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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNICA POLÍTICA


CIÊNCIA POLÍTICA

ÁLICE MONTEIRO MELO

A CRIAÇÃO E INSTITUIÇÃO DO ESTADO


OLIGÁRQUICO NO BRASIL

Brasília, DF
2023
ÁLICE MONTEIRO MELO

A CRIAÇÃO E INSTITUIÇÃO DO ESTADO


OLIGÁRQUICO NO BRASIL

Trabalho acadêmico apresentado ao Instituto de Ciência


Política, da Universidade de Brasília, como requisito parcial
para aprovação na disciplina Mudança Política na América do
Sul, ministrada pelo Prof. Jose Donizeth.

Brasília, DF
2023
INTRODUÇÃO
A criação da República sob uma forma de governo oligárquica no Brasil é referente a um
momento da história política brasileira que aconteceu no final do século XIX até a década de
1930. Nesse período o país abraçou o sistema republicano oligárquico como sua forma de
governo, após a queda do Império em 1889. Entretanto, apesar de ter características
democráticas, como o direito a voto, o país foi liderado por um sistema político dominado por
pequenos grupos ricos, as oligarquias. Essa República Oligárquica chegou ao fim em 1930,
quando Getúlio Vargas aplicou um golpe militar e ascendeu ao poder, marcando a transição
para um período de maior centralização do governo e alterações significativas nas arcabouço
político e econômico do país.
A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA NO BRASIL
Segundo Platão, no livro a “A República”, a Oligarquia, que significa governo de poucos, é
a forma de governo em que o poder político está concentrado em um pequeno grupo de
indivíduos pertencentes a uma família, partido político, grupo econômico ou corporação. No
caso do Brasil, a República Oligárquica (1889-1930) se forma com a queda do Império; no
fim do mesmo, D. Pedro II se encontrava muitas vezes doente e teve sua capacidade de
governar questionada, chegando até ser motivo de chacota. Em 15 de novembro de 1889 foi
proclamada a República, um golpe militar sem derramamento de sangue, D. Pedro II aceitou
pacificamente a intervenção militar e se retirou do poder. “O Império brasileiro havia sido
derrubado por um golpe militar, não por uma revolução social, e a República começou como
um governo militar.” (SKIDMORE, 1998, p. 108). Mas logo o poder se concentrou nas mãos
dos latifundiários, os grandes produtores de café e outros ricos, que se encontravam em peso
nos Estados de São Paulo e Minas Gerais.
É necessário compreender que nessa época o contexto político do Brasil era de uma relação
de muita interdependência, ou seja, para que um presidente fosse eleito era preciso ter o apoio
dos governadores, de modo que se fez uma política de governadores; e os governadores, por
sua vez, careciam do voto da população. Essa interdependência gerou uma política de alianças
e uniões que permitiram que certos grupos se mantivessem no poder.
É o momento em que o Coronelismo entra em cena, um sistema de líderes locais que
tinham autoridade sobre sua área de influência. Os coronéis desempenhavam um papel de
grande importância na organização das eleições, garantindo a vitória dos candidatos apoiados
pelos grupos oligárquicos. Eram pessoas que tinham muita influência na sua cidade e,
também, muito dinheiro; dessa forma, eles garantiam seu “curral eleitoral” – que era como
chamava essa região que o coronel dominava –, o curral eleitoral iria votar no candidato
escolhido pelo coronel. O mesmo usava de ameaças e subornos para garantir seu curral
eleitoral e ele tinha a certeza de que votariam no seu candidato porquê o voto era aberto, “a
constituição de 1891, misto de federalismo liberal e positivismo confirmou o voto aberto e
facultativo, abrindo caminho para a arregimentação eleitoral que possibilitava o coronelismo e
o voto de cabresto” (ALMEIDA, 2013, p. 269), ou seja, ele poderia verificar o voto de cada
um. Se, por ventura, o candidato oposto ao escolhido pelo coronel vencesse, ele chamaria a
Comissão Verificadora dos Poderes para averiguar se as eleições foram corretas ou corruptas,
mas essa comissão basicamente se encarregava de entregar a vitória ao candidato quisto pelo
coronel, sendo corrupta também.
A economia brasileira nesse período estava fortemente ligada a produção e exportação de
café. Surge, então, a Política do Café com Leite, que “se tornou por metonímia à definição
política da Primeira República” (ALMEIDA, 2013, p. 282), que foi uma aliança feita entre
Minas Gerais e São Paulo, mais precisamente entre os partidos PRP (Partido Republicano
Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro). Essa aliança garantia que um candidato de
cada Estado vencesse as eleições alternando entre um candidato mineiro em uma eleição e um
paulista em outra; outros estados brasileiros também faziam alianças, mas era a aliança
mineira-paulista que comandava de modo mais abrangente.
A aliança entre São Paulo e Minas Gerais ficou conhecida como República do Café com
