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Assis
2010
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Assis/SP
2010
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FICHA CATALOGRÁFICA
PAIAO, Hindianara.
As Crônicas de Nárnia: Análise Crítica da adaptação para o cinema de “”Príncipe
Caspian” / Hindianara Ferreira Paião. Fundação Educacional do Município de Assis –
Fema: Assis, 2010.
66p.
CDD: 070
Biblioteca da FEMA
4
Comissão Avaliadora
___________________________
__________________________________________
5
Dedicatória
Agradecimentos
Liv Ullman
8
Resumo
Abstract
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12
CAPÍTULO 1 – OBRA, LEITOR, LITERATURA, LEITURA: DIÁLOGOS
POSSÍVEIS
1 A LEITURA .................................................................................................... 15
1.1 A LITERATURA ........................................................................................... 15
1.2 O QUE É LITERATURA INFANTIL ............................................................. 17
1.3 VIDA E OBRA DE C.S.LEWIS..................................................................... 19
1.4 OUTROS TRABALHOS DE C.S.LEWIS ..................................................... 21
Introdução
encantamento para os olhos do espectador. É fácil se envolver com uma obra que
utiliza todos os efeitos especiais plausíveis para criar ambientes possíveis somente no
domínio da imaginação. É por isso que alguns livros, antes pouco procurados, tornam-
se fenômeno de vendas após um bom trabalho cinematográfico.
O livro não é o item favorito pelos consumidores, por isso, quando o cinema
consegue resgatar uma história, às vezes esquecida, acaba desempenhando um
respeitável papel social. Se o livro supõe um acesso a ele para que nos tornemos
leitores, o cinema promove uma prática para que nos tornemos espectadores.
Há uma persistência na „‟lealdade‟‟ da adaptação cinematográfica quanto à obra
literária originária. Algumas ponderações superficiais que comumente valorizam a obra
literária sobre a adaptação são feitas, na maioria das vezes, sem uma reflexão mais
profunda. Portanto, busca-se a partir da análise da obra de C. S. Lewis, observar se a
sua transposição para o cinema trouxe algum tipo de perda do seu caráter literário.
Assim, o tema em questão procura indagar se o tratamento dedicado à obra foi
legitimamente literário ou se a adaptação não passou de um objeto de consumo da
massificação, alavancado por uma extraordinária estratégia de comunicação e pelo
sucesso de produtos designados ao público infanto-juvenil, tais como os da série do
bruxinho Harry Potter.
Para a consecução dos objetivos, este trabalho divide-se em três capítulos. O
primeiro trata do surgimento da literatura infantil e de sua consolidação, além da relação
entre leitor e obra. No segundo, estuda-se o objeto em questão, mais propriamente a
crônica Príncipe Caspian. Finalmente, no terceiro analisa-se a adaptação
cinematográfica.
Todos os capítulos se integram e constituem um todo que culmina na conclusão.
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Capítulo I
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1. A leitura
2. A Literatura
exercício dessa arte ou da eloquência e poesia. Pode-se também conceber este termo
como conjunto das obras literárias de um agregado social ou em dada linguagem, ou
referidas a determinado assunto, como por exemplo, literatura infantil, literatura
científica, literatura de propaganda ou publicitária.
Afrânio Coutinho determina a literatura da seguinte maneira:
Segundo o teórico da literatura, Hans Robert Jauss, “O leitor é uma força histórica
e criadora e que uma obra pode ser apreciada a partir do papel ativo que ela possibilita
ao seu destinatário”. (apud CADEMARTORI, 1986, p. 50). Com base nessa menção,
entende-se que a Literatura Infantil possui uma ligação entre obra e o público que é
destinado, de tal modo que o leitor (infantil), ao atuar como receptor necessita ter suas
condições consideradas. A partir do momento que temos contato com textos que
possuem encantamento, passamos a entender a responsabilidade desse tipo de
literatura e a sua importância. Esse mundo de fantasia pode proporcionar experiências
e sensações até então desconhecidas, acrescentando situações a nossa existência.
