIE et al., 2011.).

No entanto a mais comum e simples de acordo com Faleiros et al. (2008) seria a
técnica da guilhotina (TG), necessitando apenas de uma incisão permitindo melhor
exposição do campo cirúrgico, onde é realizada a dissecção de uma pequena parte
do nervo, evitando o trauma a ser causado nas adjacências, seguindo para a secção
do segmento com instrumento cortante (TURNER e MCILWRAITH, 1985).

Na técnica de stripping são realizadas duas incisões de pele para que se consiga
retirar um fragmento até três vezes maior do nervo quando comparado a técnica de
guilhotina (FALEIROS et al., 2008). Que ainda em Faleiros et al. (2008), a técnica de
stripping (TS), apesar de necessitar de um maior tempo cirúrgico que de certa forma
acaba por concordar de Black (1992), onde a TS demanda maior tempo e anestesia do
que TG, essa seria igualmente satisfatória como pontua Faleiros et al. (2008) sobre a
pouca diferença entre os tempos médios cirúrgicos (Figura 1), e apresentando menor
potencial para produzir reinervação, neuromas dolorosos e outras complicações no
pós-cirúrgico devido a extensão do segmento de nervo retirado no procedimento,
sendo essa particularidade considerada vantajosa por possibilitar maior período pós
cirúrgico sem o retorno da sensibilidade nervosa ao membro.

FIGURA 1. Médias e erros-padrão da média do tamanho do fragmento e do tempo de


cirurgia em equinos submetidos a duas técnicas de neurectomia digital.

*Diferem entre si.

Fonte: Faleiros et al; (2008).


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Ao comparar as duas técnicas mais utilizadas de neurectomia, a técnica de guilhotina


(TG) e a técnica de stripping (TS), Faleiros et al. (2008) observaram que após 14
meses do procedimento ter sido realizado, houve uma diferença no retorno da
sensibilidade em ambas as técnicas, sendo que na técnica de guilhotina 37%
apresentaram sinal positivo, em contrapartida somente 18,8% tiveram essa resposta
na técnica de stripping. Porém, essa sensibilidade não foi considerada como dolorosa
em nenhum dos cotos proximais, descartando a possibilidade de formação de
neuromas dolorosos, uma das complicações pós cirúrgicos que se verifica com mais
frequência quando se refere a neurectomia e se difere entre diversos autores (Tabela
1).

TABELA 1. Comparações dos autores das técnicas de Técnica da guilhotina (TG) e Técnica de
Stripping ou Pull-Through

Como consequência da retirada de um segmento do nervo, ocorre uma degeneração


dos axônios dos cotos nervosos proximal e distal. Desse modo os cotos nervosos
proximais desenvolvem cones de crescimento à medida que os axônios proliferam,
sendo guiados até os cotos distais pelas células de Schwann, as quais são
responsáveis pela formação da bainha de mielina que favorece a transmissão do
impulso nervoso (GIROLAMI et al., 2000).Quando as extremidades dos nervos
seccionados nas técnicas de neurectomia não se encontram adjacentes como
esperado, os axônios se regeneram de forma desordenada no tecido cicatricial
partindo do coto proximal estruturando assim o neuroma (Vogel et al., 2002).
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Observadas mais tarde por Santana (2009), em que no estudo realizou-se secção de
nervos digitais palmares de cinco equinos hígidos e aplicado duas técnicas, TG e de
neurotomia e neurorrafia término-lateral realizadas no membro torácico direito (MTD)
e membro torácico esquerdo (MTE) com finalidade de avaliar histologicamente tais
membros e em ambos os casos apareceram a células de Schwann que as fibras
nervosas estavam mais organizadas na neurorrafia do que na TG e concluíram que a
TG é melhor devido a prevenção de formação de neuromas já que as fibras se no
ponto cicatricial se mantiveram mais desordenadas concordando com Vogel et al.
(2002).Para conter esse crescimento desordenado, pode-se utilizar a neurectomia
associado a neurorrafia, que permite o restabelecimento do tronco nervoso e a
reinervação favorável (LIVINGSTONE E LUNDBORG, 1988).

Para se obter o sucesso nessa técnica é necessário observar o tempo de intervenção,


a tensão colocada sobre o local de reparação e o material de sutura utilizado no
procedimento podendo ser epineural ou perineural ou até mesmo sem sutura por meio
da junção por adesivo entre outras técnicas existentes.

