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Caso Clínico

Terapia fotobiomoduladora no manejo de paciente com parestesia do nervo lingual: relato de caso
clínico

Photobiomodulation therapy for the management of patient with lingual nerve paresthesia: a case report

Vitória Egipiciana de Albuquerque Silva¹, Carlos Alexandre Verissimo Dantas¹


¹UFRN-Natal

RESUMO:

Introdução: A parestesia do nervo lingual Logo, foi determinado o protocolo de 9 sessões de


relacionada à exodontia de um elemento dentário Terapia Fotobiomoduladora, L2 - laser em faixa
está associada a diferentes fatores, sejam eles infravermelha por 40 segundos, em 5 pontos na
diretos ou indiretos, a desagradavél sintomatologia porção direita da língua (intraoral). Conclusão:
dessa injúria possui variáveis durações e Iniciado o protocolo terapêutico, a paciente relatou
intensidades. Nesse sentido, a terapia melhora após 3 sessões de aplicação. Na 5ª
fotobiomoduladora, presente na odontologia, atua sessão, não houve mudanças significativas em
como um dos principais instrumentos terapêuticos comparação à última consulta. Da 6ª em diante a
não-cirúrgicos que visa atenuar os sintomas desse paciente afirma sentir progresso no tratamento e
distúrbio neurossensorial. Objetivo: Esse artigo atenuação da sintomatologia. Conclui-se, portanto,
tem como finalidade avaliar a eficiência da terapia uma expressiva melhora no quadro de parestesia
fotobiomodeladora na atenuação da sintomatologia com o auxílio da laserterapia, ferramenta
causada pela parestesia do nervo lingual pós imprescindível no tratamento tendo em vista a
exodontia de elemento dentário. Relato de caso: recuperação sensorial da paciente.
Paciente do sexo feminino, 36 anos de idade,
queixou-se de ardor em borda lateral direita de Palavras-chaves: Parestesia; Terapia com Luz de
língua após exodontia do elemento dentário 48. Baixa Intensidade; Nervo Lingual.

INTRODUÇÃO submetidos a exodontias, especialmente nos


terceiros molares inferiores ou em cirurgias que
A parestesia se trata de uma condição envolvam a proximidade de feixes
desconfortável na qual o paciente relata diminuição vasculo-nervosos. Na região mandibular, que é a
ou ausência de sensibilidade de uma área mais comumente afetada por parestesias,
específica, e, em casos mais graves, os pacientes encontram-se estruturas vitais como o nervo
podem sentir sintomas como dor, prurido, sensação lingual, o nervo alveolar inferior e o nervo bucal.
de dormência, de queimação, sensibilidade (PALMEIRA, J. T. et al., 2021)
alterada ao frio e calor, essas sensações podem A parestesia pode ter origens variadas,
ser bastante incômodas para o paciente. (Santos et classificando-se em diferentes categorias. As
al., 2021) causas mecânicas ocorrem devido ao trauma direto
Na prática odontológica, é frequente causado pela penetração da agulha, compressão
deparar-se com casos de parestesia em pacientes ou estiramento do nervo, podendo resultar na
ruptura de suas fibras. Causas físicas estão endodôntico, extrações, curetagem apical e
relacionadas ao excesso de calor gerado durante procedimentos cirúrgicos mais delicados, como a
procedimentos como osteotomias realizadas com microneurocirurgia em casos de ruptura de feixes
instrumentos rotatórios e refrigeração inadequada. vásculos nervosos. O tratamento escolhido
Causas químicas decorrem da neurotoxicidade do dependerá da avaliação específica do caso e das
sal anestésico utilizado. Já as causas patológicas necessidades individuais do paciente. (ARAI, C. A.
estão associadas à presença de tumores que A., 2022)
crescem rapidamente nos tecidos e comprimem os A laserterapia tem a capacidade de
nervos da região. Por fim, as causas estimular uma ação regeneradora, analgésica e
microbiológicas surgem de infecções provenientes antiinflamatória, promovendo a restauração da
de necrose pulpar e lesões periapicais que afetam função neural do nervo de forma indolor e sem
as proximidades do canal mandibular. É importante causar traumas ao paciente (tratamento não
que o cirurgião dentista tenha em mente todas invasivo), através do fornecimento de luz
essas possíveis causas da parestesia, visando ter bioestimulante, diretamente nas células do tecido
um maior cuidado na hora do procedimento. desejado. (Santos et al., 2021)
(PALMEIRA, J. T. et al., 2021) O uso de laser de baixa intensidade
É possível que a parestesia se resolva demonstrou ser eficaz na redução da produção de
espontaneamente, uma vez que o processo de mediadores inflamatórios pertencentes à família do
regeneração nervosa demanda tempo e está ácido araquidônico nos nervos lesionados. Isso
sujeito ao grau de agressão, tanto direta quanto ocorre devido à sua capacidade de promover a
indireta, ao nervo. Esse período de recuperação maturação e regeneração dos neurônios após a
pode variar de 4 semanas a até 24 meses. É lesão. Além disso, a terapia que combina
importante ressaltar que a parestesia é uma corticosteróides e vitaminas do complexo B,
sensação inteiramente subjetiva, descrita pelo especificamente vitamina B1, B12 e dexametasona,
paciente, e pode não ser diretamente mensurável tem sido associada ao tratamento com laserterapia.
por exames clínicos objetivos. (ARAI, C. A. A., Esses componentes atuam estimulando a
2022) regeneração das fibras nervosas mielinizadas e a
Os tratamentos para a parestesia são proliferação das células de Schwann. (MYKAELE,
diversificados e não há um protocolo definitivo Cristina et al., 2023). Dessa forma, o objetivo
estabelecido. Na prática clínica odontológica, os deste artigo é avaliar a eficácia da Terapia
mais comuns incluem abordagens Fotobiomoduladora na diminuição dos sintomas
medicamentosas, que vão desde a utilização de associados à parestesia do nervo lingual em um
complexos vitamínicos do grupo B até paciente que apresentou essa condição após a
corticosteróides. Além disso, são aplicadas terapias extração do dente 48.
como laserterapia de baixa intensidade,
acupuntura, eletroestimulação, tratamento

