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O ECOFEMINISMO E O SAGRADO FEMININO NO VÍDEO A TERRA É UMA

MULHER E O MEU ÚTERO, O UNIVERSO DE MÓNICA GUERRA

Agnes Rocha de Almeida


Mestranda em Gestão Integrada do Território da
Universidade Vale do Rio Doce
agnes.rocha@univale.br

Maria Celeste Reis Fernandes de Souza


Doutora em Educação - Professora da
Universidade Vale do Rio Doce
maria.celeste@univale.br

Renata Bernardes Faria Campos


Doutora em Meio Ambiente - Professora da
Universidade Vale do Rio Doce
renata.campos@univale.br

Fernanda Cristina de Paula


Doutora em Geografia – Professora da
Universidade Vale do Rio Doce
fernanda.paula@univale.br

RESUMO
No vídeo “A Terra é uma Mulher e o meu Útero, o Universo”, transmitido no palco do
TEDxUnirio, Mónica Guerra da Rocha apresenta, em 18 minutos, a sua estória de vida, abordando
cenas da sua infância, as dores relacionadas à sua menstruação, e a forma como ressignifica sua
menstruação e o modo como lida com a natureza, com o trabalho e com outras mulheres.
Observando elementos do ecofeminismo e do sagrado feminino na narrativa da palestra,
objetivou-se refletir, a partir do vídeo, como essas temáticas comparecem na fala da palestrante,
e suas possíveis interconexões. Conclui-se que a palestra traz um relato de vida sem fazer
referência direta a nenhuma abordagem teórica metodológica, sem mencionar diretamente o
movimento ecofeminista ou o resgate do sagrado feminino, no entanto, através da narrativa,
identificam-se importantes aspectos do ecofeminismo espiritualista e de práticas relacionadas ao
respeito ao sagrado feminino.

Palavras-chave: Ecofeminismo. Sagrado Feminino. Mulheres

ABSTRACT
In the video “The Earth is a Woman and my uterus is the Universe”, broadcasted on the stage of
TEDxUnirio, Mónica Guerra da Rocha presents, in 18 minutes, her life story, addressing scenes
from her childhood, the pains related to her menstruation, and the way in which she reframes her
menstruation and her way to deal with nature, work and other women. Observing elements of
ecofeminism and the sacred feminine in the narrative of the lecture, the objective was to reflect,
through the video, how these themes appear in the lecturer's speech, and their possible
interconnections. It is concluded that the lecture brings a life report without making direct
reference to any theoretical methodological approach, without directly mentioning the
ecofeminist movement or the rescue of the sacred feminine, however, through the narrative,
important aspects of spiritualist ecofeminism and of practices related to respect for the sacred
feminine are identified.
Keywords: Ecofeminism. Sacred Feminine. Women.

INTRODUÇÃO

Recomendado em sites, páginas de redes sociais e blogs que abordam o sagrado


feminino, o vídeo “A Terra é uma Mulher e o meu Útero, o Universo” surpreende as
pessoas que chegam até ele na expectativa de conhecer e compreender o “sagrado
feminino”. Isso porque a palestrante, Mónica Guerra da Rocha, não o aborda diretamente.
Convém esclarecer que a palestra ocorre no palco do TEDxUnirio1, sendo que o
formato TED tem uma característica peculiar: os palestrantes possuem 18 minutos para
compartilhar suas ideias e inspirar os telespectadores. Desse modo, Mónica adota uma
estratégia. Nesses 18 minutos, ela narra sua estória, começando com sua curiosidade
infantil aos 7 anos, traz situações vividas, como o choro na primeira menstruação, um
transtorno alimentar vivido, a percepção da ciclicidade das frutas no mercado do pai, o
ciclo menstrual no trabalho, a ressignificação da sua menstruação, a compreensão dos
ciclos da natureza, a riqueza da natureza, e termina falando da sua esperança em um futuro
melhor para as mulheres, futuro em que elas, além de não sofrerem com a violência,
reconhecem sua força, seu poder e seu útero.
Mesmo se apresentando em entrevistas e canais de redes sociais como
ecofeminista, Mónica também não fala desse movimento. Trata-se de um vídeo para
inspirar os espectadores a buscarem mais informações acerca daquilo que ela está falando
e, portanto, o que nos instigou e mobilizou para a escrita deste artigo, que tem como
objetivo refletir, a partir do vídeo, como as temáticas do ecofeminismo e do sagrado
feminino comparecem na fala da palestrante, e suas possíveis interconexões.
Considerando seu currículo2, bem como algumas falas no vídeo, como “submissão
das mulheres”, “conexão das mulheres com a natureza”, “a força da terra”, “o cuidado
com as sementes”, e “o plantio de soja e milho”, foi realizada uma busca em referências
ecofeministas. Além disso, considerando também o compartilhamento do vídeo em
grupos do sagrado feminino, bem como falas como “seu momento Perséfone (Deusa
mitológica)”, “as dores e ressignificação da menstruação”, “a força das mulheres unidas”,
e a “relação das mulheres com a natureza”, buscou-se referências em guias de prática do