O tubo de silicone tem sido utilizado na restauração nervosa com frequência por não
ser absorvível e não induzir reação inflamatória, sendo evidenciado com resultados
satisfatórios por Lundborg et al., (1991) e Ferreira et al. (2002) e corroborado por
Delistoianov et.al (2006); (Figura 2).

FIGURA.2 . Tubo de silicone

Aspecto macroscópico dos nervos digitais de equino submetido a neurorafia epineural


(A) ou com tubo de silicone (B). Observou-se tecido conjuntivo fibroso envolvendo a
mostra de sutura epineural (seta em A) e no tubo de silicone a presença de tecido
preenchendo seu diâmetro interno (seta em B) - equino com 180 dias de pós-cirúrgico.
Fonte: Delistoianov et al., (2006).
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2.3.1.2 Complicações

Embora haja diferenças entre as técnicas de neurectomia já existentes e as que estão


em desenvolvimento, ambas têm um ponto em comum em que visam minimizar ou
evitar as complicações pós cirúrgicas a curto e longo prazo (Faleiros et al., 2008), logo
que as mesmas podem ser frequentes, da mesma forma objetivam promover ao
animal uma melhor qualidade de vida e bem-estar, evitando que o mesmo passe por
um novo procedimento cirúrgico para correção dessas possíveis complicações que
possam ocorrer.

Porém, como todo procedimento podem ainda ocorrer algumas complicações devido
ao próprio sistema do animal, falta de repouso ou não continuidade das indicações
prescritas para o pós-operatório, entre elas podemos citar a dessensibilização
incompleta da área afetada, o edema de quartela e boleto nas duas primeiras
semanas, ruptura do tendão flexor digital profundo, a formação de neuroma doloroso
e, até mesmo, a perda da parede do casco (DABAREINER et al., 1997).Por isso, optar
pela neurectomia nunca deve ser a primeira escolha para tratamento de membros
distais.

O neuroma causado pela regeneração desorganizada dos axônios caracteriza-se


como patológico quando é identificado o aumento de sensibilidade dolorosa no local
que quando estimulado por pressão, tensão e/ou hipóxia causa a indução anormal de
sinais nociceptivos ascendente tornando-se doloroso (MARTINS et al., 2002;
MARTINS et al., 2015), sendo necessário rever o tempo indicado de repouso mínimo
após a NP, podendo ser superior à média descrita por Black, (1992); Dabareiner et
al., (1997) e Faleiros et al., (2008) que seria de 45 a 65 dias, para o animal voltar aos
exercícios de rotina caso seja liberado pelo médico veterinário responsável.

Independente da técnica utilizada para neurectomia, deve-se ficar sempre atento aos
cuidados para que seja um procedimento asséptico e que cause menos trauma
possível para o animal, reduzindo as possíveis complicações que possam ocorrer no
pós-operatório.

Dentre as recomendações após o procedimento estaria a redução das atividades


durante um certo período recomendado de acordo com cada animal tendo em vista o
repouso no local para que não haja pressão ou estimulação para uma reinervação
diferente do esperado, manter uma proteção nas incisões por até quatro semanas
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para que não haja uma maior chance de resposta inflamatória (BAXTER & STASHAK,
2011). A curto prazo, o prognóstico é favorável na maioria dos equinos, em
contrapartida a longo prazo a tendência de ocorrer o retorno da sensibilidade e dos
sinais clínicos relacionados a doença principal é significativa (BAXTER & STASHAK,
2011).

2.4 Bem-estar dos equinos X Dor crônica

O manejo de dor crônica na medicina veterinária relaciona-se com bem-estar dos


animais (DAU, 2020), principalmente na medicina equina.

Para determinar o bem-estar destes animais como aponta Veloso (2019); realizou-se
a mensuração e percepção do bem-estar com a dor, estereotipias, cascos, interação
social, alojamento e escore de condição corporal dos equinos, onde o método aplicado
para avaliação foi o teste qui-quadrado de Pearson, um teste estatístico aplicado a
dados categóricos e apontar diferenças observadas ao acaso, e adequada para
amostras não pareadas.

