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AS LINHAS DE TORRES VEDRAS, 1810

ACTIVIDADE A REALIZAR

Visita a locais que serviram para deter as tropas de Massena durante a 3.ª invasão francesa.
Data: Sábado, 14 de Outubro de 2023; visita com passeio de dia inteiro (manhã/tarde).
Hora e local de partida: 09H00 – auto estrada A8 (área de serviço de Loures – sentido Torres Vedras).
Acompanhada: pelo Coronel Engenheiro José Paulo Ribeiro Berger, professor da cadeira de
Fortificação e Arquitectura Militar, do Curso de Engenharia Militar da Academia Militar.

RESUMO:

Objectivo: Iremos conhecer parte do que serviu para parar a 3.ª invasão francesa no nosso país,

obrigou à retirada de Massena e contribuiu para a inversão do curso do conflito global que

opunha a França a todas as nações que recusavam a sua hegemonia.

Percurso: Lisboa – Sobral de Monte Agraço – Zambujal (Mafra) – Lisboa;

Observações: Aconselha-se o uso de calçado confortável, cobertura de cabeça e protector solar.

Programa:

HORA ACTIVIDADE

09H00 Início da concentração dos participantes na Área de Serviço de Loures (A8).

09H30 Saída para Sobral de Monte Agraço (Forte Grande da Serra do Alqueidão). Início da
visita ao Forte com vista panorâmica das linhas avançada e principal de defesa,
acompanhada pelo Coronel Eng.º José Paulo Berger.

11H30 Visita e apresentação do contexto histórico no Centro de Interpretação das Linhas de


Torres, de Sobral de monte Agraço.

13H00 Almoço no Restaurante Pôr-do-Sol.

15H00 Saída para Zambujal (Mafra); visita ao Forte do Zambujal.

17H00 Fim do passeio.

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AS LINHAS DE DEFESA A NORTE DE LISBOA – LINHAS DE TORRES VEDRAS

O SISTEMA DEFENSIVO DAS LINHAS DE TORRES

O amplo sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras, construído entre Novembro de 1809 e 1812
pela engenharia militar britânica e portuguesa, dividia-se em três linhas defensivas a norte de Lisboa,
mais as fortificações da Península de Setúbal. As duas primeiras reuniam efectivos que totalizavam
130.000 homens, dos quais 70.000 das tropas regulares, artilhadas com quase meio milhar de bocas
de fogo. A terceira linha, em torno de Oeiras, destinada a garantir o embarque do exército aliado,
com uma extensão de 2.700m, dispunha de treze fortificações, guarnecidas com 5.350 homens de
infantaria e artilhada com 94 bocas de fogo. A Sul do Tejo havia mais 20 fortificações entre Almada e
o mar para protegerem a entrada do Tejo e impedirem o bombardeamento de Lisboa.

Entre a primeira e a segunda linha mediava uma distância média de 11km. O quartel-general de
Wellington, comandante-em-chefe do exército aliado, situava-se em Pêro Negro; enquanto o do
general Beresford, comandante do exército português, situava-se em Casal Coxim, e o do marquês de
La Romana, comandante do exército espanhol, estava sedeado na Enxara do Bispo; todos em posição
central em relação à primeira linha.

O sistema defensivo das linhas de defesa baseava-se na ocupação fortificada com redutos nos pontos
importantes e na mobilidade do exército luso-britânico, pronto a acorrer a qualquer posição atacada
pelo inimigo. Dependia da rapidez, eficácia e segurança das comunicações conseguidas pelo uso de
semáforos e de um código de sinais em uso na marinha inglesa.

O sistema defensivo construído para proteger Lisboa abrangia as defesas da Península da Arrábida e a
linha de defesa que se estendia de Almada até à Caparica, constituída por vinte fortes, que garantia a
sua permanência na posse do exército anglo-luso, permitindo a protecção de Lisboa e o embarque
seguro das tropas em S. Julião da Barra.

A cidade de Setúbal servia como posição alternativa para embarque das tropas, sendo defendida por
uma pequena linha com sete fortificações.

A frota britânica assegurava a protecção da costa portuguesa, da foz do rio Tejo e do Mar da Palha. A
montante da foz, duas flotilhas de lanchas canhoneiras navegavam até Vila Franca de Xira, impedindo
a passagem de uma margem para a outra.