Atualmente, a Literatura Infantil, conhecida como “clássica”, tem suas raízes na
Índia, mais precisamente na Novelística Popular Medieval. Nesse momento, a palavra
significava para o homem algo misterioso que tinha a capacidade de proteger, mas que
também poderia ser algum tipo de ameaça.
Foi durante a segunda metade do século XVII, na França, que a Literatura Infantil
constituiu-se como gênero. O aparecimento da Literatura Infantil apresentou
características próprias, pois deriva da ascensão da família burguesa.
No Brasil, o preocupante quadro do ensino básico estava incorporado à “[...]
ação pedagógica junto à criança que voltou a privilegiar o livro como elemento
imprescindível ao crescimento intelectual e à afirmação cultural” (CADEMARTORI,
1986, p.14). Pode-se dizer que os adultos não alfabetizados são crianças que não
tiveram freqüentes contatos com o extraordinário mundo dos livros.
Teresa Colomer (2003, p.14) aponta que os livros voltados para esse público são
importantes para melhor entender como o mundo e determinados valores são vistos
pela sociedade, pois é através dessa literatura que se acredita que as crianças
obtenham tais valores.
Outra produção designada à criança começa a receber atenção: as Histórias em
Quadrinhos (HQ‟s), ainda que não possuíssem um caráter pedagógico ou cultural. A
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Literatura Infantil foi reconhecida, entretanto, não por causas literárias, mas por outras
que “envolvem questão da educação, além de mercado” (2006, p.15), nas palavras de
Cademartori.
A importância da Literatura Infantil, igualmente a formação de seus leitores é
inquestionável, todavia, mesmo que o livro seja para criança ele funciona como uma
mercadoria. Nem tudo que é designado como Literatura Infantil, é de fato Literatura
Infantil.
Charles Perrault é popular por ser o pioneiro da literatura infantil, conhecido por
suas memoráveis histórias da Cinderela e Chapeuzinho Vermelho. Assim como os
irmãos Grimm (João e Maria, Rapunzel) e C. Andersen (Patinho Feio) que conseguiram
destaque pela produção de textos voltados ao público mirim.
No Brasil, Monteiro Lobato foi quem revolucionou esse tipo de literatura para
crianças em nosso país. Sua obra abre caminho para o universo “lobatiano‟‟:
Pode-se dizer, com isso, que Monteiro Lobato foi quem pensou na literatura
infantil como algo que necessita ser estimulado na infância, de forma que a criança
apresente o prazer e o hábito pela leitura.
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ser associado à Joy. Lewis morreu em 22 de novembro de 1963, uma semana antes de
completar 65 anos, sua sepultura encontra-se no cemitério da Igreja de Santa Trindade,
em Headington Quarry, Oxford. Seu irmão, Warren Lewis, faleceu em 09 de abril de
1973, e foi enterrado junto com o seu amigo-irmão, onde está registrada em um jazigo a
seguinte frase: “Os homens devem suportar suas vidas a partir deste momento”.
De acordo com a Wikipédia, foram vendidas mais de 200 milhões de cópias dos
livros escritos por Lewis, os quais foram traduzidos para mais de 30 línguas, incluindo a
série completa de Nárnia para a língua Russa. O irlandês escreveu 17 obras de ficção,
30 de não-ficção e quatro dedicadas à poesia. Entre 1996 e 1998, em que foi celebrado
o seu centenário, cerca de 50 novos livros foram escritos acerca de sua vida e de seus
trabalhos.
Capítulo II
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Essa obra de Lewis possui 751 páginas e está divida em sete histórias,
denominadas pelo escritor de fábulas. Em algumas publicações, pode-se encontrá-las
como obras separadas. Essa opção editorial justifica-se, pois originalmente cada texto
foi publicado em época diversa, como volume autônomo.
O volume que foi utilizado neste trabalho é composto pela coletânea dos sete
livros e foi publicado em 2005, pela editora Martins Fontes.
