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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA Xª VARA FEDERAL DA

SUBSEÇÃ O JUDICIÁ RIA DE CIDADE – UF

NOME DA PARTE, já cadastrado eletronicamente,


vem, com o devido respeito, por meio dos seus
procuradores, perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE CONCESSÃO


DE APOSENTADORIA ESPECIAL

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL


(INSS), pelos fundamentos fá ticos e jurídicos que ora
passa a expor:

I – DOS FATOS

O Autor, nascido em DIA de MÊ S de ANO (documento de identificaçã o anexo), filiou-se à


Previdência Social em junho de 1979. É importante assinalar que durante praticamente toda a
vida laborativa esteve submetido a agentes nocivos. O quadro abaixo demonstra de forma objetiva
as profissõ es desenvolvidas e o tempo de duraçã o de cada contrato:

Admissão Rescisão Empregador Cargo Tempo de contribuição


03 meses, convertidos em 02 meses
01/06/1979 31/08/1979 XXXXXXXXXXXXX Servente
e 03 dias (fator 0,71).
Op. de 10 meses e 04 dias, convertidos em
11/12/1979 14/10/1980 XXXXXXXXXXXXX
Má quinas 07 mês e 05 dias (fator 0,71).
01 ano e 19 dias. Atividade
considerada nociva com base no
01/11/1980 19/11/1981 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
Decreto 53.831/64, item 1.1.6
(Ruído) e poeiras de madeira.
01 ano e 09 meses. Atividade
considerada nociva com base no
01/04/1982 30/12/1983 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
Decreto 53.831/64, item 1.1.6
(Ruído) e poeiras de madeira.
04 meses e 15 dias. Atividade
considerada nociva com base no
01/10/1984 15/02/1985 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
Decreto 53.831/64, item 1.1.6
(Ruído) e poeiras de madeira.
03 anos, 10 meses e 20 dias.
Atividade considerada nociva com
06/03/1985 25/01/1989 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
base no Decreto 53.831/64, item
1.1.6 (Ruído) e poeiras de madeira.
08 anos, 09 meses e 25 dias.
Atividade considerada nociva com
base no Decreto 53.831/64, item
01/08/1989 25/05/1998 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
1.1.6 (Ruído); Decreto 2.172/97,
item 2.0.1 (Ruído) e poeiras de
madeira.
14 anos e 16 dias. Atividade
considerada nociva com base no
01/03/2001 16/03/2015 XXXXXXXXXXXXX Marceneiro
Decreto 3.048/99, item 2.0.1
(Ruído) e poeiras de madeira.
Tempo de serviço submetido a agentes nocivos 29 anos, 11 meses e 05 dias

Tempo de serviço especial (com conversão inversa) 30 anos e 08 meses e 13 dias


Número de contribuições 375 contribuições

A despeito da existência de todos os requisitos ensejadores do benefício de aposentadoria


especial, o Requerente, em via administrativa, teve seu pedido indevidamente negado, sob a
justificativa infundada de falta de tempo de contribuição-atividade (s) descrita (s) no formulário de
informações para atividades especiais não foram enquadradas pela Perícia Médica (comunicaçã o de
decisã o em anexo).

Tal decisã o indevida motiva a presente demanda.

II – DO DIREITO

O § 1º do art. 201 da Constituiçã o Federal determina a contagem diferenciada dos períodos


em que os segurados desenvolveram atividades especiais. Por conseguinte, a Lei 8.213/91,
regulamentando a previsã o constitucional, estabeleceu a necessidade do desempenho de
atividades nocivas durante 15, 20 ou 25 anos para a concessã o da aposentadoria especial,
dependendo da profissã o e /ou agentes nocivos, conforme previsto no art. 57 do referido diploma
legal.

É importante destacar que a comprovaçã o da atividade especial até 28 de abril de 1995 era
feita com o enquadramento por atividade profissional (situaçã o em que havia presunçã o de
submissã o a agentes nocivos) ou por agente nocivo, cuja comprovaçã o demandava preenchimento
pela empresa de formulá rios SB40 ou DSS-8030, indicando o agente nocivo sob o qual o segurado
esteve submetido. Todavia, com a nova redaçã o do art. 57 da Lei 8.213/91, dada pela Lei
9.032/95, passou a ser necessá ria a comprovaçã o real da exposiçã o aos agentes nocivos, sendo
indispensá vel a apresentaçã o de formulá rios, independentemente do tipo de agente especial.

