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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

CORPUS IURIS CIVILIS

DIGESTO
2ª edição, revista e ampliada

Livro I e Livro L
Lei das XII Tábuas

Texto bilíngue
latim e português
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

digesto
CORPUS IURIS CIVILIS

2ª edição, revista e ampliada

Livros I e L
acrescidos da
Lei das XII Tábuas

Texto bilíngue: latim e português


Tradução com glossário, notas e índice remissivo

2017
Brasília/DF
COMPOSIÇÃO DO TRF 1ª REGIÃO
Desembargadores federais

Hilton Queiroz (presidente)


I’talo Mendes (vice-presidente)
João Batista Gomes Moreira (corregedor-geral)

Jirair Aram Meguerian


Olindo Menezes
Mário César Ribeiro
Cândido Ribeiro
Carlos Moreira Alves
José Amilcar Machado
Daniel Paes Ribeiro
Souza Prudente
Maria do Carmo Cardoso
Neuza Alves
Francisco de Assis Betti
Ângela Maria Catão Alves
Mônica Sifuentes
Kassio Marques
Néviton Guedes
Novély Vilanova
Ney Bello
Marcos Augusto de Sousa
João Luiz de Sousa
Gilda Sigmaringa Seixas
Jamil de Jesus Oliveira
Hercules Fajoses
Carlos Pires Brandão
Francisco Neves da Cunha

Diretor-geral
Carlos Frederico Maia Bezerra
digesto
CORPUS IURIS CIVILIS

2ª edição, revista e ampliada

Equipe técnica
Professor Edilson Alkmim Cunha (coordenação técnica e tradução)
Desembargador federal Catão Alves
Desembargador federal Daniel Paes Ribeiro
Desembargador federal Leomar Barros Amorim de Souza (in memoriam)
Carmen Lucia Prata da Costa
Gustavus Adrianus de Faria von Söhsten
© 2017. Tribunal Regional Federal da 1ª Região
SAU/SUL, quadra 2, bloco A – Praça dos Tribunais Superiores – 70070-900 – Brasília/DF
Pabx: (61) 3314-5225

Coordenação geral
Desembargador federal Hilton Queiroz – presidente do TRF 1ª Região
Organização
Escola de Magistratura Federal da 1ª Região
Coordenação técnica
Edilson Alkmim Cunha
Tradução
Edilson Alkmim Cunha
Equipe técnica
Desembargador federal Catão Alves
Desembargador federal Daniel Paes Ribeiro
Desembargador federal Leomar Barros Amorim de Souza (in memoriam)
Carmen Lucia Prata da Costa
Gustavus Adrianus de Faria von Söhsten
Digitação dos originais
Margarido Corrêa da Silva
Produção editorial
Secretaria de Gestão Estratégica e­ Inovação
Wânia Marítiça Araújo Vieira – diretora
Divisão de Modernização Administrativa e Produção Editorial
Samuel Nunes dos Santos – diretor
Revisão
Edelweiss de Morais Mafra
Magda Giovana Alves
Apoio
Guarandy Figueiredo Nóbrega
Mara Lúcia de Araújo
Márcia Murça Barroso
Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica
Renata Guimarães Leitão

Ilustração da capa baseada no mosaico da Basílica de São Vital em Ravena, Itália

341.416
Brasil. Tribunal Regional Federal (Região, 1.) (TRF)

Corpus iuris civilis : digesto : livro I, livro L / Tribunal


Regional Federal da 1ª Região, 2. ed. rev. e ampl. -- Brasília:
TRF1, 2017.

477 p.

Texto bilíngue: latim e português


Tradução com glossário, notas e índice remissivo
ISBN

1. Direito romano I. Tribunal Regional Federal (Região, 1)


II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca e Acervo


Documental do TRF 1ª Região.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO À 2ª EDIÇÃO, 7
PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO, 9
APRESENTAÇÃO À 1ª EDIÇÃO, 11
PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO, 13
NOTAS EXPLICATIVAS À 1ª EDIÇÃO, 15
LEI DAS XII TÁBUAS, 19
DIGESTO, 49
CONSTITUIÇÃO DEO AUCTORE, 51
LIVRO I, 59
Título I — Da Justiça e do Direito, 61
Título II — Da Origem do Direito e de Todas as Magistraturas e da Su-
cessão de Jurisconsultos, 66
Título III — Das Leis, dos Senátus-Consultos e Costumes Imemoriais, 89
Título IV — Das Constituições do Príncipe, 97
Título V — Da Condição da Pessoa, 99
Título VI — Daqueles que São de Direito Próprio ou Alheio, 106
Título VII — Da Adoção, Emancipação e Outras Maneiras de Cessação
do Poder, 111
Título VIII — Da Divisão e da Qualidade das Coisas, 124
Título IX — Dos Senadores, 130
Título X — Da Função de Cônsul, 134
Título XI — Da Função de Prefeito de Pretório, 135
Título XII — Da Função de Prefeito de Roma, 137
Título XIII — Da Função de Questor, 141
Título XIV — Da Função de Pretor, 142
Título XV — Da Função de Prefeito da Guarda Noturna, 143
Título XVI — Da Função de Procônsul e de Legado, 146
Título XVII — Da Função de Prefeito do Egito, 155
Título XVIII — Da Função de Governador, 155
Título XIX — Da Função de Procurador ou Contador de César, 164
Título XX — Da Função de Juiz, 166
Título XXI — Da Função de Quem a Jurisdição é Delegada, 166
Título XXII — Da Função de Assessor, 169
LIVRO L, 171
Título I — Da Municipalidade e dos Habitantes, 173
Título II — Dos Decuriões e seus Filhos, 194
Título III — Da Inscrição no Registro, 203
Título IV — Das Funções e Cargos, 204
Título V — Da Isenção e Dispensa de Funções, 225
Título VI — Do Direito de Imunidade, 234
Título VII — Das Legações, 241
Título VIII — Da Administração do Patrimônio Municipal, 248
Título IX — Dos Decretos a das Competências dos Decuriões, 255
Título X — Das Obras Públicas, 257
Título XI — Das Feiras, 261
Título XII — Dos Compromissos, 262
Título XIII — Dos Juízes Extraordinários e da Parcialidade, 270
Título XIV — Da Corretagem, 276
Título XV — Dos Censos, 278
Título XVI — Da Significação das Palavras, 287
Título XVII — De Diversas Normas do Direito Antigo, 360
BREVES DADOS BIOGRÁFICOS DE JURISCONSULTOS ROMANOS CITA-
DOS PELO DIGESTO, 399
GLOSSÁRIO, 403
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA, 455
ÍNDICE REMISSIVO, 457
APRESENTAÇÃO À 2ª EDIÇÃO
Como parte das comemorações do seu 28º aniversário, o TRF 1ª Região, sob
os auspícios da Presidência, traz a lume a edição revista, em texto bilíngue (latim
e português), do Livro I do Digesto de Justiniano, acrescida do Livro L e da Lei das
XII Tábuas, por igual, em texto bilíngue.
Já na apresentação do Livro I do Digesto ficara registrado:

A Esmaf, que apoiou decididamente a preparação e o lançamento, em


texto bilíngue (latim/português) do Livro I do Digesto, alimenta a espe-
rança de que esse trabalho prossiga, com relação aos 49 livros restantes,
como contribuição inestimável à formação e aperfeiçoamento dos ma-
gistrados federais da Primeira Região, à ilustração dos juízes brasileiros
e ao engrandecimento das letras jurídicas pátrias. (p. 8, do Livro I do
Digesto, publicado em 2010, sob os auspícios da Esmaf).

Assim, no trabalho de que ora se cuida, o Tribunal tem a certeza de estar con-
tribuindo para o aprimoramento da cultura jurídica dos seus magistrados, que só
têm a ganhar com o estudo de uma obra fundamental para o desenvolvimento da
ciência do direito, que, na atividade dos juristas romanos, aguçada pela análise da
Lei das XII Tábuas, encontrou vigoroso princípio-motor.
À vista disso, a presente edição, pelo valor histórico de seu conteúdo, incor-
porar-se-á, deveras, ao acervo jurídico pátrio como indispensável elemento de re-
ferência e pesquisa para os estudiosos do direito, em geral, sobretudo porque en-
riquecida com o conhecimento do que sobrou da Lei das XII Tábuas, documento
fundamental na elaboração do Direito pelos romanos.
Evidente, pois, o interesse público no empreendimento cuja concretização,
neste ensejo, seria impossível sem a coordenação e tradução do exímio latinista
que é o Professor Edilson Alckmim Cunha, com o apoio da equipe que o assistiu,
estando os nomes de todos eles inscritos neste trabalho.
Subsiste como desafio às futuras administrações do Tribunal mandar editar,
em texto bilíngue (latim e português), os demais 48 livros intercalares restantes do
Digesto, perfazendo a obra que, há cerca de 1.500 anos, Justiniano ordenou fosse
feita e que constitui seu imorredouro legado ao arcabouço jurídico das modernas
relações sociais.
Tenha, portanto, a palavra final o Imperador Justiniano, na Constituição Deo
Auctore, que, sobre a concepção do Digesto, registrou:

7
Apresentação à 2a edição Digesto

§ 5. — Quumpe haec materia summa nostri numinis liberalitate collecta


fuerit, oportet eam pulcherrimo opere exstruere, et quasi proprium et
sanctissimum templum iustitiae consecrare, et in libros quinquaginta et
certos titulos totum ius digerere tam secundum nostri constitutionem
Codicis, quam edicti perpetui imitationem, prout hoc vobis commo-
dius esse patuerit, ut nihil exta memoratam consummationem possit
esse derelictum, sed his quinquaginta libris totum ius antiquum, per
millesimum et quadringentesimum paene annum confusum, et a nobis
purgatum, quse quodam muro vallatum, nihil estra se habeat; comnibus
auctoribus iuris aequa dignitate pollentibus, et nemini quadam praero-
gativa servanda, quia non omnes in omnia, sed certi per certa vel me-
liores vel deteriores inveniuntor. (§ 5º, págs. 15-16 do Livro I do Digesto,
publicado em 2010, sob os auspícios da Esmaf).

Reproduzo a tradução portuguesa, adiante contida em página deste trabalho:

§ 5. E como essa obra será realizada como suma expressão de nossa


liberalidade, convém executá-la com máxima perfeição e consagrá-la
como verdadeiro e sacratíssimo templo da justiça; ordená-la em cin-
quenta livros sob determinados títulos, segundo a disposição de nosso
Códex e também à imitação do Edito Perpétuo, conforme vos parecer
mais prático. Nada escape à mencionada compilação, de modo que, nes-
ses cinquenta livros, todo o antigo direito, emaranhado por quase mil e
quatrocentos anos, agora por nós expurgado e como se defendido por
uma muralha, nada deixe de fora. Concedemos a todos os autores igual
autoridade, sem atribuir a ninguém prerrogativa alguma, pois não se
pode afirmar que um seja melhor ou pior em todos os assuntos, embora
alguns possam ser tidos como mais ou menos competentes em certas
matérias. (§ 5, págs. 15-16 do Livro I do Digesto, publicado em 2010, sob
os auspícios da Esmaf).

Boa fortuna ao livro!


Melhor proveito ao universo de seus leitores!

Hilton José Gomes de Queiroz


Desembargador federal
Presidente do TRF 1ª Região

8
PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO

No prefácio que fiz da tradução do livro primeiro do Digesto, editada sob os


auspícios da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região, salientei que não seria
demais esperar-se que, paulatinamente, se continuasse a traduzir os outros livros
constantes daquela compilação, embora empreendimento dificultoso e vasto.
Vejo agora que essa esperança começa a produzir efeito com a tradução do
quinquagésimo e último livro do Digesto realizada por iniciativa da mesma Escola
de Magistratura.
É o primeiro passo para o esforço de elaboração de uma obra que virá preen-
cher sensível lacuna na bibliografia jurídica em idioma português.
Oxalá se prossiga nesse desiderato.

José Carlos Moreira Alves


Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
Professor aposentado de Direito Civil da Faculdade de Direito
da Universidade Federal de São Paulo

9
APRESENTAÇÃO À 1ª EDIÇÃO
O Corpus Iuris Civilis, no seu conjunto Institutas, Digesto ou Pandectas, Có-
digo e Novelas, é o legado maior que o imperador JUSTINIANO deixou à posteri-
dade, do qual sobressai o Digesto, em que se compilou e sistematizou a produção
de eminentes juristas romanos, durante mais de mil anos de elaboração do Direito,
a contar da fundação de Roma. O Digesto representa, ainda em nossos dias, um
triunfo da civilização ocidental, que, sem a força das armas, mas com o poder da
razão, ganhou o mundo, como fonte perene de inspiração para a disciplina das rela-
ções jurídicas entre os homens. O Digesto é expressão refinada de sabedoria, como
o próprio JUSTINIANO exortara, na Constituição Deo Auctore com que ordenou
sua elaboração:

Haec igitur omnia Deo placido facere tua prudentia una cum aliis
facundissimis viris studeat, et tam subtili quam celerrimo fini tradere, ut
codex consummatus et in quinquaginta libros digestus nobis offeratur in
maximam et aeternam rei memoriam, Deique omnipotentis prudentiae
argumentum, nostrique imperii vestrique ministerii gloriam.

Reproduzo a tradução portuguesa, adiante contida em página deste trabalho:

Cuide tua sabedoria, com o beneplácito de Deus, de fazer tudo isso, jun-
tamente com os demais eminentes juristas e levá-lo a cabo com precisão
e rapidez, de modo que este código, concluído e compreendido em 50
livros, seja por nós oferecido às futuras gerações como testemunho da
sabedoria de Deus onipotente, glória de nossa soberania e glória de to-
dos vós.

Como detalhe de capa, vê-se a reprodução fotográfica de outra obra de JUS-


TINIANO, a Igreja de Santa Sofia — em grego, ΑΓΙΑ ΣΟΦΙΑ — também signi-
ficando Santa Sabedoria, que, embora também contribua para lembrar o grande
imperador, perdeu, contudo, o sentido de templo cristão, transformada que foi em
mesquita, após a conquista otomana do Império Bizantino.
A Esmaf, que apoiou decididamente a preparação e o lançamento, em texto
bilíngue (latim/português) do Livro I do Digesto, alimenta a esperança de que esse
trabalho prossiga, com relação aos 49 livros restantes, como contribuição inestimá-
vel à formação e aperfeiçoamento dos magistrados federais da 1ª Região, à ilustra-
ção dos juízes brasileiros e ao engrandecimento das letras jurídicas pátrias.

11
Apresentação à 1a edição Digesto

Na condição de diretor da Escola da Magistratura Federal da 1ª Região, ao


tempo em que apresento este livro ao universo de seus leitores, solenizo o evento
com o dístico em latim, que compus com o intuito de registrá-lo:

Accipe nunc, quaeso, primum librum Pandectes.


Attente lege mirandum thesaurum!

Traduzo:

Recebe agora, peço-te, o primeiro livro das Pandectas.


Lê atentamente o admirável tesouro!

Hilton José Gomes de Queiroz


Desembargador federal
Diretor da Esmaf

12
PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO

É digna de louvor a iniciativa da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região


de promover a tradução do Livro I da mais importante das partes — o Digesto
ou Pandectas — que integram a obra legislativa, no século VI d.C., do imperador
JUSTINIANO, a qual ficou conhecida por Corpus Iuris Civilis desde que assim foi
intitulada por DIONÍSIO GODOFREDO em sua edição de 1583.
O Digesto é o repositório de fragmentos retirados dos livros de juristas roma-
nos clássicos em sua forma originária ou parcial modificados por interpolações
pré-­justianeias ou justinianeias, conforme respectivamente feitas antes da época
desse imperador ou durante ele pelos compiladores dessa parte do Corpus Iuris
Civilis.
Sem o Digesto, muito pouco restaria, para o nosso conhecimento, da litera-
tura jurídica romana clássica, perdendo-se assim notável manancial de decisões
casuísticas — o que, por excelência, é o terreno da atividade judicial ordinária —
dos juristas romanos que eram eminentemente práticos e dotados de admirável
sensibilidade jurídica. Daí salientar WOLFGANG KUNKEL que “o ponto de força
do espírito romano não era a síntese teórica, mas a magistral solução de cada caso
concreto”, e que “nessa arte os juristas clássicos permaneceram insuperáveis”1.
Essa inestimável fonte de cultura jurídica, especialmente nos tempos recentes,
em que cada vez mais menor número de estudiosos do direito conhece a língua
latina em que ela, em sua quase integralidade (há algumas passagens em grego),
foi escrita, tem merecido modernamente, para sua maior divulgação, traduções es-
pecíficas como, em espanhol, a de ÁLVARO D’ORS, F. HERNANDEZ-TEJERO, P.
FUENTESECA, M. GARCIA-GARRIDFO e J. BURILLO, publicada, em três volu-
mes, em Pamplona, em 1968; em inglês, a de ALAN WATSON, editada, em qua-
tro volumes, em Filadélfia, Pensilvânia, em 1985; e em italiano, aos cuidados de
SANDRO SCHIPANI, vindo à luz, ainda em curso de publicação (já o foram os 19
primeiros livros), em três volumes, em Milano, em 2005.
Em língua portuguesa, se há várias traduções da integralidade das Institutas
de JUSTINIANO, somente em época recente, e no Brasil, é que data a tradução
do primeiro dos cinquenta livros de que se compõe o Digesto, sendo a que ora se

1
LINEE di Storia Giuridica Romana, tradução de Tullio e Bianca Spagnuolo Vigorita, p. 151, Edizioni
Scientifiche ltaliane, Napoli, 1973.

13
Prefácio à 1a edição Digesto

prefacia a segunda que se faz em pouco mais de dez anos da primeira de autoria do
professor HÉLCIO MACIEL FRANÇA MADEIRA.
Embora o empreendimento seja dificultoso e vasto, não é demais esperar-se
que iniciativas dessa natureza, como a que ora se faz sob o patrocínio da Escola de
Magistratura em apreço, não se detenham nesse começo, mas prossigam paulatina-
mente para que se venha a preencher uma sensível lacuna na bibliografia jurídica
em idioma português.

José Carlos Moreira Alves


Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
Professor aposentado de Direito Civil da Faculdade de Direito
da Universidade Federal de São Paulo

14
NOTAS EXPLICATIVAS À 1ª EDIÇÃO

DIGESTA sive PANDECTAE

Digesta ou Pandectae é o nome dado à segunda obra que compõe o Corpus


Iuris Civilis, produzida, no reinado de JUSTINIANO, na primeira metade do sécu-
lo VI. Editada em latim, foi seguida, de imediato, de versão em grego, pois o latim,
mesmo no Oriente, manteve-se como língua oficial do Império até o século VII.
Digesta, em latim, significa ordenação ou coisas ordenadas, classificadas, no
caso, coletânea de assuntos jurídicos de modo organizado, ordenado e sistematizado,
do verbo digero, que, entre outras acepções, tem o sentido de “pôr em ordem”. O título
grego, Pandectae, significa “coletânea global”, que abrange tudo, de pan (tudo) mais o
radical do verbo dehomai, que, entre outros, tem o sentido de coletar, reunir, juntar.
No vernáculo acabou predominando a forma Digesto.
O objetivo da obra empreendida pelo imperador JUSTINIANO era sistemati-
zar, pela autoridade dos principais jurisconsultos da história romana, princípios e
fundamentos jurídicos que às vezes se perdiam ou se desfiguravam em meio a con-
tradições e incoerências na aplicação do direito. Na Constituição Deo Auctore, com
que prefacia a primeira edição do Digesto, em 533, o imperador justifica sua ini-
ciativa afirmando que, “na trajetória histórica das leis, desde a fundação de Roma
e os tempos de Rômulo, ser tamanha a confusão que daí se instalou que essas leis
se tornaram incompreensíveis à razão humana” (Constituição Deo Auctore, § 1).
Para a realização dessa ingente tarefa, que viria a ser concluída em apenas três
anos, o imperador designou TRIBONIANO, jurista, que ele chama de “questor de
sacro Palácio”, autorizando-o a convocar outros renomados juristas para, com ele,
iniciar e concluir o projeto imperial.
O Digesto compõe-se de 50 livros, cujo texto integral sobreviveu graças ao pa-
pel que desempenhou, ao longo dos séculos, na formação e consolidação do direito
ocidental.
O mais antigo manuscrito do Digesto é o chamado Códice Florentino, do sé-
culo VI ou VII, encontrado em Florença, Itália, em 1406.
O Digesto, ao citar os jurisconsultos que contribuíram com seus princípios e
doutrinas para a composição de seu texto, não costuma fazer referências que per-

15
Notas explicativas à 1a edição Digesto

mitam situá-los em seu contexto histórico. Por isso, oferecemos, a seguir, um resu-
mo da evolução histórica do direito romano distribuída, segundo P. van WETTER,
em Pandectes, op. cit., pp. 7-9, em quatro períodos nos quais figuram os principais
jurisconsultos citados pelo Digesto:
Período de formação, de 753 a 106 a.C.: Papirius, Appius Claudius, Flavius,
Coruncanius, Catus, Cato, Mucius Scaevola, Manilius.
Período de desenvolvimento, de 106 a.C. até Augusto (14 d.C.): Quintus Mu-
cius, Flaccus, Alfenus Varus, Aelius Tubero, Ateius Capito, Sabinus, Neratius, Labeo
Nerva, Julianus, Pomponius, Gaius.
Período áureo, sob o imperador Adriano (117 a 138): Julianus, Pomponius,
Gaius, Papinianus, Ulpianus, Paulus, Modestinus.
Período de declínio, a partir de Adriano: Hermogenianus, Aurelius Arcadius,
Moisacarum et Romanarum legum collatio (Comparação das Leis Romanas e Mo-
saicas).
***

Traduzir não é fácil, porque não é apenas transpor termos de uma língua para
outra. No caso do Digesto, além da preocupação com a precisa correspondência de
termos, para facilitar a compreensão do leitor, impõe-se também a leitura inter-
pretativa do pensamento original em seu contexto ideológico, histórico e jurídico.
Para isso, não bastam bom conhecimento e domínio da língua latina, mesmo
em se tratando de latim do século VI d.C., despojado de seus adornos clássicos. No
caso do Digesto, sua tradução, para ser leal, confiável e compreensível, exige con-
jugadas contribuições multidisciplinares, em outras palavras, não é tarefa singular,
mas de equipe.
A tradução que ora se oferece é resultado de quase dois anos de leitura do
Digesto, acompanhada de análise comparativa de traduções vernaculares, de pes-
quisas históricas e linguísticas com vista à contextualização, em termos de espaço e
tempo, do sentido e espírito jurídico dessa peça clássica do Direito Romano.
Optou-se para esta tradução pelo texto crítico dos irmãos KRIEGEL, HER-
MANN e OSENBRÜGGEN, traduzido por ILDEFONSO L. GARCÍA DEL COR-
RAL, editado por Jaime Molinas em 1889, em Barcelona, Espanha.

Como ocorre em trabalhos científicos dessa natureza, o texto dos citados ir-
mãos registra, naturalmente, variantes de outras edições que só acidentalmente po-
dem interferir na compreensão do texto original.

16
Digesto Notas explicativas à 1a edição

Por se tratar de simples tradução, adotou-se como fonte o texto básico da


citada edição de JAIME MOLINAS, dispensando-se de reproduzir suas variantes e
notas de referência.
Acompanha ainda o presente trabalho, além de oportunas notas de rodapé,
substancioso Glossário, que, sem dúvida, ajudará muito na compreensão de um
texto jurídico exarado numa linguagem tipicamente curial.
Espera a equipe responsável ter contribuído para o já considerável acervo de
estudos sobre a matéria e ter dado apenas o primeiro passo de uma longa jornada,
que só terminará com a tradução do quinquagésimo e último livro do Digesto. En-
quanto isso, este trabalho está aberto a críticas e contribuições de seus leitores, que
ensejarão novos esforços para seu aprimoramento.

17
Lei das XII Tábuas

Fórum Romano
Legis Duodecim Tabularum
Reliquiae

Edidit, Constituit, Prolegomena


Rudolfus Schoell

Lipsiae
MDCCCLXVI

20
Lei das XII Tábuas
Fragmentos Referenciais

Editoração, Organização e Prolegômenos de


Rodolfo Schoell

Leipzig, Alemanha
1866

21
LEI DAS XII TÁBUAS

Introdução
A presente tradução adotou a recensão de Rudolphus Schoell, doravante Ro-
dolfo Schoell, como texto básico, por lhe ter parecido, entre outras, a mais completa
organização de artigos coligidos diretamente de fragmentos supérstites e de citações
em obras de diversos autores latinos, o que testemunha não só sua historicidade
como sua vigência e utilização na jurisprudência e operação do direito romano.
Após enumerar as XII Tábuas com seus respectivos artigos, Rodolfo Schoell in-
tercala, entre artigos recuperados, citações ou comentários de diversos e conceitua-
dos escritores latinos referentes à Lei das XII Tábuas, preenchendo lacunas deixadas
pelo desaparecimento de textos originais. No final de sua compilação, alinha outra
série de citações, também de conhecidos autores, ressaltando, porém, pelo título —
Fragmentos de origem incerta —, que as encabeça, sua duvidosa autenticidade.

Histórico
A comissão nomeada pelo imperador Constantino, no primeiro quarto do sé-
culo VI d.C., ao proceder à compilação de princípios, sentenças, pareceres e con-
ceitos que, desde a fundação de Roma (753 a.C.) até aquela data, embasaram o que
se convencionou chamar direito civil — que resultou nos 50 livros que compõem o
Digesto — no início do Livro I1, faz sucinto relato da história da Lei das XII Tábuas
em sucessivos artigos, sob o Título II.
Começa pela informação de que a civitas2 romana era governada pelo arbítrio
dos reis cujas leis e decisões teriam sido, já no fim da monarquia, compendiadas por
certo Papírio, de cuja obra resultou o então chamado “direito civil papiriano”.
À monarquia, que teria durado cerca de 240 anos ab Urbe condita, sucedeu a
República em 509 a.C. Com a supressão universal das leis monárquicas, a civitas
teria passado a se reger, por cerca de 20 anos, por direito incerto e pelo costume.
Para sanar essa instabilidade, foram escolhidos dez cidadãos, por isso chama-
dos decênviros, para a missão de colher subsídios na Grécia, com base nos quais foi
elaborado um compêndio de leis e normas, organizado em doze tábuas mais tarde

1
Digesto I, Título II, 1-2, §§ 1-8.
2
Glossário, Civitas.

22
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

afixadas nas tribunas do forum romano para conhecimento dos cidadãos. Esse con-
junto de leis tornou-se, desde então, conhecido como a Lei das XII Tábuas.
A tabula latina resultou em “tábua”, predominantemente entendida em portu-
guês como peça de madeira. Em latim pode equivaler, no sentido figurado, a pla-
ca, chapa. O Digesto (loc. cit.) fala de placas de marfim (tabulae eboreae), não de
madeira. São também citadas por autores como “placas de bronze”, inclusive pelo
próprio Schoell. Se gravadas em marfim, tê-lo-ão sido alguns séculos depois de sua
promulgação, por se tratar de matéria-prima nobre só acessível aos romanos depois
de terem dominado o comércio importador do mar Mediterrâneo.
O fato é que, de madeira, de bronze ou marfim, as primeiras tábuas teriam de-
saparecido cerca de 60 anos depois, consumidas pelo fogo dos incêndios provocados
pelos invasores gauleses ou levadas por eles como presas de guerra.
Não se descarta a hipótese de realmente terem sido regravadas, mesmo por-
que há quem crê que teriam sido inicialmente escritas pelos decênviros em algumas
tábuas que foram sendo completadas ao longo dos primeiros séculos da República.
Há, inclusive, quem defende que sua gravação só teria ocorrido, pela primeira vez,
séculos depois dos decênviros e que sua conservação ter-se-ia operado pelo antigo
sistema de aprendizagem por decoração. O próprio Cícero, no século I a.C., lamenta
as escolas não estarem mais utilizando esse sistema de ensino e cita precisamente as
XII Tábuas, cuja decoração era obrigatória nas escolas de seu tempo.
Qualquer que seja a época de sua gravação, o estado fragmentário de suas ver-
sões, propiciando divergências na reconstituição de sua redação original e diversi-
dades de interpretações entre comentadores, cria graves obstáculos no que tange à
fidelidade e à integralidade de seu sentido. Alguns artigos devem ter simplesmente
desaparecido, levando seus recenseadores a preenchê-los com citações de autores na
tentativa de reconstituir o texto original.

Metodologia
A metodologia seguida por esta tradução começa pela adoção da recensão de
Rodolfo Schoell, por lhe parecer mais completa no preenchimento textual das lacu-
nas do original e na ordenação dos artigos em suas respectivas tábuas.
Tendo em vista a precariedade dos textos, o estilo compacto e abreviado de
sua redação num latim arcaico e primitivo, sua tradução literal, mesmo num latim
moderno e gramaticalmente correto, deixaria muito a desejar. Por isso, optou-se por
uma tradução literária mas rigorosamente fiel ao texto original, dispensando-se evi-
dentemente comentários e observações. Só em alguns casos, de artigos que envol-
vem questões filológicas ou pelo inusitado sentido de seus termos, que levantam dú-
vidas e indagações pertinentes, é que se recorre a notas de rodapé, para elucidação
de conceitos que facilite o leitor a formar seu próprio juízo sobre a matéria tratada.

23
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

***
Apesar de todo esforço e desejo de oferecer um trabalho completo e satisfa-
tório, a equipe responsável, ciente de suas limitações e da complexidade deste em-
preendimento, espera não só contar com a compreensão do leitor e estudioso, mas
também com suas críticas e sugestões que, com certeza, haverão de contribuir para
o aprimoramento desta obra numa possível e futura reedição.

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

LEGIS DUODECIM TABULARUM LEI DAS XII TÁBUAS

TABULA I TÁBUA I

1. Si in ius vocat, it. Ni it, antestamino: 1. Se és intimado a comparecer ao tri-


igitur em capito. bunal, comparece. Se não compare-
ceres, o autor da causa munir-se-á de
testemunhas e então te obrigará a ir.

2. Si calvitur pedemve struit, manum 2. Se o intimado der sinais de querer


endo iacito. escapar, movendo as pernas, segura-o.

3. Si morbus aevitasve vitium escit, 3. Se doente, idoso ou portador de de-


iumentum dato. Si nolet, arceram ne ficiência física, oferece-lhe algum meio
sternito. de transporte. Se não aceitar, não estás
obrigado a lhe dar transporte especial,
mais caro1.

4. Assiduo vindex assiduus esto. Prole- 4. Fiador de proprietário deve ser pro-
tario iam civi1 quis volet vindex esto. prietário, mas de proletário seja quem
quiser.

5. Nex ... forti sanati ... 5. ...... ...... ......

6. Rem ubi pacunt, orato. 6. Da maneira como as partes tive-


rem acordado uma questão, assim seja
apresentada no foro.

7. Ni pacunt, in cosmitio aut in foro 7. Se não chegarem a um acordo, sub-


ante meridiem caussam coiciunto. metam a causa à assembleia do povo
Com peroranto ambo praesentes. ou ao tribunal antes de meio-dia, pre-
sentes ambas as partes.

1
O civis ainda não tem o carisma do que mais
tarde se denominaria civis romanus. Na época
da promulgação das XII Tábuas, era simples
denominativo que distinguia membro da civi- 1
Esse tipo de transporte especial, arcera, era
tas do então chamado “proletário”, cuja única uma carroça com um toldo de proteção contra
função na civitas era gerar a prole para compor o sol ou a chuva, o que lhe conferia a forma de
o segmento social de soldados e mão de obra uma arca. Era usada para transporte de passa-
não qualificada. (ver Glossário, civitas). geiro urbano.

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LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

8. Post meridiem praesenti litem addi- 8. Depois do meio-dia, julgue-se a cau-


cito. sa favoravelmente à parte presente.

9. Si ambo praesentes, solis occasus su- 9. Se ambas as partes estiverem presen-


prema tempestas esto. tes, seja o pôr do sol o limite tempesti-
vo (da questão).

10. ... cum proletarii et adsidui et sa- 10. Quando as figuras de proletário,
nates et VADES et SUBVADES et XXV proprietário, sanates2, fiador e subfia-
asses et taliones ... evanuerint, omnis- dor, assim como causas de 25 moedas
que illa XII tabularum antiquitas ... de bronze, e de talião3 foram desapare-
lege Aebutia lata consopita ist ... (Gel- cendo com tudo o mais que era anti-
lius, Noctes Atticae 16, 10. 8). quado da Lei das XII Tábuas ... a pro-
mulgação da Lei Ebúcia tornou tudo
normas obsoletas.

TABULA II TÁBUA II

1a. De rebus M aeris plurisve D assi- 1a. Havia ações em torno de depósi-
bus, de minoris vero L assibus sacra- to de valores de mil ou de mais de 500
mento contendebatur; nam ita lege XII moedas de bronze, mas se questiona-
tabularum cautum erat. At si de liber- vam questões sobre depósito de menos
tate hominis controversia erat, etiamsi de 50 moedas de bronze, pois assim
pretiosissimus homo esset, tamen ut dispunha a Lei das XII Tábuas. Mas se
L assibus sacramento contenderetur,
eadem lege cautum est ... (Gaius, Com-
mentarii 4, 14).
2
Os sanates eram um povo das imediações de
Roma, inicialmente inimigo. Depois de se te-
rem tornado amigo, os romanos passaram a
chamá-los “sanates”, isto é, curados, de mente
sã, como hoje chamaríamos “esclarecidos”.
3
A Lei das XII Tábuas dispõe sobre a chama-
da lei de talião. Convém atentar para o senti-
do etimológico do termo “talião”, substantivo
derivado dos pronomes correlativos talis ...
talis (como em português, “tal pai, tal filho”),
correlação que não implica necessariamente
órgão por órgão no caso de dano físico, mas
também valores de ressarcimento tabelados
por lei, como demonstra o teor dos artigos 2-4
da Tábua VIII.

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

a controvérsia envolvesse a liberdade


de uma pessoa, tendo em vista a suma
importância do ser humano, a mesma
lei dispunha que se discutisse sobre o
depósito de 50 moedas de bronze.

1b. Per iudicis postulationem ageba- 1b. Tratava-se, por exigência do juiz,
tur, si qua de re ut ita ageretur lex ius- de definir sobre que matéria girava a
sisset, sicuti lex XII tabularum de eo ação para ser processada conforme
quod ex stipulatione petitur. Eaque res determinasse a lei, como a Lei das XII
talis fere erat. Qui agebat, sic dicebat: Tábuas sobre o objeto da ação. As coi-
“EX SPONSIONE TE MIHI X MILIA sas se passavam mais ou menos assim:
SESTERTIORUM DARE OPORTERE o autor dizia: “Declaro que tu por jura-
AIO. ID POSTULO AIAS AN NEGES”. mento deves me dar dez mil sestércios.
Adversarius dicebat non oportere. Ac- Peço que digas sim ou não”. O adver-
tor dicebat: “QUANDO TU NEGAS, sário respondia negando a dívida. O
TE PRAETOR IUDICEM SIVE ARBI- autor dizia: “Já que negas, requeiro que
TRUM POSTULO UTI DES”. Itaque in o pretor designe juiz ou árbitro para te
eo genere actionis sine poena quisque obrigar a me dar o que me deves”. As-
negabat. Item de hereditate dividenda sim, nessa espécie de ação, pode-se ne-
inter coheredes eadem lex per iudi- gar sem risco de punição. Do mesmo
cis postulationem agi iussit ... (Gaius, modo, dispõe a lei sobre a partilha de
Commentarii 4, 17a). herança entre coerdeiros, estabelecen-
do que a ação se processe em termos
definidos pelo juiz.

2. ... moribus sonticus2 ... aut status dies 2. Doença grave ou dia marcado com
cum hoste3 ... quid horum fuit unum forasteiro: se algo desse gênero ocorrer
iudici arbitrove reove, eo dies diffissus ao juiz ou ao árbitro ou ao réu, seja a
esto. data adiada.

2
Morbus sonticus é uma doença que resulta em
algum impedimento, de andar, falar etc. O
tradutor optou pela forma morbus em vez de
moribus como consta no original, por falta de
compatibilidade de sentido.
3
Hostis, mesmo nas XII Tábuas, não significa-
va apenas “inimigo”, mas também “forasteiro”,
“pessoa estranha”, no mínimo de fora da co-
munidade.

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LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

3. Cui testimonium defuerit, is tertiis 3. A parte, à qual faltou um testemu-


diebus ob portum obvagulatum ito. nho, poste-se por três dias à porta da
testemunha faltosa e proteste em voz
alta.

TABULA III TÁBUA III

1. Aeris confessi rebusque iure iudica- 1. Julgada a ação pela justiça, seja de 30
tis XXX dies iusti sunto. dias o prazo legal para o devedor quitar
a dívida reconhecida.

2. Post deinde manus iniectio esto. In 2. Depois disso, seja levado à força ao
ius ducito. tribunal.

3. Ni iudicatum facit aut quis endo eo 3. Se não cumpre a sentença ou alguém


in iure vindicit, secum ducito, vincito no tribunal assume a condição de seu
aut nervo aut compedibus XV pondo, fiador, leva-o consigo amarrado ou
ne maiore aut si volet minore vincito. com grilhões de 15 libras, não mais; to-
davia, se quiser, com menos peso.

4. Si volet suo vivito. Ni suo vivit, qui 4. Se ele quiser, viva às suas custas. Se
eum vinctum habebit, libras farris não, quem o mantiver preso lhe dará
endo dies dato. Si volet, plus dato. meio quilo de farinha por dia. Se qui-
ser, dê-lhe mais.

5. Erat autem ius interea paciscendi ac, si 5. Havia, porém, o direito de, nesse pe-
pacti forent, habebantur in vinculis dies ríodo, as partes chegarem a um acordo
sexaginta. Inter eos dies trinis nundinis e, caso positivo, a detenção teria a du-
continuis ad praetorem in comitium ração de 60 dias. Durante esse perío-
producebantur, quantaeque pecuniae do, as partes deveriam apresentar-se
iudicati essent, praedicabatur. Tertiis ao pretor por três feiras consecutivas e
autem nundinis capite poenas dabant, declarar na assembleia o valor da ques-
aut trans Tiberim peregre venum ibant. tão. Mas na terceira feira, se condenava
(Gellius, Noctes Atticae 20, 1, 46 f.) à morte ou o devedor era posto à ven-
da (no mercado de escravos) no outro
lado do Tibre.

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

6. Tertiis nundinis partis secanto. Si 6. Na terceira feira, cortem-no em par-


plus minusve secuerunt, se fraude esto. tes. Se de mais ou de menos, que não
haja fraude.4

4
Esse artigo, a menos que deslocado de outra
Tábua, parece conflitar com o anterior, no qual
já se estabelece a pena de morte por dívida e na
mesma oportunidade, isto é, na terceira feira.
De fato, dividir um corpo humano para pagar
uma dívida, além de inaudita crueldade, não
casa com o espírito pragmático e objetivo dos
romanos: que proveito financeiro teria um
credor a quem tocasse, por exemplo, um bra-
ço morto do devedor? A própria aplicação da
chamada lei de talião parece ter sido traduzi-
da mais razoavelmente pelos romanos que, à
maneira dos hebreus, criaram uma tabela de
valores a serem pagos à vítima de acordo com
a importância e funcionalidade do membro ou
do órgão prejudicado, mais ou menos como
hoje procedem as companhias seguradoras na
cobertura de danos totais ou parciais do órgão
prejudicado: a própria Tábua VIII, 3 e 4, es-
tabelece o pagamento de 300, 150 ou 25 asses
por dano físico sofrido.
O inusitado levou historiadores, intérpretes e
doutrinadores romanos a tentar explicações,
interpretações e atenuantes de tamanha cruel-
dade incompatível com o gênio romano.
Quintilianus (35-100 a.C.), por exemplo, in-
forma que essas disposições da lei, que ele cha-
ma de non laudibilia (não louváveis), levaram
à sua rejeição pelo costume público. Tertuliano
(séc. III d.C.) testemunha que, por consenso
público, essa crueldade fora suprimida e con-
vertida em pena capital com confisco de bens
(apud Schoell).
Provavelmente também levados pela obscuri-
dade da redação do artigo, pela sobriedade de
seus termos e tendo em vista tratar-se de um
latim primitivo e ainda não literário, principal-
mente quando se considera que, na opinião de
muitos experts, a Lei das XII Tábuas só teria
tido sua formulação escrita muitos anos de-
pois de viger só na forma oral, há autores que

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LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

7. Adversus hostem aeterna auctoritas 7. É perpétuo o direito (do povo roma-


(esto). no) contra o forasteiro.5

TABULA IV TÁBUA IV

1. ... cito necatus tamquam ex XII ta- 1. ... foi morto imediatamente, como
bulis insignis ad deformitatem puer uma criança com deficiência física era
(Cícero, De legibus 3, 8, 19)

buscam interpretar mais favoravelmente seus


termos.
Por exemplo, o próprio Rudolph Schoell, cuja
recensão é utilizada nesta tradução, cita, em
seus comentários a esse artigo, interpretações
de alguns comentaristas que, com pequenas
correções gráficas, lhe conferem sentido mais
saudável.
É o caso de Goettling, que sugere que, em vez
de in partis, se leiam partes (nominativo), que
se referem a bona debitoris, non corpus (a bens
do devedor, não ao corpo). Além disso, embo-
ra se trate de um latim arcaico, as declinações
e seus casos já estavam bem definidos. Nesse
caso, o termo certo para repartição física de-
veria ser in partibus e não in partis. Se in par-
tes (acusativo), atenderia ao sentido dado por
Goettling, isto é, repartição dos bens entre as
partes.
A favor dessa hipótese filológica, o dicioná-
rio Latim-Português, conhecido por Saraiva,
registra uma acepção jurídica do verbo secare
que ele atribui a Horácio: Secare lites, magna
res, isto é, encerrar uma questão é a melhor
coisa. Nesse caso, o pretor ou árbitro, após es-
gotar os recursos jurídicos, deixaria às partes
proceder, elas próprias, à partilha dos bens do
devedor, desde que o fizessem sem dolo.
No caso de divisão do corpo e não dos bens,
onde estaria o dolo? Uma parte recebeu a per-
na, em vez de receber o braço? O coração no
lugar do fígado?
5
Nesse artigo, entenda-se hostis na acepção de
forasteiro, estranho de alguma forma à civitas,
e não de inimigo.

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

sacrificada em cumprimento de terrí-


vel disposição da Lei das XII Tábuas.

2. Si pater filium ter venum du(it), fi- 2. Se um pai puser um filho à venda
lius a patre liber esto. três vezes, o filho estará livre do poder
pátrio.

3. Illam suam suas res sibi habere ius- 3. Determinou, conforme dispõe a Lei
sit ex XII tabulis, claves ademit, exegit. das XII Tábuas, que ela levasse seus
(Cícero, Oratio Phillippica 2, 28, 69). pertences, lhe tirou as chaves e (a) re-
pudiou.

4. comperi, feminam ... in undecimo 4. Tendo-se tornado público que uma


mense post mariti mortem peperisse, mulher teria dado à luz no undéci-
factumque esse negotium ... quasi ma- mo mês depois da morte do marido,
rito mortuo postea concepisset, quo- levantou-se a questão se teria concebi-
niam Xviri in decem mensibus gigni do pouco depois do óbito, pois os de-
hominem, non in undecimo scripsis- cênviros teriam estabelecido que uma
sent (Gellius, Noctes Atticae 3, 16, 12). pessoa era gerada no décimo e não no
undécimo mês.

TABULA V TÁBUA V

1. Veteres ... voluerunt feminas, etiam- 1. Queriam os antigos que as mulheres


si perfectae aetatis sint, ... in tutela esse. permanecessem sob tutela mesmo de-
... exceptis virginibus Vestalibus, quas pois da maioridade, com exceção das
... liberas esse voluerunt: itaque etiam virgens vestais, as quais queriam que
lege XII tabularum cautum est (Gaius, ficassem livres: assim também dispu-
Commentarii 1, 144 f.). nha a Lei das XII Tábuas.6

2. Mulieris, quae in agnatorum tutela 2. Bens de mulher que estivesse sob


erat, res mancipii usucapi non poterant, tutela de parentes não podiam ser usu-
praeterquam si ab ipso tutore (auctore) captos, a não ser se a ela confiados pelo
traditae essent: id (que) ita lege XII ta- próprio tutor: assim também dispunha
bularum (cautum erat) (Gaius, Com- a Lei das XII Tábuas.
mentarii 2, 27).

6
Gaius explica a razão desse estranho dispositi-
vo: animi levitatem, isto é, a leviandade femi-
nina.

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LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

3. Uti legassit super pecunia tutelave 3. Da maneira como tenha legado seu
suae rei, ita ius esto. patrimônio ou disposto sobre a tutela
de sua propriedade, assim seja o direito.

4. Si intestato moritur, cui suus heres 4. Se morrer sem deixar testamento e


nec escit, adgnatus proximus familiam não tiver herdeiro direto, herda o pa-
habeto. trimônio parente direto mais próximo.

5. Si adgnatus nec escit, gentiles fami- 5. Se não houver parente direto, her-
liam habento. dam os parentes por afinidade.

6. Quibus testamento ... tutor datus 6. Aqueles aos quais ... por testamento
non ist, iis ex lege XII (tabularum) ag- não tiver sido dado tutor, pela Lei das
nati sunt tutores (Gaius, Commentarii XII Tábuas terão por tutores parentes
1, 155). diretos.

7a. Si furioses4 ascot, adgnatum genti- 7a. Se alguém perder a razão, sua
liumque in eo pecuniaque eius potestas curatela e a de seus bens ficarão com
esto. um parente direto e um conselho de fa-
mília.

7b. ... Ast ei custos nec ascot ... 7b. Mas se lhe falta até um guardião ...

7c. Lege XII tabularum prodigo in- 7c. Pela Lei das XII Tábuas, o pródigo
terdicitur bonorum suorum adminis- é interdito de administrar seus bens; a
tratio (Digesta 27, 10, 1 pr = Ulpianus mesma lei ... determina que sua curate-
ad Sabinum); lex XII tabularum ... la fique a cargo de parentes diretos.
prodigum, cui bonis interdictum est,
in curatione iubet esse agnatorum (Ul-
pianus, frgm. 12, 2).

8. Civis Romani liberti hereditatem lex 8. A Lei das XII Tábuas confere a he-
XII tabularum patrono defert, si intes- rança de liberto de cidadão romano a
tato sine suo herede libertus decesserit seu patrono, se o liberto tiver morrido
(Ulpianus frgm. 29, 1). Cum de patro- intestado. Quando a Lei fala de patro-
no et liberto loquitur lex, ex ea familia, no e liberto, usa a expressão “de família
para família”.

4
A tradução optou pela forma furiosus, por ine-
xistir a palavra nessa forma do original.

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

inquit, in eam familiam (Digesta 50, 16,


195, 1 = Ulpianus).

9. Ea, quae in nominibus sunt, ... ipso 9. A Lei das XII Tábuas dispõe que,
iure in portiones hereditarias ex lege pelo próprio direito, bens em dinhei-
XII tabularum divisa sunt (Gordian, ro sejam divididos em porções here-
Constitutio 3, 36, 6). Ex lege XII tabu- ditárias. Pela mesma Lei, dinheiro de
larum aes alienum hereditarium pro herança tomado emprestado deve ser,
portionibus quaesitis singulis ipso iure pelo próprio direito, dividido entre os
divisum (Diocletian, Constitutiones 2, reclamantes.
3, 26).

10. Haec actio (familiae herciscun- 10. Essa ação (de requerer partilha de
dae) proficiscitur e lege XII tabularum herança) provém da Lei das XII Tá-
(Gaius, Digesta 10, 2, 1 pr.). buas.

TABULA VI TÁBUA VI

1. Cum nexum faciet mancipiumque, 1. Quando se faz um contrato de ces-


uti lingua nuncupassit, ita ius esto. são temporária ou de venda, conforme
expresso, esse seja o direito.

2. Cum ex XII tabulis satis esset ea 2. Como para a Lei das XII Tábuas
praestari, quae essent lingua nuncupa- bastava cumprir-se o que tivesse sido
ta, quae qui infitiatus esset, dupli poe- expresso e quem deixasse de cumprir
nam subiret, a iuris consultis etiam re- o acordado sofria pena em dobro, foi
ticentiae poena est constituta (Cicero, também instituída por jurisconsultos a
De officiis 3, 16, 65). pena do silêncio obstinado.

3. ... usus auctoritas fundi biennium 3. É de um biênio a cessão de uso de


est,... ceterarum rerum omnium ... an- uma propriedade rural ... de todas as
nuus est usus (Cicero, Topica 4, 23). demais ... o uso é anual.

4. Lege XII tabularum cautum est, ut 4. Dispõe a Lei das XII Tábuas que, se,
si qua nollet eo modo (usu) in manum por acaso, uma mulher não quisesse
mariti convenire, ea quotannis tri- ser desse modo posse do marido, bas-
noctio abesset atque eo modo (usum) taria que anualmente se ausentasse por
cuiusque anni interrumperet (Gaius 1, três noites, interrompendo essa moda-
111). lidade de uso de cada ano.

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LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

5a. Si qui in iure manum conserunt ... 5a. Se alguém num tribunal disputa à
força com a parte ...

5b. et mancipationem et in iure ces- 5b. A Lei das XII Tábuas consolida
sionem lex XII tabularum confirmat não só a venda mas também a cessão
(Paulus, Vaticanum fragmentum 50). formal num tribunal.

6. Advocati (Verginiae) ... postulant, ut 6. Os advogados (de Virgínio) ... re-


(Ap. Claudius) ... lege ab ipso lata vin- querem que (Ápio Cláudio) ..., na for-
dicias det secundum libertatem (Livius ma da lei por ele mesmo promulgada,
3, 44, 11. 12).5 dê sentença de liberdade provisória.

7. Tignum iunctum aedibus vineave et 7. Não se remova viga integrada a uma


concapit ne solvito. construção, vinha ou latada.

8. Lex XII tabularum neque solvere 8. A Lei das XII Tábuas não permite
permittit tignum furtivum aedibus vel que se remova viga furtada integrada a
vineis iunctum neque vindicare, ... sed uma construção ou vinhas, tampouco
in eum, qui convictus est iunxisse, in seja reclamada na justiça, ... mas contra
duplum dat actionem (Ulpianus, Di- quem tiver sido responsabilizado pela
gesta XLVII 3, 1, pr.). anexação seja punido em dobro.

9. ... quandoque sarpta, donec dempta 9. ... se um dia forem podadas, en-
erunt ... quanto estiverem sendo cortadas...

TABULA VII TÁBUA VII

1. XII tabularum interpretes ambi- 1. Intérpretes das XII Tábuas definem


tum parietis circuitum esse descri- que o âmbito de uma parede é seu cir-
bunt (Varro, De lingua latina 5, 22); ... cuito; ... Diz-se que âmbito é o circui-
to descoberto dos imóveis ... dois pés
e meio (Festus P. 5); um sestércio vale
5
Esse artigo refere-se ao fato narrado no Diges- duas moedas e meia de bronze, ... na
to I, II, § 4º, no qual certo soldado de nome Lei das XII Tábuas, dois pés e meio
Virgínio mata a própria filha para poupá-la da chama-se “pé sestércio”.
servidão e da desonra por força de injusta de-
cisão do cônsul (um decênviro) em contradi-
ção com os termos de uma lei que ele próprio,
o cônsul, havia promulgado (Digesto, Livro I,
texto bilíngue — latim e português, TRF 1ª Re-
gião, Brasília/DF, 2004).

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Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

Ambitus ... dicitur circuitus aedificio-


rum patens ... pedes duos et semissem
(Festus P. 5); ... Sestertius duos asses et
semissem (valet), ... lex XII tabularum
argumento est, in qua duo pedes et se-
mis “sestertius pes” vocatur (Maecia-
nus, assis distr. 46).

2. Sciendum est in actione finium re- 2. Convém saber que, numa questão de
gundorum illud observandum esse, definição de limites, deve-se observar
quod (in XII tabulis) ad exemplum o que (nas XII Tábuas) foi escrito se-
quodammodo eius legis scriptum est, gundo mais ou menos os termos da lei
quam Athenis Solonem dicitur tulisse. que se atribui a Sólon, de Atenas, pois
Nam illic ita est: [Na recensão de Ro- ali se lê: “se alguém levanta uma parede
dolfo Schoell, segue um texto em inglês temporária junto a peça de outro imó-
que vai traduzido juntamente com o vel, essa parede não pode ultrapassar
teor do presente item]. a linha divisória da propriedade; se a
parede for baixa, deve estar recuada a
um pé; se de imóvel, dois pés; se abrir
uma vala ou buraco, observar-se-á um
espaço igual à profundidade; se um
poço, uma braça, isto é, seis pés ou dois
metros. Se plantar oliveiras e figueiras,
seja de nove pés a distância da proprie-
dade vizinha; todas as demais árvores,
cinco pés (Gaius, Digesta 10, 1, 13).7

3a. In XII tabulis ... nusquam nomi- 3a. Na Lei das XII Tábuas sempre que
natur villa, semper in significatione ea se fala de villa (casa de campo), villa
“hortus”, in horti vero “heredium” (Pli- tem sentido de horto, mas por horto
nius, Naturalis historia 19, 4, 50). entende-se heredium (herança de famí-
lia).

3b. (Tugu)ria a tecto appellantur (do- 3b. Tuguria (humildes habitações de


micilia rusticorum) sordida, ... quo no- pessoas pobres) provém de “tecto” (co-
mine (Messalla in explana)tione XII ait bertura), ... pelo qual nome (Messalia,
etiam ... (signifi)cari (Festus, De verbo-
rum significatu F. 355).
7
O texto é uma tradução do inglês cunhado do
original de Rodolfo Schoell.

35
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

comentando a Lei das XII Tábuas, diz


também significar) ...

4. usus capionem XII tabulae intra V 4. A Lei das XII Tábuas não incluiu no
pedes esse noluerunt (Cicero, De legi- usucapião a posse de espaço de menos
bus I 21, 55). de cinco pés.

5a. Si iurgant ... 5a. Se demandam ...

5b. controversia est nata de finibus, in 5b. Levantou-se uma controvérsia so-
qua ... e XII tres arbitri fines regemus bre limites, na qual seguimos a Lei das
(Cicero, De legibus I, 21, 55) XII Tábuas, que exige três árbitros.

6. Viae latitudo ex lege XII tabularum 6. Na Lei das XII Tábuas a largura de
in porrectum octo pedes habet, in an- uma via é de oito pés; nas curvas, isto
fractum, id est ubi flexum est, sedecim é, onde ocorre uma flexão, dezesseis.
(Gaius, Digesta 8, 3, 8).

7. Viam muniunto: ni sam delapidas- 7. Mantenha-se a estrada: se não lhe


sint, qua volet iumento agito. removerem as pedras, passes por onde
quiseres com teu animal.

8a. Si aqua pluvia nocet ... 8a. Se a água de chuva causa danos...

8b. Si per publicum locum rivus aquae 8b. Se a correnteza de um aquedu-


ductus privato nocebit, erit actio priva- to num local público trouxer danos a
to ex lege XII tabularum, ut noxa do- um particular, segundo a Lei das XII
mino sarciatur (Paulus, Digesta 43, 8, Tábuas, cabe ação do prejudicado para
5). ressarcimento do prejuízo.

9a. Lex XII tabularum efficere voluit, ut 9a. A Lei das XII Tábuas dispunha
XV pedes altius rami arboris circumci- que fossem podados ramos de árvore
dantur (Ulpiano, Digesta 43, 27, 1. 8). de mais de 15 pés de altura.

9b. Si arbor ex vicini fundo vento in- 9b. Se uma árvore de propriedade do
clinata in tuum fundum ist, ex lege XII vizinho inclinar-se por força do vento
tabularum de adimenda ea recte agere sobre a tua, podes, pela Lei das XII Tá-
potes (Pomponius, Digesta XLIII 27, 2). buas, mover ação legal para ser corta-
da.

36
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

10. Cautum est ... lege XII tabularum, 10. Dispõe ... a Lei das XII Tábuas
ut glandem in alienun fundum proci- que é lícito colher fruto caído de árvo-
dentem liceret colligere (Plinius, Natu- re cujos ramos invadem propriedade
ralis historia 16, 5, 15). alheia.

11. Venditae ... et traditae (res) non 11. Coisa vendida ... e entregue não se
aliter emptori adquiruntur, quam si adquire de outro modo pelo compra-
is venditori pretium solverit vel alio dor que não seja pagando o preço ao
modo satisfecerit, veluti expromissore vendedor ou quitando de outro modo
aut pignore dato; quod cavetur ... lege como por fiança ou penhor ... assim
XII tabularum (Iustiniani Institutiones dispõe a Lei das XII Tábuas.
2, 1, 41).

12. Sub hac condicione liber esse ius- 12. Nessa condição, declara-se livre
sus “si decem milia heredi dederit”, etsi quem tiver dado dez mil (sestércios) ao
ab herede abalienatus ist, emptori dan- herdeiro, ainda que por este tenha sido
do pecuniam ad libertatem perveniet: alienado, estará livre pagando o valor
idque lex XII tabularum iubet (Ulpia- ao comprador: é como dispõe a Lei das
nus frmg. 2, 4). XII Tábuas.

TABULA VIII TÁBUA VIII

1a. Qui malum carmen incantassit ... 1a. Quem tiver feito encantamentos...

1b. XII tabulae cum perpaucas res ca- 1b. Embora as XII Tábuas punissem
pite sanxissent, in his hanc quoque com pena de morte muito poucos ca-
sanciendam putaverunt: si quis occen- sos, neste caso acharam por bem apli-
tavisset sive carmen condidisset, quod cá-la: cantar ou compor versos que di-
infamiam faceret flagitiumve alteri famem e desonrem alguém. 8
(Cicero, De re publica 4, 10, 12).

8
Cícero (De republica IV, 12), depois de louvar a
sobriedade da Lei das XII Tábuas com relação
à pena de morte, justifica sua aplicação no caso
previsto nesse artigo, dizendo que devemos es-
tar sujeitos a iudiciis enim magistratuum, dis-
ceptationibus legitimis propositam vitam, non
poetarum ingeniis (a juízos e decisões legítimas
de magistrados e não a talentosos poetas).

37
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

2. Si membrum rup(s)it, ni cum eo pa- 2. Se alguém causa dano físico a ou-


cit, talio esto. trem, a menos que chegue a um acordo
com a vítima, aplique-se a lei de talião.9

3. Manu fustive si os fregit libero CCC, 3. Se com a mão ou pau quebrar o osso
si servo, CL poenam subito. de homem livre, seja a pena de 300 as-
ses, se de um servo, 150.

4. Si iniuriam faxsit, viginti quinque 4. Se causou ferimento, seja a pena de


poenae sunto. 25 asses.

5. ... rup(s)it ... sarcito. 5. ... quebrou ... faça-se o ressarcimen-


to.

6. Si quadrupes pauperiem fecisse de- 6. Se alguém sofre grave prejuízo cau-


citur, ... lex (XII tabularum) voluit aut sado por ação de um animal ... dispõe
dari id quod nocuit ... aut aestimatio- a Lei das XII Tábuas que ou se restitua
nem noxiae offerri (Ulpianus, Digesta o que foi danificado ou se cubra o valor
9 1, 1 pr.). estimativo do prejuízo.

7. Si glans ex arbore tua in meum fun- 7. Se uma fruta de tua árvore cai em
dum cadat eamque ego immisso peco- minha propriedade e eu, não os ani-
re depascam, .... neque ex lege XII ta- mais, a como, nem a Lei das XII Tábuas
bularum de pastu pecoris, quia non in em matéria de pasto, por alimentar-se
tuo pascitur, neque de pauperie ... agi em pasto alheio, nem por dano causa-
posse (Ulpianus, Digesta 19 5, 14, 3). do pode haver ação.

8a. Qui fruges excantassit ... 8a. Quem por encantamento a colhei-
ta ...

8b. ... neve alienam segetem pellexeris 8b. ... ou que não tenhas atraído co-
... lheita alheia ...

9. Frugem ... aratro quaesitam noctu 9. A Lei das XII Tábuas punia com pena
pavisse ac secuisse puberi XII tabulis capital jovem adulto que, à noite, tivesse
capital erat, suspensumque Cereri ne- aterrado com arado plantação de cereais
cari iubebant, ... inpubem praetoris ar- reclamada na justiça, ordenando que
bitratu verberari noxiamve duplionem-
ve decerni (Plinius, Naturalis historia
XVIII 3,12).
9
Ver nota 3.

38
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

fosse morto por enforcamento e ofere-


cido a Ceres... Se o jovem fosse ainda
impúbere, seria, a critério do pretor,
condenado a vergastadas ou a ressarcir
em dobro o prejuízo causado.

10. Qui aedes acervumve frumenti 10. Quem, ciente e conscientemente,


iuxta domum positum combusserit, põe fogo em depósito ou ruma de tri-
vinctus verberatus igni necari (XII go junto a uma casa deve ser, pela Lei
tabulis) iubetur, si modo sciens pru- das XII Tábuas, amarrado, açoitado e
densque id commiserit; si vero casu, id queimado; mas se acidentalmente, isto
est neglegentia, aut noxiam sarcire iu- é, por negligência, ou deve ressarcir o
betur, aut, si minus idoneus ist, levius prejuízo ou, se menos capaz, ser puni-
castigatur (Gaius, Commentarii 4 ad do com pena mais leve.
XII tab. = Digesta 47, 9, 9).

11. cautum... est XII tabulis, ut qui 11. Segundo a Lei das XII Tábuas,
iniuria cecidisset alienas (arbores) lue- quem, por afronta, derrubasse (árvo-
ret in singulas aeris XXV (Plinius, Na- res) alheias seria condenado a pagar
turalis historia XVII 1, 7). vinte e cinco moedas por árvore.

12. Si nox furtum faxsit, si im occisit, 12. Não comete crime quem mata um
iure caesus esto. ladrão que rouba à noite.

13. Luci ... si se telo defendit, ... endo- 13. Se durante o dia ... se se defende
que plorato. com arma, ... chame por socorro.

14. Ex ceteris... manifestis furibus li- 14. Estabeleceram os decênviros,


beros verberari addicique iusserunt quanto aos demais ladrões apanhados
(Xviri) ei, cui furtum factum esset ...; em flagrante: se cidadãos livres, fossem
servos ... verberibus affici et e saxo submetidos à flagelação e condenados
praecipitari; sed pueros impuberes a escravidão, e a vítima do furto ...; se
praetoris arbitratu verberari voluerunt servos, fossem açoitados e precipitados
noxiamque ... sarciri (Gellius, Noctes da rocha10; se jovens ainda impúberes,
Atticae 11, 18, 8).

10
A rocha aqui referida é a célebre rocha Tar-
peia, situada nas proximidades do Capitólio.
Seu nome “Tarpeia” resultaria, conforme as
lendas, de homenagem à deusa Tarpeia ou a
uma das vestais escolhidas por Numa, rei de

39
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

fossem açoitados a critério do pretor e


o prejuízo ressarcido.

15a. Concepti et oblati (furti) poena ex 15a. Receptadores e apanhados com


lege XII tabularum ... tripli est... (Gaius, objeto oriundo de furto ou roubo eram
Commentarii 3, 191). punidos pela Lei das XII Tábuas com
pena tripla...

15b. Lance et licio ... 15b. Com balança e corda de medir ...

16. Si adorat furto, quod nec manifes- 16. Se alguém se queixa de furto não
tum erit ... (duplione damnum decidi- cometido em flagrante, arbitre-se o
to). prejuízo em dobro.

17. Furtivam (rem) lex XII tabularum 17. A Lei das XII Tábuas proíbe o usu-
usucapi prohibet ... (Gaius, Commenta- capião de coisa furtada ...
rii 2, 45).

18a. XII tabulis sanctum, ne quis un- 18a. Por sanção da Lei das XII Tábuas,
ciario fenore amplius exerceret ... (Ta- ninguém podia cobrar juros de mais de
citus, Annales 6, 16). um por cento...

18b. Maiores ... in legibus posiverunt 18b. Os antigos estabeleceram por lei
furem dupli condemnari, feneratorem (XII Tábuas) que o ladrão fosse conde-
quadrupli (Cato, De agri cultura praef.). nado ao dobro; o agiota, ao quádruplo.

19. Ex causa depositi lege XII tabu- 19. Em questão de depósito, segundo
larum in duplum actio datur (Paulus, a Lei das XII Tábuas, cabe ação de in-
Collectio 10, 7, 11). denização em dobro.

Roma, ou viria do nome da filha do coman-


dante da cidadela do Capitólio, que se chama-
va Tarpeia, versão toponímica mais comum,
segundo a qual os gauleses teriam predomi-
nado sobre os romanos apanhados de surpre-
sa graças à traição de Tarpeia a seu próprio
pai. Por isso, a rocha, da qual passaram a ser
precipitados acusados de traição, teria rece-
bido o nome da filha traidora. Mais tarde, a
rocha converter-se-ia em local de execução de
todo gênero de pena capital.

40
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

20a. Sciendum est suspecti crimen e 20a. Convém saber que indícios de cri-
lege XII tabularum descendere (Ulpia- me têm origem na Lei das XII Tábuas.
nus, Digesta 26, 10, 1, 2).

20b. Si ... tutores rem pupilli furati sunt, 20b. Se... tutores se apossarem de bem
videamus an ea actione, quae proponi- do tutelado, vejamos se, pela ação em
tur ex lege XII tabularum adversus tu- dobro que é disposta pela Lei das XII
torem in duplum, singuli in solidum Tábuas contra um tutor, é alcançado
teneantur (Tryphonius, Digesta 26, 7, cada um dos tutores no total do bem
55, 1). em questão.

21. Patronus si clienti fraudem fecerit, 21. Seja declarado infame11 o advoga-
sacer esto. do que fraudar seu cliente.

22. Qui se sierit testarier libripensve 22. Tabelião ou testemunha que não
fuerit, ni testimonium fatiatur, inpro- confirma sua fé de ofício ou seu teste-
bus intestabilisque esto. munho seja declarado vil e indigno (da
função).

23. Ex XII tabulis ... si nunc quoque 23. Pela Lei das XII Tábuas, condena-
... qui falsum testimonium dixisse con- do por ter dado falso testemunho devia
victus esset saxo Tarpeio deiceretur ... ser precipitado da rocha Tarpeia.12
(Gellius, Noctes Atticae 20, 1, 53).

24a. Si telum manu fugit magis quam 24a. Se o arco, em vez de lançar (o dar-
iecit, aries subicitur. do), foge do controle da mão, sacrifi-
que-se um carneiro.

24b. Frugem ... furtim ... pavisse ... XII 24b. A Lei das XII Tábuas punia com
tabulis capital erat ... gravius quam in pena capital quem tivesse alimentado
homicidio (Plinius, Naturalis historia ... às escondidas ..., o que era conside-
18, 3, 12). rado mais grave que homicídio.

25. Qui venenum dicit, adicere debet, 25. Quem fala de veneno deve acres-
utrum malum an bonum; nam et me- centar se mau ou bom, pois os medica-
dicamenta venena sunt (Gaius, 1. 4 ad mentos também são veneno.
XII tab. = Digesta 50, 16, 236 pr.).

11
Glossário, infamia.
12
Ver nota 9.

41
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

26. XII tabulis cautum esse cognosci- 26. Sabemos pela Lei das XII Tábuas
mus, ne quid in Urbe coetus nocturnos que era proibido promover aglomera-
agitaret (Latro, Decl. in Cat. 19). ções noturnas na Urbe.

27. His (sodalibus) potestatem facit 27. A Lei das XII Tábuas confere a es-
lex (XII tabularum), pactionem quam ses membros poder de fazer acordos
velint sibi ferre, dum ne quid ex publica que quiserem, desde que nada violem
lege corrumpant; sed haec lex videtur da lei pública; parece, porém, que essa
ex lege Solonis translata esse (Gaius, 1. lei teria sido transcrita da lei de Sólon.
4 ad XII tab. = Digesta 67, 22, 4).

TABULA IX TÁBUA IX

1. “Privilegia ne inroganto; de capite 1. Não se irroguem privilégios; com


civis nisi per maximum comitiatum relação à pena capital de um cidadão,
... ne ferunto” (Cicero, De legibus 3, 4, não seja decretada a não ser por assem-
11). bleia geral.

2. Leges praeclarissimae de XII tabulis 2. Duas importantíssimas leis foram


tralatae duae, quarum altera privilegia transcritas das XII Tábuas, das quais
tollit, altera de capite civis rogari nisi uma suprime privilégios, a outra reser-
maximo comitiatu vetat (Cicero, De le- va à assembleia geral a decretação de
gibus 3, 19, 44). pena capital.

3. Duram esse legem putas, quae iu- 3. Achas dura a lei que pune com pena
dicem arbitrumve iure datum, qui ob de morte juiz ou árbitro, designado
rem (iu)dic(a)ndam pecuniam acce- pela justiça, por ter recebido propina
pisse convictus est, capite poenitur? por sentença?
(Gellius 20, 1, 7).

4. Quaestores ... qui capitalibus rebus 4. Questores que presidem a questões


praeessent, ... appellantur quaestores de pena capital, aos quais também se
parricidi, quorum etiam meminit lex refere a Lei das XII Tábuas, são chama-
XII tabularum (Pomponius, Digesta 1, dos questores parricidas.
2, 2, 23).

5. Lex XII tabularum iubet eum, qui 5. A Lei das XII Tábuas dispõe que deve
hostem concitaverit quive civem hosti ser punido com pena capital quem ti-

42
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

tradiderit, capite puniri (Marcianus, ver provocado o inimigo ou quem tiver


Digesta 48, 4, 3). entregue um cidadão a um inimigo.

6. Interfici ... indemnatum quemcun- 6. A Lei das XII Tábuas proibia tam-
que hominem etiam XII tabularum de- bém que se executasse qualquer pessoa
creta vetuerunt (Salvianus, De Guber- sem julgamento.
natione Dei 8, 5, 24).

TABULA X TÁBUA X

1. Hominem mortuum in Urbe ne se- 1. Na Urbe, não se enterre cadáver


pelito neve urito. nem seja cremado.

2. ... Hoc plus ne facito: rogum ascea 2. Isto não se faça mais: montar pira
ne polito. funerária com madeira trabalhada.

3. Extenuato igitur sumptu tribus re- 3. Reduzida, portanto, a despesa a três


ciniis et tunicula purpurae et decem véus, uma túnica de púrpura e dez to-
tibicinibus tollit etiam lamentationem cadores de flauta; suprima-se também
(Cicero, De legibus 2, 23, 59). a lamentação.

4. Mulieres genas ne radunto neve les- 4. As mulheres não arranhem a face


sum funeris ergo habento. nem façam lamentações fúnebres.

5a. Homine mortuo ne ossa legito, 5a. Não se recolham restos mortais de
quo post funus faciat. alguém para depois se fazer o funeral.

5b. Excipit bellicam peregrinamque 5b. Com exceção no caso de quem


mortem (Cicero, De legibus 2, 24, 60). morreu em guerra e em solo estrangeiro.

6a. Haec praeterea sunt in legibus 6a. Além dessas disposições, estão
...: “servilis unctura tollitur omnisque também nas leis que “a unção não se
circumpotatio” ... “Ne sumptuosa res- faça por mãos de escravo e nada de be-
persio, ne longae coronae, ne acerrae” bedeiras” ... “Nada de aspersões caras,
(Cicero, De legibus 2, 24, 60). coroas exageradas e incensações exces-
sivas”.

6b. Murrata potione usos antiquos in- 6b. Há indícios de antigo uso de uma
dicio est, quod ... XII tabulis cavetur, ne poção de mirra que ... a Lei das XII Tá-

43
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

mortuo indatur (Festus, De verborum buas proibiu de ser aplicada a um cadá-


significatu 158). ver.

7. Qui coronam parit ipse pecuniave 7. Quem conquista pessoalmente uma


eius honoris virtutisve ergo duitur ei ... coroa ou a adquire com seu dinheiro,
ou, por sua honra ou por seu valor, lhe
é conferida ...

8. ... neve aurum addito. At cui auro 8. ... nem lhe acrescente ouro. Mas, se
dentes iuncti escunt. Ast im cum illo alguém tem dentes juntos com ouro, as-
sepeliet uretve, se fraude esto. sim o sepultará ou cremará sem fraude.

9. rogum bustumve novum vetat pro- 9. nenhuma nova pira ou sepultura es-
pius LX pedes adigi aedes alienas invito teja a menos de 60 pés de imóvel alheio
domino (Cicero, De legibus 2, 24, 61). sem a permissão do dono.

10. forum ... bustumve usucapi vetat 10. proíbe o usucapião de área de
(Cicero, De legibus 2, 24, 61). acesso a pira ou sepulcro.

TABULA XI TÁBUA XI

1. (Decemviri) cum X tabulas summa 1. Tendo os decênviros promulgado


legum aequitate prudentiaque cons- dez tábuas de leis com suma equidade
cripsissent, in annum posterum Xviros e sabedoria, foram nomeados para o
alios subrogaverunt, ... qui duabus ta- ano seguinte outros decênviros ... que
bulis iniquarum legum additis ... conu- acrescentaram mais duas tábuas de
bia ... ut ne plebi cum patribus essent, leis iníquas ... pelas quais sancionaram
inhumanissima lege sanxerunt (Cicero, com lei desumaníssima a proibição de
De re publica 2, 36, 61 et 37, 63). casamento entre plebeus e patrícios.

2. Tuditanus refert, ... Xviros, qui de- 2. Tuditano informa ... que os decênvi-
cem tabulis duas addiderunt, de in- ros que acrescentaram duas às dez tá-
tercalando populum rogasse. Cassius buas teriam consultado o povo sobre o
eosdem scribit auctores (Macrobius, aditamento. Cássio registra os mesmos
Saturnalia 1, 13, 21). autores.

3. E quibus (libris de republica) unum 3. Nos quais livros (sobre a república)


historikon requiris de Cn. Flavio Anni tu pesquisas insistentemente acerca de
f. Ille vero ante Xviros non fuit ... Quid um historiador que fala de Cn. Flávio,

44
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

ergo profecit, quod protulit fastos? Oc- filho de Anno. Acontece, porém, que
cultatam putant quodam tempore is- ele não viveu antes dos decênviros ...
tam tabulam, ut dies agendi peterentur Que adiantou revelar fatos promisso-
a paucis (Cicero, Ad Atticum 6, 1, 8). res? Acham alguns que essa tábua teria
sido escondida por algum tempo até
ser reclamada no momento oportuno
por alguns.

TABULA XII TÁBUA XII

1. Lege autem introducta est pignoris 1. O usucapião de um penhor foi intro-


capio, veluti lege XII tabularum ad- duzido por lei, do mesmo modo que a
versus eum, qui hostiam emisset nec Lei das XII Tábuas, contra quem com-
pretium redderet; item adversus eum, prasse uma vítima de sacrifício e não
qui mercedem non redderet pro eo iu- pagasse; do mesmo modo contra quem
mento, quod quis ideo locasset, ut inde não pagasse a jornada de um animal
pecuniam acceptam in dapem, id est in alugado, valor que o locador despen-
sacrificium, impenderet (Gaius IV, 28). deria num sacrifício.

2a. Si servus furtum faxit noxiamve 2a. Se um escravo faz um furto ou


no(x)it. causa um prejuízo.

2b. Ex malificiis filiorum familias ser- 2b. Com relação a delitos de filhos e
vorumque ... noxales actiones proditae de escravos, as ações delituosas de-
sunt, uti liceret patri dominove aut litis vem ser denunciadas para que o pai ou
aestimationem sufferre aut noxae de- o senhor do escravo cubra o valor da
dere ... Constitutae sunt ... aut legibus questão ou ressarça o dano feito ... Fo-
aut edicto praetoris: legibus velut furti ram dispostas ... por leis ou por edito
lege XII tabularum ... (Gaius 4, 75, 76). do pretor: por leis ou pela lei do furto
contida nas XII Tábuas ...

3. Si vindiciam falsam tulit, si velit is ... 3. Se alguém deteve falsamente posse


tor arbitros tris dato, eorum arbitrio ... provisória (de alguma coisa), se quiser,
fructus duplione damnum decidito. dê-lhe o pretor três árbitros por cujo
arbítrio ... seja o dano reparado por
multa em dobro.

4. Rem, de qua controversia est, prohi- 4. Somos proibidos (pela Lei das XII
bemur (lege XII tabularum) in sacrum Tábuas) de oferecer ao culto objeto em

45
LEI DAS XII TÁBUAS Digesto

dedicare: alioquin dupli poenam pati- torno do qual haja contestação, pelo
mur, ... sed duplum utrum fisco an ad- que estamos sujeitos a pena em dobro,
versario praestandum ist, nihil expri- ... mas nada se diz se pagamos o dobro
mitur (Gaius, Leges 6 ad XII ( = Digesta ao fisco ou ao adversário.
LXIV 6, 3).

5. in XII tabulis legem esse, ut quodcum- 5. Há uma lei nas XII Tábuas segundo
que postremum populus iussisset, id a qual o que quer que o povo ordene
ius ratumque esset (Livius VII 17, 12). por último, esse é o direito e o certo.

FRAGMENTA INCERTAE FRAGMENTOS DE ORIGEM


SEDIS INCERTA

1. Nancitor in XII nactus erit, pren- 1. Na Lei das XII Tábuas quem achar
derit (Festus, De verborum significatu tem o direito de apanhar.
166).

2. Quando ... in XII ... cum “c” littera 2. Quando ... na Lei das XII Tábuas se
ultima scribitur (Festus, De verborum escreve com “c” a última letra ...
significatu 258).

3. “Sub vos placo” in precibus fere cum 3. Quando se diz nas preces “entrego
dicitur, significat id quod “supplicio”, em tua mão”, significa mais ou menos
ut in legibus “transque dato”, “endoque o que se entende por “oferendas”, como
plorato” (Festus, De verborum significa- na linguagem do direito significa “pas-
tu 258). sar à mão”, “implorar”.

4. “dolo malo” ... quod ... addit, “malo” 4. Ao acrescentar “mau” a “dolo” co-
... archaismos est, quia sic in XII tabulis metemos um arcaísmo, pois assim está
a veteribus scriptum est (Donatus, Ad escrito pelos antigos na Lei das XII Tá-
Terentium Eun. 515). buas.

5. ab omni iudicio poenaque provocari 5. Por muitas disposições, está na Lei


licere indicant XII tabulae compluribus das XII Tábuas ser lícito apelar contra
legibus (Cicero, De re publica 2, 31, 54). todo juízo e sentença.

6. Nullum ... vinculum ad adstringen- 6. Nossos maiores não queriam ne-


dam fidem iureiurando maiores artius nhuma obrigação que tornasse mais
esse voluerunt; id indicant leges in XII rigoroso um juramento; do mesmo
tabulis (Cicero, De officiis 3, 31, 111). modo as leis nas XII Tábuas.

46
Digesto LEI DAS XII TÁBUAS

7. XII tabulis ortus ... et occasus nomi- 7. Ortus (nascimento, princípio) e


nantur (Plinius, Naturalis historia VII occasus (fim, ocaso) assim figuram nas
60, 212). XII tábuas.

8. Olim aereis tantum nummis uteban- 8. Antigamente, só as moedas utiliza-


tur, et erant asses, dupondii, semisses, vam o bronze, e eram os asses (de mais
quadrantes, nec ullus aureus vel argen- ou menos uma libra), dupôndio (dois
teus nummus in usu erat, sicuti ex lege asses), semisses (metade de um “as”),
XII tabularum intellegere possumus quadrante (um quarto do “as”). Não
(Gaius 1, 122). havia nenhuma moeda de ouro ou de
prata em uso, conforme se pode dedu-
zir da Lei das XII Tábuas.

9. Duobus negativis verbis quasi per- 9. Com dois verbos na forma negativa,
mittit lex (XII tabularum) magis quam a Lei (das XII Tábuas), em vez de proi-
prohibuit: idque etiam Servius (Sulpi- bir, permite: Sérvio (Sulpício) chama
cius) animadvertit (Gaius, leges 5 ad também a atenção para isso.
XII = Digesta 50, 16, 237).

10. “Detestatum” est testatione de- 10. Detestatum refere-se a alguém que
nuntiatum (Gaius, leges 6 ad XII = Di- foi denunciado com prova testemu-
gesta 50, 16, 238, 1). nhal.

11. Per ipsum fere tempus, ut decem- 11. Mais ou menos pela mesma época,
viraliter loquar, lex de praescriptione como diziam os decênviros, foi procla-
tricennii fuerat “proquiritata” (Sido- mada a lei da prescrição tricenal.
nius Apollinaris, Epistula 8, 6, 7).

47
Digesto

Basílica de São Vital


Ravena/Itália
CONSTITUIÇÃO DEO AUCTORE

DE CONCEPTIONE DIGESTORUM DA CONCEPÇÃO DO DIGESTO1

Imperator Caesar Flavius Iustinianus, pius, O imperador César Flávio Justiniano, pio,
felix, inclytus, victor ac triumphator, semper feliz, ínclito, vitorioso e triunfante, sempre
Augustus, Triboniano quaestori suo salutem Augusto, a seu questor Triboniano, saúde.

Deo auctore nostrum gubernantes im- Sob a proteção de Deus, nosso Cria-
perium, quod nobis a coelesti maiesta- dor, no governo do império que nos foi
te traditum est, et bella feliciter pera- confiado pela autoridade celestial, não
gimus, et pacem decoramus, et statum só, com sucesso, pusemos fim às guer-
reipublicae sustentamus, et ita nostros ras e promovemos a paz como também
animos ad Dei omnipotentis erigimus asseguramos a estabilidade da Repú-
adiutorium, ut neque armis confida- blica e, com tanto ardor, invocamos o
mus, neque nostris militibus, neque auxílio de Deus onipotente, que já não
bellorum ducibus, vel nostro ingenio, confiamos nem nas armas, nem na for-
sed omnem spem ad solam referamus ça militar, nem em generais, nem em
summae providentiam Trinitatis, unde nosso próprio engenho, mas deposita-
et mundi totius elementa processerunt, mos toda a esperança na providência
et eorum dispositio in orbem terrarum da Santíssima Trindade, da qual pro-
producta est. vêm os elementos de todo o universo
e a ordem das coisas em todo o orbe
terrestre.

§ 1. — Quum itaque nihil tam studio- § 1. Nada há de tão precioso como a


sum in omnibus rebus invenitur, quam autoridade das leis, que ordena com
legum auctoritas, quae et divinas et perfeição tanto as coisas divinas quan-
humanas res bene disponit et omnem to as humanas e repele toda injustiça.
iniquitatem expellit, reperimus autem Observamos, todavia, na trajetória
omnem legum tramitem, qui ab urbe histórica das leis, desde a fundação de
Roma condita et Romuleis descendit Roma e os tempos de Rômulo, ser ta-
temporibus, ita esse confusum, ut in manha a confusão que daí se instalou
infinitum extendatur, et nullius hu- que essas leis se tornaram incompreen-
manae naturae capacitate concludatur, síveis à razão humana. Nossa primeira
primum nobis fuit studium, a sacratis- providência consistiu em começar pela
simis retro principibus initium sume- obra dos eminentíssimos príncipes que
re, et eorum constitutiones emendare, nos antecederam, emendando suas
et viae dilucidae tradere, quatenus in
unum codicem congregatae, et omni
supervacua similitudine et iniquissima 1
Vide Notas explicativas.

51
Constituição deo auctore Digesto

discordia absolutae universis homini- constituições e lhes conferindo mais


bus promtum suae sinceritatis praebe- clareza. Reunidas em um só código2 e
ant praesidium. purgadas de supérfluas repetições e de
divergências inócuas, ofereçam a todos
a certeza de sua autenticidade.

§ 2. — Hocque opere consummato, in § 2. Concluída a tarefa, reunimos o tra-


uno volumine, nostro nomine prae- balho em uma só obra, que honramos
fulgente, coadunato, quum ex paucis com o nosso nome; deixando de lado
et tenuioribus relevati ad summam questões mais sutis e de pouca impor-
et plenissimam iuris emendationem tância, propusemo-nos chegar à plena
pervenire properaremus, et omnem e total emenda das leis, reunir e corri-
Romanam sanctionem et colligere et gir toda a literatura jurídica romana e
emendare, et tot auctorum dispersa apresentar, em uma só obra, livros de
volumina uno codice indita ostende- diversos autores (o que ninguém nem
re (quod nemo neque sperare, neque ousara empreender nem esperava pu-
optare ausus est), res quidem nobis dif- desse ser empreendido), coisa que de
ficillima, immo magis impossibilis vi- fato nos parecia dificílima e mesmo im-
debatur. Sed manibus ad coelum erecti, possível. Mas erguemos nossas mãos ao
aeterno auxilio invocato, eam quoque Céu, invocando a ajuda do Eterno, e —
curam nostris reposuimus animis, Deo confiantes em Deus que, com a grande-
freti, qui et res penitus desperatas do- za de seu imenso poder, pode conceder
nare et consummare suae virtutis mag- ao homem realizar coisas mais do que
nitudine potest. desesperadoras — empreendemos este
trabalho.

§ 3. — Et ad tuae sinceritatis optimum § 3. Foi quando recorremos aos bons


respeximus ministerium, tibique pri- ofícios de tua competência e a ti con-
mo et hoc opus commisimus, ingenii fiamos, em primeiro lugar, essa tarefa.
tui documentis ex nostri Codicis or- E, conhecedores de tua experiência na
dinatione acceptis, et iussimus, quos sistematização de nosso Codex, orde-
probaveris, tam ex facundissimis an- namos que, a teu critério, escolhesses
tecessoribus, quam ex viris disertissi- colaboradores tanto dentre os mais
mis togatis fori amplissimae sedis, ad ilustres professores de direito quanto
sociandum laborem eligere. His itaque
collectis, et in nostrum palatium intro-
ductis, nobisque tuo testimonio placi- 2
O imperador refere-se à obra anterior ao Di-
tis, totam rem faciendam permisimus, gesto, o Codex Iustinianus ou Constitutiones,
ita tamen, ut tui vigilantissimi animi que, editado em Roma, em 529 d.C., reunia,
gubernatione res omnis celebretur. de maneira sistematizada, leis e decisões impe-
riais com vista à operacionalidade da justiça.

52
Digesto Constituição deo auctore

dentre os mais renomados jurisconsul-


tos de Constantinopla. A esses assim
escolhidos e apresentados em nosso
palácio, e por nós aprovados com base
em teu testemunho, confiamos a reali-
zação de todo o projeto, contanto que
tudo se processasse sob tua vigilante
direção.

§ 4. — Iubemus igitur vobis, antiquo- § 4. Determinamos, portanto, que


rum prudentium, quibus auctoritatem leiais e retoqueis livros dos mais anti-
conscribendarum interpretandarum- gos jurisconsultos de direito romano
que legum sacratissimi principes pra- que, por ordem das augustas autorida-
ebuerunt libros ad ius Romanum per- des, procederam à formulação e inter-
tinentes et legere et elimare, ut ex his pretação de leis, de modo que deles se
omnis materia colligatur, nulla, secun- reúna toda a matéria. Ao fazê-lo, po-
dum quod possibile est, neque simili- rém, devereis atentar para que, tanto
tudine, neque discordia derelicta, sed quanto possível, não haja nem seme-
ex his hoc colligi, quod unum pro om- lhanças nem discordâncias na matéria,
nibus sufficiat. Quia autem et alii libros mas precisamente o que dela se possa
ad ius pertinentes scripserunt, quorum colher e aplicar a todos os casos. Ou-
scripturae nullis auctoribus receptae tros livros escritos sobre direito, por
nec usitatae sunt, neque nos eorum vo- não terem sido acolhidos nem usados
lumina nostram inquietare dignamur por autores, consideramos dispensá-
sanctionem. veis na elaboração deste trabalho.

§ 5. — Quumque haec materia sum- § 5. E como essa obra será realizada


ma nostri numinis liberalitate collecta como suma expressão de nossa libe-
fuerit, oportet eam pulcherrimo opere ralidade, convém executá-la com má-
exstruere, et quasi proprium et sanctis- xima perfeição e consagrá-la como
simum templum iustitiae consecrare, verdadeiro e sacratíssimo templo da
et in libros quinquaginta et certos titu- justiça; ordená-la em cinquenta livros
los totum ius digerere tam secundum sob determinados títulos, segundo a
nostri constitutionem Codicis, quam disposição de nosso Codex e também à
edicti perpetui imitationem, prout imitação do Edito Perpétuo3, conforme
hoc vobis commodius esse patuerit, vos parecer mais prático. Nada escape à
ut nihil extra memoratam consum- mencionada compilação, de modo que,
mationem possit esse derelictum, sed
his quinquaginta libris totum ius anti-
quum, per millesimum et quadringen-
3
Glossário, edito.

53
Constituição deo auctore Digesto

tesimum paene annum confusum, et a nesses cinquenta livros, todo o antigo


nobis purgatum, quasi quodam muro direito, emaranhado por quase mil e
vallatum, nihil extra se habeat; omni- quatrocentos anos, agora por nós ex-
bus auctoribus iuris aequa dignitate purgado e como se defendido por uma
pollentibus, et nemini quadam prae- muralha, nada deixe de fora. Concede-
rogativa servanda, quia non omnes in mos a todos os autores igual autorida-
omnia, sed certi per certa vel meliores de, sem atribuir a ninguém prerroga-
vel deteriores inveniuntur. tiva alguma, pois não se pode afirmar
que um seja melhor ou pior em todos
os assuntos, embora alguns possam ser
tidos como mais ou menos competen-
tes em certas matérias.

§ 6. — Sed neque ex multitudine auc- § 6. Mas não julgueis pelo número de


torum, quod melius et aequius est, iu- autores o que é melhor e mais equitativo,
dicatote, quum possit unius forsitan et pois às vezes a opinião de um só, mesmo
deterioris sententia et multas et maio- se de menor autoridade, pode em algu-
res in aliqua parte superare. Et ideo ea, ma matéria ser melhor que a de muitos e
quae antea in notis Aemilii Papiniani mais competentes. Por isso, não rejeiteis
ex Ulpiano et Paulo, nec non Marciano de imediato pontos de vista de Ulpiano
adscripta sunt, quae antea nullam vim e Paulo como também de Marciano, que
obtinebant propter honorem splendi- figuram em notas de Emílio Papiniano,
dissimi Papiniani, non statim respue- outrora tidos como de pouco mérito,
re, sed si quid ex his ad repletionem tendo em vista a reconhecida competên-
summi ingenii Papiniani laborum vel cia do ilustre Papiniano; mas se achardes
interpretationem necessarium esse que alguma parte desses pontos de vista
perspexeritis, et hoc ponere legis vicem possa complementar ou interpretar o ta-
obtinens non moremini, ut omnes, qui lento superior de Papiniano, não hesiteis
relati fuerint in hunc codicem pru- em considerá-la como tendo força de lei,
dentissimi viri, habeant auctoritatem, de modo que todos os jurisconsultos re-
tanquam si eorum studia ex principali- feridos neste código tenham autoridade
bus constitutionibus profecta et a nos- como se suas doutrinas proviessem de
tro divino fuerint ore profusa. Omnia constituições dos príncipes e tivessem
enim merito nostra facimus, quia ex sido proferidas por nossos lábios impe-
nobis omnis eis impertietur auctoritas; riais. Todas essas obras merecidamente
nam qui subtiliter factum emendat, fazemos nossas, pois é de nós que lhes
laudabilior est eo, qui primus invenit. advém toda autoridade. De fato, quem
aprimora uma obra é mais digno de lou-
vor do que aquele que primeiro a conce-
beu.

54
Digesto Constituição deo auctore

§ 7. — Sed et hoc studiosum vobis esse § 7. Determinamos também que, ao


volumus, ut, si quid in veteribus non lidar com obras muito antigas, cuideis
bene positum libris inveniatis, vel ali- de reformular o que encontrardes de
quod superfluum, vel minus perfectum, malposto ou supérfluo ou menos claro
supervacua longitudine semota, et quod (evitando toda prolixidade e imperfei-
imperfectum est repleatis, et omne opus ção) e ofereçais um trabalho em lin-
moderatum et quam pulcherrimum os- guagem simples e, ao mesmo tempo,
tendatis; hoc etiam nihilominus obser- o mais claro possível. Deveis, ainda,
vando, ut si aliquid in veteribus legibus se algo encontrardes em leis e consti-
vel constitutionibus, quas antiqui in suis tuições antigas, que autores de outrora
libris imposuerunt, non recte scriptum citaram incorretamente em suas obras,
inveniatis, et hoc reformetis, et ordini reformular e apresentar na devida or-
moderato tradatis, ut hoc videatur esse dem, de modo que expresse o certo e
verum et optimum et quasi ab initio da melhor maneira possível conforme
scriptum, quod a vobis electum et ibi o original, e que ninguém, com base
positum fuerit, et nemo ex compara- em antigos originais, ouse contestar o
tione veteris voluminis quasi vitiosam que tiverdes preferido e expresso. Pois,
scripturam arguere audeat. Quum enim se toda lei e todo o poder do povo ro-
lege antiqua, quae regia nuncupabatur, mano foram transferidos, pela antiga
omne ius omnisque potestas populi lei que se chamava régia, para o poder
Romani in imperatoriam translata sunt imperial, o que sancionamos como
potestatem, nos vero sanctionem om- um todo, sem dividi-lo com essa ou
nem non dividimus in alias et alias con- aquela fonte, mas queremos que seja
ditorum partes, sed totam nostram esse totalmente nosso, que pode em nossas
volumus, quid possit antiquitas nostris leis ser ab-rogado pela antiguidade? Se
legibus abrogare? Et in tantum volumus queremos, portanto, adotar essas mes-
eadem omnia, quum reposita sunt, ob- mas leis, depois de reformuladas, em-
tinere, ut, et si aliter fuerant apud vete- bora possam, de algum modo, divergir
res conscripta, in contrarium autem in dos textos originais, atribua-se isso ao
positione inveniantur, nullum crimen nosso arbítrio e não a erro de tradução.
scripturae imputetur, sed nostrae elec-
tioni hoc adscribatur.

§ 8. — Nulla itaque in omnibus prae- § 8. Por conseguinte, que em nenhu-


dicti codicis membris antinomia (sic ma parte deste código haja contradi-
enim a vetustate graeco vocabulo nun- ção de leis (coisa que os antigos gregos
cupatur) aliquem sibi vindicet locum, chamavam antinomia), mas haja de tal
sed sit una concordia, una consequen- modo concordância e consequência
tia, adversario nemine constituto. que ninguém possa contestar.

55
Constituição deo auctore Digesto

§ 9. — Sed et similitudinem, secundum § 9. Determinamos, além disso, con-


quod dictum est, ab huiusmodi con- forme foi dito, que, nesse empreen-
summatione volumus exsulare, et ea, dimento, se evitem repetições, como
quae sacratissimis constitutionibus, também não permitimos que voltem
quas in Codicem nostrum redigimus, a figurar como parte do direito anti-
cauta sunt, iterum poni ex vetere iure go normas sancionadas por augustas
non concedimus, quum divalium constituições adotadas em nosso códi-
constitutionum sanctio sufficit ad eo- go, pois elas têm suficiente autoridade,
rum auctoritatem, nisi forte vel prop- a menos que considereis citá-las por
ter divisionem, vel propter epletionem, conveniência de vossa metodologia, ou
vel propter pleniorem indaginem hoc para completar a obra ou para efeito de
contigerit, et hoc tamen perraro, ne ex maior precisão. E, mesmo assim, só em
continuatione huiusmodi lapsus oria- casos raros; caso contrário, o uso contí-
tur aliquid in tali prato spinosum. nuo desse recurso acabará gerando mais
dificuldades nesse campo já espinhoso.

§ 10. — Sed et si quae leges in veteri- § 10. De modo algum admitimos que
bus libris positae iam in desuetudinem incluais leis contidas em livros antigos,
abierunt, nullo modo vobis easdem já obsoletas, mas tão somente aquelas
ponere permittimus, quum haec tan- que se mantiveram em vigor pelo cos-
tummodo obtinere volumus, quae vel tume imemorial desta venerável Capi-
iudiciorum frequentissimus ordo exer- tal, porque, conforme escreveu Sálvio
cuit, vel longa consuetudo huius almae Juliano, todas as demais cidades devem
urbis comprobavit, secundum Salvii seguir o costume de Roma, como a
Iuliani scripturam, quae indicat, debe- principal de todas as cidades. Entenda-
re omnes civitates consuetudinem Ro- -se, porém, por Roma não só a antiga
mae sequi, quae caput est orbis terra- mas também nossa régia Capital, que,
rum, non ipsam alias civitates. Romam sob a proteção de Deus, foi fundada
autem intelligendum est non solum ve- sob os melhores auspícios.
terem, sed etiam regiam nostram, quae
Deo propitio cum melioribus condita
est auguriis.

§ 11. — Ideo iubemus, duobus istis § 11. Mandamos, portanto, que tudo
codicibus omnia gubernari, uno cons- se reja por estes dois códigos, um das
titutionum, altero iuris enucleati et constituições, outro do direito retoca-
in futurum codicem compositi, vel si do e organizado no futuro código, ou
quid aliud a nobis fuerit promulgatum por algo mais por nós promulgado que
institutionum vicem obtinens, ut rudis tenha força de lei, para que o estudan-
animus studiosi, simplicibus enutritus, te iniciado nos rudimentos do direito,

56
Digesto Constituição deo auctore

facilius ad altioris prudentiae redigatur mas conhecedor das noções básicas,


scientiam. chegue mais facilmente à ciência mais
elevada.

§ 12. — Nostram autem consumma- § 12. Mandamos que esta nossa obra,
tionem, quae a vobis Deo annuente que, com a vontade de Deus, será re-
componetur, Digestorum vel Pandec- alizada por vós, receba o nome de Di-
tarum nomen habere sancimus, nullis gesto ou Pandectas. Determinamos,
iuris peritis in posterum audentibus ainda, que nenhum jurisconsulto ouse,
commentarios illi applicare, et verbo- no futuro, lhe fazer comentários ou in-
sitate sua supradicti codicis compen- troduzir confusão com vãs divagações,
dium confundere, quemadmodum in como outrora acontecia, quando pelas
antiquioribus temporibus factum est, opiniões dos intérpretes se subvertia
quum per contrarias interpretantium todo o direito. Basta apenas fazer algu-
sententias totum ius paene conturba- ma correção por notas ou uso de títu-
tum est; sed sufficiat, per indices tan- los (que em grego se diz parátitla, isto
tummodo et titulorum subtilitatem, é, esclarecimentos) de tal modo que de
quae para,titla nuncupantur, quae- sua interpretação não resulte nenhum
dam admonitoria eius facere, nullo ex vício.
interpretatione eorum vitio oriundo.

§ 13. — Ne autem per scripturam ali- § 13. Para evitar que a redação deste
qua fiat in posterum dubitatio, iube- código venha, no futuro, a gerar ambi-
mus, non per siglorum captiones et guidades, recomendamos que se evite
compendiosa aenigmata, quae multas o uso de linguagem simbólica ou enig-
per se et per suum vitium antinomias mática que ensejem antinomias, mes-
induxerunt, eiusdem codicis textum mo que se trate de numeração de livros
conscribi, etiamsi numerus librorum ou algo semelhante; tampouco permi-
significetur, aut aliud quidquam; nec timos que se escrevam números por
etenim haec per specialia sigla nume- meio de abreviaturas especiais, mas
rorum manifestari, sed per literarum devem ser grafados por extenso.
consequentiam explanari concedimus.

§ 14. — Haec igitur omnia Deo placido § 14. Cuide tua sabedoria, com o be-
facere tua prudentia una cum aliis fa- neplácito de Deus, de fazer tudo isso,
cundissimis viris studeat, et tam subtili juntamente com os demais eminentes
quam celerrimo fini tradere, ut codex juristas e levá-lo a cabo com precisão
consummatus et in quinquaginta libros e rapidez, de modo que este código,
digestus nobis offeratur in maximam et concluído e compreendido em 50 li-
aeternam rei memoriam, Deique om- vros, seja por nós oferecido às futuras

57
Constituição deo auctore Digesto

nipotentis prudentiae argumentum, gerações como testemunho da sabedo-


nostrique imperii vestrique ministerii ria de Deus onipotente, glória de nossa
gloriam. Data octavo decimo Kalendas soberania e glória de todos vós. Datado
Ianuarias, Lampadio et Oreste viris cla- no décimo oitavo dia das Calendas de
rissimis Conss. Janeiro, no Consulado de Lampádio e
Orestes, cidadãos muito ilustres.

58
Livro I
Digesto Livro I – Título I

Domini Nostri Sacratissimi Principis PRIMEIRA PARTE (PRELIMINARES)


Iustiniani Iuris Enucleati ex Omni do Digesto ou Pandectas do Direito
Vetere Iure Collecti Digestorum seu Coligido de Todo o Direito Antigo e
Pandectarum Retocado por Ordem de Nosso Emi-
nentíssimo Príncipe Justiniano

PARS PRIMA (PRWTA)1 PRIMEIRA PARTE


LIBER PRIMUS (PRELIMINARES)
LIVRO I

TITULUS I TÍTULO I
DE IUSTITIA ET IURE DA JUSTIÇA E DO DIREITO

1. ULPIANUS libro I. Institutionum. 1. ULPIANO, Instituições, Livro I.


— Iuri operam daturum prius nosse — Convém a quem pretende dedicar-
oportet, unde nomen iuris descendat. -se ao direito saber, de início, de onde
Est autem a iustitia appellatum; nam, vem o termo ius (direito): ius vem de
ut eleganter Celsus definit, ius est ars iustitia. Celso, com muita propriedade,
boni et aequi. define o direito como a arte do bom e
do justo.

§ 1. — Cuius merito quis nos sacerdo- § 1. Por essa razão, há quem nos cha-
tes appellet; iustitiam namque colimus, me sacerdotes, pois cultuamos a jus-
et boni et aequi notitiam profitemur, tiça, professamos o conhecimento do
aequum ab iniquo separantes, licitum bom e do justo, discernimos o lícito do
ab illicito discernentes, bonos non so- ilícito, para levar os homens a serem
lum metu poenarum, verum etiam bons não só por medo do castigo mas
praemiorum quoque exhortatione effi- também pela motivação dos prêmios e
cere cupientes, veram, nisi fallor, philo- a se empenharem na busca, se não me
sophiam, non simulatam affectantes engano, da verdadeira e não da falsa fi-
losofia.

1
Ocorre, com certa frequência, introdução de
textos em grego na versão latina. Por se tratar
de mera citação, esses textos são mantidos por
fidelidade ao original. A tradução é feita exclu-
sivamente com base no texto latino do original
adotado.

61
Livro I – Título I Digesto

§ 2. — Huius studii duae sunt positio- § 2. Dois são os aspectos deste estudo:
nes, publicum et privatum. Publicum o direito público e o direito privado.
ius est, quod ad statum rei Romanae Por direito público entende-se tudo o
spectat, privatum, quod ad singulorum que diz respeito à coisa pública roma-
utilitatem; sunt enim quaedam publice na; privado, o que atende ao interesse
utilia, quaedam privatim. Publicum ius de indivíduos; de fato, algumas coisas
in sacris, in sacerdotibus, in magistrati- são de utilidade pública, outras, de
bus consistit. Privatum ius tripertitum utilidade privada. O direito público
est; collectum etenim est ex naturalibus refere-se a coisas sagradas4, a sacerdo-
praeceptis, aut gentium, aut civilibus. tes e magistrados. O direito privado
compõe-se de três partes, conforme é
deduzido de preceitos naturais, de pre-
ceitos das gentes ou de preceitos civis.

§ 3. — Ius naturale est, quod natura § 3. Direito natural é o direito que a na-
omnia animalia docuit; nam ius istud tureza ensinou a todos os animais; pois
non humani generis proprium, sed esse direito não é exclusivo do gênero
omnium animalium, quae in terra, humano, mas comum a todos os ani-
quae in mari nascuntur, avium quoque mais, sejam eles terrestres, marinhos
commune est. Hinc descendit maris ou aves. Daí a conjunção do macho e
atque feminae coniunctio, quam nos da fêmea, que chamamos matrimônio;
matrimonium appellamus, hinc libe- daí a procriação de filhos; daí a cria-
rorum procreatio, hinc educatio; vide- ção: com efeito, é manifesto que todos
mus etenim cetera quoque animalia, os animais, até os selvagens, guiam-se
feras etiam, istius iuris peritia censeri. pelo instinto desse direito.

§ 4. — Ius gentium est, quo gentes hu- § 4. O direito das gentes é o direito
manae utuntur; quod a naturali rece- usado pelos seres humanos, cuja dis-
dere facile intelligere licet, quia illud tinção do natural é de fácil compreen-
omnibus animalibus, hoc solis homini- são, pois o natural é comum a todos os
bus inter se commune sit; animais, enquanto o direito das gentes
é exclusivo dos homens entre si.

2. POMPONIUS libro Singulari En- 2. POMPÔNIO, Manual, Livro Único.


chiridii. — veluti erga Deum religio, ut — Como é o caso do culto a Deus, de
parentibus et patriae pareamus, nossa obediência aos pais e à pátria,

4
Glossário, sanctum, sacrum, religiosum.

62
Digesto Livro I – Título I

3. FLORENTINUS libro I. Institutio- 3. FLORENTINO, Instituições, Livro


num. — ut vim atque iniuriam propul- I. — de nossa rejeição da força e da in-
semus. Nam iure hoc evenit, ut, quod justiça. Acontece que, por força desse
quisque ob tutelam corporis sui fecerit, direito, tudo o que alguém faz em sua
iure fecisse existimetur; et quum in- própria defesa é considerado como ato
ter nos cognationem quandam natura de direito. E mais, como a natureza
constituit, consequens est, hominem constituiu certo parentesco entre nós,
homini insidiari nefas esse. segue que não é lícito ao homem fazer
mal a outro.

4. ULPIANUS libro I. Institutionum. 4. ULPIANO, Instituições, Livro I. —


— Manumissiones quoque iuris gen- Alforrias ou manumissões5 são tam-
tium sunt. Est autem manumissio de bém do direito das gentes. Manumissão
manu missio, id est datio libertatis; vem, entretanto, de manu missio, isto
nam quamdiu quis in servitute est, ma- é, ato de soltar da mão, dar liberdade;
nui et potestati suppositus est; manu- pois enquanto alguém permanece em
missus liberatur potestate. Quae res a regime de escravidão, está preso à mão
iure gentium originem sumsit, utpote e ao poder; o manumisso ou alforriado
quum iure naturali omnes liberi nas- está livre do poder. Isso vem do direito
cerentur, nec esset nota manumissio, das gentes, uma vez que, pelo direito
quum servitus esset incognita; sed pos- natural, todos nascem livres, nem se
teaquam iure gentium servitus invasit, conhecia a alforria, pois não havia es-
secutum est beneficium manumis- cravidão. Mas introduzida a escravidão
sionis; et quum uno naturali nomine pelo direito das gentes, surgiu o benefí-
homines appellaremur, iure gentium cio da alforria e, embora todos sejamos
tria genera esse coeperunt: liberi, et his chamados por um só nome natural —
contrarium servi, et tertium genus li- homem —, pelo direito das gentes tive-
berti; id est hi, qui desierant esse servi. ram início três classes de homem: os li-
vres e, em oposição a esses, os escravos,
e uma terceira classe, os libertos, isto é,
aqueles que deixam de ser escravos6.

5. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 5. HERMOGENIANO, Epítome do


epitomarum. — Ex hoc iure gentium Direito, Livro I. — Foi por esse direi-
introducta bella, discretae gentes, reg- to das gentes que surgiram as guerras,
na condita, dominia distincta, agris
termini positi, aedificia collocata,
commercium, emtiones, venditiones, 5
Glossário, alforria.
locationes, conductiones, obligationes 6
Posteriormente surgiu o libertinus, filho de li-
berto, que seguia a condição do pai (Glossá-
rio, liberto e escravidão).

63
Livro I – Título I Digesto

institutae, exceptis quibusdam, quae a que os povos se dividiram, reinos foram


iure civili introductae sunt. fundados, a propriedade foi individua-
lizada, os campos divididos, edifícios
construídos, o comércio, as compras,
as vendas, os arrendamentos, os alu-
gueres, as obrigações instituídas, com
exceção de algumas introduzidas pelo
direito civil.

6. ULPIANUS libro I. Institutionum. 6. ULPIANO, Instituições, Livro I. —


— Ius civile est, quod neque in totum O direito civil é um direito que nem se
a naturali vel gentium recedit, nec per afasta inteiramente do direito natural
omnia ei servit; itaque quum aliquid nem do direito das gentes, mas tam-
addimus vel detrahimus iuri communi, bém não se conforma em tudo com ne-
ius proprium, id est civile, efficimus. nhum deles. Por conseguinte, quando
algo se acrescenta ao direito comum ou
dele algo se tira, constituímos um di-
reito próprio, isto é, o direito civil.

§ 1. — Hoc igitur ius nostrum constat § 1. Esse nosso direito se expressa tan-
aut ex scripto, aut sine scripto, ut apud to escrito como não escrito, do mesmo
Graecos tw/n no,mwn oi me.n e;ggrafoi modo que, entre os gregos, há leis que
oi` de. a;grafoi [legum aliae scriptae, são escritas, outras, não.
aliae non scriptae].

7. PAPINIANUS libro II. Definitio- 7. PAPINIANO, Definições, Livro II.


num. — Ius autem civile est, quod ex — O direito civil é, pois, o direito que
legibus, plebiscitis, senatusconsultis, dimana de leis, plebiscitos, decretos do
decretis principum, auctoritate pru- Senado, decisões dos príncipes e da au-
dentum venit. toridade de jurisconsultos7.

§ 1. — Ius praetorium est, quod prae- § 1. O direito pretoriano, que os pre-


tores introduxerunt adiuvandi, vel sup- tores introduziram com o objetivo de
plendi, vel corrigendi iuris civilis gra- ajudar, suprir ou corrigir o direito civil,
tia, propter utilitatem publicam; quod com vista ao bem público, é chamado
et honorarium dicitur, ad honorem
praetorum sic nominatum.

7
Glossário, leges e jurisconsulto.

64
Digesto Livro I – Título I

também honorário, assim denominado


em honra dos pretores8.

8. MARCIANUS libro I. Institutio- 8. MARCIANO, Instituições, Livro I.


num. — Nam et ipsum ius honorarium — Esse direito honorário é, de fato, a
viva vox est iuris civilis. pura expressão do direito civil.

9. GAIUS libro I. Institutionum. — 9. GAIO, Instituições, Livro I. — To-


Omnes populi, qui legibus et moribus dos os povos que se regem por leis e
reguntur, partim suo proprio, partim costumes ora fazem uso de seu direito
communi omnium hominum iure próprio, ora seguem o direito comum a
utuntur. Nam quod quisque populus todos os homens. De fato, o direito que
ipse sibi ius constituit, id ipsius pro- cada povo constituiu para si é o direi-
prium civitatis est, vocaturque ius ci- to peculiar àquela cidadania, e se cha-
vile, quasi ius proprium ipsius civitatis; ma direito civil, como direito próprio
quod vero naturalis ratio inter omnes de uma cidade9; o direito, porém, que
homines constituit, id apud omnes a razão natural constituiu entre todos
peraeque custoditur, vocaturque ius os homens é igualmente observado por
gentium, quasi quo iure omnes gentes todos e se denomina direito das gentes,
utuntur. como um direito de que se valem todos
os povos.

10. ULPIANUS libro I. Regularum. 10. ULPIANO, Regras, Livro I. —


— Iustitia est constans et perpetua vo- Justiça é a vontade constante e perpé-
luntas ius suum cuique tribuendi. tua de atribuir a cada um o que é seu.

§ 1. — Iuris praecepta sunt haec: ho- § 1. Estes são os preceitos do direito:


neste vivere, alterum non laedere, viver honestamente, não causar dano a
suum cuique tribuere. outrem e dar a cada um o que é seu.

§ 2. — Iurisprudentia est divinarum § 2. Jurisprudência é o conhecimento


atque humanarum rerum notitia, iusti das coisas divinas e humanas, e conhe-
atque iniusti scientia. cimento do que é justo e injusto.

11. PAULUS libro XIV. ad Sabinum. 11. PAULO, Comentários a Sabino,


— Ius pluribus modis dicitur. Uno Livro XIV. — O direito, dizem, se ex-
modo, quum id, quod semper aequum
ac bonum est, ius dicitur, ut est ius na-
turale; altero modo, quod omnibus aut
pluribus in quaque civitate utile est,
8
Glossário, pretor.
9
Glossário, civitas.

65
Livro I – Títulos I e II Digesto

ut est ius civile; nec minus ius recte pressa de vários modos. Um, quando
appellatur in civitate nostra ius hono- se diz direito o que é sempre justo e
rarium. Praetor quoque ius reddere di- bom como é o direito natural; outro,
citur, etiam quum inique decernit, re- o que, em cada cidade, é útil a todos
latione scilicet facta non ad id, quod ita ou à maioria, como é o direito civil, e
Praetor fecit, sed ad illud, quod Prae- não é menos direito o que, entre nós,
torem facere convenit. Alia significa- é chamado direito honorário. Diz-se
tione ius dicitur locus, in quo ius reddi- também que o pretor “administra” o
tur, appellatione collata ab eo, quod fit, direito mesmo quando julga injusta-
in eo, ubi fit; quem locum determinare mente, com relação, é claro, não ao
hoc modo possumus: ubicunque Prae- que fez, mas ao que deveria ter feito.
tor salva maiestate imperii sui salvoque Em outra acepção, chama-se direito o
more maiorum ius dicere constituit, is lugar em que se presta o direito, apli-
locus recte ius appellatur. cando-se o nome do que se faz ao lugar
onde é feito. Esse lugar pode ser assim
definido: onde quer que o pretor, res-
salvada a dignidade de sua autoridade
e observado o costume dos antepassa-
dos, decidir prestar o direito, esse lugar
é corretamente chamado direito.

12. MARCIANUS libro I. Institutio- 12. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Nonnunquam ius etiam pro I. — Às vezes falamos também de di-
necessitudine dicimus, veluti: est mihi reito por parentesco10, por exemplo, ter
ius cognationis vel affinitatis. direito de cognação ou de afinidade.

TITULUS II TÍTULO II
DE ORIGINE IURIS ET DA ORIGEM DO DIREITO E DE
OMNIUM MAGISTRATUUM, ET TODAS AS MAGISTRATURAS
SUCCESSIONE PRUDENTUM E DA SUCESSÃO DE
JURISCONSULTOS11

1. GAIUS libro I. ad Legem XII Tabu- 1. GAIO, Comentários à Lei das XII
larum. — Facturus legum vetustarum Tábuas, Livro I. — Uma vez que terei
interpretationem, necessario prius ab de interpretar leis muito antigas, achei
Urbis initiis repetendum existimavi,
non quia velim verbosos commenta-
rios facere, sed quod in omnibus rebus
animadverto id perfectum esse, quod
10
Glossário, agnatio.
11
Glossário, jurisconsulto.

66
Digesto Livro I – Título II

ex omnibus suis partibus constaret. Et por bem começar remontando aos pri-
certe cuiusque rei potissima pars prin- mórdios de Roma, não porque preten-
cipium est. Deinde, si in foro causas da fazer longos comentários, mas por-
dicentibus nefas, ut ita dixerim, videtur que em todas as coisas observo que a
esse, nulla praefatione facta iudici rem perfeição está em todas as suas partes
exponere, quanto magis interpretatio- e, com certeza, a parte mais importante
nem promittentibus inconveniens erit, de tudo é seu princípio. Além disso, se
omissis initiis atque origine non repe- parece inconveniente, como diria, que,
tita atque illotis, ut ita dixerim, mani- no foro, defensores exponham suas
bus protinus materiam interpretatio- causas ao juiz sem nenhuma introdu-
nis tractare? Namque nisi fallor, istae ção, tanto mais inconveniente seria a
praefationes et libentius nos ad lectio- quem se propõe interpretar ir direto ao
nem propositae materiae producunt, et assunto, negligenciando, por assim di-
quum ibi venerimus, evidentiorem prae- zer, seus princípios e suas origens. Pois,
stant intellectum. salvo engano, essas introduções não só
nos predispõem para a leitura da maté-
ria proposta como também, ao fazê-la,
favorecem sua compreensão.

2. POMPONIUS libro singulari En- 2. POMPÔNIO, Manual, Livro Único.


chiridii. — Necessarium itaque nobis — Assim nos parece conveniente dis-
videtur, ipsius iuris originem atque correr sobre a origem e a evolução do
processum demonstrare. próprio direito.

§ 1. — Et quidem initio civitatis nos- § 1. E, com certeza, no início de nossa


trae populus sine lege certa, sine iure cidade (Estado)12, o povo, inicialmente,
certo primum agere instituit, omnia- se propôs a viver sem lei nem direito
que manu a Regibus gubernabantur. estabelecidos, e tudo se regia pela auto-
ridade dos reis.

§ 2. — Postea aucta ad aliquem mo- § 2. Depois, com o crescimento da


dum civitate, ipsum Romulum traditur cidade, consta que o próprio Rômulo
populum in triginta partes divisisse; teria dividido sua população em trinta
quas partes curias appellavit propterea, secções, que chamou de cúrias (ou ad-
quod tunc reipublicae curam per sen- ministrações), passando então a dirigir
tentias partium earum expediebat. Et a coisa pública em harmonia com elas.
ita Leges quasdam et ipse curiatas ad E, assim, ele próprio baixou algumas
populum tulit; tulerunt et sequentes
Reges; quae omnes conscriptae exstant
in libro Sexti Papirii, qui fuit illis tem-
12
Glossário, civitas.

67
Livro I – Título II Digesto

poribus, quibus Superbus, Demarati leis para o povo chamadas curiatas13.


Corinthii filius, ex principalibus viris. Os reis subsequentes fizeram também
Is liber, ut diximus, appellatur ius civile a mesma coisa. Todas essas leis se en-
Papirianum; non quia Papirius de suo contram num livro de Sexto Papírio,
quidquam ibi adiecit, sed quod leges um dos varões ilustres do tempo de
sine ordine latas in unum composuit. Tarquínio Soberbo, filho de Demarato
Coríntio. Esse livro, como já dissemos,
chama-se direito civil papiriano, não
porque ali houvesse alguma contribui-
ção pessoal de Papírio, mas por ter ele
compendiado ordenadamente leis pro-
mulgadas, mas dispersas.

§ 3. — Exactis deinde Regibus lege Tri- § 3. Depois disso, com a expulsão dos
bunicia omnes leges hae exoleverunt, reis por lei tribunícia, todas essas leis
iterumque coepit populus Romanus caíram em desuso, e, mais uma vez, o
incerto magis iure et consuetudine ali, povo romano passou a se reger mais
quam per latam legem; idque prope vi- por direito incerto e pelo costume do
ginti annis passus est. que por lei promulgada. Essa situação
perdurou por cerca de vinte anos.

§ 4. — Postea ne diutius hoc fieret, pla- § 4. Em seguida, para que essa situa-
cuit publica auctoritate decem cons- ção não se prolongasse, achou-se por
titui viros, per quos peterentur leges bem designar dez varões14, para buscar
a Graecis civitatibus, et civitas funda- subsídios nas leis adotadas por cidades
retur legibus; quas in tabulas eboreas gregas, e Roma se consolidasse sob leis.
perscriptas pro rostris composuerunt, Essas leis foram gravadas em placas
ut possint leges apertius percipi. Da- de marfim15 e postas nas tribunas do
tumque est iis ius eo anno in civitate foro para conhecimento de todos. Na-
summum, uti leges et corrigerent, si quele ano foi conferido aos decênviros
opus esset, et interpretarentur, neque o poder supremo na cidade para que,
provocatio ab iis, sicut a reliquis ma- se necessário, não só corrigissem as
gistratibus fieret. Qui ipsi animadver- leis como também as interpretassem,
terunt aliquid deesse istis primis legi- estabelecido que, à diferença do que
bus; ideoque sequenti anno alias duas acontecia com relação aos demais ma-
ad easdem tabulas adiecerunt; et ita ex
accidentia appellatae sunt leges duode-
cim tabularum, quarum ferendarum
auctorem fuisse decemviris Hermodo-
13
Glossário, sistema eleitoral.
14
Glossário, decênviros.
15
Glossário, Lei das XII Tábuas.

68
Digesto Livro I – Título II

rum quendam Ephesium, exsulantem gistrados, contra suas decisões não ha-
in Italia, quidam retulerunt. veria recurso. Tendo eles próprios ob-
servado falhas nessas primeiras leis, no
ano seguinte acrescentaram mais duas
placas às já existentes. Por esse motivo
ficaram conhecidas como leis das doze
tábuas. Segundo alguns, o autor da
promulgação dessas leis teria sido um
dos decênviros, certo Hermodoro de
Éfeso, desterrado na Itália.

§ 5. — His legibus latis coepit, ut natu- § 5. Promulgadas essas leis, sua inter-
raliter evenire solet, ut interpretatio de- pretação exigia fossem discutidas no
sideraret prudentum auctoritate neces- foro por jurisconsultos competentes.
sariam esse disputationem fori. Haec Essa discussão e o próprio direito de-
disputatio et hoc ius, quod sine scrip- finido pelos jurisconsultos, por terem
to venit compositum a prudentibus, sido conduzidos oralmente, não têm
propria parte aliqua non appellatur, um nome específico, como as demais
ut ceterae partes iuris suis nominibus partes do direito se designam por seus
designantur, datis propriis nominibus próprios nomes, mas é chamado pelo
ceteris partibus; sed communi nomine nome comum de direito civil.
appellatur ius civile.

§ 6. — Deinde ex his legibus eodem § 6. Depois disso, a partir dessas leis,


tempore fere actiones compositae sunt, foram instituídas, quase na mesma
quibus inter se homines disceptarent; época, as ações da lei pelas quais as par-
quas actiones ne populus, prout vellet, tes contendessem entre si. Para que as
institueret, certas sollemnesque esse pessoas não criassem procedimentos a
voluerunt; et appellatur haec pars iuris seu arbítrio, essas ações foram estabele-
legis actiones, id est, legitimae actiones. cidas como fixas e rituais. Essa parte do
Et ita eodem paene tempore tria haec direito foi chamada de ações da lei, isto
iura nata sunt: leges duodecim tabula- é, ações legais. E, assim, quase ao mes-
rum; ex his fluere coepit ius civile; ex mo tempo, surgiram estes três direitos:
iisdem legis actiones compositae sunt. as leis das doze tábuas, das quais come-
Omnium tamen harum et interpretan- çou a derivar o direito civil, e de ambos
di scientia, et actiones apud collegium os direitos se formaram as ações da lei.
Pontificum erant, ex quibus constitue- Mas era da competência do Colégio dos
batur, quis quoquo anno praeesset pri-
vatis; et fere populus annis prope cen-
tum hac consuetudine usus est.

69
Livro I – Título II Digesto

Pontífices16 conhecê-las e interpretá-


-las. Dentre os pontífices, todo ano, se
constituía um para presidir às questões
particulares. Por cerca de cem anos per-
durou esse costume entre o povo.

§ 7. — Postea quum Appius Claudius § 7. Depois, tendo Ápio Cláudio or-


proposuisset et ad formam redegisset ganizado e formalizado essas ações,
has actiones, Cneius Flavius, scriba Cneio Flávio, seu secretário e filho de
eius, libertini filius, surreptum librum liberto, lhe subtraiu o livro e o divulgou
populo tradidit; et adeo gratum fuit id entre o povo que, em retribuição, fê-lo
munus populo, ut tribunus plebis fie- tribuno da plebe, senador e edil curul17.
ret, et senator, et aedilis currulis. Hic Esse livro, que contém as ações, chama-
liber, qui actiones continet, appellatur -se direito flaviano, do mesmo modo
ius civile Flavianum, sicut ille ius civile que o direito civil papiriano, pois tam-
Papirianum; nam nec Cneius Flavius bém Cneio Flávio nada lhe acrescenta-
de suo quidquam adiecit libro. Auges- ra de seu. Crescendo a cidade e como
cente civitate quia deerant quaedam faltassem algumas normas processuais,
genera agendi, non post multum tem- após muito tempo, Sexto Élio organi-
poris spatium Sextus Aelius alias actio- zou outras ações na forma de livro e as
nes composuit, et librum populo dedit, tornou públicas. Esse direito chama-se
qui appellatur ius Aelianum. eliano.

§ 8. — Deinde quum esset in civitate § 8. Posteriormente, regendo-se a ci-


lex duodecim tabularum et ius civile, dade pela Lei das XII Tábuas e pelo di-
essent et legis actiones, evenit, ut plebs reito civil, além das ações da lei, acon-
in discordiam cum patribus perveni- teceu o rompimento conflituoso da
ret, et secederet sibique iura constitue- plebe com os patrícios, deles se sepa-
ret, quae iura plebiscita vocantur. Mox rando e constituindo direitos próprios
quum revocata est plebs, quia multae que se chamam decretos da plebe18.
discordiae nascebantur de his plebis- Pouco depois, reconvocada a plebe,
citis, pro legibus placuit et ea observa- porque esses decretos causavam muita
ri lege Hortensia; et ita factum est, ut discórdia, achou-se por bem, pela Lei
inter plebiscita et legem species cons- Hortênsia, que esses decretos tivessem
tituendi interessent, potestas autem ea- também força de lei, e assim entre eles
dem esset.

16
Glossário, Colégio dos Pontífices.
17
Glossário, tribuno; edil.
18
Glossário, patricii, populus, plebs, leges.

70
Digesto Livro I – Título II

e a lei mediaria apenas a maneira de


promulgar, mas a autoridade seria a
mesma.

§ 9. — Deinde, quia difficile plebs § 9. Posteriormente, como começasse


convenire coepit, populus certe mul- a plebe a ter dificuldade para se reunir,
to difficilius in tanta turba hominum, e mais ainda o povo, tendo em vista a
necessitas ipsa curam reipublicae ad multidão de participantes, a própria
Senatum deduxit. Ita coepit Senatus se necessidade transferiu a administração
interponere, et quidquid constituisset, pública para o Senado. E assim come-
observabatur; idque ius appellabatur çou o Senado a intervir, e tudo o que
senatusconsultum. decidia era observado. Esse direito
chamava-se senátus-consulto19.

§ 10. — Eodem tempore et magistra- § 10. Na mesma época, os magistra-


tus iura reddebant, et ut scirent cives, dos não só administravam o direito
quod ius de quaque re quisque dicturus como também, para que os cidadãos se
esset, seque praemuniret, edicta pro- conscientizassem de seus direitos em
ponebant; quae edicta Praetorum ius determinadas áreas e se prevenissem,
honorarium constituerunt. Honora- promulgavam editos. Esses editos20
rium dicitur, quod ab honore Praetoris constituíram o direito honorário dos
venerat. pretores. Diz-se honorário porque di-
manado da dignidade do pretor.

§ 11. — Novissime, sicut ad pauciores § 11. Por último, como as modalida-


iuris constituendi via transisse ipsis des de constituir o direito parecessem
rebus dictantibus videbatur, per partes ter ficado a cargo de poucos, conforme
evenit, ut necesse esset reipublicae per exigissem as circunstâncias, ocorreu às
unum consuli; nam Senatus non perin- partes a necessidade de ser a República
de omnes provincias probe gerere po- dirigida por um só (pois não fora fácil
terant. Igitur constituto Principe datum para o Senado gerir devidamente todas
est ei ius, ut quod constituisset, ratum as províncias). De modo que, consti-
esset. tuído um principal, lhe foi conferido o
direito de ter ratificado tudo o que de-
cidisse.

19
Glossário, leges.
20
Glossário, edito.

71
Livro I – Título II Digesto

§ 12. — Ita in civitate nostra aut iure, § 12. Dessa forma, em nossa cidade
id est lege, constituitur, aut est pro- (Estado), decide-se, pelo direito21, isto
prium ius civile, quod sine scripto é, pela lei, direito civil próprio, que, por
in sola prudentium interpretatione não ser escrito, consiste exclusivamen-
consistit; aut sunt legis actiones, quae te na interpretação de jurisconsultos;
formam agendi continent; aut plebis- ou são as ações da lei, que contêm a
citum, quod sine auctoritate Patrum forma de autuar, ou o decreto da plebe
est constitutum; aut est magistratuum que é constituído sem a autoridade do
edictum, unde ius honorarium nasci- Senado; ou há o edito dos magistrados,
tur; aut senatusconsultum, quod solum do qual dimana o direito honorário; ou
Senatu constituente inducitur sine lege; o senátus-consulto, que, sem lei, é in-
aut est principalis Constitutio, id est, ut troduzido unicamente pela autoridade
quod ipse Princeps constituit, pro lege do Senado; ou a decisão do príncipe,
servetur. isto é, aquilo que o príncipe decidir
deve ser observado como lei.

§ 13. — Post originem iuris et proces- § 13. Conhecidas a origem e a evolução


sum cognitum consequens est, ut de do direito, é bom também conhecer os
magistratuum nominibus et origine títulos dos magistrados e a origem de
cognoscamus, quia, ut exposuimus, per seus cargos, pois, conforme temos ob-
eos, qui iuri dicundo praesunt, effectus servado, é por meio deles, que o direito
rei accipitur; quantum est enim ius in é prestado, que se tem efetivamente a
civitate esse, nisi sint, qui iura regere solução das causas, pois de que adian-
possint? Post hoc dein de auctorum taria haver direito numa cidade22 se
successione dicemus, quod constare não houvesse quem pudesse aplicá-lo?
non potest ius, nisi sit aliquis iurisperi- Em seguida, falaremos sobre a suces-
tus, per quem possit quotidie in melius são dos jurisconsultos23, pois o direito
produci. não poderia subsistir se não houvesse
jurisperito por meio do qual pudesse
ser dia a dia aperfeiçoado.

§ 14. — Quod ad magistratus attinet, § 14. No que tange a magistrados,


initio civitatis huius constat, Reges om- consta que, no início de Roma, os reis
nem potestatem habuisse. detinham o poder absoluto.

21
Glossário, Direito Romano, sobre a aparen-
te equivalência de lei e direito.
22
Glossário, civitas.
23
Glossário, jurisconsulto.

72
Digesto Livro I – Título II

§ 15. — Iisdem temporibus et Tribu- § 15. Consta também ter havido, na


num celerum fuisse constat. Is autem mesma época, um tribuno da cavala-
erat, qui equitibus praeerat et veluti ria24, que comandava os cavaleiros e
secundum locum a Regibus obtinebat; ocupava, por assim dizer, um segundo
quo in numero fuit Iunius Brutus, qui lugar depois dos reis. Dentre eles, des-
auctor fuit Regis eiiciendi. taca-se Júnio Bruto, responsável pela
expulsão do rei25.

§ 16. — Exactis deinde Regibus, Con- § 16. Abolida a monarquia, foram ins-
sules constituti sunt duo, penes quos tituídos dois cônsules26, aos quais, por
summum ius uti esset, lege rogatum lei, foi conferido o exercício do supre-
est. Dicti sunt ab eo, quod plurimum mo poder. Foram assim chamados por-
reipublicae consulerent. Qui tamem ne que deveriam se consultar (consulere)
per omnia regiam potestatem sibi vin- na administração da República. Mas,
dicarent, lege lata factum est, ut ab iis para que não reivindicassem, em tudo,
provocatio esset, neve possent in caput o poder dos reis, foi estabelecido por
civis Romani animadvertere iniussu lei o direito de apelação contra suas
populi; solum relictum est illis, ut coer- decisões, como também lhes era nega-
cere possent et in vincula publica duci do o direito de condenar à morte um
iuberent. cidadão romano sem o consentimento
do povo. Só lhes era permitido punir e
decretar prisões em cárceres públicos.

§ 17. — Post deinde, quum census iam § 17. Mais tarde, como há muito tempo
maiori tempore agendus esset, et Con- urgia a necessidade de se fazer um re-
sules non sufficerent huic quoque offi- censeamento e os cônsules não fossem
cio, Censores constituti sunt. suficientes para essa tarefa, foram cria-
dos os censores27.

§ 18. — Populo deinde aucto, quum § 18. Com o crescimento da população


crebra orirentur bella, et quaedam e a frequente explosão de guerras, al-
acriora a finitimis inferrentur, inter- gumas delas de grave proporção e tra-
dum re exigente placuit, maioris po- vadas com povos vizinhos, achou-se
testatis magistratum constitui; itaque por bem, conforme exigissem as cir-
Dictatores proditi sunt, a quibus nec
provocandi ius fuit, et quibus etiam ca-
pitis animadversio data est. Hunc ma- 24
Glossário, tribuno.
gistratum, quoniam summam potesta- 25
Referência à deposição do último rei de
tem habebat, non erat fas ultra sextum Roma, Tarquínio, o Soberbo, em 509 a.C.
mensem retinere.
26
Glossário, cônsul.
27
Glossário, censor.

73
Livro I – Título II Digesto

cunstâncias, que se instituísse um ma-


gistrado com mais poder. Assim surgi-
ram os ditadores28, contra os quais não
havia direito de recurso e aos quais foi
dado também o poder de condenar à
morte. Por se tratar de poder absoluto,
o mandato desse magistrado não podia
estender-se além de seis meses.

§ 19. — Et his Dictatoribus Magistri § 19. E a esses ditadores serviam co-


equitum iniungebantur, sic, quomodo mandantes de cavalaria, à semelhança
Regibus Tribuni celerum; quod offi- dos tribunos de cavalaria29 do tempo
cium fere tale erat, quale hodie Prae- dos reis. Essa função era exatamente
fectorum praetorio; magistratus tamen hoje a dos prefeitos de pretório30, em-
habebantur legitimi. bora seus titulares fossem tidos como
legítimos magistrados.

§ 20. — Iisdem temporibus, quum § 20. Na mesma época, cerca de de-


plebs a Patribus secessisset, anno fere zessete anos depois da expulsão dos
septimodecimo post Reges exactos, reis, a plebe, rebelada contra o Senado,
Tribunos sibi in monte Sacro creavit, criou tribunos próprios no monte Sa-
qui essent plebeii magistratus; dicti cro, para serem magistrados plebeus.
Tribuni, quod olim in tres partes po- Chamam-se tribunos31 porque outrora
pulus divisus erat, et ex singulis singuli o povo era dividido em três segmentos,
creabantur, vel quia tribuum suffragio para cada um dos quais se criava um
creabantur. tribuno, ou porque eram eleitos por su-
frágio das tribos.

§ 21. — Itemque ut essent, qui aedibus § 21. E, do mesmo modo, para a admi-
praeessent, in quibus omnia scita sua nistração da sede em que a plebe toma-
plebs deferebat, duos ex plebe cons- va suas decisões, foram constituídos
tituerunt, qui etiam Aediles appellati também, dentre a plebe, dois responsá-
sunt. veis que se chamavam edis32.

28
Glossário, ditador.
29
Glossário, tribuno.
30
Glossário, prefeitos.
31
Glossário, tribuno.
32
Glossário, edil.

74
Digesto Livro I – Título II

§ 22. — Deinde quum aerarium populi § 22. Depois disso, como o erário do
auctius esse coepisset, ut essent, qui illi povo começasse a se avolumar, para
praeessent, constituti sunt Quaestores, sua administração foram designados
qui pecuniae praeessent; dicti ab eo, questores33, assim chamados porque
(quod) inquirendae et conservandae criados para o fim de arrecadar e gerir
pecuniae causa creati erant. os recursos públicos.

§ 23. — Et quia, ut diximus, de capite § 23. E, conforme já dissemos, como


civis Romani iniussu populi non erat aos cônsules não era permitido, sem
lege permissum Consulibus ius dicere, o consentimento do povo, pronunciar
propterea Quaestores constituebantur sentença capital, foram criados questo-
a populo, qui capitalibus rebus prae- res para presidir a questões dessa na-
essent; hi appellabantur Quaestores tureza. Esses questores eram chamados
parricidii, quorum etiam meminit lex questores de parricídio34. Deles fala
duodecim tabularum. também a Lei das XII Tábuas.

§ 24. — Et quum placuisset leges quo- § 24. Tendo em vista também a con-
que ferri, latum est ad populum, uti veniência de se promulgarem leis, foi
omnes magistratu se abdicarent. Quo proposto ao povo35 que todos os magis-
Decemviri constituti anno uno, quum trados abdicassem de sua magistratu-
magistratum prorogarent sibi, et quum ra. Os decênviros36, porém, nomeados
iniuriose tractarent, neque vellent só por um ano, além de prorrogarem
deinceps sufficere magistratibus, ut seu mandato, para que eles e sua fac-
ipsi et factio sua perpetuo rempubli- ção continuassem indefinidamente no
cam occupatam retineret, nimia atque poder, administravam mal, negavam-
aspera dominatione eo rem perduxe- -se a dar seu lugar a novos magistrados
rant, ut exercitus a republica secede- e se comportavam com tamanha pre-
ret. Initium fuisse secessionis dicitur potência e dureza que o exército se re-
Virginius quidam, qui quum animad- belou contra a República. Dizem que a
vertisset Appium Claudium contra sedição começou com um soldado, de
ius, quod ipse ex vetere iure in duo- nome Virgínio, ressentido contra Ápio
decim tabulas transtulerat, vindicias Cláudio, um dos decênviros, cujo pro-
filiae suae a se abdixisse, et secundum
eum, qui in servitutem ab eo supposi-
tus petierat, dixisse, captumque amore 33
Glossário, questor.
virginis omne fas ac nefas miscuisse; 34
Entre os romanos, por parricídio entendia-se
indignatus, quod vetustissima iuris atentado contra o Estado, assassinato de prín-
observantia in persona filiae suae defe- cipe e, segundo a Lei das XII Tábuas, assassi-
cisset, — utpote quum Brutus, qui pri- nato de concidadão.
mus Romae Consul fuit, vindicias se-
35
Glossário, patricii, populus, plebs.
36
Glossário, decênviros.

75
Livro I – Título II Digesto

cundum libertatem dixisset in persona cedimento contrariava o direito que


Vindicis, Vitelliorum servi, qui prodi- ele mesmo, Ápio, trasladara do antigo
tionis coniurationem indicio suo dete- direito para a Lei das XII Tábuas37, ao
xerat, et castitatem filiae vitae quoque se negar receber a caução que ele, Vir-
eius praeferendam putaret — arrepto gínio, dera por sua filha. Segundo ele, o
cultro de taberna lanionis filiam inter- decênviro, tomado de paixão pela vir-
fecit, in hoc scilicet, ut morte virginis gem, misturara o certo e o errado, de-
contumeliam stupri arceret; ac proti- cidindo a favor de um seu testa de ferro
nus recens a caede madenteque adhuc que a requerera como escrava. Indig-
filiae cruore ad commilitones confugit. nado pela inobservância de antiquíssi-
Qui universi de Algido, ubi tunc belli mo direito em detrimento de sua filha
gerendi causa legiones erant, relictis — visto que Bruto, o primeiro cônsul
ducibus pristinis, signa in Aventinum de Roma, concedera a liberdade pro-
transtulerunt; omnisque plebs urba- visória a Vindex, escravo dos Vitélios,
na mox eodem se contulit; populique que revelara uma conjuração da qual
consensu partim in carcere necati. Ita ele próprio tomara parte — e, achan-
rursus respublica suum statum recepit. do que a castidade de sua filha era mais
valiosa do que sua vida, matou-a com
uma faca, que arrebatara da banca de
um açougueiro, pretendendo, com sua
morte, poupar a virgem da desonra. E,
se afastando imediatamente da cena
do crime, marcada pelo sangue ain-
da quente de sua filha, foi-se refugiar
junto a seus camaradas de armas. Todo
o exército, abandonando seus coman-
dantes, trouxe suas bandeiras e estan-
dartes, do monte Álgido, onde estavam
acantonadas as legiões em estado de
guerra, para o monte Aventino. E não
demorou e toda a plebe para ali tam-
bém se dirigiu; parte dos decênviros foi
chacinada no cárcere com o consenti-
mento do povo. Assim, a coisa pública
voltou à situação anterior.

37
Glossário, Lei das XII Tábuas.

76
Digesto Livro I – Título II

§ 25. — Deinde quum post aliquot an- § 25. Depois disso, passados alguns
nos, (quam) duodecim tabulae latae anos, desde a promulgação da Lei das
sunt, et plebs contenderet cum patri- XII Tábuas, e a plebe contendesse com
bus, et vellet ex suo quoque corpore os patrícios e quisesse criar também
Consules creare, et patres recusarent, cônsules próprios e os patrícios se opu-
factum est, ut Tribuni militum crearen- sessem, foram criados tribunos milita-
tur partim ex plebe, partim ex patribus, res, parte tirados da plebe, parte do Se-
consulari potestate. Hique constitu- nado, com poder consular. O número
ti sunt vario numero; interdum enim desses tribunos variava, ora vinte, ora
viginti fuerunt, interdum plures, non- mais de vinte, às vezes, menos.
nunquam pauciores.

§ 26. — Deinde quum placuisset crea- § 26. Posteriormente, quando se acor-


ri etiam ex plebe Consules, coeperunt dou também que fossem criados côn-
ex utroque corpore constitui. Tunc ut sules de origem plebeia, esses começa-
aliquo pluris patres haberent, placuit ram a ser eleitos de ambos os lados, ora
duos ex numero patrum constitui; ita da plebe, ora do Senado. Então, para
facti sunt Aediles currules. que os patrícios tivessem certa com-
pensação, resolveu-se nomear dentre
eles dois magistrados. E assim se insti-
tuíram os edis curuis38.

§ 27. — Quumque Consules avocaren- § 27. Como os cônsules se avocassem


tur bellis finitimis, neque esset, qui in as guerras com os povos vizinhos e
civitate ius reddere posset, factum est, não houvesse quem administrasse o
ut Praetor quoque crearetur; qui Ur- direito na cidade, foi decidida a criação
banus appellatus est, quod in urbe ius também de um pretor, que se chamava
redderet. pretor urbano, porque dizia o direito
na Urbe.

§ 28. — Post aliquot deinde annos, § 28. Em seguida, passados alguns


non sufficiente eo Praetore, quod mul- anos, como um pretor não fosse su-
ta turba etiam peregrinorum in civita- ficiente, porque chegavam à cidade
tem veniret, creatus est et alius Praetor, muitos estrangeiros, foi criado mais
qui Peregrinus appellatus est ab eo, um pretor39, que, por isso, se chamou
quod plerumque inter peregrinos ius pretor dos estrangeiros, pois na maio-
dicebat.

38
Glossário, edil.
39
Glossário, pretor.

77
Livro I – Título II Digesto

ria das vezes aplicava o direito aos fo-


rasteiros.

§ 29. — Deinde quum esset necessa- § 29. Depois disso, em face da neces-
rius magistratus, qui hastae praeesset, sidade de magistrado para presidir às
Decemviri in litibus iudicandis sunt hastas públicas, foram nomeados de-
constituti. cênviros40 encarregados de julgar ques-
tões litigiosas.

