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Ricardo Olimpio Scavuzzi de Souza

Projeto Cripto Legal

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Curso de
Especialização em Direito Tributário,
na forma de projeto de intervenção,
como requisito parcial para obtenção
do título de Especialista em Direito
Tributário.
Orientadora: Professora Priscila
Ramos de Moraes Agnello

BRASÍLIA (DF)
2021
SUMÁRIO

1. RESUMO EXECUTIVO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO............................... 5

1.1 JUSTIFICATIVAS.................................................................................... 5

1.2 OBJETIVO SMART................................................................................. 6

1.3 BENEFÍCIOS........................................................................................... 6

1.4 PRODUTO............................................................................................... 6

1.5 REQUISITOS........................................................................................... 9

REFERÊNCIAS................................ ........................................................... 11

2. CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO...................................................... 12

2.1 IMAGEM DO CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO.................. 12


2.2 LINK DE ACESSO DO CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO. 12
1. RESUMO EXECUTIVO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

1.1 JUSTIFICATIVAS

Atualmente, a grande maioria dos contribuintes que possuem investimentos em


criptoativos não prestam as informações à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)
previstas na Instrução Normativa (IN) RFB 1.888, de 03 de maio de 2019 1, que institui
e disciplina a obrigatoriedade de prestação de informações relativas às operações
realizadas com criptoativos à RFB. O principal motivo da sonegação de informação
pelos contribuintes é a complexidade, extrema dificuldade de atender a requisitos
previstos na IN nos casos em que o próprio contribuinte é obrigado a prestar tais
informações, o que ocorre quando seus investimentos se localizam em exchanges
(corretoras) estrangeiras. É a grande maioria dos casos, pois o Brasil não possui
exchanges de criptomoedas competitivas e que disponham dos milhares de criptoativos
disponíveis no mercado. Outrossim, a praxe no universo dos criptoativos é a
preservação da privacidade dos investidores. Além de a RFB não ter qualquer gerência
sobre as exchanges estrangeiras, estas não fornecem facilmente dados privativos de
seus clientes. Além disso, é desconhecida a jurisdição de muitas corretoras
internacionais. Quanto à maior delas, por exemplo, A Binance, ninguém sabe ao certo
em que país fica a sua sede. E ela não precisa de um país sede, pois além de seus
sistemas funcionarem na nuvem (internet), seu patrimônio é todo lastreado nas próprias
criptomoedas.

A IN 1.888 previu a criação do “Manual de preenchimento da obrigatoriedade de


prestação de informações relativas às operações realizadas com criptoativos à RFB” 2,
cujas instruções devem ser seguidas pelos contribuintes.

A IN 1.888 determina ainda que “as informações deverão ser prestadas sempre
que o valor mensal das operações, isolado ou conjuntamente, ultrapassar R$ 30.000,00
(trinta mil reais)”. Certamente, ao estabelecer tal limite, o normatizador teve a intenção
de eliminar os pequenos investidores do rol de obrigados a prestar informações à RFB.
Esse limite evitaria a sobrecarga nos sistemas com informações irrelevantes em termos
de arrecadação. No entanto, ao incluir a permuta de criptoativos no rol de operações a
serem consideradas, não deixou claro que tipo de permuta se tratar. Resta a dúvida se
também estão incluídas as permutas de criptomoedas de uma mesma pessoa, os
chamados “trades”, ou se apenas a mais conhecida no mercado, que se dá entre
pessoas diversas.

Os trades de criptoativos, assim como a permuta de imóveis ou de ações de


valores equivalentes não gera ganho de capital nem tributação, apesar de, quanto a
isto, no caso dos criptoativos, inexistir unanimidade entre contadores e advogados
tributaristas. Nosso entendimento é o de que não há incidência de tributos nem
necessidade de informar à RFB os trades de uma mesma pessoa, até porque estes não
envolvem moeda corrente nem alienação. Caso a permuta intrapessoal de
criptomoedas seja computada no cálculo do limite mensal de R$30 mil, até os menores
day trades, como será demonstrado adiante, mesmo irrelevantes do ponto de vista de
arrecadação, serão obrigados a prestar mensalmente informações à RFB, o que vai na
contramão do que desejou o criador da IN ao estabelecer tal limite.

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Assim, urge esclarecer as lacunas da norma, como também simplificar a forma
de prestar informações à RFB, que é o que será proposto a seguir.