Além disso, a partir do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou as disposiçõ es introduzidas


no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisó ria nº 1.523/96 (convertida na Lei nº
9.528/97), passou-se a exigir a apresentaçã o de formulá rio-padrã o, embasado em laudo técnico,
ou perícia técnica. Entretanto, para o ruído e o calor sempre foi necessá ria a comprovaçã o através
de laudo pericial.

No entanto, os segurados que desempenharam atividade considerada especial podem


comprovar tal aspecto observando a legislaçã o vigente à data do labor desenvolvido.

DA COMPROVAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS – CASO CONCRETO

Considerando a evoluçã o a respeito do conjunto probató rio para o reconhecimento das


atividades especiais, passa-se à aná lise da comprovaçã o dos agentes nocivos presentes em todos
os períodos contributivos requeridos no presente petitó rio.

Períodos: 01/11/1980 a 19/11/1981 e de 01/04/1982 a 30/12/1983


Empresas: XXXXXXXXXXXXX, XXXXXXXXXXXXX
Cargo: Marceneiro

Nos períodos em aná lise, o Autor trabalhou no cargo de marceneiro em empresas que já
encerraram as atividades (comprovantes no processo administrativo), situadas no município de
CIDADE – UF.
Tais empresas atuavam no ramo de fabricação de esquadrias e aberturas, conforme
registrado na CTPS do Autor. Vale conferir (grifos acrescidos):

(TRECHO PERTINENTE DA CTPS)

Nesse ínterim, vale destacar o Recurso Cível nº 5002728-83.2011.404.7213, julgado pela 2ª


Turma Recursal de Santa Catarina, no qual o Juiz Federal Relator Henrique Luiz Hartmann, ao
confirmar a decisã o de primeiro grau, destacou a possibilidade de avaliaçã o indireta dos agentes
nocivos, considerando que as empresas do ramo de marcenaria possuem grande
similaridade entre si. Veja-se:

2ª Turma Recursal de Santa Catarina, Recurso Cível nº 5002728-


83.2011.404.7213, Relator: Henrique Luiz Hartmann, julgado em 10/06/2015.
Períodos de 02.05.1976 a 11.10.1976, de 18.10.1976 a 10.12.1976, de 01.02.1977 a
18.06.1979 e de 01.08.1979 a 29.10.1979 - Auxiliar de Marceneiro- Esquadrias
Schutze S.A.: tendo em vista o encerramento das atividades da
empregadora, foi designada a realização de laudo pericial, que
foi juntado no evento 32. Com relação à alegação do INSS de que o
perito não efetuou a verificação in loco, tenho que esse
procedimento somente se justificaria se a empregadora estivesse
em atividade, o que proporcionaria uma visã o das reais condiçõ es de trabalho
da parte autora. Mas, como o laudo seria realizado em uma empresa de
atividades similares, não vejo óbice de que o perito realize o laudo
com base em empresas similares que já visitou, ainda mais no caso
dos autos, em que o autor trabalhou em marcenarias,
empresas que normalmente possuem muita similaridade
entre si. Desse modo, com o laudo pericial indica que, na atividade havia
exposiçã o a ruído com intensidade variando entre 86 e 110 dB(A), tenho ser
possível o reconhecimento da especialidade. (grifos acrescidos)

Assim sendo, requer o Autor a utilizaçã o do laudo produzido no processo XXXXXXX-


XX.XXXX.XXX.XXXX, referente ao Sr. XXXXXXXXXXXXXX, também marceneiro, em processo no qual
o Réu também foi o INSS.

No referido laudo judicial, foram avaliadas atividades idênticas às do Autor da


presente ação, em empresas exatamente do mesmo ramo de atividade (fábricas de
esquadrias e aberturas da região).
Sendo assim, vale conferir as mediçõ es de ruído aferidas na empresa XXXXXXXXXXXXX,
cujos equipamentos avaliados, diga-se de passagem, estã o presentes em todas as empresas do
ramo (Evento X, XXXXXXX, pá gina X):

(DOCUMENTO PERTINENTE)

Outrossim, segue em anexo PPRA referente à empresa XXXXXXXXXXXXX, que também atua
no ramo de fabricaçã o de esquadrias.

O PPRA aponta, para a funçã o de marceneiro, a exposiçã o habitual e permanente ao ruído


em nível de 91.3 dB, bem como ao agente nocivo poeiras vegetais (XXX, pá gina X).