§ 30. — Eodem tempore et Quatu- § 30. Na mesma época foram também


orviri, qui curam viarum gererent, et criados quadrúnviros para cuidar das
Triunviri monetales, aeris, argenti, auri estradas; triúnviros, da moeda, da
flatores, et Triumviri capitales, qui car- cunhagem de bronze, de ouro e pra-
ceris custodiam haberent, ut, quum ta, e triúnviros capitais, responsáveis
animadverti oporteret, interventu eo- pela guarda dos cárceres, de modo que,
rum fieret. quando necessária a aplicação da pena
capital, sua execução se fizesse sob a
intervenção deles.

§ 31. — Et quia magistratibus vesper- § 31. E como não conviesse aos magis-
tinis temporibus in publicum esse in- trados dar expediente à noite, foram
conveniens erat, Quinqueviri constitu- instituídos quinquóviros para exerce-
ti sunt cis Tiberim et ultis Tiberim, qui rem a função no lugar deles em ambos
possint pro magistratibus fungi. os lados do rio Tibre, isto é, cis e trans-
-Tibre.

§ 32. — Capta deinde Sardinia, mox § 32. Em seguida à tomada sucessiva da


Sicilia, item Hispania, deinde Narbo- Sardenha, da Sicília, da Espanha e da
nensi provincia, totidem Praetores, Província de Narbona, foram criados
quot provinciae in ditionem venerant, tantos pretores quantas eram as pro-
creati sunt, partim qui urbanis rebus, víncias conquistadas, para cuidarem
partim qui provincialibus praeessent. parte de assuntos de Roma, parte de
Deinde Cornelius Sulla quaestiones assuntos provinciais. Mais tarde, Cor-
publicas constituit, veluti de falso, de nélio Sila constituiu varas públicas de
parricidio, de sicariis, et Praetores qua- investigação, por exemplo, de falsifi-
tuor adiecit. Deinde Caius Iulius Cae- cação, parricídio e assassinato, e criou
sar duos Praetores, et duos Aediles, qui mais quatro pretores. Caio Júlio César
frumento praeessent, et a Cerere Cere-
ales constituit. Ita duodecim Praetores,
sex Aediles sunt creati. Divus deinde
40
Glossário, decênviros.

78
Digesto Livro I – Título II

Augustus sedecim Praetores constituit. criou dois pretores e dois edis para cui-
Post deinde Divus Claudius duos Prae- darem do abastecimento de trigo, que,
tores adiecit, qui de fideicommisso ius por causa do nome de Ceres (deusa
dicerent; ex quibus unum Divus Titus da agricultura), eram chamados pre-
detraxit, et adiecit Divus Nerva, qui tores dos cereais. E assim foram cria-
inter fiscum et privatos ius diceret. Ita dos doze pretores e seis edis. Depois, o
decem et octo Praetores in civitate ius divo41 Augusto instituiu dezesseis pre-
dicunt. tores. Posteriormente, mais dois foram
acrescentados pelo imperador Cláudio,
para sentenciar sobre questões testa-
mentárias. O divo Tito suprimiu um
deles, e Nerva acrescentou outro para
julgar questões tributárias entre o fisco
e particulares. E, assim, dezoito preto-
res administravam a justiça em Roma.

§ 33. — Et haec omnia, quoties in re- § 33. Tudo isso é observado sempre que
publica sunt magistratus, observantur, haja magistrados na república: quando
quoties autem proficiscuntur, unus viajam, fica um, chamado prefeito da
relinquitur, qui ius dicat; is vocatur cidade42, para ministrar a justiça. An-
Praefectus urbi. Qui Praefectus olim tigamente esse prefeito era constituído
constituebatur, postea fere Latinarum vez por vez. Depois, por causa das festas
feriarum causa introductus est, et quo- latinas43, era nomeado anualmente. O
tannis observatur; nam Praefectus an- prefeito do abastecimento e da guarda
nonae et vigilum non sunt magistratus,
sed extra ordinem utilitatis causa cons-
tituti sunt; et tamen hi, quos Cistiberes
diximus, postea Aediles senatusconsul- 41
O qualitativo divus (divino) aplicava-se a im-
to creabantur. perador já falecido.
42
Glossário, prefeitos.
43
Feriae Latinae, festas latinas, instituídas pelo
último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo,
eram um importante evento que reunia, no
Monte Albano, todas as cidades do Lácio, que,
desde a monarquia, constituíam a chamada
Confederação Latina, instituição política de
boa vizinhança que subsistiu até o século III
da nossa era. O ponto alto do evento eram as
celebrações em honra de Júpiter, que dura-
vam uma semana, às quais deviam compare-
cer todos os magistrados romanos. Era nessa
oportunidade que os prefeitos de Roma exer-
ciam suas funções de magistrado.

79
Livro I – Título II Digesto

noturna44 não eram magistrados, mas


nomeados extraordinariamente por ra-
zões de utilidade pública. Todavia, os já
aludidos cistíberes torrnavam-se poste-
riormente edis45 por decreto do Senado.

§ 34. — Ergo ex his omnibus decem § 34. Assim, ao todo, ministravam a


Tribuni plebis, Consules duo, decem et justiça na cidade dez tribunos da plebe,
octo Praetores, sex Aediles in civitate dois cônsules, dezoito pretores e seis
iura reddebant. edis.

§ 35. — Iuris civilis scientiam plurimi § 35. Muitas e ilustres figuras dedica-
et maximi viri professi sunt; sed qui eo- ram-se à ciência do direito civil; mas
rum maximae dignationis apud popu- devem ser aqui mencionados aque-
lum Romanum fuerunt, eorum in prae- les que gozaram de maior estima do
sentia mentio habenda est, ut appareat, povo romano, para assim se conhecer
a quibus et qualibus haec iura orta et de quem e de quais méritos veio e foi
tradita sunt. Et quidem ex omnibus, transmitido o saber jurídico. Na verda-
qui scientiam nacti sunt, ante Tiberium de, de todos aqueles que se distingui-
Coruncanium publice professum ne- ram nessa ciência, dizem, nenhum a
minem traditur; ceteri autem ad hunc ensinou publicamente antes de Tibério
vel in latenti ius civile retinere cogita- Coruncânio; os demais procuravam
bant, solumque consultatoribus vacare manter em segredo o direito civil e se
potius, quam discere volentibus se prae- limitavam mais a dar pareceres do que
stabant. a ensiná-lo a quem o desejasse.

§ 36. — Fuit autem in primis peritus § 36. Públio Papírio foi o primeiro pe-
Publius Papirius, qui leges regias in rito a compilar leis régias num só livro.
unum contulit. Ab hoc Appius Clau- Depois dele, Ápio Cláudio, um dos
dius, unus ex Decemviris, cuius ma- decênviros, teve o grande mérito de
ximum consilium in duodecim tabu- redigir as leis em doze tábuas. Depois,
lis scribendis fuit. Post hunc Appius outro Ápio Cláudio, chamado Cente-
Claudius eiusdem generis maximam mano46, da mesma família, era dotado
scientiam habuit; hic Centemmanus de muito saber. Construiu a via Ápia e
appellatus est. Appiam viam stravit, et
aquam Claudiam induxit, et de Pyrrho
in urbe non recipiendo sententiam tu-
lit; hunc etiam actiones scripsisse tra- 44
Glossário, prefeitos.
ditum est, primum de usurpationibus, 45
Glossário, edil.
qui liber non extat. Idem Appius Clau- 46
Homem de cem mãos, isto é, homem realiza-
dor, de muitas habilidades.

80
Digesto Livro I – Título II

dius, qui videtur ab hoc processisse, R o aqueduto, que traz o seu nome, para
literam invenit; ut pro Valesii Valerii abastecimento de água e votou contra o
essent, et pro Fusiis Furiis. recebimento de Pirro em Roma; dizem
também que teria redigido ações de lei,
primeiramente sobre as usurpações,
cujo livro já não subsiste. Outro Ápio
Cláudio47, que parece descender dele,
inventou a letra R, de modo que, em
lugar de Valesii, se escrevesse Valerii, e
de Fusiis, Furiis.

§ 37. — Fuit post eos maximae scien- § 37. Depois desses, veio Semprônio,
tiae Sempronius, quem populus Ro- homem de notório saber, que os roma-
manus sofo,n [sapientem] appellavit; nos chamaram de sábio; ninguém, nem
nec quisquam ante hunc, aut post hunc antes nem depois dele, recebeu esse tí-
hoc nomine cognominatus est. Caius tulo. Caio Cipião Násica, chamado de
Scipio Nasica, qui Optimus a senatu “o melhor” pelo Senado, ganhou tam-
appellatus est; cui etiam publice domus bém uma casa na Via Sacra48, por doa-
in sacra via data est, quo facilius con- ção pública, para que pudesse ser mais
suli posset. Deinde Quintus Mucius,
qui ad Carthaginienses missus legatus,
quum essent duae tesserae positae, una 47
No texto latino lê-se idem Appius Claudius.
pacis, altera belli, arbitrio sibi dato, Nesse caso, a tradução óbvia seria o mesmo
utram vellet, referret Romam, utram- Ápio Cláudio, como de fato ocorre em algu-
que sustulit et ait, Carthaginienses pe- mas traduções. Acontece, todavia, que segun-
do o mesmo texto, esse Ápio Cláudio “descen-
tere debere, utram mallent accipere.
deria dele”, isto é, do Ápio Cláudio anterior
(“qui videtur ab hoc processisse”). Tratar-se-ia
de outro Ápio Cláudio e não do mesmo até
então citado. Charles Henry Monro traduz
por “o mesmo”, mas omite o texto “qui vide-
tur ab hoc processisse”, enquanto a tradução
espanhola do texto crítico de Kriegel, Her-
mann y Osenbrüggen, op. cit., traz “idem”
por “também”. Nesse caso, teria ocorrido erro
gráfico de copista, que troca “item”, também,
por “idem”, mesmo, embora Kriegel et alii não
registrem essa hipótese no texto crítico por
eles editado, mas cita apenas uma variante
de “ab hoc” por “ad hoc”, o que tornaria mais
problemática a tradução. Por isso, para man-
ter o “qui videtur ab hoc processisse”, esse Ápio
Cláudio seria um terceiro, logo “outro”.
48
Glossário, sanctum, sacrum, religiosum.

81
Livro I – Título II Digesto

facilmente consultado. Em seguida, foi


a vez de Quinto Múcio que, enviado
como legado49 a Cartago, onde dois
dados foram lançados diante dele, um
de paz, outro de guerra, para que, a seu
critério, levasse a Roma o que preferis-
se, tomou-os e disse aos cartaginenses
que era a eles, sim, que competia esco-
lher qual dos dois prefeririam receber.

§ 38. — Post hos fuit Tiberius Corun- § 38. Depois desses, vem Tibério
canius, ut dixi, qui primus profiteri Coruncânio que, como já disse, foi o
coepit; cuius tamen scriptum nullum primeiro a exercer a profissão. Dele,
extat, sed responsa complura et me- porém, não restou nenhum escrito,
morabilia eius fuerunt. Deinde Sextus mas muitos de seus memoráveis pare-
Aelius et frater eius, Publius Aelius, et ceres. Depois dele, Sexto Hélio e seu ir-
Publius Atilius maximam scientiam mão, Públio Hélio e Públio Atílio con-
in profitendo habuerunt, ut duo Aelii quistaram muito saber no exercício da
etiam Consules fuerint. Atilius autem profissão, de modo que os dois Hélios
primus a populo sapiens appellatus est. viriam a ser cônsules. Atílio, porém, foi
Sextum Aelium etiam Ennius laudavit, o primeiro a ser chamado sábio pelo
et extat illius liber, qui inscribitur Tri- povo50. Énio51 também louvou Sexto
pertita; qui liber veluti cunabula iuris Hélio, de quem resta um livro intitula-
continet. Tripertita autem dicitur, quo- do Tripertita, que dá os primeiros rudi-
niam lege duodecim tabularum prae- mentos do direito. Chama-se Tripertita
posita iungitur interpretatio, dein sub- porque à Lei das XII Tábuas acrescen-
texitur legis actio. Eiusdem esse tres alii ta-se sua interpretação e, em seguida,
libri referuntur, quos tamen quidam
negant eiusdem esse. Hos sectatus ad
aliquid est Cato. Deinde Marcus Cato, 49
Glossário, legatus.
princeps Porciae familiae, cuius et libri 50
Há uma aparente contradição com o § 37,
extant; sed plurimi filii eius, ex quibus onde foi dito que Semprônio foi chamado de
ceteri oriuntur. “sábio” pelo povo romano. Ora, se Semprônio
é anterior a Atílio, Atílio não pode ter sido o
primeiro a ser chamado de sábio pelo povo ro-
mano. A menos que tenha ocorrido a omissão
do artigo “o” grego antes do adjetivo “sofós”, “o
sábio” e não simplesmente “sofós”, sábio.
51
Ennius Quintus, um dos mais antigos poetas
romanos (239 a.C.), grego de nascimento, que
compôs a epopeia Os Anais, que contava a
história de Roma.

82
Digesto Livro I – Título II

ações da lei. Outros três livros lhe são


atribuídos, mas há quem negue serem
seus. Catão é do mesmo parecer. Em
seguida, vem Marco Catão, chefe da fa-
mília Pórcia, do qual subsistem alguns
livros. Muitos livros, porém, são de seu
filho, que dão origem a outros.

§ 39. — Post hos fuerunt Publius Mu- § 39. A esses seguiram Públio Múcio,
cius, et Brutus, et Manilius, qui funda- como também Bruto e Manílio, que
verunt ius civile. Ex his Publius Mucius estruturaram52 o direito civil. Desses,
etiam decem libellos reliquit, Brutus Públio Múcio deixou também dez pe-
septem, Manilius tres; et extant volu- quenos tratados, Bruto, sete, e Manílio,
mina scripta, Manilii monumenta. Illi três; conservam-se ainda alguns perga-
duo consulares fuerunt, Brutus praeto- minhos de Manílio. Os dois primeiros
rius, Publius autem Mucius etiam Pon- eram da classe consular, Bruto foi pre-
tifex maximus. tor e Públio Múcio, pontífice máximo.

§ 40. — Ab his profecti sunt Publius § 40. Nessa mesma linha seguiram-se
Rutilius Rufus, qui Romae Consul et Públio Rutílio Rufo, que foi cônsul em
Asiae Proconsul fuit, Paulus Virginius, Roma e procônsul na Ásia; Paulo Vir-
et Quintus Tubero, ille Stoicus, Pansae gínio e Quinto Tuberão, estoico, discí-
auditor, qui et ipse Consul. Etiam Sex- pulo de Pansa, que também foi cônsul.
tus Pompeius, Cneii Pompeii patruus, Da mesma época são também Sexto
fuit eodem tempore, et Coelius Anti- Pompeu, tio de Cneu Pompeu, e Célio
pater, qui historias conscripsit, sed plus Antípater, autor de livros históricos,
eloquentiae, quam scientiae iuris ope- mas se dedicou mais à eloquência do
ram dedit; etiam Lucius Crassus, frater que ao saber jurídico; também Lúcio
Publii Mucii, qui Mucianus dictus est; Crasso, irmão de Públio Múcio, que foi
hunc Cicero ait iurisconsultorum di- chamado Muciano, que, na opinião de
sertissimum.

52
É comum a tradução de “fundaverunt” por
“fundaram”. Todavia, parece estranho que,
após a citação de tantos expoentes no campo
do direito, o direito civil venha a ser “funda-
do” por Públio Múcio, Bruto e Manílio. Con-
vém considerar que o verbo “fundo”, além de
“fundar”, significa “consolidar”, “sistematizar”
etc., o que permite a tradução mais congruen-
te com o contexto, isto é, “estruturaram”.

83
Livro I – Título II Digesto

Cícero, foi o maior orador dos juris-


consultos.

§ 41. — Post hos Quintus Mucius, Pu- § 41. Em seguida, vem Quinto Múcio,
blii filius, Pontifex maximus, ius civile filho de Públio, pontífice máximo, o
primus constituit, generatim in libros primeiro a sistematizar todo o direito
decem et octo redigendo. civil por categoria, organizando-o em
dezoito livros.

§ 42. — Mucii auditores fuerunt com- § 42. Múcio teve muitos discípulos,
plures, sed praecipuae auctoritatis dentre os quais se distinguiram Aquílio
Aquilius Gallus, Balbus Lucilius, Sex- Galo, Balbo Lucílio, Sexto Papírio,
tus Papirius, Caius Iuventius; ex qui- Caio Juvêncio. Segundo Sérvio, desses
bus Gallum maximae auctoritatis apud foi Galo que gozou de maior prestígio
populum fuisse Servius dicit. Omnes entre o povo. Todos são citados por
tamen hi a Servio Sulpicio nominan- Sérvio Sulpício, embora deles não sub-
tur, alioquin per se eorum scripta non sista nenhuma obra como seria de de-
talia extant, ut ea ad omnes appetant; sejar. Mas Sérvio, ao citá-los nos livros
denique nec versantur omnino scripta que escreveu, preservou a memória de-
eorum inter manus hominum, sed Ser- les.
vius libros suos complevit; pro cuius
scriptura ipsorum quoque memoria
habetur.

§ 43. — Servius quum in causis oran- § 43. Tendo Sérvio conquistado, no


dis primum locum, aut pro certo post mínimo depois de Marco Túlio53, o pri-
Marcum Tullium, obtineret, traditur meiro lugar em eloquência na defesa
ad consulendum Quintum Mucium de de causas, consta que teria ido consul-
re amici sui pervenisse, quumque eum tar Quinto Múcio sobre uma questão
sibi respondisse de iure Servius parum concernente a um amigo seu. Quinto
intellexisset, iterum Quintum inter- Múcio lhe teria respondido em termos
rogasse, et a Quinto Mucio respon- jurídicos e ele teria entendido pouco.
sum esse, nec tamen percepisse; et ita Sérvio volta a perguntar, Quinto Mú-
obiurgatum esse a Quinto Mucio. Nam- cio responde, e ele, mais uma vez, não
que eum dixisse, turpe esse patricio, entende. Quinto Múcio, então, o teria
et nobili, et causas oranti ius, in quo repreendido, dizendo-lhe ser indigno
versaretur, ignorare; ea velut contume- de um nobre e ilustre patrício, defen-
lia Servius tractatus operam dedit iuri
civili, et plurimum eos, de quibus locu-
ti sumus, audiit, institutus a Balbo Lu-
53
Marco Túlio Cícero, orador.

84
Digesto Livro I – Título II

cilio, instructus autem maxime a Gallo sor de causas, ignorar o direito de que
Aquilio, qui fuit Cercinae. Itaque libri tratasse. Afrontado por essa reprimen-
complures eius extant Cercinae con- da, empenhou-se no estudo do direito
fecti. Hic quum in legatione periisset, civil e se tornou aluno da maioria dos
statuam ei populus Romanus pro ros- já citados jurisconsultos. Iniciou seus
tris posuit, et hodieque extat pro ros- estudos com Balbo Lucílio e se aper-
tris Augusti. Huius volumina complura feiçoou, sobretudo, com Galo Aquílio
extant; reliquit autem prope centum et que, então, residia em Cercina. Por isso
octoginta libros. é que muitos de seus livros foram escri-
tos em Cercina. Tendo perecido numa
missão de legado, o povo romano lhe
erigiu uma estátua no foro, que ainda
hoje se vê nos rostros54 de Augusto.
Dele se conservam muitos volumes que
chegam a cerca de cento e oitenta livros.

§ 44. — Ab hoc plurimi profecerunt, § 44. Esse jurisconsulto fez muitos


fere tamen hi libros conscripserunt: discípulos, dos quais quase todos es-
Alfenus Varus, Caius, Aulus Ofilius, creveram livros: Alfeno Varo Caio55,
Titus Caesius, Aufidius Tucca, Aufi- Aulo Ofílio, Tito Césio, Aufídio Tucca,
dius Namusa, Flavius Priscus, Caius Aufídio Namusa, Flávio Prisco, Gaio
Ateius Pacuvius, Labeo Antistius, La- Ateio Pacúvio, Labeão Antístio, pai de
beonis Antistii pater, Cinna, Publicius Labeão Antístio, Cina, Publício Gélio.
Gellius. Ex his decem libros octo cons- Desses dez, oito foram escritores, cujas
cripserunt, quorum omnes, qui fue- obras Aufídio Namusa organizou em
runt, libri digesti sunt ab Aufídio Na- cento e quarenta livros. Desses discí-
musa in centum quadraginta libros. Ex pulos, dois se destacam por sua autori-
his auditoribus plurimum auctoritatis dade, Alfeno Varo e Aulo Ofílio. O pri-
habuit Alfenus Varus et Aulus Ofilius; meiro foi cônsul, o outro se manteve na
ex quibus Varus et Consul fuit, Ofilius classe equestre. Ofílio, amigo íntimo de
in equestri ordine perseveravit. Is fuit César, deixou muitos livros sobre direi-
Caesari familiarissimus, et libros de
iure civili plurimos, et qui omnem par-
tem operis fundarent, reliquit; nam de
legibus Vicesimae primus conscribit,
54
Glossário, rostros.
de iurisdictione; idem edictum Praeto-
55
Segundo observa Kriegel et alii, como nota a
seu texto crítico, a edição de Haloandro, Nu-
ris primus diligenter composuit, nam remberg, 1529, elimina a vírgula de Varus, re-
ante eum Servius duos libros ad Bru- sultando num só nome Alfenus Varus Caius.
tum perquam brevissimos ad edictum De fato, sem a supressão dessa vírgula, o nú-
subscriptos reliquit. mero de autores seria onze e não dez, como
está dito.

85
Livro I – Título II Digesto

to civil, para que servissem de texto bá-


sico para outras obras sobre a matéria;
pois foi o primeiro a escrever sobre as
leis do vintênio56 e sobre jurisdição; foi
também o primeiro a sistematizar di-
ligentemente o edito de pretor, pois,
antes dele, Sérvio deixou apenas dois
resumidíssimos livros de comentário
ao edito, dedicados a Bruto.

§ 45. — Fuit eodem tempore et Treba- § 45. Contemporâneos desses juris-


tius, qui idem Cornelii Maximi auditor consultos foram Trebácio, também
fuit, Aulus Cascelius, Quintus Mucius, discípulo de Cornélio Máximo; Aulo
Volusii auditor; denique in illius ho- Cascélio, Quinto Múcio, discípulo de
norem testamento Publium Mucium, Volúsio, que, em homenagem a seu
nepotem eius, reliquit heredem; fuit mestre, em seu testamento nomeou
autem quaestorius, nec ultra proficere herdeiro Públio Múcio, neto do dito
voluit, quum illi etiam Augustus con- Quinto Múcio. Foi questor, mas não
sulatum offerret. Ex his Trebatius pe- aspirou a cargos mais altos, embora
ritior Cascelio, Cascelius Trebatio elo- Augusto lhe tivesse oferecido o con-
quentior fuisse dicitur, Ofilius utroque sulado. Desses, dizem, Trebácio teria
doctior. Cascelii scripta non extant, sido mais competente que Cascélio,
nisi unus liber bene dictorum; Trebatii Cascélio mais eloquente que Trebácio,
complures, sed minus frequentatur. e Ofílio mais douto que os dois. Não se
conservaram os escritos de Cascélio,
com exceção de um livro de brocardos.
De Trebácio restaram muitos livros,
mas pouco lidos.

§ 46. — Post hos quoque Tubero fuit, § 46. Depois deles, houve também um
qui Ofilio operam dedit; fuit autem Tuberão, patrício, discípulo de Ofílio.
patricius, et transiit a causis agendis ad De defensor de causas passou para o
ius civile, maxime postquam Quintum direito civil, principalmente depois de
Ligarium accusavit, nec obtinuit apud não ter tido sucesso na acusação de
Caium Caesarem. Is est Quintus Liga- Quinto Ligário diante de Caio César.
rius, qui quum Africae oram teneret,
infirmum Tuberonem applicare non
permisit, nec aquam haurire; quo no-
mine eum accusavit, et Cicero defen-
dit; extat eius oratio satis pulcherrima,
56
Glossário, vicesima.

86
Digesto Livro I – Título II

quae inscribitur pro Quinto Ligario. Esse Quinto Ligário57, quando gover-
Tubero doctissimus quidem habitus nador da costa da África, não permi-
est iuris publici et privati, et complu- tira que Tuberão, então doente, de-
res utriusque operis libros reliquit; sembarcasse e se abastecesse de água.
sermone etiam antiquo usus affectavit Por esse motivo, Tuberão o acusou e
scribere, et ideo parum libri eius grati Cícero o defendeu, com a bela peça
habentur. oratória intitulada Pro Quinto Ligario.
Tuberão, tido como doutíssimo em di-
reito público e privado, deixou muitas
obras em ambas as disciplinas. Todavia
seu estilo antiquado prejudica, de certa
forma, a leitura de seus livros.

§ 47. — Post hunc maximae auctorita- § 47. Depois dele, gozaram de muita
tis fuerunt Ateius Capito, qui Ofilium autoridade Ateu Capitão, da escola de
secutus est, et Antistius Labeo, qui om- Ofílio, e Antístio Labeão que aprendeu
nes hos audivit; institutus est autem a com todos esses, embora tivesse sido
Trebatio. Ex his Ateius Consul fuit; La- iniciado por Trebácio. Deles, Ateu foi
beo noluit, quum offerretur ei ab Au- cônsul, mas Labeão declinou da digni-
gusto consulatus, quo suffectus fieret, dade do consulado que lhe fora ofere-
et honorem suscipere; sed plurimum cido por Augusto em substituição de
studiis operam dedit, et totum annum outro cônsul; dedicou-se, porém, mais
ita diviserat, ut Romae sex mensibus ainda aos estudos, e dividiu o ano de
cum studiosis esset, sex mensibus se- tal modo que, durante seis meses, per-
cederet, et conscribendis libris operam manecia em Roma com seus discípulos
daret. Itaque reliquit quadringenta vo- e, nos outros seis meses, retirava-se e se
lumina, ex quibus plurima inter manus dedicava a escrever livros. Assim dei-
versantur. Hi duo primum veluti diver- xou quatrocentos volumes, dos quais
sas sectas fecerunt; nam Ateius Capito muitos ainda têm boa circulação. Es-
in his, quae ei tradita fuerant, perseve- ses dois jurisconsultos (Ateu Capitão e
rabat; Labeo ingenii qualitate et fiducia Antístio Labeão) foram os primeiros a
doctrinae, qui et ceteris operis sapien- formar escolas, pois Ateu Capitão, con-
tiae operam dederat, plurima innovare servador, manteve-se fiel ao que lhe ti-
instituit. Et ita Ateio Capitoni Massu- nha sido ensinado, enquanto Labeão,
rius Sabinus successit, Labeoni Nerva; pela excelência de seu talento e solidez
adhuc eas dissensiones auxerunt. Hic de sua doutrina, próprio de quem havia
etiam Nerva Caesari familiarissimus
fuit. Massurius Sabinus in equestri or-
dine fuit, et publice primus respondit, 57
Pereceria mais tarde, no segundo triunvirato,
posteaque hoc coepit beneficium dari como cúmplice do assassinato de César que o
absolvera.

87
Livro I – Título II Digesto

a Tiberio Caesare; hoc tamen illi con- estudado os demais ramos do saber, co-
cessum erat. Et ut obiter sciamus, ante meçou a introduzir inovações. E, assim,
tempora Augusti publice respondendi Massúrio Sabino sucedeu a Ateu Capi-
ius non a Principibus dabatur, sed qui tão, e Nerva a Labeão. E aumentaram
fiduciam studiorum suorum habebant, ainda mais as controvérsias. Nerva era
consulentibus respondebant. Neque também muito íntimo de César. Mas-
responsa utique signata dabant, sed súrio Sabino pertencia à ordem eques-
plerumque iudicibus ipsi scribebant, tre e foi o primeiro a emitir pareceres
aut testabantur, qui illos consulebant. oficiais. Depois essa função começou a
Primus Divus Augustus, ut maior iuris ser concedida por Tibério César. Mas
auctoritas haberetur, constituit, ut ex esse benefício já lhe tinha sido dado. E,
auctoritate eius responderent. Et ex illo a propósito, é bom saber que, antes da
tempore peti hoc pro beneficio coepit; época de Augusto, não era concedido
et ideo optimus Princeps Hadrianus, pelos príncipes o direito de emitir pa-
quum ab eo viri praetorii peterent, ut receres oficiais, mas aqueles que tinham
sibi liceret respondere, rescripsit iis: hoc confiança em seu saber atendiam a
non peti, sed praestari solere; et ideo, si quem os consultasse. Também não emi-
quis fiduciam sui haberet, delectari, si tiam pareceres assinados, mas em geral
populo respondendum se praepararet. eles próprios escreviam aos juízes ou
Ergo Sabino concessum est a Tiberio instruíam aqueles que os consultavam.
Caesare, ut populo responderet; qui O divino Augusto foi o primeiro que,
in equestri ordine iam grandis natu et para ressaltar a importância do direito,
fere annorum quinquaginta receptus determinou que esses pareceres fossem
est; huic nec amplae facultates fuerunt, emitidos com sua chancela. E, desde
sed plurimum a suis auditoribus sus- então, essa autorização passou a ser re-
tentatus est. Huic successit Caius Cas- querida como um benefício. E, por isso,
sius Longinus, natus ex filia Tuberonis, quando ex-pretores pediram que lhes
quae fuit neptis Servii Sulpicii; et ideo fosse permitido dar consultas, o emi-
proavum suum Servium Sulpicium nente príncipe Adriano lhes respondeu,
appellat. Hic Consul fuit cum Quarti- por rescrito, que isso não costuma ser
no temporibus Tiberii, sed plurimum requerido, mas concedido. Por conse-
in civitate auctoritatis habuit eousque, guinte, ficaria muito feliz se aqueles que
donec eum Caesar civitate pelleret; ex- têm consciência de sua competência se
pulsus ab eo in Sardiniam, revocatus a preparassem para atender ao povo. Foi
Vespasiano diem suum obiit. Nervae assim que Tibério César concedeu a
successit Proculus. Fuit eodem tempo- Sabino atender ao povo. E já avançado
re et Nerva filius. Fuit et alius Longinus em idade, com quase cinquenta anos,
ex equestri quidem ordine, qui postea Sabino foi recebido entre os equestres.
ad Praeturam usque pervenit. Sed Pro- Não abastado, era em grande parte
culi auctoritas maior fuit, nam etiam mantido por seus discípulos. Foi suce-

88
Digesto Livro I – Títulos II e III

plurimum potuit, appellatique sunt dido por Caio Cássio Longino, nascido
partim Cassiani, partim Proculiani; de uma filha de Tuberão que era neta
quae origo a Capitone et Labeone coe- de Sérvio Sulpício, a quem Caio Cássio
perat. Cassio Caelius Sabinus successit, chama, por isso, de bisavô. Foi cônsul
qui plurimum temporibus Vespasiani com Quartino no tempo de Tibério, mas
potuit; Proculo Pegasus, qui tempo- teve muita autoridade na cidade até ser
ribus Vespasiani Praefectus Urbi fuit; expulso pelo príncipe; desterrado para a
Caelio Sabino Priscus Iavolenus; Pe- Sardenha, morreu após a revogação do
gaso Celsus; patri Celso Celsus filius et desterro por Vespasiano. Próculo suce-
Priscus Neratius, qui utrique Consules deu a Nerva. Houve, na mesma época,
fuerunt, Celsus quidem et iterum; Ia- também um Nerva Filho, como tam-
voleno Prisco Aburnus Valens et Tus- bém outro Longino, da ordem equestre,
cianus, item Salvius Iulianus. que depois chegou a pretor. Mas a au-
toridade de Próculo foi maior, pois teve
muito mais poder. Chamavam-se cas-
sianos os seguidores de Cássio; e os de
Prócula, proculianos. Essas escolas vêm
desde Capitão e Labeão. Célio Sabino
sucedeu a Cássio, que foi eminente au-
toridade no tempo de Vespasiano; a
Próculo sucedeu Pégaso que, na época
de Vespasiano, foi prefeito da cidade. A
Célio Sabino sucedeu Prisco Javoleno; a
Pégaso, Celso; a Celso pai, Celso filho e
Prisco Nerácio, ambos cônsules, Celso,
inclusive, duas vezes; a Prisco Javoleno
sucederam Aburno Valente, Tuciano e
Sálvio Juliano.

TITULUS III TÍTULO III


DE LEGIBUS SENATUSQUE DAS LEIS, DOS SENÁTUS-
CONSULTIS ET LONGA CONSULTOS E COSTUMES
CONSUETUDINE IMEMORIAIS58

1. PAPINIANUS libro I. Definitio- 1. PAPINIANO, Definições, Livro


num. — Lex est commune praecep- I. — A lei é preceito comum, normas
tum, virorum prudentum consultum,
delictorum, quae sponte vel ignorantia
58
Glossário, leges; Direito Romano.

89
Livro I – Título III Digesto

contrahuntur, coercitio, communis rei- de sábios, coerção de delitos, cometi-


publicae sponsio. dos voluntária ou involuntariamente, e
pacto comum da República.

2. MARCIANUS libro I. Institutio- 2. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Nam et Demosthenes orator I. — O orador Demóstenes assim de-
sic definit: Toûu/to´, evsti no,moj, w|- fine: “A lei é aquilo a que todos convém
pa,ntaj avnqrw,pouj prosh,cei pei,qesqai obedecer, entre muitas razões porque
dia. polla., kai. ma,lista, o[ti pa/j evs- toda lei é, antes de tudo, obra e dom de
ti. no,moj eu;rhma me.n kai. dw/ron Deus, preceito de homens sábios, coer-
Qeou//, do,gma de. avnqrw,pwn fro,nimwn, ção daqueles que, voluntária ou invo-
evpano,rqwma de. tw/n evkousi,wn kai. luntariamente, cometem delitos, pacto
avkousi,wn avmarthma,twn, po,lewj de. comum da cidadania, a cujo molde to-
sunqh,kh koinh., kaqVh;n a;pasi prosh,kei dos os que vivem na república devem
zh/n toi/j evn th//| po,lei. [Lex est, cui om- ajustar sua conduta”. Crisipo, célebre
nes obtemperare convenit, tum ob alia filósofo estoico, começa também assim
multa, tum vel maxime eo, quod omnis um livro que escreveu sobre a lei: “A
lex inventum et munus Dei est, decre- lei é de fato a rainha de todas as coisas,
tum vero prudentum hominum, coer- divinas e humanas. Convém, portan-
citio eorum, quae sponte vel involun- to, que seja senhora e mestra de bons
tarie delinquuntur, communis sponsio e maus e, desse modo, seja a regra do
civitatis, ad cuius praescriptum omnes, justo e do injusto e de tudo o que, por
qui in ea republica sunt, vitam institue- natureza, são seres civis, verdadeira
re debent]. Sed et philosophus summae preceptora do que deve ser feito e coi-
Stoicae sapientiae Chrysippus sic inci- bidora do que não deve ser feito”.
pit libro, quem fecit periç. no,mou [de
lege]: `O no,,moj pa,ntwn evsti basileu.j
qei,wn te kai. avnqrwpi,nwn pgagma,twn.
Dei. de. auvto.n prosta,thn te ei=nai tw/n
kalw/n kai. tw/n aivscrw/n, kai. avrco,nta,
kai. hvgemo,na kai. kata. tou/to kano,na
te eivnai dikai,wn kai. avdi,kwn, kai. tw/n
çfu,sei politikw/n zw,wn, prostaktiko.n
me.n w;n poihte,on avpagoreutiko.n de.
w-n ou= poihte,on. [Lex est omnium di-
vinarum et humanarum rerum regina.
Oportet autem eam esse praesidem et
bonis et malis, et principem et ducem
esse; et secundum hoc regulam esse
iustorum et iniustorum, et eorum, quae

90
Digesto Livro I – Título III

natura civilia sunt, animantium, prae-


ceptricem quidem faciendorum, prohi-
bitricem autem non faciendorum].

3. POMPONIUS libro XXV. ad Sabi- 3. POMPÔNIO, Comentários a Sabino,


num. — Iura constitui oportet, ut dixit Livro XXV. — Convém que os direi-
Theophrastus, in his, quae evpi. to. plei/ tos sejam estabelecidos, como disse
ston [ut plurimum] accidunt, non quae Teofrasto, para coisas que acontecem
evk paralo,gou [ex inopinato]. em geral e não para as que ocorrem
eventualmente.

4. CELSUS libro V. Digestorum. — Ex 4. CELSO, Digesto, Livro V. — Para


his, quae forte uno aliquo casu accidere coisas que só acontecem casualmente,
possunt, iura non constituuntur. num ou noutro caso, não se fazem leis.

5. IDEM libro XVII. Digestorum. — 5. IDEM, Digesto, Livro XVII. — De


Nam ad ea potius debet aptari ius, quae fato, é melhor ajustar o direito ao que
et frequenter et facile, quam quae per- com frequência e facilmente acontece
raro eveniunt. do que ao que só raras vezes ocorre.

6. PAULUS libro XVII. ad Plautium. 6. PAULO, Comentários sobre Sabino,


— T´o. ga.r a´;pax h] di,j [quod enim Livro XVII. — Pois o que acontece uma
semel, aut bis existit], ut ait Theo- ou duas vezes, como diz Teofrasto, é
phrastus, parabai,nousin oi` nomoqe,tai preterido pelos legisladores.
[praetereunt legislatores].

7. MODESTINUS libro I. Regularum. 7. MODESTINO, Regras, Livro I. —


— Legis virtus haec est: imperare, veta- Esta é a força da lei: mandar, proibir,
re, permittere, punire. permitir e punir.

8. ULPIANUS libro III. ad Sabinum. 8. ULPIANO, Comentários a Sabino,


— Iura non in singulas personas, sed Livro III. — Os direitos não se consti-
generaliter constituuntur. tuem para o indivíduo, mas para apli-
cação geral.

9. IDEM libro XVI. ad Edictum. — 9. IDEM, Comentários ao Edito, Li-


Non ambigitur, Senatum ius facere pos- vro XVI. — É incontestável o poder do
se. Senado de baixar leis.

91
Livro I – Título III Digesto

10. IULIANUS libro LIX. Digesto- 10. JULIANO, Digesto, Livro LIX. —
rum. — Neque leges, neque senatus- Não há leis ou senátus-consultos que
consulta ita scribi possunt, ut omnes contemplem todos os casos que ocor-
casus, qui quandoque inciderint, com- rem eventualmente. Basta, porém, que
prehendantur, sed sufficit et ea, quae abranjam os casos que acontecem com
plerumque accidunt, contineri. frequência.

11. IDEM libro XC. Digestorum. — 11. IDEM, Digesto, Livro XC. — Con-
Et ideo de his, quae primo constituun- vém, por conseguinte, identificar com
tur, aut interpretatione, aut constitutio- maior precisão, quer por interpretação,
ne optimi Principis certius statuendum quer pela autoridade do príncipe, as
est. leis que foram promulgadas primeiro.

12. IDEM libro XV. Digestorum. — 12. IDEM, Digesto, Livro XV. —
Non possunt omnes articuli singulatim Leis e decretos do Senado não podem
aut legibus, aut senatusconsultis com- abranger todos os casos um a um; mas,
prehendi; sed quum in aliqua causa quando, em alguma causa, seu sentido
sententia eorum manifesta est, is, qui for manifesto, aquele que exerce a ju-
iurisdictioni praeest, ad similia proce- risdição deve proceder por analogia e
dere atque ita ius dicere debet. declarar o direito.

13. ULPIANUS libro I. ad Edictum 13. ULPIANO, Comentários ao Edi-


Aedilium currulium. — Nam, ut ait to de Edis Curuis, Livro I. — Pois,
Pedius, quoties lege aliquid unum vel como diz Pédio, toda vez que a lei in-
alterum introductum est, bona occasio troduz uma ou outra disposição, con-
est, cetera, quae tendunt ad eandem vém, na oportunidade suprir outras
utilitatem, vel interpretatione, vel certe que, por interpretação ou certamente
iurisdictione suppleri. por jurisdição, tendem para um mes-
mo fim.

14. PAULUS libro LIV. ad Edictum. 14. PAULO, Comentários ao Edi-


— Quod vero contra rationem iuris re- to, Livro LIV. — Mas o que é recebi-
ceptum est, non est producendum ad do contra os princípios do direito, não
consequentias. deve ser estendido a casos análogos.

15. IULIANUS libro XXVII. Digesto- 15. JULIANO, Digesto, Livro XX-
rum. — In his, quae contra rationem VII. — Nas coisas instituídas contra
iuris constituta sunt, non possumus se- os princípios do direito não podemos
qui regulam iuris. seguir a norma do direito.

92
Digesto Livro I – Título III

16. PAULUS libro singulari de iure 16. PAULO, Direitos Especiais, Livro
singulari. — Ius singulare est, quod Único. — Diz-se direito especial lei
contra tenorem rationis propter ali- que, por alguma utilidade, é introduzi-
quam utilitatem auctoritate consti- da pela autoridade de quem a introduz,
tuentium introductum est. embora, por seus termos, contrarie o
curso normal do princípio do direito.

17. CELSUS libro XXVI. Digesto- 17. CELSO, Digesto, Livro XXVI. —
rum. — Scire leges non hoc est, verba Conhecer a lei não é apenas conhecer
earum tenere, sed vim ac potestatem. seus termos, mas seu sentido e aplica-
ção.

18. IDEM libro XXIX. Digestorum. 18. IDEM, Digesto, Livro XXIX. —
— Benignius leges interpretandae sunt, As leis devem ser interpretadas no sen-
quo voluntas earum conservetur. tido mais benigno, para que delas se
preserve o espírito.

19. IDEM libro XXXIII. Digestorum. 19. IDEM, Digesto, Livro XXXIII.
— In ambigua voce legis ea potius acci- — Quando a lei padece de obscurida-
pienda est significatio, quae vitio caret, de, convém adotar o sentido que não
praesertim quum etiam voluntas legis implique algum absurdo, sobretudo
ex hoc colligi possit. quando esse sentido permite captar
melhor o espírito da lei.

20. IULIANUS libro LV. Digestorum. 20. JULIANO, Digesto, Livro LV. — É
— Non omnium, quae a maioribus impossível saber a razão de tudo o que
constituta sunt, ratio reddi potest. foi estabelecido por nossos antepassa-
dos.

21. NERATIUS libro VI. Membrana- 21. NERÁCIO, Anotações, Livro VI.
rum. — Et ideo rationes eorum, quae — E, por isso, não convém buscar as
constituuntur, inquiri non oportet; razões do que foi estabelecido, pois,
alioquin multa ex his, quae certa sunt, caso contrário, se subverteriam muitas
subvertuntur. coisas que estão certas.

22. ULPIANUS libro XXXV. ad Edic- 22. ULPIANO, Comentários ao Edi-


tum. — Quum lex in praeteritum quid to, Livro XXXV. — Quando a lei per-
indulget, in futurum vetat. doa algo com relação ao passado, proí-
be-o para o futuro.

93
Livro I – Título III Digesto

23. PAULUS libro IV. ad Plautium. — 23. PAULO, Comentários a Pláucio,


Minime sunt mutanda, quae interpre- Livro IV. — De modo algum se altere o
tationem certam semper habuerunt. que sempre teve interpretação correta.

24. CELSUS libro IX. Digestorum. 24. CELSO, Digesto, Livro IX. — Não
— Incivile est, nisi tota lege perspecta, é correto julgar ou interpretar uma pe-
una aliqua particula eius proposita iu- quena parte da lei antes de se inteirar
dicare, vel respondere. do teor da lei.

25. MODESTINUS libro VIII. Res- 25. MODESTINO, Respostas, Livro


ponsorum. — Nulla iuris ratio, aut VIII. — Nenhum princípio de direito
aequitatis benignitas patitur, ut quae ou a benignidade da equidade admite
salubriter pro utilitate hominum intro- que medidas salutarmente mais favorá-
ducuntur, ea nos duriore interpretatio- veis introduzidas para o bem das pes-
ne contra ipsorum commodum produ- soas sejam por nós interpretadas mais
camus ad severitatem. severamente em seu prejuízo.

26. PAULUS libro IV. Quaestionum. 26. PAULO, Questões, Livro IV. —
— Non est novum, ut priores leges ad Não é novidade leis anteriores serem
posteriores trahantur. aplicadas na interpretação de leis poste-
riores.

27. TERTULLIANUS libro I. Quaes- 27. TERTULIANO, Questões, Livro


tionum. — Ideo, quia antiquiores leges I. — Como é costume leis mais anti-
ad posteriores trahi usitatum est, et sem- gas serem usadas na interpretação de
per quasi hoc legibus inesse credi opor- leis posteriores, convém considerar
tet, ut ad eas quoque personas et ad eas implícito nessas leis que seus efeitos se
res pertinerent, quae quandoque similes estendem a pessoas e coisas sempre se-
erunt. melhantes.

28. PAULUS libro V. ad Legem Iu- 28. PAULO, Comentários à Lei Jú-
liam et Papiam. — Sed et posteriores lia e Pápia, Livro V. — Por outro lado,
leges ad priores pertinent, nisi contra- leis mais recentes, desde que não sejam
riae sint; idque multis argumentis pro- contrárias, se prestam para a interpre-
batur. tação de leis anteriores. Isso pode ser
demonstrado com muitos exemplos.

29. IDEM libro singulari ad Legem 29. IDEM, Comentários sobre a Lei
Cinciam. — Contra legem facit, qui Cíncia, Livro Único. — Transgride a lei
id facit, quod lex prohibet; in fraudem quem faz o que a lei proíbe, e frauda a

94
Digesto Livro I – Título III

vero, qui salvis verbis legis sententiam lei quem mantém os termos da lei, mas
eius circumvenit. distorce seu sentido.

30. ULPIANUS libro IV. ad Edictum. 30. ULPIANO, Comentários ao Edi-


— Fraus enim legi fit, ubi, quod fieri to, Livro IV. — Frauda-se a lei quando
noluit, fieri autem non vetuit, id fit; et se faz aquilo que a lei não quer que se
quod distat r`hto.n avpo. dianoi,aj [dic- faça, mas não o proíbe. A distância en-
tum a sententia], hoc distat fraus ab eo, tre a fraude e a transgressão da lei é a
quod contra legem fit. mesma entre o termo e seu conceito.

31. IDEM libro XIII. ad Legem Iu- 31. IDEM, Comentários à Lei Júlia
liam et Papiam. — Princeps legibus e Pápia, Livro XIII. — O príncipe não
solutus est; Augusta autem licet legibus está sujeito às leis; à esposa, embora su-
soluta non est, Principes tamen eadem jeita às leis, os príncipes concedem os
illi privilegia tribuunt, quae ipsi ha- mesmos privilégios que a eles são con-
bent. feridos.

32. IULIANUS libro XCIV. Digesto- 32. JULIANO, Digesto, Livro XCIV.
rum. — De quibus causis scriptis legi- — Nos casos em que não se faz uso da
bus non utimur, id custodiri oportet, lei escrita, convém observar o que tem
quod moribus et consuetudine induc- sido adotado pelo uso e pelo costume;
tum est; et si qua in re hoc deficeret, mas, se, em algum caso, isso não for su-
tunc quod proximum et consequens ei ficiente, recorra-se ao que for análogo
est; si nec id quidem appareat, tunc ius, e consequente, e se ainda assim não sa-
quo urbs Roma utitur, servari oportet. tisfizer, observe-se o direito usado em
Roma.

§ 1. — Inveterata consuetudo pro lege § 1. Não é sem razão que se observa o


non immerito custoditur, et hoc est costume imemorial como lei, e esse é o
ius, quod dicitur moribus constitutum. direito que se diz constituído pelo cos-
Nam quum ipsae leges nulla alia ex tume. De fato, assim como as próprias
causa nos teneant, quam quod iudicio leis nos obrigam pela simples razão de
populi receptae sunt, merito et ea, quae terem sido adotadas pela vontade do
sine ullo scripto populus probavit, te- povo, do mesmo modo as não escri-
nebunt omnes; nam quid interest, su- tas, mas aprovadas pelo povo, obrigam
ffragio populus voluntatem suam de- igualmente a todos. Que importa se a
claret, an rebus ipsis et factis? Quare vontade do povo se expressa por voto
rectissime etiam illud receptum est, ut ou por atos ou fatos? É também, com
leges non solum suffragio legislatoris, base nisso, que leis obsoletas são der-
rogadas não só por voto do legislador

95
Livro I – Título III Digesto

sed etiam tacito consensu omnium per mas também pelo tácito consenso do
desuetudinem abrogentur. povo.

33. ULPIANUS libro I. de officio Pro- 33. ULPIANO, Da função de Procôn-


consulis. — Diuturna consuetudo pro sul, Livro I. — É comum se observar o
iure et lege in his, quae non ex scripto costume imemorial como lei e direito em
descendunt, observari solet. matérias não regulamentadas por leis es-
critas.

34. IDEM libro IV. de officio Procon- 34. IDEM, Da função de Procônsul59,
sulis. — Quum de consuetudine civita- Livro IV. — Quando se toma por fun-
tis vel provinciae confidere quis videtur, damento o costume de uma cidade ou
primum quidem illud explorandum ar- província, convém, a meu ver, se inves-
bitror, an etiam contradicto aliquando tigar se alguma vez esse costume foi
iudicio consuetudo firmata sit. confirmado em juízo contraditório.

35. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 35. HERMOGENIANO, Epítome


Epitomarum. — Sed et ea, quae longa do Direito, Livro I. — Mas também o
consuetudine comprobata sunt ac per que, por longo e continuado costume, é
annos plurimos observata, velut tacita aprovado e observado por muitos anos,
civium conventio, non minus, quam por tácita convenção dos cidadãos, não
ea, quae scripta sunt iura, servantur. obriga menos do que as leis escritas.

36. PAULUS libro VII. ad Sabinum. 36. PAULO, Comentários a Sabino,


— Imo magnae auctoritatis hoc ius ha- Livro VII. — Esse direito é de tamanha
betur, quod in tantum probatum est, autoridade que, para sua aprovação, não
ut non fuerit necesse scripto id com- foi necessário ser expresso por escrito.
prehendere.

37. IDEM libro I. Quaestionum. — Si 37. IDEM, Questões, Livro I. —


de interpretatione legis quaeratur, in Quando se trata de interpretação de
primis inspiciendum est, quo iure civi- uma lei, é preciso, antes de tudo, inves-
tas retro in eiusmodi casibus usa fuis- tigar de que direito, no passado, a ci-
set; optima enim est legum interpres dade fez uso em casos dessa natureza,
consuetudo. pois o costume é o melhor intérprete
da lei.

59
Glossário, cônsul.

96
Digesto Livro I – Títulos III e IV

38. CALLISTRATUS libro I. Quaes- 38. CALÍSTRATO, Questões, Livro I.


tionum. — Nam Imperator noster — De fato, nosso imperador Septímio
Severus rescripsit, in ambiguitatibus, Severo estabeleceu, por rescrito, que,
quae ex legibus proficiscuntur, consue- nos casos de ambiguidades nos termos
tudinem, aut rerum perpetuo similiter da lei, deve ter força de lei o costume ou
iudicatarum auctoritatem vim legis ob- a autoridade dos casos ordinariamente
tinere debere. julgados de maneira semelhante.

39. CELSUS libro XXIII. Digestorum. 39. CELSO, Digesto, Livro XXIII.
— Quod non ratione introductum, sed — O que foi estabelecido contra prin-
errore primum, deinde consuetudine cípios do direito, primeiro, por erro,
obtentum est, in aliis similibus non ob- depois pelo costume, não deve ser apli-
tinet. cado a casos semelhantes.

40. MODESTINUS libro I. Regula- 40. MODESTINO, Regras, Livro I.


rum. — Ergo omne ius aut consensus — Todo direito, portanto, ou foi esta-
fecit, aut necessitas constituit, aut fir- belecido por consenso, ou constituído
mavit consuetudo. pela necessidade ou consolidado pelo
costume.

41. ULPIANUS libro II. Institutio- 41. ULPIANO, Instituições, Livro


num. — Totum autem ius consistit II. — Ora, todo direito consiste ou em
aut in acquirendo, aut in conservando, adquirir, ou em conservar, ou em dimi-
aut in minuendo; aut enim hoc agitur, nuir, pois ou se trata de como alguma
quemadmodum quid cuiusque fiat, aut coisa se torna propriedade de alguém,
quemadmodum quis rem vel ius suum ou de como alguém mantém essa pro-
conservet, aut quomodo alienet aut priedade ou seu direito, ou de como a
amittat. aliena ou perde.

TITULUS IV TÍTULO IV
DE CONSTITUTIONIBUS DAS CONSTITUIÇÕES DO
PRINCIPUM PRÍNCIPE

1. ULPIANUS libro I. Institutionum. 1. ULPIANO, Instituições, Livro I. —


— Quod principi placuit, legis habet A vontade do príncipe tem força de lei,
vigorem; utpote quum lege Regia, quae visto que, por lei régia promulgada so-
de imperio eius lata est, populus ei et in bre sua autoridade, o povo lhe confere,
eum omne suum imperium et potesta-
tem conferat.

97
Livro I – Título IV Digesto

a ele e para ele, todo o seu poder e so-


berania60.

§ 1. — Quodcunque igitur Imperator § 1. Portanto, o que quer que o impe-


per epistolam et subscriptionem sta- rador estabelece, por carta ou por sua
tuit, vel cognoscens decrevit, vel de assinatura, ou sentencia como juiz,
plano interlocutus est, vel edicto prae- com conhecimento de causa, ou por
cepit, legem esse constat; haec sunt, simples atos interlocutórios ou por
quas vulgo Constitutiones appellamus. edito, é tido como lei. É o que nós, em
geral, chamamos constituições61.

§ 2. — Plane ex his quaedam sunt per- § 2. Dessas constituições, algumas são


sonales nec ad exemplum trahuntur; claramente pessoais e não se tomam
nam quae Princeps alicui ob merita como precedente, pois o que o prín-
indulsit, vel si quam poenam irrogavit, cipe concede a alguém por mérito, ou
vel si cui sine exemplo subvenit, perso- impõe alguma pena, ou se, sem prece-
nam non egreditur. dente, favorece alguém, trata-se de atos
que não vão além do âmbito pessoal.

2. ULPIANUS libro IV. Fideicommis- 2. ULPIANO, Fideicomissos, Livro


sorum. — In rebus novis constituendis IV. — Ao se introduzirem coisas novas,
evidens esse utilitas debet, ut recedatur sua utilidade deve ser manifesta para se
ab eo iure, quod diu aequum visum est. afastar de uma lei por muito tempo con-
siderada justa.

3. IAVOLENUS libro XIII. Epistola- 3. JAVOLENO, Epístolas, Livro XIII.


rum. — Beneficium Imperatoris, quod — Benefício concedido pelo impera-
a divina scilicet eius indulgentia profi- dor, porque vindo de sua excelsa bene-
ciscitur, quam plenissime interpretari volência, deve ser interpretado o mais
debemus. amplamente possível.

4. MODESTINUS libro II Excusatio- 4. MODESTINO, Escusas, Livro II. —


num. — Ai` metagene,sterai diata,xeij As constituições posteriores têm mais
ivscuro,terai tw/n pro. auvtw/n [Cons- força de lei que as anteriores.
titutiones posteriores fortiores sunt
prioribus].

60
Glossário, imperium e potestas.
61
Glossário, leges.

98
Digesto Livro I – Título V

TITULUS V TÍTULO V
DE STATU HOMINUM DA CONDIÇÃO DA PESSOA62

1. GAIUS libro I. Institutionum. — 1. GAIO, Instituições, Livro I. — Todo


Omne ius, quo utimur, vel ad personas direito que usamos ou concerne a pes-
pertinet, vel ad res, vel ad actiones. soas ou a coisas ou a ações.

2. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 2. HERMOGENIANO, Epítome do


Epitomarum. — Quum igitur homi- Direito, Livro I. — Sendo, portanto,
num causa omne ius constitutum sit, todo direito constituído por causa do
primo de personarum statu, ac post homem, falaremos primeiro da condi-
de ceteris, ordinem Edicti perpetui se- ção das pessoas, depois das coisas, se-
cuti et his proximos atque coniunctos guindo a ordem do Edito Perpétuo63 e,
applicantes títulos, ut res patitur, dice- conforme as circunstâncias, aplicando-
mus. -lhes títulos análogos e conexos.

3. GAIUS libro I. Institutionum. — 3. GAIO, Instituições, Livro I. — Em


Summa itaque de iure personarum termos de direito assim se dividem as
divisio haec est; quod omnes homines pessoas: todo homem é livre ou escra-
aut liberi sunt, aut servi. vo64.

4. FLORENTINUS libro IX. Institu- 4. FLORENTINO, Instituições, Livro


tionum. — Libertas est naturalis facul- IX. — Liberdade é a faculdade natural de
tas eius, quod cuique facere libet, nisi si fazer cada qual o que lhe apraz, menos o
quid vi, aut iure prohibetur. que é proibido pela força ou pela lei.

§ 1. — Servitus est constitutio iuris § 1. A escravidão é instituição do di-


gentium, qua quis dominio alieno con- reito das gentes, segundo o qual al-
tra naturam subiicitur. guém é submetido contra a natureza ao
domínio de outrem.

§ 2. — Servi ex eo appellati sunt, quod § 2. Chamam-se servos pelo fato de os


imperatores captivos vendere, ac per generais venderem os cativos e para fa-
hoc servare nec occidere solent. zê-lo, costumam conservá-los (servare)
e não os matar.

62
Glossário, pessoa.
63
Glossário, edito.
64
Glossário, escravidão.

99
Livro I – Título V Digesto

§ 3. — Mancipia vero dicta, quod ab § 3. E se chamam também mancípios,


hostibus manu capiantur. porque apanhados “a mão” pelos ini-
migos.

5. MARCIANUS libro I. Institutio- 5. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Et servorum quidem una est I. — É uma só certamente a condição
conditio; liberorum autem hominum dos servos; quanto à dos homens livres,
quidam ingenui sunt, quidam libertini. uns são livres por nascimento, outros
são libertos.

§ 1. — Servi autem in dominium nos- § 1. Os escravos, porém, caem sob


trum rediguntur aut iure civili, aut gen- o nosso domínio ou pelo direito civil
tium. Iure civili, si quis se maior viginti ou pelo direito das gentes. Pelo direito
annis ad pretium participandum veni- civil, quando alguém, maior de vinte
re passus est; iure gentium servi nostri anos, admite ser vendido como parte
sunt, qui ab hostibus capiuntur, aut qui de um negócio. Pelo direito das gentes,
ex ancillis nostris nascuntur. são nossos escravos os capturados de
inimigos ou os que nascem de nossas
escravas.

§ 2. — Ingenui sunt, qui ex matre li- § 2. São livres os que nascem de mãe li-
bera nati sunt; sufficit enim liberam vre; basta que ela seja livre no momen-
fuisse eo tempore, quo nascitur, licet to do parto, mesmo que tenha concebi-
ancilla concepit; et e contrario si libera do escrava. Mas, pelo contrário, se livre
conceperit, deinde ancilla pariat, pla- concebeu e, depois, escrava, dá à luz,
cuit eum, qui nascitur, liberum nasci. o filho nasce livre. Não importa que o
Nec interest, iustis nuptiis concepit, an tenha concebido legítima ou ilegitima-
vulgo, quia non debet calamitas matris mente, pois a desventura da mãe não
nocere ei, qui in ventre est. deve prejudicar o filho ainda no ventre.

§ 3. Daí a pergunta: se uma escrava


§ 3. — Ex hoc quaesitum est: si ancilla grávida é alforriada, em seguida se tor-
praegnans manumissa sit, deinde an- na novamente escrava ou, expulsa da
cilla postea facta, aut expulsa civitate cidade, dá à luz, seu filho, ao nascer, é
pepererit, liberum, an servum pariat? livre ou escravo? Admite-se como mais
Et tamen rectius probatum est liberum provável que nasça livre, bastando-lhe
nasci, et sufficere ei, qui in ventre est, que, no ventre, tenha tido uma mãe
liberam matrem vel medio tempore ha- livre mesmo se por algum espaço de
buisse. tempo.

100
Digesto Livro I – Título V

6. GAIUS libro I. Institutionum. — 6. GAIO, Instituições, Livro I. — São


Libertini sunt, qui ex iusta servitute libertos os alforriados de escravidão le-
manumissi sunt. gal.

7. PAULUS libro singulari de portio- 7. PAULO, Dos Quinhões Devidos


nibus, quae liberis damnatorum con- a Filhos de Condenados, Livro Úni-
ceduntur. — Qui in utero est, perinde co. — O nascituro goza dos mesmos
ac si in rebus humanis esset, custoditur, direitos e garantias como se já tivesse
quoties commodis ipsius partus quae- nascido, em se tratando de questão de
ritur, quamquam alii, antequam nasca- seu interesse, conquanto ninguém seja
tur, nequaquam prosit. beneficiado com seus bens antes de seu
nascimento.

8. PAPINIANUS libro III. Quaestio- 8. PAPINIANO, Questões, Livro III. —


num. — Imperator Titus Antoninus O imperador Tito Antonino determi-
rescripsit, non laedi statum liberorum nou, por rescrito, que a condição dos fi-
ob tenorem instrumenti male concepti. lhos não deve ser prejudicada pelo teor
de um documento mal redigido.

9. IDEM libro XXXI. Quaestionum. 9. IDEM, Questões, Livro XXXI. —


— In multis iuris nostri articulis de- Em muitas partes do nosso direito a
terior est conditio feminarum, quam condição da mulher é inferior à do ho-
masculorum. mem.

10. ULPIANUS libro I. ad Sabinum. 10. ULPIANO, Comentários a Sabino,


— Quaeritur, Hermaphroditum cui Livro I. — Pergunta-se: qual é o sexo
comparamus? Et magis puto eius sexus de um hermafrodita? A meu ver, deve
aestimandum, qui in eo praevalet. ser preferentemente do sexo que nele
prevalece.

11. PAULUS libro XVIII. Responso- 11. PAULO, Respostas, Livro XVIII.
rum. — Paulus respondit, eum, qui — Paulo respondeu que aquele que
vivente patre et ignorante de coniun- foi concebido por uma jovem cujo pai,
ctione filiae conceptus est, licet post ainda vivo, ignorara sua gravidez, mes-
mortem avi natus sit, iustum filium ei, mo tendo nascido depois da morte do
ex quo conceptus est, esse non videri. avô, não parece ser filho legítimo da-
quele de quem foi concebido.

12. IDEM libro XIX. Responsorum. 12. IDEM, Respostas, Livro XIX. —
— Septimo mense nasci perfectum Tendo em vista ser aceito, com base na

101
Livro I – Título V Digesto

partum, iam receptum est propter auc- indiscutível autoridade de Hipócrate,


toritatem doctissimi viri Hippocratis; que é perfeito o parto no sétimo mês,
et ideo credendum est, eum, qui ex deve-se admitir que quem nasce de ca-
iustis nuptiis septimo mense natus est, samento legal, no sétimo mês, é filho
iustum filium esse. legítimo.

13. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 13. HERMOGENIANO, Epítome do


epitomarum. — Servus in causa ca- Direito, Livro I. — Um escravo que,
pitali fortunae iudicio a domino com- numa questão de pena capital, é entre-
missus, etsi fuerit absolutus, non fit gue por seu senhor ao arbítrio de um
liber. juiz, mesmo se absolvido, não se torna
livre.

14. PAULUS libro IV. Sententiarum. 14. PAULO, Sentenças, Livro IV. —
— Non sunt liberi, qui contra formam Os gerados sem a habitual forma hu-
humani generis converso more pro- mana não são tidos como filhos como
creantur, veluti si mulier monstrosum é o caso de monstrengo ou de algo
aliquid, aut prodigiosum enixa sit. prodigioso65 que uma mulher dá à
Partus autem, qui membrorum huma- luz. O parto, porém, de quem possui
norum officia ampliavit, aliquatenus membros humanos apenas disformes
videtur effectus; et ideo inter liberos parece, até certo ponto, perfeito e, por
connumerabitur. conseguinte, quem dele nasce é conta-
do entre os filhos.

15. TRYPHONINUS libro X. Dis- 15. TRIFONINO, Disputas, Livro


putationum. — Arescusa, si tres pe- X. — Por disposição testamentária, a
pererit, libera esse testamento iussa, escrava Arescusa ficaria livre após dar
primo partu unum, secundo tres pe- à luz três filhos. Num primeiro parto,
perit; quaesitum est, an et quis eorum deu à luz um filho, num segundo, três.
liber esset? Haec conditio libertati ap- Pergunta-se: algum desses filhos nas-
posita iam implenda mulieri est; sed ceu livre e, caso positivo, qual deles? A
non dubitari debet, quin ultimus liber condição imposta para a liberdade da
nascatur; nec enim natura permisit si-
mul uno impetu duos infantes de ute-
ro matris excedere, ut ordine incerto
nascentium non appareat, uter in ser-
65
Entre as superstições dos antigos, o nasci-
mento de crianças monstruosamente defor-
vitute libertateve nascatur. Incipiente madas era presságio de desgraças. Tácito cita,
igitur partu existens conditio efficit, ut entre outros prodígios ocorridos no governo
ex libera edatur, quod postea nascitur; de Cláudio, o nascimento de “crianças com
veluti si quaelibet alia conditio libertati parte de figura humana e parte de animal”
(Anais, Livro XI, 64).

102
Digesto Livro I – Título V

mulieris apposita parturiente ea exis- mulher se cumprira; mas está fora de


tat, vel manumissa sub hac conditione, dúvida que o último nasce livre, pois
si decem millia heredi Titiove dederit, a natureza não permite que, num só
eo momento, quo parit, per alium im- impulso e ao mesmo tempo, irrom-
pleverit conditionem, iam libera pepe- pam duas crianças do útero da mãe,
risse credenda est. de modo que, pela incerteza da ordem
dos nascimentos, não parecesse qual
dos dois nasceria em escravidão ou em
liberdade. Iniciado, portanto, o parto,
cumpre-se a condição de que de uma
mãe livre seja dado à luz aquele que
nasce por último. É como se fosse al-
forriada sob a condição de dar dez mil
sestércios a um herdeiro ou a Tício e,
no momento de dar à luz, tivesse cum-
prido a condição por meio de um ter-
ceiro, crendo-se, assim, que, ao dar à
luz, já era livre.

16. ULPIANUS libro VI. Disputatio- 16. ULPIANO, Disputas, Livro VI.
num. — Idem erit, si eadem Arescusa — O mesmo aconteceria se Arescu-
primo duo pepererat, postea geminos sa primeiro desse à luz dois filhos e,
ediderat; dicendum est enim, non pos- posteriormente, outros dois em parto
se dici utrumque ingenuum nasci, sed duplo. Nesse caso, não se poderia dizer
eum, qui posterior nascitur. Quaestio que os dois últimos nasceram livres,
ergo facti potius est, non iuris. mas aquele que nasceu por último. A
questão, portanto, é mais de fato que de
direito.

17. IDEM libro XXII. ad Edictum. 17. IDEM, Comentários ao Edito, Li-
— In orbe Romano qui sunt, ex Cons- vro XXII. — Os habitantes do mundo
titutione Imperatoris Antonini cives romano tornaram-se cidadãos roma-
Romani effecti sunt. nos por decisão do imperador Antoni-
no.

18. IDEM libro XXVII. ad Sabi- 18. IDEM, Comentários sobre Sabino,
num. — Imperator Hadrianus Publi- Livro XXVII. — O imperador Adriano,
cio Marcello rescripsit, liberam, quae em rescrito a Publício Marcelo, respon-
praegnans ultimo supplicio damnata deu que o filho de uma mulher livre e
est, liberum parere; et solitum esse ser- grávida condenada à morte nasce livre,

103
Livro I – Título V Digesto

vari eam, dum partum ederet. Sed si ei, e é costume preservá-la até que dê à
quae ex iustis nuptiis concepit, aqua et luz. Mas se for condenada ao desterro66
igni interdictum est, civem Romanum e tiver concebido de matrimônio legíti-
parit, et in potestate patris. mo, o filho nasce cidadão romano, mas
sob a guarda do pai.

19. CELSUS libro XXIX. Digestorum. 19. CELSO, Digesto, Livro XXIX. —
— Quum legitimae nuptiae factae sint, Os filhos nascidos de núpcias legítimas
patrem liberi sequuntur; vulgo quaesi- seguem o pai; os concebidos ilegitima-
tus matrem sequitur. mente seguem a mãe.

20. ULPIANUS libro XXXVIII. ad Sa- 20. ULPIANO, Comentários a Sabino,


binum. — Qui furere coepit, et statum, Livro XXXVIII. — Parece que não per-
et dignitatem, in qua fuit, et magistra- de nem o status nem a dignidade, tam-
tum, et potestatem videtur retinere, si- pouco a magistratura e o poder, bem
cut rei suae dominium retinet. como o domínio de seus bens quem
começa a dar sinais de loucura.

21. MODESTINUS libro VII. Regu- 21. MODESTINO, Regras, Livro VII.
larum. — Homo liber, qui se vendidit, — Um homem livre que se vendeu,
manumissus non ad suum statum re- uma vez alforriado, não volta à con-
vertitur, quo se abdicavit, sed efficitur dição da qual abdicou, mas assume a
libertinae conditionis. condição de liberto.

22. IDEM libro XII. . — Herenius Mo- 22. IDEM, Respostas, Livro XII. —
destinus respondit: si eo tempore enixa Herênio Modestino respondeu: “Nasce
est ancilla, quo secundum legem dona- livre filho de escrava que o deu à luz no
tionis manumissa esse debuit, quum ex momento em que, segundo cláusula da
Constitutione libera fuerit, ingenuum doação, devia estar alforriada, uma vez
ex ea natum. que, por decisão imperial, teria ficado
livre.”

66
Em realidade, o desterro era a consequência
da pena de privação da água e do fogo (aqua
et igni interdictio). A pessoa a quem se proibia
fazer uso desses dois elementos essenciais à
vida, para sobreviver, tinha de ser desterrada
ou desterrar-se.

104
Digesto Livro I – Título V

23. IDEM libro I. Pandectarum. — 23. IDEM, Pandectas, Livro I. —


Vulgo concepti dicuntur, qui patrem Dizem-se concebidos ilegitimamente
demonstrare non possunt, vel qui pos- aqueles cujo pai não pode ser identifi-
sunt quidem, sed eum habent, quem cado ou, se o for, carece de legitimida-
habere non licet; qui et spurii appellan- de, e são chamados naturais, isto é, por
tur para. th.n spora,n [a satione]. simples procriação.

24. ULPIANUS libro XXVII. ad Sa- 24. ULPIANO, Comentários a Sabino,


binum. — Lex naturae haec est, ut Livro XXVII. — Esta é a lei natural:
qui nascitur sine legitimo matrimo- quem nasce fora do matrimônio legí-
nio, matrem sequatur, nisi lex specialis timo segue a mãe, a menos que uma lei
aliud inducit. especial disponha diferentemente.

25. IDEM libro I. ad Legem Iuliam et 25. IDEM, Comentários à Lei Júlia
Papiam. — Ingenuum accipere debe- e Pápia, Livro I. — Devemos ter tam-
mus etiam eum, de quo sententia lata bém como nascido livre quem como tal
est, quamvis fuerit libertinus; quia res for declarado por sentença, embora, na
iudicata pro veritate accipitur. realidade, tenha sido liberto, pois a coi-
sa julgada é tida como verdade.

26. IULIANUS libro LXIX. Diges- 26. JULIANO, Digesto, Livro LXIX.
torum. — Qui in utero sunt, in toto — Aqueles que estão no útero são
paene iure civili intelliguntur in rerum considerados, em quase todo o direito
natura esse. Nam et legitimae heredi- civil, como já nascidos, pois heranças
tates his restituuntur, et si praegnans legítimas já lhes são devidas, e se uma
mulier ab hostibus capta sit, id quod mulher grávida é feita prisioneira por
natum erit, postliminium habet, item inimigos, o filho que dela nascer tem
patris vel matris conditionem sequitur. direito ao poslimínio67, seguindo sua
Praeterea si ancilla praegnans surrepta condição a do pai ou da mãe. E, se
fuerit, quamvis apud bonae fidei em- uma escrava grávida é capturada, mes-
torem pepererit, id quod natum erit, mo que venha a dar à luz na posse de
tamquam furtivum usu non capitur. um comprador de boa-fé, o filho dela
His consequens est, ut libertus quoque, nascido será considerado como coisa
quamdiu patroni filius nasci possit, eo roubada e, por conseguinte, sua posse
iure sit, quo sunt, qui patronos habent. não pode ser obtida por usucapião. Se-
gue daí que também o liberto, mesmo

67
Glossário, poslimínio.

105
Livro I – Títulos V e VI Digesto

que seja filho do senhor, está na mesma


condição de quem tem senhor.

27. ULPIANUS libro V. Opinionum. 27. ULPIANO, Opiniões, Livro V. —


— Eum, qui se libertinum esse fatetur, Quem se confessa liberto não pode
nec adoptando patronus ingenuum fa- tornar-se livre por nascimento nem
cere potuit. por adoção pelo senhor.

TITULUS VI TÍTULO VI
DE HIS, QUI SUI VEL ALIENI DAQUELES QUE SÃO DE DIREITO
IURIS SUNT PRÓPRIO OU ALHEIO

1. GAIUS libro I. Institutionum. — De 1. GAIO, Instituições, Livro I. — Há


iure personarum alia divisio sequitur, outra divisão de pessoas em termos
quod quaedam personae sui iuris sunt, de direito: pessoas de direito próprio e
quaedam alieno iuri subiectae sunt. Vi- pessoas de direito alheio. Comecemos,
deamus itaque de his, quae alieno iuri portanto, por pessoas que estão sujei-
subiectae sunt; nam si cognoverimus, tas ao direito alheio, pois se compreen-
quae istae personae sunt, simul intelli- dermos o que são essas pessoas, com-
gemus, quae sui iuris sunt; dispiciamus preenderemos ao mesmo tempo as que
itaque de his, quae in aliena potestate são de direito próprio. Comecemos,
sunt. portanto, pelas pessoas que estão sob o
poder alheio.

§ 1. — Igitur in potestate sunt servi do- § 1. Ora, o escravo está sob o poder
minorum. Quae quidem potestas iuris do senhor. Na verdade, esse poder é do
gentium est; nam apud omnes perae- direito das gentes, pois em todos os po-
que gentes animadvertere possumus, vos podemos observar que os senhores
domini in servos vitae necisque potes- tinham poder de vida e de morte sobre
tatem fuisse; et quodcunque per ser- seus escravos, e tudo o que se adquire
vum acquiritur, id domino acquiritur. por meio do escravo é propriedade do
senhor.

§ 2. — Sed hoc tempore nullis homini- § 2. Hoje, porém, não é dado a quem
bus, qui sub imperio Romano sunt, li- vive no Império Romano o direito de
cet supra modum et sine causa legibus tratar cruelmente seus escravos além
cognita in servos suos saevire. Nam ex da medida e dos motivos admitidos
Constitutione Divi Antonini qui sine pela lei. De fato, por decisão do emi-
causa servum suum occiderit, non mi- nente imperador Antonino, quem ma-

106
Digesto Livro I – Título VI

nus puniri iubetur, quam qui alienum tar seu escravo sem justa causa será pu-
servum occiderit. Sed et maior aspe- nido com pena não inferior à de quem
ritas dominorum eiusdem Principis mata um escravo alheio. Além disso,
Constitutione coercetur. por decisão do mesmo príncipe, é tam-
bém punida a excessiva severidade dos
senhores.

2. ULPIANUS libro VIII. de officio 2. ULPIANO, Da Função de Procôn-


Proconsulis. — Si dominus in servos sul, Livro VIII. — Se um senhor se
saevierit, vel ad impudicitiam turpem- conduzir com crueldade para com seus
que violationem compellat, quae sint escravos ou forçá-los à impudicícia ou
partes Praesidis, ex rescripto Divi Pii ad os submeter a atos indecorosos, as pro-
Aelium Marcianum Proconsulem Bae- vidências a serem tomadas pelo gover-
ticae, manifestabitur. Cuius rescripti nador estão expostas no rescrito do im-
verba haec sunt: “Dominorum quidem perador Pio a Élio Marciano, procônsul
potestatem in suos servos illibatam da Bética, do teor seguinte: “Convém,
esse oportet, nec cuiquam hominum na verdade, que o poder dos senhores
ius suum detrahi; sed dominorum in- sobre seus escravos seja intocável e que
terest, ne auxilium contra saevitiam, a ninguém se subtraia direitos. Mas é
vel famem, vel intolerabilem iniuriam do interesse dos próprios senhores que
denegetur his, qui iuste deprecantur. não se negue amparo a escravos que,
Ideoque cognosce de querelis eorum, com razão, recorrem contra maus-
qui ex familia Iulii Sabini ad statuam -tratos, fome ou sofrimento insupor-
confugerunt; et si vel durius habitos, tável. Toma, portanto, conhecimento
quam aequum est, vel infami iniuria das queixas dos escravos da família de
affectos cognoveris, veniri iube, ita ut Júlio Sabino que se refugiaram junto a
in potestate domini non revertantur; uma estátua. Se constatares terem sido
qui si meae Constitutioni fraudem tratados mais duramente do que é justo
fecerit, sciet me admissum severius ou ficares sabendo terem sido vítimas
exsecuturum”. Divus etiam Hadria- de injustiça, determina que sejam ven-
nus Umbriciam quandam matronam didos para não retornarem ao poder do
in quinquennium relegavit, quod ex senhor. Se ele, o senhor, tentar burlar
levissimis causis ancillas atrocissime minha determinação, saiba que farei
tractasset. cumpri-la mais severamente”. O impe-
rador Adriano desterrou também certa
senhora Umbrícia por cinco anos, por
ter tratado cruelmente suas escravas
por faltas levíssimas.

107
Livro I – Título VI Digesto

3. GAIUS libro I. Institutionum. — 3. GAIO, Instituições, Livro I. — Do


Item in potestate nostra sunt liberi mesmo modo estão sob o nosso poder
nostri, quos ex iustis nuptiis procrea- filhos que tivermos gerado em matri-
verimus; quod ius proprium civium mônio legítimo. Esse direito é próprio
Romanorum est. dos cidadãos romanos.

4. ULPIANUS libro I. Institutionum. 4. ULPIANO, Instituições, Livro I.


— Nam civium Romanorum quidam — Entre os cidadãos romanos alguns
sunt patresfamiliarum, alii filiifami- são pais de família68, outros filhos de
liarum, quaedam matresfamiliarum, família, algumas são mães de família,
quaedam filiaefamiliarum. Patresfa- outras são filhas de família. São pais de
miliarum sunt, qui sunt suae potesta- família aqueles que têm poder próprio,
tis, sive puberes, sive impuberes; simili quer sejam púberes ou impúberes. Do
modo matresfamiliarum. Filiifamilia- mesmo modo, as mães de família. São
rum et filiae, quae sunt in aliena po- filhos e filhas de família os que estão
testate. Nam qui ex me et uxore mea sob poder de outro, pois quem nasce
nascitur, in mea potestate est; item qui de mim e de minha mulher está sob
ex filio meo et uxore eius nascitur, id meu poder; quem nasce também de
est nepos meus et neptis, aeque in mea meu filho e de sua mulher, isto é, meu
sunt potestate; et pronepos et pronep- neto e minha neta, estão igualmente
tis, et deinceps ceteri. sob o meu poder, como também meu
bisneto ou bisneta, e assim por diante.

5. IDEM libro XXXVI. ad Sabinum. 5. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


— Nepotes ex filio, mortuo avo, reci- vro XXXVI. — Netos nascidos de filho,
dere solent in filii potestatem, hoc est morto o avô, costumam cair sob o po-
patris sui; simili modo et pronepotes, der do filho, isto é, de seu próprio pai;
et deinceps, vel in filii potestate, si vivit do mesmo modo também os bisnetos,
et in família mansit, vel in eius paren- e assim por diante, caem sob o poder
tis, qui ante eos in potestate est. Et hoc do filho, se ele vive e permanece na fa-
non tantum in naturalibus, verum in mília ou na família de seu ascendente
adoptivis quoque iuris est. que antes dele detinha o pátrio poder.
E isso é de direito não só com relação
aos filhos naturais como também aos
adotivos.

68
Glossário, paterfamilias.

108
Digesto Livro I – Título VI

6. IDEM libro IX. ad Sabinum. — Fi- 6. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


lium eum definimus, qui ex viro et uxo- vro IX. — Define-se filho aquele que
re eius nascitur. Sed si fingamus abfuisse nasce de um homem e de sua esposa.
maritum, verbi gratia per decennium, Mas, se, por hipótese, o marido esteve
reversum anniculum invenisse in domo ausente, digamos, por dez anos, e, ao
sua, placet nobis Iuliani sententia, hunc voltar para casa, encontra uma crian-
non esse mariti filium. Non tamen fe- ça de um ano, concordamos com a
rendum Iulianus ait eum, qui cum uxore opinião de Juliano, segundo a qual a
sua assidue moratus nolit filium agnos- criança não é filho do marido. Mas, diz
cere, quasi non suum. Sed mihi videtur, Juliano, que não é admissível que aque-
quod et Scaevola probat, si constet mari- le que coabitou regularmente com sua
tum aliquamdiu cum uxore non concu- esposa não queira reconhecer o filho
buisse infirmitate interveniente vel alia como seu. Mas, me parece, e assim tam-
causa, vel si ea valetudine paterfamilias bém pensa Cévola, que, se consta que o
fuit, ut generare non possit, hunc, qui in marido não teve relação com sua esposa
domo natus est, licet vicinis scientibus, durante algum tempo, por motivo de
filium non esse. doença ou por outra causa, ou se o pai
de família, por algum problema de saú-
de, não pode procriar, a criança nascida
em casa, mesmo com o testemunho dos
vizinhos, não é seu filho.

7. IDEM libro XXV. ad Sabinum. — Si 7. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


qua poena pater fuerit affectus, ut vel vro XXV. — Não há dúvida de que as-
civitatem amittat, vel servus poenae ef- sume o lugar de filho o neto cujo pai
ficiatur, sine dubio nepos filii loco suc- é punido ou com a perda de cidadania
cedit. ou é reduzido à condição de escravo.

8. IDEM libro XXVI. ad Sabinum. — 8. IDEM, Comentários a Sabino, Livro


Patre furioso liberi nihilominus in pa- XXVI. — Filhos de pai louco de modo
tris sui potestate sunt. Idem et in om- algum deixam de estar sob o pátrio po-
nibus est parentibus, qui habent liberos der. O mesmo acontece com relação a
in potestate; nam quum ius potestatis todos os ascendentes que têm descen-
moribus sit receptum, nec possit de- dentes sob seu poder; pois, uma vez que
sinere quis habere in potestate, nisi o costume introduziu o direito de poder
exierint liberi quibus casibus solent, sobre terceiros e ninguém pode abrir
nequaquam dubitandum est, remanere mão desse poder, a menos que os de-
eos in potestate. Quare non solum eos pendentes dele se liberem nos casos de
liberos in potestate habebit, quos ante costume, do mesmo modo é certo que
furorem genuit, verum et si qui ante os dependentes permanecem sob o po-

109
Livro I – Título VI Digesto

furorem concepti in furore editi sunt; der. Pelo que, não só terá sob seu poder
sed et si in furore agente eo uxor con- os filhos que gerou antes da loucura mas
cipiat, videndum, an in potestate eius também aqueles que, concebidos antes
nascatur filius; nam furiosus licet uxo- da loucura, foram dados à luz quando já
rem ducere non possit, retinere tamen estava louco. Mas, se a esposa concebe
matrimonium potest. Quod quum ita de marido louco, é justo perguntar-se
se habeat, in potestate filium habebit. se o filho nasce sob o poder dele. Pois,
Proinde et si furiosa sit uxor, ex ea ante embora um louco não possa casar-se,
conceptus in potestate nascetur; sed et pode, porém, manter o matrimônio. E,
in furore eius conceptus ab eo, qui non assim sendo, terá o filho sob o seu po-
furebat, sine dubio in potestate nasce- der. Por conseguinte, do mesmo modo,
tur, quia retinetur matrimonium. Sed se a louca for a esposa, o concebido por
et si ambo in furore agant, et uxor et ela antes da loucura nascerá sob o pá-
maritus, et tunc concipiat, partus in trio poder; mas, se, louca, concebeu do
potestate patris nascetur, quasi volun- marido que não estava louco, o filho,
tatis reliquiis in furiosis manentibus; sem dúvida, nascerá sob o pátrio poder,
nam quum consistat matrimonium al- porque mantido o matrimônio. Mas, se
tero furente, consistet et utroque. ambos, marido e esposa, agem no es-
tado de loucura, e ela concebe, o filho
nascerá sob o poder do pai, como se nos
loucos remanescessem resquícios de
vontade, pois se o matrimônio se man-
tém com a loucura de um, manter-se-á
também com a loucura dos dois.

§ 1. — Adeo autem retinet ius potes- § 1. De tal modo o pai louco mantém
tatis pater furiosus, ut et acquiratur illi o direito do pátrio poder que será seu o
commodum eius, quod filius acquisivit. que o filho tiver adquirido.

9. POMPONIUS libro XVI. ad Quin- 9. POMPÔNIO, Comentários a Quinto


tum Mucium. — Filiusfamilias in Múcio, Livro XVI. — Em termos de
publicis causis loco patrisfamilias ha- direito público, um filho está em pé de
betur, veluti ut magistratum gerat, ut igualdade com um pai de família, por
tutor detur. exemplo, está igualmente habilitado
para exercer a magistratura ou a fun-
ção de tutor.

10. ULPIANUS libro IV. ad Legem 10. ULPIANO, Comentários à Lei


Iuliam et Papiam. — Si iudex nutriri Júlia e Pápia, Livro IV. — Se um juiz
vel ali oportere pronuntiaverit, dicen- decretar que uma pessoa deva ser cria-

110
Digesto Livro I – Títulos VI e VII

dum est, de veritate quaerendum, filius da ou alimentada, convém inquirir so-


sit, an non; neque enim alimentorum bre a verdade, se é filho ou não, pois
causa veritati facit praeiudicium. uma ação de alimento não impede a
busca da verdade do fato.

11. MODESTINUS libro I. Pandecta- 11. MODESTINO, Pandectas, Livro


rum. — Inviti filii naturales, vel eman- I. — Filhos naturais ou emancipados
cipati non rediguntur in patriam potes- não são reduzidos ao pátrio poder con-
tatem. tra a vontade deles.

TITULUS VII TÍTULO VII


DE ADOPTIONIBUS ET DA ADOÇÃO69, EMANCIPAÇÃO
EMANCIPATIONIBUS ET ALIIS E OUTRAS MANEIRAS DE
MODIS, QUIBUS POTESTAS CESSAÇÃO DO PODER
SOLVITUR

1. MODESTINUS libro II. Regula- 1. MODESTINO, Regras, Livro II. —


rum. — Filiosfamilias non solum na- Não só a natureza mas também a ado-
tura, verum et adoptiones faciunt. ção faz um filho de família.

§ 1. — Quod adoptionis nomen est § 1. O termo adoção é de fato genéri-


quidem generale; in duas autem spe- co; mas se divide em duas espécies, das
cies dividitur, quarum altera adop- quais uma se diz simplesmente adoção,
tio similiter dicitur, altera arrogatio. outra arrogação. Adotam-se filhos de
Adoptantur filiifamilias; arrogantur, família, arrogam-se pessoas de direito
qui sui iuris sunt. próprio.

2. GAIUS libro I. Institutionum. — 2. GAIO, Instituições, Livro I. — A


Generalis enim adoptio duobus modis adoção em geral ocorre de dois mo-
fit: aut Principis auctoritate, aut ma- dos: pela autoridade do príncipe ou
gistratus imperio. Principis auctoritate pelo poder do magistrado. Pela auto-
adoptamus eos, qui sui iuris sunt; quae ridade do príncipe, adotamos aqueles
species adoptionis dicitur arrogatio, que são de direito próprio, espécie de
quia et is, qui adoptat, rogatur, id est adoção que se chama arrogação, por-
interrogatur, an velit eum, quem adop- que se pergunta ao adotante se quer
taturus sit, iustum sibi filium esse, et is, que o adotando seja realmente seu fi-
qui adoptatur, rogatur, an id fieri pa-
tiatur. Imperio magistratus adoptamus
eos, qui in potestate parentis sunt, sive
69
Glossário, adoção.

111
Livro I – Título VII Digesto

primum gradum liberorum obtineant, lho legítimo e ao que vai ser adotado
qualis est filius, filia, sive inferiorem, se consente que isso se faça. Pelo poder
qualis est nepos, neptis, pronepos, pro- do magistrado, adotamos aqueles que
neptis. estão sob o pátrio poder de pais, sejam
eles de primeiro grau, isto é, filhos e fi-
lhas, sejam de grau inferior, como ne-
tos, netas, bisnetos e bisnetas.

§ 1. — Illud utriusque adoptionis com- § 1. Uma coisa é comum a ambas as


mune est, quod et hi, qui generare non espécies de adoção: quem não pode ge-
possunt, quales sunt spadones, adopta- rar, como é o caso dos eunucos, pode
re possunt. adotar.

§ 2. — Hoc vero proprium est eius § 2. Mas é próprio da adoção que se faz
adoptionis, quae per Principem fit, pela autoridade do príncipe que aque-
quod is, qui liberos in potestate habet, le que tem filhos sob seu pátrio poder
si se arrogandum dederit, non solum caso se dê em arrogação, não só ele se
ipse potestati arrogatoris subiicitur, sed submete ao poder de quem o arroga
et liberi eius in eiusdem fiunt potestate mas também seus filhos, agora na con-
tanquam nepotes. dição de netos do arrogador.

3. PAULUS libro IV. ad Sabinum. — 3. PAULO, Comentários a Sabino, Li-


Si Consul vel Praeses filiusfamilias sit, vro IV. — Se um filho de família é côn-
posse eum apud semetipsum vel eman- sul ou governador, ele pode dar-se em
cipari, vel in adoptionem dari constat. adoção ou se emancipar por sua pró-
pria autoridade.

4. MODESTINUS libro II. Regula- 4. MODESTINO, Regras, Livro II. —


rum. — Magistratum, apud quem legis Na opinião de Nerácio, um magistra-
actio est, et emancipare filios suos, et in do, sob quem tramitam os autos, pode
adoptionem dare apud se posse Neratii emancipar seus filhos ou dá-los em
sententia est. adoção por sua própria autoridade.

5. CELSUS libro XXVIII. Digestorum. 5. CELSO, Digesto, Livro XXVIII. —


— In adoptionibus eorum duntaxat, Só no caso de adoção de quem é senhor
qui suae potestatis sunt, voluntas ex- de si é que se indaga sobre sua vontade.
ploratur; sin autem a patre dantur in Mas, se é dado em adoção pelo pai,
adoptionem, in his utriusque arbitrium atente-se à manifestação da vontade
spectandum est vel consentiendo, vel de ambos (do pai e do adotante), quer
non contradicendo. consentindo, quer não contradizendo.

112
Digesto Livro I – Título VII

6. PAULUS libro XXXV. ad Edictum. 6. PAULO, Comentários ao Edito, Li-


— Quum nepos adoptatur quasi ex fi- vro XXXV. — Quando se adota alguém
lio natus, consensus filii exigitur. Idque na qualidade de neto como se nascido
etiam Iulianus scribit. de um filho seu, exige-se o consenti-
mento desse filho. Assim também pen-
sa Juliano.

7. CELSUS libro XXXIX. Digestorum. 7. CELSO, Digesto, Livro XXXIX. —


— Quum adoptio fit, non est necessa- Quando se faz uma adoção, não é ne-
ria in eam rem auctoritas eorum, inter cessário para isso a aprovação daqueles
quos iura agnationis consequuntur. entre os quais vigem direitos de agna-
ção70.

8. MODESTINUS libro II. Regula- 8. MODESTINO, Regras, Livro II. —


rum. — Quod, ne curatoris auctoritas O que antes vigia, isto é, que a autori-
intercederet in arrogatione, ante tenue- dade do curador não interferisse na ar-
rat, sub Divo Claudio recte mutatum rogação, foi devidamente modificado
est. pelo divo Cláudio.

9. ULPIANUS libro I. ad Sabinum. 9. ULPIANO, Comentários a Sabino,


— Etiam caecus adoptare, vel adoptari Livro I. — Um cego pode tanto adotar
potest. quanto ser adotado.

10. PAULUS libro II. ad Sabinum. — 10. PAULO, Comentários a Sabino,


Si quis nepotem quasi ex filio natum, Livro II. — Se uma pessoa adotar al-
quem in potestate habet, consentiente guém como neto, como se nascido de
filio adoptaverit, non agnascitur avo um filho seu e com o consentimento
suus heres; quippe quum post mortem desse, que está sob seu pátrio poder, o
avi quasi in patris sui recidit potesta- adotado não se torna herdeiro do avô.
tem. Assim sendo, morto o avô, o adotado
cai sob o pátrio poder daquele que tem
como pai.

11. IDEM libro IV. ad Sabinum. — Si 11. IDEM, Comentários a Sabino, Li-
is, qui filium haberet, in nepotis locum vro IV. — Quem, tendo um filho, ado-
adoptasset, perinde atque si ex eo filio tar alguém como neto, como se nascido
natus esset, et is filius auctor factus non do filho, e esse filho não o aceitar como
esset, mortuo avo non esse nepotem in
potestate filii.
70
Glossário, agnação.

113
Livro I – Título VII Digesto

tal, morto o avô, o neto não ficará em


poder do filho.

12. ULPIANUS libro XIV. ad Sabi- 12. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Qui liberatus est patria po- Livro XIV. — Quem se emancipa do
testate, is postea in potestatem honeste pátrio poder não pode voltar digna-
reverti non potest, nisi adoptione. mente à situação anterior, a não ser por
adoção.

13. PAPINIANUS libro XXXVI. 13. PAPINIANO, Questões, Livro


Quaestionum. — In omni fere iure, XXXVI. —Em quase todo direito, ex-
finita patris adoptivi potestate, nul- tinto o poder do pai adotivo, não fica
lum ex pristino retinetur vestigium; nenhum vestígio da condição anterior;
denique et patria dignitas quaesita per cessa também a dignidade de pai ad-
adoptionem finita ea deponitur. quirida pela adoção uma vez extinta a
relação.

14. POMPONIUS libro V. ad Sabi- 14. POMPÔNIO, Comentários a


num. — Sed etiam nepos ex filio apud Sabino, Livro V. — Pela emancipação,
adoptatum patrem conceptus et natus perde também todos os direitos o neto
per emancipationem iura omnia per- concebido e nascido de filho sob o po-
dit. der de pai adotado.

15. ULPIANUS libro XXVI. ad Sa- 15. ULPIANO, Comentários a Sabino,


binum. — Si paterfamilias adoptatus Livro XXVI. — Todos os bens de um
sit, omnia, quae eius fuerunt et acquiri pai de família adotado, inclusive os
possunt, tacito iure ad eum transeunt, que podem ser adquiridos, passam,
qui adoptavit; hoc amplius liberi eius, por tácito direito, para quem o ado-
qui in potestate sunt, eum sequuntur; tou; seguem-no também os filhos que
sed et hi, qui postliminio redeunt, vel estão sob seu pátrio poder; do mesmo
qui in utero fuerunt, quum arrogaretur, modo caem sob o poder do arrogador
simili modo in potestatem arrogatoris os filhos que gozem dos benefícios do
rediguntur. poslimínio71 ou que estavam no útero
quando o pai foi arrogado.

§ 1. — Qui duos filios et ex altero eo- § 1. Quem tem dois filhos e de um


rum nepotem habet, si vult nepotem deles tem um neto, se quiser adotar o
quasi ex altero natum sic adoptare,
potest hoc efficere, si eum emancipa-
verit, et sic adoptaverit quasi ex altero
71
Glossário, poslimínio.

114
Digesto Livro I – Título VII

natum; facit enim hoc quasi quilibet, neto como se nascido do outro, pode-
non quasi avus, et qua ratione quasi ex rá fazê-lo, emancipando-o primeiro e
quolibet natum potest adoptare, ita po- depois o adotando como se nascido do
test et quasi ex altero filio. outro; assim procede como qualquer
um e não como avô, e pela mesma ra-
zão por que pode adotar alguém nasci-
do de qualquer um, assim pode adotá-
-lo como nascido do outro filho.

§ 2. — In arrogationibus cognitio ver- § 2. Nas arrogações convém averiguar


titur, num forte minor sexaginta annis se quem arroga tem menos de sessen-
sit, qui arrogat, quia magis liberorum ta anos, pois se assim for, é melhor que
creationi studere debeat, nisi forte cuide de gerar filhos, a menos que es-
morbus aut valetudo in causa sit, aut tejam em causa motivos de saúde ou
alia iusta causa arrogandi, veluti si con- doença ou outro, por exemplo, adotar
iunctam sibi personam velit adoptare. alguém de seu parentesco.

§ 3. — Item non debet quis plures ar- § 3. Do mesmo modo, ninguém deve
rogare, nisi ex iusta causa; sed nec li- fazer muitas arrogações, a não ser por
bertum alienum, nec maiorem minor. justa causa; tampouco arrogar liberto
alheio, nem uma pessoa mais jovem
arrogar uma mais velha.

16. IAVOLENUS libro VI. ex Cassio. 16. JAVOLENO, Da Doutrina de


— Adoptio enim in his personis locum Cássio, Livro VI. — Pois a adoção
habet, in quibus etiam natura potest entre pessoas acompanha os mesmos
habere. procedimentos seguidos pela natureza.

17. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 17. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Nec ei permittitur arrogare, Livro XXVI. — Não é permitido arro-
qui tutelam vel curam alicuius admi- gar a quem teve a tutela ou curatela de
nistravit, si minor viginti quinque an- uma pessoa, se o arrogado tem menos
nis sit, qui arrogatur; ne forte eum ideo de vinte e cinco anos, pois é possível que
arroget, ne rationes reddat. Item inqui- o objetivo do arrogador seja escapar da
rendum est, ne forte turpis causa arro- prestação de contas. Deve-se também
gandi subsit. investigar se o motivo da arrogação não
tem, por finalidade, algum motivo tor-
pe.

115
Livro I – Título VII Digesto

§ 1. — Eorum duntaxat pupillorum § 1. A arrogação de tutelados só deve


arrogatio permittenda est his, qui vel ser permitida àqueles que querem ado-
naturali cognatione, vel sanctissima tar motivados ou por parentesco natu-
affectione ducti adoptarent, ceterorum ral ou por profunda afeição, excluídos
prohibenda, ne esset in potestate tuto- os demais casos, para que não fique ao
rum et finire tutelam, et substitutio- arbítrio dos tutores não só extinguir a
nem a parente factam extinguere. tutela como também tornar sem efei-
to substituição testamentária feita pelo
ascendente.

§ 2. — Et primum quidem excutien- § 2. É preciso, antes de tudo, que se


dum erit, quae facultates pupilli sint, conheça o patrimônio do tutelado e
et quae eius, qui adoptare eum velit, ut de quem pretende adotá-lo, para que,
aestimetur ex comparatione earum, an comparados, seja possível saber se a
salubris adoptio possit pupillo intelligi; adoção é vantajosa para o tutelado;
deinde, cuius vitae sit is, qui velit pu- depois, conhecer a vida de quem quer
pillum redigere in familiam suam; ter- trazer o tutelado para integrar sua fa-
tio, cuius idem aetatis sit, ut aestime- mília; em terceiro lugar, sua idade,
tur, an melius sit de liberis procreandis para saber se não seria melhor pensar
cogitare eum, quam ex aliena familia em gerar filhos do que submeter a seu
quemquam redigere in potestatem pátrio poder pessoa de outra família.
suam.

§ 3. — Praeterea videndum est, an non § 3. Deve-se, além disso, verificar se é


debeat permitti ei, qui vel unum habe- conveniente permitir a quem é pai de
bit, vel plures liberos, adoptare alium; um só filho ou de muitos adotar outro,
ne aut illorum, quos iustis nuptiis pro- para que ou não diminua a expectativa
creaverit, deminuatur spes, quam unus- de herança dos filhos legítimos que a
quisque liberorum obsequio paret sibi; ela fazem jus pela obediência ou o ado-
aut qui adoptatus fuit, minus percipiat, tado perceba menos do que lhe deveria
quam dignum erit eum consequi. tocar.

§ 4. — Interdum et ditiorem permit- § 4. Às vezes se permitirá ao mais po-


tetur adoptare pauperiori, si vitae eius bre adotar o mais rico se for manifesta
sobrietas clara sit, vel affectio honesta sua austeridade de vida ou sua afeição
nec incognita. seja honesta e publicamente conheci-
da.

§ 5. — Satisdatio autem in his casibus § 5. É costume, nesses casos, exigir-se


dari solet. caução.

116
Digesto Livro I – Título VII

18. MARCELLUS libro XXVI. Diges- 18. MARCELO, Digesto, Livro XXVI.
torum. — Non aliter enim voluntati — Não se deve atender à vontade de
eius, qui arrogare pupillum volet, si quem quer arrogar um tutelado, mes-
causam eius ob alia probabit, subscri- mo que prove sua intenção por moti-
bendum erit, quam si caverit servo pu- vos justos, se não assumir o compro-
blico, se restituturum ea, quae ex bonis misso, diante de autoridade pública, de
eius consecutus fuerit, illis, ad quos res repassar qualquer bem de seu tutelado
perventura esset, si arrogatus perman- que cair sob seu poder para pessoas
sisset in suo statu. que a ele teriam direito caso o tutelado
tivesse permanecido nessa condição.

19. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 19. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — His verbis satisdationis, quae Livro XXVI. — Não há dúvida de que,
ab arrogatore praestari debet: “ad quos nos termos do compromisso assumido
ea res pertinet”, et libertatibus prospec- pelo arrogador, de repassar “para pes-
tum esse, quae secundis tabulis datae soas o bem a que teriam direito” in-
sunt, et multo magis substituto servo, cluem-se questões de alforria previstas
item legatariis, nemo dubitat. num testamento secundário, especial-
mente de escravo nomeado herdeiro
substituto e de legatários.

§ 1. — Quae satisdatio si omissa fuerit, § 1. Se o arrogador deixar de assumir


utilis actio in arrogatorem datur. esse compromisso pode-se mover uma
ação própria contra ele.

20. MARCELLUS libro XXVI. Di- 20. MARCELO, Digesto, livro XXVI.
gestorum. — Haec autem satisdatio — Essa caução é executada se o adota-
locum habet, si impubes decessit; sed do morre impúbere. Embora se fale de
etsi de pupillo loquitur, tamen hoc et in tutelado, vale o mesmo quando se trata
pupilla observandum est. de tutelada.

21. GAIUS libro singulari Regula- 21. GAIO, Regras, Livro Único. —
rum. — Nam et feminae ex rescripto Pois mulheres também, por rescrito do
Principis arrogari possunt. príncipe, podem ser adotadas.

22. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 22. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Si arrogator decesserit impu- Livro XXVI. — Se o arrogador morrer
bere relicto filio adoptivo, et mox im- e deixar um filho adotivo impúbere e,
pubes decedat, an heredes arrogatoris pouco depois, morre também esse, os
teneantur? Et dicendum est, heredes herdeiros do arrogador ficam obriga-

117
Livro I – Título VII Digesto

quoque restituturos et bona arrogati, et dos? Sem dúvida, os herdeiros também


praeterea quartam partem. deverão restituir os bens do arrogado,
além da quarta parte.

§ 1. — Sed an impuberi arrogator § 1. Indaga-se: o arrogador pode de-


substituere possit? Quaeritur. Et puto signar herdeiro substituto de seu filho
non admitti substitutionem, nisi forte adotivo ainda impúbere? A meu ver,
ad quartam solam, quam ex bonis eius essa substituição é inadmissível, a me-
consequitur; et hactenus, ut ei usque ad nos que, talvez, se trate da quarta parte
pubertatem substituat. Ceterum si fidei que lhe toca dos bens do arrogador e
eius committat, ut quandoque restitu- que essa substituição se proceda até a
at, non oportet admitti fideicommis- puberdade. Além disso, não é conve-
sum, quia hoc non iudicio eius ad eum niente que essa quarta parte seja agra-
pervenit, sed Principali providentia. vada por um fideicomisso, para ser
restituída a outro em determinado mo-
mento, pois o direito à quarta parte não
provém da vontade do arrogador, mas
de disposição imperial.

§ 2. — Haec omnia dicenda sunt, sive § 2. O mesmo acontece quando se ar-


in locum filii, sive in locum nepotis ali- roga um impúbere como filho ou neto.
quis impuberem arrogaverit.

23. PAULUS libro XXXV. ad Edictum 23. PAULO, Comentários ao Edito,


. — Qui in adoptionem datur, his, qui- Livro XXXV. — Quem é dado em ado-
bus agnascitur, et cognatus fit, quibus ção faz-se cognato de todos de quem
vero non agnascitur, nec cognatus fit; se torna agnato, mas não se faz cogna-
adoptio enim non ius sanguinis, sed to de quem não se torna agnato72, pois
ius agnationis affert. Et ideo si filium a adoção não produz laço de sangue,
adoptaverim, uxor mea illi matris mas de agnação. Portanto, se eu adotar
loco non est, neque enim agnascitur alguém como filho, minha esposa não
ei, propter quod nec cognata eius fit. está no lugar de mãe dele nem ele se
Item nec mater mea aviae loco illi est, torna agnato dela e, por conseguinte,
quoniam his, qui extra familiam meam nem ela se torna cognata dele. Minha
sunt, non agnascitur; sed filiae meae mãe também não se torna avó dele
is, quem adoptavi, frater fit, quoniam nem ele se torna agnato de quem está
in familia mea est filia, nuptiis tamen fora de minha família. Mas quem eu
etiam eorum prohibitis.

72
Glossário, agnação.

118
Digesto Livro I – Título VII

adotar como filho torna-se irmão de


minha filha, pois minha filha faz parte
de minha família e, por isso, estão im-
pedidos de contrair matrimônio.

24. ULPIANUS libro I. Disputatio- 24. ULPIANO, Controvérsias, Livro


num. — Neque absens, neque dissen- I. — Não pode ser arrogado quem está
tiens arrogari potest. ausente e quem não consente.

25. IDEM libro V. Opinionum. — 25. IDEM, Opiniões, Livro V. — Um


Post mortem filiae suae, quae ut ma- pai cuja filha falecida que vivera eman-
terfamilias quasi iure emancipata vi- cipada de fato como mãe de família,
xerat, et testamento scriptis heredibus tendo instituído herdeiros em testa-
decessit, adversus factum suum, quasi mento, não pode contestar sua vontade
non iure eam nec praesentibus testibus sob a alegação de que a emancipação
emancipasset, pater movere controver- não se tenha processado nas formalida-
siam prohibetur. des legais, inclusive com testemunhas.

§ 1. — Neque adoptare, neque arroga- § 1. Quem está ausente não pode nem
re quis absens, nec per alium eiusmodi adotar nem arrogar nem se fazer re-
solennitatem peragere potest. presentar por outrem em formalidade
dessa natureza.

26. IULIANUS libro LXX. Digesto- 26. JULIANO, Digesto, Livro LXX.
rum. — Quem filius meus emancipatus — Quem meu filho emancipado tiver
adoptaverit, is nepos meus non erit. adotado não será meu neto.

27. IDEM libro LXXXV. Digestorum. 27. IDEM, Digesto, Livro LXXXV. —
— Ex adoptivo natus adoptivi locum Pelo direito civil, o filho de adotado se-
obtinet in iure civili. gue a mesma condição do pai.

28. GAIUS libro I. Institutionum. — 28. GAIO, Instituições, Livro I. —


Liberum arbitrium est ei, qui filium Quem tiver filho e neto dele nascido
et ex eo nepotem in potestate habebit, sob seu pátrio poder tem o livre ar-
filium quidem potestate dimittere, ne- bítrio de emancipar o filho e manter
potem vero in potestate retinere; vel ex o neto sob seu pátrio poder ou, pelo
diverso filium quidem in potestate re- contrário, manter o filho sob seu pátrio
tinere, nepotem vero manumittere, vel poder e emancipar o neto, ou pode a
omnes sui iuris efficere. Eadem et de ambos emancipar. O mesmo vale com
pronepote dicta esse intelligemus. relação a bisneto.

119
Livro I – Título VII Digesto

29. CALLISTRATUS libro II. Insti- 29. CALÍSTRATO, Instituições, Li-


tutionum. — Si pater naturalis loqui vro II. — Se um pai natural não pode
quidem non possit, alio tamen modo, falar, mas, de outra maneira, que não
quam sermone, manifestum facere a palavra, pode manifestar sua vontade
possit, velle se filium suum in adoptio- de dar seu filho em adoção, a adoção se
nem dare, perinde confirmatur adop- efetiva do mesmo modo como se feita
tio, ac si iure facta esset. sob as formalidades legais.

30. PAULUS libro I. Regularum. — Et 30. PAULO, Regras, Livro I. — Quem


qui uxores non habent, filios adoptare não tem esposa pode adotar filhos.
possunt.

31. MARCIANUS libro V. Regula- 31. MARCIANO, Regras, Livro V. —


rum. — Non potest filius, qui est in Um filho, seja natural ou adotivo, que
potestate patris, ullo modo compellere está sob o poder do pai de nenhum
eum, ne sit in potestate, sive naturalis, modo pode forçá-lo a emancipá-lo de
sive adoptivus. seu pátrio poder.

32. PAPINIANUS libro XXXI. Quaes- 32. PAPINIANO, Questões, Livro


tionum. — Nonnunquam autem im- XXXI. — Às vezes, um adotado impú-
pubes, qui adoptatus est, audiendus bere deve ser ouvido se, tornando-se
erit, si pubes factus emancipari desi- púbere, deseja emancipar-se. Isso será
deret; idque causa cognita per iudicem decidido por um juiz depois de tomar
statuendum erit. conhecimento do motivo.

§ 1. — Imperator Titus Antoninus res- § 1. O imperador Tito Antonino deci-


cripsit, privignum suum tutori adopta- diu, por rescrito, ser permitido ao tutor
re permittendum. adotar seu enteado.

33. MARCIANUS libro V. Regu- 33. MARCIANO, Regras, Livro V. —


larum. — Et si pubes factus non Mas, se, tornado púbere, provar que
expedire sibi in potestatem eius não lhe convém estar sob o poder do pai
redigi probaverit, aequum esse adotivo, é justo que seja emancipado e,
emancipari eum a patre adoptivo; assim, recupere sua condição legal ante-
atque ita pristinum ius recuperare. rior.

34. PAULUS libro XI. Quaestio- 34. PAULO, Questões, Livro XI. —
num. — Quaesitum est, si tibi filius in Levantou-se a seguinte questão: seria
adoptionem hac lege sit datus, ut post legítimo um filho te ser dado em ado-
triennium puta eundem mihi in adop- ção à condição de, por exemplo, após

120
Digesto Livro I – Título VII

tionem des, an actio ulla sit? Et Labeo três anos, transferi-lo, em adoção, para
putat nullam esse actionem; nec enim mim? Segundo Labeão, isso é ilegíti-
moribus nostris convenit filium tem- mo, nem convém a nossos costumes a
poralem habere. figura de filho temporário.

35. IDEM libro I. Responsorum. — 35. IDEM, Respostas, Livro I. — A


Per adoptionem dignitas non minui- dignidade não é diminuída, mas au-
tur, sed augetur; unde Senator, etsi a mentada pela adoção. Daí um senador,
plebeio adoptatus est, manet Senator; mesmo se tiver sido adotado por um
similiter manet et Senatoris filius. plebeu, continua sendo senador. Do
mesmo modo, filho de senador.

36. IDEM libro XVIII. Responsorum. 36. IDEM, Respostas, Livro XVIII. —
— Emancipari filium a patre quocun- É legítimo um pai poder emancipar um
que loco posse constat, ut exeat de pa- filho em qualquer lugar, para liberá-lo
tria potestate. do pátrio poder.

§ 1. — Apud Proconsulem etiam in § 1. É permitido dar-se em adoção ou


ea provincia, quam sortitus non est, et ser alforriado diante de um procônsul
manumitti, et in adoptionem dari pos- mesmo em província que não lhe tenha
se placet. sido atribuída.

37. IDEM, libro II. Sententiarum. 37. IDEM, Sentenças, Livro II. — É
— Adoptare quis nepotis loco potest, possível adotar alguém como neto,
etiamsi filium non habet. mesmo que não tenha filho.

§ 1. — Eum, quem quis adoptavit, § 1. O adotado, uma vez emancipado


emancipatum, vel in adoptionem da- ou dado em adoção, não pode ser de
tum iterum non potest adoptare. novo adotado por quem primeiro o
adotou.

38. MARCELLUS libro XXVI. Di- 38. MARCELO, Digesto, Livro XXVI.
gestorum. — Adoptio non iure facta a — Uma adoção feita sem as devidas
Principe confirmari potest; formalidades legais pode ser confirma-
da pelo príncipe;

39. ULPIANUS libro III. De officio 39. ULPIANO, Da Função de Côn-


Consulis. — nam ita divus Marcus sul, Livro III. — pois assim respondeu
Eutychiano rescripsit: “Quod deside- o imperador Marco, por rescrito, a
ras, an impetrare debeas, aestimabunt Eutiquiano: “Se deves ou não conseguir

121
Livro I – Título VII Digesto

iudices adhibitis etiam his, qui contra- o que desejas, avaliarão os juízes, após
dicent, id est, qui laederentur confir- ouvir a parte contrária, isto é, aqueles
matione adoptionis”. que serão prejudicados pela confirma-
ção da adoção”.

40. MODESTINUS libro I. Differen- 40. MODESTINO, Diferenças, Livro


tiarum. — Arrogato patrefamilias, I. — Arrogado um pai de família, os
liberi, qui in eius erant potestate, ne- filhos que estavam sob seu pátrio po-
potes apud arrogatorem efficiuntur, der tornam-se netos do arrogador e,
simulque cum suo patre in eius reci- juntamente com o pai, passam ao po-
dunt potestatem; quod non similiter in der dele, o que não acontece na ado-
adoptione contingit, nam nepotes ex ção, pois os netos, filhos do adotado, se
eo in avi naturalis retinentur potestate. mantêm sob o poder do avô natural.

§ 1. — Non tantum quum quis adop- § 1. Quem adota ou arroga alguém


tat, sed et quum arrogat, maior esse de- como filho deve ser mais velho do que
bet eo, quem sibi per arrogationem, vel o adotado ou arrogado e, além disso,
per adoptionem filium facit; et utique ter chegado à plena puberdade, isto é,
plenae pubertatis, id est decem et octo ter mais de dezoito anos que o filho
annis eum praecedere debet. adotado ou arrogado.

§ 2. — Spado arrogando suum here- § 2. Um eunuco pode procurar-se


dem sibi adsciscere potest; nec ei cor- herdeiro por meio de arrogação: sua
porale vitium impedimento est. deficiência física não constitui impedi-
mento.

41. IDEM libro II. Regularum. — Si 41. IDEM, Regras, Livro II. — Se um
pater filium, ex quo nepos illi est in po- pai tiver emancipado um filho e man-
testate, emancipaverit, et postea eum tido sob seu pátrio poder neto tido des-
adoptaverit, mortuo eo nepos in pa- se filho, que depois adotou, esse neto,
tris non revertitur potestatem. Nec is após a morte do avô, não voltará ao po-
nepos in patris revertitur potestatem, der do pai. Tampouco o neto que o avô
quem avus retinuerit filio dato in adop- manteve sob seu poder ao dar seu filho
tionem, quem denuo redadoptavit. em adoção e a quem de novo adotou.

42. IDEM libro I. Pandectarum. — 42. IDEM, Pandectas, Livro I. — Até


Etiam infantem in adoptionem dare um bebê pode ser dado em adoção.
possumus.

122
Digesto Livro I – Título VII

43. POMPONIUS libro XX. ad Quin- 43. POMPÔNIO, Comentários a


tum Mucium. — Adoptiones non so- Quinto Múcio, Livro XX. — As ado-
lum filiorum, sed et quasi nepotum ções se fazem não só como filhos mas
fiunt, ut aliquis nepos noster esse vi- também como netos, de modo que o
deatur, perinde quasi ex filio, vel incer- adotado seja considerado por lei nosso
to natus sit. neto como se nascido de um filho ou
nascido de pai incerto.

44. PROCULUS libro VIII. Epistola- 44. PRÓCULO, Epístolas, Livro VIII.
rum. — Si is, qui nepotem ex filio ha- — Se uma pessoa tem neto de um filho
bet, in nepotis loco aliquem adoptavit, e adota alguém na qualidade de neto,
non puto, mortuo avo iura consangui- não me parece que, morto o avô, ha-
nitatis inter nepotes futura esse; sed si verá direitos de consanguinidade entre
sic adoptavit, ut etiam iure legis nepos netos. Mas, se o adotou de modo que
suus esset, quasi ex Lucio puta filio suo, também fosse seu neto nos termos da
et ex matrefamilias eius natus esset, lei, digamos, como se nascido de Lúcio,
contra puto. seu filho, e da esposa dele, então penso
o contrário.

45. PAULUS libro III. ad Legem Iu- 45. PAULO, Comentários à Lei Júlia
liam et Papiam. — Onera eius, qui in e Pápia, Livro III. — Os encargos da-
adoptionem datus est, ad patrem adop- quele que foi dado em adoção se trans-
tivum transferuntur. ferem para o pai adotivo.

46. ULPIANUS libro IV. ad Legem 46. ULPIANO, Comentários à Lei


Iuliam et Papiam. — In servitute mea Júlia e Pápia, Livro IV. — Por con-
quaesitus mihi filius in potestatem cessão do príncipe, o filho que tive na
meam redigi beneficio Principis potest; escravidão pode passar ao meu pátrio
libertinum tamen eum manere non du- poder, mas sem dúvida continuará sen-
bitatur. do liberto73.

73
Glossário, liberto.

123
Livro I – Título VIII Digesto

TITULUS VIII TÍTULO VIII


DE DIVISIONE RERUM ET DA DIVISÃO E DA QUALIDADE
QUALITATE DAS COISAS

1. GAIUS libro II. Institutionum. — 1. GAIO, Instituições, Livro II. — A


Summa rerum divisio in duos articulos principal divisão das coisas compreen-
deducitur; nam aliae sunt divini iuris, de duas partes: umas são de direito divi-
aliae humani. Divini iuris sunt veluti no, outras, de direito humano. As coisas
res sacrae et religiosae. Sanctae quoque de direito divino são, por assim dizer,
res, veluti muri et portae, quodammo- coisas sagradas e religiosas74. Coisas sa-
do divini iuris sunt. Quod autem divini gradas, por exemplo, muros e portões,
iuris est, id nullius in bonis est; id vero, são também, de certo modo, de direi-
quod humani iuris est, plerumque ali- to divino. O que, porém, é de direito
cuius in bonis est; potest autem et nul- divino não faz parte dos bens de nin-
lius in bonis esse; nam res hereditariae guém; mas o que é de direito humano,
antequam aliquis heres existat, nullius na maior parte das vezes, pertence aos
in bonis sunt. Hae autem res, quae hu- bens de alguém; mas pode também não
mani iuris sunt, aut publicae sunt, aut fazer parte dos bens de ninguém, pois
privatae; quae publicae sunt nullius in bens de herança, antes que haja um her-
bonis esse creduntur; ipsius enim uni- deiro, não pertencem a ninguém. Mas
versitatis esse creduntur. Privatae au- as coisas que são de direito humano ou
tem sunt, quae singulorum sunt. são públicas ou são privadas. As públi-
cas são tidas como bem de ninguém,
mas bens da coletividade. São, porém,
privadas as que pertencem a cada um.

§ 1. — Quaedam praeterea res corpo- § 1. Além disso, algumas coisas são


rales sunt, quaedam incorporales. Cor- materiais, outras imateriais. São mate-
porales hae sunt, quae tangi possunt, riais as coisas que podem ser tocadas,
veluti fundus, homo, vestis, aurum, ar- como terra, escravo, veste, ouro, prata,
gentum, et denique aliae res innumera- enfim, inúmeras coisas. São imateriais
biles. Incorporales sunt, quae tangi non as que não podem ser tocadas, isto é,
possunt; qualia sunt ea, quae in iure as coisas que consistem num direito,
consistunt, sicut hereditas, usufructus, como herança, usufruto, obrigações de
obligationes quoquo modo contractae. algum modo assumidas. Não vem ao
Nec ad rem pertinet, quod in heredi- caso o fato de haver na herança coisas
tate res corporales continentur; nam materiais, pois os frutos percebidos de
et fructus, qui ex fundo percipiuntur,
corporales sunt; et id, quod ex aliqua
obligatione nobis debetur, plerumque
74
Glossário, sanctum, sacrum, religiosum.

124
Digesto Livro I – Título VIII

corporale est, veluti fundus, homo, uma propriedade são físicos e aquilo
pecunia; nam ipsum ius successionis, que nos é devido por alguma obriga-
et ipsum ius utendi fruendi, et ipsum ção em geral é material, como terra, es-
ius obligationis incorporale est. Eodem cravo, dinheiro. Além disso, o próprio
numero sunt et iura praediorum urba- direito de sucessão, o próprio direito de
norum et rusticorum, quae etiam ser- usar, de fruir e o direito de obrigações é
vitutes vocantur. imaterial. Na mesma classe estão os di-
reitos de propriedade urbana e de pro-
priedade rural, que também se chamam
servidões.

2. MARCIANUS libro III. Institutio- 2. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Quaedam naturali iure com- III. — Algumas coisas são comuns a
munia sunt omnium, quaedam uni- todos pelo direito natural, outras per-
versitatis, quaedam nullius, pleraque tencem à coletividade, outras não são
singulorum, quae variis ex causis cui- de ninguém, a maior parte pertence
que acquiruntur. aos indivíduos, por eles de vários mo-
dos adquiridas.

§ 1. — Et quidem naturali iure om- § 1. São certamente comuns a todos,


nium communia sunt illa: aer, aqua pelo direito natural, o ar, a água corren-
profluens, et mare, et per hoc litora te, o mar e, por meio dele, a costa marí-
maris. tima.

3. FLORENTINUS libro VI. Institu- 3. FLORENTINO, Instituições, Li-


tionum. — Item lapilli, gemmae, ce- vro VI. — Do mesmo modo, pedras
teraque, quae in litore invenimus, iure preciosas, pérolas e demais coisas que
naturali nostra statim fiunt. achamos no litoral tornam-se imedia-
tamente nossas pelo direito natural.

4. MARCIANUS libro III. Institutio- 4. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Nemo igitur ad litus maris ac- III. — A ninguém, portanto, é proibido
cedere prohibetur piscandi causa, dum ter acesso ao litoral marítimo para pes-
tamen villis, et aedificiis, et monumen- car, desde que respeite a propriedade
tis abstineatur, quia non sunt iuris gen- de casas, construções e monumentos
tium, sicut et mare; idque et Divus Pius porque não são do direito das gentes,
piscatoribus Formianis et Capenatis como é o mar. Foi nesse sentido que o
rescripsit. divo Pio se pronunciou, por rescrito,
aos pescadores de Fórmia e de Capena.

125
Livro I – Título VIII Digesto

§ 1. — Sed flumina paene omnia et § 1. Mas quase todos os rios e portos


portus publica sunt. são públicos.

5. GAIUS libro II. Rerum quotidio- 5. GAIO, Diário, Livro II. — O uso das
narum sive aureorum. — Riparum margens é público conforme o direito
usus publicus est iure gentium, sicut das gentes, como o uso do próprio rio.
ipsius fluminis. Itaque navem ad eas Assim, é dado a qualquer um conduzir
appellere, funes ex arboribus ibi natis sua embarcação para a margem, atar
religare, retia siccare et ex mari redu- cordas em árvores ali nascidas, pôr re-
cere, onus aliquid in his reponere cui- des para secar e trazê-las do mar e nas
libet liberum est, sicuti per ipsum flu- margens depositar alguma carga, como
men navigare. Sed proprietas illorum também é livre a navegação pelo mes-
est, quorum praediis haerent; qua de mo rio. Mas a propriedade dessas mar-
causa arbores quoque in his natae eo- gens é daqueles cujas construções estão
rundem sunt. contíguas, razão pela qual são também
deles as árvores ali nascidas.

§ 1. — In mari piscantibus liberum est § 1. Pescadores de mar podem cons-


casam in litore ponere, in qua se reci- truir cabana na costa para se abriga-
piant, rem,

6. MARCIANUS libro III. Institutio- 6. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — in tantum, ut et soli domini III. — de modo que só se tornam donos
constituantur, qui ibi aedificant, sed aqueles que ali constroem e enquanto
quamdiu aedificium manet; alioquin durar a construção. Pelo contrário, des-
aedificio dilapso quasi iure postliminii moronada a construção, à semelhança
revertitur locus in pristinam causam do direito de poslimínio75, o solo volta à
et, si alius in eodem loco aedificaverit, sua condição anterior, e se outra pessoa
eius fiet. ali construir, o solo tornar-se-á dela.

§ 1. — Universitatis sunt, non singulo- § 1. Pertencem à coletividade, e não a


rum, veluti quae in civitatibus sunt the- indivíduos, coisas próprias de cidades,
atra, et stadia, et similia, et si qua alia como teatros, estádios e outros, como
sunt communia civitatum. Ideoque nec também outras coisas que são comuns
servus communis civitatis singulorum às cidades. Assim o escravo público não
pro parte intelligitur, sed universitatis. é considerado bem de indivíduos, mas
Et ideo tam contra civem, quam pro exclusivamente da coletividade. Por
eo posse servum civitatis torqueri Divi
Fratres rescripserunt. Ideo et libertus
civitatis non habet necesse veniam
75
Glossário, poslimínio.

126
Digesto Livro I – Título VIII

Edicti petere, si vocet in ius aliquem ex isso, os divos Irmãos76 determinam,


civibus. por rescrito, que um escravo da cida-
de pode ser torturado tanto contra um
cidadão como a favor dele. Pela mesma
razão, o liberto de uma cidade não tem
necessidade de se valer do Edito para
processar um cidadão.

§ 2. — Sacrae res, et religiosae, et sanc- § 2. As coisas sagradas, pias e santas


tae in nullius bonis sunt. não são bens de ninguém77.

§ 3. — Sacrae autem res sunt hae, quae § 3. Coisas sagradas são coisas públi-
publice consecratae sunt, non private; cas e não particularmente dedicadas;
si quis ergo privatim sibi sacrum cons- se alguém, portanto, constituir algo sa-
tituerit, sacrum non est, sed profanum. grado para si próprio, isso não é sagra-
Semel autem aede sacra facta, etiam di- do, mas profano. Mas, uma vez sagrado
ruto aedificio locus sacer manet. um edifício, mesmo se demolido, o lo-
cal permanece sagrado.

§ 4. — Religiosum autem locum unus- § 4. Cada qual torna voluntariamente


quisque sua voluntate facit, dum mor- um lugar inviolável, quando ali enter-
tuum infert in locum suum. In com- ra algum morto. Mas é lícito enterrar
mune autem sepulcrum etiam invitis numa sepultura comum mesmo con-
ceteris licet inferre. Sed et in alienum tra a vontade dos demais. Mas é licito
locum concedente domino licet infer- enterrar em lugar alheio com a autori-
re, et licet postea ratum habuerit, quam zação do dono, e mesmo se ratificado
illatus est mortuus, religiosus locus fit. depois do sepultamento do morto, o
lugar se torna inviolável.

§ 5. — Cenotaphium quoque magis § 5. Túmulo honorário é também con-


placet locum esse religiosum, sicut tes- siderado como lugar inviolável, como o
tis in ea re est Virgilius; atesta Virgílio;

7. ULPIANUS libro XXV. ad Edic- 7. ULPIANO, Comentários ao Edito,


tum. — sed Divi Fratres contra res- Livro XXV. — mas os divos Irmãos, em
cripserunt.

76
Glossário, Dois Irmãos.
77
Glossário, sanctum, sacrum, religiosum.

127
Livro I – Título VIII Digesto

rescrito, pronunciaram-se contraria-


mente78.

8. MARCIANUS libro IV. Regularum. 8. MARCIANO, Regras, Livro IV. — É


— Sanctum est, quod ab iniuria homi- inviolável tudo o que é resguardado e
num defensum atque munitum est. protegido contra a profanação.

§ 1. — Sanctum autem dictum est a § 1. Diz-se que o termo sanctum (invio-


sagminibus. Sunt autem sagmina quae- lável) vem de sagmen (verbena). Sagmen
dam herbae, quas legati populi Romani é uma espécie de erva que os legados do
ferre solent, ne quis eos violaret, sicut povo romano costumam usar para que
legati Graecorum ferunt ea, quae vo- se respeite sua imunidade, do mesmo
cantur cerycia. modo que os legados dos gregos portam
o que eles chamam de caduceu.

§ 2. — In municipiis quoque muros § 2. Cássio conta que Sabino teria


esse sanctos, Sabinum recte respondis- acertadamente respondido que os mu-
se Cassius refert, prohiberique oporte- ros dos municípios também são santos
re, ne quid in his immitteretur. (invioláveis) e que convinha estabele-
cer que neles nada se introduzisse.

9. ULPIANUS libro LXVIII. ad Edic- 9. ULPIANO, Comentários ao Edito,


tum. — Sacra loca ea sunt, quae pu- Livro LXVIII. — São sagrados os locais
blice sunt dedicata, sive in civitate, sint, publicamente dedicados, quer na cida-
sive in agro. de, quer no campo.

§ 1. — Sciendum est, locum publicum § 1. Convém saber que um local públi-


tunc sacrum fieri posse, quum Prin- co pode então tornar-se sagrado quan-
ceps eum dedicavit, vel dedicandi dedit do o príncipe o dedicou ou deu poder
potestatem. de dedicá-lo.

§ 2. — Illud notandum est, aliud esse § 2. É bom saber que local sagrado e
sacrum locum, aliud sacrarium; sacer sacrário são coisas distintas. Local sa-
locus est locus consecratus; sacrarium grado é um local consagrado; sacrário
est locus, in quo sacra reponuntur, é o local onde se guardam coisas sagra-
quod etiam in aedificio privato esse das, que pode, inclusive, estar em edi-
potest; et solent, qui liberare eum lo- fício particular, e quem quer destituir
cum religione volunt, sacra inde evo-
care.
78
Glossário, Dois Irmãos.

128
Digesto Livro I – Título VIII

um lugar de inviolabilidade costuma


dali retirar as coisas sagradas.

§ 3. — Proprie dicimus sancta, quae § 3. Chamamos propriamente de san-


neque sacra, neque profana sunt, sed tas (invioláveis) coisas que não são nem
sanctione quadam confirmata, ut leges sagradas nem profanas, mas são prote-
sanctae sunt, sanctione enim quadam gidas por alguma sanção. Assim são as
sunt subnixae; quod enim sanctione leis, pois apoiadas em alguma sanção;
quadam subnixum est, id sanctum est, o que se apoia em alguma sanção, isso
etsi Deo non sit consecratum. Et inter- é santo, embora não seja consagrado a
dum in sanctionibus adiicitur, ut, qui Deus. E às vezes se acrescenta à sanção
ibi aliquid commisit, capite puniatur. que se alguém atentar contra o sancio-
nado seja punido de morte.

§ 4. — Muros autem municipales nec § 4. Não é lícito, porém, reformar


reficere licet sine Principis vel Praesidis muralhas municipais, nem algo a elas
auctoritate, nec aliquid iis coniungere acrescentar ou lhes sobrepor sem a au-
vel superponere. torização do príncipe ou do governador.

§ 5. — Res sacra non recipit aestima- § 5. Coisa sagrada não tem preço.
tionem.

10. POMPONIUS libro VI. ex Plau- 10. POMPÔNIO, Doutrina de Pláucio,


tio. — Aristo ait, sicut id, quod in mare Livro VI. — Diz Aristão que do mesmo
aedificatum sit, fieret privatum, ita modo que se torna particular o que se
quod mari occupatum sit, fieri publi- constrói no mar, assim também se tor-
cum. na público o que o mar ocupa.

11. POMPONIUS libro II. ex variis 11. POMPÔNIO, Doutrina de Vários


lectionibus. — Si quis violaverit mu- Autores, Livro II. — Se alguém violar
ros, capite punitur, sicuti si quis transs- muralhas será punido de morte, do
cendet scalis admotis vel alia qualibet mesmo modo quem as transpõe por
ratione; nan cives Romanos alia, quam meio de escadas ou de qualquer outra
per portas, egredi non licet, quum il- forma, pois não é permitido a um ci-
lud hostile et abominandum sit; nam et dadão romano sair de outro modo que
Romuli frater Remus occisus traditur não seja pelos portões. É hostil e con-
ob id, quod murum transscendere vo- denável fazê-lo de outra forma. Conta-
luerit. -se que Remo, irmão de Rômulo, foi
morto por causa disso, por ter querido
passar por cima da muralha.

129
Livro I – Título IX Digesto

TITULUS IX TÍTULO IX
DE SENATORIBUS DOS SENADORES

1. ULPIANUS libro LXII. ad Edictum. 1. ULPIANO, Comentários ao Edito,


— Consulari feminae utique Consula- Livro LXII. — Em geral ninguém du-
rem virum praeferendum nemo ambi- vida que um cidadão da classe consu-
git. Sed vir Praefectorius an Consuluari lar tem precedência sobre esposa da
feminae praeferatur, videndum. Putem classe consular. Mas teria um cidadão
praeferri, quia maior dignitas est in da classe prefeitoral precedência sobre
sexu virili. mulher da classe consular. Eu diria que
sim, pois há mais dignidade no sexo vi-
ril79.

§ 1. — Consulares autem feminas dici- § 1. Chamamos de mulher da classe


mus Consularium uxores; adiicit Satur- consular esposas de ex-cônsules. Sa-
ninus etiam matres, quod nec usquam turnino acrescenta também as mães,
relatum est, nec unquam receptum. mas não há registro disso, nem nunca
foi admitido.

2. MARCELUS libro III. Digestorum. 2. MARCELO, Digesto, Livro III. —


— Cassius Longinus non putat ei per- Cássio Longino é de parecer que não
mittendum, qui propter turpitudinem deve ser permitido a alguém, expulso
Senatu motus nec restitutus est, iudi- do Senado por falta de decoro e não te-
care, vel testimonium dicere, quia lex nha sido reabilitado, julgar ou testemu-
Iulia repetundarum hoc fieri vetat. nhar, porque a Lei Júlia sobre peculato
o proíbe.

3. MODESTINUS libro VI. Regula- 3. MODESTINO, Regras, Livro VI.


rum. — Senatorem remotum Senatu — Os imperadores Severo e Antonino
capite non minui, sed Romae morari permitiram que um senador afastado
Divus Severus et Antoninus permise- do Senado não perdesse seus direitos
runt. civis (capitis diminutio) e continuasse
residindo em Roma.

79
Os romanos tinham em muito apreço a ascen-
dência das pessoas cujos títulos geravam o que
se poderia chamar de hierarquia social cons-
tituída por classes. Havia assim as classes se-
natórias, consulares, pretórias constituídas de
descendentes de detentores dessas dignidades.

130
Digesto Livro I – Título IX

4. POMPONIUS libro XII. ex variis 4. POMPÔNIO, De Diversos Autores,


lectionibus. — Qui indignus est infe- Livro XII. — Quem é indigno de uma
riore ordine, indignior est superiore. classe inferior, mais indigno é de uma
superior.

5. ULPIANUS libro I. ad Legem Iu- 5. ULPIANO, Comentários à Lei Júlia


liam et Papiam. — Senatoris filium e Pápia, Livro I. — Devemos reconhe-
accipere debemus non tantum eum, cer como filho de senador não só o na-
qui naturalis est, verum adoptivum tural mas também o adotivo; não inte-
quoque; neque intererit, a quo, vel qua- ressa de quem tenha sido adotado e de
liter adoptatus fuerit; nec interest, iam que classe social provenha. Tampouco
in Senatoria dignitate constitutus eum importa se o adotou já na dignidade de
susceperit, an ante dignitatem Senato- Senador ou antes disso.
riam.

6. PAULUS libro II. ad Legem Iuliam 6. PAULO, Comentários à Lei Júlia e


et Papiam. — Senatoris filius est et is, Pápia, Livro II. — Filho de Senador é
quem in adoptionem accepit, quamdiu também aquele que foi adotado, mas
tamen in familia eius manet; emanci- só pelo tempo em que permaneceu na
patus vero nomen filii emancipatione família; emancipado, perde o título de
amittit. filho.

§ 1. — A Senatore in adoptionem filius § 1. Um filho dado em adoção por um


datus ei, qui inferioris dignitatis est, senador a alguém de dignidade infe-
quasi Senatoris filius videtur; quia non rior é considerado filho de senador,
amittitur Senatoria dignitas adoptione pois não perde a dignidade senatorial
inferioris dignitatis, non magis, quam pela adoção de dignidade inferior, do
ut Consularis desinat esse. mesmo modo que um ex-cônsul não
deixa de ser da classe consular.

7. ULPIANUS libro I. ad Legem Iu- 7. ULPIANO, Comentários à Lei Júlia


liam et Papiam. — Emancipatum a e Pápia, Livro I. — Considera-se filho
patre Senatore quasi Senatoris filium de senador o emancipado por pai sena-
haberi placet. dor80.

80
Não há contradição com o item 6 supra. Ali se
trata de filho adotivo e nesse item 7 não se fala
de adoção, daí se pressupor tratar-se de filho
natural.

131
Livro I – Título IX Digesto

§ 1. — Item Labeo scribit, etiam eum, § 1. Do mesmo modo escreve Labeão


qui post mortem patris Senatoris na- que é também considerado filho de se-
tus sit, quasi Senatoris filium esse. Sed nador aquele que nasce após a morte
eum, qui, posteaquam pater eius de Se- de pai senador. Na opinião, porém, de
natu motus est, concipitur et nascitur, Próculo e Pégaso, o filho concebido e
Proculus et Pegasus opinantur non esse nascido após o pai senador ter sido afas-
quasi Senatoris filium. Quorum sen- tado do Senado não é considerado filho
tentia vera est; nec enim proprie Sena- de senador. Opinião correta, pois não
toris filius dicetur is, cuius pater Senatu se dirá filho propriamente de senador
motus est, antequam iste nasceretur. Si aquele cujo pai foi afastado do Senado
quis conceptus quidem sit, antequam antes de seu nascimento. Mas, se con-
pater eius Senatu moveatur, natus au- cebido antes de ser o pai afastado do Se-
tem post patris amissam dignitatem, nado e nascido, porém, após a perda da
magis est, ut quasi Senatoris filius in- dignidade pelo pai, há mais razão para
telligatur; tempus enim conceptionis ser considerado como filho de senador,
spectandum plerisque placuit. pois, segundo muitos entendem, o mo-
mento a se levar em conta é o da con-
cepção.

§ 2. — Si quis et patrem, et avum ha- § 2. Se alguém tem pai e avô senado-


buerit Senatorem, et quasi filius, et res, entende-se como não só filho mas
quasi nepos Senatoris intelligitur. Sed neto de senador. Mas, se o pai tiver per-
si pater amiserit dignitatem ante con- dido essa dignidade antes da concep-
ceptionem huius, quaeri poterit, an, ção dele, pode-se indagar se, embora
quamvis quasi Senatoris filius non in- não seja considerado filho de senador,
telligatur, quasi nepos tamen intelligi deva ser considerado neto de senador.
debeat? Et magis est, ut debeat; ut avi É mais do que justo que assim o seja,
potius ei dignitas prosit, quam obsit ca- uma vez que a dignidade do avô lhe é
sus patris. mais vantajosa do que o infortúnio do
pai.

8. IDEM libro VI. Fideicommisso- 8. IDEM Fideicomissos, Livro VI. —


rum. — Feminae nuptae clarissimis Mulheres casadas com pessoas ilustres
personis clarissimarum personarum incluem-se na categoria de pessoas
appellatione continentur. Clarissima- honoráveis. Não se consideram como
rum feminarum nomine Senatorum fi- mulheres honoráveis filhas de senado-
liae, nisi quae viros clarissimos sortitae res, a menos que casem com homens
sunt, non habentur; feminis enim dig- ilustres; pois os maridos transmitem às
nitatem clarissimam mariti tribuunt, mulheres sua dignidade, enquanto os
parentes vero donec plebeii nuptiis pais só o fazem quando a filha se casa

132
Digesto Livro I – Título IX

fuerint copulatae. Tamdiu igitur cla- com plebeu81. Assim, a mulher será,
rissima femina erit, quamdiu Senatori portanto, honorável enquanto estiver
nupta est, vel clarissimo, aut separata casada com senador ou com varão ilus-
ab eo alii inferioris dignitatis non nup- tre ou, se dele separada, não se casar
sit. com alguém de dignidade inferior.

9. PAPINIANUS libro IV. Respon- 9. PAPINIANO, Respostas, Livro IV.


sorum. — Filiam Senatoris nuptias — O infortúnio do pai não legitima o
liberti secutam patris casus non facit casamento de filha de senador com li-
uxorem; nam quaesita dignitas liberis berto, pois os filhos não devem ser pri-
propter casum patris remoti a Senatu vados de uma dignidade adquirida por
auferenda non est. causa do infortúnio do pai afastado do
Senado.

10. ULPIANUS libro XXXIV. ad 10. ULPIANO, Comentários ao Edi-


Edictum. — Liberos Senatorum acci- to, Livro XXXIV. — Devemos conside-
pere debemus non tantum Senatorum rar filhos de senadores não só os filhos
filios, verum omnes, qui geniti ex ipsis de senadores mas todos os que são tidos
exve liberis eorum dicantur; sive natu- como gerados por eles ou por filhos de-
rales, sive adoptivi sint liberi Senato- les; naturais ou adotivos, são filhos de
rum, ex quibus nati dicuntur. Sed si ex senadores dos quais se dizem nascidos.
filia Senatoris natus sit, spectare debe- Mas, se nascido de filha de senador, há
mus patris eius conditionem. que considerar a condição social do pai.

11. PAULUS libro XLI. ad Edictum. 11. PAULO, Comentários ao Edito,


— Senatores, licet in urbe domicilium Livro XLI. — Os senadores, embora
habere videantur, tamen et ibi, unde
oriundi sunt, habere domicilium intel-
liguntur, quia dignitas domicilii adiec- 81
Na época de Ulpiano (sec. II), a classe plebeia
tionem potius dedisse, quam permu- já gozava de todos os direitos sociais e polí-
tasse videtur. ticos na comunidade romana. Os casamentos
entre patrícios e plebeus não só já eram legí-
timos mas comuns. Como os plebeus não ti-
nham títulos honoríficos, filhas de senadores
casadas com plebeus, mantinham sua digni-
dade senatorial. Quando casadas, porém, com
cidadãos portadores de títulos, deixavam de
ser “filhas de senadores” para seguir a dignida-
de do esposo. Com relação a escravos, inclusi-
ve libertos, permanecia o impedimento, daí a
ilegitimidade da união, pois a filha de senador
não perdia a condição de “filha de senador”,
mesmo com o pai afastado do Senado.

133
Livro I – Títulos IX e X Digesto

tenham domicílio em Roma, têm tam-


bém domicílio no lugar de onde vie-
ram, pois sua dignidade o habilita a ter
mais de um domicílio, em vez de forçá-
-lo a trocar um pelo outro.

