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Exercícios de Treinamento de Equipe usando a

Grade Posicional

O futebol posicional fornece um conjunto de diretrizes e


estrutura para a fase ofensiva do jogo. O campo de futebol
posicional é dividido em zonas verticais e horizontais que
indicam as responsabilidades posicionais dos jogadores. O
interessante do futebol posicional é que as opções do jogador
são, até certo ponto, predeterminadas pela posição da bola. O
tema central por trás do futebol posicional é criar superioridade
numérica em um futebol específico, é criar superioridade
numérica em uma área específica do campo, usando
principalmente passes de menor distância. Se uma equipe
consegue deslocar totalmente o adversário, atraindo-o para um
lado do campo com passes curtos, a oportunidade de atacar o
lado fraco passa a ser o objetivo. Guardiola falou sobre este
aspecto do jogo posicional dizendo: “o objetivo é movimentar o
adversário e não a bola. O segredo é sobrecarregar um lado do
campo para que o adversário tenha que inclinar sua própria
defesa para aguentar. Quando você tiver feito isso, atacamos e
marcamos do outro lado. É por isso que você tem que passar a
bola com uma intenção clara. Atraia o oponente e depois
acerte-o com o soco.” As táticas de que Guardiola fala parecem
simples, mas para concretizar esta forma de jogar a estrutura
da equipe deve ser correta. Guardiola acreditava que para
construir a estrutura adequada do time, o time precisaria
completar cerca de 15 passes, o que criaria totalmente um
formato de time ofensivo. Em tático Na periodização tática, isso
seria chamado de fase de organização ofensiva. Estabelecido o
posicionamento de ataque das equipes, caso percam a bola, os
jogadores já estão em boa posição para pressionar a bola e
recuperá-la. Este é um dos aspectos importantes do futebol
posicional que o torna tão eficaz. Perguntaram ao ex-grande
jogador do Barcelona, Johan Cruyff, como o Barcelona recupera
a bola tão rapidamente? Ele respondeu: “É porque eles não
precisam correr mais de 10 metros, pois nunca Ele respondeu:
“É porque eles não precisam correr mais de 10 metros para
trás, pois nunca passam a bola mais de 10 metros”. Essa
afirmação por si só já esclarece o segredo do futebol
posicional, com e sem bola. O segredo da posse é o
posicionamento e o segredo da defesa é o posicionamento. O
jogo posicional é um aspecto importante que influenciou as
táticas de Guardiola ao longo dos anos, mas para apreciar
Guardiola plenamente, você deve compreender as ideias por
trás do futebol posicional, do futebol tiki-taka, do futebol total
e do estilo Barcelona. Na verdade, quando Guardiola estava
deixando o Barcelona como técnico, ele atribuiu seu trabalho a
“ser construído sobre ombros de gigantes”. O que Guardiola
quis dizer é que não criou a forma como o Barcelona jogava,
apenas influenciou o que já estava construído, porque muito
antes de Guardiola, jogadores como Johan Cruyff e Rinus
Michels ajudaram a forjar o estilo do Barcelona. Johan Cruyff é
mais comumente creditado por criar o estilo de jogo do
Barcelona, mas foi Rinus Michels quem influenciou as ideias
futebolísticas de Cruyff. Michels treinou Cruyff no Barcelona de
1971 a 1975, e também em 1974 na famosa seleção holandesa
que apresentou o “Futebol Total” ao mundo. Michels destacou a
importância da troca de posições, do ataque com passe e drible
e da pressão defensiva incansável. Quando Cruyff se tornou
treinador principal do Barcelona em 1988, ele construiu

O princípio fundamental do "Juego de Posición" é buscar


sempre a superioridade no campo de futebol. Essa
superioridade pode ser alcançada sendo superior em termos de
posição, numericamente ou qualitativamente. Pep Guardiola,
um dos treinadores de maior sucesso do futebol atual, fez
deste "Juego de Posición", ou jogo posicional, sua filosofia
básica. Implementar este estilo de jogo é uma tarefa difícil que
requer a capacidade de todos os jogadores se adaptarem ao
sistema. Sob Pep Guardiola, a equipe do Barcelona foi um dos
poucos modelos no mundo onde todos os 11 jogadores
conheciam e executavam constantemente as suas
responsabilidades. ''Quero jogadores que possam fazer jogadas
decisivas em espaços pequenos, quero que trabalhem o menos
possível para poupar energia para essa ação decisiva.'' - Johan
Cruyff O jogo posicional é construído no campo de treino. É
pré-planejado e praticado com sessões esforçadas por todos os
jogadores para que eles tenham uma imagem clara do
INTRODUÇÃO
behilil, Moussa. Jogo posicional: uma visão mais aprofundada
da filosofia moderna do jogo posicional, investigando as ideias
de Pep Guardiola para o Manchester City, os vários cenários
que podem ocorrer em tempo real e responder eficazmente a
eles. As respostas às diferentes situações em campo são
pensadas para alcançar superioridade e controle. Como
consequência, esta superioridade ajudará o lado atacante a
penetrar na defesa adversária utilizando uma ou um grupo de
características de jogo posicionais. Como Juego de Posición
exige superioridade em todos os aspectos do jogo, fica claro
porque o goleiro é um jogador tão importante ao lado de Pep.
Você gostaria de manter sua vantagem numérica,
especialmente na retaguarda. Se dois adversários
pressionarem seus zagueiros, seu goleiro se tornará um
jogador ativo, tornando a situação 3v2, permitindo que você
mantenha a vantagem numérica.

“O jogo posicional consiste em criar superioridades atrás da


linha que pressiona, tudo fica mais fácil quando a bola sai
limpa. "Juan '' Nossos jogadores tinham quatro pontos
de referência: a bola, o espaço, o adversário e os
próprios companheiros. Todo movimento tinha que
acontecer em relação a esses pontos de referência. Cada
jogador teve que decidir qual desses pontos de referência
deveria determinar seus movimentos. ''

O Jogo de Posição e o Counter Pressing


Alguns dos conceitos presentes no Jogo de Posição e como um
de seus produtos o Counter Pressing, que cria alterações no
Fluxo Natural do Jogo

“Eu odeio essa história de passar por passar, esse tiki-taka.


Não tem propósito. Você precisa passar a bola com uma
intenção clara, com o objetivo de chegar ao gol adversário.

Não é passar a bola só por passar. Eu odeio o tiki-taka”


(Guardiola, 2014)

Conhecido em português como Jogo Posicional, o Jogo de


Posição entrou em grande evidência nos últimos anos devido
ao grande sucesso das equipes treinadas por Pep Guardiola (FC
Barcelona e FC Bayern de Munique) não apenas pelo alto índice
de aproveitamento de pontos disputados e conquista de títulos,
mas também pela identidade única que esse treinador é capaz
de materializar em suas equipes em ambientes diferentes,
culturas diferentes e com jogadores diferentes. Muito conteúdo
foi sendo incorporado no jogo dessas equipes ao longo da
passagem de Guardiola, conseguindo uma permanente
evolução no jogar, ampliando variações e melhorando a
eficácia técnico – tática. Independentemente do esquema
tático utilizado (afinal Guardiola se utiliza de 1-4-3-3, 1-3-4-3,
1-4-2-3-1, 1-3-3-4 e outros como matriz) os conceitos do jogo
proposto estão sempre presentes.

Nas figuras abaixo, ainda não serão discutidas algumas


questões fundamentais para o Jogo de Posição, como por
exemplo, o “time” (tempo em inglês) das movimentações para
a criação de apoios livres, a posição corporal de recepção da
bola, a utilização dos dois lados (ambidestrismo) com a
intenção de acelerar a circulação, a velocidade da bola no
passe e a questão de passe no pé e no espaço.

O Jogo de Posição é essencialmente coletivo e cada jogador


deve permanentemente estar a serviço da equipe para que
haja potencialização das ações. Na Figura 1 (campo da
esquerda), pode-se observar que os jogadores de linha estão
ocupando o espaço de uma forma a torná-lo maior em largura
(Amplitude) e comprimento (Profundidade) permitindo a
criação de mais espaços internos (dentro do bloco defensivo do
adversário), quesito importante para um jogo de posse de bola
apoiada. Porém, somente aumentar o campo de jogo em
largura e profundidade não é suficiente para construir um jogo
apoiado eficaz, afinal, a exploração desse espaço interno
depende de cumprir bem alguns requisitos que estão na base
do Jogo de Posição. Com alguns ajustes posicionais, a
estruturação do espaço permite a criação de 4 apoios (vamos
considerar apoios as possibilidades de passes com um nível de
dificuldade relativamente baixo) ao portador da bola (Figura 1,
campo da direita), dobrando as possibilidades de passe e,
consequentemente, exigindo mais jogadores e melhor
organização do adversário para a recuperação da bola
(partindo do pressuposto de que não ocorrerão erros básicos
de decisão-ação por parte do portador da bola). Nessa situação
hipotética, vamos considerar que o jogador em posse, escolheu
o “Apoio 1” para passar a bola.
Com a escolha de passar a bola para o corredor central, a bola
entra em um espaço que permite a criação de apoios em
diversas direções, porém, é importante ressaltar que cada
apoio possui suas próprias características. Na Figura 2 (campo
da esquerda), o portador da bola tem 5 opções de passes,
sendo 1 em progressão (Apoio 1), 2 laterais (Apoios 2 e 4) e 2
passes para trás (Apoios 3 e 5). Os Apoios 3 e 5 oferecem a
possibilidade de retirada da bola da “Zona de Pressão” e os
passes para os jogadores que estão dando Amplitude e
Profundidade são de maior dificuldade. Ao escolher o Apoio 4,
mesmo mantendo a bola ainda na faixa central, uma nova
gama de possibilidades é criada com os ajustes posicionais em
função do movimento da posição da bola. Nesse novo cenário
(Figura 2, campo da direita) o Apoio 3 oferece um passe lateral
sob pressão e os Apoios 2, 5 e 6 passes fora da Zona de
Pressão para trás. Os Apoios 1 e 4 oferecem saída da Zona de
Pressão com características diferentes. O Apoio 1 oferece saída
lateral da pressão com possibilidade de progressão na faixa
lateral, enquanto o Apoio 4 uma saída da pressão para a frente
com a recepção da bola entre as linhas de marcação
adversárias (Movimento “Entre Linhas”). A escolha por
determinados apoios tem forte relação com o tipo de tomada
de decisão do jogador e com o jogo da equipe, se há uma
preferência por um jogo mais vertical ou de manutenção da
posse de

bola, se coloca a bola em disputa frequentemente ou se prefere


jogar com bola sem coloca-la em disputa.

Há uma tendência do número de apoios ser reduzido na faixa


lateral do campo por questões óbvias do limite físico do campo.
As opções podem ser criadas para trás (Apoio 4), para a faixa
central (Apoios 2 e 3) e para a frente (Apoio 1) como descrito
na Figura 2 (campo da esquerda). A faixa lateral do campo, ao
reduzir as possibilidades com bola, torna-se uma região
propícia para a recuperação da bola, portanto é fundamental,
além dos apoios em progressão (Apoio 5, por exemplo), a
criação de apoios para a retirada da bola dessa zona, caso a
pressão seja criada pela marcação (Apoio 3, por exemplo, fora
da Zona de Pressão).

As equipes de futebol estão permanentemente dentro do jogo


em busca de uma organização que resolva as situações que
vão se desenhando no confronto. Basicamente, a organização
coletiva de uma equipe, pode ser dividida em 4 Momentos:
Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização
Defensiva e Transição Ofensiva. Os comportamentos de jogo
de uma equipe estão geralmente fluindo como na Figura 4.
Figura 5 – O Counter Pressing e a alteração do Fluxo dos Momentos do Jogo
Quando uma equipe exerce “Pressing” no momento da
Organização Defensiva, objetiva recuperar a bola suprimindo
as “Possibilidades Operacionais” do seu adversário, ou seja, se
organiza para não permitir simultaneamente a (1) manutenção
da posse de bola, a (2) progressão da bola em direção ao
próprio gol e a (3) proteção de qualquer possibilidade de
ataque à meta defendida. Para exercer o Counter Pressing, a
equipe precisa suprimir essas “Possibilidades Operacionais”
imediatamente após a perda da bola (no momento da
Transição Defensiva), condição essa que se faz muito
elaborada porque, neste instante do jogo, a sua organização
posicional e operacional está toda voltada para a Organização
Ofensiva. Portanto, para se ter êxito no Counter Pressing, a
equipe precisa ter um tipo de organização para jogar o jogo
com total conexão entre os 4 Momentos. Cada um dos 4
Momentos deve levar em conta a organização global do jogo,
sem qualquer tipo de fracionamento entre Ataque, Defesa e
Transição, tanto do ponto de vista Estrutural como
Operacional.

Figura 6 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola

Como exemplo, vamos retornar à situação apresentada pela


Figura 2 (Figura 6, campo da esquerda) em que a equipe
amarela está com a bola e possui 5 apoios. Após o erro de
passe (sinalizado pela seta curva laranja, no campo da direita),
os jogadores que eram apoios curtos (1 e 2) e o portador da
bola (jogador que errou o

passe), atacam imediatamente o jogador da equipe vermelha


que interceptou o passe para buscar a recuperação imediata. O
ataque a bola em 3 direções diferente elimina muitas
possibilidades de ação do jogador da equipe vermelha. Os
jogadores da equipe amarela distantes da bola recuperam o
equilíbrio posicional e diminuem o campo de jogo adversário,
fechando espaços centrais, sempre respeitando zonalmente
uma ocupação coletiva, afinal o Counter Pressing objetiva a
recuperação rápida da bola também para uma “Economia
Complexa” de energia (física, técnica, tática e mental).
Figura 6 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola

Como exemplo, vamos retornar à situação apresentada pela


Figura 2 (Figura 6, campo da esquerda) em que a equipe
amarela está com a bola e possui 5 apoios. Após o erro de
passe (sinalizado pela seta curva laranja, no campo da direita),
os jogadores que eram apoios curtos (1 e 2) e o portador da bola (jogador
que errou o
passe), atacam imediatamente o jogador da equipe vermelha
que interceptou o passe para buscar a recuperação imediata. O
ataque a bola em 3 direções diferente elimina muitas
possibilidades de ação do jogador da equipe vermelha. Os
jogadores da equipe amarela distantes da bola recuperam o
equilíbrio posicional e diminuem o campo de jogo adversário,
fechando espaços centrais, sempre respeitando zonalmente
uma ocupação coletiva, afinal o Counter Pressing objetiva a
recuperação rápida da bola também para uma “Economia
Complexa” de energia (física, técnica, tática e mental).

Figura 7 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola

Após a perda da bola na Figura 7, o jogador da equipe


vermelha é atacado por 4 jogadores (aqueles que eram os
Apoios 1, 2 e 3 e o jogador que errou o passe), diminuindo o
tempo e as possibilidades de ação adversária. Recuperar a bola
na mesma zona que foi perdida, em pouquíssimo tempo, gera
inúmeras vantagens como já foi descrito. Mas principalmente,
a ocupação do espaço para atacar altera- se muito pouco do
ponto de vista estrutural, permitindo uma nova sequência de
ataque já iniciando com um bom nível de organização. Em
compensação, a troca de posse de bola pode gerar
desequilíbrios no adversário que podem ser aproveitados nos
instantes iniciais desse novo ataque.

figura 7 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola

Após a perda da bola na Figura 7, o jogador da equipe


vermelha é atacado por 4 jogadores (aqueles que eram os
Apoios 1, 2 e 3 e o jogador que errou o passe), diminuindo o
tempo e as possibilidades de ação adversária. Recuperar a bola
na mesma zona que foi perdida, em pouquíssimo tempo, gera
inúmeras vantagens como já foi descrito. Mas principalmente,
a ocupação do espaço para atacar altera- se muito pouco do
ponto de vista estrutural, permitindo uma nova sequência de
ataque já iniciando com um bom nível de organização. Em
compensação, a troca de posse de bola pode gerar
desequilíbrios no adversário que podem ser aproveitados nos
instantes iniciais desse novo ataque.
O Counter Pressing pode ser construído com referências zonais
ou individuais, com pressão imediata na bola, na linha de passe
ou com encaixes individuais. O que é fundamental é a conexão
de todos os conceitos de todos os momentos do jogo e o
sincronismo com que os movimentos individuais ocorrerão
dentro de um contexto coletivo.

Jogo posicional
“Não se trata de movimentar a bola, trata-se de movimentar o adversário.” -
JUAN MANUEL LILLO

Antes de entrarmos em mais detalhes e começarmos

explicando os conceitos por trás do jogo posicional, é

importante esclarecer e dar uma breve visão geral


sobre isso, já que há muitos mal-entendidos e equívocos.

O equívoco mais comum é confundir

Jogo posicional com jogo de posse. Embora

você possa usar ambos, eles não são obrigados a ser

usados juntos. Dizendo isso, podemos controlar o jogo(com

posse e manutenção) sem usar princípios posicionais,

e usar o jogo posicional não tendo um jogo de posse de posse e


manutenção.

Entendemos o Jogo Posicional como forma de liberdade para os


jogadores.
O Jogo posicional é apenas uma forma de compreender o jogo ...

É uma ideia de jogo para simplificar a complexidade do jogo, utilizando


uma relação entre posições, espaços e tempo. Ofensivamente, os objetivos
são manter a posse de bola, progredir no campo e, por fim, marcar um gol.
Defensivamente, uma equipe quer recuperar a posse de bola, anular
qualquer avanço adversário no campo e negar qualquer oportunidade de
gol.

Geralmente associada à posse de bola - que é utilizada como ferramenta,


mas não como objetivo principal - pretende promover relações entre os
jogadores, as suas posições, espaços (de acordo com os momentos do jogo),
criação/exploração das superioridades ( como numérico, qualitativo,
posicional, afeto social e cinético) em uma linguagem tática e técnica
comum dentro da equipe.
Alguma explicação conceitual dos princípios:

➢É possível através de uma estrutura previamente definida e de uma série de


movimentos/ocupações de espaço dependendo de algumas variáveis: posição
da bola, dos companheiros e dos adversários.
➢A montagem é um momento de extrema importância, pois os jogadores já
estão separados em diferentes alturas do campo.

➢É fundamental ter abertura e profundidade no jogo para poder ativar mais


canais de passe pelo campo e também para espalhar mais o rival em campo.

➢O domínio do conceito de ‘Homem Livre’ é fundamental para a construção


do jogo. Esse jogador pode variar dependendo da situação do jogo ou de onde
a bola está no campo. Além da criação de triângulos, famosos no Barcelona de
Xavi, Iniesta e Messi, que facilitam a criação e participação do ‘‘Terceiro
Homem’’

Princípios do Jogo Posicional

➢Gestão do Espaço-Tempo
➢Viajar juntos
➢Olhar para o campo
➢Encontrar o Homem Livre
➢A bola vai para a posição, e não a posição vai para a bola.

Espaço-Tempo

É uma correlação entre Espaço e Tempo.


O objetivo de todos os princípios técnicos e táticos do futebol é identificar e
criar espaço para aumentar o tempo quando atacamos e, inversamente,
identificar e negar espaço para diminuir o tempo quando defendemos.

O espaço no futebol pode ser identificado determinando a posição da bola,


outros jogadores (adversários e companheiros) e áreas desocupadas do campo
com base em quatro parâmetros: largura, profundidade, linhas defensivas
adversárias e linha de impedimento.

O tempo no futebol refere-se a quanto tempo um jogador tem com a posse da


bola para tomar uma decisão e realizar a ação correta. Obviamente, mais
espaço equivale a mais tempo e mais tempo equivale a mais e melhores
decisões.
Compreender o espaço e o tempo no futebol o ajudará a compreender o jogo
em termos mais simples.
➢No ataque ou na posse de bola: Você precisa de espaço em campo para ter
mais tempo com a bola. Esse tempo com a bola resultará em posse e controle
do jogo, ou chances de gol. Como esse espaço é criado? É tudo uma questão
de combinação de técnica refinada, condicionamento físico e consciência
tática. Estas habilidades são utilizadas para analisar eficazmente o
posicionamento defensivo do adversário, testando a sua concentração e
procurando lacunas a explorar.
➢Sistema defensivo: Defender é prevenir o tempo e o espaço em zonas
críticas. Essencialmente, é o oposto do que mencionamos acima.
O tempo no futebol refere-se a quanto tempo um jogador tem com a posse da
bola para tomar uma decisão e realizar a ação correta. O tempo é a ligação
entre o tempo e o espaço. Determina quando um jogador chega a um espaço.
O tempo é um processo colaborativo entre o jogador com a bola e o jogador
que corre.
Viajar juntos
O principal objetivo deste conceito é manter a equipe (companheiros) mais
próxima, durante as fases de construção e criação do jogo. Essa movimentação
coletiva permitirá uma melhor vantagem posicional, além de facilitar a pressão
e a recuperação de bola no momento em que a equipe atacante perde a bola.

Ter companheiros mais próximos aumentará a taxa de sucesso do passe (já


que a distância é menor), e em caso de perda de bola, a distância que a
pressão aplicada para recuperar a bola também é menor, retirando tempo de
tomada de decisão dos adversários.
A forma como você ataca definirá a forma como você defende, a equipe
precisa se comportar de forma holística.

Olhe para baixo no campo


“Olhe para o campo! A primeira coisa que Cruyff perguntou foi que olhamos
para Romário ” - Pep Guardiola. Ao criar situações favoráveis em todo o
campo, um dos maiores objetivos do jogo de posição é encontrar um
companheiro de equipe que está longe e livre.

Podemos ver o mesmo acontecendo no Bayern e M. City de Pep Guardiola,


onde a bola era frequentemente jogada com jogadores próximos e bumbum!
Mudança rápida do centro do jogo para Douglas Costa/Ribery/Robben, do
outro lado, que frequentemente estava no 1x1 e aproveitou esses duelos.

Novamente, crie e identifique o homem livre.

Homem Livre

O domínio do conceito de ‘Homem Livre’’ é fundamental para a construção do


jogo, este jogador pode variar dependendo da situação de jogo, ou do local
onde a bola se encontra no campo. O Homem Livre é simplesmente um
jogador que não está marcado e tem espaço, tempo e capacidade para avançar
a bola pelo campo. Conceito do Terceiro Homem, embora a ação real seja
bastante simples, o conceito é uma das ferramentas mais importantes (e
difíceis de defender), embora subvalorizadas, para as equipes encontrarem o
Homem Livre. Compreendendo o jogo e tomando boas decisões (para saber
quando passar a bola e/ou quando driblar), o drible pode ser uma ótima
ferramenta para libertar os companheiros de marcar os rivais e criar
superioridade.
A bola vai para a posição, e não a posição vai para a bola

A citação de Juanma Lillo é usada para descrever a importância da extrutura no


sistema de Jogo Posicional. É fundamental entender que o cargo atual
influencia a estrutura e o comportamento de toda a equipe, mesmo que ela
não esteja atuando diretamente na situação. Como disse Paco Seiru.lo, os
chamados “espaços de fase”. Podemos dividi-lo em três grandes grupos
diferentes: os jogadores com bola, os jogadores fora da bola (mas mais
próximos) e os jogadores longe da bola.

Jogadores com bola: driblam para atrair os rivais, fazem passes para os
companheiros mais próximos ou seguram a bola se não houver opção.

Jogadores sem bola (mais próximos do centro do jogo): apresentam-se como


linha de passe, de preferência atrás da linha de pressão do rival, continuam
após receber a bola.

Jogadores longe da bola: mantém o rival ocupado, aumenta a largura e/ou


profundidade da equipe, oferece uma linha de passe precisa.

Agora que esclarecemos alguns dos Princípios do Jogo Posicional e alguns dos
conceitos por trás dele, vamos falar sobre algumas das dinâmicas que
podemos usar para criar/desbloquear algumas vantagens.

“Não se trata de movimentar a bola, trata-se de movimentar o adversário.” -


JUAN MANUEL LILLO

Não é a bola que se move, a ideia é retirar o adversário da sua organização


movimentando a bola e a própria equipe, alterando as distâncias entre os
adversários e consequentemente a estrutura, processo que provoca o
aparecimento de espaços através dos quais a equipe pode tocar ou driblar.

Outro conceito básico é atrair seu oponente em um ponto para atacá-lo em


outro. A circulação da bola deve ser definida de acordo com os pontos fortes
da equipe e os pontos fracos do adversário.

Os jogadores precisam estar na posição correta, mas também com o


perfil/orientação corporal correto. Essa orientação corporal é muito
importante para receber um passe, assim como os ângulos que ele possui e
sua distância dos companheiros e adversários. Ou seja, o jogador pode estar
bem posicionado, mas mal orientado o que não dará vantagens a ele/equipe
para jogar mais adiante.

É necessário mencionar que as instruções e estrutura da equipe dependerão


do treinador, de sua filosofia e de vários fatores. Estas são apenas explicações
para uma melhor compreensão desta visão do futebol que se torna cada vez
mais popular em todo o mundo. Uma das formas mais comuns de treinar ou
começar a introduzir conceitos do “Jogo de Posição” é através do treino dos
RONDOS.
O “Jogo de Posição” é uma forma de ver o futebol que busca potencializar a
veia ofensiva, as interações entre os jogadores, a compreensão/execução do
jogador no jogo através de uma estrutura e da utilização da bola como
ferramenta. O objetivo final/principal será sempre o mais importante. Marcar
Gols.

Xavi Hernández

Se movimente ao seu redor para encontrar a melhor solução possível. Se você


não se relaciona com os outros, você não sabe de nada e não pode fazer nada.
Há a coisa do espaço-tempo a apreender neste jogo…é a possibilidade de
controlar o que você faz e o que os outros fazem, porque você joga com a
cabeça e não só com os pés. ‘Mas como posso encontrar espaços se não
existem?’ Sempre há alguns. Você tem que passar a bola de um lado para o
outro, mexer, mexer de novo, e pronto, tem espaço. Passei minha vida
procurando por isso, encontrando caminhos. Pergunte onde fica esse espaço?
Como fazer isso acontecer?

A busca de superioridades
Agora tentaremos descrever os tipos de superioridades que tentamos criar.
Existem 5 tipos de superioridades:
1- numérica,
2- posicional
3- qualitativa,
4- dinâmica (cinestésica)
5- sócio-afetiva são frutos do jogo posicional e, em última análise, serão
expressas coletivamente nas partidas.
➢ Quantitativo (Numérico)
➢ Qualitativo (Melhor Jogador vs. Pior)
➢ Posicional (Espaço)
➢ Dinâmico (Movimentação, busca por espaço com Velocidade)
➢ Socio-afetivo (Relacionamentos)
O Jogo Posicional é uma filosofia que tem muitos princípios, mas o princípio
fundamental é a busca pela superioridade. Existem várias maneiras de obter
superioridade e vários tipos de superioridade que podem ser alcançadas. Uma
vez encontrada a superioridade, a equipe pode usar a situação para dominar o
jogo.

O Jogo Posicional não consiste em passar a bola horizontalmente, mas sim em


algo muito mais difícil: consiste em gerar superioridades atrás de cada linha de
pressão. Pode ser feito de forma mais ou menos rápida, mais ou menos
verticalmente, mais ou menos agrupado, mas a única coisa que deve ser
mantida em todos os momentos é a busca pela superioridade. Ou, dito de
outra forma: criar homens livres nas entrelinhas.

O Jogo Posicional é um modelo de jogo construído, é premeditado, pensado,


estudado e trabalhado detalhadamente. Os intérpretes desta forma de jogo
conhecem as diversas possibilidades que podem ocorrer durante o jogo e
também quais devem ser seus papéis em cada momento. Naturalmente,
existem interpretações melhores e piores. Há também jogadores que nunca
conseguem se adaptar a este modelo de jogo, mas que são jogadores
sensacionais e conseguem contribuir com muitas virtudes para a sua equipa.
Mas em geral, os intérpretes deste modelo precisam conhecer a fundo o
catálogo de movimentos que precisam ser executados. Como em qualquer
peça musical, uma mesma partitura dá origem a muitas interpretações
diferentes: mais rápida, mais lenta, mais harmoniosa… mais ou menos uma
interpretação concreta que você gosta, mas o que deve ser mantido em
qualquer caso é que a melodia seja semelhante à original. O Jogo Posicional é
uma partitura musical tocada por cada equipe que a pratica no seu ritmo, mas
é fundamental para gerar superioridades atrás de cada linha de pressão
adversária.

AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DO JOGO POSICIONAL


Como conceito, o jogo posicional tem características fundamentais. O
domínio destes aspectos por parte dos atletas - é fundamental para que
este estilo seja desenvolvido. Em seu artigo, Daniel Fernandez destaca
alguns pontos que devem ser colocados em prática. Veja! - Os jogadores
devem ficar dispostos em diferentes alturas, facilitando a criação das
linhas de passes; - É fundamental dar amplitude para que os corredores
interiores apareçam, seja com os pontas, seja com os laterais; - É
fundamental o conceito do "homem livre";

- É fundamental que as superioridades numéricas se construam desde a


primeira linha; - A condução permite atrair rivais e, assim, provocar a
aparição do "homem livre"; - A formação contínua de triângulos de passes
permitem jogar com o "terceiro homem". Neste estilo, defesa e ataque são
ideias conjuntas, portanto é a ideia ofensiva que condiciona o resto do
jogo. Isso permitirá que a equipe, como um todo, viaje junto ao longo do
campo e que esteja sempre próxima. Assim, será capaz de realizar a
pressão pós-perda de posse - o que dificulta ao rival contra-atacar

Com o domínio destes conceitos por parte dos jogadores, a posse ganha
importância pois é um fenômeno que pretende desestabilizar o adversário, eliminar
rivais e condicionar o seu balanço defensivo. Desta forma, impõe ao rival sua forma
de jogo, que deixa de ser aquele pretendido por seu técnico
O guia prático para realmente compreender o jogo
posicional

O desafio transcendente e sem dúvida mais difícil de qualquer jogador de futebol é


saber onde estar.

Ataque, defesa, transições, o que quer que seja – a principal pergunta que qualquer
jogador invariavelmente se faz em campo é sobre posicionamento. Não o
comumente ensinado “como posso marcar” ou “como posso evitar que o adversário
marque”, mas algo muito mais fundamental: “como posso agregar valor, como
posso ajudar à minha equipe e onde devo estar para conseguir isso?”

A cada instante de cada partida, um jogo em que o ambiente está eternamente


travado em movimento, devemos de alguma forma interpretar o que está ao nosso
redor para calcular o nosso próximo passo. Quanto mais consistente e preciso
formos capazes de responder a essa pergunta, melhores soldados seremos e mais
perto estaremos da vitória. O posicionamento é um problema que deve ser sempre
respondido.

Uma nota sobre referências


Agora, para começar a resolver isto, devemos primeiro definir uma referência.
Nenhum ponto pode ter significado sem uma origem, algo constante e empírico que
nos funda na realidade. O sol permanece parado enquanto os planetas giram em
torno dele. Como podemos dar significado ao “posicionamento”?

Assim, antes de responder “onde se deveria estar”, o nosso indivíduo imaginário


pode perguntar, em resposta, “em referência a quê?” O campo? A bola? Seus
companheiros de equipe? A oposição? O árbitro? O que usamos para definir isso?

…e a resposta é um pouco incerta. Quando jovens, muitos jogadores utilizam


intuitivamente a bola como o item que fornece contexto posicional, mas à medida
que os jogadores envelhecem, tornam-se cada vez mais conscientes de novos
elementos, como as suas relações com os companheiros de equipa, adversário, e
assim por diante.