Dessa forma, diante dos agentes nocivos presentes e considerando que as funçõ es de
marcenaria sã o facilmente delimitá veis, resta demonstrado que o Autor possui direito ao
reconhecimento do tempo de serviço especial correspondente.

De qualquer forma, caso Vossa Excelência entenda necessá rio, poderá ser produzida prova
testemunhal e pericial para a comprovaçã o das atividades desempenhadas e aferiçã o dos agentes
nocivos.

Períodos: 01/10/1984 a 15/02/1985 e de 01/08/1989 a 25/05/1998


Empresas: XXXXXXXXXXXXX e XXXXXXXXXXXXX
Cargo: Marceneiro

Nos períodos em aná lise, novamente o Autor laborou no cargo de marceneiro, mas desta
vez em empresas moveleiras que já encerraram as atividades (comprovantes no processo
administrativo).

A fim de evitar tautologia, reitera-se o precedente utilizado no tó pico anterior, no qual se


destaca a possibilidade de avaliaçã o indireta das atividades em empresas de marcenaria.

Sendo assim, requer o Autor que a documentaçã o referente à empresa XXXXXXXXXXXXX,


na qual o Autor laborou no período de 01/03/2001 a 16/03/2015, seja utilizada para avaliaçã o
indireta da exposiçã o aos agentes nocivos nos períodos em aná lise.

Nã o obstante, caso Vossa Excelência entenda necessá rio, poderá ser produzida prova
pericial e ou/ testemunhal.
Período: 06/03/1985 a 25/01/1989
Empresa: XXXXXXXXXXXXX
Cargo: Marceneiro

A XXXXXXXXXXXXX nã o forneceu formulá rio para comprovaçã o da atividade especial, sob o


fundamento de que já se passaram mais de vinte anos desde a data de saída do contrato de
trabalho – declaraçã o em anexo.

Sendo assim, o procurador do Autor solicitou à empresa o laudo mais antigo existente nos
seus arquivos. Em resposta, a responsá vel pelos Recursos Humanos informou que somente é
fornecido quando solicitado pela autoridade competente (có pia do e-mail anexa).

Ocorre que esta lamentá vel e corriqueira conduta da empresa ignora a previsã o contida na
NR 9, que estabelece a obrigatoriedade de manter um banco de dados de PPRA (9.3.8.1), e
determina que “O registro de dados deverá estar sempre disponível AOS TRABALHADORES
INTERESSADOS OU SEUS REPRESENTANTES e para as autoridades competentes” (9.3.8.3).

Inconformado, foi enviada notificaçã o à empresa (em anexo), a fim de que fosse
apresentado o laudo solicitado. Entretanto, nã o houve resposta.

Dessa forma, faz-se necessá rio que seja oficiada a empresa para que apresente o banco de
laudos periciais, inclusive a avaliaçã o elaborada na data mais pró xima à época do contrato de
trabalho do Autor, sob pena de multa diá ria.

Período: 01/03/2001 a 16/03/2015


Empresa: XXXXXXXXXXXXX
Cargo: Marceneiro

De acordo com o PPP apresentado no processo administrativo, a empresa somente possui


dados das condiçõ es de trabalho do Autor a partir de 01/08/2012.

(DOCUMENTO PERTINENTE)

Em contato com a responsá vel pela empresa, o Autor foi informado que a descriçã o das
atividades foi apresentada a partir da data em que a empresa passou a ter profissional
responsá vel pela Medicina do Trabalho.
De qualquer forma, nã o há nenhuma razã o para se inferir que as atividades anteriores a
01/08/2012 eram diversas das atuais, haja vista que o Autor sempre ocupou o mesmo cargo.

Ademais, considerando a carência de informaçõ es do formulá rio PPP, segue anexo o laudo
judicial produzido no processo nº XXXXXXX-XX.XXXX.XXX.XXXX, que tramitou na Xª Vara Federal
de CIDADE, referente ao Sr. XXXXXXXXXXXXXXX, que laborou no mesmo local e cargo do Autor
da presente açã o, contemporâ neo na empresa.

No parecer do Perito XXXXXXXXXX (CREA/UF XX.XXX), as atividades de marceneiro na


empresa foram assim descritas:

(TRECHO PERTINENTE DA PERÍCIA)

Posteriormente, o expert realizou a avaliaçã o ambiental na empresa, momento em que foi


constatado o seguinte nível de ruído (evento X, XXXXXXX, pá gina XX):

(TRECHO PERTINENTE DA PERÍCIA)

Salienta-se que a avaliaçã o foi realizada in loco. Além disso, foi realizada entrevista com a
responsá vel pela empresa, a Sra. XXXXXXXXXXXXX.

