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Nosso Ambiente
Nosso Ambiente
AMBIENTE
10 ANOS EDUCANDO NA NATUREZA
ecofuturo.org.br
NOSSO
Adriano Ferreira de Souza
Texto: Sibélia Zanon Alexandre Oliveira da Silva
Revisão de texto: Iraci Martinez Pereira Ana Maria de Matos Guidi
Ilustração da capa: Paloma de Farias Portela Cleia Marcia Ribeiro de Araújo Sousa
Fotos: Lethicia Galo, Eliza Carneiro, Ronaldo David de Almeida Santos
Elon Alves Machado
Cardoso, Sergio Zacchi, Seleção Natural - Inovação
AMBIENTE
Juvenil Vitoriano de Jesus
em Projetos Ambientais, acervo Ecofuturo, acervo Marcelo Lemes de Siqueira
dos educadores e das escolas que participaram do Marcelo Rogério Sant’Ana
Programa Meu Ambiente Marcos José Rodrigues Prado
Projeto Gráfico: Soma palavra e forma Maurício Rodrigues Prado
Michele Cristina Martins
São Paulo • 2020 Raquel Coutinho
Ricardo Silva de Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
P
ara muitas pessoas, a escola é o lugar vocabulário, a construção que criamos da
onde aprendemos a ler e escrever, palavra natureza acaba se remetendo a
e os conteúdos sistematizados pela áreas naturais, praças, parques, árvores,
humanidade ao longo do tempo. animais. E existe natureza em todos os
Você já parou para refletir que o ato lugares! Nós somos natureza!
de aprender a ler está relacionado ao exer- Aprender sobre vida é aprender sobre
cício de ler o mundo? Para atentar-se às a nossa vida, a vida de todos os seres,
relações, reverberam na percepção com a vida do planeta, a vida do universo. A
atenção os espaços da escola. Todos os vida que existe em todas as relações, inte-
dias inúmeras possibilidades estão acon- rações, criações, imaginações.
tecendo nos espaços externos e que não Eu, que sou professora em escola
são percebidas quando se está entre qua- pública e também atuo em formação de
tro paredes. Há vida, há tempo, há encon- educadores em vários lugares do Brasil,
Prefácio
tros, há transformações. deparo-me com as mais diferentes realida-
Eu acredito que a escola é o lugar des e percebo que é impossível aprender
onde aprendemos sobre a vida. E o que sobre a vida estando distante dela, em
é vida? Tim Ingold, antropólogo, nos diz
que vida é tudo que se move. Estamos
num planeta em movimento, num universo “Você já parou para refletir que o ato
em movimento.
E vida também é o que chama- de aprender a ler está relacionado ao
mos de natureza. No entanto no nosso exercício de ler o mundo?”
6 7
açã o?”
“Que educ
possib
ilidade s espaç os de
s conseguim otin a , n o
“É preciso que nós, educadoras e educadores, nossa natureza. E a partir daí, que ação os encontrar na nossa r
simples posso ter? Abrir as janelas. Deixar
exercitemos um olhar mais sensível para todo o que o ar fresco circule, sentir a temperatura
território da escola e seu entorno. Existe vida ?” oscilando ao longo do dia, nos colocando
em contato com a umidade do ar, com o Para além de ter a natureza presente faixas etárias. Conhecer estes projetos
vento. Essa ação, além da promoção do fisicamente, também é importante conec- é fundamental para nutrir nossa criativi-
lugares cada vez mais artificiais e que cada bem-estar e da saúde, nos ensina sobre o tar-se com seus valores. A natureza pode dade, e nos mostrar caminhos. É possível!
vez nos afastam mais da natureza. A escola lugar no qual vivemos e constrói um senti- atravessar o currículo, as propostas, o pro- E conhecer experiências reais nos ajudam
precisa ser um lugar cheio de vida. Quanto mento de pertencimento. jeto político pedagógico. Nessa perspec- a refletir e questionar nossa prática, mudar
mais vida presente, mais relações vivas! Que outras possibilidades consegui- tiva estamos considerando a escola e a paradigmas e encontrar possibilidades que
Independente do contexto, do espaço, mos encontrar na nossa rotina, nos espa- vida que ali se manifesta. Considerar seus antes não eram percebidas.