12. ULPIANUS libro II. de Censibus. 12. ULPIANO, Dos censos, Livro II.
— Nuptae prius Consulari viro impe- — Mulheres antes casadas com cida-
trare solent a Principe, quamvis perra- dão de dignidade consular costumam,
ro, ut nuptae iterum minoris dignitatis embora raramente, pedir ao príncipe,
viro nihilominus in Consulari maneant depois de contraírem novas núpcias
dignitate; ut scio Antoninum Augus- com cidadão de dignidade inferior, a
tum Iuliae Mamaeae consobrinae suae manutenção de sua dignidade anterior.
indulsisse. Conforme é de meu conhecimento,
Antonino Augusto teria atendido à sua
prima Júlia Mamea.

§ 1. — Senatores autem accipiendum § 1. Pertencem à classe senatorial to-


est eos, qui a Patriciis et Consulibus dos que descendem de patrícios e côn-
usque ad omnes illustres viros descen- sules e todo cidadão ilustre, pois, de
dunt; quia et hi soli in Senatu senten- fato, só eles podem falar no Senado.
tiam dicere possunt.

TITULUS X TÍTULO X
DE OFFICIO CONSULIS DA FUNÇÃO DE CÔNSUL82

1. ULPIANUS libro II. de officio Con- 1. ULPIANO, Da Função de Cônsul,


sulis. — Officium Consulis est, consi- Livro II. — É função do cônsul dar
lium praebere manumittere volentibus. orientação a pessoas que queiram al-
forriar.

§ 1. — Consules et seorsum singuli § 1. Os cônsules alforriam cada um


manumittunt; sed non potest is, qui em separado. Mas quem requereu a
apud alterum nomina ediderit, apud um não pode alforriar diante do outro,
alterum manumittere; separatae enim pois cada alforria83 é uma ação distin-
sunt manumissiones. Sane si qua ex
causa collega manumittere non poterit,
infirmitate vel aliqua iusta causa impe-
82
Glossário, cônsul.
83
Glossário, alforria.

134
Digesto Livro I – Títulos X e XI

ditus, collegam posse manumissionem ta. Mas, se, por algum motivo, um não
expedire, Senatus censuit. puder alforriar, impedido por doença
ou outro motivo justo, seu colega, por
decisão do Senado, pode proceder à al-
forria.

§ 2. — Consules apud se servos suos § 2. Não há dúvida de que o cônsul


manumittere posse, nulla dubitatio est. pode por si mesmo alforriar seus escra-
Sed si evenerit, ut minor viginti annis vos. Mas, se por acaso tiver menos de
Consul sit, apud se manumittere non vinte anos, não poderá proceder à al-
poterit, quum ipse sit, qui ex Sena- forria, embora seja ele que, por decreto
tusconsulto consilii causam examinat; do Senado, instrui a questão; mas, uma
apud collegam vero, causa probata, po- vez aprovada, ele pode alforriar diante
test. de seu colega.

TITULUS XI TÍTULO XI
DE OFFICIO PRAEFECTI DA FUNÇÃO DE PREFEITO DE
PRAETORIO PRETÓRIO84

1. AURELIUS ARCADIUS CHARI- 1. AURÉLIO ARCÁDIO CARÍSIO,


SIUS, Magister libellorum, libro sin- Oficial de registro, Sobre a Função de
gulari de officio Praefecti praetorio. Prefeito de Pretório, Livro Único. —
— Breviter commemorare necesse est, É preciso lembrar, em breves termos,
unde constituendi Praefectorum prae- a origem da instituição de prefeitos de
torio officio origo manaverit. Ad vicem pretório. Segundo alguns escritores,
Magistri equitum Praefectos praetorio os prefeitos de pretório foram instituí-
antiquitus institutos esse, a quibusdam dos na antiguidade para fazer as vezes
scriptoribus traditum est. Nam quum de comandante da cavalaria. Como
apud veteres Dictatoribus ad tempus antigamente se concedia a ditadores
summa potestas crederetur, et Magis- o supremo poder, por tempo deter-
tros equitum sibi eligerent, qui associa- minado, esses, por sua vez, escolhiam
ti participales curae ac militiae gratia, os comandantes da cavalaria que, até
secundam post eos potestatem gere- certo ponto, partilhavam o governo e
rent, regimentis reipublicae ad Impera- o comando das milícias, para serem
tores perpetuos translatis, ad similitu- seus substitutos imediatos no poder.
dinem Magistrorum equitum Praefecti Transferidas essas normas da repúbli-
Praetorio a Principibus electi sunt, data
iis pleniore licentia ad disciplinae pu-
blicae emendationem.
84
Glossário, prefeitos.

135
Livro I – Título XI Digesto

ca para os imperadores perpétuos, os


prefeitos de pretório, à semelhança dos
comandantes da cavalaria, passaram
a ser escolhidos pelos príncipes, com
poder ainda maior de manter a ordem
pública.

§ 1. — His cunabulis Praefectorum § 1. Com esses antecedentes, a autori-


auctoritas initiata in tantum meruit au- dade dos prefeitos aumentou tanto que
geri, ut appellari a Praefectis Praetorio suas decisões passaram a ser irrecorrí-
non possit. Nam quum ante quaesitum veis. Pois como anteriormente já se ti-
fuisset, an liceret a Praefectis Praeto- vesse levantado a questão se seria permi-
rio appellare, et iure liceret, et extarent tido apelar contra prefeitos de pretório,
exempla eorum, qui provocarerint, e de fato o fosse de direito e se citassem
postea publice sententia Principali exemplos de quem o fizera, posterior-
lecta appellandi facultas interdicta est; mente, por decisão do príncipe, lida
credidit enim Princeps, eos, qui ob sin- publicamente, foi vetada a faculdade
gularem industriam explorata eorum de apelação. Acreditava o príncipe que
fide et gravitate ad huius officii magni- aqueles que, por seus conhecimentos
tudinem adhibentur, non aliter iudica- singulares, depois de comprovada sua
turos esse pro sapientia ac luce dignita- fidelidade e seriedade, foram elevados
tis suae, quam ipse foret iudicaturus. à dignidade desse ofício não haveriam
de julgar, tendo em vista sua sabedoria
e o brilho de sua dignidade, de manei-
ra diferente de como julgaria o próprio
príncipe.

§ 2. — Subnixi sunt etiam alio privile- § 2. Os prefeitos de pretório foram


gio Praefecti Praetorio, ne a sententiis também dotados de outro privilégio,
eorum minores aetate ab aliis magis- de que menores de idade alcançados
tratibus, nisi ab ipsis Praefectis Praeto- por suas decisões não podiam ser re-
rio, restitui possint. abilitados por outros magistrados, mas
só pelos próprios prefeitos de pretório.

136
Digesto Livro I – Título XII

TITULUS XII TÍTULO XII


DE OFFICIO PRAEFECTI URBI DA FUNÇÃO DE PREFEITO DE
ROMA85

1. ULPIANUS libro singulari de offi- 1. ULPIANO, Da Função de Prefeito


cio Praefecti Urbi. — Omnia omnino de Roma, Livro Único. — Em carta a
crimina Praefectura Urbis sibi vindica- Fábio Cilão, prefeito de Roma, o impe-
vit, nec tantum ea, quae intra Urbem rador Severo declara que a Prefeitura
admittuntur, verum ea quoque, quae de Roma tinha jurisdição sobre todos
extra Urbem intra Italiam Epistola Divi os crimes, não só os cometidos dentro
Severi ad Fabium Cilonem, Praefectum da Cidade mas também fora dela, mas
Urbi, missa declaratur. dentro da Itália86.

§ 1. — Servos, qui ad statuas confuge- § 1. Ouvirá escravos que se queixam


rint, vel sua pecunia emtos, ut manu- de seus senhores, que se refugiam jun-
mittantur, de dominis querentes au- to a estátuas ou tenham sido compra-
diet. dos com seu próprio dinheiro com vis-
ta à alforria.

§ 2. — Sed et patronos egentes de suis § 2. Mas ouvirá também senhores po-


libertis querentes audiet, maxime si bres que se queixam de seus libertos,
aegros se esse dicant, desiderentque a principalmente se alegam estar doentes
libertis exhiberi. e querem ser mantidos por eles.

§ 3. — Relegandi deportandique in in- § 3. Tem a faculdade de desterrar e de


sulam, quam Imperator assignaverit, deportar para alguma ilha que o impe-
licentiam habet. rador tiver designado.

§ 4. — Initio eiusdem Epistolae ita § 4. Lê-se no início da mesma carta:


scriptum est: “Quum Urbem nostram “Tendo confiado nossa Cidade à tua
fidei tuae commiserimus”. Quidquid fidelidade”. Portanto, o que quer que se
igitur intra Urbem admittitur, ad Prae- cometa dentro da Cidade parece ser da
fectum Urbi videtur pertinere; sed et
si quid intra centesimum milliarium
admissum sit, ad Praefectum Urbi per- 85
Glossário, prefeitos.
tinet, si ultra ipsum lapidem, egressum 86
Segundo Monsen (apud Charles Henry Mon-
est Praefecti Urbi notionem. ro, The Digest of Justinian, V. 1, Cambridge,
1904), intra Italiam não é correto ou se trata
de grosseira interpolação. De fato, o § 4 deste
mesmo item estabelece o limite da jurisdição
do prefeito da Cidade.

137
Livro I – Título XII Digesto

competência do prefeito da Urbe. Mas,


se algo for cometido dentro do centé-
simo miliário, será também da compe-
tência do prefeito de Roma; além desse
marco, a ocorrência escapa à sua com-
petência.

§ 5. — Si quis servum suum adul- § 5. É da competência do prefeito da


terium commisisse dicat in uxorem Cidade ouvir senhor que acusa seu
suam, apud Praefectum Urbi erit au- escravo de cometer adultério com sua
diendus. esposa.

§ 6. — Sed ex interdictis “Quod vi aut § 6. Poderá também abrir processo


clam”, aut interdicto “Unde vi” audire com fundamento nos interditos Quod
potest. vi aut clam ou Unde vi87.

§ 7. — Solent ad Praefecturam Urbis § 7. Costumam também ser subme-


remitti etiam tutores sive curatores, qui tidos à Prefeitura de Roma tutores ou
male in tutela sive cura versati gravio- curadores que se conduziram mal na
re animadversione indigent, quam ut tutela ou curatela e precisam ser pu-
sufficiat iis suspectorum infamia; quos nidos mais rigorosamente do que lhes
probari poterit vel numis datis tutelam bastaria a infâmia de suspeitos: aqueles
occupasse, vel praemio accepto operam que comprovadamente conseguiram a
dedisse, ut non idoneus tutor alicui da- tutela por propina ou que, por propina,
retur, vel consulto circa edendum pa- se tiverem empenhado para que fosse
trimonium quantitatem minuisse, vel dado a alguém tutor inidôneo, ou que
evidenti fraude pupilli bona alienasse. deliberadamente, ao restituir o patri-
mônio, reduz seu acervo ou com com-
provada fraude tenha alienado bens do
tutelado.

§ 8. — Quod autem dictum est, ut ser- § 8. O acima dito, isto é, que compete
vos de dominis querentes Praefectus ao prefeito ouvir escravos queixosos de
audiat, sic accipiemus: non accusantes seus senhores, assim entendemos: que
dominos, hoc enim nequaquam servo não processem criminalmente seus
permittendum est, nisi ex causis re- donos; isso jamais pode ser permitido,
ceptis, sed si verecunde expostulent si a não ser em casos excepcionais, mas
saevitiam, si duritiam, si famem, qua
eos premant, si obscoenitatem, in qua
eos compulerint vel compellant, apud
87
Glossário, interdito.

138
Digesto Livro I – Título XII

Praefectum Urbi exponant. Hoc quo- que, respeitosamente, exponham ao


que officium Praefecto Urbi a Divo Se- prefeito estarem sendo submetidos a
vero datum est, ut mancipia tueatur, ne maus-tratos, rigor excessivo, fome; se
prostituantur. tiverem sido ou são compelidos à obs-
cenidade. O imperador Severo reco-
mendou também ao prefeito de Roma
que cuidasse para que os escravos não
fossem forçados à prostituição.

§ 9. — Praeterea curare debebit Pra- § 9. Além disso, o prefeito de Roma


efectus Urbi, ut numularii probe se deverá cuidar que os cambistas se con-
agant circa omne negotium suum, et duzam com probidade em suas transa-
temperent his, quae sunt prohibita. ções e se abstenham do que é proibido.

§ 10. — Quum patronus contemni se a § 10. Quando um senhor disser que


liberto dixerit, vel contumeliosum sibi é menosprezado por seu liberto ou se
libertum queratur vel convicium se ab queixar de ser por ele afrontado ou de
eo passum liberosque suos vel uxorem, ter sido ele, seus filhos e esposa trata-
vel quid huic simile obiiciat, Praefectus dos insultuosamente por ele, ou coisa
Urbi adiri solet, et pro modo querelae que valha, costuma-se recorrer ao pre-
corrigere eum, aut comminari, aut fus- feito; este, de hábito, conforme a queixa,
tibus castigare, aut ulterius procedere in o repreende, ameaça, pune com açoites
poena eius solet; nam et puniendi ple- ou lhe aplica pena mais severa, pois
rumque sunt liberti. Certe si se delatum também os libertos às vezes devem ser
a liberto, vel conspirasse eum contra se castigados. Se provar ter sido acusado
cum inimicis doceat, etiam metalli poe- de crime por seu liberto ou que esse
na in eum statui debet. conspirou contra ele com seus inimigos,
deve também decretar sua condenação
às minas.

§ 11. — Cura carnis omnis, ut iusto § 11. Compete à Prefeitura cuidar que
pretio praebeatur, ad curam Praefectu- a carne seja oferecida por preço justo.
rae pertinet; et ideo et forum suarium Está também a seu encargo cuidar do
sub ipsius cura est; sed et ceteorum mercado de suínos. Cumpre-lhe, po-
pecorum sive armentorum, quae ad rém, supervisionar do mesmo modo
huiusmodi praebitionem spectant, ad o comércio de carne dos demais reba-
ipsius curam pertinent. nhos.

§ 12. — Quies quoque popularum, et § 12. Parece caber ainda ao prefeito da


disciplina spectaculorum ad Praefecti Cidade cuidar da tranquilidade públi-

139
Livro I – Título XII Digesto

Urbi curam pertinere videtur; et sane ca e da ordem nos espetáculos. E cer-


debet etiam dispositos milites statio- tamente deve ter guardas armados dis-
narios habere ad tuendam popularium postos em diversos locais para garantir
quietem, et ad referendum sibi, quid a ordem pública e pô-lo a par de tudo o
ubi agatur. que se passa.

§ 13. — Et urbe interdicere Praefectus § 13. O prefeito de Roma pode inter-


Urbi, et qua alia solitarum regionum ditar alguém de residir em Roma e em
potest, et negotiatione, et professione, qualquer de seus bairros e pode proi-
et advocationibus, et foro, et ad tem- bir, temporária ou permanentemen-
pus, et in perpetuum. Interdicere pote- te, atividades comerciais, exercício de
rit et spectaculis et, si quem releget ab profissão, de advocacia, e direito de
Italia, summovere eum etiam a provin- foro. Poderá também proibir espetácu-
cia sua. los e, se desterrar alguém da Itália, po-
derá também bani-lo de sua província
de origem.

§ 14. — Divus Severus rescripsit, eos § 14. Por rescrito do imperador Severo
etiam, qui illicitum collegium coisse devem ser levados ao prefeito de Roma
dicuntur, apud Praefectum Urbi accu- acusados de se terem reunido em asso-
sandos. ciação ilícita.

2. PAULUS libro singulari de officio 2. PAULO, Sobre a Função de Pre-


Praefecti Urbi . — Adiri etiam ab ar- feito de Roma, Livro Único. — Pode,
gentariis, vel adversus eos ex Epistola também, conforme carta do imperador
Divi Hadriani et in pecuniariis causis Adriano, ouvir a banqueiros ou receber
potest. queixas contra eles em assuntos finan-
ceiros.

3. ULPIANUS libro II. ad Edictum. — 3. ULPIANO, Comentários ao Edito,


Praefectus Urbi, quum terminos Urbis Livro II. — Ao sair dos limites da Cida-
exierit, potestatem non habet; extra de, o prefeito de Roma não tem poder
Urbem potest iubere iudicare. de julgar; mas pode designar juiz para
fazê-lo.

140
Digesto Livro I – Título XIII

TITULUS XIII TÍTULO XIII


DE OFFICIO QUAESTORIS DA FUNÇÃO DE QUESTOR88

1. ULPIANUS libro singulari de offi- 1. ULPIANO, Da Função de Questor,


cio Quaestoris. — Origo Quaestoribus Livro único. — É antiquíssima a ori-
creandis antiquissima est, et paene ante gem da criação de questores, provavel-
omnes magistratus. Gracchanus deni- mente antes mesmo dos próprios ma-
que Iunius libro septimo de Potestati- gistrados. Gracano Júnio, em seu Livro
bus, etiam ipsum Romulum et Numam VII sobre “autoridades”, informa que o
Pompilium binos Quaestores habuisse, próprio Rômulo e Numa Pompílio te-
quos ipsi non sua voce, sed populi suf- riam tido cada um dois questores que
fragio crearent, refert. Sed sicuti du- não foram instituídos por eles mesmos,
bium est, an Romulo et Numa regnan- mas por voto popular. Embora haja dú-
tibus Quaestor fuerit, ita Tullo Hostilio vida sobre se teria havido algum ques-
rege Quaestores fuisse certum est. Sane tor nos reinados de Rômulo e Numa,
crebrior apud veteres opinio est, Tul- com certeza os houve no reinado de
lum Hostilium primum in Rempubli- Tulo Hostílio. De fato, a opinião mais
cam induxisse Quaestores. constante entre os antigos é de que
Tulo Hostílio teria sido o primeiro a
introduzir questores na administração
pública.

§ 1. — Et a genere quaerendi Quaesto- § 1. E, segundo Júnio, Trebácio e


res initio dictos et Iunius, et Trebatius, Fenestela, a razão de serem assim cha-
et Fenestella scribunt. mados questores teria decorrido de sua
função investigatória.

§ 2. — Ex Quaestoribus quidam sole- § 2. Era costume, por decreto do Sena-


bant provincias sortiri ex Senatuscon- do, que entre alguns questores se sor-
sulto, quod factum est Decimo Druso teassem as províncias, como aconteceu
et Porcina Consulibus. Sane non om- nos consulados de Décimo Druso e de
nes Quaestores provincias sortieban- Porcina. Mas, na verdade, nem todos os
tur, verum excepti erant Candidati questores recebiam província por sor-
Principis; hi etenim solis libris Princi- teio, pois se excetuavam os chamados
palibus in Senatu legendis vacant. candidatos do príncipe; esses só tinham
por ofício ler mensagens do imperador
no Senado.

88
Glossário, questor.

141
Livro I – Títulos XIII e XIV Digesto

§ 3. — Hodieque obtinuit, indifferen- § 3. Hoje é indiferente que questores


ter Quaestores creari tam patricios, sejam instituídos tanto dentre patrícios
quam plebeios; ingressus est enim et como dentre plebeus, por se tratar de
quasi primordium gerendorum hono- mero início de carreira no serviço pú-
rum sententiaeque in Senatu dicendae. blico ou de emitir pareceres para o Se-
nado.

§ 4. — Ex his, sicut dicimus, quidam § 4. Desses, como já dissemos, alguns


sunt, qui Candidati Principis diceban- são candidatos do príncipe, cujo ofício
tur, quique epistolas eius in Senatu le- é ler as cartas do imperador no Senado.
gunt.

TITULUS XIV TÍTULO XIV


DE OFFICIO PRAETORUM DA FUNÇÃO DE PRETOR89

1. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 1. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Apud filiumfamilias Praeto- Livro XXVI. — Um pai cujo filho é
rem potest pater eius manumittere. pretor pode alforriar diante dele.

2. PAULUS libro IV. ad Sabinum. — 2. PAULO, Comentários a Sabino, Li-


Sed etiam ipsum apud se emancipari, vro IV. — Mas também é permitido a
vel in adoptionem dari placet. esse pretor emancipar-se ou dar-se em
adoção.

3. ULPIANUS libro XXXVIII. ad Sa- 3. ULPIANO, Comentários a Sabino,


binum. — Barbarius Philippus, quum Livro XXXVIII. — Barbário Filipe, na
servus fugitivus esset, Romae Praetu- época escravo fugitivo, candidatou-se à
ram petiit, et Praetor designatus est; pretoria de Roma e foi nomeado pretor.
sed nihil ei servitutem obstitisse ait Nesse caso, diz Pompônio, o fato de ser
Pomponius, quasi Praetor non fuerit. escravo não constituiu impedimento
Atqui verum est, praetura eum func- para sua nomeação. E, de fato, exer-
tum; et tamen videamus, si servus, ceu a função. Consideremos, todavia,
quamdiu latuit, dignitate praetoria a hipótese de um escravo ter ocultado
functus sit, quid dicemus? Quae edixit, sua condição legal por muito tempo e
quae decrevit, nullius fore momenti, an exercido a função. Que diremos? Tudo
fore propter utilitatem eorum, qui apud o que decidiu, julgou terá sido nulo ou
eum egerunt vel lege, vel quo alio iure?
Et verum puto, nihil eorum reprobari.
Hoc enim humanius est, quum etiam
89
Glossário, pretor.

142
Digesto Livro I – Títulos XIV e XV

potuit populus Romanus servo decer- inválido? Ou deverá ser mantido em


nere hanc potestatem; sed etsi scisset favor daqueles que recorreram à sua
servum esse, liberum effecisset. Quod jurisdição com base numa lei ou outro
ius multo magis in Imperatore obser- direito? Na minha opinião, nada deve
vandum est. ser invalidado, pois, além de ser mais
humano, observe-se que se o povo ro-
mano foi capaz de conceder esse poder
a um escravo, na hipótese levantada lhe
teria dado a alforria se tivesse conheci-
do seu estado. Isso é tanto mais válido
se, em vez do povo, se tratar do impera-
dor.

4. IDEM libro I. de omnibus Tribuna- 4. IDEM, De Todos os Tribunais, Li-


libus. — Praetor neque tutorem, neque vro I. — O pretor não pode dar-se nem
specialem iudicem ipse se dare potest. como tutor nem como juiz especial.

TITULUS XV TÍTULO XV
DE OFFICIO PRAEFECTI VIGILUM DA FUNÇÃO DE PREFEITO DA
GUARDA NOTURNA90

1. PAULUS libro singulari de officio 1. PAULO, Da Função de Prefeito da


Praefecti vigilum. — Apud vetustiores Guarda, Livro Único. — Na antiguida-
incendiis arcendis Triumviri praeerant, de, triúnviros eram responsáveis pelo
qui ab eo, quod excubias agebant, noc- combate a incêndios e, como atuavam
turni dicti sunt. Interveniebant non- à noite, eram chamados de triúnviros
nunquam et Aediles et Tribuni plebis. noturnos. Às vezes, intervinham tam-
Erat autem familia publica circa por- bém edis e tribunos da plebe. Havia,
tam et muros disposita, unde, si opus porém, grupo de escravos públicos
esset, evocabatur; fuerant et privatae postados junto à porta e aos muros,
familiae, quae incendia vel mercede vel de onde eram convocados em caso de
gratia extinguerent. Deinde Divus Au- necessidade. Havia também escravos
gustus maluit per se huic rei consuli, particulares que combatiam incêndios,
de graça ou remunerados. Depois, o
imperador Augusto preferiu avocar a si
esse encargo,

90
Glossário, prefeitos.

143
Livro I – Título XV Digesto

2. ULPIANUS libro singulari de offi- 2. ULPIANO, Da Função de Prefeito


cio Praefecti vigilum. — pluribus uno da Guarda Noturna, Livro Único. —
die incendiis exortis; por terem ocorrido vários incêndios
num mesmo dia e,

3. PAULUS libro singulari de officio 3. PAULO, Da Função de Prefeito da


Praefecti vigilum. — nam salutem Guarda Noturna, Livro Único. — por
Reipublicae tueri nulli magis credidit acreditar que a ninguém mais do que a
convenire, nec alium sufficere ei rei, César deveria ser confiada a segurança
quam Caesarem. Itaque septem cohor- da República e que nenhum outro, se-
tes opportunis locis constituit, ut binas não ele, melhor atenderia esse objetivo.
regiones Urbis unaquaeque cohors Assim, instalou sete coortes91 em locais
tueatur, praepositis iis Tribunis, et su- estratégicos, de modo que cada coor-
per omnes spectabili Viro, qui Praefec- te se ocupasse da segurança de cada
tus vigilum appellatur. dois bairros de Roma, sob o comando
de tribunos, e todas sob o comando de
um cidadão respeitável que se chama
prefeito da Guarda Noturna.

§ 1. — Cognoscit Praefectus vigilum § 1. O prefeito da Guarda Noturna


de incendiariis, effractoribus, furibus, tinha jurisdição sobre incendiários,
raptoribus, receptatoribus, nisi si qua arrombadores, ladrões, assaltantes e
tam atrox tamque famosa persona sit, acoitadores de criminosos. Todavia,
ut Praefecto Urbi remittatur. Et quia os crimes hediondos são reservados ao
plerumque incendia culpa fiunt inha- prefeito da Cidade. E como, na maio-
bitantium, aut fustibus castigat eos, ria dos casos, os incêndios se dão por
qui negligentius ignem habuerunt, aut culpa dos moradores, o prefeito castiga
severa interlocutione comminatus fus- com açoites quem lida negligentemen-
tium castigationem remittit. te com fogo ou, após severa reprimen-
da, poupa o castigo da fustigação.

§ 2. — Effracturae fiunt plerumque in § 2. Na maioria das vezes, os arrom-


insuli in horreisque, ubi homines pre- bamentos ocorrem em quarteirões
tiosissimam partem fortunarum sua- isolados e em armazéns onde as pes-
rum reponunt; quum vel cella effringi- soas guardam parte preciosa de seus
tur, vel armarium, vel arca, et custodes bens. Como determinou o imperador
plerumque puniuntur, ut Divus Anto- Antonino, em rescrito, a Erício Claro,
ninus Erycio Claro rescripsit. Ait enim,
posse eum horreis effractis quaestio-
91
Glossário, coorte.

144
Digesto Livro I – Título XV

nem habere de servis costodibus, licet devem ser castigados arrombadores de


in illis ipsius Imperatoris portio esset. armazém, de cofre ou arca e, às vezes,
os próprios guardas. Diz ainda que, no
caso de arrombamento de armazéns,
escravos vigias podem ser interroga-
dos sob tortura, mesmo se parte desses
escravos for de propriedade do impe-
rador.

§ 3. — Sciendum est autem, Praefec- § 3. Faz parte da função do prefeito da


tum vigilum per totam noctem vigilare Guarda Noturna vigiar a noite toda e
debere, et coerrare calceatum cum ha- fazer a ronda, munido de ganchos e
mis et dolabris. machados.

§ 4. — Ut curam adhibeant omnes in- § 4. É de sua atribuição advertir todos


quilinos admonere, ne negligentia ali- os moradores para evitar que, por ne-
qua incendii casus oriatur, praeterea ut gligência, ocorram incêndios e reco-
aquam unusquisque inquilinus in coe- mende que todo morador de andar su-
naculo habeat, iubetur admonere. perior tenha reserva de água em casa.

§ 5. — Adversus capsarios quoque, qui § 5. Foi também instituído um juiz


mercede servanda in balneis vestimen- de roupeiros que recebem pagamento
ta suscipiunt, iudex est constitutus, ut, pela guarda de roupas nos balneários,
si quid in servandis vestimentis frau- para julgá-los se agirem fraudulenta-
dulenter admiserint, ipse cognoscat. mente em sua função.

4. ULPIANUS libro singulari de of- 4. ULPIANO, Da Função de Prefeito


ficio Praefecti Urbi. — Imperatores da Cidade, Livro Único. — Os impe-
Severus et Antoninus Iunio Rufino radores Severo e Antonino assim res-
Praefecto vigilum ita rescripserunt: ponderam, por rescrito, a Júnio Rufino,
“Insularios et eos, qui negligenter ig- prefeito da Guarda Noturna: “Podes
nes apud se habuerint, potes fustibus mandar castigar com varas e açoites
vel flagellis caedi iubere; eos autem, qui locatários e outros que lidam negligen-
dolo fecisse incendium convincentur, temente com fogo em suas residências;
ad Fabium Cilonem Praefectum Urbi, os comprovadamente culpados de te-
amicum nostrum, remittes; fugitivos rem dolosamente provocado incêndio,
conquirere, eosque dominis reddere remete-os a meu amigo Fábio Cilão,
debes”. prefeito da Cidade; a escravos fugiti-
vos, deves caçá-los e devolvê-los a seus
donos”.

145
Livro I – Título XVI Digesto

TITULUS XVI TÍTULO XVI


DE OFFICIO PROCONSULIS ET DA FUNÇÃO DE PROCÔNSUL E
LEGATI DE LEGADO92

1. ULPIANUS libro I. Disputationum. 1. ULPIANO, Debates, Livro I — O


— Proconsul ubique quidem procon- procônsul portará as insígnias procon-
sularia insignia habet, statim atque sulares tão logo deixe a Cidade, mas só
Urbem egressus est; potestatem autem tem exercício do poder na província
non exercet, nisi in ea provinicia sola, que lhe foi atribuída.
quae ei decreta est.

2. MARCIANUS libro I. Institutio- 2. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Omnes Proconsules statim, I. — Todos os procônsules tão logo
quam Urbem egressi fuerint, habent deixem Roma têm jurisdição, não con-
iurisdictionem; sed non contentiosam, tenciosa, mas voluntária; por exemplo,
sed voluntariam, ut ecce manumitti diante deles podem ser emancipados e
apud eos possunt tam liberi, quam ser- alforriados filhos e escravos e se faze-
vi, et adoptiones fieri. rem adoções.

§ 1. — Apud Legatum vero Proconsu- § 1. Mas diante de legado93 do procôn-


lis nemo manumittere potest, quia non sul ninguém pode alforriar, pois carece
habet iurisdictionem talem, de jurisdição para isso;

3. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 3. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — nec adoptare potest; omnino Livro XXVI. — ninguém tampouco
enim non est apud eum legis actio. pode adotar diante dele, pois lhe falta
a necessária jurisdição.

4. IDEM libro I. de officio Proconsu- 4. IDEM, Da Função de Procônsul,


lis. — Observare autem Proconsulem Livro I. — É preciso, todavia, observar,
oportet, ne in hospitiis praebendis one- conforme recomendou o imperador94,
ret provinciam, ut Imperator noster com seu pai, em rescrito, a Aufídio Se-
cum Patre Aufidio Severiano rescripsit.

92
Glossário, cônsul.
93
Glossário, legatus.
94
Referência ao imperador Caracala que parti-
lhou o governo de seu pai, Septímio Severo,
de 197 a 211. O jurista Papiniano estava entre
os milhares de partidários de Geta assassina-
dos por ordem de Caracala.

146
Digesto Livro I – Título XVI

veriano, que o procônsul procure não


onerar a Província com oferecimento
de hospedagens.

§ 1. — Nemo Proconsulum stratores § 1. Nenhum procônsul pode ter escu-


suos habere potest, sed vice eorum mi- deiros próprios; nas províncias solda-
lites ministerio in provinciis funguntur. dos exercem essa função.

§ 2. — Proficisci autem Proconsulem § 2. É melhor que o procônsul parta


melius quidem est sine uxore, sed et sem a esposa, embora possa levá-la,
cum uxore potest, dummodo sciat, desde que saiba que o Senado decidiu,
Senatum Cotta et Messala Consulibus no consulado de Cotta e Messala, que,
censuisse futurum, ut, si quid uxores se a esposa de quem parte para exercer
eorum, qui ad officia proficiscuntur, cargo oficial cometer algum delito, dele
deliquerint, ab ipsis ratio et vindicta se haverá de exigir conta e punição.
exigatur.

§ 3. — Antequam vero fines provin- § 3. Antes de entrar nos limites da


ciae decretae sibi Proconsul ingressus província que lhe foi atribuída, o pro-
sit, Edictum debet de adventu suo mit- cônsul deve enviar um edito sobre sua
tere, continens commendationem ali- chegada, recomendando, com veemen-
quam sui, si qua ei familiaritas sit cum te pedido de desculpas, caso tenha al-
provincialibus vel coniunctio, et maxi- guma familiaridade ou relacionamento
me excusantis, ne publice vel privatim com provincianos, que ninguém ve-
occurrant ei; esse enim congruens, ut nha a seu encontro, nem pública nem
unusquisque in sua patria eum excipe- privadamente, pois é conveniente que
ret. cada qual o receba em sua terra.

§ 4. — Recte autem et ordine faciet, si § 4. Mas fará bem e com acerto se en-
Edictum decesssori suo miserit, signi- viar mensagem a seu antecessor, mar-
ficetque, qua die fines sit ingressurus; cando a data de sua entrada no território
plerumque enim incerta haec et inopi- da província; muitas vezes, a incerteza e
nata turbant provinciales et actus im- imprevistos perturbam os provincianos
pediunt. e impedem suas manifestações.

§ 5. — Ingressum etiam hoc eum ob- § 5. Convém, todavia, observar que, ao


servare oportet, ut per eam partem pro- chegar pela primeira vez à província,
vinciam ingrediatur, per quam ingredi a entrada se faça pela via costumeira,
moris est, et, quas Graecia e.pidhmi,aj seja por mar, seja por terra, atentando
[accessus ad provinciam] appellat, sive para o que os gregos chamam de lugar

147
Livro I – Título XVI Digesto

cata,ploun [adnavigationem], obser- ou porto de chegada, pois os provincia-


vare, in quam primum civitatem veniat nos têm em grande apreço que se ob-
vel applicet; magni enim facient pro- servem seus costumes e prerrogativas.
vinciales, servari sibi consuetudinem Algumas províncias, como as da Ásia,
istam et huismodi praerogativas. Qua- por exemplo, apreciam, até hoje, de tal
edam provinciae etiam hoc habent, ut modo a chegada do procônsul por mar
per mare in eam provinciam Proconsul que o imperador Antonino Augusto
veniat, ut Asia, scilicet usque adeo, ut determinou, por rescrito, a pedido de-
Imperator noster Antoninus Augus- las, que os procônsules assim o façam
tus ad desideria Asianorum rescrip- ao se dirigirem à Ásia por mar e, entre
sit, Proconsuli necesitatem impositam as principais cidades, Éfeso95 deve ser a
per mare Asiam applicare, kai. tw/n primeira a ser escalada.
mhtropo,lewn ;Efeson [et iter matrices
urbes Ephesum] primam attingere.

§ 6. — Post haec ingressus provinciam § 6. Depois disso, chegado à província,


mandare iurisdictionem Legato suo deve delegar jurisdição a seu legado96,
debet, nec hoc ante facere, quam fuerit mas nunca antes de entrar na pro-
provinciam ingressus. Est enim per- víncia. Pois seria por demais absurdo
quam absurdum, antequam ipse iuris- que ele, antes de ter jurisdição — pois
dictionem nanciscatur, nec enim prius essa não lhe compete antes de entrar
ei competit, quam in eam provinciam na província —, transferisse a outrem
venerit, alii eam mandare, quam non algo que ainda não tem. Mas, se o ti-
habet; sed si et ante fecerit, et ingressus ver feito e se mantiver o propósito, ao
provinciam in eadem voluntate fuerit, entrar na província, tudo indica que o
credendum est, videri Legatum habe- legado tem jurisdição não a partir do
re iurisdictionem non exinde, ex quo momento em que lhe foi dada, mas do
mandata est, sed ex quo provinciam momento do ingresso do procônsul na
Proconsul ingressus est. província.

5. PAPINIANUS libro I. Quaestio- 5. PAPINIANO, Questões, Livro I. —


num. — Aliquando mandare iurisdic- O procônsul pode às vezes delegar ju-
tionem Proconsul potest, etsi nondum risdição, embora não tenha ainda che-
in provinciam pervenerit; quid enim, si gado à província. Pois que aconteceria
necessariam moram in itinere patiatur,
maturissime autem Legatus in provin-
ciam perventurus sit? 95
A cidade de Éfeso, situada na margem orien-
tal do mar Egeu, era a porta de entrada para
a Ásia, razão pela qual os romanos tinham-na
como asiática.
96
Glossário, legatus.

148
Digesto Livro I – Título XVI

se enfrentasse atrasos insuperáveis a


caminho e seu legado já tivesse, há
muito, ali chegado?

6. ULPIANUS libro I. de officio Pro- 6. ULPIANO, Da Função de Procôn-


consulis. — Solet etiam custodiarum sul, Livro I. — É costume também o
cognitionem mandare Legatis; scilicet procônsul delegar a seus legados a au-
ut praeauditas custodias ad se remit- diência de presos para, depois de ouvi-
tant, ut innocentem ipse liberet. Sed -los, lhos enviar para julgamento e li-
hoc genus mandati extraordinarium berar os inocentes. Mas essa espécie de
est; nec enim potest quis gladii po- delegação é extraordinária, pois nin-
testatem sibi datam, vel cuius alterius guém pode transferir a terceiro poder
coercitionis ad alium transferre, nec li- de vida e morte que lhe foi delegado ou
berandi igitur reos ius, quum accusari de infligir qualquer punição inferior e,
apud eum non possint. por isso, não pode delegar o direito de
absolver pessoas a quem não está habi-
litado a ouvir as acusações contra elas.

§ 1. — Sicut autem mandare iurisdic- § 1. Mas como delegar ou não delegar


tionem vel non mandare est in arbitrio jurisdição está ao arbítrio do procôn-
Proconsulis, ita adimere mandatam iu- sul, assim lhe é lícito revogar uma ju-
risdictionem licet quidem Proconsuli, risdição delegada, embora não o deva
non autem debet inconsulto Principe fazer sem prévia consulta ao príncipe.
hoc facere.

§ 2. — Legatos non oportet Principem § 2. Não convém aos legados consultar


consulere, sed Proconsulem suum; et is o príncipe, mas seu procônsul, que de-
ad consultationes Legatorum debebit verá responder a suas consultas.
respondere.

§ 3. — Non vero in totum xeniis abs- § 3. Os procônsules não deverão abs-


tinere debebit Proconsul, sed modum ter-se sistematicamente de receber pre-
adiicere, ut neque morose in totum sente, mas comportar-se com modera-
abstineat, neque avare modum xenio- ção para que nem desdenhosamente se
rum excedat. Quam rem Divus Seve- abstenha de tudo nem se exceda por
rus et Imperator Antoninus elegan- cobiça. Sobre o assunto, os imperado-
tissime epistola sunt moderati, cuius res Severo e Antonino, em esmerado
epistolae verba haec sunt: “Quantum estilo epistolar, baixaram normas cujos
ad xenia pertinet, audi, quid sentimus. termos transcrevemos: “No que diz res-
Vetus proverbium est: ou;te pa,nta ou;te peito a presentes, eis o que pensamos:

149
Livro I – Título XVI Digesto

pa,ntote, ou;te para. pa,ntwn [neque diz um velho provérbio: nem tudo, nem
omnia, neque quovis tempore, neque sempre, nem de todos, pois é descortês
ab omnibus]; nam valde inhumanum não receber de ninguém, muito vulgar
est a nemine accipere, sed passim vilis- receber de qualquer um, muita cobiça
simum est, et omnia avarissimum”. Et receber tudo”. O que é dito nos manda-
quod mandatis continetur, ne donum tos, que o procônsul ou qualquer outro
vel munus ipse Proconsul, vel qui in dignitário não aceite presente ou bene-
alio officio erit, accipiat ematve quid, fício e não compre nada a não ser para
nisi victus quotidiani causa, ad xeniola seu sustento diário, não se refere a pe-
non pertinet, sed ad ea, quae edulium quenos presentes, mas a presentes que
excedant usum. Sed nec xenia produ- vão além dessa utilidade. Além disso,
cenda sunt ad munerum qualitatem. presentes dessa natureza (xenia) não se
incluem na categoria de dádivas valio-
sas97.

7. IDEM libro II. de officio Proconsu- 7. IDEM, Da Função de Procônsul,


lis. — Si in aliam quam celebrem civi- Livro II. — Ao visitar alguma cidade
tatem vel provinciae caput advenerit,
pati debet commendari sibi civitatem,
laudesque suas non gravate audire,
quum honori suo provinciales id vindi-
97
Os períodos finais desse item não são de fácil
tradução. Ressuma do contexto que se trata
cent, et ferias secundum mores et con- de recomendação com vista à prevenção de
suetudinem, quae retro obtinuit, dare. propina. (No item 18 do Título XVIII diz-se
ter sido estabelecido por plebiscito que “ne-
nhum governador aceite presente”). Mas os
substantivos latinos donum e munus são sinô-
nimos de “presente”, “brinde” sem gradação.
O termo xenia, grego, sequer é substantivo,
mas adjetivo neutro plural substantivado,
que significa estrangeiro e que só adquiriu o
sentido de presente por vir, tradicionalmente,
associado a outro termo grego, dóron que sig-
nifica presente, dom, brinde. Possivelmente,
tó xénion dóron significasse, na época, o que
hoje costumamos chamar de “souvenirs”, pe-
quenas lembranças que se trazem do exterior.
Esse termo grego sofreu tamanha latinização
que, como vemos, chega a ser usado no dimi-
nutivo “xeniola”. Ora, se não se admite que,
por evolução semântica (estamos diante de
um latim seis séculos distante do clássico!),
munus seja presente significativo, que beira a
cobiça, não há como estabelecer a diferença
de xenia. Foi o que fez a presente tradução.

150
Digesto Livro I – Título XVI

importante ou capital de província,


deve aceitar que a cidade lhe seja con-
fiada e receber sem fastio suas home-
nagens, pois os provincianos sentem-
-se honrados com isso. Além disso,
deve permitir a celebração de festas já
tradicionais.

§ 1. — Aedes sacras et opera publica § 1. Deve visitar templos e obras públi-


circumire inspiciendi gratia, an sarta cas a título de inspeção, para verificar
tecta quae sint, vel an aliqua refectio- se estão em bom estado de conserva-
ne indigeant; et, si qua coepta sunt, ut ção ou se precisam de alguma reforma;
consummentur, prout vires eius Reipu- que se concluam as obras iniciadas
blicae permittunt, curare debet, cura- dentro das disponibilidades do erário;
toresque operum diligentes solemniter deve cuidar que sejam nomeadas pes-
praeponere, ministeria quoque milita- soas diligentes como responsáveis por
ria, si opus fuerit, ad curatores adiuvan- essas obras, proporcionando inclusive
dos dare. cooperação militar, se for o caso, para
ajudá-las na tarefa.

§ 2. — Quum plenissimam autem iu- § 2. Como o procônsul detém plena


risdictionem Proconsul habeat, om- jurisdição, a ele compete o exercício de
nium partes, qui Romae vel quasi Ma- todas as funções que em Roma exer-
gistratus, vel extra ordinem ius dicunt, cem os magistrados ou juízes extraor-
ad ipsum pertinent. dinários.

8. IDEM libro XXXIX. ad Edictum. — 8. IDEM, Comentários ao Edito, Li-


Et ideo maius imperium in ea pronvin- vro XXXIX. — E, por isso, tem mais
cia habet omnibus post Principem. poder que todos na província, após o
príncipe.

9. IDEM libro I. de officio Proconsu- 9. IDEM, Da Função de Procônsul,


lis. — Nec quidquam est in provincia, Livro I. — Tudo na província está sob
quod non per ipsum expediatur. Sane sua jurisdição. Mas quando se tratar de
si fiscalis pecuniaria causa sit, quae ad questão fiscal e financeira, da alçada
Procuratorem Principis respicit, me- do procurador do príncipe, é melhor
lius fecerit, si abstineat. abster-se de intervir.

§ 1. — Ubi decretum necessarium est, § 1. O que deve ser feito por decreto,
per libellum id expedire Proconsul não poderá o procônsul fazê-lo por

151
Livro I – Título XVI Digesto

non poterit; omnia enim, quaecumque edital98, pois tudo o que requer conhe-
causae cognitionem desiderant, per li- cimento de causa não pode ser resolvi-
bellum non possunt expediri. do por edital.

§ 2. — Circa advocatos patientem esse § 2. Convém ao procônsul ter paci-


Proconsulem oportet, sed cum inge- ência com os advogados, mas com
nio, ne contemtibilis videatur; nec adeo habilidade, para não parecer desprezí-
dissimulare, si quos causarum concin- vel; mas não deve contemporizar com
natores vel redemtores deprehendat; aqueles que considera fomentadores
eosque solos pati postulare, quibus per ou forjadores de questões. E só permi-
Edictum eius postulare permittitur. tir que atuem os autorizados nos ter-
mos de seu edito99.

§ 3. — De plano autem Proconsul § 3. De plano, porém, o procônsul


potest expedire haec, ut obsequium pode mandar que filhos prestem a de-
parentibus et patronis liberisque pa- vida deferência aos pais; os libertos, a
tronorum exhiberi iubeat; comminari seus senhores e à família de seus senho-
etiam et terrere filium a patre oblatum, res. Também de plano pode admoestar
qui non , ut oportet, conversari dicatur. com palavras ou punir com bordoadas
Poterit de plano similiter et libertum liberto desrespeitoso.
non obsequentem emendare aut ver-
bis, aut fustium castigatione.

§ 4. — Observare itaque eum oportet, § 4. É bom estabelecer certa ordem nas


ut sit ordo aliquis postulationum, sci- demandas, de modo que se ouçam as
licet ut omnium desideria audiantur, pretensões de todos, e se evite dar pre-
ne forte, dum honori postulantium da- cedência à dignidade do demandante
tur, vel improbitati ceditur, mediocres ou ceder à improbidade, deixando o ci-
desideria sua non proferant, qui aut dadão comum de ser atendido porque
omnino non adhibuerunt, aut minus não apresentou advogado ou recorreu
frequentes, neque in aliqua dignitate a algum menos competente ou não de-
positos Advocatos sibi prospexerunt. tentor de dignidade.

§ 5. — Advocatos quoque petentibus § 5. Deverá também designar advogado


debebit indulgere, plerumque feminis, para quem pede, em geral, para mulhe-
vel pupillis, vel alias debilibus, vel his, res, tutelados ou, de outro modo, desfa-
qui suae mentis non sunt, si quis iis pe-
tat; vel si nemo sit, qui petat, ultro iis
dare debebit. Sed si qui per potentiam
adversarii non invenire se Advocatum
98
Glossário, Libellus.
99
Glosssário, edito.

152
Digesto Livro I – Título XVI

dicat, aeque oportebit ei Advocatum vorecidos e para deficientes mentais, se


dare. Ceterum opprimi aliquem per alguém o requerer; se ninguém o pedir
adversarii sui potentiam non oportet; que se lhe dê de ofício. Mas, se alguém
hoc enim etiam ad invidiam eius, qui disser que não consegue advogado por
provinciae praeest, spectat, si quis tam causa da importância do adversário,
impotenter se gerat, ut omnes metuant convém lhe dar advogado. Além disso,
adversus eum advocationem suscipere. que ninguém seja oprimido pelo poder
de seu contendor. Pois não fica bem
para quem administra uma província
que alguém se conduza com tamanha
prepotência que todos temam advogar
contra ele.

§ 6. — Quae etiam omnium Praesi- § 6. O que é comum a todos que go-


dum communia sunt, et debent et ab vernam deve ser igualmente observado
his observari. por eles.

10. IDEM libro X. de officio Procon- 10. IDEM, Da Função de Procônsul,


sulis. — Meminisse oportebit, usque Livro X. — Convém lembrar que o
ad adventum successoris omnia debe- procônsul deverá fazer tudo até a che-
re Proconsulem agere, quum sit unus gada de seu sucessor, pois o proconsu-
proconsulatus, et utilitas provinciae lado é um só e o interesse da província
exigat esse aliquem, per quem negotia exige haver alguém por cujas ações os
sua provinciales explicent; ergo in ad- provincianos sejam atendidos em seus
ventum successoris debebit ius dicere. interesses. Portanto, até a chegada do
sucessor, continuará a dizer o direito.

§ 1. — Legatum suum ne ante se de § 1. Tanto segundo a Lei Júlia sobre


provincia dimittat, et lege Iulia repe- peculato como pelo rescrito do im-
tundarum, et Rescripto Divi Hadriani perador Adriano a Calpúrnio Rufo,
ad Calpurnium Rufum Proconsulem procônsul da Acaia, adverte-se que o
Achaiae admonetur. procônsul não pode liberar seu legado
antes que ele próprio deixe a província.

11. VENULEIUS SATURNINUS li- 11. VENULEIO SATURNINO, Da


bro II. de Officio Proconsulis. — Si Função de Procônsul, Livro II. — Se
quid erit, quod maiorem animadver- houver algo que exija castigo mais seve-
sionem exigat, reiicere Legatus apud ro, o legado deverá submetê-lo ao pro-
Proconsulem debet; neque enim ani- cônsul, pois não tem competência para

153
Livro I – Título XVI Digesto

madvertendi, coercendi, vel atrociter corrigir, reprimir ou açoitar com mais


verberandi ius habet. rigor.

12. PAULUS libro II. ad Edictum. — 12. PAULO, Comentários ao Edito,


Legatus mandata sibi iurisdictione iu- Livro II. — O legado tem direito de no-
dicis dandi ius habet. mear juiz na jurisdição que lhe foi atri-
buída.

13. POMPONIUS libro X. ad Quin- 13. POMPÔNIO, Comentários a


tum Mucium. — Legati Proconsulis Quinto Múcio, Livro X. — Os legados
nihil proprium habent, nisi a Procon- do procônsul não têm jurisdição pró-
sule iis mandata fuerit iurisdictio. pria, mas apenas a que lhes foi conferi-
da pelo procônsul.

14. ULPIANUS libro XX. ad Legem 14. ULPIANO, Comentários à Lei


Iuliam et Papiam. — Proconsules non Júlia e Pápia, Livro XX. — Os procôn-
amplius, quam sex fascibus utuntur. sules não usarão insígnia de mais de
seis feixes (“fasces”)100.

15. LICINIUS RUFINUS libro III. Re- 15. LICÍNIO RUFINO, Regras, Livro
gularum. — Et Legati Proconsulum III. ­­— Os legados dos procônsules po-
tutores dare possunt. dem também designar tutores.

16. ULPIANUS libro II. ad Edictum. 16. ULPIANO, Comentários ao Edi-


— Proconsul portam Romae ingressus to, Livro II. — O procônsul perde o po-
deponit imperium. der tão logo transpõe a soleira de uma
porta de entrada em Roma101.

100
Glossário, fasces.
101
Como toda cidade na antiguidade, Roma era
circundada por extensas e sólidas muralhas
que iam recuando à medida que a cidade
crescia. As expressões intra muros (dentro da
cidade) e extra muros (além das muralhas) ti-
nham as muralhas como ponto de referência.
O acesso a Roma ou a saída de Roma se fa-
ziam pelas chamadas portas que, em geral, se
abriam para estradas para diferentes regiões.
Era por essas portas que se processava rigo-
rosamente a entrada a Roma e a saída.

154
Digesto Livro I – Títulos XVII e XVIII

TITULUS XVII TÍTULO XVII


DE OFFICIO PRAEFECTI DA FUNÇÃO DE PREFEITO DO
AUGUSTALIS EGITO102

1. ULPIANUS libro XV. ad Edictum. 1. ULPIANO, Comentários ao Edito,


— Praefectus Aegypti non prius depo- Livro XV. — O prefeito do Egito não
nit praefecturam et imperium, quod deixa a prefeitura nem perde o poder
ad similitudinem Proconsulis lege sub que, como ocorre com um procôn-
Augusto ei datum est, quam Alexan- sul, lhe foi dado por lei, no tempo de
driam ingressus sit successor eius, licet Augusto, até que seu sucessor chegue a
in provinciam venerit; et ita mandatis Alexandria, mesmo que já tenha entra-
eius continetur. do na província. Isso está nos termos
de seu mandato.

TITULUS XVIII TÍTULO XVIII


DE OFFICIO PRAESIDIS DA FUNÇÃO DE GOVERNADOR

1. MACER libro I. de officio Praesi- 1. MACER, Da Função de Governa-


dis. — Praesidis nomen generale est, dor, Livro I. — O título de governador
eoque et Proconsules, et Legati Caesa- é comum e, por isso, tanto os procôn-
ris, et omnes provincias regentes, licet sules como os legados de César e todos
Senatores sunt, Praesides appellantur; os que governam províncias, mesmo se
Proconsulis appellatio specialis est. senadores, são chamados governado-
res. Procônsul é um título especial.

2. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 2. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Praeses apud se adoptare po- Livro XXVI. — O governador pode
test, quemadmodum et emancipare adotar por sua própria autoridade e, do
filium, et manumittere servum potest. mesmo modo, pode emancipar filho e
alforriar escravo.

102
No latim esse título era mais pomposo —
praefectus augustalis — por se tratar de cargo
criado pelo imperador Augusto que nutria
especial simpatia pelo Egito, não só por se
tratar de país com longa história imperial
como por ser o celeiro do Império Romano.

155
Livro I – Título XVIII Digesto

3. PAULUS libro XIII. ad Sabinum. — 3. PAULO, Comentários a Sabino,


Praeses provinciae in suae provinciae Livro XIII. — O governador de pro-
homines tantum imperium habet, et víncia só tem poder sobre pessoas de
hoc, dum in provincia est; nam si ex- sua província e enquanto está na pro-
cesserit, privatus est. Habet interdum víncia, pois se dela sair, torna-se cida-
imperium et adversus extraneos homi- dão comum. Às vezes tem poder sobre
nes, si quid manu commiserint; nam et pessoas estranhas se tiverem cometido
in mandatis Principum est, ut curet is, algum delito à mão armada, pois tam-
qui provinciae praeest, malis homini- bém consta nos mandatos dos prínci-
bus provinciam purgare; nec distingui- pes ser da responsabilidade de quem
tur, unde sint. governa uma província purgá-la de
homens maus, independentemente de
sua origem.

4. ULPIANUS libro XXXIX. ad Edic- 4. ULPIANO, Comentários ao edito,


tum. — Praeses provinciae maius im- Livro XXXIX. — O governador, após o
perium in ea provincia habet omnibus príncipe, tem mais poder que todos em
post Principem. sua província.

5. IDEM libro I. de omnibus Tribuna- 5. IDEM, De todos os Tribunais, Li-


libus. — Praeses provinciae non magis vro I. — O governador de uma provín-
tutorem, quam specialem iudicem ipse cia não pode dar-se como tutor nem
se dare potest. como juiz especial.

6. IDEM libro I. Opinionum. — Illi- 6. IDEM, Pareceres, Livro I. — Proíba


citas exactiones, et violentia factas, et o governador de província cobrança
extortas metu venditiones et cautio- ilícita de impostos ou feita com vio-
nes vel sine pretii numeratione prohi- lência assim como cauções extorquidas
beat Praeses provinciae. Item, ne quis pelo medo e vendas sem pagamento
iniquum lucrum aut damnum sentiat, do preço acordado. Cuide também o
Praeses provinciae provideat. governador de província que ninguém
seja vítima de lucro ou de prejuízo ex-
cessivo.

§ 1. — Veritas rerum erroribus gesta- § 1. A verdade não é prejudicada por


rum non vitiatur; et ideo Praeses pro- erros de registros; por isso atenha-se o
vinciae id sequatur, quod convenit eum governador de província ao que vier a
ex fide eorum, quae probabuntur. resultar da fé das provas.

156
Digesto Livro I – Título XVIII

§ 2. — Ne potentiores viri humiliores § 2. Compete, por consciência, ao go-


iniuriis afficiant, neve defensores eo- vernador de província não permitir
rum calumniosis criminibus insecten- que os mais poderosos causem danos
tur innocentes, ad religionem Praesidis aos mais humildes, nem seus advoga-
provinciae pertinet. dos persigam inocentes acusando-os
caluniosamente de crimes.

§ 3. — Illicita ministeria, sub praetextu § 3. Cuide o governador da província


adiuvantium militares viros, ad concu- de impedir que, a pretexto de ajuda
tiendos homines procedentia prohibe- a militares, se recorra a ações ilícitas
re, et deprehensa coercere Praeses pro- para extorquir as pessoas e de punir os
vinciae curet; et sub specie tributorum responsáveis. Proíba ainda que, a título
ilicitas exactiones fieri prohibeat. de tributos, se cobrem impostos ilegais.

§ 4. — Neque licita negociatione ali- § 4. Seja objeto de solicitude de um


quos prohiberi, neque prohibita exer- governador de província não permitir
ceri, neque innocentibus poenas irro- que alguém seja impedido de comer-
gari, ad sollicitudinem suam Praeses ciar licitamente, que outros façam ne-
provinciae revocet. gócios proibidos e que pessoas inocen-
tes sejam castigadas.

§ 5. — Ne tenuis vitae homines sub § 5. O governador de província pro-


praetextu adventus officiorum vel mili- videnciará para que não se aflijam in-
tum, lumine unico vel brevi suppellec- justamente pessoas de poucos bens a
tili ad aliorum usus translatis, iniuriis propósito da chegada de funcionários
vexentur, Praeses provinciae provide- ou militares, transferindo para o uso
bit. de outros sua única casa ou seus únicos
pertences.

§ 6. — Ne quid sub nomine militum, § 6. Cuide o governador de província


quod ad utilitates eorum in commune de que, em nome de militares, algo que
non pertinet, a quibusdam propria sibi não tenha utilidade comum para eles
commoda inique vindicantibus com- seja requisitado por alguns que o reivin-
mittatur, Praeses provinciae provideat. dicam indevidamente para uso próprio.

§ 7. — Sicuti medico imputari eventus § 7. Do mesmo modo que não se deve


mortalitatis non debet, ita quod per responsabilizar um médico pela even-
imperitiam commisit, imputari ei de- tualidade da morte, mas lhe imputar o
bet; praetextu humanae fragilitatis de- dano que infligir por imperícia, assim
também não deve ficar impune, por

157
Livro I – Título XVIII Digesto

lictum decipientis in periculo homines razões humanitárias, o delito de quem


innoxium esse non debet. ilude as pessoas em situações difíceis.

§ 8. — Qui universas provincias re- § 8. Os governadores de província,


gunt, ius gladii habent, et in metallum sem exceção, têm poder de sentenciar
dandi potestas iis permissa est. à morte e de condenar às minas.

§ 9. — Praeses provinciae, si mulctam, § 9. Se o governador de província tomar


quam irrogavit, ex praesentibus facul- conhecimento de que a multa imposta
tatibus eorum, quibus eam dixit, redigi não pode ser paga com os bens atuais
non posse deprehenderit, necessitate daqueles a quem foi aplicada, reduza a
solutionis moderetur reprehensa exac- obrigação do pagamento e depois re-
torum illicita avaritia. Remissa propter preenda a cobiça103 dos coletores. Multa
inopiam mulcta a provincias regenti- perdoada por governadores de provín-
bus exigi non debet. cia, em razão de pobreza, não deve ser
exigida.

7. IDEM libro III. Opinionum. — 7. IDEM, Pareceres, Livro III. — Após


Praeses provinciae inspectis aedificiis, inspecionar edifícios, o governador de
dominos eorum causa cognita reficere província, conhecida a causa, obrigue
ea compellat, et adversus detrectantem seus proprietários a repará-los, e con-
competenti remedio deformitati auxi- tra o desobediente providencie a devi-
lium ferat. da reforma por meios legais.

8. IULIANUS libro I. Digestorum. 8. JULIANO, Digesto, Livro I. — Ouvi


— Saepe audivi Caesarem nostrum muitas vezes nosso imperador dizer
dicentem, hac rescriptione: “Eum, qui que, por este rescrito “Podes recorrer
provinciae praeest, adire potest”, non a quem governa a província”, não se
imponi necessitatem Proconsuli vel impõe ao procônsul nem a seu legado
Legato eius, vel Praesidi provinciae nem a governador de província a obri-
suscipiendae cognitionis, sed eum aes- gatoriedade de tomar conhecimento de
timare debere, ipse cognoscere, an iu- uma questão, mas o dever de avaliar se
dicem dare debeat.

103
Os cobradores de impostos e tributos eram
remunerados por determinado percentual
sobre o valor do débito fiscal, o que propi-
ciava a ganância de alguns que se beneficia-
vam com a ilícita elevação tanto do principal
como de multas.

158
Digesto Livro I – Título XVIII

ele próprio o faz ou se deve designar


um juiz.

9. CALLISTRATUS libro I. de Cog- 9. CALÍSTRATO, Das Jurisdições, Li-


nitionibus. — Generaliter, quoties vro I. — Em geral, quando o imperador
Princeps ad Praesides provinciarum encaminha questões a governadores de
remittit negotia per rescriptiones, vel província e cita o rescrito “Poderás re-
uti: “Eum, qui provinciae praeest, adi- correr a quem governa a província” ou
re poteris”, vel cum hac adiectione: “Is acrescenta “Ele considerará o que for
aestimabit, quid sit partium suarum”, de sua responsabilidade”, não impõe ao
non imponitur necessitas Proconsuli procônsul nem a seu legado o dever de
vel Legato suscipiendae cognitionis, tomar conhecimento da questão e mes-
quamvis non sit adiectum: “Is aesti- mo que não acrescente “Ele considerará
mabit, quid sit partium suarum”; sed is o que for de sua responsabilidade”, é de
aestimare debet, utrum ipse cognoscat, seu dever tomar ele próprio conheci-
an iudicem dare debeat. mento da questão ou designar juiz para
fazê-lo.

10. HERMOGENIANUS libro II. Iu- 10. HERMOGENIANO, Epítome


ris Epitomarus. — Ex omnibus causis, do Direito, Livro II. — Compete aos
de quibus vel Praefectus Urbi, vel Prae- corregedores104 e governadores de pro-
fectus Praetorio, itemque Consules, et víncia julgar todos os gêneros de cau-
Praetores ceterique Romae cognos- sa que em Roma são julgados ou pelo
cunt, Correctorum et Praesidum pro- prefeito da Cidade ou pelo prefeito do
vinciarum est notio. pretório, como também pelos cônsules
e pretores e demais magistrados.

11. MARCIANUS libro III. Institu- 11. MARCIANO, Instituições, Livro


tionum. — Omnia enim provincialia III. — Todas as reivindicações provin-
desideria, quae Romae varios iudices ciais que, em Roma, são da competên-
habent, ad officium Praesidum perti- cia de vários juízes, nas províncias são
nent. da competência dos governadores.

104
O termo “corrector”, que no latim clássico
significa “aquele que corrige”, “reformador”,
“censor”, é adotado no Digesto como sinô-
mino de praeses, governador, intendente,
administrador. Para “poder” (imperium), ver
Glossário, imperium e potesta.

159
Livro I – Título XVIII Digesto

12. PROCULUS libro IV. Epistola- 12. PRÓCULO, Epístolas, Livro IV. —
rum. — Sed licet is, qui provinciae Embora seja da competência de quem
praeest, omnium Romae magistra- governa uma província fazer as vezes
tuum vice et officio fungi debeat, non e exercer a função de todos os magis-
tamen spectandum est, quid Romae trados de Roma, não deve limitar-se ao
factum est, quam quid fieri debeat. que se faz em Roma, mas ater-se ao que
deve ser feito.

13. ULPIANUS libro VII. de offi- 13. ULPIANO, Da Função de Pro-


cio Proconsulis. — Congruit bono et cônsul, Livro VII. — Cabe ao bom e
gravi Praesidi curare, ut pacata atque eficiente governador fazer que a pro-
quieta provincia sit, quam regit. Quod víncia sob sua direção goze de um clima
non difficile obtinebit, si sollicite agat, de tranquilidade e paz, o que não será
ut malis hominibus provincia careat, difícil de conseguir se agir com solici-
eosque conquirat; nam et sacrilegos, tude, de modo que não haja deliquentes
latrones, plagiarios, fures conquirere na província e, os havendo, os persiga;
debet, et prout quisque deliquerit, in perseguir também sacrílegos, assaltan-
eum animadvertere, receptoresque eo- tes, traficantes de escravos e ladrões e,
rum coercere, sine quibus latro diutius na medida do delito, castigá-los, punir
latere non potest. seus coniventes, sem os quais o delin-
quente não pode esconder-se por muito
tempo.

§ 1. — Furiosis, si non possint per ne- § 1. Com referência aos loucos que
cessarios contineri, eo remedio per não podem ser contidos por seus fami-
Praesidem obviam eundum est, scilicet liares, a solução a ser dada pelo gover-
ut carcere contineantur; et ita Divus nador é mantê-los isolados, pois assim
Pius rescripsit. Sane excutiendum Divi recomenda, por rescrito, o imperador
Fratres putaverunt in persona eius, qui Pio. Com sabedoria, os imperadores ir-
parricidium admiserat, utrum simu- mãos105 mandaram que se investigasse
lato furore facinus admisisset, an vero se a pessoa que cometeu crime de mor-
re vera compos mentis non esset, ut, te o teria cometido com simulação de
si simulasset, plecteretur, si fureret, in loucura ou se de fato estaria fora de si,
carcere contineretur. de modo que, se simulou, seja punido;
se agiu por loucura, seja recluso.

105
Glossário, Dois Irmãos.

160
Digesto Livro I – Título XVIII

14. MACER libro II. de Iudiciis Pu- 14. MACER, Dos Julgamentos Pú-
blicis. — Divus Marcus et Commodus blicos, Livro II. — O imperador Marco
Scapulae Tertyllo rescripserunt in haec e Cômodo assim determinaram, por
verba: “Si tibi liquido compertum est, rescrito, a Escápula Tertilo: “Se para
Aelium Priscum in eo furore esse, ut ti ficou evidente que Élio Prisco de tal
continua mentis alienatione omni in- modo enlouqueceu que, por sua con-
tellectu careat, nec subest ulla suspicio, tinuada alienação mental, carece de
matrem ab eo simulatione dementiae todo entendimento, nem resta dúvida
occisam, potes de modo poenae eius de que sua mãe foi morta por ele num
dissimulare, quum satis furore ipso acesso de loucura, podes moderar os
puniatur; et tamen diligentius cus- termos de punição, pois já está punido
todiendus erit ac, si putabis, etiam por sua própria loucura. Mas deverá
vinculo coercendus, quoniam tam ad ser mais rigorosamente custodiado e,
poenam, quam ad tutelam eius et se- se for o caso, ser mesmo acorrentado,
curitatem proximorum pertinebit. Si tanto para sua segurança como para a
vero, ut plerumque assolet, intervallis segurança de seus familiares. Mas, se,
quibusdam sensu saniore, non forte eo como muitas vezes costuma acontecer,
momento scelus admiserit — nec mor- tiver cometido o crime em algum inter-
bo eius danda est venia — diligenter valo de lucidez e não naquela situação,
explorabis; et si quid tale compereris, não se há de escusá-lo por sua doença e
consules nos, ut aestimemus an per investigarás diligentemente. Se tiveres
immanitatem facinoris, si quum pos- constatado algo dessa espécie, nos con-
set videri sentiri, commiserit, supplicio sultarás para que avaliemos se deve ser
afficiendus sit. Quum autem ex litte- condenado ao suplício pela crueldade
ris tuis cognoverimus, tali eum loco do crime, se então cometido em apa-
atque ordine esse, ut a suis vel etiam rente estado de lucidez. Mas como fi-
in propria villa custodiatur, recte fac- camos sabendo por tua carta que o cri-
turus nobis videris, si eos, a quibus illo minoso estava em determinado lugar
tempore observatus esset, vocaveris, et e situação em que era custodiado por
causam tantae negligentiae excusseris, seus familiares e em sua própria granja,
et in unumquemque eorum, prout tibi a nosso ver, farias bem se convocasses
levari vel onerari culpa eius videbitur, aquelas pessoas que, na ocasião, eram
constitueris. Nam custodes furiosis responsáveis por sua custódia e averi-
non ad hoc solum adhibentur, ne quid guasses a razão de tamanha negligência
perniciosius ipsi in se moliantur, sed ne e procederás contra cada uma delas, na
aliis quoque exitio sint; quod si com- medida de tua avaliação da gravidade
mittatur, non immerito culpae eorum ou atenuação de suas culpas. Pois não
adscribendum est, qui negligentiores se há de custodiar os loucos só para
in officio suo fuerint”. que não façam mal a si próprios mas
também para que não sejam causa de

161
Livro I – Título XVIII Digesto

males para outros; o que tiver aconteci-


do não sem razão deverá ser imputado
àqueles que negligenciaram seu dever”.

15. MARCIANUS libro I. de Iudiciis 15. MARCIANO, Dos Julgamen-


Publicis. — Illud observandum est, ne, tos Públicos, Livro I. — Observe-se
qui provinciam regit, fines eius exce- que quem governa uma província não
dat, nisi voti solvendi causa; dum ta- deve sair de seus limites, a não ser para
men abnoctare ei non liceat. cumprimento de algum voto e, mesmo
assim, não lhe é permitido pernoitar
além de suas fronteiras.

16. MACER libro II. de officio Prae- 16. MACER, Da Função de Gover-
sidis. — Senatusconsulto cavetur, ut de nador, Livro I. — Decreto do Senado
his, quae provincias regentes, comites estabelece, a respeito de obrigações
aut libertini eorum, antequam in pro- contraídas por governantes de uma
vinciam venerint, contraxerunt, par- província, por seus acompanhantes e
cissime ius dicatur, ita ut actiones, quae libertos antes de partirem para a pro-
ob eam causam institutae non essent, víncia, que se faça uso parcimonioso
posteaquam quis eorum ea provincia de processos judiciais, por isso as ações
excesserit, restituantur. Si quid tamen que não puderem ter andamento te-
invito accidit, veluti si iniuriam aut fur- nham prosseguimento à medida que
tum passus est, hactenus ei ius dicen- retornem da província. Mas, se algo
dum est, ut litem contestetur, resque acontecer a algum deles, independen-
ablata exhibeatur et deponatur, aut sisti temente de sua vontade, como ser ví-
exhiberive satisdato promittatur. tima de injúria ou de furto, a questão
deve ter prosseguimento até a litiscon-
testação e a coisa furtada ser apresenta-
da e depositada ou a parte se compro-
meta, mediante caução, a comparecer
em juízo ou apresentar a coisa furtada.

17. CELSUS libro III. Digestorum. 17. CELSO, Digesto, Livro III. — Se-
— Si forte Praeses provinciae manumi- rão ratificadas ações de alforria ou de
serit, vel tutorem dederit, priusquam designação de tutor por acaso pratica-
cognoverit successorem advenisse, das por governador de província antes
erunt haec rata. de ter conhecimento da chegada de seu
sucessor.

162
Digesto Livro I – Título XVIII

18. MODESTINUS libro V. Regula- 18. MODESTINO, Regras, Livro V. —


rum. — Plebiscito continetur, ut ne Está estabelecido num plebiscito que
quis Praesidum munus, donum ca- nenhum governador aceite presente
peret, nisi esculentum potulentumve, ou oferta, a menos que se trate de co-
quod intra dies proximos prodigatur. mestível ou bebida que se consome em
poucos dias.

19. CALLISTRATUS libro I. Cogni- 19. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,


tionibus. — Observandum est ius red- Livro I. — Deve-se chamar a atenção
denti, ut in adeundo quidem facilem se de quem administra a justiça para a
praebeat, sed contemni non patiatur. conveniência de ser afável com quem
Unde mandatis adiicitur, ne Praesides o procure, mas não admitir ser desres-
provinciarum in ulteriorem familiari- peitado. Razão pela qual se acrescenta
tatem provinciales admittant; nam ex como dever de governadores de pro-
conversatione aequali contemtio dig- víncia não ter familiaridade com seus
nitatis nascitur. habitantes, pois a convivência gera a
falta de respeito à dignidade.

§ 1. — Sed et in cognoscendo neque § 1. Mas, ao atuar em juízo, não deve


excandescere adversus eos, quos malos nem se irritar com quem não simpati-
putat, neque precibus calamitosorum za nem se comover com as súplicas dos
illacrimari oportet; id enim non est infelizes, pois não é próprio do juiz jus-
constantis et recti iudicis, cuius animi to e correto revelar pelo semblante seu
motum vultus detegit. Et summatim ita estado de espírito. Em suma, deve fazer
ius reddi debet, ut auctoritatem digni- a justiça de modo a aumentar, por sua
tatis ingenio suo augeat. competência, o peso de sua dignidade.

20. PAPINIANUS libro I. Responso- 20. PAPINIANO, Respostas, Livro I.


rum. — Legatus Caesaris, id est Prae- — Um legado de César, isto é, gover-
ses vel Corrector provinciae, abdican- nador ou corregedor de província, não
do se non amittit imperium. perde o poder (imperium) ao pedir de-
missão106.

21. PAULUS libro singulari de offi- 21. PAULO, Da Função de Assesso-


cio Assessorum. — Praeses quum cog- res, Livro Único. — Ao julgar questão
noscat de servo corrupto, vel ancilla que envolve escravo corrompido ou es-
devirginata, vel servo stuprato, si actor crava deflorada ou escravo estuprado e
rerum agentis corruptus esse dicetur,
vel eiusmodi homo, ut non ad solam
iacturam adversus substantiam, sed ad
106
Glossário, imperium e potestas.

163
Livro I – Títulos XVIII e XIX Digesto

totius domus eversionem pertineat, se- o escravo corrompido é dito ser admi-
verissime debet animadvertere. nistrador, ou coisa que valha, de bens
do demandante, de modo que, além de
causar o prejuízo, é responsável pela
ruína de todo o patrimônio, o governa-
dor deve puni-lo com máximo rigor.

TITULUS XIX TÍTULO XIX


DE OFFICIO PROCURATORIS DA FUNÇÃO DE PROCURADOR
CAESARIS VEL RATIONALIS OU CONTADOR DE CÉSAR107

1. ULPIANUS libro XVI. ad Edictum. 1. ULPIANO, Comentários ao Edito,


— Quae acta gestaque sunt a Procura- Livro XVI. — As coisas feitas e geridas
tore Caesaris, sic ab eo comprobantur, por procurador de César e, como tais,
atque si a Caesare gesta sunt. aprovadas por ele são como se o pró-
prio César as tivesse feito ou gerido.

§ 1. — Si rem Caesaris Procurator eius § 1. Se o procurador de César transfe-


quasi rem propriam tradat, non puto rir um bem de César como coisa pró-
eum dominium transferre; tunc enim pria, não creio que transmita o domí-
transfert, quum negotium Caesaris ge- nio, pois quem administra um bem de
rens consensu ipsius tradit. Denique si César só o transfere se o fizer com o
venditionis, vel donationis, vel transac- consentimento do próprio César. En-
tionis causa quid agat, nihil agit; non fim, o que fizer a título de venda, ou de
enim alienare ei rem Caesaris, sed dili- doação ou contrato, é nulo, porque não
genter gerere commissum est. lhe foi dado o direito de alienar bem de
César, mas de administrá-lo com dili-
gência.

107
Procurator, quer pelo contexto dos itens sub-
sequentes, quer por sua composição etimo-
lógica, tem mais conotação de administrador
do que de procurador na acepção moderna.
Com efeito, pro indica “no lugar de”. De fato,
o administrador age no lugar de César, mas
suas decisões devem ser precedidas da auto-
rização do imperador.

164
Digesto Livro I – Títulos XIX

§ 2. — Est hoc praecipuum in Procura- § 2. Especial atribuição do procurador


tore Caesaris, quod et eius iussu servus de César é possibilitar, com a autoriza-
Caesaris adire hereditatem potest; et si ção dele, que um escravo do imperador
Caesar heres instituatur, miscendo se seja sujeito de herança e, se o herdei-
opulentae hereditati Procurator here- ro instituído é o próprio César, é pela
dem Caesarem facit. intervenção do procurador que César
toma posse de uma rica herança.

2. PAULUS libro V. Sententiarum. — 2. PAULO, Sentenças, Livro V. — Se os


Quod si ea bona, ex quibus Imperator bens dos quais o imperador tiver sido
heres institutus est, solvendo non sint, instituído herdeiro não forem suficien-
re perspecta consulitur Imperator; tes para saldar as dívidas da herança,
heredis enim instituti in adeundis vel constatado o fato, o imperador deve ser
repudiandis huiusmodi hereditatibus consultado, pois se há de informar-se
voluntas exploranda est. da vontade do herdeiro instituído de
aceitar ou rejeitar heranças dessa espé-
cie.

3. CALLISTRATUS libro VI. de Cog- 3. CALÍSTRATO, Das Jurisdições, Li-


nitionibus. — Curatores Caesaris ius vro VI. — Os procuradores de César
deportandi non habent, quia huius não têm direito de desterrar, porque
poenae constituendae ius non habent. não têm direito de impor essa pena.

§ 1. — Si tamen quasi tumultuosum § 1. Se, todavia, proibirem uma pessoa


vel iniuriosum adversus colonos Cesa- de entrar em propriedades rurais de
ris prohibuerint in praedia Caesariana César, por considerá-la perturbadora
accedere, abstinere debebit; idque Di- da ordem ou importuna aos trabalha-
vus Pius Iulio rescripsit. dores, essa pessoa deverá evitar fazê-lo,
conforme recomenda o rescrito do im-
perador Pio a Júlio.

§ 2. — Deinde neque redire cuiquam § 2. Tampouco podem permitir que


permittere possunt; idque Imperato- um desterrado regresse, conforme nos-
res nostri Severus et Antoninus ad li- sos imperadores Severo e Antonino
bellum Hermiae rescripserunt. responderam, por rescrito, a consulta
de Hérmia.

165
Livro I – Títulos XX e XXI Digesto

TITULUS XX TÍTULO XX
DE OFFICIO IURIDICI DA FUNÇÃO DE JUIZ

1. ULPIANUS libro XXVI. ad Sabi- 1. ULPIANO, Comentários a Sabino,


num. — Adoptare quis apud Iuridicum Livro XXVI. — Um juiz pode proceder
potest, quia data est ei legis actio. a adoção, pois para isso tem competên-
cia dentro das normas legais.

2. IDEM libro XXXIX. ad Sabinum. 2. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


— Iuridico, qui Alexandriae agit, datio vro XXXIX. — Foi concedido ao juiz
tutoris Constitutione Divi Marci con- de Alexandria, por constituição do
cessa est. imperador Marco Aurélio, o direito de
nomear tutor.

TITULUS XXI TÍTULO XXI


DE OFFICIO EIUS, CUI MANDATA DA FUNÇÃO DE QUEM A
EST IURISDICTIO JURISDIÇÃO É DELEGADA

1. PAPINIANUS libro I. Quaestio- 1. PAPINIANO, Questões, Livro I. —


num. — Quaecunque specialiter Lege, Toda faculdade concedida especial-
vel Senatusconsulto, vel Constitutione mente por lei ou por decreto do Se-
Principum tribuuntur, mandata iuris- nado ou por constituição do príncipe
dictione non transferuntur; quae vero não pode ser transferida por jurisdição
iure Magistratus competunt, mandari delegada. Mas o que compete, por di-
possunt. Et ideo videntur errare Magis- reito, à magistratura pode ser delegado.
tratus, qui quum publici iudicii habeant Assim parece se equivocarem os juízes
exercitionem Lege vel Senatusconsulto que, tendo o exercício de julgamentos
delegatam, veluti legis Iuliae de adul- públicos delegado por lei ou por decre-
teriis, et si quae sunt aliae similes, iu- to do Senado, como a Lei Júlia sobre
risdictionem suam mandant. Huius adultérios, ou por outra lei semelhante,
rei fortissimum argumentum, quod delegam sua jurisdição. Prova eviden-
lege Iulia de vi nominatim cavetur, ut tíssima disso é que, na Lei Júlia, sobre
is, cui obtigerit exercitio, possit eam, si violência, manda-se expressamente
proficiscatur, mandare. Non aliter ita- que o juiz a quem se tiver conferido
que mandare poterit, quam si abesse esse exercício pode delegá-lo no caso
coeperit, quum alias iurisdictio etiam de se ausentar. Portanto, não poderá
a praesente mandetur. Et si a familia delegá-lo por outro motivo que não
dominus occisus esse dicetur, cognitio- seja o de ausência, enquanto em outros
casos se delega mesmo por quem está

166
Digesto Livro I – Título XXI

nem Praetor, quam ex Senatusconsulto presente. E caso se diga que um senhor


habet, mandare non poterit. foi morto por um escravo, o pretor não
poderá delegar a jurisdição que lhe foi
conferida por decreto do Senado.

§ 1. — Qui mandatam iurisdictionem § 1. Quem tem jurisdição delegada não


suscepit, proprium nihil habet, sed et tem nada próprio, mas usa a jurisdição
eius, qui mandavit, iurisdictione utitur. daquele que delegou. Pois, conforme o
Verius est enim, more maiorum iuris- costume de nossos antepassados, a me-
dictionem quidem transferri, sed me- lhor opinião é que a jurisdição se trans-
rum imperium, quod Lege datur, non fere, mas o poder (imperium)108 pro-
posse transire; quare nemo dicit, ani- priamente dito, que é dado por lei, não
madversionem Legatum Proconsulis se transfere. Razão pela qual ninguém
habere mandata iurisdictione. Paulus diz que o legado do procônsul tem po-
notat: “et imperium, quod iurisdictioni der de castigar por jurisdição delegada.
cohaeret, mandata iurisdictione tansire Paulo observa: “a opinião mais corrente
verius est”. é que o poder (imperium) que acompa-
nha a jurisdição transfere-se por juris-
dição delegada.”

2. ULPIANUS libro III. de omnibus 2. ULPIANO, De Todos os Tribunais,


Tribunalibus. — Mandata iurisdic- Livro III. — Quando o governador de-
tione a Praeside consilium non potest lega sua jurisdição, aquele a quem foi
exercere is, cui mandatur. delegada não pode participar de cole-
giados.

§ 1. — Si tutores vel curatores velint § 1. Se tutores ou curadores quiserem


praedia vendere, causa cognita id Prae- vender imóveis, conhecido o motivo,
tor vel Praeses permittat; quod si man- o pretor ou o governador o permitirá.
daverit iurisdictionem, nequaquam Mas, se tiver delegado a jurisdição, de
poterit mandata iurisdictione eam modo algum poderá transferir o co-
quaestionem transferre. nhecimento da causa com a jurisdição
delegada.

3. IULIANUS libro V. Digestorum. — 3. JULIANO, Digesto, Livro V. — Mes-


Etsi Praetor sit is, qui alienam iurisdic- mo o pretor, ao exercer uma jurisdição
tionem exsequitur, non tamen pro suo delegada, não age por seu próprio po-
imperio agit, sed pro eo, cuius manda-
tu ius dicit, quoties partibus eius fungi-
tur.
108
Glossário, imperium e potestas.

167
Livro I – Título XXI Digesto

der, mas pelo poder daquele por cuja


delegação diz o direito, e isso toda vez
que o faz em nome de quem delegou.

4. MACER libro I. de officio Praesi- 4. MACER, Da Função de Governa-


dis. — Congnitio de suspectis tuto- dor, Livro I. — O julgamento de tutores
ribus mandari potest; imo etiam ex suspeitos pode ser delegado. Mais ain-
mandata generali iurisdicone propter da, tendo em vista o interesse dos tu-
utilitatem pupillorum eam contingere telados, esse julgamento pode ser pro-
constitutum est in haec verba: “Impe- cedido por jurisdição geral delegada,
ratores Severus et Antoninus Braduae conforme estabelecido neste rescrito:
Proconsuli Africae. Quum propriam “Os imperadores Severo e Antonino a
iurisdictionem Legatis tuis dederis, Brádua, procônsul da África: ‘Quando
consequens est, ut etiam de suspectis delegares a jurisdição que te é própria,
tutoribus possint cognoscere”. os legados que a recebem têm também
competência para julgar tutores suspei-
tos’”.

§ 1. — Ut possesio bonorum detur, vel § 1. A emissão de posse de bem pode


si cui damni infecti non caveatur, ut is ser delegada nos casos de emissão de
possidere iubeatur, aut ventris nomine mandado de posse a favor de reque-
in possessionem mulier, vel is, cui lega- rente que não recebeu caução por dano
tum est, legatorum servandorum causa temido, de emissão de posse a mulher
in possessionem mittatur, mandari po- em benefício de filho ainda não nasci-
test. do, de emissão de posse a legatário com
o objetivo de preservar o legado.

5. PAULUS libro XVIII. ad Plautium. 5. PAULO, Comentários a Pláucio,


— Mandatam sibi iurisdictionem man- Livro XVIII. — É evidente que uma ju-
dare alteri non posse manifestum est. risdição transferida a um não pode ser
delegada a outro.

§ 1. — Mandata iurisdictione privato, § 1. Parece que uma jurisdição delega-


etiam imperium, quod non est merum, da a uma pessoa privada envolve tam-
videtur mandari, quia iurisdictio sine bém o poder (imperium), embora não
modica coercitione nulla est. pleno, pois jurisdição sem coerção é
inócua.

168
Digesto Livro I – Título XXII

TITULUS XXII TÍTULO XXII


DE OFFICIO ASSESSORUM DA FUNÇÃO DE ASSESSOR109

1. PAULUS libro singulari de officio 1. PAULO, Da Função de Assessor,


Assessorum. — Omne officium Asses- Livro Único. — Toda função de asses-
soris, quo iuris studiosi partibus suis sor exercida por estudiosos do direito,
funguntur, in his fere causis constat; in dentro de suas atribuições, consiste
cognitionibus, postulationibus, libellis, mais ou menos nestes atos: fazer peti-
edictis, decretis, epistolis. ções, exposições, editos, decretos e car-
tas.

2. MARCIANUS libro primo de 2. MARCIANO, Dos Julgamentos Pú-


Iudiciis publicis. — Liberti asside- blicos, Livro I. — Libertos podem as-
re possunt. Infames autem licet non sessorar. Quanto aos de má reputação,
prohibeantur legibus assidere, atta- embora a lei não o proíba, a meu ver,
men arbitror, ut aliquo quoque decreto não podem exercer a função e, de fato,
Principali refertur constitutum, non parece haver algo, nesse sentido, numa
posse officio Assessoris fungi. decisão imperial.

3. MACER libro I. de officio Praesi- 3. MACER, Da Função de Governa-


dis. — Si eadem provincia, postea di- dor, Livro I. — Se uma mesma pro-
visa, sub duobus praesidibus constituta víncia for dividida em duas, cada qual
est, velut Germania, Mysia ex altera com seu governador, como a Germânia
ortus in altera assidebit, nec videtur in e a Mísia, um assessor nascido em uma
sua provincia assedisse. pode assessorar na outra, como se não
tivesse sido assessor em sua província.

4. PAPINIANUS libro IV. Responso- 4. PAPINIANO, Respostas, Livro IV.


rum. — Diem functo Legato Caesaris, — Morto um legado de César, seus
salarium Comitibus residui temporis, acompanhantes têm direito ao salário
quod a Legatis praestitutum est, debe- residual pelos dias restantes do período
tur, modo si non postea Comites cum estabelecido pelos legados, desde que
aliis eodem tempore fuerunt. Diver- depois não tenham trabalhado para
sum in eo servatur, qui sucessorem outros no mesmo período. O mesmo
ante tempus accepit. não acontece quando o legado recebe
sucessor antes do tempo.

109
Glossário, assessor.

169
Livro I – Título XXII Digesto

5. PAULUS libro I. Sententiarum. — 5. PAULO, Sentenças, Livro I. — De


Consiliario eo tempore, quo assidet, modo algum se permitirá a conselheiro
negotia tractare in suum quidem audi- que exerce a função de assessor advo-
torium nullo modo concessum est, in gar em sua própria sala de audiência,
alienum autem non prohibetur. mas não lhe é proibido fazê-lo na sala
de outro.

6. PAPINIANUS libro primo Respon- 6. PAPINIANO, Respostas, Livro I. —


sorum. — In consilium Curatoris Rei- Não é proibido ao natural de uma cida-
publicae vir eiusdem civitatis assidere de nela assessorar um curador público,
non prohibetur, quia publico salario pois para isso não percebe salário.
non fruitur.

170
Livro L
Digesto Livro L – Título I

LIBER QUINQUAGESIMUS LIVRO QUINQUAGÉSIMO

TITULUS I TÍTULO I
AD MUNICIPALEM ET DE DA MUNICIPALIDADE E DOS
INCOLIS HABITANTES

1. ULPIANUS libro II. Ad Edictum. 1. ULPIANO, Comentários ao Edito,


— Municipem aut nativitas facit, aut Livro II. — Nascimento, alforria ou
manumissio, aut adoptio. adoção fazem o munícipe1.

§ 1. — Et proprie quidem municipes § 1. O munícipe propriamente dito é o


appellantur muneris participes, recepti cidadão que, recebido na cidade, par-
in civitatem, ut munera nobiscum fa- ticipa conosco dos encargos públicos2.
cerent; sed nunc abusive municipes Hoje, porém, chamam-se impropria-
dicemus suae cuiusque civitatis cives, mente munícipes os cidadãos de cada
utputa Campanos, Puteolanos. cidade, por exemplo, campanos, pute-
olanos3.

§ 2. — Qui ex duobus igitur Campanis § 2. Quem nasce, portanto, de pais


parentibus natus est, Campanus est. campanos é campano. Mas quem nas-
Sed si ex patre Campano, matre Pute- ce de pai campano e de mãe puteolana
olana, aeque municeps Campanus est, é também campano, a menos que, por
nisi forte privilegio aliquo materna algum privilégio, se leve em conta a ori-
origo censeatur; tunc enim maternae gem materna, caso em que a condição
originis erit municeps. Utputa Iliensi- de munícipe segue a origem da mãe.
bus concessum est, ut, qui matre Iliensi Esse privilégio, por exemplo, foi con-
est, sit eorum municeps. Etiam Delphis cedido aos sardos4, de sorte que quem
hoc idem tributum et conservatum est.
Celsus etiam refert, Ponticis ex benefi-
cio Pompeii Magni competere, ut, qui 1
Glossário, política administrativa romana.
Pontica matre natus esset, Ponticus 2
Glossário, cargos e funções públicas.
esset. Quod beneficium ad vulgo qua- 3
Campano, habitante da Campânia, e puteola-
esitos solos pertinere quidam putant; no, natural de Putéoli, hoje Pazzuoli.
quorum sententiam Celsus non probat; 4
Naturais da Sardenha, ilha no mar Tirreno, a
neque enim debuisse caveri, ut vulgo segunda província, depois da Sicília, a ser cria-
da pelos romanos. Algumas traduções confun-
quaesitus matris conditionem seque- dem ilienses, antigos habitantes da ilha Sarde-
retur, quam enim aliam originem hic nha, também chamados ioleis, com os ilienses,
habet? Sed ad eos, qui ex diversarum naturais da Ílios, cidade legendária da Frígia,
civitatum parentibus orirentur. conhecida por Troia, destruída pelos gregos
cerca de mil anos antes da fundação de Roma.

173
Livro L – Título I Digesto

nasce de mãe sarda tem a municipali-


dade sarda. Igual privilégio foi dado, e
mantido, aos delfos5. Celso também se
refere a benefício concedido por Pom-
peu Magno aos pônticos6, de que nas-
cido de mãe pôntica seja cidadão do
Ponto Euxino. Há quem entenda que
esse benefício só alcança filho de pai
desconhecido7. Celso, porém, discorda
desse entendimento. De fato, não have-
ria necessidade de dispor sobre a con-
dição de quem nasce de pai desconhe-
cido, pois não teria alternativa senão a
de seguir a condição da mãe. Trata-se,
portanto, da origem de quem nasce de
pais de municipalidades diversas.

2. IDEM libro I. Disputationum. — 2. IDEM, Disputa, Livro I. — Quando


Quoties filiusfamilias voluntate patris um filho de família é nomeado decu-
decurio creatur, universis muneribus, rião8 com o consentimento do pai, este
quae decurioni filio iniunguntur, obs- responde, como se seu fiador fosse, por
trictus est pater, quasi fideiussor pro todas as obrigações impostas ao filho.
filio; consensisse autem pater decurio- Se, presente, não se opuser à nomeação
natui filii videtur, si praesens nomina- do filho para o decurionato, presume-
tioni non contradixit. Proinde, quid- -se seu assentimento. Por conseguinte,
quid in republica filius gessit, pater ut como fiador, será responsável por tudo
fideiussor praestabit. quanto fizer seu filho no exercício da
função pública de decurião.

5
Delfos, habitantes da cidade de Delfos, hoje
Castri, no monte Parnaso, na Grécia, conheci-
da como a cidade dos oráculos de Apolo.
6
Pônticos, habitantes do Ponto, antigo reino nas
margens do Ponto Euxino, isto é, do mar Eu-
xino (latim, pontus, i, oceano), hoje mar Negro
(Turquia).
7
Glossário, filiação.
8
Glossário, decurião.

174
Digesto Livro L – Título I

§ 1. — Gestum autem in republica ac- § 1. Deve-se entender como gestão pú-


cipere debemus, pecuniam publicam blica9 administrar recursos públicos ou
tractare, sive erogandam decernere. saber aplicá-los.

§ 2. — Sed et si curatores operum vel § 2. Será igualmente responsável por


cuius alterius rei publicae creavit, tene- administradores de obras ou de qual-
bitur. quer serviço público que o filho nomear.

§ 3. — Sed et si successorem sibi nomi- § 3. Será também obrigado pelo subs-


navit, patrem obstringit. tituto que para si o filho indicar.

§ 4. — Sed et si vectigalia publica loca- § 4. O pai será ainda responsável pelo


vit, pater erit obstrictus. valor dos impostos10 cuja cobrança ti-
ver sido dada em arrendamento.

§ 5. — Sed si filius tutores dare non § 5. Não há dúvida de que, se o filho


curaverit, vel minus idoneos elegerit, não providenciar tutores, ou os esco-
nec satis exegerit, vel non idoneum lher entre os menos idôneos, ou não
acceperit, ipse quidem quin sit obs- exigir a caução necessária, ou aceitar
trictus, nulla dubitatio est; pater vero tutor indigno, será evidentemente ele
ita demum obligatur, si et fideiussores próprio responsável, mas o pai o será
solent hoc nomine obligari; sed non também, na qualidade de fiador, em
solent, hoc enim et relatum, et rescrip- semelhantes circunstâncias. Costuma-
tum est, quia fideiussores rempublicam -se, porém, não considerá-lo como tal,
salvam fore promittunt, reipublicae au- conforme já foi expresso e registrado
tem nihil, quod ad rem pecuniariam em rescrito, tendo em vista estar ape-
attinet, interest, pupillis tutores dari. nas comprometido com a salvaguarda
do que é público. Ora, o poder públi-
co, no que tange a recursos financeiros,
não considera ser de sua obrigação de-
signar tutores de órfãos.

§ 6. — Is, qui ultra commeatum abest, § 6. Quem se ausenta por mais tempo
vel ultra formam commeatui datam, ad do que o concedido por uma licença
munera vocari potest. ou se afasta dos termos em que foi con-

9
Glossário, política administrativa romana.
10
Glossário, impostos.

175
Livro L – Título I Digesto

cedida pode ser convocado de volta às


funções11.

3. IDEM libro XXV. Ad Sabinum. — 3. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


Placet, etiam filiosfamilias domicilium vro XXV. — Admite-se também que
habere posse; um filho de família12 tenha seu próprio
domicílio13;

4. IDEM libro XXXIX. Ad Edictum. 4. IDEM, Comentários ao Edito, Li-


— non utique ibi, ubi pater habuit, sed vro XXXIX. — não necessariamen-
ubicunque ipse domicilium constituit. te onde o pai tem domicílio, mas em
qualquer lugar que lhe aprouver.

5. PAULUS libro XLV. Ad Edictum. — 5. PAULO, Comentários ao Edito,


Labeo indicat, eum, qui pluribus locis Livro XLV. — Para Labeão, quem tem
ex aequo negotietur, nusquam domi- negócios, igualmente, em muitos luga-
cilium habere; quosdam autem dicere res em nenhum deles tem domicílio.
refert, pluribus locis eum incolam esse, Refere-se, todavia, à opinião de outros,
aut domicilium habere; quod verius segundo os quais essa pessoa, no caso,
est. é habitante ou tem domicílio em mui-
tos lugares, o que é mais certo.

6. ULPIANUS libro II. Opinionum. 6. ULPIANO, Opiniões, Livro II. —


— Assumtio originis, quae non est, A adoção de uma origem que não é a
veritatem naturae non perimit; errore verdadeira não elimina a realidade do
enim veritas originis non amittitur, nec fato, pois não se perde por erro a ori-
mendacio dicentis, se esse, unde non gem verdadeira. Nem a mentira do
sit, deponitur, neque recusando quis declarante que se diz ser de onde não
patriam, ex qua oriundus est, neque é, nem o fato de alguém negar sua ter-
mentiendo de ea, quam non habet, ve- ra natal ou mentir, atribuindo-se uma
ritatem mutare potest. terra que não é a sua, podem mudar a
verdade.

11
Glossário, cargos e funções.
12
Filho de família — filiusfamiliae — é o filho,
de qualquer idade, que permanece sob o pá-
trio poder. Glossário, paterfamilias.
13
Glossário, domicílio.

176
Digesto Livro L – Título I

§ 1. — Filius civitatem, ex qua pater § 1. Um filho segue a cidade da qual


eius naturalem originem ducit, non seu pai tem origem e não seu domicí-
domicilium sequitur. lio.

§ 2. — Viris prudentibus placuit, duo- § 2. No parecer de alguns jurisconsul-


bus locis posse aliquem habere domi- tos, alguém pode ter domicílio em dois
cilium, si utrubique ita se instruxit, ut lugares, contanto que se estabeleça em
non ideo minus apud alteros se collo- ambos, de modo que não pareça morar
casse videatur. mais em um do que em outro.

§ 3. — Libertini originem patrono- § 3. O liberto, e do mesmo modo seus


rum, vel domicilium sequuntur, item filhos, segue a origem ou o domicílio
qui ex his nascuntur. de seus patronos14.

7. IDEM libro V. de officio Proconsu- 7. IDEM, Sobre a Função do Procôn-


lis. — Si quis a pluribus manumissus sul¸ Livro V. — Se alguém é alforriado
sit, omnium patronorum originem se- por muitos, segue a origem de todos os
quitur. patronos.

8. MARCIANUS libro I. de Iudiciis 8. MARCIANO, Sobre Julgamentos


publicis. — Non debere cogi decurio- Públicos, Livro I. — Os imperadores
nes, vilius praestare frumentum civibus irmãos15 decidiram, por rescrito, que
suis, quam annona exigit, Divi Fratres os decuriões não devem ser obrigados
rescripserunt; et aliis quoque Constitu- a fornecer trigo16 aos cidadãos por pre-
tionibus principalibus id cautum est. ço inferior ao da colheita. Assim tam-
bém dispõem outras constituições im-
periais.

9. NERATIUS libro III. Membrana- 9. NERÁCIO, Pergaminhos, Livro III.


rum. — Eius, qui iustum patrem non — A primeira origem de quem não
habet, prima origo a matre, eoque die, tem pai legítimo deve ser a da mãe a
quo ex ea editus est, numerari debet. partir do mesmo dia em que foi dado à
luz.

14
Chama-se “patrono” o ex-senhor do escravo
por ele alforriado. Liberto é o escravo alfor-
riado.
15
Glossário, Dois irmãos.
16
Glossário, annona.

177
Livro L – Título I Digesto

10. MARCIANUS libro singulari de 10. MARCIANO, Livro Único Sobre


Delatoribus. — Simile privilegium fis- os Delatores. — Nenhuma cidade tem
co nulla civitas habet in bonis debitoris, privilégio semelhante ao fisco sobre os
nisi nominatim id a Principe datum sit. bens do devedor, a menos que esse pri-
vilégio lhe tenha sido expressamente
concedido pelo imperador.

11. PAPINIANUS libro II. Quaestio- 11. PAPINIANO, Questões, Livro


num. — Imperator Titus Antoninus II. — O imperador Tito Antonino de-
Lentulo Vero rescripsit, magistratuum finiu, em rescrito a Lêntulo Vero, que
officium individuum, ac periculum a função dos magistrados é indivisível
esse commune; quod sic intelligi opor- e a responsabilidade é comum, bem
tet, ut ita demum collegae periculum entendido, só se atribua a responsa-
adscribatur, si neque ab ipso, qui gessit, bilidade a um colega se nem por ele,
neque ab his, qui pro eo intervenerunt, que geriu, nem por fiadores o interes-
res servari possit, et solvendo non fuit se público pôde ser preservado e, ten-
honore deposito; alioquin si persona, do deixado o cargo, não era solvente;
vel cautio sit idonea, vel solvendo fuit, pelo contrário, se a pessoa era digna de
quo tempore conveniri potuit, unus- confiança e a caução era suficiente ou a
quisque in id, quod administravit, te- pessoa era solvente na época em que o
nebitur. bem podia ser demandado, cada qual
será responsável pelo que administrou.

§ 1. — Quodsi forte is, qui periculo § 1. Mas se, por acaso, é solvente aque-
suo nominavit magistratum, solvendo le que, por sua conta e risco, nomeou
sit, utrum in eum prius actio reddi, um magistrado, deve a ação ser movi-
quasi fideiussorem debeat, an vero da primeiro contra ele, como se fiador
non alias, quam si res a collega servari fosse, ou contra o colega que não pôde
non potuerit? Sed placuit fideiussoris preservar o bem? Achou-se por bem
exemplo priorem conveniendum, qui que, a exemplo do fiador, seja citado
nominavit, quoniam collega quidem primeiro aquele que nomeou, em razão
negligentiae ac poenae causa, qui vero da fiança, enquanto o nomeado o será
nominavit, fidei ratione convenitur; por sua negligência, com vista à puni-
ção;

178
Digesto Livro L – Título I

12. IDEM libro I. Responsorum. — et 12. IDEM, Respostas, Livro I. — e


ei contra nominavit, collegam actio- não convém àquele que nomeou mover
nem utilem dari non oportet. ação útil17 contra o colega.

13. IDEM libro II. Quaestionum. — 13. IDEM, Questões, Livro II. — Que
Quid ergo, si alter ex magistratibus acontece se um dos magistrados se au-
toto anno abfuerit, aut forte praesens sentar por todo o ano ou, se presente,
per contumaciam, sive ignaviam, vel por desídia, por indolência ou por mo-
aegram valetudinem reipublicae nego- tivo de saúde, não administrar os ne-
tia non gesserit, et omnia collega solus gócios públicos, e o colega tiver gerido
administraverit, nec tamen tota res ab tudo, e não se puder exigir dele tudo
eo servari possit? Talis ordo dabitur, ut quanto deve? Será observada a seguinte
imprimis, qui reipublicae negotia ges- ordem: primeiramente, sejam citados
sit, et qui pro eo caverunt, in solidum solidariamente aqueles que geriram os
conveniantur, mox peractis omnibus negócios públicos e os que ofereceram
periculum agnoscat, qui non idoneum caução; depois de todos citados judi-
nominavit, postremo alter ex magistra- cialmente, reconheça sua responsabili-
tibus, qui reipublicae negotiis se non dade aquele que nomeou pessoa inidô-
immiscuit. Nec iuste, qui nominavit, nea e, por último, o outro magistrado
universi periculum recusavit, quum que deixou de administrar os negócios
scire deberet, eum, qui nominaretur, públicos. Quem fez a nomeação não
individuum officium et commune pe- tem razão de se recusar a reconhecer
riculum suscepturum; nam et quum sua responsabilidade por tudo, pois de-
duo gesserunt, et ab altero servari, verá saber que aquele que é nomeado
quod debetur, non potest, qui collegam assume função indivisível e responsa-
nominavit, in universo convenitur. bilidade comum; é o caso também de

17
“Actio utilis: que é sempre pretoriana, nada
mais é do que uma actio directa (seja in ius,
seja in factum) que o magistrado, por exten-
são (utilitatis causa), aplica a hipóteses que
não são protegidas, sem essa extensão, pela
actio directa. Assim, as ações fictícias ou as
com transposição de sujeito são actiones uti-
les” (MOREIRA ALVES, José Carlos, Direito
Romano, Rio de Janeiro, 2007, Editora Foren-
se, 14. ed., revista, corrigida e aumentada, p.
243). Esta tradução optou pela variante cons-
tante da nota 5 de pé de página do texto ori-
ginal adotado, na qual nominati é substituído
por qui nominavit.

179
Livro L – Título I Digesto

dois magistrados que administraram


juntos e de um não se pode exigir o que
é devido; aquele que nomeou o colega é
responsável por tudo.

14. IDEM libro XV. Quaestionum. 14. IDEM, Questões, Livro XV. — Su-
— Municipes intelliguntur scire, quod põe-se que os munícipes saibam tan-
sciant hi, quibus summa reipublicae to o que é do interesse público como
commissa est. aqueles a quem foi confiado o zelo da
coisa pública.

15. IDEM libro I. Responsorum. — 15. IDEM, Respostas, Livro I. —


Ordine decurionum ad tempus motus, Quem é afastado temporariamente da
et in ordinem regressus ad honorem classe dos decuriões, a exemplo de um
exemplo relegati tanto tempore non desterrado, ao voltar, não pode ser re-
admittitur, quanto dignitate caruit. conduzido à honra antes de decorrido
Sed in utroque placuit examinari, quo o mesmo período de tempo em que
crimine damnati sententiam eiusmodi esteve privado da dignidade. Mas, em
meruerunt; durioribus etenim poenis ambos os casos, convencionou-se que
affectos ignominia, velut transacto ne- se considere por que crime os con-
gotio, postea liberari, minoribus vero, denados mereceram a punição; com
quam leges permittunt, subiectos ni- efeito, as leis permitem que, concluída
hilominus inter infames haberi, quum a causa, seja liberado quem foi conde-
facti quidem quaestio sit in potestate nado a penas mais graves por infâmia;
iudicantium, iuris autem auctoritas mas, por outro lado, permitem que
non sit. condenados a penas mais leves sejam
incluídos entre infames, tratando-se,
portanto, de uma questão de fato, de-
pendente do poder de quem julga, e
não de uma questão de direito.

§ 1. — In eum, qui sucessorem suo pe- § 1. Não convém processar quem, sob
riculo nominavit, si finito magistratu sua responsabilidade, nomeou um su-
successor idoneus fuit, actionem dari cessor, se, encerrada a magistratura,
non oportet. esse sucessor era idôneo.

§ 2. — In fraudem civilium munerum § 2. Imóveis vendidos, secreta e frau-


per tacitam fidem praedia translata dulentamente, em prejuízo do erário
fisco vindicantur, tantumque alterum são reivindicados pelo fisco, e o agente
público cúmplice do negócio proibido

180
Digesto Livro L – Título I

interdictae rei minister de suis bonis é obrigado a pagar em dobro com seus
cogitur solvere. próprios bens.

§ 3. — Ius originis in honoribus § 3. A adoção18 não muda o direito de


obeundis, ac muneribus suscipiendis origem a cargos e funções, mas o filho
adoptione non mutatur, sed novis quo- adotivo obriga-se também, por força
que muneribus filius per adoptivum da adoção, a novas obrigações19.
patrem adstringitur.

16. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 16. HERMOGENIANO, Epítome do


epitomarum. — Sed si emancipatur Direito, Livro I. — Mas, emancipado
ab adoptivo patre, non tantum filius, pelo pai adotivo, não só deixa de ser
sed etiam civis eius civitatis, cuius per filho, mas também cidadão da cidade
adoptionem fuerat factus, esse desinit. da qual se fizera cidadão em virtude da
adoção.

17. PAPINIANUS libro I. Responso- 17. PAPINIANO, Respostas, Livro I.


rum. — Libertus propter patronum a — O liberto não é dispensado de fun-
civilibus muneribus non excusatur; nec ções civis por causa de seu patrono,
ad rem pertinet, an operas patrono, vel pouco importando se cuida dele ou se
ministerium capto luminibus exhibeat. lhe presta serviço por ser cego.

§ 1. — Liberti vero senatorum, qui ne- § 1. Libertos de senadores que admi-


gotia patronorum gerunt, a tutela de- nistram negócios de seus patronos são
creto patrum excusantur. dispensados de tutela por decreto do
Senado.

§ 2. — Filium pater decurionem esse § 2. Um pai quis que seu filho fosse de-
voluit; ante filium ex persona sua res- curião, mas o poder público deve acio-
publica debet convenire, quam patrem nar primeiro a pessoa do filho, e não
ex persona filii; nec ad rem pertinebit, o pai em razão do filho; e pouco im-
an filius castrense peculium tantum porta se o filho possui apenas pecúlio
possideat, quum ante militasset, vel castrense, por ter sido militar antes ou
postea. depois.

18
Glossário, adoção e abrogação.
19
Glossário, cargos e funções.

181
Livro L – Título I Digesto

§ 3. — Praescriptio temporum, quae § 3. O intervalo prescrito para um


in honoribus repetundis, vel aliis susci- novo mandato ou para pleitear outros
piendis data est, apud eosdem servatur, deve ser observado com relação aos
non apud alios. mesmos cargos, e não a outros.

§ 4. — Sed eodem tempore non sunt § 4. Mas uma só pessoa não pode exer-
honores in duabus civitatibus ab eo- cer cargos, ao mesmo tempo, em duas
dem gerendi; quum simul igitur utru- cidades. Quando esses cargos são con-
bique deferuntur, potior est originis feridos simultaneamente, adote-se de
causa. preferência o critério de origem.

§ 5. — Sola ratio possessionis civilibus § 5. O simples fato de ser proprietário


possessori muneribus iniungendis, ci- não basta para se imporem funções ao
tra privilegium specialiter civitati da- possessor, a menos que a cidade goze
tum idonea non est. desse privilégio.

§ 6. — Postliminio regressi patriae § 6. Os que retornam à terra natal es-


muneribus obtemperare coguntur, tão sujeitos, pelo direito de poslimínio,
quamvis in alienae civitatis finibus ao exercício de funções públicas, mes-
consistant. mo que morem em outra cidade.

§ 7. — Exigendi tributi munus inter § 7. A função de cobrar tributos não


sordida munera non habetur, et ideo se inclui entre as funções vis, por isso é
decurionibus quoque mandatur. também confiada a decuriões.

§ 8. — Ex causa fideicommissi manu- § 8. O alforriado20, em virtude do fidei-


missus in muneribus civilibus manu- comisso, segue, nas funções públicas, a
missoris originem sequitur, non eius, origem do alforriador, não daquele que
qui libertatem relinquit. lhe deixou o legado de liberdade.

§ 9. — In adoptiva familia susceptum, § 9. Quem é recebido numa família


exemplo dati, muneribus civilibus adotiva, à semelhança de quem se dá
apud originem avi quoque naturalis em adoção, segue, segundo o impera-
respondere, Divo Pio placuit, quamvis dor Antonino Pio, com relação a fun-
in isto fraudis nec suspicio quidem in- ção pública, a origem do avô natural,
terveniret. desde que isso não se faça sob suspeita
de fraude.

20
Glossário, alforria ou manumissão.

182
Digesto Livro L – Título I

§ 10. — Error eius, qui, se municipem § 10. Quem, por engano, julgando-se
aut colonum existimans, munera civi- munícipe ou colono, assume o compro-
lia suscepturum promisit, defensionem misso de exercer funções públicas não
iuris non excludit. fica privado do direito de se defender.

§ 11. — Patris domicilium filium alio- § 11. O domicílio do pai não obriga o
rum incolam civilibus muneribus alie- filho alhures domiciliado a funções
nae civitatis non adstringit, quum in públicas de cidade que lhe é estranha,
patris quoque persona domicilii ratio uma vez que o motivo de domicílio
temporaria sit. pela pessoa do pai é apenas temporá-
rio.

§ 12. — In quaestionibus nominatos § 12. Em questões de crimes capitais,


capitalium criminum ad novos hono- não convém que os acusados sejam ad-
res ante causam finitam admitti non mitidos a novos cargos antes do fim do
oportet; ceterum pristinam interim processo; enquanto isso, porém, man-
dignitatem retinent. têm-se em sua antiga dignidade.

§ 13. — Sola domus possessio, quae in § 13. A simples posse de uma casa
aliena civitate comparatur, domicilium comprada em outra cidade não faz do-
non facit. micílio.

§ 14. — Nominati successoris pericu- § 14. A responsabilidade do sucessor


lum fideiussorem nominantis non te- designado não obriga o fiador de quem
net. o designou.

§ 15. — Fideiussores, qui salvam rem- § 15. Fiadores que assumiram o com-
publicam fore responderunt, et qui promisso de salvaguardar o patrimô-
magistratus suo periculo nominant, nio público e quem nomeia magistra-
poenalibus actionibus non adstringun- dos sob sua própria responsabilidade
tur, in quas inciderunt hi, pro quibus não estão sujeitos a ações penais em
intervenerunt; eos enim damnum rei- que incidiram aqueles de que se fize-
publicae praestare satis est, quod pro- ram fiadores, bastando-lhes ressarcir
mitti videtur. ao erário o dano sofrido, o que parece
terem prometido.

18. PAULUS libro I. Quaestionum. 18. PAULO, Questões, Livro I. — O


— Divus Severus rescripsit, intervalla imperador Severo estabeleceu, em res-
temporum in continuandis oneribus, crito, que não devem ser concedidos
intervalos na continuidade das funções

183
Livro L – Título I Digesto

invitis, non etiam volentibus concessa, a quem não os quer, tampouco a quem
dum ne quis continuet honorem. quer, para não se alongarem no cargo.

19. SCAEVOLA libro I. Quaestio- 19. CÉVOLA, Questões, Livro I. — O


num. — Quod maior pars curiae effe- que é decidido pela maioria do Senado
cit, pro eo habetur, ac si omnes egerint. considera-se como decidido por todos.

20. PAULUS libro XXIV. Quaestio- 20. PAULO, Questões, Livro XXIV.
num. — Domicilium re et facto trans- — O domicílio transfere-se efetiva e
fertur, non nuda contestatione; sicut concretamente, e não por simples de-
in his exigitur, qui negant se posse ad claração, como se exige daqueles que se
munera, ut incolas, vocari. declaram impedidos de serem convo-
cados para funções públicas em razão
de sua condição de habitante21.

21. IDEM libro I. Responsorum. — 21. IDEM, Respostas, Livro I. — Lú-


Lucius Titius, quum esset in patris cio Tício, ainda sob o pátrio poder, foi,
potestate, a magistratibus inter ceteros contra a vontade do pai, designado por
frumento comparando, invito patre, magistrados para, com outras pessoas,
curator constitutus est; cui rei Lucius comprar trigo22. Lúcio Tício não ma-
Titius neque consensit, neque pecu- nifestou seu consentimento, não rece-
niam accepit, neque in eam cavit, aut beu dinheiro, não deu caução, nem se
se comparationibus cum ceteris mis- envolveu nas compras com os demais
cuit; et post mortem patris in reliqua compradores. Após a morte do pai,
collegarum interpellari coepit; quaeri- passou a ser questionado na prestação
tur, an ex ea causa teneri possit. Paulus de contas de seus colegas. Indaga-se:
respondit, eum, qui iniunctum munus pode ser responsabilizado por isso?
a magistratibus suscipere supersedit, Na opinião de Paulo, quem deixa de
posse conveniri eo nomine propter aceitar cargo imposto por magistrados
damnum reipublicae, quamvis eo tem- pode ser responsabilizado por dano
pore, quo creatus est, in aliena fuerit causado ao interesse público, embora,
potestate. na ocasião em que fora nomeado, esti-
vesse sob o poder de outrem.

21
O incola (habitante) não é necessariamente
munícipe, cuja definição está no § 2º do art.
1 deste Título (Glossário, política adminis-
trativa romana).
22
Glossário, annona.

184
Digesto Livro L – Título I

§ 1. — Paulus respondit, eos, qui pro § 1. Paulo respondeu que quem é de-
aliis non ex contractu, sed ex officio, nunciado em lugar de outros, não por
quod administraverint, conveniuntur, força de contrato, mas em virtude de
in damnum sortis substitui solere, non função exercida, costuma ser respon-
etiam in usuras. sabilizado pela perda do capital, e não
pelos juros.

§ 2. — Idem respondit, heredes patris § 2. Ainda segundo parecer de Paulo,


propter munera filii, quae post mortem herdeiros do pai não podem, de direito,
patris suscepit, iure conveniri non pos- ser processados por causa de cargos assu-
se. Hoc responsum et ad eum pertinet, midos por um filho após a morte do pai.
qui a patre decurio factus post mortem Esse parecer inclui também o caso de fi-
patris munera suscepit. lho que, feito decurião pelo pai, assumiu
a função depois da morte do pai.

§ 3. — Idem respondit, eum, qui decu- § 3. Respondeu também que, se al-


rionem adoptavit, onera decurionatus guém adota um decurião, é conside-
eius suscepisse videri, exemplo patris, rado como tendo assumido os ônus do
cuius voluntate filius decurio factus decurionato, à semelhança de um pai
est. por cuja vontade o filho se tornou de-
curião.

§ 4. — Idem respondit, constante ma- § 4. E mais: que, enquanto dura o ca-


trimonio dotem in bonis mariti esse; samento, o dote faz parte dos bens do
sed si ad munera municipalia a certo marido, mas, se para certos cargos mu-
modo substantiae vocentur, dotem non nicipais se exige parte desses bens, o
debere computari. dote não deve ser incluído.

§ 5. — Idem respondit, si per accusato- § 5. Respondeu também que, se por res-


rem criminum capitalium non stetisset, ponsabilidade do acusador de crime ca-
quominus crimen intra statutum tem- pital o processo não se desenvolve den-
pus persequeretur, reum non debuisse tro do prazo estabelecido, o réu, nesse
medio tempore honorem appetere. ínterim, não deveria aspirar a cargos.

§ 6. — “Imperatores Severus et Anto- § 6. “Os augustos imperadores Severo


ninus Augusti Septimio Zenoni. Pro e Antonino a Septímio Zenão: ‘Quanto
infante filio, quem decurionem esse a teu filho ainda criança, que quiseste
voluisti, quamquam fidem tuam in fazer decurião, por teres remetido sua
posterum adstrinxeris, tamen interim fiança para o futuro, não estás obriga-
onera sustinere non cogeris, quum ad do, nesse ínterim, a assumir o ônus,

185
Livro L – Título I Digesto

ea, quae mandari possunt, voluntatem mas pareces ter anuído com relação a
dedisse videaris”. coisas que podem ser delegadas’.”

§ 7. — Idem respondit, si civitas § 7. Respondeu ainda que, se uma ci-


nullam propriam legem habet de dade não tem lei própria sobre licença
adiectionibus admittendis, non posse para leilões, não pode desfazer de ar-
recedi a locatione vel venditione prae- rendamentos ou vendas de imóveis pú-
diorum publicorum iam perfecta; tem- blicos já consumados, pois compete ao
pora enim adiectionibus praestitura ad fisco marcar data para leilões.
causas fisci pertinent.

22. IDEM libro I. Sententiarum. — 22. IDEM, Sentenças, Livro I. — Fi-


Filli libertorum libertarumque, liberti lhos de libertos e de libertas seguem o
paterni et patroni manumissoris domi- domicílio ou a origem do liberto pater-
cilium aut originem sequuntur. no ou do senhor que alforria.

§ 1. — Vidua mulier amissi mariti § 1. A viúva mantém o domicílio do


domicilium retinet, exemplo clarissi- falecido marido, à semelhança de pes-
mae personae per maritum factae; sed soa que se torna ilustre por causa do
utrumque aliis intervenientibus nuptiis marido. Mas, em ambos os casos, tudo
permutatur. se altera com a ocorrência de novas
núpcias.

§ 2. — Municipes sunt liberti et in eo § 2. Os libertos são também muníci-


loco, ubi ipsi domicilium sua volunta- pes do lugar que escolheram para seu
te tulerunt; nec aliquod ex hoc origini domicílio, sem prejuízo do lugar de
patroni faciunt praeiudicium; et utru- origem de seu patrono, por isso estão
bique muneribus adstringuntur. sujeitos ao exercício de funções em
ambos os lugares.

§ 3. — Relegatus in eo loco, in quem § 3. O desterrado, enquanto durar a


relegatus est, interim necessarium do- pena, tem, nesse ínterim, como domi-
micilium habet. cílio necessário o lugar para o qual foi
desterrado23.

23
Para Ulpiano, citando Marcelo, o desterrado
pode ter domicílio no lugar de onde foi des-
terrado (Tit. I, 27, § 3).

186
Digesto Livro L – Título I

§ 4. — Senator ordine motus ad origi- § 4. O senador afastado da sua classe


nalem patriam, nisi hoc specialiter im- não é restituído a sua terra de origem, a
petraverit, non restituitur. menos que extraordinariamente o con-
siga.

§ 5. — Senatores et eorum filii filiae- § 5. Os senadores e seus filhos e filhas,


que, quoquo tempore nati nataeve, ite- nascidos em qualquer tempo, do mes-
mque nepotes, pronepotes et proneptes mo modo netos, bisnetos e bisnetas
ex filio, origini eximuntur, licet muni- havidos de filho, eximem-se de sua ori-
cipalem retineant dignitatem. gem, embora mantenham a dignidade
municipal.

§ 6. — Senatores, qui liberum comme- § 6. Os senadores que requerem liber-


atum, id est, ubi velint morandi arbi- dade de escolha, isto é, de residir onde
trium impetraverunt, domicilium in quiserem, mantêm o domicílio em
urbe retinent. Roma.

§ 7. — Qui foenus exercent, omnibus § 7. Quem empresta a juros deve res-


patrimonii intributionibus fungi de- ponder por todos os tributos que ve-
bent, etsi possessionem non habeant. nham a incidir sobre um patrimônio,
mesmo que não detenha sua posse.

23. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 23. HERMOGENIANO, Epítome do


epitomarum. — Municeps esse desinit Direito, Livro I. — Deixa de ser muní-
senatoriam adeptus dignitatem, quan- cipe, com relação a funções, quem al-
tum ad munera; quantum vero ad ho- cançou a dignidade de senador; quanto
norem, retinere creditur originem; de- a cargos, porém, crê-se que mantenha a
nique manumissi ab eo eius municipii origem. Por fim, os alforriados por ele
efficiuntur municipes, unde originem tornam-se munícipes do município do
trahit. qual é originário.

§ 1. — Miles ibi domicilium habere vi- § 1. Considera-se que o militar tem


detur, ubi moret, si nihil in patria pos- domicílio no lugar onde vive, se nada
sideat. possui em sua terra natal.

24. SCAEVOLA libro II. Digestorum. 24. CÉVOLA, Digesto, Livro II. —
— Constitutionibus Principum conti- Está dito em constituições imperiais
netur, ut pecuniae, quae ex detrimento que não se cobrem juros de valor pago
solvitur, usurae non praestentur; et ita por prejuízo. Assim se expressaram em
Imperatores Antoninus et Verus Au- rescrito os augustos imperadores An-

187
Livro L – Título I Digesto

gusti rescripserunt his verbis: “Huma- tonino e Vero: “É humano não se co-
num est, reliquorum usuras neque ab brarem juros sobre dívida atrasada por
ipso, qui ex administratione honoris prejuízo, nem do administrador públi-
reliquatus est, neque a fideiussore eius, co insolvente, nem de seu fiador e mui-
et multo minus a magistratibus, qui to menos dos magistrados que tiverem
cautionem acceperint, exigi; cui con- recebido a caução; por conseguinte, é
sequens est, ut ne in futurum a forma recomendável que ninguém se afaste,
observata discedatur”. no futuro, da forma observada”.

25. ULPIANUS libro I. ad Edictum 25. ULPIANO, Comentários ao Edi-


Praetoris. — Magistratus municipales, to do Pretor, Livro I. — Os magistra-
quum unum magistratum adminis- dos municipais, como exercem uma só
trent, etiam unius hominis vicem sus- magistratura, fazem também as vezes
tinent; et hoc plerumque quidem lege de um só juiz. Isso lhes é outorgado
municipali iis datur; verum etsi non em geral por lei municipal, mas, mes-
sit datum, dummodo non denegatum, mo que não explicitamente outorgado,
moribus competit. desde que não denegado, é admitido
pelo costume.

26. PAULUS libro I. ad Edictum. — 26. PAULO, Comentários, Livro II.


Ea, quae magis imperii sunt, quam — O magistrado municipal não pode
iurisdictionis, magistratus municipalis fazer o que é mais de soberania do que
facere non potest. de jurisdição.

§ 1. — Magistratibus municipalibus non § 1. Não é permitido aos magistrados


permittitur in integrum restituere, aut municipais restituir integralmente ou
bona rei servandae causa iuberi possi- mandar que se possuam bens a título
dere, aut dotis servandae causa, vel lega- de conservação ou de manutenção de
torum servandorum causa. dote ou de legados.

27. ULPIANUS libro II. ad Edictum. 27. ULPIANO, Comentários ao Edi-


— Eius, qui manumisit, municeps est to, Livro II. — O alforriado24 é muníci-
manumissus, non domicilium eius, sed pe do município de quem o alforriou,
patriam secutus. Et si patronum habeat seguindo não o domicílio do alforria-
duarum civitatum municipem, per dor, mas sua terra natal. E se tem pa-
manumissionem earundem civitatum trono munícipe de duas cidades, pela
erit municeps.

24
Glossário, alforriado e manumissão.

188
Digesto Livro L – Título I

alforria será munícipe das mesmas ci-


dades.

§ 1. — Si quis negotia sua non in co- § 1. Se alguém tem seus negócios não
lonia, sed in municipio semper agit, in numa colônia, mas sempre atua num
illo vendit, emit, contrahit, eo in foro, município, nele vendendo, compran-
balneo, spectaculis utitur, ibi festos dies do, fazendo contratos, e utiliza-se de
celebrat, omnibus denique municipii seu foro, de seus banhos e assiste a seus
commodis, nullis coloniarum, fruitur, espetáculos, celebra os dias festivos,
ibi magis habere domicilium, quam ubi enfim, frui de todos os seus benefícios
colendi causa deversatur. e de nenhum da colônia, ali tem mais
domicílio do que onde mora como
proprietário rural.

§ 2. — Celsus libro primo Digestorum § 2. Segundo Celso, em seu Livro I do


tractat, si quis instructus sit duobus Digesto, se alguém se estabelece igual-
locis aequaliter, neque hic, quam illic mente em dois lugares e não reside
minus frequenter commoretur, ubi do- menos em um do que no outro, seu
micilium habeat, ex destinatione animi domicílio será definido por sua pró-
esse accipiendum; ego dubito, si utru- pria escolha. Tenho dúvida se alguém
bique destinato sit animo, an possit se sente com igual disposição de âni-
quis duobus locis domicilium habere; mo para ter domicílio em ambos os
et verum est habere, licet difficile est, lugares; pode, embora seja difícil, do
quemadmodum difficile est, sine do- mesmo modo que é difícil conceber
micilio esse quemquam. Puto autem et alguém sem domicílio. Mas considero
hoc procedere posse, si quis domicilio também ser possível alguém deixar o
relicto naviget, vel iter faciat, quaerens, domicílio para viajar, por mar ou por
quo se conferat, atque ubi constituat; terra, em busca de lugar para morar e
nam hunc puto sine domicilio esse. ali se estabelecer. No meu parecer, essa
pessoa não tem domicílio.

§ 3. — Domicilium autem habere po- § 3. O desterrado pode também ter


test et relegatus eo loci, unde arcetur, domicílio no lugar de onde foi dester-
ut Marcellus scribit. rado, como escreve Marcelo25.

25
O § 3 do art. 22 deste Título admite o contrá-
rio.

189
Livro L – Título I Digesto

28. PAULUS libro I. ad Edictum. — 28. PAULO, Comentários ao Edito,


Inter convenientes et de re maiori apud Livro I. — Questão de maior impor-
magistratus municipales agetur. tância será julgada por magistrados
municipais.

29. GAIUS libro I. ad Edictum pro- 29. GAIO, Comentários ao Edito


vinciale. — Incola et his magistratibus Provincial, Livro II. — O habitante
parere debet, apud quos incola est, et deve obediência não só aos magistra-
illis, apud quos civis est; nec tantum dos do lugar onde reside, mas também
municipali iurisdictioni in utroque aos magistrados da cidade da qual é
municipio subiectus est, verum etiam cidadão, pois não é apenas súdito da
omnibus publicis muneribus fungi de- jurisdição municipal em ambos os lu-
bet. gares, mas também deve exercer todas
as funções públicas.

30. ULPIANUS libro LXI. ad Edic- 30. ULPIANO, Comentários ao Edi-


tum. — Qui ex vico ortus est, eam pa- to, Livro LXI. — Quem nasce num po-
triam intelligitur habere, cui reipubli- voado entende-se ter como terra natal
cae vicus ille respondet. o lugar a que pertence o povoado.

31. MARCELLUS libro LXI. Digesto- 31. MARCELO, Digesto, Livro I. —


rum. — Nihil est impedimento, quo- Nada impede alguém ter como domi-
minus quis, ubi velit, habeat domici- cílio um lugar de sua escolha, desde
lium, quod ei interdictum non sit. que esse lugar não lhe seja interdito.

32. MODESTINUS libro IV. Diffe- 32. MODESTINO, Diferenças, Livro


rentiarum. — Ea, quae desponsa est, IV. — A noiva não muda de domicílio
ante contractas nuptias suum non mu- antes do casamento.
tat domicilium.

33. IDEM libro singulari de Manu- 33. IDEM, Livro Único sobre Alfor-
missionibus. — Roma communis nos- rias. — Roma é a nossa pátria comum.
tra patria est.

34. IDEM libro III. Regularum. — 34. IDEM, Regras, Livro III. — Habi-
Incola iam muneribus publicis desti- tante já designado para funções públi-
natus, nisi perfecto munere, incolatui cas não pode renunciar à condição de
renuntiare non potest. habitante antes de encerrado o exercí-
cio da função.

190
Digesto Livro L – Título I

35. IDEM libro I. Excusationum. — 35. IDEM, Das Escusas, Livro I. —


Eivde,nai crh,, o[ti o` evn avgrw/| katame,nwn, Convém saber que morador do cam-
incolas ouv nomi,zetai o` ga.r evkei,nhj po não é considerado habitante, pois
th/j póo,lewj evxaire,toij mh, crw,menoj,, quem não usufrui dos benefícios de
ou[toj ouv nomi,zetai ei;nai incolas [Sci- uma cidade não é considerado seu ci-
re oportet, quod qui in agro permanet, tadino.
incola esse non existimatur; qui enim
illius civitatis praecipuis non utitur,
non existimatur esse incola.].

36. IDEM libro I. Responsorum. — 36. IDEM, Respostas, Livro I. — Os


Titio, quum esset Romae studiorum magistrados da cidade de Tício, o qual
gratia, epistola missa est a magistra- se encontrava em Roma para fins de
tibus patriae suae, ut porrigeret Im- estudo, lhe enviaram uma carta pe-
peratori decretum eiusdem civitatis, dindo-lhe para entregar ao Imperador
quod erat cum ipsa epistola missum; is decreto da mesma municipalidade, que
autem, qui suscepisset literas restituen- acompanhava a carta. Todavia, o por-
das, collusione facta dedit Lucio Titio, tador da carta que deveria ser entregue
qui et ipse Romae morabatur suae rei a Tício entregou-se fraudulentamente
gratia; sublato Titii nomine, cui erat a Lúcio Tício, que também residia em
decretum missum, uti per ipsum da- Roma em razão de negócios. Lúcio
retur, suum nomen scripsit, et sic Im- apaga o nome de Tício, a quem o de-
peratori decretum secundum mandata creto fora enviado para ser entregue
reipublicae dedit; quaero, qui viaticum por ele, e subscreve o seu próprio e faz
petere ab ea potuisset et quid commi- a entrega do decreto conforme instru-
sisse videtur is, qui non restituit literas ções da cidade. Indaga-se: quem tem
ei, cui restituere mandatum susceperat, direito de requerer da cidade a ajuda
et is, qui sublato alieno nomine ins- de custo e que espécie de delito parece
criptoque suo, quasi ipse iussus a pa- ter cometido quem não fez a entrega da
tria, decretum Imperatori porrexit. He- carta a quem fora endereçada, substi-
rennius Modestinus respondit, Titium tuiu pelo seu o nome do destinatário,
quidem viaticum petere non posse, sed como se ele tivesse recebido a incum-
eum, qui nomen incidisset. bência, e fez a entrega ao Imperador?
Para Herênio Modestino, Tício não
tem direito de reclamar a ajuda de cus-
to, mas aquele que apôs seu nome.

§ 1. — Titius pro pecunia publica, § 1. Tício recebeu penhor por emprés-


quam ipse credidit, pignus accepit pac- timo que ele mesmo fizera com recurso
to facto cum debitore, ut non soluto público, tendo acertado com o devedor

191
Livro L – Título I Digesto

debito, sine ulla repromissione dis- que, se a dívida não fosse quitada, o pe-
trahatur pignus; succedentes gradu in nhor seria vendido sem nenhuma re-
locum Titii nomen et pignus probave- negociação. Os sucessores na função de
runt usque ad Maevium; ex venditio- Tício, até Mévio, aprovaram o crédito e
ne pignoris propter repromissionem o penhor. Da venda do penhor, tendo
a magistratu vendentibus factam, de em vista acordo feito pelo juiz com os
modo fundi demonstrato, satis debito vendedores, constatada a dimensão da
factum non est; quaerebatur, quis rei- propriedade, o apurado não dava para
publicae tenetur? Herennius Modes- cobrir o débito. Indagou-se quem era
tinus: Titium, quum successores eius o responsável pelo prejuízo do erário.
periculum nominis agnoverint, eo no- Resposta de Herênio Modestino: Tí-
mine obstrictum non esse respondi; cio não o era, porque seus sucessores
sed nec post magistratus, qui vendidis- haviam aprovado o risco do crédito;
se proponuntur, quum videlicet pluris tampouco os magistrados seguintes,
vendiderunt propter mensurae agri que dizem ter determinado a venda do
demonstrationem, et hoc, qua pluris penhor, pois, na verdade, venderam
vendiderunt, restituere minore modo por preço superior tendo em vista a de-
deprehenso iussi sunt; eum igitur, qui clarada dimensão do campo e, porque
novissimus nomen probavit, indem- venderam por mais, foram ordenados a
nitati reipublicae satisfacere debere, devolver o que foi cobrado a mais, após
si nomen ad successorem idoneum a medição a menos constatada. Assim,
transmisisse non doceatur. portanto, quem aprovou por último o
crédito está obrigado a ressarcir o erá-
rio, caso não se prove ter transferido o
crédito a sucessor idôneo.

37. CALLISTRATUS libro I. de Cog- 37. CALÍSTRATO, Do Conhecimen-


nitionibus. — De iure omnium in- to, Livro I. — É da responsabilidade
colarum, quos quaeque civitates sibi dos governadores de província conhe-
vindicant, Praesidum provinciarum cer o direito de todos os habitantes que
cognitio est. Quum tamen se quis ne- cada cidade reclama como seus. Quan-
gat incolam esse, apud eum Praesidem do, portanto, alguém nega ser habitan-
provinciae agere debet, sub cuius cura te, deve tomar as providências peran-
est ea civitas, a qua vocatur ad mune- te o governador ao qual está sujeita a
ra, non apud eam, ex qua ipse se dicit cidade pela qual é convocado para o
oriundum esse; idque Divus Hadrianus exercício de funções, e não perante a
rescripsit mulieri, quae aliunde orta cidade da qual se diz originário. Assim
alibi nupta est. respondeu o imperador Adriano, em
rescrito, a mulher que, originária de
uma cidade, casou-se em outra.

192
Digesto Livro L – Título I

§ 1. — Libertos eo loco munus facere § 1. É norma que os libertos devem


debere, unde patrona erit, et ubi ipsi exercer funções no lugar de onde for
domicilium habebunt, placet. sua patrona e onde eles mesmos tive-
rem domicílio.

§ 2. — Mulieres, quae in matrimo- § 2. Convém saber que mulher que


nium se dederint non legitimum, non contrai matrimônio ilegítimo terá de
ibi muneribus fungendas, unde mariti exercer funções não no lugar de ori-
earum sunt, sciendum est, sed unde gem de seu marido, mas no lugar de
ipsae ortae sunt; idque Divi Fratres res- onde ela própria é originária; isso tam-
cripserunt. bém decidiram, por rescrito, os impe-
radores irmãos26.

38. PAPIRIUS IUSTUS libro II. de 38. PAPÍRIO JUSTO, Das Consti-
Constitutionibus. — Imperatores An- tuições, Livro II. — Os imperadores
toninus et Verus rescripserunt, gratiam Antonino e Vero determinaram, por
se facere iurisiurandi ei, qui iuraverat, rescrito, que se há de dispensar do ju-
se ordini non interfaturum, et postea ramento quem jurou nunca haver de
duumvir creatus esset. integrar uma classe e depois é nomea-
do duúnviro27.

§ 1. — Item rescripserunt, colonos § 1. Recomendaram, também por res-


praediorum fisci muneribus fungi sine crito, convir a agricultores assentados
damno fisci oportere; idque excutere exercer funções fiscais no campo, des-
Praesidem adhibito procuratore debe- de que sem prejuízo para o fisco e que
re. essa avaliação fica a cargo de governa-
dor, com a intervenção do procurador.

§ 2. — Imperatores Antoninus et Ve- § 2. Os imperadores Antonino e Vero


rus rescripserunt, ad magistratus offi- determinaram, por rescrito, que é fun-
cium pertinere exactionem pecuniae ção de magistrado cobrar o imposto
legatorum, et si cessaverint, ipsos vel sobre o valor dos legados. Se deixarem
heredes conveniri, aut si solvendo non de fazê-lo, eles próprios ou seus herdei-
sint, fideiussores eorum, qui pro his ca- ros serão responsabilizados e, se não
verunt. forem solventes, os fiadores que por
eles deram caução.

26
Glossário, Dois irmãos.
27
Glossário, decênviros.

193
Livro L — Títulos I e II Digesto

§ 3. — Item rescripserunt, mulierem, § 3. Além disso, determinaram que


quamdiu nupta est, incolam eiusdem uma mulher, enquanto estiver casada,
civitatis videri, cuius maritus eius est, é considerada habitante da mesma ci-
et ibi, unde originem trahit, non cogi dade da qual é seu marido e não pode
muneribus fungi. ser obrigada a exercer funções28 em sua
cidade de origem.

§ 4. — Item rescripserunt, patris, qui § 4. Determinaram ainda, por rescrito,


consulto filium emancipaverat, ne pro que responde, com seus bens, como se
magistratu eius caveret, perinde bona seu fiador fosse, o pai que, intencional-
teneri, atque si fideiussor pro eo exti- mente, emancipou um filho para fugir
tisset. da obrigação de caucioná-lo para o
exercício da magistratura.

§ 5. — Item rescripserunt, quum qua- § 5. Decidiram também, por rescrito,


eritur, an municeps quis sit, ex ipsis que convém buscar a prova em fatos
etiam rebus probationes sumi oporte- quando se duvida da condição de mu-
re; nam solam nominis similitudinem nícipe de alguém, pois a simples seme-
ad confirmandam cuiusque originem lhança de nome não é suficiente para
satis non esse. confirmar a origem de um indivíduo.

§ 6. — Imperatores Antoninus et Ve- § 6. Os imperadores Antonino e Vero,


rus rescripserunt, non minus eos, qui por rescrito, determinaram que se
compulsi magistratu funguntur, cavere obrigam a oferecer caução não só os
debere, quam quis sponte officium ag- que são obrigados a exercer a magis-
noverunt. tratura como aqueles que espontanea-
mente aceitam o cargo.

TITULUS II TÍTULO II
DE DECURIONIBUS ET FILIIS DOS DECURIÕES E SEUS FILHOS29
EORUM

1. ULPIANUS libro II. Opinionum. 1. ULPIANO, Opiniões. Livro II. —


— Decuriones, quos sedibus civitatis, Cuide o governador de província de
ad quam pertinent, relictis in alia loca convocar para exercer as funções que
transmigrasse probabitur, Praeses pro-
vinciae in patrium solum revocare, et
muneribus congruentibus fungi curet.
28
Glossário, cargos e funções.
29
Glossário, decurião.

194
Digesto Livro L — Título II

lhe competem decurião que compro-


vadamente mudou-se para outro lu-
gar30.

2. IDEM libro I. Disputationum. — 2. IDEM, Disputas, Livro I. — Se al-


Qui ad tempus relegatus est, si decurio guém que é decurião for temporaria-
sit, desinet esse decurio, reversus pla- mente desterrado, deixa de sê-lo e, ao
ne locum suum quidem non obtinebit, regressar, não retorna ao cargo, mas
sed non semper prohibetur decurio não fica para sempre impedido de ser
fieri; denique in locum suum non res- decurião. Só não pode voltar ao cargo
tituetur, nam et sublegi in locum eius anterior, pois outro pode ter sido eleito
potest; et si numerus ordinis plenus sit, em seu lugar. E, se o número da classe
exspectare eum oportet, donec alius estiver completo, deverá esperar que se
vacet. Alia causa est eius, qui ad tem- abra vaga. Outra é a condição de quem
pus ordine removetur; hic enim imple- é temporariamente licenciado da clas-
to tempore decurio est; sed et in huius se: terminada a licença, é reintegrado
locum sublegi poterit; sed et si plenum ao cargo. Mas também outro poderá
locum invenerit, exspectet, donec lo- ser eleito em seu lugar; se encontrar
cus vacet. seu cargo ocupado, esperará até que
vague.
§ 1. — Restitutus tamen in ordinem
utrum eum ordinem teneat, quem pri- § 1. De volta à classe, indaga-se se re-
mum habuit, an vero, quem nunc nac- toma a posição de antes ou assume a
tus est, quaeri potest, si forte de ordine obtida agora, quando se trata da ordem
sententiarum dicendarum agatur. Ar- na emissão de voto. Na minha opinião,
bitror tamen, eundem ordinem tenere, deve ser a mesma que antes lhe tocara.
quem pridem habuit. Non idem erit in O mesmo não acontecerá com quem
eo, qui relegatus ad tempus est; nam foi temporariamente desterrado, pois
hic velut novus in ordinem venit. esse é readmitido na classe como mem-
bro novo.
§ 2. — In filiis decurionum quaestio
est, utrum is solus decurionis filius § 2. Com relação a filhos de decuriões,
esse videatur, qui conceptus et natus a questão está em saber quem se consi-
est ex decurione, an vero et is, qui ante dera ser filho de decurião, isto é, quem
natus est, quam pater decurio fieret. Et foi concebido e nasceu de decurião, ou
quidem quantum pertinet, ne fustibus também quem nasceu antes de o pai se
castigetur, et ne in metallum detur, tornar decurião. Certamente, no que
non nocet plebeio patre esse natum, si
postea honor decurionis patri eorum
accesserit. In avo quoque Papinianus
30
Glossário, cargos e funções.

195
Livro L – Título II Digesto

idem respondit, ne patris nota filius tange a castigos com açoites e a não ser
macularetur. condenado às minas, não o prejudica ter
nascido de pai plebeu se depois o pai ti-
ver tido acesso à honra do decurionato.
Papiniano era do mesmo parecer com
relação a avô, de que o filho não deve
ser estigmatizado pelo opróbrio do pai.