Outrossim, em resposta ao quesito XX, o Perito afirmou que a exposiçã o ocorreu de forma
habitual e permanente.

Por fim, destaca-se que no PPRA da empresa constam mediçõ es individuais da pressã o
acú stica dos equipamentos utilizados pelo Autor, sendo constado que a grande maioria produzia
individualmente ruído superior ao limite legal. Ocorre que no ambiente de trabalho há ruído
simultâ neo proveniente de diversos equipamentos, o que expõ e os trabalhadores a nível médio
bastante superior aos registrados no PPRA.

Tal constataçã o é corroborada pela mediçã o aferida pelo Perito Judicial do processo
supracitado, eis que esta foi realizada através de dosimetria, método adequado para a avaliaçã o do
agente nocivo em casos de exposiçã o a níveis variados.

Sendo assim, comprovada a exposiçã o ao ruído em nível superior ao limite legal, deve ser
reconhecida a atividade especial realizada.
Por fim, caso Vossa Excelência entenda necessá rio, poderá ser realizada prova pericial,
momento em que o Perito poderá inclusive entrevistar os proprietá rios da empresa, a fim de
confirmar as atividades desenvolvidas pelo Autor no período anterior à descriçã o das atividades
firmada no PPP, avaliando eventuais documentos disponíveis na empresa para comprovaçã o das
funçõ es, com fulcro nas atribuiçõ es previstas no art. 429 do CPC.

DA CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO COMUM EM ESPECIAL

A Lei 8.213/91, em sua redaçã o original, foi disciplinada pelo Decreto 611/92, o qual
estabelecia a possibilidade da conversã o do tempo de serviço comum em especial, conforme
disposto no art. 64 deste diploma normativo.

Entretanto, a Lei 9.032/95 afastou esta hipó tese de conversã o ao alterar o §3º do art. 57 da
Lei 8.213/91, mas sem prejudicar o direito adquirido aos períodos anteriores à sua vigência, ainda
que os requisitos para aposentadoria somente sejam preenchidos posteriormente, entendimento
este que garante a aplicaçã o do disposto do art. 5º, inciso XXXVI, da Constituiçã o Federal.

Portanto, considerando que o Autor desempenhou atividades em que nã o comprova a


sujeiçã o a agentes nocivos relativas a períodos anteriores à Lei 9.032/95, mostra-se imperiosa a
conversã o do tempo de serviço comum em especial pelo fator 0,71, com fulcro no art. 64 do
Decreto 611/92.

DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL

De acordo com os Decretos 53.831/64, 83.080/79, 2.172/97 e 3.048/99, considerando as


atividades desempenhadas no presente caso, faz-se necessá ria a exposiçã o a agentes nocivos
durante 25 anos para a concessã o da aposentadoria especial.

Desta forma, o Autor adquiriu o direito ao benefício, haja vista que laborou em condiçõ es
especiais durante 30 anos, 08 meses e 13 dias.

Quanto à carência, verifica-se que foram realizadas 375 contribuições, nú mero superior
aos 180 meses previstos no art. 25, II, da Lei 8.213/91.

Destarte, cumprindo os requisitos exigidos em lei, tempo de serviço submetido a agentes


nocivos e carência, o Autor adquiriu o direito à aposentadoria especial.
DA POSSIBILIDADE DO AUTOR PERMANECER EXERCENDO ATIVIDADES NOCIVAS

Inicialmente, é necessá rio analisar as previsõ es contidas no pará grafo 8º do art. 57 e no art.
46 da Lei 8.213/91:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei,
ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei.
(...)
§ 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que
continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes
da relação referida no art. 58 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.732, de 11.12.98)

------

Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá
sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Com base nos dispositivos supracitados, a restriçã o ao trabalho para os beneficiá rios de
aposentadoria especial está embasada nos mesmos fundamentos da aposentadoria por invalidez,
o que constitui um evidente equívoco do legislador, uma vez que a vedaçã o ao trabalho imposta ao
jubilado por incapacidade decorre de ausência de capacidade laborativa. Assim sendo, o
cancelamento da aposentadoria por invalidez se justifica quando o segurado retorna as atividades
laborativas, à medida que a incapacidade terá cessado.