Porém, como fariam os bons solucionadores de problemas, evitaremos muito


brainstorming(debate) antes de colocar tudo na mesa. Deixe essa questão refletir,
por enquanto, mas não aborde-a ainda. Qual âncora de posicionamento é “melhor”?
Que pistas devemos usar para responder à nossa questão de posicionamento?
Como podemos evitar ficar sobrecarregados com muita informação? Deixe ferver
enquanto continuamos a dissecar.

A Tragédia do Coletivo
À medida que ponderamos os detalhes periféricos que rodeiam o posicionamento
individual, o futebol continua a lembrar-nos que dificilmente é um esporte individual.
As equipes complicam ainda mais as coisas.

Um único jogador coloca nobremente a questão do posicionamento individual e


procura respondê-la, porque só pode controlar genuinamente as suas próprias
ações. Os de seus companheiros de equipe não dependem exatamente deles. Para
vencermos em grupo, devemos ter fé que todos conseguem fazer a coisa “certa”,
em sincronia, o que é sem dúvida um desafio. Fazer a pergunta é um passo vital na
direção certa, mas nós, por nós mesmos, só podemos fazer parte desse sucesso
maior.

Apesar das comparações incessantes, o futebol não é xadrez, um jogo em que as


peças são movidas por uma presença ditadora. É aquele em que cada peça tem
vontade própria. Para o nosso único jogador que procura maximizar a sua eficácia
dentro do sistema maior, a interpretação e execução óptimas muitas vezes só
podem fazer muito se a dos seus vizinhos não for comparável.

Tentamos responder a este problema sozinhos, dentro de nós mesmos e dentro dos
limites daquilo que as nossas mentes e corpos podem controlar, mas o dilema do
posicionamento é fundamentalmente algo que deve ser resolvido por um grupo. As
equipes nos permitem alcançar mais, com mais, mas a tragédia do coletivo é que a
otimização de uma única unidade pode parecer fútil do ponto de vista da resolução
de problemas. O que determina o resultado de qualquer cenário raramente é o
posicionamento de um componente, mas sim daqueles próximos e, por extensão,
de toda a equipe. Este problema de “posicionamento”, localização intencional,
assume assim um significado muito maior.

Não só devemos avaliar constantemente para onde vamos, mas também devemos
reconhecer o que representamos dentro do sistema mais amplo. Como nosso
movimento impacta os de nossos companheiros de equipe? Como nossas posições
individuais afetam o coletivo? Como nossa posição coletiva afeta o jogo?

E então, realisticamente, temos muito o que processar aqui! É por isso que,
claramente, o futebol é difícil. Saber onde estar em qualquer cenário tem um grau
de níveis paralisantes – então, como podemos saber?

Mais ainda, existem infinitas situações e configurações que qualquer jogador pode
enfrentar em qualquer partida. Um número ilimitado de problemas para resolver.
Como alguém, mesmo o mais experiente dos jogadores, pode ter respostas viáveis
para todas elas?

No entanto, de forma tranquilizadora, existe um caminho. E é por isso que estamos


todos aqui. Vamos mergulhar.

Paramos de buscar soluções


Em teoria, a melhor solução para esta questão não é uma resposta direta ao
jogador curioso, mas uma metodologia para todos utilizarem, simultaneamente.
Quando o problema é muito específico e muito granular em um nível discreto, mas
ocorre para todos os 10 participantes de campo ao mesmo tempo – e com enormes
implicações – precisamos de algo que resolva situações individuais em conjunto, de
modo que o sucesso possa ser alcançado no como um todo, através de instruções
individualizadas.

.. então como diabos você faz isso?


Com problemas ilimitados, deixamos de buscar soluções, mas sim uma abordagem.
Uma filosofia, talvez.

Por toda a Internet, tenho certeza de que você já ouviu os termos “jogo posicional”,
“juego de posição” ou “JdP”. A ideia, amplamente defendida, mas raramente
totalmente compreendida, é uma abordagem contracultural sobre esta mesma
questão.

Astutamente, aqueles que tentaram resolver este dilema no passado reconheceram


as nossas deficiências humanas. Há poucos momentos, lamentámos a nossa
incapacidade de obter respostas para todas as perguntas, um sentimento de
impotência, mas um obstáculo crítico a ultrapassar. É verdade. Não importa o
quanto estudemos os cenários individuais e as resoluções resultantes, sempre
haverá surpresas no futebol.

Mesmo que saibamos as respostas para infinitos problemas, sempre haverá mais.

Assim, o que os nossos antecessores procuraram conceber foi um sistema, um


modelo de resolução de problemas, que nos permitisse tirar qualquer instantâneo do
campo e gerar um ponto em que deveríamos estar – um lugar em que todos
deveriam estar. um sistema, em vez de uma chave de resposta. Essa ideia parece
bastante abstrata, mas nada mais é do que uma grade.

Sim, você ouviu certo. Uma grade.

5 segundos de cálculo para ajudar


Se me pedissem para definir cálculo em poucas palavras simples – e tenha
paciência comigo, por favor – eu diria que é a arte de compreender a mudança e de
decompor grandes problemas em muitos problemas pequenos.

O primeiro refere-se à noção de derivada, enquanto o último se move em direção a


uma integral. Pronto, são alguns anos de educação matemática, sintetizados.
Desconsiderando os derivativos, por enquanto, o JdP funciona um pouco como a
integração.
Temos algo lindamente complexo para observar – seja um campo com
componentes em constante movimento ou uma equação governante de uma curva
– sem nenhuma maneira de “entendê-lo” a menos que o dividamos em uma
tonelada de pedaços superminúsculos. Se entendermos essas partes, poderemos
ter uma visão completa. Assim como uma câmera não pode ter resolução infinita e
requer poucos pixels para formar uma imagem completa, o campo é muito difícil de
entender sem fragmentá-lo de alguma forma; sem compreender o campo, não
podemos avaliar a localização.

JdP propõe uma solução.

Ao pegar nosso tom padrão e sobrepor nele uma grade translúcida – pense em
papel de projetor da 1ª série – podemos pegar algo grande e indefinido e dividi-lo
em partes mais gerenciáveis. Obviamente, tal método perderia utilidade e
implementabilidade se a “resolução” fosse muito alta, então nossos pedaços ainda
são bem grandes e fáceis de lembrar. No entanto, essas partes ajudam muito a
entender o posicionamento.

Dê uma olhada em uma versão popularizada de como isso pode parecer:


O que é importante reconhecer é que as zonas JdP são altamente interpretáveis. Não existe
uma maneira objetivamente correta de dividir o campo, embora existam designs
amplamente aceitos. A abaixo é minha preferência pessoal, em que as 3 regiões
intermediárias são divididas como as laterais. Usaremos isso ao longo do artigo.

Agora, tudo bem, temos uma grade, mas o que tudo isso significa? Como isso pode ajudar a
resolver um problema individual, para todos, ao mesmo tempo? Para começar, precisamos
nomear tudo.

O vermelho marca na nossa direção, o que significa que o meio-espaço avançado é aquele
mais próximo do gol de baixo.
Perto das bordas do campo, temos a largura, os canais, os flancos, as asas, ou como você
quiser chamá-los. No fundo, chamaremos isso de centro ou meio. Entre cada uma dessas 3
regiões intuitivas temos o meio espaço menos conhecido, uma zona intermediária que
carrega grande significado.

Em todo o campo, há menos foco na nomenclatura. Quanto mais nos aproximamos do


objetivo, mais avançado é o nosso posicionamento – e costumo usar isso para manter a
ênfase na especificidade horizontal. É importante notar que esta grelha é normalmente
utilizada em posse de bola, o que significa que as regiões de particular interesse são aquelas
dentro ou mais próximas do meio-campo adversário. Discutiremos “as regras” do JdP mais
tarde, mas em termos de nomear as coisas, “o meio espaço direito avançado” refere-se
àquele que estamos atacando.

Ao dividir a paisagem, como mostrado, seremos mais capazes de instruir onde nossos
jogadores deveriam estar. Claramente, temos uma melhor compreensão do território que
existe entre as regiões ampla e central – e como descobriremos em breve, essa é uma
grande descoberta.

por que eles têm esse formato?


Antes de prosseguir, um elemento imediato desta grelha que pode levantar algumas
questões é a natureza desigual do tamanho de cada zona. Normalmente pensamos em uma
grade como algo uniforme, mas não parece exatamente assim. A largura é maior que as 3
faixas internas e, dependendo da sua interpretação, o centro também pode ser mais largo
que os meios espaços. Isso tudo é aleatório ou há algo deliberado acontecendo aqui?

Contrariando o padrão 442, uma das interpretações formacionais mais comuns do futebol,
esta grade é convenientemente projetada para formar vértices onde cada um dos
defensores, meio-campistas e atacantes aparecem nominalmente. Imagine um bloco médio-
baixo segurando o 18 como linha de impedimento – e vemos algo assim:

Linhas horizontais unindo DFs, MFs e STs


Consulte os detalhes
Depois de traçar efetivamente uma constelação entre os vários atores, e extrapolar,
podemos rapidamente perceber como o espaço entre cada um deles é representado pela
grade JdP. A lacuna entre os zagueiros é o centro, as lacunas entre eles e os zagueiros são os
meios-espaços e as lacunas entre os zagueiros e as laterais são a largura.

Gravidade e a beleza do colapso


Agora, como é bastante intuitivo, se atacarmos esta estrutura azul, provavelmente
gostaríamos de ter os nossos jogadores com a bola, longe das presenças defensivas
individuais. As regiões entre cada marcador, mostradas abaixo, são locais privilegiados para
isso – longe dos nós de pressão.

Nem é preciso dizer que algo no posicionamento acima parece melhor do que na imagem
abaixo. Preferimos passar para um jogador com espaço ao seu redor, do que com uma
marca logo ao lado. Isso faz sentido. Nossas chances de passar, receber e continuar a jogada
são maiores se não houver ninguém por perto para interceptar.
Mas o que está abaixo da superfície, aqui, é a ideia de que passar para locais de baixa
pressão não apenas torna mais fácil manter a posse de bola, mas também atrai a oposição
para ela. Uma bola que chega longe de um defensor, cuja responsabilidade seria cobrir
aquela região do campo, invariavelmente fará com que esse DF seja arrastado em sua
direção. Tal é a ideia de “magnetismo” ou “gravidade”, uma ideia discutida em It all Starts
with Hopping the Fence: How to Disrupt a 4-4-2 with a 3-2-5.

“Este conceito surge da sugestão de que os jogadores tendem a ter um efeito gravitacional
sobre os outros, ao assumirem posições próximas deles. O chamariz funciona porque suga
um defensor para um determinado espaço para proteger uma ameaça presumível,
puxando-o para fora de posição como um poste positivo faria com um poste carregado
negativamente, e abrindo verdadeiras oportunidades além deles. Um atacante que fica
pendurado no lado do gol da defesa e corre atrás irá gradualmente desestabilizar os CBs e
incentivará uma linha de impedimento mais baixa para que os CBs possam ver melhor seu
movimento. Como tal, ele puxará o oponente usando sua “atração gravitacional”. Se os alas
tiverem giz nas chuteiras, os zagueiros adversários hesitarão em ficar dentro de casa, com
medo de ficarem muito expostos nos canais. Assim, eles também serão desenhados na
largura a ser coberta. Esta é uma ideia fundamental que podemos explorar de forma
generalizada, especialmente quando procuramos manter as nossas superioridades
numéricas através da acumulação e evitar que a oposição condense demasiado o nosso
espaço. Usamos a noção de magnetismo para atrair a defesa para certas regiões,
espalhando-as e nos concedendo mais espaço para trabalhar.”

Com este efeito sedutor que os objetos de valor e intriga têm sobre os nossos inimigos,
podemos refinar a nossa compreensão dos benefícios que “encontrar espaço” pode ter.

Sim, “menos pressão” parece óptimo porque significa que temos mais hipóteses de manter
a bola, mas se encontrarmos estas cavidades dentro da estrutura inimiga, elas podem
aumentar subitamente a sua presença defensiva localizada à medida que colapsam para
dentro para parar a ameaça. Isso não parece tão ideal, uma vez que o nosso espaço estará
agora sufocado. Certo?

Sim e não. À medida que o inimigo se move para tentar esmagar nossa progressão com
entusiasmo, isso normalmente assume a forma de um daqueles defensores “pisando” em
direção à bola e efetivamente arrastando sua estrutura antes organizada para fora de
forma. Essa oportunidade específica pode ter desaparecido, mas ao forçar a defesa a cobrir
algo que eles não estavam interessados em cobrir antes, agora agitamos uma varinha
mágica e forçamos a sua mão de posicionamento. Fizemos algo que os levou a fazer outra
coisa. Se não o fizessem, seriam punidos, mas se o fizessem, simplesmente puniríamos de
forma diferente.

Se passarmos a bola para um jogador amarelo no intervalo, a reação subsequente poderá


ser mais ou menos assim:
De repente, somos capazes de manipular a oposição. E isso é bastante poderoso.

Sim, temos tentado descobrir como nos posicionar, mas agora encontrámos um princípio
que nos permite ditar para onde o nosso inimigo realmente irá. Se você encontrar brechas
na defesa, isso significa que será mais difícil para eles impedi-lo, mas também significa que
eles se esforçarão mais para fazê-lo. Ou você aproveita o espaço e o explora, ou colhe os
benefícios de uma equipe que tenta eliminar rapidamente um ponto fraco –
invariavelmente abrindo outros.

Ainda nem entramos nas famosas regras do JdP, mas já descobrimos um princípio
fundamental do jogo posicional. Quanto mais pudermos colocar a bola dentro de lacunas
internas – ou como é muitas vezes referido coloquialmente como “nas entrelinhas” – mais
frequentemente poderemos alcançar um resultado quase ganha-ganha: continuar
ameaçando, contra a vontade deles, ou deslocá-los, contra sua vontade.

Perceber a “atração da pressão” como um resultado positivo é uma mudança de paradigma


bastante contraintuitiva. Especialmente para jogadores jovens, isto pode ser difícil de
incutir. Talvez a melhor forma de explicar a ideia, além de expressar o valor de “emaranhar
a estrutura do oponente”, seja através de exemplos práticos de gravidade. Então, aqui estão
alguns:

1. O CB pisa forte no 10 que recebe no halfspace. Amarelo recebe, tem a linha de arremesso
ou caminho direto em direção ao gol fechado – o que pode inicialmente ser percebido como
negativo. Eles procedem ao redirecionamento para fora, enquanto outro jogador amarelo
observa o novo buraco na defesa azul. Isso faz com que eles se aproximem do poste para
uma cabeçada de relance. Esta zona não estaria tão disponível para tal jogada, não fosse a
pressão inicialmente atraída pelo amarelo naquela cavidade interna.

2. Jogar em uma caçapa faz com que o zagueiro pressione, de forma bastante imprudente,
já que a fuga é então encontrada no canal para um ala em corrida penetrar por trás. O
jogador pode ter ficado frustrado com o fechamento da abertura, mas a gratificação
demora e uma solução é descoberta em outro lugar. O novo caminho é menos direto, mas
abre um punhado de opções criativas, com maior proximidade com o objetivo.
3. O 6 azul do lado da bola cai para pressionar o 10 amarelo por trás. A bola retorna para o 6
amarelo enquanto eles avançam para dentro, aproveitando o terreno recém-aberto e agora
arrastando o outro 6 azul em sua direção para se acomodar. O efeito dominó em colapso
continua à medida que a bola é passada, novamente, com os dois 6 azuis arrastados para o
lado, enquanto um jogador amarelo, que antes estava do outro lado, combina com o
atacante para marcar o gol.
Halfspaces Dourados: Parte 1, Incerteza Territorial
Tudo bem. Agora temos nossa grade, sabemos por que ela é moldada dessa maneira e
entendemos o efeito magnético que jogar nas entrelinhas pode ter sobre um oponente que
tenta se manter organizado. Então, por que tanto alarido sobre o halfspace em geral? Por
que isso tem “grande significado”? Por que todos os nossos exemplos acima envolveram
coincidentemente jogar isso?

A primeira justificativa é que os meios-espaços são zonas ideais nas quais nosso mecanismo
de gravidade pode atacar a maioria dos jogadores adversários. Esta região normalmente
pode atrair um zagueiro central, um zagueiro, um meio-campista central, um meio-campista
lateral ou até mesmo uma presença de ataque recuada em alguns casos. Você tem que ver
isso, um pouco, nos 3 vídeos em exibição.

Quando comparamos isso com jogar a bola ao lado, local onde a concentração de pressão é
invariavelmente menor e as cavidades não são mais tão internas à estrutura adversária, há
menos defensores para magnetizar contra sua vontade. Esta pode ser uma opção mais
segura do ponto de vista superficial de segurar a bola, pois é menos arriscado
imediatamente, mas as recompensas a serem colhidas também são menores. Mesmo que
um jogador lateral seja atraído para fora, o território que ele deixa para trás vale
comparativamente menos do que um zagueiro empurrando alto para colapsar um vazio
central, deixando para trás uma região aberta e alta de xG.
Now, one might argue that the central zone could offer the same thing, with lots of
players in possibly even higher density areas, and great potential for magnetic
displacement, but there are a few distinguishing features of the halfspace that may
make it even more appealing.

When we mention those susceptible to being yanked out of line, it is a unique thing
for those involved in that tugging mechanism to bridge the gap between the
traditionally central and traditionally wide players. At this point in time, in
football, we rarely have “halfspace midfielders”, we have wide and central ones.
The same goes for defense and even attack. There are usually 3 identity choices:
left, right, and center. A halfspace pocket’s vertices typically includes 2 central
players and 2 wide ones, meaning the marking decision that’s been created is not
only a pain, like most, but in highly ambiguous territory that makes it even worse.
Touchline Theory has often touched upon the importance of forcing an opponent to
make these marking decisions, a skill that inherently imposes discomfort while
putting the defensive team’s communication and accountability skills to the test.
These hand-off scenarios are prone to error, and a team that forces the other to
make more of them over the course of a match will likely result in having the better

chances. See an example outlining the overlap’s efficacy, through the lens of
marking decisions, and even apart from generating superiorities:

Para resolver rotineiramente esses cenários, uma pista importante que os defensores
usarão é o território difícil que o invasor ocupa. Se um atacante lateral recebe uma bola
entre um lateral defensor e um lateral lateral, a localização vertical desse jogador pode ser
uma forte indicação de quem é o ônus de pressionar primeiro. Mas a escolha horizontal é
um tanto simples e as duas opções são claras.
No entanto, no estranho território intermediário que é o meio-espaço, esse contexto é
removido. Verticalmente, podemos ter as mesmas pistas, mas agora envolvemos também o
defesa-central e o médio-central na nossa decisão de marcação. Dois desses atores
deveriam ser “centrais”, enquanto os outros deveriam ser “amplos”. Qualquer afastamento
do posto pretendido implicará uma transição para o outro; um meio-campista central que
pega um atacante de meio espaço estará se movendo para fora, enquanto um meio-
campista lateral fazendo isso os vê se moverem centralmente. Então, qual deles deve fazer
isso? Qual deles mergulhará no desconhecido?

e compararmos isto com o caso central, todos os envolvidos nessa decisão de marcação são
um “jogador central” com funções de “jogador central” e uma identidade de “jogador
central”. Qualquer um deles pode estar bem em aplicar pressão, já que seu “posto” não terá
sido deixado para trás. Qualquer um dos 4 ainda estará pressionando centralmente. A
propriedade horizontal é mais clara no meio e no exterior – mas não é assim no meio
espaço.

Assim, como resumiu o treinador da Molde Academy, Eric Laurie, num tweet recente, esta
posição intermediária serve como uma região confusa e cheia de incerteza defensiva. Isso é
algo que pode ser altamente valioso em posse. A apreensão da marcação horizontal é um
excelente resultado para um ataque que prospera em contratempos da oposição. Quanto
menos intuitiva for a defesa, mais difícil ela se tornar

O que é jogo posicional?


O jogo posicional, também conhecido como jogo de posição, é um princípio de jogo no
futebol adotado por muitos dos principais treinadores do mundo. Quando uma equipe
utiliza o jogo posicional, os jogadores assumem posições para tentar criar vantagens
numéricas na passagem de triângulos ou losangos, na esperança de progredir a posse
através dos terços. Todos os jogadores da equipe devem seguir regras rígidas sobre as
posições que ocupam em relação aos companheiros, ao adversário e à bola.
Num uso particular do jogo posicional – aquele promovido por Pep Guardiola – o campo é
dividido em zonas (abaixo). O modelo utiliza linhas verticais e horizontais no campo, com
cada jogador atribuído a uma zona. Nunca deve haver mais de três companheiros em
qualquer plano horizontal, e nunca mais de dois em qualquer plano vertical, a fim de criar
opções de passe para o jogador com posse de bola. Os jogadores precisam estar prontos
para se mover com base no movimento de um companheiro de equipe. Isso cria rotações
constantes que visam perturbar a oposição.
O jogo posicional se aplica a qualquer parte do campo, desde o reinício do chute de gol e do
meio-campo até o meio-campo de ataque e o terço final. A intenção permanece a mesma:
criar espaço e diversas opções de passe para o portador da bola. Os requisitos táticos
precisos irão variar dependendo da área do campo e das intenções exatas do treinador.

Onde se origina o jogo posicional?


Foi através da ideologia de Rinus Michels no Ajax que os princípios do jogo posicional
apareceram pela primeira vez, e Johan Cruyff desenvolveu essas ideias no Barcelona.
Através destes dois treinadores, a ideia holandesa do Futebol Total ganhou vida. Mas foi
Guardiola, aluno de Cruyff, quem transferiu o jogo posicional para o topo do jogo moderno.
O técnico do Manchester City obteve grande sucesso ao usá-lo.
Quais são as responsabilidades em posse de uma equipe que usa jogo posicional?
O objetivo de qualquer equipe que utilize o jogo posicional é forjar pelo menos um dos três
tipos de superioridade: numérica, qualitativa e posicional. A superioridade numérica é uma
sobrecarga em qualquer área do campo. A superioridade qualitativa ocorre quando um
jogador superior ao seu adversário direto o isola em uma situação um contra um. A
superioridade posicional envolve colocar os jogadores em posições entre ou atrás das linhas
adversárias, onde é mais provável que tenham tempo e espaço com a bola e, portanto, mais
probabilidade de afetar o jogo. Qualquer jogador de uma equipe que utiliza jogo posicional
deve sempre se esforçar para alcançar um desses três tipos de superioridade.
O jogo posicional funciona para permitir que as equipes avancem a bola através da criação
de triângulos ou losangos que dão ao portador da bola espaço e diversas opções de passe a
qualquer momento. Então, ao atrair um adversário em direção à bola, o jogador liberará um
companheiro em outro lugar para receber o próximo passe.

Os jogadores devem utilizar toda a largura do campo quando a sua equipa estiver com a
posse de bola, para criar o máximo de espaço possível no centro do campo. Eles também
devem estar cientes de onde devem estar e onde estão seus companheiros, para que
possam ajustar sua posição constantemente. Fora da bola, os jogadores devem assumir
posições que provoquem movimentos adversários que abram vias de passe para o portador
da bola.
Quais são as responsabilidades fora da posse de bola de uma equipe que usa jogo
posicional?
O jogo posicional é uma filosofia de futebol com posse de bola, portanto não existem
estratégias específicas fora de posse de bola empregadas pelas equipes que utilizam este
estilo de jogo. No entanto, a contra-pressão costuma ser associada ao jogo posicional. Aqui,
as equipes buscam recuperar a posse de bola no alto do campo e impedir os contra-ataques
o mais cedo possível.
Isto evita a vulnerabilidade defensiva, com as equipas sobrecarregadas devido à sua forma
de posse de bola.
Quais equipes usam melhor o jogo posicional?
Manchester City de Pep Guardiola
O City é o melhor e mais bem-sucedido defensor do jogo posicional. Tentam obter uma
vantagem numérica na primeira linha, através dos seus defesas-centrais movimentando-se
ao lado e do número seis ocupando uma posição além da primeira linha de defesa
adversária para criar um triângulo (acima). Os defesas-centrais tentam provocar os
avançados adversários a saltarem para pressionar, criando por sua vez uma linha de passe
para o médio.
O objetivo é colocar o pivô na bola. Este jogador posiciona-se numa zona central, na
esperança de depois poder progredir no jogo lateral para lateral ou médio. Se o passe para
o meio-campista não for feito, eles jogam para o seu parceiro zagueiro. Eles podem então
ultrapassar a primeira linha adversária e encontrar um passe para frente a partir daí.

Quais são os benefícios do jogo posicional?

Quando bem utilizado, o jogo posicional pode produzir um futebol de qualidade excepcional
e altamente eficaz. É extremamente divertido de assistir e pode trazer grande sucesso,
como mostrou o Manchester City de Pep Guardiola. O jogo posicional cria grandes espaços
graças aos jogadores que alongam o campo. Isso cria espaço nas áreas centrais para os
jogadores pegarem a bola – algo com que muitas equipes têm dificuldade.
O jogo posicional também pode levar a muitas oportunidades para colocar os jogadores
atrás em posições amplas. Isso pode levar a passes realizados em frente ao gol e chances de
alta qualidade que provavelmente levarão a um gol.
Quais são as desvantagens de usar o jogo posicional?
O jogo posicional requer jogadores de alta qualidade, capazes de receber no meio-turno e
identificar rapidamente o próximo passe. Sem jogadores de calibre suficientemente
elevado, o jogo posicional pode facilmente falhar. Os jogadores também precisam
compreender as complexidades do jogo posicional e exatamente o que é exigido deles em
um determinado momento. Isso significa que há necessidade de jogadores que sejam
capazes de compreender um sistema e implementá-lo em campo. Também exige bastante
tempo no campo de treinamento, onde os jogadores devem aprender tudo o que precisam.
Os sistemas com os jogadores configurados em uma forma expansiva de posse de bola
podem ser vulneráveis a contra-ataques porque há muito espaço no interior de sua
estrutura. O jogo com posse de bola exige jogadores capazes de fazer recuperações rápidas
e longas e que estejam totalmente comprometidos com o sistema.
Quando as equipes acertam, o jogo posicional pode ser atraente e perigoso. Mas há uma
razão pela qual tão poucas equipes são capazes de alcançá-lo. É muito, muito difícil
aperfeiçoar.

QUEM E COMO SERÃO OS JOVENS, ADULTOS E


PROFISSIONAIS do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE, QUE IRÃO
ESTAR APTOS A USAR ESSA ARMA OFENSIVA.....
PRESSÃO PÓS-PERDA
“O que um jogador de futebol faz quando está em Organização Ofensiva ou
Defensiva é fácil de estabelecer, mas para entendê-los e conhecê-los mais
profundamente – quem eles são(Filhos, estudantes, irmãos, pais, etc...) em
que acreditam, como chegaram a este estágio de estar em nossa Instituição, o
que os motiva, o que os espera quando saem do treino – são os detalhes mais
evidentes para implementarmos o entendimento, crescimento e
desenvolvimento dessa tomada de decisão, com rápida mudança de atitude e
comportamento individual e coletiva.

PRESSÃO PÓS-PERDA dentro do nossos Princípios Metodológicos de Transição


Defesa-Ataque será entendido e praticado por todas nossas categorias de
Formação e Equipe Profissional como: Arma Ofensiva

Toda sessão irá tratar da criação e aplicação do momento de contrapressão ou


pressão pós-perda, como arma ofensiva. Procurar recuperar a posse de bola no
menor tempo possível, criando ‘situações de desconforto e gerar instabilidade’
na zona onde a bola fora perdida. Para tal, analizaremos vários princípios que
credibilizará a nossa identidade. Queremos atacar o adversário sem parar
quando temos a bola, quando a perdemos e quando o adversário a tem. Dito
de outra forma, defender será a nossa primeira ação ofensiva. Cada exercício
deveria ter esse caráter, diretamente definido pela nossa forma específica de
jogar, onde todos são responsáveis por tudo na forma do futebol total
moderno. Em termos reais, isso significa que temos uma equipe de 11 ao
mesmo tempo, cada um deles um atacante e cada um deles será terá função
defensiva dentro da nossa Instituição.

O que fazer para que os jogadores façam (entender, manter foco, motivação,
respeito, disciplina e acima de tudo mantê-los comprometidos com nossas
ideias de jogo?)

Usaremos em nosso processo Formativo muitos Rondos táticos.

Modelo de Sessão:

Exemplo: Em uma área de 12x12 mts, usamos três equipes de três jogadores,
gerando um 6 vs 3, conforme mostrado abaixo. Não há limite de toques e a
equipe que perder a bola deverá reagir imediatamente, pressionando as outras
duas equipes. O jogador mais próximo aplica uma pressão agressiva intensa e
defenderemos em triângulo, enquanto os outros dois jogadores controlam os
espaços ao redor da bola e se antecipam. Neste sentido, a PRESSÃO PÓS-
PERDA e será nosso DIFERENCIAL CULTURAL para CREDIBILIZAR E MANTER
nosso futebol DOMINANTE como PROTAGONISTA tendo também dentro desse
quesito o CONTROLE DO JOGO, isto não está previsto como uma proposta – é
uma LEI – DEVER, que será trabalhado dentro da Insituição Cruzeiro Esporte
Clube com TODOS profissionais que fazem parte do quesito Metodológico
Sistêmico.

Exercício Modelo:
Pressão Pós-perda, SERÁ ESTABELECIDA dentro da Instituição Cruzeiro Esporte
Clube como: Arma Ofensiva

Pressão Pós-perda como arma ofensiva


Principais momentos:

Neste exercício queremos criar o foco certo para a parte essencial da sessão.
Queremos que ENTENDAM e MANTENHAM O FOCO, como tendo sempre uma
NECESSIDADE de recuperar a bola, criando momentos caóticos e controlando
esses momentos sendo ‘rápidos e assertivos na TOMADA de DECISÃO’ , com
orientação, habilidade, precisão e conexão. Queremos períodos curtos e
intensos, alternados com períodos de descanso para que os jogadores
permaneçam focados e em prontidão para absorver informações e aprender o
tempo todo. No quesito de Organização Defensiva, dentro do nosso contexto
educacional, o jogador mais próximo da bola será o primeiro defensor e com
agressividade-intensidade máxima será responsável para pressionar dentro da
sua zona, SEMPRE com intensidade-agressividade – mas isso deve ser
controlado com uma antecipação de para onde irá o próximo passe e com a
reorganização constante e rápida dos companheiros de equipe dentro da zona
de pressão. Em termos de erros típicos, por vezes algumas frustrações depois
de perder a posse de bola e os jogadores não reagem imediatamente. O
desenvolvimento leva tempo – as vezes leva tempo para os “jovens” tomarem
decisões com base nas intervenções e referências coletivas. Não queremos
uma situação linear ou mecânica – um desenvolvimento aceitável e criativo
leva tempo. Uma equipe de alta intensidade e pressão pós-perda muitas vezes
cometerá mais erros porque tentamos mais – em última análise, a paciência e
a expectativa de cometer erros são realmente aceitáveis.

Outro modelo de sessão:


Usando toda a largura do campo conforme mostrado, e em três quartos do
campo, uma equipe de oito jogadores ataca uma equipe de seis (GL + 6 vs 8).
O time de seis tem um jogador extra quando recupera posse de bola. A equipe
de oito jogadores trabalha a sua organização ofensiva, a sua proteção e o
princípio da pressão pós-perda, com jogadores pressionando como nunca
foram pressionados antes! Eles fazem isso em blocos de 3x6 minutos, com 4
minutos de descanso entre eles, trocando de jogador entre os períodos de
recuperação. Para avançar nisso, podemos colocar dois jogadores
“descansados”, criando assim uma “proteção” melhor e mais complexa. Aqui a
organização ofensiva é atrair e depois atacar em velocidade.