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REACÇÃO DOS FRANCESES ÀS LINHAS DE TORRES

Na continuação da 3.ª invasão francesa a Portugal, após o rescaldo da batalha do Buçaco em 27 de


Setembro de 1810, as forças de Massena dirigiram-se a Coimbra. A partir desta cidade progrediram
para Pombal, Penela e Alvaiázere, Rio Maior. Daí o exército dividiu-se: enquanto uma parte avançava
para Santarém, a outra dirigia-se para Alenquer. Foi nesta povoação que Massena teve conhecimento
da existência das Linhas de Torres. A sua surpresa foi completa: diante dele erguia-se um gigantesco
sistema defensivo que aproveitava judiciosamente as potencialidades do terreno. Nada havia
permitido prever a existência deste obstáculo, dado que a construção havia decorrido em pleno sigilo.
Foi obrigado a parar a ofensiva, estudar as posições, e rever todos os planos previstos.

O exército luso-britânico havia retrocedido para as Linhas, dispondo-se em dois corpos principais, um
em Sobral de Monte Agraço, outro em Alhandra. Face a qualquer investida francesa, estes corpos
ocorreriam ao local atacado e realizariam o contra-ataque.

Massena dispôs então as suas forças da seguinte forma: o general Montbrun partiu para tomar
Abrantes; em Vila Franca, posicionou o general Reynier; no Sobral do Monte Agraço, o general Junot;
e em Torres Vedras, o general Ney. Massena permaneceu entre Torres Novas e Santarém,
comandando as operações.

Face à excelência das posições defensivas inimigas, os comandantes franceses mostraram-se muito
divididos quanto ao desenrolar da guerra. A morte do general Saint-Croix, preferido de Massena, que
ocorreu a 12 de Outubro, somou-se à ineficácia dos primeiros ataques. Um ataque francês na zona do
Sobral de Monte Agraço, em 14 de Outubro, foi rechaçado com sérias baixas para os atacantes.
Instado pela falta de meios, designadamente artilharia de posição e cerco e ainda maior número de
forças para que pudesse dispor de superioridade no local escolhido para a ofensiva, Massena optou
por esperar por reforços ou pela contra-ofensiva de Wellington.

Mas, durante esta guerra de posições, a estratégia de Wellington contava com o progressivo desgaste
do exército invasor. Assim de Outubro de 1810 a Fevereiro de 1811, o exército francês sofreu cinco
destruidores meses de inércia. Impotente frente à intransponibilidade das Linhas de torres, Massena
via-se forçado a permanecer imóvel, sofrendo com enormes dificuldades de abastecimento. A política
de terra queimada prosseguida por Wellington colocara-lhe problemas insolúveis que eram agravados
pela acção da guerrilha, composta essencialmente por tropas portuguesas das milícias, que actuavam
à sua retaguarda.

À medida que os meses se sucediam, a situação de Massena tornou-se cada vez mais insustentável. O
glorioso exército francês que entrara em Portugal havia-se desgastado com a espera inútil de
reforços, com a dificuldade de aprovisionamento, com a fome, com a doença, com a acção da
guerrilha, e por fim com as deserções.

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Paciente Wellington, poupando o seu exército, aguardou que o inimigo começasse a retirar para então
iniciar a perseguição. No começo de Março de 1811, Massena inicia a retirada para a fronteira. Desde
então, os exércitos napoleónicos na Península Ibérica não deixariam de recuar, até à derradeira
Batalha de Toulouse, já em território francês, em 1814.

A IMPORTÂNCIA DA DEFESA DAS LINHAS DE TORRES

A retirada de Massena em 1811 seria o sinal para a inversão do curso do conflito global que, desde os
tempos do Directório, opunha a França a todas as nações que recusavam a sua hegemonia política. O
exército napoleónico fora vencido por um conjunto de factores surpreendentes: uma guerra defensiva
de desgaste, praticada por uma nação em armas, usando o procedimento da terra queimada, com
uma acção desgastante da guerrilha, e a construção em segredo de fortíssimas posições defensivas
que constituíram um dos mais extraordinários conjuntos defensivos jamais realizados que
vantajosamente deixava um defensor à mercê da iniciativa do atacante, correndo um risco
enormíssimo, princípio inconcebível e perigosíssimo visto pela perspectiva da táctica militar da época.