do lugar, existe natureza na escola. E sem- ços de educação? Que boas escolhas valores é também dar visibilidade ao seu Deixo aqui um pedido: esteja dispo-
pre é possível trazer essas relações mais fazemos diariamente e nos colocam em território, à sua comunidade, à sua diver- nível e vislumbre as possibilidades. Toda
para perto e frequentes. É possível e pre- relação com a vida? Trazer mais plantas sidade, aos diálogos, às relações. mudança começa com um pequeno passo.
ciso torná-las visíveis e presentes. em diferentes ambientes da escola, mais Nas próximas páginas desta publica- Descubra o que é possível, desafie-se, e
E para isso, faz-se necessário rever a elementos naturais presentes em diferentes ção encontramos registros de ações reali- encontre sempre muito mais os motivos
concepção que temos de natureza. Você contextos, contar histórias no jardim, optar zadas em escolas a partir das provocações para realizar algo que as desculpas que
deve ter percebido que quando está em por realizar ações nos espaços externos da do Programa Meu Ambiente. Professoras e impedem que aconteça.
áreas naturais abundantes o sentimento escola, dentre tantas outras possibilidades. professores que encontraram muitos bons
de conexão é maior e mais profundo. No É preciso que nós, educadoras e edu- motivos para ter a natureza presente nos
entanto, perceber a natureza que existe na cadores, exercitemos um olhar mais sensí- processos de aprendizagem de diferentes Ana Carol Thomé
nossa rotina, encontrar possibilidades, per- vel para todo o território da escola e seu
mite efetivamente realizar pequenas ações entorno. Existe vida? Como pode haver
no cotidiano que nos conectam e nos apro- mais vida? Precisamos nos atentar para
ximam dos pulsos de vida. reconhecer estes espaços a partir da per- Pedagoga, especialista em Educação Lúdica, Psicomotricidade e Educação
Um exemplo? Respirar. O começo cepção das crianças, com a curiosidade Inclusiva. Professora da Rede Pública, atuando no programa de inclusão
escolar. Idealizou e coordena o programa Ser Criança é Natural do Instituto
desta conexão começa com o ar que res- de quem visita um lugar pela primeira vez,
Romã, desde 2013. Trabalhou em Escolas da Floresta no Reino Unido, e
piramos, a mesma atmosfera e que conecta com o resgate das primeiras sensações ao pesquisa iniciativas que relacionem Educação e Natureza pelo mundo. Estuda
todos os seres do planeta. Respirar é uma observar uma folha caindo, encontrar uma a abordagem Pikler, primeira infância e desenvolvimento infantil. Professora
ação que nos conecta com a natureza semente no chão. Repare na sua rotina, por profissão, educadora de coração, brincante desde o nascimento. Acredita
do mundo e nos permite conectar com a nos seus tempos e nos seus espaços. no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.
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Queri d o l e i t o r !
A
s próximas páginas foram teci- Trata-se de um dos programas de edu-
das em conjunto com a natureza, cação ambiental desenvolvidos pelo Instituto
como o ninho de um pássaro ou o Ecofuturo, organização sem fins lucrativos,
seu canto, ao escapar da copa da árvore criada em 1999 e mantida pela Suzano,
e voar até o coração de uma criança. que investe na promoção do conhecimento
Estamos falando do Programa Meu e na conservação de áreas naturais, inte-
Ambiente e de seus desdobramentos na grando pessoas, livros e natureza.
atuação de sensíveis educadores e seus Nas próximas páginas veremos que o
alunos, famílias e comunidade. Meu Ambiente promove a sensibilização
O Meu Ambiente está fazendo ani- de professores, educadores, monitores
versário! São 10 anos de atuação, tendo ambientais e estudantes. Paralelamente, o
a natureza como educadora. O Programa Programa alcança Secretarias de Educação
considera pessoas e natureza partes e Meio Ambiente, e instituições de ensino.
atuantes e significativas de um mesmo sis- O envolvimento de todos é fundamental
tema interligado de vida – como, afinal, para o bom desempenho da iniciativa, e é
deve ser. Valoriza o indivíduo-educador e
o indivíduo-aluno, despertando a reflexão
sobre a importância de atividades ao ar O Meu Ambiente está fazendo aniversário!
livre, do contato mais próximo com o meio
e da conservação dos biomas brasileiros São 10 anos de atuação, tendo a natureza
e sua biodiversidade. como educadora.