Pressão Pós-perda como arma ofensiva


Transição rápida para dominar o adversário nestes momentos

Queremos desequilibrar as duas linhas através de uma circulação rápida e com


intensidade (unidade ofensiva), e nossos jogadores devem sobrepor-se para
criar situações de cruzamentos pelos corredores laterais. Em termos de erros
típicos, muitas vezes isso seja pela falta de proteção, portanto a equipe de seis
pode facilmente encontrar o jogador adicional e contra-atacar e cobrir bem os
espaços. As vezes, alguns jogadores começam a expressar sua perda de foco e
aquele fator de decepção pelo erro ao perder a posse de bola da Equipe, em
vez disso queremos que eles reajam, vendo qualquer perda de posse de bola
como uma oportunidade (para recuperá-la).

Dentro das expectativas futuras para a Instituição Cruzeiro Esporte Clube,


analisaremos nossas Equipes de Formação e Profissional como equipes de alta
intensidade e com pressão pós-perda muitas vezes cometendo erros porque
tentaremos mais– em última análise, a paciência e a expectativa de cometer
erros serão realmente aceitáveis e analisadas.

Uso do espaço e Mudança-Virada de jogo


Esta é uma sessão multidirecional destinada a desenvolver e trabalhar o uso do
espaço e as mudanças de jogo quando se tem a posse de bola. Esta sessão de
treino poderá ser utilizada no início da semana, ou como carga de reintrodução
ou compensação para os não habituais, com a ideia de trabalhar um tema
tático sem a necessidade de se preocupar com posições ou situações
específicas que possam ocorrer no fim de semana.

EXERCÍCIOS: com o OBJETIVO: VIRADA E MUDANÇA de jogo (4v1s/4v2s) (15


min) Montaremos usando cinco grupos de quatro jogadores, conforme
mostrado, com um grupo atuando como defensores e quatro grupos ocupando
os quatro quadrados mostrados acima. A ideia é colocar os jogadores em
situações de 4v1 em seu próprio quadrado, onde devem realizar no mínimo
quatro passes antes de transferir a bola para outro quadrado. O grupo
defensor deve tentar interceptar-roubar a bola o mais rápido possível.
Rodando as equipes a cada dois minutos, contamos o número de
transferências antes que ocorra uma antecipação, identificando assim os dois
grupos com mais transferências sofridas como equipes perdedoras. Podemos
variar as condições entre um e dois toques para alterar a dificuldade e
aumentar a qualidade nas inversões e mudança da zona de jogo, além de
oferecer adicionais ou pontos extras se as mudanças de espaços para o
quadrados opostos.
Uso do espaço e Mudança-Virada de jogo

Procuramos principalmente o detalhe do passe, a boa movimentação e a


exploração dos ângulos para que os jogadores consigam transferir a bola de
quadrado em quadrado. Os jogadores devem comunicar bem, estar atentos
aos companheiros e adversários, e estar atentos a uma troca de posse de bola,
seja perto deles ou numa área diferente.

Posse de posse 8v8+2 ( 4 quadrados (25 minutos). Esta é uma prática de posse
multidirecional com duas equipes de oito jogadores mais dois flutuadores, que
tentam apoiar a equipe com posse de bola. A equipe com posse de bola deve
utilizar o espaço com sabedoria para mantê-la com a ideia de trocar a bola.
Seguiremos o princípio de não completar mais de quatro passes dentro da
mesma área, sendo que a equipe com posse de bola ganha um ponto cada vez
que completa com sucesso esses quatro passes e transfere a bola para outra
área. Podemos limitar o número de jogadores em cada quadrado se o grupo
estiver com dificuldades.
Montamos agora um jogo reduzido, GL+6v6+GL+6 ou GL+¿7vs7+GL+6 com
gols centrais, conforme mostrado. Duas equipes de seis jogadores competem
pela posse de bola dentro da área demarcada entre linhas, com uma terceira
equipe de seis jogadores usada como complemento de apoio do lado de fora.
Os gols ficam voltados para lados opostos no meio do campo com um goleiro
em cada um, dividindo a área em duas. Ambas as equipes dentro das áreas são
livres de movimentar os seus jogadores para onde quiserem, mas devem
sempre estar focados na realização dos princípios de ter forma e equilíbrio
organizado na utilização inteligente desse espaço. Para conseguir marcar ou
atacar o gol, a equipe que possui a posse de bola tem que mudar a jogada de
um lado-espaço, para outro pelo menos uma vez, para então identificar o
melhor momento para criar uma chance de gol. Para construir situações o
número de toques pode ser manipulado com as equipes dentro da área. Assim,
por exemplo, estaríamos criando situações de 1v1 dentro das áreas, ou por
pelos lados. Se insistirmos em dois toques, estaríamos procurando mudanças
de jogo vindas de fora; e se dirigirmos o jogo com um toque, podemos estar
propiciando dos jogadores que apoiam por dentro.

TRABALHE O OPONENTE

- Pressão pós-perda

- Pressão (como primeiro defensor)


- Segundas bolas

-Ultra agressividade

- Adaptação

- Contra-ataque

FILOSOFIA do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE É:


80% SOBRE A PESSOA E 20% SOBRE AS TÁTICAS

Nossa filosofia defenderá fortemente a flexibilidade e a adaptabilidade em


formações táticas, com e sem posse de bola, e está mais focada na
apresentação de princípios do que em sistemas específicos.

Uma estratégia fundamental que será utilizada será sempre:


- Superar o adversário em distância percorrida em alta intensidade,
- Roubadas de bola no último terço,
- Controlar o jogo sendo o protagonista.

Embora isto pareça uma decisão simples e não táctica, esta crença no trabalho
árduo e cognitivo no quesito de tomadas de decisões e sempre no desejo de
superar o adversário é tão importante, se não mais importante, do que
qualquer uma das decisões táticas que são tomadas dentro da sua filosofia de
treino.

A Pressão pós-perda fará parte de um novo Recomeço dentro do Elo da Nossa


Cultura futebolística: a posse de bola deve ser recuperada rapidamente,
quando a posse de bola for perdida. Parece muito simples, mas o mais
importante é que trabalharemos com todos nossos “departamentos de
futebol” para entendermos e para melhorarmos nossa evolução diária dessa
mudança comportamental e individual.

Procuraremos jogar (intencionalmente) no meio-campo adversário, ao


conseguir, iremos procurar um jogo orientado para o espaço e para a posse de
bola, ou mesmo sem a posse de bola, procuraremos controlar o espaço para
podermos contra-atacar o adversário o mais rápido possível.
Os três atacantes e os três do meio campistas do Cruzeiro Esporte Clube, irão
prepararar perfeitamente a armadilha para o contra-ataque, mantendo
superioridade numérica ao redor da bola.

Nossa relutância em não desistir será uma característica e uma mensagem


consistente dentro da filosofia do Cruzeiro Esporte Clube, mantendo nosso
protagonismo, no controle do jogo na fases de Organização Ofensiva e
Transição Ataque-Defesa (pressão pós perda).
No quesito de Organização Defensiva, teremos bem definidos nossos BLOCOS
de Pressão:
- Bloco Baixa,
- Bloco Médio,
- Bloco Alto.

Nossas Transições Defesa-Ataque, primeira situação organizacional será tirar a


bola da zona de pressão e explorar o lado oposto ou zona fraca, com
velocidade de circulação de bola. Segunda situação organizacional passe com
segurança para trás com o pensamento e entendimento de voltarmos a
controlar o jogo. Já na terceira situação, será a possibilidade de uma transição
rápida vertical, pegando o adversário totalmente desorganizado.

JOGANDO CONTRA UM BLOCO BAIXO

- Como usar os laterais para contornar o bloqueio e usar os cruzamentos como


forma de vencer o bloqueio

- Como se defender do contra-ataque ao jogar contra o bloqueio

- Como garantir que o adversário não consiga sair do bloqueio

-Esta sessão foi assistida mostra como a quebra de bloqueio simples e eficaz
pode ser treinada para jogadores de qualquer idade. Esta sessão fácil de usar
pode ser transferida muito rapidamente para o seu treino e é incrivelmente
eficaz para os treinadores que jogam com laterais de ataque alto ou pelos
lados que frequentemente jogam contra blocos defensivos baixos.
2 JOGANDO CONTRA UM BLOCO BAIXO

Explicação:

Esta sessão é muito simples, por exemplo: adversário no 4-3-3, depois jogam
contra um 4-3-2, porém os dois atacantes não atuam até que os azuis por
exemplo, ganhem a posse de bola. Isso significa que o time vermelho consegue
criar uma forma ao redor do bloco e tentar expor a forma do adversário.

O treino começará simplesmente com o goleiro com uma saída longa , por
exemplo para o zagueiro vermelho, que então tentará fazer uma transição
rápida para o ataque; procurando colocar os laterais em posições de ataque.
Esta é uma tentativa de expor a forma defensiva do adversário.

Detalhe do treinamento:

1.) Nossos jogadores laterais podem imobilizar os laterais adversários para


evitar que eles usem a grande área, dando espaço ao nosso atacante?
2.) A movimentação do nosso atacante pode ajudar a criar sobrecargas no
meio-campo e estreitar a linha defensiva do adversário?
3.) Podemos prevenir o contra-ataque criando uma forma positiva em torno do
bloco adversário?
Esta é a nova forma de Carlos
Carvalhal pensar o treino e o
jogo: “Os sistemas, aquilo que
definimos como 4-4-2 e 4-3-3,
são castradores”
O Rio Ave marcou a Liga 2019/20, não só pela
pontuação histórica para o clube, mas também pela
qualidade de jogo. Em entrevista à Tribuna Expresso,
Carlos Carvalhal explica (detalhadamente) que tudo
se baseou numa nova e "ousada" forma de treinar e
num modo "disruptivo" de olhar para o jogo, que lhe
surgiu depois dos anos em Inglaterra: "Temos
inteligência suficiente para perceber que o jogo está
sempre em evolução. Se pararmos no tempo, ficamos
iguais aos outros e nós não queremos ser iguais aos
outros, queremos ser diferenciados". É assim,
também, que o novo treinador do Sporting Clube de
Braga vai encarar a época 2020/21, em busca de
construir uma "equipa completa", que não se baseia
num sistema de jogo e em que "a identidade é a
flexibilidade"
MARIANA CABRAL
12.08.2020 ÀS 9H00

FERNANDO VELUDO
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o
o
Estou triste contigo. Não me trouxeste um pastel de nata nem um
bolinho.
[risos] Olha, por acaso tenho ali duas garrafas de vinho para ti, portanto já
começaste mal. Não acertaste no porta-aviões, foi ao lado [risos].
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Fecha em: 20s


Reformulando: quando estiveste em Inglaterra foste notícia por
ofereceres pastéis aos jornalistas e por fazeres analogias
engraçadas com frases tipicamente portuguesas. Sentes que isso
mudou a perceção que as pessoas tinham de ti?
Sinceramente, não tanto pelas analogias. A Inglaterra é o país do futebol,
sem dúvida nenhuma, todos nós reconhecemos isso. O futebol tem um
impacto fortíssimo na sociedade, mas não há lá a análise exaustiva que
temos aqui, não há nenhum jornal desportivo em Inglaterra, por exemplo.
Há jornais generalistas com informação desportiva, embora o futebol
esteja intimamente ligado à vida das pessoas, desde as crianças aos idosos
de 90 anos, que adoram futebol e têm paixão pelo jogo. Acho que ser
reconhecido num país destes não é fácil para qualquer estrangeiro, muito
menos para um português. Acho que foi esse reconhecimento que causou
mais impacto aqui, o facto de ainda hoje não haver semana que passe em
que não seja solicitado para fazer algum comentário nos melhores orgãos
de comunicação social ingleses.
A forma como se fala de futebol em Inglaterra é muito diferente de
Portugal?
Não é muito diferente, porque nós temos aqui excelentes analistas e
excelentes jornalistas. Temos jornalistas em Portugal que são
extremamente conhecedores. Mas a forma de abordagem aos profissionais
em Inglaterra é diferente, isso necessariamente muda logo as coisas. As
aparições que tive na televisão de lá, e na rádio, são remuneradas e isso
pressupõe logo que há uma relação profissional entre as partes. Ninguém
está a fazer fretes nem favores a ninguém. Isso é fundamental, é um
princípio que considero muito importante, porque há uma separação entre
o lado profissional e o resto, não estou a fazer um favor a ninguém a ir
falar à Sky. Eu vou à Sky porque me pagam, e bem pago, eu e qualquer
outro colega. Claro que também há relações pessoais, mas a relação
profissional não é confundida com isso. Em Portugal, como disse, temos
excelentes jornalistas e analistas, muitíssimo bons. Mas em Inglaterra não
permitem que haja toxicidade no futebol, porque não há essa cultura na
sociedade. Começa logo na própria ação. Há bem pouco tempo o Bruno
Fernandes teve uma situação de uma tentativa de engano num penálti e foi
altamente criticado pelas próprias pessoas do Manchester United. Isto é
cultural. Não é admissível sequer que haja transgressão à natureza do jogo.
Aqui em Portugal, sabes que estamos a falar de 50% de análises
extremamente completas, ao melhor nível que há no mundo, porque há
gente espetacular a olhar para o jogo, mas depois há os outros 50% de
análises enviesadas, poluídas pela clubite. Isso não tem a ver com futebol,
tem a ver com clubite e quando há clubite fala-se de tudo menos do jogo e
do futebol.

FERNANDO VELUDO
Criticaste a Liga portuguesa no início da época pela falta de jogos e
pela calendarização.
Critiquei o calendário, sim, porque a dificuldade do Rio Ave no arranque
teve a ver com isto. Nós fazíamos dois ou três jogos e parávamos. Isto não
dá. Para nós, treinadores, o grau de aferição das coisas são os jogos
competitivos. É aí que sabemos onde estamos. Não são os treinos nem os
jogos de treino, é nos jogos a sério, porque aí conseguimos aferir as coisas
para conseguir evoluir a equipa. Nessa altura tive alguma dificuldade em
fazer evoluir a equipa porque não tinha referências da competição. Sem
isso, e com paragens de semanas, é difícil.
Mesmo com jogos particulares?
Não servem de aferidor, só o mínimo. A natureza competitiva é diferente,
porque o jogador aí joga sempre nos limites, enquanto nos jogos de treino,
também dependendo do adversário e do resultado, as coisas alteram-se
com muita facilidade. Se compararmos então com Inglaterra,
particularmente no Championship [2ª Divisão]... Lembro-me
perfeitamente de ter começado a jogar a 5 de agosto e no final do mês já
tinha sete jogos. Sete jogos. Já íamos na 7ª jornada em agosto.
Isso também não é um exagero? Ficas sem tempo para treinar, só
recuperas.
Pode ser, mas é uma prova de fogo. Aí é que se vê a importância da pré-
época, num campeonato que tem uma densidade competitiva muito
grande. É muito importante sob a perspetiva de ganhares fundamentos
táticos para a competição. Porque depois de entrares na competição... Se
eventualmente pensasse que ia retificar coisas do ponto de vista tático nas
paragens, chegava ali e não tinha hipóteses, porque tinha seis ou sete
jogadores que iam para as seleções, são os jogadores que normalmente
jogam, que são a base da equipa. Portanto, a base tática que tens de
adquirir logo na pré-época, muito mais do que a base física, é o que te vai
servir de suporte para uma época que nunca mais para, em que há jogos de
três em três dias. É um desafio para um treinador, estamos sempre nos
limites. O Championship deve ser a competição mais dura do mundo.
Falaste-me inicialmente da Premier League mas estou aqui a meter o
Championship porque é uma competição que na minha perspetiva é mais
aliciante, sob o ponto de vista da operacionalidade, para um treinador, até
pela heterogeneidade dos competidores.
Por exemplo?
Por exemplo, jogámos num sábado no Newcastle, fomos lá ganhar 1-0 e
fizemos um jogo brilhante, e na terça-feira recebemos o Rotherham, que ia
em último, que joga um jogo direto, muito físico, e ganhámos com um
golo aos 94 minutos. Ou seja, foi muito mais difícil do que contra o
Newcastle. E preparar uma equipa dentro desta heterogeneidade e ter de
jogar para ganhar os jogos todos, com a densidade competitiva de jogar de
três em três dias, é um desafio para rangers, para comandos, sempre disse
que aquilo não é para meninos. Depois passado um ano - passei dois anos
e meio no Championship - sais de lá muito mais treinador, muito mais
competente, porque tens de estar com os sentidos sempre apurados. Isto
fez parte da minha evolução recente, porque terminas um jogo e vamos
jogar, sei lá, a Londres, e depois estamos a voltar no autocarro ou no
comboio e já estamos com a análise do próximo jogo, de sábado para
terça-feira, o que não nos permite sequer um momento de descanso. Estás
permanentemente em cima do jogo e tu sabes que isto tremendo, porque
um jogo é um desgaste muito grande para um treinador. Aprendes a ter de
gerir isto, a ter de entrar logo no jogo seguinte, a reformular, a não perder
a tua identidade, mas a perceber que o Newcastle te obrigou a jogar numa
perspetiva de o desmontar com um determinado tipo de jogo e a ter de
condicioná-lo de uma forma quando perdes a bola e, passados três dias,
com a mesma base e com os mesmos jogadores, vais enfrentar um
adversário que também tem de ser desmontado mas com problemas
completamente opostos, porque vai jogar direto e procurar segundas bolas
e sob o ponto de vista físico é muito mais forte. Tens de ter a astúcia de
pensar nisto tudo e reformular estratégias. Foi isso que me levou cada vez
mais a pensar que se calhar os sistemas de jogo, aquilo que definimos
como 4-4-2, 4-3-3, na minha opinião, são castradores, porque muitas vezes
é o próprio sistema que castra as dinâmicas das equipas. Hoje chego a essa
conclusão. É a mesma coisa que digo relativamente aos objetivos. Muitas
vezes define-se um determinado tipo de objetivo, mas os objetivos muitas
vezes são castradores, ao contrário do que muita gente pensa.
Porquê?
Por exemplo, nós, no Championship: defines chegar aoplay-off. Mas
imagina que o andamento da competição, com cada jogo que vais vivendo
e vais ganhando, se calhar chegas ao final da época e dizes assim: se não
jogássemos com esta ideia de fundo de chegar ao play-off e tivéssemos a
liberdade de em cada jogo fazermos o jogo da nossa vida, se calhar
podíamos ter subido diretamente à Premier League. No fundo, este
objetivo acabou por ser castrador para a equipa. E eu hoje entendo que não
devo castrar. Não castrei a equipa do Rio Ave. O que disse sempre, e já o
fiz anteriormente, é que nós temos o dever, seja com que adversário for,
seja onde for, lutar pelos três pontos e conseguirmos ser melhores do que
os adversários. Se conseguirmos fazer isto em cada jogo, vamos atingir, no
final da época, o nosso limite. Logo se verá qual é o nosso limite. No caso
do Rio Ave foi o 5º lugar, poderia ter sido o 4º, poderia ter sido o 3º,
poderia ter sido o 7º ou o 8º.

FERNANDO VELUDO
E agora, no Braga?
Vai ser exatamente a mesma coisa. Não quero castrar a equipa com
objetivos. O que quero é uma equipa que seja capaz de olhar olhos nos
olhos para qualquer adversário, em qualquer estádio, para vencer o jogo,
partindo do pressuposto que o jogo mais importante é o primeiro. E a
seguir será o segundo e haverá Liga Europa e haverá outras competições, e
tentaremos ir o mais longe possível em todas.
O que pediu o presidente António Salvador?
Disse-me exatamente isto. O lugar do Braga tem sido nos quatro primeiros
lugares e temos de fazer o nosso campeonato o melhor possível para
chegar o mais à frente possível.
Relativamente ao que disseste sobre os sistemas serem castradores, e
de não treinares assim, o que é algo disruptivo...
[interrompe] É disruptivo.
Quando é que começas a pensar que a operacionalização da tua forma
de jogar não necessita de um sistema como base?
Isto já vem de reflexões anteriores. Quero frisar isto: não estou a dizer que
somos piores ou melhores do que ninguém, atenção. Há muitas formas de
preparar uma equipa, não estamos agora a dizer que descobrimos a
pólvora. Não é isso. A realidade é esta: comecei a treinar com 32 anos e
transgredi completamente. Esta é a realidade. Na altura fui um transgressor
ao método tradicional de treino e os meus jogadores são testemunhas
disso. Comecei a treinar no Espinho de uma forma que nunca tinha
treinado nem tinha visto ninguém treinar assim. Na altura ouvia falar do
Eriksson, que tinha trazido métodos diferentes para o Benfica, mas não
fazia ideia nenhuma de quais eram esses métodos. Tinha a minha vivência
prática e a minha formação com alguém de quem tenho o prazer de ser
amigo, o professor Vítor Frade, que me abriu horizontes relativamente a
muitas coisas, e outras fui construindo por mim. Estamos a falar... Já tenho
54, tinha 32, é só fazer contas [risos]. Já foi há muitos anos.
Nunca treinaste assim enquanto jogador?
Nada, absolutamente. Nunca vivi nada daquilo. Nem vi, sequer. Quando
começo a treinar, elaboro a forma como queria que a equipa jogasse e a
partir dali começo a operacionalizar as minhas ideias dentro do campo
desde o primeiro dia. Foi estranho para os jogadores, sem dúvida. Tive a
felicidade de, na altura, de lidar com pessoas com uma cultura avançada,
que não me questionaram.
Nem sobre a forma física?
Chegaram se calhar a fazer uma ou outra pergunta: "Então e a mata? Não
há corridas?" Preparámos a equipa para jogar e os resultados foram
ajudando, mas evidentemente quando se perde um jogo ou outro há
sempre algum questionamento, mas sempre tudo com muita elevação,
aliás, o Espinho tinha uma escola de dirigentes muito grande, com muita
elevação. Consegui pôr em prática as minhas ideias e os jogadores
absorveram isso muito bem. Isso também aconteceu em Inglaterra. Tive a
ajuda de ter alguns jogadores portugueses lá, o Semedo... E havia um ou
outro jogador que já tinha tido um treinador mais europeu, principalmente
o capitão, o Gleen Loovens, e o Barry Bannan. Mas para a maioria dos
britânicos no Sheffield Wednesday a nossa forma de treinar também foi
uma surpresa. Não foi fácil, no início. Mas, quando começaram a perceber,
principalmente pela qualidade de jogo, porque no primeiro ano o Sheffield
Wednesday foi a equipa que melhor jogou no Championship, isto foi
unânime. No segundo ano nem tanto, também tivemos algumas lesões e o
fator surpresa condicionou-nos, as equipas aí já jogaram mais fechadas.
Mas esse primeiro ano, no fundo, não foi uma transgressão, porque nessa
altura já havia muita experiência como treinador, mas houve algum choque
cultural que foi ultrapassado.
És flexível caso os jogadores te peçam para dar umas corridas, por
exemplo?
Sempre. Chamo isso o treino do melhoral: nem faz bem nem faz mal
[risos]. Quero é que os jogadores façam esse trabalho extra em
consonância com os dias da minha matriz de treino. Imagina, temos jogo
domingo e domingo. Se um jogador quer, na quarta-feira, fazer aberturas
de 60 metros, não permito. Mas permito que faça acelerações e
desacelerações em espaços muito curtos. Se ele na quinta-feira quiser fazer
umas aberturas, permito. Só tem de respeitar a matriz. Daí eu ser algo
crítico em relação aos personal trainers dos jogadores, precisamente por
esta dessincronização, que depois pode ser grave, porque pode provocar
lesões musculares nos jogadores. Dou essa abertura porque acima de tudo
quero que os meus jogadores estejam bem da cabeça para chegar ao jogo e
jogar.
Sempre deixaste que fizessem isso ou foste aprendendo a
compreender?
Posso dizer que sempre fui deixando, se calhar com exceção da Grécia,
quando ainda era um passarinho, um treinador jovem, que não conhecia
bem a mentalidade, se calhar cometi ali alguns erros. Mas aprendi
rapidamente e já chego ao Besiktas completamente diferente.
Por exemplo?
Não tive tempo para conhecer a cultura grega, a forma como eles olhavam
para o jogo e para o treino. Era uma cultura muito virada para o ginásio e
para o trabalho físico, e chegar um treinador e fechar o ginásio e levar a
chave para casa e eles andarem a bater com a cabeça na parede... [risos]. O
não trabalhar o lado físico mais puro foi um choque muito grande para
eles. Entraria hoje muito mais devagar. Por isso é que eu digo que é o
melhoral: hoje em dia temos ferramentas acessórias que são importantes,
como o GPS, e quando tenho um jogador que diz que quer fazer umas
aberturas de 60 metros, às vezes até me dá vontade de rir, porque esse
mesmo jogador fez 30 a 40 corridas de 60 metros no próprio treino, em
situações de jogo. Mas aquelas três ou quatro que ele quer fazer sozinho
fazem bem à cabeça, porque ele tem necessidade de fazer, é a cabeça a
pedir e nós temos de respeitar esse histórico. É o que eu digo: eu quero é
que os meus jogadores estejam bem da cabeça. Se no início da época tenho
uns 10 crentes nisso, se calhar no final da época já só tenho um ou dois
crentes.

FERNANDO VELUDO
Voltando atrás: como surgiu afinal o treinar sobre conceitos e não
sobre sistemas?
Sim, eu estava a historiar isto, por causa da transgressão. Tinha vindo a
falar com os meus adjuntos sobre isso, com o Bruno [Lage], com o Luís
[Nascimento], mas fundamentalmente com o João Mário, que é o meu
braço direito e a pessoa com quem eu mais falo sobre estas coisas: "Ó
João, eu acho que isto é castrador, nós temos de preparar as coisas de
forma diferente." Não só o ir ao encontro das potencialidades do jogador,
mas é procurar uma dinâmica que perceba que o jogo tem adversários
dentro do campo e os jogadores estão com determinado tipo de
posicionamentos, e a nossa ideia, desde sempre, contra qualquer
adversário, é sempre esta: como é que vamos desbloquear o adversário?
Mesmo jogando contra o Manchester City, contra o Liverpool, contra o
Arsenal. Ganhámos ao Arsenal e ao Liverpool e perdemos com o City e
com o United. Mas a intenção é sempre essa. O adversário depois pode é
não permitir que consigamos isso, pela sua valia, isso é outra coisa. Nós
olhamos para o campo, para o tabuleiro, é a forma como nós olhamos hoje
para o jogo, e vemos jogadores da equipa adversária e procuramos com
bola tentar fazer uma saída limpa desde trás, para chegar à baliza. Eu
consigo hoje ver o futebol sem olhar para os jogadores dentro de um
sistema, mas dentro de uma dinâmica onde identificamos as falências do
adversário, relativamente a determinados espaços, ou onde nós podemos
criar a abertura de determinado tipo de espaços, até em função das
características dos adversários.
Por exemplo?
Um central que faz com facilidade encurtamentos [no avançado
adversário] e abandona a posição e abandona o espaço, ou então um
central que funciona em recuo permanente e vai abrir o espaço à frente
dele, ou um lateral que fecha mal o espaço interior, ou uma equipa que só
tem um pivô e liberta os espaços à esquerda e à direita dele, ou uma equipa
que joga com duplo pivô com um jogador à frente, e há espaço à direita e à
esquerda dele, ou os avançados da equipa adversária que pressionam à
frente e somos nós que temos de saber como criar o espaço, ou uma equipa
que não tem capacidade de pressão à frente, então os espaços já estão
conseguidos por natureza... Hoje em dia nós vemos o jogo assim e isto não
tem muito a ver com o sistema, tem a ver com os espaços que se libertam e
com os espaços que nós vamos criar. Depois tem a ver com a forma como
vamos atacar os espaços e como é que vamos criar as dinâmicas. E no
meio de tudo isto há uma coisa que é fundamental, que eu acho que é a
pedra filosofal de qualquer treinador: é conseguir que tenhamos dentro do
campo 11 jogadores a olhar uns para os outros. Isto é o mais difícil, é
conseguir que os jogadores estejam a olhar uns para os outros, a jogar em
interdependência. Só assim é que nós conseguimos funcionar para
aproveitar os espaços, criar roturas no adversário, entrar por dentro das
equipas adversárias... Penso que sabes que houve uma análise, acho que
da Goalpoint, que disse nós éramos a sexta equipa na Europa que fazia
mais passes verticais e isso tem muito a ver com isto que te estou a
explicar, e com a dinâmica que nós criamos no treino. O que dizia a
análise é que somos uma equipa de posse, mas dentro da posse fazemos
muitos passes verticais para entrar dentro da equipa adversária. É
exatamente isto, é provocar espaços, para entrar dentro, para ir para fora,
para tornar a vir para trás, para tornar a entrar dentro, para ir por fora, para
criar roturas... Andamos permanentemente a tentar fazer isto ao adversário,
a puxá-lo, a levá-lo para fora, se ele fecha fora, a entrar para dentro, se
fecha dentro, vamos para fora, se abre atrás, exploramos as costas...
Pronto, começamos a perceber que o jogo se calhar faz muito mais sentido
assim e isto é uma rotura na nossa própria visão sobre o jogo, sem dúvida.
Foi por isso que vieste para o Rio Ave?
Nós tínhamos alguma certeza de que isto iria funcionar e daí também a
nossa opção pelo Rio Ave. Obviamente pelo próprio Rio Ave, que
sabíamos que tinha uma estrutura calma, com o presidente António
Campos, que é sem dúvida um grande presidente, com pessoas à volta que
também percebem de futebol. É uma estrutura leve mas que suporta muito
esta situação, sem grande pressão. Entendemos que o Rio Ave seria o sítio
ideal para a rotura da forma de preparar a equipa. Essa proposta foi
lançada aos jogadores logo de início, foi uma proposta ousadíssima. No
início, por não haver muitos jogos e pela proposta ser muito ousada houve
alguma dificuldade, porque o Rio Ave à 7ª ou 8ª jornada andava ali no
meio da tabela.
Como reagiram os jogadores?
Ter um capitão de equipa como o Tarantini é um privilégio, porque tem
sentido crítico. Recordo-me perfeitamente que ele um dia veio ter comigo:
"Ó mister, você não acha que isto é uma proposta de jogo demasiado
ousada para o nível do Rio Ave? Você veja lá, pá. Estou a ver malta com
algumas dificuldades..."