§ 3. — Sed si pater ipsius ordine motus § 3. Mas se o pai é afastado da classe e


sit, si quidem ante conceptionem eius o afastamento se dá antes da concepção,
moveatur, arbitror, eum quasi plebeii a meu ver, o filho deve ser considerado
filium in honoribus spectari; quodsi plebeu com referência a cargos. Mas, se
post conceptionem pater ipsius digni- o pai perder a dignidade depois da con-
tatem amiserit, dicendum erit benigne, cepção, o filho dever ser, por benignida-
ut decurionis filium intuendum. de, considerado filho de decurião.

§ 4. — Proinde hic quoque, qui post § 4. Por conseguinte, quem nasceu


patris relegationem natus sit, si quidem depois de desterro do pai, mas foi con-
ante conceptus est, similis Senatoris fi- cebido antes, assemelha-se à condição
lio habebitur, si postea, nocebit illi rele- de filho de senador. Mas, se concebido
gatio. depois, será prejudicado pelo desterro
do pai.

§ 5. — Si ad tempus ordine moto patre § 5. Se tiver nascido enquanto o pai


fuerit natus, medioque tempore con- esteve afastado temporariamente da
ceptus et editus, an quasi decurionis fi- classe, concebido e dado à luz nesse
lius nascatur, licet pater eius ante obie- intervalo, pergunta-se se nasce filho de
rit, quam in ordinem venerit? Quod decurião se o pai tiver morrido antes
benigne erit admittendum. de retornar à classe. A resposta, por be-
nignidade, é positiva.

§ 6. — Praeterea si conceptus sit a ple- § 6. Além disso, se gerado por um ple-


beio, mox ante editionem pater eius beu e, logo em seguida, antes de ser
decurionatum adeptus ante editionem dado à luz, seu pai alcança o decurio-
amiserit, non infavorabiliter quis me- nato e o perde antes do nascimento do
dium tempus illi prodesse, veluti iam filho, há quem admite que o intervalo
nato, respondebit. de tempo lhe é favorável, como se já ti-
vesse nascido.

196
Digesto Livro L – Título II

§ 7. — Nullum patris delictum inno- § 7. Nenhum delito de um pai alcan-


centi filio poenae est; ideoque nec or- ça penalmente um filho inocente. Por
dine decurionum aut ceteris honoribus isso, não será impedido de exercer o
propter eiusmodi causam prohibetur. decurionato nem outros cargos por
motivo dessa natureza.

§ 8. — Maiores annis quinquaginta- § 8. Constituições proíbem que maio-


quinque ad decurionatus honorem res de cinquenta e cinco anos sejam
inviti vocari Constitutionibus prohi- convocados, contra sua vontade, à clas-
bentur; sed si ei rei consenserint, etsi se dos decuriões. Se consentirem, mes-
maiores annis septuaginta sint, munera mo se maiores de setenta anos, não são
quidem civilia obire non coguntur, ho- obrigados a assumir funções civis, mas
nores autem gerere debent. devem exercer cargos honoríficos.

3. IDEM libro III. de officio Procon- 3. IDEM, Da função do Procônsul,


sulis. — Generaliter id erit defenden- Livro III. — Em geral, se há de convir
dum, ut, qui clementiorem sententiam que quem recebeu uma sentença mais
passus est ob hoc, quod ad tempus re- branda, de ser desterrado temporaria-
legatur, bonis consulere debeat huma- mente, deve contentar-se com a be-
nitatis sententiae, nec decurionatum nignidade da sentença e não aceitar o
recipiat. decurionato.

§ 1. — Sed si quis ob falsam causam, § 1. Mas, se alguém, por motivo injus-


vel aliam de gravioribus, non ad tem- to ou por outro que implica pena mais
pus sit relegatus, sed ad tempus ordine grave, não foi temporariamente dester-
motus, in ea est causa, ut possit in ordi- rado, mas temporariamente afastado
nem redire. Imperator enim Antoninus da classe dos decuriões, assiste-lhe, em
Edicto proposito statuit, ut, cuicunque situações dessa natureza, o direito de
aut quacunque causa ad tempus or- ser reconduzido ao decurionato. Nes-
dine, vel advocationibus, vel quo alio se sentido, o imperador Antonino, por
officio fuisset interdictum, completo edito publicado, estabeleceu que quem,
tempore nihilominus fungi honore vel por qualquer que seja a causa, for afas-
officio possit; et hoc recte, neque enim tado temporariamente da classe, ou da
exaggeranda fuit sententia, quae mo- advocacia, ou de qualquer outro cargo,
dum interdictioni fecerat. completado o tempo do afastamento,
pode voltar ao exercício do cargo ou à
função honorífica. E com razão, pois
não se deve ir além da sentença que es-
tabelecera o limite da interdição.

197
Livro L – Título II Digesto

§ 2. — Spurios posse in ordinem allegi, § 2. Está fora de discussão que filhos


nulla dubitatio est; sed si habeat com- naturais podem ter acesso à classe. Mas,
petitorem legitime quaesitum, praefer- conforme os imperadores irmãos31 res-
ri eum oportet, Divi Fratres Lolliano ponderam, por rescrito, a Loliano Avi-
Avito Bithyniae Praesidi rescripserunt. to, governador de Bitínia, se houver
Cessantibus vero his etiam spurii ad filho legítimo na competição, esse deve
decurionatum, et re et vita honesta, ser preferido. Não os havendo, filhos
recipientur; quod utique non sordi erit naturais, de vida e costumes honestos,
ordini, quum ex utilitate eius sit, sem- serão admitidos. Isso certamente não
per ordinem plenum habere. implica desdoiro para a classe, à qual
convém ter sempre completo o número
de decuriões.

§ 3. — Iis, qui Iudaicam superstitio- § 3. Quanto a seguidores das supers-


nem sequantur, Divi Severus et Anto- tições judaicas, os imperadores Severo
ninus honores adipisci permiserunt, e Antonino lhes permitiram aspirar às
sed et necessitates iis imposuerunt, honras, mas também lhes impuseram
quae superstitionem eorum non laede- obrigações que não interferiam em
rent. suas crenças.

4. MARCIANUS libro I. de Iudiciis 4. MARCIANO, Dos Juízos Públicos,


publicis. — Decurio, qui prohibetur Livro I. — O decurião, a quem é veda-
conducere quaedam, si iure successerit do tomar em arrendamento algumas
in conductione, remanet in ea; quod et coisas, pode, todavia, manter a opera-
in omnibus similibus servandum est. ção se a receber por direito de sucessão,
princípio que deve ser observado em
todos os casos semelhantes.

5. PAPINIANUS libro II. Quaestio- 5. PAPINIANO, Questões, Livro II.


num. Ad tempus ordine motos ex cri- — Está estabelecido que decuriões
mine, quod ignominiam importat, in afastados temporariamente da classe,
perpetuum moveri placuit; ad tempus quando por crime, devem ficar defi-
autem exulare iussos ex crimine levio- nitivamente afastados mas aqueles que
re, velut transacto negotio, non esse in- o forem por crimes menos graves, por
ter infames habendos. exemplo, de descumprir um contrato,
não devem ser incluídos entre infames.

31
Glossário, Dois irmãos.

198
Digesto Livro L – Título II

6. IDEM libro I. Responsorum. Spurii 6. IDEM, Respostas, Livro I. — Filhos


decuriones fiunt, et ideo fieri poterit ex naturais podem ser decuriões e, por
incesto quoque natus, non enim impe- isso, o podem também os nascidos de
dienda est dignitas eius, qui nihil ad- incesto, pois não pode ser privado de
misit. alguma dignidade quem nenhum cri-
me cometeu.

§ 1. — Minores vigintiquinque anno- § 1. Menores de vinte e cinco anos no-


rum decuriones facti sportulas decu- meados decuriões têm direito às van-
rionum accipiunt, sed interim suffra- tagens do decurionato, mas, enquanto
gium inter ceteros ferre non possunt. menores, não têm direito de votar.

§ 2. — Decurio etiam suae civitatis § 2. Seja vedado também ao decurião


vectigalia exercere prohibetur. cobrar impostos em sua cidade.

§ 3. — Qui iudicii publici quaestionem § 3. Quem retirar uma ação judicial


citra veniam abolitionis deseruerunt, antes da sentença de absolução não é
decurionum honore decorari non pos- digno do decurionato, uma vez que o
sunt, quum ex Turpilliano Senatuscon- senátus-consulto turpiliano tipifica isso
sulto notentur ignominia, veluti calu- como ignomínia, como os condenados
mniae causa iudicio publico damnati. em juízo público por causa de calúnia.

§ 4. — Pater, qui filio decurione creato § 4. O pai que apelou contra a eleição
provocavit, etsi praescriptione tempo- do filho para o decurionato, por não
ris exclusus fuerit, si quod gestum est, haver aprovado a nomeação mesmo
non habuit ratum, muneribus civilibus que prejudicado pela prescrição do
pro filio non tenebitur. prazo, não será responsabilizado pelas
funções civis exercidas pelo filho.

§ 5. — Privilegiis cessantibus ceteris, § 5. Na falta de outros privilégios,


eorum causa potior habetur in senten- considera-se prioritária, na emissão
tiis ferendis, qui pluribus eodem tem- de votos, a condição daqueles que,
pore suffragiis iure decurionis decorati na mesma ocasião, foram investidos
sunt. Sed et qui plures liberos habet, na dignidade de decurião com maior
in suo collegio primus sententiam ro- número de votos. Mas quem é pai de
gatur, ceterosque honoris ordine prae- maior número de filhos é também con-
cellit. vidado a emitir primeiro seu voto no
colegiado a que pertence e, dessa ma-
neira, seu voto precede, pela distinção
de sua condição, todos os demais.

199
Livro L – Título II Digesto

7. PAULUS libro I. Sententiarum. — 7. PAULO, Sentenças, Livro I. — Car-


Honores et munera non ordinatione, gos e funções devem ser conferidos
sed potioribus quibusque iniungenda não de acordo com a ordem do regis-
sunt. tro, mas aos melhores.

§ 1. — Surdus et mutus, si in totum § 1. Surdos e mudos totalmente pri-


non audiant, aut non loquantur, ab ho- vados das faculdades de ouvir e falar
noribus civilibus, non etiam a muneri- são dispensados de cargos honoríferos,
bus excusantur. não de funções32.

§ 2. — Is, qui non sit decurio, duumvi- § 2. Quem não é decurião não pode
ratu, vel aliis honoribus fungi non po- exercer o duunvirato nem outros car-
test, quia decurionum honoribus ple- gos, pois é vedado a plebeus o exercício
beii fungi prohibentur. de cargos próprios de decurião.

§ 3. — Ad decurionatum filii ita de- § 3. Um pai só pode contestar o decu-


mum pater non consentit, si contra- rionato de um filho se o fizer diante de
riam voluntatem vel apud acta Praesi- um governador ou da própria ordem
dis, vel apud ipsum ordinem, vel quo dos decuriões ou de outra maneira.
alio modo contestatus sit.

8. HERMOGENIANUS libro I. Epito- 8. HERMOGENIANO, Epítome, Li-


marum. — Decurionibus facultatibus vro I. — É permitida a concessão de
lapsis alimenta decerni permissum est, pensão alimentícia a decuriões que
maxime si ob munificentiam in pa- perderam seus bens, principalmente se
triam patrimonium exhauserint. isso aconteceu por ter sido seu patri-
mônio exaurido por magnanimidade
para com a pátria.

9. PAULUS libro I. Decretorum. — 9. PAULO, Decretos, Livro I. — Deci-


Severus Augustus dixit; etsi probare- diu o augusto imperador Severo: mes-
tur Titius in servitute patris sui natus, mo se comprovadamente nascido de
tamen quum ex libera muliere sit pro- pai escravo, mas concebido por mãe
creatus, non prohibetur decurio fieri in livre, Tício não está impedido de se
sua civitate. tornar decurião em sua cidade natal.

32
Glossário, cargos e funções.

200
Digesto Livro L – Título II

§ 1. — Non esse dubitandum, quin na- § 1. Não há dúvida de que armadores


vicularii non debent decuriones creari. não devem ser nomeados decuriões.

10. MODESTINUS libro I. Respon- 10. MODESTINO, Respostas, Livro I.


sorum. — Herennius Modestinus res- — Responde Herênio Modestino que,
pondit, sola albi proscriptione minime de modo algum, a simples inscrição no
decurionem factum, qui secundum le- registro de decuriões torna alguém de-
gem decurio creatus non sit. curião, se não tiver sido nomeado se-
gundo a lei.

11. CALLISTRATUS libro I. Cogni- 11. CALÍSTRATO, Conhecimento,


tionum. — Non tantum qui tenerae Livro I. — Não só crianças mas tam-
aetatis, sed etiam qui grandes natu bém os idosos são proibidos de se
sunt, decuriones fieri prohibentur; illi tornarem decuriões: os primeiros es-
quasi inhabiles rempublicam tueri ad cusam-se como temporariamente in-
tempus excusantur, hi vero in perpe- capazes de cuidar da coisa pública; os
tuum amoventur, non alias seniores, outros, porque definitivamente incapa-
ne seniorum excusatione iuniores one- zes. Não, porém, idosos de outro tipo,
rentur, ad omnia munera publica susci- para não sobrecarregar os jovens, que
pienda soli relicti; neque enim minores seriam os únicos disponíveis para as-
vigintiquinque annis decuriones allegi, sumir todas as funções públicas; tam-
nisi ex causa possunt, neque hi, qui pouco menores de vinte e cinco anos
annum quinquagesimum et quintum podem ser eleitos decuriões, a não ser
excesserunt. Nonnumquam etiam lon- por algum motivo especial; nem maio-
ga consuetudo in ea re observata respi- res de cinquenta e cinco anos. Às vezes,
cienda erit; quod etiam custodiendum se há de observar antigo costume nessa
Principes nostri, consulti de allegendis matéria: o que admitiram também, em
in ordine Nicomedensium huius aeta- rescrito, nossos imperadores, consulta-
tis hominibus, rescripserunt. dos sobre essa observância na eleição
de cidadãos dessa idade para decuriões
da Nicomédia.

12. IDEM libro VI. Cognitionum. 12. IDEM, Conhecimentos, Livro


— Eos, qui utensilia negotiantur et VI. — Negociantes e comerciantes de
vendunt, licet ab aedilibus caedun- quinquilharia, mesmo se punidos por
tur, non oportet quasi viles personas edis, não devem ser tidos como pes-
negligi. Denique non sunt prohibiti soas vulgares. Enfim, homens dessa
huiusmodi homines decurionatum, vel espécie não estão impedidos de aspirar
aliquem honorem in sua patria petere; ao decurionato ou a outra dignidade
nec enim infames sunt; sed ne quidem em sua terra. Tampouco são infames;

201
Livro L – Título II Digesto

arcentur honoribus, qui ab aedilibus menos ainda, não devem ser privados
flagellis caesi sunt, quamquam iure suo de cargos; aqueles que tiverem sido
ita aediles officio isto fungantur; inho- punidos com açoites por edis, embo-
nestum tamen puto esse, huiusmodi ra os edis o tenham feito no legítimo
personas flagellorum ictibus subiectas exercício de suas funções. Considero,
in ordinem recipi, et maxime in iis ci- porém, inconveniente que pessoas des-
vitatibus, quae copiam virorum hones- sa natureza, submetidas a castigos de
torum habeant; nam paucitas eorum, flagelação, sejam recebidas em algum
qui muneribus publicis fungi debeant, cargo, principalmente nas cidades que
necessario etiam hos ad dignitatem contam, entre seus habitantes, muitos
municipalem, si facultates habeant, in- cidadãos honestos. Ora, a escassez des-
vitet. sa categoria de pessoas para o exercício
de funções públicas impõe a convoca-
ção para cargos municipais desses ci-
dadãos menos qualificados, desde que
possuam bens.

13. PAPIRIUS IUSTUS libro II. De 13. PAPÍRIO JUSTO, Das Consti-
Constitutionibus. — Imperatores An- tuições, Livro II. — Os imperadores
toninus et Verus Augusti rescripserunt, Antonino e Vero determinaram, em
in tempus relegatos et reversos in ordi- rescrito, que desterrados temporaria-
nem allegi sine permissu Principis non mente não podem, ao regressar, serem
posse. eleitos para o decurionato sem a per-
missão do príncipe.

§ 1. — Item rescripserunt, relegatos § 1. Determinaram ainda, por rescrito,


non posse tempore finito in ordinem que aqueles que são desterrados, após o
decurionum allegi, nisi eius aetatis cumprimento da pena, não podem ser
fuerint, ut nondum decuriones creari eleitos para a ordem dos decuriões, a
possent, et dignitas certa spem eius ho- não ser que, antes do desterro, não ti-
noris id faceret, ut Princeps indulgere vessem ainda idade para tal e exibam
possit. dignidade que incline o príncipe a lhes
alentar a esperança de alcançar essa
honra.

§ 2. — Item rescripserunt, eum, qui § 2. Também decidiram, por rescrito,


in relegatione natus est, non prohiberi que não pode ser privado da honra do
honore decurionatus fungi. decurionato quem nasce no desterro.

202
Digesto Livro L – Títulos II e III

§ 3. — Item rescripserunt, non admitti § 3. E, mais ainda, também por rescri-


contradicere volentem, quod non rec- to, resolveram que não era admissível
te quis sit creatus decurio, quum initio alguém querer contestar a eleição de
contradicere debuerit. um decurião sob a alegação de irregu-
laridade, se não o tiver feito no início
do processo.

14. PAULUS libro I. Questionum. 14. PAULO, Questões, Livro I. — O


— De decurione damnato non debere imperador Pio, em rescrito, determi-
quaestionem haberi, Divus Pius res- nou que um decurião condenado não
cripsit; unde etiam si desierit decurio pode ser submetido a tortura; daí, mes-
esse, deinde damnetur, non esse tor- mo se condenado depois de ter sido
quendum, in memoriam prioris digni- decurião, não deve ser torturado, em
tatis placet. consideração à sua dignidade anterior.

TITULUS III TÍTULO III


DE ALBO SCRIBENDO DA INSCRIÇÃO NO REGISTRO

1. ULPIANUS libro III. de officio 1. ULPIANO, Da Função do Procôn-


Proconsulis. — Decuriones in albo ita sul, Livro III. — Os decuriões devem
scriptos esse oportet, ut lege munici- ser inscritos no registro conforme es-
pali praecipitur; sed si lex cessat, tunc tabelecido pela lei municipal. Na falta
dignitates erunt spectandae, ut scri- de lei, então seguir-se-á, na inscrição,
bantur eo ordine, quo quisque eorum a ordem de importância dos cargos
maximo honore in municipio functus exercidos pelo decurião no município.
est; puta qui duumviratum gesserunt, Por exemplo, aqueles que exerceram o
si hic honor praecellat, et inter duu- duunvirato, se esse cargo tiver prece-
mvirales antiquissimus quisque, prior dência sobre os outros; entre os duún-
is deinde hi, qui secundo post duumvi- viros, o mais antigo de todos; depois,
ratum honore in republica functi sunt; aqueles que, após o duunvirato, exer-
post eos, qui tertio, et deinceps; mox ceram a segunda dignidade municipal,
hi, qui nullo honore functi sunt, prout depois a terceira, e assim por diante.
quisque eorum in ordinem venit. Em seguida, aqueles que não exerce-
ram nenhum cargo seguem a ordem de
sua admissão na classe.
§ 1. — In sententiis quoque dicendis § 1. Também quanto à precedência na
idem ordo spectandus est, quem in emissão de votos, há de se atender à or-
albo scribendo diximus. dem a que nos referimos para a inscri-
ção no registro.

203
Livro L – Títulos III e IV Digesto

2. IDEM libro II. Opinionum. — In 2. IDEM, Opiniões, Livro II. — No


albo decurionum in municipio nomi- registro de decuriões do município, os
na ante scribi oportet eorum, qui dig- primeiros nomes a ser inscritos devem
nitates Principis iudicio consecuti sunt, ser daqueles que obtiveram a dignida-
postea eorum, qui tantum municipali- de por decisão do imperador; depois
bus honoribus functi sunt. deles, os que apenas exerceram cargos
municipais.

TITULUS IV TÍTULO IV
DE MUNERIBUS ET HONORIBUS DAS FUNÇÕES E CARGOS33

1. HERMOGENIANUS libro I. Epito- 1. HERMOGENIANO, Epítome, Li-


marum. — Munerum civilium quae- vro I. — Com relação a funções civis,
dam sunt patrimonii, alia personarum. umas dizem respeito a patrimônio; ou-
tras, a pessoas.

§ 1. — Patrimonii sunt munera rei § 1. Funções que dizem respeito a pa-


vehicularis, item navicularis, decem- trimônio são aquelas que envolvem
primatus; ab istis enim periculo ipso- transporte, terrestre e marítimo, e o
rum exactiones solennium celebrantur. decemprimato. Seus titulares são res-
ponsáveis pela cobrança de impostos
para as festas públicas.

§ 2. — Personalia civilia sunt munera: § 2. As funções civis pessoais são: de-


defensio civitatis, id est ut syndicus fesa da cidade, isto é, a nomeação de
fiat, legatio ad census accipiendum, delegado; legação para recebimento
vel patrimonium, scribatus, kamhlasi,a de bens ou patrimônio; função de es-
[camelorum agitatio exhibitioque], an- crivão; adestramento e criação de ca-
nonae ac similium cura, praediorum- melos; abastecimento de víveres e de
que publicorum, frumenti comparan- coisas semelhantes; manutenção de
di, aquaeductus, equorum circensium imóveis públicos e de aquedutos; com-
spectacula, publicae viae munitiones, pra de trigo; promoção de espetáculos
arcae frumentariae, calefactiones ther- circenses de cavalos; conservação das
marum, annonae divisio, et quaecun- vias públicas; calefação dos banhos pú-
que aliae curae istis sunt similes; ex his blicos; distribuição de víveres, enfim,
enim, quae retulimus, cetera etiam per outras tantas funções da mesma natu-
leges cuiusque civitatis ex consuetudi-
ne longa intelligi poterunt.
33
Glossário, cargos e funções.

204
Digesto Livro L – Título IV

reza. Além dessas funções que acaba-


mos de enumerar, outras podem ser
também enumeradas por leis ou costu-
me imemorial de cada cidade.

§ 3. — Illud tenendum est generaliter, § 3. Em geral, deve-se atentar para o


personale quidem munus esse, quod fato de que as funções que dizem res-
corporibus, labore, cum sollicitudine peito a pessoa envolvem principalmen-
animi ac vigilantia solenniter extitit; te esforço físico, solicitude, disposição
patrimonii vero, in quo sumtus maxi- de ânimo e vigilância, enquanto as que
me postulatur. se referem a patrimônio envolvem so-
bretudo dispêndios.

§ 4. — Aeque personale munus est tu- § 4. Outras funções igualmente de


tela, cura adulti furiosive, item prodigi, ordem pessoal são a tutela, a curatela
muti, etiam ventris, etiam ad exhiben- de adulto ou de louco, de pródigo, de
dum cibum, potum, tectum, et similia; mudo, de nascituro, além do cargo de
sed et in bonis, cuius officio usucapio- prover alimentação, bebida, habitação
nes interpellantur, ac ne debitores libe- e coisas semelhantes. É o caso também
rentur, providetur. Item, ex Carbonia- de providências com relação a bens, de
no Edicto bonorum possessione petita, modo que, pela função de alguém, usu-
si satis non detur, custodiendis bonis capiões são suspensos e devedores não
curator datus personali fungitur mu- são liberados. Além disso, requerida a
nere. His similes sunt bonis dati cura- posse de bens, com base no Edito Car-
tores, quae fuerunt eius, qui ab hosti- boniano, se a caução não for suficiente,
bus captus est, et reverti speratur. Item o curador nomeado exerce a função
custodiendis ab eo relictis, cui necdum pessoal de custodiar os bens. A essa
quisquam civilli vel honorario iure su- categoria de curadores assemelham-se
cessit, curatores constituti. curadores designados de bens perten-
centes a alguém capturado por inimi-
gos e cuja volta é esperada. Igualmente,
curadores de bens deixados a quem
não tem direito de sucessão, nem civil
nem pretoriano.

2. ULPIANUS libro XXI. ad Sabinum. 2. ULPIANO, Comentários a Sabino,


— Quod ad honores pertinet, creditur Livro XXI. — No que tange a cargos,
in potestate filium habere etiam is, qui crê-se também que um filho que se
in patris potestate est. encontra sob o pátrio poder pode tam-
bém ter filho sob seu pátrio poder.

205
Livro L – Título IV Digesto

3. IDEM libro II. Opinionum. — Et 3. IDEM, Opiniões, Livro II. — Quem,


qui originem ab urbe Roma habent, originário da cidade de Roma, estabe-
si alio loco domicilium constituerunt, lece domicílio em outro lugar deve
munera eius sustinere debent. exercer as funções desse lugar.

§ 1. — His, qui castris operam per mi- § 1. A militares que servem em acam-
litiam dant, nullum municipale munus pamentos não deve ser imposta ne-
iniungi potest; ceteri autem privati, nhuma função municipal. As demais
quamvis militum cognati sunt, legibus pessoas privadas, porém, mesmo que
patriae suae et provinciae obedire de- sejam parentes de militares, devem
bent. obedecer às leis de sua terra e de sua
província.

§ 2. — Si in metallum datus in inte- § 2. Se um condenado às minas, uma


grum restitutus sit, perinde ac si nec vez reintegrado, é convocado para o
damnatus fuisset, ad munera vel hono- exercício de funções ou cargos como se
res vocatur; nec opponet fortunam et nunca tivesse sido condenado, sua vida
casus tristiores suos ad hoc solum, ne pregressa e seus infortúnios só servi-
patriae idoneus civis esse videatur. riam para não ser considerado cidadão
útil à pátria.

§ 3. — Corporalia munera feminis ipse § 3. O próprio sexo veta à mulher o


sexus denegat, quominus honores, aut exercício de funções que implicam
munera iniungantur. esforço físico, de modo que não lhe
devem ser impostos nem cargos nem
funções dessa natureza.

§ 4. — Filio, si nullam habet excusatio- § 4. Um pai não tem direito de inter-


nem, intercedere pater, in cuius potes- ceder por um filho que está sob seu
tate est, ius non habet. pátrio poder, se esse filho não tem ne-
nhuma escusa.

§ 5. — Quod pater non consensit ho- § 5. Um pai preserva sua responsabi-


noribus sive muneribus filli, ne illius lidade ao não consentir com a nome-
patrimonium oneri subiiciatur, pra- ação de um filho para cargos ou fun-
estat defensionem, non civem patriae ções, com vista à defesa do patrimônio
utilitatibus, quatenus potest, aufert. do próprio filho, mas, dentro do possí-
vel, não pode impedir um cidadão de
ser útil à pátria.

206
Digesto Livro L – Título IV

§ 6. — Quamvis maior annis septu- § 6. Embora maiores de setenta anos


aginta, et quinque liberorum incolu- e pai de cinco filhos adultos se isen-
mium pater sit, ideoque a muneribus tem do exercício de funções civis, seus
civilibus excusetur, filii tamen eius filhos, porém, devem aceitá-las em
suo nomine competentia munera ag- nome dele, pois o privilégio da imuni-
noscere debent; ideo enim proprium dade é conferido ao pai por causa dos
praemium immunitatis propter filios filhos, que assumirão o ônus.
patribus datum est, quod illi subibunt.

§ 7. — Vitricus onera munerum ci- § 7. Nenhuma razão de direito obriga


vilium nomine privigni sui suscipere um padastro a assumir o ônus de fun-
nulla iuris ratione cogitur. ção civil em nome do enteado.

§ 8. — Liberti muneribus fungi debent § 8. Os libertos devem exercer funções


apud originem patronorum, sed si sua nos lugares de origem de seus patro-
patrimonia habent suffectura oneri- nos, desde que possuam bens próprios
bus; res enim patronorum muneribus que respondam pelo ônus, pois os bens
libertinorum subiecta non est. dos patronos não respondem pela ad-
ministração de libertos.

§ 9. — Quod pater in reatu criminis § 9. O fato de um pai ser réu de algum


alicuius est, filiis impedimento ad ho- crime não deve constituir impedimen-
nores esse non debet. to ao exercício de cargos pelos filhos.

§ 10. — Decaprotos etiam minores an- § 10. Desde há muito tempo, menores
nis viginti quinque fieri, non militantes de vinte e cinco anos podem integrar o
tamen, pridem placuit, quia patrimonii decemprimato34, desde que não sejam
magis onus videtur esse. militares, tendo em vista o cargo pare-
cer ter mais afinidade com patrimônio.

§ 11. — Exactionem tributorum onus § 11. É sabido que a cobrança de tribu-


patrimonii esse constat. tos é função patrimonial.

§ 12. — Cura frumenti comparandi § 12. Comprar trigo é função pública35


munus est, et ab eo aetas septuaginta e, por isso, estão isentos dessa função
annorum, vel numerus quinque inco-
lumium liberorum excusat.

34
Glossário, cargos e funções.
35
Glossário, annona.

207
Livro L – Título IV Digesto

idosos de setenta anos e pais de cinco


filhos adultos36.

§ 13. — Eos milites, quibus superve- § 13. Convém que toque a todos, mas
nientibus hospitia praeberi in civitate a cada qual por sua vez, o ônus de hos-
oportet, per vices ab omnibus, quos id pedar militares que chegam à cidade e
munus contingit, suscipi oportet. por ela devem ser hospedados.

§ 14. — Munus hospitis in domo reci- § 14. O encargo de receber o hóspede


piendi non personae, sed patrimonii em casa é de ordem patrimonial, e não
onus est. pessoal.

§ 15. — Praeses provinciae provideat, § 15. Cuide o governador de província


munera et honores in civitatibus ae- que cargos e funções sejam igualmen-
qualiter per vices secundum aetates te impostos nas cidades a cada um por
et dignitates, ut gradus munerum ho- sua vez segundo idade e dignidade, de
norumque, qui antiquitus statuti sunt, modo que se observe a hierarquia dos
iniungi, ne sine discrimine et frequen- cargos e funções, estabelecidos desde a
ter iisdem oppressis, simul viris et viri- antiguidade, para que a administração
bus respublicae destituantur. pública não seja destituída de cidadãos
e de eficiência com a discriminação e
frequente sobrecarga das mesmas pes-
soas.

§ 16. — Si duo filii in patris potestate § 16. Um pai não pode ser obrigado a
sint, eodem tempore munera eorum se responsabilizar pelas funções exerci-
pater sustinere non compellitur. das, ao mesmo tempo, por dois filhos
que estão sob o seu pátrio poder.

§ 17. — Si is, qui duos filios relinque- § 17. Se alguém, ao morrer, deixa dois
bat, nihil de expediendis muneribus al- filhos, nada tendo disposto do patrimô-
terius filii ex communi patrimonio su- nio comum para garantir o exercício de
premis suis cavit, propriis sumtibus is função de um deles, esse a quem se im-
et munera, et honores, qui ei iniungen- puserem cargos e funções deve recebê-
tur, suscipere debet, quamvis pro altero -los por sua própria conta, embora o
vivus pater eiusmodi onera expedierit.

36
Pais de cinco filhos adultos são dispensados
do exercício de funções civis precisamente
por se fazerem substituir pelos filhos, confor-
me o § 6 deste artigo.

208
Digesto Livro L – Título IV

pai, ainda vivo, tenha provido as obriga-


ções dessa natureza para o outro filho.

4. De libro III. Opinionum. — Cura 4. IDEM, Opiniões, Livro III. — É


exstruendi vel reficiendi operis in civi- função pública o encargo de construir
tate, munus publicum est, a quo quin- e reformar obras numa cidade, função
que liberorum incolumium pater excu- de que está isento pai de cinco filhos
setur; nec, si per vim extortum munus adultos37; mesmo se, pela força, essa
fuerit, excusationem, quam habet ab função lhe for imposta, não perderá a
aliis muneribus, auferet. isenção com relação a outras funções.

§ 1. — Deficientium facultatibus ad § 1. A isenção de carentes de bens para


munera, vel honores, qui indicuntur, assumir cargos ou funções não é per-
excusatio non perpetua, sed temporalis pétua, mas temporária, pois quem, por
est; nam si ex voto honestis rationibus seu esforço, tiver aumentado hones-
patrimonium incrementum acceperit, tamente seu patrimônio terá, no seu
suo tempore, an idoneus sit aliquis ad devido tempo, avaliada sua idoneidade
ea, quae creatus fuerit, aestimabitur. para o exercício do cargo ou da função
para o qual tiver sido nomeado.

§ 2. — Inopes onera patrimonii ipsa § 2. Cidadãos pobres não respondem


non habendi necessitate non sustinent, por cargos patrimoniais pela simples
corpori autem indicta obsequia sol- razão de não ter patrimônio, mas pres-
vunt. tam serviços físicos que lhes são atri-
buídos.

§ 3. — Qui obnoxius muneribus suae § 3. Nada pode ser mais prejudicial ao


civitatis fuit, nomen militiae defugien- interesse público do que alguém se ins-
di oneris municipalis gratia dedit; dete- crever no serviço militar para escapar
riorem causam reipublicae facere non ao exercício de funções municipais a
potuit. que está sujeito.

5. SCAEVOLA libro I. Regularum. — 5. CÉVOLA, Regras, Livro I. — Arma-


Navicularii et mercatores olearii, qui dores e comerciantes de azeite que em-
magnam partem patrimonii ei rei con- penharam no negócio grande parte de
tulerunt, intra quinquennium muneris seu patrimônio isentam-se de funções
publici vacationem habent. públicas por um quinquênio.

37
Ver § 6 do artigo 3 deste Título.

209
Livro L – Título IV Digesto

6. ULPIANUS libro IV. De officio 6. ULPIANO, da função do Procôn-


Proconsulis. — Rescripto Divorum sul, Livro IV. — Lê-se em rescrito dos
Fratrum ad Rutilium Lupum ita de- imperadores irmãos38 a Rutílio Lupo:
claratur: “Constitutio, qua cautum est, “A constituição que dispõe sobre como
prout quisque decurio creatus est, ut se deve proceder na nomeação de de-
ita et magistratum adipiscatur, toties curião deve ser observada com relação
servari debet, quoties idoneos et suf- à magistratura sempre que os candida-
ficientes omnes contingit; ceterum si tos sejam todos idôneos e capazes. Mas,
ita quidam tenues et exhausti sunt, ut se alguns são tão pobres e carentes que
non modo publicis honoribus pares não possam exercer cargos e tenham
non sint, sed et vix de suo victum sus- apenas o suficiente para a sobrevivên-
tinere possint, et minus utile, et nequa- cia, não convém nem é honroso lhes
quam honestum est, talibus mandari confiar a magistratura, principalmente
magistratum, praesertim quum sint, quando há quem possa ser convenien-
qui convenienter rei, et suae fortunae, temente nomeado para o cargo, para
et splendori publico possint creari. sua própria honra e esplendor público.
Sciant igitur locupletiores, non debere Saibam, portanto, os mais ricos que
se hoc praetextu legis uti, et de tempo- não devem usar o pretexto da lei e que,
re, quo quisque in curiam allectus sit, no devido tempo, em que cada qual é
inter eos demum esse quaerendum, qui eleito para a administração, o que ex-
pro substantia sua capiant honoris dig- clusivamente se requer deles é que, por
nitatem”. suas posses, conquistem a dignidade
do cargo”.

§ 1. — Debitores rerum publicarum § 1. É certo que devedores de bens pú-


ad honores invitari non posse certum blicos não podem ser convidados para
est, nisi prius in id, quod debetur rei- cargos, a menos que antes saldem sua
publicae, satisfecerint. Sed eos demum dívida com o erário. Devemos, porém,
debitores rerum publicarum accipere considerar devedores públicos exclusi-
debemus, qui ex administratione rei- vamente aqueles que, ao deixarem um
publicae reliquantur. Ceterum si non cargo, o fazem na condição de insol-
ex administratione sint debitores, sed ventes. Mas se não são devedores em
mutuam pecuniam a republica accepe- decorrência do cargo exercido, mas
rint, non sunt in ea causa, ut honoribus como mutuários públicos, nesse caso,
arceantur. Plane vice solutionis sufficit, não se incluem entre os impedidos. A
ut quis aut pignoribus, aut fideiussori- situação pode ser resolvida se, em vez
bus idoneis caveat; et ita Divi Fratres de pagamento, se dê caução ou se apre-
Aufidio Herenniano rescripserunt. Sed
et si ex pollicitatione debeant, quae
tamen pollicitatio recusari non potest,
38
Glossário, Dois irmãos.

210
Digesto Livro L – Título IV

in ea sunt conditione, ut honoribus sentem fiadores idôneos. Assim deter-


arceantur. minaram os imperadores irmãos39 em
rescrito a Aufídio Hereniano. Mesmo,
porém, se se comprometerem a pagar
— compromisso que não pode ser re-
cusado —, ainda assim estão impedi-
dos de concorrer a cargos40.

§ 2. — Si quis accusatorem non habe- § 2. Quem não tem acusador não pode
at, non debeat honoribus prohiberi, ser impedido de ter acesso a cargo ho-
quemadmodum non debet is, cuius norífico; do mesmo modo, não pode
accusator destiterit; ita enim Imperator ser impedido se o acusador desiste da
noster cum Divo Patre suo rescripsit. acusação. Assim decidiu, por rescrito,
nosso imperador com seu pai.

§ 3. — Sciendum est, quaedam esse § 3. Convém saber que do mesmo


munera aut personae, aut patrimonio- modo que há funções pessoais ou pa-
rum, itidem quosdam esse honores. trimoniais assim também são alguns
cargos honoríficos.

§ 4. — Munera, quae patrimoniis § 4. Cargos ou contribuições referentes


iniunguntur, vel intributiones, talia a patrimônio são de tal natureza, que
sunt, ut neque aetas ea excuset, neque nem idade, nem o número de filhos,
numerus liberorum, nec alia praeroga- nem outras prerrogativas, que costu-
tiva, quae solet a personalibus muneri- mam dispensar nos casos de funções
bus exuere. pessoais, permitem alguma isenção.

§ 5. — Sed enim haec munera, quae § 5. Mas os cargos que envolvem pa-
patrimoniis indicuntur, duplicia sunt; trimônio são de duas naturezas: uns
nam quaedam possessoribus iniun- são impostos a proprietários, sejam ou
guntur, sive municipes sunt, sive non não munícipes; outros são impostos só
sunt, quaedam non nisi municipibus a munícipes ou a habitantes41. Tributos
vel incolis. Intributiones, quae agris referentes à zona rural ou à zona urba-
fiunt vel aedificiis, possessoribus in-
dicuntur; munera vero, quae patrimo-
niorum habentur, non aliis, quam mu- 39
Glossário, Dois irmãos.
nicipibus vel incolis. 40
A lei romana era particularmente rigorosa
com a vida pregressa de candidatos a cargos
públicos, algo equivalente ao que hoje se cha-
maria de “ficha limpa”.
41
Glossário, política administrativa romana.

211
Livro L – Título IV Digesto

na gravam proprietários; funções, po-


rém, consideradas patrimoniais só são
impostas a munícipes ou habitantes.

7. MARCIANUS libro II. Publicorum. 7. MARCIANO, Dos Juízos Públicos,


— Reus delatus etiam ante sententiam Livro I. — Por constituições imperiais
honores petere, Principalibus Cons- é vedado também a réu pretender a
titutionibus prohibetur; nec interest, cargos antes da sentença, seja ele ple-
plebeius, an decurio fuerit. Sed post beu ou decurião. Mas, um ano depois
annum, quam reus delatus est, petere da acusação, não está impedido de
non prohibetur, nisi per ipsum stetit, fazê-lo, a menos que, por sua causa, o
quominus causa intra annum expedi- processo não tenha sido concluído nes-
retur. se período.

§ 1. — Eum, contra quem propter § 1. Determinou, em rescrito, o im-


honores appellatum est, si penden- perador Severo que deve ser punido
te appellatione honorem usurpaverit, aquele contra quem se apelou por mo-
coercendum Divus Severus rescripsit. tivo de cargo, se, pendente a apelação,
Ergo et si is, qui honoribus per sen- o tenha usurpado. Mas também quem
tentiam uti prohibitus est, appellaverit, apelar contra a sentença que o impediu
abstinere interim petitione honoris de- de assumir um cargo deverá, nesse in-
bebit. tervalo, abster-se de pretender à honra.

8. ULPIANUS libro XI. Ad Edictum. 8. ULPIANO, Comentários ao Edito,


— Ad rempublicam administrandam Livro XI. — Não convém admitir me-
ante vicesimum quintum annum, vel nores de vinte e cinco anos na adminis-
ad munera, quae non patrimonii sunt, tração pública ou para exercer funções
vel honores admitti minores non opor- que não envolvam patrimônio e mui-
tet; denique nec decuriones creantur, to menos sejam nomeados decuriões;
vel creati suffragium in curia ferunt. mas, se o forem, não tenham direito de
Annus autem vicesimus quintus coep- voto na administração. Consideram-
tus pro pleno habetur; hoc enim in -se, porém, completados os vinte e
honoribus favoris causa constitutum cinco anos apenas começados, pois,
est, ut proplenis inchoatos accipiamus; quando se trata de cargos, se estabele-
sed in his honoribus, in quibus reipu- ceu que se considerem completados os
blicae quid iis non committitur; cete- anos apenas começados. Mas só para
rum, quum damno publico honorem ei cargos em que nada do patrimônio pú-
commiti non est dicendum, etiam cum blico lhes é confiado; mas, se nada lhes
ipsius pernicie minoris. é confiado com risco para a coisa pú-

212
Digesto Livro L – Título IV

blica, tampouco o seja com risco para


o próprio menor.

9. IDEM libro III. de officio Consu- 9. IDEM, Da Função do Cônsul, Livro


lis. — Si quis magistratus in municipio III. — Se alguém, nomeado magistra-
creatus munere iniuncto fungi detrec- do num município, recusa-se a exercer
tet, per Praesides munus agnoscere a função que lhe foi imposta, deve ser
cogendus est remediis, quibus tutores obrigado pelo governador a aceitá-la
quoque solent cogi ad munus, quod com as mesmas medidas com que cos-
iniunctum est, agnoscendum. tuma forçar tutores a aceitar a função
que lhes é imposta.

10. MODESTINUS libro V. Differen- 10. MODESTINO, Diferenças, Li-


tiarum. — Honorem sustinenti munus vro V. — Não se pode impor função a
imponi non potest, munus sustinenti quem já exerce cargo, mas é possível
honor deferri potest. impor cargo a quem já exerce função42.

11. IDEM libro XI. Pandectarum. — 11. IDEM, Pandectas, Livro XI. —
Ut gradatim honores deferantur, Edic- Num edito se estabelece que os cargos
to, et ut a minoribus ad maiores per- sejam conferidos gradualmente e, em
veniatur, Epistola Divi Pii ad Titianum carta a Ticiano, o imperador Pio de-
exprimitur. termina que dos cargos inferiores se
ascenda aos superiores.

§ 1. — Etsi lege municipali caveatur, ut § 1. Embora prescrito por lei munici-


praeferrentur in honoribus certae con- pal que se confiram cargos a pessoas
ditionis homines, attamen sciendum de determinadas condições, convém,
est, hoc esse observandum, si idonei todavia, ressalvar: desde que sejam
sint; et ita rescripto Divi Marci conti- idôneas. Isso está dito num rescrito do
netur. imperador Marco.

§ 2. — Quoties penuria est eorum, qui § 2. Conforme determina rescrito dos


magistratum suscipiunt, immunitas ad irmãos imperadores43, quando há es-
aliquid infringitur, sicuti Divi Fratres cassez de pessoas aptas ao exercício da
rescripserunt. magistratura, infringem-se os privilé-
gios de isenção.

42
Glossário, política administrativa romana.
43
Glossário, Dois irmãos.

213
Livro L – Título IV Digesto

§ 3. — Reprobari posse medicum a § 3. O imperador Antonino Magno,


republica, quamvis semel probatus sit, juntamente com o pai, decidiu que o
Divus Magnus Antoninus cum patre poder público pode cassar um médico
rescripsit. que antes havia aprovado.

§ 4. — Eos, qui primis literis pueros in- § 4. O imperador Antonino Magno de-
duunt, non habere vacationem, Divus cidiu também, por rescrito, que profes-
Magnus Antoninus rescripsit. sores primários não gozam de isenção.

12. IAVOLENUS libro VI. Ex Cassio. 12. JAVOLENO, Comentários a Cás-


— Cui muneris publici vacatio datur, sio, Livro VI. — Quem goza de isen-
non remittitur ei, ne magistratus fiat, ção do exercício de função pública não
quia id ad honorem magis, quam ad pode ser dispensado do exercício da
munera pertinet; cetera omnia, quae magistratura, pois esse cargo é mais
ad tempus extra ordinem exiguntur, honorífico do que gravoso; as demais
veluti munitio viarum, ab huiusmodi funções, porém, que, vez por outra, são
persona exigenda non sunt. impostas, por exemplo, manutenção
de estradas, não podem ser exigidas de
pessoas dessa categoria.

13. IDEM libro XV. Ex Cassio. — Va- 13. IDEM, Comentários a Cássio,
catio, itemque immunitas, quae liberis Livro XV. — A isenção, como também
et posteris alicuius data est, ad eos dun- a imunidade, que tiver sido concedida
taxat pertinet, qui eius familiae sunt. a filhos e descendentes de alguém res-
tringe-se exclusivamente a membros
dessa família.

14. CALLISTRATUS libro I. de Cog- 14. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,


nitionibus. — Honor municipalis est Livro I. — Entende-se por cargo muni-
administratio reipublicae cum digni- cipal a administração da coisa pública
tatis gradu, sive cum sumtu, sive sine com certo grau de dignidade, envolva
erogatione contingens. ou não gastos.

§ 1. — Munus aut publicum, aut priva- § 1. A função pode ser pública ou pri-
tum est; publicum munus dicitur, quod vada: diz-se pública a função que assu-
in administranda republica cum sumtu mimos na administração pública com
sine titulo dignitatis subimus. gastos, mas sem título de dignidade.

214
Digesto Livro L – Título IV

§ 2. — Viarum munitiones, praedio- § 2. Manutenção de estradas, coletas


rum collationes non personae, sed lo- de oferendas e contribuições fundiárias
corum munera sunt. não constituem funções pessoais, mas
locais.

§ 3. — De honoribus sive muneribus § 3. Quando se trata de conferir cargos


gerendis quum quaeritur, in primis ou funções, há de se atentar primeira-
consideranda persona est eius, cui de- mente para a pessoa a quem se con-
fertur honor, sive muneris adminis- fere o cargo ou a função; em seguida,
tratio, item origo natalium, facultates a origem por nascimento, a posse de
quoque an sufficere iniuncto muneri bens, se são suficientes para a função
possint, item lex, secundum quam mu- conferida, como também a lei que dis-
neribus quisque fungi debeat. põe sobre como as funções devem ser
exercidas.

§ 4. — Plebeii filiifamilias periculo § 4. Filhos de família plebeus44 obri-


eius, qui nominaverit, tenebuntur; id- gar-se-ão sob a responsabilidade de
que Imperator noster Severus Augustus quem os tiver nomeado. O assunto é
in haec verba rescripsit: “Si in numero tratado, nestes termos, em rescrito de
plebeiorum filius tuus est, quamquam nosso augusto imperador Severo: “Se
invitus honores ex persona filli susci- teu filho está entre plebeus, embora
pere cogi non debeas, tamen resistere, não devas ser obrigado a aceitar, con-
quominus patriae obsequatur periculo tra tua vontade, cargos na pessoa dele,
eius, qui nominavit, iure patriae potes- não podes, todavia, opor-se, com base
tatis non potes”. no pátrio poder, que ele sirva à pátria
sob a responsabilidade de quem o no-
meou”.

§ 5. — Gerendorum honorum non § 5. À eleição para cargos não se pro-


promiscua facultas est, sed ordo certus cede de maneira aleatória: certa or-
huic rei adhibitus est; nam neque prius dem deve ser observada. Por exemplo,
maiorem magistratum quisquam, nisi ninguém será admitido a magistratu-
minorem susceperit, gerere potest, ne- ra superior sem antes ter exercido as
que ab omni aetate, neque continuare inferiores, nem em qualquer idade e,
quisque honores potest. nomeado, não pode perpetuar-se no
cargo.

44
Glossário, patricii, populus, plebs.

215
Livro L – Título IV Digesto

§ 6. — Si alii non sint, qui honores ge- § 6. Dispõem muitos decretos im-
rant, eosdem compellendos, qui ges- periais que, se não há quem assuma
serint, complurimis Constitutionibus cargos, sejam convocados aqueles que
cavetur. Divus etiam Hadrianus de já os tiverem exercido. O imperador
iterandis muneribus rescripsit in haec Adriano, referindo-se à recondução a
verba: “Illud consentio, ut, si alii non funções, decidiu assim num rescrito:
erunt idonei, qui hoc munere fungan- “Consinto que, não havendo quem seja
tur, ex his, qui iam functi sunt, creen- idôneo para o desempenho de uma
tur”. função, se reconduzam aqueles que já
a exerceram”.

15. PAPINIANUS libro V. Responso- 15. PAPINIANO, Respostas, Livro V.


rum. — Et si filium pater decurionem — Se um pai quis que seu filho fosse
esse voluit, tamen defuncto honores, decurião, os cargos que, após a morte
qui filio decurioni congruentes post do pai, foram conferidos, por sorteio,
mortem patris obtigerunt, ad onus ao filho decurião não constituem ônus
coheredis filii non pertinent, quum ei para o filho coherdeiro, se o pai tiver
decurioni sufficientes facultates pater deixado bens suficientes para o filho
reliquerit. decurião.

16. PAULUS libro I. Sententiarum. — 16. PAULO, Sentenças, Livro I. —


Aestimationem honoris aut muneris in Não deve ser atendido quem, para não
pecunia pro administratione offerentes assumir, propõe pagar, em dinheiro, o
audiendi non sunt. valor estimativo do cargo ou da função.

§ 1. — Qui pro honore pecuniam pro- § 1. Quem prometeu dinheiro em vez


misit, si solvere eam coepit, totam pra- de exercer um cargo, se começou a pa-
estare operis inchoati exemplo cogen- gá-lo, deverá fazê-lo integralmente, à
dus est. semelhança de quando se começa uma
obra.

§ 2. — Invitus filius pro patre rempub- § 2. Um filho não é obrigado a caucio-


licam salvam fore cavere non cogitur. nar, contra sua vontade, bens públicos
em favor de seu pai.

§ 3. — Defensionem reipublicae am- § 3. Ninguém é obrigado a assumir


plius, quam semel suscipere nemo co- a responsabilidade pela coisa pública
gitur, nisi id fieri necessitas postulet. mais de uma vez, a menos que a neces-
sidade o exija.

216
Digesto Livro L – Título IV

17. HERMOGENIANUS libro I. Epi- 17. HERMOGENIANO, Epítome, Li-


tomarum. — Sponte provinciae sacer- vro I. — A ninguém se proíbe que vo-
dotium iterare nemo prohibetur. luntariamente seja de novo sacerdote
de uma província.

§ 1. — Immunis ab honoribus et mu- § 1. Quem, isento de cargos e funções


neribus civilibus, si decurioni creato civis, consente que um filho, ainda sob
filio, quem habet in potestate, consen- seu pátrio poder, seja feito decurião,
tiat, in muneribus et honoribus sumtus obriga-se a prover as despesas do filho
subministrare filio compellitur. com cargos e funções.

18. ARCADIUS CHARISIUS libro 18. ARCÁDIO CARÍSIO, Das funções


singulari de muneribus civilibus. — civis, Livro Único. — Três são as espé-
Munerum civilium triplex divisio est; cies de funções civis: pessoais, patri-
nam quaedam munera personalia sunt, moniais e mistas.
quaedam patrimoniorum dicuntur,
alia mixta.

§ 1. — Personalia sunt, quae a animi § 1. São pessoais as exercidas com can-


provisione et corporalis laboris inten- saço, esforço e desgate físico, mas sem
tione, sine aliquo gerentis detrimento prejuízo para quem as exerce, como a
perpetrantur, veluti tutela, vel cura. tutela, a curatela.

§ 2. — Kalendarii quoque curatio et § 2. A função de contador e de questor


quaestura in aliqua civitate inter hono- público não é considerada como cargo
res non habeatur, sed personale munus em algumas cidades, mas como função
est. pessoal.

§ 3. — Tironum sive equorum produc- § 3. São funções pessoais o agencia-


tio, et si qua alia animalia necessario mento de recrutas e fornecimento de
producenda, vel res pervehendae, sive cavalos e, se necessário, de outros ani-
persequendae sunt, vel pecuniae fis- mais para transporte de carga, de di-
cales, sive annona, vel vestis personae nheiro do fisco, de víveres ou tecidos.
munus est.

§ 4. — Cursus vehicularis sollicitudo, § 4. É função pessoal cuidar do trans-


item angariarum praebitio personale porte da mala postal como também do
munus est. transporte oficial.

217
Livro L – Título IV Digesto

§ 5. — Cura quoque emendi frumenti, § 5. Em algumas cidades, enumeram-


olei, — nam harum specierum cura- -se, entre as funções pessoais, cuidar
tores, quos sitw,naj [frumentarios] et também da aquisição de trigo, de azeite
evlaiw/naj [olearios] appellant, creari —, pois é costume se nomearem cura-
moris est —, inter personalia munera dores dessas categorias, os chamados
in quibusdam civitatibus numerantur, “frumentários” e “oleários”45 —, como
et calefactio publici balnei, si ex redi- também do aquecimento dos banhos
tibus alicuius civitatis curatori pecunia públicos, se o encarregado é remune-
subministratur. rado com recurso público de alguma
cidade.

§ 6. — Sed et cura custodiendi aquae- § 6. Faz parte também das funções


ductus personalibus muneribus aggre- pessoais cuidar de aquedutos.
gatur.

§ 7. — Irenarchae quoque, qui disci- § 7. Os juízes de paz,46 responsáveis


plinae publicae et corrigendis moribus pela ordem e pela correção dos costu-
praeficiuntur. Sed et qui ad faciendas mes, também exercem funções pesso-
vias eligi solent, quum nihil de proprio ais. Do mesmo modo, quem costuma
patrimonio in hoc munus conferant. ser designado para construir estradas,
Item episcopi, qui praesunt pani et ce- desde que nada invista de seu patri-
teris venalibus rebus, quae civitatum mônio no exercício dessa função. De-
populis (ad) quotidianum victum usui sempenham ainda funções pessoais
sunt, personalibus muneribus fungun- aqueles que superintendem à venda
tur. do pão e de outros artigos necessários
à alimentação diária dos habitantes de
uma cidade47.

§ 8. — Qui annonam suscipit, vel exi- § 8. Também exerce função pessoal


git, vel erogat, et exactores pecuniae quem cuida do abastecimento de ví-
pro capitibus personalis muneris solli- veres, quem os vende ou distribui e os
citudinem sustinent.

45
Glossário, annona.
46
A presença do helenismo na nomenclatura
hierárquica e profissional no Império é ates-
tada por termos como irenarcha, de eirene,
paz e arqué, autoridade, magistrado cuja fun-
ção correspondia ao de oficial ou juiz de paz.
(Glossário, cargos e funções).
47
Glossário, annona.

218
Digesto Livro L – Título IV

coletores de impostos pecuniários per


capita48.

§ 9. — Sed et curatores, qui ad colli- § 9. Os curadores que costumam ser


gendos civitatum publicos reditus eligi eleitos para arrecadar a renda pública
solent, personali munere subiugantur. de uma cidade exercem também fun-
ções pessoais.

§ 10. — Hi quoque, qui custodes ae- § 10. Aqueles também que são desig-
dium, vel archeotae, vel logographi, vel nados, em algumas cidades, para ad-
tabularii, vel xenoparochi, ut in qui- ministradores de edifícios, arquivista49,
busdam civitatibus, vel limenarchae, amanuense, notário, inspetor de porto,
vel curatores ad extruenda vel reficien- supervisor de construção e restauração
da aedificia publica, sive palatia, sive de vias, de palácios, de obras navais,
navalia, vel mansiones destinantur, si albergues, desde que empreguem re-
tamen pecuniam publicam in operis curso público nessas obras, bem como
fabricam erogent, et qui faciendis vel aqueles que, segundo o costume, são
reficiendis navibus, ubi usus exigit, prepostos à construção ou recuperação
praeponuntur, muneribus personali- de naves desempenham também fun-
bus adstringuntur. ções pessoais.

§ 11. — Camelasia quoque similiter § 11. Os condutores de camelos50 exer-


personale munus est; nam ratione ha- cem igualmente funções pessoais, pois
bita et alimentorum, et camelorum são, de certa forma, remunerados a tí-
certa pecunia camelariis dari debet; tulo de alimentação para si e para os
ut solo corporis ministerio obligentur. camelos, de modo que só contribuem
Hos ex albi ordine vocari, nec ulla ex- com seu esforço físico. Esses prestado-
cusatione liberari, nisi sola laesi et inu- res de serviço devem ser convocados
tilis corporis infirmitate, specialiter sit pela ordem de registro e não são libe-
expressum. rados por nenhuma isenção a não ser
por lesão ou enfermidade que os torne
incapazes.

§ 12. — Legati quoque, qui ad sacra-


rium Principis mittuntur, quia viati- 48
Glossário, arrecadação de impostos.
cum, quod legativum dicitur, interdum 49
Neste artigo, títulos como archeotae, logogra-
solent accipere; sed et nyctostrategi, et phi, xenoparochi, limenarchae revelam a ex-
pistrinorum curatores personale mu- tensão da cultura grega na política adminis-
nus ineunt. trativa do Império.
50
Trata-se de prestação de serviços só existentes
nas províncias asiáticas do Império.

219
Livro L – Título IV Digesto

§ 12. Exercem também função pesso-


al legados51 enviados à corte imperial,
pelo fato de costumarem receber aju-
da de custo para despesas de viagem,
como também os comandantes das
guardas noturnas e supervisores de
moleiros.

§ 13. — Defensores quoque, quos Gra- § 13. Defensores públicos, que os gre-
eci syndicos appellant, et qui ad certam gos chamam síndicos, e quem é esco-
causam agendam vel defendendam lhido para mover ou defender deter-
eliguntur, laborem personalis muneris minada causa exercem também função
aggrediuntur. pessoal.

§ 14. — Iudicandi quoque necessitas § 14. A obrigação de julgar inclui-se


inter munera personalia habetur. também entre as funções pessoais.

§ 15. — Si aliquis fuerit electus, ut § 15. Quem é eleito para obrigar pro-
compellat eos, qui prope viam publi- prietários a calçar a rua na qual resi-
cam possident, sternere viam, perso- dem exerce função pessoal.
nale munus est.

§ 16. — Pari modo, qui acceptandis, § 16. Do mesmo modo, desempenha


sive suscipiendis censualibus profes- função pessoal quem, designado, de-
sionibus destinantur, ad personalis dica-se a receber ou fazer declarações
muneris sollicitudinem animum inten- censitárias.
dunt.

§ 17. — Mastigophori quoque, qui § 17. Exercem também função pessoal


agonothetas in certaminibus comitan- os mastigóforos,52 que acompanham os
tur, et scribae magistratus personali
muneri serviunt.
51
Ver exemplo em T. I, 36 e Glossário, legatus.
52
O termo “mastigóforo” pertence à classe dos
protozoários, organismo unicelular que os-
tenta algo como uma cabeleira cujos fios
lembram um azorrague. O mastigóforo é um
oficial público que precede o agonóteta — o
presidente de um jogo — e que, por exibir
uma espécie de chicote, símbolo da ordem e
disciplina, tinha essa designação figurativa. O

220
Digesto Livro L – Título IV

agonótetas nos jogos, e os escrivães que


servem aos magistrados.

§ 18. — Patrimoniorum sunt munera, § 18. Funções patrimoniais são as que


quae sumtibus patrimonii, et damnis se exercem com recursos do erário e
administrandis expediuntur. possíveis riscos administrativos.

§ 19. — Elemporia et ospratura apud § 19. Entre os alexandrinos53, conside-


Alexandrinos patrimonii munus exis- ra-se função patrimonial a compra de
timatur. azeite e de hortaliças.

§ 20. — Susceptores quoque vini per § 20. Os atacadistas de vinho na Pro-


provinciam Africam patrimonii mu- víncia da África54 exercem também
nus gerunt. função patrimonial.

§ 21. — Patrimoniorum autem mune- § 21. As funções patrimoniais são, to-


ra duplicia sunt; nam quaedam ex his davia, de duas espécies, pois algumas
muneribus possessionibus sive patri- são impostas em razão de posse ou de
moniis indicuntur, veluti agminales patrimônio, como o provimento, para
equi, vel mulae, et angariae, atque ve- o exército, de cavalos e bestas, de bestas
redi. de tropa e cavalos de posta.

§ 22. — Huiusmodi igitur obsequia et § 22. Aqueles que não são munícipes
hi, qui neque municipes, neque incolae nem habitantes de um município são
sunt, agnoscere coguntur.

agonóteta fazia as vezes de juiz ou árbitro dos


jogos a que presidia.
53
Alexandria, cidade egípcia, no Mediterrâneo,
fundada por Alexandre Magno no séc. IV
a.C., foi, desde então até o século XIV, capital
do Egito. No século III, por sua riqueza, cul-
tura e importância política, chegou a ser con-
siderada a primeira cidade do mundo depois
de Roma. Era de seu porto que Roma recebia
os maiores carregamentos de víveres para ali-
mentar sua annona (ver Glossário, annona).
Essa classificação de “função patrimonial”
revela que Alexandria adotava a mesma orga-
nização político-administrativa de Roma.
54
A Província da África, pelo visto, adotava os
moldes da administração romana, mas com
suas peculiaridades.

221
Livro L – Título IV Digesto

obrigados a prestar serviços dessa na-


tureza.

§ 23. — Sed et eos, qui foenus exercent, § 23. Foi também decidido, por rescri-
etsi veterani sint, tributiones eiusmodi to, que aqueles que emprestam a juros,
agnoscere debere, rescriptum est. mesmo se veteranos, devem aceitar es-
sas funções.

§ 24. — Ab huiusmodi muneribus ne- § 24. Não se isentam de funções dessa


que primipilaris, neque veteranus, aut natureza nem os primipilis,55 nem os
miles aliusve, qui privilegio aliquo sub- veteranos, nem militar que goze de al-
nixus, nec pontifex excusatur. gum privilégio e nem um pontífice.

§ 25. — Praeterea habent quaedam ci- § 25. Além disso, algumas cidades têm
vitates praerogativam, ut hi, qui in ter- a prerrogativa de impor a proprietário
ritorio earum possident, certum quid rural, em seu território, o fornecimento
frumenti pro mensura agri per singu- anual de certa quantidade de trigo pro-
los annos praebeant; quod genus colla- porcional à dimensão da propriedade.
tionis munus possessionis est. Essa espécie de contribuição chama-se
taxa de propriedade.

§ 26. — Mixta munera decaprotiae et § 26. São mistas as funções dos dez
icosaprotiae, ut Herennius Modestinus e dos vinte primeiros decuriões de
et notando, et disputando bene et opti- uma cidade, como bem argumentou e
ma ratione decrevit; nam decaproti et doutrinou com fundamento Herênio
icosaproti tributa exigentes et corpora- Modestino, pois tanto os decaprotos
le ministerium gerunt, et pro omnibus como os icosaprotos56, ao cobrar tri-
defunctorum fiscalia detrimenta resar-
ciunt, ut merito inter mixta hoc munus
numerari debeat. 55
O primipilus ou primipilaris era o primeiro
centurião de cada coorte, que, por sua vez,
dividia-se em seis centúrias sob o comando
de um centurião.
56
Havia, no Senado romano, a tradição de se
nomear, entre os senadores, os chamados
decemprimi, isto é, os dez primeiros, em ge-
ral, assim designados por idade, antiguidade
no cargo, fama, família etc. Esses senadores
tinham precedência sobre os demais e atri-
buições peculiares. Nas províncias, principal-
mente nas de cultura grega, o modelo romano
foi adotado com a designação dos decaproti

222
Digesto Livro L – Título IV

butos, exercem uma função pessoal e


ressarcem prejuízos fiscais por todos os
falecidos, de modo que merecidamente
essa função deve ser incluída entre as
mistas.

§ 27. — Sed ea, quae supra personalia § 27. Mas aqueles que exercem fun-
esse diximus, si hi, qui funguntur, ex ções, que acima classificamos como
lege civitatis suae, vel more etiam de pessoais, fazem, por força da lei ou do
propriis facultatibus impensas faciant, costume de sua cidade, despesas de seu
vel annonam exigentes desertorum próprio bolso ou, cobradores de víve-
praediorum damna sustineant, mixto- res, que respondem pela falta de pro-
rum definitione continebuntur. dução de propriedades rurais abando-
nadas compreendem-se na definição
de casos mistos.

§ 28. — Haec omnia munera, quae tri- § 28. Todas essas funções, que classifi-
fariam divisimus, una significatione camos como três, resumem-se em uma
comprehenduntur; nam personalia, et só, pois tanto as funções pessoais como
patrimoniorum, et mixta munera civi- patrimoniais e as mistas são chamadas
lia seu publica appellantur. funções civis ou públicas.

§ 29. — Sive autem personalium dun- § 29. Quem obteve isenção só de exer-
taxat, sive etiam civilium munerum cício de funções pessoais ou tam-
immunitas alicui concedatur, neque bém civis não se isenta, a menos que
ab annona, neque ab angariis, neque seja soldado ou veterano, nem da
a veredo, neque ab hospite recipiendo, “annona”57, nem de serviços de trans-
neque a nave, neque capitatione, ex- porte público58, nem do fornecimento
ceptis militibus et veteranis, excusari
possunt.
ou icosoproti, isto é, os dez ou vinte primeiros
decuriões. Ora, o fato da cobrança de tributos
ser função pessoal e a senatoria e o decurio-
nato serem cargos honoríficos criava uma si-
tuação mista.
57
Glossário, annona.
58
Os serviços de transporte público abrangiam
o cursus publicus, serviço de transporte de
passageiros oficiais, e a carruca dormitoria,
inclusive com cobertura, para viagens mais
longas. A angaria constituía uma das obriga-
ções dos cives de propiciar meios de transpor-

223
Livro L – Títulos IV e V Digesto

de cavalos de posta, nem da obrigação


de receber hóspedes oficiais, nem de
cessão de embarcação, nem do impos-
to per capita.

§ 30. — Magistris, qui civilium mune- § 30. Os imperadores Vespasiano e


rum vacationem habent, item gram- Adriano confirmaram, por rescrito,
maticis et oratoribus, et medicis, et que aos mestres, que já gozam de isen-
philosophis ne hospitem reciperent, ção de funções civis, assim como aos
a Principibus fuisse immunitatem in- professores de gramática, oradores,
dultam, et Divus Vespasianus, et Divus médicos e filósofos foi concedida a dis-
Hadrianus rescripserunt. pensa de dar hospedagem pública.

TITULUS V TÍTULO V
DE VACATIONE ET DA ISENÇÃO E DISPENSA DE
EXCUSATIONE MUNERUM FUNÇÕES

1. ULPIANUS libro II. Opinionum. — 1. ULPIANO, Opiniões, Livro I. —


Omnis excusatio sua aequitate nititur; Toda dispensa apoia-se na sua própria
sed si praetendentibus aliquod sine equidade, mas se a quem requer algo se
iudice credatur, aut passim sine tem- concede sem a interferência de um juiz
poris praefinitione, prout cuique libue- ou, aleatoriamente, sem prévia fixação
rit, permissum fuerit se excusare, non de tempo, ao arbítrio de cada um; se a
erunt, qui munera necessaria in rebus cada qual for permitido dispensar-se,
publicis obeant. Quare et qui libero- não haverá quem, no interesse público,
rum incolumium iure a muneribus
civilibus sibi vindicant excusationem,
appellationem interponere debent; te para serviço do príncipe. No setor priva-
et qui tempora praefinita in ordinem do, havia os carros de quatro rodas (raedae)
eiusmodi appellationum peragendo para passageiros e as sarracas, carro de duas
rodas para carga. Os agricultures usavam o
non servaverint, merito praescriptione planstrua, carroça, para transporte de produ-
repelluntur. tos para o mercado. Todos esses transportes
eram de tração animal. Além deles, havia ain-
da as liteiras, transporte individual usado por
potentados e ricos, e a cadeira de mão. A cir-
culação de veículos chegou a tal intensidade
no apogeu de Roma (séc. I a III), que normas
foram baixadas para seu ordenamento, com o
estabelecimento, inclusive, de áreas públicas
destinadas a estacionamento, as chamadas
areae carruces.

224
Digesto Livro L – Título V

exerça as funções públicas necessárias.


Por esse motivo, comporta apelação
mesmo o caso de quem se crê, por di-
reito, isento porque tem filhos adul-
tos59. Como também terá rejeitada a
apelação se não observar o prazo esta-
belecido.

§ 1. — Qui excusatione aliqua utun- § 1. Quem faz uso de alguma isenção,


tur, quotiescunque creati fuerint, et si toda vez que for nomeado, tem neces-
iam ante absoluti sunt, necesse habent sariamente de apelar, mesmo se antes
appellare; sed si per calumniam et sa- já tiver sido atendido. Mas, se ficar pro-
epius idem adversarius vexandi gratia vado que, por cavilação de um mesmo
eius, quem scit perpetua vacatione sub- adversário, é nomeado repetidas vezes
nixum, id facere probatus erit, sumtus com a única intenção de pertubá-lo
litis exemplo Decretorum principa- com seguidos recursos, conforme o
lium praestare iubeatur ei, quem sine determinam decretos imperiais, seja o
causa saepius inquietabit. acusador punido a pagar as custas do
processo àquele a quem repetidas vezes
importunou.

§ 2. — Qui in fraudem ordinis in ho- § 2. Não obtém isenção quem, poden-


noribus gerendis, quum inter eos ad do estar entre aqueles que exercem os
primos honores creari possint, qui in principais cargos na cidade, frauda
civitate numerabantur, evitandorum a ordem na provisão de cargos para
maiorum onerum gratia ad colonos evitar ônus de maior responsabilida-
praediorum se transtulerunt, ut mino- de, mudando-se, por exemplo, para o
ribus subiiciantur, hanc excusationem campo, para exercer cargos menos im-
sibi non paraverunt. portantes.

§ 3. — Quamvis sexaginta quinque an- § 3. Mesmo se alguém tem sessenta e


norum aliquis sit, et tres liberos incolu- cinco anos e é pai de três filhos adul-
mes habeat, a muneribus tamen civili-
bus propter has causas non liberatur.

59
Entre as possíveis isenções da obrigação de
prestar serviço público estava o fato de al-
guém ter cinco filhos adultos. Não se tratava
de promoção da natalidade, mas de medida
compensatória, isto é, a comunidade abria
mão do serviço de um para dispor de cinco.

225
Livro L – Título V Digesto

tos60, só por esses motivos não está dis-


pensado de funções civis.

2. IDEM libro III. Opinionum. — Sex- 2. IDEM, Opiniões, Livro III. — Não
tum decimum aetatis annum agentem convém nomear jovem de dezesseis
ad munus sitoniae vocari non opor- anos para a função de intendente de
tet; sed si nihil proprie in patria ser- abastecimento de grãos61; mas, se não
vatur, de minoribus quoque annis vi- há legislação sobre função de menores,
gintiquinque ad munera sive honores observe-se a idade legal sobre a nome-
creandis iusta aetas servanda est. ação de menores de vinte e cinco anos
para funções e cargos.

§ 1. — Numerus liberorum, aut sep- § 1. O número de filhos ou a idade de


tuaginta annorum ab honoribus aut setenta anos não justificam a isenção
muneribus his cohaerentibus excusa- de cargos ou funções, de funções civis.
tionem non praestat, sed a muneribus
tantum civilibus.

§ 2. — Adoptivi filii in numerum non § 2. Filhos adotivos não influem no


proficiunt eorum liberorum, qui excu- número de filhos que costuma isentar
sare parentes solent. os pais62.

§ 3. — Qui ad munera vocantur, vi- § 3. Quem é convocado para funções


vorum se liberorum numerum habe- deve provar que tem o número de fi-
re tempore, quo propter eos excusari lhos vivos na época em que, em razão
desiderant, probare debent; numerus deles, pretende isentar-se; o número,
enim liberorum postea impletus sus- porém, de filhos completado após a in-
ceptis antea muneribus non liberat. vestidura na função não conta.

§ 4. — Quae patrimoniorum onera § 4. O número de filhos não conta para


sunt, numero liberorum non excusan- isenção de funções patrimoniais.
tur.

60
Ver nota anterior.
61
No Tit. IV, 18, § 5, faz-se uso explícito do
termo grego sitonas, seguido da tradução fru-
mentarius. Aqui o termo, agora substantivo,
já está latinizado.
62
Glossário, adoção e abrogação.

226
Digesto Livro L – Título V

§ 5. — Incolumes liberi, etiamsi in po- § 5. Filhos adultos, mesmo que deixem


testate patri suo desierint esse, excusa- de estar sob o pátrio poder, valem para
tionem a muneribus civilibus praestant. a isenção do exercício de funções civis.

§ 6. — Minus audiens immunitatem ci- § 6. Portador de deficiência auditiva


vilium munerum non habet. não tem isenção de funções civis.

§ 7. — Quem ita senio et corporis im- § 7. Um governador deve demitir


becilitate vexari Praeses animadver- quem, por velhice e por decrepitude
terit, ut muneri perferendae pecuniae física, não tem condições nem meios
non sufficiat, demittat, et alium cons- financeiros para o exercício da função
tituat. Corporis debilitas eorum mune- e nomear outro. A deficiência física só
rum excusationem praestat, quae tan- se presta à isenção de função que exige
tum corpore implenda sunt; ceterum esforço físico. De funções, porém, que
quae consilio prudentis viri, vel patri- podem ser exercidas com a colabora-
monio sufficientis in homines obiri ção de pessoa experiente ou de cargos
possunt, nisi certis et receptis probabi- que podem ser exercidos com o patri-
libus causis, non remittuntur. mônio de pessoa abastada não será dis-
pensado, a não ser por comprovados
motivos legais e aceitos63.

§ 8. — Qui pueros primas literas do- § 8. Mestres das primeiras letras não
cent, immunitatem a civilibus mune- têm isenção de funções civis, mas fica
ribus non habent; sed ne cui eorum a critério do governador que não lhes
id, quod supra vires sit, indicatur, ad seja imposto algo acima de suas forças,
Praesidis religionem pertinet, sive in quer sejam mestres primários em cida-
civitatibus, sive in vicis primas literas des quer em aldeias.
magistri doceant.

3. SCAEVOLA libro III. Regularum. 3. CÉVOLA, Regras, Livro III. — Ar-


— His, qui naves marinas fabricave- madores que prestam serviço de trans-
runt, et ad annonam populi Romani porte de víveres para o povo romano64
praebuerint, non minores quinquagin- com naves de capacidade não inferior
ta millium modiorum, aut plures sin- a 432 toneladas, ou com várias cuja ca-
gulas non minores decem millium mo-
diorum, donec hae naves navigant, aut
aliae in earum locum, muneris publici 63
Esta tradução optou pela viariante “honores”
vacatio praestatur ob navem. Senatores da nota 5 do rodapé do original onde se regis-
autem hanc vacationem habere non tra homines, que torna difícil o bom entendi-
mento do texto.
64
Ver Glossário, annona.

227
Livro L – Título V Digesto

possunt, quod nec habere illis navem pacidade não seja, cada uma, inferior
ex lege Iulia repetundarum licet. a 87 toneladas65, sejam dispensados do
exercício de função pública enquanto
essas naves, ou outras no lugar delas,
estiverem navegando. Os senadores,
porém, não podem gozar dessa isen-
ção, uma vez que pela lei Júlia de pecu-
lato, lhes é vedado a posse de navios66.

4. NERATIUS libro I. Membranarum. 4. NERÁCIO, Pergaminhos, Livro I.


— Tempus vacationis, quod datur iis, — O período da isenção, que é conce-
qui reipublicae causa abfuerunt, non ex dido àqueles que estiveram ausentes no
eo die numerandum est, quo quis abes- interesse público, não deve ser contado
se desiit, sed cum quodam laxamento a partir do dia em que deixou de estar
itineris; neque enim minus abesse rei- ausente, mas de alguns dias de repou-
publicae causa intelligendus est, qui so, por causa da viagem. Também se
adit negotium, vel ab eo revertitur. Si considera como tendo se ausentado no
quis tamen plus iusto temporis aut iti- interesse público tanto aquele que par-
nere, aut in alio loco commoratus con- te em negócio como quem dele volta.
sumserit, ita ea interpretanda erit, ut ex Mas se alguém leva mais tempo que o
eo tempore vacationis dies incipiat ei devido, ou se se detém, no caminho ou
cedere, quo iter ex commodo peragere em outro lugar, se haverá de interpre-
potuisset.

65
Um módio, medida de capacidade, represen-
tava 8,64 litros. Sua conversão em toneladas
facilita imaginar a dimensão das naves.
66
Nas palavras de renomado historiador, num
mar livre de piratas, graças à ação de navios
de guerra romanos, “o Mediterrâneo é tão
sulcado por navios como no nosso tempo.
Há barcos de carga, pesados e lentos, e na-
vios mais rápidos, alguns dos quais podem
transportar até seiscentos passageiros. As
corporações de armadores contam centenas
de membros. As companhias de navegação
têm seus escritórios não somente nos portos
(em Óstia havia vinte e cinco!), mas também
em Roma e em todas as grandes cidades. Há
mesmo agências de turismo que convidam os
ociosos a irem aquecer-se, durante o inverno,
ao sol cálido do Egito” (ROPS, Daniel, 1988,
p. 117).

228
Digesto Livro L – Título V

tar de modo que o período de isenção


comece a ser computado a partir do dia
em que a viagem poderia ter sido co-
modamente realizada.

5. MACER libro II. de officio Prae- 5. MACER, Da Função de Governa-


sidis. — A decurionatu, quamvis hic dor, Livro II. — Para Ulpiano, embo-
quoque honor est, ad alium honorem ra o decurionato67 seja também cargo
nullam vacationem tribuendam, Ul- honorífico, a partir de seu exercício,
pianus respondit. nenhuma isenção deve ser concedida
com relação a outro cargo.

6. PAPINIANUS libro II. Quaestio- 6. PAPINIANO, Questões, Livro III.


num. — Hi, qui muneris publici vaca- — Não se costuma impor funções ex-
tionem habent, ad ea, quae extra ordi- traordinárias a quem goza de isenção
nem imperantur, compelli non solent. de funções públicas.

7. IDEM libro XXXVI. Quaestionum. 7. IDEM, Questões, Livro XXXVI. —


— A muneribus, quae non patrimoniis Por decreto de nosso augusto impe-
indicuntur, veterani post optimi nostri rador Severo, os veteranos isentam-se
Severi Augusti litteras perpetuo excu- perpetuamente de funções considera-
santur. das não patrimoniais.

8. IDEM libro I. Responsorum. —. In 8. IDEM, Respostas, Livro I. — De


honoribus delatis neque maior annis cargos honoríficos não se isenta nem
septuaginta, neque pater numero quin- maior de setenta anos nem pai de cin-
que liberorum excusatur. Sed in Asia co filhos adultos. Na Ásia, porém, pais
sacerdotium provinciae suscipere non de cinco filhos não são obrigados a
coguntur numero liberorum quinque exercer o sacerdócio de uma província,
subnixi; quod optimus maximusque conforme decretou nosso eminente e
Princeps noster Severus Augustus de- augusto imperador Severo, que depois
crevit, ac postea in ceteris provinciis estendeu essa norma às demais provín-
servandum esse constituit. cias.

§ 1. — Non alios fisci vectigalium re- § 1. Foi estabelecido também que, com
demtores a muneribus civilibus ac tu- relação a arrendatários de impostos,
telis excusari placuit, quam eos, qui só estão isentos de funções civis e de
praesentes negotium exercerent.

67
Glossário, cargos e funções; decurião.

229
Livro L – Título V Digesto

tutelas aqueles que estiverem presente-


mente no exercício da função.

§ 2. — Vacationum privilegia non spec- § 2. O privilégio de isenções não al-


tant liberos veteranorum. cança filhos de veteranos.

§ 3. — Qui muneris publici vacatio- § 3. Quem tem isenção de funções pú-


nem habet, per magistratus ex impro- blicas tem o direito de recusar atribui-
viso collationes indictas recte recusat; ções eventualmente impostas por ma-
eas vero, quae e lege fiunt, recusare non gistrados. Todavia, o que for de lei não
debet. deve recusar.

§ 4. — Philosophis, qui se frequentes § 4. Está estabelecido também que


atque utiles per eandem studiorum os filósofos que se dedicam frequen-
sectam contendentibus praebent, tu- te e utilmente ao desenvolvimento de
telas, item munera sordida corporalia ideias de uma mesma linha de pen-
remitti placuit, non ea, quae sumtibus samento, são isentos de tutelas e de
expediuntur; etenim vere philoso- funções que envolvam esforço físico
phantes pecuniam contemnunt; cuius e grosseiro, mas não de funções que
retinendae cupidine fictam assevera- envolvam gastos, pois os verdadeiros
tionem detegunt. filósofos desprezam dinheiro, por cuja
avidez se revela a falsidade de suas afir-
mações.

§ 5. — Qui maximos Principes appella- § 5. Está isento de cargos e de funções


vit, et causam propriam acturus Romam civis em sua cidade, até que se encerre
profectus est, quoad cognitio finem ac- o processo, quem apela para os emi-
cipiat, ab honoribus et civilibus muneri- nentes imperadores e se dirige a Roma
bus apud suos excusatur. para tratar de sua questão.

9. PAULUS libro I. Responsorum. — 9. PAULO, Respostas, Livro I. — Quem


Eos, qui Romae profitentur, proinde in é professor em Roma deve ser dispensa-
patria sua excusari muneribus oporte- do de funções em sua pátria como se ali,
re, ac si in patria sua profiterentur. e não em Roma, lecionasse.

§ 1. — Paulus respondit, privilegium § 1. No parecer de Paulo, o privilégio


frumentariis negotiatoribus conces- concedido a comerciante de grãos vale
sum etiam ad honores excusandos per- também para isentá-lo de cargos.
tinere.

230
Digesto Livro L – Título V

10. IDEM libro I. Sententiarum. — 10. IDEM, Sentenças, Livro I. — Ne-


Ab his oneribus, quae possessionibus nhum privilégio serve para isentar de
vel patrimonio indicuntur, nulla privi- ônus que se impõem em virtude de
legia praestant vacationem. posse ou de patrimônio.

§ 1. — Corpus mensurarum frumenti § 1. A classe de medidores públicos de


iuxta annonam urbis habent vacatio- trigo68 em Roma tem isenção; nas pro-
nem; in provinciis non idem. víncias, não.

§ 2. — Angariarum praestatio, et reci- § 2. Entre outras atividades que isen-


piendi hospitis necessitas et militi, et tam estão a prestação de serviços de
liberalium artium professoribus inter transporte oficial e a obrigação de hos-
cetera remissa sunt. pedar. Gozam também de isenção mi-
litares e professores de artes liberais69.

§ 3. — Auctis post appellationem me- § 3. Não se isenta, a pretexto de pobre-


dio tempore facultatibus paupertatis za, quem teve patrimônio aumentado
obtentu non excusantur. no tempo decorrido após a apelação.

§ 4. — Defensores reipublicae ab ho- § 4. Os defensores públicos estão, ao


noribus et muneribus eodem tempore mesmo tempo, isentos de cargos e fun-
vacant. ções.

68
Mais uma vez, esta tradução recorre à varian-
te de texto original, no caso, à nota 1, para
adotar o termo mensor, mensoris, para justi-
ficar a versão de “medidores”. No Título VI, 6,
mensor figura na sua correta acepção.
69
Os romanos entendiam por artes liberais
atividades de natureza intelectual que com-
preendiam principalmente o estudo de disci-
plinas como gramática, retórica, lógica, ariti-
mética, geometria, astronomia, arquitetura e
música. Chamavam-se “liberais” por serem,
em geral, cultivadas por homens livres (no
mínimo, por libertos), ao contrário das artes
marciais, exercidas por escravos ou pessoas
de classe inferior. Mais tarde se criou a ex-
pressão “belas artes” para classificar ativida-
des culturais mais voltadas para o belo.

231
Livro L – Título V Digesto

11. HERMOGENIANUS libro I. Iuris 11. HERMOGENIANO, Epítome do


epitomarum. — Sunt munera, quae rei Direito, Livro I. — Há funções es-
proprie cohaerent; de quibus neque li- senciais, em relação às quais nem o
beri, neque aetas, nec merita militiae, número de filhos, nem a idade, nem
nec ullum aliud privilegium iure tri- o mérito militar ou privilégio de qual-
buit excusationem, ut sit praediorum quer natureza gera, de direito, isenção,
collatio, viae sternendae angariarumve como a contribuição rural, serviço de
exhibitio, hospitis suscipiendi munus; calçamento de vias públicas ou manu-
nam nec huius quisquam excusatio- tenção de transporte público ou ônus
nem praeter eos, quibus principali be- de hospedagem, pois desses serviços
neficio concessum est, habet, et si qua ninguém está isento, com exceção da-
sunt praeterea alia huiusmodi. queles a quem foi concedida por bene-
volência imperial e, de algum modo, se
os houver por outros benefícios dessa
natureza.

12. PAULUS libro I. Sententiarum. — 12. PAULO, Sentenças, Livro I. — Le-


Legato, qui publicum negotium tuitus gado que foi encarregado de um negó-
sit, intra tempora vacationis praestituta cio público não pode ser de novo de-
rursum eiusdem negotii defensio man- signado para tratar do mesmo assunto
dari non potest. no período prefixado de isenção.

§ 1. — Comites Praesidum et Procon- § 1. Assessores de governadores e de


sulum, Procuratorumve Caesaris a procônsules ou de procuradores do
muneribus vel honoribus, et tutelis va- imperador estão isentos de cargos ou
cant. funções e também de tutelas.

13. ULPIANUS libro XXIII. ad Edic- 13. ULPIANO, Comentários ao Edi-


tum. — Praetor eos, quoscunque in- to, Livro XXIII. — Um pretor prome-
telligit operam dare non posse ad iu- te que haverá de isentar quem quer
dicandum, pollicetur se excusaturum; que se considere impedido de exercer
forte quod in perpetuum quis operam a função de julgar; a outros talvez,
dare non potest, quod in eam valetu- perpetuamente, por terem contraído
dinem incidit, ut certum sit, eum civi- doença que os incapacita para exercer
lia officia subire non posse, aut si alio cargos públicos, ou por terem contraí-
morbo laboret, ut suis rebus superes- do doença que os impeça de cuidar de
se non possit, vel si quid sacerdotium seus bens, ou se obteve um sacerdócio
nacti sint, ut discedere ab eo sine reli- do qual não pode afastar-se sem sacri-
gione non possint; nam et hi in perpe- légio; esses se isentam perpetuamente.
tuum excusantur.

232
Digesto Livro L – Títulos V e VI

§ 1. — Duo genera tribuendae muneris § 1. Há duas maneiras de se conceder


publici vacationis sunt, unum plenius, isenção de funções públicas: uma, mais
quum et militiae datur, aliud exiguus, ampla, como a concedida aos militares;
quum nudam muneris vacationem ac- outra, mais restrita, quando se concede
ceperint. simples dispensa a determinada pessoa.

§ 2. — Qui autem non habet excusatio- § 2. Quem não é isento é obrigado a


nem, etiam invitus iudicare cogitur. ser juiz, mesmo contra a sua vontade.

§ 3. — Si post causam actam coeperit § 3. Iniciada uma causa, um juiz não


se excusare iudex, si quidem privilegio, pode fazer uso do privilégio de isen-
quod habuit, antequam susciperet iudi- ção obtido antes de ajuizar a ação, pois
cium, velit se excusare, nec audiendus uma vez recebida a ação, renuncia à
est; semel enim agnoscendo iudicium isenção. Mas, se depois sobrevém mo-
renuntiat excusationi. Quodsi pos- tivo que justifique o uso temporário da
tea iusta causa incidit, ut iudex vel ad isenção, a ação não deve ser transferi-
tempus excusetur, non debet in alium da para outro juiz se isso resultar pre-
iudicium transferri, si cum captione id judicial a uma das partes, pois, enfim,
futurum est alterutrius; tolerabilius de- é mais razoável esperar algum tempo
nique est, interdum iudicem, qui semel pelo juiz que já conhece a questão do
cognoverat, tantisper exspectare, quam que submetê-la a julgamento de outro.
iudici novo rem rursum iudicandam
committere.
14. MODESTINO, Regras, Livro VII.
14. MODESTINUS libro VII. Regu- — Não vale para a isenção de funções a
larum. — Ad excusationem munerum morte de um filho, a menos que perdi-
defunctus filius non prosit, praeter- do em guerra.
quam in bello amissus.
§ 1. Ninguém será responsável, ao
§ 1. — Eodem tempore idem duas curas mesmo tempo, pela administração de
operis non administrabit. duas obras.

TITULUS VI TÍTULO VI
DE IURE IMMUNITATIS DO DIREITO DE IMUNIDADE

1. ULPIANUS libro III. Opinionum. 1. ULPIANO, Opiniões, Livro III. —


— Qui ob hoc tantum in navibus sint, O simples fato de estar embarcado,
ut in his agendi causa operarentur, nul- para não fazer outra coisa, não isenta,

233
Livro L – Título VI Digesto

la Constitutione immunitatem a mu- por nenhuma constituição, de funções


neribus civilibus habent. públicas.

§ 1. — Personis datae immunitates he- § 1. Isenções conferidas a pessoas não


redibus non relinquuntur. se transferem a herdeiros.

§ 2. — Sed et generi posterisque datae § 2. Mas também isenções concedidas


custoditaeque ad eos, qui ex feminis e reservadas a uma família e a seus des-
nati sunt, non pertinent. cendentes não alcançam os nascidos da
linhagem feminina.

2. IDEM libro IV. de officio Procon- 2. IDEM, Da Função do Procônsul,


sulis. — Si qui certa conditione mune- Livro VI. — Se alguém se obrigou a
ribus vel honoribus se adstrinxerunt, cargos ou funções sob alguma con-
quum alias compelli non possent inviti dição, como não pode ser obrigado a
suscipere istum honorem, fides iis ser- aceitar cargo contra a sua vontade, há
vanda est, conditioque, qua ad munera de se respeitar sua opção e a condição
sive honores applicare se passi sunt. que impôs para exercer o cargo ou a
função.

§ 1. — Impuberes, quamvis necessitas § 1. Como estabelecido em rescrito a


penuriae hominum cogat, ad honores Venídio Rufo, legado da Cilícia, mes-
non esse admittendos, Rescripto ad mo na falta de pessoas aptas, impúbe-
Venidium Rufum, legatum Ciliciae, res não devem ser admitidos a cargos.
declaratur.

3. IDEM libro V. — Maiores septua- 3. IDEM, Livro V. — Maiores de seten-


ginta annis a tutelis et muneribus per- ta anos estão isentos de tutelas e fun-
sonalibus vacant; sed qui ingressus ções pessoais. Mas quem tem setenta
est septuagesimum annum, nondum anos incompletos não faz jus a essa
egressus, hac vacatione non utetur, isenção, pois não se considera septua-
quia non videtur maior esse septua- genário quem ainda não completou se-
ginta annis, qui annum agit septuage- tenta anos.
simum.

4. MODESTINUS libro VI. Regula- 4. MODESTINO, Regras, Livro VI.


rum. — Immunitates generaliter trib- — Isenções que, em geral, se conferem
utae eo iure, ut ad posteros transmit- com direito de sucessão valem perpe-
tuamente para todos os sucessores.

234
Digesto Livro L – Título VI

terentur, in perpetuum succedentibus


durant.

5. CALLISTRATUS libro I. de Cog- 5. CALÍSTRATO, Das Jurisdições, Li-


nitionibus. — Semper in civitate nos- vro I. — A velhice foi sempre venerável
tra senectus venerabilis fuit; namque em nossa sociedade, pois nossos ante-
maiores nostri paene eundem hono- passados tributavam aos idosos quase
rem senibus, quem magistratibus tri- a mesma honra que aos magistrados.
buebant. Circa munera quoque muni- Os idosos gozavam também da mesma
cipalia subeunda idem honor senectuti honra com relação ao exercício de fun-
tributus est. Sed eum, qui in senectute ções municipais. Mas quem se tornou
locuples factus est, et ante nullo publi- rico na velhice e antes nunca desem-
co munere functus est, dici potest, non penhara uma função pública, pode-se
eximi ab hoc onere privilegio aetatis, dizer que não se isenta desse ônus por
maxime si non tam corporis habeat ve- privilégio da idade, principalmente se
xationem, quam pecuniae erogationem o gerenciamento da função imposta
indicti muneris administratio, et ex ea não envolver esforço físico, mas ape-
sit civitate, in qua non facile sufficien- nas gastos pecuniários, e for de cidade
tes viri publicis muneribus inveniantur. que careça de pessoas abastadas para o
exercício de funções públicas.

§ 1. — Legem quoque respici cuiusque § 1. Convém igualmente atentar para


loci oportet, an, quum aliquas immu- a legislação de cada lugar se, ao tratar
nitates nominatim complecteretur, de isenções, nela se faz menção do nú-
etiam de numero annorum in ea com- mero de anos. Isso pode ser também
memoretur; idque etiam colligi potest deduzido de carta do imperador Pio a
ex literis Divi Pii, quas emisit ad En- Ênio Próculo, procônsul da província
nium Proculum, proconsulem provin- da África.
ciae Africae.

§ 2. — Demonstratur varie, nec abscise § 2. Dos rescritos do imperador Hél-


numerum liberorum ad excusationem vio Pertinax deduz-se que varia muito
municipalium munerum prodesse, ex e nem é taxativo o número de filhos
Rescriptis Divi Helvii Pertinacis; nam- para se fazer jus a isenção de funções
que Silvio Candido in haec verba res- municipais, pois, em rescrito a Sílvio
cripsit: Eiv kai.. mh. pasw/n leitourgiw/n Cândido, assim se expressa: “Embora
avfi,hsin tou.j pate,raj o` tw/n te,knwn o número de filhos não isente um pai
avriqmo,j, avll, ou/n evpeidh. e`kkai,deka pai/ de todas as funções, como declaraste
daj e;cein dia. tou/ bibli,ou e`dh,lwsaj, que tens dezessete filhos, não é irrazo-
ovuk evstin a;logon, w[ste sugcwrh/sai ável que te concedamos isenção para a

235
Livro L – Título VI Digesto

scola,xein th/| pairotdofi,a|, kai. avne_ educação de teus filhos e, por isso, te
sqai, se tw/n leitourgi%wn [Etsi non ab dispensamos de funções públicas”.
omnibus muneribus dimittit patrem
natorum numerus, tamen quia sede-
cim pueros habere per libellum noti-
ficasti, non est irrationabile, ut conce-
damus vacare liberorum educationi, et
remitti tibi munera].

§ 3. — Negotiatores, qui annonam ur- § 3. Negociantes, como também arma-


bis adiuvant, item navicularii, qui an- dores, que ajudam e prestam serviço
nonae urbis serviunt, immunitatem no abastecimento de víveres de Roma70
a muneribus publicis consequuntur, gozam de isenção de funções públi-
quamdiu in eiusmodi actu sunt; nam cas enquanto prestam esses serviços;
remuneranda pericula eorum, quin pois achou-se por bem recompensar
etiam exhortanda praemiis, merito e mesmo premiar aqueles que, viajan-
placuit, ut qui peregre muneribus, et do e correndo riscos, exercem funções
quidem publicis, cum periculo et labo- verdadeiramente públicas, arrostam
re fungentur, a domesticis vexationibus perigos e fadiga, isentando-os de en-
et sumtibus liberentur, quum non sit cargos e dispêndios públicos, pois não
alienum dicere, etiam hos reipublicae é despropósito dizer que também eles
causa, dum annonae urbis serviunt, estão ausentes no interesse público ao
abesse. prestarem serviço ao abastecimento de
víveres.

§ 4. — Immunitati, quae naviculariis § 4. Por constituições imperiais, a


preestatur, certa forma data est; quam isenção que se concede a armadores
immunitatem ipsi duntaxat habent, tem certa peculiaridade: a isenção é ex-
non etiam liberis, aut libertis eorum clusivamente deles e não se estende a
praestatur; idque principalibus Consti- filhos e libertos.
tutionibus declaratur.

§ 5. — Divus Hadrianus rescripsit, § 5. O imperador Adriano determi-


immunitatem navium maritimarum nou, em rescrito, que só gozam de imu-
duntaxat habere, qui annonae urbis nidade naves marítimas que prestam
serviunt.

70
Glossário, annona.

236
Digesto Livro L – Título VI

§ 6. — Licet in corpore naviculario- serviço de abastecimento de víveres de


rum quis sit, navem tamen vel naves Roma71.
non habeat, nec omnia ei congruant,
quae principalibus Constitutionibus § 6. Conforme estabelecido por cons-
cauta sunt, non poterit privilegio na- tituições imperiais, quem não tem na-
viculariis indulto uti; idque et Divi vio nem o que é próprio da navegação,
Fratres rescripserunt in haec verba: mesmo que pertença à classe de marí-
“Hsan kai. a;lloi ti,nej evpi. profa,sei timos, não pode fazer uso do privilégio
tw/n nauklh,swn kai. to.n si,ton kai. concedido a donos de embarcações. Os
e;laion evmporeuome,nwn ei.j th.n avgora.n imperadores irmãos72 assim se expres-
tou/ dh,mou tou/ `Rwmai,kou o]ntwn saram sobre a matéria: “Houve uma
avtelw/n, avxiou,ntej ta.j leitourgi,aj época em que alguns marinheiros, por
diadwra,skein, mh,te evpiple,ontej, mh,te venderem trigo e óleo ao povo romano
to. tle,on me,roj th/j ouvsi,aj evn tai/j no mercado, sem pagar tributo, consi-
nauklhri,aij kai. evmpori,aij e,contej deravam-se isentos de funções públi-
avfairhqh,tw tw/n toiou,twn h` avte,leia”. cas, embora nem fossem navegantes
[Erant et alii quidam occasione nauta- nem tivessem parte significativa nas
rum frumentum et oleum vendentium viagens e nas negociações; desses seja
in foro populi Romani, non solventium tirada a isenção de tributos”.
tributum, dignum existimantes mune-
ra effugere, neque navigantes, neque
ampliorem partem substantiae in navi-
gationibus et in negotiationibus haben-
tes; auferatur ab his talibus tributorum
immunitas].

§ 7. — Hoc circa vacationes dicendum § 7. Com relação a isenções, convém


est, ut, si ante quis ad munera muni- estabelecer que deve ser obrigado a
cipalia vocatus sit, quam negotiari in- exercer cargo quem já foi convocado
ciperet, vel antequam in collegium as- para funções municipais antes de co-
sumeretur, quod immunitatem pariat, meçar a negociar, ou antes de integrar
vel antequam septuagenarius fieret, vel associação que goze de isenção, ou an-
antequam publice profiteretur, vel an- tes de completar setenta anos, ou antes
tequam liberos susciperet, compellatur de exercer o magistério, ou antes de ter
ad honorem gerendum. filhos.

71
Glossário, annona.
72
Glossário, Dois Irmãos.

237
Livro L – Título VI Digesto

§ 8. — Negotiatio pro incremento fa- § 8. O comércio deve ser exercido com


cultatum exercenda est, alioquin si vista ao aumento da riqueza. Caso con-
quis maiore pecuniae suae parte ne- trário, se alguém negocia com a maior
gotiationem exercebit, rursus locuples parte de sua fortuna e, depois de se en-
factus in eadem quantitate negotiatio- riquecer, continua negociando com o
nis perseveraverit, tenebitur muneri- mesmo capital anterior, estará sujeito
bus, sicuti locupletes, qui modica pe- a funções públicas da mesma maneira
cunia comparatis navibus muneribus que ricos que tentam escapar às fun-
se publicis subtrahere tentant; idque ita ções públicas investindo pouco capital
observandum, Epistola Divi Hadriani na compra de pequenas embarcações.
scripta est. Assim determina em carta o impera-
dor Adriano.

§ 9. — Divus quoque Pius rescripsit, § 9. O imperador Pio determinou


ut, quoties de aliquo naviculario qua- também, em rescrito, que, sempre que
eratur, illud excutiatur, an effugiendo- se tratar de armador, deve-se investigar
rum munerum causa imaginem navi- se ele se faz armador só para fugir das
cularii induat. funções civis.

§ 10. — Conductores etiam vectiga- § 10. Os arrendatários de tributos estão


lium fisci necessitate subeundorum isentos da obrigação de exercer fun-
municipalium munerum non obstrin- ções públicas. Assim determinaram,
guntur; idque ita observandum Divi em rescrito, os imperadores irmãos73.
Fratres rescripserunt. Ex quo principa- Com base nesse rescrito imperial,
li Rescripto intelligi potest, non honori pode-se concluir que a isenção não é
conductorum datum, ne compellantur dada graciosamente aos coletores de
ad munera municipalia, sed ne exte- tributos, mas para que, envolvidos em
nuentur facultates eorum, quae subsig- outras atividades municipais, não aca-
natae sint fisco. Unde subsisti potest, bem sacrificando sua própria fortuna,
an prohibendi sint a Praeside, vel Pro- que cauciona o fisco. Daí se indagar se
curatore Caesaris, etiamsi ultro se offe- devem ser vetados por governador ou
rant municipalibus muneribus, quod por procurador de César, caso se ofe-
propius est defendere, nisi si paria fisco reçam para exercer outros cargos pú-
fecisse dicantur. blicos municipais, o que parece o mais
acertado, a menos que tenham quitado
suas contas com o fisco.

73
Glossário, Dois Irmãos.

238
Digesto Livro L – Título VI

§ 11. — Coloni quoque Caesaris a mu- § 11. Colonos74 ou trabalhadores rurais


neribus municipalibus liberantur, ut em terras públicas também são libera-
idoniores praediis fiscalibus habeantur. dos de funções municipais para terem
melhores condições de atender a suas
obrigações com o fisco.

§ 12. — Quibusdam collegiis vel cor- § 12. Algumas associações ou corpo-


poribus, quibus ius coeundi lege per- rações legalmente constituídas gozam
missum est, immunitas tribuitur, de isenção, isto é, associações ou cor-
scilicet iis collegiis vel corporibus, in porações nas quais cada qual é admi-
quibus artificii sui causa unusquisque tido em função de seu ofício, como é
assumitur, ut fabrorum corpus est, et si o caso da associação de carpinteiros e
qua eandem rationem originis habent, outras que têm a mesma razão de ori-
id est idcirco instituta sunt, ut necessa- gem e foram instituídas para presta-
riam operam publicis utilitatibus exhi- rem serviços necessários e de utilidade
berent. Nec omnibus promiscue, qui pública. Essa isenção não é concedida
assumti sunt in his collegiis, immuni- indiscriminadamente a todos que são
tas datur, sed artificibus duntaxat; nec admitidos nessas associações, mas ex-
ab omni aetate allegi possunt, ut Divo clusivamente aos artífices. Também
Pio placuit, qui reprobavit, prolixae vel não podem ser admitidos em qualquer
imbecillae admodum aetatis homines. idade, conforme decidiu o imperador
Sed ne quidem eos, qui augeant facul- Pio, que rejeitou membros de idade
tates, et munera civitatum sustinere excessivamente avançada ou preco-
possunt, privilegiis, quae tenuioribus ce. Por diversos instrumentos, tem-se
per collegia distributis concessa sunt, prescrito que aqueles que aumentaram
uti posse, plurifariam constitutum est. sua renda podem assumir funções mu-
nicipais, para evitar que façam uso dos
privilégios concedidos aos associados
mais carentes dessas associações.

§ 13. — Eos, qui in corporibus allecti § 13. No meu entendimento, aqueles


sunt, quae immunitatem praebent na- que foram admitidos em associações
viculariorum, si honorem decuriona- que conferem isenção a armadores, se
tus agnoverint, compellendos subire aceitarem o decurionato, devem ser
publica munera, accepi; idque etiam obrigados a desempenhar funções pú-
confirmatum videtur Rescripto Divi
Pertinacis.

74
Glossário, administração pública romana,
item III.

239
Livro L – Títulos VI e VII Digesto

blicas. Isso parece ter fundamento em


rescrito do imperador Pertinax.

6. TARRUNTENUS PATERNUS libro 6. TARRUNTENO PATERNO, Dos


I. Militarium. — Quibusdam aliquam Militares, Livro I. — A natureza de
vacationem munerum graviorum con- funções mais penosas dispensa alguns
ditio tribuit, ut sunt mensores, optio, profissionais da prestação de servi-
valetudinarii, medici, capsarii, et arti- ço público, como medidores de trigo
fices, et qui fossam faciunt, veterina- e seus auxiliares, ajudantes de enfer-
rii, architectus, gubernatores, naupegi, meiros, médicos, algumas classes de
balistarii, specularii, fabri, sagittarii, militares, marceneiros, cavadores de
aerarii, bucularum structores, carpen- valas, veterinários, mestres de obra,
tarii, scandularii, gladiatores, aquilices, timoneiros, carpinteiros navais, fabri-
tubarii, cornuarii, arcuarii, plumbarii, cantes de balista, vidraceiro, ferreiro,
ferrarii, lapidarii, et hi qui calcem co- fabricante de flechas, latoeiros, car-
quunt, et qui silvam infindunt, qui car- pinteiros, fabricantes de escudos, gla-
bonem caedunt ac torrent; in eodem diadores, construtores de barragens,
numero haberi solent lanii, venatores, fabricantes de trombeta, fabricante de
victimarii, et optio fabricae, et qui ae- corneta, chumbeiro, ferreiro, apara-
gris praesto sunt; librarii quoque qui dores de pedra, produtores de cal, le-
docere possint, et horreorum librarii, nhadores, quem corta árvores e produz
et librarii depositorum, et librarii cadu- carvão. Na mesma relação costumam
corum, et adiutores corniculariorum, estar açougueiros, caçadores, ajudan-
et stratores, et poliones, et custodes tes de construção e enfermeiros; tam-
armorum, et praeco, et buccinator; hi bém livreiros que cuidam de livros,
igitur omnes inter immunes habentur. guarda-livros, notários de bens perdi-
dos, ajudantes de secretário, armeiros e
guardiães de armas, pregoeiro público
e trombeteiros. Todos esses profissio-
nais contam-se entre os isentos.

TITULUS VII TÍTULO VII


DE LEGATIONIBUS DAS LEGAÇÕES75

1. ULPIANUS libro VIII. ad Massu- 1. ULPIANO, Comentários a Massú-


rium Sabinum. — Legatus munici- rio Sabino, Livro VIII. — Legado mu-
palis, si deseruerit legationem, poena
afficiatur extraordinaria, motus ordi-
ne, ut plerumque solet.
75
Glossário, Legatus.

240
Digesto Livro L – Título VII

nicipal que deixa de cumprir seu man-


dato costuma ser punido com pena
extraordinária, além da expulsão da
ordem.

2. IDEM libro II. Opinionum. — Le- 2. IDEM, Opiniões, Livro II. — Um


gatus contra rempublicam, cuius lega- legado pode, por meio de outro, impe-
tus est, per alium a Principe quid pos- trar ao imperador algo contra a muni-
tulare potest. cipalidade da qual é legado.

§ 1. — Utrum quis deseruerit legatio- § 1. Indaga-se se alguém que deixou


nem, an ex necessaria causa moram a legação ou se a cumpriu com atraso,
passus sit, ordini patriae suae probare por motivo de força maior, deve justifi-
debet. car-se diante da ordem municipal.

§ 2. — Cessatio unius legati ei, qui mu- § 2. A negligência de um dos legados


nus, ut oportet, obiit, non nocet. não prejudica quem exerceu devida-
mente a missão.

§ 3. — His, qui non gratuitam legatio- § 3. A quem aceitou a legação não gra-
nem susceperunt, legativum ex forma tuitamente deve ser paga a costumeira
restituatur. ajuda de custo.

3. AFRICANUS libro III. Quaestio- 3. AFRICANO, Opiniões, Livro III.


num. — Quum quaeritur, an in eum, — Quando há dúvida sobre a conve-
qui in legatione sit, actio dari debeat, niência ou não de se mover uma ação
non tam interest, ubi quis aut credider- contra quem exerce uma legação, não
it, aut dari stipulatus sit, quam illud, importa tanto o lugar estipulado do pa-
an id actum sit, ut legationis tempore gamento ou quitação parcial do débito
solveretur. quanto o estabelecido de que isso se fi-
zesse no período da legação em curso.

4. MARCIANUS libro XII. Institu- 4. MARCIANO, Instituições, Livro


tionum. — Sciendum est, debitorem XII. — Convém saber que um devedor
reipublicae legatione fungi non posse; público não pode exercer cargo de le-
et ita Divus Pius Claudio Saturnino et gado, pois assim respondeu o impera-
Faustino rescripsit. dor Pio, por rescrito, a Claúdio Satur-
nino e a Faustino.

241
Livro L – Título VII Digesto

§ 1. — Sed et eos, quibus ius postulan- § 1. Mas os imperadores Severo e An-


di non est, legatione fungi non posse, et tonino decidiram também, por res-
ideo arena missum, non iure legatum crito, que não pode exercer função de
esse missum, Divi Severus et Antoni- legado quem não tem direito de de-
nus rescripserunt. mandar; portanto, gladiador, pelo di-
reito, não pode ser legado.

§ 2. — Debitores autem fisci non pro- § 2. Devedores do fisco, porém, não


hibentur legatione fungi. estão impedidos de ser legados.

§ 3. — Si accusatio alicuius publice § 3. Se alguém é publicamente acusa-


instituta sit, non est compellendus ac- do, o acusador não deve ser obrigado
cusator ad eum legationem suscipere, a aceitar ser legado junto a quem se diz
qui se amicum vel domesticum dicit amigo e íntimo do acusado. Essa foi a
eius, qui accusatur; et ita Divi Fratres decisão dos imperadores irmãos76 em
Aemilio Rufo rescripserunt. rescrito a Emílio Rufo.

§ 4. — Legati vicarios dare non alios § 4. Os legados não podem nomear


possunt, nisi filios suos. substitutos, a não ser seus filhos.

§ 5. — Ordine unusquisque munere § 5. Todos são obrigados a exercer,


legationis fungi cogitur; et non alias pela ordem, a função de legado; mas
compellendus est munere legationis não devem ser obrigados a desempe-
fungi, quam si priores, qui in curiam nhar a função de legado se antes não
lecti sunt, functi sint. Sed si legatio de a tiverem exercido os primeiros eleitos
primoribus viris desideret personas, para a missão. Mas se a legação exigir
et qui ordine vocantur, inferiores sint, seu desempenho por pessoas mais gra-
non esse observandum ordinem, Divus duadas, e as convocadas forem pessoas
Hadrianus ad Clazomenios rescripsit. de nível inferior, a ordem não deve ser
observada, pois assim se manifestou
o imperador Adriano em rescrito aos
clazomênios77.

76
Glossário, Dois Irmãos.
77
Habitantes de Clazomenas, antiga cidade da
Iônia, membro da Dodecápole ioniana, perto
de Esmirna. A cidade gozava de isenção de
tributos concedida pelos romanos. Tornou-se
célebre por ter sido a pátria do filósofo Ana-
xágoras e por seus sarcófagos de terracota.

242
Digesto Livro L – Título VII

§ 6. — Praecipitur autem Edicto Divi § 6. Preceitua, porém, o edito do impe-


Vespasiani omnibus civitatibus, ne plu- rador Vespasiano que todas as cidades
res, quam ternos legatos mittant. não enviem mais de três legados cada
uma.

5. SCAEVOLA libro I. Regularum. — 5. CÉVOLA, Regras, Livro IV. — O


Legato tempus prodest, ex quo legatus mandato do legado conta a partir de
creatus est, non ex quo Romam venit. quando é nomeado, e não do momento
em que chega a Roma.

§ 1. — Sed si non constat, legatus sit, § 1. Mas se há dúvida sobre se é ou não


an non , Romae Praetor de hoc cognos- legado, compete ao pretor de Roma re-
cit. solver a questão.

6. ULPIANUS libro IV. de officio Pro- 6. ULPIANO, Da função do Procôn-


consulis. — Filio propter patrem lega- sul, Livro IV. — Nosso imperador, com
tionis vacatio ne concedatur, Imperator seu pai, em rescrito a Cláudio Calisto,
noster cum patre Claudio Callisto res- determinou, nestes termos, que, por
cripsit in haec verba: “Quod desideras, causa do pai, não se deve dispensar um
ut propter legationem patris tui a lega- filho de exercer legação: “O que solici-
tione tu vaces, in intervallis honorum, tas, que, em razão de teu pai já exer-
qui sumtum habent, recte observatur; cer o cargo de legado, sejas dispensado
in impendiis legationum, quae solo mi- dessa função, nos intervalos de cargos
nisterio obeuntur, diversa causa est”. honorários que implicam gastos, tudo
bem. O mesmo, porém, não acontece
com atribuições de legações que só en-
volvam desempenho pessoal”.

7. PAPINIANUS libro I. Responso- 7. PAPINIANO, Respostas, Livro I.


rum. — Filius decurio pro patre lega- — Um filho decurião aceitou a função
tionis officium suscepit; ea res filium, de legado no lugar do pai; isso não dis-
quominus ordine suo legatus proficis- pensa o filho de exercer, quando for sua
catur, non excusat; pater tamen biennii vez, a função de legado. O pai, todavia,
vacationem vindicare poterit, quia per poderá, nesse caso, reivindicar isenção
filium legatione functus videtur. por um biênio, uma vez que considera
ter desempenhado a função de legado
por meio do filho.

8. PAULUS libro I. Responsorum. — 8. PAULO, Respostas, Livro I. — Na


Paulus respondit, eum, qui legatione opinião de Paulo, de quem foi lega-

243
Livro L – Título VII Digesto

functus est, intra tempora vacationis do não se deve exigir que, no período
praefinita non oportere compelli rur- estabelecido de isenção, seja de novo
sum ad defendendum publicum nego- obrigado a defender o interesse públi-
tium, etiamsi de eadem causa litigetur. co, embora se tratando de uma mesma
questão.

§ 1. — “Imperatores Antoninus et Se- § 1. “Os augustos imperadores An-


verus Augusti Germano Silvano. Lega- tonino e Severo a Germano Silvano.
tione functis biennii vacatio concedi- Concede-se isenção de dois anos a
tur, nec interest, utrum legatio in urbe, quem exerceu a função de legado, pou-
an in provincia agentibus nobis man- co importando que a tenha exercido
data sit”. em Roma ou numa província onde nos
encontrarmos”.

§ 2. — Paulus respondit, eum, qui le- § 2. Na opinião de Paulo, quem de-


gatione fungitur, neque alienis, neque sempenha a função de legado não deve
propriis negotiis se interponere debere; ocupar-se de outros negócios, nem
in qua causa non videri eum quoque seus nem de outros. Não parece, po-
contineri, qui cum amico suo Praetore rém, incluir-se nessa restrição quem,
gratis consilium participat. desinteressadamente, presta assessoria
a pretor seu amigo.

9. IDEM libro III. Responsorum. — 9. IDEM, Respostas, Livro III. — Opi-


Paulus respondit, de eo damno, quod na ainda Paulo que um legado pode
legationis tempore legatus passus est, mover ação durante o tempo de sua
posse eum etiam legationis tempore legação por dano sofrido enquanto le-
experiri. gado.

10. IDEM libro I. Sententiarum. — 10. IDEM, Sentenças, Livro I. — Um


Legatus, antequam officio legationis legado, antes de ter cumprido a lega-
functus sit, in rem suam nihil agere ção, não pode mover nenhuma ação,
potest, exceptis his, quae ad iniuriam a não ser em matéria de injúria ou de
eius, vel damnum parata sunt. dano sofrido.

§ 1. — Si quis in munere legationis, § 1. Se alguém morre no exercício de


antequam ad patriam reverteretur, de- uma legação, antes de voltar para sua
cessit, sumtus, qui profiscenti sunt dati, terra, a ajuda de custo que lhe foi dada
non restituuntur. ao partir não é restituída.

244
Digesto Livro L – Título VII

11. IDEM libro Singulari de iure li- 11. IDEM, Do Direito de Reclamar,
bellorum. — Si absenti iniuncta est Livro Único. — Quem, ausente, rece-
legatio, eamque gratuitam suscepit, beu a missão de legado e a aceitou sem
potest quis et per alium legationem nenhum custo pode fazer-se represen-
mittere. tar por outro.

§ 1. — Qui legationis officio fungitur, § 1. Quem exerce a função de legado,


licet suum negotium curare non potest, embora não possa cuidar de seus negó-
Magnus tamen Antoninus permisit ei, cios, pode, por permissão do impera-
pupillae nomine et instruere, et defen- dor Antonino Magno, instruir e defen-
dere causam, licet legationi, quam sus- der causa de uma tutelada, mesmo não
cepit, nondum renuntiaverit, praecipue tendo renunciado à legação recebida,
quum participem officii ipsius absen- principalmente se alegar que o colega
tem esse dicebat. na mesma causa está ausente.

12. SCAEVOLA libro I. Digestorum. 12. CÉVOLA, Digesto, Livro I. — Le-


— Legatus creatus a patria sua, suscep- gado designado por sua cidade, recebi-
ta legatione, in urbem Romam venit, do o cargo, chega a Roma e, antes mes-
et nondum perfecta legatione domum, mo de cumprir a missão, compra uma
quae erat in ipsius civitate Nicopoli, casa em Nicópole, sua cidade natal. Ao
emit; quaesitum est, an in Senatuscon- ser consultado se a questão incidiria
sultum inciderit, quo prohibentur lega- no senátus-consulto que proíbe que
ti ante perfectam legationem negotiis legados, antes de concluída a missão,
vel privatis rebus obstringi. Respondit, se envolvam em negócios próprios ou
non videri teneri. privados, respondeu pela negativa.

13. PAPINIANUS libro I. Responso- 13. PAPINIANO, Respostas, Livro


rum. — Vicarius alieni muneris volun- I. — Quem aceitou, na qualidade de
tate sua datus, ordine suo legationem substituto, o exercício da função de ou-
suscipere non admissa biennii praes- trem será obrigado, quando for a sua
criptione cogetur. vez, a assumir a legação, não admitida
a isenção do biênio78.

14. ULPIANUS libro LXXIV. ad Edic- 14. ULPIANO, Comentários ao Edi-


tum Praetoris. — Qui libera legatione to do Pretor, Livro LXXIV. — Quem,
abest, non videtur reipublicae causa
abesse; hic enim non publici commodi
causa, sed sui abest. 78
Havia o estatuto do intervalo de um biênio
entre o exercício de cargos e funções. No caso,
esse estatuto não é observado, tendo em vista
a aceitação espontânea da substituição.

245
Livro L – Título VII Digesto

após concluída a missão de legado,


permanece ausente, sua ausência não é
considerada como de interesse público,
mas pessoal, pois a ausência estendida
não se prende à natureza da missão,
mas a seu interesse próprio.

15. MODESTINUS libro VII. Regu- 15. MODESTINO, Regras, Livro VII.
larum. — Is, qui legatione fungitur, li- — Quem exerce a função de legado
bellum sine permissu Principis de aliis não pode, sem a permissão do impe-
suis negotiis dare non potest. rador, cuidar judicialmente de outros
negócios seus.

16. IDEM libro VIII. Regularum. — 16. IDEM, Regras, Livro VIII. —
Eundem plures legationes suscipere Uma mesma pessoa não está impedida
prohibitum non est, praeterea si et su- de exercer várias legações, principal-
mtus, et itineris compendium suadeat. mente em razão de poupança de gastos
e tempo de viagem.

§ 1. — Ante legationem susceptam si § 1. Quem é sujeito de uma ação an-


cui negotium moveatur, etiam absens tes de assumir uma legação deve ser
defendi debet; suscepta legatione non defendido mesmo na sua ausência.
nisi iniuncto munere fungatur. Assumida a legação, não; só depois de
cumprida a missão.

17. POMPONIUS libro XXXVII. ad 17. POMPÔNIO, Comentários a


Quintum Mucium. — Si quis legatum Quinto Múcio, Livro XXXVII. —
hostium pulsasset, contra ius gentium Considera-se que atenta contra o direi-
id commissum esse existimatur, quia to das gentes quem agride um legado
sancti habentur legati; et ideo, si, quum de inimigos, pois os legados gozam de
legati apud nos essent gentis alicuius, imunidade. Portanto, se houver entre
bellum cum iis indictum sit, respon- nós legados de alguma nação contra a
sum est, liberos eos manere; id enim qual foi declarada a guerra, respondeu-
iuri gentium convenit esse. Itaque eum, -se que permanecem livres, pois assim
qui legatum pulsasset, Quintus Mucius estabelece o direito das gentes. Por isso,
dedi hostibus, quorum erant legati, Quinto Múcio é de parecer que quem
solitus est respondere; quem hostes si agride um legado deve ser entregue aos
non recepissent, quaesitum est, an ci- inimigos dos quais é o legado. Se os
vis romanus maneret, quibusdam exis- inimigos não quiserem recebê-lo, per-
timantibus manere, aliis contra, quia gunta-se se o agressor continua sendo

246
Digesto Livro L – Títulos VII e VIII

quem semel pupulus iussisset dedi, ex cidadão romano, no que há divergên-


civitate expulsisse videretur, sicut face- cias, opinando uns que sim, outros que
ret, quum aqua et igni interdiceret; in não, pois, uma vez que o povo decidiu
qua sententia videtur Publius Mucius por sua entrega, parece estar expulsan-
fuisse. Id autem maxime quaesitum est do-o da cidade, à semelhança do que
in Hostilio Mancino, quem Numantini faz quando condena alguém ao dester-
sibi deditum non acceperunt, de quo ro. Públio Múcio parece estar entre os
tamen lex postea lata est, ut esset civis que assim pensam. Essa foi a questão
Romanus; et Praeturam quoque gessis- mais acaloradamente discutida no caso
se dicitur. de Hostílio Mancino, que, entregue, os
numancinos79 não quiseram receber.
Por causa disso, foi promulgada pos-
teriormente uma lei, segundo a qual
Hostílio Mancino permaneceu cidadão
romano. E dizem, inclusive, que teria
exercido a função de pretor.

TITULUS VIII TÍTULO VIII


DE ADMINISTRATIONE RERUM DA ADMINISTRAÇÃO DO
AD CIVITATES PERTINENTIUM PATRIMÔNIO MUNICIPAL

1. ULPIANUS libro X. Disputatio- 1. ULPIANO, Instituições, Livro X. —


num. — Quod ad certam speciem civi- Não é lícito destinar a outros fins o que
tati relinquitur, in alios usus convertere é deixado para uma cidade aplicar em
non licet. determinado fim.

2. IDEM libro III. Opinionum. — Non 2. IDEM, Opiniões, Livro III. — Não
utique de exemplo posterioris locatio- convém, de modo algum, tomar como
nis praeteritarum conductionum, quae paradigma, em arrendamentos poste-
suam legem habuerunt, rationem iniri riores, normas que regeram arrenda-
oportet. mentos passados.

§ 1. — Quod quis suo nomine exercere § 1. O que é vedado a alguém fazer


prohibetur, id nec per subiectam per- em seu próprio nome não deve fazê-lo
sonam agere debet; et ideo si decurio por meio de pessoas que lhe estão su-
subiectis aliorum nominibus praedia
publica colat, quae decurionibus con-
ducere non licet, secundum legem 79
Habitantes da Numância, cidade da Espanha,
usurpata revocentur. tomada e destruída pelos romanos após resis-
tir por mais de quatorze anos (133 a.C.).

247
Livro L – Título VIII Digesto

jeitas. Portanto, se um decurião toma


em arrendamento — o que não lhe é
lícito fazer — imóveis rurais públicos,
utilizando-se de nomes de terceiros,
seu ato será revogado de direito por se
tratar de usurpação.

§ 2. — Quod de frumentaria ratione in § 2. O que, destinado à compra de tri-


alium usum conversum est, sua cau- go, for desviado para outro fim deverá
sa cum incremento debito restituatur; ser restituído com juros, e a sentença
idque etsi contra absentem pronuntia- que tiver sido pronunciada contra o
tum est, inanis est querela; ratio tamen responsável, mesmo se ausente, não
administrationis secundum fidem ac- comporta discussão. Todavia, a pres-
ceptorum et datorum ponatur. tação de contas de uma administração
seja feita segundo o registro do que foi
recebido e dado.

§ 3. — Frumentariae pecuniae suo no- § 3. O devedor deve quitar, o mais rá-


mine debitor quam primum solvat; ne- pido possível, o valor recebido em seu
cessaria enim omnibus rebus publicis próprio nome para compra de trigo,
frumentaria pecunia moram solutionis pois os recursos destinados à compra
accipere non debet; sed debitores, quos de trigo necessário à subsistência públi-
ex eadem causa habet, ad solutionem ca não devem sofrer atraso de prestação
per Praesidem provinciae compellan- de contas. O governador da província
tur. obrigue devedores dessa natureza a se
desobrigarem desse encargo.

§ 4. — Ad frumenti comparationem § 4. O recurso destinado à compra


pecuniam datam restitui civitati, non de trigo deve ser restituído à cidade,
compensari in erogata debet. Sin au- e não gasto em outra finalidade. Mas,
tem frumentaria pecunia in alios usus, se empregado em outros fins, para os
quam quibus destinata est, conversa quais não fora destinado, por exemplo,
fuerit, veluti in opus balneorum publi- em obra de banhos públicos, mesmo
corum, licet ex bona fide datum proba- se comprovadamente gasto de boa-fé,
tur, compensari quidem frumentariae não se justifica sua utilização em ou-
pecuniae non oportet, solvi autem a tros gastos, e seu ressarcimento será
curatore reipublicae iubetur. decretado pelo procurador público.

§ 5. — Si indemnitas debiti frumen- § 5. Se a restituição de recurso des-


tariae pecuniae cum suis usuris fit, tinado à compra de trigo se faz com

248
Digesto Livro L – Título VIII

immodicae et illicitae computationis juros, evitem-se cálculos exagerados e


modus non adhibetur, id est, ne com- ilícitos, isto é, a cobrança de juros sobre
modorum commoda et usurae usura- juros e de usura sobre usura.
rum incrementum faciant.

§ 6. — Grani aestimationem per iniu- § 6. O procurador público ordenará


riam post emtionem ablati, quae ratio- que seja restituído ao dono o valor esti-
nibus publicis refertur, curator reipu- mativo do trigo que lhe foi injustifica-
blicae domino restitui iubeat. damente confiscado depois da compra,
conforme apurado pela contabilidade
pública.

§ 7. — Si eo tempore, quo nominatus § 7. Se uma pessoa era idônea quando


est, idoneus, postea lapsus facultatibus, nomeada, mas depois, em consequên-
damnum debitis reipublicae dederit, cia de perda do patrimônio, vier a dar
quia fortuitos casus nullum humanum prejuízo à República, tendo em vista a
consilium providere potest, creator hoc impossibilidade de se preverem casos
nomine nihil praestare debet. fortuitos, quem o nomeou não deve ser
responsabilizado por nada.

§ 8. — Ius reipublicae pacto muta- § 8. O direito público não pode ser al-
ri non potest, quominus magistratus terado por algum pacto, de modo que
collegae quoque nomine conveniantur magistrados são também processados
in his speciebus, in quibus id fieri iure no lugar do colega, nos casos em que o
permissum est. direito o permite.

§ 9. — Actio autem, quae propterea in § 9. Por razão de equidade, porém, a


collegam decerni solet, ei, qui pro alte- ação que costuma ser movida contra
ro dependit, ex aequitate competit. um colega compete a quem pagou pelo
outro.

§ 10. — Quod depensum pro collega § 10. Determine o governador da pro-


in magistratu probabitur, solvi et ab he- víncia que o que vier a ser provado ter
redibus eius Praeses provinciae iubet. sido gasto pelo colega de magistratu-
ra deve ser ressarcido pelos herdeiros
dele.

§ 11. — Idem ex eodem libro: con- § 11. O mesmo no mesmo livro: puni-
ductore perficiendi operis punito fi- do o empreiteiro de uma obra, o fia-
deiussor, qui pro eo intervenerat, idem dor que respondia por ele entregará a

249
Livro L – Título VIII Digesto

opus exstruendum alii locaverat; nec outrem a mesma obra a ser feita. Não
a secundo redemtore opere perfec- concluída a obra pelo segundo emprei-
to usurarum praestationem heres fi- teiro, o herdeiro do fiador não deve
deiussoris recusare non debet, quum et negar-se a pagar os juros, uma vez que
prior causa in bonae fidei contractu in os termos do contrato anterior teriam
universum fideiussorem obligaverit, et obrigado, em boa-fé, o fiador à totali-
posterior locatio, quia suum periculum dade da obra, e a segunda contratação,
agnovit, solidae praestationi reipubli- porque realizada a risco do fiador, o
cae eum substituerit. responsabilizou pelo ressarcimento do
prejuízo total à municipalidade.

§ 12. — Qui fideiusserint pro conduc- § 12. Quem se fez fiador universal de
tore vectigalis in universam conductio- um arrecadador de impostos obriga-se
nem, in usuras quoque in iure conve- também, de direito, aos juros, a menos
niuntur, nisi proprie quid in persona que no contrato estejam expressas suas
eorum verbis obligationis expressum obrigações pessoais.
est.

§ 13. — Sed si in locatione fundorum § 13. Mas, se em arrendamentos rurais,


pro sterilitate temporis boni viri arbi- ficou acertado que, em época de longa
tratu in solvenda pensione cuiusque estiagem, com base no arbítrio de um
anni pacto comprehensum est, explo- homem de bem, se haverá de pagar a
rata lege conductionis fides bona se- anuidade do arrendamento propor-
quenda est. cional à produção, observe-se a boa-fé
nos termos da legislação sobre arren-
damento.

3. PAPINIANUS libro I. Responso- 3. PAPINIANO, Respostas, Livro I. —


rum. — Curatores communis officii Curadores que exercem cargo comum,
divisa pecunia, quam omnibus in soli- entre os quais foi feita a distribuição de
dum publice dari placuit, periculo vice recursos públicos, que por lei lhes são
mutua non liberantur. Ulpianus: prior atribuídos solidariamente em sua tota-
tamen exemplo tutorum conveniendus lidade, não se isentam da mútua res-
est is, qui gessit. ponsabilidade. Ulpiano: à semelhança
de tutores, o primeiro a ser acionado é
o gestor.

§ 1. — Ex eodem libro: praedium pu- § 1. No mesmo livro: um procurador


blicum in quinque annos idonea cau- da cidade arrendou área rural públi-
tione non exacta curator reipublicae ca, sem exigir caução suficiente por

250
Digesto Livro L – Título VIII

locavit; ceteris annis colonus si reliqua um período de cinco anos; nos anos
traxerit, et de fructibus praedii merce- seguintes, se o colono ficasse inadim-
des quae servari non potuerint, suc- plente e se a produção do imóvel fosse
cessor, qui locavit, tenebitur. Idem in insuficiente para cobrir o débito, o su-
vectigalibus non ita pridem constitu- cessor do curador que a arrendou esta-
tum est, scilicet ut sui temporis singuli ria obrigado a quitar o saldo devedor.
periculum praestarent. Essa norma não existia antigamente
com relação a tributos, quando cada
qual respondia pelo período de sua
gestão.

§ 2. — In eum, qui administrationis § 2. Não convém seja poupado de


tempore creditoribus reipublicae nova- processo, após deixar o cargo, quem,
tione facta pecuniam cavit, post depo- no período de sua gestão, feita uma
situm officium actionem denegari non novação, caucionou com dinheiro pú-
oportet. Diversa causa est eius, qui sol- blico credores do município. O caso
vi constituit; similis etenim videtur ei, é diferente de quem prometeu pagar.
qui publice vendidit, aut locavit. Equivaleria à ação de quem vendeu ou
alocou bens públicos.

§ 3. — Filium pro patre curatore reipu- § 3. Não se deve obrigar um filho a


blicae creato cavere cogi non oportet; caucionar em favor do pai nomeado
nec mutat, quod in eum pater emanci- procurador do município, indepen-
patum, priusquam curator constituere- dentemente de o pai tê-lo emancipado
tur, partem bonorum suorum donatio- e beneficiado com a doação de parte de
nis causa contulit. seus bens antes da sua nomeação.

§ 4. — Pro magistratu fideiussor in- § 4. Acionado, um fiador de magis-


terrogatus pignora quoque specialiter trado deu também penhores especiais.
dedit; in eum casum pignora videntur Nesse caso, os penhores parecem ter
data, quo recte convenitur, videlicet sido dados acertadamente, isto é, para
postquam res ab eo servari non potue- o caso de o negócio não poder ser hon-
rit; pro quo intercessit. rado por aquele de quem foi fiador.

4. VALENS libro II. Fideicommisso- 4. VALENTE, Fideicomissos, Livro II.


rum. — Legatam municipio pecuniam — Não é lícito aplicar em outra coisa, a
in aliam rem, quam defunctus voluit, não ser com a autorização do impera-
convertere citra Principis auctoritatem dor, que não na finalidade do dinhei-
non licet; et ideo si unum opus fieri ro deixado por falecido doador a uma
iusserit, quod Falcidiae legis interventu municipalidade para ser investido em

251
Livro L – Título VIII Digesto

fieri non potest, permittitur summam, determinada obra. Ou, se tiver deter-
quae eo nomine debetur, in id, quod minado que seja investido numa só
maxime necessarium reipublicae vide- obra, o que, pela Lei Falcídia, não pode
atur, convertere; sive plures summae in ser feito, permite-se, por essa razão,
plura opera legantur, et legis Falcidiae que a soma seja aplicada em algo que
interventu id, quod relinquitur, om- pareça mais necessário à cidade. Ou, se
nium operum exstructioni non sufficit, há muitos legados para muitas obras e,
permittitur, in unum opus, quod civi- por força da Lei Falcídia, não são sufi-
tas velit, erogari. Sed municipio pecu- cientes para a realização de todas essas
niam legatam, ut ex reditu eius venatio, obras, permite-se sejam empregados
aut spectacula edantur, Senatus in eas numa só obra reclamada pela cidade.
causas erogari vetuit, et pecuniam eo O Senado, porém, proibiu a um muni-
legatam in id, quod maxime necessa- cípio gastar o dinheiro legado em pro-
rium municipibus videatur, conferre moções, bem como seus rendimentos
permittitur, ut in eo munificentia eius, em diversões ou espetáculos circenses,
qui legavit, inscriptione notetur. mas permite que o dinheiro legado seja
empregado no que parece prioritaria-
mente necessário aos munícipes, e que
se registre na obra a magnanimidade
de quem deixou o legado.

5. PAULUS libro I. Sententiarum. — 5. PAULUS, Sentenças, Livro I. — Os


Decuriones pretio viliori frumentum, decuriões não devem ser obrigados a
quod annona temporalis est, patriae vender à sua cidade trigo por preço in-
suae praestare non sunt cogendi. ferior ao de mercado da época.

§ 1. — Nisi ad opus novum pecunia § 1. Se o dinheiro não tiver sido lega-


specialiter legata sit, vetera ex hac refi- do especialmente para uma obra nova,
cienda sunt. obras antigas podem ser reformadas
com ele.

6. ULPIANUS libro I. ad Edictum 6. ULPIANO, Comentários ao Edito


Praetoris. — Magistratus reipublicae do Pretor, Livro I. — Os magistrados
non dolum solummodo, sed et latam de um município devem responder
negligentiam, et hoc amplius etiam di- não só por dolo, mas também por ne-
ligentiam debent. gligência em geral e, mais do que isso,
devem também exercer o cargo com
toda diligência.

252
Digesto Livro L – Título VIII

7. PAULUS libro I. ad Edictum Prae- 7. PAULO, Comentários ao Edito do


toris. — Si filiusfamilias volente patre Pretor, Livro I. — Se um filho de famí-
magistratum gesserit, Iulianus existi- lia, com a anuência do pai, tiver exerci-
mavit, in solidum patrem teneri in id, do a magistratura, segundo Juliano, o
quod eius nomine reipublicae abesset. pai será responsável pelo que vier a ser
devido à cidade pelo filho.

8. MODESTINUS libro VIII. Regu- 8. MODESTINO, Regras, Livro VIII.


larum. — Calculi erroris retractatio — A correção de erro de cálculo pode
etiam post decennii aut vicennii tem- ser feita mesmo após períodos de dez
pora admittetur. ou vinte anos.

§ 1. — Sed si gratiose expunctae dicen- § 1. Mas, se tiverem sido rasurados


tur, non retractabuntur. para favorecer alguém, não serão cor-
rigidos.

9. PAPIRIUS IUSTUS libro II. de Cons- 9. PAPÍRIO JUSTO, Das Constitui-


titutionibus. — Imperatores Antoninus ções, Livro II. — Os imperadores An-
et Verus rescripserunt, pecuniae, quae tonino e Vero decidiram, por rescrito,
apud curatores remansit, usuras exi- que se deveriam cobrar juros de recur-
gendas, eius vero, quae a redemtoribus sos que ficaram com curadores; mas de
operum exigi non potest, sortis dunta- recursos que não podem ser exigidos
xat periculum ad curatores pertinere. de empreiteiros de obras, os curadores
só respondem pelo capital.

§ 1. — Item rescripserunt, operum pe- § 1. Decidiram ainda, por rescrito, que


riculum etiam ad heredes curatorum os herdeiros de curadores são também
pertinere. responsáveis.

§ 2. — Item rescripserunt, agros reipu- § 2. Resolveram também, por rescrito,


blicae retrahere curatorem civitatis de- que os procuradores municipais devem
bere, licet a bona fide emtoribus pos- recuperar áreas rurais do município,
sideantur, quum possint ad auctores mesmo que possuídas por comprado-
suos recurrere. res de boa-fé, uma vez que podem re-
correr contra os vendedores.

§ 3. — Idem eodem libro: Imperato- § 3. Ainda no mesmo livro: os impe-


res Antoninus et Verus rescripserunt, radores Antonino e Vero, em rescrito,
operum exactionem sine cautione non recomendaram que não se autorize
oportere committi. execução de obras sem caução.

253
Livro L – Título VIII Digesto

§ 4. — Item rescripserunt, curatores, § 4. Além disso, que os curadores que


si negligenter in distrahendis bonis se conduzem negligentemente na alie-
se gesserint, in simplum teneri, si per nação de bens sejam responsabilizados
fraudem, in duplum, nec ad heredes somente pelo valor devido; se fraudu-
eorum poenam descendere. lentamente, em dobro, mas a pena não
se estende a seus herdeiros.

§ 5. — Item rescripserunt, pecuniam § 5. Preceituaram ainda, por rescrito,


ad annonam destinatam distractis re- que o curador exija os recursos desti-
bus curatorem exigere debere. nados ao abastecimento resultantes de
operações de alienação.

§ 6. — Item rescripserunt, sitonas in- § 6. Mais ainda, em rescrito, determi-


demnes esse oportere, qui non segniter naram que intendentes de abasteci-
officio suo functi sunt, secundum lite- mento que, sem negligência, exercem
ras Hadriani. sua função sejam, conforme carta do
imperador Adriano, poupados de pre-
juízos.

§ 7. — Item rescripserunt, a curatore § 7. Do mesmo modo, preceituaram,


kalendarii cautionem exigi non debere, por rescrito, que não se exigisse caução
quum a Praeside ex inquisitione eliga- de contador municipal, desde que es-
tur. colhido, por seleção, pelo governador.

§ 8. — Item rescripserunt, curatorem § 8. Além disso, por rescrito, decidi-


etiam nomine collegae teneri, si inter- ram que um curador responde tam-
venire et prohibere eum potuit. bém por um colega se podia intervir e
impedi-lo.

§ 9. — Item rescripserunt, nominum, § 9. Resolveram, por rescrito, que era


quae deteriora facta sunt tempore da responsabilidade do curador a que-
curatoris, periculum ad ipsum pertine- da da receita durante o período de seu
re; quia vero, antequam curator fieret, mandato, mas, por justiça, não lhe de-
idonea non erant, aequum videri, peri- viam ser imputadas receitas não reali-
culum ad eum non pertinere. zadas antes de assumir a função.

§ 10. — Idem libro eodem: Imperato- § 10. Ainda no mesmo livro: os impe-
res Antoninus et Verus rescripserunt, radores Antonino e Vero determina-
eum, qui pecuniam publicam, magis- ram, em rescrito, que aquele que, no
tratus sui tempore, et post non pauco período de sua magistratura e não por

254
Digesto Livro L – Títulos VIII e IX

tempore detinuerat, usuras etiam pra- pouco tempo depois, reteve em seu po-
estare debere, nisi si quid allegare pos- der dinheiro público é obrigado a pa-
sit, qua ex causa tardius intulisset. gar juros, a menos que possa justificar
o motivo da devolução tardia.

TITULUS IX TÍTULO IX
DE DECRETIS AB ORDINE DOS DECRETOS E DA
FACIENDIS COMPETÊNCIA DOS DECURIÕES

1. ULPIANUS libro III. Opinionum. 1. ULPIANO, Opiniões, Livro III. —


— Medicorum intra numerum praefi- Não é da competência de governador
nitum constituendorum arbitrium non de província, mas da classe dos decu-
Praesidi provinciae commissum est, riões e de cidadãos de uma cidade, pro-
sed ordini et possessoribus cuiusque ceder à seleção de médicos, para que,
civitatis, ut certi de probitate morum, certos de sua probidade de costumes
et peritia artis eligant ipsi, quibus se e de sua perícia, escolham aqueles a
liberosque suos in aegritudine corpo- quem confiarão, nas enfermidades, a si
rum committant. próprios e a seus filhos.

2. MARCIANUS libro I. Publicorum. 2. MARCIANO, Das Coisas Públicas,


— Illa decreta, quae non legitimo nu- Livro I. — Não têm validade decretos
mero decurionum coacto facta sunt, baixados sem o número legal de decu-
non valent. riões.

3. ULPIANUS libro III. de Appellatio- 3. ULPIANO, Das Apelações, Livro


nibus. — Lege autem municipali cave- III. — Preceitua a lei municipal que o
tur, ut ordo non aliter habeatur, quam colegiado dos decuriões não se reú-
duabus partibus adhibitis. na com menos de dois terços de seus
membros.

4. IDEM libro singulare de officio 4. IDEM, Livro Único sobre a Função


Curatoris reipublicae. — Ambitiosa do Procurador Municipal. — Decre-
decreta decurionum rescindi debent, tos de decuriões que pecam por libe-
sive aliquem debitorem dimiserint, ralidade, quer perdoando dívidas, quer
sive largiti sunt. prodigalizando benefícios, devem ser
revogados.

