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Resenha - atividade A1 N1
Sobre a autora
Gayatri Chakravorty Spivak (Calcutá, 24 de fevereiro de 1942) é uma crítica e teórica indiana,
mais conhecida por seu artigo "Can the Subaltern Speak?" ("Pode o subalterno falar?" na
versão em português) considerado um texto fundamental sobre o pós-colonialismo, e por sua
tradução de Of Grammatology de Jacques Derrida.
Gayatri Chakravorty Spivak é uma autora complexa. O seu pensamento, formado a partir de
um amplo domínio sobre teorias dos mais diversos campos das ciências sociais e humanas,
é de uma força recursiva intrincada e multiforme. Ainda que claramente feminista e
desconstrucionista, sua obra reinventa uma crítica marxista do capitalismo enquanto teoria
da subjetivação pós-colonial e aponta para a divisão internacional do trabalho como um
mecanismo epistemológico para pensar e desconstruir, tanto a crítica do imperialismo, quanto
o itinerário do discurso colonial, revelando a profundidade pré-discursiva da sua configuração.
Spivak leciona na Columbia University, na qual atingiu o mais alto nível do corpo docente em
março de 2007. Erudita prolífica, ela viaja e ministra palestras por todo o mundo. É membro-
visitante do Centre for Studies in Social Sciences de Calcutá.
Reconhecida primeiramente por suas traduções de Derrida, tem por característica a transição
por diferentes áreas do conhecimento. A professora titular da área de Estudos Literários da
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Regina
Goulart Almeida, uma das tradutoras de "Pode o subalterno falar?" para o português, no
prefácio da mesma afirma: "Sua crítica [de Spivak], de base marxista, pós-estruturalista e
marcadamente desconstrucionista, frequentemente se alia a posturas teóricas que abordam
o feminismo contemporâneo, o pós-colonialismo e, mais recentemente, as teorias do
multiculturalismo e da globalização."
Sobre o artigo
Gayatri Spivak apresenta no livro Pode o subalterno falar? uma construção teórica
importantíssima para os debates pós-coloniais. Este artigo de Spivak nos serve de base para
pensar a contemporaneidade em diversos aspectos, partindo do pressuposto de que o
subalterno, seja a mulher, o proletariado, e todas as castas mais baixas da sociedade, não
conseguem ser ouvidas devido ao caráter do imperialismo colonial enquanto “violência
epistêmica”, que é a construção dos sujeitos do conhecimento, através de intelectuais que
corroboram discursos hegemônicos, dada a questão de representação do sujeito não pela
sua própria voz. Spivak nos elucida questões onde, cultural e historicamente, estes povos
subalternos foram colocados em um estratégico local que abafa suas vozes, diante de toda
uma estrutura projetada para esmagá-los e explorá-los, em um cenário constante de disputa
por interesses.
Existem evidentes exclusões destes povos, onde podemos verificar que não são
representados legal e politicamente. Longe de se tornarem membros plenos no estado social
dominante, vivem suas vidas como se parecessem condizentes com o fato de serem sujeitos
apartados do poder de falar por si próprios e do poder de escolha. São submissos a um
sistema que sequer são convidados a compreender.
“Ao deixar de considerar as relações entre desejo, poder e subjetividade, Deleuze e Guattari ficam incapacitados
de articular uma teoria dos interesses. Nesse contexto, sua indiferença à ideologia — uma teoria que é
necessária para a compreensão dos interesses — é notável, mas consistente.” (SPIVAK, 2010, p. 32).
“… Produzido como resíduo ao lado da máquina, apêndice ou peça adjacente à máquina (…) O próprio sujeito
não está no centro, ocupado pela máquina, mas na borda, sem identidade fixa, sempre descentrado, concluído
dos estados pelos quais passa” (DELEUZE, GUATTARI, 2011, p. 35).
O sujeito da teoria da produção desejante de Deleuze e Guattari não possui ingerência sobre os processos em
que se envolve para se adequar à crítica de Spivak contra uma concepção de um sujeito “de passaporte forte”,
apesar da autora compreender seu caráter de sujeito-efeito (SPIVAK, 2010, p. 31).