10 11
Educador
es traze
m repertó ões
rio rico de inspiraç
a partir da colaboração dos participantes muitas vezes de maneira interdisciplinar em que se vive, do rio vizinho, da praça que tecemos com ela e com o outro, por-
que os trabalhos começam, privilegiando e para além do senso comum de que o ao lado de casa, do pátio da escola, de que reconhecemos as conexões existentes
atividades que partem de suas realidades estudo do meio está limitado a aulas de um canteiro no quintal ou, até mesmo, das entre todos os seres.
e preferências. ciências ou geografia. plantinhas na varanda. Atividades ao ar livre ajudam a enten-
O Programa foi realizado, nos seus As diversas abordagens estimulam a Partindo de ações simples, como uma der contextos, observar lugares e conhecer
primeiros anos, com escolas públicas do refletir sobre as possibilidades de atuação caminhada de reconhecimento dos arredo- histórias que, muitas vezes, são contadas
entorno do Parque das Neblinas, usando de cada um no seu ambiente, incentivando res da escola, surgem muitas observações por meio de um toque, de um cheiro, de
a reserva como ambiente de encontros de educadores a criarem contextos de apren- que culminam em ações com forte potencial um sabor ou de um som. O mundo se
formação, trocas e vivências. A metodo- dizagem que envolvam os elementos da transformador. Da busca por ampliar as ati- manifesta de várias maneiras, e acredita-
logia, contudo, pode ser multiplicada em natureza, dentro e fora da sala de aula. vidades em ambientes naturais, acontecem mos que certas leituras só podem ser feitas
variados espaços naturais, proporcionando Observar o líquen numa árvore e estudar transformações nos espaços escolares. Das através dos sentidos.
experiências significativas ao ar livre. o oxigênio em sala de aula; ver o cambuci árvores frutíferas plantadas na praça, se E é pela porta de entrada destes
A seguir, vamos conhecer a trajetó- na natureza e depois fazer o brigadeiro da colhe o fruto e se ouve o pio do pássaro. sentidos que se desenvolve o apreço e o
ria de educadores de Bertioga, Mogi das fruta, calculando quantidades, registrando E novos ciclos de dispersão de sementes e entendimento de que estamos todos interli-
Cruzes e Suzano, que já participaram do a receita, cozinhando e degustando o qui- de ideias passam a povoar a atuação de gados numa teia, cujos fios, quando toca-
Meu Ambiente junto com seus alunos. A tute; ler sobre a Mata Atlântica embaixo de todos: professores, estudantes, comunidade dos, reverberam a intensidade e intenção
experiência única de cada educador traz uma árvore; descobrir em mapas o trajeto escolar, famílias, bairros. do toque por toda a sua extensão, atin-
um repertório rico de inspirações e mostra feito entre a própria casa e a escola e os A vivência na natureza é parte funda- gindo o todo.
a natureza permeando a proposta pedagó- acidentes geográficos do bairro; elaborar mental do programa, convidando à inte- Por meio desta publicação, o Instituto
gica e os conteúdos do currículo escolar, um jogo que reproduza o ambiente da gração e à extensão dos temas abordados Ecofuturo revela a trajetória de alguns de
floresta com folhas, gravetos e sementes na escola. Todo esse contexto é revelado seus participantes, que representam tan-
coletados durante as caminhadas… em múltiplas experiências práticas nas pró- tos outros, e busca, assim, inspirar leito-
“Quanto mais intensificamos e promovemos O Meu Ambiente convida a uma ximas páginas. res e ampliar olhares e possibilidades de
essas relações entre nós e o ambiente, mais experiência de integração, oportunizando Desde o início, o Meu Ambiente tem trabalho no espaço educador natureza:
que cada participante se reconheça como deixado pegadas na trajetória de cada ambiente capaz de potencializar e huma-
desenvolvida será a consciência sobre as nossas parte de um ciclo contínuo e interdepen- um de seus participantes. Os espaços nizar a nossa leitura de mundo.
responsabilidades e o cuidado que devemos ter dente de vida, que tudo envolve e abriga. naturais são espaços com vocação sen- Então, querido leitor, vire as páginas
Ao vivenciar a natureza é possível reno- sibilizadora e, mais do que isso, educa- e escute: o pio de um pássaro escapou da
com todas as vidas.” var o olhar para o cotidiano e ao próprio dora. Quando conhecemos a natureza, copa de uma árvore… e vai voar até mais
Michele Martins ambiente, apropriando-se da realidade nós nos responsabilizamos pelas relações um coração! Será o seu?