RELATO DE CASO direita da língua, e sensação dolorosa diminuída,


quando comparado a outra metade da língua.
Paciente A.D.C.C, feoderma, sexo feminino, Durante a anamnese, a paciente relatou que
potiguar, 36 anos, procurou a Clínica de essa sintomatologia surgiu depois da exodontia do
Estomatologia da Faculdade de Odontologia da elemento 48, realizada quatro anos atrás, além
Universidade Federal do Rio Grande do Norte em disso, a paciente não apresenta alterações
maio de 2023, queixando-se de ardor na metade sistêmicas, medicações de uso contínuo e hábitos
tabagistas e etilistas. Ao exame físico extra oral e
intra oral constatou-se aspecto de normalidade periférico lesado através do fornecimento de
(ausência de lesões clinicamente), e com base na nucleotídeos e vitamina B12, substâncias
anamnese, exame físico e histórico do paciente, foi necessárias à sua recuperação. (ETNA 2019)
confirmado o diagnóstico de parestesia. A paciente Dada essa propriedade terapêutica fundamental,
também relatou que já utilizou como tratamento a inclusão desse medicamento na abordagem
prévio, a medicação citoneurin e laserterapia com clínica foi amplamente respaldada. Essa estratégia
poucas sessões, mas não obteve resultados integra-se de forma coerente e complementar ao
significativos. tratamento, visando potencializar os resultados em
Esse caso foi acompanhado durante 2 meses, prol do bem-estar da paciente.
com retorno semanal para realização da Durante as primeiras sessões, a paciente não
laserterapia e acompanhamento do quadro clínico apresentou uma melhora substancialmente notável.
da parestesia. Após a avaliação do caso da Contudo, a partir da quarta sessão,
paciente, foi realizado um protocolo de 9 sessões aproximadamente um mês após o início do
de Terapia Fotobiomoduladora, L2 - laser em faixa tratamento, a paciente começou a relatar uma
infravermelha por 40 segundos, em 5 pontos intra sensível redução da sensação de ardor e uma
orais na metade direita da língua,, incluindo dorso, diminuição notável nos sintomas associados à
ápice e borda lateral da língua, a fim de diminuir a parestesia. Entretanto, na quinta sessão, não se
sintomatologia da parestesia. observaram mudanças expressivas. A partir da
Aliado a isso, a paciente foi orientada pelo seu sexta sessão e nas sessões subsequentes, a
dentista, que a encaminhou para o serviço de paciente consistentemente comunicou uma
estomatologia, a começar a utilizar a medicação melhora progressiva nos sintomas, sinalizando uma
ETNA®, 2 cápsulas três vezes ao dia. Este tendência positiva no curso do tratamento.
medicamento age na recomposição do nervo

CONCLUSÃO
Em suma, a laserterapia demonstrou ser eficaz no tratamento da parestesia desta paciente, mesmo sendo
iniciada 4 anos depois da exodontia e início dos sintomas. Além disso, é crucial destacar o impacto positivo
desse tipo de terapia, uma vez que proporciona maior conforto ao paciente e contribui para a mudança da
abordagem odontológica, que passa de traumática e dolorosa para uma abordagem mais conservadora, rápida
e confortável. Percebe-se que a tendência na área odontológica é a adoção de métodos menos invasivos,
visando a minimização da dor e do desconforto durante as intervenções, o que, por sua vez, contribui para
reduzir a ansiedade e o medo do paciente em relação aos procedimentos odontológicos. Além disso, é
importante ressaltar o papel benéfico da associação da medicação do complexo B, que demonstrou auxiliar na
recuperação do nervo e na diminuição dos sintomas da parestesia.

REFERÊNCIAS
TAUANI OSTEMBERG SANTOS, L.; OSTEMBERG SANTOS, L. .; DO CARMO FALEIROS VELOSO GUEDES,
C. . LASERTERAPIA NA ODONTOLOGIA: efeitos e aplicabilidades. Scientia Generalis, [S. l.], v. 2, n. 2, p.
29–46, 2021. Disponível em: http://scientiageneralis.com.br/index.php/SG/article/view/167. Acesso em: 3 out.
2023.

PALMEIRA, J. T. et al. Parestesias associadas com procedimentos odontológicos: uma revisão integrativa de
literatura. Disciplinarum Scientia | Saúde, v. 22, n. 1, p. 245–252, 29 jul. 2021.
ARAI, C. A. A. Diagnóstico de parestesia do nervo alveolar inferior. 2022. 34f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação) - Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista, Araçatuba, 2022.

ETNA: comprimidos. Responsável técnico Maria Paula Boetger. Rio de Janeiro: LABORATÓRIO GROSS S.A.,
2019. 1 bula de remédio. Disponível em: https://www.drogasil.com.br/bulas/etna. Acesso em: 3 out. 2023.

MYKAELE, Cristina; dA, Silva; LEITE; et al. PARESTESIA DO NERVO ALVEOLAR INFERIOR DECORRENTE
DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS E SUAS FORMAS DE TRATAMENTOS. PARESTHESI OF THE LOWER
ALVEOLAR NERVE RESULTING FROM SURGICAL PROCEDURES AND ITS FORMS OF TREATMENT. [s.l.:
s.n., s.d.]. Disponível em: <https://revaracatuba.odo.br/revista/2023/01/TRABALHO9.pdf>.

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