Por outro lado, o beneficiá rio de aposentadoria especial ainda goza de plena capacidade
laborativa, e a aposentadoria precoce deve tã o somente retribuir o desempenho das atividades
nocivas, sem qualquer medida que venha a coibir o livre exercício da sua profissã o, a qual
constitui uma garantia prevista no Artigo 5º, inciso XIII, da Constituiçã o Federal:

Art. 5º Todos sã o iguais perante a lei, sem distinçã o de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Tal previsã o é reforçada no art. 6º da Carta Magna:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (grifos
acrescidos).
Deve-se destacar que o § 8º do art. 57 da Lei 8.213/91 não possui caráter protetivo,
haja vista que não há vedação para que o segurado continue trabalhando em atividades
consideradas nocivas após a concessão da aposentadoria, mas apenas que seja suspenso o
pagamento em caso de retorno à atividade. Trata-se, portanto, de mera previsão punitiva.

Ademais, a aposentadoria especial é prevista no art. 201 da Constituiçã o Federal para


aqueles trabalhadores que exercem atividades em condiçõ es que prejudiquem a saú de ou a
integridade física, sem qualquer outra condicionante ao gozo do benefício:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redaçã o dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os
casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos
termos definidos em lei complementar.

De fato, a ú nica restriçã o que deve ser obedecida é a vedaçã o ao trabalho noturno, perigoso
ou insalubre aos menores de dezoito anos, conforme previsto no art. 7º, inciso XXXIII, da
Constituiçã o Federal.

Cabe destacar, ainda, que a Autarquia Previdenciá ria nã o sofrerá nenhum prejuízo em
razã o da continuidade do desempenho da atividade do beneficiá rio da aposentadoria especial,
muito pelo contrá rio, visto que o segurado continua vertendo contribuiçõ es à Previdência Social.

Ademais, mesmo em se tratando de aposentadoria especial, a maioria dos segurados obtém


o benefício com RMI bastante inferior ao ú ltimo salá rio, pois sã o consideradas as contribuiçõ es
vertidas desde julho de 1994.

Portanto, a concessã o da aposentadoria especial em casos tais seria uma verdadeira


puniçã o ao segurado, que geralmente passaria a receber renda inferior ao que vinha recebendo no
ú ltimo emprego, eis que nesse momento o segurado conta com maior qualificaçã o e experiência
profissional.

Da mesma forma, caso mantida a determinaçã o para o afastamento das atividades, estaria
inviabilizada a aposentadoria especial para os segurados que obtém renda bastante superior ao
teto previdenciá rio, haja vista que seria necessá ria uma completa readequaçã o financeira e social
para a manutençã o do segurado apenas com o valor do benefício.

Isso porque é inviá vel exigir de um profissional que laborou a vida inteira na mesma funçã o
altere completamente as suas atividades.

Deve-se considerar ainda o fato de que muitas pessoas deixarã o suas profissõ es em idade
inferior aos cinquenta anos e em pleno auge de capacitaçã o profissional, o que, num país
absolutamente carente de mã o de obra qualificada, constitui um completo retrocesso.

Por todas as razõ es expostas, tal matéria possui natureza de ordem pú blica, sendo que a
vedaçã o prevista no § 8º do art. 57 da Lei 8.213/91 foi julgada inconstitucional pelo pleno do TRF
da 4ª Regiã o. A arguiçã o de inconstitucionalidade restou assim ementada:

PREVIDENCIÁ RIO. CONSTITUCIONAL. ARGUIÇÃ O DE INCONSTUCIONALIDADE. §


8º DO ARTIGO 57 DA LEI Nº 8.213/91. APOSENTADORIA ESPECIAL. VEDAÇÃ O DE
PERCEPÇÃ O POR TRABALHADOR QUE CONTINUA NA ATIVA, DESEMPENHANDO
ATIVIDADE EM CONDIÇÕ ES ESPECIAIS.1. Comprovado o exercício de atividade
especial por mais de 25 anos, o segurado faz jus à concessã o da aposentadoria
especial, nos termos do artigo 57 e § 1º da Lei 8.213, de 24-07-1991, observado,
ainda, o disposto no art. 18, I, "d" c/c 29, II, da LB, a contar da data do
requerimento administrativo. 2. O § 8º do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 veda a
percepçã o de aposentadoria especial por parte do trabalhador que continuar
exercendo atividade especial.3. A restriçã o à continuidade do desempenho da
atividade por parte do trabalhador que obtém aposentadoria especial cerceia, sem
que haja autorizaçã o constitucional para tanto (pois a constituiçã o somente
permite restriçã o relacionada à qualificaçã o profissional), o desempenho de
atividade profissional, e veda o acesso à previdência social ao segurado que
implementou os requisitos estabelecidos na legislaçã o de regência.4. A regra em
questã o nã o possui cará ter protetivo, pois nã o veda o trabalho especial, ou mesmo
sua continuidade, impedindo apenas o pagamento da aposentadoria. Nada obsta
que o segurado permaneça trabalhando em atividades que impliquem exposiçã o a
agentes nocivos sem requerer aposentadoria especial; ou que aguarde para se
aposentar por tempo de contribuiçã o, a fim de poder cumular o benefício com a
remuneraçã o da atividade, caso mantenha o vínculo; como nada impede que se
aposentando sem a consideraçã o do tempo especial, peça, quando do afastamento
definitivo do trabalho, a conversã o da aposentadoria por tempo de contribuiçã o
em aposentadoria especial. A regra, portanto, nã o tem por escopo a proteçã o do
trabalhador, ostentando mero cará ter fiscal e cerceando de forma indevida o
desempenho de atividade profissional.4. A interpretaçã o conforme a constituiçã o
nã o tem cabimento quando conduz a entendimento que contrarie sentido expresso
da lei.5. Reconhecimento da inconstitucionalidade do § 8º do artigo 57 da Lei nº
8.213/91. (Arguiçã o De Inconstitucionalidade 5001401-77.2012.404.0000, Rel.
Des. Federal Ricardo Teixeira Do Valle Pereira).

Dessa forma, a jurisprudência do TRF da 4ª Regiã o vem reiteradamente adotando o mesmo


entendimento:
EMENTA: PREVIDENCIÁ RIO. TEMPO ESPECIAL. AGENTE NOCIVO RUÍDO. EPI.
APOSENTADORIA ESPECIAL. AFASTAMENTO DO TRABALHO. ART. 57, §8º, DA LEI DE
BENEFÍCIOS. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. 1. É admitida como especial a
atividade em que o segurado ficou exposto a ruídos superiores a 80 decibéis até
05/03/1997, em que aplicá veis concomitantemente, para fins de enquadramento, os
Decretos n. 53.831/64 e 83.080/79; superiores a 90 decibéis no período de 06/03/1997 a
18/11/2003, de acordo com o Decreto nº 2.172/97, e, a partir de 19/11/2003 superiores a
85 decibéis, nos termos do Decreto 4.882/2003. 2. O uso de Equipamento de Proteçã o
Individual - EPI, por si só , nã o elide os efeitos nocivos de atividade sujeita à exposiçã o a
agentes nocivos. No caso, nã o restou comprovado nos autos o efetivo fornecimento, pela(s)
empresa(s), do referido dispositivo, tampouco demonstrado o uso permanente pelo
empregado durante a jornada de trabalho. 3. Preenchidos os requisitos legais, tem o
segurado direito à concessã o da aposentadoria especial, sem incidência do fator
previdenciá rio, a contar da data do requerimento administrativo. 4. Reconhecida a
inconstitucionalidade do § 8º do art. 57 da LBPS pela Corte Especial
deste Tribunal (Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade n.
5001401-77.2012.404.0000, Rel. Des. Federal Ricardo Teixeira do
Valle Pereira, julgado em 24-05-2012), que determina o afastamento
do trabalho após a concessão de aposentadoria especial, resta
assegurada à parte autora a possibilidade de continuar
exercendo atividades laborais sujeitas a condições nocivas
após a conversão do benefício, sendo este devido a contar da data
do requerimento administrativo, nos termos do § 2º do art. 57 c/c art.
49, II, da Lei n. 8.213/91. (TRF4, AC 5044032-85.2012.404.7000, Sexta Turma,
Relator p/ Acó rdã o (auxílio Kipper) Paulo Paim da Silva, juntado aos autos em
04/05/2015, grifos acrescidos).

Por todo exposto, resta demonstrada a inconstitucionalidade e a incoerência do pará grafo


8º do Artigo 57 da Lei 8.213/91, que veda ao aposentado especial o direito de exercer sua
profissã o, de forma que é imperioso que seja garantido o livre exercício profissional apó s a
concessã o da aposentadoria especial.