1.2 OBJETIVO SMART


Redução de custos para a RFB e contribuintes com a prestação anual de
informação nas DIRPF (Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda de Pessoa
Física), DEFIS (Declaração de Informações Socioeconômicas e Fiscais), ECD
(Escrituração Contábil Digital) e ECF (Escrituração Contábil Fiscal) e, quando devida,
mensal, relativas a operações com criptomoedas. Simplificação da auditoria.

1.3 BENEFÍCIOS
§ Economia para a RFB e contribuintes, melhoria da auditoria, aumento da
arrecadação e simplificação do cumprimento de obrigações pelos contribuintes;
§ Essa simplificação proverá economia de tempo, recursos humanos e financeiros
para a RFB e contribuintes, pessoas físicas e jurídicas;
§ Facilitará os processos de auditoria e aumentará a arrecadação, considerando
que muitos contribuintes deixam de prestar informações sobre operações com
criptoativos dada a complexidade dos procedimentos exigidos pela RFB;
§ Inexiste custo financeiro para a implantação do projeto, pois os sistemas
informáticos necessários são os mesmos já existentes.

1.4 PRODUTO
A compreensão do produto proposto será facilitada por meio de um experimento
simples. O autor solicitou a uma dos seus mentorandos que realizasse trades (permutas
intrapessoais de criptomodas), utilizando um específico método que o ensinou. Foi
solicitado também que o aluno selecionasse o par HARD/BUSD (Criptomoeda Hard
Protocol / Criptomoeda Binance USD) para realizar as operações. O experimento se
deu em Salvador/Bahia durante cerca de 4 horas na tarde do domingo dia 20/06/2021
utilizando-se a plataforma da corretora internacional Binance.
Foi solicitado ao aluno que permanecesse cumprindo com suas outras atividades
normais, não se dedicando exclusivamente aos trades, o que é possível graças à
simplicidade e automaticidade do método proposto. Para isso, dois foram os objetivos:
primeiro, como uma tentativa de reduzir artificialmente a quantidade de trades
efetuados; segundo, deixar como incógnita, fomentando a curiosidade do leitor, a
resposta de quantos trades o aluno teria feito se agisse como um trader normal que se
concentra exclusivamente em suas operações. O aluno reservou para iniciar as
operações as quantias de 924,2046BUSDs e 0 (zero) HARDs.
Ao final das 4 horas, ele realizou um total de 129 operações de trade, ou seja,
os seus criptoativos transmutaram-se entre HARD e BUSD 129 vezes. Como cada um
de seus trades foi da ordem de US$1.000,00 (mil dólares) – R$5.031,40 ao câmbio