1
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sNRi9A6LaHM. Acesso em: out. 2021.
2
Disponível em: https://www.linkedin.com/in/m%C3%B3nica-guerra-rocha-
179b8289/?originalSubdomain=br. Acesso em: out. 2021.
sagrado feminino. Na fundamentação, encontra-se um esclarecimento acerca dos
movimentos do ecofeminismo e do sagrado feminino, e na discussão a e na discussão o
modo como esses assuntos são identificados na fala da Mónica Guerra. A metodologia
utilizada foi a análise do discurso (GILL, 2008), por permitir situar historicamente um
conjunto enunciativo, as falas da autora do vídeo, e explicitar construções teórico-
ideológicas presentes nos atos da fala.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ecofeminismo se desenvolveu a partir de outros movimentos sociais: os


movimentos feministas, os pacifistas e os ecologistas. A feminista Françoise d´Eaubonne
foi a primeira a utilizar o termo de tal forma na década de 1970, e ele se fortaleceu através
da Conferência sobre ecofeminismo ocorrida em março de 1980 (MIES; SHIVA, 2014).
Mies e Shiva (2014) explicam que os novos desenvolvimentos em biotecnologia,
engenharia genética e tecnologia de reprodução provocaram a consciência do preconceito
de gênero presente na ciência e tecnologia, e levaram à problematização dos paradigmas
da ciência moderna e suas marcas patriarcais, antinatureza e coloniais. Essa consciência
provocou movimentos de mulheres que ultrapassaram os movimentos feministas, uma
vez que não só percebiam o patriarcado capitalista, mas também as implicações desse
processo desenvolvimentista para as mulheres, os animais, as plantas e agricultura dos
países do Sul3, inserindo-as também em movimentos ambientais.
Puleo (2014) aponta que o ecofeminismo apresenta diversas correntes, e as define
como essencialista, ecofeminismo espiritualista do Sul, e os ecofeminismos
construtivistas. Para a autora, a corrente essencialista caracteriza as mulheres com um
erotismo não agressivo e as predispõe a aptidões maternais e cuidado com a natureza,
enquanto os homens são predispostos a empreendimentos competitivos e destrutivos. O
ecofeminismo espiritualista do Sul afirma uma cosmologia, chamada de princípio
feminino, que se conecta com os demais seres, além de abordar a questão da pobreza, a
violência contra as mulheres e a destruição da natureza, e questionar o desenvolvimento
técnico ocidental, que coloniza com base em modelos patriarcais de homogeneidade e
dominação. O ecofeminismo construtivista traz à tona um entendimento de que as
identidades feminina e masculina são construções sociais e históricas, portanto, explicar
a relação das mulheres com a natureza é uma consciência ecológica adquirida mediante a

3
No livro “Ecofeminismo”, Mies e Shiva usam a expressão países do Terceiro Mundo.
divisão de classe, gênero, raça. Essa teoria também critica o androcentrismo e entende
que a mesma lógica de dominação aplicada à natureza é aplicada às mulheres. Traz, ainda,
a ética do cuidado, para repensar todos os seres vivos, humanos e não humanos.
Independentemente da corrente, observam-se no “ecofeminismo” lutas a favor da
libertação das mulheres do domínio do patriarcado, de modo intimamente associado à
pauta ambiental. Nesse sentido, Mies e Shiva (2014) destacam que a libertação do
feminino não pode ser alcançada se organizada de forma isolada, devendo ser parte de
uma luta maior para a preservação da vida no planeta. Pode-se entender esse movimento
que ampara a preservação da vida com o que Ariel Salleh4 sugere ao propor a perspectiva
de “apenas conectar”. Em seu ponto de vista, o ecofeminismo permite vínculos históricos
entre capitalismo neoliberal e os mais diversos tipos de violências sociais, e fornece
soluções como a organização da vida cotidiana em torno da subsistência, a soberania
alimentar, e a democracia participativa com os ecossistemas naturais.
Considerando a hipótese de que a palestra de Mónica Guerra reflete muitos dos
ensinamentos compartilhados por Vandana Shiva5 em seus livros, artigos e palestras, este
trabalho será baseado na corrente do Ecofeminismo espiritualista apresentado pela autora.
Mies e Shiva (2014) afirmam que essa espiritualidade representada no movimento foi
negada e denegrida por um materialismo capitalista e marxista. Essa dimensão espiritual
emergiu da compreensão de feministas acerca de uma espiritualidade originária,
especialmente das mulheres (mas, por vezes, também de homens), que eram consideradas
bruxas por possuírem conhecimentos e sabedorias alcançados através da estreita relação
com a natureza. As autoras explicam que as primeiras ecofeministas entendiam que essa
compreensão vem na forma de uma religião, mas não uma religião de origem cristã,
judaica ou islâmica, e sim baseada em uma religião da Deusa, ou seja, em cultos a deusas
que são reverenciadas em religiões pagãs. A outra forma, chamada de “princípio
feminino”, que habita em todas as coisas e em todos os seres humanos, trata da
indissociabilidade do espiritual e do corpo material. As autoras consideram a importância
desta dimensão espiritual, uma vez que ela “encontra o redescobrimento do caráter
sagrado da vida, e a sua preservação só será possível se as pessoas voltarem a considerar