Leite porquê eram os dois principais produtos de cada Estado, São Paulo era produtor de café
e Minas Gerais de leite e seus derivados. A aliança era forte, pois, em São Paulo havia os
grandes latifundiários com muito dinheiro e em Minas havia um grande eleitorado,
considerando que na época nem todos podiam votar, Minas conseguia, ainda assim, ter um
grande contingente de pessoas votantes – conectava o útil ao agradável, os poderosos com os
numerosos.
Antes da República Oligárquica se consolidar de fato, houve a República da Espada; o
Brasil já tinha declarado independência, mas quem governou primeiro foram dois militares,
então, quando Prudente de Morais foi eleito presidente (1894-1898), ele acabou se tornando o
primeiro presidente civil do Brasil. Durante seu governo é válido ressaltar a Guerra de
Canudos e a ascensão da oligarquia cafeicultora; o presidente ordenou que os seguidores de
Antônio Conselheiro (líder religioso) fossem massacrados e tudo destruído, para reprimir o
movimento monarquista, Canudos deveria servir de exemplo. “Quando a poeira baixou,
nenhum único defensor masculino de Canudos havia sobrevivido. [...] O custo humano para o
Exército também foi pesado.” (SKIMORE, 1998, p. 114).
Quem assume depois de Prudente de Morais é Campos Sales. Foi durante o governo do
segundo que houve a consolidação da política dos governadores, alianças e curral eleitoral; “o
acordo entre o executivo federal e os grandes Estados foi chamado por Campos Sales de ‘A
Política dos Estados’ e passou para a história com o nome de ‘política dos governadores’”
(ALMEIDA, 2013, p. 273). Eram políticas que já haviam começado um pouco antes, mas foi
em seu governo dele que elas se tornaram mais concretas.
Após Campos Sales, assume Rodrigues Alves. O destaque de seu governo foi na área da
economia; o Brasil era um grande exportador de café, mas houve um problema de
superprodução, o café acabava sobrando. Então, Rodrigues Alves faz uma coisa chamada
socialização das perdas – Os cafeicultores exportavam para o exterior e ganhavam em moeda
estrangeira, assim, o governo para aplacar a perda dos cafeicultores desvalorizava a moeda
brasileira para que eles ganhassem mais na moeda estrangeira. Isso foi bom para os
cafeicultores, mas péssimo para os demais, pois, acabava gerando inflação, um problema que
Rodrigues Alves e todos os outros presidentes depois dele tiveram que enfrentar. Outro marco
do governo de Rodrigues Alves foi a Revolta da Vacina, um movimento social de peso na
história do Brasil, pois, quando ele se propôs a renovar o centro da cidade fez, também, “uma
ampla campanha de saúde pública supervisionada pelo notável administrador médico
Oswaldo Cruz” (SKIDMORE, 1998, p. 111).
Então, uma das soluções que os produtores de café encontraram para a superprodução foi o
Convênio de Taubaté – uma reunião entre os produtores que decidiu que, quando houvesse
superprodução de café, os governadores iriam comprar o excesso de café produzido; “[...]
para limitar a produção e as exportações na esperança de aumentar os preços internacionais do
café em níveis anteriores aos de 1900, por meio da retirado do café brasileiro (a produção
havia dobrado em 1906) do mercado.” (SKIMORE, 1998, p. 117). O governo a princípio não
apoiou essa decisão, mas com o tempo, os seguintes presidentes aceitaram.
Afonso Pena foi o presidente que sucedeu a Rodrigues Alves. Ele reconheceu o Convênio de
Taubaté e deu seu apoio. Houve um acontecimento importante após o governo dele, em que
ocorreu um grande movimento para evitar que outro militar fosse eleito, porém, não deu certo.
Afinal, Hermes da Fonseca chegou a assumir a presidência, e Fonseca era militar. Uma das
coisas que Hermes fez durante a presidência foi a política das salvações – ele tirava pessoas
do poder por meio de golpes e intervenções militares, e colocava pessoas com as quais ele
tinha afinidade e o apoiaria na presidência, isso gerou várias revoltas.
A Revolta da Chibata foi uma revolta dos marujos contra os maus tratos e castigos físicos
que eles sofriam no exército. Os marujos tomaram um barco na baía de Guanabara e viraram
todos os canhões para o Rio de Janeiro, ameaçando bombardear a cidade. Os oficiais, então,
prometeram parar com os castigos físicos e que os marujos seriam perdoados pela revolta,
mas quando eles voltaram ao trabalho isso não aconteceu, de modo que, teve outra revolta na
Ilha das Cobras, mais marujos se revoltando contra os maus tratos. Essa revolta foi suprimida
violentamente, bombardearam a Ilha das Cobras e mataram um grande número de marujos,
além de prenderem eles, torturá-los, assassiná-los e extraditá-los para o Norte do país.
Wenceslau Brás assume o Brasil em 1914 e 1918, período da Primeira Guerra Mundial, o
Brasil chegou fornecer ajuda aos vencedores dessa guerra, a Tríplice Entente. Durante seu
governo ocorreu um avanço industrial devido à guerra na Europa; é válido ressaltar que ele