12 13
Os rios
da minha vida
M
e recordo de momentos com meu O que hoje chamamos tecnicamente
pai na barranca do Rio Paraná, como vocalização, meu pai e eu conhecía-
quando nós e o Paranazão – mos como sinfonia das aves, dos anfíbios
como o rio era carinhosamente chamado –, e dos insetos, cada um tocando o seu “ins-
corríamos livres, leves e soltos. trumento”. As obras musicais contrastavam
Rio potente e imponente, vai cortando com o nosso silêncio, única e respeitosa
milhares de quilômetros, dezenas de muni- contribuição que poderíamos oferecer
cípios e três países, forjando a paisagem, naqueles momentos.
gerando vida e histórias. Mas deixamos de correr livres. O
O correr livre do Rio Paraná signifi- Paranazão e nós.
cava a formação de uma geografia orgâ- As represas erguidas comprometeram
nica, que na época das cheias formava os os varjões. O rio, disciplinado pela força
varjões, ambientes nos quais a vida existia das necessidades humanas – sempre elas –
em tremenda profusão e sonoridade. teve transformada a complexa sinfonia de
Era o berçário de inúmeras espécies suas margens difusas em uma composição
de peixes. Também bastava um descansar de poucas notas. O regente cervo custa
dos remos para contemplar irerês, curim- agora a dar as caras.
batás, garças, socós, biguás, jacarés. Com E nós, disciplinados pela vida urbana,
sorte, o dia seria premiado com a apari- pelo tratamento asséptico e distante da
ção de um cervo do pantanal. natureza, pelo consumismo exagerado,
14 15
“O Ita a vid a.”
tinga p ece ra m n
ode ser o primei nh
ro r i o l i m p o q u e m u i t o s c o
também seguimos perdendo conexão e mas um curso sinuoso. E impressiona florestais, biólogos, guarda-parques, monito- quanto as escolhas futuras não poderão ser
organicidade. Deixamos de nos encantar mesmo por sua transparência, pelas res, pesquisadores, cozinheiras, ecoturistas, influenciadas pelo contato e (re)descoberta
com a estética e sonoridade do ambiente cachoeiras e pequenas praias. educadores e estudantes tratam o Itatinga e do ambiente natural?
natural. Deixamos de remar e de nos Mas a mim, toca principalmente pela a Mata com grande e merecida reverência. Fico feliz só de saber que o Rio
encantar nos varjões da vida. história que ele me conta. Cada gota traz Parte do que até o momento escrevi Itatinga oferece, para todas as pessoas
Mas o que vi, ouvi e senti, não con- na sua essência uma história não somente pode ser explicada pela geografia, biolo- que hoje o visitam, a oportunidade, cada
sigo esquecer. Mais que isso, a minha própria de uma substância chamada água, gia, física, matemática, história e cultura. vez mais rara, que o Paranazão me ofe-
experiência de contato com a natureza mas de plantas, bichos e gente. Podemos tentar compreender a vida de receu. O Itatinga pode ser o primeiro rio
me impregnou e forjou a minha essência. Você, que como eu pode estar agora qualquer rio por meio destas “disciplinas”. limpo que muitos conheceram na vida. E
O mesmo destino que na infância me na cidade grande, pare perto de um rio pró- Melhor, podemos falar de geografia, bio- muitos se confraternizam e compartilham
apresentou ao Rio Paraná e me fez enge- ximo e tente ouvir o que ele tem para contar. logia, física, matemática, história e cultura histórias com as suas águas frias e trans-
nheiro florestal, também me deu o privilé- Sim, todos os rios podem falar, não apenas por meio dos rios e também das matas parentes, testemunhas de tantos momentos
gio de conhecer, já na vida adulta, um rio o Paranazão e o Itatinga. Certamente, as e paisagens. É o ambiente natural como de transformação.
chamado Itatinga. Amor à primeira vista histórias não são as mesmas. espaço educador. Quem sabe sejam instigados ao con-
que, creio eu, foi recíproco. Voltando aos dois rios da minha vida, Qual o reflexo que o convívio com o tato cada vez mais constante com a natu-
Mais mirradinho, com menor vazão e eles correm em sentido quase contrário e ambiente natural pode proporcionar para reza. Quem sabe consigam até ouvir o que
num relevo acidentado, não tem varjões, deságuam no Atlântico, distantes um do pessoas praticamente desprovidas da opor- cada rio, cada planta e cada bicho tem a
outro, mas o oceano lhes permite misturar tunidade do contato com a natureza? Sem nos dizer.
