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PARALISIA DE NERVO RADIAL EM TOURO NELORE:

RELATO DE CASO

Maria Eduarda de Oliveira Lima SANTOS1


Victor Oliveira Tanaka do NASCIMENTO1
Larissa Peroti BELLO1
Frederico Cesar FLORES1
Bruno Inácio Correa de OLIVEIRA2

RESUMO
A paralisia de nervo radial pode ocorrer por decúbito lateral prolongado, podendo causar lesões do tipo
axoniotmese. O presente relato tem como objetivo descrever uma paralisia de nervo radial em um
macho bovino, com claudicação severa, caracterizada por sinais de cotovelo caído, flexão das
articulações distais com medicalização, arrastamento de pinça e incapacidade de protração do
membro. A partir do diagnóstico clínico, o tratamento foi baseado em massagem eletromagnéticas,
fisioterapia e aplicações medicamentosas para diminuição de dor e edema inflamatório, incluindo
dexametasona (Dexiun®) na dose de 10mg por via intramuscular no primeiro dia de tratamento,
complementado pela aplicação intramuscular de Meloxicam (Maxican 2% ®), na dose de 0,5 mg/kg por
via intramuscular, duas vezes ao dia, durante sete dias. Medicamentos para reconstituição nervosa e
eliminação de produtos do metabolismo inflamatório, também foram empregados, como vitamina B1
(Monovim B1®) e vitamina E (VitADE®), assim como o tratamento subcutâneo por ozonioterapia com
40 µg/ml com volume total de 20 ml, duas vezes ao dia, durante três dias e aplicação tópica de DMSO.
A associação medicamentosa, somada ao tratamento conservador e ozonioterapia local subcutânea,
mostrou-se eficaz na recuperação da paralisia do nervo radial em bovino.

Palavras Chave: Axoniotmese; Claudicação; Ozonioterapia; Bovino.

ABSTRACT
Radial nerve palsy occur by prolonged lateral recumbency, which can cause axonotmesis-type injuries.
The present report aims to describe a radial nerve palsy in a male bovine, with severe lameness,
characterized by signs of dropped elbow, flexion of the distal joints with medicalization, pinch drag and
inability to protract the limb. From the clinical diagnosis, the treatment was based on electromagnetic
massage, physiotherapy and drug applications to decrease pain and inflammatory edema, including
dexamethasone (Dexiun®) at a dose of 10mg intramuscularly on the first day of treatment,
complemented by the intramuscular application of Meloxicam 2% (Maxican 2%®), at a dose of 0.5 mg/kg
intramuscularly, twice a day, for seven days. Medications for nerve reconstitution and elimination of
inflammatory metabolism products were also used, such as vitamin B1 (Monovim B1®) and vitamin E
(VitaDE®), as well as subcutaneous treatment by ozone therapy with 40 µg/ml with a total volume of 20
ml. , twice a day for three days and topical application of DMSO. The drug combination, added to
conservative treatment and local subcutaneous ozone therapy, proved to be effective in the recovery of
radial nerve palsy in cattle.

Keywords: Axonotmesis; Lameness; ozone therapy; Bovine.


Introdução

Entre o conjunto de nervos que compõe o plexo braquial, que supre quase
todas as estruturas do membro torácico, está o nervo radial. Formado das raízes
nervosas entre espaço intervertebral cervical sete (C7) e torácica um (T1), o nervo
radial é dividido em dois ramos, sendo, o ramo profundo que inerva o músculo ulnar
lateral e músculo extensor digital do carpo; e ramo superficial que em direção lateral,
inerva o músculo tríceps braquial e o músculo extensor radial do carpo, tensor da
fáscia do antebraço e o ancôneo (GRZECZKA; ZDUN, 2022). Sendo assim, lesões no
nervo radial acarretam paralisia dos extensores do cotovelo, paralisia dos extensores
do carpo (SCHENK et al. 2015).
As neuropatias periféricas em grandes animais geralmente são secundárias à
decúbito lateral prolongado e a má proteção e posicionamento do membro. Dentre as
lesões, (i) a neuropraxia apresenta um prognóstico favorável já que não há alteração
estrutural do axônio, apenas redução da condução nervosa; (ii) a axoniotmese que
consiste na perda de continuidade de axônios, e a (iii) neurotmese, quando há secção
total do nervo (PEREIRA et al. 2008).
O diagnóstico é realizado com base no exame clínico. Os sinais clínicos
caracterizam-se por cotovelo caído, incapacidade de protração do membro,
arrastamento das pinças e flexão das articulações distais (McGOWAN; GOFF, 2016),
sendo importante descartar os diagnósticos diferenciais como fratura de úmero
(YAMAGISHI et al. 2014). O tratamento baseia-se na administração de antibióticos,
antiflamatórios, complexo vitamínico, antioxidantes (KUMARESAN et al. 2012). A
aplicação de duchas frias, pomadas analgésicas, massagens eletromagnéticas,
fisioterapia e eletroacupuntura, também são medidas descritas na terapia (FERREIRA
et al. 2008; KUMARESAN et al. 2012; PLAGRIARINI et al. 2016).
Objetiva-se com o presente relato descrever um caso de paralisia de nervo
radial em um touro nelore, ocasionada pela compressão prolongada do membro
torácico direito, destacando sua apresentação clínica, diagnóstico e tratamento.
Material e Métodos