criou o primeiro Código Civil brasileiro.
A década de 1920 vai criar novos atores sociais, como os próprios artistas da Semana de
Arte Moderna (1922), que vão criticar esse sistema oligárquico e repensar a forma de olhar o
Brasil; “O elemento não-branco, especialmente o africano, agora era visto como um fator
positivo na formação social do Brasil” (SKIMORE, 1998, P. 149), diferente da ideia de
branqueamento que rondou o início da República; outros estados que também queriam ter
participação política se tornam mais atuantes nessa luta; a criação do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) é algo a ser destacado também nessa época. Além disso, se desenvolve a
expansão da indústria, então, o café vai perdendo um pouco da sua supremacia econômica,
mesmo ainda sendo de grande importância para a mesma. “No decorrer da década de 1920, o
investimento norte-americano e alemão na indústria brasileira aumentou significativamente,
com o norte-americano indo de US$ 50 milhões em 1914 para US$ 557 milhões em 1930.”
(SKIDMORE, 1998, p. 141).
Seguindo essa linha de insatisfação com a oligarquia surge o Tenentismo. “O tenentismo
dos anos de 1920 é, enquanto movimento histórico-político, um divisor de águas. Mas é
igualmente uma ideologia poderosa cobiçada como antecessora de diversos movimentos
posteriores” (ALMEIDA, 2013, p. 293). Foi um movimento que tentou acabar com a
república oligárquica. Os tenentes, eram pessoas não tão influentes; mas eles estavam
revoltados com a situação política e queriam mudanças, e a implementação dessas mudanças
muitas vezes era pelo uso da força. Exemplos disso foram a Revolta dos Dezoito do Forte,
quando 17 militares e 1 civil atacaram o forte de Copacabana; e a Revolução de 1924, quando
tentaram tomar o poder da cidade de São Paulo, chegaram a dominar por pouco tempo a
cidade, mas tiveram que fugir.
Militares do Sul se encontraram com esses fugitivos e formaram a Coluna Prestes, um
exército armado rodando o Brasil e buscando pessoas para combater os focos da oligarquia.
Apesar da Coluna Prestes ter causado danos ao sistema e não ter perdido uma batalha, eles
não tinham muito apoio e tiveram que procurar asilo político na Bolívia. “A resistência da
Coluna Prestes demonstrou a fraqueza da elite política civil.” (SKIDMORE, 1998, p. 147)
O governo de Washington foi difícil, porque houve várias revoltas, crise econômica e crise
de 1929. Quando seu mandato acabou, ele sugeriu como seu sucessor Júlio Prestes, mas
Prestes era paulista e com essa sugestão Washington estaria rompendo com a Política do Café
com Leite, pois, ele deveria sugerir um candidato do partido mineiro. Dessa forma, Minas
Gerais acaba se aliando a outros estados, formando a Aliança Liberal, com o objetivo de
acabar com o voto aberto, instituindo o voto secreto, fazer mudanças políticas para darem fim
na república oligárquica. Então, Minas Gerais indica Getúlio Vargas, um sulista, e como seu
vice João Pessoa para concorrer a eleição contra Prestes, mas Prestes acaba ganhando. Após a
vitória de Prestes, João Pessoa acaba sendo assassinado em uma briga, então, Getúlio Vargas
e o partido alegaram que ele não foi assassinado por um motivo qualquer e sim por motivos
políticos. De modo que, os militares, em apoio a Getúlio, instauram o golpe, a Revolução de
1930. O que acabou de fato com a república oligárquica, tendo Getúlio Vargas como
responsável por acabar com a mesma.
CONCLUSÃO
A instauração da Oligarquia no Brasil se apresenta como um período de extrema
complexidade na história do país. Portanto, é possível concluir que foi um momento marcado
por ter sido desafiador e absurdo que moldou de maneira profunda o cenário político e social
do povo brasileiro. De modo que, a República Oligárquica brasileira mostra como a retórica
democrática pode não ser traduzida em uma democracia verdadeira, por causa dessas
armações de poder que favorecem as elites econômicas e políticas. É um período importante
para compreender as raízes das desigualdades políticas e sociais no país e as transformações
que surgiram devido a Revolução de 1930.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Daniel Lima de. Manual do Candidato: História do Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de
Gusmão, 2013. p. 267-343

BARROS, Antonio. Os presidentes da República Velha. Câmara dos Deputados, 2006. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/noticias/93698-os-presidentes-da-republica-velha/>. Acesso em: 27 out. 2023.

NASCIMENTO, Á. P. DO .. "Sou escravo de oficiais da Marinha": a grande revolta da marujada negra por
direitos no período pós-abolição (Rio de Janeiro, 1880-1910). Revista Brasileira de História, v. 36, n. 72, maio
2016. p. 151-159

PLATÃO. A República. Brasília: Editora UnB, 1996. p. 361-407.

SKIDMORE, Thomas. Uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. p. 97-155.

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