Passemos, então, a um breve relato das histórias que compõem a obra:
ir atrás do professor Digory e perguntam para ele o que pensa a respeito, se ela não
estaria louca. Para o espanto de todos, ele acredita na palavra da menina. “Só há três
possibilidades: ou Lúcia está mentindo; ou está louca; ou está falando a verdade. Ora,
vocês sabem que ela não costuma mentir, e é evidente que não esta louca. Por isso,
enquanto não houver provas em contrário, temos de admitir que ela está falando a
verdade‟‟ (p.123).
No início, eles continuavam duvidando da palavra dela, até que um dia tiveram
que buscar o esconderijo no guarda-roupa para se safar da governanta e, então, todos
eles entram em Nárnia. Lúcia guia todos até a casa do senhor Tumnus, e acaba
descobrindo que o fauno foi capturado pela feiticeira, sobre a acusação de ter
escondido humanos.
A garota decide salvá-lo e pede a ajuda dos castores e dos seus irmãos, exceto
do Edmundo, que havia fugido depois de ouvir toda a história que revelava as
crueldades de Jadis.
Assim, todos decidem ir ao encontro do Aslam, na mesa de Pedra. O leão
promete ajudar no resgate de Edmundo, que estava aprisionado no castelo da feiticeira.
Porém, ela lembra a Aslam que todo traidor pertencia a ela e que o garoto deveria ser
sacrificado. Então, o leão se oferece para ocupar o lugar de Edmundo e Jadis, aceita
imediatamente.
Lúcia e Susana acompanham Aslam até a mesa de pedra e vêem-no se
entregando para o sacrifício. Depois de um forte estrondo, elas retornam para a mesa
de pedra e encontram o leão vivo, que lhes conta uma regra da profunda magia:
quando uma pessoa inocente morrer no lugar de alguém culpado, a mesa se partirá e o
inocente voltará à vida.
Guiadas por Aslan, as crianças batalham para que acabe o domínio da feiticeira
sobre Nárnia. Para isso, entram no castelo de Jadis para recuperar todos os narnianos
que foram transformados em pedra. No momento da luta, Edmundo acaba sendo
gravemente machucado e Aslam finalmente a mata.
Em seguida, os irmãos são coroados como os reis e rainhas de Nárnia, reinando
por muitos e muitos anos. Até que, em um dia de caça, eles acabam entrando em um
lugar desconhecido e encontram novamente os casacos. Ao abrir a porta, eles saem
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Eustáquio Mísero e sua colega Jill Pole são convocados por Aslam para irem até
Nárnia. Eles são transportados por meio de um portão que o leão abriu nos fundos do
colégio. Os dois têm a missão de achar o príncipe Rilian, filho do rei Caspian X, que
despareceu. Aslam fornece a Jill alguns sinais que ela e seu amigo deveriam decorar,
pois os ajudariam na procura do príncipe.
Assim, eles partem para a jornada, só que dessa vez sem o auxílio do rei
Caspian, que havia determinado que parassem de procurar seu filho. A viagem os
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conduz até as Terras Agrestes do Norte, um lugar cheio de gigantes, e em seguida para
o Reino Profundo, lugar em que o príncipe estava aprisionado pela rainha do
Submundo. A feiticeira lançou uma maldição sobre o príncipe que fazia com que toda
noite ele se transfigurasse em algo horrível, sempre que se sentava em uma cadeira de
prata.
O príncipe Rillian consegue destruir a cadeira e mata a rainha. Assim, todos
retornam para o Castelo de Cair Parável. Ao ver seu filho depois de tanto tempo,
Caspian acaba falecendo.
Mas o leão ordena a Eustáquio que traga um espinho, então, o menino obedece
e o traz até ele. Em seguida, lhe pede que enfie o espinho em sua pata e retire uma
gota do seu sangue. Assim, Aslam coloca a gota sobre o rei que começou a
rejuvenescer e por fim, ressuscitou.
As crianças voltam para casa e ficam sabendo que, da próxima vez, ao
retornarem a Nárnia, poderão ficar.
de dominar Nárnia, com o intuito de que o príncipe Rabadash torne-se marido da rainha
Susana. Devido a essa situação, eles decidem salvar o seu país e avisam os narnianos
sobre a invasão dos inimigos. No meio do caminho, eles conhecem o tão anunciado
Aslam.