Mais do que simples linhas de posições defensivas fortificadas, as Linhas de Torres constituiram uma
obra-prima de aproveitamento do terreno, de rapidez de construção, de sigilo da mesma; e mais
ainda, de idealização de um sistema defensivo baseado na mobilidade do exército defensor e na
rapidez das comunicações.

As Linhas de Torres cumpriram a sua missão. A 3.ª invasão francesa estacou frente a elas. Esta vitória
sem batalhas sonantes representou o ponto de viragem na história das campanhas napoleónicas. Mais
tarde o que se passaria na Rússia, em 1812, apresentou curiosas semelhanças com a que se tinha
passado em Portugal na invasão de 1810/1811.

A defesa das Linhas de Torres e a Campanha da Rússia, uma a Ocidente, a outra a Oriente,
revestiram-se do mesmo significado para os projectos napoleónicos. Constituíram barreiras nunca
ultrapassadas. Representaram o fim dos sonhos do voo da águia imperial sobre o domínio das outras
nações europeias.

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O FORTE DO ALQUEIDÃO – N.º 14

O forte do Alqueidão, construído na Serra do Olmeiro de Monte Agraço, perto da vila do Sobral,
pertencia à linha avançada de defesa (1.ª linha na designação actual) e combinava a sua actuação
com os fortes 15, 16 e 17 para fecharem a coroa da serra de maneira que a dita coroa constituísse
um posto fortificado e bem defendido pelas quatro fortificações.

Estas cruzavam entre si os seus fogos sobre todos os acessos à coroa: vale da Arcela e a Estrada Real
para o Sobral e Bucelas, sítio dos Cachimbos, as estradas para o Turcifal, para Torres Vedras e para
Mafra, o terreno baixo de Santo Quintino, e a Estrada Militar para a Caneira, o vale do Inferno e as
alturas do Alqueidão.

Com 23 canhoneiras, mais 4 plataformas à cavaleiro, 3 barbetes, 5 paióis, poços, quartel do


governador, 3 redutos interiores com fosso, paliçadas, e um mastro de sinais, estava guarnecido com
25 bocas de fogo e uma guarnição de 1.590 homens (artilheiros das ordenanças do Sobral e a Brigada
Pack, com 2 regimentos de infantaria de linha da guarnição de Lisboa).

Fortes do Zambujal e do Alqueidão à mesma escala

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O FORTE DO ZAMBUJAL (DAS CASAS VELHAS NA SERRA GORDA) – N.º 95

O forte do Zambujal (das Casas Velhas na Serra Gorda), n.º 95, era um reduto para infantaria, que,
com o forte n.º 96 e o forte n.º 97, integrantes da linha principal de defesa (actualmente designada
como 2.ª linha), formavam um segundo ramal para cobrir a retirada da guarnição de Ribamar pela
Estrada de Colares e Sintra, nas circunstâncias em que o primeiro ramal tivesse sido forçado em
algum dos seus pontos e daí resultasse a necessidade da retirada das tropas que o guarneciam.

Dispunha de uma bataria avançada, em flecha, que batia o desfiladeiro de Fonte Boa da Brincosa para
o vale da Senhora do Porto, na continuação do caminho da Ericeira, entre o dito lugar e vale, sendo
este também batido pela referida bateria, assim como a continuação da sobredita estrada subindo
para a Carvoeira.

O forte do Zambujal tinha uma guarnição de 250 homens e dispunha de 2 bocas de fogo.

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BIBLIOGRAFIA:

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DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR:

Serão distribuídos os anexos:

- Planta policopiada do: “Mapa das Linhas de Torres (1809-1814)”.

- Capítulo policopiado da obra: “Linhas de Torres Vedras: memórias francesas sobre a III
invasão”.

- Artigo policopiado: “Os Exércitos em Confronto e a População da Capital sob a Protecção


das Linhas de Defesa de Lisboa”, por José Paulo Berger, inserido na obra: O Exército
Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular, (3.º volume).

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