QUALITY SPORT IMAGES


Sentiste os jogadores desconfortáveis?
Ele veio alertar-me, mas eu estava a sentir evolução. Mas percebia que
aquelas eram preocupações legítimas, porque era de facto muito ousado.
Também há jogadores que fazem e não refletem muito sobre o que
estão a fazer.
Pois, mas tiveram aqui um challenge muito alto e foram obrigados a
perceber o jogo. Esse era o desafio. Porque sem perceber o jogo...
Não podiam só decorar o que tinham de fazer na respetiva posição.
Exatamente. Tinham mesmo de perceber o jogo. Isto foi o desafio que
lançámos e isto não é fácil. Partir de uma situação estereotipada, em que
eu sou o defesa esquerdo e a minha função é defender o corredor e fechar
dentro, é uma coisa, outra é de repente ter de atacar por dentro, equilibrar a
minha equipa como um médio, ter de fechar como terceiro defesa,
construir a três, ir à linha cruzar... E isto é só o plano do defesa esquerdo.
Ou seja, é tudo muito mais complexo, vai muito além do sistema, do 4-3-3
ou do 4-4-2. Numa linha de quatro ou de três, fecho, abro, faço
movimentações aqui e ali, ok. Mas é muito para além disto. É saber fechar
a três, fechar a quatro, abrir a quatro, abrir a três, fazer o corredor quando
for necessário, mesmo jogando a três, entrar pelas equipas adversárias
dentro para chamar médios para jogar; quando estamos a atacar, se houver
necessidade, equilibrar a equipa como médio, entrando no espaço interior
e equilibrando no momento da perda da bola, em função do adversário...
Evidentemente este repto criou algum questionamento, como esse do
Tarantini. Aliás, aproveitei logo esse dia para falar com os jogadores:
"Olhem, o Tarantini veio falar comigo, passa-se isto e isto, e neste
momento apesar de saber que os resultados não estão a ser os melhores, sei
que os indicadores estão a ser excelentes. Há uma evolução, estamos perto
de conseguir isto e não vamos abandonar isto. Vamos continuar a insistir
porque sabemos que vocês são capazes de lá chegar." E conseguimos.
Chegámos a um ponto de maturidade de tal forma alto que houve uma
análise bem feita - atenção que refiro as análises quando são bem feitas,
podiam ser críticas e não elogiosas - que disse que o Rio Ave era uma
equipa completa, e de facto foi esse o desafio que nós lançámos aos
jogadores no início.
Mas essa ideia vem de onde?
Isto veio de onde? Veio um bocadinho... Mais uma vez digo que não
estamos aqui a dizer que descobrimos a pólvora. Quando nós jogámos - e
ganhámos - ao Liverpool, eu disse que o Liverpool tinha condições de
discutir o título naquela altura, apesar de ter de melhorar, na minha
opinião, no ataque posicional, que foi onde evoluíram depois. De resto,
defende muito bem, transita defensivamente bem e ofensivamente então é
a melhor equipa do mundo, só o ataque posicional não era tão forte.
Quando jogas com o Manchester City, vês que a equipa ataca muitíssimo
bem, defende muito bem, equilibra-se muito bem e nas transições são
fortíssimos: muito candidato ao título. Jogámos com o Chelsea, idêntico
também, por ser uma equipa muito equilibrada em todos os processos.
Jogámos com o Tottenham, e é engraçado, porque até perdemos, em casa,
mas era uma equipa competentíssima a atacar, competente a transitar
ofensivamente, mas não defendia muito bem, principalmente quando
perdia a bola, porque era uma equipa pouco equilibrada. Notavas
claramente que aquela equipa não podia lutar pelo título em Inglaterra
porque tinha aquela debilidade. Isto faz-nos refletir. Porque uma equipa
para conseguir um objetivo alto não pode ser uma equipa que só seja boa
na posse de bola - isto é limitador. É tão limitador como uma equipa que
defende muito bem e só joga em transições, porque acabas por ter um
padrão, mas vais esbarrar, em algum momento, quando lutas por um
objetivo alto. Uma equipa que luta por alguma coisa alta tem de ser muito
forte em tudo: nos esquemas táticos, a atacar muito bem, a defender muito
bem e muito forte nas transições. Tem de ser uma equipa o mais completa
possível. À escala, eu creio que o Rio Ave fez isso. O Rio Ave era uma
equipa que sabia fazer tudo, fazia tudo isto. Esta foi a proposta que
lançámos no início do ano: sermos uma equipa que sabia fazer tudo bem.
Vimos o Rio Ave a atacar em 4-2-3-1, 4-4-2, 3-4-2-1, a defender em 4-
4-2 e em 5-4-1...
A defender com cinco, salvo erro, foram só duas vezes.
Com o FC Porto e com o Sporting de Braga.
Declaradamente, sim.
Todas estas variantes são difíceis de treinar, para os jogadores. No
início, não te baseias num sistema para operacionalizar? Começas por
onde?
No treino, começo sempre por ter a bola. É assim que preparo as minhas
equipas. Depois a forma de conseguir chegar a isto, não é por milagres, é
pelos exercícios. Exercícios que, ao contrário do que muita gente pensa,
não são extremamente complexos, são extremamente simples, porque eu
acho que a simplicidade das coisas permite um melhor entendimento. O
futebol acaba por ser um jogo simples. Antes do confinamento, o Rio Ave
acedeu a que fossem lá umas pessoas assistir aos nossos treinos e eu senti
que no final havia ali mais necessidade de perguntar sobre o que viram,
porque acabam por ver coisas extremamente simples. "Como é que estes
gajos chegam ao domingo e jogam noutro nível, se treinam estas coisas?"
Sentia a necessidade deles em perguntarem o que nós tínhamos como
objetivos, o que queríamos dali. Isso é o fundamental. Há duas coisas
importantes no treino, na minha opinião. É teres exercícios simples, que te
permitem jogar a um nível elevado, o que é difícil, porque pôr os
jogadores a pensar em demasiado sobre as regras do exercício significa
que enquanto estás a pensar em regras limitas o teu futebol. Quanto mais
abertos forem os exercícios e permitam arranjar soluções para resolver os
problemas, melhor. É melhor do que estares a condicioná-los.
Então não explicas um exercício dizendo, por exemplo, "vamos fazer
isto para atacar a profundidade"?
Isso fazemos, sim. Os exercícios têm objetivos, mas depois a dinâmica do
exercício é que faz com que os jogadores cheguem a determinadas coisas.
Depois há um outro aspeto que é cada vez mais fundamental, que é o grau
emocional que tens para fazer - creio que não vou dizer um palavrão - o
que se chama um marcador somático. Vamos imaginar que tu estás a fazer
um determinado tipo de exercício, em que tens os mesmos jogadores e as
mesmas regras do que eu, que estou a fazer o mesmo exercício ao lado.
Mas o meu marcador vai ser diferenciado do teu. Ou seja, nós procuramos
que os exercícios sejam completos, que não se esgotem só no momento de
atacar ou só no momento de defender. Imagina que estou a contemplar a
organização ofensiva, mas o exercício contempla também a perda de bola
e a recuperação do posicionamento. Assim torna-se um exercício mais
completo, porque o jogo é contínuo, é fluido, não se esgota. Procuramos
dar o máximo de continuidade aos exercícios, pelo menos a 90% deles.
Mas, como eu dizia, aquilo que me vai diferenciar de ti, que estás ao lado a
orientar o mesmo exercício do que eu, é o marcador que vais dar em
determinada altura. O que é que quero dizer com isto: é o feedback que
vais dar em determinado momento, em que vais dizer "bem", "muito bem",
"é isto mesmo que eu quero", mas de uma forma emocional. Este captar de
emoções sobre aquilo que tu queres marcar é determinante nos exercícios.
No fundo, é dar um feedback positivo sobre uma coisa que acontece no
treino e que é exatamente o que tu queres, de uma forma que toda a gente
perceba que o treinador ficou extremamente satisfeito com aquilo. Porque
no jogo, quando aquilo acontecer - é isso que se chama um marcador
somático -, a intervenção que tiveste foi de tal forma positiva
emocionalmente que quando aquilo acontece, o jogador instintivamente
vai buscar aquilo e é dentro daquilo que ele decide. Não vou dizer que faz
exatamente igual, porque as situações de jogo são abertas e nunca
acontecem exatamente as mesmas, mas é dentro do plano. E essas
situações são muito importantes para marcar. Eu percebo o alcance da tua
questão, queres ir mais a fundo para perceber a forma como nós
operacionalizamos isto. Mas volto a dizer: é olhar para o tabuleiro, onde
tens 11 peças e o teu objetivo é desmontar aquelas 11 peças para conseguir
chegar ao golo [ver o vídeo mais abaixo]. Temos de nos movimentar de
forma a conseguir uma saída limpa a partir de trás e chegarmos juntos, se
possível, à baliza adversária. Isto pressupõe, acima de tudo, criar espaços,
atacar espaços, atacar defesas, buscar espaços, libertar espaços por dentro
e por fora - é saber fazer isto. No fundo, isto é tão simples que às vezes
penso: como é que não cheguei a isto há mais tempo?
0 seconds of 0 secondsVolume 90%

Ainda assim, pode parecer complexo.


Não, acaba por ser simples. Neste momento é simples verificar
isto. O adversário aperta-nos as linhas, então dá espaço atrás. Não
posso, no meu plano de jogo, andar uma semana inteira a dizer
que este adversário aperta as linhas e nós temos de desmontar as
linhas explorando o espaço nas costas. Não é assim. Porque isto
dura cinco minutos. O jogo começa e cinco minutos depois, na
segunda vez em que lançarmos uma bola para as costas da linha
defensiva adversária, a linha já desceu 20 metros. E se tu não tens
competências, e se através do treino não colocas os teus
jogadores a raciocinar que o problema do jogo afinal já é diferente,
o teu plano de jogo esgota-se em cinco minutos. É tudo isto que
acho que é importante o jogador incorporar, é perceber o jogo,
perceber onde estão os espaços e agir em conformidade. Isto
obriga a pensar, obviamente.
Isso já te aconteceu?
Olha, um jogo de que me lembro perfeitamente, aqui em Braga.
Viemos aqui com o Besiktas, ganhámos 2-0 e jogámos com o
[Ricardo] Quaresma a ponta de lança, não jogou o Hugo Almeida
nesse jogo. O que é que nós tínhamos verificado: a linha defensiva
do Braga, sempre que nós ganhávamos a bola, recuava. Então
colocámos ali o Quaresma porque vinha sempre buscar a bola
entre linhas, quando eles recuavam. Ele fartou-se de receber bolas
ali e depois lançava o Simão pela esquerda e lançava já não me
lembro quem pela direita. Surpreendemos o Braga e fizemos dois
golos assim. Nós tínhamos um conhecimento profundo da equipa
do Braga, era o Leonardo Jardim o treinador, e quando jogámos na
Turquia, o Braga surpreendeu-nos. Jogou com a linha defensiva
em cima do meio-campo e estabilizou-se ali. Nunca o tinha feito.
Tivemos uma dificuldade tremenda, lá está. Porquê? Porque nos
preparámos para jogar num espaço entre linhas que agora já não
existia. E não houve resposta para conseguirmos fazer coisas
diferentes.
Hoje já não aconteceria?
Hoje isso já não aconteceria. No Rio Ave isto não aconteceria. A
partir do momento em que nos apertavam à frente, nós dávamos
resposta para ir buscar atrás. E se eles iam atrás, nós daríamos
resposta para ir buscar o espaço entre linhas. Percebes? Portanto,
no fundo, diria que é colocar os jogadores a pensar. No final da
época, nós temos como rescaldo disto os jogadores do Rio Ave
muito valorizados. Aliás, têm feito capas de jornais todos os dias. E
digo-te que este foi um ponto de partida, não foi um ponto de
chegada. Senti, com toda a sinceridade, que o Rio Ave foi
um upgradeem relação ao passado e este é um novo começo.
Porque a ideia de transgredir no Rio Ave em função disto que estou
a dizer, dizia também respeito à nossa própria motivação, enquanto
equipa técnica, para nos prepararmos para o futuro, para tentarmos
evoluir e fazer coisas diferentes. Porque nós também necessitamos
de estar constantemente em evolução e com novos desafios,
senão também nos desmotivamos.
Mas, fazendo de advogada do diabo, como é que consegues
uma equipa com uma identidade clara e um modelo claro, se
ela joga de uma maneira e de outra?
Porque essa é a identidade.
Jogar de várias maneiras?
Essa é a identidade. A nossa identidade é a flexibilidade. Fizeram-
me uma questão pertinente um dia destes, num fórum.
Perguntaram-me sobre o peso da estratégia no nosso jogo. Eu
respondi assim: o peso da estratégia é todo e nenhum.
Porque os constrangimentos que o adversário pode
apresentar já estão contemplados dentro do próprio modelo?
Eu digo que o peso é todo, porque nós vamos à busca dos
espaços quando temos bola, porque sabemos que o adversário os
dá ou porque vamos provocá-los para desbloqueá-los. Por
exemplo, o Arsenal deixa espaços diferentes do Brighton, nós
sabemos isto. Mas, ao mesmo tempo, as dinâmicas que nós temos
e o nosso sentido posicional não se altera ao fazer isto, porque nós
temos uma dinâmica que assenta num bom sentido posicional. Tu
não vias os jogadores do Rio Ave muito fora da posição. Vias era
dinâmicas diferentes, de jogo para jogo, mas elas fazem parte do
treino e da própria identidade. Na parte defensiva havia maior
rigidez, porque aí não há muita criatividade.
Carlos Carvalhal recebeu o Expresso no Estádio Municipal de Braga, antes de partir
para umas curtas férias com a família, já que o Braga começa a época 2020/21 a 13
de agosto

FERNANDO VELUDO
Dá-me um exemplo. A equipa está a iniciar a construção por
trás e onde é que está o estímulo para decidir de que forma
vão construir? Se a dois, a três, se vem um médio, um lateral...
Sim. Nós vamos para um jogo e vemos que, pelas nossas análises,
o adversário não tem capacidade de pressão. E nós normalmente
até saímos a três a jogar...
Aí saem a dois?
Vamos sair a dois. E depois os jogadores criam dinâmicas... Mas
as dinâmicas podem ser bloqueadas, certo? Vamos sair a dois,
mas bloqueiam-nos as saídas. Então os jogadores percebem que a
saída está bloqueada e aparece o terceiro homem. Mas o terceiro
homem não tem de ser necessariamente o mesmo. Porque muitas
vezes se sais sempre com o mesmo, os adversários - nós temos
excelentes treinadores em Portugal, que fazem isto muito bem -
bloqueiam-te a saída do terceiro homem. Mas se a saída do
terceiro homem estiver bloqueada, pode haver um outro terceiro
homem, não tem de ser necessariamente aquele. Podes dar
alternância a isto. Agora, os jogadores têm é de estar muito bem
posicionados. Lá está, é a capacidade de conseguirem olhar uns
para os outros. Porque se tu jogas com dois médios e se tiras um
médio da linha média para vir atrás construir, ficas só com um
médio. Mas tens dois interiores, certo? Esses dois passam a ser o
médio. E se isto acontecer e já tiveres o lateral a atirar-se em
profundidade, então tens um ala que não pode estar no corredor,
tem de vir para o espaço interior - têm de olhar uns para os outros.
Então o espaço que era ocupado pelo interior, que passou a ser
médio, é ocupado pelo ala que veio para dentro. Agora, tens é de
operacionalizar isto, certo? É o mais difícil [risos]. Agora, não tem
necessariamente de ser com um sistema nem tem de ser sempre
com os mesmos. Têm é de olhar uns para os outros e nós temos
de criar exercícios para que isto aconteça. Se um vem, quem é que
vem, quem é que vai. Os espaços têm de estar ocupados, porque
se tu rodas à esquerda e se o teu interior direito não te baixa, a
bola não roda para a direita, vai bloquear o jogo ali. É perceber isto.
Lá está, tens de ter capacidade de pôr os jogadores a pensar sobre
isto e de ter exercícios que possam ter isto. É um pensar até mais
de intuição, porque quando colocamos um jogador a parar para
pensar, esta fração de segundo já serve para perdertimings que
são necessários. Portanto isto entra no domínio já do
subconsciente, na dinâmica dos exercícios, no estarmos ligados
uns aos outros. Uma das situações que me ocorreu... Nós fomos
jogar ao Manchester City, com o Swansea, e eu, na brincadeira,
disse para o João Mário, o meu adjunto: "Ó João, f... conseguimos
aguentar cinco minutos sem estar a perder" [risos]. E começámos a
rir os dois. Ao sexto minuto, há uma bola larga do lateral direito que
se mete para dentro, e o De Bruyne, que era o interior direito,
estava aberto na esquerda, depois faz um passe interior e resulta
dali um golo. Lá está... Até pedi o iPad para ver aquilo. Comecei a
olhar para aquilo e vejo que fizeram uma superioridade numérica
de quatro contra três no lado esquerdo. "Mas este gajo é interior
direito e aparece-me ali no corredor esquerdo?" Isto deixa-nos a
refletir. Não é o nosso caso, porque não colocamos o nosso interior
direito na esquerda, não fazemos isso. Mas esta situação de tu
lidares com a imprevisibilidade do adversário, com a qual não estás
a contar, desmonta-te.
Por exemplo?
Um exemplo concreto: fomos jogar ao Boavista. A intencionalidade
era sair a jogar a três. O que é que nós queríamos? Queríamos
que os jogadores do Boavista se referenciassem por nós, de forma
mais individualizada. Quando eles fizessem isso, o que é que nós
íamos fazer? A partir de determinada altura, ali pelos cinco
minutos, nós íamos abandonar a linha de três e íamos começar a
jogar a dois, atirando o nosso lateral esquerdo em profundidade.
Para quê? Para confundir, em função do relacionamento individual
que os jogadores tinham connosco. Desestruturávamos o
adversário pela surpresa da dinâmica diferente que queria colocar.
Mas disse aos jogadores: "Se sairmos a jogar a três e se
eventualmente estivermos por cima do jogo, não alterem para dois,
deixem estar." Porque estaríamos a construir algo de positivo e não
haveria essa necessidade. Mas se eles se referenciassem e
bloqueassem o nosso jogo, aí sim, começávamos a arranjar
alternância. O que é que aconteceu no jogo? Nós saímos a três, os
jogadores do Boavista referenciaram-se, mas não fizeram pressão
sobre os nossos três defesas como estávamos à espera. Então,
estávamos com bola, estávamos confortáveis e eu não disse nada
para dentro do campo. Os jogadores sentiram-se bem e não
alteraram nada. Se eventualmente o jogo fosse bloqueado, eu não
tinha de dizer nada, os jogadores estavam preparados para alterar
dinâmicas a partir de trás, para sair.
Mas tens dinâmicas que são padrão contra qualquer
adversário, certo? Os alas receberem por dentro na
construção ou prepararem-se para receber segunda bola
quando há lançamento aéreo para o avançado, por exemplo?
Sim, mas isso já são sub-dinâmicas. São situações que nós até
nos aquecimentos aproveitamos para fazer. A busca do terceiro
homem, por exemplo, ou o aclaramento de jogadores pelas
costas... Já são sub-dinâmicas que são treinadas, é a natureza do
teu jogo. Estruturalmente nós temos um padrão que nos define.
Agora, o jogo é feito de espaços e tu queres desestruturar as
equipas adversárias, por isso tens de aproveitar os espaços ou
criar os espaços. Nós jogamos com isso, essencialmente. E não
perdemos posição, atenção. Porque isto poderia ser feito de uma
forma caótica. Como o De Bruyne aparecer aberto na esquerda.
Nós não temos muito isso, procuramos que os jogadores
mantenham o sentido posicional, com o jogo a ter largura e
profundidade suficientes, e dinâmica suficiente para chamar
jogadores e libertar outros.
Por exemplo, contra o Sporting, esses movimentos de apoio e
aclaramento deram em jogadas de golo.
E porquê? Porque o sentido era puxar jogadores do Sporting para
nos virem pressionar, tentar fazer movimentos verticais para apoio,
para libertar os nossos jogadores que têm características para
aproveitar o espaço, nomeadamente o Mehdi [Taremi], que caía,
naquele jogo, fundamentalmente para a esquerda. E nós, para
libertarmos o Mehdi, tínhamos de chamar a atenção do lateral
direito, para ele estar condicionado. Lá está, é a tal situação dos
espaços. O nosso ala podia estar eventualmente em profundidade,
mas queríamos que viesse em apoio para libertar o espaço, para
deixar o Taremi em situação de um contra um contra o central
direito do Sporting. Aí, com uma defesa subida, sabendo que o
Mehdi é muito rápido, a bola podia entrar nas costas. É mais uma
situação de aproveitamento dos espaços que o adversário deixa,
mas tens de saber criá-los. Se o nosso ala estivesse em
profundidade, então o defesa direito adversário estava em
coordenação mais fácil com o central. Como tu puxas o adversário,
neste caso em função do posicionamento do Nuno Santos, para
mais baixo, das duas umas: ou o lateral acompanha para
pressionar, ou não acompanha e o Nuno recebe a bola no pé.
Também podia acontecer o ala vir dentro, tocar no médio e ser ele
a lançar o Mehdi, porque o Sporting na altura tinha as linhas
subidas. Lá está, isto não tem nada a ver com o sistema, tem a ver
com o puxar jogadores e libertar jogadores para outras coisas.
A questão é que, habitualmente, tendo um sistema como base,
os jogadores já sabem onde têm os colegas. Assim, como
fazem?
Essa é uma boa questão. O jogador está sempre lá: pode é não
estar o Manel e estar o Joaquim. Mas está sempre lá um jogador,
daí eu dizer-te que nós mantemos a identidade. "Ah eu não sei se
o Manel está lá". Pois não, mas se o Manel não estiver, está lá o
Joaquim. Garanto-te a ti. E se o Joaquim está no posicionamento
do Francisco, estará o António no posicionamento dele. Volto a
dizer: não estamos aqui a vender que somos a melhor equipa do
mundo. Temos as nossas ideias e a nossa personalidade, e temos
inteligência suficiente para perceber que o jogo está sempre em
evolução e temos de evoluir. Se pararmos no tempo, ficamos iguais
aos outros e nós não queremos ser iguais aos outros, queremos
ser diferenciados. Foi um risco, foi novo, mas tínhamos convicção
de que isto iria ser bem sucedido. Independentemente de
conseguirmos chegar à Europa. Porque o que eu sei é que nós
ainda não tínhamos conseguido chegar à Europa e já havia muita
gente de fora a querer comprar, entre aspas, o conceito do jogo do
Rio Ave e isso para mim foi uma satisfação muito grande. Foi a
forma de jogar do Rio Ave que começou a ser vista e houve
conversações e convites, e aquilo que nos disseram foi que isso
não teve a ver com a classificação: "Nós gostámos muito da forma
de jogar da sua equipa e gostávamos que a nossa equipa jogasse
como o Rio Ave joga".
Relativamente ao que disseste sobre as características
individuais dos jogadores, se tiveres, por exemplo, alas que
têm dificuldade em jogar por dentro, entre linhas, e enquadrar
naquele espaço, como fazes?
Boa pergunta também. Estás a fazer boas perguntas hoje [risos].
Se analisares a evolução do Rio Ave, vais ver o Nuno Santos a
jogar na direita, a vir para dentro, na esquerda, a vir para dentro, e
depois vai chegar uma altura em que vês o Nuno Santos aberto na
esquerda. Encontrámos o espaço do Nuno, ou o Nuno encontrou o
seu espaço, dentro da nossa forma de jogar. Passou a jogar no
lugar em que estava mais confortável e nada melhor para um
jogador do que jogar no sítio e nos espaços em que se sente mais
confortável. Nós levaríamos anos a pôr o Nuno Santos a ser um
bom jogador no espaço interior. Mas conseguimos, num ano,
potencializar o Nuno Santos a jogar por fora a um nível
elevadíssimo. Por exemplo, muitas vezes há a ideia de conseguir
fazer com que um jogador que não é rápido, fazendo muitos treinos
de velocidade, melhore. Ele vai melhorar 0,5% em dois anos de
trabalho, ou 1%, para ser otimista. Muitas vezes um jogador tem na
sua natureza um determinado tipo de características, nas quais ele
pode ser muitíssimo bom, e se nós o metemos a jogar onde ele
está desconfortável, nunca será um bom jogador. Esse é um bom
exemplo. O Nuno teve essa passagem e rapidamente acabou por
jogar no sítio onde acho que ele é diferenciado, que é no corredor
esquerdo.

CARLOS RODRIGUES/GETTY
Por falar no Nuno Santos, penso que foi ele contra o Sporting
de Braga e o Diogo Figueiras contra o FC Porto a descerem
para formar uma linha de cinco a defender. Porquê?
Olha, nesse jogo com o FC Porto não jogou o Diego, que
normalmente era o nosso interior esquerdo, e em função disso
jogou o Pedro Amaral, salvo erro, a lateral esquerdo, e o Nuno a
interior esquerdo. E o que é que nós fizemos: jogou o Figueiras,
sim, a fazer o corredor direito, mas o Figueiras tinha dois
momentos distintos. Havia o momento em que o FC Porto estava
com a bola no guarda-redes ou na linha defensiva, em que o
Figueiras avançava para jogar como ala, para tentarmos
condicionar o FC Porto. Mas se o FC Porto tivesse a capacidade,
como teve, várias vezes, de conseguir passar esta primeira linha
de pressão, o Figueiras adotava outro comportamento, que era vir
para a linha defensiva, fazendo uma linha de cinco.
E porquê?
Porque entendemos que jogar com três atrás, naquele jogo... E
fizemos uma alteração estratégica, o que não é muito comum, mas
jogámos com o Toni [Borek] a central do lado esquerdo, ele
normalmente joga na direita. Porque o posicionamento do Marega
era pela esquerda e ele é extremamente rápido a criar
desequilíbrios, por isso o Toni, que é um central rápido, jogou pela
esquerda. Foi bastante eficiente no que tinha de fazer. Depois o
Marega até foi para o outro lado, mas ele do outro lado não é tão
perigoso como a jogar na direita. Entendemos que era importante
ter a linha de cinco a defender e a atacar, nesse jogo,
fundamentalmente a atacar, para desestrurar o FC Porto. Mas
percebemos que poderíamos jogar demasiado baixos se muito
rapidamente viéssemos para a linha de cinco. Se fizéssemos a
linha de cinco a qualquer momento, o FC Porto ia instalar-se no
meio-campo ofensivo e a intenção não era essa, era manter a
matriz. Por isso é que adiantámos o Figueiras e ficávamos com três
jogadores na linha ofensiva, como gostamos de estar, e com mais
três médios, e instalávamos no meio-campo adversário para tentar
condicionar a primeira fase deles o máximo possível, sustendo ali o
adversário o máximo possível. Mas também é importante notar isto:
tens a capacidade de ser altamente pressionante e passado dez
segundos sabes defender em bloco médio/baixo e tens uma
eficiência muito grande a fazê-lo. Da mesma forma que o Figueiras
pressionava, se passassem a linha de pressão, baixávamos as
linhas e ficávamos juntos e difíceis de sermos batidos, dez
segundos depois. Agora as respostas ao ganho de bola também
são completamente distintas.
Dependendo da zona do campo?
Uma coisa é ganhares bola perto da baliza adversária e teres
ações de acordo com isso, mas não é por seres uma equipa de
posse que cada vez que ganhas uma bola e estás no teu meio-
campo defensivo és obrigado a fazer um passe para trás, para os
centrais, e sair limpinho a jogar, etc. Não. Por isso é que digo que
queremos ser uma equipa completa. Podemos ser uma equipa de
posse e gostar de ter a bola, mas se as circunstâncias do jogo nos
obrigaram a jogar em baixo, temos de ser fortes a transitar, porque
temos espaço e jogadores para transitar ofensivamente, portanto
vamos aproveitá-lo. Como é que se treina isto? Dá muito trabalho
[risos]. No fundo, é fazer, no treino, e pôr os jogadores a pensar e a
pressionar num bloco médio, a baixar... Volto a dizê-lo: é a
simplicidade de ter os jogadores todos a olharem uns para os
outros.
Mas tens de treinar tudo: formas de entrar em blocos baixos,
como atacar a profundidade...
Sim. Nós dividimos as coisas assim, já o fazemos há muitos anos:
tenho um treinador focado na organização defensiva, que é o João
Mário, depois o Sérgio [Ferreira] está mais vocacionado para a
dinâmica ofensiva, o João Mário mais para as transições
defensivas e o Sérgio mais para as transições ofensivas. O [João]
Meireles fica na parte inicial que, como já te disse, dá para
perceber que está conectada com a nossa forma de jogar, porque
nos aquecimentos já há alguns indicadores de sub-dinâmicas.
Assim como o treinador de guarda-redes está intimamente ligado
com o nosso processo defensivo. Só para te dar um exemplo desta
ligação: nesse jogo que referiste, do FC Porto, sabes quanto é que
correu o Pawel Kieszek, o nosso guarda-redes? Normalmente os
defesas correm nove ou 10 quilómetros...
Cinco quilómetros?
Correu 7.7 quilómetros. E não correu a defender, correu a dar
linhas de passe, porque precisámos dele a fazer isso no jogo,
correu a tirar profundidade... Corre sempre muito precisamente
porque também está a jogar. Isto é um trabalho... Chegar, fazer 55
pontos numa equipa como o Rio Ave - que tinha o máximo de 51 -,
atingir a Europa e num ano muito difícil, porque normalmente os 51
chegam para atingir a Europa, jogar ao nível que nós jogámos: isto
só é possível se tiveres bons jogadores, obviamente,
comprometidos, e se tiveres uma ideia evoluída para lá chegar, se
não não tens hipótese. E estabilidade do clube em si, que também
é extremamente importante. Tudo isto levou-nos à melhor época de
sempre do Rio Ave.
Relativamente aos adjuntos, já tiveste contigo muitos
treinadores que agora são treinadores principais.
Tem havido ao longo dos tempos, penso que é normal, alguns
jovens que pedem para observar os treinos. O Bruno Lage e o
Renato Paiva, quando eu estava no Vitória de Setúbal, assistiram
praticamente a todos os treinos da época e quando fui para o
Belenenses também. Isso tem sido recorrente. Já tive o Miguel
Cardoso como adjunto, fui buscá-lo a formação do FC Porto,
também tive o Miguel Leal, depois o Bruno, o Luís Nascimento,
agora o Sérgio... A ideia é sempre ir buscar jovens com talento,
que possam acrescentar à equipa técnica e que ao mesmo tempo
que aprendem venham com espírito crítico, porque trabalhar na
formação é necessariamente diferente de trabalhar no futebol
profissional. O que procuramos fazer é tentar puxar por jovens com
talento e dar-lhes a possibilidade de perceberem como agimos e
interagimos com os jogadores. Percebo que eles trazem coisas
mas também levam muitas coisas e, ao fim de um determinado
ciclo, porque esse é o compromisso, estão com liberdade total para
poderem treinar e seguir uma carreia a solo. Beneficiamos todos e
tenho sabido escolher, porque o critério é muito apertado: o critério
número um é a competência e temos tido pessoas competentes a
acompanhar-nos.

MÁRIO CRUZ
Se eu agora quiser antecipar como é que o Braga vai jogar, o
que é que posso dizer?
O Braga vai jogar com os mesmos fundamentos que tivemos, a
fazer evoluir o que nós começámos. Nós, no Rio Ave, começámos.
Tivemos uma experiência muito grande no passado, mesmo em
competições internacionais, no Besiktas, no Sporting, no Braga...
Sentes-te um treinador muito diferente?
Sim, hoje sinto-me um treinador completamente diferente. A
situação do Sporting e do Besiktas foram importantes sob o ponto
de vista da capacidade de resiliência. Vivi situações nos dois
clubes que fizeram de mim um treinador hiper resistente. Não falo
sobre o ponto de vista tático, estratégico, da preparação da equipa,
nessa altura ainda estávamos em evolução e demos respostas ao
que nos pediram. Creio que o Sporting praticou um grande futebol
a determinada altura, com problemas dentro, mas tenho a
convicção que praticámos um grande futebol e precisámos ali de
um ou outro ajustamento que não foi possível, mas tínhamos uma
equipa boa. O meu Besiktas jogava muitíssimo bem, as pessoas
ainda hoje falam disso, fizemos um trajeto espetacular,
principalmente nas competições europeias. O Sheffield Wednesday
jogava muitíssimo bem, por isso é que ainda hoje tenho algum
crédito, modéstia à parte, em Inglaterra. Foi pela forma de jogar,
não só pela forma de abordagem nas aparições públicas [risos].
Mas há sem dúvida nenhuma aqui um momento, não vou dizer que
é um corte, porque não é, mas é um upgrade relativamente ao
passado recente, que foi agora no Rio Ave, que acho sinceramente
que nos atirou para outro nível. E agora queremos dar sequência a
isso.