4
Ariel Salleh faz essa proposta, “apenas conectar”, no prólogo do livro “Ecofeminismo”, de Mies e Shiva,
2014, referenciado ao final do artigo.
5
Vandana Shiva é uma ativista ambiental indiana, conhecida pela trajetória em estudos ecofeministas.
sagradas todas as formas de vida e as respeitá-las como tal” (MIES; SHIVA, 2014, p. 17-
18, tradução nossa6).
Essa compreensão de um ecofeminismo cuja vertente espiritual está baseada em
uma religião da Deusa ou um princípio feminino desperta a importância de entender um
pouco mais o que se conhece por movimentos do sagrado feminino. De acordo com Faur
(2020), o sagrado feminino se origina na reverência a um divino feminino que nutre a
existência humana. A natureza é representada como a Grande Mãe, a Terra, o próprio
mundo e, como mãe, tem na figura da “Deusa” sua expressão. O culto ao sagrado
feminino permite não apenas a possibilidade da vivência de uma espiritualidade na qual
as mulheres são representações do sagrado, uma vez que seu próprio corpo simboliza a
energia da Deusa e a sacralidade da terra, mas também uma melhor relação com o planeta,
uma vez que a Deusa se torna um símbolo da consciência ecológica (FAUR, 2020).
A difusão do sagrado feminino normalmente acontece através de movimentos
espiritualistas que promovem a união de mulheres por meio da formação de círculos
sagrados (FAUR, 2018). Bolen (2003) defende que a iniciativa dos círculos sagrados
proporciona uma mudança ética, política e social, e que permite que as mulheres possam
renovar seu espírito, celebrar seu poder e, além de sanar as feridas da Terra, promover,
através da cultura, a paz entre os povos. A autora exemplifica as várias maneiras que as
mulheres podem se posicionar em um círculo: ouvir, testemunhar, reagir, chorar,
aprender, etc. Também exemplifica os tipos de círculos: de sabedoria, de cura, de
mulheres sábias, de anciãs, de trabalho, etc.
Círculos Xamânicos, Círculos das Guardiãs, Círculos da Tenda Vermelha,
Círculos Tenda da Lua, Círculos das Anciãs das 13 luas, Círculos Lunares são exemplos
de círculos sagrados no Brasil. O que esses círculos têm em comum é o culto ao sagrado
feminino, seja através do empoderamento das mulheres pelo resgate e ressignificação da
menstruação (a exemplo dos círculos que se referenciam nas autoras DeAnna L´am, que
difunde os grupos da Tenda Vermelha, e Miranda Gray, que é precursora em uma prática
de Benção do útero), seja através dos cultos às deusas, com o apoio das referências de
Mirella Faur, que fundou no Brasil uma Teia de Thea, que difunde o culto e a tradição da
Deusa, ou ainda através dos diversos outros círculos que abordam a potencialidade de

6
“The ecological relevance of this emphasis on 'spirituality' lies i n the rediscovery of the sacredness of
life, according to which life on earth can be preserved only if people again begin to perceive all life forms
as sacred and respect them as such.”. Expressão exata in Mies e Shiva (2014, p. 17-18).
uma energia feminina que fortalece as mulheres, e que reconhecem a sacralidade dos seres
vivos, homens, mulheres, animais ou outros entes da natureza.

3. RESULTADOS ALCANÇADOS

Embora a palestra “A Terra é uma Mulher e o meu Útero, o Universo”, realizada


por Mónica Guerra, tenha apenas 18 minutos, sua transcrição apresenta um vasto
conteúdo. Por essa razão, contemplar cada palavra dita ultrapassaria as fronteiras de um
artigo, portanto, foram selecionadas falas de assuntos diferentes, e buscou-se identificar
em sua fala referências da corrente espiritualista do ecofeminismo e de práticas e guias
do sagrado feminino.
Mónica começa sua palestra apresentando o Mito de Perséfone. Nele, uma jovem
chamada Core, filha de Deméter, foi levada ao submundo por Hades, que faz dela sua
mulher, transformando-a de jovem em mulher e, assim, Core se faz Perséfone. Como
Core e sua mãe Deméter eram as Deusas da fertilidade do mundo, com a ausência da
primeira, Deméter, em profunda tristeza, deixa o mundo à própria sorte. Isso causa uma
grande escassez de alimentação na Terra, que leva Zeus a tentar convencer Hades a
devolver Perséfone ao Olimpo. Hades a devolve, no entanto, faz com que Perséfone coma
uma semente de romã que provoca nela a necessidade de voltar ao submundo. Assim,
nascem as estações, uma vez que, ao visitar sua mãe Deméter, faz-se Primavera e Verão,
e quando volta ao submundo de Hades, faz-se Outono e Inverno.
Nos rituais de culto ao sagrado feminino, a entrada do Outono é celebrada através
do Sabbat7 de Mabon, deus galês que representa o tempo da colheita, a preparação para o
inverno e a tristeza do fim do verão. Nos círculos de mulheres de culto ao sagrado
feminino, esse Sabbat é o momento de reverenciar as deusas Deméter e Perséfone através
de rituais de cura em benefício do planeta, assim como da preparação para a entrada em
um período de recolhimento, introspecção (FAUR, 2020).
E Mónica traz o mito de Perséfone justamente para falar de sua entrada em um
período de recolhimento, uma vez que, ao começar sua estória evocando sua primeira
menstruação, compara esse momento à transformação de Core em Perséfone, menina em
mulher, ao adeus à primavera eterna:

7
Sabbat vem do verbo grego sabatu, que significa descansar. As celebrações dos Sabbats têm múltiplos e
complexos significados, reverenciando a dualidade – Deus/Deusa, homem/mulher, vida/morte,
transitório/permanente –, os ciclos das estações, e a passagem do tempo (FAUR, 2020, p. 426-428).
A minha adentrada em Perséfone, meu primeiro momento de Perséfone, eu
tinha 12 anos. Eu cheguei em casa com uma cólica estranha, eu baixei a calça,
eu baixei calcinha, sentei. Eu não acreditava no que estava acontecendo. Eu
chorei muito, eu chorei muita tristeza. Eu chorei muita dor, porque eu sabia
que a partir daquele momento nunca mais eu voltaria a essa primavera eterna
(GUERRA, 2018, 1m26s).

Para Faur (2020), essa tristeza da menina, como relatado por Mónica ao vivenciar
a sua menarca, se dá pelo fato de que essa passagem é acompanhada de medo, vergonha
e insegurança, pelo fato de a menina tornar-se mulher da noite para o dia, sem uma
preparação, sem apoio, sem aprender os significados sagrados deste momento. E como
não chorar ao perceber que a vida muda completamente quando uma menina se torna
mulher? Afinal, o que é ser mulher em uma sociedade patriarcal e capitalista? Como
abordado por Mies e Shiva (2014), desde o início desta sociedade, as mulheres foram
tratadas como natureza, desprovidas de racionalidade, portanto, podiam ser oprimidas,
exploradas e dominadas pelo homem. Mesmo vivendo em países onde as mulheres
conquistaram direitos, quantos comportamentos uma menina/criança precisa mudar
quando menstrua e se transforma em jovem/mulher? “Submissa, vulnerável, fecha a
perna, fala baixo...” (GUERRA, 2018, 1m50s).
Esse conjunto de palavras enunciadas permite refletir as experiências de mulheres
em uma sociedade ainda regida fortemente pelo patriarcado. Lemgruber (2020) cita
Despentes (2007) ao apresentar essa orientação quanto ao comportamento da mulher e a
traduz como uma “hipócrita arte de ser servil”. A autora lembra que a feminilidade
conceituada pelo patriarcado coloca as mulheres em uma posição inferior, uma vez que,
além de não se sentarem de pernas abertas, elas também não devem rir alto ou falar em
dinheiro e, acima de tudo, não devem desejar “tomar o poder”. Sob essa hipocrisia,
meninas seguem aprendendo em suas casas, escolas, igrejas, trabalhos e vida política a
manter comportamentos de submissão às figuras masculinas com as quais se deparam em
seu amadurecimento.
Sobre essa condição, Mónica afirma se dar conta de ser “Submissa, escassa, frágil,
infértil, atrás de um grande homem… ou será que eu posso mudar tudo isso?” (GUERRA,
2018, 3m11s). Vários são os movimentos que enfrentam o patriarcado e proporcionam às
mulheres o direito de tentar mudar este cenário: os movimentos feministas, de feminismos
indígenas, de feminismos negros, de ativismos ambientais e os movimentos
ecofeministas. Os movimentos do ecofeminismo espiritualista e os movimentos do
sagrado feminino proporcionam à mulher o entendimento de que uma forma de “mudar
tudo isso” é o empoderamento, o entendimento de sua força, do poder de conexão com a
natureza, da força com a qual pode se posicionar no mundo, uma vez que, através da
possibilidade de gerar, ela é a própria representação da terra.
Para esses movimentos, uma das formas possíveis para que as mulheres consigam
abandonar os comportamentos e sentimentos adquiridos por uma educação patriarcal é a
ressignificação do seu corpo, do seu entendimento acerca dos próprios ciclos:

Perguntando, né? E questionando sobre que processos eram esses, eu decidi


tentar entender que negócio é esse, sangue menstrual que sai de mim? Será que
o sangue comum? E eu fui perceber que, na verdade, nós temos uma caminha
no nosso útero, chamada endométrio, e que quando nosso óvulo não é
fecundado, essa caminha tá lá pronta para recebê-lo, cheia de nutrientes, para
transformar aquela sementinha num ser. E se a gente não ovula, essa
sementinha, esse endométrio, ele é jogado para fora cheio de nutrientes. Então,
a sementinha que não foi fertilizada dentro do nosso corpo pode ser fertilizada
cá fora (GUERRA, 2018, 3m11s).