§ 1. — Proinde, ut solent, sive decreve- § 1. Por conseguinte, não terá validade


rint, de publico alicui ius, vel praedia, decreto dessa natureza, que, como sói

255
Livro L – Título IX Digesto

vel aedes, vel certam quantitatem pra- acontecer, doe a alguém do patrimônio
estari, nihil valebit huiusmodi decre- público imóvel rural, edifício urbano
tum. ou alguma quantia.

§ 2. — Sed etsi salarium alicui decu- § 2. Todavia, se os decuriões votarem


riones decreverint, decretum id non- salário em benefício de alguém, nem
nunquam ullius erit momenti, ut puta sempre decreto dessa espécie será in-
si ob liberalem artem fuerit constitu- válido, por exemplo, quando for bai-
tum, vel ob medicinam; ob has enim xado como prêmio à arte liberal ou à
causas licet constitui salaria. medicina, pois, nesses casos, é lícito a
instituição de recompensa.

5. CALLISTRATUS libro II. de Cog- 5. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,


nitionibus. — Quod semel ordo de- Livro II. — O imperador Adriano, em
crevit, non oportere id rescindi, Divus rescrito aos nicomedenses80, determi-
Hadrianus Nicomedensibus rescripsit, nou que, uma vez baixado pela ordem
nisi ex causa, id est, si ad publicam uti- dos decuriões, não convém se anular
litatem respiciat rescissio prioris decre- um decreto, a menos que, para isso,
ti. haja motivo, isto é, se sua revogação
tem como objetivo a utilidade pública.

6. SCAEVOLA libro I. Digestorum. 6. CÉVOLA, Digesto, Livro I. — Pre-


— Municipii lege ita cautum est: E v a,n ceitua uma lei municipal: “Quem fizer
tij e[xw tou/ sunedri,ou dika,shtai tou/te julgamento fora do conselho do conse-
sunedri,ou eivrce,sqw, kai, prosapotinnuút, w lho seja afastado e pague por isso mil
dra,gmaj cili,aj [Si quis extra syne- dracmas”. Indagou-se se sofrerá a pena
drium iudicaverit, synedrio moveatur, também quem infringiu a lei por ig-
et luat ad haec dragmas mille]; quae- norância. Respondeu-se que as penas
situm est, an poenam sustinere debeat, previstas referiam-se apenas aos que
qui ignorans adversus decretum fecit. conscientemente praticassem infrações
Respondit, huiusmodi poenas adversus dessa espécie.
scientes paratas esse.

80
Habitantes de Nicomédia, na Bitínia, hoje ter-
ritório da Turquia, na margem do mar Negro.

256
Digesto Livro L – Título X

TITULUS X TÍTULO X
DE OPERIBUS PUBLICIS DAS OBRAS PÚBLICAS

1. ULPIANUS libro II. Opinionum. 1. ULPIANO, Opiniões, Livro II. —


— Curator operum creatus, praescrip- Quem é nomeado para gerir uma obra
tione motus ab excusatione perferenda, e, com vista à isenção da função, por
sicuti cessationis nomine, in qua quo- exemplo, a pretexto de repouso, retar-
ad vivit moratus est, heredes suos obli- da a realização da obra enquanto vive,
gatos reliquit; ita temporis, quod post morto, deixa a seus herdeiros os encar-
mortem eius cessit, nullo onere eos gos que lhe competiam exclusivamente
obstrinxit. até o dia de sua morte.

§ 1. — Curam operis aquaeductus in § 1. Alguém já encarregado de uma


alio iam munere constitutus postea obra assumiu a responsabilidade de
susceperat; praepostere visus est petere cuidar da construção de um aqueduto.
exonerari priore munere, utrisque iam Contrariando a ordem das coisas, pe-
implicitus, quando, si alterum tantum diu dispensa do primeiro cargo, já no
sustinere eum oportuisset, ante proba- exercício dos dois. Ora, se lhe convinha
bilius impetrasset propter prius munus o ônus de um só dos cargos, teria sido
a sequenti excusationem. mais provável que obtivesse dispensa
do segundo, tendo em vista seu com-
prometimento com o primeiro.

2. IDEM libro III. Opinionum. — Qui 2. IDEM, Opiniões, Livro III. — Quem,
liberalitate, non necessitate debiti re- por liberalidade, e não por necessidade
ditus suos interim ad opera finienda de cobertura de débito, investiu sua ren-
concessit, munificentiae suae fructum da na finalização de uma obra não está
de inscriptione nominis sui operibus, impedido, por inveja, de colher o fruto
si qua fecerit, capere per invidiam non de sua munificência com a inscrição de
prohibetur. seu nome no que tiver feito.

§ 1. — Curatores operum cum rede- § 1. Os superintendentes de obras têm


mtoribus negotium habent, respublica relações contratuais com os empreitei-
autem cum his, quos efficiendo operi ros, enquanto o município as tem com
praestituit; quatenus ergo, et quis, et aqueles a quem confiou sua execução.
cui obstrictus est, aestimatio Praesidis O governador da província avaliará
provinciae est. quem está obrigando, a que está obri-
gado e até que ponto.

257
Livro L – Título X Digesto

§ 2. — Ne eius nomine, cuius libera- § 2. O governador de província fará


litate opus exstructum est, eraso, alio- uso de sua autoridade para que não
rum nomina inscribantur, et propterea seja apagado o nome de quem por cuja
revocentur similes civium in patrias liberalidade a obra foi construída, para
liberalitates, Praeses provinciae aucto- se inscreverem outros nomes e assim
ritatem suam interponat. levar cidadãos a se absterem de seme-
lhantes liberalidades para com sua ter-
ra natal.

3. MACER libro II. de officio Praesi- 3. MACER, Da Função do Governa-


dis. — Opus novum privato etiam sine dor, Livro II. — É lícito a um particu-
Principis auctoritate facere licet, pra- lar fazer uma obra nova, mesmo sem
eterquam si ad aemulationem alterius a autorização do imperador, exceto se
civitatis pertineat, vel materiam sedi- tiver como objetivo promover rivalida-
tionis praebeat, vel circum, theatrum, de com outra cidade ou incentivar se-
vel amphitheatrum sit. dição, ou se a obra for um circo, teatro
ou anfiteatro.

§ 1. — Publico vero sumtu opus no- § 1. Constituições preceituam que não


vum sine Principis auctoritate fieri non é lícito, porém, construir obra nova
licere, Constitutionibus declaratur. com recurso público, sem o consenti-
mento do imperador.

§ 2. — Inscribi autem nomen operi pu- § 2. Não é permitido, porém, inscre-


blico alterius, quam Principis, aut eius, ver-se outro nome que não o do im-
cuius pecunia id opus factum sit, non perador ou daquele por cujo recurso a
licet; obra foi construída.

4. MODESTINUS libro XI. Pandecta- 4. MODESTINO, Pandectas, Livro XI.


rum. — nec Praesidis quidem nomen — Tampouco será permitido inscre-
licebit superscribere. ver-se o nome de governador.

5. ULPIANUS libro singulari de offi- 5. ULPIANO, Da Função do Curador


cio Curatoris reipublicae — Si le- do Município, Livro Único. — Quan-
gatum vel fideicommissum fuerit ad do alguém deixa legado ou fideicomis-
opus relictum, usurae, quae, et quando so para determinada obra, um rescrito
incipiant deberi, Rescripto Divii Pii ita do imperador Pio estabelece, nestes
continetur: “Si quidem dies non sit ab termos, os juros a serem cobrados e a
his, qui statuas, vel imagines ponendas partir de quando: “Se a data em que es-
legaverunt, praefinitus, a Praeside pro- tátuas ou imagens devem ser erigidas

258
Digesto Livro L – Título X

vinciae tempus statuendum est; et nisi não tiver sido definida pelo testador,
posuerint heredes, usuras leviores intra competirá ao governador da província
sex menses, si minus, semisses usuras marcá-la. Se os herdeiros não a cum-
reipublicae pendant. Si vero dies datus prirem, pagarão à municipalidade ju-
est, pecuniam deponant intra diem: si ros mais leves nos seis meses seguintes;
aut non invenire se statuas dixerint, aut se ainda não o fizerem, juros de seis
loco controversiam fecerint, semisses por cento. Mas se a data foi marcada,
protinus pendant”. o dinheiro deve ser depositado naque-
le mesmo dia; ou, se disserem que não
encontraram estátuas ou criarem con-
trovérsia sobre o lugar em que devem
ser erigidas, então pagarão continua-
mente juros de seis por cento.

§ 1. — Fines publicos a privatis detine- § 1. Não convém a particulares deter a


ri non oportet. Curabit igitur Praeses posse de locais públicos. O governador
provinciae, si qui publici sunt, a priva- da província providenciará, portanto,
tis separare, et publicos potius reditus que locais públicos sejam distinguidos
augere, si qua loca publica vel aedificia de locais particulares e que os públicos
in usus privatorum invenerit, aestima- tenham sua renda aumentada caso se
re, utrumne vindicanda in publicum encontrem esses locais e edifícios pú-
sint, an vectigal iis satius sit imponi; et blicos em posse de particulares. Deve
id, quod utilius esse reipublicae intelle- ainda avaliar se convém revertê-los ao
xerit, sequi. uso público ou taxá-los mais conve-
nientemente; enfim, cuidar de fazer o
que melhor entender como mais útil à
municipalidade.

6. MODESTINUS libro XI. Pandec- 6. MODESTINO, Pandectas, Livro XI.


tarum. — De operibus, quae in mu- — O imperador Marco, em rescrito,
ris, vel portis, vel rebus publicis fiunt, determinou que um governador, quan-
aut si muri exstruantur, Divus Marcus do consultado sobre obras discutíveis
rescripsit, Praesidem aditum consulere em muralhas, em suas portas ou em
Principem debere. outras obras públicas ou se muralhas
devem ser construídas, deve ouvir o
imperador.

7. CALLISTRATUS libro II. Cogni- 7. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,


tionibus. — Pecuniam, quae in opera Livro II. — Preceituou, por rescrito, o
nova legata est, potius in tutelam eo- imperador Pio que recursos deixados

259
Livro L – Títulos X e XI Digesto

rum operum, quae sunt, converten- em legados para serem investidos em


dam, quam ad inchoandum opus ero- novas obras devem ser convertidos
gandam, Divus Pius rescripsit, scilicet preferencialmente na conservação de
si satis operum civitas habeat, et non obras que já existem, em vez de empre-
facile ad reficienda ea pecunia invenia- gados em construção de novas, se uma
tur. cidade já tiver obras suficientes e não
for fácil dispor de recursos para restau-
rá-las.

§ 1. — Si quis opus ab alio factum ador- § 1. O Senado não impede que alguém
nare marmoribus, vel alio modo ex vo- prometa revestir de mármore ou de ou-
luntate populi facturum se pollicitus tro material, a gosto do povo, obra feita
sit, nominis proprii titulo scribendo, por outro, nela inscrevendo seu nome,
manentibus priorum titulis, qui ea mantendo, todavia, as inscrições ante-
opera fecissent, id fieri debere senatus riores de quem a fez. Admite também
censuit; quodsi privati in opera, quae que, se um particular investir em obra
publica pecunia fiant, aliquam de suo que se constrói com recurso público,
adiecerint summam, ita titulo inscrip- pode fazer uso do direito de gravar
tionis uti eos debere, iisdem mandatis nela seu nome, desde que registre tam-
cavetur, ut, quantam summam contu- bém o valor de sua contribuição.
lerint in id opus, scribant.

TITULUS XI TÍTULO XI
DE NUNDINIS DAS FEIRAS81

1. MODESTINUS libro III. Regula- 1. MODESTINO, Regra, Livro III. —


rum. — Nundinis impetratis a Princi- Quem impetrou e obteve do impera-
pe, non utendo, qui meruit, decennii dor o direito de feira perde-o se dele
tempore usum amittit. não fizer uso por um decênio.

2. CALLISTRATUS libro III. de Cog- 2. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,


nitionibus. — Si quis ipsos cultores Livro III. — Se alguém ordenar que os
agrorum, vel piscatores deferre utensi- próprios produtores rurais e pescado-
lia in civitatem iusserit, ut ipsi ea dis- res tragam seus produtos para vender
trahant, destituetur annonae praebi- na cidade, prejudicará o fornecimento
tio, quum avocentur ab opere rustici, de víveres ao retirar os lavradores de
qui confestim ubi detulerint mercem,
tradere eam, et ad opera sua reverti
debeant. Denique summae pruden-
81
Glossário, feira (nundina).

260
Digesto Livro L – Títulos XI e XII

tiae et auctoritatis apud Graecos Pla- seu trabalho, os quais, tão logo levem
to, quum institueret, quemadmodum e entreguem sua mercadoria, devem
civitas bene et beate habitari possit, voltar ao trabalho. Platão, homem de
in primis istos negotiatores neces- grande sabedoria e autoridade entre
sarios duxit; sic enim libro secundo os gregos, ao ensinar como uma cida-
Politei,aj [Civilis conversationis] ait: de pode ser bem e convenientemente
Dei/ ga.r pleio,nwn a;ra gewrgw/n te habitada, referiu-se primeiramente aos
kai. tw/n a;llwn dhmiourgw/n kai. tw/n negociantes que considera necessários.
a;llwn diako,nwn, tw/nge eivsaxo,ntwn Assim se expressa no segundo livro de
kai. evxaxo,ntwn e[kasta ou[toi de. eivsi.n República: “Uma cidade precisa, certa-
e;mporoi. Komi,saj de. o` gewrgo.j eivj mente, de muitos lavradores e de ou-
th.n avgora,n ti w=n poiei/ h[ tij a;lloj tros trabalhadores, como também de
tw/n dhmiourgw/n mh. eivj to.n auvto.n fornecedores de produtos importados
cro,non h[kh toi/j deome,noij ta. par v au- e exportados. Esses são os chamados
vtou/ avntalla,xajqai, avrgh,sei th/j auvtou/ negociantes. O agricultor ou outro tra-
dhmiourgi,aj kaqh,menoj evn a`gora/| balhador que traz seu produto para o
ou`damw/j h- d vo[j, avll v eivsi.n oi` tou/ mercado, não encontrando de imedia-
to ovrw/ntej evautou.j evpi th.n diakoni,an to quem precisa de seu produto ou com
ta,ttousi tau,thn. [Indiget enim civitas quem permutá-lo, acaba ficando ocio-
pluribus utique rusticis, et aliis opifi- so na praça. Que isso, de modo algum,
cibus, et aliis ministrantibus invehen- aconteça, mas há quem, a exemplo do
tibus et evehentibus singula; hi autem que vê, faça disso uma profissão”.
sunt negotiatores. Afferens autem
agricola ad forum aliquid eorum, quae
facit, vel aliquis alius opificum, non in
idem tempus veniet cum indigentibus,
sua permutare, vacabit suo opificio se-
dens in foro; nequaquam, sed sunt, qui
hoc videntes se ipsos in hoc statuant
ministerium.]

TITULUS XII TÍTULO XII


DE POLLICITATIONIBUS DOS COMPROMISSOS

1. ULPIANUS libro Singulari de offi- 1. ULPIANO, Da Função do Cura-


cio Curatoris reipublicae. — Si polli- dor do Município, Livro Único. — Se
citus quis fuerit reipublicae opus se alguém se compromete com a muni-
facturum, vel pecuniam daturum, in cipalidade a realizar uma obra ou a
usuras non conveniatur; sed si moram contribuir com dinheiro, não lhe se-

261
Livro L – Títulos XI e XII Digesto

coeperit facere, usurae accedunt, ut rão cobrados juros. Mas, se demorar


Imperator noster cum Divo patre suo a cumprir sua palavra, estará sujeito a
rescripsit. juros, assim entenderam nosso impe-
rador e seu pai.

§ 1. — Non semper autem obligari § 1. Mas é bom saber que nem sempre
eum, qui pollicitus est, sciendum est; se obriga o promitente. Na verdade, se
si quidem ob honorem promiserit tiver prometido por causa da honra
decretum sibi, vel decernendum, vel que lhe foi ou que lhe deve ser conferi-
ob aliam iustam causam, tenebitur ex da, ou por outra causa justa, está preso
pollicitatione; sin vero sine causa pro- ao compromisso; mas, se tiver prome-
miserit, non erit obligatus; et ita multis tido sem motivo, não estará obrigado.
Constitutionibus et veteribus, et novis Assim rezam muitas antigas e recentes
continetur. decisões imperiais.

§ 2. — Item si sine causa promiserit, § 2. Mesmo se, sem motivo, tiver pro-
coeperit tamen facere, obligatus est, metido fazer a obra, e a iniciou, estará
qui coepit. obrigado a terminá-la.

§ 3. — Coepisse sic accipimus, si fun- § 3. Entende-se como obra iniciada, se


damenta iecit, vel locum purgavit. Sed foram lançados seus fundamentos, se a
et si locus illi petenti destinatus est, área tiver sido limpa. Mais do que ini-
magis est, ut coepisse videatur. Item si ciada, considera-se a obra cuja área já
apparatum, sive impensam in publico foi cedida a quem a requereu. Do mes-
posuit. mo modo, se tiver posto publicamente
ferramentas e materiais no local.

§ 4. — Sed si non ipse coepit, sed, § 4. Se o próprio promitente não co-


quum certam pecuniam promisisset meçou a obra, mas prometeu ao mu-
ad opus reipublicae, contemplatione nicípio contribuir com recurso para
pecuniae coepit opus facere, tenebitur sua realização, e o município, confiante
quasi coepto opere. nessa promessa, deu início à obra, o
promitente se obriga como se ele pró-
prio a tivesse começado.

§ 5. — Denique quum columnas qui- § 5. Finalmente, quando alguém pro-


dam promisisset, Imperator noster meteu fazer colunas, nosso imperador
cum Divo patre suo ita rescripsit: “Qui e seu pai assim se manifestaram por
non ex causa pecuniam reipublicae rescrito: “Aqueles que, sem motivo,
pollicentur, liberalitatem perficere non prometem doar recursos à municipa-

262
Digesto Livro L – Título XII

coguntur. Sed si columnas Citiensibus lidade não são obrigados a concretizar


promisisti, et opus ea ratione sumtibus sua promessa. Mas se prometeste colu-
civitatis vel privatorum inchoatum est, nas aos cicienses82, e as obras, tendo em
deseri, quod gestum est, non oportet”. vista a promessa, foram iniciadas à cus-
ta do erário público ou de particulares,
não convém desfazer o que foi feito”.

§ 6. — Si quis opus, quod perfecit, as- § 6. Se uma pessoa entrega uma obra
signavit, deinde id fortuito casu aliquid por ela realizada, e essa obra, por mo-
passum sit, periculum ad eum, qui fe- tivo de caso fortuito, sofre algum dano,
cit, non pertinere Imperator rescripsit. esse dano não será da responsabilidade
dessa pessoa, decidiu o imperador em
rescrito.

2. IDEM libro I. Disputationum. — Si 2. IDEM, Disputas, Livro I. — Se al-


quis rem aliquam voverit, voto obliga- guém se comprometeu, por voto, com
tur; quae res personam voventis, non alguma coisa, está obrigado pelo voto.
rem, quae vovetur, obligat; res enim, Isso obriga a pessoa que fez o voto, e
quae vovetur, soluta quidem liberat não a coisa que é prometida por voto;
vota, ipsa vero sacra non efficitur. pois a coisa que é prometida por voto,
uma vez realizada, libera o voto, pois
ela própria não se torna sagrada.

§ 1. — Voto autem patresfamiliarum § 1. Pelo voto de pais de famílias, obri-


obligantur, puberes, sui iuris; filius gam-se os púberes por direito próprio;
enim familias, vel servus sine patris do- o filho de família ou o escravo, sem a
minive auctoritate voto non obligantur. autorização do pai ou do senhor, não
se obrigam por voto.

§ 2. — Si decimam quis bonorum vo- § 2. Se alguém destinou, por voto, a


vit, decima non prius esse in bonis décima parte de seus bens, essa parte
desinit, quam fuerit separata; et si for- não deixa de compor seus bens antes
te, qui decimam vovit, decesserit ante de ser separada. Mas, se morrer quem
sepositionem, heres ipsius hereditario fez o voto antes de proceder à separa-
nomine decimae obstrictus est; voti ção, o herdeiro dele fica obrigado à dé-
enim obligationem ad heredem transi- cima junto com a herança, pois é certo
re constat.

82
Habitantes de Cício, na ilha de Chipre.

263
Livro L – Título XII Digesto

que a obrigação do voto passa ao her-


deiro.

3. IDEM libro IV. Disputationum. — 3. IDEM, Disputas, Livro IV. — Pac-


Pactum est duorum consensus atque to é acordo e consenso de dois, mas o
conventio; pollicitatio vero offeren- compromisso é promessa exclusiva de
tis solius promissum; et ideo illud est quem a faz. Por isso, está estabelecido
constitutum, ut, si ob honorem polli- que, se um compromisso tiver sido
citatio fuerit facta, quasi debitum exi- assumido por causa de algum cargo,
gatur; sed et coeptum opus, licet non é exigível como se dívida fosse. Tam-
ob honorem promissum, perficere pro- bém uma obra iniciada, mesmo se não
missor eo cogetur, et est constitutum. prometida por causa de cargo, obriga
o promitente a terminá-la. Assim está
estabelecido.

§ 1. — Si quis, quam ex pollicitatione § 1. Se alguém, depois de entregar


tradiderat rem municipibus, vindi- uma obra ao município, por força de
care velit, repellendus est a petitione; um compromisso, quiser reavê-la, deve
aequissimum est enim, huiusmodi ter rejeitada sua pretensão, pois é mais
voluntates in civitates collatas poeni- do que justo que compromissos dessa
tentia non revocari. Sed et si desierint espécie com as municipalidades não
municipes possidere, dicendum erit, sejam revogados por arrependimento.
actionem iis concedendam. Além disso, se os munícipes deixarem
de ter posse da obra, cabe-lhes o direito
de mover uma ação.

4. MARCIANUS libro III. Institutio- 4. MARCIANO, Instituições, Livro


num. — Propter incendium, vel terrae III. — Obriga-se quem se comprome-
motum, vel aliquam ruinam, quae rei- te a fazer algo em razão de incêndio,
publicae contingit, si quis promiserit, terremoto ou alguma calamidade que
tenetur. vitime um município.

5. ULPIANUS libro I. Responsorum 5. ULPIAN0, Respostas a Caridemo,


Charidemo respondit. — Ex episto- Livro I. — O fato de alguém, ausente,
la, quam muneris edendi gratia absens enviar uma carta prometendo dar um
quis emisit, compelli eum ad editio- presente não o obriga a fazê-lo.
nem non posse.

6. IDEM libro V. de officio Proconsu- 6. IDEM, Da Função do Procônsul,


lis. — Toties locum habet deminutio Livro XVII. — Admite-se a redução de

264
Digesto Livro L – Título XII

pollicitationis in persona heredis, quo- uma promessa com relação à pessoa


ties non est pollicitatio ob honorem de um herdeiro, desde que não tenha
facta; ceterum si ob honorem facta sit, sido feita em razão de cargo; mas, se
aeris alieni loco habetur, et in heredum feita em razão de cargo, é considerada
persona non minuitur. como dívida e, por isso, não é reduzida
na pessoa dos herdeiros.

§ 1. — Si quis pecuniam ob honorem § 1. Segundo decidiu nosso imperador


promiserit, coeperitque solvere, eum Antonino, por rescrito, quem tiver pro-
debere quasi coepto opere, Imperator metido dinheiro em razão de cargo e
noster Antoninus rescripsit. começou a desembolsá-lo está obrigado
como se tivesse começado uma obra.

§ 2. — Non tantum masculos, sed § 2. Convém saber que, conforme


etiam feminas, si quid ob honores consta de rescrito de nosso imperador
pollicitatae sunt, debere implere scien- e seu pai, não só homens mas também
dum est; et ita Rescripto Imperatoris mulheres se obrigam ao prometerem
nostri et Divi patris eius continetur. algo em razão de cargos.

§ 3. — Si cui respublica necessitatem § 3. Está também em rescrito de nosso


imposuerit statuarum Principi ponen- imperador e de seu pai que, se a muni-
darum, qui non promisit, non esse ei cipalidade impuser a obrigação de eri-
necesse obtemperare, Rescriptis Impe- gir estátuas em homenagem ao impe-
ratoris nostri et Divi patris eius conti- rador a quem não o tiver prometido, o
netur. sujeito da imposição não está obrigado
a obedecer.

7. PAULUS libro I. de officio Procon- 7. PAULO, Da Função do Procônsul,


sulis. — Ob casum, quem civitas passa Livro I. — Conforme os termos de res-
est, si quis promiserit se quid facturum, crito do imperador Severo a Dião, se
etsi non inchoaverit, omnimodo tene- alguém tiver prometido fazer alguma
tur, ut Divus Severus Dioni rescripsit. coisa para o município em caso de si-
nistro, estará obrigado a fazê-la, mes-
mo se não a tiver começado.

8. IDEM libro III. de officio Consu- 8. IDEM, Da Função do Cônsul, Livro


lis. — De pollicitationibus in civitatem III. — Sobre a obrigação de juízes de
factis iudicum cognitionem esse, Divi tomar conhecimento de compromis-
Fratres Flavio Celso in haec verba res- sos assumidos a favor do município,
cripserunt: “Probe faciet Statius Rufi-

265
Livro L – Título XII Digesto

nus, si opus proscenii, quod se Gabinis os imperadores irmãos83, em rescrito


exstructurum promisit, quod tandem a Flávio Celso, assim se expressaram:
aggressus fuerat, perficiat; nam etsi “Procederá com probidade Estácio Ru-
adversa fortuna usus in triennio a fino se acabar de construir o teatro que
praefecto urbis relegatus esset, tamen prometera aos gabinos84 se já o havia
gratiam muneris, quod sponte obtulit, começado, pois, embora se justifique
minuere non debet, quum et absens pela sorte adversa ter sido desterrado
per amicum perficere opus istud pos- por três anos pelo prefeito da cidade,
sit; quodsi detrectat, actores constituti, não deve diminuir o valor da doação
qui legitime pro civitate agere possint, que espontaneamente fizera, uma vez
nomine publico adire adversus eum iu- que, nesmo ausente, pode dar pros-
dices poterunt; qui quum primum po- seguimento à obra por meio de um
tuerint, priusquam in exilium proficis- amigo; mas, se se recusa, aqueles que
catur, cognoscent, et si opus perfici ab legalmente representam os interesses
eo debere constituerint, obedire eum do município poderão mover ação ju-
reipublicae ob hanc causam iubebunt, dicial contra ele; os magistrados a rece-
aut prohibebunt distrahi fundum, berão o mais rápido possível antes que
quem in territorio Gabinorum habet”. parta para o exílio e, se reconhecerem
que a obra deve ser terminada por ele,
mandá-lo-ão obedecer à municipali-
dade ou decretarão a indisponibilidade
da propriedade que ele possui no terri-
tório dos gabinos”.

9. MODESTINUS libro IV. Differen- 9. MODESTINO, Divergências, Livro


tiarum. — Ex pollicitatione, quam quis IV. — Os imperadores Severo e Anto-
ob honorem apud rempublicam fecit, nino determinaram em rescrito que,
ipsum quidem omnimodo in solidum se alguém, em razão de cargo, fizer
teneri, heredem vero eius, ob honorem uma promessa à municipalidade, es-
quidem facta promissione in solidum, tará obrigado a cumpri-la em sua to-
ob id vero, quod opus promissum co- talidade. Seu herdeiro, tendo em vista
eptum est, si bona liberalitati solvendo a promessa ter sido feita por motivo
non fuerint, extraneum heredem in de cargo, obriga-se também à totali-
quintam partem patrimonii defuncti, dade do prometido; mas se, uma vez
liberos in decimam teneri, Divi Seve- iniciada a obra, os bens não forem su-
rus et Antoninus rescripserunt; sed et
ipsum donatorem pauperem factum,
ex promissione operis coepti quintam 83
Glossário, Dois Irmãos.
partem patrimonii sui debere, Divus 84
Habitantes da antiga cidade de Gábios, dos
Pius constituit. Volscos, povo latino, tomada por Tarquínio,
o Soberbo, último rei de Roma (500 a.C.).

266
Digesto Livro L – Título XII

ficientes para concluí-la, um herdeiro


estranho obriga-se com a quinta parte
dos bens do falecido, e os filhos, com
a décima. Mas, determinou, por sua
vez, o imperador Pio que, se o doador
se empobreceu com a obra já iniciada,
fica comprometida a quinta parte de
seu patrimônio.

10. IDEM libro I. Responsorum. 10. IDEM, Respostas, Livro I. —


— Septicia certamen patriae suae Septícia, ao prometer realizar por sua
pollicendo sub hac conditione polli- conta uma competição atlética em sua
cita est, uti sors apud eam remaneat, cidade, o fez expressamente, sob a con-
et ipsa usuras semissales ad praemia dição de que o principal ficaria em seu
certantium resolvat, in haec verba: poder e ela própria pagaria os prêmios
Filotimou/mai kai. kaqierw/ avgw/na com juros de seis por cento: “Por mi-
tetraethriko.n vapo. muria,doin tri,wn, nha liberalidade crio jogos públicos
to. tou/ kefalai,ou avuvth. kate,cousa quadrienais com trinta mil de capital,
avrgu,rion, kai. a;sfalizome,nh para. toi,j que mantenho em meu poder e, me-
dekaprw,toij avxiocre,wj evpi. tw/| telei/n diante caução aos decaprotos,85 prome-
me to.n evx e;qouj triw/n muria,dwn to,kon, to pagar os juros do capital, conforme
avgwnoqe,tountoj kai. prokaqezomi,nou o costume, ao agonóteta86, técnico dos
tou/ avnoro,j mou, evpau/qij de. tw/n evx ev- jogos, e a meu marido, que os presidi-
mou/ gennh qhsome,nwn te,knwn cwrh,sei rá, e, no lugar dele, aos filhos que de
de. o` to,koj ei`j ta. a[qla tw/n qumelikw/n, mim nascerem. Esses juros serão uti-
kaqw.j avn evf ve,ka,sto avqlh,matoj h` lizados para pagar os músicos da ma-
boulh. ovri,sh. [Honoris gratia constituo neira que, em cada certame, o Senado
agonem quadriennalem ex triginita determinar”. Pergunta-se: os filhos de
millibus sortis, ipsa penes me retinens Septícia podem ser prejudicados se
pecuniam, et cavens apud decempri- não presidirem aos jogos, conforme os
mos sufficienter, solvere me eas, quae termos do compromisso? Modestino
ex consuetudine sunt, triginta millium responde dizendo que, caso seja legal o
usuras, agonotheta existente et praesi- lançamento dos jogos, a forma dada à
dente viro meo, insuper etiam, qui ex promessa dever ser mantida.
me generabuntur filii; procedent autem
hae usurae ad praemia thymelicorum,
quemadmodum in unoquoque certa-
mine senatus determinabit”]: quaero,
an possunt iniuriam pati filii Septiciae
quominus ipsi praesiderent certami-
85
Ver nota 49 ao § 10 do artigo 18 do Tít. IV.
86
Ver nota 56 ao § 17 do artigo 18 do Tít. IV.

267
Livro L – Título XII Digesto

ni, secundum verba conditionemque


pollicitationis? Herennius Modestinus
respondit, quo casu certaminis editio
licita est, formam pollicitationi datam
servandam esse.

11. IDEM libro IX. Pandectarum. — 11. IDEM, Pandectas, Livro IX. — Se,
Si quis ob honorem vel sacerdotium em razão de cargo ou de sacerdócio,
pecuniam promiserit, et antequam ho- alguém tiver prometido dar dinheiro
norem vel magistratum ineat, decedet, e morre antes de assumir o cargo ou a
non oportere heredes eius conveniri magistratura, a seus herdeiros não deve
in pecuniam, quam is ob honorem vel ser cobrada a importância que havia
magistratum promiserat, principalibus prometido em razão do cargo ou da
Constitutionibus cavetur, nisi forte ab magistratura, a menos que a obra tenha
eo, vel ab ipsa republica eo vivo opus sido por ele iniciada ou pela municipa-
fuerit inchoatum. lidade enquanto ele ainda vivia. Assim
rezam constituições imperiais.

12. IDEM libro XI. Pandectarum. 12. IDEM, Pandectas, Livro XI. —
— In privatis operibus invitis his, qui Conforme rescrito do imperador Seve-
fecerunt, statuas aliis ponere non pos- ro, em se tratando de obras particula-
sumus, ut Rescripto Divi Severi conti- res, não podemos ali erigir estátuas a
netur. outros contra a vontade de quem as fez.

§ 1. — Quum quidam, ne honoribus § 1. Quem tiver prometido fazer uma


fungeretur, opus promisisset, tam ho- obra para ser poupado do exercício
nores subire cogendum, quam operis de um cargo deve ser obrigado tanto
instructionem, Divus Antoninus res- a exercê-lo como a construir a obra,
cripsit. conforme determinou, em rescrito, o
imperador Antonino.

13. PAPIRIUS IUSTUS libro II. de 13. PAPÍRIO JUSTO, Das Constitui-
Constitutionibus. — Imperatores An- ções, Livro II. — Os augustos impera-
toninus et Verus Augusti rescripserunt, dores Antonino e Vero recomendaram,
opera exstruere debere eos, qui pro ho- em rescrito, que quem tiver prometido
nore polliciti sunt, non pecunias pro construir obra em razão de cargo deve
his inferre cogi. ser obrigado a fazê-la, e não a dar di-
nheiro no lugar dela.

268
Digesto Livro L – Título XII

§ 1. — Item rescripserunt, conditiones § 1. Determinaram também, por res-


donationibus appositas, quae in rem- crito, que condições de doações que se
publicam fiunt, ita demum ratas esse, fazem ao município só são válidas se fo-
si utilitatis publicae interest; quodsi da- rem do interesse público; se prejudiciais,
mnosae sint, observari non debere; et devem ser rejeitadas e, portanto, rejeita-
ideo non observandum, quod defunc- do o legado deixado por alguém com o
tus certa summa legata vetuit vectigal objetivo de vetar o exercício da cobrança
exerceri; esse enim tolerabilia, quae ve- de impostos, pois há coisas que o costu-
tus consuetudo comprobat. me antigo aprovava como toleráveis.

14. POMPONIUS libro VI. Episto- 14. POMPÔNIO, Cartas e Textos


larum et variarum Lectionum. — Si Diversos, Livro VI. — Por constitui-
quis sui alienive honoris causa opus ção do imperador Trajano, quem, por
facturum se in aliqua civitate promi- causa de cargo próprio ou de terceiro,
serit, ad perficiendum tam ipse, quam promete fazer obra em alguma cidade,
heres eius, ex Constitutione Divi Traia- não somente se obriga mas também a
ni obligatus est. Sed si quis ob honorem seu herdeiro. Mas, conforme determi-
opus facturum se civitate aliqua promi- nou o imperador Antonino, se alguém,
serit, atque inchoaverit, et priusquam em razão de cargo, tiver prometido
perficeret, discesserit, heres eius extra- fazer obra em alguma cidade e vier a
neus quidem necesse habet aut perfice- falecer após tê-la começado, deixando-
re id, aut partem quintam patrimonii -a inacabada, seu herdeiro estranho87
relicti sibi ab eo, qui id opus facere ins- terá de acabá-la ou, se o preferir, pagar
tituerat, si ita mallet, civitati, in qua id à cidade na qual a obra fora iniciada,
opus fieri coeptum est, dare; is autem, um quinto da herança recebida daque-
qui ex numero liberorum est, si heres le que prometera fazê-la. Se o herdeiro,
extitit, non quintae partis, sed decimae porém, estiver entre os filhos, estará
concedendae necessitate afficitur; et obrigado a dar não a quinta, mas a dé-
haec Divus Antoninus constituit. cima parte.

15. ULPIANUS libro singulari de 15. ULPIANO, Da Função do Cura-


officio Curatoris reipublicae. — Inter dor da República, Livro Único. —
liberos nepotem quoque ex filia conti- Rescrito do imperador Pio determina
neri, Divus Pius rescripsit. que entre os filhos seja também incluí-
do neto havido de filha.

87
Herdeiro estranho (heres extraneus) é o her-
deiro “a quem é deferida a herança, ou por
testamento, ou pela lei”. (MOREIRA ALVES,
p. 768).

269
Livro L – Título XIII Digesto

TITULUS XIII TÍTULO XIII


DE EXTRAORDINARIIS DOS JUÍZOS EXTRAORDINÁRIOS
COGNITIONIBUS, ET SI IUDEX E DA PARCIALIDADE
LITEM SUAM FECISSE DICETUR

1. ULPIANUS libro VIII. de omnibus 1. ULPIANO, De Todos os Tribunais,


Tribunalibus. — Praeses provinciae Livro VIII. — O governador de pro-
de mercedibus ius dicere solet, sed víncia costuma julgar sobre o direito a
praeceptoribus tantum studiorum li- salários, mas só de professores de dis-
beralium. Liberalia autem studia acci- ciplinas liberais. Por disciplinas libe-
pimus, quae Graeci evleuqe,ria [libera- rais, que os gregos chamam “eleutéria”,
lia] appellant; rhetores continebuntur, entendemos a retórica, a gramática e a
grammatici, geometrae. geometria88.

§ 1. — Medicorum quoque eadem § 1. A situação dos médicos é também


causa est, quae professorum, nisi quod a mesma dos professores, só que mais
iustior, quum hi salutis hominum, illi legítima, porque os professores cui-
studiorum curam agant; et ideo his dam do ensino, enquanto os médicos
quoque extra ordinem ius dici debet. cuidam da saúde das pessoas. Por esse
motivo, deve também o governador
cuidar deles, embora em caráter extra-
ordinário, e arbitrar seus direitos.

§ 2. — Sed et obstetricem audiant, § 2. Ouça também as parteiras que de


quae utique medicinam exhibere vide- certo modo parecem também exercer a
tur. medicina.

§ 3. — Medicos fortassis quis accipiet § 3. Eventualmente, o governador con-


etiam eos, qui alicuius partis corporis, siderará também como profissional
vel certi doloris sanitatem pollicentur, quem promete a saúde de alguma parte
ut puta si auricularius, si fistulae vel do corpo ou a cura de alguma dor, por
dentium; non tamen si incantavit, si
imprecatus est, si, ut vulgari verbo im-
postorum utar, si exorcizavit; non sunt
ista medicinae genera, tametsi sint, qui 88
O que os romanos chamavam de studia libe-
hos sibi profuisse cum praedicatione ralia hoje se chama “artes liberais”, que com-
preendem disciplinas essenciais ao desenvol-
affirment. vimento cultural do homem e intimamente
ligadas às atividades intelectuais próprias do
homem livre, por isso, liberais. São elas: gra-
mática, retórica, lógica, aritmética, geometria,
astronomia, música, arquitetura e medicina.

270
Digesto Livro L – Título XIII

exemplo, de ouvido, de intestino ou de


dente, mas não se fizer sortilégios, im-
precações e, na linguagem mais vulgar,
exorcismos, pois isso não faz parte da
medicina, embora haja quem diga ter
sido beneficiado pelas invocações deles.

§ 4. — An et philosophi professorum § 4. E os filósofos, são também profes-


numero sint? Et non putem, non quia sores? Para mim, não são. Não porque
non religiosa res est, sed quia hoc pri- não tratem de coisa nobre, mas, antes
mum profiteri eos oportet, mercena- de tudo, porque devem rejeitar traba-
riam operam spernere. lho mercenário.

§ 5. — Proinde ne iuris quidem civilis § 5. Por conseguinte, os governadores


professoribus ius dicent; est quidem res não considerarão a questão da remu-
sanctissima civilis sapientia, sed quae neração de professores de direito civil.
pretio numario non sit aestimanda, É verdade que se trata de matéria nobi-
nec deshonestanda, dum in iudicio ho- líssima o conhecimento do direito civil,
nor petitur, qui in ingressu sacramenti mas não deve ser estimada em dinhei-
efferri debuit; quaedam enim tametsi ro, nem desonrada quando em juízo
honeste accipiantur, inhoneste tamen cobra honorários quem por juramento
petuntur. consagrou-se à docência. Pois algumas
coisas podem ser honestamente rece-
bidas, mas não podem desonestamente
ser reclamadas.

§ 6. — Ludi quoque literarii magistris, § 6. Mesmo sem ser professores, é co-


licet non sint professores, tamen usur- mum na prática conceder-se a mestres-
patum est, ut his quoque ius dicatur. -sala o direito a salário, como também
Iam et librariis, et notariis, et calculato- a escriturários, notários, contadores ou
ribus sive tabulariis. guarda-livros.

§ 7. — Sed ceterarum artium opifici- § 7. Mas o governador, de modo al-


bus, sive artificibus, quae sunt extra li- gum, nem extraordinariamente, deverá
teras vel notas positae, nequaquam ex- julgar questões de operários e artesãos
tra ordinem ius dicere Praeses debebit. das demais artes que não estejam entre
as letras e os escritos.

271
Livro L – Título XIII Digesto

§ 8. — Sed et si comites salarium pe- § 8. Mas, se assessores também recla-


tant, idem iuris est, quod in professo- mam salário, assistem-lhes os mesmos
ribus placet. direitos que aos professores.

§ 9. — Sed adversus ipsos omnes cog- § 9. Os imperadores irmãos89 decidi-


noscere Praeses debet, quia ut adversus ram, em rescrito, que compete ao gover-
advocatos adeantur, Divi Fratres res- nador acolher ação contra todas essas
cripserunt. categorias, já que lhe compete também
acolher recursos contra advogados.

§ 10. — In honorariis advocatorum ita § 10. Tratando-se de honorários advo-


versari iudex debet, ut pro modo litis, catícios, o juiz deve ter em vista o valor
proque advocati facundia, et fori con- do litígio, a eloquência do advogado,
suetudine, et iudicii, in quo erat actu- a jurisprudência do foro e do tribunal
rus, aestimationem adhibeat, dummo- no qual vai atuar, contanto que o valor
do licitum honorarium quantitas non não exceda o que é lícito em termos de
egrediatur; ita enim Rescripto Impe- honorário, como está dito no rescrito
ratoris nostri et patris eius continetur; de nosso imperador e de seu pai. As-
verba Rescripti ita se habent: “Si Iulius sim reza o rescrito: “Se Júlio Materno,
Maternus, quem patronum causae tuae a quem quiseste como advogado de tua
esse voluisti, fidem susceptam exhibe- causa, está disposto a cumprir o pro-
re paratus est, eam duntaxat pecuniam, metido, deves apenas reclamar o valor
quae modum legitimum egressa est, re- que tiver excedido a quantia lícita”.
petere debes”.

§ 11. — Advocatos accipere debemus § 11. Por advogados devemos entender


omnes omnino, qui causis agendis todos os que, de alguma forma, atuam
quoquo studio operantur; non tamen na defesa de causas; todavia, não in-
qui pro tractatu non adfuturi causis cluímos entre advogados aqueles que
accipere quid solent, advocatorum nu- não estarão presentes à defesa da causa
mero erunt. e costumam receber alguma coisa por
darem parecer.

§ 12. — Si cautum est honorarium, vel § 12. Vejamos se, caucionados os hono-
si quis de lite pactus est, videamus, an rários ou se feito acordo sobre o litígio,
petere possit. Et quidem de pactis ita alguém pode reclamar. Sobre pactos
est rescriptum ab Imperatore nostro, et assim se pronunciaram, em rescrito,
Divo patre eius: “Litis causa malo more
pecuniam tibi promissam ipse quoque
profiteris, sed hoc ita ius est, si suspen-
89
Glossário, Dois Irmãos.

272
Digesto Livro L – Título XIII

sa lite societatem futuri emolumenti nosso imperador e seu pai: “Tu mesmo
cautio pollicetur; si vero post causam confessas que, por um mau costume,
actam cauta est honoraria summa, peti foi-te prometido certa quantia pela de-
poterit usque ad probabilem quanti- fesa de uma causa; suspenso o litígio,
tatem, etsi nomine palmarii cautum este é o direito: uma caução assegura
sit, sic tamen, ut computetur id, quod participação no resultado futuro, mas
datum est, cum eo, quod debetur, neu- se, concluída a causa, foi caucionado
trumque compositum licitam quanti- o valor dos honorários, poderiam ser
tatem excedat. Licita autem quantitas reclamados até uma soma razoável,
intelligitur pro singulis causis usque ad mesmo se a caução foi feita para o caso
centum aureos”. de vitória, contanto que, nos cálculos,
computado o que tiver sido dado com
o que é devido, nem um nem outro ex-
ceda o valor lícito. Como valor lícito
se entende até cem áureos para cada
questão”.

§ 13. — Divus Severus ab heredibus § 13. O imperador Severo proibiu que


advocati mortuo eo prohibuit merce- se cobrassem de herdeiros honorários
dem repeti, quia per ipsum non stete- de advogado morto, pois não depende-
rat, quominus causam ageret. ra dele o não estar presente à defesa da
causa.

§ 14. — Ad nutricia quoque officium § 14. O salário de amas de leite é tam-


Praesidis vel Praetoris devenit; namque bém matéria da atribuição de governa-
nutrices ob alimoniam infantium apud dor ou pretor, pois as amas recorrem
Praesides, quod sibi debetur, petunt. aos governadores pela remuneração
Sed nutricia eo usque producemus, que lhes é devida pela amamentação de
quoad infantes uberibus aluntur, cete- crianças. Mas o salário das amas limi-
rum post haec cessant partes Praetoris ta-se ao período do aleitamento. Após
vel Praesidis. esse período, cessa a atribuição do go-
vernador ou do pretor.

§ 15. — Haec omnia si apud Praesides § 15. Se todas essas reivindicações se


petantur, videamus, an de mutuis peti- fazem ao governador, vejamos se é de
tionibus possunt Praesides cognoscere; sua competência julgar ações de em-
et putem debere admitti. préstimo. A meu ver, sim.

2. IDEM libro I. Opinionum. — De 2. IDEM, Opiniões, Livro I. — Com


usu aquae, de rivis novis inciviliter ins- relação ao uso da água, a canais novos

273
Livro L – Título XIII Digesto

titutis, item de equis alienis a sciente de irrigação abertos irregularmente,


possessis, fetuque earum, et de damno também com relação a equinos alheios
dato per immissos in praedium suum e suas crias na posse de quem sabe não
universos homines eos, qui in plurium serem seus, e sobre prejuízos causados
praedia distribui debuerunt, si modo por quem, devendo distribuir todos
id non ex auctoritate eius, qui iubere os escravos entre muitas propriedades
potuit, factum est, Praesidem provin- rurais, os destinou todos à sua pro-
ciae doceri oportere responsum est, ut priedade, desde que não o tenha feito
is secundum rei aequitatem et iurisdic- por ordem de quem podia autorizá-
tionis ordinem convenientem formam -lo, respondeu-se que os governadores
rei det. deviam ser instruídos no assunto para
dar solução conveniente a questões
dessa natureza segundo a equidade e
na devida forma de sua jurisdição.

3. IDEM libro V. Opinionum. — Si 3. IDEM, Opiniões, Livro V. — Um


medicus, cui curandos suos oculos, médico que, aplicando remédios er-
qui iis laborabat, commiserat, pericu- rados, põe em risco a visão de um pa-
lum amittendorum eorum per adversa ciente que a ele confiara a cura de seus
medicamenta inferendo compulit, ut ei olhos doentes, compelindo-o a lhe ven-
possessiones suas contra fidem bonam der, contra a boa-fé, suas propriedades,
aeger venderet, incivile factum Praeses puna-o o governador da província pela
provinciae coerceat, remque restitui iu- ação violenta e determine a devolução
beat. dos bens.

4. PAULUS libro IV. ad Plautium. — 4. PAULO, Comentários a Pláucio,


Divus Antoninus Pius rescripsit, iuris Livro IV. — O imperador Antonino Pio
studiosos, qui salaria petebant, haec determinou, em rescrito, que pessoas
exigere posse. versadas em direito que reivindicavam
salários podiam, de fato, exigi-los90.

5. CALLISTRATUS libro I. de Cog- 5. CALÍSTRATO, Das Jurisdições, Li-


nitionibus. — Cognitionum nume- vro I. — A quantidade de jurisdições,
rus, quum ex variis causis descendat uma vez que decorre de várias causas,
in genera dividi facile non potest, nisi não pode facilmente ser dividida em
summatim dividatur. Numerus ergo espécies, a não ser em linhas gerais.
cognitionum in quatuor fere genera di-
vidi potest; aut enim de honoribus sive
muneribus gerendis agitatur, aut de re 90
Texto de difícil entendimento. Provalmente
pecuniaria disceptatur, aut de existi- seriam aqueles que se dedicavam profissio-
nalmente ao estudo e aplicação do direito.

274
Digesto Livro L – Título XIII

matione alicuius cognoscitur, aut de Assim podem ser classificadas em qua-


capitali crimine quaeritur. tro espécies: ou se trata do exercício de
cargos e funções, ou de decisão em ma-
§ 1. — Existimatio est dignitatis illae- téria financeira, ou de reputação social,
sae status legibus ac moribus compro- ou de questão de crime capital.
batus, qui ex delicto nostro auctoritate
legum aut minuitur, aut consumitur.
§ 1. Por reputação se entende com-
provada condição de ilesa dignidade
§ 2. — Minuitur existimatio, quoties segundo as leis e os costumes, que, por
manente libertate circa statum dignita- delito nosso, ou diminui ou se perde
tis poena plectimur, sicuti quum rele- pela autoridade da lei.
gatur quis, vel quum ordine movetur,
vel quum prohibetur honoribus publi- § 2. A reputação é prejudicada toda
cis fungi, vel quum plebeius fustibus vez que, mantida a liberdade, somos
caeditur, vel in opus publicum datur, punidos com pena que atinge a digni-
vel quum in eam causam quis incidit, dade, como ser desterrado, ser expulso
quae Edicto perpetuo infamiae causa de uma classe, ser proibido de exercer
enumeratur. cargos públicos, ou quando um plebeu
é castigado com açoites ou com traba-
lho forçado ou quando comete algum
ilícito catalogado pelo Edito Perpétuo91
como causa de infâmia.

§ 3. — Consumitur vero, quoties mag- § 3. Perde-se a dignidade toda vez que


na capitis minutio intervenit, id est ocorre expressiva perda de reputação,
quum libertas adimitur, veluti quum isto é, quando se perde a liberdade, por
aqua et igni interdicitur, quae in perso- exemplo, com a interdição da água e do
na deportatorum venit, vel quum ple- fogo que resulta no desterro da pessoa,
beius in opus metalli vel in metallum ou quando um plebeu é condenado a
datur; nihil enim refert, nec diversa trabalhar com metais ou nas próprias
poena est operis et metalli, nisi quod minas. Não há diferença entre as duas
refugae operis non morte, sed poena penas, a não ser que, no primeiro caso,
metalli subiiciuntur. o fugitivo não é punido de morte, mas
condenado às próprias minas.

6. GAIUS libro III. Rerum quotidia-


narum, sive Aureorum. — Si iudex li-
tem suam fecerit, non proprie ex male-
ficio obligatus videtur; sed quia neque
91
Glossário, Edito.

275
Livro L – Título XIII e XIV Digesto

ex contractu obligatus est, et utique 6. GAIO, Dos Casos Quotidianos, Li-


peccasse aliquid intelligitur, licet per vro III. — Se um juiz age parcialmente
imprudentiam, ideo videtur quasi ex na defesa da causa como se sua fosse,
maleficio teneri in factum actione, et não parece propriamente impedido em
in quantum de ea re aequum religioni razão do mau comportamento; mas
iudicantis visum fuerit, poenam susti- como também não está impedido em
nebit. razão de contrato, e sim por se enten-
der ter praticado um delito, mesmo
inadvertidamente, é considerado, por-
tanto, como responsável pelo delito de
fato, e quanto a isso sofrerá a pena que
TITULUS XIV for considerada justa pela consciência
DE PROXENETICIS de quem o julgar.

1. ULPIANUS libro XLII. ad Sabinum.


— Proxenetica iure licito petuntur. TÍTULO XIV
DA CORRETAGEM

1. ULPIANO, Comentários a Sabino,


2. IDEM libro XXXI. ad Edictum. — Livro XLII. — É lícito ao corretor, por
Si proxeneta intervenerit faciendi no- direito, reclamar a corretagem.
minis, ut multi solent, videamus, an 2. IDEM, Comentários ao Edito, Li-
possit quasi mandator teneri; et non vro XXXI. — Se um corretor intervier
puto teneri, quia hic monstrat magis numa operação de crédito, como mui-
nomen, quam mandat, tametsi laudet tos costumam fazer, vejamos se poderá
nomen. Idem dico, et si aliquid phi- ser responsabilizado como ordenador.
lantropi nomine acceperit, nec ex lo- Parece-me que não, pois se limita a
cato conducto erit actio. Plane si dolo indicar o crédito e não a autorizá-lo,
et calliditate creditorem circumvenerit, embora o promova. Para mim seria o
de dolo actione tenebitur. mesmo se recebesse algo por amizade:
tampouco caberia ação por acerto de
empréstimo. Se, porém, tratar o credor
dolosamente e com astúcia certamente
3. IDEM libro VIII. de omnibus Tri- estará sujeito a processo.
bunalibus. — De proxenetico, quod et
sordidum, solent Praesides cognosce- 3. IDEM, Sobre Todos os Tribunais,
re; sic tamen, ut et in his modus esse Livro VIII. — Os governadores cos-
debeat et quantitatis, et negotii, in quo
operula ista defuncti sunt, et ministe-
rium qualequale accommodaverunt.

276
Digesto Livro L – Título XIV

Facilius, quod Graeci ermhneutiko,n tumam julgar o que há92 de errado


[interpretativum seu interpretis hono- nas questões de corretagem. Mas, nes-
rarium] appellant, peti apud eos pote- ses casos, deve-se avaliar tanto o tipo
rit, si quis forte conditionis, vel amici- como o valor do negócio do qual se
tiae, vel assessurae, vel cuius alterius beneficiou o corretor e o tipo do ser-
huiuscemodi proxeneta fuit; sunt enim viço que prestou. Seria mais fácil falar
huiusmodi hominum, ut in tam magna de serviço de intermediário, que os
civitate, officinae. Est enim proxeneta- gregos chamam de hermenêutico, ou
rum modus, qui emtionibus, venditio- melhor, de remuneração por serviço de
nibus, commerciis, contractibus licitis intermediação, que alguém poderia re-
utiles non adeo improbabili more se clamar ao prestar, por exemplo, servi-
exhibent. ço de mediar casamento, de promover
amizade, emprego ou outra qualquer
atividade dessa espécie. E, de fato, há
agremiações de pessoas dessa espécie
numa cidade tão grande. Há muitos
corretores que se destacam, não por
incorreção, mas como intermediários
úteis nas compras, vendas, comércio e
contratos lícitos.

TITULUS XV
DE CENSIBUS TÍTULO XV
DOS CENSOS
1. ULPIANUS libro I. de Censibus. —
Sciendum est, esse quasdam colonias 1. ULPIANO, Dos Censos, Livro I. —
iuris Italici, ut est in Syria Phoenice Convém saber que há algumas colô-
splendidissima Tyriorum colonia, unde nias de direito itálico93, como é o caso
mihi origo est, nobilis regionibus, serie da esplendorosa colônia dos tírios94, na
saeculorum antiquissima, armipotens,
foederis, quod cum Romanis percussit,
tenacissima; huic enim Divus Severus 92
A tradução apóia-se na variante est da nota 1,
et Imperator noster, ob egregiam in em vez de no texto original onde se lê “tuod et
rempublicam imperiumque Romanum Sordidon”.
insignem fidem, ius Italicum dedit.
93
Chama-se direito itálico princípios e normas
políticas e administrativas por que se regiam,
inicialmente, municípios e cidades na penín-
sula itálica que iam sendo anexados ao poder
§ 1. — Sed et Berytensis colonia in ea- romano. Ver Glossário, Política Administrati-
dem provincia Augusti beneficiis gra- va Romana.
tiosa et, ut Divus Hadrianus in quadam 94
Habitantes da cidade de Tiro, na Fenícia, hoje
chamada Sur, no Líbano.

277
Livro L – Título XV Digesto

Oratione ait Augustana colonia, quae Síria Fenícia, da qual sou originário,
ius Italicum habet. nobre por suas regiões, antiquíssima
pelo número de séculos, poderosa pe-
§ 2. — Est et Heliopolitana, quae a las armas, fidelíssima à aliança que fez
Divo Severo per belli civilis occasio- com os romanos. Nosso imperador Se-
nem Italicae coloniae rempublicam ac- vero lhe concedeu o direito itálico por
cepit. sua egrégia fidelidade ao povo e ao Im-
pério romanos.

§ 1. Também a colônia de Berito95, na


mesma Província, agraciada com fa-
vores de Augusto96 e que o imperador
Adriano, num discurso, chamou au-
gustana, goza do mesmo direito.

§ 2. Heliópolis97 também, que, por


ocasião de uma guerra civil, recebeu
do imperador Severo o título de colô-
nia itálica.

§ 3. — Est et Laodicena colonia in § 3. Há ainda a colônia Laodiceia98 na


Syria, coele, cui Divus Severus ius Ita- Celessíria99, à qual o imperador Severo
licum ob belli civilis merita concessit. agraciou com o direito itálico por mé-
Ptolemaeensium enim colonia, qua in- ritos numa guerra civil. Mas a chama-
ter Phoenicen et Palaestinam sita est, da colônia Ptolemaida100, situada entre
nihil praeter nomen coloniae habet.

§ 4. — Sed et Emesenae civitati Phoe- 95


Hoje, Beirute, capital do Líbano.
nices Imperator noster ius coloniae de- 96
César Otávio Augusto, fundador do Império
dit, iurisque Italici eam fecit. e primeiro imperador (19 a.C. — 14 d. C.).
97
Antiga cidade do Líbano, hoje Balbeque.
98
Havia, pelo menos, oito cidades com esse
§ 5. — Est et Palmyrena civitas in pro- nome na antiguidade. Aqui se trata proval-
mente da cidade que é também citada no
vincia Phoenice prope barbaras gentes
Apocalipse, hoje chamada Denizli, na Síria.
et nationes collocata. 99
Os romanos chamavam a região Sul da Síria
de Syria Cele, isto é, Síria Baixa ou também
§ 6. — In Palaestina duae fuerunt colo- de Syria Palestina, território que se estendia
niae, Caesariensis et Aelia Capitolina, do Eufrates ao Mediterrâneo.
sed neutra ius Italicum habet. 100
Cidade litorânea da Palestina, no território
conhecido por Galiléia.

278
Digesto Livro L – Título XV

a Fenícia e a Palestina, só tem o nome


de colônia.

§ 4. Mas nosso imperador deu tam-


bém à cidade de Emisa101 da Fenícia o
status de colônia e de colônia de direito
itálico.

§ 5. Do mesmo modo à cidade de Pal-


mira102, na província da Fenícia, situa-
da perto de nações e povos bárbaros.

§ 6. Havia duas colônias na Palestina, a


de Cesareia103 e a de Élia Capitolina104,
mas nenhuma das duas goza do direito
itálico.

§ 7. O imperador Severo elevou tam-


bém à condição de colônia a cidade de
Sebaste105.

§ 7. — Divus quoque Severus in Sebas-


tenam civitatem coloniam deduxit. 101
Cidade palestina, naquela época em territó-
rio da Síria, hoje Homs.
102
No território palestino.
§ 8. — In Dacia quoque Zernemsium 103
Cidade, hoje em ruína, na costa do Mediter-
colonia a Divo Traiano deducta, iuris râneo, na Palestina. Foi construída por Hero-
Italici est. des, o Grande, em honra a César. No século I
tornou-se residência do procurador romano
que governava a Judeia.
§ 9. — Zarmizegethusa quoque eius- 104
Nome dado pelo imperador Adriano a Jeru-
dem iuris est; item Napocensis colonia, salém, em 130, após a reconstrução da cidade
et Apulensis, et Patavissensium vicus, arrasada pelos romanos no ano 70. Para des-
qui a Divo Severo ius coloniae impe- caracterizar a cidade e lhe retirar o carisma,
mudou seu nome para Élia, nome de sua es-
travit. posa, e Capitolina, do templo de Júpiter em
Roma; proibiu o acesso de judeus à cidade e
§ 10. — Est et in Bithynia colonia Apa- lhe conferiu a condição de colônia, que pas-
mena, et in Ponto Sinopensis. sou a ser habitada por colonos romanos.
105
Cidade da Palestina, antiga Samaria dos ju-
deus.

279
Livro L – Título XV Digesto

§ 8. Na Dácia106, também elevou a ci-


dade de Zerna107 a colônia e lhe confe-
riu o direito itálico.

§ 9. Gozam do mesmo direito a cidade


de Zarmizegetusa108, a colônia de Na-
poca109, também a Apuleia e a aldeia de
Patávios110 que impetrou o direito de
colônia ao imperador Severo.

§ 10. Também, na Bitínia111, a colônia


Apame, e, no Ponto112, a de Sínope.

§ 11. Na Cilícia113, Selino114 e Trajanó-


polis115.

2. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


vro XXVIII. — Falhas de censos ante-
riores corrigem-se com novas declara-
§ 11. — Est et in Cilicia Selinus, et ções.
Traianopolis.

2. IDEM libro XXVIII. ad Sabinum.


— Vitia priorum censuum editis novis
professionibus evanescunt.
106
Território germânico hoje compreendido
pela Moldávia e a Romênia.
107
Cidade da Dácia.
108
Cidade da Dácia.
3. IDEM libro II. de Censibus. — Ae- 109
Cidade da Dácia.
tatem in censendo significare necesse 110
Patávio, hoje Pádua, na Itália.
est, quia quibusdam aetas tribuit, ne 111
Região da Ásia Menor, no litoral do mar Ne-
tributo onerentur; veluti in Syriis a gro, hoje Turquia.
quatuordecim annis masculi, a duo- 112
Antigo reino, situado nas margens do mar
decim feminae usque ad sexagesimum Negro, região que os romanos chamavam de
quintum annum tributo capitis obri- Ponto Euxíno.
113
Região situada entre a Bitínia e o Ponto.
gantur; aetas autem spectatur censendi 114
Região da Ásia Menor compreendida, na
tempore. maior parte de seu território, pela cordilheira
do Tauro, cuja principal cidade era Tarso.
115
Cidade da Trácia (território que se estendia
§ 1. — Rebus concessam immunitatem do norte da Grécia ao Sul da Bulgária), fun-
non debere intercidere, Rescripto Im- dada em honra do imperador Trajano (sec.
II).

280
Digesto Livro L – Título XV

peratoris nostri ad Pelignianum recte 3. IDEM, Dos Censos, Livro II. — É


expressum est, quippe personis qui- preciso declarar-se a idade ao censo,
dem data immunitas cum persona ex- para evitar maior carga de tributo, pois
tinguitur, rebus nunquam extinguitur. algumas pessoas são tributadas em
virtude da idade, como na Síria, onde
homens, a partir dos quatorze anos, e
4. IDEM libro III. de Censibus. — For- mulheres, dos doze, até sessenta e cin-
ma censuali cavetur, ut agri sic in cen- co, estão sujeitos ao tributo per capita.
sum referantur, nomen fundi cuiusque, A idade deve ser declarada na ocasião
et in qua civitate, et quo pago sit, et do censo.
quos duos vicinos proximos habeat, et
id arvum, quod in decem annos pro- § 1. Nos termos de rescrito de nosso
ximos satum erit, quot iugerum sit; imperador a Peligniano está dito cla-
vinea, quot vites habeat; oliva, quot iu- ramente que uma isenção concedida a
gerum et quod arbores habeat; pratum, bens não deve extinguir-se, enquanto
quod intra decem annos proximos sec- isenção concedida a pessoa extingue-
tum erit, quot iugerum; pascua, quot -se com a pessoa: jamais com relação a
iugerum esse videantur; item silvae ca- bens.
eduae; omnia ipse, qui defert, aestimet.
4. IDEM, Dos Censos, Livro III. —
Cuide-se de, no formulário do censo,
no que se refere à propriedade rural,
dar o nome do imóvel, do município
onde está situado, em que povoado e
dar o nome de dois vizinhos próximos;
e a terra lavrada que tiver sido cultiva-
da nos últimos dez anos, quantas gei-
ras, vinhas; quantas videiras há; olival,
quantas geiras e quantas oliveiras; feno,
quantas geiras terão sido cortadas nos
últimos dez anos; pastagem, quantas
§ 1. — Illam aequitatem debet admit- geiras estima ter e, também, quantas
tere censitor, ut officio eius congruat, árvores de corte, e tudo o que o próprio
relevari eum, qui in publicis tabulis proprietário declarante calcula haver.
delato modo frui certis ex causis non
possit. Quare et si agri portio chasmate § 1. O recenseador deve observar a
perierit, debebit per censitorem rele- equidade inerente a seu cargo, devendo
vari. Si vites mortuae sint, vel arbores levar em conta o caso de quem, por al-
aruerint, iniquum, eum numerum in- gum motivo, não tenha podido alcan-
seri censui. Quodsi exciderit arbores çar os resultados previstos nos regis-

281
Livro L – Título XV Digesto

vel vites, nihilominus eum numerum tros públicos. Por essa razão, se parte
profiteri iubetur, qui fuit census tem- do campo tiver sido danificada por tre-
pore, nisi causam excidendi censitori mor de terra, isso deve ser considerado
probabit. pelo recenseador. Se há videiras mortas
ou árvores secas, seria injusto incluí-las
no censo. Mas se tiver cortado árvores
ou videiras, será obrigado a declarar
§ 2. — Is vero, qui agrum in alia civita- o número delas na ocasião do censo,
te habet, in ea civitate profiteri debet, a menos que prove ao recenseador o
in qua ager est; agri enim tributum in motivo da derrubada.
eam civitatem debet levare, in cuius
territorio possidetur. § 2. Quem possui propriedade rural
em outro município, deve fazer sua de-
claração no município em que se situa
§ 3. — Quamquam in quibusdam be- a propriedade, pois o tributo rural deve
neficia personis data immunitatis cum ser levantado no município em cujo
persona extinguantur, tamen quum território a terra é possuída.
generaliter locis, aut quum civitatibus,
immunitas sic data videtur, ut ad pos- § 3. Embora benefícios de isenção con-
teros transmittatur. cedidos a algumas pessoas se extingam
com a pessoa, quando concedidos em
§ 4. — Si, quum ego fundum posside- geral a alguns lugares ou municípios, a
rem, professus sim, petitor autem eius isenção parece ser concedida de modo
non fuerit professus, actionem illi ma- que seja repassada aos pósteros.
nere placet.
§ 4. Se sou dono de um imóvel e o
declarei, quem o reclamar como seu e
§ 5. — In servis deferendis observan- não tiver feito a declaração, pode estar
dum est, ut et nationes eorum, et ae- sujeito a processo (ou pode ser proces-
tates, et officia, et artificia specialiter sado).
deferantur.
§ 5. Com relação a escravos, a decla-
§ 6. — Lacus quoque piscatorios et ração deve mencionar sua etnia, idade,
portus in censum dominus debet de- ofício e, especialmente, aptidões.
ferre.

§ 7. — Salinae si quae sunt in praediis, § 6. Quem é também dono de lagos


et ipsae in censum deferendae sunt. piscosos e de portos, deve declará-los.

282
Digesto Livro L – Título XV

§ 8. — Si quis inquilinum, vel colonum § 7. Se houver salinas na propriedade,


non fuerit professus, vinculis censuali- devem ser declaradas.
bus tenetur.
§ 8. Quem não declara arrendatário ou
§ 9. — Quae post censum edictum rendeiro fica responsável perante o fis-
nata, aut postea quaesita sint, intra fi- co.
nem operis consummati professioni-
bus edi possunt. § 9. O que nascer após decretado o
censo ou for adquirido após a decla-
§ 10. — Si quis veniam petierit, ut ração, pode ser aditado às declarações
censum sibi emendare permittatur, antes de encerrado o prazo do censo.
deinde post hoc impetratum cogno-
verit, se non debuisse hoc petere, quia § 10. Já foi muitas vezes resolvido por
res emendationem non desiderabat, rescritos que se alguém requerer a re-
nullum eius praeiudicium ex eo, quod tificação de sua declaração e verificar
petiit, ut censum emendaret, fore, sae- depois que não o deveria ter feito, pois
pissime rescriptum est. o objeto não requeria correção, o fato
de tê-la requerido não haverá de lhe
5. PAPINIANUS libro XIX. Respon- causar prejuízo.
sorum. — Quum possessor unus ex-
pediendi negotii causa tributorum
iure conveniretur, adversus ceteros, 5. PAPINIANO, Respostas, Livro XIX.
quorum aeque praedia tenentur, ei, qui — Se alguém tem posse em comum,
conventus est, actiones a fisco praes- mas, para fechar um negócio, viu-se
tantur, scilicet ut omnes pro modo pra- obrigado a quitar os tributos de todo
ediorum pecuniam tributi conferant; o imóvel, o fisco lhe transfere o direito
nec inutiliter actiones praestantur, ta- de acionar os demais proprietários, isto
metsi fiscus pecuniam suam recupera- é, para que todos lhe paguem propor-
verit, quia nominum venditorum pre- cionalmente o valor do tributo. E essa
tium acceptum videtur. ação não é movida inutilmente, embo-
ra o fisco já tivesse recebido sua parte,
§ 1. — Qui non habita ratione tribu- e, por isso, considera quitado o que lhe
torum ex causa fideicommissi praedia deviam todos os vendedores.
restituunt, actionem ex Divi Pii Anto-
nini literis habent, quam legato quoque § 1. Quem, em razão de um fideico-
soluto locum habere voluit. misso, procedeu à restituição de imó-
veis sem descontar os tributos, tem
direito, nos termos do rescrito do im-
perador Pio Antonino, de, tendo cum-

283
Livro L – Título XV Digesto

§ 2. — Pro pecunia tributi, quod sua prido a vontade do testador, processar


die non est redditum, quominus prae- o legatário para pagar os tributos.
dium iure pignoris distrahatur, oblata
moratoria cautio non admittitur, nec § 2. Não se admite prestação de cau-
audietur legatarius contradicens ob ção moratória por valor de tributo não
tributa praeteriti temporis, quod heres pago no dia de seu vencimento para
solvendo sit, et is, qui tributis recipien- que uma propriedade não seja aliena-
dis praepositus fuerat. da por direito de penhora, nem será
ouvido o legatário que se nega a pagar
os tributos pretéritos, desde que sejam
solventes o herdeiro e quem tinha sido
6. CELSUS libro XXV. Digestorum. — responsável pela arrecadação dos tri-
Colonia Philippensis iuris Italici est. butos.

6. CELSO, Digesto, Livro XXV. — A


colônia de Filipos116 goza de direito itá-
lico.
7. GAIUS libro VI. ad legem Iuliam
et Papiam. — Iuris Italici sunt Trwa.j, 7. Gaio, Comentários à Lei Julia, Li-
bh,rutoj, Durvrva,cion. vro VI. — Gozam de direito itálico
Tróia117, Berito118, Dirráquio119.
8. PAULUS libro II. de Censibus. — In
Lusitania Pacenses, sed et Emeritenses 8. PAULO, Dos censos, Livro II. — Na
iuris Italici sunt; idem ius Valentini et Lusitânia, os pacenses120 e também os
Illicitani habent; Barcionnenses quo- habitantes de Emerita121 regem-se pelo
que ibidem immunes sunt. direito itálico; os habitantes também de
Valência122 gozam do mesmo direito;
os habitantes de Barcinão123, na mesma
Região, estão isentos de tributos.
§ 1. — Lugdunenses Galli, item Vien-
nenses in Narbonensi iuris Italici sunt.
116
Cidade da Macedônia, na Trácia.
117
Cidade da Ásia Menor.
§ 2. — In Germania inferiore Agrip- 118
Beirute, ver nota 49..
pinenses iuris Italici Sunt. 119
Cidade da Iugoslávia, no mar Adriático.
120
Habitantes do Pax Julia, hoje Beja, em Portu-
gal.
§ 3. — Laodicea in Syria, et Berytos 121
Cidade de Portugal, hoje Merida.
in Phoenice iuris Italici sunt, et solum 122
Cidade da Espanha, a mesma Valência de
earum. hoje.
123
Hoje Barcelona, na Espanha.

284
Digesto Livro L – Título XV

§ 1. Gozam ainda do direito itálico os


gauleses de Lugduno124 e os vienen-
ses125 na Narbona.

§ 2. Na Germânia meridional são de


direito itálico os habitantes de Agripi-
na126.

§ 3. Igualmente, Laodiceia, na Síria, e


Berito127, na Fenícia, e em seus territó-
rios.

§ 4. Gozam do mesmo direito a cidade


de Tiro128 por concessão dos imperado-
res Severo e Antonino.
§ 4. — Eiusdem iuris et Tyriorum civi-
tas a Divis Severo et Antonino facta est. § 5. O imperador Antonino isentou de
tributos os colonos de Antioquia129.

§ 5. — Divus Antoninus Antiochenses § 6. Nosso imperador Antonino ele-


colonos fecit salvis tributis. vou a cidade da Émeso130 à condição de
colônia e lhe concedeu o direito itálico.
§ 6. — Imperator noster Antoninus ci-
vitatem Emesenorum coloniam et iuris § 7. O imperador Vespasiano consti-
Italici fecit. tuiu Cesareia131 colônia, sem lhe con-
ceder o direito itálico, mas a dispensou
§ 7. — Divus Vespasianus Caesarien-
ses colonos fecit, non adiecto, ut et
iuris Italici essent; sed tributum his re-
misit capitis; sed Divus Titus etiam so-
124
Hoje Lyon, na França.
lum immune factum interpretatus est.
125
Habitantes de Vienna, na margem do rio
Ródano, França, naquela época Narbona, no
Similes iis Capitulenses esse videntur. Sudeste da Gália.
126
Hoje, Colônia, Alemanha, na margem do rio
Reno.
127
Beirute, hoje no Líbano.
§ 8. — In provinicia Macedonia Dyr- 128
Ver nota 49.
rhacheni, Cassandrenses, Philippenses, 129
Antiga capital da Síria.
Dienses, Stobenses iuris Italici sunt. 130
Antiga cidade da Síria, terra natal do impera-
dor Heliogábulo.
131
Ver nota 103.

285
Livro L – Título XV Digesto

do imposto per capita; mas o impera-


dor Tito interpretou também que seu
território gozava dessa isenção. Situa-
ção semelhante parece viger com rela-
ção aos habitantes de Capítulo132.

§ 8. Na província da Macedônia133, os
habitantes de Dirráquio134, de Cassen-
dreia135, de Filipos136, de Dio, de Sto-
bos137, gozam do direito itálico.

§ 9. Na província da Ásia duas são as


cidades que se regem pelo direito itáli-
co, Tróia e Pário.

§ 9. — In provincia Asia duae sunt § 10. Na Pisídia, a cidade de Antio-


iuris Italici, Troas et Parium. quia138 segue o mesmo direito.

§ 10. — In Pisidia eiusdem iuris est co-


lonia Antiochensium.

§ 11. — In Africa Carthago, Utica,


Leptis magna a Divis Severo et Antoni-
no iuris Italici factae sunt.

TITULUS XVI
DE VERBORUM SIGNIFICATIONE
132
Cidade dos hérnicos, povos habitantes do
1. ULPIANUS libro I. ad Edictum. — Lácio, Itália.
Verbum hoc “si quis”, tam masculos, 133
Território situado no norte da Grécia, redu-
zido a província romana em 146 a.C. Berço
quam feminas complectitur.
de Alexandre Magno.
134
Ver nota 108.
135
Cidade da Macedônia.
2. PAULUS libro I. ad Edictum. — 136
Ver nota 116.
“Urbis” appellatio muris, “Romae” 137
Cidade da Macedônia.
autem continentibus aedificiis finitur, 138
Havia na antiguidade três cidades com o
quod latius patet. nome de Antioquia: uma na Síria (nota 108),
outra no Egito e, essa, capital da Pisídia, tam-
bém na Ásia Menor, hoje território turco.

286
Digesto Livro L – Título XV e XVI

§ 11. Na África, o imperador Severo e


Antonino conferiram o direito itálico a
Cartago139, Útica140 e à Magna Léptis141.

TÍTULO XVI
DA SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

1. ULPIANO, Comentários ao Edi-


to, Livro I. — A expressão si quis (se
alguém) abrange os dois gêneros, ho-
mens e mulheres.

2. PAULO, Comentários ao Edito, Li-


§ 1. — Cuiusque diei maior pars est vro I. — Pelo termo Urbs “Urbe” enten-
horarum septem primarum diei, non de-se a cidade limitada pelas muralhas,
supremarum. enquanto por “Roma” se compreen-
dem todos os edifícios (dentro e fora
3. ULPIANUS libro II. ad Edictum. — das muralhas), o que é mais amplo.
Itinere faciendo viginti millia passuum
in dies singulos peragenda, sic sunt § 1. A maior parte de um dia são as
accipienda, ut, si post hanc dinume- primeiras sete horas e não as últimas.
rationem minus, quam viginti millia
supersint, integrum diem occupent;
veluti viginti unum millia sunt passus, 3. ULPIANO, Comentários ao Edito,
biduum iis attribuetur; quae dinume- Livro II. — Para quem deve fazer vin-
ratio ita demum facienda erit, si de die te mil passos de caminhada por dia,
non conveniat. assim devem ser computados os dias:
se, depois do cálculo, sobrar menos de
§ 1. — Eius, qui apud hostes decessit, vinte mil, conta-se um dia inteiro. Por
dici hereditas non potest, quia servus
decessit.

4. PAULUS libro I. ad Edictum. — 139


Cidade mediterrânea fundada pelos fenícios
no norte da África, célebre por sua rivalida-
“Nominis” appellatione rem significari
de com Roma que resultou nas conhecidas
Proculus ait. guerras púnicas.
140
Cidade da África, perto de Cartago, onde
Catão de Útica suicidou-se após ser derrota-
5. IDEM libro II. ad Edictum. — “Rei” do na batalha de Tapsos.
appellatio latior est, quam “pecuniae”, 141
Cidade no norte da África, na Líbia, hoje
Lebda.

287
Livro L – Título XVI Digesto

quae etiam ea, quae extra computatio- exemplo, se fizer vinte e um mil pas-
nem patrimonii nostri sunt, continet, sos, serão computados dois dias. Essa é
quum pecuniae significatio ad ea refe- a maneira usual de se proceder, se não
ratur, quae in patrimonio sunt. for acertado de outro modo.

§ 1. Quem morre em poder do inimi-


§ 1. — “Opere locato, conducto”, his go não pode deixar herança, porque
verbis Labeo significari ait id opus, morreu na condição de escravo.
quod Graeci avpote,lesma [effectum]
vocant non e;rgon (opus], id est ex ope- 4. PAULO, Comentários ao Edito, Li-
re facto corpus aliquod perfectum. vro I. — Pelo termo nomen (nome, va-
lor, etc), segundo Próculo, entende-se
uma coisa.
6. ULPIANUS libro III. ad Edictum.
— “Nominis”, et “Rei” appellatio ad 5. IDEM, Ibidem, Livro II. — O termo
omnem contractum et obligationem res (bem) tem sentido mais amplo do
pertinet. que pecunia (dinheiro), porque abran-
ge também aquelas coisas que se com-
§ 1. — Verbum: “ex legibus”, sic acci- putam fora de nosso patrimônio, ao
piendum est: tam ex legum sententia, passo que dinheiro refere-se a coisas
quam ex verbis. que fazem parte de nosso patrimônio.

7. PAULUS libro II. ad Edictum. — § 1. A expressão opere locato, conducto


“Sponsio” appellatur non solum quae (obra contratada, arrendada), segundo
per sponsus interrogationem fit, sed Labeão, significa o que os gregos cha-
omnis stipulatio promissioque. mam de “apotélesma” (obra realizada),
não “ergon” (trabalho), isto é, de traba-
lho feito resulta uma obra acabada.
8. IDEM libro III. ad Edictum. — Ver-
bum: “oportebit”, tam praesens, quam 6. ULPIANO, Comentários ao edito,
futurum tempus significat. Livro III. — Os termos nomen (valor) e
res (bem) estão presentes em todo con-
§ 1. — “Actionis” verbo non continetur trato e obrigação.
exceptio.
§ 1. A expressão ex legibus (pelas leis)
9. ULPIANUS libro V. ad Edictum. — há de se entender tanto segundo o es-
Marcellus apud Iulianum notat, verbo pirito quanto segundo os termos da lei.
“periisse” et scissum, et fractum con-
tineri, et vi raptum. 7. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro II. — Por sponsio (compromis-

288
Digesto Livro L – Título XVI

so) entende-se não só a estipulação do


10. IDEM libro VI. ad Edictum. — prometido, mas também toda promes-
“Creditores” accipiendos esse constat sa e condição.
eos, quibus debetur ex quacunque ac-
tione, vel persecutione, vel iure civili, 8. IDEM, Ibidem, Livro III. — O ter-
sine ulla exceptionis perpetuae remo- mo oportebit (convirá) tem significa-
tione, vel honorario, vel extraordi- ção tanto de futuro como de presente.
nario, sive pure, sive in diem, vel sub
conditione. Quodsi natura debeatur, § 1. O termo actio (ação) não abrange
non sunt loco creditorum; sed si non a exceção.
sit mutua pecunia, sed contractus, cre-
ditores accipiuntur. 9. ULPIANO, Comentários ao Edito,
Livro V. — Observa Marcelo que, se-
11. GAIUS libro I. ad Edictum pro- gundo Juliano, a expressão periisse (ter
vinciale. — “Creditorum” appellatione acabado) significa cortado, quebrado e
non hi tantum accipiuntur, qui pecu- tomado a força.
niam crediderunt, sed omnes, quibus
ex qualibet causa debetur; 10. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Por
creditores (credores) entendem-se pes-
soas às quais se deve por força de qual-
12. ULPIANUS libro VI. ad Edictum. quer ação, recurso, ou pelo direito civil,
— ut si cui ex emto, vel ex locato, vel seja esse direito honorário ou extraor-
ex alio ullo debetur. Sed etsi ex delicto dinário, sem exclusão alguma de isen-
debeatur, mihi videtur posse creditoris ção perpétua, ou simplesmente à vista
loco accipi. Quodsi ex populari causa, ou sob condição. Se se trata de dever
ante litis contestationem recte dicetur por obrigação natural, não são credo-
creditoris loco non esse, postea esse. res, mas se de dinheiro emprestado ou
por contrato são considerados credo-
res.
11. Gaio, Comentários a Edito Pro-
vincial, Livro I. — O termo creditor
§ 1. — Minus solvit, qui tardius solvit, (credor) não significa apenas quem
nam et tempore minus solvitur. empresta dinheiro, mas também todos
a quem, a qulaquer título, se deve algu-
ma coisa;
13. IDEM libro VII. ad Edictum. —
“Mulieris” appellatione etiam virgo vi- 12. ULPIANO, Comentários ao Edi-
ripotens continetur. to, Livro VI. — por exemplo, o que se
deve por compra, aluguel ou por qual-
quer outra razão. Mas ainda que o cré-

289
Livro L – Título XVI Digesto

§ 1. — Res “abesse” videntur, ut Sa- dito decorra de delito, mesmo assim


binus ait, et Pedius probat, etiam hae, me parece poder ser entendido como
quarum corpus manet, forma mutata credor. Contudo, no caso de uma ação,
est; et ideo si corruptae redditae sint, antes da contestação do litígio, não
vel transfiguratae, videri abesse, quo- pode ser tido, com razão, como credor;
niam plerumque plus est in manus pre- depois da contestação, pode.
tio, quam in re.
§ 1. Paga menos quem paga tardia-
mente, pois pelo tempo paga-se me-
nos.
§ 2. — Desinere autem abesse res tunc
videtur, quum sic redit in potestatem, 13. IDEM, Ibidem, Livro VII. — Por
ne amittere eius possessionem possi- mulier (mulher) se entende também a
mus, virgem núbil.
§ 3. — ob hoc, quod furto pridem sub-
tracta est; abest et ea res, quae in rebus § 1. Parecem abesse (não existir, fal-
humanis, non est. tar) como diz Sabino,e Pédio concorda,
coisas das quais subsiste a substância,
14. PAULUS libro VII. ad Edictum. mas muda a forma. Portanto, se são
— Labeo et Sabinus existimant, si restituídas, danificadas ou desfigura-
vestimentum scissum reddatur, vel das, parecem não ser, pois na maioria
res corrupta reddita sit, veluti scyphi das vezes o valor das coisas está mais
collisi, aut tabula rasa pictura, videri no que é feito delas do que nelas mes-
rem “abesse”, quoniam earum rerum mas.
pretium non in substantia, sed in arte
sit positum. Item si dominus rem, quae § 2. Parece, porém, que uma coisa dei-
furto sibi aberat, ignorans emerit, recte xa de faltar quando retorna ao nosso
dicitur res abesse, etiamsi postea id ita poder, de modo que não possamos
esse scierit, quia videtur res ei abesse, perder sua posse.
cui pretium abest. § 3. pela razão de antes nos ter sido
roubada; mas falta também o que não
existe na realidade das coisas.

14. PAULO, Comentários ao Edito,


§ 1. — Rem “amisisse” videtur, qui ad- Livro VII. — Estimam Labeão e Sabi-
versus nullum eius persequendae ac- no que se uma roupa rasgada ou algo
tionem habet. deterioriado é devolvido, por exemplo,
uma taça amassada, ou um quadro
15. ULPIANUS libro X. ad Edictum. com a pintura danificada, a coisa pare-
— Bona civitatis abusive “publica” dic- ce não existir, pois o valor dessas coisas

290
Digesto Livro L – Título XVI

ta sunt, sola enim ea publica sunt, quae não está na sua materialidade mas no
populi Romani sunt. que há de arte nelas. O mesmo aconte-
ceria se o dono de um objeto compra-
-o, ignorando que lhe fora roubado:
16. GAIUS libro III. ad Edictum com razão se dirá que a coisa não exis-
provinciale. — Eum, qui vectigal po- te, mesmo se mais tarde venha a sabê-
puli Romani conductum habet, “pu- -lo, pois se considera que falta a coisa a
blicanum” appellamus; nam publica que falta o preço.
appellatio in compluribus causis ad
populum Romanum respicit; civitates § 1. Parece ter perdido a coisa quem
enim privatorum loco habentur. não move ação contra alguém para
readquiri-la.
17. ULPIANUS libro X. ad Edictum.
— Inter “publica” habemus non sacra, 15. ULPIANO, Comentários ao Edi-
nec religiosa, nec quae publicis usibus to, Livro X. — Bens de uma cidade são
destinata sunt, sed si qua sunt civita- impropriamente chamados públicos,
tum velut bona; sed peculia servorum pois só é público o que pertence ao
civitatum procul dubio publica haben- povo romano.
tur.
16. GAIO, Comentários ao Edito
Provincial, Livro III. — Chamamos de
§ 1. — “Publica vectigalia” intellige- publicanus (publicano) quem arrenda
re debemus, ex quibus vectigal fiscus tributos do povo romano, pois a deno-
capit, quale est vectigal portus, vel ve- minação pública refere-se, por muitas
nalium rerum, item salinarum, et me- razões, ao povo romano; as cidades são
tallorum, et piscariarum. tidas como pessoas particulares.

18. PAULUS libro IX. ad Edictum. 17. ULPIANO, Comentários ao Edi-


— “Munus” tribus modis dicitur: uno to, Livro X. — Entre “coisas públicas”
donum, et inde munera dici, dari mit- não se contam coisas sacras, nem re-
tive; altero onus, quod quum remitta- ligiosas142, tampouco as destinadas ao
tur, vacationem militiae munerisque uso público, mas o que for das cidades
praestat, inde immunitatem appellari; como bens. Todavia, os pecúlios de es-
tertio officium, unde munera militaria,
et quosdam milites munificos vocari.
Igitur municipes dici, quod munera ci- 142
Sacra (coisas sagradas) e religiosa (coisas reli-
vilia capiant. giosas) não são sinônimos perfeitos. Sacrum
é o que é consagrado, separado do uso profa-
no; religiosum, o que é prescrito, o que obriga
sob juramento etc. Ver Glossário, sanctum,
sacrum, religiosum.

291
Livro L – Título XVI Digesto

cravo das cidades são, sem sombra de


19. ULPIANUS libro XI. ad Edictum. dúvida, considerados públicos.
— Labeo libro primo Praetoris urbani
definit, quod quaedam agantur, quae- § 1. Por publico vectigalia (tributos
dam gerantur, quaedam contrahantur. públicos)143 se entendem aqueles co-
Et “actum” quidem generale verbum brados pelo fisco, como os tributos
esse, sive verbis, sive re quid agatur, ut portuários, comerciais, de salinas, mi-
in stipulatione, vel numeratione; “con- neração e pesca.
tractum” autem ultro citroque obliga-
tionem, quod Graeci suna,llagma vo- 18. PAULO, Comentários ao edito,
cant, veluti emtionem, venditionem, Livro IX. — O termo “munus” tem três
locationem, conductionem, societa- acepções: uma significa presente, isto
tem; “gestum” rem significare sine ver- é, dar e mandar presentes; a segunda,
bis factam. função que, quando objeto de dispen-
sa, significa isenção do serviço militar
ou de função, daí chamar-se imunida-
de (in + munus). A terceira, de ofício,
função, daí se falar de funções milita-
res e alguns militares serem chamados
muníficos, isto é, cumpridores de suas
funções. Chamam-se, portanto, muní-
cipes os que exercem “munus” civil.

19. ULPIANO, Comentários ao Edi-


to, Livro XI. — Labeão, no livro pri-
meiro do pretor urbano, diz que algu-
20. IDEM libro XII. ad Edictum. — mas coisas são feitas, outras são geridas,
Verba: “contraxerunt, gesserunt”, non outras contratadas. “Feitas” são termos
pertinent ad testandi ius. gerais, pois algo pode ser feito por pa-
lavras ou materialmente, como numa
proposta ou num pagamento; “contra-
21. PAULUS libro XI. ad Edictum. — tadas” porém, que os gregos chamam
Princeps “bona” concedendo videtur sinálagma, envolvem obrigações de
etiam obligationes concedere. ambas as partes, como compra, ven-
da, locação, arrendamento, sociedade;

22. GAIUS libro IV. ad Edictum pro-


vinciale. — Plus est in restitutione, 143
Os tributos públicos eram cobrados por ar-
quam in exhibitione; nam “exhibere” rendamento pelos chamados “publicanos”
est, praesentiam corporis praebere, (item 16) e por cobrança direta e imediata
como taxas comerciais, portuárias etc.

292
Digesto Livro L – Título XVI

“restituere” est, etiam possessorem “realizadas” significa coisa feita sem


facere, fructusque reddere, pleraque palavras.
praeterea restitutionis verbo continen-
tur. 20. IDEM, Ibidem, Livro XII. — Ter-
mos como contraxerunt, gesserunt
23. ULPIANUS libro XIV. ad Edic- (contrataram, realizaram) não fazem
tum. — “Rei” appellatione et causae, et parte do direito de testar.
iura continentur.
21. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro XI. — Considera-se que o impe-
24. GAIUS libro VI. ad Edictum pro- rador, ao conceder bona (bens), trans-
vinciale. — Nihil est aliud “hereditas”, fere também as obrigações.
quam successio in universum ius, quod
defunctus habuit. 22. GAIO, Comentários ao Edito
25. PAULUS libro XXI. ad Edictum. Provincial, Livro IV. — Há mais na res-
— Recte dicimus eum fundum “totum” tituição do que na apresentação, pois o
nostrum esse, etiam quum ususfructus termo exhibere (apresentar) é tornar a
alienus est, quia ususfructus non do- coisa presente, e restituere (restituir) é
minii pars, sed servitutis sit, ut via et devolver a alguém a posse da coisa com
iter; nec falso dici, totum meum esse, seus frutos; além disso, o termo resti-
cuius non potest ulla pars dici alterius tuição inclui muitas outras coisas.
esse; hoc et Iulianus, et est verius.
23. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XIV. — Pelo termo res (ques-
tão) se compreendem tanto causas
como direitos.

§ 1. — Quintus Mucius ait, “partis” 24. GAIO, Comentários ao Edito


appellatione rem pro indiviso signifi- Provincial, Livro VI. — Hereditas (he-
cari; nam quod pro diviso nostrum sit, rança) nada mais é do que a sucessão
id non partem, sed totum esse; Servius, em todo o direito que fora do falecido.
non ineleganter partis appellatione 25. PAULO, Comentários ao Edito,
utrumque significari. Livro XXI. — Dizemos com razão que
um objeto é totum (todo) nosso, mes-
26. ULPIANUS libro XVI. ad Edic- mo que esteja em usufruto de outra
tum. — Partum non esse partem rei pessoa, pois o usufruto não é parte do
furtivae, Scaevola libro undecimo domínio, mas da servidão, como uma
Quaestionum scribit. estrada ou via. E não há impropriedade
na expressão totum meum est “é todo
meu”, referindo-se a objeto do qual ne-

293
Livro L – Título XVI Digesto

27. IDEM libro XVII. ad Edictum. — nhuma parte pode ser dita de outrem.
“Ager” est locus, qui sine villa est. Esse é também o parecer de Juliano, e é
o mais correto.

§ 1. — “Stipendium” a stipe appella- § 1. No dizer de Quinto Múcio, por


tum est, quod per stipes, id est modica pars (parte) se entende algo indiviso,
aera colligatur. Idem hoc etiam “tribu- pois o que, dividido, é nosso, isso não é
tum” appellari, Pomponius ait. Et sane parte, mas todo. Sérvio diz com muita
appellatur ab intributione tributum, vel propriedade que por “parte” se enten-
ex eo, quod militibus tribuatur. dem ambas as coisas.

26. ULPIANO, Comentários ao Edi-


28. PAULUS libro XXI. ad Edictum. to, Livro XVI. — Cévola escreve em
— “Alienationis” verbum etiam usuca- seu Livro XI das Questões que filho
pionem continet; vix est enim, ut non nascido de escrava raptada não faz par-
videatur alienare, qui patitur usucapi. te da coisa roubada.
Eum quoque alienare dicitur, qui non
utendo amisit servitutes. Qui occasio- 27. IDEM, Ibidem, Livro XXI. —
ne acquirendi non utitur, non intelli- Ager (campo) é uma área sem nenhu-
gitur alienare, veluti qui hereditatem ma construção.
omittit, aut optionem intra certum
tempus datam non amplectitur. § 1. “Estipêndio”, de stips (moeda de
cobre de pouco valor), é moeda que
se arrecada de pouco valor. Segundo
Pompônio, é chamado também de tri-
butum (tributo). Com razão é assim
§ 1. — Oratio, quae neque coniunctio- chamado no sentido de contribuição
nem, neque disiunctionem habet, ex ou do fato de ser pago a militares.
mente pronuntiantis vel disiuncta, vel
coniuncta accipitur; 28. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro XXI. — O termo alienatio (alie-
29. IDEM libro LXVI. ad Edictum. — nação) abrange também usucapião. É
“coniunctionem” enim nonnunquam difícil conceber que não aliena quem
pro disiunctione accipi, Labeo ait, ut in sofre o usucapião. Diz-se também
illa stipulatione: “mihi heredique meo, alienar quem, por não usá-las, perde
te heredemque tuum”. servidões. Quem deixa de adquirir,
podendo adquirir, isso não pode ser
30. GAIUS libro VII. ad Edictum entendido como alienação, do mesmo
provinciale. — “Silva caedua” est, ut modo quem deixa de receber uma he-
quidam putant, quae in hoc habetur, ut rança ou não aproveita uma opção que

294
Digesto Livro L – Título XVI

caederetur. Servius eam esse, quae suc- lhe é dada dentro de determinado pra-
cisa rursus ex stirpibus aut radicibus zo.
renascitur.
§ 1. Uma oração que não tem conjun-
§ 1. — “Stipula illecta” est, spicae in ção conjuntiva nem disjuntiva é enten-
messe deiectae, necdum lectae, quas dida como conjuntiva ou disjuntiva
rustici, quum vacaverint, colligunt. conforme a mente de quem a profere.

29. IDEM, Ibdem, Livro LXVI. — diz


Labeão que às vezes uma coniunctio
§ 2. — “Novalis” est, terra praecisa, quae conjuntiva é tomada como disjuntiva,
anno cessavit, quam Graeci ne,asin vo- como nesta proposição: “eu e meu her-
cant. deiro, tu e teu herdeiro”.

§ 3. — “Integra” autem est, in quam 30. GAIO, Comentários ao Edito,


nondum dominus pascendi gratia pe- Livro VII. — Silva caedua (floresta de
cus immisit. corte) para alguns significa floresta
que pode ser desmatada. Para Sérvio é
§ 4. — “Glans caduca” est, quae ex ar- a que, derrubada, renasce de suas cepas
bore cecidit. ou raízes.

§ 5. — “Pascua silva” est, quae pastui § 1. Stipula illecta (espiga não colhida)
pecudum destinata est. são espigas caídas durante a messe e
ainda não recolhidas, que os campesi-
nos apanham quando estão desocupa-
31. ULPIANUS libro XVIII. ad Edic- dos.
tum. — “Pratum” est, in quo ad fruc-
tum percipiendum falce duntaxat opus § 2. Novalis (pousio) é o estado da ter-
est, ex eo dictum, quod paratum sit ad ra lavrada e não cultivada num ano,
fructum capiendum. que os gregos chamam de néasin.

§ 3. Intacta (não utilizada) é a terra


32. PAULUS libro XXIV. ad Edictum. cujo dono ainda não a utilizou para
— “Minus” solutum intelligitur, etiam- pasto do rebanho.
si nihil esset solutum.
§ 4. Glans caduca (fruto caído) são
frutos caídos de carvalho ou azinheira.
33. ULPIANUS libro XXI. ad Edic-
tum. — “Palam” est, coram pluribus.

295
Livro L – Título XVI Digesto

§ 5. Pascua silva (pastagem nativa) é


a destinada à pastagem de animais de
34. PAULUS libro XXIV. ad Edictum. pequeno porte.
— “Actionis” verbo etiam persecutio
continetur. 31. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XVIII. — Por pratum (prado)
35. IDEM libro XVII. ad Edictum. — se entende área da qual, para colher o
“Restituere” autem is intelligitur, qui fruto, basta o trabalho de foice, daí sua
simul et causam actori reddit, quam is origem de “paratum”, isto é, preparado
habiturus esset, si statim iudicii accepti para o colheita.
tempore res ei reddita fuisset, id est et
usucapionis causam, et fructuum. 32. PAULO, Comentários ao Edi-
to, Livro XXIV. — Por minus solutum
(pago a menos) entende-se como nada
36. ULPIANUS libro XXIII. ad Edic- ter sido pago.
tum. — “Litis” nomen omnem actio-
nem significat, sive in rem, sive in per- 33. ULPIANO, Comentários ao Edi-
sonam sit. to, Livro XXI. — Por palam (aberta-
mente) entende-se como diante de
37. PAULUS libro XXVI. ad Edictum. muitas pessoas.
— Verbum “oportere”, non ad facul-
tatem iudicis pertinet, qui potest vel 34. PAULO, Comentários ao Edito,
pluris, vel minoris condemnare, sed ad Livro XXIV. — Por actio (ação) enten-
veritatem refertur. de-se também “processo”.

38. ULPIANUS libro XXV. ad Edic- 35. IDEM, Ibidem, Livro XVII. —
tum. — “Ostentum” Labeo definit: Entende-se, porém, por restituere (res-
omne contra naturam cuiusque rei ge- tituir) quem devolve, ao mesmo tem-
nitum factumque. Duo genera autem po, devolve ao reclamante o direito e os
sunt ostentorum: unum, quoties quid frutos que teria tido se a coisa lhe tives-
contra naturam nascitur, tribus mani- se sido devolvida na ocasião do ajuiza-
bus forte aut pedibus, aut qua alia parte mento da questão, isto é, o direito do
corporis, quae naturae contraria est; usucapião e seus frutos.
alterum, quum quid prodigiosum vi- 36. ULPIANO, Comentários ao Edi-
detur, quae Graeci fanta,smata vocant. to, Livro XXIII. — O termo lis (litígio)
abrange toda ação quer quanto a coisas
quer quanto a pessoas.

37. PAULO, Comentários ao Edi-


to, Livro XXVI. — O termo oportere

296
Digesto Livro L – Título XVI

39. PAULUS libro LIII. ad Edictum. (convir) não diz respeito à faculdade
— “Subsignatum” dicitur, quod ab ali- do juiz, que pode condenar a mais ou
quo subscriptum est; nam veteres sub- a menos, mas à verdade.
signationis verbo pro adscriptione uti
solebant. 38. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XXV. — Labeão assim define
§ 1. — “Bona” intelliguntur cuiusque, ostentum (anomalia): tudo o que é ge-
quae deducto aere alieno supersunt. rado e produzido contra a natureza de
alguma coisa. Há duas espécies de ano-
malia: a primeira, toda vez que nasce
§ 2. — “Detestari” est, absenti denun- algum ser contra a natureza, por exem-
tiare. plo, com três mãos ou três pés ou qual-
quer outra parte do corpo, que é con-
§ 3. — “Incertus” possessor est, quem trário ao normal; outra, quando algo
ignoramus. parece prodigioso, fora do normal, o
40. ULPIANUS libro LVI.– “Detesta- que os gregos chamam de “fantasmas”
tio” est, denuntiatio facta cum testatione. (imagens sem consistência).

39. PAULO, Comentários ao Edi-


§ 1. — “Servi” appellatio etiam ad an- to, Livro LIII. — Subsignatum (sub-
cillam refertur. signado) diz-se o que é subscrito por
alguém. Os antigos costumavam usar
§ 2. — “Familiae” appellatione liberi subsignado em vez de assinado.
quoque continentur.
§ 1. Entende-se por bona (patrimô-
nio, bens) tudo o que é possuído por
§ 3. — Unicus servus familiae appella- alguém, após dedução das dívidas.
tione non continetur; ne duo quidem
familiam faciunt. § 2. Detestari é citar alguém ausente
com testemunhas.
41. GAIUS libro XXI. ad Edictum
provinciale. — “Armorum” appellatio § 3. Possuidor incerto é possuidor que
non utique tantum scuta, et gladios, et ignoramos.
galeas significat, sed et fustes, et lapi- 40. ULPIANO, Comentários ao Edi-
des. to, Livro LVI. — Detestatio é denúncia
feita com provas.
42. ULPIANUS libro LVII. ad Edic-
tum. — “Probrum” et “opprobrium” § 1. Pelo termo servus (escravos) es-
idem est; probra quaedam natura tur- tende-se também a escrava.
pia sunt, quaedam civiliter, et quasi

297
Livro L – Título XVI Digesto

more civitatis; ut puta furtum, adulte- § 2. O termo familia (conjunto de es-


rium, natura turpe est; enimvero tute- cravos de um só senhor) inclui tam-
lae damnari, hoc non natura probrum bém seus descendentes.
est, sed more civitatis; nec enim natura
probrum est, quod potest etiam in ho- § 3. Um único escravo não constitui
minem idoneum incidere. familia (conjunto de escravos de um só
senhor); de fato, nem dois o fazem.

41. GAIO, Comentários ao Edito, Li-


43. IDEM libro LVIII. ad Edictum. — vro XXI. — Pelo nome arma (armas)
Verbo “victus” continentur, quae esui, entendem-se não só escudos, espadas
potuique, cultuique corporis, quaeque e elmos, mas também bordunas e pe-
ad vivendum homini necessaria sunt. dras.
“Vestem” quoque victus habere vicem
Labeo ait; 42. ULPIANO, Comentários ao Edi-
44. GAIUS libro XXII. ad Edictum to, Livro LVII. — Probrum e oppro-
provinciale. — et cetera, quibus tuendi brium (torpeza e opróbrio) são a mes-
curandive corporis nostri gratia uti- ma coisa: algumas coisas são torpes
mur, ea appellatione significantur. por natureza, outras, segundo a lei civil
ou o costume do lugar; por exemplo, o
furto, o adultério são torpes por natu-
45. ULPIANUS libro LVIII. ad Edic- reza; mas, ser condenado a tutela não é
tum. — In “stratu” omne vestimentum coisa infamante por natureza, mas se-
contineri, quod iniciatur, Labeo ait; ne- gundo o costume do lugar. Tampouco é
que enim dubium est, quin “stragula” torpeza por natureza o que pode acon-
vestis sit omne pallium, peri,strwma. tecer também a uma pessoa honesta.
In victu ergo vestem accipiemus, non
stragulam, in stratu omnem stragulam 43. IDEM, Ibidem, Livro LVIII. —
vestem. Por victus (sustento) se compreendem
comida, bebida e cuidados físicos e
tudo o mais de que o homem precisa
46. IDEM libro LIX. ad Edictum. — para viver. Para Labeão, a roupa tam-
‘“Pronuntiatum” et “statutum” idem bém faz parte do sustento.
potest, promiscue enim et pronuntias- 44. GAIO, Comentários ao Edito
se et statuisse solemus dicere eos, qui Provincial, Livro XXII. — tudo o mais
ius habent cognoscendi. de que nos servimos para cuidar da
saúde e mantê-la é abrangido pela sig-
nificação do termo.
§ 1. — “Matremfamilias” accipere de-
bemus eam, quae non inhoneste vixit;

298
Digesto Livro L – Título XVI

matrem enim familias a ceteris femi- 45. ULPIANO, Comentários ao Edi-


nis mores discernunt, atque separant; to, Livro XVIII. — Diz Labeão que sob
proinde nihil intererit, nupta sit, an o termo stratus (coberta) compreende-
vidua,ingenua sit, an libertina; nam -se tudo o que é jogado por cima. Não
neque nuptiae, neque natales faciunt há dúvida de que todo manto serve
matremfamilias, sed boni mores. para cobrir, o que os gregos chamam
perístroma. Portanto, incluiremos sob
o termo victus (sustento) toda veste,
mas não a coberta que cobre o leito.
47. PAULUS libro LVI. ad Edictum.
— “Liberationis” verbum eandem vim 46. IDEM, Ibidem, Livro LIX. — Pro-
habet, quam solutionis. nuntiatum (declarado) e statutum (es-
tabelecido) têm o mesmo efeito, pois
costumamos dizer, sem qualquer dis-
48. GAIUS libro ad Edictum Praeto- tinção, que os juízes declararam e esta-
ris urbani, titulo: Qui neque sequantur beleceram.
neque ducantur. — “Solutum” non in-
telligimus eum, qui, licet vinculis leva- § 1. Por materfamilias (mãe de famí-
tus sit, manibus tamen tenetur; ac ne lia) devemos compreender a mulher
eum quidem intelligimus solutum, qui que não viveu desonestamente, pois
in publico sine vinculis servatur. uma mãe de família se distingue, pelos
costumes, das demais mulheres. Por
conseguinte, pouco importa se é casa-
49. ULPIANUS libro LIX. ad Edic- da, viúva, livre ou liberta. Pois não é o
tum. — “Bonorum” appelatio aut natu- casamento nem o nascimento que faz
ralis, aut civilis est; naturaliter bona ex uma mãe de família, mas os bons cos-
eo dicuntur, quod beant, hoc est, bea- tumes.
tos faciunt; beare est prodesse. In bonis
autem nostris computari sciendum est, 47. PAULO, Comentários ao Edito,
non solum quae dominii nostri sunt, Livro LVI. — O termo liberatio (libe-
sed et si bona fide a nobis possideantur, ração) tem sentido equivalente a quita-
vel superficiaria sint. Aeque bonis ad- ção.
numerabitur, etiam si quid est in actio-
nibus, petitionibus, persecutionibus; 48. GAIO, Livro de Comentários ao
nam haec omnia in bonis esse videntur. Edito do Pretor urbano sob o título:
Quem não deve ser seguido nem pre-
so. — Não consideramos solutum (li-
vre) quem, embora sem ferros, tem as
mãos presas, e tampouco é livre quem,

299
Livro L – Título XVI Digesto

50. IDEM libro LXI. ad Edictum. — em lugar público é custodiado sem fer-
“Nurus” appellatio etiam ad pronurum ros.
et ultra porrigenda est.
49. ULPIANO, Comentários ao Edi-
51. GAIUS libro XXIII. ad Edictum to, Livro XIX. — O termo bona (bens)
provinciale. — Appellatione “paren- tem duas acepções: bens naturais e
tis” non tantum pater, sed etiam avus, bens civis. Bens naturais são os bens
et proavus, et deinceps omnes superio- da natureza que fazem as pessoas feli-
res continentur; sed et mater, et avia, et zes. Ser feliz é servir-se das coisas. Em
proavia. nossos bens, entretanto, convém saber
distinguir não só os que estão sob o
52. ULPIANUS libro LXI. ad Edic- nosso domínio, mas também os que,
tum. — “Patroni” appellatione et pa- de boa-fé, são possuídos por nós, ou
trona continetur. são de usufruto, inclusive nossos bens
envolvidos em ações, demandas e pro-
cessos, pois tudo isso parece fazer parte
53. PAULUS libro LIX. ad Edictum dos bens.
provinciale. — Saepe ita comparatum
est, ut coniuncta pro disiunctis acci- 50. IDEM, Ibidem, Livro LXI. — Por
piantur, et disiuncta pro coniunctis, nurus (nora) se há de entender tam-
interdum soluta pro separatis; nam bém a mulher do neto e mesmo além.
quum dicitur apud veteres: “agnato-
rum gentiliumque”, pro separatione 51. GAIO, Comentários ao Edito
accipitur. At quum dicitur: “super pe- Provincial, Livro XXIII. — Pelo nome
cuniae tutelaeve suae”, tutor separatim de parens (ascendente) se incluem não
sine pecunia dari non potest. Et quum só o pai, mas também o avô e o bisavô,
dicimus: “quod dedi, aut donavi”, utra- e assim em diante. Como também, a
que continemus. Quum vero dicimus: mãe, a avó e a bisavó.
“quod eum dare facere oportet”, quod-
vis eorum sufficit probare. Quum vero 52. ULPIANO, Comentários ao Edi-
dicit Praetor: “si donum, munus, ope- to, Livro LXI. — O termo patronus
ras redemerit”, si omnia imposita sunt, (senhor de liberto) abrange também o
certum est, omnia redimenda esse. feminino patrona (senhora de liberto).

53. PAULO, Comentários ao Edito


Provincial, Livro LIX. — Muitas ve-
§ 1. — Ex re ergo pro coniunctis ha- zes se observa que coisas distintas são
bentur, si quaedam imposita sunt, ce- tomadas conjuntamente e coisas con-
tera non desiderabuntur. juntas o são como distintas, e às vezes
coisas independentes como coisas dis-

300
Digesto Livro L – Título XVI

tintas. Pois, como se diz entre nossos


§ 2. — Item dubitatum, illa verba: “ope, maiores, agnati e gentiles (parentes e
consilio”, quemadmodum accipienda colaterais) são entendidos como coisas
sunt, sententiae coniungentium, aut distintas. Mas quando falamos de bens
separantium. Sed verius est, quod et e tutela, não há como falar de tutor se-
Labeo ait, separatim accipienda, quia parado dos bens. E quando dizemos “o
aliud factum et eius, qui ope, aliud eius, que dei ou doei”, entende-se uma coisa
qui consilio furtum facit; sic enim alii e outra. Mas quando dizemos: “convém
condici potest, alii non potest; et sane que ele dê ou faça”, basta provar qual-
post veterum auctoritatem eo perven- quer das opções. Mas se disser o pre-
tum est, ut nemo ope videatur fecisse, tor: “se resgatar presente, função, servi-
nisi et consilium malignum habuerit, ços”, se tudo foi imposto, tudo deve ser
nec consilium habuisse noceat, nisi et cumprido.
factum secutum fuerit.
§ 1. Segue, portanto, que se se conside-
ram as coisas em conjunto, se algumas
foram impostas, as demais não serão
consideradas obrigatórias.

54. ULPIANUS libro LXII. ad Edic- § 2. De mesmo modo, convém indagar


tum. — “Conditionales” creditores di- como devem ser entendidas estas ex-
cuntur et hi, quibus nondum competit pressões com a ajuda e com o conselho:
actio, est autem competitura, vel qui separada ou juntamente. A mais certa é
spem habent, ut competat. a opinião de Labeão, de que devem ser
entendidas separadamente, pois uma
coisa é fazer um furto com a ajuda ou
55. PAULUS libro XVI. brevis Edicti. com o conselho de alguém. No primei-
— “Creditor” autem is est, qui excep- ro caso, quem ajuda pode ser envolvido
tione perpetua summoveri non potest; e, no outro, não, e com razão. Segun-
qui autem temporalem exceptionem do antigas leis de nossos maiores, nin-
timet, similis est conditionali creditori. guém parece cometer algum delito se
antes não teve um conselho maligno,
mas, por outro lado, o conselho malig-
56. ULPIANUS libro LXII. ad Edic- no não tem nenhum efeito nocivo se
tum. — “Cognoscere” instrumenta est, não for seguido do fato.
relegare et recognoscere, “dispungere”
est, conferrre accepta et data. 54. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LXII. — Chamam-se credores
conditionales (condicionais) aqueles
aos quais ainda não compete ação, mas

301
Livro L – Título XVI Digesto

§ 1. — “Liberorum” appellatione con- que lhes há de competir ou têm espe-


tinentur non tantum, qui sunt in potes- rança de que lhes competirá.
tate, sed omnes, qui sui iuris sunt, sive
virilis, sive feminini sexus sunt, exve 55. PAULO, Breve Edito, Livro XVI.
feminini sexus descendentes. — Creditor (credor) é aquele que não
pode ser afastado por exceção perem-
57. PAULUS libro LIX. ad Edictum. potória; quem, todavia, tem exceção
— Cui praecipua cura rerum incumbit, temporária é semelhante ao credor
et qui magis, quam ceteri diligentiam et condicional.
sollicitudinem rebus, quibus praesunt,
debent, hi “magistri” appellantur; qui 56. ULPIANO, Comentários ao Edi-
etiam ipsi “magistratus” per derivatio- to, Livro LXII. — Cognoscere (conhe-
nem a magistris cognominantur. Unde cer) os autos é lê-los e analisá-los e dis-
etiam cuiuslibet disciplinae praecepto- pungere (fazer balanço) é equilibrar a
res, magistros appellari a monendo vel receita e a despesa.
monstrando.
§ 1. Por liberi (filhos) se entendem não
só os que estão sob o pátrio poder, mas
todos os que são de direito próprio, se-
jam do sexo masculino ou feminino,
§ 1. — “Persequi” videtur et qui satis ou descendentes do sexo feminino.
accepit.
57. PAULO, Comentários ao Edi-
to, Livro LIX. — Chamam-se magis-
58. GAIUS libro XXIV. ad Edictum tri (executivos, executores) aqueles a
provinciale. — Licet inter “gesta” et quem incumbe a principal responsabi-
“facta” videtur quaedam esse subtilis lidade das coisas e aqueles que, mais do
differentia, attamen katac’rhstikw/j que outros, devem diligência e solici-
[abusive] nihil inter factum et gestum tude às coisas a que presidem. Os pró-
interest. prios “magistrados” assim se denomi-
nam por derivação de magister (quem
§ 1. — Paternos libertos recte videmur manda). Daí também, os preceptores
dicere “nostros” libertos, liberorum li- de qualquer disciplina serem chama-
bertos non recte “nostros” libertos di- dos mestres por instruir e ensinar.
cimus.
§ 1. Quem recebeu boa fiança parece
59. ULPIANUS libro LXVIII. ad Edic- também poder persequi (demandar)
tum. — “Portus” appellatus est conclu- quem aceitou fiança.
sus locus, quo importantur merces, et
inde exportantur; eaque nihilominus

302
Digesto Livro L – Título XVI

statio est conclusa, atque munita, inde 58. GAIO, Comentários ao Edito
angiportum dictum est. Provincial, Livro XXIV. — Embora
pareça haver diferença sutil entre ges-
ta (o que é realizado) e facta (o que é
60. IDEM libro LXIX. ad Edictum. feito), não há nenhuma distinção entre
— “Locus” est non fundus, sed portio realizar e fazer.
aliqua fundi, “fundus” autem integrum
aliquid est; et plerumque sine villa lo- § 1. Acertadamente chamamos “nos-
cum accipimus. Ceterum adeo opinio sos” os libertos de nossos pais, mas
nostra et constitutio locum a fundo não chamamos corretamente “nossos”
separat, ut et modicus locus possit fun- libertos de nossos filhos.
dus dici, si fundi animo eum habuimus.
Non etiam magnitudo locum a fundo 59. ULPIANO, Comentários ao Edi-
separat, sed nostra affectio; et quaelibet to, Livro LXVIII. — Portus (porto) é
portio fundi poterit fundus dici, si iam um lugar fechado por onde chegam e
hoc constituerimus. Nec non et fundus de onde se exportam mercadorias. Por
locus constitui potest; nam si eum alii se tratar de local fechado e fortificado é
adiunxerimus fundo, locus fundi effi- chamado de angiportus (beco sem saí-
cietur. da)

60. IDEM, Ibidem, Livro LXIX. —


§ 1. — Loci appellationem non solum Locus (lugar) não é uma área, mas par-
ad rustica, verum ad urbana quoque te de uma área; fundus (área), porém,
praedia pertinere, Labeo scribit. é uma área global, em geral sem casa.
Mas, em nosso parecer e segundo sua
§ 2. — Sed fundus quidem suos habet própria natureza, lugar se distingue de
fines, locus vero latere potest, quatenus área, de modo que um lugar de peque-
determinetur, et definiatur. na dimensão pode chamar-se área se o
concebemos como área. A dimensão
61. PAULUS libro LXV. ad Edictum. tampouco distingue lugar de área, mas
— “Satisdationis” appellatione inter- nossa preferência. E qualquer parte de
dum etiam repromissio continebitur, uma área pode ser chamada de área,
qua contentus fuit is, cui satisdatio de- se assim já o estabelecemos. Uma área
bebatur. pode também tornar-se lugar, pois se
agregada a outra área, tornar-se-á parte
62. GAIUS libro XXVI. ad Edictum dessa área.
provinciale. — “Tigni” appellatione in
lege duodecim Tabularum omne genus § 1. Escreve Labeão que o termo loci
materiae, ex qua aedificia constant, sig- (lugar, local) aplica-se não só a imóveis
nificatur. rurais como também a urbanos.

303
Livro L – Título XVI Digesto

§ 2. Mas uma área, na verdade, tem


63. ULPIANUS libro LXXI. ad Edic- seus limites, enquanto lugar pode não
tum. — “Penes te” amplius est, quam ter até que se determinem e se definam.
“apud te”; nam apud te est, quod qua-
literqualiter a te teneatur, penes te est, 61. PAUJLO, Comentários ao Edito,
quod quodammodo possidetur. Livro LXV. — Por satisdatio (ação de
dar caução) às vezes compreende tam-
bém a promessa com a qual se conten-
tou a pessoa a quem se devia a caução.
64. PAULUS libro LXVII. ad Edic-
tum. — “Intestatus” est, non tantum 62. GAIO, Comentários ao Edito
qui testamentum non fecit, sed etiam Provincial, Livro XXVI. — Pelo termo
cuius ex testamento hereditas adita tignum (madeira aparelhada), a Lei das
non est. Doze Tábuas entende toda espécie de
madeira, de que se faz uso nas constru-
65. ULPIANUS libro LXXII. ad ções.
Edictum. — “Heredis” appellatio non
solum ad proximum heredem, sed et 63. ULPIANO, Comentários ao Edi-
ad ulteriores refertur; nam et heredis to, Livro LXXI. — Penes te (em teu
heres, et deinceps, heredis appellatione poder) tem sentido mais amplo do que
continetur. apud te (em tua casa), pois em tua casa
está tudo o que, de uma maneira ou de
66. IDEM libro LXXIV. ad Edictum. outra, é teu, enquanto estar em teu po-
— “Mercis” appellatio ad res mobiles der implica alguma forma de posse.
tantum pertinet.
64. PAULO, Comentários ao Edito,
67. IDEM libro LXXVI. ad Edictum. Livro LXVII. — Intestatus (intestado) é
— “Alienatum” non proprie dicitur, não só aquele que não fez testamento,
quod adhuc in dominio venditoris ma- mas igualmente quem, em seu testa-
net; venditum tamen recte dicetur. mento, não fala de herança.

65. ULPIANO, Comentários ao Edi-


§ 1. — “Donationis” verbum simpli- to, Livro LXXII. — Pelo termo heres
citer loquendo, omnem donationem (herdeiro) entende-se não só o her-
comprehendisse videtur, sive mortis deiro imediato mas também herdeiros
causa, sive non mortis causa fuerit. mais distantes, como herdeiro do her-
deiro e daí por diante.
68. IDEM libro LXXVII. ad Edictum.
— Illa verba: “arbitratu Lucci Titii fi-

304
Digesto Livro L – Título XVI

eri”, ius significant, et in servum non 66. IDEM, Ibidem, Livro LXXIV. —
cadunt. O termo merces (mercadoria) aplica-se
exclusivamente a bens móveis.
69. IDEM libro LXXVIII. ad Edic-
tum. — Haec verba: “cui rei dolus ma- 67. IDEM, Ibidem, Livro LXXVI. —
lus aberit, abfuerit”, generaliter com- Alienatum (alienado) não significa o
prehendunt omnem dolum, quicunque que ainda permanece em poder do
in hanc rem admissus est, de qua stipu- vendedor; dir-se-á com mais proprie-
latio est interposita. dade vendido.

70. PAULUS libro LXXIII. ad Edic- § 1. A palavra donatio (doação), na


tum. — Sciendum est, “heredem” linguagem comum, parece abranger
etiam per multas successiones accipi; toda espécie de doação, seja por morte
nam paucis speciebus heredis appella- ou não.
tio proximum continet, veluti in subs-
titutione impuberis: “quisquis mihi 68. IDEM, Ibidem, Livro LXXVII. —
heres erit, idem filio heres esto”, ubi he- A frase “faça-se ao arbítrio de Lúcio
redis heres non continetur, quia incer- Tício” significa direito, e não se aplica
tus est. Item in lege Aelia Sentia filius a escravo.
heres proximus potest libertum pater-
num ut ingratum accusare, non etiam 69. IDEM, Ibidem, Livro LXXVIII.
si heredi heres extiterit. Idem dicitur — Estas palavras: “no que não há nem
in operarum exactione, ut filius heres haverá má-fé” compreendem, de uma
exigere possit, non ex successione ef- maneira geral, todo dolo, qualquer que
fectus. seja introduzido no negócio, a respeito
do qual foi interposta essa cláusula.

70. PAULO, Comentários ao Edito,


Livro LXXIII. — Convém saber que
§ 1. — Verba haec: “is, ad quem ea res o termo haeres (herdeiro) compreen-
pertinet”, sic intelliguntur, ut, qui in de muitas sucessões; pois raramente o
universum dominium, vel iure civili, termo indica o herdeiro mais próximo,
vel iure Praetorio succedit, contineatur. como na substituição de um impúbere:
“quem quer que seja meu herdeiro, será
71. ULPIANUS libro LXXIX. ad herdeiro de meu filho”, caso em que
Edictum. — Aliud est “capere”, aliud não se menciona o herdeiro do herdei-
“accipere”; capere, cum effectu accipi- ro por ser incerto. Do mesmo modo,
tur; accipere, etsi quis non accepit, ut na Lei Égia Sência, um filho, herdeiro
habeat; ideoque non videtur quis ca- imediato, pode acusar de ingrato um
pere, quod erit restituturus, sicut “per- liberto do pai, não porém o herdeiro

305
Livro L – Título XVI Digesto

venisse” proprie illud dicitur, quod est que sobreviver a esse herdeiro. O mes-
remansurum. mo acontece na cobrança de dias de
trabalho, que um filho herdeiro pode
exigir do liberto, mas não por causa da
§ 1. — Haec verba: “his rebus recte sucessão.
praestari”, hoc significant, ne quid pe-
riculum, vel damnum ex ea re stipula- § 1. A frase “aquele a quem pertence o
tor sentiret. bem” refere-se a herdeiro que sucedeu
no domínio universal ou pelo direito
72. PAULUS libro LXXVI. ad Edic- civil ou pelo direito pretoriano.
tum. — Appellatione “rei” pars etiam
continetur. 71. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LXXIX. — Uma coisa é capere
73. ULPIANUS libro LXXX. ad Edic- (adquirir), outra é accipere (receber).
tum. — Haec verba in stipulatione po- Adquirir é receber efetivamente; rece-
sita: “eam rem recte restitui”, fructus ber, mesmo que não receba, é para ter.
continent; “recte” enim verbum pro Por isso, não parece alguém adquirir o
viri boni arbitrio est. que haverá de restituir, como algo que
“tivesse chegado” às suas mãos para fi-
car.

74. PAULUS libro II. ad Edictum § 1. Estes termos “por essas coisas se
Aedilium currulium. — Signatorius prestará a devida conta” significam que
annulus “ornamenti” appellatione non o estipulante não sofrerá nenhum risco
continetur. nem dano.

75. IDEM libro L. ad Edictum. — 72. PAULO, Comentários ao Edito,


“Restituere” is videtur, qui id restituit, Livro LXXVI. — Por res (bem) enten-
quoad habiturus esset actor, si contro- de-se também parte dele.
versia ei facta non esset.
73. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LXXX. — Estas palavras in-
76. IDEM libro LI. ad Edictum. — cluídas numa cláusula: “o bem deve ser
“Dedisse” intelligendus est etiam is, qui devidamente restituído” compreendem
permutavit, vel compensavit. os rendimentos; pois, o “devidamente”
equivale ao substitui o arbítrio de uma
77. IDEM libro XLIX. ad Edictum. — pessoa de bem.
“Frugem” pro reditu appellari non so-
lum quod frumentis aut leguminibus, 74. PAULO, Comentários ao Edito
verum et quod ex vino, silvis caeduis, de Edis Curruis, Livro II. — Por “anel-

306
Digesto Livro L – Título XVI

cretifodinis, lapidicinis capitur. Iulia- -sinete” não se entende objeto de ador-


nus, scribit, fruges omnes esse, quibus no.
homo vescatur, falsum esse; non enim
carnem, aut aves ferasve, aut poma fru- 75. IDEM, Ibidem, Livro L. — Res-
ges dici. “Frumentum” autem id esse, tituere (restituir), parece, é a ação de
quod arista se teneat, recte Gallum de- devolver alguma coisa que o reclaman-
finisse, lupinum vero et fabam fruges te haveria de ter se não tivesse havido
potius dici, quia non arista, sed siliqua contestação.
continentur; quae Servus apud Alfe-
num in frumento contineri putat. 76. IDEM, Ibidem, Livro LI. — “Ter
dado” equivale também ter permutado
ou compensado.

77. IDEM, Ibidem, Livro LXIX. —


78. PAULUS libro XLIX. ad Plautium. Frux (Produto da terra) não significa
— Interdum proprietatem quoque ver- apenas o que se apura de cereais ou le-
bum “possessionis” significat, sicut in gumes, mas também da vinha, da ma-
eo, qui possessiones suas legasset, res- deira, de minas de gesso, de pedreiras.
ponsum est. Escreve Juliano que é errado chamar de
produtos da terra tudo o de que o ho-
mem se alimenta, pois não se diz que
79. IDEM libro VI. ad Plautium. — carne, aves e animais ou frutas sejam
Impensae “necessariae” sunt, quae si produtos da terra. Mas Gaio definiu
factae non sint, res aut peritura, aut de- acertadamente que “grão” é tudo o que
terior futura sit. é produzido em espiga, enquanto o tre-
moço e a fava são tidos como frutos
§ 1. — “Utiles” impensas esse Fulcinius porque produzidos não em espiga, mas
ait, quae meliorem dotem faciant non dentro de vagem, coisas que na opinião
deteriorem esse non sinant; ex quibus de Sérvio, citado por Alfeno, incluem-
reditus mulieri acquiratur, sicuti ar- -se entre os grãos.
busti pastinatione ultra quam neces-
se fuerat. Item doctrinam puerorum, 78. PAULO, Comentários a Plaucio,
quorum nomine onerari mulierem ig- Livro XLIX. — Às vezes, pelo termo
norantem vel invitam non oportet, ne possessio (posse) entende-se também
cogatur fundo, aut mancipiis carere. In propriedade, como é o caso, conforme
his impensis et pistrinum, et horreum foi respondido, de quem deixou posses
insulae dotali adiectum plerumque di- em testamento.
cemus.

307
Livro L – Título XVI Digesto

79. IDEM, Ibidem, Livro VI. — São


gastos “necessários” aqueles sem os
§ 2. — “Voluptariae” sunt, quae spe- quais o bem se perde ou se deteriora.
ciem duntaxat ornant, non etiam fruc-
tum augent, ut sunt viridia, et aquae
salientes, incrustationes, loricationes, § 1. Despesas “úteis”, diz Fulcínio, são
picturae. despesas que melhoram o dote, e não
as que não deixam o bem deteriorar-se.
80. IDEM libro IX. ad Plautium. — In São despesas com as quais se obtém
generali repetitione “legatorum” etiam mais rendimento para uma mulher,
datae libertates continentur ex mente por exemplo, a cultura de um bosque
legis duodecim Tabularum. além do necessário. Do mesmo modo,
não convém, sem seu consentimen-
to ou contra sua vontade, onerar uma
mulher com despesas de instrução de
81. IDEM libro X. ad Plautium. — crianças, para não se ver forçada a dis-
Quum Praetor dicat, ut opus factum por de seus bens ou de escravos. A es-
“restituatur”, etiam damnum datum ac- ses gastos que impendem sobre o dote,
tor consequi debet; nam verbo restitu- diremos, somam-se despesas com pão
tionis omnis utilitas actoris continetur. e cereais.

§ 2. Chamam-se voluptaria (graciosas)


82. IDEM libro XIV. ad Plautium. — despesas que só embelezam e não au-
Verbum “amplius” ad eum quoque per- mentam os rendimentos, como jardins,
tinet, cui nihil debetur, sicuti ex con- jorros d’água, revestimento de mármo-
trario minus solutum videtur, etiamsi re, assoalhos, pinturas.
nihil esse exactum.
80. IDEM, Ibidem, Livro IX. — Na
reivindicação comum de “legados” es-
83. IAVOLENUS libro V. ex Plautio. tão, no espírito da Lei das XII Tábuas144,
— Proprie “bona” dici non possunt, também as dações de liberdade.
quae plus incommodi, quam commodi
habent. 81. IDEM, Ibidem, Livro X. — Quan-
do um pretor ordena a restitutio (resti-
84. PAULUS libro II. ad Vitellium. — tuição) da obra feita, o autor deve ser
“Filii” appellatione omnes liberos intel- também indenizado por dano sofrido,
ligimus.

85. MARCELLUS libro I. Digesto-


rum. — Neratius Priscus tres facere
144
Glossário, Lei das XII Tábuas, legados.

308
Digesto Livro L – Título XVI

existimat collegium; et hoc magis se- pois no termo “restituição” está incluí-
quendum est. do tudo o que é do interesse do autor.

86. CELSUS libro V. Digestorum. — 82. IDEM, Digesto, Livro XIV. — O


Quid aliud sunt “iura praediorum”, termo amplius (mais) refere-se a pes-
quam praedia qualiter se habentia, ut soa a quem nada é devido, do mesmo
bonitas, salubritas, amplitudo? modo que, pelo contrário, se diz de
quem parece ter pago menos, mesmo
sem nada ter pago.
87. MARCELLUS libro XII. Digesto-
rum. — Ut Alfenus ait, urbs est “Roma”, 83. JAVOLENO, de Pláucio, Livro V.
quae muro cingeretur. Roma est etiam, — Não se pode chamar de bona (bens)
qua continentia aedificia essent; nam coisas que envolvem mais prejuízos do
Romam non muro tenus existimari, ex que vantagens.
consuetudine quotidiana posse intelli-
gi, quum diceremus, Romam nos ire, 84. PAULO, Comentários a Vitélio,
etiamsi extra urbem habitaremus. Livro II. — Entendemos por filii (fi-
lhos) todos os descendentes.
88. CELSUS libro XVIII. Digesto-
rum. — Tantum quisque “pecuniae” 85. MARCELO, Digesto, Livro V. —
relinquit, quantum ex bonis eius refici Nerácio Prisco ensina que três fazem
potest; sic dicimus, centies aureorum um colegiado, e esse é o melhor enten-
habere, qui tantum in praediis ceteris- dimento.
que similibus rebus habeat. Non idem
est in fundo alieno legato, quamquam 86. CELSO, Digesto, Livro V. — Que
is hereditaria pecunia parari potest; ne- melhor se entende por iura praediorum
que quisquam eum, qui pecuniam nu- (direito fundiário) que a propriedade
meratam habet, habere dicit, quidquid rural como tal, com a qualidade de seu
ex ea parari potest. solo, salubridade e dimensão?

87. MARCELO, Digesto, Livro XII.


— Como diz Alfeno, a “urbe” é Roma
89. POMPONIUS libro VI. ad Sabi- cercada por uma muralha. Roma tam-
num. — “Boves” magis armentorum, bém é onde estão os edifícios, pois não
quam iumentorum generis appellan- é considerada só até a muralha. Pelo
tur. costume vigente, quando dizemos que
vamos a Roma, referimo-nos a Roma,
§ 1. — Hoc sermone: “dum nupta erit”, mesmo se residirmos fora da Urbe.
primae nuptiae significantur.

309
Livro L – Título XVI Digesto

§ 2. — Inter “edere” et “reddi” rationes 88. CELSO, Digesto, Livro XVIII. —


multum interest, nec is, qui edere ius- Uma pessoa pode deixar em pecunia
sus sit, reliquum reddere debet, nam (dinheiro) tanto quanto de seus bens
et argentarius edere rationem videtur, puder ser apurado em igual valor. As-
etiamsi, quod reliquum sit apud eum, sim, se dissermos: tem centenas de
non solvat. moedas de ouro quanto deve ter em
imóveis e coisas semelhantes. O mesmo
não acontece com uma propriedade de
90. ULPIANUS libro XXVII. ad Sabi- outrem legada, mesmo que possa ser
num. — Qui, “uti optimae maximae- adquirida com o dinheiro da herança,
que sunt”, aedes tradit, non hoc dicit, pois, pelo fato de alguém dispor de di-
servitutem illis deberi, sed illud solum, nheiro em espécie, não quer dizer que
ipsas aedes liberas esse, hoc est, nulli possa ter o que puder comprar com ele.
servire.
89. POMPÔNIO, Comentário a Sa-
bino, Livro VI. — O termo boves (bo-
vinos) se encaixa melhor no gênero de
gado do que no gênero de cavalgadura.
91. PAULUS libro II. Fideicommis-
sorum. — “Meorum” et “tuorum” § 1. A sentença “até que ela se case”
appellatione actiones quoque contineri significa as primeiras núpcias.
dicendum est.
§ 2. Entre edere (fazer) e reddere (pres-
92. IDEM libro VII. Quaestionum. tar) contas há muita diferença. Quem
— “Proximus” est, cui nemo antecedit, foi mandado “fazer as contas” não deve
“supremus” est, quem nemo sequitur. dar conta do saldo, pois o banqueiro,
parece, faz as contas, embora não pres-
te contas do resultado, que fica com
93. CELSUS libro XIX. Digestorum. ele.
— “Moventium”, item “mobilium”
appellatione idem significamus, si ta- 90. ULPIANO, Comentários a Sa-
men apparet, defunctum animalia bino, Livro XXVII. — Quem entrega
duntaxat, quia se ipsa moverent, mo- casas ut optimae maximaeque (no me-
ventia vocasse; quod verum est. lhor estado) não quer dizer com isso
que lhes é devida alguma servidão, mas
apenas que essas casas estão livres e de-
94. IDEM libro XX. Digestorum. — simpedidas, isto é, não pesa sobre elas
Verbum “reddendi” quamquam signi- nenhum encargo.
ficatum habet retro dandi, recipit ta-
men et per se dandi significationem.

310
Digesto Livro L – Título XVI

91. PAULO, Fideicomissos, Livro II.


— Convém saber que nas expressões
95. MARCELLUS libro XIV. Digesto- meus (o que é meu) e teus (o teu) in-
rum. — Potest “reliquorum” appellatio cluem-se também direitos de ação.
et universos significare.
92. IDEM, Questões, Livro VII. —
96. CELSUS libro XXV. Digestorum. “Próximo” é aquele a que ninguém pre-
— “Litus” est, quousque maximus fluc- cede, e “último” aquele a que ninguém
tus a mari pervenit; idque Marcum segue.
Tullium aiunt, quum arbiter esset, pri-
mum constituisse. 93. CELSO, Digesto, Livro XIX. — Os
termos “moventes” (que se movem) e
“mobília” (que são móveis) significam
§ 1. — Praedia dicimus aliquorum a mesma coisa, a menos que o faleci-
esse, non utique communiter haben- do tenha chamado apenas moventes os
tium ea, sed vel alio aliud habente. animais que se movem por si mesmos,
o que é verdade.

97. IDEM libro XXXII. Digestorum. 94. IDEM, Ibidem, Livro XX. — O
— Quum stipulamur: “quanta pecunia termo reddere (devolver), embora te-
ex hereditate Titii ad te pervenerit”, res nha o sentido de “dar de volta”, pode,
ipsas quae pervenerunt, non pretia ea- em si mesmo, encerrar o sentido de
rum spectare videmur. dar.

98. IDEM libro XXXIX. Digestorum. 95. MARCELO, Digesto, Livro XIV.
— Quum “bisextum” kalendis est, nihil — Reliqua (o restante) pode significar
refert, utrum priore, an posteriore die também “todos”.
quis natus sit, et deinceps sextum ka-
lendas eius natalis dies est; nam id bi- 96. CELSO, Digesto, Livro XXV. —
duum pro uno die habetur; sed poste- Litus (litoral) é o ponto até onde chega
rior dies intercalatur, non prior. Ideo a onda maior do mar. Essa definição
quo anno intercalatum non est, sexto dizem que é de Marco Túlio, quando,
calendas natus, quum bisextum kalen- na condição de árbitro, tratou do as-
dis est, priorem diem natalem habet. sunto pela primeira vez.

§ 1. Dizemos que imóveis são de al-


§ 1. — Cato putat, mensem intercala- guns não no sentido de os possuirem
rem additicium esse, omnesque eius em comum, mas de terem posses dis-
dies pro momento temporis observat, tintas.

311
Livro L – Título XVI Digesto

extremoque diei mensis Februarii at-


tribuit Quintus Mucius. 97. IDEM, Ibidem, Livro XXXII. —
Quando se estipula “quanto da herança
de Tício te terá tocado”, parece referir-
-se aos próprios bens que te tocaram, e
não ao valor deles.

98. IDEM, Ibidem, Livro XXXIX. —


Como o dia bissexto faz parte das ca-
lendas, não importa se alguém tenha
nascido no dia anterior ou posterior;
a partir daí, o dia de seu nascimento
será o sexto das calendas, pois os dois
§ 2. — Mensis autem intercalaris cons- dias são computados por um. Mas é o
tat ex diebus viginti octo. dia posterior que se intercala, e não o
anterior. Portanto, no ano em que não
99. ULPIANUS libro I. de officio é intercalado, quem nasce na sexta ca-
Consulis. — “Notionem” accipere pos- lenda, quando é bissexto, tem o dia an-
sumus et cognitionem, et iurisdictio- terior como natalício145.
nem.
§ 1. Na opinião de Catão, o mês que
§ 1. — “Continentes” provincias acci- se intercala é acrescentado, e considera
pere debemus eas, quae Italiae iunctae todos os seus dias como um momento
sunt, ut puta Galliam; sed et provin- de tempo, e Quinto Múcio o atribui ao
ciam Siciliam magis inter continentes último dia do mês de fevereiro146.
accipere non oportet, quae modico fre-
to Italia dividitur.

§ 2. — “Instrumentorum” appellatio-
145
Para a compreensão desse artigo é preciso
conhecer o calendário romano: nos anos bis-
ne quae comprehendantur, perquam
sextos, o dia a mais era intercalado na sexta
difficile erit separare; quae enim pro- calenda, e não após o último dia de fevereiro,
prie sint instrumenta, propter quae di- isto é, seis dias para as calendas, o primeiro
latio danda sit, inde dinoscemus, si in dia do mês. Por ser uma duplicação da sexta
praesentiam personae, quae instruere calenda, era chamado dies bissextus, isto é,
duas vezes sexto.
possit, dilatio petatur; puta actum ges- 146
O calendário romano começava, desde Rô-
sit, licet in servitute, vel qui actor fuit mulo, em março. Numa Pompílio, sucessor
constitutus, putem videri instrumento- de Rômulo, acrescentou os meses de janeiro
rum causa peti dilationem. e fevereiro como meses finais. Eram chama-
dos intercalares. Pelo calendário juliano, pas-
saram a ser os primeiros do ano.

312
Digesto Livro L – Título XVI

§ 2. O mês intercalar, porém, conta


vinte e oito dias.

99. ULPIANO, Da Função do Côn-


sul, Livro I. — Por notio (noção) po-
demos entender tanto conhecimento
como alçada de uma causa.

§ 1. Devemos ter como províncias con-


tinentes (unidas) as que estão ligadas à
Itália, por exemplo, a província da Gá-
lia; em vista disso, a província da Sicí-
lia não deve ser incluída entre as mais
próximas, porque separada da Itália
por um pequeno estreito147.

§ 2. Será muito difícil saber que coisas


se entendem pelo nome de “autos”, pois
só saberemos que coisas constituem
propriamente os autos, por causa das
quais se deve admitir uma prorroga-
ção, se a prorrogação é requerida pela
100. IDEM libro II. de officio Consu- intimação da pessoa que possa prestar
lis. — “Speciosas” personas accipere
debemus clarissimas personas utrius-
que sexus; item eorum, quae ornamen- 147
Essa tradução, salvo melhor juízo, nos parece
tis senatoriis utuntur. a mais fiel ao original e ao contexto. A tra-
dução do orignal adotado (KRIEGEL et al.),
101. MODESTINUS libro IX. Di- assim como de outros tradutores consulta-
fferentiarum. — Inter “stuprum” et dos, inclui a província da Sicília como con-
“adulterium” hoc interesse quidam pu- tígua, contrariando o “accipere non oportet”
(não deve ser tida) do original. O tradutor
tant, quod adulterium in nuptam, stu- Hulot (op. cit.) justifica sua tradução corri-
prum in viduam committitur; sed lex gindo o “accipere non oportet” por “accipe-
Iulia de adulteriis hoc verbo indifferen- re nos oportet”. Outros tradutores seguem a
ter utitur. tradução afirmativa, embora suas traduções
sejam oferecidas apenas em vernáculo sem
texto latino para conferência. Esta tradução
baseia-se na precisa acepção de continentes
§ 1. — “Divortium” inter virum et como “unidas”, “ligadas” e de sed et, o sed
uxorem fieri dicitur, “repudium” vero como mera partícula expletiva e o et, como a
locução “em vista disso”, acepções comuns na
prosa latina.

