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SAÚDE É POP
Por Blog

Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra
como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.

Medicina

Neurocirurgião e mais novo imortal da ABL


vasculha os mistérios do cérebro
Livro do neurocirurgião carioca Paulo Niemeyer Filho, recém-eleito para a Academia
Brasileira de Letras, também vai virar série documental
Por André Bernardo
9 dez 2021, 18h43

Casos de neurocirurgia e descobertas da neurociência se misturam em nova obra de Paulo Niemeyer Filho. (Foto:
Robina Weermeijer/ Unsplash/Divulgação)
Prestes a viajar com a família, Paulo Niemeyer Filho já estava no carro

quando, numa manhã de sábado, o telefone tocou. Do outro lado da 
linha, alguém avisava o neurocirurgião carioca de um acidente
envolvendo um rapaz que fazia pesca submarina no litoral do Rio.
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Ao voltar à tona, o mergulhador não viu o fundo da lancha, bateu com a


cabeça e fraturou a coluna. Tetraplégico, ficou à deriva por quase 14
horas. Depois de quase ter sido atropelado por um transatlântico, foi
salvo por pescadores em Niterói, a 15 quilômetros do local do acidente.
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Apresentado por Bat Brasil

Cigarro eletrônico como

Levado às pressas para o hospital, pediu para avisarem a mulher e


chamarem o médico. Quando os dois se encontraram, a única coisa que o
rapaz conseguiu dizer foi: “Não quero morrer!”.
“Eu o operei e, hoje, ele está andando”, recorda o doutor. “Por tudo que

passou nessas 14 horas em que boiou e, principalmente, pelo final feliz,é
um caso surpreendente”, avalia.
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O episódio do rapaz que perdeu os movimentos do pescoço para baixo e
só não morreu afogado por causa da roupa de mergulho que o manteve
boiando é um dos muitos contados pelo neurocirurgião em No
Labirinto do Cérebro (Objetiva).

Aos 69 anos, Paulo Niemeyer Filho não faz a menor ideia de quantas
cirurgias realizou. Nem de quantas horas passou dentro de um centro
cirúrgico. Só sabe que, hoje em dia, as cirurgias raramente duram um
dia inteiro.

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+ LEIA TAMBÉM: Holocausto brasileiro: retrato de horrores de um


hospício vira série de TV

“O que torna a cirurgia complicada é, muitas vezes, a preocupação de o


doente sair dela pior do que entrou”, observa. Ao longo da carreira, o
médico operou pacientes famosos como o músico Herbert Vianna, em
2001, a atriz Malu Mader, em 2005, e a jornalista Glória Maria, em 2019.
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“Foi o Dr. Paulo quem fez a cirurgia que salvou minha vida”, postou a
apresentadora da TV Globo em seu perfil no Instagram. “A cirurgia de
seis horas transformou minha vida”.
Em No Labirinto do Cérebro, o especialista relata alguns dos casos mais
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curiosos que atendeu. Como o da paciente que ficou tão abalada ao ser
submetida à raspagem do couro cabeludo que, ao se ver careca, seu
aneurisma rompeu e ela entrou em coma.
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Apresentado por Fleury 00:00/00:00

Guia do pré-natal: entenda sua

“Depois disso, passamos a cortar o cabelo com o paciente já anestesiado


e, posteriormente, abandonamos por completo o corte”, relata.

Ou da jovem de 30 anos que se queixava de dores lancinantes na perna


esquerda. Detalhe: ela não tinha a perna esquerda – precisou amputá-la,
três anos antes, por causa de um acidente. “As dores fantasmas são de
difícil solução”, admite.

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Apresentado por Miorrelax

Desvendando as dores
+ LEIA TAMBÉM: Música faz bem à saúde? Neurocientista e

compositora responde 

A produtora e roteirista Sônia Rodrigues gostou tanto do que leu que


tratou logo de comprar os direitos de No Labirinto do Cérebro. A ideia da
filha do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) é transformar as
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histórias em uma série documental de seis episódios, com previsão de
estreia para abril de 2022.

“Li o livro e fiquei impactada”, revela. “Não só com as histórias reais,


como a do general que mandou construir uma piscina em casa sem
saber nadar, mas também com a luta dos médicos para salvar os
cérebros de seus pacientes. Tudo no livro é impressionante”.

