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TIPOS SANGUÍNEOS

Prof. Marcus Vale - Seara da Ciência - UFC.

Antígenos e anticorpos.
Na superfície das células de uma pessoa existem certas moléculas que funcionam como uma espécie de crachá para diferenciá-las
das células de outras pessoas ou de de organismos estranhos. Essas moléculas são chamadas genericamente de antígenos. É
através desses antígenos que nosso organismo consegue distinguir o que é seu próprio e o que é estranho. Assim, a injeção de
células de um indivíduo na circulação de outro, como é o caso nas transfusões sanguíneas, pode desencadear os mecanismos do
sistema de defesa (sistema imunológico) se o sangue do doador não for compatível com o sangue do receptor. Melhor explicando:
certas células (linfócitos) do sistema imunológico são capazes de fabricar e liberar substâncias conhecidas por anticorpos cuja
tarefa é tentar eliminar os antígenos invasores ligando-se a eles. No caso do sangue, essas ligações provocam a aglutinação das
células vermelhas e, por conseqüência, oclusão de vasos. Aglutinadas, as células vermelhas não conseguem se deslocar pelo
corpo. Isso bloqueia a distribuição de oxigênio e a pessoa corre sério risco de vida. A especificidade dos anticorpos pelos antígenos
é similar àquela das enzimas pelos seus substratos e dos receptores pelos seus hormônios ou neurotransmissores.
Nas seções seguintes,veremos com mais detalhes como são classificados os antígenos das moléculas do sangue.
O sistema ABO.
Comparadas às outras células do corpo, as células vermelhas do sangue (hemácias ou eritrócitos)
possuem poucos antígenos. Porém, eles são de extrema importância do ponto de vista clínico.
Existem vários grupos de antígenos de hemácias mas o mais conhecido é o "sistema ABO". Em
termos de antígenos presentes na superfície das hemácias, as pessoas podem ser do tipo A (que só
apresentam o antígeno A), do tipo B (só apresentam antígeno B), tipo AB (apresentam antígenos A
e B) e do tipo O (não apresentam o antígeno A nem o B).
Cada pessoa herda 2 genes (um da mãe e outro do pai) que controlam a produção dos antígenos
do sistema ABO. Se ambos, mãe e pai, são A, (dizemos que ambos têm genótipo IAIA), o
descendente, obrigatoriamente, apresentará antígenos A em suas hemácias pois herda 2 gens do
tipo A, expressando seu genótipo também como IAIA. E, se um dos genitores for do tipo A, IAIA,
como citado anteriormente, e o outro for do tipo O, ainda assim o descendente será do tipo A com
genótipo IAi (esse "i" expressa a ausência de antígeno do sistema ABO). Da mesma forma,
podemos ter dois tipos de genótipo B, o IBIB e o IBi. Finalmente, se o descendente for filho de 2
pais do tipo O, necessariamente, terá tipo O com genótipo ii.
O sistema imunológico tolera os antígenos de suas próprias células vermelhas e assim, as pessoas
do tipo A não produzem anticorpos anti A mas podem produzir anticorpos anti B. E, vice-versa, as
pessoas do tipo B produzem anticorpos anti A mas não produzem anti B. Já as pessoas do tipo AB
não produzem anti A nem anti B e as pessoas do tipo O produzem ambos, anti A e anti B.
Para fazer a tipagem do sangue, utiliza-se de um teste simples. Mistura-se o sangue com
anticorpos anti A e anticorpos anti B, separadamente. O anticorpo anti A promoverá a aglutinação
das hemácias de indivíduos do tipo A ou do tipo AB e o anticorpo anti B promoverá a aglutinação
das hemácias dos indivíduos do tipo B ou AB. Nem o anticorpo anti A nem o anticorpo anti B
aglutinará as hemácias dos indivíduos do tipo O. Em outras palavras, os indivíduos do tipo AB,