FERNANDO VELUDO
Não achas que a tua imagem saiu prejudicada, principalmente
pela passagem pelo Sporting?
Não. Como é que eu vou dizer isto.... Tenho uma relação excelente
com muita gente importante, em muitas áreas. Mas as relações
que tenho são pessoais, têm a ver com a minha natureza. Sou uma
pessoa que não é fácil, neste sentido: estou num clube e se eu
entender que este jogador que eventualmente o clube quer
contratar não interessa, eu digo que não interessa. E sei que
muitas vezes dizer "aqui" que não interessa, depois vai prejudicar-
me "ali". Percebes? Era muito mais fácil para mim, se calhar, sim,
senhor, faz favor, está aqui a passadeira. Eu não faço isso, ajo em
consciência. Às ponho-me a refletir que eventualmente já merecia,
nos momentos em que tenho épocas excecionais, em que ninguém
fez o que foi feito, como Leixões, que vai à final da Taça de
Portugal, Vitória de Setúbal, que vence a Taça da Liga, e agora no
Rio Ave... Ainda agora no final desta época tive convites de vários
países. Mas nenhum veio de um empurrão que poderia ter vindo,
de pessoas que conheço e que me poderiam empurrar. Então eu
faço este trabalho, há análises a elogiar, há equipas estrangeiras a
vir falar comigo, pessoas entusiasmadas com a minha forma de
jogar, e aqui no meu país não tenho alguém que me dê um
empurrãozito aqui e ali, pá, como muitos colegas meus têm? Não
tem a ver com relacionamento, porque o meu relacionamento é
excelente com toda a gente, só que eu não sou uma pessoa
cómoda, percebes? Eu não faço fretes a ninguém. Não estou a
dizer que os outros fazem, mas eu não faço e isso tem prejudicado
a minha ascensão mais rápida. Mas prefiro assim, porque já treinei
na 3ª divisão em Portugal, na 2ª, na 1ª, levei equipas às
competições europeias, nunca lutei pelo título em Portugal porque
não pude, porque quando cheguei ao Sporting a equipa estava em
9º lugar. Treinei em condições estratosféricas no Besiktas, um dia
escrevo um livro sobre aquilo. Estava sozinho ali, com uma língua
diferente, com uma equipa técnica que era do treinador anterior,
que estava preso, e que depois veio da cadeia e queria ficar com a
equipa, mas os adeptos não deixam, ficou como diretor desportivo
mas a querer ser treinador... Foi uma coisa... Depois vou para o
Sheffield, reparam em mim e vou para o Swansea, venho para o
Rio Ave, talvez pela primeira vez, aqui em Portugal, numa situação
em que eu estava hiper confortável, em função do meu passado, e
venho agora para o Braga na mesma circunstância. Chego ao
Braga hiper confortável, muito bem comigo, já com estatuto, mas
nunca levei um catalisador, percebes? E eu deveria ter levado um
catalisador e deveria estar a treinar na Premier League um bom
clube, digo isto com toda a sinceridade, devia estar aí e não estou
porque não tenho catalisador. Mas eu vou chegar lá. Agora vou
fazer dois excelentes anos no Braga e depois volto para a Premier
League. Mas vou por mim, ninguém me vai ajudar. E digo isto com
uma ponta de orgulho, mas ao mesmo tempo sabendo que tenho
uma excelente relação com todos, presidentes, agentes e
jornalistas, mas de cordialidade. Agora, fazer favores, não faço. As
pessoas sabem disso. Mesmo os jornalistas amigos, que às vezes
me pedem uma informação: amizade é uma coisa, profissionalismo
é outra. Sei que vou ser penalizado amanhã e o que estou a dizer é
real, sei que vou ser penalizado. Se calhar uma pessoa menos
bem formada pensa: "Não me deste a informação e agora vou dar-
te aqui uma bicada". Já me aconteceu isto no passado. Faço o
meu trabalho e vou por mim. É como a equipa, é não colocar
limites. Até onde puder ir, é ir. Tem sido um trajeto sinuoso porque
nós gostamos de ir para onde nos querem.
Chegaste a dizer que para voltares a um grande precisavam de
te ir buscar pela mão...
Exatamente. Vim pela mão.
O presidente António Salvador foi a casa buscar-te pela mão?
Foi a casa buscar-me pela mão, metaforicamente, sim. Sem dúvida
alguma. Isso foi determinante para estar agora aqui no Sporting
Clube de Braga. O presidente disse: "Gostava muito que viesses,
és a nossa única opção". E mesmo que tivesse outra, não havia
problema, porque esta seria sempre a melhor, portanto para mim
dava-me igual se havia mais opções [risos]. Estou a brincar.
Também temos de ter a nossa autoestima. Não foi nenhum
empresário, com muito respeito. O presidente tem o meu número,
ligou-me: "Preciso de falar contigo, gostava que viesses treinar o
Sporting Clube de Braga". 90% já estava resolvido. Os 10% foram
os pormenores. No Rio Ave também foi assim, 90% foram pela
chamada do presidente António Campos e o Marco Aurélio é um
amigo de longa data. Para mim, é fundamental entrar num clube
assim.
Dizias que ainda não tiveste uma equipa para lutar por ser
campeão. Com os reforços que o Braga já anunciou, já tens
equipa para isso?
Eu percebo a pergunta e, aliás, vou levar com essa pergunta ao
longo do ano e ser metralhado com ela, mas vou responder sempre
da mesma forma.
Mas é o melhor plantel que já tiveste?
O Besiktas tinha um grande plantel, muito bom também, com
muitos internacionais. E o Sporting também, Moutinho, Veloso,
Liedson, Izmailov - craque... Vou responder-te dentro do que já
disse há pouco: não imponho limites mas também não balizo nada
a longo prazo. Temos de tentar perceber até onde podemos ir.
Agora, o que é certo é que perdemos o Trincão, que vai ser
realmente um jogador de eleição, e eventualmente estou preparado
para perder o Paulinho. Estes dois juntos devem ter feito 40 golos,
convém dizer isto. Vamos ter de colmatar. Mas isto não tira
ambição, estou apenas a descrever a realidade. Vamos tentar
ganhar os jogos todos, jogo a jogo, e ver até onde é que a equipa
pode chegar.
Pensando nessa falta de opções no ataque, pediste ao
presidente para o Taremi vir para o Braga?
Sim, sim, obviamente que sim. Se eu dissesse o contrário, as
pessoas iriam estranhar. Foi um jogador que fui buscar e apostei
nele.
Onde é que o viste?
Via muitas vezes a jogar, porque sigo o Carlos Queiroz, tenho
apreço e amizade por ele, o Irão, e o Mehdi jogava
fundamentalmente da esquerda para dentro. Era um jogador com
características muito boas. Depois vi-o numa viagem que fiz a
Doha, para ver a Aspire, porque havia uma possibilidade de
trabalhar lá e fiquei uma semana. Vi um jogo em que o Mehdi jogou
como avançado e gostei muito dele. Dele e de um guarda-redes
que estava na seleção do Irão. Tentámos os dois para o Rio Ave.
Demorámos quase um mês a convencer o Mehdi a vir para
Portugal. Falei com ele, pedi ajuda ao Carlos Queiroz, ele depois
entrou em contacto com o tradutor, que também deu uma grande
ajuda. Ele queria vir para a Europa, porque ele tinha uma proposta
da ex-equipa do Rui Faria, que era muito alta do ponto de vista
financeiro. Ele é uma pessoa diferenciada. Creio que ele está um
bocadinho para o futebol como eu: gosta do jogo, tem paixão pelo
jogo, não põe o dinheiro à frente, gosta de pessoas que o agarrem
pelo braço e que o tragam, e que o façam sentir. Conheço bem as
pessoas do Irão, são pessoas que falam muito do coração, dizem
muito: "És meu amigo do coração". E ele é realmente uma pessoa
de afetos. Gosta de se sentir desejado e acabou por aceitar vir
para um clube... Com muito respeito pelo Rio Ave, mas era um
jogador com um nível completamente diferente.
Acreditas que vai jogar no Braga?
O futuro não sei. Não o tenho prisioneiro a mim, obviamente. Se
gostava que ele viesse? Sim, muito. Se vier, muito bem,
acrescenta, se não vier, o Sporting Clube de Braga continua a ser
uma grande equipa.
O Gaitán também acrescenta?
Se vier, acrescenta, sim. Tive oportunidade de falar com ele, o que
é importante para perceber o que vai na cabeça do jogador, e vi um
jogador extremamente motivado, cheio de vontade. Conheço bem
o perfil dos jogadores que têm na casa dos 31, 32, 33 anos. Há três
tipos de combustíveis, não é no futebol, é na vida: pessoas que se
movem pelo dinheiro, pessoas que se movem pelo medo e
pessoas que se movem naturalmente, pelo orgulho que têm
naquilo que fazem, independentemente do medo ou de não haver
dinheiro, até para ordenados, e o Gaitán pareceu-me claramente
um jogador deste registo, de orgulho, tipicamente argentino. Estes
jogadores que são grandes jogadores, chegam à casa dos 30 anos
e querem prosseguir a carreira o máximo possível, porque gostam
de jogar e querem mostrar a toda a gente que continuam bem, e
têm até às vezes maior ambição do que miúdos de 18 e 19 anos.
Senti o Gaitán assim.
Foi opinião mais ou menos unânime em relação à época que
passou: tirando o Rio Ave e o Famalicão, talvez as equipas
que mais se destacaram, não houve grande qualidade de jogo
na Liga. Na próxima época, contigo no Braga, com o regresso
de Jorge Jesus ao Benfica e com a entrada de treinadores
jovens, como o Vasco Seabra e o Mário Silva, vês condições
para a Liga ser mais interessante?
Os bons treinadores são bem-vindos. Ainda esta semana estava a
falar com um amigo e pensámos nisto: imagina se 70% dos
treinadores portugueses regressassem a Portugal. Não havia
clubes para todos, obviamente [risos], mas considerando apenas
os melhores treinadores, assim como os melhores jogadores
portugueses que temos no estrangeiro: tínhamos uma Liga top.
Esta é que é a realidade. Ou seja, temos treinadores e temos
jogadores, temos dirigentes, temos bom jornalismo, de análise,
competente, mas tratamos mal o futebol. Nós tratamos muito mal o
futebol. Temos esta pecha, não sabemos valorizar aquilo que
temos de bom, numa indústria que exporta milhões de euros, como
se viu agora com o Trincão, e com o João Félix no ano passado.
São milhões de euros que colocamos no estrangeiro e às vezes
levamos isto de forma leviana. Relativamente à qualidade, os
treinadores são bem-vindos e o regresso de Jesus é bem-vindo,
porque é um excelente treinador, que vai trazer qualidade à Liga,
obviamente. E há também jovens treinadores que querem provar
que têm qualidade. Espero, aliás, tenho a certeza que a Liga para a
próxima época vai ser melhor. Realmente, o nível das equipas que
lutaram pelo título este ano não esteve no habitual. Vamos esperar
que todas as equipas possam produzir melhor futebol, com mais
qualidade, porque realmente não foi um bom ano. O Rio Ave e o
Famalicão, concordo, diferenciaram-se pela qualidade de jogo. O
FC Porto, pelo ganhar, porque também temos de olhar um pouco
para os recursos do treinador, porque gerir os recursos que temos
é uma forma inteligente de conseguir os objetivos. Mas, no geral, a
qualidade da Liga acabou por ser mediana e todos nós temos de
fazer melhor na próxima época

O melhor treino pode ser


fora de campo
 janeiro 24, 2013

 Universidade do Futebol

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Introdução
O futebol vem evoluindo e muitas são as discussões atuais sobre
metodologias de treinamento. A necessidade de um ambiente de
desenvolvimento mais eficaz durante a formacão de jogadores também
está ganhando cada vez mais espaço. No entanto, pouco se discute sobre
como aproveitar o tempo fora do espaço tradicional dos treinos para
desenvolver as capacidades táticas dos atletas.
Este artigo visa oferecer uma proposta prática, embasada em simples
princípios metodológicos e conceitos de psicologia, de como guiar atletas a
desenvolverem-se fora dos campos.

A ideia principal é ensinar os atletas a analisarem jogos e situações de


forma elaborada, para que possam como consequência desenvolver as
próprias capacidades táticas. Um valioso recurso nesse processo serão
vídeos disponíveis na internet e/ou no acervo do clube.

Estimulando o desenvolvimento de análises

O desenvolvimento das capacidades táticas sempre foi meu objeto


principal de estudo. Para otimizar o desenvolvimento dessas capacidades,
alguns aspectos me pareciam fundamentais: encontrar uma metodologia
eficaz como base para a elaboração dos treinos, organizar os treinos de
maneira que utilizem o tempo da forma ideal, buscar atividades que
consigam motivar os jogadores e favoreçam um desenvolvimento gradual
da percepção dos elementos do jogo e consequente sucesso no processo
de tomada de decisões.

Até aí, provavelmente nenhuma novidade, já que esse tema vem sendo
profundamente discutido. Mas, mesmo procurando otimizar o tempo
disponível durante os treinos, a dificuldade de alguns jogadores para
“compreender” certos aspectos do jogo – e observando de forma particular
as dificuldades táticas de tantos brasileiros que jogam no exterior – me
fizeram refletir sobre formas “alternativas” para melhorar o entendimento
de certos conceitos táticos. Uma dessas alternativas seria encontrar
soluções para aproveitar o tempo fora do espaço normal de treinos,
criando condições favoráveis à capacidade dos jogadores de se
desenvolverem.

Uma prática comum já adotada por diversas equipes é quebrar o jogo em


“pedaços” e analisá-los para os atletas, mostrando as decisões que foram
tomadas e, quando necessário, explicando as decisões que deveriam ter
sido tomadas. No entanto, os resultados não se mostraram tão eficientes,
visto que vários atletas continuavam cometendo erros táticos parecidos.

Diversos podem ser os fatores para que este tipo de estratégia não seja
eficaz. Por mais que se procure criar um ambiente receptivo a comentários
e participações, quando a análise é feita na frente de toda a equipe, às
vezes os jogadores estão mais preocupados em não “parecerem tolos”
diante dos companheiros do que desenvolverem conceitos. Muito
dificilmente um jogador dirá na frente dos outros que não compreendeu
uma explicação feita pelo treinador de como a jogada deveria ter sido
desenvolvida, já que isso reforçaria na frente do grupo sua incapacidade
de resolver uma determinada situação.
Em análises feitas individualmente não existe a pressão do grupo, mas,
mesmo assim, a necessidade de defender a própria autoestima
(Coopersmith, 1967) (Heatherton & Polivy, 1991) pode também desviar a
atenção no processo. Mais do que esses fatores, frequentemente os
jogadores não estão realmente desenvolvendo conceitos, somente
recebendo informações sobre erros cometidos ou acertos que tiveram em
situações específicas. Essa prática é com certeza útil, mas não ideal sob
um ponto de vista de desenvolvimento.

Mais eficaz do que receber análises vindas dos treinadores ou ter que
responder prontamente a perguntas, seria interessante os jogadores
desenvolverem as próprias capacidades de análise e criarem respostas
nas quais acreditaram plenamente, já que eles mesmos as desenvolveram
e, consequentemente, serão transferidas para dentro dos gramados.

Ao invés do discurso direto, frequentemente utilizado durante treinos e


palestras, provavelmente pela simplicidade e economia de tempo, outros
recursos pedagógicos como a descoberta guiada de Sócrates (Slavin,
2006) ou trabalhos de grupo poderiam produzir melhores resultados,
favorecendo reflexões.

O treinador eficaz sabe usar os recursos disponíveis para alcançar os


resultados desejados. Vivemos uma época em que a informação e as
imagens se espalham pelo mundo em segundos, que grande parte da
população tem acesso à internet e e-mail, o que possibilita que uma série
de recursos sejam utilizados como auxiliares no desenvolvimento dos
jogadores.

Vídeos de partidas, highlights e gols de clubes e nações de todo o mundo


estão disponíveis gratuitamente em diversos sites da internet. Motivar e
guiar os atletas a desenvolverem análises de algumas dessas imagens
pode ser um valioso recurso no processo de desenvolvimento tático. Para
isso o treinador terá que se utilizar de alguns conhecimentos de psicologia,
metodologia, conhecimento do esporte e um pouco de criatividade para
agir respeitando cultura, sexo, idade e valores dos atletas da equipe.

Vamos ilustrar com um exemplo prático: sua equipe tem um atacante que,
apesar de habilidoso, tem dificuldades de movimentação sem bola. Vamos
supor que sua equipe não é profissional e você, treinador, não tem a
possibilidade de simplesmente obrigá-lo a fazer análises de jogos. Até
porque, mesmo que essa seja uma opção, os ganhos serão maiores se o
jogador estiver motivado a realizar esse tipo de trabalho.

Então, o primeiro passo é convencê-lo dos possíveis ganhos de se fazer


esse tipo de análise. A cultura do futebol brasileiro supervaloriza “o
talento”, e trabalhar para se desenvolver em qualquer área que não seja a
preparação física não é bem visto pela maioria dos atletas, já que isso
seria um sinal de “falta de talento” e ser visto dessa forma pode ser
também prejudicial a autoestima do atleta. (Brém S., Fein S. & Kassin S.
2005). Começar a conversa com “você precisa melhorar”, em geral não
será tão eficiente quanto uma proposta para “se beneficiar da análise de
alguns dos melhores do mundo”. Como passo inicial, peça-lhe para assistir
a uma partida de seu atacante predileto e descrever seus movimentos
principais.

Após receber feedback de uma primeira análise, peça-lhe que assista a


uma nova partida focalizando determinados aspectos que você julga
importante, como por exemplo: com qual frequência o atleta inicia a corrida
antes do passe para receber a bola em velocidade? Como ele recicla
essas corridas quando não recebe a bola? Em quais momentos ele troca
de posição com outros atacantes? Com qual frequência ele se movimenta
nas costas dos defensores para sair do campo visual destes?

O objetivo é fazer com que o atleta preste atenção em pontos que


normalmente poderiam passar despercebidos. Além do aspecto
motivacional de analisar um ídolo, outra va
ntagem desse tipo de trabalho é que não ataca a autoestima do seu
jogador, já que você não o estará julgando. Possivelmente, já nas
primeiras análises, o jogador se acorrerá de que esse tipo de trabalho
poderá fazê-lo começar a ver diferentes aspectos do jogo; o que poderá
incentivá-lo a progredir fazendo análises mais complexas ou de diferentes
situações.

É importante que o treinador saiba como progredir com os tipos de análise,


de forma que seja realmente motivante para o atleta, até alcançar os
objetivos pretendidos. Por exemplo, como uma terceira etapa, para
desenvolver um tipo específico de movimentação sem bola, o treinador
pode pedir ao atleta que compare as análises feitas da movimentação do
seu ídolo com outro jogador profissional que realiza frequentemente o
movimento que o treinador está procurando desenvolver em seu atleta.
Vídeos de highlights do Youtube da equipe do jogador a ser analisado
pode ser uma fácil opção para conseguir os dados para a análise. A dica
será focalizar especificamente na movimentação sem bola desse atleta e
posteriormente de outros com diferentes estilos.

Quando o treinador, baseado nas análises feitas pelo atleta, acreditar que
ele tem ou adquiriu conhecimentos suficientes para analisar seu próprio
desempenho, ele poderá começar esse processo. É importante relembrar
que analisar o desempenho do seu atleta é uma tarefa mais delicada, já
que a autoestima do jogador estará em questão. Uma estratégia
frequentemente eficaz para a elaboração desse tipo de análise é pedir ao
atleta que, baseado nos conceitos que ele mesmo apresentou, faça uma
autoanálise das principais qualidades e metas de desenvolvimento. As
chances de aceitação de um “desafio” serão muito maiores se partirem do
próprio atleta. A partir daí, treinador e jogador poderão, juntos, discutir
formas de alcançar os objetivos. Após conquistar resultados, como
consequência de um trabalho que treinador e jogador montaram juntos,
existe uma grande possibilidade que o jogador esteja mais disponível para
ouvir sugestões feitas pelo treinador e trabalhe aspectos que não
conseguiu individualizar sozinho.

O exemplo dos parágrafos anteriores visa apenas ilustrar uma progressão


em determinada situação e não criar uma fórmula a ser seguida. A
realidade pode ser muito diferente de caso para caso. Alguns atletas
exigirão um cuidado muito grande com a autoestima, enquanto outros
poderão progredir rapidamente pelos estágios. Os recursos também
podem apresentar grande variação: enquanto algumas dessas análises
poderão ser escritas à mão em papel e simulações táticas feitas movendo-
se pedras sobre um pedaço de terra, outros treinadores poderão se
comunicar por e-mail, mensagens online ou redes sociais e pedir aos
atletas que criem animações táticas em softwares próprios para isso
(inclusive o Brasil possui softwares muito bons e de fácil manuseio).

Outros tipos de estratégias, como trabalhos de análise em grupo podem


ser utilizados. Por exemplo, após dividir a equipe em três grupos: o
primeiro irá analisar os princípios defensivos da seleção inglesa, o
segundo da seleção italiana e o terceiro da seleção brasileira. Utilizando-
se do princípio de que “a melhor forma de aprender algo, é tendo que
ensinar o assunto”, cada grupo terá que explicar aos demais os conceitos
e características principais de cada nação.

O treinador pode participar do processo de criação da apresentação de


cada grupo, ajudando a encontrar os resultados desejados durante a fase
de elaboração, para que durante a apresentação final na frente da equipe,
todos tenham sucesso e tenham sido alcançados os objetivos buscados.
Pode-se encontrar tempo para esse tipo de trabalho até mesmo durante
uma viagem de ônibus, ou em um dia livre no hotel.

Trabalhos em grupo não só podem ajudar os atletas a adquirirem


conhecimentos táticos, como gerar também outros benefícios para a
equipe, já que favorecem a integração entre os atletas, desenvolvimento
de termos e conceitos que poderão ser utilizados durante as partidas e até
mesmo a possibilidade de progresso na comunicação para algum atleta
que se sinta mais seguro explicando conceitos na teoria do que apontando
erros de companheiros durante a partida. Como fator negativo, como já
ciatado anteriormente, trabalhos na frente de companheiros podem fazer
com que alguns atletas se preocupem mais com a aparência das
respostas do que o conteúdo desenvolvido.

Não importa qual seja a estratégia utilizada, o importante é inspirar o


jogador a olhar o jogo e “ver” mais do que está acostumado. Isso ajudará
no seu desenvolvimento tático e, consequentemente, no próprio
desempenho. Na verdade, esses tipos de estratégias podem ajudar até
mesmo treinadores a se desenvolverem, desde que consigam propor a si
mesmos tópicos diferentes do que normalmente seria o foco de atenção.
Além disso, as análises feitas pelos jogadores podem chamar a atenção
para pontos importantes na equipe que podem ser melhorados ou mais
trabalhados e ajudam o treinador a compreender o processo de raciocínio
de seus jogadores.

Finalizando, vale a pena ressaltar que as análises não necessitam serem


restritas a aspectos táticos. Também podem ser estudados aspectos
técnicos, como por exemplo, movimentação com passadas pequenas e
rápidas de goleiros ao se preparar para uma defesa; ou técnicas de
aproximação e posição de corpo de jogadores durante o processo de
defesa. Essas análises podem ser a conexão entre teoria e prática no
futebol que permitam a muitos atletas otimizar seu potencial.

Considerações finais

Um dos mais importantes princípios dessa metodologia é que os jogadores


aproveitarão muito mais os conceitos que eles tiveram participação no
desenvolvimento do que os conceitos que lhes foram simplesmente
passados durante treinos ou conversas. Esse processo ajuda a evitar uma
recorrente no futebol que é o treinador gritar “Eu já te falei mil vezes…”
Mais importante do que falar mil vezes, é o jogador compreender e
acreditar em um determinado conceito.

Para os que, ao lerem este artigo, pensam “além de não termos recursos
para isso, essa não é a cultura brasileira, quem tentar fazer isso não será
respeitado pelos atletas”, vale lembrar que o custo disso pode ser muito
baixo ou nulo. O desenvolvimento da tecnologia fornece uma grande
ferramenta de acesso gratuito para um conhecimento muito valioso no
mundo do futebol, que é a forma e detalhes de como jogam as equipes e
como se movimentam os jogadores dentro das plataformas de jogo. Com
relação a nossa cultura, basta ler pesquisas ou estórias sobre professores
que devem ensinar em salas de aula onde, por diversos motivos, os alunos
são considerados “incapazes ou desinteressados”. Enquanto a maioria dos
profes
sores não consegue atingir seus objetivos, outros são capazes de
compreender a cultura local, respeitar o conhecimento prévio e com
conhecimento de psicologia, metodologia e criatividade engajar os alunos
(no caso, atletas) e atingir grandes resultados.

Tenho convicção de que cedo ou tarde clubes brasileiros irão investir em


profissionais, principalmente em suas categorias de base, comprometidos
em buscar novos métodos para otimizar o desenvolvimento de seus
atletas; e, como consequência desse processo, colherão em pouco tempo
os frutos do trabalho. Obviamente propostas de desenvolvimento fora de
campo não substituem o treinamento em campo, afinal não basta
compreender, mas ser capaz de executar; no entanto, podem ser uma
forma eficaz de complementar o aprendizado convencional entre as quatro
linhas.

Espero que este artigo possa contribuir para motivar alguns treinadores a
uma constante reflexão sobre a possibilidade de inovarem seus métodos
de ensino. Com certeza, vários dos leitores são profissionais do futebol, e
comentários com ideias sobre como motivar atletas a se desenvolverem
serão muito bem-vindos.

Alternância de momentos
inter-relacionados dentro da
continuidade do jogo:
transições!
 março 7, 2013

 Universidade do Futebol

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Segundo o dicionário da língua portuguesa, o termo transição tem origem
no verbo transitar, este que significa mudança, alteração de um primeiro
para o um segundo estado.
Podemos, então, dizer que, em um processo repleto de mudanças, o
estudo e aprimoramento de ações que antecedem e ocorrem
posteriormente a um determinado momento possui uma grande
importância.
Pois bem, seguindo uma coerência dentro de minhas publicações, sigo
enaltecendo as importâncias dos momentos indissociáveis do jogo, logo,
me interessam e vêm ilustrar o valor das transições dentro do futebol.

A ideia de se desenvolver um conceito coletivo dentro das transições do


jogo pode ser resumida na intenção de tornar mais simples, rápido e
natural a troca de comportamento dos jogadores perante a mudança de
organizações do jogo (defensiva ou ofensiva), ou seja, o intuito é contar
com jogadores que tenham uma reação muito rápida e precisa de acordo
com a obtenção ou perda da posse (com bola em jogo ou parada).

Tendo em vista que, dentro de uma partida de futebol temos dois sistemas
(equipes) lutando para se manter estável e desestabilizar o oponente,
podemos concluir que as transições de momentos com posse de bola
(organização ofensiva) e sem a mesma (organização defensiva) devem
respeitar as orientações e ideias contidas nestas duas organizações e ser
executada de modo mais rápido possível, aproveitando as dúvidas e
confusões do adversário, de modo a alcançar os objetivos oferecidos pela
lógica do jogo, vencer!

Seguir orientações e ser rápido dentro de um processo… Vamos pensar


sobre isso!

Cumprir o que está planejado envolve fatores de treinamento, ambiente e


aspectos psicológicos, algo que tem seu valor, porém, foge um pouco do
que quero ressaltar neste momento (com certeza é algo a se tratar em
publicações futuras).

Ser rápido dentro de um processo tão dinâmico é algo que mais me atrai
neste momento e, de modo simples e objetivo, significa realizar as ações
necessária antes do adversário, seja esta executada em qualquer
velocidade.

O objetivo é bem claro, atuar de maneira X ao ter a bola e Y ao perdê-la,


de modo que o adversário estará, sempre, executando a tarefa oposta,
tentando ser mais efetiva do que sua equipe.

Se a velocidade/reatividade ao se reorganizar é um ponto importante


dentro da continuidade do jogo, é fácil estabelecer uma relação positiva
daquele jogador que antecipa suas ações dentro das alterações do jogo,
logo, podemos sustentar que o processo transitório dentro do jogo está
totalmente relacionado a fatores táticos, individuais e coletivos, dentro do
jogo (Tática, segundo Mahlo [1970], processo de observação do
"problema", interpretação do mesmo e ação motora).
Abaixo tentarei ilustrar algumas mudanças de comportamento
referenciadas à posse de bola, ao ganho ou a perda.

Neste primeiro vídeo podemos ver o Real Madrid, de José Mourinho,


atuando tanto em ofensiva (reação à conquista da posse) quanto em
transição defensiva (reação à perda da posse).
Algo bem interessante é a reatividade de Cristiano Ronaldo ao notar que
seu companheiro rouba a bola de um dos volantes do Barcelona.

http://www.youtube.com/watch?v=ZGaRG5GaIuM&feature=related

Neste segundo trecho, editado para evidenciar os contra ataques do Real


Madrid, podemos notar a importância da transição defensiva efetiva,
seguida de uma organização ofensiva bem definida.

Notem, no tempo 1min02s, a alteração de comportamento de Cristiano


Ronaldo, que, um segundo antes estava ocupando o espaço que lhe é
destinado quando sem a posse de bola.

Como vimos, as transições são muito mais do que momentos de uma


partida de futebol. São os elos entre as relações do ter ou não ter a posse
da bola, objetivando gerar maiores desequilíbrios dentro do sistema
adversário, de modo a atingir os grandes fins do jogo, marcar gols e não
ter sua meta rompida.

Muitas são as possibilidades de desenvolvimento dessa característica


transitória. De acordo com o interesse de vocês, leitores, vamos discutindo
e evoluindo o assunto.

Muito temos a aprender, ensinar e reproduzir. Futebol: uma ciência


celebrada com a prática!

Deixo meu email abaixo para qualquer esclarecimento, obrigado!


gondim.leonardo@gmail.com.