Fã de Plantão Médico, House e Sob Pressão, entre outras produções do


gênero, Sônia não descarta a hipótese de fazer também uma série
médica baseada na obra. “Está no radar”, faz mistério.

A ideia de escrever No Labirinto do Cérebro, conta Paulo Niemeyer Filho


na apresentação do livro, partiu de Luiz Schwarcz. O fundador e editor
do grupo Companhia das Letras gostava de ouvir suas histórias e, um
dia, sugeriu que as reunisse em livro.

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Um dos episódios se passa na fila da ponte-aérea. Em pleno Aeroporto


Santos Dumont, um homem à frente do médico apresentava um
movimento involuntário. A cada novo surto, fechava o olho e repuxava o
pescoço para o lado. Na mesma hora, Niemeyer chegou a um

diagnóstico: espasmo hemifacial. 

+ LEIA TAMBÉM: Livro desmistifica anjos e demônios do


comportamento humano
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Em seguida, explicou ao desconhecido que o problema dele tinha
solução cirúrgica. “Obrigado, vou procurar o dr. Paulo Niemeyer”,
respondeu o sujeito, sem saber que conversava com o próprio.

“Não tenho a exposição que o Drauzio Varella tem. Ele é um ótimo


médico e um grande comunicador. Vez ou outra, sou reconhecido por
algum paciente, mas não passa disso”, minimiza.
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Em outra ocasião, ainda muito jovem, convidou o pai, o neurocirurgião


Paulo Niemeyer (1914-2004), para assistir a uma de suas cirurgias. O
paciente era um respeitado neurologista que sofria de nevralgia do
trigêmeo, queixa neurológica que se assemelha a “um choque elétrico
no rosto”.

“É considerada a pior das dores”, descreve. A certa altura, o


neurocirurgião teve uma dúvida qualquer e perguntou: “Pai, o que eu
faço?”. O veterano, sem contrair um músculo do rosto, respondeu: “Não
sei. O paciente é seu!”.

“A vida inteira vi meu pai atendendo pacientes do SUS e comandando


uma enfermaria da Santa Casa. A preocupação social foi a lição mais
importante que aprendi com ele. Por essa razão, nunca deixei de atender
aos menos favorecidos”, afirma o neurocirurgião.

+ LEIA TAMBÉM: O labirinto da mente de quem tem Alzheimer no


filme “Meu pai”

Outra casa
A partir de agora, Paulo Niemeyer Filho terá de conciliar as cirurgias no
Instituto Estadual do Cérebro (IEC), onde é diretor médico, com o chá
das quintas-feiras na Academia Brasileira de Letras (ABL).

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No último dia 18 de novembro, foi eleito, com 25 de 34 votos, o mais


novo ocupante da cadeira 12, que pertenceu ao professor e crítico
literário Alfredo Bosi (1936-2021).

Paulo Niemeyer é o 25º médico a ingressar na instituição fundada por


Machado de Assis (1839-1908) em 20 de julho de 1897. Por lá passaram
nomes como o epidemiologista Osvaldo Cruz (1872-1917), o sanitarista
Moacyr Scliar (1937-2011) e o cirurgião plástico Ivo Pitanguy (1923-2016).
“Guimarães Rosa é hors concours”, opina. “É um escritor inigualável e
um homem de grande erudição e criatividade. Uma referência”.

Em No Labirinto do Cérebro, o mais novo imortal da ABL pede ajuda a


pesos-pesados da literatura universal para explicar alguns conceitos
neurológicos.

Assim, recorre ao conto O Homem de Negócios (1840), do americano


Edgar Allan Poe (1809-1849), para falar sobre a síndrome do lobo
frontal. O romance Em Busca do Tempo Perdido (1913-1927), do francês
Marcel Proust (1871-1922), serve de exemplo para a memória
voluntária. Já Os Demônios (1872), do russo Fiódor Dostoiévski (1821-
1881), ajuda a descrever crises epilépticas.

Em outros capítulos, Paulo Niemeyer Filho cita filmes como O Estranho


no Ninho (1975), de Milos Forman; Tempo de Despertar (1990), de Penny
Marshall; e Perfume de Mulher (1992), de Martin Brest, para discorrer
sobre lobotomia, Parkinson e cegueira.

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