chamados de "receptores universais", são capazes de receber transfusões de sangue de indivíduos
de todos os tipos do sistema ABO, pois não fabricam anticorpos anti A nem anti B. Em
contrapartida, os indivíduos do tipo O, chamados "doadores universais", podem doar sangue a
indivíduos de todos os tipos do sistema ABO, pois suas hemácias não possuem nenhum dos
antígenos do sistema ABO. Já os indivíduos do tipo A só podem receber sangue de indivíduos do
tipo A ou O e os do tipo B somente devem receber sangue do tipo B ou O.
Essas denominações podem levar a crer que o sangue de um "doador universal" pode ser
transferido para qualquer receptor mas isso nem sempre é verdade. Mesmo essas pessoas podem
ter outros anticorpos em seus organismos capazes de provocar sérias reações nos receptores. Um
teste de compatibilidade é sempre recomendável antes de qualquer transfusão.
O fator Rh.
Além dos antígenos do sistema ABO, outro tipo de antígeno também é encontrado nas hemácias: o
fator Rh. O termo Rh origina-se do nome de um macaco, Rhesus, onde originalmente esse antígeno
foi encontrado.
As pessoas que possuem esse antígeno são classificadas como Rh positivas (Rh+). As pessoas que
não possuem esse fator são denominadas Rh negativas (Rh-).
A grande maioria da população mundial é Rh+ porque esse genótipo é dominante em relação ao
grupo Rh-.
O fator Rh tem grande importância clínica pois uma pessoa com Rh- recebendo sangue de um
doador com Rh+ poderá desencadear a produção de anticorpos anti Rh. Isso também pode ocorrer
em casos de mães Rh- e pais Rh+ que geram crianças Rh+. Principalmente na época do parto as
mães podem ser expostas ao sangue do bebê. Isso pode acarretar a produção de anticorpos anti
Rh quando a presença do bebê estimula a produção de anticorpos da mãe. Os anticorpos podem
chegar até ao feto prejudicando sua saúde por desenvolver a eritroblastose fetal ou doença
hemolítica do recém-nascido. Um médico pode contornar esse problema acompanhando a gravidez
da mãe com Rh- e administrando adequadamente imunoglobulina anti-Rh.
Tabelas de tipos sanguíneos.
Os genótipos dos descendentes de pais com diferentes genótipos são apresentados nas tabelas
abaixo, tanto para o sistema ABO quanto para o Rh. Atente para o fato de que o fenótipo que
apresenta a prole é sempre dado pelo fator dominante. No sistema ABO os dominantes são A e B e
no Rh o dominante é Rh+. As tabelas apresentam as diversas combinações possíveis herdadas
pelos filhos (em amarelo).
Na Tabela 2, Rh significa Rh+ e rh significa Rh-.

Para ilustrar o uso dessas tabelas, vamos responder a uma das perguntas do início:
Meus pais têm o tipo sanguíneo A+ e A-; tem como eu ser O-?
Primeiro, vejamos se um filho de pais A pode ser O. Para isso, usamos a Tabela 1.
Como os pais são do tipo A, seus genótipos podem ser IAIA ou IAi.
Se ambos forem IAIA, o filho só pode ser IAIA, isto é, será necessariamente do tipo A. Se um dos pais for IAIA e
o outro for IAi, o filho novamente será A, pois seus genótipos poderão ser IAIA ou IAi e o A é dominante sobre
o i. Mas, se ambos forem do tipo IAi, há uma chance do filho ser O (genótipo ii), como vemos no encontro da
linha 4 com a coluna 4.
Portanto, o filho pode ser do tipo O, embora a probabilidade maior seja A.
Para ver se o filho pode ser O- usamos a Tabela 2.
Digamos que o pai seja (+) e a mãe seja (-). Usamos, portanto, as colunas 1 ou 2 (RhRh e Rhrh) e a linha 3
(rhrh). Como vemos, há uma chance (1/8) do filho ser (-) (rhrh).
Logo, a resposta é: pais A+ e A- podem ter filho O-.

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