*Bacharel em Esporte pela Universidade de São Paulo e treinador de


futebol

Sobre o lugar do modelo de


jogo na formação do caráter
 setembro 18, 2019

 Hudson Martins
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Fabinho, hoje no Liverpool: educado nos modelos de jogo e no método do
Paulínia FC. (Foto: Reprodução/ig)

Todos nós estamos acostumados, em algum nível, a ouvir que nosso


trabalho no futebol não deve apenas formar atletas, mas deve
também formar pessoas. Se vocês me dão o privilégio da leitura regular,
sabem que normalmente escrevo diversas coisas neste sentido,
particularmente aqui e nesta outra coluna. Ao mesmo tempo, preciso
dizer que esses discursos soam muito bonitos, às vezes são fáceis de se
verbalizar, mas podem mais ficar na esfera do politicamente correto do que
na esfera das condutas práticas.
Por isso, hoje gostaria de falar um pouco sobre a importância do modelo
de jogo neste processo de ‘formação do caráter’ (admita todos os
sinônimos aqui). Como de costume, escrevo algumas inquietações, que
deixo vocês trabalharem como quiserem.
***

Ainda que possa soar repetitivo, acho importante começarmos pelo


seguinte: quando falamos de modelo de jogo, estamos falando de tática,
mas não necessariamente estamos falando de estratégia. Por quê?
Porque, em linhas gerais, o modelo de jogo ocupa um lugar entre a tática e
a estratégia. Está abaixo da tática desde que entendamos tática como
‘(…) a gestão (posicionamento e deslocamento/movimentação) do espaço
de jogo pelos jogadores e equipes’ (p.26), como conceituaram os
professores Israel Teoldo, José Guilherme e Júlio Garganta, no livro ‘Para
um Futebol Jogado com Ideias’. Ou seja, qualquer manifestação individual,
grupal ou coletiva será tática – ainda que não apenas tática. Por outro
lado, o modelo está acima da estratégia uma vez que tem um caráter
transversal, atravessa o processo, direciona qual será o caminho de uma
dada forma de jogar, enquanto a estratégia tem um caráter mais pontual,
específico, de curto prazo, situacional. Ou seja, um modelo de manutenção
da posse e progressão ao alvo via superioridades no setor da bola no
corredor central pode acontecer num 4-3-3, num 3-4-3 ou num 1-8-1. A
estratégia é posterior ao modelo.
Talvez eu não tenha sido explícito, mas aqui já temos um primeiro ponto
importante. Se o modelo está acima da estratégia e se queremos discutir o
papel do modelo de jogo na formação do caráter, temos então que nos
desvencilhar de alguns mantras limitantes. Por exemplo, houve uma época
em que se dizia coisas do tipo ‘jogar com três zagueiros na base’ seria um
crime, porque times com três zagueiros seriam mais defensivos (sic),
porque se perderia a figura do camisa dez (sic) e vários outros porquês.
Mas se o que é definitivo no jeito de jogar de uma equipe é o modelo,
podemos portanto jogar com dezoito ‘zagueiros’ e mesmo assim sermos
ofensivos. O que quero dizer é que, independentemente dos mantras,
creio que o processo de especialização deva ser realmente marcado
exatamente por um período de experimentação, de encontro, de
desencontro, mas especialmente por um período de descoberta, porque
essa descoberta é descoberta do jogo, mas especialmente é descoberta
de si. O atleta se descobre, como pessoa, dentro do jogo. Fazendo uma,
duas, três, várias funções diferentes, ocupando posições diferentes,
podendo tomar decisões diferentes dos outros (especialmente nos
modelos que permitam alguma liberdade posicional), enfim…
experimentando tantas possibilidades quanto for possível, exatamente
para enriquecimento do próprio acervo.
Talvez aqui cheguemos a um primeiro denominador comum, se
pensarmos na formação do caráter: é recomendável que os modelos de
jogo dentro do processo formativo (ou o modelo de uma única temporada)
deem aos atletas a chance de experimentar possibilidades, de inventar
novas soluções, de se provar na adversidade e se afirmar no conforto. Na
essência, que os modelos deem aos atletas a chance de se descobrir.
***

Durante o processo formativo, especialmente nos primeiros anos da


especialização, tenho alguma convicção que a escolha do modelo de jogo
pelo treinador é fundamental na formação do caráter do atleta. Por quê?
Porque ainda que não nos esteja claro, qualquer modelo de jogo carrega
uma série de valores, de crenças e de conhecimentos que sustentam o
nosso pensamento e a nossa prática. Inclusive, este é um exercício que
podemos fazer agora: quais você acha serem os valores que estão por
trás do modelo de jogo da sua equipe?
Pensei muito nisso outro dia, quando assisti a um jogo de um grande clube
brasileiro, na fase de especialização, em que absolutamente todas as
jogadas ofensivas começavam em um lançamento do goleiro para o
centroavante. Não era circunstancial, era a regra: em todos os momentos,
pontapés do goleiro ao ataque. Os zagueiros não precisavam se preocupar
com nenhum conceito ofensivo, e o esforço dos meio-campistas, na
maioria das vezes, residia apenas na extensão da musculatura do
pescoço, para observar a bola que passava acima e adiante. Veja bem, é
claro que respeitamos a escolha dos profissionais, mas quais valores
estão por trás de um jogo tão pobre? Que tipo de jogador formamos num
modelo desses? Será que formamos jogadores mais inteligentes, mais
criativos, corajosos, versáteis, arrojados, persistentes, subversivos,
inconformados? Qual é a cicatriz que este jeito de jogar deixa nos meninos
num período tão importante da sua formação?
Por outro lado, será que os modelos que desejam marcações mais altas
não exigem dos nossos jogadores algum desprendimento, alguma
subversão (no sentido de defender-se para frente, não para trás), uma
grande solidariedade na ocupação de espaços? Será que os modelos que
constroem por baixo desde o goleiro não exigem dos nossos jogadores
alguma coragem (às vezes muita), alguma insubordinação para talvez
driblar em zonas próximas do próprio gol, alguma atenção para encontrar o
momento certo do passe que vai rasgar as linhas adversárias? Ou mesmo
os modelos mais defensivos (para não falarmos só de ataque), que baixam
o bloco e querem as transições, será que não ensinam alguma resiliência,
alguma paciência, alguma capacidade de saber sofrer e de suportar o
jogo, como às vezes nos é pedido suportar honradamente o peso da vida,
nas suas surpresas e na sua crueza? Será mesmo que nada disso deve
ser considerado? Creio que sim – e muito.

***

Daí que as potencialidades do modelo não se resumem à especialização.


Elas são flagrantes no rendimento. Mas, para pensar nisso, acho que
devemos dar um passo atrás.
Como conversamos outras vezes, existe uma noção (geralmente
implícita), de que o atleta de rendimento já está ‘formado’, já está ‘pronto’,
é um ‘produto acabado’ e a função do treinador, portanto, seria apenas
adequar-se ao que o atleta é, ainda que muito do que atribuímos aos
nossos atletas esteja mais próximo dos estereótipos do que das
evidências. De fato, o atleta que chega ao profissional acumula milhares
de horas de prática, tem rápidas respostas para problemas elaborados e,
se quisermos um termo do treinamento, tem uma treinabilidade menor, ao
menos quando comparados com sujeitos comuns.
Ao mesmo tempo, este atleta ainda está em formação – do ponto de vista
esportivo e do ponto de vista humano. Se você preferir, está em
formação exatamente porque é humano. E essa incompletude que nos
faz humanos permite que um treinador, a quem compete educar pelo jogo,
seja capaz de caminhar por lugares inexplorados com qualquer atleta, e o
caminho que sugiro para isso é exatamente o modelo. Ou você não
acredita que um determinado atleta, que sempre fora taxado de inábil na
construção ofensiva, talvez apenas não tenha recebido os melhores
estímulos na formação? Ou então um outro atleta, que confiava demais no
próprio talento, finalmente está maduro a ponto de trabalhar e dedicar-se
como nunca? Ou ainda um outro atleta, que sempre se identificou como
meia, agora percebe (pelo modelo) quem tem todas as condições para
jogar como um lateral? Se acreditarmos que os atletas (e as pessoas) não
mudam, então não precisamos de pedagogia, não precisamos de
educação – e portanto não precisamos de treinamento. Por outro lado, se
acreditamos na vida, nas potências da vida, então acreditamos nos
movimentos da vida e, portanto, acreditamos nos movimentos da formação
e nos movimentos da trans-formação.
Que são possíveis pelo modelo e através do modelo.
Alternativas táticas para ser vantajoso na subfase de finalização do jogo.

“Pra quem não sabe para onde vai. Qualquer caminho serve” Lewis Carroll

Ao acompanhar jogos de diversos campeonatos nacionais e internacionais podemos evidenciar (de


maneira empírica) a ausência de comportamentos táticos bem definidos na subfase de finalização do
jogo. O que pode ser considerado como um dos fatores para a dificuldade encontrada pelas equipes
para chegar aos gols e alcançar as vitórias sem tanto sacrifício.

O jogo evoluiu e hoje temos visto nas equipes ideias claras de como se deve sair jogando e qual
caminho busca-se percorrer para chegar ao ataque. No entanto, é na subfase de finalização que
constatamos a ausência de condutas coletivas e movimentos preferenciais que possam guiar os
atletas a encontrar as melhores vantagens no último quarto do campo.

Nessa subfase do jogo somente a livre intuição dos jogadores tem sido preconizada. Não que essa
seja uma alternativa errada. Pelo contrário, a intuição do jogador deve estar em tudo! Porém ela
deve fazer interação com os princípios táticos da equipe como um todo e estes devem ser revelados
em todas as subfases do jogo.

Figura 1 - As subfases do jogo de futebol

Nesse contexto, apresento abaixo comportamentos táticos que podem ser desenvolvidos no último
quarto do campo. Partindo da ideia do Jogo Posicional onde interpreta-se o jogo a partir de 4 tipos
de vantagem: vantagem posicional, vantagem numérica, vantagem qualitativa e vantagem cinética.
(https://universidadedofutebol.com.br/a- interpretacao-do-jogo-a-partir-dos-tipos-de-
superioridades/)

É importante ressaltar que existe uma diferença entre chegar ao ataque e ficar no ataque. Para ter
vantagem na subfase de finalização é preciso primeiro se estabelecer de maneira posicional nessa
região do campo (temporização ofensiva) caso não haja uma vantagem clara para ir ao gol.
Após a equipe se localizar no campo de ataque busca-se explorar três corredores verticais (corredor
lateral-esquerdo, corredor central e corredor lateral-direito).

Figura 2 – Subfase de Finalização (Vermelho: 1-3-2-3-2)

Na figura 2 a equipe em disposição da bola se posiciona no 1-3-2-3-2. Tal posicionamento está


dependendo da disposição do adversário e com quantos jogadores se distribuem na última linha de
marcação.

O uso de uma linha com 4 defensores tem sido mais utilizada pelas equipes brasileiras. A partir dessa
disposição podemos promover 4 tipos de condutas.

O 1x1 no corredor lateral, em que o lateral pode superar o adversário com sua vantagem qualitativa
(drible) e depois invadir a área.

Figura 3 – 1x1 corredor lateral (Vantagem Qualitativa)


O 2x2 no corredor lateral, em que o lateral pode realizar um passe para o atacante receber em
vantagem posicional dentro da área.

Figura 3.1 - 2x2 corredor lateral (Vantagem posicional)

O 3x2 no corredor central, o atacante recebe entrelinhas em vantagem posicional e pode realizar um
3x2 com os pontas. Nessa situação se nenhum marcador se aproximar, o atacante pode conduzir e
finalizar ao gol.

Figura 4 - 3x2 corredor central (Vantagem numérica)


Se um dos marcadores da linha defensiva sair para um encaixe de marcação, um passe pode ser
realizado para um dos pontas receber em vantagem posicional.

Figura 4.1 – 3x2 corredor central (Vantagem posicional)

Por último o 3x2 no corredor central, após a condução de um dos laterais para esse setor. Onde se o
lateral não for pressionado pode finalizar ou se caso algum marcador sair da linha defensiva o ponta
ou atacante podem receber em vantagem posicional.

Figura 5 – 3x2 corredor lateral/central (Vantagem numérica e posicional)

Essas condutas táticas são alternativas ofensivas que a equipe pode desenvolver na subfase de
finalização. Apenas uma ideia, para que os jogadores cheguem ao ataque sabendo pra onde podem
ir com a bola. Claro que tudo vai depender de inúmeras situações complexas que o jogo apresenta e
das características dos jogadores. Porém, tais condutas se vivenciadas nos treinamentos, podem
desenvolver uma inteligência coletiva nos jogadores que irá guia-los nessa subfase do jogo.
Nesse sentido, cabe ao treinador identificar como sua equipe interage melhor na subfase de
finalização. Para que não seja refém exclusivamente da intuição dos jogadores, que não tenha nada
definido, para que sua equipe não sabia para onde vai com a bola. Pois “quem não sabe pra onde
vai, qualquer caminho serve”. E qualquer caminho é muito pouco para quem quer vencer.

As condutas preferentes
para desenvolver a iniciativa
defensiva no jogo
 novembro 21, 2017

 Universidade do Futebol

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No futebol, muitos treinadores optam por condicionar suas equipes a ter
uma conduta no momento defensivo do jogo que seja agressiva, intensa e
determinada, na qual os jogadores estão sempre pressionando o
adversário. E, desta forma, colocar a equipe em controle e protagonismo
do jogo mesmo sem ter a posse de bola.
Porém, para estabelecer essa iniciativa defensiva como um
comportamento tático, é preciso desenvolver cenários nos treinamentos
que permitam que esse comportamento seja revelado de maneira coletiva,
a partir das interações entre os atletas.

Evidente que muitos são os métodos para alcançar esse objetivo. Nesse
sentido, a finalidade dessa reflexão é apenas expor de maneira simples
(pois precisaria de muito mais linhas para desenvolver todo o processo) as
condutas preferentes que acredito serem importantes para se buscar uma
iniciativa defensiva eficiente no momento defensivo.

Penso que para operacionalizar essa ideia é necessário pré-estabelecer


algumas condutas preferentes que os atletas terão que desempenhar para
encontrar vantagens sobre o adversário no momento em que estão
tentando recuperar a bola. São elas: a responsabilidade zonal; a ação de
cobrir a bola; posicionar-se em vantagem posicional defensiva e gerar
triângulos defensivos.
Essas condutas ocorrem de maneira simultânea e se estabelecem a partir
da organização da equipe. Abaixo irei descrevê-las e esboçar alguns
exercícios em formato de jogos que permitem manifestar tais condutas.

A 1ª) Responsabilidade zonal: divisão de zonas no campo em que os


jogadores são responsáveis por pressionar o adversário.

A figura abaixo ilustra uma forma de se desenvolver a organização


dessas zonas de responsabilidade em um jogo de aplicação (7×7 + 2C)
em que cada jogador se responsabiliza por pressionar em uma zona (de
maneira dinâmica). Podendo entrar em uma outra zona somente para
fazer uma cobertura ou para gerar uma vantagem numérica (dobra de
marcação) quando o adversário estiver parado ou mal perfilado.

Imagem: Agustin Peraita

A 2ª) Ação de cobrir a bola: o jogador antes de pressionar o adversário


deve primeiramente cortar uma linha de passe para um possível receptor
adversário e depois disso sair para cobrir a bola. A ação consiste em
pressionar o portador da bola com determinação e não apenas “diminuir” o
seu espaço efetivo de jogo.
A figura abaixo esboça uma forma de reproduzir esse contexto em um
Rondo de 3×3+2C, onde dois dos jogadores são responsáveis por
pressionar sempre em três das quatro zonas de maneira dinâmica.

Imagem: Agustin Peraita

A 3ª) Situar-se em vantagem posicional defensiva: o jogador que está


pressionando na zona onde está a bola, ao cortar uma possível linha de
passe, já está ficando em vantagem posicional, pois seu adversário não
consegue receber a bola, ao menos que se movimente para criar uma
nova linha de passe.
Nesse momento, os outros jogadores das outras zonas, estão
posicionados ao lado dos adversários, onde poderão ou antecipar (se o
passe for fraco), ou impedir a progressão do adversário a partir dessa
vantagem estabelecida de maneira posicional.

A 4ª) Gerar triângulos defensivos: os jogadores que cercam o


companheiro que está pressionando o adversário com a bola, além de
estarem em vantagem posicional defensiva, buscam formar triângulo,
visando realizar coberturas defensivas para recuperar a bola e evitando
passes que superem essa pressão.

A figura abaixo descreve um jogo de aplicação (6×6) em espaço reduzido,


em que cada jogador pode defender uma zona do campo específica.
Podendo entrar em uma outra zona de um companheiro para fazer uma
cobertura ou para gerar uma vantagem numérica (dobra de marcação)
quando o adversário está parado ou mal perfilado.

Imagem: Agustin Peraita

A partir do estabelecimento dessas condutas e da vivência delas nos


treinamentos em diferentes cenários, o comportamento da iniciativa
defensiva vai se manifestando com regularidade em todas as fases do
jogo.

Ainda pensando nas zonas de responsabilidade de pressão, a figura


abaixo demostra como estabelecer 7 zonas a partir da plataforma 1-4-3-3
(a mesma do adversário) na saída de bola, aplicando uma pressão zonal
em bloco alto.

A partir da ação do adversário, os jogadores vão se reorganizando para


pressionar em mais de uma zona de maneira dinâmica e, com isso,
executando as condutas necessárias para recuperar a bola.
Imagem: Jonathan Silva

Caro leitor, toda essa reflexão visa apenas demonstrar um dos possíveis
caminhos para gerar condutas preferentes no momento em que a equipe
está buscando recuperar a posse de bola. Mas, sem dúvidas, existem
outros métodos para cumprir esse objetivo.

É preciso deixar claro que esta proposta visa despertar nos atletas um
comportamento de menor “expectativa” e maior iniciativa defensiva, ou
seja, estabelecer na equipe um protagonismo dentro do jogo (e portanto
controlá-lo) ainda que não se tenha a bola. Mostrar aos jogadores que é
possível influenciar no jogo em todos os momentos, mas com as condutas
certas e organizadas, evitando desgastes físicos e, principalmente,
mentais.

Nessa perspectiva a frase “quem tem a bola joga e quem não tem corre”,
poderá ser substituída por “quem tem a bola joga e quem não tem, joga
também”.
Identidade de jogo: você
realmente joga como treina?
– PARTE 1
 janeiro 25, 2017

 Bruno Loureiro Batista

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A partir de hoje daremos início a um percurso muito importante com
diversos artigos sobre um assunto que se escuta bastante, mas ainda
pouco discutido, que é a Identidade de jogo. Nele teremos um grande
espaço para troca de ideias, questionamentos e reflexões sobre um tema
que devemos explorar com maior profundidade.
Existem muitas metodologias de treinamento (integrado; periodização
tática; clássico, etc) que nos ajudam a melhorar e definir nosso modelo de
jogo. Este nos dá uma ideia da forma de jogar, mas que pode estar
suscetível a mudanças durante uma partida.

Em um confronto sabemos que existem infinitas variáveis, mas o quanto


elas influenciam no seu modelo de jogo?!

Exemplos:

Adversário – resultado vigente – tempo do jogo – jogadores disponíveis –


jogo em casa ou fora – posição na tabela – disposição tática (1-4-3-3, 1-3-
5-2,4-4-2…)

Diante destas variáveis, a maioria das equipes mesmo havendo um


modelo de jogo preciso, altera sua proposta durante uma partida, como
adotar uma postura mais ofensiva ou defensiva de acordo com o resultado
vigente (substituindo um zagueiro por um atacante, como exemplo).

Mas quando se tem uma identidade clara de jogo, esta passa a


condicionar as variáveis e não o contrário. Isso muda completamente o
modo de ver, pensar e planejar seus treinamentos e consequentemente os
jogos em busca de um resultado eficaz.

OK, agora quais equipes e treinadores têm uma Identidade de jogo bem
definida?! Podemos dividir em dois blocos, que são as únicas duas fases
do futebol – posse ou não posse da bola. Todas as outras “fases”
(transições ofensivas e defensivas, bola parada, etc) são definidas por
estas duas e podem ser diferentes de acordo com seu modo de entender o
futebol. Dentro destas duas fases podemos destacar algumas equipes ou
treinadores que servem de exemplo para nosso estudo.

Entre os que optam pela posse de bola, como principal característica,


estão as seleções da Espanha, bicampeã europeia em 2008 e 2012 e
campeã do mundo em 2010, e da Alemanha, campeã do mundo em 2014.
Como equipe temos o Barcelona com os conceitos do Futebol Total, de
Rinus Michels, mostrando sua identidade por pelo menos uma década. Já
como treinador, temos o mais famoso que é o Pep Guardiola, atualmente
no Manchester City, ou até mesmo Roberto Dezerbi, ex Foggia e Palermo,
que obteve ótimos resultados na terceira divisão italiana interpretando os
mesmos conceitos das equipes acima com jogadores considerados de
menor qualidade.

Já “do outro lado” temos treinadores que preferem trabalhar com a


cobertura dos espaços, como José Mourinho, campeão com o Inter e
Chelsea, Diego Simeone, do Atlético de Madrid, campeão espanhol 2014,
ou o Leicester, de Claudio Ranieri, campeão do último campenato inglês.

O primeiro passo que se deve fazer é escolher em qual modo você


gostaria de jogar não se tornando refém das variáveis citadas acima mas
sim o contrário. Que elas sejam todas em função da sua identidade, como
exemplo o mais classico deles, a escolha do sistema de jogo. Nao é a
escolha da disposição tática que o faz mais ofensivo (1-4-3-3 / 1-3-4-3) ou
mais defensivo (1-4-4-2 / 1-3-5-2) mas sim como se é interpretado. Todas
as mudanças dinâmicas que ocorrem devem ter como princípio a
manutenção do equilíbrio e identidade da equipe.

Nos próximos artigos vamos começar a refletir sobre como preparar todo o
planejamento de treinamentos e as características que serão necessárias
a partir de uma identidade denifinida de jogo.

Espero que esse primeiro artigo possa ter servido para criar reflexões,
questionamentos, dúvidas e perguntas para todos, e estou ansioso para o
confronto de ideias e discussões a respeito

Abraço a todos!
Identidade de jogo: você
realmente joga como treina?
– Parte 2
 outubro 6, 2017

 Bruno Loureiro Batista

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Olá a todos! No primeiro artigo demos uma introdução do que significa ter
uma identidade de jogo a partir das duas únicas fases do futebol, ou seja,
posse ou não posse de bola. Uma de suas características principais é
conseguir manter os mesmos conceitos de jogo independente das variáveis
já citadas no artigo anterior.
Identidade de jogo: você realmente joga como treina? – Parte 1

Neste artigo vamos definir uma identidade de jogo e a partir dela refletir sobre
o planejamento do que seria necessário para conseguir em partida realmente
jogar como se treina.

O primeiro passo para ter uma identidade é crer fielmente que desta maneira
você e seus jogadores terão maior probabilidade de vencer os jogos, a coisa
mais importante é convicção sua e de todos do staff técnico na sua proposta
de jogo pois a comunicação e a linguagem comum entre todos os membros é
fundamental.

Hipotizamos que o staff técnico tem como ideia comum o comando de jogo a
partir da posse de bola e vamos começar a pensar como devemos treinar
nossos jogadores a partir desta ideia de jogo.

Para um comando de jogo, pressupõe-se uma equipe que durante as


partidas tenham como percentual no mínimo 51% de posse de bola. A partir
deste pequeno e óbvio dado, temos que pensar em nossos treinamentos
semanais. Se a equipe quer ter a posse de bola pelo maior tempo possível, o
primeiro passo nos treinamentos será aumentar o volume de treinos no qual
a equipe tenha sua posse, ou seja, cerca de 65% – 70% dos treinamentos
devem ter como objetivo reconhecer os espaços (principalmente determinado
pelos adversários), distância de relação entre os jogadores e superioridade
numérica, posicional e qualitativa em posse de bola. Isto não significa ter a
posse para sua manutenção mas para a preparação coletiva de chegar ao
gol adversário. A posse de bola para a manutenção do resultado por
exemplo, não entra na ideia de identidade de jogo pois ela seria uma variável
sem um resultado vigente.

Durante um microciclo de treinamento, o trabalho no reconhecimento destes


conceitos nas três zonas do campo (Construção, Gestão/Preparação,
Finalização) são fundamentais para o comando do jogo. Os outros 30%-35%
do tempo se deve aos mesmos conceitos citados mas na fase de não posse
de bola e fase defensiva em posse (*marcação preventiva, por exemplo).

Segundo a relação técnica da Champions League 2015/2016, TODAS as


equipes participantes independente de sua identidade de jogo apresentaram
uma média de 63% de passes médios (10mt – 30 mt) já para passes
considerados longos cerca de 17% (acima de 30 mt), e para passes
considerados curtos foram cerca de 20% (até 10 mt). Apenas com este dado
nos dá uma ideia de como programar exercícios técnicos com as distâncias
de relação, reconhecimento racional dos espaços para encontrar as três
superioridades (numérica, posicional e qualitativa) para sua equipe em fase
de posse.

Segundo os dados da mesma relação técnica da Champions League


2015/2016, as situações mais frequentes que terminaram em gol foram:

– Reenvio da bola que permitiram imediatamente a posse de bola ao


adversário (10,95%)

-Passe ou domínio errado da parte do adversário (10,66%).

Com este segundo dado fica evidente como as habilidades técnicas de base
(domínio, condução, e passe) e capacidade de escolha se tornam pilares
para este tipo de identidade. O domínio em todas suas formas (aberto, de
proteção, em velocidade, com finta, orientado), os diferentes tipos de passe
(vertical, diagonal, horizontal, curto, médio e longo), a condução (em
velocidade; para conquista campo, para atrair adversários, para realizar
superioridade numérica com 1vs1) devem ser trabalhados de maneira
exaustiva.

O primeiro objetivo e um dos principais da equipe independente do sistema


tático (1-4-3-3, 1- 4-3-1-2, 1-3-5-2…), é superar a primeira linha de marcação
adversária, uma vez realizado este objetivo, as outras linhas e jogadores
adversários terão que sair de suas posições para cobrir os espaços e a
possibilidade de encontrar as superioridades numéricas e posicionais se
tornam maiores. Para que este primeiro objetivo possa ter maior
probabilidade de acontecer, o goleiro será umas das peças fundamentais na
manobra pois, ele será o jogador que dará a superioridade numérica para a
ação na zona 1 do campo, ou seja, o tempo de trabalho de um goleiro com
os pés para que reconheça todos os conceitos já citados, deverá ser maior, o
que exige um planejamento diferenciado.

Uma vez que a equipe e seus jogadores conseguirem entender e interiorizar


a identidade de jogo proposta, os treinamentos e exercícios propostos terão
maior compreensão para todos que o realizam pois os objetivos serão claros
e respeitam as reais dificuldades e objetivos que encontrarão dentro de uma
partida.

Implantar uma identidade de jogo (com posse ou não posse de bola) requer
planejamento, treinamento e tempo para que os jogadores consigam
aprender, realizar e principalmente interiorizar seus conceitos. O apoio por
parte do clube como entidade em um projeto de identidade de jogo deve ser
incondicional para que o objetivo possa ser alcançado independente de
quem o realiza, mantendo um perfil definido mesmo com troca de
treinadores.

A interpretação do jogo a
partir dos tipos de
superioridades
 maio 18, 2017

 Universidade do Futebol

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Antes de iniciar essa reflexão, permita-me me apresentar. Meu nome é
Jonathan e atualmente trabalho como auxiliar técnico da equipe sub-20 do
Clube Atlético Bragantino e como professor na FCBEscola São Paulo.
Sou graduando em Educação Física na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Iniciei minha trajetória como preparador físico do Sev –
Hortolândia na categoria sub-15. Em seguida me transferi para o Clube
Atlético Bragantino onde assumi o papel de auxiliar técnico no sub-15 e sub-
17. Hoje me encontro na mesma função, mas agora na categoria sub-20.
Também sou professor na FCBEscola São Paulo, escola oficial do FC
Barcelona no Brasil, local de constante aprendizado não somente pelos
profissionais competentes, mas também pelo fato de lidar com uma
metodologia de treinamento encantadora e que justifica o histórico vencedor
do FC Barcelona. Feito isso, vamos a reflexão!

Meu objetivo com essa reflexão é proporcionar um modo para a interpretação


do jogo de futebol – dentre inúmeras formas de interpretá-lo – na perspectiva
da superioridade. Tal modelo é essencial para desenvolver o Jogo
Posicional, método de construção do jogo que serve como ferramenta e
filosofia de muitos treinadores e clubes, respectivamente. Tendo como
grande expoente o treinador Pep Guardiola e o FC Barcelona.

Antes de tudo é preciso frisar que no FC Barcelona não existe um modelo de


jogo padronizado, mas sim estruturas de interpretação do jogo de futebol.
Tais estruturas fazem parte do Jogo Posicional, sendo este também um
modo de interpretação do jogo.

O princípio mais importante do Jogo Posicional é buscar em todos os


momentos do jogo (momento com bola e sem a bola) a criação de vantagens
sobre a equipe adversária a partir dos diferentes tipos de superioridades.

Mas quais são os tipos de superioridades?

Pois bem, existem três tipos de superioridades: numérica, posicional e


qualitativa. Estas podem ser identificadas durante todos os momentos do
jogo, porém vou me ater somente ao momento ofensivo nessa ocasião,
apresento as vantagens defensivas em uma outra oportunidade.

A superioridade numérica: visa incorporar mais jogadores num determinado


espaço de jogo que o adversário. Com objetivo de garantir maior número de
apoios e automaticamente mais linhas de passes ao portador da bola.
Podemos identificar esse tipo de superioridade na Figura 1, onde os
jogadores do FC Barcelona estão em maior número que o adversário (Real
Madrid) e o portador da bola possui uma possibilidade maior de conectar
passes com seus companheiros.
A superioridade posicional: os jogadores buscam ocupar os espaços livres
entre as linhas de marcação (ou não) visando receber a bola sem oposição.
É importante dizer que não basta somente estar no espaço vazio para criar
uma superioridade posicional, é preciso ter atenção a alguns detalhes, como:
a perfilação do corpo do receptor da bola, a força e direção do passe do
emissor. Na Figura 2, podemos observar o jogador do FC Bayern de
Munique se posicionando entre as linhas de marcação da equipe do Borussia
Dortmund. Atenção, para o corpo orientado ao ataque do jogador e a direção
(em diagonal) do emissor da bola.

Vale apontar que não necessariamente o jogador precisar estar entrelinhas


para criar uma superioridade poscional, existem outras formas de estabelecer
essa vantagem. Uma delas se dá através de desmarques de ruptura, como
mostra o video abaixo:
A superioridade qualitativa: objetiva criar situações de enfrentamentos
ofensivos 1×1; 1×2; 1×3 em determinados espaços do campo de jogo em
que a equipe consiga criar condições para que os jogadores mais habilidosos
alcançem uma vantagem no confronto sobre o adversário. Na figura 3, o
jogador Douglas Costa recebe a bola (certamente provinda de uma virada de
jogo com um passe longo) em uma situação de 1×1 onde poderá levar
vantagem com seu alto poder ofensivo. Lembrando que poderia ser uma
situação de 1×2 ou 1×3, onde a vantagem ocorre dependendo da qualidade
do jogador.

Existem muitos detalhes técnico/táticos que fazem tais princípios surgirem no


jogo, mas a partir dos princípios das superioridades apresentados acima é
possível interpretar o jogo de futebol (pelo menos em sua fase ofensiva) e
gerar vantagens sobre a equipe adversária desde a perspectiva do jogo
posicional. Além disso, é possível priorizar um determinado tipo de
superioridade durante o treinamento. Tudo vai depender das características
dos jogadores, qualidade técnica da sua equipe e a forma como o treinador
pretende ver sua equipe jogar.

Sem dúvida, são inúmeras as formas de enxergar a lógica do jogo e


nenhuma é mais certa ou errada que a outra. Estaremos sempre olhando o
espetáculo com diferentes óculos e cada um apreciando e decifrando-o com
a ótica que mais lhe agrada.

E você, leitor, como interpreta o jogo de futebol? Quais tipos de superioridade


mais desenvolve em suas equipes?

Um forte abraço e até a próxima!


Reformulando: quando estiveste em Inglaterra foste notícia por
ofereceres pastéis aos jornalistas e por fazeres analogias
engraçadas com frases tipicamente portuguesas. Sentes que isso
mudou a perceção que as pessoas tinham de ti?
Sinceramente, não tanto pelas analogias. A Inglaterra é o país do futebol,
sem dúvida nenhuma, todos nós reconhecemos isso. O futebol tem um
impacto fortíssimo na sociedade, mas não há lá a análise exaustiva que
temos aqui, não há nenhum jornal desportivo em Inglaterra, por exemplo.
Há jornais generalistas com informação desportiva, embora o futebol
esteja intimamente ligado à vida das pessoas, desde as crianças aos idosos
de 90 anos, que adoram futebol e têm paixão pelo jogo. Acho que ser
reconhecido num país destes não é fácil para qualquer estrangeiro, muito
menos para um português. Acho que foi esse reconhecimento que causou
mais impacto aqui, o facto de ainda hoje não haver semana que passe em
que não seja solicitado para fazer algum comentário nos melhores orgãos
de comunicação social ingleses.
A forma como se fala de futebol em Inglaterra é muito diferente de
Portugal?
Não é muito diferente, porque nós temos aqui excelentes analistas e
excelentes jornalistas. Temos jornalistas em Portugal que são
extremamente conhecedores. Mas a forma de abordagem aos profissionais
em Inglaterra é diferente, isso necessariamente muda logo as coisas. As
aparições que tive na televisão de lá, e na rádio, são remuneradas e isso
pressupõe logo que há uma relação profissional entre as partes. Ninguém
está a fazer fretes nem favores a ninguém. Isso é fundamental, é um
princípio que considero muito importante, porque há uma separação entre
o lado profissional e o resto, não estou a fazer um favor a ninguém a ir
falar à Sky. Eu vou à Sky porque me pagam, e bem pago, eu e qualquer
outro colega. Claro que também há relações pessoais, mas a relação
profissional não é confundida com isso. Em Portugal, como disse, temos
excelentes jornalistas e analistas, muitíssimo bons. Mas em Inglaterra não
permitem que haja toxicidade no futebol, porque não há essa cultura na
sociedade. Começa logo na própria ação. Há bem pouco tempo o Bruno
Fernandes teve uma situação de uma tentativa de engano num penálti e foi
altamente criticado pelas próprias pessoas do Manchester United. Isto é
cultural. Não é admissível sequer que haja transgressão à natureza do jogo.
Aqui em Portugal, sabes que estamos a falar de 50% de análises
extremamente completas, ao melhor nível que há no mundo, porque há
gente espetacular a olhar para o jogo, mas depois há os outros 50% de
análises enviesadas, poluídas pela clubite. Isso não tem a ver com futebol,
tem a ver com clubite e quando há clubite fala-se de tudo menos do jogo e
do futebol.