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PTAX de venda do fechamento do dia 18/06/2021 -, significa que nessas 4 horas, caso
a IN 1.888 descabidamente inclua os trades pessoais no conceito de “permuta” para
computar as execuções realizadas pelo contribuinte, o seu total de operações
conjugadas foi em torno de US$129.000,00, o que equivale a R$649.050,60,
ultrapassando o limite de R$30.000 estabelecido pela IN em mais de 21 vezes. Ou seja,
ele estaria obrigado a prestar as informações de acordo com as exigências da norma.
Se a periodicidade da prestação de informações é mensal, tendo ele feito 129 trades
em 4 horas, imaginemos então quantas operações (permutas) ele teria feito no curso de
um mês inteiro! Para atender às exigências da IN 1.888, então, para cada uma dessas
129 operações, o aluno, contribuinte, terá que prestar as seguintes informações, frise-
se, para cada uma das 129 operações: identificação da exchange; data da operação;
tipo de operação, conforme o § 2º do art. 6º; criptoativos usados; quantidade de
criptoativos negociados, em unidades, até a décima casa decimal; valor da operação,
em reais, excluídas as taxas de serviço cobradas; valor das taxas de serviços cobradas
e endereço da wallet (carteira) de remessa e de recebimento. Imagine, ao invés das 4
horas, considerarmos o curso de um mês inteiro. Posta está a absurda complexidade
para atender às exigências da RFB. Levando-se em consideração que as exchanges
internacionais, desconhecedoras das obrigações tributárias de cada um de seus clientes
dos mais diversos países, não fornecem aquelas informações de forma esquematizada,
imaginemos então o “inferno astral” em que se veria o aluno para atender às exigências
da RFB. Moral da história: o aluno, assim como a maioria dos contribuintes que investem
em criptoativos, simplesmente não prestará nenhuma informação à RFB. E a RFB não
dispõe de meios para auditar os investimentos desses contribuintes, pois as corretoras
estrangeiras não devem satisfação ao fisco brasileiro para fornece-lhe informações
confidenciais de seus usuários.
Toda aquela “parafernália” de dados é completamente desnecessária para o fim
desejado pela RFB, que é o pagamento do tributo incidente sobre o ganho de capital.
Para tanto, nós propomos uma solução simples: o cálculo do custo médio de aquisição
dos criptoativos com base em uma regra de três. Com três informações, o contribuinte
é capaz de informar à RFB o custo médio de aquisição de suas criptomoedas. Tratar-
se-ia de uma opção para o contribuinte. Ou ele utiliza o método tradicional ou,
alternativamente, usaria o método agora proposto.
Assim, nossa proposta é oferecer ao contribuinte uma alternativa simples de
prestar informações à RFB, passando esta a exigir dele apenas o custo médio de
aquisição dos seus criptoativos no final do mês, quando devido, ou na declaração de
ajuste anual. Para tanto, bastam três informações: o total em moeda fiat (reais, dólar,
euros, etc.) depositado na corretora e duas “fotografias”, uma do quantitativo de cada
criptoativo que possui e outra do valor total em qualquer referência monetária de cada
um deles no final do período a ser considerado, quer seja do momento da alienação do
criptoativo, quer seja mensal ou anual. De posse dessas informações, com uma conta
simples, é possível calcular o valor médio de aquisição de cada um dos criptoativos a
ser informado à RFB.
A propósito, voltando ao trades praticados pelo aluno, ao final das 129 operações
que realizou, ficou com um saldo de 9,727651BUSDs e 1.056,90HARDs, estas
adquiridas pelo valor unitário de 1,0146BUSD no momento da última operação de trade.
Convertendo HARD para BUSD a este câmbio, findou com o equivalente a 1082,058391
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BUSDs, já abatidas as taxas de corretagem, obtendo assim, um lucro de 157,853791
BUSDs, equivalente a 17,08% do saldo inicial. Interessante observar que, apesar do
lucro obtido, ele não deve um único centavo de imposto sobre suas operações, pois
estas foram de permutas, não havendo conversão para moeda fiat em nenhum
momento. Como sabemos, o imposto sobre ganho de capital tem como fato gerador a
alienação do ativo, transformando-o em moeda corrente.
Como dito, o método (produto) propõe calcularmos o custo de aquisição dos
criptoativos a partir de uma regra de três sem a necessidade, inclusive, de utilização da
cotação do dólar em nenhum momento. Esse cálculo dever ser feito ao final de cada
mês em que ocorra as condições previstas na norma, ao final do ano, para efeitos de
registro na DIRPF ou sempre que houver alienação de criptoativos – transformação do
todo ou parte dos mesmos em moeda fiduciária – em valor maior que o previsto na
norma.
Segue abaixo o “retrato” da carteira de criptomoedas do aluno nas 5 (cinco)
corretoras em que possui investimentos, contendo na última coluna o produto proposto
neste trabalho, qual seja, o custo médio de aquisição (G) calculado com base na regra
de três [saldo em US$ na data analisada = (D) de determinada criptomoeda, total geral
de depósitos em reais = (F) na corretora e somatório dos saldos individuais em US$ de
cada criptoativo = (E)].

o
Voltemos à questão da intepretação do conceito de permuta previsto no § 2 do
o
Art 6 . da IN 1.888. Não faz sentido que neste conceito de permuta estejam inclusos os
trades efetuados por determinado contribuinte entre duas criptomoedas de equivalentes
valores multiplicados por seus quantitativos, quer dizer, a cotação de determinado
criptoativo multiplicada pela quantidade do mesmo é equivalente ao semelhante cálculo
para o par negociado. Isso é o que chamamos de trade, a permuta que determinada
pessoa faz entre uma criptomoeda e outra, sendo que os saldos negociados de cada
uma são idênticos. Entendemos que a norma não é muito clara, restando uma lacuna
que, por direito, o contribuinte pode utilizar a seu favor. Do contrário, até um pequeno

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trader que realize em média duas trocas de criptomoedas por dias de pequeno valor de
US$100,00, cada, estaria obrigado a prestar informações mensalmente à RFB, pois
ultrapassaria facilmente o limite de R$30 mil estabelecido pela norma. Como afirma na
introdução do módulo 2, página 4, o Mestre Rodrigo Moreira Lopes, professor da
disciplina Direito Internacional e Planejamento Tributário 3, a economia de tributo é uma
pretensão legítima do contribuinte. Além disso, ao contrário do que ocorre nos casos
dos day traders do mercado de outros ativos negociados em corretoras nacionais, o
negociador de criptomoedas não recebe já pronto e calculado o DARF (Documento de
Arrecadação de Receitas Federais) para pagamento do tributo devido e nem cada uma
das dezenas de grandes corretoras internacionais fornece pronto um arquivo digital que
contenha todas as informações necessárias, nos moldes pretendidos pela RFB.