Ao chegar a Nárnia, os dois conhecem o rei Luna que é pai do Corin. Eles
acabam descobrindo que Shasta na verdade, era o irmão gêmeo do príncipe e seu
nome verdadeiro era Cor. Quando era pequeno, ele foi roubado por conta de uma
profecia sobre seu destino que o colocava para o cargo de salvar seu reino de um
grande perigo.
Aslam diz para Cor que nunca o abandonou que sempre esteve presente em sua
vida em todos os momentos, inclusive nos mais difíceis.
Esse conto, de certa forma, não possui influência nas outras histórias, é citado
como uma das lendas narnianas em A Cadeira de Prata, e pode ser lido mesmo que o
leitor não tenha ciência dos outros textos, pois não altera a compreensão.
Este não é o primeiro livro publicado da série As Crônicas de Nárnia, mas pode
ser indicado como o primeiro para a ordem de leitura, pois conta como foi à criação da
terra de Nárnia.
A história descreve como duas crianças, Digory Kirke e Polly Plummer, dois
vizinhos, descobrem uma passagem secreta pelo sótão de suas casas. Ao explorar
essa passagem, eles conseguem entrar no quarto do tio de Digory, o André, um homem
que eles achavam muito estranho. Eles são pegos em flagrante e acabam servindo de
cobaias para os experimentos dos anéis mágicos de André. Esses anéis supostamente
poderiam transportar as pessoas para outra dimensão.
As crianças acabam em um reino chamado Charn, onde acordam sem querer a
rainha Jadis. Mas tudo fica pior quando, acidentalmente, trazem com eles a feiticeira
para à Inglaterra. Para impedir que não acontecesse alguma coisa pior, eles acabam
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indo parar em um novo lugar, levando com eles Jadis e o tio André. Eles retornam para
o bosque e desta forma, todos eles conseguem testemunhar toda à criação de Nárnia
pelo leão Aslam. Ele surge e começa a cantar fazendo com que apareçam animais
falantes, árvores etc.
Logo após a criação de Nárnia, o leão ordena que Jadis saia dali. O menino
Digory pede a Aslam que o ajude a salvar sua mãe que está muito doente, e o leão lhe
entrega uma maçã que tem o poder de dar a vida eterna.
Assim que voltam para Londres, Digory dá um pedaço da maçã para sua mãe
que se cura milagrosamente e, em seguida, tem a ideia de plantar a semente da fruta
no fundo de seu quintal. Depois de muitos anos, após uma forte tempestade, a macieira
cede e cai. Digory decide fazer com a madeira da árvore um guarda-roupa.
O Sobrinho do Mago pode ser considerado como uma complementação para O
Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa.
Neste último conto são narrados os últimos dias de Nárnia, quando Tirian ainda
reinava em Cair Paravel. Tudo começa quando um macaco, chamado Manhoso,
encontra junto a seu amigo, um burro conhecido como Confuso, uma pele de leão. O
macaco pede para o burro que coloque a pele como se fosse uma vestimenta e passa a
espalhar notícias de que o leão Aslam havia retornado e que ele atuaria como o seu
porta-voz.
O macaco se alia aos calormanos para alcançar os seus poderes e conquistar as
terras de Nárnia. O rei Tirian decide pedir a ajuda a todos aqueles que já haviam estado
em Nárnia, menos Susana, que se encontra no nosso mundo.
Então, os amigos vão até a casa do professor Kirke para usar os anéis como
tentativa de chegar até Nárnia e ao encontro do rei. No entanto, eles não precisaram da
ajuda dos anéis, pois um acidente de trem na estação os leva de volta ao mundo
narniano.
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Para que uma história consiga realmente prender a atenção da criança, ela deve
entretê-la e aguçar sua curiosidade. E para que isso aconteça, é preciso que estimule,
nessa fase de sua vida, a imaginação que ajuda a desenvolver seu intelecto, a
reconhecer suas possíveis dificuldades e a compreender sentimentos.
Em as Crônicas de Nárnia, Lewis esperava que as pessoas pudessem
compreender, por meio do mundo da fantasia, que elas poderiam reconhecer seus
problemas e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para as dificuldades que as perturbam.