FERNANDO VELUDO
Criticaste a Liga portuguesa no início da época pela falta de jogos e
pela calendarização.
Critiquei o calendário, sim, porque a dificuldade do Rio Ave no arranque
teve a ver com isto. Nós fazíamos dois ou três jogos e parávamos. Isto não
dá. Para nós, treinadores, o grau de aferição das coisas são os jogos
competitivos. É aí que sabemos onde estamos. Não são os treinos nem os
jogos de treino, é nos jogos a sério, porque aí conseguimos aferir as coisas
para conseguir evoluir a equipa. Nessa altura tive alguma dificuldade em
fazer evoluir a equipa porque não tinha referências da competição. Sem
isso, e com paragens de semanas, é difícil.
Mesmo com jogos particulares?
Não servem de aferidor, só o mínimo. A natureza competitiva é diferente,
porque o jogador aí joga sempre nos limites, enquanto nos jogos de treino,
também dependendo do adversário e do resultado, as coisas alteram-se
com muita facilidade. Se compararmos então com Inglaterra,
particularmente no Championship [2ª Divisão]... Lembro-me
perfeitamente de ter começado a jogar a 5 de agosto e no final do mês já
tinha sete jogos. Sete jogos. Já íamos na 7ª jornada em agosto.
Isso também não é um exagero? Ficas sem tempo para treinar, só
recuperas.
Pode ser, mas é uma prova de fogo. Aí é que se vê a importância da pré-
época, num campeonato que tem uma densidade competitiva muito
grande. É muito importante sob a perspetiva de ganhares fundamentos
táticos para a competição. Porque depois de entrares na competição... Se
eventualmente pensasse que ia retificar coisas do ponto de vista tático nas
paragens, chegava ali e não tinha hipóteses, porque tinha seis ou sete
jogadores que iam para as seleções, são os jogadores que normalmente
jogam, que são a base da equipa. Portanto, a base tática que tens de
adquirir logo na pré-época, muito mais do que a base física, é o que te vai
servir de suporte para uma época que nunca mais para, em que há jogos de
três em três dias. É um desafio para um treinador, estamos sempre nos
limites. O Championship deve ser a competição mais dura do mundo.
Falaste-me inicialmente da Premier League mas estou aqui a meter o
Championship porque é uma competição que na minha perspetiva é mais
aliciante, sob o ponto de vista da operacionalidade, para um treinador, até
pela heterogeneidade dos competidores.
Por exemplo?
Por exemplo, jogámos num sábado no Newcastle, fomos lá ganhar 1-0 e
fizemos um jogo brilhante, e na terça-feira recebemos o Rotherham, que ia
em último, que joga um jogo direto, muito físico, e ganhámos com um
golo aos 94 minutos. Ou seja, foi muito mais difícil do que contra o
Newcastle. E preparar uma equipa dentro desta heterogeneidade e ter de
jogar para ganhar os jogos todos, com a densidade competitiva de jogar de
três em três dias, é um desafio para rangers, para comandos, sempre disse
que aquilo não é para meninos. Depois passado um ano - passei dois anos
e meio no Championship - sais de lá muito mais treinador, muito mais
competente, porque tens de estar com os sentidos sempre apurados. Isto
fez parte da minha evolução recente, porque terminas um jogo e vamos
jogar, sei lá, a Londres, e depois estamos a voltar no autocarro ou no
comboio e já estamos com a análise do próximo jogo, de sábado para
terça-feira, o que não nos permite sequer um momento de descanso. Estás
permanentemente em cima do jogo e tu sabes que isto tremendo, porque
um jogo é um desgaste muito grande para um treinador. Aprendes a ter de
gerir isto, a ter de entrar logo no jogo seguinte, a reformular, a não perder
a tua identidade, mas a perceber que o Newcastle te obrigou a jogar numa
perspetiva de o desmontar com um determinado tipo de jogo e a ter de
condicioná-lo de uma forma quando perdes a bola e, passados três dias,
com a mesma base e com os mesmos jogadores, vais enfrentar um
adversário que também tem de ser desmontado mas com problemas
completamente opostos, porque vai jogar direto e procurar segundas bolas
e sob o ponto de vista físico é muito mais forte. Tens de ter a astúcia de
pensar nisto tudo e reformular estratégias. Foi isso que me levou cada vez
mais a pensar que se calhar os sistemas de jogo, aquilo que definimos
como 4-4-2, 4-3-3, na minha opinião, são castradores, porque muitas vezes
é o próprio sistema que castra as dinâmicas das equipas. Hoje chego a essa
conclusão. É a mesma coisa que digo relativamente aos objetivos. Muitas
vezes define-se um determinado tipo de objetivo, mas os objetivos muitas
vezes são castradores, ao contrário do que muita gente pensa.
Porquê?
Por exemplo, nós, no Championship: defines chegar aoplay-off. Mas
imagina que o andamento da competição, com cada jogo que vais vivendo
e vais ganhando, se calhar chegas ao final da época e dizes assim: se não
jogássemos com esta ideia de fundo de chegar ao play-off e tivéssemos a
liberdade de em cada jogo fazermos o jogo da nossa vida, se calhar
podíamos ter subido diretamente à Premier League. No fundo, este
objetivo acabou por ser castrador para a equipa. E eu hoje entendo que não
devo castrar. Não castrei a equipa do Rio Ave. O que disse sempre, e já o
fiz anteriormente, é que nós temos o dever, seja com que adversário for,
seja onde for, lutar pelos três pontos e conseguirmos ser melhores do que
os adversários. Se conseguirmos fazer isto em cada jogo, vamos atingir, no
final da época, o nosso limite. Logo se verá qual é o nosso limite. No caso
do Rio Ave foi o 5º lugar, poderia ter sido o 4º, poderia ter sido o 3º,
poderia ter sido o 7º ou o 8º.

FERNANDO VELUDO
E agora, no Braga?
Vai ser exatamente a mesma coisa. Não quero castrar a equipa com
objetivos. O que quero é uma equipa que seja capaz de olhar olhos nos
olhos para qualquer adversário, em qualquer estádio, para vencer o jogo,
partindo do pressuposto que o jogo mais importante é o primeiro. E a
seguir será o segundo e haverá Liga Europa e haverá outras competições, e
tentaremos ir o mais longe possível em todas.
O que pediu o presidente António Salvador?
Disse-me exatamente isto. O lugar do Braga tem sido nos quatro primeiros
lugares e temos de fazer o nosso campeonato o melhor possível para
chegar o mais à frente possível.
Relativamente ao que disseste sobre os sistemas serem castradores, e
de não treinares assim, o que é algo disruptivo...
[interrompe] É disruptivo.
Quando é que começas a pensar que a operacionalização da tua forma
de jogar não necessita de um sistema como base?
Isto já vem de reflexões anteriores. Quero frisar isto: não estou a dizer que
somos piores ou melhores do que ninguém, atenção. Há muitas formas de
preparar uma equipa, não estamos agora a dizer que descobrimos a
pólvora. Não é isso. A realidade é esta: comecei a treinar com 32 anos e
transgredi completamente. Esta é a realidade. Na altura fui um transgressor
ao método tradicional de treino e os meus jogadores são testemunhas
disso. Comecei a treinar no Espinho de uma forma que nunca tinha
treinado nem tinha visto ninguém treinar assim. Na altura ouvia falar do
Eriksson, que tinha trazido métodos diferentes para o Benfica, mas não
fazia ideia nenhuma de quais eram esses métodos. Tinha a minha vivência
prática e a minha formação com alguém de quem tenho o prazer de ser
amigo, o professor Vítor Frade, que me abriu horizontes relativamente a
muitas coisas, e outras fui construindo por mim. Estamos a falar... Já tenho
54, tinha 32, é só fazer contas [risos]. Já foi há muitos anos.
Nunca treinaste assim enquanto jogador?
Nada, absolutamente. Nunca vivi nada daquilo. Nem vi, sequer. Quando
começo a treinar, elaboro a forma como queria que a equipa jogasse e a
partir dali começo a operacionalizar as minhas ideias dentro do campo
desde o primeiro dia. Foi estranho para os jogadores, sem dúvida. Tive a
felicidade de, na altura, de lidar com pessoas com uma cultura avançada,
que não me questionaram.
Nem sobre a forma física?
Chegaram se calhar a fazer uma ou outra pergunta: "Então e a mata? Não
há corridas?" Preparámos a equipa para jogar e os resultados foram
ajudando, mas evidentemente quando se perde um jogo ou outro há
sempre algum questionamento, mas sempre tudo com muita elevação,
aliás, o Espinho tinha uma escola de dirigentes muito grande, com muita
elevação. Consegui pôr em prática as minhas ideias e os jogadores
absorveram isso muito bem. Isso também aconteceu em Inglaterra. Tive a
ajuda de ter alguns jogadores portugueses lá, o Semedo... E havia um ou
outro jogador que já tinha tido um treinador mais europeu, principalmente
o capitão, o Gleen Loovens, e o Barry Bannan. Mas para a maioria dos
britânicos no Sheffield Wednesday a nossa forma de treinar também foi
uma surpresa. Não foi fácil, no início. Mas, quando começaram a perceber,
principalmente pela qualidade de jogo, porque no primeiro ano o Sheffield
Wednesday foi a equipa que melhor jogou no Championship, isto foi
unânime. No segundo ano nem tanto, também tivemos algumas lesões e o
fator surpresa condicionou-nos, as equipas aí já jogaram mais fechadas.
Mas esse primeiro ano, no fundo, não foi uma transgressão, porque nessa
altura já havia muita experiência como treinador, mas houve algum choque
cultural que foi ultrapassado.
És flexível caso os jogadores te peçam para dar umas corridas, por
exemplo?
Sempre. Chamo isso o treino do melhoral: nem faz bem nem faz mal
[risos]. Quero é que os jogadores façam esse trabalho extra em
consonância com os dias da minha matriz de treino. Imagina, temos jogo
domingo e domingo. Se um jogador quer, na quarta-feira, fazer aberturas
de 60 metros, não permito. Mas permito que faça acelerações e
desacelerações em espaços muito curtos. Se ele na quinta-feira quiser fazer
umas aberturas, permito. Só tem de respeitar a matriz. Daí eu ser algo
crítico em relação aos personal trainers dos jogadores, precisamente por
esta dessincronização, que depois pode ser grave, porque pode provocar
lesões musculares nos jogadores. Dou essa abertura porque acima de tudo
quero que os meus jogadores estejam bem da cabeça para chegar ao jogo e
jogar.
Sempre deixaste que fizessem isso ou foste aprendendo a
compreender?
Posso dizer que sempre fui deixando, se calhar com exceção da Grécia,
quando ainda era um passarinho, um treinador jovem, que não conhecia
bem a mentalidade, se calhar cometi ali alguns erros. Mas aprendi
rapidamente e já chego ao Besiktas completamente diferente.
Por exemplo?
Não tive tempo para conhecer a cultura grega, a forma como eles olhavam
para o jogo e para o treino. Era uma cultura muito virada para o ginásio e
para o trabalho físico, e chegar um treinador e fechar o ginásio e levar a
chave para casa e eles andarem a bater com a cabeça na parede... [risos]. O
não trabalhar o lado físico mais puro foi um choque muito grande para
eles. Entraria hoje muito mais devagar. Por isso é que eu digo que é o
melhoral: hoje em dia temos ferramentas acessórias que são importantes,
como o GPS, e quando tenho um jogador que diz que quer fazer umas
aberturas de 60 metros, às vezes até me dá vontade de rir, porque esse
mesmo jogador fez 30 a 40 corridas de 60 metros no próprio treino, em
situações de jogo. Mas aquelas três ou quatro que ele quer fazer sozinho
fazem bem à cabeça, porque ele tem necessidade de fazer, é a cabeça a
pedir e nós temos de respeitar esse histórico. É o que eu digo: eu quero é
que os meus jogadores estejam bem da cabeça. Se no início da época tenho
uns 10 crentes nisso, se calhar no final da época já só tenho um ou dois
crentes.

FERNANDO VELUDO
Voltando atrás: como surgiu afinal o treinar sobre conceitos e não
sobre sistemas?
Sim, eu estava a historiar isto, por causa da transgressão. Tinha vindo a
falar com os meus adjuntos sobre isso, com o Bruno [Lage], com o Luís
[Nascimento], mas fundamentalmente com o João Mário, que é o meu
braço direito e a pessoa com quem eu mais falo sobre estas coisas: "Ó
João, eu acho que isto é castrador, nós temos de preparar as coisas de
forma diferente." Não só o ir ao encontro das potencialidades do jogador,
mas é procurar uma dinâmica que perceba que o jogo tem adversários
dentro do campo e os jogadores estão com determinado tipo de
posicionamentos, e a nossa ideia, desde sempre, contra qualquer
adversário, é sempre esta: como é que vamos desbloquear o adversário?
Mesmo jogando contra o Manchester City, contra o Liverpool, contra o
Arsenal. Ganhámos ao Arsenal e ao Liverpool e perdemos com o City e
com o United. Mas a intenção é sempre essa. O adversário depois pode é
não permitir que consigamos isso, pela sua valia, isso é outra coisa. Nós
olhamos para o campo, para o tabuleiro, é a forma como nós olhamos hoje
para o jogo, e vemos jogadores da equipa adversária e procuramos com
bola tentar fazer uma saída limpa desde trás, para chegar à baliza. Eu
consigo hoje ver o futebol sem olhar para os jogadores dentro de um
sistema, mas dentro de uma dinâmica onde identificamos as falências do
adversário, relativamente a determinados espaços, ou onde nós podemos
criar a abertura de determinado tipo de espaços, até em função das
características dos adversários.
Por exemplo?
Um central que faz com facilidade encurtamentos [no avançado
adversário] e abandona a posição e abandona o espaço, ou então um
central que funciona em recuo permanente e vai abrir o espaço à frente
dele, ou um lateral que fecha mal o espaço interior, ou uma equipa que só
tem um pivô e liberta os espaços à esquerda e à direita dele, ou uma equipa
que joga com duplo pivô com um jogador à frente, e há espaço à direita e à
esquerda dele, ou os avançados da equipa adversária que pressionam à
frente e somos nós que temos de saber como criar o espaço, ou uma equipa
que não tem capacidade de pressão à frente, então os espaços já estão
conseguidos por natureza... Hoje em dia nós vemos o jogo assim e isto não
tem muito a ver com o sistema, tem a ver com os espaços que se libertam e
com os espaços que nós vamos criar. Depois tem a ver com a forma como
vamos atacar os espaços e como é que vamos criar as dinâmicas. E no
meio de tudo isto há uma coisa que é fundamental, que eu acho que é a
pedra filosofal de qualquer treinador: é conseguir que tenhamos dentro do
campo 11 jogadores a olhar uns para os outros. Isto é o mais difícil, é
conseguir que os jogadores estejam a olhar uns para os outros, a jogar em
interdependência. Só assim é que nós conseguimos funcionar para
aproveitar os espaços, criar roturas no adversário, entrar por dentro das
equipas adversárias... Penso que sabes que houve uma análise, acho que
da Goalpoint, que disse nós éramos a sexta equipa na Europa que fazia
mais passes verticais e isso tem muito a ver com isto que te estou a
explicar, e com a dinâmica que nós criamos no treino. O que dizia a
análise é que somos uma equipa de posse, mas dentro da posse fazemos
muitos passes verticais para entrar dentro da equipa adversária. É
exatamente isto, é provocar espaços, para entrar dentro, para ir para fora,
para tornar a vir para trás, para tornar a entrar dentro, para ir por fora, para
criar roturas... Andamos permanentemente a tentar fazer isto ao adversário,
a puxá-lo, a levá-lo para fora, se ele fecha fora, a entrar para dentro, se
fecha dentro, vamos para fora, se abre atrás, exploramos as costas...
Pronto, começamos a perceber que o jogo se calhar faz muito mais sentido
assim e isto é uma rotura na nossa própria visão sobre o jogo, sem dúvida.
Foi por isso que vieste para o Rio Ave?
Nós tínhamos alguma certeza de que isto iria funcionar e daí também a
nossa opção pelo Rio Ave. Obviamente pelo próprio Rio Ave, que
sabíamos que tinha uma estrutura calma, com o presidente António
Campos, que é sem dúvida um grande presidente, com pessoas à volta que
também percebem de futebol. É uma estrutura leve mas que suporta muito
esta situação, sem grande pressão. Entendemos que o Rio Ave seria o sítio
ideal para a rotura da forma de preparar a equipa. Essa proposta foi
lançada aos jogadores logo de início, foi uma proposta ousadíssima. No
início, por não haver muitos jogos e pela proposta ser muito ousada houve
alguma dificuldade, porque o Rio Ave à 7ª ou 8ª jornada andava ali no
meio da tabela.
Como reagiram os jogadores?
Ter um capitão de equipa como o Tarantini é um privilégio, porque tem
sentido crítico. Recordo-me perfeitamente que ele um dia veio ter comigo:
"Ó mister, você não acha que isto é uma proposta de jogo demasiado
ousada para o nível do Rio Ave? Você veja lá, pá. Estou a ver malta com
algumas dificuldades..."

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Sentiste os jogadores desconfortáveis?
Ele veio alertar-me, mas eu estava a sentir evolução. Mas percebia que
aquelas eram preocupações legítimas, porque era de facto muito ousado.
Também há jogadores que fazem e não refletem muito sobre o que
estão a fazer.
Pois, mas tiveram aqui um challenge muito alto e foram obrigados a
perceber o jogo. Esse era o desafio. Porque sem perceber o jogo...
Não podiam só decorar o que tinham de fazer na respetiva posição.
Exatamente. Tinham mesmo de perceber o jogo. Isto foi o desafio que
lançámos e isto não é fácil. Partir de uma situação estereotipada, em que
eu sou o defesa esquerdo e a minha função é defender o corredor e fechar
dentro, é uma coisa, outra é de repente ter de atacar por dentro, equilibrar a
minha equipa como um médio, ter de fechar como terceiro defesa,
construir a três, ir à linha cruzar... E isto é só o plano do defesa esquerdo.
Ou seja, é tudo muito mais complexo, vai muito além do sistema, do 4-3-3
ou do 4-4-2. Numa linha de quatro ou de três, fecho, abro, faço
movimentações aqui e ali, ok. Mas é muito para além disto. É saber fechar
a três, fechar a quatro, abrir a quatro, abrir a três, fazer o corredor quando
for necessário, mesmo jogando a três, entrar pelas equipas adversárias
dentro para chamar médios para jogar; quando estamos a atacar, se houver
necessidade, equilibrar a equipa como médio, entrando no espaço interior
e equilibrando no momento da perda da bola, em função do adversário...
Evidentemente este repto criou algum questionamento, como esse do
Tarantini. Aliás, aproveitei logo esse dia para falar com os jogadores:
"Olhem, o Tarantini veio falar comigo, passa-se isto e isto, e neste
momento apesar de saber que os resultados não estão a ser os melhores, sei
que os indicadores estão a ser excelentes. Há uma evolução, estamos perto
de conseguir isto e não vamos abandonar isto. Vamos continuar a insistir
porque sabemos que vocês são capazes de lá chegar." E conseguimos.
Chegámos a um ponto de maturidade de tal forma alto que houve uma
análise bem feita - atenção que refiro as análises quando são bem feitas,
podiam ser críticas e não elogiosas - que disse que o Rio Ave era uma
equipa completa, e de facto foi esse o desafio que nós lançámos aos
jogadores no início.
Mas essa ideia vem de onde?
Isto veio de onde? Veio um bocadinho... Mais uma vez digo que não
estamos aqui a dizer que descobrimos a pólvora. Quando nós jogámos - e
ganhámos - ao Liverpool, eu disse que o Liverpool tinha condições de
discutir o título naquela altura, apesar de ter de melhorar, na minha
opinião, no ataque posicional, que foi onde evoluíram depois. De resto,
defende muito bem, transita defensivamente bem e ofensivamente então é
a melhor equipa do mundo, só o ataque posicional não era tão forte.
Quando jogas com o Manchester City, vês que a equipa ataca muitíssimo
bem, defende muito bem, equilibra-se muito bem e nas transições são
fortíssimos: muito candidato ao título. Jogámos com o Chelsea, idêntico
também, por ser uma equipa muito equilibrada em todos os processos.
Jogámos com o Tottenham, e é engraçado, porque até perdemos, em casa,
mas era uma equipa competentíssima a atacar, competente a transitar
ofensivamente, mas não defendia muito bem, principalmente quando
perdia a bola, porque era uma equipa pouco equilibrada. Notavas
claramente que aquela equipa não podia lutar pelo título em Inglaterra
porque tinha aquela debilidade. Isto faz-nos refletir. Porque uma equipa
para conseguir um objetivo alto não pode ser uma equipa que só seja boa
na posse de bola - isto é limitador. É tão limitador como uma equipa que
defende muito bem e só joga em transições, porque acabas por ter um
padrão, mas vais esbarrar, em algum momento, quando lutas por um
objetivo alto. Uma equipa que luta por alguma coisa alta tem de ser muito
forte em tudo: nos esquemas táticos, a atacar muito bem, a defender muito
bem e muito forte nas transições. Tem de ser uma equipa o mais completa
possível. À escala, eu creio que o Rio Ave fez isso. O Rio Ave era uma
equipa que sabia fazer tudo, fazia tudo isto. Esta foi a proposta que
lançámos no início do ano: sermos uma equipa que sabia fazer tudo bem.
Vimos o Rio Ave a atacar em 4-2-3-1, 4-4-2, 3-4-2-1, a defender em 4-
4-2 e em 5-4-1...
A defender com cinco, salvo erro, foram só duas vezes.
Com o FC Porto e com o Sporting de Braga.
Declaradamente, sim.
Todas estas variantes são difíceis de treinar, para os jogadores. No
início, não te baseias num sistema para operacionalizar? Começas por
onde?
No treino, começo sempre por ter a bola. É assim que preparo as minhas
equipas. Depois a forma de conseguir chegar a isto, não é por milagres, é
pelos exercícios. Exercícios que, ao contrário do que muita gente pensa,
não são extremamente complexos, são extremamente simples, porque eu
acho que a simplicidade das coisas permite um melhor entendimento. O
futebol acaba por ser um jogo simples. Antes do confinamento, o Rio Ave
acedeu a que fossem lá umas pessoas assistir aos nossos treinos e eu senti
que no final havia ali mais necessidade de perguntar sobre o que viram,
porque acabam por ver coisas extremamente simples. "Como é que estes
gajos chegam ao domingo e jogam noutro nível, se treinam estas coisas?"
Sentia a necessidade deles em perguntarem o que nós tínhamos como
objetivos, o que queríamos dali. Isso é o fundamental. Há duas coisas
importantes no treino, na minha opinião. É teres exercícios simples, que te
permitem jogar a um nível elevado, o que é difícil, porque pôr os
jogadores a pensar em demasiado sobre as regras do exercício significa
que enquanto estás a pensar em regras limitas o teu futebol. Quanto mais
abertos forem os exercícios e permitam arranjar soluções para resolver os
problemas, melhor. É melhor do que estares a condicioná-los.
Então não explicas um exercício dizendo, por exemplo, "vamos fazer
isto para atacar a profundidade"?
Isso fazemos, sim. Os exercícios têm objetivos, mas depois a dinâmica do
exercício é que faz com que os jogadores cheguem a determinadas coisas.
Depois há um outro aspeto que é cada vez mais fundamental, que é o grau
emocional que tens para fazer - creio que não vou dizer um palavrão - o
que se chama um marcador somático. Vamos imaginar que tu estás a fazer
um determinado tipo de exercício, em que tens os mesmos jogadores e as
mesmas regras do que eu, que estou a fazer o mesmo exercício ao lado.
Mas o meu marcador vai ser diferenciado do teu. Ou seja, nós procuramos
que os exercícios sejam completos, que não se esgotem só no momento de
atacar ou só no momento de defender. Imagina que estou a contemplar a
organização ofensiva, mas o exercício contempla também a perda de bola
e a recuperação do posicionamento. Assim torna-se um exercício mais
completo, porque o jogo é contínuo, é fluido, não se esgota. Procuramos
dar o máximo de continuidade aos exercícios, pelo menos a 90% deles.
Mas, como eu dizia, aquilo que me vai diferenciar de ti, que estás ao lado a
orientar o mesmo exercício do que eu, é o marcador que vais dar em
determinada altura. O que é que quero dizer com isto: é o feedback que
vais dar em determinado momento, em que vais dizer "bem", "muito bem",
"é isto mesmo que eu quero", mas de uma forma emocional. Este captar de
emoções sobre aquilo que tu queres marcar é determinante nos exercícios.
No fundo, é dar um feedback positivo sobre uma coisa que acontece no
treino e que é exatamente o que tu queres, de uma forma que toda a gente
perceba que o treinador ficou extremamente satisfeito com aquilo. Porque
no jogo, quando aquilo acontecer - é isso que se chama um marcador
somático -, a intervenção que tiveste foi de tal forma positiva
emocionalmente que quando aquilo acontece, o jogador instintivamente
vai buscar aquilo e é dentro daquilo que ele decide. Não vou dizer que faz
exatamente igual, porque as situações de jogo são abertas e nunca
acontecem exatamente as mesmas, mas é dentro do plano. E essas
situações são muito importantes para marcar. Eu percebo o alcance da tua
questão, queres ir mais a fundo para perceber a forma como nós
operacionalizamos isto. Mas volto a dizer: é olhar para o tabuleiro, onde
tens 11 peças e o teu objetivo é desmontar aquelas 11 peças para conseguir
chegar ao golo [ver o vídeo mais abaixo]. Temos de nos movimentar de
forma a conseguir uma saída limpa a partir de trás e chegarmos juntos, se
possível, à baliza adversária. Isto pressupõe, acima de tudo, criar espaços,
atacar espaços, atacar defesas, buscar espaços, libertar espaços por dentro
e por fora - é saber fazer isto. No fundo, isto é tão simples que às vezes
penso: como é que não cheguei a isto há mais tempo?
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Este Ainda
assim, pode parecer complexo.
Não, acaba por ser simples. Neste momento é simples verificar
isto. O adversário aperta-nos as linhas, então dá espaço atrás. Não
posso, no meu plano de jogo, andar uma semana inteira a dizer
que este adversário aperta as linhas e nós temos de desmontar as
linhas explorando o espaço nas costas. Não é assim. Porque isto
dura cinco minutos. O jogo começa e cinco minutos depois, na
segunda vez em que lançarmos uma bola para as costas da linha
defensiva adversária, a linha já desceu 20 metros. E se tu não tens
competências, e se através do treino não colocas os teus
jogadores a raciocinar que o problema do jogo afinal já é diferente,
o teu plano de jogo esgota-se em cinco minutos. É tudo isto que
acho que é importante o jogador incorporar, é perceber o jogo,
perceber onde estão os espaços e agir em conformidade. Isto
obriga a pensar, obviamente.
Isso já te aconteceu?
Olha, um jogo de que me lembro perfeitamente, aqui em Braga.
Viemos aqui com o Besiktas, ganhámos 2-0 e jogámos com o
[Ricardo] Quaresma a ponta de lança, não jogou o Hugo Almeida
nesse jogo. O que é que nós tínhamos verificado: a linha defensiva
do Braga, sempre que nós ganhávamos a bola, recuava. Então
colocámos ali o Quaresma porque vinha sempre buscar a bola
entre linhas, quando eles recuavam. Ele fartou-se de receber bolas
ali e depois lançava o Simão pela esquerda e lançava já não me
lembro quem pela direita. Surpreendemos o Braga e fizemos dois
golos assim. Nós tínhamos um conhecimento profundo da equipa
do Braga, era o Leonardo Jardim o treinador, e quando jogámos na
Turquia, o Braga surpreendeu-nos. Jogou com a linha defensiva
em cima do meio-campo e estabilizou-se ali. Nunca o tinha feito.
Tivemos uma dificuldade tremenda, lá está. Porquê? Porque nos
preparámos para jogar num espaço entre linhas que agora já não
existia. E não houve resposta para conseguirmos fazer coisas
diferentes.
Hoje já não aconteceria?
Hoje isso já não aconteceria. No Rio Ave isto não aconteceria. A
partir do momento em que nos apertavam à frente, nós dávamos
resposta para ir buscar atrás. E se eles iam atrás, nós daríamos
resposta para ir buscar o espaço entre linhas. Percebes? Portanto,
no fundo, diria que é colocar os jogadores a pensar. No final da
época, nós temos como rescaldo disto os jogadores do Rio Ave
muito valorizados. Aliás, têm feito capas de jornais todos os dias. E
digo-te que este foi um ponto de partida, não foi um ponto de
chegada. Senti, com toda a sinceridade, que o Rio Ave foi
um upgradeem relação ao passado e este é um novo começo.
Porque a ideia de transgredir no Rio Ave em função disto que estou
a dizer, dizia também respeito à nossa própria motivação, enquanto
equipa técnica, para nos prepararmos para o futuro, para tentarmos
evoluir e fazer coisas diferentes. Porque nós também necessitamos
de estar constantemente em evolução e com novos desafios,
senão também nos desmotivamos.
Mas, fazendo de advogada do diabo, como é que consegues
uma equipa com uma identidade clara e um modelo claro, se
ela joga de uma maneira e de outra?
Porque essa é a identidade.
Jogar de várias maneiras?
Essa é a identidade. A nossa identidade é a flexibilidade. Fizeram-
me uma questão pertinente um dia destes, num fórum.
Perguntaram-me sobre o peso da estratégia no nosso jogo. Eu
respondi assim: o peso da estratégia é todo e nenhum.
Porque os constrangimentos que o adversário pode
apresentar já estão contemplados dentro do próprio modelo?
Eu digo que o peso é todo, porque nós vamos à busca dos
espaços quando temos bola, porque sabemos que o adversário os
dá ou porque vamos provocá-los para desbloqueá-los. Por
exemplo, o Arsenal deixa espaços diferentes do Brighton, nós
sabemos isto. Mas, ao mesmo tempo, as dinâmicas que nós temos
e o nosso sentido posicional não se altera ao fazer isto, porque nós
temos uma dinâmica que assenta num bom sentido posicional. Tu
não vias os jogadores do Rio Ave muito fora da posição. Vias era
dinâmicas diferentes, de jogo para jogo, mas elas fazem parte do
treino e da própria identidade. Na parte defensiva havia maior
rigidez, porque aí não há muita criatividade.