Se a menstruação é o marco para a menina de que a partir deste momento ela


precisará mudar muitos comportamentos, os movimentos de resgate do sagrado feminino
ensinam as mulheres a se conectarem com o seu sangue. Faur (2020) detalha que através
de cerimônias a mulher pode mudar o conceito sobre a menstruação, reviver a sua
menarca, e criar o seu próprio rito de passagem (meditação, energização e bençãos).
Assim, a mulher pode reclamar seu poder, se transformar mental e emocionalmente, e se
reconectar com o seu poder sagrado original.
O sagrado feminino também ensina rituais em que as mulheres devolvem seu
sangue menstrual à Mãe Terra, para agradecer as dádivas recebidas e devolver a ela a
energia fertilizadora do sangue menstrual (FAUR, 2011). Esse ritual, chamado pela autora
de “jarro vermelho”, é conhecido no Brasil através da prática do “plante sua lua”, na qual
as mulheres recolhem seu sangue menstrual (através de absorventes de tecido, coletores
menstruais, por exemplo) e utilizam essa água avermelhada cheia de nutrientes para regar
plantas e invocar o poder da sacralidade feminina. Além disso, o próprio movimento de
manipular seu sangue menstrual sem sentimentos negativos proporciona a cura da mulher
de processos instaurados por vivências pessoais que fazem com que mulheres percebam
o sangue menstrual como algo impuro.
Então, como disse Mónica, a sementinha que não foi fertilizada dentro do corpo
servirá para fertilizar a terra. Vê-se uma forte conexão entre mulher, fertilidade e natureza,
a qual traz sensíveis discussões dentro dos estudos ecofeministas. Relacionar as mulheres
à natureza não seria mantê-las no lugar em que foram colocadas pela sociedade patriarcal?
Ou seja, as mulheres, tal qual a natureza, continuariam sendo objeto de dominação
masculina?
De acordo com Angelin (2014), esse saber, esse conhecimento, essa forma de lidar
com a natureza, pode ser utilizado para apontar alternativas de fato sustentáveis para a
crise ambiental que se evidencia, e que exige que a humanidade compreenda que a
continuidade da vida depende da continuidade da natureza. Cabe destacar que esse saber
não provém da constituição biológica da mulher, visto que, biologicamente, o homem
também poderia ter esse conhecimento, mas de um aprendizado que vem se incorporando
no decorrer dos milênios.

(...) nós estamos, na verdade, cada vez mais desconectadas da natureza, cada
vez mais desconectados dos ciclos naturais que existem dentro do nosso
próprio corpo, e que essa desconexão que faz com queiram que a gente
acredite, que precisa de plantar toneladas de soja e de milho para alimentar
todo planeta porque a terra não é soberana (GUERRA, 2018, 4m5s).

No sagrado feminino, diversos são os rituais que buscam conectar as pessoas à


natureza e, por consequência, a si mesmas. Faur (2011) reforça que a busca de sabedorias
e rituais de culto à Deusa promove o bom uso e a gratidão pelas riquezas naturais que a
Terra oferece. Honrar e celebrar a natureza é honrar e celebrar a própria vida. Nos mais
diversos movimentos do resgate ao sagrado feminino, evidenciam-se o respeito aos ciclos
da natureza e os direcionamentos dos rituais conforme a lua, as estações do ano, ao fato
de ser dia ou noite.
Ao longo dos anos, a humanidade foi aprendendo a dominar os ciclos da natureza
e, com isso, manipular o plantio, escolher as culturas de plantio, colher alimentos que não
seriam naturalmente produzidos naquela terra ou naquele clima. Para Mies e Shiva
(2014), a destruição da diversidade e a criação de monocultivos, a uniformidade e
homogeneidade do plantio, são reflexo do modelo patriarcal do progresso. O
desenvolvimento da agricultura não preza a biodiversidade, mas sim a produção em larga
escala, que busca o benefício econômico e, dentro deste modelo, a terra não é soberana,
mas sim o homem. Além disso, a diversidade não é admitida e há uma hierarquia do
homem em relação à natureza. Mies e Shiva (2014) também afirmam que, se houvesse
uma auditoria social na corporatização da agricultura, não existiriam índios com fome,
mulheres desnutridas e crianças definhando por desnutrição.

Então entendi que na verdade natureza, ela tem uma conspiração silenciosa,
para que eu possa existir em prazer profundo e amor incondicional. O que é
que ela me pede em retorno? Que eu plante as sementes dela. Ela me seduz
com uma manga maravilhosa para que eu jogue a semente de volta na Terra
(GUERRA, 2018, 6m6s).