O escritor tinha o anseio de fazer com que o ser humano não deixasse de lado os
valores essenciais de cada um. Assim, dotou sua narrativa de elementos relacionados
ao passado com o intuito de que esses não fossem de forma alguma esquecidos:
Ele percebia que esse vasto mundo mais antigo incorpora uma sabedoria
notavelmente coerente sobre a natureza de nossa própria humanidade. [...]
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Além dessa criação de dois mundos, destaca-se também o interesse por mitos.
Todo esse seu fascínio pela narração mitológica resultou em uma saga recheada de
seres fantasiosos, como: feiticeiras, fadas, gigantes, animais falantes, e crianças. Esse
pode ter sido o meio que ele encontrou para fazer com que as pessoas tivessem um
maior interesse pela mensagem cristã por meio de simbologias que, supostamente,
atraem muitas pessoas pelo interesse em representações mágicas.
Um ponto importante é a maneira como as crianças são colocadas em evidência
na história, o que acaba criando uma aproximação maior com o leitor, pois nos faz
refletir sobre nossas próprias atitudes diante das ações de determinados personagens.
Quando a narrativa possui um conflito inicial, em que as personagens estão
envolvidas, que no decorrer da obra será resolvido, as crianças conseguem entender
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que cada personagem possui uma vida própria e é dotado de características. Isso
permite à criança o juízo das atitudes e as prováveis consequências de seus atos. Esse
processo ocorre na situação de Edmundo que, em sua primeira jornada O Leão, a
feiticeira e o guarda-roupa, tem sua vida salva graças a Aslam que se oferece
voluntariamente no lugar do menino. Edmundo responde às consequências pelas
escolhas que um dia fez. Ao retornar para a sua segunda aventura, em Príncipe
Caspian, ele é o único que não possui lembranças especiais da primeira vez que esteve
em Nárnia.
Em suas narrativas, ele eventualmente cria pequenas decisões que levam à
salvação ou até à condenação. Emprega a bíblia em sua ficção, com o propósito de
revigorar a percepção do leitor.
A linguagem utilizada por Lewis é simples e prazerosa, não é uma leitura
cansativa e, sim, atrativa. Ao narrar em terceira pessoa, Lewis opta por um enunciador
que está fora dos acontecimentos, embora este saiba de todos os sentimentos e
pensamentos dos personagens, pois é onisciente. Para Duriez, quando o texto é escrito
em terceira pessoa, o leitor acaba ficando mais à vontade na hora da leitura:
determinado personagem, criando empatia ou não, e também, fazendo com que o leitor
acabe se identificando com ele.
Assim, seus personagens principais são:
Príncipe Caspian, muito corajoso e órfão.
Pedro, o irmão mais velho, dos quatro que adentram Nárnia, e também o
mais valente, que faz de tudo para proteger seus irmãos.
Edmundo, dos meninos é o mais novo, é um pouco revoltado e adora
fazer clemências em momentos impróprios e amargurar alguém.
Entretanto, é o personagem que mais ascendeu no quesito qualidade,
nessa aventura é o mais esperto e divertido.
Suzana é a mais velha das meninas, e mais velha do que Edmundo, e a
que menos demonstra acreditar em Nárnia. Muitas vezes, explana não
sentir muita aspiração em continuar no mundo narniano, mas se mantém
fiel.
Lúcia é a mais nova dos quatro irmãos, sempre dedicada e dócil, a que
mais acredita em Aslam. Aslam é a alegoria de Cristo.
Lewis escreve as crônicas com as virtudes dos „‟livros antigos‟‟, mas numa
maneira atrativa para as pessoas contemporâneas que talvez não percebam o
valor de ler coisas do passado, possibilitando assim uma diferente percepção,
uma janela – ou devo dizer, uma porta de guarda-roupa? – que penetra em
outros mundos. (DURIEZ, 2005, p. 61).