313
Livro L – Título XVI Digesto

sponsae remitti videtur; quod et in esclarecimentos, por exemplo, quem


uxoris personam non absurde cadit. geriu alguma coisa mesmo na condição
de escravo ou que foi constituída admi-
§ 2. — Verum est, “morbum” esse nistradora. Para mim, a prorrogação
temporalem corporis imbecillitatem, pode ser requerida por força dos autos.
“vitium” vero perpetuum corporis im-
pedimentum, veluti si talum excussit; 100. IDEM, Ibidem, Livro II. — De-
nam et Iuscus itaque vitiosus est. vemos ter como especiais pessoas
ilustríssimas de ambos os sexos, como
também as que portam insígnias sena-
toriais.

101. MODESTINO, Diferenças, Livro


IX. — Entre “estupro” e “adultério”148,
opinam alguns, há certa diferença, isto
é, o adultério é cometido com mulher
casada, e o estupro com mulher não
casada. A Lei Júlia, porém, sobre adul-
térios, usa indiferentemente os dois
§ 3. — “Servis” legatis etiam ancillas termos.
deberi, quidam putant, quasi commu-
ne nomen utrumque sexum contineat. § 1. “Divórcio” diz-se acontecer entre
marido e esposa; “repúdio’, porém, pa-
rece referir-se a noiva; mas não é inco-
102. IDEM libro VII. Regularum. — mum estender-se também a esposa.
Derogatur legi, aut abrogatur; “deroga-
tur” legi, quum pars detrahitur, “abro- § 2. Na verdade, morbus (doença) é
gatur” legi, quum prorsus tollitur. uma dificiência física temporária; vi-
tium (defeito), porém, é uma imper-
103. IDEM libro VIII. Regularum. feição física permanente, por exemplo,
— Licet “capitalis” latine loquentibus
omnis causa existimationis videatur,
tamen appellatio capitalis, mortis vel
amissionis civitatis intelligenda est. 148
Para melhor compreensão desse artigo, vale
lembrar que, no latim, os termos stuprum e
104. IDEM libro II. Excusationum. adulterium não têm idêntica acepção que no
português atual. No latim, stuprum não im-
— `H tw/n te,knwn proshgori,a kai. evpi. plica violência nem constrangimento, mas
tou.j eggo,nouj evktei,netai. [Natorum “desonra”, “infâmia”, enquanto adulterium
appellatio et ad nepotes extenditur.] seria apenas relação indevida, que envolva
mistura de ordem genética, por exemplo, no
caso de incesto.

314
Digesto Livro L – Título XVI

105. IDEM libro XI. Responsorum. ter o pé cortado; ser vesgo é também
— Modestinus respondit, his verbis: defeito físico.
“libertis libertabusque meis”, libertum
libertae testatoris non contineri. § 3. Para alguns, quando se fala de
servis (escravos) legados entendem-se
106. IDEM libro singulari de Praes- também ancillas (escravas), como se o
criptionibus. — “Dimissoriae” literae nome fosse comum a ambos os sexos.
dicuntur, quae vulgo apostoli dicuntur;
dimissoriae autem dictae, quod causa 102. IDEM, Regras, Livro VII. — Der-
ad eum, qui appellatus est, dimittitur. roga-se ou abroga-se uma lei: derroga-
-se a lei quando se suprime parte dela;
abroga-se quando é abolida.

103. IDEM, Ibidem, Livro VIII. — Em-


bora em latim capitalis (capital) pareça
ter conotação de reputação, por esse
termo, deve-se entender questão de vida
ou de perda de cidadania.
107. IDEM libro III. Pandectarum. —
“Assignare” libertum, hoc est testificari, 104. IDEM, Excusas, Livro II. — A
cuius ex liberis libertum eum esse vo- designação de “filhos” estende-se tam-
luit. bém a netos.

108. IDEM libro IV. Pandectarum. —


“Debitor” intelligatur is, a quo invito 105. IDEM, Respostas, Livro XI. —
exigi pecunia potest. Respondeu Modestino que estes termos:
“a meus libertos e libertas” não abran-
gem o liberto da liberta do testador.
109. IDEM libro V. Pandectarum. —
“Bonae fidei” emtor esse videtur, qui 106. IDEM, Das Prescrições, Livro
ignoravit, eam rem alienam esse, aut Único. — Chamam-se literae dimisso-
putavit eum, qui vendidit, ius vendendi riae (cartas demissórias) documentos
habere, puta procuratorem aut tutorem popularmente conhecidos como apos-
esse. toli149, isto é, enviados (a um tribunal

110. IDEM libro VI. Pandectarum. —


“Sequester” dicitur, apud quem plures 149
Originalmente, o termo grego “apóstolo” era
eandem rem, de qua controversia est, apenas particípio, que significava enviado,
deposuerunt; dictus ab eo, quod occur- mandado para longe. A acepção do termo
substantivado é criação do grego bíblico do
Novo Testamento.

315
Livro L – Título XVI Digesto

renti aut quasi sequenti eos, qui con- superior). Chamam-se dimissoriae
tendunt, committitur. porque por elas se remete (dimittitur)
a causa ao juízo para o qual se apelou.

107. IDEM, Pandectas, Livro III. —


111. IAVOLENUS libro VI. ex Cassio. Assignare (atribuir, indicar) um liberto
— “Censere” est, constituere et praeci- é declarar de qual dos filhos quer que
pere; unde etiam dicere solemus: cen- ele seja liberto.
seo, hoc facias, et semet aliquid cen-
suisse. Inde censoris nomen videtur 108. IDEM, Ibidem, Livro IV. —
esse tractum. Entende-se como devedor aquele de
quem se pode exigir que, mesmo con-
tra sua vontade, pague o que deve.

109. IDEM, Ibidem, Livro V. — Com-


prador de boa-fé é aquele que parece
não ter sabido que o bem comprado
era alheio, ou ter pensado que o ven-
112. IDEM libro XI. ex Cassio. — “Li- dedor tinha o direito de vender, por
tus” publicum est eatenus, qua maxime exemplo, um procurador ou tutor.
fluctus exaestuat; idemque iuris est in
lacu, nisi is totus privatus est. 110. IDEM, Ibidem, Livro VI. — É
chamado sequester (depositário) pes-
soa à qual muitos confiam a mesma
113. IDEM libro XIV. ex Cassio. — coisa sobre a qual há controvérsia. É
“Morbus sonticus” est, qui cuique rei assim chamado [sequester, do radical
nocet. de sequor, seguir, ir atrás] porque se
confiam bens a alguém que, por assim
dizer, vai ao encontro dos contendores.
114. IDEM libro XV. ex Cassio. —
“Solvendo” esse nemo intelligitur, nisi 111. JAVOLENO, Doutrina de Cás-
qui solidum potest solvere. sio, Livro VI. — Censere (decretar) é
estabelecer e preceituar; daí por que
115. IDEM libro IV. Epistolarum. — costumamos dizer: “ordeno que faças
Quaestio est, fundus a possessione, vel isso”, e o Senado teria decretado algo.
agro, vel praedio quid distet? “Fundus” O termo “censor” parece ter-se deriva-
est omne, quidquid solo tenetur. “Ager” do desse radical.
est, si species fundi ad usum hominis
comparatur. “Possessio” ab agro iuris 112. IDEM, Ibidem, Livro XI. — Litus
proprietate distat; quidquid enim ap- (litoral) é público até o ponto atingido

316
Digesto Livro L – Título XVI

prehendimus, cuius proprietas ad nos pelas maiores ondas. O mesmo se diz


non pertinet, aut nec potest pertinere, com relação a lagos, a menos que se
hoc possessionem appellamus; posses- trate de lago totalmente privado.
sio ergo usus, ager proprietas loci est.
“Praedium” utriusque suprascriptae 113. IDEM, Ibidem, Livro XIV. —
generale nomen est; nam et ager, et Chama-se morbus sonticus (doença
possessio huius appellationis species grave)150 a que incapacita uma pessoa
sunt. para tudo.

114. IDEM, Ibidem, Livro XV. — Só se


116. IDEM libro VII. Epistolarum. — considera “solvente” quem pode pagar
“Quisquis mihi alius filii filiusve heres o total.
sit”; Labeo, non videri filiam contine-
ri, Proculus contra; mihi Labeo vide- 115. IDEM, Epístolas, Livro IV. —
tur verborum figuram sequi, Proculus Pergunta-se: qual é a diferença entre
mentem testantis; respondit: non du- fundus (sítio), possessio (posse), ager
bito, quin Labeonis sententia vera non (campo) e praedium (imóvel)? Sítio
sit. é tudo o que é sustentado pelo solo; é
uma espécie de sítio preparado para
uso do homem; “posse” difere de “cam-
po” pelo direito de propriedade, pois
o que quer que detenhamos cuja pro-
priedade não nos pertence, nem pode
117. IDEM libro IX. Epistolarum. — pertencer, chama-se posse; posse, por-
Non potest videri minus solvisse is, tanto, é uso, campo é a propriedade
in quem amplioris summae actio non do lugar. Praedium (imóvel) é o nome
competit. geral de posse e propriedade, pois tan-
to campo como posse são espécies de
118. POMPONIUS libro II. ad Quin- praedium (propriedade rural).
tum Mucium. — “Hostes” hi sunt, qui
nobis, aut quibus nos publice bellum 116. IDEM, Ibidem, Livro VII. —
decrevimus; ceteri latrones, aut prae- “Qualquer um de meus filhos ou filho
dones sunt. de meu filho seja meu herdeiro”. Para
Labeão, as filhas não se incluem; Pró-
culo acha que sim. A meu ver, Labeão
119. IDEM libro III. ad Quintum Mu- parece seguir a literalidade dos termos,
cium. — “Hereditatis” appellatio sine enquanto Próculo, a intenção do testa-
dubio continet etiam damnosam he-
reditatem; iuris enim nomen est, sicuti
bonorum possessio.
150
Lei das XII Tábuas, Tábua III, a deste volume.

317
Livro L – Título XVI Digesto

dor. Respondeu: não tenho dúvida de


120. IDEM libro V. ad Quintum Mu- que a opinião de Labeão não é correta.
cium. — Verbis legis duodecim Tabu-
larum his: UTI LEGASSIT SUAE REI, 117. IDEM, Ibidem, Livro IX. — Não
ITA IUS ESTO, latissima potestas tri- pode ser considerado como tendo
buta videtur, et heredis instituendi, et pago a menos aquele contra o qual não
legata et libertates dandi, tutelas quo- há ação por valor maior.
que constituendi; sed id interpreta-
tione coangustatum est vel legum, vel 118. POMPÔNIO, Comentários a
auctoritate iura constituentium. Quinto Múcio, Livro II. — Hostes (ini-
migos) são aqueles que publicamente
nos declaram guerra ou aos quais nós
a declaramos; os demais ou são ladrões
ou são salteadores.

121. IDEM libro VI. ad Quintum Mu- 119. IDEM, Ibidem, Livro III. — Por
cium. — “Usura” pecuniae, quam per- “herança” compreende-se também
cipimus, in fructu non est, quia non ex “herança onerosa”, pois o termo é jurí-
ipso corpore, sed ex alia causa est, id dico, como posse de bens.
est nova obligatione.

120. IDEM, Ibidem, Livro V. — Por


122. IDEM libro VIII. ad Quintum estes termos da Lei das XII Tábuas151
Mucium. — Servius ait, si ita scriptum — “Do modo como deixou o legado,
sit: “filio, filiisque meis hosce tutores seja esse o direito” — parece amplís-
do”, masculis duntaxat tutores datos, simo o poder de instituir herdeiro, de
quoniam singulari casu hoc: “filio”, ad deixar legados e liberdades e também
pluralem videtur transiisse, continen- de constituir tutelas. Mas isso foi sendo
tem eundem sexum, quem singularis restringido pela interpretação das leis
prior positus habuisset. Sed hoc facti, ou pela autoridade dos legisladores.
non iuris habet quaestionem, potest
enim fieri, ut singulari casu de filio 121. IDEM, ibidem, Livro VI. — Os
senserit, deinde plenius omnibus lilbe- juros que percebemos de dinheiro não
ris prosperxisse in tutore dando volue- fazem parte dos frutos, pois não pro-
rit; quod magis rationabile esse videtur. cedem de uma mesma origem, mas de
outras causas, isto é, de uma nova obri-
gação.
123. IDEM libro XXVI. ad Quintum
Mucium. — Verbum “erit”, interdum
etiam praeteritum, nec solum futurum
151
Lei das XII Tábuas, Tábua V, 3, neste volume.

318
Digesto Livro L – Título XVI

tempus demonstrat; quod est nobis ne-


cessarium scire, et quum codicilli ita 122. IDEM, Ibidem, Livro VIII. — Diz
confirmati testamento fuerint: “quod in Sérvio que, se assim estiver dito “a meu
codicillis scriptum erit”, utrumne futu- filho e a meus filhos dou esses tutores”,
ri temporis demonstratio fiat, an etiam os tutores foram dados exclusivamen-
praeteriti, si ante scriptos codicillos te aos filhos do sexo masculino, pois o
quis relinquat; quod quidem ex vo- singular “filho” passou para o plural no
luntate scribentis interpretandum est. mesmo gênero manifesto no primeiro.
Quemadmodum autem hoc verbum: Mas isso parece ser mais uma questão
“est”, non solum praesens, sed et pra- de fato, não de direito, pois pode acon-
eteritum tempus significat, ita et hoc tecer que, no caso singular, tenha tido
verbum: “erit”, non solum futurum, sed em mente apenas o filho, depois, no
interdum etiam praeteritum tempus plural, pretendesse incluir todos os fi-
demonstrat; nam quum dicimus: “Lu- lhos ao proceder à instituição do tutor,
cius Titius solutus est ab obligatione”, et o que parece mais provável.
praeteritum, et praesens significamus,
sicut hoc: “Lucius Titius alligatus est”; 123. IDEM, Ibidem, Livro XXVI. — O
et idem fit, quum ita loquimur: “Troia tempo futuro erit (será) indica, às ve-
capta est”; non enim ad praesentis fac- zes, também o pretérito, e não apenas
ti demonstrationem refertur is sermo, o futuro. Quando os codicilos tiverem
sed ad praeteritum. sido confirmados no testamento — “o
que estiver escrito nos codicilos” —, é
preciso saber se indica o tempo futu-
ro ou se o passado, quando alguém faz
124. PROCULUS libro II. Epistola- testamento antes de escrever os codici-
rum — Haec verba: “ille, aut ille”, non los. É o que deve ser entendido a par-
solum disiunctiva, sed etiam subdi- tir da vontade de quem escreveu. Mas,
siunctivae orationis sunt. Disiuncti- do mesmo modo que a forma verbal
vum est, veluti quum dicimus: “aut est (é) significa não só o presente, mas
dies, aut nox est”, quorum posito altero também o passado, assim também erit
necesse est, tolli alterum; item sublato (será) indica não só o futuro, mas, às
altero poni alterum; ita simili figura- vezes, também o tempo passado. Por
tione verbum potest esse subdisiuncti- exemplo, quando dizemos Lúcio Tí-
vum. Subdisiunctivi autem genera sunt cio solutus est ab obligatione (está ou
duo: unum, quum ex propositis finibus foi liberado da obrigação), pode indi-
ita non potest uterque esse, ut possit car não só o presente como o passado,
neuter esse, veluti quum dicimus: “aut como Lucius Titius alligatus est (Lúcio
sedet, aut ambulat”; nam ut nemo po- Tício está ou foi obrigado). Do mesmo
test utrumque simul facere, ita aliquis modo, quando dizemos Troia capta est
potest neutrum, veluti is, qui accumbit. (Troia está tomada), estamos nos refe-

319
Livro L – Título XVI Digesto

Alterius generis est, quum ex proposi- rindo não a um fato presente, mas pas-
tis finibus ita non potest neuter esse, ut sado, isto é, “Troia foi tomada”.
possit utrumque esse, veluti quum di-
cimus: “omne animal aut facit, aut pati- 124. PRÓCULO, Epístolas, Livro II.
tur”; nullum est enim, quod nec faciat, — A expressão “ou isso ou aquilo” é
nec patiatur; at potest simul et facere, não só disjuntiva como também sub-
et pati. disjuntiva. É disjuntiva, por exemplo,
quando dizemos “ou é dia, ou é noite”,
125. IDEM libro V. Epistolarum. — isto é, posto um termo, o outro ne-
Nepos Proculo suo salutem. Ab eo, qui cessariamente não subsiste. O termo,
ita dotem promisit: “quum commodum porém, por analogia, pode ser também
erit, dotis filiae meae tibi erunt aurei subdisjuntivo de duas maneiras: uma,
centum”, putasne, protinus nuptiis fac- quando postos os fins, os dois termos
tis dotem peti posse? Quid, si ita pro- podem não subsistir e dar lugar a um
misisset: “quum potuero, doti erunt? terceiro, por exemplo, quando dizemos
Quod si aliquam vim habeat posterior “ou senta ou levanta”, alguém não pode
obligatio, ‘possit’ verbum quomodo fazer simultaneamente as duas coisas,
interpretaris, utrum aere alieno de- mas pode fazer uma terceira, “deitar-
ducto, an extante? Proculus: quum do- -se”. A outra maneira de ser subdisjun-
tem quis ita promisit: quum potuero, tiva é quando, postos os dois termos,
doti tibi erunt centum”, existimo, ad só um necessariamente subsiste, por
id, quod actum est, interpretationem exemplo, quando dizemos “todo ani-
redigendam esse; nam qui ambigue mal ou faz ou sofre uma ação”, ou am-
loquitur, id loquitur, quod ex his, quae bos subsistem, pois há casos em que
significantur, sensit; propius est tamen, um animal pode fazer e sofrer simulta-
ut hoc eum sensisse existimem: deduc- neamente uma ação.
to aere alieno potero. Potest etiam illa
accipi significatio: quum salva digni- 125. IDEM, Ibidem, Livro V. — Nepos
tate mea potero; quae interpretatio ea consulta seu amigo Próculo: “A seu ver,
magis accipienda est, si ita promissum poder-se-ia cobrar o dote, imediata-
est: “quum commodum erit”, hoc est, mente após celebrado o casamento, de
quum sine incommodo meo potero. quem o prometera nos seguintes ter-
mos: ‘Te darei um dote de cem áureos
por minha filha, quando me for pos-
sível’ Ou se dissesse: ‘Quando puder,
darei o dote’? Se a obrigação posterior
tiver alguma validade, como interpre-
tarias o termo ‘puder’?, incluídas ou
excluídas possíveis dívidas?’. Respon-
deu Próculo: “Quando alguém prome-

320
Digesto Livro L – Título XVI

126. IDEM libro VI. Epistolarum. — teu, nestes termos, dar o dote: ‘quando
Si, quum fundum tibi darem, legem puder te darei um dote de cem moedas
ita dixi: “uti optimus maximusque es- de ouro’, ao meu ver, o entendimento
set”, et adieci, ius fundi deterius factum deve ser limitado ao que foi dito, pois
non esse per dominum, praestabitur; quem fala de maneira ambígua fala o
amplius eo praestabitur nihil, etiam si que diz o que pensa as palavras. A meu
prior pars, qua scriptum est: “uti opti- ver é mais provável que tenha queri-
mus maximusque sit”, liberum esse sig- do dizer: ‘quando puder, deduzidas as
nificat; eoque, si posterior pars adiecta dívidas’. Pode também assumir outro
non esset, liberum praestare deberem; sentido: ‘quando puder, ressalvada mi-
tamen inferiore parte satis me libera- nha dignidade’. Pode-se admitir tam-
tum puto, quod ad iura attinet, ne quid bém esta significação: ‘poderei, depois
aliud praestare debeam, quam ius fun- de salva minha dignidade’; a interpre-
di per dominum deterius factum non tação, porém, mais razoável seria assim
esse. prometer: ‘quando me for convenien-
te”, isto é, ‘poderei quando não me for
inconveniente’ ”.

126. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Se, ao


127. CALLISTRATUS libro IV. de te vender um imóvel, assim me expres-
Cognitionibus. — “Vestis” appellatio- sei em termos legais: “no melhor esta-
ne tam virilis, quam muliebris, et sce- do possível” e acrescentei que o direi-
nica, etiamsi tragica aut citharoedica to de propriedade não foi prejudicado
sit, continetur. pelo dono, por isso se responsabilizará
e por nada mais, mesmo se a primeira
parte, na qual é dito “no melhor esta-
128. ULPIANUS libro I. ad legem Iu- do possível”, significa que esteja livre e
liam et Papiam. — “Spadonum” gene- desimpedido. Por conseguinte, se a se-
ralis appellatio est; quo nomine tam hi, gunda parte não tivesse sido acrescen-
qui natura spadones sunt, item thlibiae, tada, eu deveria entregá-lo livre e de-
thlasiae, sed et si quod aliud genus spa- simpedido; todavia, pela última parte
donum est, continentur. considero-me suficientemente livre no
que diz respeito aos direitos, para não
129. PAULUS libro I. ad legem Iuliam ser obrigado a mais alguma coisa desde
et Papiam. — Qui “mortui” nascuntur, que a situação jurídica não tenha sido
neque nati, neque procreati videntur, prejudicada pelo dono.
quia nunquam liberi appellari potue-
runt. 127. CALÍSTRATO, Das Jurisdições,
Livro IV — O termo “veste” aplica-se
tanto à de homem quanto à de mulher,

321
Livro L – Título XVI Digesto

130. ULPIANUS libro II. ad legem Iu- como “veste cênica” tanto é utilizada
liam et Papiam. — “Lege” obvenire he- nas peças trágicas como em represen-
reditatem non improprie quis dixerit et tações líricas.
eam, quae ex testamento defertur, quia
lege duodecim Tabularum testamenta- 128. ULPIANO, Comentários à Lei
riae hereditates confirmantur. Júlia e Pápia, Livro I. — O termo “eu-
nuco” tem sentido geral, pois se refere
131. IDEM libro III. ad legem Iuliam aos que o são por natureza como tam-
et Papiam. — Aliud “fraus” est, aliud bém aos castrados e a qualquer outra
“poena”; fraus enim sine poena esse maneira de sê-lo.152
potest, poena sine fraude esse non po-
test. Poena est noxae vindicta, fraus et 129. PAULO, Comentários à Lei Júlia
ipsa noxa dicitur, et quasi poenae qua- e Pápia, Livro I. — Os natimortos não
edam praeparatio. se consideram nem nascidos nem pro-
criados, pois nunca puderam ser cha-
mados filhos.

130. ULPIANO, Comentários à Lei


Júlia e Pápia, Livro II. — Não é impró-
prio alguém dizer que uma herança lhe
toca por testamento, uma vez que a Lei
das XII Tábuas confirma a existência
de heranças testamentárias.153

§ 1. — Inter “mulctam” autem, et “po- 131. IDEM, Comentários à Lei Jú-


enam” multum interest, quum poena lia e Pápia, Livro III. — Uma coisa é
generale sit nomen, omnium delicto- a “fraude”, outra é a “pena”, pois pode
rum coercitio, mulcta specialis peccati, haver fraude sem pena, mas não pena
cuius animadversio hodie pecuniaria sem fraude. A pena é a punição do
est; poena autem non tantum pecu- dano, e a fraude, diz-se, é o próprio
niaria, verum capitis et existimationis dano, como uma espécie de preparação
irrogari solet; et mulcta quidem ex para a pena.
arbitrio eius venit, qui mulctam dicit;
poena non irrogatur, nisi quae quaque
lege, vel quo alio iure specialiter huic 152
No texto original, o redator lança mão de
delicto imposita est; quin imo mulc- dois termos com que os gregos qualificavam
ta ibi dicitur, ubi specialis poena non os eunucos pela causa de sua esterilidade,
est imposita. Item mulctam is dicere além da genética: os tlíbios e os tlásios, isto é,
potest, cui iudicatio data est. Magis- eunucos que assim se tornaram por esmaga-
tratus solos, mandatis permissum est; mento ou por extração dos testículos.
153
Lei das XII Tábuas, Tábua V, neste volume.

322
Digesto Livro L – Título XVI

poenam autem unusquisque irrogare


potest, cui huius criminis sive delicti § 1. Há muita diferença entre “multa”
exsecutio competit. e “pena”. “Pena” é um termo geral, re-
pressão de todo delito, enquanto por
“multa” se entende a repressão de uma
infração cuja punição hoje é pecuniá-
132. PAULUS libro III. ad legem Iu- ria. A pena, porém, não é só pecuni-
liam et Papiam. — “Anniculus” amit- ária e costuma ser aplicada em causas
titur, qui extremo anni die moritur; et capitais e de honra; a multa é aplicada
consuetudo loquendi id ita esse, decla- ao arbítrio de quem pune, enquanto a
rat: “ante diem decimum kalendarum, pena não é imposta a cada delito a não
post diem decimum kalendarum”; ne- ser por alguma lei ou por algum direito
que utro enim sermone undecim dies especialmente destinado a determina-
significantur. do delito. Diz-se ainda que a multa se
aplica onde não se impõe uma pena
especial. Além disso, a multa pode ser
imposta por quem tem o direito de jul-
gar. Por jurisdição, só aos magistrados
é dado fazê-lo. Mas a pena pode ser
aplicada por quem tem competência
§ 1. — Falsum est, eam “peperisse”, cui para fazê-lo em determinadas espécies
mortuae filius exsectus est. de crime ou delito.

132. PAULO, Comentários à Lei Jú-


133. ULPIANUS libro IV. ad legem lia e Pápia, Livro III. — Perde um ano
Iuliam et Papiam. — Si quis sic dixerit, de idade quem falece no último dia
ut “intra” diem mortis eius aliquid fiat, do ano. E o costume de dizer assim o
ipse quoque dies, quo quis mortuus est, confirma: “dez dias antes das calendas”,
numeratur. “dez dias depois das calendas”, mas, em
nenhuma das expressões, se entendem
134. PAULUS libro II. ad legem Iu- onze dias154.
liam et Papiam. — “Anniculus” non
statim ut natus est, sed trecentesimo
sexagesimoquinto die dicitur, incipien-
te plane, non exacto die, quia annum
civiliter, non ad momenta temporum,
154
Para compreensão desse artigo, convém
lembrar que os romanos contavam os anos
sed ad dies numeramus. só depois de completados os 365 dias. Ora,
um ano só se completa à meia-noite do dia-
-calendário. (ver o art. 134 deste capítulo).
Portanto, quem morre antes de se completar
o ano, perde-o.

323
Livro L – Título XVI Digesto

135. ULPIANUS libro IV. ad legem Iu- § 1. É impróprio dizer ter dado à luz
liam et Papiam. — Quaeret aliquis, si mulher cujo filho lhe foi extraído de-
portentosum, vel monstrosum, vel de- pois de morta.
bilem mulier ediderit, vel qualem visu,
vel vagitu novum, non humanae figu- 133. ULPIANIO, Comentários à Lei
rae, sed alterius magis animalis, quam Júlia e Pápia, Livro IV. — Se alguém
hominis partum, an, quia enixa est, disser que algo se faça dentro de um
prodesse ei debeat; et magis est, ut haec dia, a contar de sua morte, o dia no
quoque parentibus prosint; nec enim qual morreu é também computado.
est, quod iis imputetur, quae, qualiter
potuerunt, statutis obtemperaverunt; 134. PAULO, Comentários à Lei Júlia
neque id, quod fataliter accessit, matri e Pápia, Livro II. — O primeiro ano de
damnum iniungere debet. idade não começa a ser contado ime-
diatamente a partir do nascimento,
mas no trecentésimo sexagésimo quin-
to dia, certamente não após o dia trans-
corrido, porque o ano civil se conta por
dias, e não por horas.

135. ULPIANO, Comentários à Lei


Júlia e Pápia, Livro IV. — Poder-se-á
perguntar se uma mulher que, tendo
dado à luz algo prodigioso, ou mons-
truoso, ou defeituoso, ou incompleto,
136. IDEM libro V. ad legem Iuliam que, pelo aspecto, pelo vagido, não
et Papiam. — “Generi” appellatione et pareça figura humana, mas algo mais
neptis, et proneptis, tam ex filio, quam parecido a nascido de animal do que de
ex filia editorum, ceterarumque mari- homem, por tê-lo dado à luz, poderá
tos contineri, manifestum est. tirar proveito disso; mais ainda, pode
ser também útil aos pais? Nada há que
137. PAULUS libro II. ad legem Iu- lhes possa ser imputado: no que pude-
liam et Papiam. — “Ter” enixa videtur, ram foram obedientes às leis e o que,
etiam quae trigeminos pepererit. por fatalidade, aconteceu não deve ser
prejudicial à mãe.

138. IDEM libro IV. ad legem Iuliam 136. IDEM, Ibidem, Livro V. — É evi-
et Papiam. — “Hereditatis” appellati- dente que por “genro” se entende mari-
one bonorum quoque possessio conti- dos de netas e bisnetas, tanto de filhas
netur. de filho como de filha, e os maridos
dos demais descendentes.

324
Digesto Livro L – Título XVI

139. ULPIANUS libro VII. ad legem


Iuliam et Papiam. — Aedificia “Ro- 137. PAULO, Comentários à Lei Júlia
mae” fieri etiam ea videntur, quae in e Pápia, Livro II. — Considera-se tam-
continentibus Romae aedificiis fiant. bém como tendo dado à luz três vezes
mulher que teve trigêmeos.
§ 1. — Perfecisse aedificium is videtur,
qui ita consummavit, ut iam in usu esse 138. IDEM, Ibidem, Livro IV. — O
possit. termo “herança” compreende também
a posse de bens.
140. PAULUS libro VI. ad legem Iu-
liam et Papiam. — “Cepisse” quis in-
telligitur, quamvis alii acquisiit. 139. ULPIANO, Comentários à Lei
Júlia e Pápia, Livro VII. — Conside-
ram-se de Roma também os edifícios
141. ULPIANUS libro VIII. ad legem que se constroem contíguos à cidade.
Iuliam et Papiam. — Etiam ea mu-
lier, quum moreretur, creditur filium § 1. Considera-se como tendo acabado
habere, quae exciso utero edere possit; um edifício quem o deixou em condi-
necnon etiam alio casu mulier potest ções de ser ocupado.
habere filium, quem mortis tempore
non habuit, utputa eum, qui ab hosti- 140. PAULO, Comentários à Lei Júlia
bus remeavit. e Pápia, Livro VI. — Entende-se como
adquirente mesmo quem adquiriu para
outrem.
142. PAULUS libro VI. ad legem Iu-
liam et Papiam. — Triplici modo co- 141. ULPIANO, Comentários à Lei
niunctio intelligitur: aut enim re per se Júlia e Pápia, Livro VIII. — Admite-se
coniunctio contingit, aut “re et verbis”, que uma mulher, ao morrer, seja mãe
aut “verbis” tantum. Nec dubium est, de um filho que puder dar à luz me-
quin coniuncti sint, quos et nominum, diante excisão de seu útero. Do mesmo
et rei complexus iungit, veluti: “Titius modo, uma mulher pode ser mãe de
et Maevius ex parte dimidia heredes um filho a quem não deu à luz ao mor-
sunto”, vel ita: “Titius Maeviusque he- rer, como é o caso de quem, libertado
redes sunto”, vel: “Titius cum Maevio pelo inimigo, retorna à pátria155.
ex parte dimidia heredes sunto”. Vide-
amus autem, ne, etiamsi hos articulos
detrahas: “et, que, cum”, interdum ta-
men coniuntos acipi oporteat, veluti: 155
Para os romanos, quem vive na condição de
“Lucius Titius, Publius Maevius ex par- cativo não existe. É a chamada morte civil.
te dimidia heredes sunto”, vel ita: “Pu- Mas, livre do cativeiro, volta à pátria, volta
a viver e, por conseguite, readquire todos os

325
Livro L – Título XVI Digesto

blius Maevius, Lucius Titius heredes 142. PAULO, Comentários à Lei Jú-
sunto; Sempronius ex parte dimidia lia e Pápia, Livro VI. — “Conjunção”
heres esto”, ut Titius et Maevius veniant pode ser entendida de três modos: ou
in partem dimidiam, et re et verbis a conjunção ocorre per se, “de fato”,
coniuncti videantur, “Lucius Titius ex ou “de fato e verbalmente”, ou só “ver-
parte dimidia heres esto; Seius ex par- balmente”. Não há dúvida de que se
te, qua Lucium Titium heredem ins- juntam pelo laço dos nomes e da coi-
titui, heres esto; Sempronius ex parte sa, por exemplo, “Tício e Mévio sejam
dimidia heres esto”; Iulianus, dubitari herdeiros pela metade” ou “Tício e
posse, tres semisses facti sint, an Titius Mévio sejam herdeiros” ou “Tício com
in eundem semissem cum Caio Seio Mévio sejam herdeiros pela metade”.
institutus sit; sed eo quod Sempronius Vejamos, porém, se, com a omissão de
quoque ex parte dimidia scriptus est, “e, com”, podemos entendê-los como
verisimilius esse, in eundem semissem sujeitos associados, como “Lúcio Tí-
duos coactos, et coniunctim heredes cio, Públio Mévio sejam herdeiros pela
scriptos esse. metade” ou “Públio Mévio, Lúcio Tício
sejam herdeiros; Semprônio seja her-
deiro pela metade”, de modo que Tício
e Mévio sejam herdeiros pela metade
e pareçam de fato e verbalmente asso-
ciados. “Lúcio Tício seja herdeiro pela
metade: Seio seja herdeiro de parte de
que Lúcio Tício foi instituído herdeiro;
Semprônio seja herdeiro pela meta-
143. ULPIANUS libro IX. ad legem de”; Juliano duvida que se possa falar
Iuliam et Papiam. — Id apud se quis de três metades, se Tício foi instituído
habere videtur, de quo habet actionem; herdeiro com Caio Seio numa mesma
habetur enim, quod peti potest. metade. Mas, tendo sido Semprônio
instituído herdeiro pela metade, é mais
provável que Tício e Caio tenham sido
associados numa mesma metade e ins-
144. PAULUS libro X. ad legem Iu- tituídos herdeiros conjuntamente.
liam et Papiam. — Libro Memoria-
lium Massurius scribit, “pellicem” 143. ULPIANO, Comentários à Lei
apud antiquos eam habitam, quae, Júlia e Pápia, Livro IX. — Considera-
quum uxor non esset, cum aliquo ta- -se como parte dos bens aquilo por
men vivebat, quam nunc vero nomine
amicam, paulo honestiore concubinam
appellari. Granius Flaccus in libro de
iure Papiriano scribit, pellicem nunc seus direitos, inclusive de filiação. É o cha-
mado poslimínio.

326
Digesto Livro L – Título XVI

vulgo vocari, quae cum eo, cui uxor sit, cuja posse alguém reivindica judicial-
corpus misceat; quosdam eam, quae mente, pois só se pode reclamar o que
uxoris loco sine nuptiis in domo sit, é de sua propriedade.
quam pallakh.n Graeci vocant.
144. PAULO, Comentários à Lei Júlia
e Pápia, Livro X. — Escreve Massúrio,
145. ULPIANUS libro X. ad legem Iu- no Livro de Crônicas, que os antigos
liam et Papiam. — “Virilis”1 appella- chamavam “amásia” a mulher que, sem
tione interdum etiam totam heredi- ser esposa, vivia com alguém. Hoje é
tatem contineri, dicendum est. chamada de amiga e, mais corretamen-
te, concubina. Grânio Flaco, em livro
146. TERENTIUS CLEMENS libro II. que escreveu sobre o direito papiriano,
ad legem Iuliam et Papiam. — “Soce- diz que hoje o povo chama de amásia a
ri, socrus” appellatione avum quoque mulher que junta seu corpo com o de
et aviam uxoris vel mariti contineri, quem tem esposa; outros assim cha-
respondetur. mam a mulher que alguém tem em sua
casa sem ser casado com ela, que os
147. IDEM libro III. ad legem Iuliam gregos chamam palakén.
et Papiam. — Qui in continentibus ur-
bis nati sunt, Romae nati intelligantur. 145. ULPIANO, Comentários à Lei
Júlia e Pápia, Livro X. — O termo viril
148. GAIUS libro VIII. ad legem Iu- significa às vezes a totalidade de uma
liam et Papiam. — Non est sine libe- herança.
ris, cui vel unus filius, unave filia est;
haec enim enuntiatio: “habet liberos, 146. TERÊNCIO CLEMENTE, Co-
non habet liberos”, semper plurativo mentários à Lei Júlia e Pápia, Livro
numero profertur, sicut et pugillares, et III. — Os termos “sogro, sogra” alcan-
codicilli; çam tanto o avô como a avó da esposa
ou do marido.

149. IDEM libro X. ad legem Iuliam


et Papiam. — nam quem sine liberis
esse dicere non possumus, hunc neces-
se est dicamus liberos habere.
147. IDEM, Ibidem, Livro III. —
150. IDEM libro IX. ad legem Iuliam Quem nasce nos arredores de Roma é
et Papiam. — Si ita a te stipulatus fue- tido como nascido em Roma.

148. GAIO, Comentários à Lei Júlia e


Pápia, Livro VIII. — Não se pode dizer
1
Virilis, quinhão de uma herança.

327
Livro L – Título XVI Digesto

ro: “quanto minus a Titio consecutus que não tem filhos quem tem um úni-
fuero, tantum dare spondes?” non so- co filho ou uma única filha, pois dizer
let dubitari, quin, si nihil a Titio fuero “ter filhos”, “não ter filhos” tem sempre
consecutus, totum debeas, quod Titius sentido plural, do mesmo modo que
debuerit. pugillares (taboinhas enceradas de es-
crever) e codicilos.
151. TERENTIUS CLEMENS libro V.
ad legem Iuliam et Papiam. — “De- 149. IDEM, Ibidem, Livro X. — pois,
lata” hereditas intelligitur, quam quis se não podemos dizer que a pessoa não
possit adeundo consequi. tem filho, logo temos de dizer que ela
tem filhos.
152. GAIUS libro X. ad legem Iuliam
et Papiam. — “Hominis” appellatione 150. IDEM, Ibidem, Livro IX. — Se eu
tam feminam, quam masculum conti- te puser esta condição: “Prometes dar-
neri, non dubitatur. -me tanto quanto de menos eu conse-
guir de Tício?”, não há por que duvidar
153. TERENTIUS CLEMENS libro XI. de que, se eu nada vier a receber de Tí-
ad legem Iuliam et Papiam. — Intelli- cio, tu me devas o total do que Tício me
gendus est mortis tempore fuisse, qui deve”.
in utero relictus est.
151. TERÊNCIO CLEMENTE, Co-
mentários à Lei Júlia e Pápia, Livro
154. MACER libro I. ad legem vicen- V. — Entende-se por herança deferida
simam. — “Mille passus” non a millia- a que pode ser recebida.
rio urbis, sed a continentibus aedificiis
numerandi sunt. 152. GAIO, Comentários à Lei Júlia e
Pápia, Livro X. — Não se discute que
155. LICINNIUS RUFINUS libro VII. o termo “homem” inclui tanto o gênero
Regularum. — “Proximi” appellatione masculino como o feminino.
etiam ille continetur, qui solus est.
153. TERÊNCIO CLEMENTE, Co-
156. IDEM libro X. Regularum. — mentários à Lei Júlia e Pápia, Livro
Maiore parte anni possedisse quis in- XI. — Entende-se como tendo existido
telligitur, etiamsi duobus mensibus quem, no momento da morte, foi dei-
possederit, si modo adversarius eius xado no ventre materno.
aut paucioribus diebus, aut nullis pos-
sederit. 154. MACER, Comentários à lei vin-
tena, Livro I. — “Mil passos” devem
157. AELIUS GALLUS libro I. de ver- ser contados não do miliário de Roma,
borum, quae ad ius pertinent, Signi- mas a partir de suas cercanias.

328
Digesto Livro L – Título XVI

ficatione. — “Paries” est, sive murus,


sive maceria est. 155. LICÍNIO RUFINO, Regras, Livro
VII. — Por “próximo” conta-se tam-
§ 1. — Item “via” est, sive semita, sive bém o que é único.
iter est.
156. IDEM, Ibidem, Livro X. — Con-
158. CELSUS libro XXV. Digestorum. sidera-se como tendo tido a posse pela
— In usu iuris frequenter uti nos, Cas- maior parte do ano, mesmo se, em
cellius ait, singulari appellatione, quum realidade, só a tenha tido por dois me-
plura generis eiusdem significare velle- ses, se seu adversário a teve por menos
mus; nam multum hominem venisse tempo ou por nenhum tempo.
Romam, et piscem vilem esse, dicimus.
Item in stipulando satis habemus de 157. HELIO GALO, Da significação
herede cavere: “si ea res secundum me de termos de natureza jurídica, Li-
heredemve meum iudicata erit”, et rur- vro I. — Por “parede” se entende tanto
sus: “quod ob eam rem te heredemve muro quanto paredão de pedras soltas.
tuum”; nempe aeque, si plures heredes
sint, continentur stipulatione. § 1. Do mesmo modo, “via” pode ser
tanto “senda” como “estrada”.

158. CELSO, Digesto, Livro XXV. —


159. ULPIANUS libro I. ad Sabinum. No direito é comum usarmos o sin-
— Etiam aureos numos “aes” dicimus. gular, diz Cascélio, quando queremos
indicar várias coisas de um mesmo
gênero. Assim dizemos que multum
160. IDEM libro II. ad Sabinum. — hominem (muita gente) veio a Roma,
“Ceterorum” et “reliquorum” appella- que o peixe é barato. Portanto, ao esti-
tione etiam omnes continentur, ut pular sobre um herdeiro, devemos ter
Marcellus dixit circa eum, cui optio muito cuidado: “se essa questão for jul-
servi legata est, ceteri Sempronio; nam gada a meu favor ou de meu herdeiro”
tentat, si non optet, omnes ad Sempro- ou então: “o que, em razão disso, tu ou
nium pertinere. teu herdeiro”, pois, se forem vários her-
deiros, esses estarão incluídos na esti-
161. IDEM libro VII. ad Sabinum. — pulação.
Non est pupillus, qui in utero est.

162. POMPONIUS libro II. ad Sabi-


num. — In vulgari substitutione, qua
ei, qui supremus morietur, heres subs-
tituitur, recte substitutus etiam unico

329
Livro L – Título XVI Digesto

intelligitur, exemplo duodecim Tabu- 159. ULPIANO, Comentários a Sabi-


larum, ex quibus proximus agnatus et no, Livro I. — Chamamos também de
solus habetur. bronze moedas de ouro (aureus).156

160. IDEM, Ibidem, Livro II. — Ceteri


(os demais) e reliqui (os restantes) re-
§ 1. — Si quis ita in testamento scrip- presentam todos, como disse Marcelo
serit: “si quid filio meo acciderit, Da- de alguém a quem foi legada a escolha
mas servus meus liber esto”, mortuo fi- de um escravo, e os demais a Semprô-
lio Damas liber erit; licet enim accidant nio, pois, segundo ele, se não optar, to-
et vivis, sed vulgi sermone etiam mors dos pertencerão a Semprônio.
significatur.
161. IDEM, Ibidem, Livro VII. — Não
é órfão quem ainda está no útero.

162. POMPÔNIO, Comentários a


Sabino, Livro II. — Numa substitui-
ção comum, na qual se dá substituto
a um herdeiro que morre por último,
a substituição de um herdeiro único
seria também correta, exemplo da Lei
163. PAULUS libro II. ad Sabinum. — das XII Tábuas, segundo a qual é con-
Illa verba: “optimus maximusque”, vel siderado parente próximo aquele que é
in eum cadere possunt, qui solus est, único.
sic et circa Edictum Praetoris supre-
mae tabulae habentur et solae. § 1. Se alguém assim se expressar num
testamento: “se alguma coisa acontecer
a meu filho, Damas, meu servo, seja li-
§ 1. — “Pueri” appellatione etiam vre”; morto o filho, Damas estará livre.
puella significatur; nam et feminas Embora tudo possa acontecer também
puerperas appellant recentes ex partu, aos vivos, na linguagem popular se en-
et Graece paidi,on [puer] communiter tende também a morte.
appellatur.

156
Aureus é o nome específico de uma moeda
164. ULPIANUS libro XV. ad Sabi- romana, como “real”, “cruzeiro” etc. O bronze
num. — Nomen “filiarum” et in pos- (aer) era o metal utilizado para moedas fra-
tumam cadere quaestionis non est, cionárias, por isso mais populares. Daí sua
quamvis postumae non cadere in eam, universalização como sinômino de dinheiro.
Por exemplo: merere aera, ganhar dinheiro.

330
Digesto Livro L – Título XVI

quae iam in rebus humanis sit, certum 163. PAULO, Comentários a Sabino,
sit. Livro II. — Estas palavras optimus ma-
ximusque (o melhor e o maior) podem
§ 1. — “Partitionis” nomen non sem- referir-se a quem é único; assim tam-
per dimidium significat, sed prout est bém o Edito do Pretor considera como
adiectum; potest enim iuberi aliquis, et único um último testamento.
maximam partiri, posse et vicesimam,
et tertiam, et prout libuerit; sed si non § 1. O termo puer (menino) significa
fuerit portio adiecta, dimidia pars de- também puella (menina), pois também
betur. se chamam de “puérperas” (de puer,
menino) mulheres que acabam de dar
à luz. Os gregos têm um termo comum
paidíon (criança) para se referir aos
dois gêneros.

164. ULPIANO, Comentários a Sabi-


§ 2. — “Habere”, sicut pervenire, cum no, Livro XV. — É certo que por “fi-
effectu accipiendum est. lhas” entende-se também a filha póstu-
ma, embora essa não possa ser incluída
165. POMPONIUS libro V. ad Sabi- entre as que já vivem157.
num. — Venisse ad heredem nihil in-
telligitur, nisi deducto aere alieno.
§ 1. “Partição” nem sempre significa
metade, mas segundo o que expres-
166. IDEM libro VI. ad Sabinum. — sa: alguém, por conseguinte, pode ser
“Urbana familia” et “rustica” non loco, mandado dividir a maior parte, a vi-
sed genere distinguitur; potest enim gésima, a terça, como quiser. Mas se a
aliquis dispensator non esse servorum parte não for definida, prevalece o sen-
urbanorum numero; veluti is, qui rus- tido de metade.
ticarum rerum rationes dispenset, ibi-
que habitet, non multum abest a villico, § 2. “Ter”, como “conseguir”, deve ser
insularius autem urbanorum numero entendido como posse efetiva.
est; videndum tamen est, ipse domi-
nus quorum loco quemque habuerit, 165. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
quod ex numero familiae, et vicariis bino, Livro V. — Entende-se que nada
apparebit. “Pernoctare” extra urbem
intelligendus est, qui nulla parte noctis
in urbe est; “per” enim totam noctem 157
Filho póstumo é aquele que nasce após a
significat. morte do pai. Por conseguinte, embora este-
ja computado quando do testamento, não é
ainda considerado como vivente.

331
Livro L – Título XVI Digesto

é liberado para o herdeiro antes de de-


duzidas as dívidas do autor da herança.

167. ULPIANUS libro XXV. ad Sa- 166. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Não
binum. — “Carbonum” appellatione é o local, mas a espécie de trabalho que
materiam non contineri, sed an ligno- distingue o escravo urbano do escravo
rum? Et fortassis quis dicet, nec ligno- rural. De fato, pode acontecer um ad-
rum; non enim lignorum gratia habuit. ministrador doméstico não estar in-
Sed et titiones, et alia ligna cocta, ne cluído entre escravos urbanos, como
fumum faciant, utrum ligno, an carbo- é o caso de quem faz a contabilidade
ni, an suo generi adnumerabimus? Et de bens rurais e vive no campo. Sua
magis est, ut proprium genus habeatur. situação não é muito diferente da de
“Sulphurata” quoque de ligno aeque um caseiro, mas quem cuida de casas
eandem habebunt definitionem. Ad fa- é contado entre os escravos urbanos.
ces quoque parata non erunt lignorum Deve-se, todavia, considerar quem o
appellatione comprehensa, nisi haec próprio senhor terá posto num lugar,
fuit voluntas. Idem et de nucleis oliva- o que transparecerá da função dos es-
rum, sed et de balanis est, vel si qui alii cravos e de seus imediatos. “Pernoitar”
nuclei. De pinu autem integri strobyli, fora da cidade significa não estar na ci-
ligni appellatione continebuntur. dade em nenhuma parte da noite, pois
o prefixo “per” significa toda a noite.

167. ULPIANO, Comentários a Sabi-


no, Livro XXV. — Pelo nome de “car-
168. PAULUS libro IV. ad Sabinum. vão” não se entende madeira, mas se
— “Pali” et “perticae” in numerum ma- entende lenha? Alguém pode talvez
teriae redigendi sunt, et ideo lignorum responder que não, porque não o usa
appellatione non continentur. como lenha. Mas os tições, e outras le-
nhas sazonadas para não fazer fumaça,
enquadram-se como lenha, como car-
169. IDEM libro V. ad Sabinum. — vão ou como espécie própria? É mais
Non tantum in traditionibus, sed et in certo que seja considerada como tendo
emtionibus, et stipulationibus, et tes- seu próprio gênero. A madeira sulfura-
tamentis adiectio haec: “uti optimus da tem também a mesma definição de
maximusque est”, hoc significat, ut lenha. A madeira preparada para facho
liberum praestetur praedium, non ut não será compreendida pelo mesmo
etiam servitutes ei debeantur. nome de lenha, a menos que essa seja
a vontade. Diga-se o mesmo do caro-
170. ULPIANUS libro XXXIII. ad Sa- ço da oliva, como também da boleta
binum. — “Heredis” appellatione om- do carvalho e muitos outros. Mas as

332
Digesto Livro L – Título XVI

nes significari successores credendum pinhas inteiras do pinheiro são abran-


est, etsi verbis non sint expressi. gidas pela denominação de lenha.

168. PAULO, Comentários a Sabino,


171. POMPONIUS libro XVI. ad Sa- Livro IV. — “Mourões” ou “estacas” e
binum. — “Pervenisse” ad te recte di- “varas” enquadram-se no conceito de
citur, quod per te ad alium pervenerit, madeira, por isso não podem ser com-
ut in hereditate a liberto per patronum preendidos pelo nome de lenha.
filiumfamilias patri eius adoptivo ac-
quisita, responsum est. 169. IDEM, Ibidem, Livro V. — Não
só nas doações, mas também nas com-
pras, nos contratos e em testamentos, a
cláusula “o melhor estado possível” sig-
172. ULPIANUS libro XXXVIII. ad nifica que o imóvel está livre e desim-
Sabinum. — “Liberti” appellatione pedido, e não está sujeito a servidões.
etiam libertam contineri placuit.

170. ULPIANO, Comentários a Sa-


bino, Livro XXXIII. — Pelo nome de
173. IDEM libro XXXIX. ad Sabinum. “herdeiro” deve-se ter como incluídos
— “Collegarum” appellatione hi conti- todos os sucessores, mesmo se não ex-
nentur, qui sunt eiusdem potestatis. pressamente dito.

§ 1. — Qui extra continentia urbis est, 171. POMPÔNIO, Comentários a Sa-


abest; ceterum usque ad continentia bino, Livro XVI. — É com razão que se
non abesse videbitur. diz ter chegado a ti o que, por ti, passou
a ser de outrem. É o caso, conforme se
174. IDEM libro XLII. ad Sabinum. — respondeu, de uma herança recebida
Aliud est promittere, “furem non esse”, por um liberto por meio de um patro-
aliud “furto noxaque solutum”; qui no filho de família que primeiro a rece-
enim dicit, furem non esse, de hominis beu de um pai adotivo.
proposito loquitur, qui furtis noxaque
solutum, nemini esse furti obligatum 172. ULPIANO, Comentários a Sabi-
promittit. no, Livro XXXVIII. — É pacífico que o
termo “liberto” inclui também a liber-
ta.
175. POMPONIUS libro XXII. ad Sa-
binum. — “Faciendi” verbo, reddendi 173. IDEM, Ibidem, Livro XXXIX. —
etiam causa continetur. Pela denominação de “colegas” enten-
dem-se os que têm o mesmo poder.

333
Livro L – Título XVI Digesto

176. ULPIANUS libro XLV. ad Sabi-


num. — “Solutionis” verbo satisfac- § 1. Quem está além dos muros de
tionem quoque omnem accipiendam Roma está ausente, mas não se conside-
placet; “solvere” dicimus eum, qui fecit, ra ausente quem estiver até os muros.
quod facere promisit.
174. IDEM, Ibidem, Livro XLII. —
Uma coisa é jurar que “não é ladrão”,
177. IDEM libro XLVII. ad Sabinum. outra é dizer que “está isento de acusa-
— Natura “cavillationis”, quam Grae- ção de roubo e de delito”. Quem afirma
ci swri,thn [acervalem syllogismum] não ser ladrão fala de sua disposição de
appellaverunt, haec est, ut ab evidenter ânimo; quem está isento de acusação
veris per brevissimas mutationes dis- de roubo e delito jura não dever nada
putatio ad ea, quae evidenter falsa sunt, a ninguém em razão de roubo.
perducatur.
175. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
178. IDEM libro XLIX. ad Sabinum. bino, Livro XXII. — Por “dar” enten-
— “Pecuniae” verbum non solum nu- de-se também o motivo de “devolver”.
meratam pecuniam complectitur, ve-
rum omnem omnino pecuniam, hoc 176. ULPIANO, Comentários a Sa-
est omnia corpora; nam corpora quo- bino, Livro XLV. — Pelo termo solutio
que pecuniae appellatione contineri, (pagamento) entende-se também satis-
nemo est, qui ambiget. factio (quitação total da dívida); “qui-
tou” dizemos de quem fez o que pro-
§ 1. — “Hereditas” iuris nomen est, meteu fazer.
quod et accessionem, et decessionem
in se recipit; hereditas autem vel maxi- 177. IDEM, Ibidem, Livro XLVII. —
me fructibus augetur. A natureza do sofisma, que os gregos
chamam soríten (argumentação desor-
§ 2. — “Actionis” verbum et specia- denada), é partir de verdades eviden-
le est, et generale; nam omnis actio tes e chegar, por pequenas alterações, a
dicitur, sive in personam, sive in rem conclusões evidentemente falsas.
sit petitio; sed plerumque “actiones”
personales solemus dicere, “petitionis”
autem verbo in rem actiones significari 178. IDEM, Ibidem, Livro XLIX. — O
videntur; “persecutionis” verbo extra- termo “dinheiro” abrange não só mo-
ordinarias persecutiones puto contine- eda corrente, mas todo valor, isto é,
ri, utputa fideicommissorum, et si quae todo bem material, pois não há quem
aliae sunt, quae non habent iuris ordi- conteste que, sob o termo dinheiro,
narii exsecutionem. subentende-se também aquele.

334
Digesto Livro L – Título XVI

§ 3. — Hoc verbum: “debuit”, omnem


omnino actionem comprehendere in- § 1. “Herança” é termo jurídico que,
telligitur, sive civilis, sive honoraria, por si, admite aumento e diminuição;
sive fideicommissi fuit persecutio. a herança, porém, aumenta o mais pos-
sível por seus rendimentos.
179. IDEM libro LI. ad Sabinum. —
Inter haec verba: “quanti ea res erit”, § 2. O termo actio (ação) é tanto espe-
vel: “quanti eam rem esse paret”, nihil cial como geral, pois toda ação se diz
interest, in utraque enim clausula pla- reclamação contra pessoa ou envolve
cet veram rei aestimationem fieri. coisa. Mas, em geral, costumamos cha-
mar actiones questões contra pessoas
180. POMPONIUS libro XXX. ad e petitiones quando envolvem coisa;
Sabinum. — “Tugurii” appellatione com o termo persecutio nos referimos a
omne aedificium, quod rusticae magis questões extraordinárias, por exemplo,
custodiae convenit, quam urbanis ae- de fideicomissos e outras que não têm
dibus, significatur. execução pelo direito ordinário.

§ 1. — Ofilius ait, tugurium a tecto,


tanquam tegularium esse dictum, ut § 3. Este termo: debuit entende-se
toga, quod ea tegamur. como abrangendo toda e qualquer
ação, civil, honorária ou de processo de
fideicomisso.

181. IDEM libro XXXV. ad Sabinum. 179. IDEM, Ibidem, Livro LI. — Não
— Verbum illud: “pertinere”, latissime há diferença alguma entre as expres-
patet; nam et iis rebus petendis aptum sões “quanto valerá isso” ou “quanto
est, quae dominii nostri sint, et iis, quas parece valer isso”, pois em ambas se faz
iure aliquo possideamus, quamvis non apenas real avaliação da coisa.
sint nostri dominii; pertinere ad nos
etiam ea dicimus, quae in nulla eorum 180. POMPÔNIO, Comentários a
causa sint, sed esse possint. Sabino, Livro XXX. — Tugurium (ca-
sebre) é um termo que expressa cons-
trução que se presta mais a depósito de
coisas rústicas do que edifício urbano.
182. ULPIANUS libro XXVII. ad
Edictum. — Paterfamilias liber pecu- § 1. Diz Ofílio que tugurium (casebre)
lium non potest habere, quemadmo- vem do radical de tectum (coberto), do
dum nec servus bona. verbo tego (cobrir), como se diz tegula-
rius (telhador), toga (veste) com a qual
nos cobrimos.

335
Livro L – Título XVI Digesto

183. IDEM libro XXVIII. ad Edictum.


— “Tabernae” appellatio declarat omne 181. IDEM, Ibidem, Livro XXXV.
utile ad habitandum aedificium, non — O verbo pertinere (pertencer) tem
ex eo, quod tabulis cluditur; significação muito ampla: vale tanto
para reclamarmos coisas de que temos
184. PAULUS libro XXX. ad Edictum. domínio como para reclamar de coisas
— inde tabernacula, et contubernales de que temos posse por algum direito,
dicti sunt. embora não sejam de nosso domínio.
Dizemos também nos pertencerem
coisas que, por nenhum motivo, são de
outros, mas podem ser.

182. ULPIANO, Comentários ao Edi-


to, Livro XXVII. — Um pai de família,
por ser livre, não pode ter pecúlio158,
do mesmo modo que um escravo não
pode ter bens.

185. ULPIANUS libro XXVIII. ad 183. IDEM, Ibidem, Livro XXVIII. —


Edictum. — “Instructam” autem tab- O termo taberna indica toda constru-
ernam sic acipiemus, quae et rebus, et ção que serve para moradia e não o fato
hominibus ad negotiationem paratis de ser feita de tábuas;
constat.
184. PAULO, Comentários ao Edito,
186. IDEM libro XXX. ad Edictum. — Livro XXX. — daí se dizer também
“Commendare”, nihil aliud est, quam tabernaculum (átrio, tenda) e contuber-
deponere. nales (pessoas que moram sob o mes-
mo teto).
187. IDEM libro XXXII. ad Edictum.
— Verbum “exactae pecuniae” non so- 185. ULPIANO, Comentários ao Edi-
lum ad solutionem referendum est, ve- to, Livro XXVIII. — Entenderemos,
rum etiam ad delegationem. porém, como taberna instructa loja

188. PAULUS libro XXXIII. ad Edic-


tum. — “Habere” duobus modis dici-
tur, altero iure dominii, altero, obtinere 158
O peculium constitui conjunto de bens ajun-
sine interpellatione id, quod quis eme- tados por escravo resultantes de gratificações
rit. recebidas de seus senhores ou de economias
pessoais, às vezes com o objetivo de comprar
a alforria. No Digesto significa também pou-
pança de soldado.

336
Digesto Livro L – Título XVI

§ 1. — “Cautum” intelligitur, sive per- provida de mercadorias e de pessoas


sonis, sive rebus cautum sit. para negociá-las.

186. IDEM, Ibidem, Livro XXX. —


189. IDEM libro XXXIV. ad Edictum. Commendare (confiar) nada mais é do
— “Facere oportere” et hanc significa- que depositar.
tionem habet, ut abstineat quis ab eo
facto, quod contra conventionem fie- 187. IDEM, ibidem, Livro XXXII. —
ret, et curaret, ne fiat. A expressão exactae pecuniae (valor
cobrado) não diz apenas respeito a pa-
190. ULPIANUS libro XXXIV. ad gamento, mas também a delegação.
Edictum. — “Provinciales” eos accipe-
re debemus, qui in provincia domici- 188. PAULO, Comentários ao Edito,
lium habent, non eos, qui ex provincia Livro XXXIII. — Há dois modos de
oriundi sunt. “ter”: um, por direito de domínio, ou-
191. PAULUS libro XXXV. ad Edic- tro, por compra, sem questionamento.
tum. — Inter “divortium” et “repu-
dium” hoc interest, quod repudiari
etiam futurum matrimonium potest; § 1. Por caução entende-se prevenir-
non recte autem sponsa divortisse di- -se tanto com relação a pessoas como
citur, quod divortium ex eo dictum est, a coisas.
quod in diversas partes eunt, qui disce-
dunt. 189. IDEM, Ibidem, Livro XXXIV. —
“Convir fazer” significa também abs-
192. ULPIANUS libro XXXVII. ad ter-se de fazer o que é contra o acorda-
Edictum. — Haec adiectio: “plurisve”, do e cuidar que não se faça.
non infinitam pecuniam continet, sed
modicam ut taxatio haec: “solidos de-
cem plurisve”, ad minutulam summam 190. ULPIANO, Comentários ao Edi-
referatur. to, Livro XXXIV. — Devemos conside-
rar como provinciano quem tem do-
193. IDEM libro XXXVIII. ad Edic- micílio numa província, e não quem é
tum. — Haec verba: “quanti eam rem oriundo de uma província.
paret esse”, non ad quod interest, sed ad 191. PAULO, Comentários ao Edito,
rei aestimationem referuntur. Livro XXXV. — Há diferença entre “di-
vórcio” e “repúdio”. Repudia-se no caso
194. ULPIANUS libro XLIII. ad Edic- de matrimônio ainda não realizado,
tum. — Inter “donum” et “munus” hoc mas não é próprio dizer que uma noiva
interest, quod inter genus et speciem; divorciou-se, pois por divórcio se en-
nam genus esse donum Labeo a do-

337
Livro L – Título XVI Digesto

nando dictum, munus speciem; nam tende que os que se divorciam ficam
munus esse donum cum causa, utputa livres para seguir destinos diversos.
natalicium, nuptalicium.
192. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XXXVII. — Este aditivo “ou
195. IDEM libro XLVI. ad Edictum. mais” não implica valor infinito, mas
— Pronuntiatio sermonis in sexu mas- módico, como esta avaliação: “dez ou
culino ad utrumque sexum plerumque mais moedas de ouro”, referindo-se a
porrigitur. uma pequena soma.

§ 1. — “Familiae” appellatio quali- 193. IDEM, Ibidem, Livro XXXVIII.


ter accipiatur, videamus; et quidem — A expressão “quanto parece valer essa
varie accepta est, nam et in res, et in coisa” refere-se não ao valor real, mas à
personas diducitur; in res, utputa in simples estimativa do valor do objeto.
lege duodecim Tabularum his verbis:
ADGNATUS PROXIMUS FAMI- 194. ULPIANO, Comentários ao Edi-
LIAM HABETO; ad personas autem to, Livro XLIII. — Há diferença de gê-
refertur familiae significatio ita, quum nero e espécie entre donum (donativo)
de patrono et liberto loquitur lex: EX e munus (presente); diz Labeão: donum
EA FAMILIA, inquit, IN EAM FAMI- (donativo) é gênero, munus (presen-
LIAM; et hic de singularibus personis te) é espécie, pois “presente” se dá por
legem loqui constat. alguma causa, digamos, aniversário,
núpcias.
§ 2. — “Familiae” appellatio refertur et
ad corporis cuiusdam significationem, 195. IDEM, Ibidem, Livro XLVI. — O
quod aut iure proprio ipsorum, aut uso de termos masculinos na lingua-
communi universae cognationis con- gem compreende, em geral, ambos os
tinetur. Iure proprio familiam dicimus sexos.
plures personas, quae sunt sub unius
potestate aut natura, aut iure subiectae, § 1. Vejamos de que modo se entende
utputa patremfamilias, matremfami- o termo “família”. Em verdade, há mui-
lias, filiumfamilias, filiamfamilias, qui- tas acepções, dividindo-se principal-
que deinceps vicem eorum sequuntur, mente em coisas e pessoas. Por coisas,
utputa nepotes et neptes, et deinceps. por exemplo, na Lei das XII Tábuas, a
“Pater” autem “familias” appellatur, qui oração “Assuma os escravos o parente
in domo dominium habet; recteque mais próximo”159; refere-se a pessoas
hoc nomine appellatur, quamvis filium
non habeat; non enim solam perso-
nam eius, sed et ius demonstramus. 159
Para o bom entendimento desse parágrafo,
Denique et pupillum patremfamilias convém lembrar que o escravo, no direito ro-
mano, pelo fato de não ser sujeito de direitos,

338
Digesto Livro L – Título XVI

appellamus, et quum paterfamilias quando, falando de patrono e liberto,


moritur, quotquot capita ei subiecta diz “dessa família para aquela”, indican-
fuerint, singulas familias incipiunt ha- do tratar-se de pessoas.
bere; singuli enim patrumfamiliarum
nomen subeunt. Idemque eveniet et in
eo, qui emancipatus est; nam et hic sui
iuris effectus propriam familiam ha- § 2. O termo “família” tem também
bet. Communi iure familiam dicimus a significação de corporação que é
omnium agnatorum; nam et si patrefa- abrangida pelo direito próprio de seus
milias mortuo singuli singulas familias componentes ou pelo direito comum
habent, tamen omnes, qui sub unius de cognação. Por direito próprio, cha-
potestate fuerunt, recte eiusdem fami- mamos de família várias pessoas que,
liae appellabuntur, qui ex eadem domo pela natureza ou pelo direito, estão su-
et gente proditi sunt. jeitas ao poder de um só, por exemplo, o
pai de família, a mãe de família, o filho
de família, a filha de família e aqueles
que, em sequência, lhes fazem as vezes,
como netos e netas, e daí por diante.
Chama-se, porém, pai de família quem
na casa tem o domínio. É assim chama-
do com propriedade, mesmo que não
tenha filhos; não nos atemos à pessoa
dele, mas ao direito. Por fim, chama-
mos também o órfão de pai de famí-
§ 3. — Servitutum quoque solemus lia, e quando morre um pai de família,
appellare familias, ut in Edicto Praeto- tantas quantas forem as pessoas a ele
ris ostendimus sub titulo de furtis, ubi sujeitas começam a ter cada uma sua
Praetor loquitur de familia publicano- família, pois cada um adquire o título
rum; sed ibi non omnes servi, sed cor- de pai de família. O mesmo acontecerá
pus quoddam servorum demonstratur, também a quem foi emancipado, pois
huius rei causa paratum, hoc est vec- esse tem sua própria família por direito
tigalis causa. Alia autem parte Edicti próprio. Chamamos família, por direi-
omnes servi continentur, ut de homi- to comum, todos os agnatos, pois, se
nibus coactis, et vi bonorum raptorum; morre o pai de família, cada um tem
item redhibitoria, si deterior res redda- sua própria família, mas todos os que
tur emtoris opera, aut familiae eius, et estiveram sob o poder de um só eram
interdicto Unde vi familiae appellatio
omnes servos comprehendit; sed et filii
continentur. é considerado como res, coisa. E o termo fe-
milia pode significar o conjunto de escravos
de um só senhor.

339
Livro L – Título XVI Digesto

chamados corretamente membros da


mesma família, porque nascidas de um
§ 4. — Item appellatur familia plurium mesmo tronco e progênie.
personarum, quae ab eiusdem ultimi
genitoris sanguine proficiscuntur, si- § 3. Costumamos falar também de fa-
cuti dicimus familiam Iuliam, quasi a mília como corporação de escravos,
fonte quodam memoriae. como mostramos no Edito do Pretor,
onde, a propósito de furtos, o pretor fala
§ 5. — Mulier autem familiae suae et de família de publicanos; mas ali não
caput, et finis est. se fala de todos os escravos, mas de um
grupo de escravos, organizado com vista
a seu objetivo, isto é, a cobrança de im-
196. GAIUS libro XVI. ad Edictum postos. Em outra parte do edito, todos os
provinciale. — “Familiae” appellatione escravos são abrangidos, como na parte
et ipse princeps familiae continetur. sobre coação de pessoas e sobre seques-
§ 1. — Feminarum liberos in familia tro de bens. Além disso, tratando-se de
earum non esse, palam est, quia qui redibitória, quando se devolve coisa de-
nascuntur, patris, non matris familiam teriorada por ação do comprador ou da
sequuntur. família dele; no interdito Unde vi a de-
nominação de família abrange todos os
197. ULPIANUS libro L. ad Edictum. escravos, como também seus filhos.
— “Indicasse” est, detulisse, arguisse,
accusasse, et convicisse. § 4. Chamam-se também família mui-
tas pessoas oriundas do sangue de um
mesmo e último genitor, como falamos
198. IDEM libro II. de omnibus Tri- da família Júlia, como de uma fonte
bunalibus. — “Urbana praedia” om- histórica.
nia aedificia accipimus, non solum
ea, quae sunt in oppidis, sed et si forte § 5. A mulher, porém, é não só princí-
stabula sunt, vel alia meritoria in villis, pio de sua família como também fim.
et in vicis, vel si praetoria voluptati
tantum deservientia, quia urbanum
praedium non locus facit, sed materia. 196. GAIO, Comentários ao Edito
Proinde hortos quoque, si qui sunt in Provincial, Livro XVI. — O termo “fa-
aedificiis constituti, dicendum est, ur- mília” inclui aquele que é o chefe da fa-
banorum appellatione contineri. Plane mília.
si plurimum horti in reditu sunt, vine- § 1. É evidente que os filhos de uma
arii forte, vel etiam olitorii, magis haec mulher não fazem parte da família
non sunt urbana. dela, pois os que dela nascem seguem
a família do pai, não da mãe.

340
Digesto Livro L – Título XVI

199. IDEM libro VIII. de omnibus 197. ULPIANO, Comentários ao Edi-


Tribunalibus. — “Absentem” accipere to, Livro L. — “Denunciar” é o mesmo
debemus eum, qui non est eo loci, in que entregar, delatar, acusar e oferecer
quo petitur; non enim trans mare ab- provas.
sentem desideramus; et si forte extra
continentia urbis sit, abest. Ceterum 198. IDEM, De todos os Tribunais, Li-
usque ad continentia non abesse vide- vro II. — Por “imóveis urbanos” enten-
bitur, si non latitet. demos todos os edifícios, não só aque-
les que se encontram nas cidades, mas
também albergues ou casas comerciais
que se situam em aldeias ou vilas, ou
mansões campestres, pois o que torna
um imóvel urbano não é o lugar, mas
§ 1. — Abesse non videtur, qui ab hos- sua natureza. Por conseguinte, hortas,
tibus captus est, sed qui a latronibus se plantadas em edifícios, enquadram-
detinetur. -se também na categoria de urbanos.
Evidentemente, caso se trate de hortos
200. IULIANUS libro II. Digestorum. para fim de renda, como vinhas, oli-
— Haec stipulatio: “noxis solutum pra- vais, já não são urbanos.
estari?” non existimatur ad eas noxas
pertinere, quae publicam exercitionem 199. IDEM, Ibidem, Livro VIII. — Di-
et coercitionem capitalem habent. zemos “ausente” quem não está no lu-
gar onde é requerido. Mas não se exige
201. IDEM libro LXXXI. Digestorum. que alguém, para estar ausente, esteja
— Iusta interpretatione recipiendum além-mar. Se estiver além dos subúr-
est, ut appellatione “filii”, sicuti filia- bios, está ausente. Mas estando até os
mfamilias contineri saepe respondi- subúrbios não é considerado ausente, a
mus, ita et nepos videatur comprehen- menos que esteja escondido.
di; et “patris” nomine avus quoque
demonstrari intelligatur. § 1. Não se considera ausente quem
foi capturado por inimigos, mas quem
202. ALFENUS VARUS libro II. Di- está em poder de ladrões160.
gestorum. — Quum in testamento
scriptum esset, ut heres in funere, aut 200. JULIANO, Digesto, Livro II. — A
in monumento duntaxat aureos cen- cláusula “Ser apresentado livre de cul-
tum consumeret, non licet minus con-
sumere; si amplius vellet, licet; neque
ob eam rem contra testamentum facere
videtur. 160
O capturado por inimigos de guerra perde a
cidadania, por conseguinte, deixa civilmente
de existir. Ver nota 155.

341
Livro L – Título XVI Digesto

203. IDEM libro VII. Digestorum. — pa” supõe não se tratar de culpa que
In lege censoria portus Siciliae ita scrip- implique ação pública ou pena capital.
tum erat: “Servos, quos domum quis
ducet suo usu, pro his portorium ne
dato”; quaerebatur, si quis a Sicilia ser- 201. IDEM, Ibidem, Livro LXXXI. —
vos Romam mitteret fundi instruendi Já respondemos várias vezes que, num
causa, utrum pro his hominibus por- entendimento corrreto, na denomi-
torium dare deberet, necne. Respondit, nação de “filho” está contido também
duas esse in hac scriptura quaestiones: o conceito de “filha de família”, como
primam, quid esset: “domum ducere”, também o de neto; e por “pai” se enten-
alteram, quid esset: “suo usu ducere”. da também o avô.
Igitur quaeri solere, utrum ubi quisque
habitaret, sive in provincia, sive in Ita- 202. ALFENO VARO, Digesto, Livro
lia, an duntaxat in sua cuiusque patria II. — Se está escrito num testamento
domus esse recte diceretur. Sed de ea que o herdeiro gaste pelo menos cem
re constitutum esse, eam domum uni- áureos no funeral ou no mausoléu, não
cuique nostrum debere existimari, ubi é lícito gastar menos; se, todavia, gastar
quisque sedes et tabulas haberet, sua- mais, é lícito, e não se considera estar
rumque rerum constitutionem fecisset. fazendo algo contra o testamento.
Quid autem esset: “usu suo”, magnam
habuisse dubitationem; et magis pla-
cet, quod victus sui causa paratum est, 203. IDEM, Ibidem, Livro VII. — Na
tantum contineri. Itemque de servis ea- lei alfandegária do porto da Sicília es-
dem ratione quaeri, qui eorum usus sui tava escrito: “Quem leva para casa es-
causa parati essent, utrum dispensato- cravos para uso próprio está isento de
res, insularii, villici, atrienses, testores, pagar taxa por eles”. Consultado sobre
operarii quoque rustici, qui agrorum se devia ou não pagar a taxa quem
colendorum causa haberentur, ex qui- despachasse escravos da Sicília para
bus agris paterfamilias fructus caperet, Roma, para cultivo de uma proprie-
quibus se toleraret, omnes denique dade, respondeu que, naquela norma-
servos, quos quisque emisset, ut ipse tiva, punham-se duas questões: o que
haberet, atque iis ad aliquam rem ute- significa “levar para casa” e, outra, o
retur, neque ideo emisset, ut venderet. que significa “para uso próprio”. O que
Et sibi videri, eos demum usus sui cau- constitui, porém, casa de alguém é ou-
sa patremfamilias habere, qui ad eius tra questão: o lugar onde mora, numa
corpus tuendum, atque ipsius cultum província, na Itália ou só em sua pátria.
praepositi destinatique essent; quo in É pacífico entender-se como casa o lu-
genere iunctores, cubicularii, coqui, gar onde se mora habitualmente, onde
ministratores, atque alii, qui ad eius- se tem o registro de seus bens e se de-
senvolvem suas atividades. Mas quanto

342
Digesto Livro L – Título XVI

modi usum parati essent, numeraren- ao que significaria “para uso próprio”,
tur. houve muita discussão; prevaleceu,
porém, o entendimento de que signifi-
cava apenas o que fosse adquirido com
vista ao próprio sustento. Também se
perguntava, com relação aos escravos,
204. PAULUS libro II. Epitomarum quais deles teriam sido comprados
Alfeni. — “Pueri” appellatio tres sig- para esse fim, isto é, para administra-
nificationes habet: unam, quum om- dores, cobradores, caseiros, porteiros,
nes servos pueros appellaremus, alte- tecelões, trabalhadores rurais necessá-
ram, quum puerum contrario nomine rios para o cultivo de áreas das quais o
puellae diceremus, tertiam, quum aeta- pai de família tira seu sustento e todos
tem puerilem demonstraremus. os demais que alguém comprasse para
tê-los a seu serviço ou para usá-los em
alguma obra, e não para vender. Na sua
opinião, tratar-se-ia exclusivamente de
escravos adquiridos por um pai de fa-
205. IDEM libro IV. Epitomarum Al- mília para sua guarda e serviços pesso-
feni. — Qui fundum vendidit, pomum, ais, como massagistas, camareiros, co-
recepit; nuces et ficus, et uvas duntaxat zinheiros, serventes e outros serviços
duracinas, et purpureas, et quae eius dessa natureza.
generis essent, quas non vini causa ha-
beremus, quas Graeci trwxi,mouj [co- 204. PAULO, Epítome de Alfeno,
mestibiles] appellarent, recepta videri. Livro II. — O termo puer (menino)
tem três acepções: primeiro, quando
206. IULIANUS libro VI. ex Minicio. chamamos todos os escravos de “me-
— “Vinaria” vasa proprie vasa torcula- ninos”; segundo, quando chamamos
ria esse placet; dolia autem et serias ta- alguém de “menino” em contraposição
mdiu in ea causa esse, quamdiu vinum a “puella” (menina) e, terceiro, quando
haberent; quum sine vino esse desine- designamos alguém por sua idade pue-
rent, in eo numero non esse, quoniam ril.
ad alium usum transferri possent, velu-
ti si frumentum in his abdatur; eandem 205. IDEM, Ibidem, Livro IV. —
causam amphorarum esse, ut, quum Quem vendeu um terreno com reserva
vinum habeant, tum in vasis vinariis, das frutas por essas frutas só se enten-
quum inanes sint, tum extra numerum dem nozes e figos, uvas de pele dura e
vinariorum sint, quia aliud in his abdi as vermelhas, e uvas que não se pres-
possit. tam para vinho, que os gregos chamam
de troxímos (comestíveis).

343
Livro L – Título XVI Digesto

207. AFRICANUS libro III. Quaestio- 206. JULIANO, Doutrina de Minício,


num. — “Mercis” appellatione homi- Livro VI. — Chamam-se propriamen-
nes non contineri, Mela ait; et ob eam te vinaria (jarras para vinho, vasilhas
rem mangones non mercatores, sed ve- de lagar), dolia (talhas) e seria (jarras)
naliciarios appellari ait, et recte. enquanto contêm vinho; quando não
têm vinho, deixam de sê-lo, porque
208. IDEM libro IV. Quaestionum. podem ser utilizadas para outro fim,
— “Bonorum” appellatio, sicut here- como para guardar cereais. O mesmo
ditatis, universitatem quandam ac ius acontece com as ânforas, pois quan-
successionis, et non singulares res de- do contêm vinho, são utensílios para
monstrat. vinho; quando vazias, não se incluem
entre vasilhas de vinho, porque podem
conter outra coisa.

209. FLORENTINUS libro X. Insti- 207. AFRICANO, Questões, Livro III.


tutionum. — “Coram” Titio aliquid — Segundo Mela, o termo mercis (mer-
facere iussus non videtur praesente eo cadoria) não abrange escravos, por isso
fecisse, nisi is intelligat; itaque si fu- o vendedor de escravos não é chamado
riosus, aut infans sit, aut dormiat, non de mercador, mas de venaliciarius161.
videtur coram eo fecisse. Scire autem,
non etiam velle is debet; nam et invito 208. IDEM, Ibidem, Livro IV. — O
eo recte fit, quod iussum est. termo bona (bens), do mesmo modo
que hereditas (herança), indica certa
totalidade e direito de sucessão, e não
coisas singulares.
209. FLORENTINO, Instituições, Li-
vro X. — Não parece alguém ter fei-
to algo que lhe foi mandado fazer na
presença de Tício se o tiver feito diante
210. MARCIANUS libro VII. Institu- dele, mas sem que ele disso tenha co-
tionum. — Is, qui natus est ex man- nhecimento. Portanto, se feito diante de
cipiis urbanis, et missus est in villam um alienado, de um bebê ou de alguém
nutriendus, in “urbanis” servis consti- que dorme, não parece ter sido feito
tuetur. diante de nenhum deles. Mas a pessoa
diante da qual algo deve ser feito deve
211. FLORENTINUS libro VIII. Ins- sabê-lo, porém não é preciso também
titutionum. — “Fundi” appellatione
omne aedificium et omnis ager conti-
netur; sed in usu urbana aedificia, “ae- 161
Termo derivado de venalicium, praça, mer-
des”, rustica, “villae” dicuntur. Locus cado de escravos. O escravo posto a venda
chamava-se venalicius.

344
Digesto Livro L – Título XVI

vero sine aedificio in urbe, “area”, rure querê-lo, pois o que foi ordenado pode
autem “ager” appellatur. Idemque ager ser feito devidamente contra a vontade
cum aedificio “fundus” dicitur. dele.

210. MARCIANO, Instituições, Livro


VII. — Quem nasceu de escravos ur-
212. ULPIANUS libro I. de Adulteriis. banos e foi mandado para ser criado
— “Praevaricatores” eos appellamus, em casa de campo será contado entre
qui causam adversariis suis donant, et escravos urbanos.
ex parte actoris in partem rei conce-
dunt; a varicando enim praevaricatores 211. FLORENTINO, Instituições,
dicti sunt. Livro VIII. — Por fundus (imóvel)
entende-se toda construção, inclusive
213. IDEM libro I. Regularum. — “Ce- o terreno. Mas, usualmente, chama-se
dere” diem significat, incipere deberi aedificium (prédio) construção urbana,
pecuniam; “venire” diem significat, e villa (casa de campo) construção ru-
eum diem venisse, quo pecunia peti ral. Na zona urbana, terreno chama-se
possit. Ubi pure quis stipulatus fue- area (área) e, na zona rural, ager (cam-
rit, et cessit, et venit dies; ubi in diem, po). Ager (campo) com edificação cha-
cessit dies, sed nondum venit; ubi sub ma-se também fundus (imóvel rural).
conditione, neque cessit, neque venit
dies pendente adhuc conditione. 212. ULPIANO, Do Adultério, Livro
I. — Chamamos praevaricatores (pre-
varicadores) aqueles que entregam a
causa que defendem aos adversários e
§ 1. — “Aes alienum” est, quod nos aliis da parte do autor passa à do réu. Cha-
debemus; “aes suum” est, quod alii no- mam-se prevaricatores de varicare (an-
bis debent. dar sem firmeza).

§ 2. — “Lata culpa” est nimia negligen- 213. IDEM, Regras, Livro I. — Cedere
tia, id est, non intelligere, quod omnes diem é o dia em que se começa a de-
intelligunt. ver, e venire diem, o dia em que a dívi-
da pode ser cobrada. Quando alguém
214. MARCIANUS libro I. publico- simplesmente tiver negociado, há o
rum Iudiciorum. — “Munus” proprie dia em que o valor é exigível e deve ser
est, quod necessarie obimus, lege, more pago; quando o negócio não tem prazo,
imperiove eius, qui iubendi habet po- corre a dívida, mas não há dia de ven-
testatem. “Dona” autem proprie sunt, cimento e, quando sob condição, não
quae nulla necessitate iuris, officii, há dia de vencimento enquanto não se
sed sponte praestantur; quae si non der a condição.

345
Livro L – Título XVI Digesto

praestentur, nulla reprehensio est; et


si praestentur, plerumque laus inest. § 1. Chama-se “bem alheio” o que de-
Sed in summa in hoc ventum est, ut vemos a outros e “bem próprio” o que
non quodcunque munus, id et donum os outros nos devem.
accipiatur; at quod donum fuerit, id
munus recte dicatur. § 2. É lata culpa (culpa grave) o exces-
so de negligência, isto é, não perceber o
que todos percebem.

215. PAULUS libro singulari ad le- 214. MARCIANO, Dos Juízos Públi-
gem Fusiam Caniniam. — “Potestatis” cos, Livro I. — Por munus (obrigação)
verbo plura significantur: in persona entende-se o que necessariamente fa-
magistratuum imperium, in persona zemos por força da lei, do costume ou
liberorum patria potestas, in persona do poder de quem pode mandar. Mas
servi dominium. At quum agimus de dona (presentes) significa propriamen-
noxae deditione cum eo, qui servum te o que, sem nenhuma obrigatorieda-
non defendit, praesentis corporis co- de de direito, de ofício, é dado espon-
piam facultatemque significamus. In taneamente, de modo que não dar não
lege Atinia in potestatem domini rem implica censura, mas, se dado, é motivo
furtivam venisse videri, et si eius vindi- de louvor. Em suma, porém, chegou-se
candae potestatem habuerit, Sabinus et à conclusão de que nem todo munus é
Cassius aiunt. entendido como presente, mas o que
for donum (presente) pode ser correta-
mente entendido como munus.
216. ULPIANUS libro I. ad legem Ae-
liam Sentiam. — Verum est, eum, qui 215. PAULO, Comentários à Lei Fú-
in carcere clusus est, non videri neque sia Canínia, Livro Único. — O termo
vinctum, neque in vinculis esse, nisi potestas (poder) tem muitas acepções:
corpori eius vincula sint adhibita. tratando-se de magistrados, significa
imperium (soberania); de filhos, pátrio
poder; e de escravos, domínio. Quan-
217. IAVOLENUS libro I. ex Posterio- do, porém, tratamos de reparação de
ribus Labeonis. — Inter illam condi- dano com senhor que não disciplina
tionem: “quum fari potuerit”, et “pos- seu escravo, entendemos isso como fa-
tquam fari potuerit”, multum interest; culdade de entregá-lo. Dizem Sabino e
nam posteriorem scripturam uberio- Cássio que, pela Lei Atínia, considera-
rem esse constat, at “quum fari potue- -se como tendo voltado ao poder do
rit”, artiorem, et id tantummodo tem- dono a coisa cuja posse tinha o poder
pus significari, quo primum fari possit. de reivindicar.

346
Digesto Livro L – Título XVI

216. ULPIANO, Comentários à Lei


§ 1. — Item ita data conditione: “illud Élia Sência, Livro I. — É verdade que
facito in diebus”, si nihil praeterea fuis- não se considera atado ou acorrentado
set adiectum, in biduo conditionem quem está recluso num cárcere, a não
impleri oportet. ser que amarras ou grilhões estejam
aplicados a seu corpo.
218. PAPINIANUS libro XXVII. Qua-
estionum. — Verbum: “facere”, omnem 217. JAVOLENO, Das Últimas Obras
omnino faciendi causam complectitur, de Labeão, Livro I. — Há muita di-
dandi, solvendi, numerandi, iudicandi, ferença entre estas duas condições:
ambulandi. “quando puder falar” e “depois que pu-
der falar”. A segunda cláusula, sem dú-
219. IDEM libro II. Responsorum. — vida, é mais abrangente, e a primeira,
In conventionibus contrahentium vo- “quando puder falar,” mais restrita, sig-
luntatem potius, quam verba spectari nificando apenas o momento em que a
placuit. Quum igitur ea lege fundum pessoa puder falar pela primeira vez.
vectigalem municipes locaverint, ut
ad heredem eius, qui suscepit, pertine- § 1. Do mesmo modo, nesta dada con-
re, ius heredum ad legatarium quoque dição: “faça isso em poucos dias”, se
transferri potuit. nada tiver sido acrescentado, convém
cumpri-la em dois dias.

218. PAPINIANO, Questões, Livro


220. CALLISTRATUS libro II. Quaes- XXVII. — O verbo facere (fazer) com-
tionum. — “Liberorum” appellatione preende toda razão de fazer, dar, pagar,
nepotes et pronepotes, ceterique, qui contar, julgar, andar.
ex his descendunt, continentur; hos
enim omnes suorum appellatione lex
duodecim Tabularum comprehendit. 219. IDEM, Respostas, Livro II. —
Toties enim leges necessarium ducunt, Determinou-se que, nos contratos, se
cognationem singulorum nominibus atente mais para a vontade dos con-
uti, veluti: “filii, nepotis, pronepotis”, tratantes do que para seus termos. As-
ceterorumve, qui ex his descendunt, sim sendo, quando munícipes tiverem
quoties non omnibus, qui post eos sunt, dado em arrendamento uma proprie-
praestitum voluerint; sed solis his suc- dade tributada, na condição de perten-
current, quos nominatim enumerent. cer ao herdeiro de quem a arrendou, o
At ubi non personis certis, non quibus- direito dos herdeiros pode ser transfe-
dam gradibus praestatur, sed omnibus, rido também ao legatário.
qui ex eodem genere orti sunt, libero-
rum appellatione comprehenduntur.

347
Livro L – Título XVI Digesto

220. CALÍSTRATO, Questões, Livro


II. — No termo “filhos” incluem-se
§ . 1 — Sed et Papirius Fronto libro netos e bisnetos e todos os que deles
tertio Responsorum ait, praedio cum descenderem, pois todos esses estão
villico et contubernali eius et filiis le- compreendidos pela Lei das XII Tábu-
gato, nepotes quoque ex filiis contineri, as no termo “seus”. Pois as leis consi-
nisi voluntas testatoris aliter habeat; fi- deram necessário indicar pelos títulos
lii enim appellatione saepe et nepotes a cognação de cada um, por exemplo,
accipi, multifariam placere. “filho, neto, bisneto” ou daqueles que
deles descendem quando quiserem
§ 2. — Divus quoque Marcus rescrip- que não se estenda o benefício a todos
sit, non videri sine liberis defunctum, os que vêm depois deles. Só amparam
qui nepotem suum heredem reliquit. aqueles que citar em nominalmente.
Mas, quando não se referem a pessoas
determinadas, nem a alguns graus de
§ 3. — Praeter haec omnia natura nos parentesco, mas a todos oriundos de
quoque docet, parentes pios, qui libe- um mesmo tronco, esses são abrangi-
rorum procreandorum animo et voto dos pelo nome de filhos.
uxores ducunt, filiorum appellatio-
ne omnes, qui ex nobis descendunt, § 1. Mas Papírio Frontão diz também,
contineri; nec enim dulciore nomine em seu terceiro livro de Respostas, que,
possumus nepotes nostros, quam filii, legada uma propriedade rural aos fi-
appellare. Etenim idcirco filios, filiasve lhos, com seu caseiro, mulher e filhos,
concepimus atque edimus, ut ex prole a menos que o testador disponha de
eorum, earumve diuturnitatis nobis maneira diferente, incluem-se também
memoriam in aevum relinquamus. netos pelos filhos. Pela denominação
de filhos é comum, e de várias formas,
221. PAULUS libro X. Responsorum. se reconhecerem também os netos.
— Paulus respondit, “falsum” tutorem
eum vere dici, qui tutor non est, sive § 2. O imperador Marco, em rescrito,
habenti tutor datus est, sive non, sicut decretou também que não se considere
falsum testamentum, quod testamen- sem filhos quem morrer deixando neto
tum non est, et modius iniquus, qui como herdeiro.
modius non est.
§ 3. Além disso, a natureza ensina que
222. HERMOGENIANUS libro II. Iu- nós, pais responsáveis, que nos casa-
ris epitomarum. — “Pecuniae” nomi- mos com disposição e propósito de
ne non solum numerata pecunia, sed gerar filhos, pelo nome de filhos enten-
omnes res, tam soli, quam mobiles, et demos todos os que descendem de nós.
tam corpora, quam iura continentur. E não podemos chamar nossos ne-

348
Digesto Livro L – Título XVI

tos com nome mais carinhoso do que


“filhos”. Pois, para isso, concebemos e
223. PAULUS libro II. Sententiarum. geramos filhos e filhas, por cuja prole
— “Latae culpae” finis est, non intelli- deixamos nossa duradoura lembrança
gere id, quod omnes intelligunt. para o futuro.

§ 1. — “Amicos” appellare debemus 221. PAULO, Respostas, Livro X. —


non levi notitia coniunctos, sed quibus Paulo respondeu que se considera falso
fuerint iura cum patrefamilias, hones- tutor quem não é tutor ou é dado como
tis familiaritatis quaesita rationibus. tutor a quem já o tem ou não; do mes-
mo modo que um falso testamento não
é testamento, nem uma medida falsa é
medida.
224. VENULEIUS libro VII. Stipula-
tionum. — “Vinculorum” appellatione 222. HERMOGENIANO, Epítome do
vel privata, vel publica vincula signi- Direito, Livro II. — A palavra pecunia
ficant, “custodiae” vero tantum publi- (dinheiro) não é só moeda corrente,
cam custodiam. mas também todos os bens, tanto imó-
veis quanto móveis, tanto materiais
225. TRYPHONINUS libro I. Dispu- quanto de direito.
tationum. — “Fugitivus” est non is, qui
solum consilium fugiendi a domino 223. PAULO, Sentenças, Livro II. — A
suscepit, licet id se facturum iactaverit, definição de lata culpa (ampla culpa) é
sed qui ipso facto fugae initium mente não entender o que todos entendem.
deduxerit; nam et furem, adulterum,
aleatorem, quamquam aliqua significa- § 1. Devemos chamar “amigos” não
tione ex animi propositione cuiusque a pessoas ligadas por relações super-
sola quis dicere posset, ut etiam is, qui ficiais, mas aquelas que, por honestas
nunquam alienam rem invito domino relações, adquiriram direitos de fami-
subtraxerit, nunquam alienam ma- liaridade com o pai de família.
tremfamilias corruperit, si modo eius
mentis sit, ut occasione data id com- 224. VANULEIO, Estipulações, Livro
missurus sit, tamen oportere eadem VII. — O termo “cadeia” significa pri-
haec crimina assumto actu intelligi; são, tanto privada como pública, mas
et ideo fugitivum quoque, et erronem “custódia” (guarda) é exclusivamente
non secundum propositionem solam, pública.
sed cum aliquo actu intelligi constat.
225. TRIFONINO, Disputas, Livro
I. — Não é fugitivo quem apenas con-
cebeu o plano de fugir de seu senhor,

349
Livro L – Título XVI Digesto

226. PAULUS libro I. Manualium. — mesmo que se jactar de um dia o fazer,


“Magna negligentia” culpa est; “magna mas aquele que, de fato, intencional-
culpa” dolus est. mente, dá início à fuga. Pois ninguém
pode ser chamado de ladrão, adúltero,
227. IDEM libro II. Manualium. — viciado em jogos de azar só por sua
Ex illa parte Edicti: TUM QUEM EI disposição de ânimo; do mesmo modo,
HEREDEM ESSE OPORTET, heredis quem nunca tomou nada de ninguém
heredibus bonorum possessio non de- contra a vontade do dono, nem tenha
fertur. corrompido uma mãe de família, mes-
mo que, em dada oportunidade, tenha
§ 1. — Item in substitutione his verbis: tido a intenção de fazê-lo; esses crimes
“quisquis mihi heres erit”, proximus devem ser entendidos como tais se efe-
heres tantum significatur, imo non tan- tivamente praticados. Por conseguinte,
tum proximus heres, sed etiam scrip- entende-se também como fugitivo e
tus. errante não segundo a intenção, mas
por algum ato.

228. IDEM libro singulari de Cogni- 226. PAULO, Manual, Livro I. — Mag-
tionibus. — “Municipes” intelligendi na negligentia (grande negligência) é
sunt, et qui in eodem municipio nati culpa; magna culpa (grave falta) é dolo.
sunt.
227. IDEM, Ibidem, Livro II. — A
229. IDEM libro singulari de tacitis posse de bens do herdeiro necessário
fideicommissis. — “Transacta fini- não será transferida a seus herdeiros,
tave” intelligere debemus non solum, não será deferida a posse de bens a her-
quibus controversia fuit, sed etiam, deiros do herdeiro.
quae sine controversia sint possessa;
§ 1. Do mesmo modo, na substituição,
com estas palavras: “quem quer que
venha a ser meu herdeiro”, entende-se
230. IDEM libro singulari ad Sena- somente o herdeiro necessário, e não
tusconsultum Orphitianum. — ut apenas esse, mas também o que tiver
sunt iudicio terminata, transactione sido instituído.
composita, longioris temporis silentio
finita. 228. IDEM, Das Jurisdições, Livro
Único. — Por “munícipes” entendem-
231. IDEM libro singulari ad Sena- -se todos os nascidos num mesmo mu-
tusconsultum Tertullianum. — Quod nicípio.
dicimus, eum, qui nasci speratur, pro
superstite esse, tunc verum est, quum

350
Digesto Livro L – Título XVI

de ipsius iure quaeritur; aliis autem 229. IDEM, Dos Fideicomissos Táci-
non prodest, nisi natus. tos, Livro Único. — Devemos entender
por transacta finitave (concluídas e en-
cerradas) não só questões em torno das
232. GAIUS libro I. de verborum quais houve controvérsia de posse, mas
Obligationibus. — Haec enuntiatio: também aquelas sobre as quais não
“quae sunt pluris aureorum triginta”, haja controvérsia;
simul et quantitatis et aestimationis
significativa est. 230. IDEM, Comentário ao Senatus-
-consulto orficiano, Livro Único. —
233. IDEM libro I. ad legem duode- como são as transitadas em juízo, as
cim Tabularum. — SI CALVITUR ET resolvidas por negociação e as extintas
MORETUR, ET FRUSTRETUR; inde por prescrição.
et calumniatores appellati sunt, quia
per fraudem et frustrationem alios ve- 231. IDEM, Comentário ao Senátus-
xarent litibus; inde et cavillatio dicta -consulto tertuliano, Livro Único.
est. — O fato de se considerar o nascituro
como já nascido, quando se trata de di-
§ 1. — Post kalendas Ianuarias die ter- reito próprio, não se aplica quando se
tio pro salute Principis vota suscipiun- trata do direito de outros. Nesse caso,
tur. só depois de nascido.

§ 2. — “Telum” vulgo quidem id 232. GAIO, Das Obrigações Verbais,


appellatur, quod ab arcu mittitur; sed Livro I. — Esta expressão: “que vale
nunc omne significatur, quod mittitur mais de trinta moedas de ouro” signi-
manu. Ita sequitur, ut et lapis, et lig- fica, ao mesmo tempo, quantidade e
num, et ferrum hoc nomine continea- estimativa.
tur. Dictumque ab eo, quod in longin-
quum mittitur, Graeca voce figuratum 233. IDEM, Comentários à Lei das
avpo. tou/ thlou/ [ab eo quod est lon- XII Tábuas, Livro I. — “Se se calunia,
ge]. Et hanc significationem invenire se se procrastina, se se frustra” — daí
possumus et in Graeco nomine; nam a caracterização de caluniadores que,
quod nos telum appellamus, illi be,loj por fraude e má-fé, incomodam outros
appellant, eoque nomine vulgo quidem com litígios; daí se diz também “cavila-
id significatur, quod ab arcu mittitur; ção”.
sed non minus omne significatur, quod
cum mittitur manu, avpo. tou/ ba,llesqai § 1. No terceiro dia após as calendas de
[a iaciendo]. Admonet nos Xenofw/n, janeiro, se fazem votos pela saúde do
nam ita scribit: kai. ta. be,lh o`mo,se imperador.
evfe,reto lo,gcai toxeu,mata sfendo,nai

351
Livro L – Título XVI Digesto

plei/stoi de. kai. li,qoi. [Et tela simul fe- § 2. Conhece-se geralmente como te-
rebantur: hastae, sagittae, fundae, plu- lum (dardo) o que é atirado por arco.
rimi etiam lapides]. Et id, quod ab arcu Hoje, porém, significa tudo o que é ati-
mittitur, apud Graecos quidem proprio rado pela mão. Daí também pedra, pau
nomine to,xeuma [sagitta] vocatur, apud e ferro estarem contidos nesse termo.
nos autem communi nomine telum Esse termo telum vem da expressão
appellatur. grega — apó tu telu, de longe. E pode-
mos também encontrar essa significa-
234. IDEM libro II. ad legem duode- ção no termo grego, pois o que nós cha-
cim Tabularum. — Quos nos “hostes” mamos telum eles chamam bélos, que,
appellamus, eos veteres “perduelles” na linguagem comum, tem o mesmo
appellabant, per eam adiectionem in- sentido, isto é, o que é atirado de arco;
dicantes, cum quibus bellum esset. mas não significa menos o que é atira-
do pela mão: apó tu bálestai (atirar com
a mão). Xenofonte assim nos informa:
§ 1. — “Locuples” est, qui satis idonee “Além de dardos, traziam também lan-
habet pro magnitudine rei, quam actor ças, setas, fundas e muitas pedras”. E o
restituendam esse petit. que é atirado de arco os gregos chama-
vam por seu próprio nome tóxeuma
(seta). Nós o chamamos pelo nome co-
§ 2. — Verbum “vivere” quidam putant mum de telum, dardo.
ad cibum pertinere; sed Ofilius ad At-
ticum ait, his verbis et vestimenta, et
stramenta contineri; sine his enim vi-
vere neminem posse.

235. IDEM libro III. ad legem duo- 234. IDEM, Comentários à Lei das
decim Tabularum. — “Ferri” proprie XII Tábuas, Livro II. — O que nós
dicimus, quae quis suo corpore baiulat, chamamos hostes (hostes) os antigos
“portari” ea, quae quis iumento secum chamavam perduelles (inimigos figa-
ducit, “agi” ea, quae animalia sunt. dais), indicando com isso a espécie de
inimigos contra quem guerreavam.

§ 1. Locuples (rico) é aquele que tem


§ 1. — “Fabros tignarios” dicimus non mais que o suficiente em proporção à
eos duntaxat, qui tigna dolarent, sed importância do objeto que o autor re-
omnes, qui aedificarent. clama lhe seja restituído.

236. IDEM libro IV. ad legem duode- § 2. Para alguns, o termo “viver” diz
cim Tabularum. — Qui “venenum” respeito a alimento, mas Ofílio diz a

352
Digesto Livro L – Título XVI

dicit, adiicere debet, utrum malum, Ático que essa palavra implica também
an bonum; nam et medicamenta vene- vestuário e agasalho, sem o que nin-
na sunt, quia eo nomine omne conti- guém pode viver.
netur, quod adhibitum naturam eius,
cui adhibitum esset, mutat. Quum id, 235. IDEM, Ibidem, Livro II. — En-
quod nos venenum appellamus, Grae- tendemos por ferri (ser levado) aquilo
ci fa,rmakon dicunt, apud illos quoque que se traz sobre o corpo, e por portari
tam medicamenta, quam quae nocent, (ser transportado) o que é levado con-
hoc nomine continentur; unde adiec- sigo, mas sobre um jumento, e por agi
tione alterius, nomine distinctio fit. (ser conduzido) quando se trata de ani-
Admonet nos summus apud eos poe- mais.
tarum Homerus; nam sic ait: fa,rmaka
polla. me.n evsqla. memigme,na polla. de. § 1. Chamamos de faber tignarius (car-
lugra,. [Venena multa quidem bona pinteiro) não só quem lavra madeira,
mixta, multa autem mala.] mas todo trabalhador de construção.

§ 1. — “Glandis” appellatione omnis 236. IDEM, Ibidem, Livro IV. Quem


fructus continetur, ut Iavolenus ait, diz venenum (droga) deve acrescentar
exemplo Graeci sermonis, apud quos se boa ou má, já que medicamentos
omnes arborum species avkro,drua [ex- também são droga, porque por esse
tremitates arborum] appellantur. nome tudo significa; uma vez aplica-
do, muda a natureza daquele em que
237. IDEM libro V. ad legem duode- foi aplicado. Como aquilo a que cha-
cim Tabularum. — Duobus negativis mamos veneno os gregos chamam
verbis quasi permittit lex magis, quam fármakon, também entre eles o termo
prohibuit; idque etiam Servius ani- “medicamento” inclui o que é nocivo.
madvertit. Daí com a adjetivação se fazer a distin-
ção. Homero, o mais eminente de seus
238. IDEM libro VI. ad legem duode- poetas, nos informa: “Os venenos, na
cim Tabularum. — “Plebs” est, ceteri verdade, têm muitas coisas boas mis-
cives sine Senatoribus. turadas, mas também muitas coisas
ruins”.
§ 1. — “Detestatum” est, testatione de-
nuntiatum.
§ 1. Pelo nome glans (glande) enten-
demos todo “fruto”, como diz Javoleno,
§ 2. — “Pignus” appellatum a pugno, seguindo o exemplo da língua grega,
quia res, quae pignori dantur, manu para a qual todas as espécies de árvores
traduntur; unde etiam videri potest, estão contidas no vocábulo akródrua.

353
Livro L – Título XVI Digesto

verum esse, quidam putant, pignus 237. IDEM, Ibidem, Livro V. — Uma
proprie rei mobilis constitui. lei com dois termos negativos parece
mais permitir do que proibir, adverte
Sérvio.
§ 3. — “Noxae” appellatione omne de-
lictum continetur.
238. IDEM, Ibidem, Livro VI. — “Ple-
239. POMPONIUS libro singulari En- be” são os demais cidadãos, fora os se-
chiridii. — “Pupillus” est, qui, quum nadores.
impubes est, desiit in patris potestate
esse aut morte, aut emancipatione. § 1. Detestatum (notificação com tes-
§ 1. — “Servorum” appellatio ex eo flu- temunhas) equivale a denúncia com
xit, quod Imperatores nostri captivos prova.
vendere, ac per hoc servare, nec occi-
dere solent. § 2. Pignus (penhor) vem de pugnus
(punho), porque o que é dado como
penhor é entregue com a mão. Daí po-
§ 2. — “Incola” est, qui aliqua regione der ser também verdadeira a opinião
domicilium suum contulit, quem Gra- de alguns para os quais penhor consti-
eci pa,roikon [accolam] appellant. Nec tui-se propriamente coisa móvel.
tantum hi, qui in oppido morantur, in-
colae sunt, sed etiam qui alicuius oppi- § 3. Por noxa (dano, agravo) compre-
di finibus ita agrum habent, ut in eum ende-se todo delito.
se, quasi in aliquam sedem, recipiant.
239. POMPÔNIO, Manual, Livro
Único. — Pupillus (órfão, pupilo) é o
impúbere que deixou de estar sob o pá-
§ 3. — “Munus publicum” est, officium trio poder por morte ou emancipação.
privati hominis, ex quo commodum ad § 1. O nome servus (escravo) vem do
singulos universosque cives, remque fato de nossos generais venderem pri-
eorum imperio magistratus extraordi- sioneiros de guerra e, por isso, costu-
nario pervenit. mavam conservá-los (servare), e não os
matar.

§ 4. — “Advena” est, quem Graeci § 2. Incola (habitante) é aquele que


a;poikon [domo profugum] appellant. transferiu seu domicílio para alguma
região, que os gregos chamam pároicon
(habitante em direitos políticos). E são
§ 5. — “Decuriones” quidam dictos habitantes não só aqueles que residem
aiunt ex eo, quod initio, quum coloniae numa cidade, mas também os que têm

354
Digesto Livro L – Título XVI

deducerentur, decima pars eorum, qui propriedade rural na proximidade de


ducerentur, consilii publici gratia cons- uma cidade, na qual moram perma-
cribi solita sit. nentemente.

§ 3. Munus publicum (função pública)


§ 6. — “Urbs” ab urbo appellata est; é a função de um cidadão particular
urbare est, aratro definire; et Varus ait, que resulta em proveito de todos e de
urbum appellari curvaturam aratri, cada um dos cidadãos e dos magistra-
quod in urbe condenda adhiberi solet. dos que se beneficiam de seu poder au-
xiliar.
§ 7. — “Oppidum” ab ope dicitur, quod
eius rei causa moenia sint constituta. § 4. Advena (estrangeiro, peregrino)
é o que os gregos chamam de ápoicon
(fugido de casa).
§ 8. — “Territorium” est, universitas
agrorum intra fines cuiusque civitatis; § 5. Segundo alguns, os decuriões são
quod ab eo dictum quidam aiunt, quod assim chamados pelo fato de, no início
magistratus eius loci intra eos fines ter- da implantação das colônias, estabele-
rendi, id est, summovendi ius habet. cer-se o costume de escolher a décima
parte dos assentados para compor o
conselho público.
§ 9. — Verbum: “suum”, ambiguum est,
utrum de toto, an de parte significat; et § 6. Urbe vem de urbo (marcar com
ideo, qui iuret, suum non esse, adiicere arado o circuito de uma cidade; marcar
debet, neque sibi commune esse. os limites com arado). Varo também
diz que urbum é a aravela do arado que
costuma ser empregado na construção
240. PAULUS ex libris sex libro I. Im- de uma urbe (cidade).
perialium sententiarum in cognitio- § 7. Oppidum (cidadela) vem de ops
nibus prolatarum. — Quum quaere- (força), representada pela construção
batur, an verbum: “soluto matrimonio de muralhas.
dotem reddi”, non tantum divortium,
sed et mortem contineret, hoc est, an § 8. Territorium é a totalidade das áre-
de hoc quoque casu contrahentes sen- as dentro dos limites de uma cidade.
tirent, et multi putabant hoc sensisse, Dizem alguns que assim se chama por-
et quibusdam aliis contra videbatur, que os magistrados do lugar têm, den-
secundum hoc motus Imperator pro- tro desses limites, o ius terrendi (direito
nuntiavit, id actum eo pacto, ut nullo de intimidar), isto é, de expulsar.
casu remaneret dos apud maritum.

355
Livro L – Título XVI Digesto

§ 9. O termo suum (seu) é ambíguo:


significa o todo ou parte? Por conse-
241. QUINTUS MUCIUS SCAEVO- guinte, quem jura que algo não é seu
LA libro singulari vOrw/n. — “In rutis deve acrescentar que tampouco o pos-
caesis” ea sunt, quae terra non tenen- sui em comum.
tur, quaeque opere structili, tectoriove
non continentur. 240. PAULO, Dos Seis Livros de
Sentenças Imperiais Proferidas em
Questões, Livro I. — Questionava-se
242. IAVOLENUS libro II. ex Poste- se o princípio “desfeito o matrimônio,
rioribus Labeonis. — “Malum” navis devolve-se o dote” diria respeito não
esse partem, “artemonem” autem non só a divórcio, mas também a morte,
esse, Labeo sit, quia pleraeque naves quer dizer, se os contraentes entende-
sine malo inutiles essent; ideoque pars ram que também se referia a esse caso;
navis habetur; artemo autem magis e, como muitos assim pensavam e ou-
adiectamento, quam pars navis est. tros achavam o contrário, o imperador,
consultado, declarou que, por esse pac-
to, acordaram os contraentes que, em
§ 1. — Inter “proiectum’ et “immis- nenhum dos casos, o dote ficaria com
sum” hoc interesse ait Labeo, quod o marido.
proiectum esset id, quod ita provehe-
retur, ut nusquam requiesceret, qua- 241. QUINTO MÚCIO CÉVOLA,
lia moeniana, et suggrundae essent, Definições, Livro Único. — Por rutis
immissum autem, quod ita fieret, ut caesis (bens móveis) compreendem-se
aliquo loco requiesceret, veluti tigna, coisas que não integram o terreno e as
trabes, quae immitterentur. que não fazem parte da estrutura da
obra ou de seu revestimento.

§ 2. — “Plumbum”, quod tegulis pone- 242. JAVOLENO, Das Obras Póstu-


retur, aedificii esse, ait Labeo; sed id, mas de Labeão, Livro II. — O mastro
quod hypaethri tegendi causa ponere- faz parte de um navio, mas a vela, não,
tur, contra esse. como quer Labeão, pois a maior parte
das naves sem mastro seria inútil, por
§ 3. — “Viduam” non solum eam, quae isso é parte integrante de uma nave.
aliquando nupta fuisset, sed eam quo- Mas a vela é mais um acréscimo do que
que mulierem, quae virum non habuis- parte de uma nave.
set, appellari ait Labeo, quia vidua sic
dicta est, quasi vecors, vesanus, qui § 1. Entre “projeção” (proiectum) e
sine corde, aut sanitate esset, similiter “extensão” (immissum) há diferença,
viduam dictam esse, sine duitate. diz Labeão, pois “projeção” seria algo

356
Digesto Livro L – Título XVI

atirado para frente sem se apoiar em


lugar algum, como é o caso das varan-
§ 4. — “Straturam” loci alicuius ex ta- das e das abas de telhado; mas “exten-
bulis factam, quae aestate tollerentur, são” é o que se faz para se apoiar em al-
et hieme ponerentur, aedium esse, ait gum lugar, por exemplo, caibros e vigas
Labeo, quoniam perpetui usus paratae que são estendidos.
essent; neque ad rem pertinere, quod
interim tollerentur. § 2. Diz Labeão que o chumbo que se
põe sobre as telhas faz parte do edifí-
243. SCAEVOLA libro XVIII. Diges- cio, mas não o faz quando posto para
torum. — Scaevola respondit: semper cobrir uma galeria.
acceptum est, ut libertorum appellatio-
ne etiam hi contineri intelligantur, qui § 3. Segundo Labeão, chama-se vidua
eodem testamento vel posteriore loco (viúva) não só mulher que já foi casa-
manumitterentur, nisi manifeste is, a da, mas às vezes também mulher que
quo peterentur, contra defuncti volun- não teve marido, pois é assim chamada
tatem doceret peti. como se fosse uma mulher insensata,
leviana, sem sentimento ou sem juízo;
chama-se ainda viúva a solteirona sem
companheiro.
244. LABEO libro IV. Pithanon a Pau-
lo epitomatorum. — Si qua “poena” § 4. Ainda segundo Labeão, pode-se
est, mulcta est, si qua “mulcta” est, po- chamar de casa construção de madeira
ena est. Paulus: utrumque eorum fal- que, em algum lugar, se arma no in-
sum est; namque harum rerum dissi- verno e se desmonta no verão, pois foi
militudo ex hoc quoque apparet, quod construída para uso perpétuo, pouco
de poena provocatio non est. Simul importando o fato de ser desmontada
atque enim victus quis est eius male- por algum tempo.
ficii, cuius poena est statuta statim ea 243. CÉVOLA, Digesto, Livro XVIII.
debetur; at mulctae provocatio est, nec — Cévola respondeu: sempre se admi-
ante debetur, quam aut non est provo- tiu que, sob a denominação de libertos,
catum, aut provocator victus est; nec se entendessem também aqueles que,
aliter, quam si is dixit, cui dicere licet. por um mesmo testamento ou por do-
Ex hoc quoque earum rerum dissimi- cumento posterior, tenham sido alfor-
litudo apparere poterit, quia poenae riados, a menos que aquele a quem se
certae singulorum peccatorum sunt; requereu a liberdade provasse incon-
mulctae contra, quia eius iudicis potes- testavelmente que a pretensão contra-
tas est, quantam dicat, nisi quum lege riava a vontade do falecido.
est constitutum, quantam dicat.

357
Livro L – Título XVI Digesto

244. LABEÃO, Em copilação de ditos


por Paulo,162 Livro IV. — Onde há po-
ena (pena) há multa; onde há mulcta
(multa) há pena. Diz Paulo: ambas as
afirmações são falsas, pois a diferença
entre elas já se manifesta no fato de
contra a pena não haver apelação. Pois,
ao mesmo tempo em que uma pessoa
perde uma causa, é ditada a pena de
seu delito, mas de multa pode-se ape-
lar — multa não é devida nem antes da
apelação nem antes do indeferimento
da apelação, nem de outro modo que
não seja a decisão de quem tem com-
petência para isso. A diferença poderá
também se evidenciar no fato de haver
penas certas para cada delito, ao pas-
so que a multa tem seu valor arbitrado
245. POMPONIUS libro X. Epistola- por quem julga, a menos que já seja de-
rum. — Statuae affixae basibus struc- finida por lei.
tilibus aut tabulae religatae catenis, aut
erga parietem affixae, aut si similiter 245. POMPÔNIO, Epístolas, Livro X.
cohaerent lychni, non sunt aedium; — Estátuas erigidas em base de alvena-
ornatus enim aedium causa parantur,
non quo aedes perficiantur.
162
O termo pithanon no texto original, tem sen-
tido obscuro. Trata-se do neutro singular do
§ 1. — Idem Labeo ait, prothyrum, adjetivo grego pithanos, a, on, que significa
quod in aedibus interdum fieri solet, persuasivo, capaz de persuadir, que merece
aedium est. crédito, insinuante etc. Nessa citação não há
como traduzi-lo no contexto. As traduções
de Berthelot (cit.): “Labéon au livre 4 des
246. IDEM libro XVI. Epistolarum. Abrégés de Paul” (Labeão no livro 4 dos Su-
— Apud Labeonem Pithanon ita scrip- mários de Paulo); de Ortega (cit.): “Labeón,
tum est: “exhibet”, qui praestat eius, de lib. 4 de los Casos Probables compendiados
quo agitur, praesentiam; nam etiam por Pablo” (Labeão, liv. 4 dos Casos Pro-
qui sistit, praestat eius, de quo agitur, váveis compendiados por Paulo), não têm
fundamento no original, e a de Ildefonso L.
praesentiam, nec tamen eum exhibet; Garcia del Corral, do texto adotado por esta
et qui mutum, aut furiosum, aut in- tradução: “Dichos recopilados por Pablo, lib.
fantem exhibet, non potest videri eius IV” (Ditos recopilados por Paulo, livro IV),
praestare praesentiam; nemo enim ex todas, portanto, omitem a tradução do termo
pithanon, por intraduzível.

358
Digesto Livro L – Título XVI

eo genere praesens satis apte appellari ria, ou placas presas por correntes ou
potest. embutidas em paredes, ou se há can-
delabros pendurados, nada disso faz
§ 1. — “Restitui” non tantum, qui so- parte da construção, pois ali são postos
lum corpus, sed etiam qui omnem rem com o objetivo de ornar, e não como
conditionemque reddita causa praes- acabamento.
tet; et tota restitutio iuris est interpre-
tatio. § 1. Diz o mesmo Labeão que o vestí-
bulo, que às vezes se acrescenta às ca-
sas, faz parte da casa.

246. IDEM, Livro XVI, Epístolas —


Lê-se nos ditos163 de Labeão: apresen-
ta quem faz presente a coisa de que
TITULUS XVII se trata; quem comparece em nome
DE DIVERSIS REGULIS IURIS da pessoa de que se trata não a torna
ANTIQUI presente. Quem apresenta um mudo
ou um louco ou uma criança não pode
1. PAULUS libro XVI. ad Plautium. — ser considerado como tendo-os feito
Regula est, quae rem, quae est, breviter presentes, pois ninguém dessa catego-
enarrat. Non ex regula ius sumatur, sed ria pode ser considerado propriamente
ex iure, quod est, regula fiat. Per regu- presente.
lam igitur brevis rerum narratio tradi-
tur, et ut ait Sabinus, quasi causae co- § 1. Em questão de devolução, não
niectio est, quae, simul quum in aliquo restitui quem apenas devolve a parte
vitiata est, perdit officium suum. principal da coisa, mas toda a coisa, e
na condição em que é reclamada, pois
restituição da coisa em sua integridade
é interpretação do direito.
2. ULPIANUS libro I. ad Sabinum. —
Feminae ab omnibus officiis civilibus,
vel publicis remotae sunt; et ideo nec TÍTULO XVII
iudices esse possunt, nec magistratum DAS DIVERSAS NORMAS DO
gerere, nec postulare, nec pro alio in- DIREITO ANTIGO
tervenire, nec procuratores existere.
1. PAULO, Comentários a Pláucio,
Livro XVI. — A norma é expor bre-
§ 1. — Item impubes omnibus officiis
civilibus debet abstinere.
163
Para pithanon, ver nota anterior.

359
Digesto Livro L – Título XVI e XVII

vemente a questão tal qual é. O direito


3. IDEM libro III. ad Sabinum. — Eius não é tirado da norma, mas a norma
est nolle, qui potest velle. se faz em consonância com o direito.
Pela norma, portanto, faz-se breve ex-
4. IDEM libro VI. ad Sabinum. — Vel- posição da questão e, como diz Sabino,
le non creditur, qui obsequitur imperio é algo como a interpretação da questão,
patris, vel domini. a qual, se falha em algum aspecto, per-
de seu papel.
5. PAULUS libro II. ad Sabinum. — In
negotiis contrahendis alia causa habi- 2. ULPIANO, Comentários a Sabino,
ta est furiosorum, alia eorum, qui fari Livro I. — As mulheres são excluídas
possunt, quamvis actum rei non intelli- de todos os cargos civis e públicos e,
gerent; nam furiosus nullum negotium por isso, não podem ser juízes, nem
contrahere potest, pupilus omnia tuto- exercer a magistratura, nem requerer
re auctore agere potest. ou advogar em favor de outrem, nem
ser procuradoras.
6. ULPIANUS libro VII. ad Sabinum.
— Non vult heres esse, qui ad alium § 1. Do mesmo modo, os impúberes
transferre voluit hereditatem. devem abster-se de todos os cargos ci-
vis.

7. POMPONIUS libro III. ad Sabi- 3. IDEM, Ibidem, Livro III. — Quem


num. — Ius nostrum non patitur eun- pode querer pode não querer.
dem in paganis et testato, et intestato
decessisse; earumque rerum naturali- 4. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Quem
ter inter se pugna est, testatus et intes- está sujeito ao pátrio poder ou ao po-
tatus. der de um senhor considera-se não ter
vontade própria.

8. IDEM libro IV. ad Sabinum. — Iura 5. PAULO, Comentários a Sabino, Li-


sanguinis nullo iure civili dirimi pos- vro II. — Na celebração de contratos,
sunt. uma coisa é tratar com loucos, outra é
tratar com quem pode falar, mas não
9. ULPIANUS libro XV. ad Sabinum. entende do assunto, pois o louco não
— Semper in obscuris, quod minimum pode fazer nenhum negócio, mas o ór-
est, sequimur. fão pode fazer tudo por seu tutor.

6. ULPIANO, Comentários a Sabino,


10. PAULUS libro III. ad Sabinum. Livro VII. — Não quer ser herdeiro
— Secundum naturam est, commoda

360
Digesto Livro L – Título XVII

cuiusque rei eum sequi, quem sequen- quem quis transferir a herança para
tur incommoda. outro.

7. POMPÔNIO, Comentários a Sa-


11. POMPONIUS libro V. ad Sabi- bino, Livro III. — Nosso direito não
num. — Id, quod nostrum est, sine admite que uma mesma pessoa, entre
facto nostro ad alium transferri non aldeões, tenha morrido deixando e não
potest. deixando testamento. É comum sur-
12. PAULUS libro III. ad Sabinum. — girem questões por causa disso, isto é,
In testamentis plenius voluntates tes- deixar e não deixar testamento.
tantium interpretantur.
8. IDEM, Ibidem, Livro IV. — Os di-
reitos de sangue não podem ser anula-
13. ULPIANUS libro XIX. ad Sabi- dos por nenhum direito civil.
num. — Non videtur cepisse, qui per
exceptionem a petitione removetur. 9. ULPIANO, Comentários a Sabino,
Livro XV. — Em questões obscuras, o
melhor é seguir o que for menos obs-
14. POMPONIUS libro V. ad Sabi- curo.
num. — In omnibus obligationibus, in
quibus dies non ponitur, praesenti die 10. PAULO, Comentários a Sabino,
debetur. Livro III. — É natural sofrer as conse-
quências negativas de uma coisa quem
15. PAULUS libro IV. ad Sabinum. — da mesma coisa usufrui de suas vanta-
Is, qui actionem habet ad rem recupe- gens.
randam, ipsam rem habere videtur.
11. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
bino, Livro V. — O que é nosso não
16. ULPIANUS libro XXI. ad Sabi- pode ser transferido a outrem sem nos-
num. — Imaginaria venditio non est sa permissão.
pretio accedente. 12. PAULO, Comentários a Sabino,
Livro III. — Nos testamentos sejam
17. IDEM libro XXIII. ad Sabinum. interpretadas da maneira mais plena as
— Quum tempus in testamento adii- vontades do testador.
citur, credendum est pro herede adiec-
tum, nisi alia mens fuerit testatoris, 13. ULPIANO, Comentários a Sa-
sicuti in stipulationibus promissoris bino, Livro XIX. — Não se considera
gratia tempus adiicitur. como tendo adquirido quem, por ex-
ceção, é afastado da causa.

361
Livro L – Título XVII Digesto

18. POMPONIUS libro VI. ad Sabi- 14. POMPÔNIO, Comentários a Sa-


num. — Quae legata mortuis nobis ad bino, Livro V. — Em todo contrato em
heredem nostrum transeunt, eorum que não se especifica o dia, vale o dia
commodum per nos his, quorum in presente.
potestate sumus, eodem casu acquiri-
mus; aliter atque quod stipulati sumus; 15. PAULO, Comentários a Sabino,
nam et sub conditione stipulantes om- Livro IV. — Considera-se proprietá-
nimodo iis acquirimus, etiamsi libe- rio de um bem quem move ação para
ratis nobis potestate domini conditio recuperá-lo.
existat.
16. ULPIANO, Comentários a Sabi-
no, Livro XXI. — Não há venda fictícia
quando intervém preço.
19. ULPIANUS libro XXIV. ad Sabi-
num. — Qui cum alio contrahit, vel 17. IDEM, Ibidem, Livro XXIII. —
est, vel debet esse non ignarus condi- Quando num testamento se fala de
tionis eius; heredi autem hoc imputari tempo, interprete-se no interesse do
non potest, quum non sponte cum le- herdeiro, a menos que outra tiver sido
gatariis contrahit. a intenção do testador, como, por exem-
plo, nas cláusulas contratuais em que se
estende o prazo em favor do promitente.
§ 1. — Non solet exceptio doli nocere
his, quibus voluntas testatoris non re- 18. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
fragatur. bino, Livro VI. — Ao morrer, nosso
legado passa para nosso herdeiro; do
20. POMPONIUS libro VII. ad Sabi- mesmo modo, os lucros desse legado
num. — Quoties dubia interpretatio passam, por nosso intermédio, àque-
libertatis est, secundum libertatem res- les sob cujo poder nos encontramos;
pondendum erit. o mesmo não acontece quando esta-
belecemos condições, pois, mesmo sob
condições, adquirimos de qualquer
21. ULPIANUS libro XXVII. ad Sabi- modo para eles, embora subsista a con-
num. — Non debet, cui plus licet, quod dição de quando nos livrar do poder de
minus est, non licere. um senhor.

22. IDEM libro XXVIII. ad Sabinum. 19. ULPIANO, Comentários a Sabi-


— In personam servilem nulla cadit no, Livro XXIV. — Quem faz contrato
obligatio. com outro tem ou deve ter conheci-
mento de suas condições. Isso, porém,
não pode ser imputado a um herdeiro

362
Digesto Livro L – Título XVII

§ 1. — Generaliter probandum est, que não institui os legatários por sua


ubicunque in bonae fidei iudiciis con- própria vontade.
fertur in arbitrium domini vel procu-
ratoris eius conditio, pro boni viri arbi- § 1. A exceção de dolo não costuma
trio hoc habendum esse. prejudicar aqueles aos quais não se
opõe a vontade do testador.
23. IDEM libro XXIX. ad Sabinum.
— Contractus quidam dolum malum 20. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
duntaxat recipiunt, quidam et dolum, bino, Livro VII. — No caso de dúvidas
et culpam; dolum tantum, deposi- com relação aos termos de dação de
tum et precarium, dolum et culpam, liberdade, sempre se interprete favora-
mandatum, commodatum, venditum, velmente à liberdade.
pignori acceptum, locatum, item do-
tis datio, tutelae, negotia gesta; in his 21. ULPIANO, Comentários a Sabi-
quidem et diligentiam. Societas, et re- no, Livro XXVII. — A quem é lícito o
rum communio et dolum, et culpam mais não pode ser ilícito o menos.
recipit; sed haec ita, nisi si quid nomi-
natim convenit, vel plus, vel minus, in 22. IDEM, Ibidem, Livro XXVIII. —
singulis contractibus, nam hoc servabi- Nenhuma obrigação pode recair sobre
tur, quod initio convenit; legem enim quem não é livre.
contractus dedit, excepto eo, quod Cel-
sus putat, non valere, si convenerit, ne § 1. Em geral, há de se observar que,
dolus praestetur; hoc enim bonae fidei em todo juízo de boa-fé, em que se
iudicio contrarium est; et ita utimur. apela para o arbítrio de um senhor ou
Animalium vero casus, mortesque, de seu procurador, pressupõe-se tratar
quae sine culpa accidunt, fugae servo- do arbítrio de um homem de bem.
rum, qui custodiri non solent, rapinae,
tumultus, incendia, aquarum magnitu- 23. IDEM, Ibidem, Livro XXIX. —
dines, impetus praedonum a nullo pra- Alguns contratos só responsabilizam o
estantur. dolo; outros, não só o dolo, mas tam-
bém a negligência; só o dolo, depósi-
to e empréstimo; dolo e negligência,
mandato, comodato, venda, aceitação
de penhor, locação, como também da-
ção de dote, tutela e administração de
24. PAULUS libro V. ad Sabinum. — negócios e, em todos esses, a diligên-
Quatenus cuius intersit, in facto, non cia. A sociedade e a comunhão de bens
in iure consistit. admitem não só o dolo, mas também
a negligência. E assim são, a menos
que algo se acorde expressamente para

363
Livro L – Título XVII Digesto

25. POMPONIUS libro XI. ad Sabi- mais ou para menos em cada contrato,
num. — Plus cautionis in re est, quam pois se observará o que se estabeleceu
in persona. no início, pois o contrato cria uma lei,
a menos que, segundo Celso, o contra-
26. ULPIANUS libro XXX. ad Sabi- to não seja válido, se ficou estabelecido
num. — Qui potest invitis alienare, que nenhuma fraude será cometida,
multo magis et ignorantibus, et absent- pois isso é contrário à boa-fé que faz
ibus potest. parte de todo contrato. E assim obser-
vamos. Mas acidentes com animais, e
27. POMPONIUS libro XVI. ad Sa- mortes, que acontecem sem culpa, fuga
binum. — Nec ex praetorio, nec ex de escravos que não costumam ser cus-
solenni iure privatorum conventione todiados, pilhagem, motins, incêndios,
quicquam immutandum est, quamvis enchentes, ataques de bandidos não
obligationum causae pactione pos- são da responsabilidade de nenhuma
sint immutari et ipso iure, et per pacti das partes.
conventi exceptionem, quia actionum
modus vel lege, vel per Praetorem in- 24. PAULO, Comentários a Sabino,
troductus privatorum pactionibus non Livro V. — Até que ponto algo é do
infirmatur, nisi tunc, quum inchoatur interesse de alguém é questão de fato,
actio, inter eos convenit. não de direito.

25. POMPÔNIO, Comentários a Sa-


28. ULPIANUS libro XXXVI. ad Sa- bino, Livro XI. — Há mais segurança
binum. — Divus Pius rescripsit, eos, nas coisas concretas que na pessoa.
qui ex liberalitate conveniuntur, in id,
quod facere possunt, condemnandos. 26. ULPIANO, Comentários a Sabi-
no, Livro XXX. — Quem pode alienar
contra a vontade de alguém, pode com
muito mais razão fazê-lo sem seu co-
29. PAULUS libro VIII. ad Sabinum. nhecimento e na sua ausência.
— Quod initio vitiosum est, non potest 27. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
tractu temporis convalescere. bino, Livro XVI. — Não se deve alterar
nada nem do direito pretoriano nem
do direito civil por acordo de parti-
30. ULPIANUS libro XXXVI. ad Sa- culares, embora possam ser mudadas,
binum. — Nuptias non concubitus, mediante acordo, as causas das obriga-
sed consensus facit. ções não só pelo próprio direito como
pela contestação do acordo feito, pois o
ritual das ações, introduzido pela lei ou
pelo pretor, não é ab-rogado por pactos

364
Digesto Livro L – Título XVII

31. IDEM libro XLII. ad Sabinum. particulares, a não ser quando acorda-
— Verum est, neque pacta, neque sti- do entre as partes no início da ação.
pulationes factum posse tollere; quod
enim impossibile est, neque pacto, ne- 28. ULPIANO, Comentários a Sabi-
que stipulatione potest comprehendi, no, Livro XXXVI. — O imperador Pio
ut utilem actionem aut factum efficere determinou, por rescrito, que aqueles
possit. que, ao firmar acordos, são processa-
dos por liberalidade, só devem ser con-
32. IDEM libro XLIII. ad Sabinum. denados a fazer o que podem.
— Quod attinet ad ius civile, servi pro
nullis habentur; non tamen et iure na- 29. PAULO, Comentários a Sabino,
turali, quia, quod ad ius naturale atti- Livro VII. — O que é irregular desde
net, omnes homines aequales sunt. o início não se convalida com o passar
do tempo.

33. POMPONIUS libro XXII. ad Sa- 30. ULUPIANO, Comentários a Sa-


binum. — In eo, quod vel is, qui petit, bino, Livro XXXVI. — O que faz as
vel is, a quo petitur, lucri facturus est, núpcias não é a coabitação, mas o con-
durior causa est petitoris. senso.

31. IDEM, Comentários a Sabino, Li-


34. ULPIANUS libro XLV ad Sabi- vro XLII. — Não há dúvida de que nem
num. — Semper in stipulationibus, pactos nem contratos podem eliminar
et in ceteris contractibus id sequimur, o fato. Com efeito, o que é impossível
quod actum est; aut si non pareat, quid não pode constar nem em pacto nem
actum est, erit consequens, ut id sequa- em contrato, de modo que possa pro-
mur, quod in regione, in qua actum est, duzir ação ou feito útil.
frequentatur. Quid ergo, si neque re-
gionis mos appareat, quia varius fuit? 32. IDEM, Ibidem, Livro XLIII. — No
Ad id, quod minimum est, redigenda que tange ao direito civil, os escravos
summa est. são considerados como se não existis-
sem. Mas não com relação ao direito
35. IDEM libro XLVIII. ad Sabinum. natural, pois, por esse direito, todos os
— Nihil tam naturale est, quam eo ge- homens são iguais.
nere quidque dissolvere, quo colliga-
tum est; ideo verborum obligatio ver- 33. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
bis tollitur, nudi consensus obligatio bino, Livro XXII. — No que diz res-
contrario consensu dissolvitur. peito a lucro a realizar por quem pede
emprestado ou por quem emprestou, é
pior a situação de quem pede.

365
Livro L – Título XVII Digesto

36. POMPONIUS libro XXVII. ad Sa-


binum. — Culpa est, immiscere se rei 34. ULPIANO, Comentários a Sabi-
ad se non pertinenti. no, Livro XLV. — Nos contratos, como
nos demais acordos, seguimos sempre
o que foi acertado. Mas se não está cla-
37. ULPIANUS libro LI. ad Sabinum. ro o que foi acertado, é conveniente se-
— Nemo qui condemnare potest, ab- guir o que prevalece na região. E que
solvere non potest. dizer se não há um costume na região,
mas diversidades de costumes? O total
38. POMPONIUS libro XXIX. ad Sa- deve ser reduzido ao mínimo.
binum. — Sicuti poena ex delicto de-
functi heres teneri non debeat, ita nec
lucrum facere, si quid ex ea re ad eum 35. IDEM, Ibidem, Livro XLVIII. —
pervenisset. Nada é mais natural que desfazer algu-
ma coisa do mesmo modo de como foi
feita. Portanto, obrigações contraídas
39. IDEM libro XXXII. ad Sabinum. por palavras, por palavras se desfazem;
— In omnibus causis pro facto accipi- a obrigação contraída por simples con-
tur id, in quo per alium morae sit, quo- senso se desfaz por dissenso.
minus fiat.
36. POMPÔNIO, Comentários a Sa-
40. IDEM libro XXXIV. ad Sabinum. bino, Livro XXVII. — É imprudência
— Furiosi, vel eius, cui bonis interdic- alguém se imiscuir em questão que não
tum sit, nulla voluntas est. lhe diz respeito.

41. ULPIANUS libro XXVI. ad Edic- 37. ULPIANO, Comentários a Sabi-


tum. — Non debet actori licere, quod no, Livro LI. — Quem pode condenar
reo non permititur. pode absolver.

§ 1. — In re obscura melius est favere 38. POMPÔNIO, Comentários a Sa-


repetitioni, quam adventicio lucro. bino, Livro XXIX. — Assim como o
herdeiro não deve estar sujeito à pena
por delito do falecido, tampouco pode
42. GAIUS libro IX. ad Edictum tirar proveito de algo que o tenha bene-
provinciale. — Qui in alterius locum ficiado em virtude de crime.
succedunt, iustam habent causam ig-
norantiae, an id quod peteretur, debe- 39. IDEM, Ibidem, Livro XXXII. —
retur. Fideiussores quoque non minus, Em todas as questões tem-se como fei-
quam heredes iustam ignorantiam to o que por causa de outro, tenha ha-
possunt allegare. Haec ita de herede vido demora para que não fosse feito.

366
Digesto Livro L – Título XVII

dicta sunt, si cum eo agetur, non etiam,


si agat; nam plane, qui agit, certus esse 40. IDEM, Ibidem, Livro XXXIV. —
debet, quum sit in potestate eius, quan- Um louco não tem vontade; tampouco
do velit, experiri; et ante debet rem di- a pessoa cujos bens foram interditados.
ligenter explorare, et tunc ad agendum
procedere. 41. ULPIANO, Comentários a Sabi-
no, Livro XXVI. — O que é negado ao
réu não é permitido ao autor.
43. ULPIANUS libro XXVIII. ad
Edictum. — Nemo ex his, qui negant § 1. Em questão obscura é melhor fa-
se debere, prohibetur etiam alia defen- vorecer o reclamante do que a quem
sione uti, nisi lex impedit. pretende ter vantagem eventual.

42. GAIO, Comentários ao Edito


§ 1. — Quoties concurrunt plures ac- Provincial, Livro IX. — Quem sucede
tiones eiusdem rei nomine, una quis a alguém tem motivo justo para alegar
experiri debet. ignorância sobre se o que é cobrado
é de fato devido. Os fiadores podem
44. IDEM libro XXIX. ad Edictum. — também, como os herdeiros, alegar jus-
Toties in heredem damus de eo, quod ta ignorância. Isso é dito com relação
ad eum pervenit, quoties ex dolo de- ao herdeiro contra quem se move ação,
functi convenitur, non quoties ex suo. mas não se é ele próprio o reclaman-
te. Pois, com certeza, quem move uma
ação deve saber o que faz, uma vez que
está em seu poder mover a ação quan-
45. IDEM libro XXX. ad Edictum. do quiser. E deve analisar atentamente
— Neque pignus, neque depositum, a questão antes de partir para uma re-
neque precarium, neque emtio, neque clamação judiciária.
locatio rei suae consistere potest.
43. ULPIANO, Comentários ao Edi-
§ 1. — Privatorum conventio iuri pu- to, Livro XXVIII. — Não se proíbe a
blico non derogat. quem não se reconhece como devedor
fazer uso de outra defesa, a menos que
46. GAIUS libro X. ad Edictum pro- a lei o impeça.
vinciale. — Quod a quoquo poenae
nomine exactum est, id eidem restitue- § 1. Sempre que muitas ações versam
re nemo cogitur. sobre a mesma questão, deve-se fazer
uso de uma só.
47. ULPIANUS libro XXX. ad Edic-
tum. — Consilii non fraudulenti nulla

367
Livro L – Título XVII Digesto

obligatio est; ceterum si dolus et calli- 44. IDEM, Ibidem, Livro XXIX. —
ditas intercessit, de dolo actio compe- Sempre que movemos ação contra um
tit. herdeiro pelo que lhe tocou em heran-
ça, a ação visa o que é reclamado por
§ 1. — Socii mei socius, meus socius dolo do falecido e não o que é propria-
non est. mente do herdeiro.

48. PAULUS libro XXXV. ad Edic- 45. IDEM, Ibidem, Livro XXX. —
tum. — Quid quid in calore iracundiae Não há penhor, nem depósito, nem
vel fit, vel dicitur, non prius ratum est, empréstimo, nem compra, nem loca-
quam si perseverantia apparuit, iudi- ção quando se trata de bem próprio.
cium animi fuisse; ideoque brevi rever-
sa uxor nec divortisse videtur. § 1. Acordo entre particulares não der-
roga o direito público.

49. ULPIANUS libro XXXV. ad Edic- 46. GAIO, Comentários ao Edito


tum. — Alterius circumventio alii non Provincial, Livro X. — Ninguém tem
praebet actionem. direito a resituição do que lhe foi im-
posto por penalidade.
50. PAULUS libro XXXIX. ad Edic-
tum. — Culpa caret, qui scit, sed pro- 47. ULPIANO, Comentários ao Edi-
hibere non potest. to, Livro XXX. — Não há nenhuma
obrigação decorrente de conselho não
51. GAIUS libro XV. ad Edictum pro- fraudulento, mas se há dolo e má inten-
vinciale. — Non videtur quisquam ção, cabe ação por dolo.
id capere, quod ei necesse est alii res-
tituere. § 1. Sócio de meu sócio não é meu só-
cio.
52. ULPIANUS libro XLIV. ad Edic-
tum. — Non defendere videtur non 48. PAULO, Comentários ao Edito,
tantum, qui latitat, sed et is, qui prae- Livro XXXV. — O que é dito ou feito
sens negat se defendere, aut non vult no calor da ira não vale até que, pela
suscipere actionem. duração, demonstre ter havido dispo-
sição de ânimo. Por isso, não se con-
53. PAULUS libro XLII. ad Edictum. sidera ter-se divorciado mulher que
— Cuius per errorem dati repetitio est, retorna pouco tempo depois.
eius consulto dati donatio est.
49. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XXXV. — O dolo de um não
se presta a ação contra outrem.

368
Digesto Livro L – Título XVII

54. ULPIANUS libro XLVI. ad Edic-


tum. — Nemo plus iuris ad alium 50. PAULO, Comentários ao Edito,
transferre potest, quam ipse haberet. Livro XXXIX. — Não é responsável
quem sabe, mas não pode impedir.

55. GAIUS libro II. de testamentis ad 51. GAIO, Comentários ao Edito, Li-
Edictum urbicum. — Nullus videtur vro XV. — Não se considera adquirido
dolo facere, qui suo iure utitur. o que necessariamente deve ser restitu-
ído a outrem.

52. ULPIANO, Comentários ao Edi-


56. IDEM libro III. de legatis ad Edic- to, Livro XLIV. — Não parece defen-
tum urbicum. — Semper in dubiis be- der-se não só quem se esconde, mas
nigniora praeferenda sunt. também quem, presente, nega-se a se
defender ou a contestar a ação.

57. IDEM libro XVIII. ad Edictum 53. PAULO, Comentários ao Edito,


provinciale. — Bona fides non patitur, Livro XLII. — O que é dado por en-
ut bis idem exigatur. gano pode ser cobrado; o que é dado
conscientemente é doação.

58. ULPIANUS libro II. Disputatio- 54. ULPIANO, Comentários ao Edi-


num. — Ex poenalibus causis non solet to, Livro XLVI. — Ninguém pode
in patrem de peculio actio dari. transferir a outro mais direito do que
tem.
59. IDEM libro III. Disputationum.
— Heredem eiusdem potestatis, iuris- 55. GAIO, Comentários ao Edito
que esse, cuius fuit defunctus, constat. Urbano sobre Testamentos Livro II.
— Não se considera agir dolosamente
quem faz uso de seu direito.
60. IDEM libro X. Disputationum. —
Semper qui non prohibet pro se inter- 56. IDEM, Comentários ao Edito Ur-
venire, mandare creditur. Sed et si quis bano sobre Legados, Livro III. — Na
ratum habuerit, quod gestum est, obs- dúvida, há de se preferir sempre o que
tringitur mandati actione. é mais benigno.