Carlos Carvalhal recebeu o Expresso no Estádio Municipal de Braga, antes de partir


para umas curtas férias com a família, já que o Braga começa a época 2020/21 a 13
de agosto

FERNANDO VELUDO
Dá-me um exemplo. A equipa está a iniciar a construção por
trás e onde é que está o estímulo para decidir de que forma
vão construir? Se a dois, a três, se vem um médio, um lateral...
Sim. Nós vamos para um jogo e vemos que, pelas nossas análises,
o adversário não tem capacidade de pressão. E nós normalmente
até saímos a três a jogar...
Aí saem a dois?
Vamos sair a dois. E depois os jogadores criam dinâmicas... Mas
as dinâmicas podem ser bloqueadas, certo? Vamos sair a dois,
mas bloqueiam-nos as saídas. Então os jogadores percebem que a
saída está bloqueada e aparece o terceiro homem. Mas o terceiro
homem não tem de ser necessariamente o mesmo. Porque muitas
vezes se sais sempre com o mesmo, os adversários - nós temos
excelentes treinadores em Portugal, que fazem isto muito bem -
bloqueiam-te a saída do terceiro homem. Mas se a saída do
terceiro homem estiver bloqueada, pode haver um outro terceiro
homem, não tem de ser necessariamente aquele. Podes dar
alternância a isto. Agora, os jogadores têm é de estar muito bem
posicionados. Lá está, é a capacidade de conseguirem olhar uns
para os outros. Porque se tu jogas com dois médios e se tiras um
médio da linha média para vir atrás construir, ficas só com um
médio. Mas tens dois interiores, certo? Esses dois passam a ser o
médio. E se isto acontecer e já tiveres o lateral a atirar-se em
profundidade, então tens um ala que não pode estar no corredor,
tem de vir para o espaço interior - têm de olhar uns para os outros.
Então o espaço que era ocupado pelo interior, que passou a ser
médio, é ocupado pelo ala que veio para dentro. Agora, tens é de
operacionalizar isto, certo? É o mais difícil [risos]. Agora, não tem
necessariamente de ser com um sistema nem tem de ser sempre
com os mesmos. Têm é de olhar uns para os outros e nós temos
de criar exercícios para que isto aconteça. Se um vem, quem é que
vem, quem é que vai. Os espaços têm de estar ocupados, porque
se tu rodas à esquerda e se o teu interior direito não te baixa, a
bola não roda para a direita, vai bloquear o jogo ali. É perceber isto.
Lá está, tens de ter capacidade de pôr os jogadores a pensar sobre
isto e de ter exercícios que possam ter isto. É um pensar até mais
de intuição, porque quando colocamos um jogador a parar para
pensar, esta fração de segundo já serve para perdertimings que
são necessários. Portanto isto entra no domínio já do
subconsciente, na dinâmica dos exercícios, no estarmos ligados
uns aos outros. Uma das situações que me ocorreu... Nós fomos
jogar ao Manchester City, com o Swansea, e eu, na brincadeira,
disse para o João Mário, o meu adjunto: "Ó João, f... conseguimos
aguentar cinco minutos sem estar a perder" [risos]. E começámos a
rir os dois. Ao sexto minuto, há uma bola larga do lateral direito que
se mete para dentro, e o De Bruyne, que era o interior direito,
estava aberto na esquerda, depois faz um passe interior e resulta
dali um golo. Lá está... Até pedi o iPad para ver aquilo. Comecei a
olhar para aquilo e vejo que fizeram uma superioridade numérica
de quatro contra três no lado esquerdo. "Mas este gajo é interior
direito e aparece-me ali no corredor esquerdo?" Isto deixa-nos a
refletir. Não é o nosso caso, porque não colocamos o nosso interior
direito na esquerda, não fazemos isso. Mas esta situação de tu
lidares com a imprevisibilidade do adversário, com a qual não estás
a contar, desmonta-te.
Por exemplo?
Um exemplo concreto: fomos jogar ao Boavista. A intencionalidade
era sair a jogar a três. O que é que nós queríamos? Queríamos
que os jogadores do Boavista se referenciassem por nós, de forma
mais individualizada. Quando eles fizessem isso, o que é que nós
íamos fazer? A partir de determinada altura, ali pelos cinco
minutos, nós íamos abandonar a linha de três e íamos começar a
jogar a dois, atirando o nosso lateral esquerdo em profundidade.
Para quê? Para confundir, em função do relacionamento individual
que os jogadores tinham connosco. Desestruturávamos o
adversário pela surpresa da dinâmica diferente que queria colocar.
Mas disse aos jogadores: "Se sairmos a jogar a três e se
eventualmente estivermos por cima do jogo, não alterem para dois,
deixem estar." Porque estaríamos a construir algo de positivo e não
haveria essa necessidade. Mas se eles se referenciassem e
bloqueassem o nosso jogo, aí sim, começávamos a arranjar
alternância. O que é que aconteceu no jogo? Nós saímos a três, os
jogadores do Boavista referenciaram-se, mas não fizeram pressão
sobre os nossos três defesas como estávamos à espera. Então,
estávamos com bola, estávamos confortáveis e eu não disse nada
para dentro do campo. Os jogadores sentiram-se bem e não
alteraram nada. Se eventualmente o jogo fosse bloqueado, eu não
tinha de dizer nada, os jogadores estavam preparados para alterar
dinâmicas a partir de trás, para sair.
Mas tens dinâmicas que são padrão contra qualquer
adversário, certo? Os alas receberem por dentro na
construção ou prepararem-se para receber segunda bola
quando há lançamento aéreo para o avançado, por exemplo?
Sim, mas isso já são sub-dinâmicas. São situações que nós até
nos aquecimentos aproveitamos para fazer. A busca do terceiro
homem, por exemplo, ou o aclaramento de jogadores pelas
costas... Já são sub-dinâmicas que são treinadas, é a natureza do
teu jogo. Estruturalmente nós temos um padrão que nos define.
Agora, o jogo é feito de espaços e tu queres desestruturar as
equipas adversárias, por isso tens de aproveitar os espaços ou
criar os espaços. Nós jogamos com isso, essencialmente. E não
perdemos posição, atenção. Porque isto poderia ser feito de uma
forma caótica. Como o De Bruyne aparecer aberto na esquerda.
Nós não temos muito isso, procuramos que os jogadores
mantenham o sentido posicional, com o jogo a ter largura e
profundidade suficientes, e dinâmica suficiente para chamar
jogadores e libertar outros.
Por exemplo, contra o Sporting, esses movimentos de apoio e
aclaramento deram em jogadas de golo.
E porquê? Porque o sentido era puxar jogadores do Sporting para
nos virem pressionar, tentar fazer movimentos verticais para apoio,
para libertar os nossos jogadores que têm características para
aproveitar o espaço, nomeadamente o Mehdi [Taremi], que caía,
naquele jogo, fundamentalmente para a esquerda. E nós, para
libertarmos o Mehdi, tínhamos de chamar a atenção do lateral
direito, para ele estar condicionado. Lá está, é a tal situação dos
espaços. O nosso ala podia estar eventualmente em profundidade,
mas queríamos que viesse em apoio para libertar o espaço, para
deixar o Taremi em situação de um contra um contra o central
direito do Sporting. Aí, com uma defesa subida, sabendo que o
Mehdi é muito rápido, a bola podia entrar nas costas. É mais uma
situação de aproveitamento dos espaços que o adversário deixa,
mas tens de saber criá-los. Se o nosso ala estivesse em
profundidade, então o defesa direito adversário estava em
coordenação mais fácil com o central. Como tu puxas o adversário,
neste caso em função do posicionamento do Nuno Santos, para
mais baixo, das duas umas: ou o lateral acompanha para
pressionar, ou não acompanha e o Nuno recebe a bola no pé.
Também podia acontecer o ala vir dentro, tocar no médio e ser ele
a lançar o Mehdi, porque o Sporting na altura tinha as linhas
subidas. Lá está, isto não tem nada a ver com o sistema, tem a ver
com o puxar jogadores e libertar jogadores para outras coisas.
A questão é que, habitualmente, tendo um sistema como base,
os jogadores já sabem onde têm os colegas. Assim, como
fazem?
Essa é uma boa questão. O jogador está sempre lá: pode é não
estar o Manel e estar o Joaquim. Mas está sempre lá um jogador,
daí eu dizer-te que nós mantemos a identidade. "Ah eu não sei se
o Manel está lá". Pois não, mas se o Manel não estiver, está lá o
Joaquim. Garanto-te a ti. E se o Joaquim está no posicionamento
do Francisco, estará o António no posicionamento dele. Volto a
dizer: não estamos aqui a vender que somos a melhor equipa do
mundo. Temos as nossas ideias e a nossa personalidade, e temos
inteligência suficiente para perceber que o jogo está sempre em
evolução e temos de evoluir. Se pararmos no tempo, ficamos iguais
aos outros e nós não queremos ser iguais aos outros, queremos
ser diferenciados. Foi um risco, foi novo, mas tínhamos convicção
de que isto iria ser bem sucedido. Independentemente de
conseguirmos chegar à Europa. Porque o que eu sei é que nós
ainda não tínhamos conseguido chegar à Europa e já havia muita
gente de fora a querer comprar, entre aspas, o conceito do jogo do
Rio Ave e isso para mim foi uma satisfação muito grande. Foi a
forma de jogar do Rio Ave que começou a ser vista e houve
conversações e convites, e aquilo que nos disseram foi que isso
não teve a ver com a classificação: "Nós gostámos muito da forma
de jogar da sua equipa e gostávamos que a nossa equipa jogasse
como o Rio Ave joga".
Relativamente ao que disseste sobre as características
individuais dos jogadores, se tiveres, por exemplo, alas que
têm dificuldade em jogar por dentro, entre linhas, e enquadrar
naquele espaço, como fazes?
Boa pergunta também. Estás a fazer boas perguntas hoje [risos].
Se analisares a evolução do Rio Ave, vais ver o Nuno Santos a
jogar na direita, a vir para dentro, na esquerda, a vir para dentro, e
depois vai chegar uma altura em que vês o Nuno Santos aberto na
esquerda. Encontrámos o espaço do Nuno, ou o Nuno encontrou o
seu espaço, dentro da nossa forma de jogar. Passou a jogar no
lugar em que estava mais confortável e nada melhor para um
jogador do que jogar no sítio e nos espaços em que se sente mais
confortável. Nós levaríamos anos a pôr o Nuno Santos a ser um
bom jogador no espaço interior. Mas conseguimos, num ano,
potencializar o Nuno Santos a jogar por fora a um nível
elevadíssimo. Por exemplo, muitas vezes há a ideia de conseguir
fazer com que um jogador que não é rápido, fazendo muitos treinos
de velocidade, melhore. Ele vai melhorar 0,5% em dois anos de
trabalho, ou 1%, para ser otimista. Muitas vezes um jogador tem na
sua natureza um determinado tipo de características, nas quais ele
pode ser muitíssimo bom, e se nós o metemos a jogar onde ele
está desconfortável, nunca será um bom jogador. Esse é um bom
exemplo. O Nuno teve essa passagem e rapidamente acabou por
jogar no sítio onde acho que ele é diferenciado, que é no corredor
esquerdo.

CARLOS RODRIGUES/GETTY
Por falar no Nuno Santos, penso que foi ele contra o Sporting
de Braga e o Diogo Figueiras contra o FC Porto a descerem
para formar uma linha de cinco a defender. Porquê?
Olha, nesse jogo com o FC Porto não jogou o Diego, que
normalmente era o nosso interior esquerdo, e em função disso
jogou o Pedro Amaral, salvo erro, a lateral esquerdo, e o Nuno a
interior esquerdo. E o que é que nós fizemos: jogou o Figueiras,
sim, a fazer o corredor direito, mas o Figueiras tinha dois
momentos distintos. Havia o momento em que o FC Porto estava
com a bola no guarda-redes ou na linha defensiva, em que o
Figueiras avançava para jogar como ala, para tentarmos
condicionar o FC Porto. Mas se o FC Porto tivesse a capacidade,
como teve, várias vezes, de conseguir passar esta primeira linha
de pressão, o Figueiras adotava outro comportamento, que era vir
para a linha defensiva, fazendo uma linha de cinco.
E porquê?
Porque entendemos que jogar com três atrás, naquele jogo... E
fizemos uma alteração estratégica, o que não é muito comum, mas
jogámos com o Toni [Borek] a central do lado esquerdo, ele
normalmente joga na direita. Porque o posicionamento do Marega
era pela esquerda e ele é extremamente rápido a criar
desequilíbrios, por isso o Toni, que é um central rápido, jogou pela
esquerda. Foi bastante eficiente no que tinha de fazer. Depois o
Marega até foi para o outro lado, mas ele do outro lado não é tão
perigoso como a jogar na direita. Entendemos que era importante
ter a linha de cinco a defender e a atacar, nesse jogo,
fundamentalmente a atacar, para desestrurar o FC Porto. Mas
percebemos que poderíamos jogar demasiado baixos se muito
rapidamente viéssemos para a linha de cinco. Se fizéssemos a
linha de cinco a qualquer momento, o FC Porto ia instalar-se no
meio-campo ofensivo e a intenção não era essa, era manter a
matriz. Por isso é que adiantámos o Figueiras e ficávamos com três
jogadores na linha ofensiva, como gostamos de estar, e com mais
três médios, e instalávamos no meio-campo adversário para tentar
condicionar a primeira fase deles o máximo possível, sustendo ali o
adversário o máximo possível. Mas também é importante notar isto:
tens a capacidade de ser altamente pressionante e passado dez
segundos sabes defender em bloco médio/baixo e tens uma
eficiência muito grande a fazê-lo. Da mesma forma que o Figueiras
pressionava, se passassem a linha de pressão, baixávamos as
linhas e ficávamos juntos e difíceis de sermos batidos, dez
segundos depois. Agora as respostas ao ganho de bola também
são completamente distintas.
Dependendo da zona do campo?
Uma coisa é ganhares bola perto da baliza adversária e teres
ações de acordo com isso, mas não é por seres uma equipa de
posse que cada vez que ganhas uma bola e estás no teu meio-
campo defensivo és obrigado a fazer um passe para trás, para os
centrais, e sair limpinho a jogar, etc. Não. Por isso é que digo que
queremos ser uma equipa completa. Podemos ser uma equipa de
posse e gostar de ter a bola, mas se as circunstâncias do jogo nos
obrigaram a jogar em baixo, temos de ser fortes a transitar, porque
temos espaço e jogadores para transitar ofensivamente, portanto
vamos aproveitá-lo. Como é que se treina isto? Dá muito trabalho
[risos]. No fundo, é fazer, no treino, e pôr os jogadores a pensar e a
pressionar num bloco médio, a baixar... Volto a dizê-lo: é a
simplicidade de ter os jogadores todos a olharem uns para os
outros.
Mas tens de treinar tudo: formas de entrar em blocos baixos,
como atacar a profundidade...
Sim. Nós dividimos as coisas assim, já o fazemos há muitos anos:
tenho um treinador focado na organização defensiva, que é o João
Mário, depois o Sérgio [Ferreira] está mais vocacionado para a
dinâmica ofensiva, o João Mário mais para as transições
defensivas e o Sérgio mais para as transições ofensivas. O [João]
Meireles fica na parte inicial que, como já te disse, dá para
perceber que está conectada com a nossa forma de jogar, porque
nos aquecimentos já há alguns indicadores de sub-dinâmicas.
Assim como o treinador de guarda-redes está intimamente ligado
com o nosso processo defensivo. Só para te dar um exemplo desta
ligação: nesse jogo que referiste, do FC Porto, sabes quanto é que
correu o Pawel Kieszek, o nosso guarda-redes? Normalmente os
defesas correm nove ou 10 quilómetros...
Cinco quilómetros?
Correu 7.7 quilómetros. E não correu a defender, correu a dar
linhas de passe, porque precisámos dele a fazer isso no jogo,
correu a tirar profundidade... Corre sempre muito precisamente
porque também está a jogar. Isto é um trabalho... Chegar, fazer 55
pontos numa equipa como o Rio Ave - que tinha o máximo de 51 -,
atingir a Europa e num ano muito difícil, porque normalmente os 51
chegam para atingir a Europa, jogar ao nível que nós jogámos: isto
só é possível se tiveres bons jogadores, obviamente,
comprometidos, e se tiveres uma ideia evoluída para lá chegar, se
não não tens hipótese. E estabilidade do clube em si, que também
é extremamente importante. Tudo isto levou-nos à melhor época de
sempre do Rio Ave.
Relativamente aos adjuntos, já tiveste contigo muitos
treinadores que agora são treinadores principais.
Tem havido ao longo dos tempos, penso que é normal, alguns
jovens que pedem para observar os treinos. O Bruno Lage e o
Renato Paiva, quando eu estava no Vitória de Setúbal, assistiram
praticamente a todos os treinos da época e quando fui para o
Belenenses também. Isso tem sido recorrente. Já tive o Miguel
Cardoso como adjunto, fui buscá-lo a formação do FC Porto,
também tive o Miguel Leal, depois o Bruno, o Luís Nascimento,
agora o Sérgio... A ideia é sempre ir buscar jovens com talento,
que possam acrescentar à equipa técnica e que ao mesmo tempo
que aprendem venham com espírito crítico, porque trabalhar na
formação é necessariamente diferente de trabalhar no futebol
profissional. O que procuramos fazer é tentar puxar por jovens com
talento e dar-lhes a possibilidade de perceberem como agimos e
interagimos com os jogadores. Percebo que eles trazem coisas
mas também levam muitas coisas e, ao fim de um determinado
ciclo, porque esse é o compromisso, estão com liberdade total para
poderem treinar e seguir uma carreia a solo. Beneficiamos todos e
tenho sabido escolher, porque o critério é muito apertado: o critério
número um é a competência e temos tido pessoas competentes a
acompanhar-nos.

MÁRIO CRUZ
Se eu agora quiser antecipar como é que o Braga vai jogar, o
que é que posso dizer?
O Braga vai jogar com os mesmos fundamentos que tivemos, a
fazer evoluir o que nós começámos. Nós, no Rio Ave, começámos.
Tivemos uma experiência muito grande no passado, mesmo em
competições internacionais, no Besiktas, no Sporting, no Braga...
Sentes-te um treinador muito diferente?
Sim, hoje sinto-me um treinador completamente diferente. A
situação do Sporting e do Besiktas foram importantes sob o ponto
de vista da capacidade de resiliência. Vivi situações nos dois
clubes que fizeram de mim um treinador hiper resistente. Não falo
sobre o ponto de vista tático, estratégico, da preparação da equipa,
nessa altura ainda estávamos em evolução e demos respostas ao
que nos pediram. Creio que o Sporting praticou um grande futebol
a determinada altura, com problemas dentro, mas tenho a
convicção que praticámos um grande futebol e precisámos ali de
um ou outro ajustamento que não foi possível, mas tínhamos uma
equipa boa. O meu Besiktas jogava muitíssimo bem, as pessoas
ainda hoje falam disso, fizemos um trajeto espetacular,
principalmente nas competições europeias. O Sheffield Wednesday
jogava muitíssimo bem, por isso é que ainda hoje tenho algum
crédito, modéstia à parte, em Inglaterra. Foi pela forma de jogar,
não só pela forma de abordagem nas aparições públicas [risos].
Mas há sem dúvida nenhuma aqui um momento, não vou dizer que
é um corte, porque não é, mas é um upgrade relativamente ao
passado recente, que foi agora no Rio Ave, que acho sinceramente
que nos atirou para outro nível. E agora queremos dar sequência a
isso.

FERNANDO VELUDO
Não achas que a tua imagem saiu prejudicada, principalmente
pela passagem pelo Sporting?
Não. Como é que eu vou dizer isto.... Tenho uma relação excelente
com muita gente importante, em muitas áreas. Mas as relações
que tenho são pessoais, têm a ver com a minha natureza. Sou uma
pessoa que não é fácil, neste sentido: estou num clube e se eu
entender que este jogador que eventualmente o clube quer
contratar não interessa, eu digo que não interessa. E sei que
muitas vezes dizer "aqui" que não interessa, depois vai prejudicar-
me "ali". Percebes? Era muito mais fácil para mim, se calhar, sim,
senhor, faz favor, está aqui a passadeira. Eu não faço isso, ajo em
consciência. Às ponho-me a refletir que eventualmente já merecia,
nos momentos em que tenho épocas excecionais, em que ninguém
fez o que foi feito, como Leixões, que vai à final da Taça de
Portugal, Vitória de Setúbal, que vence a Taça da Liga, e agora no
Rio Ave... Ainda agora no final desta época tive convites de vários
países. Mas nenhum veio de um empurrão que poderia ter vindo,
de pessoas que conheço e que me poderiam empurrar. Então eu
faço este trabalho, há análises a elogiar, há equipas estrangeiras a
vir falar comigo, pessoas entusiasmadas com a minha forma de
jogar, e aqui no meu país não tenho alguém que me dê um
empurrãozito aqui e ali, pá, como muitos colegas meus têm? Não
tem a ver com relacionamento, porque o meu relacionamento é
excelente com toda a gente, só que eu não sou uma pessoa
cómoda, percebes? Eu não faço fretes a ninguém. Não estou a
dizer que os outros fazem, mas eu não faço e isso tem prejudicado
a minha ascensão mais rápida. Mas prefiro assim, porque já treinei
na 3ª divisão em Portugal, na 2ª, na 1ª, levei equipas às
competições europeias, nunca lutei pelo título em Portugal porque
não pude, porque quando cheguei ao Sporting a equipa estava em
9º lugar. Treinei em condições estratosféricas no Besiktas, um dia
escrevo um livro sobre aquilo. Estava sozinho ali, com uma língua
diferente, com uma equipa técnica que era do treinador anterior,
que estava preso, e que depois veio da cadeia e queria ficar com a
equipa, mas os adeptos não deixam, ficou como diretor desportivo
mas a querer ser treinador... Foi uma coisa... Depois vou para o
Sheffield, reparam em mim e vou para o Swansea, venho para o
Rio Ave, talvez pela primeira vez, aqui em Portugal, numa situação
em que eu estava hiper confortável, em função do meu passado, e
venho agora para o Braga na mesma circunstância. Chego ao
Braga hiper confortável, muito bem comigo, já com estatuto, mas
nunca levei um catalisador, percebes? E eu deveria ter levado um
catalisador e deveria estar a treinar na Premier League um bom
clube, digo isto com toda a sinceridade, devia estar aí e não estou
porque não tenho catalisador. Mas eu vou chegar lá. Agora vou
fazer dois excelentes anos no Braga e depois volto para a Premier
League. Mas vou por mim, ninguém me vai ajudar. E digo isto com
uma ponta de orgulho, mas ao mesmo tempo sabendo que tenho
uma excelente relação com todos, presidentes, agentes e
jornalistas, mas de cordialidade. Agora, fazer favores, não faço. As
pessoas sabem disso. Mesmo os jornalistas amigos, que às vezes
me pedem uma informação: amizade é uma coisa, profissionalismo
é outra. Sei que vou ser penalizado amanhã e o que estou a dizer é
real, sei que vou ser penalizado. Se calhar uma pessoa menos
bem formada pensa: "Não me deste a informação e agora vou dar-
te aqui uma bicada". Já me aconteceu isto no passado. Faço o
meu trabalho e vou por mim. É como a equipa, é não colocar
limites. Até onde puder ir, é ir. Tem sido um trajeto sinuoso porque
nós gostamos de ir para onde nos querem.
Chegaste a dizer que para voltares a um grande precisavam de
te ir buscar pela mão...
Exatamente. Vim pela mão.
O presidente António Salvador foi a casa buscar-te pela mão?
Foi a casa buscar-me pela mão, metaforicamente, sim. Sem dúvida
alguma. Isso foi determinante para estar agora aqui no Sporting
Clube de Braga. O presidente disse: "Gostava muito que viesses,
és a nossa única opção". E mesmo que tivesse outra, não havia
problema, porque esta seria sempre a melhor, portanto para mim
dava-me igual se havia mais opções [risos]. Estou a brincar.
Também temos de ter a nossa autoestima. Não foi nenhum
empresário, com muito respeito. O presidente tem o meu número,
ligou-me: "Preciso de falar contigo, gostava que viesses treinar o
Sporting Clube de Braga". 90% já estava resolvido. Os 10% foram
os pormenores. No Rio Ave também foi assim, 90% foram pela
chamada do presidente António Campos e o Marco Aurélio é um
amigo de longa data. Para mim, é fundamental entrar num clube
assim.
Dizias que ainda não tiveste uma equipa para lutar por ser
campeão. Com os reforços que o Braga já anunciou, já tens
equipa para isso?
Eu percebo a pergunta e, aliás, vou levar com essa pergunta ao
longo do ano e ser metralhado com ela, mas vou responder sempre
da mesma forma.
Mas é o melhor plantel que já tiveste?
O Besiktas tinha um grande plantel, muito bom também, com
muitos internacionais. E o Sporting também, Moutinho, Veloso,
Liedson, Izmailov - craque... Vou responder-te dentro do que já
disse há pouco: não imponho limites mas também não balizo nada
a longo prazo. Temos de tentar perceber até onde podemos ir.
Agora, o que é certo é que perdemos o Trincão, que vai ser
realmente um jogador de eleição, e eventualmente estou preparado
para perder o Paulinho. Estes dois juntos devem ter feito 40 golos,
convém dizer isto. Vamos ter de colmatar. Mas isto não tira
ambição, estou apenas a descrever a realidade. Vamos tentar
ganhar os jogos todos, jogo a jogo, e ver até onde é que a equipa
pode chegar.
Pensando nessa falta de opções no ataque, pediste ao
presidente para o Taremi vir para o Braga?
Sim, sim, obviamente que sim. Se eu dissesse o contrário, as
pessoas iriam estranhar. Foi um jogador que fui buscar e apostei
nele.
Onde é que o viste?
Via muitas vezes a jogar, porque sigo o Carlos Queiroz, tenho
apreço e amizade por ele, o Irão, e o Mehdi jogava
fundamentalmente da esquerda para dentro. Era um jogador com
características muito boas. Depois vi-o numa viagem que fiz a
Doha, para ver a Aspire, porque havia uma possibilidade de
trabalhar lá e fiquei uma semana. Vi um jogo em que o Mehdi jogou
como avançado e gostei muito dele. Dele e de um guarda-redes
que estava na seleção do Irão. Tentámos os dois para o Rio Ave.
Demorámos quase um mês a convencer o Mehdi a vir para
Portugal. Falei com ele, pedi ajuda ao Carlos Queiroz, ele depois
entrou em contacto com o tradutor, que também deu uma grande
ajuda. Ele queria vir para a Europa, porque ele tinha uma proposta
da ex-equipa do Rui Faria, que era muito alta do ponto de vista
financeiro. Ele é uma pessoa diferenciada. Creio que ele está um
bocadinho para o futebol como eu: gosta do jogo, tem paixão pelo
jogo, não põe o dinheiro à frente, gosta de pessoas que o agarrem
pelo braço e que o tragam, e que o façam sentir. Conheço bem as
pessoas do Irão, são pessoas que falam muito do coração, dizem
muito: "És meu amigo do coração". E ele é realmente uma pessoa
de afetos. Gosta de se sentir desejado e acabou por aceitar vir
para um clube... Com muito respeito pelo Rio Ave, mas era um
jogador com um nível completamente diferente.
Acreditas que vai jogar no Braga?
O futuro não sei. Não o tenho prisioneiro a mim, obviamente. Se
gostava que ele viesse? Sim, muito. Se vier, muito bem,
acrescenta, se não vier, o Sporting Clube de Braga continua a ser
uma grande equipa.
O Gaitán também acrescenta?
Se vier, acrescenta, sim. Tive oportunidade de falar com ele, o que
é importante para perceber o que vai na cabeça do jogador, e vi um
jogador extremamente motivado, cheio de vontade. Conheço bem
o perfil dos jogadores que têm na casa dos 31, 32, 33 anos. Há três
tipos de combustíveis, não é no futebol, é na vida: pessoas que se
movem pelo dinheiro, pessoas que se movem pelo medo e
pessoas que se movem naturalmente, pelo orgulho que têm
naquilo que fazem, independentemente do medo ou de não haver
dinheiro, até para ordenados, e o Gaitán pareceu-me claramente
um jogador deste registo, de orgulho, tipicamente argentino. Estes
jogadores que são grandes jogadores, chegam à casa dos 30 anos
e querem prosseguir a carreira o máximo possível, porque gostam
de jogar e querem mostrar a toda a gente que continuam bem, e
têm até às vezes maior ambição do que miúdos de 18 e 19 anos.
Senti o Gaitán assim.
Foi opinião mais ou menos unânime em relação à época que
passou: tirando o Rio Ave e o Famalicão, talvez as equipas
que mais se destacaram, não houve grande qualidade de jogo
na Liga. Na próxima época, contigo no Braga, com o regresso
de Jorge Jesus ao Benfica e com a entrada de treinadores
jovens, como o Vasco Seabra e o Mário Silva, vês condições
para a Liga ser mais interessante?
Os bons treinadores são bem-vindos. Ainda esta semana estava a
falar com um amigo e pensámos nisto: imagina se 70% dos
treinadores portugueses regressassem a Portugal. Não havia
clubes para todos, obviamente [risos], mas considerando apenas
os melhores treinadores, assim como os melhores jogadores
portugueses que temos no estrangeiro: tínhamos uma Liga top.
Esta é que é a realidade. Ou seja, temos treinadores e temos
jogadores, temos dirigentes, temos bom jornalismo, de análise,
competente, mas tratamos mal o futebol. Nós tratamos muito mal o
futebol. Temos esta pecha, não sabemos valorizar aquilo que
temos de bom, numa indústria que exporta milhões de euros, como
se viu agora com o Trincão, e com o João Félix no ano passado.
São milhões de euros que colocamos no estrangeiro e às vezes
levamos isto de forma leviana. Relativamente à qualidade, os
treinadores são bem-vindos e o regresso de Jesus é bem-vindo,
porque é um excelente treinador, que vai trazer qualidade à Liga,
obviamente. E há também jovens treinadores que querem provar
que têm qualidade. Espero, aliás, tenho a certeza que a Liga para a
próxima época vai ser melhor. Realmente, o nível das equipas que
lutaram pelo título este ano não esteve no habitual. Vamos esperar
que todas as equipas possam produzir melhor futebol, com mais
qualidade, porque realmente não foi um bom ano. O Rio Ave e o
Famalicão, concordo, diferenciaram-se pela qualidade de jogo. O
FC Porto, pelo ganhar, porque também temos de olhar um pouco
para os recursos do treinador, porque gerir os recursos que temos
é uma forma inteligente de conseguir os objetivos. Mas, no geral, a
qualidade da Liga acabou por ser mediana e todos nós temos de
fazer melhor na próxima época.

Em artigo publicado na "The Tactical Room" (A Sala Tática), revista digital


esportiva dirigida por Martí Perarnau, ex-atleta de salto em altura, jornalista
e biógrafo de Pep Guardiola, o técnico Daniel Fernandez destrincha o jogo
de posição trazendo o contexto histórico, as características gerais do
estilo, o comportamento do ponto de vista geométrico e os métodos de
treinamento - você pode conferir o texto, em espanhol, clicando aqui.
Como pontuado por Daniel Fernandez, o jogo posicional é apenas uma
forma de compreender o jogo de futebol. Neste aspecto, vale ressaltar:
não há maneira de atuar correta ou errada, tampouco um determinado
estilo que garanta o sucesso do time em camp... - Veja mais em
https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/lancepress/
2020/11/06/afinal-o-que-e-o-jogo-posicional-l-consulta-especialistas-e-
jornalistas.htm?cmpid=copiaecola

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