Por fim, há que se atentar que o Supremo Tribunal Federal reconheceu Repercussã o Geral a
respeito da matéria em comento, no julgamento do RE 778.092.

III – DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

ENTENDE O AUTOR QUE A ANÁLISE DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA PODERÁ SER MELHOR


APRECIADA EM SENTENÇA

O Requerente necessita da concessã o do benefício em tela para custear a pró pria vida. Vale
ressaltar que os requisitos exigidos para a concessã o se confundem com os necessá rios para o
deferimento desta medida antecipató ria, motivo pelo qual, em sentença, se tornará imperiosa a
sua concessã o.

Os agentes nocivos e o cará ter alimentar do benefício traduzem um quadro de urgência que
exige pronta resposta do Judiciá rio, tendo em vista que nos benefícios previdenciá rios resta
intuitivo o risco de ineficá cia do provimento jurisdicional final.

IV – DO PEDIDO

ANTE O EXPOSTO, REQUER:

a) O recebimento e o deferimento da presente peça inaugural;

b) A concessã o do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, tendo em vista que o Autor nã o


tem como suportar as custas judiciais sem o prejuízo do seu sustento pró prio e da sua família;

c) A citaçã o da Autarquia Ré, por meio de seu representante legal, para que, querendo, apresente
defesa;

d) A produçã o de todos os meios de provas em direito admitidos, especialmente:

d1) A utilizaçã o do laudo produzido no processo nº XXXXXXX-XX.XXXX.XXX.XXXX, na


condiçã o de prova emprestada, bem como o PPRA da empresa XXXXXXXXXXXXXX, para
avaliaçã o dos períodos de 01/11/1980 a 19/11/1981 e de 01/04/1982 a 30/12/1983;

d2) A utilizaçã o do laudo produzido no processo nº XXXXXXX-XX.XXXX.XXX.XXXX, na


condiçã o de prova emprestada, para avaliaçã o do período de 01/03/2001 a 16/03/2015;

d3) A expediçã o de ofício ao representante legal da XXXXXXXXXXXXX, situada na XXXXXXX,


XXXXXXXX, CIDADE/UF, para que apresente o banco de laudos, inclusive o mais pró ximo
possível da data da prestaçã o das atividades, sob pena de multa diá ria;

d4) Subsidiariamente, requer o Autor a produçã o de prova pericial e/ou testemunhal;

e) O deferimento da Antecipação de Tutela, com a apreciaçã o do pedido de implantaçã o do


benefício em sentença;
f) O julgamento da demanda com TOTAL PROCEDÊNCIA, condenando o INSS a:

1) Reconhecer o tempo de serviço especial desenvolvido durante os períodos de


01/11/1980 a 19/11/1981, 01/04/1982 a 30/12/1983, 01/10/1984 a
15/02/1985, 06/03/1985 a 25/01/1989, 01/08/1989 a 25/05/1998 e de
01/03/2001 a 16/03/2015;
2) Converter o tempo de serviço comum em especial, com base no fator 0,71, dos
períodos de 01/06/1979 a 31/08/1979 e de 11/12/1979 a 14/10/1980;
3) Conceder ao Autor o BENEFÍCIO DA APOSENTADORIA ESPECIAL, a partir do
requerimento administrativo realizado em 16/03/2015, com a opçã o de
permanecer exercendo atividades consideradas nocivas, e a condenaçã o do
pagamento das prestaçõ es em atraso, corrigidas na forma da lei, acrescidas de juros
de mora desde quando se tornaram devidas as prestaçõ es;
4) Subsidiariamente, no caso de nã o serem reconhecidos os 25 anos de atividades
nocivas necessá rios para a aposentadoria especial, o que só se admite
hipoteticamente, requer a conversã o do tempo de serviço especial em comum de
todos os períodos submetidos a agentes nocivos (fator 1,4), concedendo ao Autor o
benefício da aposentadoria por tempo de contribuiçã o, nos termos do subitem
anterior;
5) Caso nã o seja reconhecido tempo de contribuiçã o suficiente para a concessã o do
benefício até a DER, requer a reafirmaçã o desta para a data do preenchimento do
requisito.

Nesses Termos;
Pede Deferimento.

Dá à causa o valor1 de R$ XX.XXX,XX.

____________,______de___________________20___

NOME DO ADVOGADO
OAB/UF XX.XXX

1
Demonstrativo de cá lculo do valor da causa em anexo.

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