A criança nos escapa por entre os dedos, ela nos foge toda vez que não mais
a interessamos: a menininha, aborrecida com a aula do professor, transforma
seus amigos em animais e flores [...] assim, a criança prolonga uma visão
animista do mundo, que certamente existiu, mas que se torna então, conforme
o caso, proteção, refúgio contra as exigências externas que atrapalham ou
meio de se distrair quando se aborrece. (HELD, 1980, p. 45).
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Ao ouvir o Era uma vez, a criança naturalmente presta atenção na leitura. Essas
três palavras conseguem facilmente prender a atenção desse tipo de leitor. René
Diatkine, um psicanalista francês, defende a leitura dos contos infantis em uma
entrevista para a revista VEJA:
É dentro dessa perspectiva cristã que Lewis procura mostrar que o imaginário
infantil nos aproxima muito mais da realidade primordial que a racionalidade fria
do adulto. O adulto que redescobre sua „‟Nárnia” se aproxima do eterno, da
aspiração mais profunda do ser humano. (MAGALHÃES FILHO, 2005, p. 51).
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Capítulo III
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3. Adaptação cinematográfica
Uma vez que a palavra “adaptação” significa transpor algo de um meio para o
outro, faz-se importante entender as diferenças existentes entre literatura e cinema,
dois sistemas que possuem uma tradução de acepção distinta. A diferença básica é
aquela entre comunicação verbal e visual, através da imagem visual o espectador
apresenta a utopia de apreender objetos representados como se fossem os objetos
próprios, agora com a linguagem escrita, o leitor cria a sua imagem mental desses
artefatos.
Vários autores são unânimes em reconhecer a dificuldade existente em transmitir
a mesma mensagem através de diferentes sistemas de significação. A preocupação de
muitos críticos tem se concentrado na verificação da fidelidade do filme à obra de ficção
que lhe serviu como ponto de partida.
Como uma adaptação fílmica é uma transmutação de um texto verbal em um
não-verbal, foi considerada por muito tempo como algo que altera o texto original,
conhecida atualmente como tradução intersemiótica. Ao avaliarmos uma tradução
fílmica, é necessário saber que tanto o livro quanto o filme possuem suas minudências,
deste modo, é inconsistente fazer alegorias atreladas à literalidade.
Uma adaptação não precisa ser fundamentalmente uma repetição do trabalho
existente, já que está sendo traduzido para outro sistema de signos. Faz-se necessário
entender que as mudanças são inevitáveis no momento em que se abandona o meio
linguístico e tem início a comunicação visual:
Saber ver uma imagem, um filme, é tão necessário quanto aprender a ler e
escrever nos moldes convencionais, pois os códigos e os processos de produção
da comunicação se alteram e, nessas mudanças buscam receptores aptos para
entendê-los. Se o modo de produção se altera, fazendo surgir novos códigos, ele
irá exigir uma nova posição receptiva; o mesmo valendo para a alteração da
percepção e da recepção, que exigirá novos códigos no processo de produção.
(ALMEIDA SILVA, 2000, p. 106).
O que acontece é que o público leitor tem o anseio de ver a obra toda na tela e,
quando sente falta de determinada cena preferida ou algum personagem, acaba se
voltando contra a adaptação.
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Desmerecer um filme pelo simples fato dele não ser inteiramente fiel à obra
adaptada é recusar o grande valor do cinema enquanto arte. Afinal, ao criar uma
história, o escritor não tende a escrever um roteiro cinematográfico, ele o escreve para
o leitor que iniciará sua leitura e depois de um tempo vai deixar o livro de lado e
continuará lendo-o em outro momento. Daí a necessidade de adaptar a linguagem
literária para o filme. Embora a adaptação não indique julgamentos presentes na obra
escrita, ela consegue ser tão interessante quanto o próprio texto que a originou.
A adaptação cinematográfica pode ser considerada como uma forma diferente
de representar determinada história. Essa nova representação, consequentemente,
demandará uma nova leitura do espectador. Isto não quer dizer que os filmes
adaptados conseguirão tamanha façanha de diminuir o número de pessoas que não
apreciam a leitura, mas apenas que, muitas vezes, por meio das imagens, algumas
pessoas comecem a se interessar um pouco mais pelo hábito de ler, nem que seja
somente por curiosidade.