61. IDEM libro III. Opinionum. — 57. IDEM, Comentários ao Edito


Domum suam reficere unicuique licet, Provincial, Livro XVIII. — A boa-fé
dum non officiat invito alteri, in quo não permite que se reinvidique a mes-
ius non habet. ma coisa duas vezes.

369
Livro L – Título XVII Digesto

58. ULPIANO, Disputas Livro II. —


62. IULIANUS libro VI. Digestorum. Em causas penais não se costuma mo-
— Hereditas nihil aliud est, quam suc- ver ação de pecúlio contra um pai164.
cessio in universum ius, quod defunc-
tus habuerit. 59. IDEM, ibidem, Livro III. — É
evidente que o herdeiro tem o mesmo
poder e o mesmo direito que tinha o
testador.

60. IDEM, Ibidem, Livro X. — Quem


63. IDEM libro XVII. Digestorum. — não impede que algo seja feito a seu fa-
Qui sine dolo malo ad iudicium provo- vor entende-se como tendo delegado. E
cat, non videtur moram facere. se aprova o que foi feito, obriga-se pela
ação de mandar.
64. IDEM libro XXIX. Digestorum.
— Ea quae raro accidunt, non temere 61. IDEM, Opiniões Livro III. — É lí-
in agendis negotiis computantur. cito a cada um reformar sua casa, des-
de que não prejudique alguém, contra
sua vontade, em algo sobre o que não
65. IDEM libro LIV. Digestorum. — tem direito.
Ea est natura cavillationis, quam Gra-
eci swri,thn [acervalem syllogismum] 62. JULIANO, Digesto, Livro VI. —
appellant, ut ab evidenter veris per bre- Herança nada mais é do que a sucessão
vissimas mutationes disputatio ad ea, em todo o direito de que o falecido era
quae evidenter falsa sunt, perducatur. detentor.

63. IDEM, Ibidem, Livro XVII. —


66. IDEM libro LX. Digestorum. — Não se entende como protelador quem,
Marcellus: desinit debitor esse is, qui sem má-fé, recorre ao judiciário.
nactus est exceptionem iustam, nec ab
aequitate naturali abhorrentem. 64. IDEM, ibidem, Livro XXIX. —
Coisas que raramente acontecem não
67. IDEM libro LXXXVII. Digesto- são inconsideradamente levadas em
rum. — Quoties idem sermo duas sen- conta na realização de negócios.
tentias exprimit, ea potissimum exci-
piatur, quae rei gerendae aptior est.

164
O artigo parece referir-se a ação de delito de
filho em matéria de pecúlio. Ver Glossário,
pecúlio.

370
Digesto Livro L – Título XVII

68. PAULUS libro singulari de dotis 65. IDEM, Ibidem, Livro LIV. — O
repetitione. — In omnibus causis id perigo do sofisma, que os gregos cha-
observatur, ut, ubi personae conditio mam soríten (silogismo desordenado)
locum facit beneficio, ibi deficiente ea é que de proposições evidentemente
beneficium quoque deficiat, ubi vero verdadeiras se chega, com pequenas al-
genus actionis id desiderat, ibi ad que- terações, a proposições evidentemente
mvis persecutio eius devenerit, non de- falsas.
ficiat ratio auxilii.
66. IDEM, Digesto, Livro LX. — Se-
69. IDEM libro singulari de assig- gundo Marcelo, deixa de ser devedor
natione libertorum. — Invito benefi- quem consegue justa exceção que não
cium non datur. se afasta da equidade natural.

70. ULPIANUS libro I. de officio 67. IDEM, Ibidem, Livro LXXXVII.


Proconsulis. — Nemo potest gladii — Quando a mesma palavra compor-
potestatem sibi datam, vel cuius alte- ta dois sentidos, adote-se preferencial-
rius coercitionis, ad alium transferre. mente o sentido que melhor se ajusta à
questão.

71. IDEM libro II. de officio Procon- 68. PAULO, Da Recuperação de


sulis. — Omnia, quaecunque causae Dote, Livro Único. — Em todas as
cognitionem desiderant, per libellum questões, observa-se que onde a condi-
expediri non possunt. ção de uma pessoa dá lugar a um bene-
fício, faltando essa condição falta tam-
72. IAVOLENUS libro III. ex Poste- bém o benefício; mas onde a espécie da
rioribus Labeonis. — Fructus rei est, ação o pressupõe, ali não falta a razão
vel pignori dare licere. do benefício a quem assiste o direito de
reclamar.
73. QUINTUS MUCIUS SCAEVOLA 69. IDEM, Das atribuições dos liber-
libro Singulari `Orw/n. — Quo tutela tos, Livro XVII. — Não se dá benefício
redit, eo hereditas pervenit, nisi quum a quem não o quer.
feminae heredes intercedunt.
70. ULPIANO, Da Função do Pro-
cônsul, Livro I. — Ninguém pode
§ 1. — Nemo potest tutorem dare cui- transferir a outrem o poder que lhe foi
quam, nisi ei, quem in suis heredibus, dado de condenar à morte ou de impor
quum moritur, habuit habiturusve es- outra pena.
set, si vixisset.
71. IDEM, Ibidem, Livro II. — Tudo
o que requer conhecimento da causa

371
Livro L – Título XVII Digesto

§ 2. — “Vi” factum id videtur esse, não pode ser resolvido por simples re-
qua de re quis, quum prohibetur, fecit; querimento.
“clam”, quod quisque, quum controver-
siam haberet, habiturumve se putaret, 72. JAVOLENO, Obras Póstumas de
fecit. Labeão, Livro III. — É renda de uma
coisa o que pode ser dado em penhor.
§ 3. — Quae in testamento ita sunt
scripta, ut intelligi non possint, perinde 73. QUINTO MÚCIO CÉVOLA, Das
sunt, ac si scripta non essent. Normas, Livro Único. — A quem se dá
tutela a esse pertence a herança, a me-
§ 4. — Nec paciscendo, nec legem di- nos que entre os herdeiros haja mulhe-
cendo, nec stipulando quisquam alteri res.
cavere potest.
§ 1. Ninguém pode dar tutor a alguém
a não ser que, ao morrer, o tenha entre
74. PAPINIANUS libro I. Quaestio- seus próprios herdeiros ou haveria de
num. — Non debet alteri per alterum ter se ainda vivesse.
iniqua conditio inferri.
§ 2. Considera-se feito a força o que al-
guém faz apesar de proibido; “às escon-
75. IDEM libro III. Quaestionum. — didas,” o que alguém faz sabendo que é
Nemo potest mutare consilium suum discutível ou que haverá de sê-lo.
in alterius iniuriam.

76. IDEM libro XXIV. Quaestionum. § 3. O que está escrito num testamento
— In totum omnia, quae animi desti- de maneira ininteligível é como se não
natione agenda sunt, non nisi vera et tivesse sido escrito.
certa scientia perfici possunt.
§ 4. Ninguém pode onerar uma pessoa
com relação a outra nem por pacto,
77. IDEM libro XXVIII. Quaestio- nem por contrato nem estabelecendo
num. — Actus legitimi, qui non reci- condições.
piunt diem, vel conditionem, veluti
emancipatio, acceptilatio, hereditatis 74. PAPINIANO, Questões, Livro I.
aditio, servi optio, datio tutoris, in to- — Não se deve impor condição desfa-
tum vitiantur per temporis vel condi- vorável a uma terceira pessoa por meio
tionis adiectionem. Nonnunquam ta- de outra.
men actus suprascripti tacite recipiunt,
quae aperte comprehensa vitium affe-
runt; nam si acceptum feratur ei, qui

372
Digesto Livro L – Título XVII

sub conditione promisit, ita demum 75. IDEM, Ibidem, Livro III. — Não
egisse aliquid acceptilatio intelligitur, se pode mudar de parecer para preju-
si obligationis conditio extiterit; quae si dicar alguém.
verbis nominatim acceptilationis com-
prehendatur, nullius momenti faciet 76. IDEM, Ibidem, Livro XXIV. —
actum. Tudo o que, em geral, deve ser feito
com firme determinação não o pode
ser se não com pleno e perfeito conhe-
cimento de causa.
78. IDEM libro XXXI. Quaestionum.
— Generaliter, quum de fraude dispu- 77. IDEM, Ibidem, Livro XXVIII.
tatur, non quid habeat actor, sed quid — Atos legais que não dependem de
per adversarium habere non potuerit, tempo nem de condição, como eman-
considerandum est. cipação, aceptilação, nomeação de
herdeiro, escolha de escravo, dação de
79. IDEM libro XXXII. Quaestio- tutor, são em geral prejudicadas por
num. — Fraudis interpretatio semper aditamento de tempo ou condição. Às
in iure civili non ex eventu duntaxat, vezes, porém, se admitem tacitamente
sed ex consilio quoque desideratur. ações como as supracitadas, embora,
se publicamente expressas, produzam
80. IDEM libro XXXIII. Quaestio- algum vício. Pois se se declara como
num. — In toto iure generi per spe- recebido o que foi prometido sob con-
ciem derogatur, et illud potissimum dição, entende-se que a aceptilação só
habetur, quod ad speciem directum est. produziu seu efeito após atendida a
condição estabelecida; o que, se enten-
81. IDEM libro III. Responsorum. dido verbalmente no sentido de acepti-
— Quae dubitationis tollendae causa lação, tornará a ação totalmente inváli-
contractibus inseruntur, ius cummune da.
non laedunt.
78. IDEM, Ibidem, Livro XXXI. —
82. IDEM libro IX. Responsorum. — Em geral, quando se trata de fraude,
Donari videtur, quod nullo iure cogen- deve-se considerar não o que tem o
te conceditur. autor, mas o que poderia ter tido não
fosse o adversário.
83. IDEM libro II. Definitionum. —
Non videntur rem amittere, quibus 79. IDEM, Ibidem, Livro XXXII. —
propria non fuit. No direito civil sempre se busca a in-
terpretação da fraude não apenas no
84. PAULUS libro III. Quaestionum. que é feito, mas também na intenção.
— Quum amplius solutum est, quam

373
Livro L – Título XVII Digesto

debebatur, cuius pars non invenitur, 80. IDEM, Ibidem, Livro XXXIII. —
quae repeti possit, totum esse indebi- Em todo o direito, a espécie precede o
tum intelligitur, manente pristina obli- gênero, sobretudo no que se refere di-
gatione. retamente a espécie.

§ 1. — Is natura debet, quem iure gen- 81. IDEM, Respostas, Livro III. — O
tium dare oportet, cuius fidem secuti que se insere nos contratos para elimi-
sumus. nar dúvidas não prejudica o direito co-
mum.
85. IDEM libro VI. Quaestionum. —
In ambiguis pro dotibus respondere 82. IDEM, Ibidem, Livro IX. — En-
melius est. tende-se por doação o que é dado sem
nenhuma obrigação legal.
§ 1. — Non est novum, ut, quae semel
utiliter constituta sunt, durent, licet ille 83. IDEM, Definições, Livro II. —
casus exstiterit, a quo initium capere Não se considera perdido o que não era
non potuerunt. possuído como coisa própria.

§ 2. — Quoties aequitatem desiderii 84. PAULO, Questões, Livro III. —


naturalis ratio, aut dubitatio iuris mo- Quando se paga mais do que se devia
ratur, iustis decretis res temperanda e não se sabe que parte pode ser recla-
est. mada, entende-se o todo como não de-
vido, permanecendo a obrigação pri-
mitiva.

86. IDEM libro VII. Quaestionum. § 1. Aquele em que depositamos nossa


— Non solet deterior conditio fieri eo- confiança deve dar, pelo direito natu-
rum, qui litem contestati sunt, quam si ral, o que convém dar pelo direito das
non, sed plerumque melior; gentes.
85. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Nos
casos ambíguos é melhor decidir a fa-
87. IDEM libro XIII. Quaestionum. — vor do dote.
nemo enim persequendo deteriorem
causam, sed meliorem facit. Denique § 1. Não é novidade que permaneça o
post litem contestatam heredi quoque que uma vez foi estabelecido como útil,
prospicitur, et heres tenetur ex omni- embora haja casos de que não se pode
bus causis. estabelecer o início.

§ 2. Em se tratando de questão que,


embora apoiada em princípio de equi-

374
Digesto Livro L – Título XVII

88. SCAEVOLA libro V. Quaestio- dade, se choca com outros princípios


num. — Nulla intelligitur mora ibi fie- de equidade contrários ou de direito
ri, ubi nulla petitio est. incerto, as decisões devem ser tomadas
com moderação.
89. PAULUS libro X. Quaestionum. —
Quamdiu possit valere testamentum, 86. IDEM, Ibidem, Livro VII. — Não
tamdiu legitimus non admittitur. costuma ser pior a condição de quem
contesta uma demanda do que a de
90. IDEM libro XV. Quaestionum. — quem não a contesta. Na maioria das
In omnibus quidem, maxime tamen in vezes até melhora;
iure, aequitas spectanda sit.
87. IDEM, Ibidem, Livro XIII. — pois
ninguém piora sua causa defendendo-
-a, antes a melhora. Finalmente, após a
91. IDEM libro XVII. Quaestionum. contestação de uma demanda, visa-se
— Quoties duplici iure defertur alicui também o herdeiro que está vinculado
successio, repudiato novo iure, quod a todas as questões.
ante defertur, supererit vetus.
88. CÉVOLA, Questões, Livro V. —
Não há mora onde não há demanda.
92. SCAEVOLA libro V. Responso-
rum. — Si librarius in transcribendis
stipulationis verbis errasset, nihil no- 89. PAULO, Questões, Livro X. — En-
cere, quominus et reus, et fideiussor quanto durar a validade de um testamen-
tenetur. to, o herdeiro legítimo não é admitido.

93. MAECIANUS libro I. Fideicom- 90. IDEM, Ibidem, Livro XV. — Em


missorum. — Filiusfamilias neque re- todos os casos, porém, principalmente
tinere, neque recuperare, neque adipis- com relação ao direito, se há de atentar
ci possessionem rei peculiaris videtur. sempre para a equidade.

91. IDEM, Ibidem, Livro XVII. —


94. ULPIANUS libro II. Fideicom- Sempre que uma sucessão é concedida
missorum. — Non solent, quae abun- a alguém em razão de duplo direito,
dant, vitiare scripturas. rejeitado o novo, prevalecerá o antigo
antes adotado.
95. IDEM libro VI. Fideicommisso-
rum. — Nemo dubitat, solvendo videri 92. CÉVOLA, Respostas, Livro V. —
eum, qui defenditur. Se o escrivão errar na transcrição dos
termos de um acordo, nada prejudica

375
Livro L – Título XVII Digesto

96. MAECIANUS libro XII. Fidei- desde que não obrigue tanto o devedor
commissorum. — In ambiguis oratio- como o fiador.
nibus maxime sententia spectanda est
eius, qui eas protulisset. 93. MECIANO, Fideicomissos, Livro
I. — Não se considera admissível que
97. HERMOGENIANUS libro III. Iu- um filho de família mantenha, recupe-
ris Epitomarum. — Ea sola deporta- re ou consiga a posse de algo adquirido
tionis sententia aufert, quae ad fiscum com um pecúlio165.
perveniunt.
94. ULPIANO, Fideicomissos, Livro
II. — O que excede não costuma viciar
um documento.

95. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Não


98. IDEM libro IV. iuris Epitoma- há dúvida de que parece solvente quem
rum. — Quoties utriusque causa Iucri é defendido.
ratio vertitur, is praeferendus est, cuius
in lucrum causa tempore praecedit. 96. MECIANO, Fideicomissos, Livro
XII. — Em textos obscuros convém
analisar com todo cuidado o sentido
99. VENULEIUS libro XII. Stipula- pretendido por quem os produziu.
tionum. — Non potest improbus vide-
ri, qui ignorat, quantum solvere debeat. 97. HERMOGENIANO, Epítome do
Direito, Livro III. — A sentença de de-
portação bloqueia apenas os bens que
100. GAIUS libro I. Regularum. — pertencem ao fisco.
Omnia, quae iure contrahuntur, con-
trario iure pereunt. 98. IDEM, Ibidem, Livro IV. — Toda
vez que uma questão entre dois litigan-
101. PAULUS libro Singulari de Cog- tes versa sobre lucro, a preferência deve
nitionibus. — Ubi lex duorum men- ser dada àquele cuja causa precede em
sium fecit mentionem, et qui sexagesi- razão do tempo.
mo et primo die venerit, audiendus est;
ita enim et Imperator Antoninus cum 99. VENULEIO, Estipulações, Livro
Divo patre suo rescripsit. XII. — Não pode ser considerado de-
sonesto quem não sabe quanto deve
pagar.
102. ULPIANUS libro I. ad Edictum.
— Qui vetante Praetore fecit, hic ad-
versus Edictum fecisse proprie dicitur.
165
Ver nota 134.

376
Digesto Livro L – Título XVII

100. GAIO, Regras, Livro I. — O que é


§ 1. — Eius est actionem denegare, qui acordado em direito se desfaz pelo di-
possit et dare. reito contrário.

103. PAULUS libro I. ad Edictum. — 101. PAULO, Das Jurisdições, Livro


Nemo de domo sua extrahi debet. Único. — Quando uma lei estabelece
prazo de dois meses, deve ser ouvido
quem comparecer no sexagésimo pri-
104. ULPIANUS libro II. ad Edictum. meiro dia, assim o determinaram, em
— Si in duabus actionibus alibi summa rescrito, o imperador Antonino e seu
maior, alibi infamia est, praeponen- pai.
da est causa existimationis; ubi autem
aequiparant famosa iudicia, et si sum- 102. ULPIANO, Comentários ao Edi-
mam imparem habent, pro paribus ac- to, Livro I. — Quem fez o que fora
cipienda sunt. proibido por um pretor, diz-se, com
razão, que agiu contra seu edito.

105. PAULUS libro I. ad Edictum. — § 1. Quem pode rejeitar uma ação


Ubicunque causae cognitio est, ibi Pra- também pode aceitá-la.
etor desideratur.
103. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro I. — Ninguém deve ser tirado a
106. IDEM libro II. ad Edictum. — Li- força de sua casa.
bertas inaestimabilis res est.
104. ULPIANO, Comentários ao
107. GAIUS libro I. ad Edictum pro- Edito, Livro II. — Se, em duas ações,
vinciale. — Cum servo nulla actio est. uma envolve grande soma e a outra,
infâmia, a preferência deve ser dada
à questão de honra; quando, porém,
108. PAULUS libro IV. ad Edictum. — se equiparam juízos de reputação e os
Fere in omnibus poenalibus iudiciis et valores são diferentes, sejam recebidas
aetati, et imprudentiae succurritur. como iguais.

105. PAULO, Comentários ao Edi-


109. IDEM libro V. ad Edictum. — to, Livro I. — Sempre que se requer
Nullum crimen patitur is, qui non pro- conhecimento de causa, recorra-se ao
hibet, quum prohibere (non) potest. pretor.

377
Livro L – Título XVII Digesto

110. IDEM libro VI. ad Edictum. — In 106. IDEM, Ibidem, Livro II. — A li-
eo, quod plus sit, semper inest et minus. berdade é coisa inestimável.

§ 1. — Nemo alienae rei expromissor 107. GAIO, Comentários ao Edito


idoneus videtur, nisi si cum satisdatio- Provincial, Livro I. — Não se move
ne; ação contra escravo166.

§ 2. — Pupillus pati posse non intellig- 108. PAULO, Comentários ao Edito,


itur. Livro IV. — Em quase todas as ações
penais, idade e ignorância são conside-
radas como atenuantes.
§ 3. — Ubi verba coniuncta non sunt,
sufficit alterutrum esse factum. 109. IDEM, Ibidem, Livro V. — Não é
responsável por nenhum crime quem
não proíbe quando não pode proibir.
§ 4. — Mulieribus tunc succurrendum
est, quum defendantur, non ut facilius 110. IDEM, Ibidem, Livro VI. — No
calumnientur. que há o mais há também o menos.

111. GAIUS libro II. ad Edictum pro- § 1. Quem é responsável por coisa
vinciale. — Pupillum, qui proximus alheia, não é considerado idôneo se
pubertati sit, capacem esse et furandi, não der caução.
et iniuriae faciendae.
§ 2. Não se entende que um tutelado
§ 1. — In heredem non solent actiones possa consentir.
transire, quae poenales sunt ex malefi- § 3. Quando os termos não são con-
cio, veluti furti, damni iniuriae, vi bo- juntivos, basta fazer uma coisa ou a ou-
norum raptorum, iniuriarum. tra.

112. PAULUS libro VIII. ad Edictum. § 4. As mulheres devem ser defendidas


— Nihil interest, ipso iure quis actio- com tolerância, mas não para que calu-
nem non habeat, an per exceptionem niem com mais facilidade.
infirmetur.
111. GAIO, Comentários ao Edito
Provincial, Livro II. — Um tutelado que
113. GAIUS libro III. ad Edictum pro- está perto da puberdade é capaz não só
vinciale. — In toto et pars continetur. de furtar mas também de agredir.

166
O escravo não tem direitos civis.

378
Digesto Livro L – Título XVII

114. PAULUS libro IX. ad Edictum. —


In obscuris inspici solere, quod verisi- § 1. Não costumam ser transferidas
milius est, aut quod, plerumque fieri para o herdeiro ações penais por co-
solet. missão de delitos como furto, agressão,
bens tomados a força, violência.
115. IDEM libro X. ad Edictum. — Si
quis obligatione liberatus sit, potest vi- 112. PAULO, Comentários ao Edi-
deri cepisse. to, Livro VIII. — Não faz diferença
alguém, pelo próprio direito, não ter
§ 1. — Non potest videri accepisse, qui ação ou essa ação ser invalidada por
stipulatus potest exceptione summove- uma exceção.
ri.
116. ULPIANUS libro XI. ad Edictum. 113. GAIO, Comentários ao Edito,
— Nihil consensui tam contrarium Livro III. — No todo está contida a
est, qui et bonae fidei iudicia sustinet, parte.
quam vis atque metus; quem compro-
bare, contra bonos mores est. 114. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro IX. — Em questões obscuras cos-
tuma-se buscar o que é mais verossímil
§ 1. — Non capitur, qui ius publicum ou o que geralmente se costuma fazer.
sequitur.
115. IDEM, Ibidem, Livro X. — Quem
§ 2. — Non videntur, qui errant, con- se libera de uma obrigação é conside-
sentire. rado como se algo tivesse adquirido.

117. PAULUS libro XI. ad Edictum. — § 1. Não pode ser considerado como
Praetor bonorum possessorem heredis adquirente quem por exceção pode ser
loco in omni causa habet. afastado da negociação.
116. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XI. — Nada é tão contrário
118. ULPIANUS libro XII. ad Edic- ao consentimento, que se sustenta em
tum. — Qui in servitute est, usucapere ações de boa-fé, quanto a violência e o
non potest; nam quum possideatur, medo; aprová-lo é contra os bons cos-
possidere non videtur. tumes.

119. IDEM libro XIII. ad Edictum. — § 1. Não é enganado quem se atém ao


Non alienat, qui duntaxat omittit pos- direito público.
sessionem.
§ 2. Quem erra não parece consentir.

379
Livro L – Título XVII Digesto

120. PAULUS libro XII. ad Edictum.


— Nemo plus commodi heredi suo re- 117. PAULO, Comentários ao Edito,
linquit, quam ipse habuit. Livro XI. — Em toda causa o pretor
tem o possuidor dos bens no lugar de
herdeiro.
121. IDEM libro XIII. ad Edictum. —
Qui non facit, quod facere debet, vide- 118. ULPIANO, Livro XII. — Quem
tur facere adversus ea, quia non facit; está na escravidão não pode usucapir,
et qui facit, quod facere non debet, non pois se ele próprio é possuído não pode
videtur facere id, quod facere iussus possuir.
est.
119. IDEM, Ibidem, Livro XIII. —
122. GAIUS libro V. ad Edictum pro- Não aliena quem apenas omite uma
vinciale. — Libertas omnibus rebus fa- posse.
vorabilior est.
120. PAULO, Comentários ao Edito,
123. ULPIANUS libro XIV. ad Edic- Livro XII. — Ninguém pode deixar a
tum. — Nemo alieno nomine lege age- seu herdeiro mais do que ele próprio
re potest. teve.

§ 1. — Temporaria permutatio ius pro- 121. IDEM, Ibidem, Livro XIII. —


vinciae non innovat. Quem não faz o que deve fazer pare-
ce fazer o contrário, porque não faz; e
124. PAULUS libro XVI. ad Edictum. quem faz o que não deve não parece
— Ubi non voce, sed praesentia opus fazer o que lhe foi mandado fazer.
est, mutus, si intellectum habet, potest
videri respondere. Idem in surdo; hic 122. GAIO, Comentários ao Edito
quidem et respondere potest. Provincial, Livro V. — Nada é mais va-
lioso do que a liberdade167.

§ 1. — Furiosus absentis loco est; et ita 123. ULPIANO, Comentários ao Edi-


Pomponius libro primo Epistolarum to, Livro XIV. — Ninguém pode, em
scribit. nome da lei, agir em nome alheio.

125. GAIUS libro V. ad Edictum pro- § 1. Uma alteração temporária não


vinciale. — Favorabiliores rei potius, inova o direito de uma província.
quam actores habentur.

167
Repetição do artigo 106 deste Título.

380
Digesto Livro L – Título XVII

126. ULPIANUS libro XV. ad Edic- 124. PAULO, Comentários ao Edito,


tum. — Nemo praedo est, qui pretium Livro XVI. — Onde se requer a pre-
numeravit. sença e não a voz, um mudo, se souber
do que se trata, é considerado apto a
§ 1. — Locupletior non est factus, qui responder. O mesmo se diga do surdo:
libertum acquisierit. este também pode, de fato, responder.

§ 2. — Quum de lucro duorum quae- § 1. Um louco é como um ausente, as-


ratur, melior est causa possidentis. sim escreveu também Pompônio em
seu primeiro livro das Epístolas.

125. GAIO, Comentários ao Edito,


Livro V. — Os réus são considerados
127. PAULUS libro XX. ad Edictum. mais favoravelmente que os autores.
— Quum Praetor in heredem dat ac-
tionem, quatenus ad eum pervenit, su- 126. ULPIANO, Comentários ao Edi-
fficit, si vel momento ad eum pervenit to, Livro XV. — Não é possuidor ilegí-
ex dolo defuncti. timo quem pagou o preço.

§ 1. Ninguém se torna mais rico por


128. IDEM libro XIX. ad Edictum. — adquirir um liberto.
In pari causa possessor potior haberi
debet. § 2. Quando se trata dos interesses
de dois, é melhor a condição de quem
§ 1. — Hi, qui in universum ius succe- possui.
dunt, heredis loco habentur.
127. PAULO, Comentários ao Edito,
129. IDEM libro XXI. ad Edictum. — Livro XX. — Quando um pretor pro-
Nihil dolo creditor facit, qui suum reci- cessa um herdeiro no que toca à he-
pit. rança recebida, basta que, por um mo-
mento, tenha entrado na posse dessa
§ 1. — Quum principalis causa non herança por fraude do falecido.
consistit, ne ea quidem, quae sequun-
tur, locum habent. 128. IDEM, Ibidem, Livro XIX. — Em
causa igual, é melhor a condição de
130. ULPIANUS libro XVIII. ad Edic- quem possui.
tum. — Nunquam actiones, praeser-
tim poenales, de eadem re concurren- § 1. Aqueles que sucedem em todo o
tes, alia aliam consumit. direito são tidos no lugar de herdeiros.

381
Livro L – Título XVII Digesto

129. IDEM, Ibidem, Livro XXI. — Ne-


nhum credor age dolosamente por re-
131. PAULUS libro XXII. ad Edictum. ceber o que é seu.
— Qui dolo desierit possidere, pro pos-
sidente damnatur, quia pro possessio- § 1. Quando a causa principal não
ne dolus est. subsiste, tampouco subsiste o que dela
decorre.
132. GAIUS libro VII. ad Edictum
provinciale. — Imperitia culpae adnu- 130. ULPIANO, Comentários ao
meratur. Edito, Livro XVIII. — Quando várias
ações versam sobre uma mesma maté-
ria, principalmente em se tratando de
133. IDEM libro VIII. ad Edictum ações penais, uma ação munca extin-
provinciale. — Melior conditio nos- gue a outra.
tra per servos fieri potest, deterior fieri
non potest. 131. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro XXI. — Quem, por dolo, deixa
134. ULPIANUS libro XXI. ad Edic- de possuir é condenado como possui-
tum. — Non fraudantur creditores, dor porque o dolo diz respeito à posse.
quum quid non acquiritur a debitore,
sed quum quid de bonis deminuitur. 132. GAIO, Comentários ao Edito,
Livro VII. — A imperícia soma-se à
culpa.
§ 1. — Nemo ex suo delicto meliorem
suam conditionem facere potest. 133. IDEM, Ibidem, Livro VIII. —
Com escravos, nossa situação pode
tornar-se melhor, não pior.
135. IDEM libro XXIII. ad Edictum.
— Ea, quae dari impossibilia sunt, vel
quae in rerum natura non sunt, pro 134. ULPIANO, Comentários ao Edi-
non adiectis habentur. to, Livro XXI. — O credor não é preju-
dicado quando o devedor não adquire
136. PAULUS libro XVIII. ad Edic- bem algum, mas quando tem seus bens
tum. — Bona fides tantundem possi- diminuídos.
denti praestat, quantum veritas, quo-
ties lex impedimento non est. § 1. Ninguém pode melhorar sua con-
dição com o cometimento de um cri-
137. ULPIANUS libro XXV. ad Edic- me.
tum. — Qui auctore iudice comparavit,
bonae fidei posessor est.

382
Digesto Livro L – Título XVII

135. IDEM, Ibidem, Livro XXIII. —


Coisas impossíveis de acontecer ou
138. PAULUS libro XXVII. ad Edic- as que não existem são consideradas
tum. — Omnis hereditas, quamvis como não expressas.
postea adeatur, tamen cum tempore
mortis continuatur. 136. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro XVIII. — A boa-fé favorece tan-
§ 1. — Nunquam crescit ex postfacto to o possuidor quanto a verdade, desde
praeteriti delicti aestimatio. que a lei não seja impedimento.

139. GAIUS libro ad Edictum Prae- 137. ULPIANO, Comentários ao Edi-


toris urbani. — Omnes actiones, quae to, Livro XXV. — Quem adquiriu com
morte aut tempore pereunt, semel in- autorização judicial é possuidor em
clusae iudicio salvae permanent. boa fé.

138. PAULO, Comentários ao Edito


§ 1. — Non videtur perfecte cuiusque Livro XXVII. — Toda herança,mesmo
id esse, quod ex casu auferri potest. se recebida depois, já é efetiva desde o
momento da morte.
140. ULPIANUS libro LVI. ad Edic-
tum. — Absentia eius, qui reipublicae § 1. A avaliação de um crime passado
causa abest, neque ei, neque alii dam- nunca é agravada por fato posterior.
nosa esse debet.
139. GAIO, Comentários ao Edito do
Pretor Urbano. — Toda ação que pres-
creve por morte ou decurso de tempo
141. PAULUS libro LIV. ad Edictum. permanece resguardada desde que
— Quod contra rationem iuris recep- ajuizada.
tum est, non est producendum ad con-
sequentia. § 1. Não parece ser inteiramente de al-
guém algo que eventualmente lhe pode
§ 1. — Uni duo pro solido heredes esse ser tirado.
non possunt.
140. ULPIANO, Comentários ao Edi-
142. IDEM libro LVI. ad Edictum. — to, Livro LVI. — O não compareci-
Qui tacet, non utique fatetur; sed ta- mento de quem se ausenta no interesse
men verum est, eum non negare. público não deve ser prejudicial nem
ao próprio nem a outrem.
143. ULPIANUS libro LXII. ad Edic-
tum. — Quod ipsis, qui contraxerunt,

383
Livro L – Título XVII Digesto

obstat, et successoribus eorum obsta- 141. PAULO, Comentários ao Edito,


bit. Livro LIV. — O que é admitido contra
a razão do direito não deve esteder-se a
144. PAULUS libro LXII. ad Edictum. suas consequências.
— Non omne, quod licet, honestum
est. § 1. Dois não podem ser herdeiros
universais de um só.
§ 1. — In stipulationibus id tempus
spectatur, quo contrahimus. 142. IDEM, Ibidem, Livro LVI. —
Quem se cala certamente não confessa,
145. ULPIANUS libro LXVI. ad Edic- mas também é verdade que não nega.
tum. — Nemo videtur fraudare eos,
qui sciunt et consentiunt. 143. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LXII. — O que obsta a quem
146. PAULUS libro LXII. ad Edictum. faz acordo obstará a seus sucessores.
— Quod quis, dum servus est, egit,
proficere libero facto non potest.
144. IDEM, Ibidem, Livro LXII. —
Nem tudo que é lícito é honesto.
147. GAIUS libro XXIV. ad Edictum
provinciale. — Semper specialia gene-
ralibus insunt. § 1. Nos contratos considera-se o tem-
po de sua celebração.

148. PAULUS libro XVI. Brevis Edic- 145. IDEM, Ibidem, Livro LXVI. —
ti. — Cuius effectus omnibus prodest, Ninguém parece fraudar a quem sabe
eius et partes ad omnes pertinent. e consente.

146. PAULO, Comentários ao Edito,


149. ULPIANUS libro LXVII. ad Edic- Livro LXII. — O que alguém fez na
tum. — Ex qua persona quis lucrum condição de escravo não pode favore-
capit, eius factum praestare debet. cê-lo após se tornar liberto.

147. GAIO, Comentários ao Edito


150. IDEM libro LXVIII. ad Edictum. Provincial, Livro XXIV. — As coisas
— Parem esse conditionem oportet especiais estão sempre contidas nas ge-
eius, qui quid possideat, vel habeat, rais.
atque eius, cuius dolo malo factum sit,
quominus possideret, vel haberet. 148. PAULO, Comentários ao Edi-
to, Livro VI. — O efeito do que é útil

384
Digesto Livro L – Título XVII

ao todo estende-se também a todas as


151. PAULLUS libro LXIV. ad Edic- suas partes.
tum. — Nemo damnum facit, nisi qui
id fecit, quod facere ius non habet. 149. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LXVII. — Quem por uma
pessoa obtém vantagens deve respon-
152. ULPIANUS libro LXIX. ad Edic- der pelo que ela faz.
tum. — Hoc iure utimur, ut, quidquid
omnino per vim fiat, aut in vis publi- 150. IDEM, Ibidem, Livro LXVIII. —
cae, aut in vis privatae crimen incidat. Convém que seja igual a condição de
quem agiu de má-fé para se tornar pos-
suidor ou detentor de alguma coisa e
de quem, do mesmo modo, agiu para
§ 1. — Deiicit, et qui mandat. não possuir ou ter alguma coisa.

§ 2. — In maleficio ratihabitio manda- 151. PAULO, Comentários ao Edito,


to comparatur. Livro LXIV. — Ninguém faz algum
dano, a menos que tenha feito o que
§ 3. — In contractibus, quibus doli não tinha direito de fazer.
praestatio vel bona fides inest, heres in
solidum tenetur. 152. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro XXIX. — Seguimos o direito
153. PAULLUS libro LXV. ad Edic- segundo o qual tudo o que é feito a for-
tum. — Fere, quibuscunque modis ça incorre em crime de violência públi-
obligamur, iisdem in contrarium actis ca ou privada.
liberamur, quum quibus modis ac-
quirimus, iisdem in contrarium actis § 1. Despoja quem manda despojar.
amittimus. Ut igitur nulla possessio ac-
quiri, nisi animo et corpore potest, ita § 2. Num malefício a ratificação equi-
nulla amittitur, nisi in qua utrumque vale a mandado.
contrarium actum.
§ 3. Os contratos, quer de cláusulas
dolosas quer de boa-fé, obrigam intei-
ramente os herdeiros.
154. ULPIANUS libro LXX. ad Edic-
tum. — Quum par delictum est duo- 153. PAULO, Comentários ao Edito,
rum, semper oneratur petitor, et me- Livro LXV. — Em geral, qualquer que
lior habetur possessoris causa, sicut fit, seja o modo de contrair obrigações,
quum de dolo excipitur petitoris; ne- delas podemos nos liberar do mesmo
que enim datur talis replicatio petitori: modo em sentido contrário, pois o que

385
Livro L – Título XVII Digesto

“aut si rei quoque in ea re dolo actum de um modo adquirimos por atos con-
sit”. Illi debet permitti poenam petere, trários perdemos. Portanto, do mesmo
qui in ipsam non incidit. modo que nada pode ser adquirido
sem intenção e posse, do mesmo modo
nada se perde a não ser por atos em
sentido contrário.
155. PAULLUS libro LXV. ad Edic-
tum. — Factum cuique suum, non ad- 154. ULPIANO, Comentários ao Edi-
versario nocere debet. to, Livro LXX. — Quando o crime de
dois é igual, o demandante é sempre
§ 1. — Non videtur vim facere, qui iure onerado e se considera melhor a causa
suo utitur, et ordinaria actione experi- do possuidor, como acontece quando
tur. se opõe a exceção de dolo do deman-
dante, pois não lhe é dada esta réplica:
§ 2. — In poenalibus causis benignius “ou se também nessa questão o réu te-
interpretandum est. nha agido com dolo”. Ao demandado é
dado pedir a punição na qual ele pró-
156. ULPIANUS libro LXX. ad Edic- prio não incorreu.
tum. — Invitus nemo rem cogitur de-
fendere. 155. PAULO, Comentários ao Edito,
Livro LXV. — O feito deve prejudicar a
quem o fez e não ao adversário.
§ 1. — Cui damus actiones, eidem et
exceptionem competere multo magis § 1. Não se considera que faça uso da
quis dixerit. força quem faz uso de seu direito e re-
corre a uma ação ordinária.
§ 2. — Quum quis in alterius locum
successerit, non est aequum, ei nocere § 2. Nas questões penais a interpreta-
hoc, quod adversus eum non nocuit, in ção deve ser mais benigna.
cuius locum successit.
156. ULPIANO, Comentários ao Edi-
§ 3. — Plerumque emtoris eadem cau- to, Livro LXX. — Ninguém é obriga-
sa esse debet circa petendum ac defen- do a defender uma questão contra sua
dendum, quae fuit auctoris. vontade.

§ 4. — Quod cuique pro eo praestatur, § 1. A quem damos o direito de acio-


invito non tribuitur. nar com muito mais razão se dirá que
lhe compete a exceção.
157. IDEM libro LXXI. ad Edictum.
— Ad ea, quae non habent atrocitatem

386
Digesto Livro L – Título XVII

facinoris vel sceleris, ignoscitur servis, § 2. Quando uma pessoa sucede a ou-
si vel dominis, vel his, qui vice domi- tra não é justo que a prejudique o que
norum sunt, veluti tutoribus et curato- não prejudicou a pessoa a quem suce-
ribus, obtemperaverint. deu.

§ 3. Em geral, o comprador tem o mes-


§ 1. — Semper, qui dolo fecit, quo mi- mo direito do vendedor, de reclamar e
nus haberet, pro eo habendus est, ac si defender.
haberet.
§ 4. O que é feito a favor de alguém
§ 2. — In contractibus successores ex não lhe pode ser imposto.
dolo eorum, (quibus) successerunt,
non tantum in id, quod pervenit, ve- 157. IDEM, Ibidem, Livro LXXI. —
rum etiam in solidum tenentur, hoc Os escravos isentam-se de responsa-
est unusquisque pro ea parte, qua heres bilidade com relação a coisas que não
est. envolvam crime ou delito cometido
com atrocidade se tiverem obedecido
158. GAIUS libro XXVI. ad Edictum aos senhores ou a quem estiver no lu-
provinciale. — Creditor, qui permittit gar deles como tutores e curadores.
rem venire, pignus demittit.
§ 1. Quem agir dolosamente para es-
conder a posse de algum bem deve ser
159. PAULULS libro LXX. ad Edic- sempre considerado como se seu pos-
tum. — Non ut ex pluribus causis de- suidor fosse.
beri nobis idem potest, ita ex pluribus § 2. Nos contratos, aqueles que suce-
causis idem possit nostrum esse. deram por dolo da pessoa a que suce-
deram obrigam-se não só com relação
ao que lhes tocou, mas também com
160. ULPIANUS libro LXXVI. ad relação ao total, isto é, cada qual pela
Edictum. — Aliud est vendere, aliud parte de que foi herdeiro.
vendenti consentire.
158. GAIO, Comentários ao Edito
Provincial, Livro XXVI. — O credor
§ 1. — Refertur ad universos, quod pu- que permite que o bem seja vendido
blice fit per maiorem partem. perde o penhor.

§ 2. — Absurdum est, plus iuris habere 159. PAULO, Comentários ao Edito,


eum, cui legatus sit fundus, quam here- Livro LXX. — Do mesmo modo que
dem, aut ipsum testatorem, si viveret. uma coisa pode não nos ser devida por

387
Livro L – Título XVII Digesto

muitas razões, a mesma coisa pode nos


161. IDEM libro LXXVII. ad Edictum. ser devida por muitas razões.
— In iure civili receptum est, quoties
per eum, cuius interest, conditionem 160. ULPIANO, Comentários ao Edi-
non impleri, fiat, quominus impleatur, to, Livro LXXVI. — Uma coisa é ven-
perinde haberi, ac si impleta conditio der, outra é consentir que o vendedor o
fuisset; quod ad libertatem, et legata, et faça.
ad heredum institutiones perducitur;
quibus exemplis stipulationes quoque § 1. O que é feito publicamente pela
committuntur, quum per promissorem maioria vale para todos.
factum esset, quominus stipulator con-
ditioni pareret. § 2. É absurdo ter mais direito quem
recebe o legado de um terreno do que
um herdeiro ou o próprio testador se
162. PAULUS libro LXX. Ad Edictum. estivesse vivo.
— Quae propter necessitateme recepta
sunt, non debent in argumentum trahi. 161. IDEM, Ibidem, Livro LXXVI. —
O direito civil admite que toda vez que
alguém, que não tem interesse em que
163. ULPIANUS libro LV. Ad Edic- se cumpra determinada condição, faz
tum. — Cui ius est donandi, eidem et com que ela não se cumpra, essa con-
vendendi, et concedendi ius est. dição deve ser considerada como se ti-
vesse sido cumprida. Isso diz respeito a
liberdade, a legados e a instituições de
164. PAULUS libro LI. Ad Edictum. herdeiros. O caso aplica-se também a
— Poenalia iudicia semel accepta in contratos quando uma parte estipula
heredes transmitti possunt. de forma que a outra não cumpra de-
terminada condição.
165. ULPIANUS libro LIII. Ad Edic-
tum. — Quum quis possit alienare, 162. PAULO, Comentários ao Edito,
poterit et consentire alienationi. Cui Livro LXX. — O que se admitiu por
autem donare non conceditur, proban- força da necessidade não pode ser usa-
dum erit, nec si donationis causa con- do como precedente.
senserit, ratam eius voluntatem haben-
dam. 163. ULPIANO, Comentários ao Edi-
to, Livro LV. — A quem toca o direito
166. PAULUS libro XLVIII. Ad Edic- de doar, toca o direito de vender e de
tum. — Qui rem alienam defendit, ceder.
nunquam locuples habetur.

388
Digesto Livro L – Título XVII

167. IDEM libro XLIX. Ad Edictum. 164. PAULO, Comentários ao Edito,


— Non videntur data, quae eo tempo- Livro LI. — Ações penais uma vez re-
re, quo dentur, accipientis non fiunt. cebidas podem alcançar herdeiros.

165. ULPIANO, Comentários ao Edi-


§ 1. — Qui iussu iudicis aliquid facit, to, Livro LIII. — Se alguém pode alie-
non videtur dolo malo facere, quia pa- nar, pode também concordar com a
rere necesse habet. alienação. A quem, todavia, não é dado
doar deve-se reconhecer que, mesmo
168. IDEM libro I. ad Plautium. — concordando com a doação, sua vonta-
Rapienda occasio est, quae praebet be- de é inválida.
nignius responsum.
166. PAULO, Comentários ao Edito,
§ 1. — Quod factum est, quum in obs- Livro XLVIII. — Quem defende bem
curo sit, ex affectione cuiusque capit alheio nunca é considerado rico.
interpretationem.
167. IDEM, Ibidem, Livro XLIX. —
169. IDEM libro II. ad Plautium. — Is Não se consideram dadas coisas que,
damnum dat, qui iubet dare; eius vero ao serem dadas, não se tornam pro-
nulla culpa est, cui parere necesse sit. priedade de quem as recebe.

§ 1. Quem faz algo por ordem judicial


§ 1. — Quod pendet, non est pro eo, não é considerado como agindo de
quasi sit. má-fé, pois é obrigado a obedecer.

170. IDEM libro III. ad Plautium. — 168. IDEM, Comentários a Pláucio,


Factum a iudice, quod ad officium eius Livro I. — Não se deve perder ocasião
non pertinet, ratum non est. que propicie solução mais benigna.

171. IDEM libro IV. ad Plautium. — § 1. Quando se trata de algo duvidoso,


Nemo ideo obligatur, quia recepturus se há de interpretar de acordo com in-
est ab alio, quod praestiterit. tenção de cada um.

169. IDEM, Ibidem, Livro II. — Causa


172. IDEM libro V. ad Plautium. — o dano quem manda fazê-lo. Não tem,
In contrahenda venditione ambiguum porém, nenhuma culpa quem age por-
pactum contra venditorem interpre- que obrigado a obedecer.
tandum est.
§ 1. O que está pendente não é consi-
derado como existente.

389
Livro L – Título XVII Digesto

§ 1. — Ambigua autem intentio ita ac-


cipienda est, ut res salva actori sit. 170. IDEM, Ibidem, Livro III. — Não
é válido o que faz um juiz fora de sua
competência.
173. IDEM libro VI. ad Plautium. —
In condemnatione personarum, quae 171. IDEM, Ibidem, Livro IV. — Nin-
in id, quod facere possunt, damnantur, guém é obrigado a assumir uma dívida
non totum, quod habent, extorquen- sob a alegação de poder receber de ter-
dum est, sed et ipsarum ratio habenda ceiro o que tiver pago pelo devedor.
est, ne egeant.
§ 1. — Quum verbum “restituas” lege 172. IDEM, Ibidem, Livro V. — Num
invenitur, etsi non specialiter de fruc- contrato de venda, os termos ambíguos
tibus additum est, tamen etiam fructus devem ser interpretados contra o ven-
sunt restituendi. dedor.

§ 2. — Unicuique sua mora nocet; § 1. A intenção ambígua, porém, deve


quod et in duobus reis promittendi ob- ser interpretada de modo que beneficie
servatur. o demandante.

§ 3. — Dolo facit, qui petit, quod re- 173. IDEM, Ibidem, Livro VI. — Na
dditurus est. punição de pessoas condenadas a pa-
gar o que podem, não devem ser priva-
174. IDEM libro VIII. ad Plautium. — das de todos os seus bens, mas se levem
Qui potest facere, ut possit conditioni em conta suas necessidades, para não
parere, iam posse videtur. se tornarem indigentes.
§ 1. Quando na lei se fala “restituas”,
ainda que não se refira especialmente
§ 1. — Quod quis, si velit, habere non a renda, mesmo assim as rendas devem
potest, id repudiare non potest. ser também restituídas.

175. IDEM libro XI. ad Plautium. — § 2. Cada qual responda por sua pró-
In his, quae officium per liberas fieri pria mora, o que é também observado
personas leges desiderant, servus in- quando são dois os réus devedores.
tervenire non potest.
§ 3. Age dolosamente quem reivindica
§ 1. — Non debeo melioris conditionis o que haverá de devolver.
esse, quam auctor meus, a quo ius in
me transit. 174. IDEM, Ibidem, Livro VII. —
Aquele que pode fazer que se cumpra

390
Digesto Livro L – Título XVII

176. IDEM libro XIII. ad Plautium. — uma condição, considera-se como


Non est singulis concedendum, quod quem pode cumpri-la.
per magistratum publice possit fieri, ne
occasio sit maioris tumultus faciendi. § 1. O que uma pessoa não pode ter,
mesmo que queira, não pode rejeitá-la.
§ 1. — Infinita aestimatio est libertatis
et necessitudinis. 175. IDEM, Ibidem, Livro XI. —
Quando a lei determina que certas fun-
177. IDEM libro XIV. ad Plautium. — ções devem ser exercidas por pessoas
Qui in ius, dominiumve alterius succe- livres, escravos estão excluídos.
dit, iure eius uti debet.
§ 1. — Nemo videtur dolo exsequi, qui § 1. Não devo ter melhor condição do
ignorat causam, cur non debeat petere. que a pessoa de quem os direitos me
foram transferidos.

178. IDEM libro XV. ad Plautium. 176. IDEM, Ibidem, Livro XII. — Não
— Quum principalis causa non con- deve ser concedido a indivíduos o que
sistat, plerumque ne ea quidem, quae é da atribuição pública dos magistra-
sequuntur, locum habent. dos, para evitar desordens.

179. IDEM libro XVI. ad Plautium. § 1. São inestimáveis a liberdade e o


— In obscura voluntate manumittentis parentesco.
favendum est libertati.
177. IDEM, Ibidem, Livro XIV. —
Quem sucede a alguém em direito ou
180. IDEM libro XVII. ad Plautium. senhorio deve usar os direitos dele.
— Quod iussu alterius solvitur, pro eo § 1. Ninguém parece agir dolosamente
est, quasi ipsi solutum esset. quando ignora a causa pela qual não
deva demandar.

181. IDEM libro I. ad Vitellium. — 178. IDEM, Ibidem, Livro XV. —


Si nemo subiit hereditatem, omnis vis Quando a causa principal não subsiste,
testamenti solvitur. em geral não prosseguem também ou-
tras dela decorrentes168.

182. IDEM libro I. ad Vitellium. —


Quod nullius esse potest, id ut alicuius
fieret, nulla obligatio valet efficere. 168
Este item é transcrição literal do §1. do item
129 deste Título XVII, embora o tempo dos
verbos divirja, isto é, no item 129, consistit,
aqui, consistat.

391
Livro L – Título XVII Digesto

183. MARCELUS libro III. Digesto- 179. IDEM, Ibidem, Livro XVI. —
rum. — Et si nihil facile mutandum est Em caso de obscuridade com relação
ex solennibus, tamen, ubi aequitas evi- à vontade do alforriador, favoreça-se a
dens poscit, subveniendum est. liberdade.

180. IDEM, Ibidem, Livro XVII. — O


que é pago por ordem de uma pessoa
é considerado como se por ela mesma
tivesse sido pago.

181. IDEM, Comentários a Vitélio,


184. CELSUS libro VII. Digestorum. Livro I. — Se ninguém recebeu a he-
— Vani timoris iusta excusatio non est. rança, o testamento perde todo o seu
efeito.

185. IDEM libro VIII. Digestorum. — 182. IDEM, Ibidem, Livro I. — O que
Impossibilium nulla obligatio est. não pode ser de ninguém, por nenhu-
ma obrigação pode tornar-se de al-
guém.
186. IDEM libro XII. Digestorum. —
Nihil peti potest ante id tempus, quo 183. MARCELO, Digesto, Livro III. —
per rerum naturam persolvi possit. Embora nada se mude facilmente no
Et quum solvendi tempus obligationi rito processual, convém atentar para os
additur, nisi eo praeterito, peti non po- casos em que a manifesta equidade o
test. exige.
184. CELSO, Digesto, Livro VII. —
187. IDEM libro XVI. Digestorum. — Não há desculpa que justifique o vão
Si quis praegnantem uxorem reliquit, temor.
non videtur sine liberis decessisse.
185. IDEM, Ibidem, Livro VIII. —
Não há obrigação com relação a coisas
188. IDEM libro XVII. Digestorum. impossíveis.
— Ubi pugnantia inter se in testamento
iuberentur, neutrum ratum est. 186. IDEM, Ibidem, Livro XII. —
Nada se pode demandar antes do tem-
po em que, pela natureza das coisas,
§ 1. — Quae rerum natura prohiben- pode ser pago. E quando se acrescenta
tur, nulla lege confirmata sunt. prazo, não se pode reclamar antes de
decorrido.

392
Digesto Livro L – Título XVII

189. IDEM libro XIII. Digestorum. 187. IDEM, Ibidem, Livro XVI. —
— Pupillus nec velle, nec nolle in ea Quem deixa uma esposa grávida não
aetate, nisi apposita tutoris auctoritate, se considera como tendo morrido sem
creditur; nam quod animi iudicio fit, in filhos.
eo tutoris auctoritas necessaria est.
188. IDEM, Ibidem, Livro XVII. —
Quando num testamento figuram duas
disposições que se contradizem ne-
190. IDEM libro XXIV. Digestorum. nhuma delas é válida.
— Quod evincitur, in bonis non est.
§ 1. O que é proibido pela natureza das
191. IDEM libro XXXIII. Digesto- coisas não é retificado por nenhuma
rum. — Neratius consultus, an, quod lei.
beneficium dare se, quasi viventi, Ca-
esar rescripserat, iam defuncto dedis- 189. IDEM, Ibidem, Livro XIII. — É
se existimaretur, respondit, non videri comumente aceito que um tutelado,
sibi, Principem, quod ei, quem vivere pela idade, não tem a faculdade de que-
existimabat, concessisset, defuncto rer nem de não querer, a não ser com a
concessisse; quem tamen modum esse autorização do tutor, pois naquilo que
beneficii sui vellet, ipsius aestimatio- implica capacidade de tomar decisão,
nem esse. faz-se necessária a autoridade do tutor.

192. MARCELLUS libro XXIX. Diges- 190. IDEM, Ibidem, Livro XXIV. — O
torum. — Ea, quae in partes dividi non que é desapropriado pela justiça não
possunt, solida a singulis heredibus de- faz parte dos bens.
bentur. 191. IDEM, Ibidem, Livro XXXIII. —
Consultado sobre se teria efeito bene-
§ 1. — In re dubia benigniorem inter- fício concedido por César, em rescrito,
pretationem sequi, non minus iustius a pessoa já morta, mas que supunha
est, quam tutius. viva, respondeu Nerásio que o que
César tivesse concedido a um morto,
193. CELSUS libro XXXVIII. Diges- acreditando-o vivo, tinha plena vali-
torum. — Omnia fere iura heredum dade, mas seria de sua alvitre definir a
perinde habentur, ac si continuo sub extensão do benefício concedido.
tempus mortis heredes extitissent.

192. MARCELO, Digesto, Livro


194. MODESTINUS libro VI. Diffe- XXIX. — Bens que não são passíveis
rentiaum. — Qui per successionem, de divisão são devidos integralmente a
quamvis longissimam, defuncto here- cada herdeiro.

393
Livro L – Título XVII Digesto

des constiterunt, non minus heredes


intelliguntur, quam qui principaliter § 1. Na dúvida, não só é mais justo
heredes existunt. como mais seguro seguir a interpreta-
ção mais benevolente.
195. IDEM libro VII. Differentiarum.
— Expressa nocent, non expressa non 193. CELSO, Digesto, Livro XXXVIII.
nocent. — Quase todos os direitos dos herdei-
ros são consideradas como se os her-
196. IDEM libro VIII. Regularum. — deiros passassem a existir imediata-
Privilegia quaedam causae sunt, qua- mente em seguida à morte do testador.
edam personae; et ideo quaedam ad
heredem transmittuntur, quae causae 194. MODESTINO, Diferenças, Livro
sunt; quae personae sunt, ad heredem VI. — Quem se faz herdeiro por suces-
non transeunt. são, mesmo se muito distante, não é
considerado menos herdeiro do que se
197. IDEM libro Singulari de ritu constituído herdeiro principal.
nuptiarum. — Semper in coniunctio-
nibus non solum, quid liceat, conside-
randum est, sed et quid honestum sit. 195. IDEM, Ibidem, Livro VII. — O
que é expresso prejudica, o que não o é
não prejudica.
198. IAVOLENUS libro XIII. ex Cas-
sio. — Neque in interdicto, neque in 196. IDEM, Regras, Livro VIII. — Al-
ceteris causis pupillo nocere oportet guns privilégios concernem a bens, ou-
dolum tutoris, sive solvendo est, sive tros, a pessoas. Por isso, alguns passam
non est. aos herdeiros, porque referentes a bens;
os pessoais não passam aos herdeiros.
199. IDEM libro VI. Epistolarum. —
Non potest dolo carere, qui imperio
magistratus non paruit. 197. IDEM, Das Cerimônias Nup-
ciais, Livro Único. — Nas uniões con-
jugais se há de considerar sempre não
200. IDEM libro VII. Epistolarum. — só o que é lícito, mas também o que é
Quoties nihil sine captione investigari honesto.
potest, eligendum est, quod minimum
habeat iniquitatis. 198. JAVOLENO, Doutrina de Cás-
sio, Livro XIII. — Nem em caso de in-
201. IDEM libro X. Epistolarum. — terdição nem em outros convém que o
Omnia, quae ex testamento proficis- dolo do tutor, solvente ou não, prejudi-
que o tutelado.

394
Digesto Livro L – Título XVII

cuntur, ita statum eventus capiunt, si


initium quoque sine vitio ceperint. 199. IDEM, Epístolas, Livro VI. —
Não pode eximir-se de dolo quem não
202. IDEM libro XI. Epistolarum. — obedece à determinação de um magis-
Omnis definitio in iure civili periculo- trado.
sa est; parum est enim, ut non subverti
possit. 200. IDEM, Ibidem, Livro VII. —
Quando não se pode inquirir sem re-
203. POMPONIUS libro VIII. ad correr a artifícios, escolha-se o menos
Quintum Mucium. — Quod quis ex lesivo à equidade.
culpa sua damnum sentit, non intelli-
gitur damnum sentire. 201. IDEM, Ibidem, Livro X. — Tudo
204. IDEM libro XXVIII. ad Quintum o que decorre de um testamento ganha
Mucium. — Minus est, actionem ha- condição de validade se tudo teve iní-
bere, quam rem. cio sem vício.

205. IDEM libro XXXIX. ad Quintum 202. IDEM, Ibidem, Livro XI. — Toda
Mucium. — Plerumque fit, ut etiam definição em direito civil é perigosa,
ea, quae nobis abire possint, proinde in pois é pouco provável que não possa
eo statu sint, atque si non essent eius ser contestada.
conditionis, ut abire possent; et ideo,
quod fisco obligamus, et vindicare in- 203. POMPÔNIO, Comentários a
terdum, et alienare, et servitutem in Quinto Múcio, Livro VIII. — É inad-
praedio imponere possumus. missível que alguém se queixe do dano
que sofre por sua própria culpa.
206. IDEM libro IX. ex variis Lec- 204. IDEM, Ibidem, Livro XXVIII. —
tionibus. — Iure naturae aequum est, É melhor possuir a coisa do que recla-
neminem cum alterius detrimento et má-la.
iniuria fieri locupletiorem.
205. IDEM, Ibidem, Livro XXXIX.
207. ULPIANUS libro I. ad legem — É comum também que coisas que
Iuliam et Papiam. — Res iudicata pro nos podem ser tiradas se encontrem,
veritate accipitur. depois, em condição de não poder nos
faltar; portanto o que empenhamos ao
208. PAULUS libro III. ad legem fisco podemos, nesse ínterim, reivindi-
Iuliam et Papiam. — Non potest videri car, alienar e destinar a servidão quan-
desiisse habere, qui nunquam habuit. do se trata de bem imóvel.

206. IDEM, Lições Variadas, Livro IX.


— É justo pelo direito natural que nin-

395
Livro L – Título XVII Digesto

209. ULPIANUS libro IV. ad legem guém se torne mais rico em detrimento
Iuliam et Papiam. — Servitutem mor- e prejuízo de outrem.
talitati fere comparamus.
207. ULPIANO, Comentários à Lei
210. LICINIUS RUFINUS libro II. Re- Júlia e Pápia, Livro XVII. — A coisa
gularum. — Quae ab initio inutilis fuit julgada seja aceita como a verdade.
institutio, ex postfacto convalescere
non potest. 208. PAULO, Comentários à Lei Jú-
lia e Pápia, Livro III. — Não pode ser
211. PAULUS libro LXIX. ad Edi ctum. considerado como tendo deixado de
— Servus reipublicae causa abesse non ter quem nunca teve.
potest.
209. ULPIANO, Comentários à Lei
Júlia e Pápia, Livro IV. — A escravidão
é uma espécie de morte.

210. LICÍNIO RUFINO, Regras, Livro


II. — Instituição que se revelou inútil
desde o início não pode consolidar-se
com o tempo.

211. PAULO, Comentários ao Edito,


Livro LXIX. — Um escravo não pode
ser declarado ausente no interesse pú-
blico.

396
Digesto Livro L – Título XVII

397
BREVES DADOS BIOGRÁFICOS DE ALGUNS
JURISCONSULTOS ROMANOS CITADOS PELO DIGESTO
AFRICANUS (Sextus Cecilius Africanus)
Jurisconsulto romano do sec. II.
CÁSSIO (Gaius Casius Longius)
Jurisconsulto do séc. I, foi cônsul no ano 30, procônsul na Ásia e governador
da Síria entre 40-41. Banido por Nero para a ilha de Sardenha e absolvido por Ves-
pasiano, morreu em idade avançada. Foi discípulo de Massúrio Sabino, com quem
fundou uma escola de direito, cujos seguidores chamavam-se cassianos. Sua obra
principal, Libri Iuris Civilis, em dez volumes, é frequentemente citada no Digesto.
CALÍSTRATO
Jurisconsulto sob o reinado dos imperadores Septímio Severo e Caracala (197-
214).
CELSO (Celsus P. Juventius)
Nascido em 67, morreu em 130. Suas obras só sobrevivem em citações de ou-
tros autores. Gozou de favores dos imperadores Nerva e Trajano (96-117).
CÉVOLA (Quintus Mucius Scaevola)
Jurisconsulto que tem fragmentos de suas obras citados pelo Digesto. Cícero o
louva por sua eloquência e saber jurídico. Quintas Mucius Scaevola nasceu no sec.
II a.C, filho de Publius Mucius Scaevola, que, como cônsul em 132 a.C, opôs-se
decididamente à carnificina que os patrícios intentavam contra os Gracos.
GAIO (Gaius)
Foi contemporâneo dos imperadores Antonino Pio e Marco Aurélio (117-168).
Parece ter residido fora de Roma. É autor de várias obras, das quais não restam se-
não fragmentos citados pelo Digesto. Todavia, suas Institutiones, compostas em 161
e que serviriam de base para as Instituta de Justiniano, no século VI, encontram-se
preservadas em sua quase totalidade. O texto original das Institutiones, até então só
conhecidas em breves resumos no Breviarium Alarici, foi descoberto em Verona,
em 1816, num pergaminho que tinha sido raspado para receber cartas de São Jerô-
nimo. Foi também descoberta em Autum, França, em 1898, uma Epitome de Gaio.
HERMOGENIANO
Provável redator do chamado Código Hermogeniano, de 314-324. Esse código
compendiava todas as constituições imperiais desde 294, data em que se encerrava
o Código Gregoriano. Seu texto figura numa obra de Haenel intitulada Codices
Theodosianus, Gregorianus, Hermogenianus, de 1842.

399
Jurisconsultos Romanos Digesto

JULIANO (Julianus Salvius)


Século II. Jurisconsulto sob Adriano, exerceu várias magistraturas e escreveu
várias obras entre os anos 125 e 138. É autor da codificação de editos de pretores,
que passou a ser chamada de Edictum Perpetuum.
LABEÃO (Marcus Antistius Labeo)
Há vários jurisconsultos com esse nome. O primeiro é Quintus Antistius La-
beo, que tomou parte na conjuração contra César, e cujo filho, Marcus Antistius
Labeo, foi o maior jurista da família. Marcos Labeão defendia o embasamento do
direito na filosofia, posição que deu origem a uma escola que recebeu o nome de
seu discípulo Próculo, os proculianos, adversários dos sabinianos. Foi autor de vá-
rias obras de direito, das quais restam apenas fragmentos. É certamente o autor
mais citado no Digesto.
MARCELO (Ulpius Marcellus)
Século II. Autor de várias obras de direito, das quais restam apenas fragmentos
citados no Digesto. Além de jurisconsulto, Marcelo foi propretor (governador) da
Panônia, região da Europa antiga situada entre o Danúbio e a antiga Iugoslávia.
MARCIANO (Aelius Marcianus)
Viveu na primeira metade do século III, sob os imperadores Caracala e Ale-
xandre Severo.
MODESTINO (Herennius Modestinus)
Século III. Discípulo de Ulpiano, foi conselheiro do imperador Alexandre Se-
vero.
NERÁCIO (Neratius Priscus)
Século II. Foi cônsul sob o imperador Adriano.
PAPINIANO (Aemilius Papinianus)
Nascido em Emessa, na Síria, c. 140-212 a.C., foi provável discípulo de Cévola.
Foi decapitado por ordem de Caracala por se negar a fazer a apologia do assassino
do irmão do próprio imperador, Geta. Suas obras incluem Quaestiones (37 livros),
Responsa (19 livros), Definitiones e monografias de Adulteriis. Seu nome está entre
os cinco jurisconsultos citados pela Lei das Citações, promulgada por Teodósio II e
Valentiniano III em 426 da era cristã.
PAULO (Julius Paulus)
Advogado em Roma, fez parte do Conselho Pretoriano sob os Severos (193-
235). Discípulo de Cévola, rivalizava em competência com Ulpiano. Sofreu a pena
do desterro por Heliogábalo. Autor de 80 livros, dos quais são citados 2.080 frag-
mentos no Digesto. Dessas obras sobreviveu apenas Sententiarum receptarum liber

400
Digesto Jurisconsultos Romanos

V, cujo resumo conservara-se no Breviarium Alarici. É um dos cinco jurisconsultos


oficializados pela Lei das Citações, de 426.
POMPÔNIO (Pomponius Sextus)
Jurisconsulto romano do séc. II. Da escola de Sabino, escreveu vários tratados,
dos quais o Digesto reproduz 588 fragmentos.
PRÓCULO (Proculus)
Contemporâneo de Nero (31-68), foi discípulo de Labeão. Sua fama e reputa-
ção de eminente jurista deu nome à escola fundada pelo próprio Labeão, os pro-
culianos.
SABINO (Sabinus Massurius)
Século I. Discípulo de Capitão, sucedeu-o como líder da escola sabiniana. Es-
creveu vários livros de direito, com destaque para os Libri tres iuris civilis, abundan-
temente comentados por Ulpiano, Pompônio e Paulo.
ULPIANO (Domitius Ulpianus)
Séculos II e III (170-228). Conselheiro de Alexandre Severo e assessor de Pa-
piniano. Responde por um terço do conteúdo do Digesto. Morreu assassinado pela
guarda pretoriana. Está entre os cinco jurisconsultos (Papiniano, Ulpiano, Paulo,
Modestino e Gaio) cujos pareceres jurídicos foram oficializados pela Lei das Cita-
ções, promulgada por Teodoro II e Valentiniano III em 426 da era cristã.

401
Glossário
Glossário Abrogare

Abrogare (Livro L, T. XVI)


Ab-rogar. Suprimir a lei; derrogare (derrogar), é suprimir parte da lei (102).
Absens (Livro L, T. XVI)
Ausente. Considera-se quem não se encontra no perímetro urbano (173); algo
deixa de sê-lo quando retorna ao nosso poder (13, § 2); não se considera quem
está no poder do inimigo, mas de ladrões (199, § 1); refere-se a pessoa que não se
encontra no lugar onde deveria estar.
Accipire (Livro L, T. XVI, 71)
Receber. Contrapõe-se a capere (adquirir): capere é adquirir como seu, accipere
é receber para ter.
Actio (Livro L, T. XVI)
Ação. Não comporta exceção (8, 1); pode ser geral e específica; pode ser “pro-
cesso” contra pessoa ou contra coisa (34); actio é mais usada entre pessoas; contra
coisa usa-se mais petitio (processo); persecutio diz mais respeito a processos extra-
ordinários (178, § 2).
Actum (Livro L, T. XVI, 19.1)
O que é feito. Não equivale a gestum (o que é gerido, administrado).
Administração Pública Romana (Livro L, ...)
A vocação expansionista dos romanos já se manifesta nos primórdios de sua
história, quando seus sucessivos reis, num período de 244 anos, se distinguiam pela
conquista de territórios que iam sendo incorporados ao imperium (soberania) de
Roma. Essa incorporação processava-se por meio de vitórias bélicas sobre os povos
vizinhos, da adesão de povos mais fracos e, finalmente, com a instituição da Con-
federação Latina, que reunia todos os povos latinos (do Lácio) como aliados, sob a
hegemonia política e militar de Roma.
Essa expansão intensificou-se no período republicano, iniciado em 509 a.C.,
em que Roma estendeu seu domínio sobre toda a península itálica e, com as guer-
ras púnicas, deu início às suas conquistas de além-mar.
À medida que se processava essa expansão, iam surgindo problemas político-
-administrativos dos povos e comunidades conquistadas ou anexadas. Sob esse as-
pecto, Roma era ciosa de sua autoridade e da diferenciação do estado civil de seus
cidadãos: a Urbs e o civis romanus. A Urbs (Roma) era a cidade por excelência, do-
minadora e única, enfim, a capital do mundo romano. Nenhuma cidade, por mais
importante que fosse, poderia arrogar-se o direito de se denominar urbe.
Do mesmo modo, o civis romanus (o cidadão de Roma) não era apenas um
título honorífico, mas status de uma classe privilegiada da população de Roma,
detentora de direitos inalienáveis na estrutura política, social e econômica tanto na
República quanto no Império. Na Monarquia, esse título confundia-se praticamen-

405
Administração Pública Romana Glossário

te com o de patrício, membro da classe constituída por famílias abastadas que se


desenvolveram juntamente e gradativamente com a ascensão de Roma.
Resguardados esses valores, os romanos foram criando, nos territórios ocupa-
dos, estruturas político-administrativas semelhantes às de Roma, mas com diferen-
tes nomenclaturas.
I. Civitas
Inicialmente, os romanos distinguiam entre comunidades subjugadas e co-
munidades aliadas. As primeiras não tinham autonomia administrativa, por isso
chamadas civitas sine suffragio (cidade sem voto), e as segundas, civitas cum su-
ffragio (cidade com voto) ou municipium optimo iure (município com o melhor
direito). As cidades sem direito a voto eram administradas por prepostos romanos
chamados praefectus (prefeito), enquanto as cidades com direito a voto, também
chamadas foederatae, isto é, aliadas, dispunham de uma espécie de senado, cuja
composição variava conforme o número de cidadãos, dos quais os dez primeiros,
decemprimi — ou decaprotoi em grego —, eram chamados decuriones (decuriões).
Os duumviri correspondiam aos dois cônsules de Roma, e os decuriões, aos sena-
dores. Em comunidades menores, havia o vicomagistri, que presidia os conselhos
municipais, e dois magistrados.
Também à semelhança da estrutura social de Roma, a população dessas co-
munidades dividia-se fundamentalmente em duas classes: civis (cidadão) e incola
(habitante), como em Roma o civis romanus e a plebs.
O civis, do mesmo modo que o civis romanus, era o cidadão não só sujeito de
direitos, mas também de obrigações. Cargos e funções públicos podiam ser preten-
didos em eleições ou impostos ao civis. O simples incola não gozava dos mesmos
direitos e privilégios do civis e não estava isento do exercício de funções que im-
plicavam serviços comunitários. Não podiam, todavia, exercer cargos honoríficos
nem tinham direito de votar.
II. Municipium
A essas comunidades ou cidades assim organizadas sob a égide de Roma foi
dado o nome de municipium, isto é, circunscrição territorial que abrangia a própria
cidade e sua zona rural, com suas aldeias, povoados e colônias. A primeira comu-
nidade a receber esse título foi Túsculo (hoje, Frascati), na Itália, no ano de 381 a.C.
A extensão desses direitos às comunidades da península itálica, que iam sendo
ocupadas ou se tornavam aliadas de Roma, acabou criando o chamado ius italicum,
cuja adoção passou a ser especial privilégio concedido pelos imperadores romanos
aos povos dominados como prêmio ou reconhecimento por sua fidelidade política
ou por expressiva cooperação militar.
III. Colônias
Havia ainda o que os romanos chamavam colônias: um terço do território ocu-
pado era distribuído em lotes, em geral de 50 hectares, entre militares reformados,

406
Glossário Administração Pública Romana

a título de indenização pela reforma. As primeiras colônias foram instaladas no


próprio Lácio e na região da Campânia. No final da República, com essas áreas já
escassas, o Estado passou a comprá-las para acomodar soldados reformados vete-
ranos das conquistas em terras orientais.
Além de sua finalidade social, esses assentamentos representavam importan-
tes enclaves paramilitares para a defesa de Roma. Às vezes se transformavam em
grandes cidades, em geral sem autonomia administrativa, administradas que eram
por procuradores de César. A primeira colônia romana teria sido Óstia, no mar
Tirreno.
IV. Províncias
As províncias eram extensas áreas territoriais que recebiam precisamente essa
denominação da raiz do verbo provincere, vencer, conquistar precedentemente.
Dividiam-se em senatórias e imperiais. Eram senatórias as províncias cujos go-
vernadores (praesides) eram procônsules ou propretores nomeados pelo Senado.
Em geral, se tratava de circunscrições territoriais cuja administração não requeria
maiores cuidados. As províncias imperiais, por sua vez, eram governadas por pre-
postos do próprio imperador, chamados legati Caesaris (legados de César). Eram as
províncias mais problemáticas e, por isso mesmo, militarmente ocupadas e gover-
nadas com menos privilégios. A primeira província romana foi a Sicília.
As cidades capitais das províncias observavam a mesma estrutura administra-
tiva de Roma, e os municípios seguiam os mesmos padrões organizacionais dos
municípios itálicos, mudada apenas a nomenclatura de seus cargos e ofícios.
No século II, que marcou o apogeu da expansão territorial do Império, Roma
tinha sob seu poder, dividido em províncias, quase todo o território da Europa, do
norte da África e da Ásia Menor.
A extensão da cidadania romana, em 212, pelo imperador Caracala a todos
os homens livres que habitassem o Império Romano, e a transferência da capital
do Império para Constantinopla, em 330, por Constantino, tirando de Roma o
título secular de Urbe — dois mitos jurídicos que sustentavam todo o arcabouço
da estrutura político-administrativa do Império —, contribuíram certamente para
a fragilização do sistema, acentuada pelo estabelecimento do grego, em 440, como
língua oficial, e a queda do Império do Ocidente em 476. O Digesto já testemunha
diversas alterações não só na própria estrutura administrativa do Império, resul-
tante do poder absoluto e perpétuo dos imperadores, como também na nomencla-
tura de cargos e funções.
Adoção e arrogação (Livro I, T. VII)
O instrumento de adoção entre os romanos não tinha como objetivo o futuro,
o bem-estar e a segurança do adotado, como nos tempos modernos. Sua motivação
eram questões de herança, de linhagem e até de afeição.

407
Adoção e arrogação Glossário

Quando o adotando era menor de idade, as leis concernentes eram mais rigo-
rosas; quando envolvia dois adultos, a legislação exigia a manifestação da vontade
do adotante e o consentimento do adotado. A adoção que envolvia adultos era cha-
mada de “arrogação”.
Ambas as modalidades — de adoção e de arrogação — só se realizavam diante
de autoridades competentes designadas por lei. Tanto a adoção como a arrogação
só podiam ser feitas por homens, embora o adotado pudesse ser também do sexo
feminino.

Adulterium (Livro L, T. XVI, 101)


Adultério. Diz respeito a mulher casada, enquanto stuprum, a mulher não ca-
sada.

Advena (Livro L, T. XVI, 239, § 4)


Estrangeiro, estranho. É o que os gregos chamam ápoicon, isto é, emigrado.

Aedes (Livro L, T. XVI, 211)


Edifício. Construção na zona urbana.

Aedificium (Livro L, T. XVI, 139, § 1)


Edifício. Considera-se acabado quando já pode ser usado.

Aes alienum (Livro L, T. XVI, 213 § 1)


Bem alheio. Diz-se do que devemos a outros, e aes suum, do que os outros nos
devem.

Ager (Livro L, T. XVI)


Terreno. Se a área é comprada para uso do homem (115); (campo) lugar sem
habitações (27.1).

Aggnatus proximus familiam habeto (Livro L, T. XVI, 195, § 1)


Assuma a família o parente mais próximo. Refere-se a coisas.

Agnação (Livro I, T. VII)


No direito romano, a agnatio é parentesco por varonia, em contraposição a
cognatio, cognação, parentesco por consanguinidade. Por exemplo: dois irmãos por
parte de pai: agnação; dois irmãos por parte de mãe: cognação. O parentesco entre
adotivos de um mesmo pai insere-se também no conceito de agnação.

Agnatorum gentiliumque (Livro L, T. XVI)


Agnatos e gentios. Implica distinção (53); agnato único é parente próximo
(162).

408
Glossário Alforria ou manumissão

Alforria ou manumissão (Livro I, T. I, 4)


Figura jurídica nascida do direito civil, que regulamenta o direito das gentes.
Segundo o direito romano, todo homem nasce livre. A servidão teria sido intro-
duzida pelo direito das gentes. É o direito civil que normatiza, isto é, estabelece
em que condições um homem livre pode tornar-se escravo e em que condições
pode readquirir sua liberdade. Manumissão ou alforria é o instituto que rege as
condições de liberdade do escravo, conforme a própria etimologia do termo, isto é,
manumittere, soltar da mão, onde “mão” figura como “poder” ou dominica potestas.
Manumissio era um termo reservado à alforria de escravos, que só podia ser dada
dentro de determinadas normas jurídicas e diante de autoridade competente.
A manumissio se fazia em duas modalidades: a alforria legal ou regular (iusta
manumissio), ou irregular (minus iusta). A alforria legal se fazia diante de autorida-
de competente, em geral, o pretor. Era a chamada manumissio a vindicta (alforria
pela varinha), que tinha o seguinte ritual: o senhor apresentava o escravo ao pretor
e, enquanto o pretor recitava a fórmula da munumissão, o senhor girava o escravo,
repetindo a oração esto liber (sê livre), e o líctor (assistente do pretor) lhe batia de
leve na cabeça com uma varinha.
Outras modalidades de alforria incluíam a manumissio por adoção, por testa-
mento (já prevista na Lei das XII Tábuas) e por census, isto é, pela posse de bens
com os quais o escravo, com a aprovação de seu senhor, inscrevia-se como cidadão
nos censos que se realizavam de cinco em cinco anos, em Roma. A modalidade por
censo era chamada manumissio minus iusta, não legal e, por isso mesmo, precária.
(Glossário, escravidão).
Alienatio (Livro L, T. XVI, 28)
Alienação. Implica também usucapião.
Alienatum (Livro L, T. XVI, 67)
Alienado. É impropriamente usado enquanto o bem permanece em poder do
vendedor, o certo é venditum (vendido).
Amicus (Livro L, T. XVI, 223, § 1)
Amigo. É quem, por honestas relações, adquiriu direitos de familiaridade com
o pai de família.
Anniculus (Livro L, T. XVI)
Primeiro ano de idade. Perde quem morre no último dia do ano (132); só é
completado no trecentésimo sexagésimo quinto dia (134).
Annona (Livro L, ...)
Formado etimologicamente com a raiz da palavra annus, ano, tinha diversas
acepções, entre as quais, safra anual de grãos, colheita, víveres e, por derivação fi-
gurativa, custo de vida, carestia etc. No contexto político, tanto na República como

409
Annona Glossário

no Império, a annona era uma política de estado que compreendia compra, arma-
zenamento, venda e distribuição de víveres para o abastecimento. Funcionava tanto
como política de regulação do mercado de alimentos em situações normais como
serviço social nas épocas de crise e escassez.
Mesmo nos períodos de normalidade econômica e social, o estado romano
adotava algo semelhante a bolsa-alimentação para milhares de famílias carentes
de meios de sobrevivência e, regulando o mercado, conseguia moderar o preço
dos alimentos. Na era dos Gracos (sec. II a.C.), o preço dos alimentos era irrisório
para as classes pobres e, no tempo de Clódio (séc. I a.C.), gratuito. César, populis-
ta, aumentou para 320 mil o número de bolsas-alimentação. Augusto reduziu esse
número à metade, organizou o serviço, criando uma estrutura administrativa, e
nomeou supervisores (praefectus) e auxiliares em Roma e províncias.
Os mercados abastecedores de Roma eram, na Itália, a Úmbria, a Etrúria e a
Sicília, e no exterior, o Egito e as colônias mediterrâneas. Numerosa frota mercante
se ocupava do transporte de víveres para Roma e as províncias.
Entre as funções públicas a que todo cidadão era obrigado a exercer, estava a de
comprar víveres por ocasião da colheita: indivíduos ou grupos recebiam dinheiro
do Estado para a compra de víveres, que eram depositados em armazéns públicos.
Apud (Livro L, T. XVI, 634)
Junto a ti, em tua casa. Não implica posse.
Arbitratu fieri (Livro L, T. XVI, 68)
Fazer-se ao arbítrio de. Significa direito, excluindo, portanto, o escravo.
Area (Livro L, T. XVI, 211)
Campo. Terreno na zona urbana.
Arma — armas (Livro L, T. XVI, 41.1)
Significa não só escudos, espadas, elmos, mas também bordunas e pedras.
Assessor (Livro I, T. XXII)
Etimologicamente, o termo vem de assideo, sentar-se ao pé de, estar junto de,
estar à disposição, a serviço. Por exemplo, assidere aegro, assistir a um enfermo. No
Digesto, pela ordem da enumeração dos cargos públicos, a função de assessor não
parece situar-se na hierarquia superior. O termo “assistente”, por suas raízes etimo-
lógicas, enquadra-se melhor que “assessor” na natureza do cargo.
Arrecadação de impostos (Livro L)
Os romanos tinham um modo peculiar de arrecadar impostos. Tanto em Roma
como nas províncias, não havia algo que se pudesse chamar de estrutura de arre-
cadação fiscal.

410
Glossário Arrecadação de impostos

A figura fundamental era a do primitivo censor, autoridade responsável pelos


censos periódicos, dos quais resultava, em geral, a identificação do número de ha-
bitantes para o recolhimento dos impostos per capita, a identificação e qualificação
dos proprietários que eram obrigados a declarar suas rendas. Havia também, é cla-
ro, impostos sobre a circulação comercial de bens, inclusive taxas aduaneiras.
A arrecadação desses impostos, porém, era feita pelos chamados publicanos,
pessoas, em geral abastadas, que arrendavam o recolhimento de determinados im-
postos em determinadas regiões. Com base no censo, estimava-se o valor global do
imposto a ser recolhido; o publicano pleiteava o lote, mediante caução ou fiança
própria ou de pessoas idôneas. O publicano tinha por remuneração tudo o que
viesse a exceder o valor global estimado pela receita fiscal, daí a rejeição social de
que era alvo, pois, para aumentar sua renda, exorbitava na cobrança do justo valor.
Assignare (Livro L, T. XVI, 107)
Indicar. Na expressão assignare libertum, significa declarar de qual filho quer
que seja o liberto.
Aureus (Livro L, T. XVI, 159)
Áureo. Chamam-se também moedas de bronze.
Bisextum (Livro L, T. XVI, § 8)
Bissexto. Quando o ano é bissexto, os dias anterior e posterior são computados
como um.
Bona (Livro L, T. XVI)
Bens. São impropriamente chamados públicos quando se trata de uma cidade,
pois só é público o que pertence ao povo romano (15); (bens) entende-se que o im-
perador, ao concedê-los, impõe também obrigações, T. XVI, 21; (patrimônio) tudo
o que se possui, deduzidas as dívidas (39, § 1); (bens) têm duas espécies: naturais
e civis: naturais são bens da natureza que fazem a pessoa feliz, e civis, bens que são
por nós possuídos sob diversos títulos (49); (bens) indicam certa totalidade e direi-
to de sucessão, não coisas individuais (208); não se aplica ao que envolve prejuízo
(83); (bens públicos) só do povo romano (15).
Bona fides (Livro L, T. XVI, 109)
Boa-fé. Comprador de boa-fé é quem adquire sem saber que o bem é alheio ou
crê na honestidade do vendedor.
Boves (Livro L, T. XVI, 89)
Bovinos. Incluem-se mais no conceito de gado do que de cavalgadura.
Capere (Livro L, T. XVI, 170)
Adquirir. Considera-se adquirente mesmo quem adquire para outrem.

411
Capitalis Glossário

Capitalis (Livro L, T. XVI, 103)


Capital. Em causa capitalis tem o sentido de morte ou perda de cidadania.

Carbonum (Livro L, T. XVI, 167)


Carvão. Não pertence ao gênero de madeira, nem lenha, nem tição, mas tem
seu próprio gênero.

Cargos e funções (Livro L)


Tanto na Monarquia como na República e, mais tarde, no Império, todos os
habitantes eram obrigados a prestar serviços públicos: o civis romanus — da classe
dos patrícios e cavaleiros — estava sujeito tanto ao serviço público militar como
aos chamados cargos ou honores, isto é, cargos honoríficos. Esses cargos ou eram
aceitos voluntariamente (e até pleiteados) ou impostos pelo interesse público. Ser
civis romanus significava direitos, mas também deveres, inclusive de prestar serviço
à comunidade no exercício temporário de cargos que, por serem recompensados
por honras e privilégios, eram chamados honores. Os plebeus não tinham acesso a
esses cargos.
Os cargos honoríficos não envolviam gastos e, se os houvesse, corriam por con-
ta do próprio detentor. As chamadas funções (munera), no entanto, que podiam
ser exercidas tanto por patrícios e cavaleiros como por plebeus, implicavam gastos
públicos, pelos quais se faziam também responsáveis seus detentores mediante cau-
ções ou fiadores.
Cargos e funções, todos podiam ser impostos por nomeação, por eleição ou por
pleito. Havia, porém, casos de isenção, por exemplo, por idade, por ser pai de cinco
ou mais filhos adultos etc.
Cônsules, procônsules, pretores, propretores, censores, questores, senadores,
juízes, todos incluídos sob a denominação geral de “magistrados”, na Monarquia
e na República, até o século V, eram cargos privativos de patrícios, enquanto as
funções, tais como supervisão de obras civis, gerenciamento de bens públicos, pres-
tação de transporte público, compra de víveres, supervisão dos aquedutos, eram
exercidas tanto por patrícios como por plebeus.
A temporaridade dos cargos e funções era uma característica da administração
pública romana, concebida, desde a queda da Monarquia, como forma de se evitar
a perpetuação no poder ou o surgimento de ditadores. No final da República, essa
rigidez era por vezes desrespeitada por sucessivas prorrogações de mandatos, que,
no Império, acabaram tornando alguns cargos e funções perpétuos.

Cautum (Livro L, T. XVI, 188)


Caução. É prevenir-se com relação a pessoa ou coisas.

412
Glossário Cavillatio

Cavillatio (Livro L, T. XVI, 177)


Sofisma. É partir de verdades evidentes e chegar por, brevíssimas alterações, a
conclusões evidentemente falsas.
Censere (Livro L, T. XVI, 111)
Decretar. Significa estabelecer, determinar. O termo censor tem aí sua etimo-
logia.
Cedere diem (Livro L, T. XVI, 213)
O dia em que começa a contagem de prazo, em contraposição a venire diem, dia
em que se encerra o prazo.
Censor (Livro I, T. II, 2, § 17)
A função original do censor, do verbo censeo — avaliar, calcular —, era proce-
der e presidir à realização de censos e à avaliação de bens com vista à arrecadação
de impostos. Mais tarde, por força do étimo, passou a ser também zelador dos bons
costumes.
O cargo de censor foi instituído no início da República, no século VI a.C., para
aliviar o cônsul de suas múltiplas responsabilidades. Era eleito nos comitia centu-
riata (Glossário, sistema eleitoral), sob a presidência de um cônsul. Cargo inicial-
mente privativo dos patrícios, pouco depois passou a ser eventualmente exercido
por plebeus portadores do título de cidadão romano. Eram eleitos sempre em dupla
e com mandatos de cinco anos. Na escala hierárquica, o cargo, por sua importância,
credenciava seu titular a pleitear o consulado, pois suas funções foram-se amplian-
do e conquistando maior espaço político ao longo do tempo. Além das funções
originais, o censor era responsável pelo registro dos cidadãos jovens e adultos; pela
avaliação de bens, com vista à taxação; pela convocação para o serviço militar; pela
cassação de direitos de exercer funções públicas, inclusive o direito de votar e ser
votado; pela expulsão de membros da ordem equestre por crimes ou atos imorais.
Dessas funções, a mais importante lhe foi conferida no século III, a de proceder à
seleção dos candidatos ao Senado.
O censor, como responsável pela salvaguarda dos bons costumes (regimen
morum), declarava infamis o sujeito de sua punição, situação cujas consequências
podiam estender-se por gerações, e instituto jurídico até há pouco tempo ainda
incorporado a códigos penais.
A última eleição de censor ocorreu no ano 22. Na ditadura de Sila e no mandato
de Augusto, o cargo foi extinto, embora os imperadores seguintes tenham assumi-
do a função in perpetuum.
Vale observar que a censura romana, até Augusto ter instituído a lex maiestatis
(a lei de lesa-majestade), alcançava exclusivamente atos e comportamentos, nunca
ideias ou opiniões.

413
Ceteri Glossário

Ceteri (Livro L, T. XVI, 160)


Os demais. Como reliqui, significa “todos”.
Civitas (Lei das XII Tábuas, Tab. I; Livro I, T. II, 2, § 1)
O termo civitas, do qual, nas línguas românicas, resultou cidade, ciudad, cité,
città, no direito romano, não tem a acepção toponímica que hoje lhe conferimos.
Civitas, para os romanos, era a coletividade dos cives, isto é, de cidadãos organiza-
dos em sociedade sob a égide de leis, normas e costumes. É o que hoje chamamos
de Estado. É nesse sentido que Santo Agostinho, no século V, contrapõe a Cidade
de Deus à Cidade dos Homens.
Clam (Livro L, T. XVI, 73, § 2)
Às escondidas. O que é discutível ou que haverá de sê-lo.
Cognoscere (Livro L, T. XVI, 56)
Conhecer. Conhecer, reler e analisar autos.
Colégio dos Pontífices (Livro I, T. II, 2, § 6)
Desde os primórdios, para os romanos, o ius publicum, o direito público, con-
sistia “in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus” (T. I, 1, § 2), isto é, “nas coisas
sagradas, nos sacerdotes, nos magistrados”.
No âmbito desse poder in sacris, in sacerdotibus, estava, desde a Monarquia, o
chamado collegium pontificum (colégio ou conselho dos pontífices), cuja função
era aplicar o ius divinum (o direito divino), parte do direito civil que regulava a
relação da civitas com a divindade. Na realidade, esse colégio tinha a função de
assessorar o rei em assuntos religiosos.
Sua composição inicialmente era de três membros, tendo chegado a 15 no final
da República. O cargo era vitalício e de nomeação, com exceção do pontifex ma-
ximus (o pontífice máximo), presidente do Colégio, que, depois da Guerra Púni-
ca, no final do século II, passou a ser elegível. Era cargo de singular importância,
em razão de suas atribuições, que implicavam profunda e constante interação com
toda a sociedade romana. Augusto, depois da morte de Lépido, o último pontifex
maximus (12 a.C.), incorporou o título às funções imperiais.
O Colegium Pontificum tinha as seguintes atribuições: regular as cerimônias
expiatórias nas ocasiões de peste e calamidade; consagrar templos, lugares e objetos
dedicados aos deuses pelo Estado; regulamentar o calendário tanto astronômico
como administrativo; cuidar da observância das leis referentes a funerais, ao culto e
supervisionar os casamentos por confarreatio, cerimônia antiquíssima de casamen-
to, exclusiva para patrícios, que envolvia o oferecimento de um pão na presença do
pontifex maximus.

414
Glossário Collega

Collega (Livro L, T. XVI)


Colega, companheiro, pessoa com os mesmos poderes e condições (173); três
fazem colégio, associação (85).
Commendare (Livro L, T. XVI, 186)
Confiar, entregar. É o mesmo que depositar.
Conditionales (Livro L, T. XVI, 54)
Condicionais. São credores a quem ainda não compete a ação, mas a quem
competirá.
Conjunctio (Livro L, T. XVI, 142)
Conjunção, associação. Pode ser per se, de facto e verbalmente e só verbalmente.
Consilium, Concilium, Concio (Livro I)
Estes termos latinos apresentam certa sinonímia, embora suas acepções te-
nham, cada uma, sentido específico. Como são usados com muita frequência na
prosa e em diversos gêneros literários, convém atentar para sua precisa significação.
Consilium: conselho, parecer, plano, projeto, deliberação, resolução. Por meto-
nímia, pode também significar assembleia, comissão que emite parecer, faz plano,
delibera etc.
Concilium: reunião, assembleia, grupo de pessoas.
Concio: assembleia convocada por autoridade competente, na qual oradores se
revezavam na defesa ou proposição de objetivos. Também, por metonímia, signifi-
ca “tribuna”, “cátedra”, de onde se discursava.
Cônsul (Livro I, T. X)
O cargo de cônsul aparece após a abolição da Monarquia, em 509 a.C. O Sena-
do, criado pelo próprio Rômulo e constituído de experientes cidadãos tanto pelo
saber como pelos anos (senes, idosos), fora inicialmente uma assessoria colegiada
do rei, poder executivo, detentor da soberania, imperium (Glossário, imperium e
potestas). Na República, o cônsul era o poder executivo, espécie de primeiro-mi-
nistro. À diferença do poder monárquico, seu mandato era de apenas um ano (para
não se apegar ao poder) e era eleito sempre em dupla, com iguais poderes, isto é,
não se tratava de um titular e outro, vice ou suplente, os dois tinham poderes iguais
e, por isso, um podia tornar sem efeito a decisão do outro. Esse processo assegurava
a uniformidade das medidas e lhes conferia mais vigor.
A figura do cônsul não surgiu imediatamente após a queda da Monarquia. An-
tes, o poder esteve nas mãos de um praetor, líder (Glossário, pretor), e de iudices,
juízes. O título de cônsul incorporou esses dois poderes, exercidos, porém, sob a
supervisão do Senado.

415
Cônsul Glossário

O nome consul veio de consulo, deliberar, decidir. O prefixo con-, nos verbos
latinos, implica ação conjunta. Como eram eleitos sempre em dupla, consules im-
plicava a ideia de parceria.
Por se tratar de mandatos anuais, o preenchimento do cargo se fazia mediante
eleições, cujo processo sofreu, ao longo dos séculos, muitas variações. Fundamen-
talmente as eleições romanas, até o Império, se faziam por voto direto, aclamação
ou contagem dos votos por colégios eleitorais.
Até o século V a.C., o cônsul era eleito entre os patrícios. A partir do século
IV, com a ascensão social dos plebeus (Glossário, patricii, populus, plebs), dos dois
cônsules, um tinha de ser da plebe. No ano 172 a.C., tal era a força da plebe, que
foram eleitos dois plebeus para o consulado.
Havia, porém, algumas condições para se pretender o consulado. A primeira
era ter sido pretor por, no mínimo, dois anos. A reeleição só era admitida após dez
anos de intervalo entre dois mandatos.
No século I a.C., uma lei casuística, chamada Lex Pompeia de Iure Magistra-
tuum (Lei Pompeia sobre o Direito dos Magistrados), impedia a eleição de candida-
to ausente de Roma. O objetivo da lei era vetar a candidatura de Júlio César, então
na Gália. A medida deu origem à chamada guerra civil, que poria fim à democracia
romana com a inauguração do império por Augusto.
O período do mandato era rigorosamente respeitado. Se um dos cônsules mor-
ria, fazia-se nova eleição para substituir o falecido. Se morressem os dois, o Senado
nomearia um interrex para completar o mandato. Durante o Império, à morte de
um imperador, o cônsul (o segundo, porque o próprio imperador já era o primeiro
vitaliciamente) assumia plenos poderes até a posse do imperador seguinte.
No período republicano, o cônsul era o que se chamaria hoje, no regime par-
lamentar, o chefe do governo, ficando a função legislativa a cargo do Senado e dos
comitia ou conciones, inclusive a declaração de guerra.
Nas províncias ou territórios anexados ao Império, havia a figura dos procôn-
sules (que faziam as vezes de cônsul), nomeados antigamente pelo Senado e poste-
riormente pelos imperadores, para exercer as mesmas funções de cônsul de Roma
no território que lhes era atribuído.
Em 541 da era cristã, portanto cem anos após a queda do Império Romano
do Ocidente, foi eleito o último cônsul no Império, então bizantino. Nos tempos
modernos, o saudosismo europeu da estrutura hierárquica do Império Romano
ressuscitou a figura do cônsul na pessoa de Napoleão Bonaparte.
Contractus (Livro L, T. XVI, 219)
Contrato. Atente-se mais para a vontade dos contratantes do que para seus ter-
mos.
Contraxerumt, gesserunt (Livro L, T. XVI, 20)
Contraíram, fizeram. São termos que não constam do direito de testar.

416
Glossário Contubernalis

Contubernalis (Livro L, T. XVI, 184)


Pessoas que vivem sob o mesmo teto. Vem de tabernaculum (átrio, tenda).
Coorte (Livro I, T. XV, 3)
Cohors significa área delimitada, pátio, quintal, cercado; por metonímia, seu
conteúdo, capacidade, isto é, determinado número de pessoas ou soldados que a
área podia comportar. Na acepção militar, uma coorte correspondia ao que hoje
chamamos de batalhão de infantaria. Dividia-se em três manípulos ou companhias,
cada uma composta de duas centúrias (unidades de cem soldados), que formavam
pelotões.
Uma coorte representava uma décima parte da legião. Na República, como
uma legião tinha 4.200 soldados, uma coorte tinha 420. No Império, porém, uma
legião contava, como originalmente na Monarquia, 6 mil soldados, e a coorte, por
conseguinte, 600 homens.
As brigadas de guardas noturnos (Glossário, prefeitos) e a guarda pretoriana
tinham a composição de uma coorte.
Coram Titio (Livro L, T. XVI, 209)
Diante de Tício. Receber missão para fazer algo na presença de alguém capaz e
que tem consciência do que é feito.
Creditor (Livro L, T. XVI)
Credor. É pessoa a quem se deve por força de ato juridicamente válido (10); não
importa a natureza do que é devido (11) nem a causa da dívida (12); é quem não
pode ser afastado por isenção perpétua; quem pode temporariamente é semelhante
ao credor condicional (55).
Cui rei dolus malus aberit, abfuerit (Livro L, T. XVI, 69)
No que não haverá nem terá havido má-fé. Compreende toda espécie de dolo.
Custodia (Livro L, T. XVI, 224)
Guarda. Função exclusivamente pública.
Dare (Livro L, T. XVI, 76)
Dar. Significa também permutar, compensar.
Debitor (Livro L, T. XVI, 108)
Devedor. Aquele de quem se pode exigir que pague o que deve.
Decênviros (Livro I, T. II, 2, § 4)
Proclamada a República, os romanos viveram, na primeira parte do século VI
a.C., período de instabilidade política, tendo em vista a falta de leis. Na época an-
terior, dos reis, a lei era a vontade do monarca. Em 452, por pressão da plebe, o
segmento mais desprotegido da população romana (Glossário, patricii, populus,

417
Decênviros Glossário

plebs), foi criada uma comissão constituída de dez varões (viri) da classe dos patrí-
cios, para redigir leis que regulamentassem os costumes da sociedade romana. Essa
comissão, por ser constituída de dez varões, foi chamada de decênviros. Eleita por
um ano, teve o mandato prorrogado por mais um, quando completou o que passou
a ser designado como Lei das XII Tábuas (Glossário, Lei das XII Tábuas).
Esse costume de designar comissões para tratar de assuntos específicos era
rotineiro na administração pública de Roma. Em geral, eram presididas por um
pretor e enunciadas pelo número de seus componentes seguido do objeto de sua
instituição. Por exemplo, decemviri litibus iudicandis, comissão de dez magistra-
dos responsáveis pelo julgamento de determinadas questões; decemviri agris dandis
adsignandis, comissão de dez varões responsáveis pela distribuição de terras doa-
das pelo Estado, em geral composta de cinco membros patrícios e cinco membros
plebeus. Houve comissões de diversas composições e número de membros, como
os duumviri, triumviri, quinquiviri, vigintiviri, isto é, comissões de dois, três, cinco,
vinte membros e até um colegiado de magistrados composto de vigintisexviri, vinte
e seis membros.
Decurião (Livro L, ...)
Os romanos adotavam, na governança política e administrativa dos territórios
conquistados, a mesma estrutura organizacional de Roma, mas preservando como
própria e exclusiva sua nomenclatura. Em se tratando de províncias, o máximo
que se permitia era o título de procônsul, que não era cônsul, mas estava no lugar
do cônsul, fazia as vezes de cônsul. Nesses casos, o titular era sempre um romano.
Com relação às cidades, conforme seu porte e/ou sua importância, as que não
gozavam de autonomia eram governadas diretamente por prepostos romanos, cha-
mados praefectus; as autônomas, pelos chamados duúmviros, que faziam as vezes
dos dois cônsules anualmente eleitos para o governo de Roma. No lugar do Senado,
instituíam-se os conselhos municipais, compostos por até 100 membros, cujos dez
primeiros eram chamados decemprimi, daí o decemprimato, cujo chefe ou líder era
o decurião, título que posteriormente estendeu-se a todos os membros do conselho.
Ter vinte e cinco anos completos, ser abastado, ter bom conceito público e des-
tacada situação social eram os principais requisitos para alguém pretender o decu-
rionato. O cargo incluía-se entre os honoríficos, isto é, não era remunerado, pelo
contrário, implicava obrigações e deveres onerosos do ponto de vista financeiro.
No baixo Império, tendo em vista as sucessivas crises econômicas, era cargo evi-
tado e, por isso, passou a ser imposto segundo determinada ordem de sucessão,
embora, em algumas partes do Império, o cargo tenha-se tornado hereditário.
O poder dos decuriões, em suas respectivas municipalidades, era tão amplo
como o dos senadores romanos em Roma. Decidiam sobre assuntos administra-
tivos, orçamentários, investigatórios etc. (Ver Glossário, Administração Pública
Romana).

418
Glossário Decurião

No meio militar, havia também a figura do decurião, oficial responsável por


uma decúria ou esquadrão de cavalaria.
Decuriones (Livro L, T. XVI, 239, § 5)
Decuriões. São integrantes da décima parte de cidadãos num conselho público
provincial.
Delata hereditas (Livro L, T. XVI, 151)
Herança deferida. É a herança que pode ser recebida adindo-a.
Derrogatur (Livro L, T. XVI, 102)
Derroga-se. A lei quando é suprimida parcialmente.
Detestatum (Livro L, T. XVI)
Notificação com testemunhas. Equivale a denúncia com prova (238); detestatio
(denúncia) com prova (40).
Detestari (Livro L, T. XVI, 39, § 2)
Denunciar. Quem está ausente.
Dies (Livro L, T. XVI)
Dia: a maior parte são as sete primeiras horas (2, § 1); como unidade de com-
putação, o que sobra, em termos fracionários, do que é computado, conta-se como
dia integral (3).
Dimissoriae litterae (Livro L, T. XVI, 106)
Carta dimissória. São documentos enviadas ao tribunal para o qual se apelou.
Direito Romano (Livro )
O entendimento de ius entre os romanos, a julgar pela definição de Celso ex-
pressa no início do Digesto — ars boni et aequi, a arte do bom e do justo —, tem
mais a ver com aplicação do que com conceito abstrato, portanto, mais consentânea
com o espírito pragmatista dos romanos. Daí a dificuldade às vezes de se distinguir
ius, direito, de lex, lei, já que a lei não só expressa, mas também cria direitos.
O próprio termo ars, ao ser traduzido por “arte”, em português, já constitui um
equívoco. “Arte” tem direta conotação com o belo em sua acepção moderna. Mas,
primitivamente, ars, como a tekné grega, significava ofício ou técnica de produzir,
profissões que hoje chamamos de artesanais, como carpinteiro, marceneiro e, na-
queles tempos, até artistas plásticos.
Nessa concepção, a definição de ius implicaria técnica de aplicar o que é bom e
justo, em vez de concepção teorético-especulativa.
A própria divisão teórica do direito — ius naturale (direito natural), ius gentium
(direito das gentes), e ius civile (direito civil) — tinha também objetivo pragmático
relativo ao fundamento e eficácia das normas e costumes sociais: o direito natural,

419
Direito Romano Glossário

comum a homens e animais, é o direito não escrito, que dispensa leis, porque já de-
tectável e evidente na observação do comportamento invariável da natureza. Assim,
a conjunção do macho e da fêmea, que entre os animais chama-se coito e entre os
homens matrimônio, é fundamentalmente o mesmo comportamento determinado
pela natureza.
O chamado ius gentium são normas comuns a todos os homens e por eles esta-
belecidas, que obrigam tanto romanos como não romanos. O próprio termo gens,
na acepção primitiva, significava “estrangeiro”, de outra raça ou nação não romana.
Até a Idade Média, servia para designar as nações que não eram nem judias nem
cristãs.
A criação do chamado direito civil tem como objetivo estabelecer certo equilí-
brio entre o direito natural e o direito das gentes. Chama-se civilis porque atinente
ao homem organizado em sociedade, isto é, em civitas. Pelo direito natural, todo
homem nasce livre (T. I, 4), mas o direito das gentes instituiu a servidão, a guerra,
os reinos etc. Como conciliar? Essa é a tarefa do direito civil, que regula e equilibra
os contrários, sendo “um direito que nem se afasta inteiramente do direito natural
nem do direito das gentes, mas também não se conforma em tudo com nenhum
deles” (T. I, 6). No artigo seguinte, são citados os instrumentos comuns dos quais
emana o direito civil: leis, plebiscitos, decretos do Senado, decisões do soberano e
da autoridade dos jurisconsultos.
É o direito civil que concilia a liberdade natural do homem com a servidão, es-
tabelecendo quando e como um homem pode perder ou reconquistar sua condição
primitiva de nascença (Glossário, leges).
Dispungere (Livro L, T. XVI, 56)
Contrapesar. Equilibrar os dados recebidos.
Ditador (Livro I, T. II, 2, § 18)
O título de dictator (ditador) só assume, entre os romanos, o conceito atual de
tomada arbitrária do poder soberano na chamada ditadura de Sila, iniciada no ano
82 a.C., e no segundo consulado de César. Até então, a figura do ditador era legí-
tima, por assim dizer, constitucional. O estado de ditadura corresponderia ao que
hoje chamamos de estado de sítio ou estado de emergência.
Esse estado ocorria nos casos de guerra com vizinhos, sedição, revolta popular,
insurgência. O ditador, em geral militar, depois de escolhido e nomeado pelo Sena-
do e pelo cônsul, que mantinham integralmente suas funções, tinha sua nomeação
homologada pelos comitia curiata (Glossário, sistema eleitoral). Ao ditador eram
concedidos poderes extraordinários para gerir e resolver situações especiais. Em
geral, contra suas decisões naquela área não havia provocatio, isto é, direito de ape-
lação. A duração de seu mandato era de seis meses.
Depois das guerras púnicas (de 264 a 146 a.C.), a figura do ditador teria se
tornado obsoleta. Só ressurgiu em Sila, no ano 82 a.C., e em César. Sila, aristocrata,

420
Glossário Ditador

do partido do Senado, revestiu-se de poderes absolutos, que exerceu com extrema


violência, recorrendo até ao terror contra seus adversários do chamado partido
popular. César, ao contrário, embora irredutível em sua oposição aos privilégios e à
hegemonia política do Senado, ficou conhecido por sua magnanimidade e pelo uso
do poder para favorecer as classes sociais mais carentes. Instado repetidas vezes a
se tornar rei, repelia as propostas com declaração aparentemente despretensiosa e
modesta, mas no fundo reveladora de seu desejo de identificar o poder com o seu
próprio nome: “Rex non sum, sed Caesar!”, isto é, “Não sou rei, mas César!”.
Divortium (Livro L, T. XVI)
Divórcio. Tomar rumos diversos. Não se aplica a matrimônio não realizado, em
cujo caso se diz repudium (repúdio) (191; 101, § 1).
Dois Irmãos (Livro I, T. VIII, 6, § 1; XVIII, 13, § 1)
Refere-se aos dois irmãos imperadores, Honório, do Ocidente, e Arcádio, do
Oriente, ambos filhos do imperador Teodósio, falecido em 395. Convém esclarecer
que, na concepção romana do Império, não se tratava de dois impérios distintos,
um no Ocidente e outro no Oriente. O Império era uno; sua divisibilidade restrin-
gia-se a conveniências administrativas, e não políticas, entre outras, a descentrali-
zação do poder, tendo em vista sua extensão geográfica. Esse espírito de unidade
política transparece nos documentos oficiais, em que os dois titulares, tanto em
requerimentos como em decisões, eram tratados e se tratavam no plural. Foi assim
que os pronomes “nós” e “vós”, que, no latim, só se usavam para interlocutores
plurais, passaram a ser usados no tratamento singular, dando origem, nas línguas
românicas, à figura gramatical do plural majestático ou de modéstia.
Donatio (Livro L, T. XVI, 67, § 1)
Doação. Tem razões diversas, como, por exemplo, morte.
Donum (Livro L, T. XVI, 194)
Presente, dom. É gênero, enquanto munus é espécie, isto é, munus é presente
com causa (aniversário natalício, núpcias), donum é espontâneo.
Dos (Livro L, T. XVI, 240)
Dote: dissolvido o matrimônio ou em caso de morte, é devolvido.
Ea res recte restituere (Livro L, T. XVI, 73)
O bem deve ser devidamente restituído. “Devidamente” pressupõe arbítrio de
pessoa honesta.
Edil (Livro I, T. II, 2, § 21 e 26)
Segundo o Digesto, a figura do edil surgiu quando a plebe, após conquistar
certa autonomia diante do Senado e dos cônsules e de se organizar para fazer valer

421
Edil Glossário

seus direitos, precisou de funcionários administrativos para cuidar de seu edifício-


-sede (aedes, daí aedilis) e administrar suas finanças.
Segundo estudiosos da história de Roma, a função é mais antiga e tira seu nome
também de aedes, mas, nesse caso, no sentido de templo, mais especificamente o
templo de Ceres. Os edis seriam responsáveis pelo culto e administração do templo
da deusa.
O Digesto provavelmente se ateve à origem da função quando ela teria alcança-
do mais importância e amplitude na República. Na Monarquia, o edil certamente
era nomeado pelos reis, mas agora é a assembleia de plebeus que elege dois edis, em
contraposição aos dois cônsules. Mais tarde o Senado reage com a criação de edis
curruis com os costumeiros privilégios aristocráticos. A plebe protesta e esses edis
curuis passam a ser também eleitos entre a plebe, de modo que, durante longo tem-
po, edis curuis patrícios e edis curuis plebeus se alternaram no poder. Essa vitória
plebeia viabilizou o acesso de plebeus à própria dignidade consular.
As funções dos edis foram-se ampliando no decorrer da história romana e ga-
nhando maior espaço político. Os edis eram responsáveis pela inspeção e conserva-
ção de obras públicas, como edifícios, ruas, aquedutos, tráfego; pela ordem pública
e prevenção de incêndios; pela política de abastecimento, fiscalização de pesos e
medidas e distribuição de víveres. Para essa última função, César criou dois edis
curuis, por isso chamados aediles cereales, de Ceres, deusa das searas.
No Império, muitas dessas funções foram sendo transferidas para os pretores
e, como cargo público eletivo, teria sido extinto pelo imperador Alexandre Severo
(228-235 d.C.).

Edito (Livro I, T. II, 2, § 10)


Edictum, do verbo edo, produzir, gerar, proclamar, era um instrumento de que
se serviam os magistrados romanos para tornar públicas suas decisões ou estabe-
lecer diretrizes. Desses editos, os mais comuns eram os dos pretores, que, ao assu-
mirem o mandato de um ano, proclamavam os princípios pelos quais se pautariam
no exercício de seu mandato. Foram esses editos que deram origem ao chamado ius
honorarium ou ius praetorianum, porque originário dos pretores.
Muitos desses editos se tornaram perpétuos (edicta perpetua), embora ordinaria-
mente sua vigência se encerrasse com o fim do mandato do pretor que o promulgara.
Acontecia, porém, que muitos deles traziam inovações proveitosas, que acabaram se
incorporando ao direito civil, tornando-se perpétuos. Os editos comuns eram cha-
mados edicta repentina, isto é, editos eventuais. Foi um jurisconsulto, Salvio Juliano,
que, no governo de Adriano (117-138), organizou e sistematizou esses editos, dando-
-lhes o título de Edito Perpétuo, preparando, assim, sua fusão com o direito civil.
Os magistrados, porém, mantiveram o ius edicendi, isto é, o direito de baixar
editos, desde que os artigos desses editos não contrariassem a lei maior. Nenhuma

422
Glossário Edito

inovação, pars nova, podia ser introduzida sem aprovação do príncipe ou do Se-
nado.
Esse sistema de promulgação de leis por iniciativa do governante, sob o título
de editos, estendeu-se pela Idade Média até os tempos modernos, dos quais ex-
pressivo exemplo é o célebre Edito de Nantes (1598), do imperador Henrique IV,
concedendo liberdade de culto aos protestantes.
Erit (Livro L, T. XVI, 123)
Será. Pode ter sentido de “presente”, por exemplo, quando se diz “o que (erit) es-
tiver escrito nos codicilos”. Da mesma forma est (é) pode ter sentido passado: “Lu-
cius Titius solutus est ab bligatione”: Lúcio Tício está (ou foi) liberado da obrigação.
Escravidão (Livro I, T. I, 4; V, 4, §§ 1-3)
O termo latino servus equivale precisamente a “escravo” na linguagem moder-
na. Segundo o Digesto, servus viria de servare (guardar, poupar, conservar), para
se referir a prisioneiros de guerra que, em princípio, deviam ser mortos, mas que
os generais romanos “poupavam” (servabant) para vendê-los. Há filólogos, porém,
para quem servus viria do verbo sero, latim, que significa atar, enlaçar, daí servus,
que é atado, enlaçado.
Segundo o direito romano, a escravidão é criação de leis humanas (ius gentium,
direito das gentes), pois, segundo o direito natural, todo homem nasce livre (T. I, 4).
Portanto, à modalidade de converter seres livres em escravos, por exemplo, como
punição do vencido pelo vencedor, outras modalidades foram-se somando na ci-
vilização dos romanos: a) servi poena, escravos por condenação a trabalho forçado
em obras públicas e principalmente em minas; b) patria potestas, isto é, o poder
absoluto do genitor sobre a prole: os pais podiam vender seus filhos como escravos;
c) pro debito, caso em que o credor tornava o devedor inadimplente seu escravo ou
o vendia como tal e d) o próprio cidadão livre se vendia como escravo ou admitia
fazer parte de uma transação comercial na condição de escravo.
Os escravos eram divididos em duas classes: familia rustica e familia urbana,
isto é, escravos rurais e escravos urbanos, com a consequente diferenciação de ser-
viços e condições de trabalho. Havia também os chamados servus publicus e servus
privatus, conforme fossem propriedade do Estado ou de particulares. O servus pu-
blicus era utilizado não só em obras públicas como também em serviços burocráti-
cos ou servis de órgãos do Estado, templos, logradouros públicos etc. A legislação
era a mesma para os servus publicus e para os servus privatus.
O estatuto da escravidão ainda vigia no tempo do imperador Justiniano, em-
bora menos generalizada e um pouco mais humana, graças a leis mitigadoras, que
se vinham sucedendo desde o século II d.C. À abolição da mutilação de meninos
e jovens, da separação de membros de uma família escrava nas transações comer-
ciais, da exposição de filhos à venda, das prisões subterrâneas (columbaria), da
destinação de escravos a lutadores contra feras Justiniano acrescentou o casamento

423
Escravidão Glossário

de escravos (antes só havia o concubinato, contubernium), a alforria diante de au-


toridades religiosas, a manumissão automática de quem era admitido às ordens
sacras ou se fizesse monge e a plena cidadania do alforriado ou liberto (Glossário,
liberto).
Ex legibus (Livro L, T. XVI, 6, § 1)
Das leis. Há de se entender tanto a letra como o espírito.
Exactae pecuniae (Livro L, T. XVI, 187)
Valor recebido. Não diz respeito só a pagamento, mas também a delegação.
Exército Romano (Livro L, ...)
O exército romano foi uma instituição que nasceu com a própria Roma, ini-
cialmente da necessidade de defesa contra uma vizinhança hostil e da índole ex-
pansionista de seus habitantes, tornando-se, no decorrer dos séculos, uma das mais
sólidas e eficientes organizações militares que o mundo conheceu.
Os romanos aprenderam desde cedo que a força de um exército não estava no
número de seus homens, mas na sua estruturação, flexibilização e na qualidade e
aprimoramento profissional de seus componentes. Começava pela distinção entre
os próprios soldados: havia o miles e o veles. O miles era o soldado recrutado entre
as classes mais abastadas, que tinha condições de, por conta própria, aparelhar-
-se com dispendiosos equipamentos militares. Muitos, principalmente plebeus, se
apresentavam voluntariamente, em busca especialmente de oportunidades de su-
bir na escala social. O veles era o soldado raso da infantaria ligeira, os chamados
caçadores na nomenclatura militar moderna. Eram os capite censi, isto é, contados
apenas como mais um pelo censo.
A unidade básica do exército romano eram as legiões, que tinham de cinco a
seis mil homens sob o comando de um legatus, em geral da classe senatorial. Abai-
xo da legião, vinham as coortes, formadas por 500 a 600 homens; as turmas, de
30 equites (cavaleiros), sob o comando de um centurião; os manipuli (manípulos),
formação articulada e flexível de 120 homens. Os tribunos militares, eleitos pelos
próprios militares, eram oriundos de determinada tribo que compunha a popu-
lação de Roma, daí seu nome. Tinham poderes de comando e de moderação da
autoridade quase absoluta do legatus.
Embora o exército romano não tivesse uma arma de engenharia nos moldes
dos exércitos modernos, fazia uso das habilidades técnicas de seus recrutados para
a execução de obras de arte, a fim de viabilizar ou facilitar as ações militares ou para
dotar os territórios ocupados de benefícios de interesse público, como estradas,
aquedutos, teatros, pontes, estádios, termas, muitos deles ainda utilizados nos dias
atuais.

424
Glossário Exhibet

Exhibet (Livro L, T. XVI, 246)


Apresenta. Apresenta quem faz presente a coisa de que se trata. Quem, portan-
to, apresenta-se em nome da pessoa de que se trata não a faz presente.
Faber tignarius (Livro L, T. XVI, 235, § 1)
Carpinteiro. Não só quem lavra a madeira, mas todo trabalhador em constru-
ção.
Facere oportet (Livro L, T. XVI)
Convir fazer. Significa também abster-se de fazer o que contraria o acordado e
cuidar que não seja feita (189; 218).
Familia (Livro L, T. XVI)
Tem várias acepções: com relação a coisas, é instituição; a pessoas, quando
se refere a questões de patrono e liberto; significa muitas pessoas sob o poder de
um só; o pai de família (paterfamilias) é o que detém o poder na família; significa
também conjunto de escravos sob um senhor; significa ainda conjunto de pessoas
unidas por sucessão pelo sangue (195); por família atende-se também o chefe de
família; filhos por via feminina não pertencem à família da mãe, mas à do pai (196);
(família) compreende também filhos (40, § 2); (família urbana ou rural) o que as
distingue é sua natureza, não o local (166).
Fasces (Livro I, T. XVI, 14)
Provavelmente de origem etrusca, os fasces — ou feixes — eram símbolos do
imperium (Glossário, imperium e potestas), de uso exclusivo dos reis. Consistia de
um feixe de varetas de olmo ou bétula de cuja ponta superior sobressaía a cabeça de
um machado. Na República, manteve seu simbolismo de soberania, indicando, por
sua quantidade, a posição hierárquica de seu detentor: os cônsules tinham direito
a 12 fasces conduzidos por litores; os pretores, 6; os legados, 5; os sacerdotes e ves-
tais, embora não tivessem jurisdição penal, tinham direito a um feixe. Os ditadores
(Glossário, ditador) e, mais tarde, os imperadores, tinham direito a 12.
A força do simbolismo romano do poder, expresso em insígnias, estandartes
e feixes, é bem retratada pelo próprio César, que fala da hostilidade com que foi
recebido em Alexandria, porque ele, César, “se fazia proceder de feixes consulares”,
entendendo-se “que com essa atitude aviltava a majestade real”, isto é, do rei Pto-
molomeu filho (Caio Júlio César, Bellum Civile, Livro III, 106, 5).
No século passado, o movimento político-ideológico implantado por Mussoli-
ni na Itália tinha como símbolo os antigos fasces romanos, donde seu denominativo
de fascismo. O duce italiano foi recebido triunfalmente em Berlim, em 1937, com
honras dignas de um imperador romano, ao desfilar entre alas de bustos dos anti-
gos imperadores e por uma aleia, que se estendia da Porta de Brandemburgo até os

425
Fasces Glossário

bairros oeste, enfeitada de cortinados, estandartes, guirlandas e feixes dos lictores


(Joaquim Fest, Hitler, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981, 4ª ed., p. 597).
Feira (Lei das XII Tábuas, Tab. III; Livro L, T. XI)
Os romanos cultivavam a tradição de feiras novenais, que realizavam na praça
ou foro, ou em locais próximos no centro da cidade, às quais acorriam os produto-
res rurais, que ofereciam seus produtos diretamente ao consumidor, sem necessi-
dade de intermediários. Devido à periodicidade do evento e ao fato de se realizar
na praça ou foro, ou em suas proximidades, eram adotadas como datas de prazos
comerciais e legais desde a Lei das XII Tábuas.
Ferri (Livro L, T. XVI, 235)
Ser levado. Significa aquilo que se traz sobre o corpo, à diferença de portare
(transportar), isto é, o que é levado consigo, mas sobre um animal, e agi (ser con-
duzido), tratando-se do próprio animal.
Filiação (Livro L, T. I, 1, § 2)
Os romanos classificavam como legítimo (iustus) o filho nascido de pai legal,
e natural, o nascido de união ilegítima ou quaesitus, isto é, de paternidade desco-
nhecida, filho cuja paternidade deve ser buscada (quaesita) no meio do povo, em
outras palavras, "filho do povo".
Filiae (Livro L, T. XVI, 164)
Filhas. Inclui também a póstuma, embora esta não possa ser contada com as
que vivem.
Filius (Livro L, T. XVI)
Filho. Refere-se aos dois gêneros ou só ao masculino; é mais uma questão de
fato, não de direito (122); considera-se ter filhos quem tem um só (148-149); inclui
também netos, do mesmo modo que pater inclui avô (201).
Fraus (Livro L, T. XVI, 131)
Fraude. Pode haver sem pena, mas é o próprio dano e disposição para a pena.
Frux (Livro L, T. XVI, 77)
Produto da terra. Tudo que se apura da natureza, T. XVI, 77.
Fugitivus (Livro L, T. XVI, 225)
Fugitivo. Não é quem se vangloria ou tem intenção de sê-lo, mas quem empre-
ende e inicia a fuga.
Fundus (Livro L, T. XVI)
Fundo, terreno. Tudo que é sustentado pelo solo (115); (fundo) abrange tanto
o edifício quanto o campo (211); (terreno): quem vende fica com os frutos (205).

426
Glossário Funus

Funus (Livro L, T. XVI, 202)


Funeral. Não se gaste menos do que foi determinado no testamento.

Fur (Livro L, T. XVI, 174)


Ladrão. Quem afirma não ser ladrão é como se dissesse que está livre de roubo;
quem diz estar isento de roubo fala de sua disposição de ânimo.

Generi (Livro L, T. XVI, 136)


Genros. Incluem-se também os maridos de netas ou bisnetas advindos tanto de
filhos como de filhas e os nascidos dos demais descendentes.

Gesta et facta (Livro L, T. XVI, § 8)


Realizado e feito. Embora sutil, a distinção não é fictícia.

Glans (Livro L, T. XVI)


Fruto. Todo fruto (236, § 1); glans caduca (frutos caídos) são frutos caídos das
árvores (30, § 4).

Governador (Livro I, T. XVIII)


Competia ao Senado definir a natureza administrativa das províncias, se consu-
lar ou pretória. Desde a criação do cargo de pretor, em 227 a.C., até Sila, 82 a.C., os
governadores de província eram da classe pretória. Depois disso, um pretor só podia
assumir o governo de uma província após o término de seu mandato e, nesse caso,
passava a ser denominado propraetor. Governadores da categoria consular só eram
designados para províncias de administração mais difícil ou problemática. Nesse
caso, o titular era chamado proconsul, pois a figura do consul era exclusiva de Roma.
O mandato do governador era de um ano, mas podia ser prorrogado. Nomea-
do, só tinha jurisdição a partir do momento em que pisava o chão do território que
lhe era atribuído.
Para lhe facilitar a tarefa e descentralizar o poder, o governador nomeava legati
(legados), com jurisdição delegada e limitada a certas questões.
O governador de província detinha o imperium (Glossário, imperium e potestas)
na área de sua jurisdição, reunindo em sua pessoa os poderes militar e civil. Assim,
era comandante de todas as tropas locais; podia criar impostos tanto para cidadãos
romanos como para os provincianos; fazer requisições e, na área penal, sentenciar à
morte, de cuja sentença só os cidadãos romanos tinham o direito de recorrer a César.
Na aplicação das leis civis, o pretor-governador tanto se pautava pelos costumes da
província como pelos princípios de editos perpétuos proclamados no início de seus
mandatos.

427
Habere Glossário

Habere (Livro L, T. XVI)


Ter. No sentido de conseguir, obter, pode ser entendido como posse efetiva
(164, § 2); pode entender-se em dois sentidos: por domínio e por compra (188); só
se pode reclamar o que se possui (143); equivale a posse efetiva (164, § 2).
Hereditas (Livro L, T. XVI)
Herança. Compreende também a negativa, pois é termo jurídico (119); com-
preende também posse de bens (138); delata, herança que pode ser recebida adin-
do-a (151); admite aumento e diminuição (178); § 1. Uma herança pode advir por
via testamentária (130); (herança) é a sucessão no direito universo (24); pode tocar
por testamento (130).
Heres (Livro L, T. XVI)
Herdeiro. Inclui todos os sucessores, mesmo se não expressamente dito, T. XVI,
170; herdeiro não é só o imediato, mas também os mais distantes, T. XVI, 65; pode
sê-lo por diversas formas de sucessão, T. XVI, 70.
Homo (Livro L, T. XVI, 152)
Homem. Inclui tanto o gênero masculino como o feminino.
Hostes (Livro L, T. XVI)
Inimigos. São aqueles contra os quais declara-se guerra (118); os antepassados
chamavam perduelles (inimigos figadais) (234).
Ille aut ille (Livro L, T. XVI, 124)
Esse ou aquele. É uma expressão disjuntiva e subdisjuntiva. É disjuntiva quan-
do um termo exclui o outro: ou é dia ou é noite; subdisjuntiva quando os dois
termos não subsistem ao mesmo tempo, mas pode haver um terceiro. Ex.: ou se
assenta ou anda, mas pode deitar-se.
Immissum (Livro L, T. XVI, 242, § 1)
Estendido. É o que se faz para apoiar em algum lugar (caibro, linha), ao contrá-
rio do proiectum (lançado para frente), sem se apoiar em algum lugar.
Impensae necessariae (Livro L, T. XVI, 79)
Gastos necessários. Gastos sem os quais o bem se deteriora.
Impensae utiles (Livro L, T. XVI, 79, § 1)
Gastos úteis. São os que melhoram.
Impensae voluptariae (Livro L, T. XVI, 79, § 2)
Gastos graciosos. São os que só embelezam.

428
Glossário Imperium e potestas

Imperium e potestas (Livro I, T. IV, 1)


Na literatura latina, principalmente na área jurídica, há de se atentar para o exa-
to sentido dos termos imperium e potestas, em geral traduzidos simplesmente como
sinônimos de “poder”. Imperium é o poder personificado em suas instituições, que
chamaríamos de poder soberano, isto é, não derivado. Na concepção romana, o
verdadeiro detentor do imperium era o povo romano (Glossário, patricii, populus,
plebs) e, desse povo, por decisões tomadas nos comitia, o imperium transferiu-se
inicialmente para os reis, depois para o Senado, para os cônsules e finalmente para
os imperadores a partir do final do século I a.C.
Potestas é o poder facultado, isto é, do qual se investem pessoas para o exercí-
cio de determinadas funções na civitas, ou seja, no Estado. Por essa investidura, as
pessoas eram habilitadas a tomar decisões, em geral, pautadas em leis promulgadas
ou no direito não escrito, isto é, tradições e costumes.
In diebus (Livro L, T. XVI, 217, § 1)
Em dias. Se nada for acrescentado, in diebus significa “dentro de dois dias”.
Incertus possessor (Livro L, T. XVI, 39, § 3)
Possuidor incerto. Aquele que desconhecemos.
Incola (Livro L, T. XVI, 239, § 2)
Habitante. Quem transferiu seu domicílio para alguma região.
Indicare (Livro L, T. XVI, 197)
Denunciar. O mesmo que deferre (entregar), arguere (delatar), accusare (acu-
sar) e convincere (oferecer prova).

Infâmia (Livro I, T. XII, 1, § 7)


Situação de ignomínia. No direito romano, espécie de prescrição de direitos,
mas sem perda da cidadania, por pena imposta por censor, cônsul ou pretor. Pelo
censor implicava medidas na esfera fiscal, do serviço militar ou de direito de voto;
pelo cônsul, que presidia a uma eleição, significava eliminação de alguém da lista
de candidatos por indignidade; e pelo pretor, privação do direito de pleitear algo
em seu tribunal. Nos editos, os pretores costumavam enumerar atos e situações que
implicavam a pena de infâmia.
No direito romano, alguém ser declarado infamis representava uma censura
pública por autoridade competente, pela qual ficava excluído do exercício de cargo
ou função pública. Essa figura jurídica manteve-se nos códigos penais de países
ocidentais, até da Inglaterra. No direito ibérico, permaneceu até os tempos mo-
dernos, como foi o caso de Tiradentes e de todos os seus descendentes diretos,
declarados infame pela lei portuguesa. No direito canônico, pelo menos até recen-

429
Infâmia Glossário

te reforma, infami portae non pateant dignitatum, “portas das dignidades não se
abram aos infames”.

Interdito (Livro I, T. XII, 1, § 6)


No direito romano, o interdictum era declaração ou sentença de um pretor com
relação a contendas entre particulares. Com esse interdito, o pretor ordenava ou
proibia que se fizesse algo. Em geral, o objeto desses interditos dizia respeito a pos-
se, como o interdictum bonorum possessor, que obrigava o detentor de um bem a
dar posse a quem não a tinha; ou bonorum emptor, que assegura a posse ao com-
prador, e outros, como os citados unde vi, que restitui a posse àquele que a perdera
pelo uso da força. Nos tempos modernos, leis, decretos etc. são identificados por
números e, no direito romano, essa identificação se fazia por nomes, por exemplo,
Lei Júlia, Lei Hortência. No caso dos interditos, seu nome era tirado dos primeiros
termos de seu texto, algo semelhante ao título de encíclicas papais, por exemplo,
o título da recente encíclica de Bento XVI — Sacramentum Caritatis — de “Sacra-
mentum caritatis, Sanctissima Eucharistia donum est Iesu Christi...” (“a Santíssima
Eucaristia, sacramento do amor, é a doação de Jesus Cristo [...]”). Por esse motivo,
há títulos de interditos de difícil tradução, porque simplesmente extraídos de um
contexto desconhecido.
Jurisconsulto (Livro I, T. II, 2, § 35 e ss)
No direito romano, é alguém versado na ciência do direito. Os primeiros juris-
consultos foram os pontífices, que guardavam em segredo fórmulas e normas para
a aplicação da justiça. No século III a.C., essas fórmulas foram divulgadas, e um
jurista chamado Coruncanius passou a dar consultas em público. Os jurisconsultos
não eram advogados, mas atendiam tanto a advogados como diretamente aos pró-
prios demandantes, o que hoje chamaríamos de consultoria.
O termo “prudentes” costuma ser traduzido literalmente como “prudentes”. De
fato, o termo pode ser assim traduzido no sentido de precatado, avisado etc., mas
significa também “peritos”, pessoas versadas em determinada área. É nesse sentido
que Cícero fala de prudentes in iure; Columbário, em prudens medicinae etc. A ex-
pressão “jurisconsulto” é a que melhor expressa a acepção de “prudentes”.
No Império, essa função tornou-se pública. Era o ius publice respondendi, isto
é, direito de emitir pareceres. No século IV da nossa era, os imperadores Teodósio
II e Valentiniano III decretaram que nos processos só podiam ser citados pareceres
de cinco jurisconsultos: Papinianus, Paulus, Ulpianus, Modestinus e Gaius. No caso
de divergência, vencia a maioria; no empate, prevalecia a opinião de Papiniano.
Justiniano consagrou oficialmente todos os jurisconsultos adotados pelo Digesto.
Instructa (Livro L, T. XVI, 185)
Provida. Entende-se, no caso de taberna instructa, loja com mercadorias e ven-
dedores.

430
Glossário Instrumenta

Instrumenta (Livro L, T. XVI, 99, § 2)


Autos. É difícil saber o que os constitui.
Integra (Livro L, T. XVI, 30, § 3)
Intacta. Terra cujo dono ainda não a utilizou para pasto.
Intestatus (Livro L, T. XVI, 64)
Intestado. Não é só quem não faz testamento, mas quem, em seu testamento,
não fala de herança.
Intra diem (Livro L, T. XVI, 133)
Dentro de um dia. O dia do qual se começa a contar o tempo é também com-
putado.
Lata culpa (Livro L, T. XVI, 223)
Ampla culpa. Não entender o que todos entendem.
Legado (Livro L, T. XVI, 80)
Tem, entre outras, função de alforriar.
Legatus (Livro I, T. XVI)
Do verbo lego, legare (enviar, mandar em missão), o legatus tem duas acepções
no direito romano: enviado especial, com uma determinada missão e adjunto de
um procônsul.
Como enviado especial, é o que hoje se chamaria ministro extraordinário, que,
em determinadas circunstâncias, um governo envia a outro com poderes limi-
tados à natureza da missão. O Senado romano e, mais tarde, os imperadores se
serviam muito desses enviados especiais.
A acepção mais comum, no entanto, era a de adjunto de um procônsul, do
qual recebia poder delegado para agir e proceder em seu nome, no território de
sua província. Tratava-se de cargos ordinários cujos titulares eram escolhidos pelo
procônsul nomeado antes mesmo de deixar Roma.
Os papas, mesmo onde a Santa Sé já mantém representante oficial — o chama-
do núncio apostólico —, costumam nomear legados para representá-los extraordi-
nariamente, em eventos especiais.
Leges (Livro I, T. III)
O Digesto, no Título III do Livro I, enumera as chamadas fontes do direito civil
romano, compendiadas sob o título comum de leges: leis, plebiscitos, decretos do
Senado, decisões do príncipe e autoridade dos jurisconsultos.
As chamadas leges regiae (leis reais) datam do tempo da Monarquia. Não se
trata de instrumentos formais, mas de decisões e sentenças monárquicas e de pre-
ceitos religiosos emitidos pela classe sacerdotal. Delas se tem notícia em fragmen-

431
Leges Glossário

tos literários ou em referências de historiadores e juristas. Esse regime teria durado


de 753 a.C., ano da fundação de Roma, a 509 a.C, quando se instalou a República.
Implantada a República, já que não havia reis para tomar decisões, a civitas
precisava estruturar-se sob a égide de leis. Pragmáticos, os romanos não quiseram
partir do nada, mas se apoiar na experiência de outros povos. A Grécia era o centro
cultural do mundo da época e foi para lá que os romanos enviaram uma comissão
constituída de dez eminentes cidadãos, os chamados decênviros, com a missão de
coletar, para depois aplicar ao contexto da civitas romana, as leis vigentes nas prin-
cipais cidades helênicas.
Dessa providência resultou a chamada Lex XII Tabularum, Lei das Doze Tábu-
as, conjunto de medidas legais que abrangiam os mais variados aspectos de direitos
e deveres do cidadão romano, com suas respectivas sanções. A tradução de tabula
em “tábua” remete à ideia de madeira. Na verdade, segundo o Digesto, trata-se de
marfim (T. II, 2, § 4). Seriam placas ou painéis de marfim afixados nos rostros
(Glossário, rostros), para que todos se inteirassem de seus termos.
Infelizmente, grande parte desse primitivo instrumento legal não se preservou,
embora Cícero, em De Legibus, a ele se refira como disciplina integrante do currí-
culo do ensino do direito em sua época. Essas leis teriam sido elaboradas e promul-
gadas entre 452-450 a.C.
O senatusconsultum era o instrumento resultante de matérias discutidas no Se-
nado (de consulo, deliberar). Essas decisões, se prescritivas, tinham força de lei.
Mas as leis propriamente ditas eram promulgadas pelos chamados comitia, isto é,
assembleias populares de diversas categorias. No início, eram os comitia curiata, as-
sembleia constituída por representantes das trinta curiae, administrações de bair-
ros da primitiva Roma, instituídas pelo próprio Rômulo. Seguiram-se os comitia
centuriata, por centúrias, e as tributa, por tribos, espécies de clãs em que se dividia
a população de Roma. As decisões dessas assembleias tinham força de lei, mas so-
mente depois de aprovadas pelo Senado.
O plebiscitum, decreto do povo (de scitum, decreto, decisão, e plebs, povo), pas-
sou por longa evolução em seus efeitos jurídicos, conforme se sucediam as conquis-
tas sociais da chamada plebs (Glossário, patricii, populus, plebs). Inicialmente res-
tritas aos limites do extrato social de onde provinham, as decisões da plebe acabam
conquistando, no final do século III a.C., força de lei erga omnes.
Outros instrumentos que tinham força de lei eram os chamados editos, edicta
magistratuum (decisões judiciais), principalmente dos pretores, que receberam a
denominação de ius honorarium. Havia ainda os chamados edicta perpetua dos
pretores. Era verdadeira proclamação de diretrizes que o pretor prometia seguir no
desempenho de seu mandato. Por representarem mais uma declaração de princí-
pios do que normas e leis, mesmo após extinto o mandato do titular, continuavam
sendo observados (Glossário, edito), daí sua perpetuidade.

432
Glossário Leges

As constitutiones principis (decisões do príncipe, do imperador) passaram tam-


bém no Império a ter força de lei. Essas manifestações da vontade do príncipe po-
diam ser meras recomendações orais ou, o mais comum, se faziam por meio de
mensagens ao Senado ou pelo chamado rescriptum, resposta escrita do príncipe a
consulta de autoridades judiciais.
Essa terminologia é ainda hoje mantida no rescriptum papal, embora tenha ca-
ráter mais de recomendação ou orientação do que de lei.
Além desses instrumentos, havia o chamado responsum, espécie de parecer
emitido por juristas, a pedido de algum demandante, sobre uma questão em juízo.
No início, era mera orientação do cliente ou, no máximo, um arrazoado jurídico
dirigido diretamente ao juiz da questão. Só a partir de Augusto, foi que o chama-
do ius respondendi (direito de emitir parecer) assumiu a natureza de ministério
público, porque o exercício dessa função dependia de designação pela autoridade
imperial (Glossário, jurisconsulto).

Lei das XII Tábuas (Livro I, T. II, 2, §§ 4 e 5)


Segundo a versão do próprio Digesto, inaugurada a República, os romanos pas-
saram por período atípico, no qual se regiam por direito incerto e costumes, uma
vez que já não vigiam as leis da Monarquia extinta. Com seu reconhecido prag-
matismo, enviaram à Grécia, então o centro da civilização e cultura da época, uma
comissão de dez membros (os decênviros), para colher subsídios jurídicos com
vista à elaboração de leis pelas quais se regeria a civitas romana.
De volta a Roma, os decênviros redigem as primeiras leis da República, que
gravam em dez placas de marfim, e mandam afixá-las nas tribunas do Foro para
que todos — bem entendido, os letrados — tomassem conhecimento de seu inteiro
teor.
A mesma comissão, talvez forçada pelas críticas, embora suas conclusões e de-
cisões fossem inapeláveis, reconhece suas falhas e, no ano seguinte, acrescenta às
dez primeiras tábuas mais duas, perfazendo o total de doze tábuas, e, por esse nú-
mero, ficaram tradicionalmente conhecidas como a Lei das XII Tábuas.
Isso teria ocorrido entre os anos 452-450 a.C., mas há historiadores que esten-
dem a elaboração dessas tábuas até o século IV a.C. O fato é que estiveram sempre
presentes na história do direito romano.
É lamentável que delas restem apenas fragmentos, embora, como atesta Cícero
(De Legibus, II, 23, 59), a Lei das XII Tábuas fosse, no seu tempo, parte integrante
do currículo de direito (Glossário, leges e decênviros).

Lex (Livro L, T. XVI, 237)


Lei. Com dois termos negativos, parece mais permitir que proibir.

433
Libellus Glossário

Libellus (Livro I, T. XVI, 9, § 1)


O termo, na Roma antiga, tinha os mesmos significados que hoje: livrinho, fo-
lheto difamatório e outros. Na literatura jurídica, porém, tinha sentidos específicos,
como registro, queixa por escrito, requerimento, edital, cartaz, lista de proscrição,
certificado. O importante é saber enquadrar um desses conceitos no seu devido con-
texto.
Liberatio (Livro L, T. XVI, 47)
Liberação. Tem o mesmo efeito que quitação.
Liberi (Livro L, T. XVI)
Filhos. É pluralia tantum, isto é, no sentido de “filhos” só se usa no plural. Vale,
porém, para o singular: habere líberos significa tanto ter filhos como ter filho (148);
inclui também netos e bisnetos (220); indica todos que descendem de uma só ori-
gem genética, sem especificação (220); compreende todos que estão sob o pátrio
poder e todos os que são direito próprio (56, § 1); inclui todos os filhos (§ 4).
Liberti (Livro L, T. XVI)
Liberto, escravo alforriado. Compreende também a liberta (escrava alforriada)
(172); pela expressão libertis libertabusque meis não se inclui liberto de liberto do
testador (105).
Liberto (Livro I, T. V, 5)
Chamava-se liberto o escravo alforriado ou manumisso. O termo manumissio
significa “soltar da mão”, isto é, deixar ir, ficar livre do poder do senhor. Embora
livre, o liberto não se tornava cidadão pleno, pois continuava, de certo modo, obri-
gado ao ex-senhor, a quem devia deferência (obsequim) e até assistência nas neces-
sidades (officium). O filho de liberto chamava-se libertino, que seguia o estatuto
jurídico do pai. Só nascia inteiramente livre (ingenuus) o filho da terceira geração.
Libertos (Livro L, T. XVI)
Chamamos “nossos libertos” os libertos de nossos pais, mas não chamamos
“nossos” os de nossos filhos (59, § 1); são também quem assim se torna por testa-
mento (243).
Litis (Livro L, T. XVI, 36)
Lide, litígio. Abrange tanto pessoas como coisas.
Litus (Livro L, T. XVI, 112)
Litoral. É público até o ponto atingido pelas maiores ondas, o que vale também
para os lagos.
Locuples (Livro L, T. XVI, 234, § 1)
Rico. Quem tem mais que o suficiente para honrar o débito.