Quando Mónica traz esse pedido da natureza, pode-se refletir sobre os


posicionamentos de Mies e Shiva (2014). As autoras referem-se à “semente profana” ao
falar das sementes transgênicas, que violam a integridade dos ciclos ecológicos, os quais
permitem a produção de alimentos de forma sustentável. As sementes sagradas, por sua
vez, são responsáveis por promover o equilíbrio da fertilidade do solo, a biodiversidade
da terra, a sustentabilidade dos plantios de subsistência. Sagradas são essas sementes
fornecidas pela própria natureza, que é cíclica, que produz e pede a semente de volta, no
tempo certo, na lua certa, no clima certo. As autoras trazem diversos exemplos de
mulheres de comunidades indianas que mantêm as tradições de plantio que promovem a
biodiversidade, mas em todo o mundo é possível encontrar comunidades de mulheres,
sejam elas indígenas, agricultoras ou camponesas, que perpetuam o conhecimento que
possuem sobre as sementes tradicionais e promovem a sustentabilidade e a subsistência
da comunidade. As autoras acrescentam que os conceitos de sacralidade e diversidade da
semente estão relacionados a uma visão de mundo diferente daquela em que a semente é
apenas uma mercadoria, tendo o lucro como seu único valor.
Além da função de fertilizar a terra, há, no sagrado feminino, uma alusão à
semente como um potencial interno, algo que habita dentro do ser. Em seu livro “O
anuário da Grande Mãe”, Faur (2020) apresenta um calendário em que é possível, em
cada dia do ano, identificar rituais a deusas realizados em diversas culturas ancestrais.
Em vários desses rituais, as sementes estão presentes e, acerca de alguns deles, a autora
faz uma relação da semente com o modo de vida, os desejos, as dores e os objetivos
pessoais de quem realiza a celebração. A título de exemplo, a autora faz referência a uma
celebração romana às deusas dos grãos e da colheita Ceres, Deméter, Cibele e Gaia,
celebrada no dia 27 de janeiro. Nessa data, a autora orienta que as mulheres meditem
acerca do seu potencial não desenvolvido, pensando-o como uma semente plantada dentro
delas, que espera preparativos e auxílios para germinar e frutificar (FAUR, 2020).
Para Faur (2020), a comparação do potencial não desenvolvido a uma semente
permite ações nas quais as mulheres realizam simbolicamente o ato de germinar a
semente, através da meditação e dos rituais que permitem uma visualização mental da sua
frutificação. Esse processo compreende um autoconhecimento e corrobora um sentimento
de plenitude por parte das mulheres com seus projetos. Durante a palestra, Mónica discute
o seu período menstrual e o seu autoconhecimento acerca dos seus ciclos.
A gente mapeou, abriu uma planilha de Excel, e mapeou aonde cada uma
“tava” menstruando. Nós gerenciamos todo o projeto com base nesse
calendário: Eu estou mais menstruada, né? Tô para menstruar nesse momento,
então passa tudo que texto para eu ler, passa para mim, porque eu tô bem
introspectiva. Nossa, mas eu tô na lua crescente, tudo que é planilha, manda
para mim porque eu tô ótima para produzir planilha. Eu tô na fase ovulatória,
tem opinião? Deixa que eu lidere a reunião. O projeto fluiu maravilhosamente.
Imagine o quê que seria introduzir isto dentro das empresas? Todas as
mulheres poderem analisar os seus mapas menstruais e entender a potência que
existe dentro de cada um deles (GUERRA, 2018, 7m21s).

Quando Mónica Guerra trata do ciclo menstrual e da possibilidade de aproveitar


todo o conhecimento do seu próprio corpo e de suas emoções em cada fase do seu ciclo,
ela faz referência à sua vivência dentro de uma consciência do sagrado feminino. Nesse
mesmo sentido, Faur (2020) recomenda que as mulheres façam um diário do seu ciclo
menstrual, “anotando no calendário o início de sua menstruação, a fase da lua, suas
mudanças de humor, disposição, nível energético, comportamento social e sexual,
preferências, sonhos e outras observações que queira.” (FAUR, 2020, p. 498).
Faur (2020) explica que as mulheres modernas, diferentemente do que algumas
culturas praticavam, não podem se isolar em uma tenda durante a sua menstruação,
portanto, elas podem compreender o momento, suas sensações, e refletir como será sua
interação com o mundo exterior, ou seja, implementar a menstruação à sua rotina, tal
como Mónica Guerra expressou ao montar uma planilha em seu grupo de trabalho,
definindo as atividades conforme o clico menstrual de cada uma.
No momento em que Mónica diz: “imagine o quê que seria introduzir isto dentro
das empresas?”, vemos a crítica feita por Mies e Shiva (2014) aos movimentos feministas
do Norte (Europa e América). Neles, as mulheres usufruem dos privilégios dos homens
em seus países e, assim, reforçam o modelo patriarcal e capitalista, quando, na verdade,
deveriam aceitar as diferenças culturais e étnicas, para, assim, implantar mudanças em
uma escala local.
Angelin (2014) afirma que, dentro dos movimentos ecofeministas, aborda-se o
reconhecimento das identidades femininas e de como o autoconhecimento proporciona a
clareza do quanto as mulheres estão em uma condição de desrespeito e violação dos seus
direitos. A autora cita Elisabeth Badinter, filósofa e feminista francesa, para reforçar o
questionamento sobre o modelo de dominação dos homens sobre as mulheres, marcado
por uma produção discursiva que as coloca como fracas, lentas, com desequilíbrio de
humor (devido às oscilações hormonais ao longo do ciclo menstrual).
A autora explica que esse discurso, fundamentado em um contexto histórico de
sociedades antigas, no qual as mulheres cuidavam da família e do plantio e os homens
iam para a caça, desconsidera que enquanto a função do homem era providenciar a caça
para alimentar o grupo, as mulheres exerciam múltiplas funções, como a colheita de frutos
e cereais e a dedicação aos filhos, o que abrangia protegê-los dos perigos do entorno,
alimentá-los, distraí-los e prepará-los para a vida, funções que exigiam destreza, atenção,
agilidade e força.
Ao narrar a forma com que administrou seu trabalho respeitando seu ciclo, Mónica
afirma que ser mulher não a torna frágil, e que a sua menstruação não a torna frágil:

Nesse momento, eu entendi que menstruação não é doença. Como eu também


entendi que praga não é doença. Praga é professora. Ela só nos diz: tem alguma
coisa muito errada acontecendo com a terra. Porque não tem praga na floresta.
E porque também não tem doença quando mulheres se unem. Porque não é
para gente estar separado, como não era para fazer uma monocultura em cima
da floresta. Se as plantas colaboram entre elas, a praga não acontece. Se nós
colaboramos entre nós, a menstruação deixa de ser uma dor (GUERRA, 2018,
8m5s).

Nessa fala, podemos pensar o quanto a cultura de dominação sobre a mulher e


sobre a natureza predomina na sociedade. Para o controle dos sintomas da menstruação,
a pílula anticoncepcional; para as pragas das plantações, os pesticidas. Mies e Shiva
(2014) lembram que o desenvolvimento da engenharia agrícola promove o
desenvolvimento de pesticidas e, com isso, provoca as superpragas. Ao invés de combater
as pragas com a biodiversidade, usa pesticidas, que acabam por envenenar não só a terra,
mas também as pessoas. Assim como a biodiversidade, ou a convivência de plantas de
diferentes espécies, previne ou combate pragas, a convivência entre as mulheres promove
força para combater a violência, a dominação masculina. Para Faur (2011, p. 96), cabe
aos círculos sagrados de mulheres atuais a missão de “anular esses condicionamentos e
preconceitos nocivos do passado de supremacia patriarcal e demonstrar na prática a
possível cumplicidade, parceria e solidariedade feminina”.
Em outro momento da palestra, ao ressignificar seu choro em sua primeira
menstruação, Mónica questiona:

Quem se atreve a dizer que mulher não trabalha com mulher, que mulher não
é amiga de mulher, que a gente só compete, quando nós, quando “tamos” juntas
e sabemos disso, as nossas menstruações se alinham? Se isso não é para a gente
ficar junto, eu não sei o que que é (GUERRA, 2018, 15m19s).
Faur (2011) traz, em seu guia para os círculos sagrados, a lembrança de que o
conceito da rivalidade entre mulheres foi introduzido e alimentado pelas estruturas
patriarcais, que promoviam, além das conquistas de poder, a rivalidade, a desunião e o
enfraquecimento da solidariedade feminina. Até mesmo durante a realização dos círculos
sagrados de mulheres, a condutora precisa saber lidar com essa cultura, para evitar os
choques entre as participantes e promover o acolhimento dos medos, complexos e
experiências traumatizantes e dolorosas relacionadas a mulheres em convivência.
Importante salientar que tais estruturas patriarcais são heranças de uma cultura
judaico-cristã, uma cultura europeia, que não só traz uma política de dominação da mulher
e da natureza, mas que também dita costumes a toda uma sociedade.

Eu achei muito estranho quando eu cheguei no Brasil há 7 anos atrás e comecei


a observar as frutas secas, rabanada, Papai Noel do lado do Coco vendendo na
praia. Eu comecei a não entender porque que o Natal aqui era celebrado igual
celebrava lá em Portugal, de onde eu venho. (...) Em várias religiões, a gente
vai identificar esse período, ali entre 21 e 25 de dezembro, como período do
nascimento do grande deus, que tem uma relação com solstício do inverno. Só
que aqui o Natal acontece no seu solstício do verão. Então, a gente fica
comendo coisas que não fazem muito sentido (...) (GUERRA, 2018, 8m37s).

Mies e Shiva (2014) abordam esse fenômeno como uma mudança de estilo de vida
em grande escala, no qual, além de uma destruição da ecologia, os países do Norte
promovem uma fascinação do desenvolvimento, e, consequentemente, um “consumo
imitativo” (MIES; SHIVA, 2014, p. 145), que, na promessa de proporcionar bem-estar
aos povos, promove desequilíbrios e perda da identidade cultural. As autoras consideram
importante que os países do Sul busquem sua sustentabilidade e autonomia através do
abandono dos hábitos de consumo impostos.
Sobre os costumes natalinos brasileiros que não refletem a estação do ano, Faur
(2020) explica que a mudança deles pode proporcionar a quebra de uma magia apreendida
ao longo de milênios, já que muitas das celebrações cristãs são oriundas de celebrações
dos povos antigos. No entanto, ela também orienta, em seu anuário, sobre rituais
praticados no Sul do continente, que proporcionam vivências espirituais condizentes com
o clima e com a estação do ano. Ao longo do fortalecimento de movimentos de
descolonização difundidos nos movimentos sociais, as condutoras de círculos e grandes
influenciadoras na prática do sagrado feminino também proporcionam vivências e rituais
conectados com a natureza e, com isso, com a lógica pertinente à estação do ano.
Há que se pensar em quantas ações conduzem o comportamento da sociedade. A
colonização dos países do Sul dita a religião, a alimentação, a cultura, a dominação. Sem
utopias ou demagogias, é possível entender que os caminhos para o enfrentamento das
desigualdades de gênero e da devastação da natureza estão sendo traçados. Quão poderosa
é a união das pessoas em prol de algo em comum? Quão poderosos são os movimentos
ecofeministas que lutam contra a dominação da mulher e do planeta, que buscam o
fortalecimento das comunidades sustentáveis, que buscam o direito das mulheres de se
sentirem fortes, sagradas, que permitem que as mulheres ressignifiquem a sua relação
consigo mesmas e com a natureza? Esses movimentos trazem esperança. E essa esperança
vem através da ressignificação do choro de cada mulher que se deparou com o seu sangue
e com a sua inferioridade, mas que, em determinado momento, descobriu-se forte, em que
esse choro primeiro se torna um choro de fúria contra todas as mazelas praticadas contra
as mulheres, mas também contra a terra, mas que é transformado em um choro de
esperança, que Mónica anuncia:

É um grito de esperança e um choro de esperança pra que todas as meninas,


pra que todas as mulheres, pra que todas nós saibamos que a Terra é uma
mulher e o nosso útero é o universo, e que a gente se sinta muito privilegiada.
Tinha grande chance da gente sair sem um útero e a gente nasceu com um.
Tinha grande chance da gente não poder gerar vida e a gente pode, então que
a gente se sinta muito privilegiada pelo poder que a gente tem, pela potência
que a gente é, pela beleza que existe por dentro da gente (GUERRA, 2018,
16m31s).

E isso é parte do movimento que transforma uma cultura que venera a tradição
falocêntrica, que empodera os homens e coloca as mulheres como seres incompletos. Para
essas mulheres que nasceram com um útero, ou que sentem que possuem um, elas podem
gerar vidas, seja uterinamente, ou seja através de suas ações no mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua palestra “A Terra é uma Mulher e o meu Útero, o Universo”, Mónica


Guerra da Rocha faz um relato de vida e busca relacionar o seu corpo cíclico com a
natureza cíclica, sem fazer referência direta a nenhuma abordagem teórica metodológica,
sem mencionar diretamente o movimento ecofeminista ou o resgate do sagrado feminino.
Ainda assim, consegue narrar sua história, suas dores, seu aprendizado, seu
desenvolvimento e empoderamento, através de práticas e falas conhecidas dentro do
movimento ecofeminista e práticas relacionadas ao respeito ao sagrado feminino. Através
de referências bibliográficas, como Mies e Shiva (2014) e Faur (2011), foi possível
identificar, nas referências do ecofeminismo espiritualista e nos guias e práticas do
sagrado feminino, a origem de sua narrativa. Embora este trabalho esteja em sua fase
inicial, observa-se que tanto o ecofeminismo quanto os círculos sagrados de mulheres que
cultuam o sagrado feminino são movimentos que buscam lutar contra as desigualdades
de gênero e a favor da proteção da natureza.

REFERÊNCIAS

ANGELIN, Rosângela. Mulheres, ecofeminismo e desenvolvimento sustentável diante


das perspectivas de redistribuição e reconhecimento de gênero. Revista Eletrônica Direito
e Política, v. 9, n. 3. Itajaí/SC:Univali, SET./DEZ, 2014, p. 1569-1597.
BOLEN, Jean Shinoda. O milionésimo círculo. Tradução Elizabetta Recine. São Paulo:
Triom, 2003.
FAUR, Mirella. Círculos Sagrados Para Mulheres Contemporâneas: Práticas, Rituais e
Cerimônias Para o Resgate da Sabedoria Ancestral e a Espiritualidade Feminina. São
Paulo: Editora Pensamento, 2011.
FAUR, Mirella. O anuário da Grande Mãe: guia prático de rituais para celebrar a
Deusa. São Paulo: Editora Alfabeto, 2020.
GILL, Rosalind. Análise de Discurso. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George, (ed)
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. 7ª
edição. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 244-270.
LEMGRUBER, Vanessa. Guia ecofeminista: mulheres, direito, ecologia. Edição do
Kindle. Rio de Janeiro: Ape'Ku Editora, 2020.
MIES, Maria; SHIVA, Vandana. Ecofeminism. 2ª Edição. London & New York: Zed
Books Ltd., 2014.
PULEO, Alicia H. Del ecofeminismo clásico al deconstructivo: principales corrientes de
un pensamiento poco conocido. In Amorós, Celia, De Miguel, Ana (ed.), Teoría
feminista: de la Ilustración a la globalización, Vol. 3, 121-152. Edición digital. Madrid:
Minerva ediciones, 2014, p. 93-117.
ROCHA, Mónica Guerra. A Terra é uma mulher e o meu útero, o Universo. Produção:
TEDxUniRio. YouTube, 13 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=sNRi9A6LaHM. Acesso em: out. 2021.
ROCHA, Mónica Guerra. Perfil do Linkedin. Disponível em:
https://www.linkedin.com/in/m%C3%B3nica-guerra-rocha-
179b8289/?originalSubdomain=br. Acesso em: out. 2021.

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