Para quem realiza a adaptação, cada segundo deve ser considerado, uma vez
que uma história, que seria „‟revelada‟‟ em semanas, deve ser transmitida em poucas
horas. Parte-se do pressuposto neste texto de que o livro e o filme nele baseado são
“[...] dois extremos de um processo que comporta alterações de sentido em função do
fator tempo, a par de tudo o mais que, em princípio, distingue as imagens, as trilhas
sonoras e as encenações da palavra escrita e do silêncio da leitura” (Xavier, 2003, p.
61).
Alguns acreditam que o livro seja mais interessante, pela profundidade que
apresenta, pela sua forma e linguagem. Além disso, o livro difere na temporalidade do
filme que instaura a sensação do tempo presente, por meio da ação e do suspense:
A partir do momento em que o cineasta encontra uma forma de fazer com que o
espectador tenha a impressão de estar folheando as páginas do livro, por meio, dos
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atrativos da obra, o filme consegue através das imagens se destacar das palavras e cria
algo original.
Seria oportuno que o público conseguisse enxergar a disparidade presente
nessas duas artes. Ao defender fidelidade em uma tradução, exige-se que uma obra
cinematográfica, por exemplo, não utilize os artifícios convenientes do cinema atual.
Uma tradução, atuando como transcriação, acaba modificando o texto de partida, mas
sem comprometê-lo, pois se trata de uma nova obra, invenção de um novo autor.
massas. Quando se diz que as massas buscam a diversão, entende-se que esta
demanda também concentração. No cinema, a pessoa se concentra diante de uma
obra, ao fazê-lo, ela acaba „mergulhando‟ dentro do filme. Mas para Benjamim,
acontece o oposto, pois no caso da diversão, é a obra de arte que adentra na massa:
Site Oficial:
Estúdio: Walt Disney Pictures/ Walden Media/ Lamp Post Productions Ltd.
Distribuição: Walt Disney Pictures/ Buena Vista International
Direção: Andrew Adamson
Roteiro: Andrew Adamson, Christopher Markus e Stephen McFeely, baseado em livro
de C. S. Lewis
Produçao: Andrew Adamson, Mark Johnson, Perry Moore e Philip Steuer
Música: Harry Gregson-Williams
Fotografia: Karl Walter Lindenlaub
Edição: Sim Evan-Jones
Elenco:
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Foi indicado em três categorias no Young Artist Awards: Melhor Ator para
Skandar Keynes, Melhor Atriz para Georgie Henley e Melhor Elenco para Georgie
Henley, Skandar Keynes, William Moseley e Anna Popplewell.
3.4 Sinopse
Suzana que eles estavam grandes demais e não voltariam mais a Nárnia, somente
Lúcia e Edmundo iriam mais uma vez.
Este trabalho objetiva apresentar uma análise do filme “As Crônicas de Nárnia:
Príncipe Caspian”, uma adaptação de livro homônimo, escrito por C. S. Lewis. Para a
análise dos fotogramas, serão estudados os diversos recursos cinematográficos, como:
o plano, sonoridade, ponto da câmera, cenário e estrutura narrativa, por meio de uma
separação em três atos.
Para esse desígnio, foram selecionados três fotogramas iniciais de imagens que
acontecem no começo do filme (primeiro ato), para que o leitor consiga se situar na
trama.
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PRIMEIRO ATO
Fotograma 1 – 00:02:56
O Príncipe Caspian vivia num castelo com seu tio Miraz, que era rei de Nárnia.
Caspian era o único herdeiro do trono da realeza, até o momento em que a rainha deu
à luz um filho.
Depois do nascimento da criança, Principe Caspian foi avisado por seu
preceptor, doutor Cornelius, que deveria fugir do castelo, pois havia se tornado um
empecilho para seu tio.
A posição da câmera permite que o leitor perceba a reação do personagem.