Um bovino macho da raça nelore, sete anos de idade, 800 kg de peso vivo,
com histórico de decúbito lateral direito prolongado, foi atendido com sinais de
paralisia em nervo radial. O animal mostrou-se com cotovelo caído, flexão das
articulações distais com medicalização e arrastamento de pinça e incapacidade de
protração do membro (figura 1), caracterizando grau cinco de claudicação, ou seja,
severamente manco, segundo Sprecher (1995). Durante o exame físico específico,
observou-se dor a palpação e ausência de crepitações.

Figura 1. Inspeção lateral da incapacidade de protração do membro direito e arrastamento da pinça.

Com base no histórico clínico, optou-se pela realização de massagem


eletromagnéticas, ter in die (TID), 15 minutos por sessão; manobras fisioterápicas de
extensão, flexão e abdução do membro (TID); ozonioterapia por via subcutânea, na
concentração de 40 µg/ml com volume total de 20 ml, Bis in Die (BID) durante três
dias; Dexametasona (Dexiun®) 10mg por via intramuscular, dose única; meloxican
(maxican 2%®) na dose de 0,5 mg/kg, sis in die (SID) durante sete dias (a partir do
segundo dia de tratamento); vitamina B1 (monovin B1®), no volume de 10 ml por via
intramuscular, SID, durante oito dias; vitamina ADE (VitADE®) com volume de 5ml,
correspondente a uma concentração de 60 UI de vitamina E, por via intramuscular,
dose única; e pomada antiflamatório a base de DMSO, BID durante oito dias.

Resultados e Discussão

O decúbito lateral prolongado, por vezes em processos cirúrgicos, onde não há


o correto acolchoamento da região escapular, do ombro e cotovelo, podem determinar
a compressão causando assim o bloqueio da inervação em todo membro
(PLAGRIARINI et al. 2016). O diagnóstico foi realizado a partir de exame clínico, com
histórico e sinais característicos (McGOWAN; GOFF, 2016), descartando pela
ausência de crepitações ósseas e pela melhora clínica, fratura óssea em úmero
(YAMAGISHI et al. 2014)
Após o primeiro dia do tratamento, o animal apresentou progresso clínico,
observada pelo alongamento do membro e capacidade de expansão do movimento e
início de capacidade de apoio. A melhora observada, pode ser atribuída a aplicação
de anti-inflamatório esteroidal (SPINOSA, 2017), com diminuição do edema
inflamatório no terço distal do membro, região que compreende os músculos
extensores do carpo, possibilitando o retorno da sensibilidade craniolateral do
antebraço e início da capacidade de protração (YAMAGISHI et al. 2014).
No terceiro dia de tratamento, o animal realizava apoio total dos membros, com
grau de claudicação 3 (SPRECHER, 1997), e ao fim de oito dias, o animal
apresentava-se com evolução completa, sem observada claudicação. Observou-se
que o apoio do membro se deu a partir do fim da sensibilidade dolorosa à palpação.
Isso se deve a ação de anti-inflamatórios não esteroidais, que possibilitam a
diminuição da inflamação local e consequente dor, a partir da resposta orgânica às
injurias, influenciando eventos celulares, eventos vasculares e o metabolismo de
mediadores pró inflamatórios (SPINOSA, 2010).
Em nosso relato, a lesão pode ser caracterizada por uma axioniotmese
(PEREIRA et al. 2008). Lesões nervosas, causam liberação de prostaglandinas
inflamatórias pelo sistema nervoso central. A utilização de ozonioterapia, além do
efeito anti-inflamatório, acredita-se que a ozonioterapia possui um efeito sobre a
regeneração nervosa axonal (OZBAY et al. 2017). Medicamentos, a base de tiamina,
vitamina E, auxiliam no metabolismo celular e na prevenção dos efeitos nocivos dos
espécimes reativos do oxigênio e da miopatia pelo decúbito (SIMÕES, 2015).
Diferente ao empregado neste trabalho, alguns relatos de paralisia em nervo
radial, em bovino (PEREIRA et al. 2008) e em equino (PLAGRIARINI et al. 2016),
indicaram imobilização do membro acometido. Portanto, além da via medicamentosa,
os bons efeitos observados na recuperação, podem ser atribuídos a massagem
eletromagnética e a fisioterapia, importante para recuperação em síndrome espástica
em bovinos (GOECKMANN et al. 2018). Essas condutas foram possibilitadas pelo
comportamento dócil do bovino atendido, que em complemento a terapia
medicamentosa, garantiu a recuperação do animal.

Conclusão

O diagnóstico foi realizado a partir dos sinais clínicos. A associação


medicamentosa, somada ao tratamento com ozônio e conservadores com base em
massagem eletromagnética e fisioterapia, garantiram recuperação de paralisia em
nervo radial em bovino.

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