Nas perguntas aplicadas (Tabela 2) aborda demais participantes quanto aos


aspectos relacionados à dor por grupos de pessoas com diferentes relações
com equinos (de lazer, de competidores proprietários, competidores não
proprietários, profissional, treinador e sem relação direta com equinos) e que
demonstrou maior divergência entre as respostas apresentadas quanto a
sensibilidade à dor dos cavalos em que 100% (um total de 318 pessoas) dos
entrevistados de cada grupo mostrou conhecer a capacidade dos equinos sentirem
dor, porém, apenas pessoas de 3 grupos (proprietários competidores, competidores
não proprietários e treinadores um total de 93 pessoas) apresentaram a maior
porcentagem em relação à resposta correta (Tabela 2 - em destaque de vermelho)
que diz que os cavalos têm maior sensibilidade à dor comparado a humanos,
como Lima e Cintra, (2016) confirmam. Os equinos possuem uma pele sensível e
baixo limiar de dor quando comparado com várias outras espécies como conclusão
percebe-se que muitas pessoas que têm um contato com equinos e até mesmo
profissionais não demonstram clareza quanto a sensibilidade de dor de equinos e
como interpretá-la.
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TABELA 2. Percepção de aspectos relacionados à dor por grupos de pessoas com diferentes
relações com equinos.

Fonte: Adaptada de Veloso (2019)

Ainda em Veloso (2019); corrobora-se o tipo de relacionamento das pessoas em


âmbito profissional, lazer entre outros interfere sim na percepção sobre o bem-estar
desses animais, por isso a inclusão de estudos para conhecer e aumentar a percepção
do bem-estar em equinos se mantém juntos ao exercício da medicina veterinária em
prática.

No aspecto clínico e ação da medicina equina, nas terapias multimodais em cavalos


atletas, de trabalho até mesmo de lazer quanto a constância de dor; que compreende
mais de um fármaco (para analgesia e ação anti-inflamatória), terapia cirúrgica e
principalmente técnicas que auxiliam até mesmo em diagnostico da dor (bloqueios
anestésicos) todas com mesmo objetivo - dar qualidade de vida ao animal; é uma
forma de obter resultados satisfatórios, diminuindo efeitos colaterais quando compara-
se com a utilização de apenas um medicamento ou apenas um método seja ele clínico
ou cirúrgico (MUIR e WOOLF, 2001; MUIR, 2010), lembrando que tratar dor destes
animais é primordial para deixando-os livres engloba seu bem-estar e de como
interferimos nisso.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS (ARIAL 12, NEGRITO)

A neurectomia é um processo cirúrgico que não pode ser primeira escolha para o
tratamento de dores distais em membros, devido a recidiva de reinervação ser grande
e causar mais dor lembrando que esse é um processo paliativo não curativo.
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A dor para os equinos é estritamente relacionada ao bem-estar e é necessária


ampliação dos estudos quanto a esta percepção das pessoas que trabalham para com
estes animais.

Quanto as técnicas implantadas sendo a da guilhotina ou stripping, mesmo


demonstrando diferenças, estas são mínimas.

E salientamos que cada animal a ser neurectomizado independente da técnica


associada a NDP, precisa ter acompanhamento no seu pós-cirúrgico e durante o resto
da sua vida atlética ou de trabalho já que a neurectomia tem por finalidade aumentar
vida útil de deste equino dando qualidade de vida.

NEURECTOMY IN EQUINE: Palliative Treatment - REVIEW

ABSTRACT
Given the constant use of equines for athletic life or other functions that demand a
great performance from them, this effort may cause some pathologies, mainly of the
locomotor system, among them, the most frequent is the navicular syndrome that has
chronic pain as a characteristic. When we refer to chronic pain, there are many
treatments, but not all cases get positive responses, so we can opt for a palliative
treatment, not curative: neurectomy. The palmar/plantar digital neurectomy (NDP),
used most frequently in horses as a way to prolong life and improve well-being, is
performed in a simple way, in which a part of the nerve is sectioned, interrupting its
nociceptive transmission. Despite the various techniques that can be employed in this
procedure, the guillotine technique and the stripping technique are the most used, and
they can be associated with neurorrhaphy for better results. Although there are some
differences between the techniques, both were considered satisfactory, with no serious
complications in the post-surgical period, bearing in mind that besides choosing the
adequate technique, it is necessary to be careful that the surgery is aseptic and that
the patient is followed for the rest of his life, aiming at his welfare.

Key-Words: Welfare. Pain. Guillotine. Neurectomy.


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