A autora nos traz também a importante necessidade de que criemos um espaço de fala para
que os povos que hoje representam os grupos subalternos possam também ocupar seus
próprios espaços de fala. E defende seu ponto de vista quando nos esclarece que faz isso
em seu texto, quando representa, por exemplo, a voz das mulheres indianas. Desse modo,
ela busca refletir sobre uma possível reinterpretação dos modelos coloniais de construção do
Outro como diferenciado e, posteriormente, aponta para o fato de que o sujeito subalterno
representado pelos discursos ocidentais apenas se faz representado pelo colonizador.
A identidade, assim, não é uma qualidade predeterminada, mas uma qualidade que deve ser
adotada. Como declara Spivak:
“(...) a questão de "falar como" envolve um distanciamento de si. Quando preciso pensar no modo como vou
falar como indiana, ou como feminista, no modo como vou falar como mulher, o que estou fazendo é tentar
generalizar-me, tornando-me representativa, tentando me distanciar de algum tipo de fala rudimentar como tal.
Há muitas posições de sujeito que devemos ocupar; não se é apenas uma coisa.” (SPIVAK, 1990, p. 60)
Falando um pouco sobre os estudos pós-coloniais, é importante dizer que eles examinam o
impacto da colonização no desenvolvimento social e cultural das pessoas, para explicar os
comportamentos que atentam contra a integridade das pessoas. Estes seres humanos
[subalternizados] são seres cujas vidas foram ceifadas de si mesmos, dando sentido e
avançando para o bem de outros [ideologia e interesses]. Pode-se entender que, a violência
da colonização não acabou com o ato de colonização dos nativos, mas continua e se estende,
na medida em que a identidade social desses povos e de seus filhos assumem a organização
colonial, em história e influência.
Spivak descreveu o envolvimento britânico nas práticas indianas de Sati como "homens
brancos salvando mulheres morenas de homens pardos". Partha Chatterjee explica que os
colonizadores puderam, assim, “transformar esse tipo de mulher indiana em uma expressão
da opressão e da falta de liberdade da tradição cultural local”. O pensamento feminista pós-
colonial exige que se aprenda a ler as representações literárias feministas tanto do sujeito
quanto dos processos representacionais. Exige também uma cultura crítica em geral,
nomeadamente a capacidade de ler o mundo (especialmente, neste caso, as relações de
género) com um olhar crítico. Assim, o suicídio de Bhaduri, que Spivak descreve por meio do
tropo das "palavras", funciona como uma carta do passado que pode ser lida e interpretada
de maneira diferente por "leitores" pessoas diferentes têm motivações diferentes em lugares
e momentos diferentes.
A ligação etimológica entre "literatura" e "educação" que vem do latim littera, "letra", destaca
a ideia de que a comunicação envolve não apenas o ato de "falar", mas também a aceitação.
audiência e explicação. Pode-se dizer, claro, que quase todos os argumentos centrais do
feminismo pós-colonial são sobre diferentes formas de ler o homem: no mundo, em palavras
e textos. Na teoria feminista, o problema do corpo, da sexualidade e do gênero é central.
No quarto capítulo, outra pergunta é feita sobre o assunto e o título de sua obra. Spivak fala
diretamente com as mulheres, principalmente a "pobre, negra" (p.85) que preenche todas
essas exigências lhe conferem a condição de subalternidade: da pobreza, da natureza, de
cor, que mantém a mulher negra "num lugar" limitado ideologicamente e fixo. Um lugar que
não é central, mas periférico, não é dentro e fora do círculo. Assim, refletindo a posição de
subalternidade feminina,
A autora chama a atenção para a exclusão das mulheres no contexto da produção colonial
dominados pelos homens, apesar de seu aparente desconforto com a situação a posição
subordinada que as mulheres têm, Spivak não mostra os modos independentes das mulheres
sob insulto. Apesar do reconhecimento dos direitos masculinos dentro do sistema de
produção colonial, a autora enfatizou que a reflexão sobre o "mutismo" das mulheres não
pode ser simplesmente uma questão de lógica, mas uma lição de palavras e representações.
Referências:
MORAES, Fabio Monteiro de. Pode o(a) subalternizado(a) falar e ser ouvido(a)?
Considerações sobre o ensaio de Spivak. Blog Café com Sociologia, dez. 2022.
FERNANDES, Ana Carolina (org.). Pode o subalterno falar? a crítica epistêmica e a
produção feminista: os (outros) sujeitos do conhecimento.2016. Estud. sociol.
Araraquara. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/8992/6071.