A título de curiosidade, antes de ser trader (que troca), o aluno era um holder
(aquele que compra e guarda) 100% posicionado em altcoins (outras criptomoedas que
não o Bitcoin) altamente voláteis, e sofreu com a elevadíssima queda do mercado logo
após o fatídico tweet de Elon Musk no final do dia 12 de maio de 2021. Este senhor,
completamente desinformado, ou, mais provavelmente, mal-intencionado, afirmou
equivocadamente que a mineração do Bitcoin consumia expressiva quantidade de
energia fóssil, jorrando grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera 4. No
dia seguinte, 13 de maio, as criptomoedas começaram a despencar e continuou
perdendo valor dia após dia. Segundo palavras do próprio aluno, ele ficou congelado,
extasiado, pasmo, inerte, observando seu patrimônio evaporar enquanto o mercado
caía assustadoramente quando deveria, na verdade, ter aplicado as ferramentas de
proteção e de trades, dentre elas, as ordens stop-losses (parada de perdas).
Quanto à energia, a verdade é que, segundo sérios estudos 5, cerca de 74% da
consumida pela mineração de Bitcoin é barata e renovável, além de ser normalmente
excedente, quer dizer, seria desperdiçada não fosse utilizada para mineração do Bitcoin.
Em algumas fazendas de mineração de Bitcoin localizadas nos Estados Unidos da
América, o consumo de energia limpa e renovável supera os 95%.

1.5 REQUISITOS
§ Disponibilização de recursos humanos;
§ Capacitação dos servidores da RFB para melhor compreensão do universo das
criptomoedas.

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REFERÊNCIAS

01- BRASIL (Estado). Constituição (2019). Instrução Normativa nº 1.888, de 03 de


maio de 2019. Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil. Brasília, DF,
10 maio 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-
/instru%c3%87%c3%83o-normativa-n%c2%ba-1.888-de-3-de-maio-de-2019-
87070039. Acesso em: 27 jun. 2021.
02- BRASIL. Manual de Preenchimento nº 1.888, de 19 de junho de 2019. Manual
de Preenchimento da Obrigatoriedade de Prestação de Informações Relativas
Às Operações Realizadas Com Criptoativos À Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil (Rfb): Ato Declaratório Executivo Copes nº 1/2019. 01a. ed.
Brasília, DF: Diário Oficial da União, 19 jun. 2019. v. 01, Seção 1, p. 35-35.
Disponível em:
https://receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/declaracoes-e-
demonstrativos/criptoativos/arquivos/manual-de-preenchimento-criptoativos-
versao-1-0-0.pdf. Acesso em: 27 jun. 2021.
03- LOPES, Rodrigo Moreira. Direito Internacional Tributário e Planejamento
Tributário: planejamento tributário: estrutura e limites. Brasília: Escola Nacional
de Administração Pública, 2021. 52 p. Módulo 2.
04- MUSK, Elon (org.). Telas & Bitcoin: mineração do bitcoin consumiria quantidades
elevada de combustível não renovável. Mineração do Bitcoin Consumiria
Quantidades Elevada de Combustível Não Renovável. 2021. Tweet de Elon
Musak. Disponível em:
https://twitter.com/elonmusk/status/1392602041025843203. Acesso em: 27 jun.
2021.
05- RUBINSTEINN, Gabriel. 74% da energia consumida pela rede do bitcoin vem de
fontes renováveis, diz estudo: rede do bitcoin registrou consumo energético
recorde no início de 2021, mas estudo aponta que maioria da energia vem de
fontes renováveis. Rede do bitcoin registrou consumo energético recorde no
início de 2021, mas estudo aponta que maioria da energia vem de fontes
renováveis. 2021. Revista Exame – Future of Money - Criptoativos. Disponível
em: https://exame.com/future-of-money/criptoativos/74-por-cento-da-energia-
consumida-pelo-bitcoin-vem-de-fontes-renovaveis-estudo/. Acesso em: 27 jun.
2021
2. CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

2.1 IMAGEM DO CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

2.2 LINK DE ACESSO DO CANVAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO


https://docs.google.com/drawings/d/1VUGu2StLQ_XENpNZMSP1ifQozRW8bd3gU3c5CmziDRY/edit?usp=sharing

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