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Fotograma 2 – 00:11:21
Fotograma 3 – 00:22:06
SEGUNDO ATO
Fotograma 4 – 00:41:52
52
a. Close-up de Lúcia, a primeira vez que ela enxerga Aslam na ilha, com ênfase
na expressão facial.
b. Sonoridade: trilha que remete à fantasia.
c. Posição da câmera: em frente ao personagem.
d. Cenário: aberto, dia, árvores.
e. Estrutura narrativa (discurso): ordem/curiosidade.
A única criança que consegue ver Aslam, durante uma boa parte do livro, é a
pequena Lúcia que tenta convencer os irmãos de que Ele está por perto. Susana e
Pedro não acreditam nela, somente Edmundo confia no que Lúcia diz, embora não
consiga ver Aslam.
Ao pedir que seus irmãos confiem nela, é feita uma votação. A maior parte
determina que Lúcia estava vendo coisas que não existiam, que eram infundadas e,
por isso, eles prosseguiram no caminho que haviam escolhido. Tal escolha resultou em
arrependimento pela decisão errada e também pela falta de fé.
O fato de Lúcia, a mais nova, encontrar Aslam para salvar a guerra, reforça o
conceito de que as crianças, mesmo sendo teoricamente menos capazes, possuem
mais fé e apresentam, consequentemente, melhores condições de guiar e adotar
decisões mais acertadas. A esperança inabalável de Lúcia nele, contrapondo com a
incredulidade dos demais, é o ponto principal do enredo.
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Fotograma 5 – 00:45:34
Fotograma 6 – 00:59:28
Nesta cena, o Príncipe, os dois filhos de Adão e as duas filhas de Eva chegam
até o exército e são recebidos pelos centauros e os diversos seres mitológicos.
Instaura-se um clima de esperança, ao utilizar o plano conjunto é reforçada a
ênfase que se deseja dar às personagens. Importante para que o público entenda a
importância dos personagens na história.
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Fotograma 7 - 02:01:18
A grande maioria das histórias fantásticas que consegue mexer com o imaginário
do público mais jovem, simula ações de uma pessoa corajosa que, para conquistar seu
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objetivo, está disposta a lutar e enfrentar a todos. É isso que acontece em Príncipe
Caspian, pois as crianças são audaciosas e transmitem ao espectador a vontade de
ganhar e conseguir a retomada do governo de Nárnia.
Durante as diversas cenas de ação, são utilizados vários tipos de movimento de
câmera, como: panorâmico, travelling, jogo de luz, zoom (quando aproxima de algum
personagem ou objeto), e o distanciamento. Conforme a movimentação do exército, o
espectador consegue sentir essa tensão, o som é alto e a imagem treme
consideravelmente.
Instaura-se o terceiro ato, após a vitória do exército narniano. O poder é
transmitido a Caspian e a liberdade é restaurada.
TERCEIRO ATO
Fotograma 8 - 02:05:40
Fotograma 9 - 02:16:14
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Fotograma 10 - 02:16:46
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O filme pode ser considerado como circular, pois ele acaba onde começa. Ao
saírem do mundo de fantasia de Nárnia, as crianças se veem de volta ao mundo
normal: as férias realmente haviam acabado.
A trilha sonora no filme inteiro remete ao sentimento dos personagens naquele
determinado momento, e nessa cena final, a música conseguiu refletir a jornada das
crianças. O trecho da música “The Call” (O Começo), de Regina Spektor, resume o
momento „Você voltará quando acabar, não há por quê se despedir. Agora estamos de
volta ao começo‟.
Como vimos, o conto “Príncipe Caspian” pode ser dividido em três atos. O
primeiro acontece do início do filme até a parte em que Pedro, Edmundo, Suzana e
Lúcia retornam a Nárnia para uma nova aventura. Em seguida, começa o segundo ato,
em que as crianças descobrem o motivo por terem retornado até Nárnia, a missão que
foi concebida. O terceiro e último ato inicia-se no momento que os telmarinos são
derrotados por Aslam.
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LEWIS, Clive Staples. As Crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
PELLEGRINI, Tânia et al. Literatura, cinema e televisão. São Paulo: Senac São
Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2003. 144p.
FERNANDES, Dirce Lorimier. A literatura infantil. São Paulo: Edições Loyola, 2003.