434
Glossário Locus

Locus (Livro L, T. XVI)


Lugar. Não é imóvel, mas parte do imóvel (60); aplica-se a imóveis rurais e ur-
banos (60, § 1); pode não ter limites (60, § 2).

Magistri (Livro L, T. XVI, 57)


Mestres. Aqueles a quem incumbem as principais responsabilidades sobre as
coisas públicas.

Magna negligentia (Livro L, T. XVI, 226)


Grande negligência. Culpa; magna culpa (falta grave) é dolo.

Mallum (Livro L, T. XVI, 242)


Mastro. Faz parte integrante do navio; a vela, não.

Materfamílias (Livro L, T. XVI, 46, § 1)


Mãe de família. A mulher que não viveu desonestamente.

Meorum et tuorum (Livro L, T. XVI, 91)


Meus e teus. Inclui também ações judiciais.

Mercis (Livro L, T. XVI)


Mercadoria. Não inclui escravos, por isso o vendedor de escravos não é chama-
do de mercador, mas de venaliciarius (de venalicius, escravo posto a venda) (207);
só se aplica a bens móveis (66).

Mille passus (Livro L, T. XVI, 154)


Contam-se não a partir do miliário de Roma, mas de sua cercania.

Minus solutum (Livro L, T. XVI, 32)


Pago a menos. Entende-se também como nada pago.

Minus solvit (Livro L, T. XVI, 12, § 1)


Paga menos. Quem paga tardiamente.

Morbus (Livro L, T. XVI, 101, § 2)


Doença. Deficiência física temporária.

Morbus sonticus (Livro L, T. XVI, 113)


Doença grave. É a que incapacita uma pessoa para tudo.

Mortui nati (Livro L, T. XVI, 129)


Natimortos. Não se consideram nem nascidos nem procriados, pois nunca pu-
deram ser chamados filhos.

435
Movens e mobile Glossário

Movens e mobile (Livro L, T. XVI, 93)


Movente e móvel. Equivalem-se.
Mulcta (Livro L, T. XVI, 131, § 1)
Multa. Diferente de pena. Pena é repressão de todo delito, enquanto multa é
repressão específica, cuja punição é pecuniária.
Mulier (Livro L, T. XVI, 13)
Mulher. Entende-se também a virgem núbil.
Multus homo (Livro L, T. XVI, 158)
Muita gente. É comum usar o singular pelo plural.
Municeps (Livro L, T. XVI, 228)
Munícipe. Todos os nascidos num mesmo município.
Munus (Livro L, T. XVI)
Obrigação, dever. É o que se faz por força da lei, do costume ou por ordem de
quem pode mandar, por isso nem todo munus é presente, brinde (214); tem três
acepções: presente, função e ofício (18).
Munus publicum (Livro L, T. XVI, 239, § 3)
Função pública. Função de um cidadão privado que resulta em benefício para
todos.
Nasciturus (Livro L, T. XVI, 231)
Nascituro. Só se considera nascido quando se trata de direito próprio.
Nati (Livro L, T. XVI, 104)
Filhos. Estende-se também a neto.
Nepos (Livro L, T. XVI)
Neto. Considera-se como filho (220, § 1); não morre sem filhos quem deixa
herdeiro neto (220, § 2); pelo nome de filhos entendem-se todos os descendentes
(210, § 3).
Nomen (Livro L, T. XVI)
Valor. Entende-se como bem (4); nomen (valor) e res (bem) constam em todo
contrato e obrigação (6).
Notio (Livro L, T. XVI, 99, § 1)
Noção, ideia. Tanto é causa como jurisdição.
Novalis (Livro L, T. XVI, 30, § 2)
Pousio. É o estado da terra que não foi cultivada num ano.

436
Glossário Noxa

Noxa (Livro L, T. XVI, 238, § 3)


Dano, agravo. Compreende-se todo delito.
Noxis solutum praestari (Livro L, T. XVI, 200)
Apresentar-se isento de culpa. Supõe-se não se tratar de culpa que implique
ação pública ou pena capital.
Nurus (Livro L, T. XVI, 50)
Nora. Entende-se também a mulher do neto e de descendente.
Obras públicas (Livro L, T. X)
No século II da era cristã, Roma era o que hoje chamamos de metrópole, com
cerca de um milhão de habitantes. A cidade era servida por 11 aquedutos, que
abasteciam a população com cerca de um milhão de m3/água por dia. Havia 11
termas, 856 banhos públicos, 15 fontes públicas, dois lagos artificiais destinados a
espetáculos navais e cerca de 1.500 bicas e fontes.
As construções obedeciam a normas muito semelhantes às atuais, ditadas por
preocupações ambientais. Por exemplo, a altura dos prédios não podia ser superior
ao dobro da largura da rua; tetos de madeira eram proibidos; as ruas deviam ser
servidas de passeios com pórticos etc.
As construções habitacionais dividiam-se, em geral, em duas categorias: a
domus, para as classes abastadas, e as insulae, construções de habitações coletivas
na forma de apartamentos sobrepostos, para as classes populares. Casae e tuguria
eram habitações para populações pobres, urbanas e rurais. As tabernae eram lojas,
em geral, onde se vendia de tudo: comida, tecidos, utensílios, joias, livros etc. Havia
também bancos, e casas de câmbio, que eram chamados de tabernae argentariae.
Como nas cidades modernas, havia corpos de bombeiros organizados militar-
mente por Augusto, equipados com roupas refratárias ao calor, escadas, baldes e
bombas ligadas a fontes públicas.
Ope, consilio (Livro L, T. XVI)
Com a ajuda, com o conselho. Devem ser entendidos os termos separadamen-
te, pois uma coisa é fazer algo com a ajuda, outra, com o conselho (T. XVI, 53, § 2).
Oportere (Livro L, T. XVI, 37)
Convir. Refere-se mais ao compromisso do juiz com a verdade do que às suas
faculdades.
Oppidum (Livro L, T. XVI, 239, § 7)
Cidadela. Vem de ops (força), representada por muralhas.
Opus locatum, conductum (Livro L, T. XVI, 5, § 1)
Obra empreitada, arrendada. Obra realizada, e não trabalho.

437
Ordem equestre Glossário

Ordem equestre (Livro I, T. II, 2, § 47)


O exército romano era constituído essencialmente de infantaria e cavalaria. No
período das conquistas, surgiu, por assim dizer, a arma da engenharia, corpo técni-
co de engenheiros e artesãos, como carpinteiros, pedreiros, ferreiros, para atender
às necessidades eventuais de construção de obras de arte militares, como pontes,
artefatos de cerco etc. Nos períodos de paz, essa equipe era responsável por ocupar
os soldados na construção de aquedutos, teatros de arena, pavimentação de estra-
das e tantas outras obras do gênero que povoam a Europa e a Ásia, algumas delas
ainda em uso nos dias de hoje.
A cavalaria foi, desde o início, arma de elite. Segundo consta, foi Rômulo que a
instituiu e criou o cargo de magister equitum (comandante da cavalaria), que ocu-
pava o segundo lugar na hierarquia do poder durante a Monarquia.
Inicialmente constituída só de patrícios, era parte integrante do populus (Glos-
sário, patricii, populus, plebs) e, em direitos, se equiparavam aos senadores. No co-
légio eleitoral (Glossário, sistema eleitoral), já no tempo de Rômulo, era represen-
tada por três centúrias, mais tarde por seis das 18 centúrias da classe aristocrática.
Com a extensão do poder romano e o crescimento do exército, a chamada or-
dem equestre ampliou-se com a admissão de cavaleiros provenientes do segmento
de plebeus ricos, que adquiriam por conta própria todos os equipamentos necessá-
rios à condição de cavaleiros, daí derivando duas espécies de cavaleiros, o público
e o privado, identificados pela expressão eques equo publico e eques equo privato.
Além do direito à toga, traziam sobre o peito um disco de metal e percebiam soldo
três vezes superior ao da infantaria. Os tribunos militares eram, em geral, escolhi-
dos entre os cavaleiros.
No século III a.C., a cavalaria chegou a contar com 25 mil cavaleiros.
No Império, os imperadores reorganizaram a ordem equestre em base militar,
e não política. Se eleito para senador, o cavaleiro, mesmo sendo filho de senador,
deixava a ordem equestre para tomar posse no Senado.
Ostentum (Livro L, T. XVI, 38)
Anomalia. É deficiência ou defeito físico ou algo prodigioso contra a natureza.
Palam (Livro L, T. XVI, 33)
Abertamente. Entende-se como diante de muitas pessoas.
Palus ou pertica (Livro L, T. XVI, 168)
Mourão ou estaca. Enquadram-se no conceito de madeira, não de lenha.
Parentes (Livro L, T. XVI, § 1)
Pais, ascendentes. São os ascendentes de uma família.
Parere (Livro L, T. XVI, 141)
Parir. Considera-se ter parido mulher que, ao morrer, tem aberto o útero.

438
Glossário Paries

Paries (Livro L, T. XVI, 157)


Parede. Pode ser tanto muro quanto paredão de pedras soltas.

Pars (Livro L, T. XVI, 25, § 1)


Parte. O que nos toca por divisão é toda nossa.

Partitio (Livro L, T. XVI, 164)


Partição. Significa “metade”, se nada lhe for acrescentado, como tertia partitio
(terceira divisão).

Partum rei furtivae (Livro L, T. XVI, 26)


Filho de escrava raptada. Não faz parte da coisa roubada.

Pascua silva (Livro L, T. XVI, 30, § 5)


Pastagem nativa. Dedicada a pastagem de animais de pequeno porte.

Paterfamilias (Livro I, T. VI, 4)


O paterfamilias é o supremo titular do chamado pátrio poder: Ocupava o topo
da hierarquia familiar na ordem descendente de filhos, netos, bisnetos, trinetos etc.
Assim, o poder do paterfamilias não se limitava ao filho, mas se estendia a todas as
gerações subsequentes, abrangendo, inclusive, os agregados por adoção.
Na ordem de sucessão, morto o paterfamilias, a titularidade passava ao des-
cendente imediato, daí a possibilidade de até um jovem ou adolescente tornar-se
paterfamilias.
Quanto a filhas e demais descendentes do sexo feminino, ao se casarem, dei-
xavam a potestas paterna e passavam ao pátrio poder do paterfamilias do marido.

Patricii, Populus, Plebs (Livro I, T. II, 2, §§ 8 e 24)


Quem lê desavisadamente a expressão latina Senatus Populusque Romanus (o
Senado e o povo de Roma), inscrição muito frequente no tempo dos romanos, em
monumentos e obras públicas, corre o risco de imaginar uma sociedade estrutura-
da democraticamente.
Em realidade, a sociedade romana era constituída de quatro segmentos distin-
tos: patrícios, povo, plebe e proletários. Os patrícios eram originalmente a classe
aristocrática, que, por sua riqueza e linhagem, deteve o poder durante muitos sé-
culos na história de Roma, a começar pelo fato de que os senadores e os cônsules
eram escolhidos exclusivamente por eles, embora da eleição participasse o chama-
do populus (povo). O populus era o conjunto de todos os cidadãos romanos (cives
romani), que compreendia os próprios patrícios, os oficiais superiores do exército,
os chamados cavaleiros, equites (Glossário, ordem equestre); ricos proprietários
que compravam o título de cidadão romano; outros que, por algum mérito, o rece-
biam do Senado; e os filhos de cidadãos romanos que seguiam a condição do pai.

439
Patricii, Populus, Plebs Glossário

A plebe (plebs) era uma classe intermediária, entre cidadão romano e prole.
Era constituída de oficiais inferiores e de soldados, de libertos, artesãos, professo-
res, artistas, pequenos agricultores etc. Nesse segmento, os militares gozavam de
melhores condições de arregimentação, que lhes permitiram, ao longo da história,
fazer valer suas reivindicações.
No século V a.C., a plebe conquista o direito de eleger seus próprios tribunos
com autoridade de rejeitar atos injustos de juízes e legisladores. No século seguinte,
os plebeus já elegiam entre eles um dos dois cônsules e já podiam exercer cargos
públicos, ser sacerdotes e se casar com quem quisessem, independentemente de
classe. E finalmente, no início do século III a.C., as decisões de seus comitia (assem-
bleias) tinham força de lei erga omnes (para todos), e não só para plebeus.
A ascensão social dos plebeus resultou numa sociedade romana igualitária,
com a ampliação do direito de cidadania e a formação de uma nova classe social
resultante da fusão da classe dos patrícios com plebeus ricos e influentes. Ainda na
República, a aquisição da cidadania romana já se fazia por compra ou por mérito,
podendo ser adquirida até por estrangeiros habitantes das províncias. O apóstolo
Paulo, judeu de Tarso, na Ásia Menor, vangloria-se de ter cidadania romana por
nascimento, enquanto o tribuno que ia condená-lo a açoites afirmava ter precisado
de vultoso capital para adquiri-la (Atos dos Apóstolos 22. 25-29).
Essa liberalidade legal e a transformação da sociedade romana numa civitas
mais cosmopolita e aberta dará ao ditador Júlio César a oportunidade de nomear
cidadãos romanos provincianos membros do Senado.
Essa evolução acabará, inclusive, beneficiando a chamada prole, que, na antiga
sociedade romana, não gozava de direitos definidos e tinha como característica a
função social de procriar, para proporcionar mão de obra barata e disponível para
os demais extratos sociais de Roma e soldados para o exército romano.
Patroni (Livro L, T. XVI, 52)
Patronos, senhores de escravo liberto. Incluem também patronas.
Pecúlio (Lei das XII Tábuas)
No direito romano, o termo peculium tinha o mesmo significado de poupança,
que se faz com vista a um objetivo futuro. Todavia, na prática e na sua origem eti-
mológica, restringia-se a poupança de escravo com vista à alforria e a de soldado
para quando fosse desmobilizado. Etimologicamente vem de pecus, pecoris (reba-
nho), na forma diminutiva. Embora o escravo não pudesse ter algo próprio, alguns
senhores premiavam alguns, entre eles os cuidadores de rebanhos, permitindo-lhes
ir, ao longo da vida, formando pequeno rebanho em rezes, que lhes eram dadas
de presente e por cujo valor lhes seria dado obter no futuro a alforria. Além desse
pecúlio de origem campestre, havia também o peculium castrense, que os soldados
faziam com parcelas de seus soldos.

440
Glossário Pecúlio

O artigo 182 do Título XV do Livro L do Digesto atesta o sentido restrito do ter-


mo: Paterfamilias liber peculium non potest habere, quemadmodum nec sevus bona:
Um pai de família livre não pode ter pecúlio, do mesmo modo que o servo não
pode ter bens.
Peculium (Livro L, T. XVI)
Pecúlio. Se de escravo, é bem público (17); paterfamílias, por ser livre, não pode
ter (182).
Pecunia (Livro L, T. XVI)
Dinheiro. Significa não só moeda corrente, mas todo valor, todo bem material
(178; 222); só pode ser deixado em dinheiro quanto puder ser apurado dos bens
(88).
Pellex (Livro L, T. XVI, 144)
Amásia. Para os antigos, era a mulher que vivia com alguém sem ser casada;
hoje diz-se amiga, mas o mais correto é amásia.
Penes te (Livro L, T. XVI, 63)
Em teu poder. Tem sentido mais amplo que apud te (em tua casa).
Perduelles (Livro L, T. XVI, 234)
Inimigos figadais. Eram assim chamados antigamente os inimigos de guerra.
Perire (Livro L, T. XVI, 9)
Perecer. Significa cortado, quebrado, tomado a força.
Pernoctare (Livro L, T. XVI, 166)
Pernoitar. Significa passar a noite toda.
Pertinere (Livro L, T. XVI, 181)
Pertencer. Tem sentido amplíssimo, pois vale tanto para reclamar coisa de que
temos domínio como coisa de que temos posse.
Pessoa (Livro I, T. V)
Nem o latim nem o grego tinham um termo abstrato para expressar o que hoje
se entende por “pessoa”. Persona, latim, e prósopon, grego, significavam máscara,
aparência, figuração. Tanto para os gregos como para os latinos, pessoa, no sentido
em que o entendemos hoje, era simplesmente ántropos e homo. Foi a teologia cristã,
quando dos debates sobre a natureza humana de Jesus Cristo, entre os séculos III
e IV da era cristã, que definiu no “homem”, além da racionalidade comum a toda
a espécie, um substrato que o individualiza e singulariza como ser único e indivi-
sível, que o Ocidente materializou no termo persona, e o Oriente grego no termo
“hipóstase”.

441
Pessoa Glossário

No direito romano, portanto, o termo persona só passa a ser usado em lugar de


homo em textos já sujeitos a influência cristã, inclusive o Digesto, redigido e siste-
matizado sob a égide de imperador e intelectuais da era cristã.

Petitio (Livro L, T. XVI)


Petição. Usa-se mais para coisa (vide actio);

Persecutio (Livro L, T. XVI)


Diz mais respeito a processos extraordinários (vide actio).

Pignus (Livro L, T. XVI, 238, § 2)


Penhor. Vem de pugnus (punho) e significa o que é entregue pela mão, daí se
entender como coisa móvel.

Plebs (Livro L, T. XVI, 238)


Plebe. Conjunto dos demais cidadãos, fora os senadores.

Plumbum (Livro L, T. XVI, 242, § 3)


Chumbo. Faz parte do edifício se posto sobre as telhas, mas não para cobrir
galeria.

Plurisve (Livro L, T. XVI, 192)


Ou mais. Não implica valor infinito, mas pequena alteração a mais.

Poena (Livro L, T. XVI, 131)


Pena. Punição do dano; pode haver fraude sem pena, mas não pena sem fraude.

Portentosum (Livro L, T. XVI, 135)


Prodigioso. Ser prodigioso dado à luz pode ser útil aos pais, pois não lhes pode
ser imputada nenhuma responsabilidade.

Portus (Livro L, T. XVI, 59)


Porto. É lugar fechado por onde chegam ou de onde saem mercadorias.

Poslimínio (Livro I, T. V, 26)


No direito romano, postliminium significava a restituição automática de bens e
direitos a quem retornava a Roma após cativeiro nas mãos de inimigos.

Possessio (Livro L, T. XVI, 78)


Posse. Difere de ager (campo) pela propriedade do direito.

Potestas (Livro L, T. XVI, 215)


Poder. Tem várias significações: tratando-se de magistrados, significa impe-
rium (soberania); de filhos, pátrio poder, e de escravo, domínio.

442
Glossário Praediorum iura

Praediorum iura (Livro L, T. XVI, 86)


Direitos fundiários. Abrangem qualidade do solo, salubridade e dimensão.
Praevaricatores (Livro L, T. XVI, 212)
Prevaricadores. São aqueles que passam a causa que defendem para os adversá-
rios; vem de varicare (andar sem firmeza, trocando as pernas).
Pratum (Livro L, T. XVI, 31)
Prado. Área para cuja colheita basta o trabalho de foice.
Prefeitos (Livro I, T. XI, XII, XV e XVII)
Praefectus (do verbo praeficio) significa ser posto à frente, ser preposto, en-
carregado. Na administração pública de Roma, não era magistrado superior, mas
autoridade subordinada, delegada, na área executiva. Houve em Roma muitos pre-
feitos, isto é, pessoas designadas como responsáveis por determinadas áreas da ad-
ministração pública. Os três principais, pela importância de sua jurisdição, foram:
Praefectus Urbi (T. XII), prefeito de Roma, tinha a função de substituir os côn-
sules quando ausentes de Roma. No início da República, isso ocorria muito rara-
mente, e seu mandato delegado extinguia-se automaticamente com o retorno do
cônsul. Mais tarde, com a criação do cargo de pretor (Glossário, pretor), a figura do
prefeito de Roma praticamente desapareceu. Foi o imperador Augusto que a rein-
troduziu, mas agora como seu representante, quando ele, o imperador, se ausen-
tasse da Itália, independentemente da presença de cônsules e pretores em Roma.
Daí em diante, sua importância só fez aumentar à medida que se ampliavam suas
funções e se estendia seu mandato, que acabou tornando-se vitalício.
De simples substituto eventual de cônsules, o prefeito de Roma tornou-se chefe
de polícia, responsável pela ordem e segurança públicas e por mercados e edifícios
públicos. Sua jurisdição penal, inicialmente limitada a escravos e agitadores, esten-
deu-se a todos os crimes e sujeitos. De simples comandante das cohortes urbanae
(Glossário, coorte), acabou concentrando em suas mãos todo o poder militar, ad-
ministrativo e judicial em Roma, à medida que os imperadores, a partir do século
IV d.C., foram progressivamente abandonando a antiga capital do Império.
Praefectus praetorio (T. XI), comandante da guarda pretoriana, força militar
responsável pela segurança do imperador. De comandante do pretório chegou pro-
gressivamente a comandante de todas as tropas na península itálica, com exceção
das cohortes urbanae, que se mantiveram sob a jurisdição do prefeito de Roma.
Com a criação do cargo de magister militum (comandante militar) por Constan-
tino, o prefeito do pretório perdeu sua natureza militar para se tornar importante
autoridade civil.
Praefectus vigilum (T. XV), prefeito da guarda noturna, responsável pela pre-
venção e combate a incêndios na cidade de Roma. Essa corporação foi criada por
Augusto ao avocar para o Estado a função até então desempenhada por civis e vo-

443
Prefeitos Glossário

luntários. O nome vigiles vem de vigilia, uma das quartas partes em que se dividia a
noite romana. O poder do prefeito da guarda noturna, inclusive penal, limitava-se
a ocorrências de incêndio e a crimes conexos.
Além desses três prefeitos romanos, houve também o chamado praefectus
augustalis, reservado ao representante do imperador no Egito, por isso também
chamado praefectus Aegypti, título excepcional, em vez de proconsul ou praeses,
para expressar o especial apreço de Roma pelo Egito, não só por sua história tam-
bém imperial como por, na época, constituir o celeiro do Império.
Pretium rei (Livro L, T. XVI, 14)
O valor da coisa. Não está só na substância dela, mas na arte que lhe é posta.
Pretor (Livro I, T. XIV)
Praetor (de prae). Antes, à frente, é aquele que vai à frente, o chefe, o líder. Ini-
cialmente o título era militar. No início da República, o cônsul era chamado tam-
bém pretor. Foi a Lei Licínia, de 367 a.C., que criou o cargo de pretor, cuja missão
era ajudar os cônsules principalmente em questões civis. O número de pretores
foi crescendo ao longo dos séculos, de acordo com as necessidades decorrentes
do aumento da população de Roma e do território itálico já totalmente ocupado
pelos romanos no século III a.C. Naquela época, já havia pretores na Sicília e na
Sardenha.
Em Roma, havia os chamados praetores urbani e praetores peregrini. O pretor
urbano era o braço direito dos cônsules nas questões civis entre cidadãos romanos,
enquanto o pretor peregrino ou pretor dos estrangeiros era responsável pelas ques-
tões entre cidadãos romanos e forasteiros, cujos direitos se limitavam à esfera do
ius gentium (direito das gentes).
Os pretores eram eleitos pelos comitia centuriata, como os cônsules, e sob as
mesmas regras. Tinham direito à toga praetexta, túnica branca com bordas de púr-
pura, à sella curulis, cadeira de marfim, e a seis litores.
Sua jurisdição compreendia questões de extorsão (quaestio repetundarum), isto
é, de multas repetidas, acima do normal; propina (ambitus), peculato (peculatum),
traição (maiestatis); assassinato (de sicariis et veneficis) e falsidade (falsi). No Impé-
rio, receberam outras funções, como praetor aerarius, tesoureiro; praetor tutelaris,
de questões de menores, e praetor de liberalibus causis, de questões relativas a al-
forria.
Seus mandatos tinham a mesma duração do mandato dos cônsules, mas po-
diam ser prorrogados por mais um ano, só que, nesse segundo ano, eram chamados
proconsul ou propraetor.
Ao assumir o cargo, emitiam uma espécie de declaração de intenções, na qual
estabeleciam as diretrizes de seu mandato. Era o chamado edictum (edito), que, por
se tratar de mera proclamação de princípios, costumava ser seguido por seus su-
cessores e, por isso, passava a ser designado edictum perpetuum (Glossário, edito).

444
Glossário Pretor

A figura do pretor acabou sendo a principal autoridade judicial nas cidades,


que, ao longo dos séculos, nasceram e se desenvolveram sob a égide do direito
romano.

Pro coniunctis (Livro L, T. XVI, § 1)


Em conjunto. Em coisas conjuntas, se algumas são impostas, as demais não o
são.

Probum et opprobrium (Livro L, T. XVI, 42)


Torpe e vergonhoso. Diferem-se apenas com relação a natureza, lei civil e cos-
tumes.

Proiectum (Livro L, T. XVI, 242, § 1)


Projetado, lançado. O que é lançado para frente sem se apoiar em lugar algum.

Pronuntiatum e statutum (Livro L, T. XVI, 46)


Declarado e estabelecido. Têm o mesmo valor jurídico.

Prothyrum (Livro L, T. XVI, 245, § 1)


Vestíbulo. Pode fazer parte da construção.

Provincialis (Livro L, T. XVI, 190)


Provincial. Quem tem domicílio numa província, e não quem dela é oriundo.

Proximus (Livro L, T. XVI)


Próximo. Conta-se também aquele que é único (155); aquele que ninguém pre-
cede (92).

Publica vectigalia (Livro L, T. XVI, 17, § 1)


Tributos públicos. Entendem-se os cobrados pelo fisco.

Publicanus (Livro L, T. XVI, 16)


Publicano. Aquele que arrenda tributos do povo romano.

Puer (Livro L, T. XVI)


Menino. Significa também puella (menina), pois também se diz puerpera mu-
lher que acaba de dar à luz (163, § 1); tem três sentidos: escravos (referindo-se a
todos), menino, em oposição a menina, e alguém a quem chamamos “menino” por
sua idade (204).

Pupillus (Livro L, T. XVI)


Órfão, tutelado. Não pode ser quem está no útero (161); chama-se também o
impúbere que deixou de estar sob o pátrio poder por morte ou emancipação (239).

445
Quae sunt pluris aureorum triginta Glossário

Quae sunt pluris aureorum triginta (Livro L, T. XVI, 232)


Que valem mais de 30 moedas de ouro. Significa quantidade e estimativa.
Quanta pecunia ex hereditate Titii at te pervenerit (Livro L, T. XVI, 97)
Quanto da herança de Tício te terá tocado. Refere-se aos bens, e não a seu valor.
Quanti eam rem paret esse (Livro L, T. XVI, 193)
Quanto parece valer essa coisa. Refere-se não à diferença, mas à simples esti-
mativa do valor do objeto.
Quanti ea res erit (Livro L, T. XVI, 180)
Quanto valerá isso. É o mesmo que dizer “quanto parece valer isso”, pois se trata
de mera avaliação.
Questor (Livro I, T. XIII)
A denominação desse cargo provém do verbo quaero, buscar, investigar, fisca-
lizar. Investigar era primitivamente a função principal do quaestor. Era responsável
pelo censo, do qual resultava a previsão orçamentária da civitas e a provável di-
mensão da população masculina, com vista a eventuais convocações para o serviço
militar.
Ao longo dos séculos, essa função foi-se estendendo para áreas conexas, como
avaliação de renda para fins de tributação e jurisdição penal em questões fiscais.
No final da República, a função do questor circunscrevia-se à área financeira, che-
gando, inclusive, a desempenhar cargos de guardião do Tesouro. No Império, essa
função lhe foi tirada por Augusto e, daí em diante, os questores passaram a desem-
penhar múltiplas funções, às vezes de difícil identificação, como é o caso de Tribo-
niano, jurista certamente de renome, que o imperador Justiniano nomeia presiden-
te da comissão responsável pela codificação do direito romano, então citado como
“questor de nosso Palácio” (vide Constituição Deo Auctore, Digesto). Há quem lhe
confira o cargo de ministro da justiça.
O cargo de questor era, porém, o cargo inicial na carreira pública, que os roma-
nos chamavam de cursus honorum (carreira das honras). Eram inicialmente dois
no início da República, mas esse número foi crescendo, chegando a 40 na época
de César. Augusto reduziu-os a 20 e assim permaneceram até a queda do Império.
O questor era eleito nos comitia tributa (Glossário, sistema eleitoral), sob a
presidência de um dos cônsules. Para se candidatar, era preciso ter mais de 30 anos,
mas Augusto reduziu essa faixa etária para 25.
Como eram eleitos para assistir aos cônsules, seu mandato era também de um
ano, podendo, como o dos cônsules, ser prorrogado.
Os questores que exerciam seu cargo em Roma eram chamados urbani. Quan-
do exerciam suas funções na área militar, eram chamados quaestores militares. Nas
províncias, eram assistentes ou assessores de pretores ou procônsules.

446
Glossário Quisque mihi alius filii filiusve heres sit

Quisque mihi alius filii filiusve heres sit (Livro L, T. XVI, 116)
Qualquer um de meus filhos ou filho de meu filho seja o herdeiro, ao contrário
do que pensa Labeão, estão incluídas as filhas.
Quisquis mihi heres erit (Livro L, T. XVI, 227, § 1)
Quem quer que virá a ser meu herdeiro. Significa apenas o herdeiro imediato.
Quum fari potuerit (Livro L, T. XVI, 217)
Quando puder falar. Não é o mesmo que postquam fari potuerit (depois de ter
podido falar). A primeira, mais restrita, significa apenas quando a pessoa puder
falar pela primeira vez.
Reddere (Livro L, T. XVI, 94)
Devolver. Pode significa apenas dar.
Reliqui (Livro L, T. XVI)
Os restantes. Representa “todos”, do mesmo modo que ceteri (160; 95).
Repudium (Livro L, T. XVI, 91)
Repúdio. Diferencia-se de divortium (divórcio), por se tratar de matrimônio
ainda não consumado.
Res (Livro L, T. XVI)
Bem, coisa. Tem sentido mais amplo que dinheiro (5); entende-se tanto causas
como direitos (23); por coisa se entende também parte dela (72).
Res publica (Livro L, T. XVI, 17)
Não é nem sacra nem religiosa.
Rescrito (Livro L,
Entre os muitos documentos com força de lei emanados do imperador (cons-
tituações, decretos etc.), destaca-se o rescrito. O rescrito em uma resposta, por es-
crito, de consulta formulada à corte imperial sobre a solução a ser dada a casos
jurídicos singulares ou de difícil solução.
Restituere (Livro L, T. XVI)
Restituir. É mais que exhibere (apresentar) (22); restitui quem devolve o bem
com seus direitos e frutos (35); devolver algo que o reclamante teria se não tivesse
havido contestação (75); implica indenização de dano (81).
Roma (Livro L, T. XVI)
São todos os edifícios da cidade, mesmo extramuros (2) (vide Urbs); é romano
quem nasce nas cercanias de Roma (147).

447
Rostros Glossário

Rostros (Livro I, T. II, 2, § 43)


É comum traduzir-se rostra por tribuna, embora se assemelhasse mais a plata-
forma ou palanque: construção retangular a cujo piso tinha-se acesso por degraus
na parte posterior. Na frente, era encimada por um balaústre de mármore, com
uma saliência frontal, de onde discursavam os oradores. Na face anterior dessas
plataformas é que foram afixadas as doze placas de marfim contendo o texto inte-
gral da chamada Lei das XII Tábuas. Mais tarde, passaram a ser uma espécie de mu-
ral, no qual se publicavam editos, editais e outros documentos para conhecimento
da população.
O nome rostra, plural de rostrum (bico de ave), foi-lhes dado no século IV a.C.,
quando esses palanques passaram a ser ornados com proas de navios capturados,
que tinham forma de aves de bico projetado, algo semelhante às carrancas comuns
a antigas barcaças fluviais, especialmente no rio São Francisco.
César teria mandado demolir os antigos rostra para reconstruí-los mais moder-
nos, mas foi Augusto que o fez, dando-lhes o nome de rostra Julia, em homenagem
ao fundador do Império.
Rustica (Livro L, T. XVI, 166)
Rural, rústica. Não se diferencia de “urbano” com relação a escravos pelo lugar,
mas por gênero.
Ruta caesa (Livro L, T. XVI, 24)
Bens móveis. Compreende coisas que não se integram ao solo.
Sanctum, sacrum, religiosum (Livro I, T. I, 1, § 2; VIII)
Embora tenham acepções sinonímicas, convém, em se tratando de literatura
jurídica, que esses termos sejam traduzidos em seus sentidos específicos e peculia-
res, conforme seus respectivos contextos.
Sanctum tem origem no verbo sancio, que significa aprovar, sancionar, con-
sagrar, purificar. O sanctum, em geral, se aplica a coisas, objetos, no sentido de
intocável, inviolável, consagrado. Por exemplo, sanctius aerarium, tesouro, fundo
mais inviolável, constituído da vigésima parte dos bens de libertos e de heranças.
Como substantivo — pessoa santa, pura, próxima de Deus —, é acepção tardia por
influência cristã. Mesmo na era cristã, Jerônimo mantém o sentido de inviolabili-
dade, ao traduzir o debir, hebraico, lugar do primeiro templo, onde se guardava a
Arca da Aliança, por Sanctum Sanctorum, o Santo dos Santos, lugar inviolável de
coisas invioláveis a que só tinha acesso o Sumo Sacerdote e, assim mesmo, uma só
vez por ano.
Sacrum, no plural sacra, significa sagrado, em contraposição a profano, isto
é, coisa consagrada ao culto e que, por isso, não pode ser usado para fins outros
que não o religioso. É nesse sentido que continua sendo usado na liturgia católico-
-romana. Daí o conhecido termo sacrilegium, uso indevido de coisa sagrada.

448
Glossário Sanctum, sacrum, religiosum

Religiosum se diz de algo proibido pela religião. Para qualificar pessoa religiosa,
o latim clássico preferia pius, iustus. A Vulgata de São Jerônimo usa frequentemen-
te iustus no sentido de varão santo, observante da lei mosaica.

Satisdatio (Livro L, T. XVI, 61)


Ação de dar caução. Às vezes compreende também promessa com a qual se
contenta a pessoa a quem era devida a caução.

Sequester (Livro L, T. XVI, 110)


Depositário. Aqueles a quem muitos confiam a mesma coisa sobre a qual há
controvérsia.

Servi (Livro L, T. XVI)


Escravos. Inclui também escrava (40, § 1; 101, § 3).

Servus (Livro L, T. XVI)


Escravo. Etimologicamente significa “conservado”, “poupado” (servare) para
ser vendido (239, § 1); nascido de escravos urbanos é escravo urbano, mesmo se
criado no campo (210).

Servus unicus nec duo (Livro L, T. XVI, 40, § 3)


Um ou dois servos não fazem família.

Si calvitur et moretur, et frustretur (Livro L, T. XVI, 233)


“Se engana, se cria dificuldades e se frustra” indica maneiras de incomodar
com litígios.

Si quis (Livro L, T. XVI)


Se alguém. pode referir-se a ambos os gêneros (1).

Signatorius annulus (Livro L, T. XVI, 74)


Anel-sinete. Não é objeto de adorno.

Silva caedua (Livro L, T. XVI, 30)


Mata de corte. Floresta que pode ser desmatada ou a que renasce de suas cepas.

Sistema eleitoral (Livro I, T. II, 2, § 2)


O primeiro corpo eleitoral foi criado ainda por Rômulo. Eram os comitia
curiata, assembleias constituídas pelas trinta cúrias, em que Rômulo dividira a ci-
dade de Roma, espécie de administrações regionais. À diferença das conciones, reu-
niões eventuais para discussão e deliberação, os comitia eram reuniões ordinárias,
regulares, que se realizavam tradicionalmente no Campus Martius, praça muito
ampla, onde também se faziam exercícios militares.

449
Sistema eleitoral Glossário

Ainda na Monarquia, no reinado de Servius Tulius, os comitia curiata foram


substituídos pelos comitia centuriata, assembleias populares organizadas em colé-
gios eleitorais, cada qual constituído por cem pessoas. Eram ao todo 193 centúrias:
18 de equites (cavaleiros, elite do Exército), 80 de cives (patrícios e cidadãos mais in-
fluentes), divididos em seniores (entre 46 e 60 anos) e juniores (entre 17 e 45 anos),
e 95 centúrias formadas por outras classes sociais inferiores.
Os comitia centuriata eram convocados ocasionalmente como órgão de ape-
lação, uma vez que os cônsules não tinham poder de aplicar pena capital nem de
declarar guerra.
Esse colégio eleitoral funcionou até a ditadura de Sila, em 80 a.C. No Império,
cumpria apenas função formal de ratificar os candidatos do príncipe, que, a partir
de Augusto, intitulava-se Cônsul de Roma, evidentemente perpétuo.
Além dos comitia, os romanos tinham também os concilia ou conciones ple-
bis, assembleias convocadas e presididas pelos tribunos da plebe, por conseguinte,
constituídas só de plebeus. Suas decisões e deliberações, chamadas de plebiscitum
(decreto da plebe), acabaram sendo reconhecidas pelo próprio Senado como leis.
Funcionavam também como órgão de apelação, mas sua jurisdição limitava-se a
causas não capitais.
Havia também os comitia tributa, assembleias constituídas pelas tribos — seg-
mentos sociais integrados por famílias de diversas origens étnicas e culturais —,
que reuniam patrícios, povo e plebeus (Glossário, patricii, populus, plebs). Eram
presididas por cônsules, pretores e edis. Elegiam questores e, na área penal, sua
jurisdição limitava-se a aplicação de multas.
Esse sistema de comitia e conciones foi levado pelos romanos aos territórios
conquistados na Europa, Ásia e África.
Socer ou socrus (Livro L, T. XVI, 146)
Sogro. Compreende também o avô e a avó da esposa ou do marido.
Solutio (Livro L, T. XVI, 176)
Quitação, pagamento. Entende-se também satisdatio (pagamento total da dí-
vida).
Solutus (Livro L, T. XVI, 48)
Livre, solto. Não é quem tem mãos presas e, em lugar público, é custodiado.
Solvendo (Livro L, T. XVI, 114)
Solvente. Só é assim considerado quem pode pagar o total.
Spado (Livro L, T. XVI, 128)
Eunuco. Tem sentido geral, pois inclui, além dos que são assim por natureza, os
castrados e por qualquer outra maneira de sê-lo.

450
Glossário Speciosa

Speciosa (Livro L, T. XVI, 100)


Especial. Diz-se de pessoa ilustre de ambos os sexos.
Sponsio (Livro L, T. XVI, 7)
Compromisso. Não só o que é feito mediante arguição, mas toda promessa e
condição.
Statuae, tabulae, lychni (Livro L, T. XVI, 245)
Estátuas, quadros, luminárias. Não fazem parte da construção.
Stipula illecta (Livro L, T. XVI, 30, § 1)
Espiga não colhida. Espiga colhida por indigentes depois da messe.
Stratura (Livro L, T. XVI, 242, § 4)
Casa de madeira que se arma no inverno e se desmonta no verão.
Stuprum (Livro L, T. XVI)
Estupro. Vide adulterium.
Stratus (Livro L, T. XVI, 5)
Coberto. Tudo que é jogado por cima.
Subsignatum (Livro L, T. XVI, 39)
Subsignado. Equivale a subscrito.
Supremum (Livro L, T. XVI, 92)
Último. Aquilo a que nada segue.
Suum (Livro L, T. XVI, 239, § 9)
Seu. Termo ambíguo: significa o todo ou a parte.
Taberna (Livro L, T. XVI)
Construção útil para moradia, e não por ser feita de tábuas (183). Daí taber-
naculum (tenda) e contubernales (camaradas, que habitam a mesma tenda) (184).
Telum (Livro L, T. XVI, 233, § 2)
Dardo, flecha. O que é atirado por arco.
Territorium (Livro L, T. XVI, 239, § 8)
Território. A totalidade das áreas dentro dos limites de uma cidade.
Tignum (Livro L, T. XVI, 62)
Madeira aparelhada. Toda espécie de madeira usada em construção.
Totum meum est (Livro L, T. XVI, 25)
É toda minha. No caso de nenhuma parte da coisa poder ser dita de alguém.

451
Transacta finitave Glossário

Transacta finitave (Livro L, T. XVI, 229; 230)


Concluídas e encerradas. Indica coisas sobre as quais houve controvérsia.
Tribuno (Livro I, T. II, 2, § 20)
Dos cargos públicos de Roma, o de tribuno, por ser eminentemente político, é
o mais complexo e às vezes obscuro do ponto de vista de suas atribuições ao longo
dos séculos.
Os primeiros tribunos eram militares, espécie de posto imediato ao do dux,
general, na infantaria, e do magister equitum, comandante da cavalaria. Na Mo-
narquia, eram nomeados pelos reis ou eventualmente pelos próprios generais e
comandantes da cavalaria. O nome tribuno vem do fato de serem oriundos das
diversas tribos que formavam o exército romano.
Além desses tribunos originários da plebe, havia o tribuno da cavalaria ligeira
— tribunus celerum —, da classe dos patrícios, que integravam a cavalaria, de 300
cavaleiros, que formava a guarda dos reis de Roma. A designação celeres vem pro-
vavelmente de Celer, o primeiro magister equitum nomeado por Rômulo.
No início da República, os tribunos passaram a ser nomeados pelos cônsules,
mas, a partir de meados do século V a.C., na chamada secessão, em que a plebe
se insurgiu contra a hegemonia do poder do Senado, os plebeus conquistaram o
direito de eleger seus próprios tribunos, de caráter político, e não militar, em con-
traposição aos cônsules, oriundos da classe dos patrícios.
A plebe se organizou com base nas cúrias, administrações descentralizadas
que remontavam ao próprio Rômulo. Os tribunos eram eleitos nos comitia curiata,
sempre em par, à semelhança dos cônsules, para mandato de um ano, que podia
ser prorrogado. Sua função era a defesa da plebe contra decisões dos cônsules e do
Senado que considerassem arbitrárias, situações em que podiam exercer o direito
de veto.
O compromisso do tribuno com a defesa da plebe, não só em termos gerais
como também de indivíduos, era tão exigente, que não lhe era permitido pernoitar
fora de Roma, e a porta de sua casa devia ficar sempre aberta para acesso imediato
de qualquer plebeu que se considerasse injustiçado. Podia, inclusive, processar au-
toridades por abuso de poder e gozava de imunidade pessoal no exercício de suas
funções.
O exercício desses poderes, por sua natureza política, gerava certamente con-
flitos sociais e políticos, razão pela qual o ditador Sila, em 82 a.C., reduziu o poder
dos tribunos, e os imperadores romanos incorporaram a seu cargo tanto as funções
consulares como tribunícias.
O maior mérito do poder tribunício foi o de ter aberto para o plebeu o caminho
para a ascensão social, inclusive ao cargo de cônsul.
Trigemini (Livro L, T. XVI, 137)
Trigêmeos. Tem três partos mãe que dá à luz trigêmeos.

452
Glossário Tugurium

Tugurium (Livro L, T. XVI)


Casebre. Construção que se presta a depósito de coisas rústicas (180); vem de
tego, cobrir, como toga, tegularius (§ 2).
Urbana praedia (Livro L, T. XVI, 198)
Imóveis urbanos. Compreendem todo edifício, inclusive mansões campestres,
pois o que torna um imóvel urbano não é o lugar, mas sua natureza.
Urbs (Livro L, T. XVI)
Refere-se a Roma limitada pelas muralhas (2; 87). Vem de urbo (marcar com
sulcos de arado) (239, § 6).
Usura (Livro L, T. XVI, 121)
Juros. Os que se percebem de dinheiro não fazem parte do usufruto, pois não
procedem da mesma origem.
Uti legassit suae rei, ita ius esto (Livro L, T. XVI, 120)
Do modo como deixou o legado, seja esse o direito. Confere amplíssimo poder
de deixar legados.
Uti optimus maximusque esset (Livro L, T. XVI)
No melhor estado possível. É expressão utilizada na transferência de imóvel
(126; 169; 90).
Venenum (Livro L, T. XVI, 236)
Veneno, droga. Termo de sentido misto, isto é, quem o usa precisa acrescentar-
-lhe bom ou mau sentido.
Venire diem (Livro L, T. XVI)
Chegar o dia. Dia em que se encerra o prazo. Vide cedere diem.
Verba masculina (Livro L, T. XVI, 195)
Termos masculinos. Aplica-se, na linguagem, também ao gênero feminino.
Vestes (Livro L, T. XVI)
Vestes, roupas. Aplica-se tanto a homens quanto a mulheres (127; 43).
Vi (Livro L, T. XVI, 73, § 2)
Fazer à força (vi) o que é proibido.
Via (Livro L, T. XVI, 157, § 1)
Estrada. Significa também senda, rua.

453
Vicesima ou Vincesima Glossário

Vicesima ou Vincesima (Livro I, T. II, 2, § 44)


A vicesima ou vincesima era imposto pago por alforria, de vinte avos do valor
do escravo alforriado. Era chamado também de vicesima libertatis, imposto da li-
berdade. Esse mesmo imposto incidia sobre o total de herança recebida.
Victus (Livro L, T. XVI, 43 e 44)
Sustento. Compreende comida, bebida e cuidados físicos necessários para vi-
ver.
Vidua (Livro L, T. XVI, 242, § 3)
Viúva. Não é só mulher outrora casada, mas também a que não teve marido.
Vinaria (Livro L, T. XVI, 206)
Jarras para guardar vinho. Só têm esse sentido se contiverem vinho.
Vincula (Livro L, T. XVI, 224)
Prisões. Podem ser públicas ou privadas, à diferença de custodia (guarda), que
só é pública.
Virilis (Livro L, T. XVI, 145)
Viril. Usada com o termo hereditas (herança), significa totalidade.
Vitium (Livro L, T. XVI, 101, § 2)
Defeito. Imperfeição perpétua.
Vivens (Livro L, T. XVI, 153)
Vivente. Considera-se como tendo vivido quem foi deixado no útero ao morrer
a mãe.
Vivere (Livro L, T. XVI, 234, § 2)
Viver. Implica alimento e vestuário (T. XVI).

454
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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BAILLY, Anatole et al. Dictionnaire grec-français. Paris: Hachette, 1950.
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SARAIVA, Francisco Rodrigues dos Santos. Novíssimo dicionário latino-português.
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WETTER, Polynice Alfred Henri Van. Pandectes. Paris: Générale du Droit et de
Jurisprudence, 1909.

455
ÍNDICE REMISSIVO

As remissões são feitas com a indicação do livro e do título em algarismo ro-


mano, do item em algarismo arábico e do parágrafo (§). Exemplo: decênviros: Li-
vro I, T. II, 2, § 4. No caso de itens seguidos de um mesmo título, far-se-á uso de
hífen e, se de itens intercalados, de vírgula. Eventualmente, recomenda-se consul-
tar o Glossário.
Ações: quando versam sobre o mesmo assunto, elege-se uma só, Livro L, T. XVII,
43, § 1; quem pode rejeitar pode acolher, Livro L, T. XVII, 102, § 1; não se move
contra escravo, Livro L, T. XVII, 107; não faz diferença não ter ação ou essa ação
ser invalidada por exceção, Livro L, T. XVII, 112; quando são várias sobre a mes-
ma matéria, uma não extingue a outra, Livro L, T. XVII, 130; incluídas em juízo,
resguardadas as prescritas por morte ou decurso de tempo, Livro L, T. XVII, 139;
penais recebidas alcançam herdeiros, Livro L, T. XVII, 164.
Ações da lei: Livro I, T. II, 2, §§ 6, 12, 36.
Ações de empréstimo: julgá-las é da competência de governadores, Livro L, T.
XIII, 1, § 15.
Adoção (arrogação): espécies de, Livro I, T. VII, 1, § 1; ato público, Livro I, T. VII,
2; consentimento das partes, Livro I, T. VII, 2, 5-7; permitida a eunucos, Livro I, T.
VII, 2, § 1; pátrio poder e, Livro I, T. VII, 2, § 2; autoridade competente para, Livro
I, T. VII, 2-3; cego e, Livro I, T. VII, 9; idade mínima para arrogar, Livro I, T. VII,
15, §§ 2-3; de liberto, Livro I, T. VII, 15, § 3; salvaguardas, Livro I, T. VII, 15-19, 24,
40, 41; de pessoa do sexo feminino, Livro I, T. VII, 20-21; parentesco, Livro I, T. VII,
23, 26, 27, 44; e mudez, Livro I, T. VII, 29; permitida a solteiro, Livro I, T. VII, 30;
não pode ser temporária, Livro I, T. VII, 34; não diminui dignidade, Livro I, T. VII,
35; de neto por quem não tem filho, Livro I, T. VII, 37; uma só vez, Livro I, T. VII,
37, § 1; de criança pequena, Livro I, T. VII, 42; de pessoa como filho ou neto, Livro
I, T. VII, 43-44; transfere encargos, Livro I, T. VII, 45.
Advogado: atuante na defesa de causas, presente a ela, Livro L, T. XIII, 1, § 11; valor
lícito de honorários não deve exceder 100 áureos, Livro L, T. XIII, 1, § 12; não se
cobre de herdeiros honorários de advogado morto, Livro L, T. XIII, 1, § 13.
Ajuda de custo: legado que aceita missão não gratuitamente tem direito a, Livro L,
T. VII, 2, § 3; quem tem direito a, Livro L, T. I, 36.

457
Alçada Índice Remissivo

Alçada: juízes municipais podem julgar questão de maior importância, Livro L, T.


I, 28.
Alforria ou manumissão: Livro I, T. I, 4; atribuição de cônsul, Livro I, T. X, 1, §§
1-2.
Alforriado: é munícipe do município de quem o alforriou, Livro L, T. I, 27; em
caso de obscuridade na vontade do alforriador, favoreça-se a liberdade, Livro L, T.
XVII, 179.
Alienação: só ao fisco compete fazer leilões para alienar, Livro L, T. I, 21, § 7; quem
pode alienar contra a vontade de alguém pode fazê-lo sem seu conhecimento e na
sua ausência, Livro L, T. XVII, 26; não aliena quem apenas cede a posse, Livro L, T.
XVII, 119; quem pode alienar pode concordar com a alienação, Livro L, T. XVII,
165.
Ama de leite: o salário é da competência de governadores de província, Livro L,
T. XIII, 1, § 14.
Anos: consideram-se completos apenas começados para efeito de exercício de car-
gos e funções, Livro L, T. IV, 8.
Annona: decurião não se obriga a fornecer trigo por preço inferior ao da colheita,
Livro L, T. I, 8; compra de trigo é função pública, da qual estão isentos maiores de
70 anos e pais de cinco filhos adultos, Livro L, T. IV, 3, § 12.
Aquisição: não adquire quem é afastado da causa, Livro L, T. XVII, 13; não há se o
objeto deve ser restituído, Livro L, T. XVII, 51; não pode ser considerado adquiren-
te quem pode ser afastado da negociação, Livro L, T. XVII, 115, § 1; quem a faz com
autorização judicial é possuidor de boa-fé, Livro L, T. XVII, 137.
Arbítrio: quando se apela para o arbítrio, se exige a escolha de um cidadão hones-
to, Livro L, T. XVII, 22, § 1.
Arrendamentos: não convém tomar como exemplo norma de arrendamentos pos-
teriores a normas que regeram arrendamentos passados, Livro L, T. VIII, 2; con-
sidera-se usurpação fazer em nome de terceiro o que não pode ser feito em nome
próprio, Livro L, T. VIII, 2, § 1; observe-se a boa-fé na taxação de anuidade de
arrendamento rural com base na proporcionalidade da produção, Livro L, T. VIII,
2, § 13; sucessor de arrendatário inadimplente está obrigado a quitar saldo devedor
do arrendamento, Livro L, T. VIII, 3, § 1; não deve ser poupado de processo quem
cauciona com recursos do município, Livro L, T. VIII, 3, § 2.
Assessor: Livro I, T. XXII.

458
458
Índice Remissivo Ausência

Ausência: a ausência por interesse público de quem deixa de comparecer não pode
ser prejudicial nem ao próprio nem a terceiro, Livro L, T. XVII, 140.
Bem: não há penhor, nem depósito, nem compra, nem empréstimo quando o bem
é próprio, Livro L, T. XVII, 45; não se considera perdido se não era possuído, Livro
L, T. XVII, 83; age dolosamente quem reivindica o que haverá de devolver, Livro L,
T. XVII, 173, § 3.
Benefício: só é dado a quem quer, Livro L, T. XVII, 69.
Boa-fé: favorece tanto o possuidor quanto a verdade, Livro L, T. XVII, 136; quem
adquire com autorização judicial é possuidor de boa-fé, Livro L, T. XVII, 137.
Cargos e funções: encargos do munícipe, Livro L, T. I, 1, § 1; intervalos entre man-
datos só são observados com relação ao mesmo cargo, Livro L, T. I, 17, § 3; cargos
não podem ser exercidos pela mesma pessoa em duas cidades, Livro L, T. I, 17, § 4;
simples fato de ser proprietário não basta para se imporem cargos ou funções, Li-
vro L, T. I, 17, § 5; beneficiados com o poslimínio estão sujeitos, mesmo se mora-
dores de outras cidades, Livro L, T. I. 17, § 6; cobrança de tributos não é função vil,
por isso pode ser exercida por decuriões, Livro L, T. I, 17, § 7; alforriado segue a
origem do alforriador, não de quem é legatário, Livro L, T. I. 17, § 8; o adotado se-
gue o avô natural, Livro L, T. I, 17, § 9; acusados de crimes graves não devem ser
admitidos em novos cargos, Livro L, T. I, 17, § 12; continuidade só é concedida a
quem não quer, Livro L, T. I, 17, § 18; libertos estão sujeitos a, no domicílio próprio
e no do patrono, Livro L, T. I, 22, § 2; não pode renunciar à condição de habitante
antes de encerrar exercício de, Livro L, T. I, 34; mulher casada ilegalmente obriga-
-se ao lugar de sua origem, não ao de seu marido, Livro L, T. I, 37, § 2; colonos de-
vem exercer municipais, Livro L, T. I, 38, § 1; mulher casada obriga-se à cidade do
marido e não à cidade de origem dela, Livro L, T. I, 38, § 3; surdos e mudos isen-
tam-se de cargos, não de funções, Livro L, T. II, 7, § 1; duunvirato é cargo privativo
de, Livro L, T. III, 7, § 2; funções civis são patrimoniais e pessoais, Livro L, T. IV, 1;
são patrimoniais, Livro L, T. IV, 1, § 1; são pessoais, Livro L, T. IV, 1, § 2; as funções
pessoais envolvem esforço físico e as patrimoniais, dispêndios, Livro L, T. IV, 1, § 3;
outras funções pessoais, Livro L, T. IV, 1 § 4; quem está sob o pátrio poder pode ter
filho sob seu pátrio poder, Livro L, T. IV, 2; natural de Roma que estabelece domi-
cílio em outro lugar obriga-se a cargos nesse lugar, Livro L, T. IV, 3; militares em
serviço não se obrigam a funções municipais, seus parentes, sim, Livro L, T. IV, 3, §
1; condenado às minas, uma vez reintegrado, está apto para o exercício de cargos
ou funções, Livro L, T. IV, 3, § 2; não se impõe à mulher função que implica esforço
físico, Livro L, T. IV, 3, § 3; pai não tem direito de interceder por filho que não tem
excusa, Livro L, T. IV, 3, § 4; pai preserva sua responsabilidade ao não consentir
com a nomeação de filho em defesa do patrimônio do próprio filho, Livro L, T. IV,

459
Cargos e funções Índice Remissivo

3, § 5; filhos devem aceitar funções para compensar isenção de maiores de 75 anos


e de pais de cinco filhos adultos, Livro L, T. IV, 3, § 6; padrasto não é obrigado a
assumir ônus de enteado, Livro L, T. IV, 3, § 7; libertos devem exercer funções nos
lugares de origem de seus patronos, Livro L, T. IV, 3, § 8; crime de pai não é impe-
dimento para o exercício de cargo pelos filhos, Livro L, T. IV, 3, § 9; menores de 25
anos podem integrar o decemprimato, desde que não sejam militares, Livro L, T.
IC, 3, § 10; cobrança de tributos é função patrimonial, Livro L, T. IV, 3, § 11; com-
pra de trigo é função pública, da qual se isentam maiores de 75 anos e pais de cinco
filhos adultos, Livro L, T. IV, 3, § 12; ônus da hospedagem de militar toca a todos,
mas cada um por sua vez, Livro L, T. IV, 3, § 13; hospedagem é de natureza patri-
monial, Livro L, T. IV, 3, § 14; governador é responsável pela ordem e equidade na
imposição de cargos e funções, Livro L, T. IV, 3, § 15; pai não pode ser responsabi-
lizado, ao mesmo tempo, por funções de dois filhos, Livro L, T. IV, 3, § 16; filho a
quem função ou cargo são impostos deve recebê-los, embora o pai, ainda vivo, te-
nha provido obrigações dessa natureza para outro filho, Livro L, T. IV, 3, § 17; pai
de cinco filhos adultos a quem for imposta a função de construir e reformar obras
não perde isenção com relação a outras funções, Livro L, T. IV, 4; isenção de caren-
tes com relação a cargos e funções não é perpétua, Livro L, T. IV, 4, § 1; pobres estão
isentos de funções e cargos patrimoniais, mas devem prestar serviços, Livro L, T.
IV, 4, § 2; é absolutamente contra o interesse público alistar-se para fugir a funções,
Livro L, T. IV, 4, § 3; armadores e comerciantes de azeite isentam-se por um quin-
quênio, Livro L, T. IV, 5; por determinação imperial, cargos devem ser exercidos
por pessoas abastadas e idôneas, Livro L, T. IV, 6; inadimplentes com o erário não
podem ser convidados para cargos, a menos que saldem a dívida, Livro L, T. IV, 6,
§ 1; quem não tem acusador ou o acusador desiste da ação não pode ser impedido
de exercer cargos, Livro L, T. IV, 6, § 2; cargos podem ser também pessoais ou pa-
trimoniais, Livro L, T. IV, 6, § 3; não abriga isenções exercício de cargos referentes
a patrimônio e contribuições, Livro L, T. IV, 6, § 4; cargos que envolvem patrimônio
são impostos só a proprietários ou a munícipes ou habitantes, Livro L, T. IV, 6, § 5;
réu não pode pretender cargos antes da sentença, Livro L, T. IV, 7; deve ser punido
como usurpador quem se empossou pendente a apelação contra posse do cargo,
Livro L, T. IV, 7, § 1; governador deve obrigar quem, eleito, nega-se a exercer cargo
de magistrado num município, Livro L, T. IV, 9; não se pode impor função a quem
já exerce cargo, mas pode-se impor cargo a quem já exerce função, Livro L, T. IV,
10; os cargos devem ser conferidos na ordem ascendente, Livro L, T. IV, 11; a deter-
minadas pessoas, desde que idôneas, Livro L, T. IV, 11, § 1; em caso de escassez de
pessoal habilitado, infringem-se privilégios de isenção, Livro L, T. IV, 11, § 2; médi-
co pode ser cassado pelo poder que o autorizou, Livro L, T. IV, 11; § 3; professores
primários não gozam de isenções, Livro L, T. IV, 11, § 4; isento de função pública
não pode sê-lo da magistratura, Livro L, T. IV, 12; isenção e imunidade concedidas
a filhos e descendentes restringem-se a membros da família, Livro L, T. IV, 13; fun-

460
Índice Remissivo Cargos e funções

ção pública é a que é exercida na administração pública com gastos, mas sem título
de dignidade, Livro L, T. IV, 14, § 1; manutenção de estradas e contribuições fundi-
árias não são funções pessoais, mas locais, Livro L, T. IV, 14, § 2; no conferimento
de cargos ou funções, deve-se atentar para a pessoa, sua origem, posses e disposi-
ções legais, Livro L, T. IV, 14, § 3; filho de plebeu obriga-se sob a responsabilidade
de quem o nomeou, Livro L, T. IV, 14, § 4; na escolha de titulares de cargos ou
funções, observem-se as normas da escala ascendente, idade e transitoriedade, Li-
vro L, T. IV, 14, § 5; admite-se a recondução na falta de pessoas idôneas, Livro L, T.
IV, 14; § 6; filho coerdeiro não responde por irmão feito decurião pelo pai se outros
cargos lhe tiverem sido conferidos após a morte do pai, se esse lhe deixou bens su-
ficientes, Livro L, T. IV, 15; não se aceite dinheiro para valor estimativo do cargo ou
função, Livro L, T. IV, 16; quem prometeu dinheiro para não exercer cargo, se co-
meçou a pagá-lo, deverá pagá-lo integralmente, Livro L, T. IV, 16, § 1; filho não é
obrigado a caucionar bens públicos em favor do pai, Livro L, T. IV, 16. § 2; ninguém
é obrigado a assumir mais de uma vez a responsabilidade pela coisa pública, Livro
L, T. IV, 16, § 3; não é proibido alguém assumir voluntariamente o sacerdócio de
uma província, Livro L, T. IV, 17; isento de cargo e funções obriga-se a subministrar
despesas de filho sob seu pátrio poder em cargos ou funções que exerce com seu
consentimento, Livro L, T. IV, 17, § 1; as funções civis são pessoais, patrimoniais e
mistas, Livro L, T. IV, 18; são funções pessoais as exercidas com esforço e desgaste
físico, Livro L, T. IV, 18, § 1; função de contador e de questor é considerada pessoal
em algumas cidades, Livro L, T. IV, 18, § 2; são funções pessoais agenciamento de
recrutas e fornecimento de cavalos para transporte, Livro L, T. IV, 18, § 3; é função
pessoal cuidar de transporte da mala postal e do transporte oficial, Livro L, T. IV,
18, § 4; em algumas cidades são função pessoal aquisição de trigo, azeite e aqueci-
mento de banhos públicos, Livro L, T. IV, 18, § 5; supervisionar aquedutos é função
pessoal, Livro L, T. IV, 18, § 6; juiz de paz é função pessoal, assim como de superin-
tendente de construção de estrada, de venda de pão, Livro L, T. IV, 18, § 7; exercem
função pessoal quem cuida do abastecimento de víveres e coleta de impostos, Livro
L, T. IV, 18, § 8; curador da renda da cidade exerce função pessoal, Livro L, T. IV,
18, § 9; exercem função pessoal administradores de edifícios, arquivistas, ama-
nuenses, notário, inspetor de portos, supervisor de construção e restauração de
vias, palácios, obras navais, albergues e naves, Livro L, T. IV, 18, § 10; exercem fun-
ção pessoal legados enviados à corte imperial, como também comandantes de
guardas noturnas e supervisores de moleiros, Livro L, T. IV, 18, § 12; exercem fun-
ção pessoal os defensores públicos, Livro L, T. IV, 18, § 13; a obrigação de julgar
inclui-se entre as funções pessoais, Livro L, T. IV, 18, § 14; exerce função pessoal
quem é eleito para obrigar proprietários a calçar rua, Livro L, T. IV, 18, § 15; exerce
função pessoal recebedor de declarações censitárias, Livro L, T. IV, 18, § 16; masti-
gófaros (vide nota do texto) e escrivães de magistrados exercem função pessoal,
Livro L, T. IV, 18, § 17; funções patrimoniais exercem-se com gastos e riscos, Livro

461
Cargos e funções Índice Remissivo

L, T. IV, 18, § 18; entre os alexandrinos, a compra de azeite e hortaliças é função


pessoal, Livro L, T. IV, 18, § 19; atacadistas de vinho na África exercem função pa-
trimonial, Livro L, T. IV, 18, § 20; funções patrimoniais são de duas espécies: im-
postas em razão de posse ou de patrimônio, Livro L, T. IV, 18, § 21; quem não é nem
munícipe nem habitante de um município é obrigado a exercer funções de patri-
mônio, Livro L, T. IV, 18 § 22; não se isentam de funções patrimoniais primipili os
veteranos, o militar e o pontífice, Livro L, T. IV, 18, § 24; chama-se taxa de proprie-
dade o fornecimento de certa quantidade de trigo proporcional à dimensão da pro-
priedade, Livro L, T. IV, 18, § 25; são funções mistas as dos dez e dos vinte primei-
ros conselheiros ao cobrar tributos, Livro L, T. IV, 18, § 26; quem desempenha
função pessoal, mas faz despesas de seu próprio bolso ou responde pela falta de
produção de víveres, exerce função mista, Livro L, T. IV, 18, § 27; quem obteve
isenção só de funções pessoais e civis não se isenta, se não for soldado ou veterano,
de outras funções, da annona, transporte etc., Livro L, T. IV, 18, § 29; mestres que
têm isenção de funções civis, bem como gramáticos etc., estão dispensados de dar
hospedagem, Livro L, T. IV, 18, § 30.
Casa: ninguém pode ser dela retirado à força, Livro L, T. XVII, 103.
Caução: responsabilidade de sucessor não obriga fiador, Livro L, T. I, 17, § 14; fia-
dores do patrimônio público e quem nomeia por sua responsabilidade não estão
sujeitos a ações penais, mas ao ressarcimento, Livro L, T. I, 17, § 15; obriga-se pai
que emancipou filho com a intenção de escapar a, Livro L, T. I, 38, § 4; exercício
da magistratura, voluntária ou não, sujeita-se a caução, Livro L, T. I, 38, § 6. É mais
comum com relação a bens, Livro L, T. XVII, 25.
Causa: Para conhecimento, recorra-se ao pretor, Livro L, T. XVII, 105; quando a
principal não subsiste, tampouco a que dela decorre, Livro L, T. XVII, 129, § 1,
Livro L, T. XVII, 178; nas penais, siga-se a interpretação mais benigna, Livro L, T.
XVII, 155, § 2.
Censo: Falhas de censo anterior corrigem-se com novas declarações, Livro L, T.
XV, 2; tendo em vista a tributação por idade, é preciso declarar-se a idade ao censo,
Livro L, T. XV, 3; registrem-se, no formulário do censo, todos os detalhes do imó-
vel rural com relação à produção, Livro L, T. XV, 4; o recenseador deve observar a
equidade, levando em conta frustrações de produção por casos fortuitos, Livro L,
T. XV, 4, § 1; a declaração se faça no município onde se situa a propriedade, Livro
L, T. XV, 4, § 2; benefícios, quando concedidos a alguns lugares, de maneira geral,
devem sê-lo de modo que sejam repassados aos pósteros, Livro L, T. XV, 4, § 3; se
declarei imóvel que é meu, cabe a quem o reclamar mover a ação, Livro L, T. XV,
4, § 4; declaração deve mencionar, com relação a escravos, sua etnia, idade, ofício,
aptidões, Livro L, T. XV, 4, § 5; lagos piscosos e portos devem ser declarados, Livro

462
Índice Remissivo Censo

L, T. XV, 4, § 6; salinas devem ser declaradas, Livro L, T. XV, 4, § 7; quem não se


declara arrendatário ou rendeiro responde pela totalidade do tributo, Livro L, T.
XV, 4, § 8; o que nascer ou for adquirido após a declaração pode ser aditado com
declarações antes de encerrado o censo, Livro L, T. XV, 4, § 9; retificação conside-
rada posteriormente como desnecessária não causa prejuízo ao declarante, Livro L,
T. XV, 4, § 10.
Censor: Livro I, T. II, 2, § 17.
Cidadão romano: todos os habitantes do Império, Livro I, T. V, 17.
Coisa julgada: deve ser aceita como a verdade, Livro L, T. XVII, 207.
Coisas: públicas e privadas, Livro I, T. VIII, 1; de direito divino, Livro I, T. VIII,
1; comuns, Livro I, T. VIII, 2, 3-5; materiais e imateriais, Livro I, T. VIII, 1, § 1;
sagradas, pias e santas, Livro I, T. VIII, 6, § 2; sagradas, Livro I, T. VIII, 6, §§ 3-5;
invioláveis, Livro I, T. VIII, 8, 9, §§ 3-4, 11.
Colégio dos pontífices: Livro I, T. II, 2, § 6.
Competência de governadores de província: compete a governadores de província
tratar de remuneração de professores de disciplinas liberais, Livro L, T. XIII, 1; de
médicos, Livro L, T. XIII, 1, § 1; de parteiras, Livro L, T. XIII, 1, § 2; de profissionais
da medicina alternativa, menos de charlatães, Livro L, T. XIII, 1, § 3; não de filóso-
fos, por não se tratar de trabalho mercenário, Livro L, T. XIII, 1, § 4; pela mesma
razão, de professores de direito civil, Livro L, T. XIII, 1, § 5; de mestres-sala, escri-
turários, notários, contadores, Livro L, T. XIII, 1, § 6; não compete a governadores
de província tratar de remuneração de operários e artesãos; compete-lhes atender a
reivindicações de assessores, Livro L, T. XIII, 1, § 8; compete-lhes também acolher
recursos contra advogados, Livro L, T. XIII, 1, § 9; quanto a honorários advocatí-
cios, o juiz leve em consideração vários fatores, contanto que não excedam o que
é lícito, Livro L, T. XIII, 1, § 10; compete-lhe também julgar ações de empréstimo,
Livro L, T. XIII, 1, § 15; ações de uso de água, canais novos de irrigação, posse de
equinos e suas crias, distribuição de escravos, Livro L, T. XIII, 2; punição de médico
por aplicar remédios errados para constranger paciente à venda de seus bens, Livro
L, T. XIII, 3; costumam julgar questões de corretagem, Livro L, T. XIV, 3.
Comprador: tem os mesmos direitos do vendedor, Livro L, T. XVII, 156, § 3.
Compromissos: quem demora a executar obra prometida está sujeito a juros, Li-
vro L, T. XII, 1; compromisso só obriga quando o motivo é de cargo conferido ou
a ser conferido, Livro L, T. XII, 1, § 1; mesmo se prometeu sem motivo, obriga-se a
concluí-la se iniciou a obra, Livro L, T. XII, 1, § 2; considera-se iniciada obra cujos
fundamentos foram lançados, a área tiver sido limpa, a área tenha sido cedida e

463
Compromissos Índice Remissivo

depositados no local materiais e equipamentos, Livro L, T. XII, 1, § 3; considera-se


também iniciada obra começada pelo município, confiante na promessa do pro-
mitente, T. XII, 1, §§ 4-5; dano causado por caso fortuito não é da responsabili-
dade de quem entrega obra concluída às suas custas, Livro L, T. XII, 1, § 6; quem
promete, em razão de voto, obriga-se pelo voto, Livro L, T. XII, 2; obrigam-se pelo
voto de pais de família púberes de direito próprio, não filho de família ou escravo
sem autorização do pai ou senhor, Livro L, T. XII, 2, § 1; herdeiro é obrigado por
testamenteiro que deixou comprometida por voto a décima parte de seus bens,
Livro L, T. XII, 2, § 2; compromisso é promessa exclusiva de quem o assume, daí
obrigar em caso de cargo ou do fato de obra começada, Livro L, T. XII, 3; entregue
a obra, não há como reavê-la e, no caso, os munícipes têm direito de mover ação,
Livro L, T. XII, 3, § 1; obriga-se quem se compromete a fazer algo por causa de
incêndio, terremoto ou alguma calamidade, Livro L, T. XII, 4; promessa feita por
carta não obriga, Livro L, T. XII, 5; admite-se a redução do prometido com relação
aos herdeiros, dado que não se trata de questão de cargo, Livro L, T. XII, 6; quem
se compromete com dinheiro em razão de cargo e começou a desembolsá-lo está
obrigado como se tivesse começado a obra, Livro L, T. XII, 6, § 1; não só homens,
mas também mulheres se obrigam a compromissos, Livro L, T. XII, 6, § 2; não
há obrigação de obedecer à imposição pelo município de se erigir estátua ao im-
perador se antes não houve promessa, Livro L, T. XII, 6, § 3; em caso de sinistro,
obriga-se a fazer a obra quem a prometeu, mesmo que não a tenha começado, Livro
L, T. XII, 7; magistrados devem atender aos municípios em suas reivindicações de
realização de obras prometidas, inclusive decretando a indisponibilidade dos bens
do promitente no território do município em causa, Livro L, T. XII, 8; herdeiro
estranho, como os demais estranhos, obrigam-se à promessa do falecido por moti-
vo de cargo com percentuais diferentes, Livro L, T. XII, 9; condições estabelecidas
para o cumprimento de uma promessa devem ser observadas, Livro L, T. XII, 10;
herdeiros não se obrigam a promessa em razão de cargo de quem morreu antes de
assumi-lo, a menos que a obra tenha sido começada, Livro L, T. XII, 11; em obras
particulares não se podem erigir estátuas a outros contra a vontade de quem as fez,
Livro L, T. XII, 12; quem tiver prometido fazer obra para eximir-se do exercício
de um cargo deve não só ser obrigado a exercê-lo como a fazer a obra, Livro L, T.
XII, 12, § 1; quem tiver prometido fazer obra em razão de cargo deve ser obrigado
a fazê-la, e não a dar dinheiro no lugar delas, Livro L, T. XII, 13; condições de do-
ações aos municípios só são válidas se forem do interesse público, Livro L, T. XII,
13, § 1; herdeiro, inclusive estranho, obriga-se à promessa do falecido de fazer obra
em razão de cargo, Livro L, T. XII, 14; entre os filhos inclui-se também neto havido
de filha, Livro L, T. XII, 15.
Condenar: quem pode condenar pode absolver, Livro L, T. XVII, 37; é intransferí-
vel o poder de condenar à morte ou impor outra pena, Livro L, T. XVII, 70.

464
Índice Remissivo Condição

Condição: quem pode fazer que se cumpra pode cumpri-la, Livro L, T. XVII, 174.
Confissão: quem se cala não confessa, mas é certo que não nega, Livro L, T. XVII,
142.
Conjunção: se os termos não são conjuntivos, basta fazer uma ou outra coisa, Livro
L, T. XVII, 110, § 3; na união conjugal, deve-se observar não só o que é lícito, mas
também o que é honesto, Livro L, T. XVII, 197.
Consentimento: nada é tão contrário quanto a violência e o medo, Livro L, T. XVII,
116; quem erra não parece consentir, Livro L, T. XVII, 116, § 2.
Consequências: é natural sofrer consequências negativas de algo vantajoso, Livro
L, T. XVII, 10.
Cônsul: Livro I, T. II, 2, § 16; cônsules plebeus, Livro I, T. II, 2, § 26; preside a eman-
cipações e adoções, Livro I, T. VII, 3; funções do, Livro I, T. X.
Contrato: uns contemplam o dolo; outros, a culpa, Livro L, T. XVII, 23; deve ser
cumprido, Livro L, T. XVII, 34; entre particulares não derroga direito público, Li-
vro L, T. XVII, 45, § 1; considera-se o tempo da celebração, Livro L, T. XVII, 144,
§ 1; obriga herdeiros, Livro L, T. XVII, 152, § 3; da maneira que obrigam liberam,
Livro L, T. XVII, 153.
Corretor: tem direito a remuneração, Livro L, T. XIV, 1; não pode ser responsabi-
lizado como ordenador, Livro L, T. XIV, 2.
Costumes: melhor intérprete da lei, Livro I, T. III, 37-39.
Credor: nenhum age dolosamente por receber o que é seu, Livro L, T. XVII, 129; só
é prejudicado quando o devedor tem seus bens diminuídos, Livro L, T. XVII, 134;
se permite a venda do bem, perde o penhor, Livro L, T. XVII, 158.
Crime: ninguém melhora sua condição pelo cometimento de, Livro L, T. XVII,
134, § 1; avaliação de crime passado não é agravada por fato posterior, Livro L, T.
XVII, 138, § 1.
Dação: não se considera dado o que recebido; não se torna propriedade de quem o
recebe, Livro L, T. XVII, 167.
Dano: ao fazer o que não tinha direito de fazer, Livro L, T. XVII, 151; só o que é
expresso prejudica, Livro L, T. XVII, 195; ninguém deve queixar-se de dano sofrido
por sua própria culpa, Livro L, T. XVII, 203.
Decênviros: Lei das XII Tábuas; Livro I, T. II, 2, §§ 4, 24, 29.

465
Decurião Índice Remissivo

Decurião: filho de família nomeado decurião com consentimento do pai tem o pai
como fiador nato, Livro L, T. I, 2, § 1-6; princípios a seguir na recondução, Livro L,
T. I, 15; quem adota assume os ônus, Livro L, T. I, 21, § 3; fiança por criança feita
decurião só obriga no futuro, Livro L, T. I, 21, § 6; quem volta de desterro nem
sempre é impedido de voltar ao cargo, Livro L, T. II, 2; de volta após afastamento,
mantém direitos e condições, Livro L, T. II, 2, § 1; quem é filho de e condições, Li-
vro L, T. II, 2, §§ 2-6; delito de pai não alcança filho decurião, Livro L, T. II, 2, § 7; é
vedado impor cargo a maiores de 55 anos, Livro L, T. II, 2, § 8; maiores de 55 anos
não se isentam de cargos, Livro L, T. II, 2, § 8; punido com desterro, em razão da
benignidade da sentença, deve abster-se da recondução, Livro L, T. II, 3; se apenas
afastado por motivo injusto, não perde direitos, Livro L, T, II, 3, § 1; filhos natu-
rais, na falta de legítimos, podem ser, Livro L, T. II, 3, § 2; judeus podem ser, mas
sem obrigações que constranjam seus princípios, Livro L, T. II, 3, § 3; pode manter
arrendamento se recebido por sucessão, Livro L, T. II, 4; punido por crime que im-
plica infâmia é definitivamente afastado, Livro L, T. II, 5; nascido de incesto pode
ser, Livro L, T. II, 6; não tem direito a voto menor de 25 anos, Livro L, T. II, 6, § 1;
não pode ser cobrador de impostos em sua cidade, Livro L, T. II, 6, § 2; não pode
ser quem comete crime de ignomínia de retirar ação antes da sentença, Livro L, T.
II, 6, § 3; pai que apela contra eleição de filho não será responsabilizado como seu
fiador, Livro L, T. II, 6, § 4; ordem de precedência na emissão de votos, Livro L, T.
II, 6, § 5; pai só pode contestar eleição de filho se diante de autoridade competente,
Livro L, T. II, 7, § 3; pode receber pensão por pobreza, Livro L, T. II, 8; filho de es-
cravo, mas de mãe livre pode ser, Livro L, T. II, 9; armadores não podem ser, Livro
L, T. II, 9, § 1; só é legítimo se nomeado conforme a lei, Livro L, T. II, 10; cargo é
vedado a crianças e idosos, Livro L, T. II, 11; negociantes e comerciantes varejistas
podem aspirar a, mesmo se punidos por edis, Livro L, T. II, 12; desterrados tempo-
rariamente não podem ser reconduzidos sem a permissão do imperador, Livro L, T.
II, 13; após cumprimento da pena, não podem ser eleitos se, antes do desterro, não
oferecessem as condições necessárias, Livro L, T. II, 13, § 1; não podem ser privados
de ser eleitos por terem nascido no desterro, Livro L, T. II, 13, § 2; contestar eleição
só no início do processo, Livro L, T. II, 13, § 3; não podem ser submetidos a tortura,
Livro L, T. II, 14; inscrição no registro deve ser feita segundo a lei e na ordem de
precedência, Livro L, T. III, 1; observância de normas na emissão de votos, Livro
L, T. III, 1, § 1; no registro municipal, siga-se a precedência de nomeação pelo im-
perador ao exercício de cargos municipais, Livro L, T. III, 2; não deve ser obrigado
a vender trigo por preço inferior ao de mercado, Livro L, T. VIII, 5; compete aos
decuriões a seleção de médicos, Livro L, T. IX, 1; decretos de decurião só têm vali-
dade se baixados com quórum legal, Livro L, T. IX, 2; colegiado não pode reunir-se
com menos de dois terços de seus membros, Livro L, T. IX, 3; decretos de decuriões
que pecam por liberalidade devem ser revogados, Livro L, T. IX, 4; decreto que vota
salário em benefício de alguém nem sempre é inválido, Livro L, T. IX, 4, § 2; não

466
Índice Remissivo Decurião

convém anular decreto de decurião se o motivo não for a utilidade pública, Livro
L, T. IX, 5; quem faz julgamento fora do conselho deve ser afastado e multado com
mil dracmas, Livro L, T. IX, 6.
Defesa: não o faz quem se ausenta ou, se presente, nega-se a se defender, Livro L,
T. XVII, 52; ninguém é obrigado a defender uma causa contra a sua vontade, Livro
L, T. XVII, 156.
Deficiência física e deformidade: diferenciação, Livro I, T. V, 14.
Definição: no direito civil, toda definição é perigosa, Livro L, T. XVII, 202.
Delegação: delega quem não impede que algo seja feito a seu favor, Livro L, T.
XVII, 60.
Desapropriação: o que é desapropriado pela justiça não faz parte dos bens, Livro
L, T. XVII, 190.
Desfazimento: as coisas se desfazem do mesmo modo como são feitas, Livro L, T.
XVII, 35.
Desonestidade: não pode ser acusado de desonestidade quem não sabe quanto
deve pagar, Livro L, T. XVII, 99.
Despojo: despoja quem manda despojar, Livro L, T. XVII, 152, § 1.
Desterrado: tem domicílio no lugar para onde foi desterrado, Livro L, T. I, 22, § 3;
tem bloqueados só os bens referentes ao fisco, Livro L, T. XVII, 97.
Devedor: não deve ser despojado de todos os seus bens para não se tornar indigen-
te, Livro L, T. XVII, 173.
Direito: definição de, Livro I, T. I, 1; preceitos, Livro I, T. I, 10, § 1; modos de ex-
pressão, Livro I, T. I, 11; de cognação e afinidade, Livro I, T. I, 12; das gentes, Livro I,
T. I, 1, § 4; público e privado, Livro I, T. I, 1, § 2; natural, Livro I, T. I, 1, §§ 3-4; civil,
Livro I, T. I, 6-9, 11; escrito e não escrito, Livro I, T. I, 6, § 1; pretoriano, Livro I, T.
I, 7, § 1, 11; Livro I, T. II, 2, §§ 10 e 12; flaviano, Livro I, T. II, 2, § 7; papiriano, Livro
I, T. II, 2, § 2; eliano, Livro I, T. II, 2, § 7; monárquico, Livro I, T. II, 2, § 11; origem e
evolução do, Livro I, T. II, 2, §§ 1-13; primeira organização por ramos, Livro I, T. II,
2, § 41; só se inova por utilidade pública, Livro I, T. IV, 2. Direito público não pode
ser alterado por pacto, Livro L, T. VIII, 2, § 8.
Direito de imunidade ou isenção: só o fato de estar embarcado não gera direi-
to a isenção, Livro L, T. VI, 1; isenções concedidas a pessoas não se transferem a
herdeiros, Livro L, T. VI, 1, § 1; as que se transferem a descendentes não alcançam

467
Direito de imunidade ou isenção Índice Remissivo

os da linhagem feminina, Livro L, T. VI, 1, § 2; deve-se respeitar a condição sob a


qual alguém se obrigou a cargo, Livro L, T. VI, 2; impúberes não devem ser admi-
tidos a cargo mesmo na falta de pessoas aptas, Livro L, T. VI, 2, § 1; maiores de 70
anos estão isentos de tutelas e funções pessoais, mas só se considera septuagenário
quem tem 70 anos completos, Livro L, T. VI, 3; isenções conferidas com direito de
sucessão valem perpetuamente para todos os sucessores, Livro L, T. VI, 4; quem
se torna rico na velhice não goza dos benefícios da idade, desde que a função não
envolva esforço físico, Livro L, T. VI, 5; nas legislações locais, há de se atentar para
a menção de anos para exercício de funções, Livro L, T. VI, 5, § 1; varia muito e
não é taxativo o número de filhos para isenção das funções municipais, Livro L,
T. VI, 5, § 2; negociantes e armadores que prestam serviço à annona gozam de
isenção de funções públicas enquanto prestam esses serviços, Livro L, T. VI, 5, § 3;
a isenção concedida a armadores não se estende a filhos e libertos, Livro L, T. VI,
5, § 4; só naves marítimas que prestam serviços à annona gozam de isenção, Livro
L, T. VI, 5, § 5; quem não tem navios, mesmo que pertença à classe de marítimos,
não goza de isenção, Livro L, T. VI, 5, § 6; obriga-se ao exercício de cargos quem
já foi convocado para funções municipais antes de ser negociante, de ser membro
de associação que goze de isenção, de completar 70 anos, de exercer o magistério
e de ter filhos, Livro L, T. VI, 5, § 7; negociante que não aumenta seu capital de-
pois de se enriquecer e ricos que investem em pequenas embarcações para fugir às
funções públicas delas não se isentam, Livro L, T. VI, 5, § 8; deve ser investigada
a situação de quem se faz armador só para fugir à função pública, Livro L, T. VI,
5, § 9; arrendatários de tributos isentam-se de funções públicas, Livro L, T. VI, 5,
§ 10; isentam-se de funções municipais colonos ou lavradores, Livro L, T. VI, 5,
§ 11; membros de associações e corporações gozam de isenção dentro de determi-
nadas normas, Livro L, T. VI, 5, § 12; armador membro de associação isenta-se,
mas, se aceitar cargo de decurião, perde isenção de funções públicas, Livro L, T. VI,
5, § 13; funções de exercício mais penoso, como as de medidores de trigo, seus au-
xiliares, enfermeiros, médicos, entre outras, estão entre as isentas, Livro L, T. VI, 6.
Direito itálico: gozam de direito itálico: a colônia de Berito, Livro L, T. XV, 1, § 1;
Heliópolis, Livro L, T. XV, 1, § 2; Laodiceia, Livro L, T. XV, 1, § 3; Emessa, Livro L,
T. XV, 1, § 4; Palmirena, Livro L, T. XV, 1, § 5; Zerna, Livro L, T. XV, 1, § 8; Zarmi-
zegetusa, Naposa, Apuleia, Pádua, Livro L, T. XV, 1, § 9; Apamena e Sinope, Livro L,
T. XV, 1, § 10; Selino e Trajanópolis, Livro L, T. XV, 1, § 11; Filipos, Livro L, T. XV, 6;
Troia, Berito, Dirráquio, Livro L, T. XV, 7; Pax Julia, Emerita; Valência, Barcelona,
Livro L, T. XV, 8; Lião e Viena, Livro L, T. XV, 8, § 1; Agripina, Livro L, T. XV, 8,
§ 2; Laodiceia e Berito, Livro L, T. XV, 8, § 3; Tiro, Livro L, T. XV, 8, § 4; Emessa,
Livro L, T. XV, 8, § 6; Dirráquio, Filipos, Stobos, Livro L, T. XV, 8, § 8; Troia e Pário,
Livro L, T. XV, 8, § 9; Antioquia, Livro L, T. XV, 8, § 10; Cartago, Útica e Magna
Léptis, Livro L, T. XV, 8, § 11. São apenas colônias: Ptolomaide, Livro L, T. XV, 1,

468
Índice Remissivo Direito itálico

§ 3; Cesareia e Élia Capitolina, Livro L, T. XV, 1, § 6; Antioquia, Livro L, T. XV, 8,


§ 5; direito de sangue não é anulado por direito civil, Livro L, T. XVII, 8; não se
transfere o que não se tem, Livro L, T. XVII, 54; não age dolosamente quem faz uso
do seu, Livro L, T. XVII, 55; o limite do meu é o de terceiros, Livro L, T. XVII, 61;
ninguém pode, por pacto em contrato, ser onerado por terceiros, Livro L, T. XVII,
73, § 4; Livro L, T. XVII, 74; o gênero é derrogado pela espécie, Livro L, T. XVII, 80;
o que se insere nos contratos para eliminar dívidas não prejudica o direito comum,
Livro L, T. XVII, 81; contestar é melhor que não contestar, Livro L, T. XVII, 86-87;
o acordado em direito se desfaz pelo direito contrário, Livro L, T. XVII, 100; não se
engana quem se atém ao direito público, Livro L, T. XVII, 116, § 1; o que se admite
contra a razão de direito não se estende às consequências, Livro L, T. XVII, 141; não
age pela força quem faz uso do seu direito, Livro L, T. XVII, 155, § 1; legatário de
um imóvel não pode ter mais do que o herdeiro e o próprio testador vivo, Livro L,
T. XVII, 160, § 2; considera-se cumprida condição que, por interesse de alguém, é
posta para que não se cumpra, Livro L, T. XVII, 161; ninguém pode ter mais direi-
tos que os de quem lhos transferiu, Livro L, T. XVII, 175, § 1.
Dispensas e isenções: liberto não tem direito a, por causa do patrono, Livro L, T.
I, 17; libertos que administram negócios de seus patronos são isentos, Livro L, T.
I, 17, § 1.
Ditador: Livro I, T. II, 2, §§ 18-19.
Doação: o que é dado conscientemente, Livro L, T. XVII, 53; o que é dado sem
obrigação de direito, Livro L, T. XVII, 82; quem pode doar pode vender e conceder,
Livro L, T. XVII, 163; para quem não pode doar sua concordância é inválida, Livro
L, T. XVII, 165.
Documento: erro de forma não inválida, Livro I, T. V, 8. O que excede não costuma
viciar, Livro I, T. XVII, § 4.
Domicílio: do filho de família, Livro L, T. I, 3-4; de quem tem negócios em muitos
lugares, Livro L, T. I, 5; o filho acompanha a origem, não o domicílio do pai, Livro
L, T. I, 6, § 1; é possível ter dois, Livro L, T. I, 6, § 2; liberto segue o do patrono, Livro
L, T. I, 6, § 3; simples posse de uma casa não faz, Livro L, T. I, 17, § 13; transfere-se
de fato, não por simples declaração, Livro L, T. I, 20; de filhos de liberto e de liberta
segue domicílio do liberto paterno ou do senhor que alforria, Livro L, T. I, 22; viúva
mantém o do marido falecido se não contrai novas núpcias, Livro L, T. I, 22, § 1;
libertos são munícipes de onde têm domicílio, Livro L, T. I, 22, § 2; o desterrado
tem no lugar do desterro, Livro L, T. I, 22, § 3; senadores mantêm o de Roma, além
do próprio, T. I, 22, § 6; militar o tem onde vive, Livro L, T. I, 23, § 1; domicílio não
é moradia, mas lugar de atividades cidadãs, Livro L, T. I, 27, § 1; domicílio é mais
questão de escolha, Livro L, T. I, 27, § 2; desterrado pode ter como domicílio o lugar

469
Domicílio Índice Remissivo

de onde foi desterrado, Livro L, T. I, 27, § 3; é livre, desde que não interdito, Livro L,
T. I, 31; natural de Roma que estabelece domicílio em outro lugar obriga-se a cargo
nesse lugar, Livro L, T. IV, 3.
Dote: faz parte dos bens do marido enquanto dura o casamento, mas não pode ser
usado para exercício de cargos, Livro L, T. I, 21, § 4; em casos ambíguos, decide-se
em favor do, Livro L, T. XVII, 85.
Duunvirato: cargo privativo de decurião, Livro L, T. II, 7, § 2.
Dúvida: nas coisas obscuras, sigam-se as menos obscuras, Livro L, T. XVII, 9; na
dúvida, é mais justo e mais seguro seguir a interpretação mais benigna, Livro L, T.
XVII, 56; Livro L, T. XVII, 192, § 1.
Edil: Livro I, T. II, 2, § 21; edis curuis, Livro I, T. II, 2, §§ 26 e 32-34.
Edito: Livro I, T. II, 2, §§ 10, 12 e 44; perpétuo, Livro I, T. V, 2. Quem faz o proibido
por um pretor age contra seu edito, Livro L, T. XVII, 102.
Edital: não equivale a decreto, Livro I, T. XVI, 9, § 1.
Emancipação: não pode ser exigida nem forçada, Livro I, T. VII, 31-33.
Empréstimo: é pior a situação de quem pede, Livro L, T. XVII, 33.
Erário: restituição em dobro do valor de imóvel vendido fraudulentamente, Livro
L, T. I, 15, § 2; obriga-se a restituir quem tiver sido oficialmente designado, mesmo
se na época estivesse sob o poder de outrem, Livro L, T. I, 21; indicação de respon-
sabilidade por crédito público, Livro L, T. I, 36, § 1.
Escravidão: instituída pelo direito das gentes, Livro I, T. I, 4; Livro I, T. V, 4, § 1;
etimologia de servus (escravo), Livro I, T. V, 5, §§ 1-3; servos e livres, Livro I, T. V,
5; como alguém se torna escravo, Livro I, T. V, 5, § 1; não pode processar o senhor,
Livro I, T. XII, 1, § 8; escravo absolvido de pena capital permanece escravo, Livro I,
T. V, 13; sob o poder alheio, Livro I, T. VI, 1, § 1; mitigação sob o direito romano,
Livro I, T. VI, 1, § 2.
Escravo: inexiste para o direito civil, Livro L, T. XVII, 32; não pode possuir por
usucapião, Livro L, T. XVII, 118; nossa situação pode tornar-se melhor com, Livro
L, T. XVII, 133; o que faz na condição de escravo não o beneficia após tornar-se
liberto, Livro L, T. XVII, 146; isenta-se de responsabilidade de coisas que não en-
volvam crime ou atrocidade se age por obediência, Livro L, T. XVII, 157; não pode
exercer funções de pessoas livres, Livro L, T. XVII, 175; é uma espécie de morte,
Livro L, T. XVII, 209; não pode ser declarado ausente no interesse público, Livro L,
T. XVII, 211; sobre o escravo não recai obrigação, Livro L, T. XVII, 22.

470
Índice Remissivo Falsidade ideológica

Falsidade ideológica: Livro I, T. XIV, 3.


Fato: nem pactos nem contratos podem eliminar o fato, Livro L, T. XVII, 31.
Feiras: perde o direito quem delas não faz uso por um decênio, Livro L, T. XI, 1;
os próprios produtores rurais não devem ser transportadores e intermediários da
venda de seus produtos, Livro L, T. XI, 2.
Feito: deve prejudicar quem o fez, não o adversário, Livro L, T. XVII, 155; o que é
feito a favor não pode ser imposto, Livro L, T. XVII, 156, § 4.
Férias latinas: Livro I, T. II, 2, § 33.
Ficha limpa: acusados de crimes graves não devem ser admitidos em cargos novos,
Livro L, T. I, 17, § 12; não deve aspirar a cargos quem é indiciado por crime grave
enquanto pendente o julgamento, Livro L, T. I, 21, § 5; réu não pode pretender car-
gos antes da sentença, Livro L, T. IV, 7.
Filhos: entre filhos inclui-se também neto havido de filha, Livro L, T. XII, 15; não
morre sem filhos quem deixa esposa grávida, Livro L, T. XVII, 187.
Filiação: filho legítimo segue o pai, ilegítimo, a mãe, Livro I, T. V, 19; filho natural,
Livro I, T. V, 23; nascido fora do matrimônio segue condição da mãe, Livro I, T. V,
24; liberto não se torna livre por adoção, Livro I, T. V, 27; filiação por adoção, Livro
I, T. VII, 1; nascido sem a habitual forma humana não é filho, Livro I, T. V, 14.
Filósofos: não são professores, pois devem rejeitar trabalho mercenário, Livro L,
T. XIII, 1, § 4.
Fisco: nenhuma cidade tem privilégio acima do fisco sobre bens de devedor, Livro
L, T. I, 10.
Força: tudo o que é feito pela força é crime de violência, Livro L, T. XVII, 152.
Foro: comportamento no, Livro I, T. II, 1.
Fraude: no direito civil, busca-se, no resultado, não só a interpretação como a in-
tenção, Livro L, T. XVII, 79; não se frauda a quem sabe e consente, Livro L, T. XVII,
145.
Generalidades: as coisas especiais estão contidas nas gerais, Livro L, T. XVII, 147.
Gestão pública: conceito de, Livro L, T. I, 2, § 1.
Governador: o que é, Livro I, T. XVIII, 1; preside a adoções e emancipações, Livro
I, T. XVIII, 2; limites de jurisdição, Livro I, T. XVIII, 3; não pode ser tutor nem juiz

471
Governador Índice Remissivo

especial, Livro I, T. XVIII, 5; responsável pela equidade pública, Livro I, T. XVIII,


6; tem poder capital, Livro I, T. XVIII, 6, § 8; responsável pela urbanização, Livro I,
T. XVIII, 7; pode designar juiz, Livro I, T. XVIII, 8-9; exerce, na província, os mes-
mos poderes que os magistrados em Roma, Livro I, T. XVIII, 10-11; responsável
pela ordem e segurança públicas, Livro I, T. XVIII, 13; jurisdição sobre crimes de
alienados mentais, Livro I, T. XVIII, 13, § 1, e 14; obrigação de domicílio, Livro I, T.
XVIII, 15; sanação de atos jurídicos, Livro I, T. XVIII, 17; normas para recebimento
de presentes, Livro I, T. XVIII, 18; preservação da autoridade e dignidade do cargo,
Livro I, T. XVIII, 19; punição da corrupção, Livro I, XVIII, 21; é de sua competên-
cia conhecer direito de todo habitante da cidade, Livro L, T. I, 37.

Habitante: não é da cidade quem mora no campo, Livro L, T. I, 35.

Herança: herdeiros não podem ser processados por cargos exercidos por filhos
após a morte do pai, Livro L, T. I, 21, § 2; quem morre em poder de inimigo não
pode deixar herança, Livro L, T. XVI, 3, § 1; em se tratando de liberdade, a inter-
pretação lhe deve ser favorável, Livro L, T. XVII, 20; é sucessão de direitos, Livro L,
T. XVII, 62; a quem se dá tutelas, desse é a herança, Livro L, T. XVII, 73; enquanto
válido o testamento, não se admite o herdeiro legal, Livro L, T. XVII, 89, atentando-
-se, porém, para a equidade, 90; ninguém deixa a seu herdeiro mais privilégios do
que possui, Livro L, T. XVII, 120; mesmo se postergada, é real desde o momento da
morte, Livro L, T. XVII, 138.

Herdeiro: não quer ser quem transfere herança, Livro L, T. XVII, 6; não está sujeito
a pena do testador, tampouco herda vantagens de seu delito, Livro L, T. XVII, 38;
ação contra visa só ao reclamado por dolo do falecido, Livro L, T. XVII, 44; tem os
mesmos direitos e poderes que o testador, Livro L, T. XVII, 59; não se transferem
para herdeiros ações por comissão de delitos, Livro L, T. XVII, 111, § 1; quem su-
cede em tudo está no lugar de herdeiro, Livro L, T. XVII, 128, § 1; dois não podem
ser herdeiros universais, Livro L, T. XVII, 141, § 1; bens indivisíveis são devidos
integralmente aos herdeiros, Livro L, T. XVII, 192; todos os direitos são tidos como
existentes à morte do testador, Livro L, T. XVII, 193; por sucessão, não é menos
herdeiro que o herdeiro principal, Livro L, T. XVII, 194; só privilégios de causa
passam ao herdeiro, Livro L, T. XVII, 196.

Hermafrodita: como definir o sexo, Livro I, T. V, 10.

Honestidade: nem tudo o que é lícito é honesto, Livro L, T. XVII, 144.

Honra: entre duas questões, a de honra tem precedência sobre a de bens, Livro L,
T. XVII, 104.

472
Índice Remissivo Idade e ignorância

Idade e ignorância: consideram-se atenuantes em processos penais, Livro L, T.


XVII, 108.
Idôneo: quem é responsável por coisa alheia não pode ser considerado idôneo se
não dá fiança, Livro L, T. XVII, 110, § 1.
Imperícia: é tida como culpa, Livro L, T. XVII, 132.
Impúberes: devem abster-se de toda função civil, Livro L, T. XVII, 2, § 1.
Interditado: não tem vontade, Livro L, T. XVII, 40.
Interpretação: palavras com dois sentidos: interprete-se no que mais se ajusta ao
contrato, Livro L, T. XVII, 67; Livro L, T. XVII, 96.
Intestado: não é admissível entre aldeãos alguém morrer deixando e não deixando
testamento, Livro L, T. XVII, 7.
Investigação: quando se recorre a artifícios, escolha-se o menos injusto, Livro L,
T. XVII, 200.
Ira: só vale como disposição de ânimo se é duradoura, Livro L, T. XVII, 48.
Irregularidade: não se convalida com o tempo, Livro L, T. XVII, 29; nem instituto
que se revelou inútil desde o começo, Livro L, T. XVII, 210.
Isenção de cargos e funções: condutores de camelo só se isentam por lesão ou
enfermidade que os incapacite, Livro L, T. IV, 18, § 11; quem está isento de funções
civis ou pessoais não se isenta de outras, como a annona, transporte etc. Livro L, T.
IV, 18, § 29; mestres, professores de gramática, médicos, filósofos, oradores que têm
isenção de funções civis estão dispensados de dar hospedagem, Livro L, T. IV, 18, §
30; toda dispensa apoia-se na sua própria equidade e, por isso, comporta apelação,
Livro L, T. V, 1; quem tem direito a isenção, se nomeado, tem direito a apelação, e
adversário responsável responde pelas despesas do processo, Livro L, T. V, 1, § 1;
quem não obtém isenção frauda a ordem na provisão, Livro L, T. V, 1, § 2; ter 65
anos e ser pai de três filhos adultos não produz isenção, Livro L, T. V, 1, § 3; não
convém nomear jovem de 16 anos para intendente de abastecimento e, onde não
há legislação sobre funções de menores, observem-se as normas sobre nomeação
de menores de 25 anos, Livro L, T. V, 2; número de filhos e idade de 70 anos só
justificam isenção de funções civis, Livro L, T. V, 2, § 1; filhos adotivos não influem
no número de filhos que isentam, Livro L, T. V, 2, § 2; número de filhos só isenta
se completos na época da isenção, Livro L, T. V, 2, § 3; não conta para funções pa-
trimoniais, Livro L, T. V, 2, § 4; filhos adultos valem para a isenção de função civil,
mesmo emancipados, Livro L, T. V, 2, § 5; portador de deficiência auditiva não tem

473
Isenção de cargos e funções Índice Remissivo

isenção de funções civis, Livro L, T. V, 2, § 6; deficiência física só justifica isenção


de função que exige esforço físico, e velhice e decrepitude física, só no transporte
de valores, Livro L, T. V, 2, § 7; mestre das primeiras letras não tem isenção de fun-
ções civis, mas deve ser poupado de serviços acima de suas forças, Livro L, T. V, 2,
§ 8; armadores cujas naves prestam serviço à annona estão dispensados enquanto
estiverem navegando, Livro L, T. V, 3; senadores não gozam dessa isenção, porque
lhes é vedada a posse de navios, Livro L, T. V, 3; período de isenção de quem está
ausente deve ser contado com equidade, Livro L, T. V, 4; nenhuma isenção deve
ser concedida a quem exerceu o cargo de decurião, Livro L, T. V, 5; não se costuma
impor funções extraordinárias a quem goza de isenção de funções públicas, Livro
L, T. V, 6; de cargos não se isentam nem maiores de 70 anos nem pais de cinco
filhos adultos, Livro L, T. V, 8; arrendatários de impostos só se isentam de funções
civis enquanto no exercício da função, Livro L, T. V, 8, § 1; isento de funções públi-
cas tem direito de recusar imposição de atribuições, Livro L, T. V, 8, § 3; filósofos
podem isentar-se de funções que implicam esforço físico e outros do gênero, não,
porém, de cargos, Livro L, T. V, 8, § 4; isenta-se de cargos e funções quem apela ao
imperador, Livro L, T. V, 8, § 5; quem é professor em Roma é dispensado em sua
terra natal, Livro L, T. V, 9; privilégio de comerciantes de grãos isenta-os de cargos,
Livro L, T. V, 9, § 1; nenhum privilégio isenta de ônus de posse ou patrimônio, Livro
L, T. V, 10; medidores públicos de trigo têm isenção em Roma, não nas províncias,
Livro L, T. V, 10, § 1; serviços de transporte e alojamento isentam militares, e pro-
fessores de artes liberais também estão isentos, Livro L, T. V. 10, § 2; pobre não se
isenta se teve patrimônio aumentado no período da apelação, Livro L, T. V, 10, §
3; defensores públicos isentam-se de outros cargos e funções, Livro L, T. V, 10, §
4; há funções essenciais com relação às quais não há isenção, salvo por benefício
imperial, Livro L, T. V, 11; legado não pode ser designado de novo para tratar do
mesmo assunto no período de isenção, Livro L, T. V, 12; assessores de procônsules,
governadores e procuradores são isentos, Livro L, T. V, 12, § 1; pretor pode prome-
ter isenções temporárias e perpétuas, Livro L, T. V, 13; isenção de funções públicas
pode ser ampla, por exemplo, a militares, ou restrita a determinada pessoa, Livro
L, T. V, 13, § 1; quem não é isento pode ser obrigado a ser juiz, Livro L, T. V, 13, §
2; um juiz não pode fazer uso da isenção depois de iniciada a causa, Livro L, T. V,
13, § 3; perda de filho não vale para isenção, a menos que seja em guerra, Livro L,
T. V, 14; ninguém pode ser responsável, ao mesmo tempo, por duas obras, Livro L,
T. V, 14, § 1; isenção concedida a bens não se extingue como a pessoal, Livro L, T.
XV, 3, § 1.

Juramento: quando é passível de dispensa, Livro L, T. I, 38.

Jurisconsultos: Livro I, T. II, 2, §§ 35-47.

474
Índice Remissivo Jurisdição

Jurisdição: sem coerção é inócua, Livro I, XXI, 5, § 1; só pode ser delegada se


própria, Livro I, XXI, 3-5. Classifica-se em quatro espécies: exercício de cargos ou
funções, decisões em matéria financeira, reputação social ou questão de crime ca-
pital, Livro L, T. XIII, 5.
Jurisprudência: definição, Livro I, T. I, 10, § 2.
Juristas: sucessão histórica, Livro I, T. II, 2, §§ 35-47.
Juros: não se pagam sobre prejuízos, T. I, 24.
Justiça: definição, Livro I, T. I, 10.
Lei: definição, Livro I, T. III, 1-2; visa ao geral, Livro I, T. III, 4-5, 8, 10; força da,
Livro I, T. III, 7; para todos, Livro I, T. III, 8; antiguidade da, Livro I, T. III, 11; ana-
logia, Livro I, T. III, 12-13; inválida se contra a razão, Livro I, T. III, 14-15; interpre-
tação mais benigna, Livro I, T. III, 18, 25; espírito da, Livro I, T. III, 19; razões da,
Livro I, T. III, 20-22; não deve alterar o que está certo, Livro I, T. III, 23; o detalhe
só tem sentido no todo Livro I, T. III, 24; posterior interpreta anterior, Livro I, T.
III, 26-28; distorcer a lei é agir contra a lei, Livro I, T. III, 29-31; não escrita obriga,
Livro I, T. III, 32, § 1, 35-36; o costume, melhor intérprete, Livro I, T. III, 37-39; leis
curiatas, Livro I, T. II, 2, § 2; tribunícias, Livro I, T. II, 2, § 3; das XII Tábuas, Livro
I, T. II, 2, §§ 4, 23-25 e 38; ações da lei, Livro I, T. II, 2, §§ 6, 12 e 36; Lei Hortênsia,
Livro I, T. II, 2, § 8; do vintênio, Livro I, T. II, 2, § 44.
Legado: não tem poder próprio, Livro I, T. XVI, 4, § 6, 5-6 e 13; reporta-se exclusi-
vamente ao procônsul Livro I, T. XVI, 6, § 2; submete ao procônsul questões mais
graves, Livro I, T. XVI, 11; pode designar juízes e tutores, Livro I, T. XVI, 12 e 15;
não pode presidir a alforrias nem a adoções, Livro I, T. XVI, 2, §§ 1 e 3.
Legado (testamentário): magistrados devem cobrar impostos sobre valor de, Livro
L, T. I, 38, § 2; não é lícito destinar a outro fim legado deixado à cidade para fim
específico, Livro L, T. VIII, 1; não pode ser aplicado em outra obra a não ser com a
autorização do imperador, ou em obra mais necessária, Livro L, T. VIII, 4; legado
em dinheiro para nova obra pode ser aplicado na reforma de antigas, Livro L, T.
VII, 5, § 1.
Legados: legado municipal que deixa de cumprir seu mandato costuma ser punido
e é expulso da ordem, Livro L, T. VII, 1; um legado pode, por meio de outro, impe-
trar algo contra a municipalidade que o enviou, Livro L, T. VII, 2; deve justificar-se
se deixa legação ou a cumpra com atraso, Livro L, T. VII, 2, § 1; negligência de um
legado não prejudica outro que cumpriu sua missão, Livro L, T. VII, 2, § 2; quem
aceitou legação não gratuitamente tem direito a ajuda de custo, Livro L, T. VII, 2,
§ 3; quando há dúvida sobre ação contra quem exerce uma legação, importa mais

475
Legados Índice Remissivo

se o processo corre no período da legação do que local e modo de quitação, Livro


L, T. VII, 3; devedor público não pode ser legado, Livro L, T. VII, 4; quem não tem
direito de demandar não pode ser legado, Livro L, T. VII, 4, § 1; devedores do fisco
não estão impedidos de ser legados, Livro L, T. VII, 4, § 2; acusador de legado não
deve ser obrigado a aceitar ser legado junto a amigo do acusado, Livro L, T. VII, 4,
§ 3; legado não pode nomear substituto, a não ser seu filho, Livro L, T. VII, 4, § 4;
todos são obrigados a exercer a função pela ordem, salvo se a legação exigir pessoa
mais graduada, Livro L, T. VII, 4, § 5; nenhuma cidade enviará mais de três legados,
Livro L, T. VII, 4, § 6; mandato conta a partir da nomeação, e não de quando chega
a Roma, Livro L, T. VII, 5; filho não pode ser dispensado da legação por causa de
pai, Livro L, T. VII, 6; filho decurião que aceitou função de legado no lugar do pai
não será dispensado quando for sua vez, Livro L, T. VII, 7; pai cujo filho exerce em
seu lugar a função de legado pode reivindicar sua dispensa por um biênio, Livro L,
T. VII, 7; quem foi legado não pode ser obrigado, no período de isenção, a de novo
defender o interesse público, Livro L, T. VII, 8; goza de isenção de dois anos quem
exerce a função de legado em Roma ou em alguma província, Livro L, T. VII, 8, §
1; quem exerce a função de legado não deve ocupar-se de outros negócios, nem
seus nem de outros, Livro L, T. VII, 8, § 2; legado pode mover ação, no período
da legação, por dano sofrido, Livro L, T. VII, 9; antes de cumprir a missão, legado
não pode mover ação, a não ser em matéria de injúria ou dano, Livro L, T. VII, 10;
ajuda de custo de quem morre no exercício da legação não é restituída, Livro L, T.
VII, 10,§ 1; quem aceitou a legação sem nenhum custo pode fazer-se representar
por outro, Livro L, T. VII, 11; legado, embora não possa cuidar de outros negócios,
pode defender causa sob sua tutela. Livro L, T. VII, 11, § 1; quem aceita substituir
outro no exercício de uma legação não se isenta de assumi-la quando for sua vez,
Livro L, T. VII, 13; ausência após cumprimento da missão não é considerada como
de interesse público, Livro L, T. VII, 14; quem exerce função de legado não pode
tratar judicialmente de seus negócios sem a permissão do imperador, Livro L, T.
VII, 15; não é proibido uma só pessoa exercer várias legações, Livro L, T. VII, 16;
quem responde a ação antes de assumir legação pode ser defendido mesmo em sua
ausência; se depois, não, Livro L, T. VII, 16, § 1; atenta contra o direito das gentes
quem agride um legado de inimigos; quem o faz deve ser entregue ao inimigo e só
se discute se perde cidadania romana se o inimigo recusar-se a recebê-lo, Livro L,
T. VII, 17.
Liberalidade: processados por liberalidade devem ser condenados dentro de suas
possibilidades, Livro L, T. XVII, 28.
Liberdade: definição, Livro I, T. V, 4; é livre filho de mãe livre, Livro I, T. V, 15-16,
18. Nada é mais estimável, Livro L, T. XVII, 122; liberdade e parentesco são inesti-
máveis, Livro L, T. XVII, 176, § 1.

476
Índice Remissivo Liberto

Liberto: não se torna livre por adoção, Livro I, T. V, 27; obriga-se a funções no lu-
gar de domicílio de sua patrona e de seu próprio, Livro L, T. I, 37, § 1; deve exercer
função nos lugares de origem de seus patronos, se tiver bens próprios, Livro L, T.
IV, 3, § 8.

Licença: cumprimento obrigatório de seus termos, Livro L, T. I, 2, § 6.

Lícito: a quem é lícito o mais não pode ser ilícito o menos, Livro L, T. XVII, 21.

Loucura: pátrio poder sob estado de loucura, Livro I, T. VI, 8; pensão alimentícia
não impede a investigação de paternidade, Livro I, T. VI, 10; alienado no estado
inicial não perde direitos e prerrogativas, Livro I, T. V, 20; nos negócios, uma coisa
é tratar com louco, outra com órfão, Livro L, T. XVII, 5; louco não tem vontade,
Livro L, T. XVII, 40; louco assemelha-se a um ausente, Livro L, T. XVII, 124, § 1.

Lucro: em litígio sobre lucro, a preferência é dada à causa anterior, Livro L, T. XVII,
98; quem obtém vantagens de uma pessoa responde pelo que ela faz, Livro L, T.
XVII, 149.

Magistrados: a função é indivisível e a responsabilidade, comum, Livro L, T. I, 11;


maior responsabilidade de quem nomeia, Livro L, T. I, § 1; sequência de medidas
na apuração das responsabilidades, Livro L, T. I, 13; não se processa quem nomeia
pessoa idônea, Livro L, T. I, 15, § 1; municipais exercem uma só magistratura, Li-
vro L, T. I, 25; municipais fazem o que é mais de jurisdição, Livro L, T. I, 26; não é
permitida a municipais restituir ou autorizar posse a título de conservação de bem,
dote ou legado, Livro L, T. I, 26, § 1; deve-se obediência não só aos da cidade em
que se reside como aos da cidade de que se é cidadão, Livro L, T. I, 29; pode ser
processado no lugar do colega nos casos permitidos pelo direito, Livro L, T. VIII,
2, § 8; ação movida contra colega compete a fiador deste, Livro L, T. VIII, 2, § 9;
gasto comprovado do colega de magistratura deve ser ressarcido pelos herdeiros
dele, Livro L, T. VIII, 2, § 10; fiador de magistrado acionado dá penhores especiais
para o caso de o negócio não poder ser honrado por aquele de quem foi fiador,
Livro L, T. VIII, 3, § 4; magistrados municipais devem responder não só por dolo,
mas também por negligência, e exercer o cargo com dedicação, Livro L, T. VIII, 6;
pai é responsável pelo que deve o filho à municipalidade, se com sua anuência tiver
sido feito magistrado, Livro L, T. VIII, 7; magistrado que atua parcialmente não é
impedido, mas responsável pelo delito do fato, Livro L, T. XIII, 6; quem faz algo
por ordem judicial não age de má-fé, Livro L, T. XVII, 167, § 1; não é válido o que
faz um juiz fora de sua competência, Livro L, T. XVII, 170; funções de magistrados
não devem ser concedidas a indivíduos, Livro L, T. XVII, 176; não se exime de dolo
quem desobedece a determinações de um magistrado, Livro L, T. XVII, 199.

477
Maioria Índice Remissivo

Maioria: o que é feito publicamente pela maioria vale para todos, Livro L, T. XVII,
160, § 1.
Mandante: causa o dano quem manda fazê-lo, Livro L, T. XVII, 169.
Matrimônio: o que o faz é o consenso, Livro L, T. XVII, 30.
Médicos: podem ter licença cassada, Livro L, T. IV, 11, § 3; governadores de pro-
víncia devem arbitrar seus direitos, Livro L, T. XIII, 1, § 1; eventualmente gover-
nadores tratam também de profissionais da medicina alternativa, mas rejeitando
charlatões, Livro L, T. XIII, 1, § 3.
Militar: tem domicílio onde vive, se nada possui em sua terra natal Livro L, T. I,
23, § 1.
Mora: cada qual responda pela sua, Livro L, T. XVII, 173, § 2.
Mudo: pode estar presente onde se requer sua presença, e não a voz, Livro L, T.
XVII, 124.
Mulher: condição inferior à do homem, Livro I, T. V, 9.
Mulheres: excluem-se de cargos civis ou públicos, Livro L, T. XVII, 2; devem ser
defendidas, mas sem incentivo à maledicência, Livro L, T. XVII, 110, § 4.
Munícipe: definição, Livro L, T. I, 1, § 1; identificação da condição de munícipe por
origem genealógica, Livro L, T. I, 1, § 2.
Naturalidade: nascido em povoado é natural do lugar ao qual pertence o povoado,
Livro L, T. I, 30.
Natureza: o que é proibido pela natureza das coisas não é confirmado por nenhu-
ma lei, Livro L, T. XVII, 188, § 1.
Necessidade: o que é aceito por necessidade não pode ser usado como precedente,
Livro L, T. XVII, 162.
Negócios: em sua gestão, não são objeto de consideração coisas que raramente
acontecem, Livro L, T. XVII, 64; se uma palavra tem dois sentidos, interprete-se o
que mais se ajustar à questão, Livro L, T. XVII, 67.
Obediência: não tem culpa quem é obrigado pela obediência, Livro L, T. XVII, 169.
Obras públicas: quem retarda uma obra para obter isenção por motivo de saúde,
morto, transfere aos herdeiros suas obrigações até o dia de sua morte, Livro L, T.
X, 1; quem, já encarregado de uma obra, assume responsabilidade de outra, em vez

478
Índice Remissivo Obras públicas

de pedir dispensa da primeira, teria agido melhor não assumindo a segunda, Livro
L, T. X, 1, § 1; quem investiu, com recurso próprio, na finalização de uma obra não
pode ser impedido de nela gravar seu próprio nome, Livro L, T. X, 2; superinten-
dentes de obras têm relações contratuais com empreiteiros, o município, com os su-
perintendentes, Livro L, T. X, 2, § 1; o governador cuidará de que não seja apagado
e substituído por outro o nome de quem por cuja liberalidade a obra foi construída,
Livro L, T. X, 2, § 2; é lícito a particular fazer obra nova, mesmo sem autorização
do imperador, exceto se para determinados fins, Livro L, T. X, 3; obra novas, com
recursos públicos, só com autorização do imperador, Livro L, T. X, 3, § 1; só se
inscreve nome do imperador ou de quem financiou a obra, Livro L, T. X, 3, § 2; não
se inscreve nome de governador, Livro L, T. X, 4; percentual de juros e a partir de
quando é da competência do imperador, quando é deixado legado para a constru-
ção de obra, Livro L, T. X, 5; é da responsabilidade do governador a distinção de
locais públicos e privados e a administração dos públicos em mãos de particulares
para utilidade pública, Livro L, T. X, 5, § 1; o imperador deve ser ouvido sobre obras
em muralhas, portas e outras obras públicas, Livro L, T. X, 6; legados deixados para
obras novas devem ser investidos preferencialmente na conservação das existentes
quando a cidade já dispõe de obras suficientes, Livro L, T. X, 7; Senado admite que
alguém inscreva seu nome em obra construída por outro se investir em melhoria,
desde que não apague os nomes dos outros e registre o valor de sua contribuição,
Livro L, T. X, 6, § 1.
Obrigação: inexistente quando decorrente de conselho, Livro L, T. XVII, 47; libera-
-se do mesmo modo que se adquire por meio de atos em sentido contrário, Livro
L, T. XVII, 153; inexistente com relação a coisas impossíveis, Livro L, T. XVII, 185.
Obscuridades: em questões obscuras, investigue-se o que é mais verossímil, Livro
L, T. XVII, 114; Livro L, T. XVII, 168.
Omissão: não pode ser acusado quem não proíbe se não pode proibir, Livro L, T.
XVII, 109.
Órfão: não pode consentir, Livro L, T. XVII, 110, § 2.
Origem: declaração mentirosa ou erro sobre a origem não desfaz realidade, Livro
L, T. I, 6; liberto segue a do patrono, Livro L, T. I, 6, § 3; liberto segue a de todos
os patronos, se alforriado por muitos Livro L, T. I, 7; de filho ilegítimo é a da mãe,
Livro L, T. I, 9; adoção não muda direitos de origem a cargos e funções, Livro L,
T. I, 15, § 3; emancipação desfaz a filiação e a cidadania adquiridas em virtude da
adoção, Livro L, T. I, 16; senadores e descendentes eximem-se de sua origem, Livro
L, T. I, 22, § 5; deve ser buscada nos fatos quanto à condição de munícipe, Livro L,
T. I, 38, § 5.

479
Pagamento Índice Remissivo

Pagamento: o que é pago por ordem é considerado pago, Livro L, T. XVII, 180;
nada pode ser reclamado antes do devido tempo, Livro L, T. XVII, 186.
Parteiras: governadores de província devem julgar seus direitos, Livro L, T. XIII,
1, § 2.
Particulares: acordos não podem violar o direito público, Livro L, T. XVII, 27.
Patrimônio municipal: não será responsabilizada por prejuízo público pessoa que,
ao ser nomeada, era idônea, Livro L, T. VIII, 2, § 7; fiador de empreiteiro passará
a outro a obra a ser feita, que, se não concluída, obrigará os herdeiros do fiador ao
pagamento de juros, Livro L, T. VIII, 2, § 11; fiador de arrecadador de impostos
obriga-se aos juros, Livro L, T. VIII, 2, § 12; curadores que exercem cargo comum
não se isentam da mútua responsabilidade, Livro L, T. VIII, 3; erro de cálculo pode
ser corrigido mesmo após 10 ou 20 anos, Livro L, T. VIII, 8; perde o direito à corre-
ção, se os cálculos forem rasurados, Livro L, T. VIII, 8, § 1; juros devem ser cobra-
dos de recursos que ficam com curadores, mas só são responsáveis pelo capital dos
recursos não exigíveis dos empreiteiros, Livro L, T. VIII, 9; herdeiros de curadores
são também responsáveis, Livro L, T. VIII, 9, § 1; áreas rurais devem ser recupera-
das pelos procuradores municipais, mesmo se possuídas de boa-fé, Livro L, T. VIII,
9, § 2; não se executam obras sem caução, Livro L, T. VIII, 9, § 3; em alienações,
curadores respondem pelo valor devido se se conduzem com negligência, e com o
dobro do valor, se fraudulentamente, mas a pena não alcança herdeiros, Livro L,
T. VIII, 9, § 4; curadores devem exigir recursos destinados ao abastecimento, Livro
L, T. VIII, 9, § 5; intendentes de abastecimento que se conduzem sem negligência
devem ser poupados de prejuízos, Livro L, T. VIII, 9, § 6; não se exige caução de
contador municipal escolhido pelo governador, Livro L, T. VIII, 9, § 7; curador
responde por colega se pôde e não interveio, Livro L, T. VIII, 9, § 8; diminuição da
receita durante o mandato é da responsabilidade do curador, Livro L, T. VIII, 9, § 9;
magistrado que, sem justificativa, mantém dinheiro público em seu poder durante
a magistratura, deve pagar juros, Livro L, T. VIII, 9, § 10.
Pecúlio: não se admite sua manutenção, recuperação ou posse por filho de família
(filiusfamiliae), Livro L, T. XVII, 93.
Pena capital: negada ao cônsul, Livro I, T. II, 2, § 16; exige presença de questor,
quadrúnviros, triúnviros e triúnviros capitais Livro I, T. II, 2, §§ 23 e 30.
Pessoa: sujeito de direitos, Livro I, T. V, 1-2; nasce livre ou escravo, Livro I, T. V, 3,
5, § 3; liberto, Livro I, T. V, 6; mulher tem condição inferior à do homem, Livro I,
T. V, 9; hermafrodita, definição de sexo, Livro I, T. V, 10; legitimidade do nascitu-
ro, Livro I, T. V, 11; legitimidade do prematuro, Livro I, T. V, 12; não é filho quem
nasce sem a forma humana habitual, Livro I, T. V, 14; é filho se nasce apenas com

480
Índice Remissivo Pessoa

deformidade, Livro I, T. V, 14; cidadania romana, Livro I, T. V, 17; filho nascido de


núpcias legítimas segue condição do pai, Livro I, T. V, 19; alienado no estágio inicial
não perde direitos, Livro I, T. V, 20; homem livre que se vendeu, alforriado, é liber-
to, Livro I, T. V, 21; livre por sentença, Livro I, T. V, 25; nascituros gozam de todos
os direitos como se nascidos fossem, Livro I, T. V, 26; de direito próprio ou alheio,
Livro I, T. VI, 1; se filho, sob o pátrio poder, Livro I, T. VI, 3-5.
Plebiscito: Livro I, T. II, 2, § 12.
Poder: pode não querer quem pode querer, Livro L, T. XVII, 3.
Pontífice Máximo: Livro I, T. II, 2, § 39.
Prazo: se não especificado, vale o dia presente, Livro L, T. XVII, 14; não se admite
em ações legais, como emancipação, aceptilação, nomeação de herdeiro, escolha de
escravo, dação de tutor, Livro L, T. XVII, 77; quando estabelecido em dois meses,
vale até o sexagésimo primeiro dia, Livro L, T. XVII, 101.
Prefeito da Guarda Noturna: origem, Livro I, T. XV, 1-2; jurisdição e poder penal,
Livro I, T. XV, 3, §§ 1 e 2; obrigações, Livro I, T. XV, 3, §§ 3 e 4; nomeação extraor-
dinária, Livro I, T. II, 2, § 33.
Prefeito de abastecimento: Livro I, T. II, 2, § 32.
Prefeito de Roma: tem jurisdição penal, Livro I, T. XII, 1, § 3; ouve escravos e se-
nhores, Livro I, T. XII, 1, §§ 1 e 2; jurisdição sobre tutores e curadores, Livro I, T.
XII, 1, § 7; sobre cambistas e banqueiros, Livro I, T. XII, 1, § 9, e 2; sobre libertos,
Livro I, T. XII, 1, § 10; responsável por controle dos preços do mercado de carnes,
Livro I, T. XII, 1, § 11; pela ordem pública, Livro I, T. XII, 1, § 12; pode proibir ati-
vidades profissionais, Livro I, T. XII, 1, § 13; pode punir associação ilícita , Livro I,
T. XII, 1, § 14; substituto de magistrados, Livro I, T. II, 2, § 33.
Prefeito do Egito: quem é, Livro I, T. XVII, 1.
Prefeito do Pretório: origem, Livro I, T. XI, 1; decisões irrecorríveis, Livro I, XI, 1,
§ 1; reabilitação de menor, Livro I, XI, 1, § 2.
Prestação de contas públicas: o que é destinado à compra do trigo, se desviado
para outro fim, deve ser restituído com juros, Livro L, T. VIII, 2, § 2; não pode haver
atraso na prestação de contas de recurso recebido para compra de trigo, Livro L, T.
VIII, 2, § 3; o valor a ser restituído não pode ser empregado em outros fins, Livro
L, T. VIII, 2, § 4; se restituído com juros, evitem-se cálculos exagerados, Livro L, T.
VIII, 2, § 5; será restituído ao dono o valor estimativo do trigo que injustificada-
mente lhe tiver sido confiscado, Livro L, T. VIII, 2, § 6.

481
Pretor Índice Remissivo

Pretor: Livro I, T. II, 2, §§ 27-28, 32, 34.

Príncipe: origem da função, Livro I, T. II, 2, §§ 11 e 12; imune à lei, Livro I, T. III,
31; soberania, Livro I, T. IV, 1; atos pessoais, Livro I, T. IV, 1, § 2; interpretação da
vontade do, Livro I, T. IV, 3.

Procônsul: área de jurisdição, Livro I, T. XVI, 1; não tem jurisdição no contencio-


so, Livro I, T. XVI, 2; parcimônia administrativa, Livro I, T. XVI, 4; austeridade,
Livro I, T. XVI, 4, § 2; preservar a dignidade do cargo, Livro I, T. XVI, 4, § 3; urba-
nidade no trato, Livro I, T. XVI, 9, § 2; respeitar as tradições locais, Livro I, T. XVI,
7; delegar jurisdição , Livro I, T. XVI, 4, § 6, 5 e 6, § 1; recebimento de presentes,
Livro I, T. XVI, 6, § 3; inspeção e conservação de edifícios públicos, Livro I, T. XVI,
7, § 1; função de magistrado ou juiz extraordinário, Livro I, T. XVI, 7, § 2; é a maior
autoridade na província, após o príncipe, Livro I, T. XVI, 8; não tem jurisdição em
matéria fiscal e financeira, Livro I, T. XVI, 9; organizar e administrar a justiça, Livro
I, T. XVI, 9, §§ 4 e 5 ; manter-se no cargo até a chegada do sucessor, Livro I, T. XVI,
10; direito a seis “fasces”, Livro I, T. XVI, 14.

Procurador: atua em nome de César, Livro I, T. XIX, 1; poder de administrar, não


de dispor, Livro I, T. XIX, 1, § 1; consultar o imperador quando este for nomeado
herdeiro, Livro I, T. XIX, 2; não tem jurisdição penal, Livro I, T. XIX, 3; pode limitar
entrada de pessoa em propriedades de César, Livro I, T. XIX, 3, § 1.

Professores: primários não têm isenções, Livro L, T. IV, 11, § 4; governador de pro-
víncia só costuma julgar sobre salários de professores de disciplinas liberais, Livro
L, T. XIII, 1; governadores não se ocupem de remuneração de professores de direito
civil, Livro L, T. XIII, 1, 5.

Propriedade: só pode ser transferida com a permissão do dono, Livro L, T. XVII,


11; considera-se proprietário quem move ação para recuperar o bem, Livro L, T.
XVII, 15; não parece ser inteiramente de alguém o que lhe pode ser tirado, Livro L,
T. XVII, 139, § 1; impossível fazer de alguém algo que não é de ninguém, Livro L, T.
XVII, 182; é melhor possuir a coisa que reclamá-la, Livro L, T. XVII, 204; não pode
ser considerado como tendo deixado de ter quem nunca teve, Livro L, T. XVII, 208.

Proprietário: é legítimo se pagou o preço, Livro L, T. XVII, 126; em litígio entre


dois, é melhor a situação de quem é possuidor, Livro L, T. XVII, 126, § 2; na igual-
dade de causas, melhor é a situação de quem possui, Livro L, T. XVII, 128; quem,
por dolo, deixa de possuir, é condenado como possuidor, Livro L, T. XVII, 131.

Protelação: não incorre quem recorre ao Judiciário , Livro L, T. XVII, 63; não há
onde não há demanda, Livro L, T. XVII, 88.

482
Índice Remissivo Província

Província: alteração temporária não inova o direito de uma província, Livro L, T.


XVII, 123, § 1.
Puberdade: tutelado perto da puberdade é capaz não só de furtar, mas de agredir,
Livro L, T. XVII, 111 .
Quadrúnviros: Livro I, T. II, 2, § 30.
Questor: origem, Livro I, T. XIII, 1; sentido etimológico, Livro I, T. XIII, 1, § 1; área
de jurisdição, Livro I, T. XIII, 1, § 2; extrato social, Livro I, T. XIII, 1, § 3; porta-voz
do imperador no Senado, Livro I, T. XIII, 1, § 4.
Quinquóviros: substitutos dos magistrados à noite, Livro I, T. II, 2, § 31.
Regra: faz-se consonância com o direito, Livro L, T. XVII, 1.
Reis: início de Roma, Livro I, T. II, 2, § 14.
Renda: o que pode ser dado em penhor é renda, Livro L, T. XVII, 72 .
Reputação: é comprovada condição de ilibada dignidade segundo leis e costumes,
Livro L, T. XIII, 5, § 1; é prejudicada sempre por punição que atinge a dignidade,
como desterro, expulsão de uma classe etc., Livro L, T. XIII, 5, § 2; perde-se a dig-
nidade com a perda expressiva da reputação, Livro L, T. XIII, 5, § 3.
Residência: mudança não isenta de funções ou cargos, Livro L, T. II , 1.
Responsável: não é quem sabe, mas quem pode impedir, Livro L, T. XVII, 50.
Restituição: é responsável pelo capital, e não pelos juros, quem deve em virtude de
função exercida, Livro L, T. I, 21, § 1.
Ratificação: em malefício equivale a mandado, Livro L, T. XVII, 152, § 2.
Réu: são considerados mais favoravelmente que os autores, Livro L, T. XVII, 125; o
que lhe é negado não é permitido ao autor, Livro L, T. XVII, 41.
Riqueza: ninguém se torna mais rico por adquirir liberto, Livro L, T. XVII, 126, §
1; quem defende bem alheio nunca é considerado rico, Livro L, T. XVII, 166; pelo
direito natural, ninguém pode tornar-se mais rico em detrimento de outrem, Livro
L, T. XVII, 206.
Roma: é a pátria comum, Livro L, T. I, 33.
Rostros de Augusto: Livro I, T. II, 2, § 43.
Salários: estudiosos de direito têm direito de reivindicá-los, Livro L, T. XIII , 4.

483
Senado Índice Remissivo

Senado: promulga leis, Livro I, T. III, 9; ordem de dignidades, Livro I, T. IX, 1, ;


falta de decoro, impedimentos , Livro I, T. IX, 2; perda de direitos civis, Livro I, T.
IX, 3; filho de senador, dignidade senatorial, Livro I, T. IX, 5-7; esposa de senador,
não filha, é mulher honorável, Livro I, T. IX, 8; infortúnio de pai senador não atinge
filha , Livro I, T. IX, 9; descendentes de senador seguem sua dignidade, Livro I, T.
IX, 10; senador pode ter duplo domicílio, Livro I, T. IX, 11; origem da soberania das
decisões, Livro I, T. II, 2, § 9; senátus-consulto é lei, Livro I, T. II, 2, § 12.
Senador: decisões da maioria consideram-se tomadas por todos, Livro L, T. I, 19
9; senador afastado não é restituído a sua origem, Livro L, T. I, 22, § 4; senador e
filhos eximem-se de sua origem sem perda da dignidade municipal, Livro L, T. I,
22, § 5 ; tem domicílio em Roma, além do próprio, Livro L, T. I, 22, § 6; deixa de ser
munícipe com relação a funções, não com relação a cargos, Livro L, T. I, 23.
Sociedade: sócio de meu sócio não é sócio meu, Livro L, T. XVII, 47, § 1.
Sofismas: seu perigo é partir de coisas verdadeiras, Livro L, T. XVII, 65.
Solvente: parece quem é defendido, Livro L, T. XVII, 95.
Sucessor: tem motivo para alegar ignorância, Livro L, T. XVII, 42; o que obsta a
quem faz acordo obsta a seu sucessor, Livro L, T. XVII, 143; não deve ser prejudi-
cado pelo que não prejudicou o sucedido, Livro L, T. XVII, 156, § 2; quem sucede
deve fazer uso dos direitos de quem sucedeu, Livro L, T. XVII, 177.
Surdo: pode estar presente se, de algum modo, pode responder, Livro L, T. XVII,
124.
Testador: interpretem-se plenamente suas vontades, Livro L, T. XVII, 12.
Testamento: perde seu efeito se ninguém recebeu a herança, Livro L, T. XVII, 181;
são inválidas duas disposições que se contradizem, Livro L, T. XVII, 188; quando
fala de tempo, interprete-se no interesse do herdeiro, Livro L, T. XVII, 17; legado
pode passar ao herdeiro , Livro L, T. XVII, 18; tudo o que decorre de um testamento
tem validade se teve início sem vício, Livro L, T. XVII, 201.
Todo: no todo está contida a parte, Livro L, T. XVII, 113; o efeito do que é útil a
todos estende-se a suas partes, Livro L, T. XVII, 148.
Tribuno: da cavalaria, Livro I, T. II, 2, §§ 15 e 19 ; militar, Livro I, T. II, 2, § 25; da
plebe, Livro I, T. II, 2, § 34; etimologia do termo, Livro I, T. II, 2, § 20.
Tributos: cobrança de tributo é função patrimonial, Livro L, T. IV, 3, § 11; possei-
ro em comum que quite, por necessidade, a totalidade do tributo, tem direito de
acionar os demais para pagar proporcionalmente sua tributação, Livro L, T. XV, 5;

484
Índice Remissivo Tributos

quem, em virtude de fideicomisso, restitui imóvel sem descontar os tributos, tem


direito de cobrá-los dos legatários, Livro L, T. XV, 5, § 1; não se admite caução
moratória para evitar penhor por tributo que não foi recolhido no dia, Livro L, T.
XV, 5, § 2.
Triúnviros: responsáveis pela moeda, Livro I, T. II, 2, § 30; nos primórdios, comba-
tiam incêndios, Livro I, T. XV, 1.
Tutela: designação não é função pública, Livro L, T. I, 2, § 5; confere direito à he-
rança , Livro L, T. XVII, 73; tutelado só pode querer ou não querer com autorização
do tutor, Livro L, T. XVII, 189; dolo do tutor não prejudica o tutelado, Livro L, T.
XVII, 198.
Urbs (urbe): entende-se a cidade limitada pelas muralhas, Livro L, T. XVI, 2.
Usos e costumes: substituem e consolidam a lei escrita, Livro I, T. III, 32-40.
Venda: não é fictícia quando intervém preço, Livro L, T. XVII, 16; uma coisa é ven-
der; outra, consentir seja vendida, Livro L, T. XVII, 160; termos ambíguos devem
ser interpretados contra o vendedor, Livro L, T. XVII, 172; a intenção ambígua
beneficia o comprador, Livro L, T. XVII, 172, § 1.
Vontade própria: não tem quem está sob o pátrio poder ou domínio, Livro L, T.
XVII, 4.Haes perununtela dit; Catifex nost pret intem tus nunte tam iam pat, es
publicii sim in sitium nonsull atinatur lii is mortion det videm, portest? Forum
publius rem hacta, culvit publincus omniciondam furacera quidees simplib uspes,
quo et virmand acibus bonsus conlost adhuid pat, eger quemus pubisquam oma,
nostiente etorum eo visquodine ductus? Hum atus. Bonvoludam condius etionsu-
liam prim aus ad furacerritia qui intiam oculvid essicav enitrenatil virmium et, se
pro vensiline auctuam audam hostidicae qua diu me ac res ca viriterudam tasdac
viu queri, ut que nosulabus iam in auces proxim popoptis patuam etim hor urbis
con Itandac remus, octorei praris es ocre tuast diu confesc ierfeni mmorum hic res
inemo us.
Em quem, usque quastie mquium partiorum te, Cat L. Cupicidit, quiurnium quo
esterra nem oma, deatistrae in siliam dem iu consus, visussimen sensus culici con-
supioctus inestra nihilice temquame confir utusulemquem o audetilicie mus, se
actorunium in sil habuntre, cae plicat.
Ublinum Romperi popore egerudet, nos curopoe nitiliu senem ipsedii stamendum
nos crion ducit cum essiliam diis, veres, C. Idem oma, consull atiocup icibemus
hocresi cavocte cerfit. Simius Ad coerte niu imaccissulla viriace runtem publiam
ditissilicae aur ad ium ne pratu imaiorta res fuidet publicas conloc, mei potimur,
sentis hebesul icatum tatus bonum iam. Fui preis et aut inat, quos cus; horunterum

485
imove, nultoreteate con actem alienti facerevitis bon temortus omantia nos, con-
sunum orum inti, consus elii publiss iliissi dessili issatquit. Erum peremore audam
cupio, con pestiam in sere aut ad det, nemoratum perfendem me alin vitatiam ia-
cierem di, que pon sideatarit. At furnique qua L. moerus mentermium seri iaedica-
tum hicaell aberitam audam, deeste, facidet aliam perfec forus ac omnostrae et prae
cultus. Decut perbit vit opotend acciaes silintem qua nos peres or atque ina, unum
demuriorum tam forum dii introru nticiam ommoractum sperist anteres tratan-
tinc tus sedes? O tam esum temusti, num acrei publien immorumendam stratuit
gra? Ubliurnihin Etra L. Satia reo, Ti. Bem, noctuam pest? Ut de novid reo, nunim
patilinerei faciend ucerum in Etrarei sendam pra, consul vitam ad mandume inatu
que occhuides incem prideps, se quem, quod fac ommorsultori tabus, C. Fullarit;
nos foris fure te verid con invendees nonsus publinatam publius, etissul ostrem id
Catum, tam telii stamque ex mus, qui prae dum ereo, nem pra cidem tus conve,
quiste fui ipse pris, cipiemquam Romnerniae num clut is publiae tus firtus crem.
Ecum propostris sedo, coena, prorum perem autem ses escricaet; inatum popori
te, C. Irmis venihinatin peri ipses? Pos et verfecres, esteat. Cepos ia redo, C. Ossus
cupicon sulvit. Geris ommo uteret oculegi teratrivita idemquitem, nos cludam ta
ret inam, me tam ad finvena, que te et popotilis et; hocchus, co num prectatius hos,
quod cae consupiciam terrica ditienin des orum terriondem aus concemo ltorte
dis. Vivessendit. Eperi pra Serum practabus iu sendienita, se nonfecondam aci-
de movernulost Catqua re tem pertem pat Catuus tere cupior aure facchuc remus
hoculeside ad iaest ade nons nosto atratur supiem iptissuli patus, virmistelici int.
Antre rentica essermis? Patiae fac vit, confereis consum me am aces ex suppl. Ca-
tum omaxime rfenduc erferfex mus, clem publiisum ex se ad contio a Sp. Oltum
Romniquemo mullabena, cem te, omnique ci fervivem menate inte hocrem per us
anulto perfecierum num orum dici pratum, factor ina, propublissim quam hocaet
inat, que iae cut L. Ximus igitum in Itatu quem imihil vignatu scerem effres, octus
avo, non tanum pateresum condien tristri culturor la movit, ut optissulla reciae
mortus acissul habem. Gra Si ficatam entilic auconferis et fatatus audefactus co-
nem ignoste aternihica disus nossent erterrarit. Unu quod int? Cibusquam inum
publi postem rem aurbi publiciem siciem, Cat viris inatuam noverce tere caelum
abutebes et veri peri, deperi, ut con superum dioraela rem in vatilicae, postum
inum Romnem vit vignatumuro nos vidium etestiur utercermant, alatis haliu er
INFORMAÇÕES
unis, contimmorte, DA PUBLICAÇÃO
Catquam mactum peribus entemquam audeatua viris eterman
damdit pra Sp. Nictus nimis habut virimus imihili cibuninpra? Ecteatus ficaecu lto-
Formato: 160 X 230 mm
dit. Henator autum rei prorum acips, atusultus, us, conicaedo, nox se corbi se niti
Mancha: 127 X 188
imilii patilnenicam iu et; nenteat, C. esi patis publium lis culum atimihilis es nicit
Tipologia: Minion Pro
cus conem no. Fecessent rem ta cones! Seresse es venatia nihin virmand enatum it,
Papel: AP 75g/m² (miolo) e AP 250g/m², com laminação BOPP (capa)
nonfex nocre publiam cul hoculto virmis. Hica maiocris is ca re, dius, que condit,
Tiragem: 3 mil exemplares
no. Ad postifecri ium publinte nonve, tionden atimpre stique restrei senatortem
Impressão: setembro de 2010
intil teritum nicavoltus me mora, nonscreoraed is C. Ficae aucerit iam vid arit; hac

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