suas histórias e vidas no eterno embolar contar o desfrute em si, os benefícios à
E nós, disciplinados pela vida urbana, pelo das correntes. Ali, se tornam um. saúde e a sensação de encantamento, o Paulo Groke
tratamento asséptico e distante da natureza, Bem antes disso, nas nascentes do
Itatinga, um tal de Parque das Neblinas foi
pelo consumismo exagerado, também seguimos criado para abraçá-lo e protegê-lo. Cada
perdendo conexão e organicidade. Deixamos de uma de suas quase quinhentas nascentes
Diretor Superintendente do Instituto Ecofuturo, Paulo Groke é
engenheiro florestal (ESALQ/USP), e especialista em ecoturismo
nos encantar com a estética e sonoridade do é um filhote de rio e, como tal, merece (SENAC) e em Prevenção e Controle de Incêndios Florestais (UFPR).
especial cuidado. A Mata Atlântica que É responsável pela gestão do Parque das Neblinas e atua há 35
ambiente natural. Deixamos de remar e de nos lhe serve de manto se recupera do assédio anos com conservação ambiental.
encantar nos varjões da vida. do Homo sapiens. No Parque, engenheiros
16 17
18 19
Sumário
Fazedores de histórias.............................................. 22
Natureza na telha.................................................... 27
Vista linda............................................................... 33
Caixas ganham asas................................................ 39
Q de quero-quero ................................................... 45
Ler a natureza......................................................... 51
Uma trilha para chamar de sua................................. 57
E a escola se transformou em floresta......................... 63
E a escola brotou..................................................... 69
Música da natureza ................................................ 75
Brincar com terra .................................................... 81
Plantar transformações ............................................. 87
Vai dar fruta nessa escola ........................................ 93
Manifestantes da poesia........................................... 99
Nascente de ideias ............................................... 105
Abrir os portões .................................................... 111
Referências inspiracionais....................................... 116
Biblioteca da natureza............................................ 118
“Temos que tocar o coração deles pra
Fazedores de histórias
CIBELE CRUZ
Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José Carlos
plantar uma sementinha em cada um.
Buzinaro – Bertioga Aí ela vai crescer e lá na frente a gente
Classe participante: 5º ano vai colher frutos.”
VANESSA ADELINA DIAS “Sempre que possível, a gente faz RAYSSA PEREIRA DA SILVA “Não vejo valor em explorar apenas o
Escola Municipal Luiz de Oliveira
Machado – Mogi das Cruzes
atividades fora da sala de aula, Escola Municipal de Ensino
conteúdo do livro didático. Se estou na
Fundamental Ignez de Castro
Classe participante: Educação Infantil – explorando tudo o que a gente consegue Almeida Mayer – Suzano escola como professora, tenho que trazer
Infantil 3 e 4 (multisseriada) perceber de forma prática e concreta.” Classe participante: 2ª ano uma forma deles experienciarem coisas.”
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e!
e d o ! Tá n a h o r a d o l a n c h
Natureza na telha
Vem, passar
Escola Municipal de Ensino Infantil e
Ensino Fundamental José Carlos
Buzinaro – Bertioga
Educadora: Cibele Cruz
á
ê est
l voc
o no qua
o é aquele lá longe, é o mei
Caixas ganham asas
biente nã
Escola Municipal de Ensino Infantil e
eio am
Ensino Fundamental José de
Oliveira Santos – Bertioga
“O m
Educador: Marcelo Oliveira
“E
u e alguns outros professores já independentes. Uma das atividades que formatos certos: corpo e asas ganharam
estávamos preocupados com o Marcelo desenvolveu com as crianças por contorno. Enquanto isso, a pesquisa sobre
descarte de embalagens dos ali- lá foi o mapa auditivo. as cores e o canto das aves continuava
mentos que vinham para a escola”, conta Um desafio do mapa auditivo era entre as crianças.
Marcelo. “Eu estava juntando as caixas praticar o silêncio. “Foi interessante ver Então, cada criança ganhou dois kits
de banana, por exemplo, e aí ficou uma as crianças tentando ficar quietas. Uma com asas e corpo de madeira. As famílias
dúvida: o que fazer com esse material?” não podia falar enquanto a outra estava
Foi no primeiro encontro do Meu tentando achar um pássaro no seu mapa
Ambiente que veio a ideia de reaprovei- auditivo. Depois que todo mundo termi-
tar as embalagens para confeccionar brin- nava, elas se arriscavam: Era bem-te-vi, era O mapa auditivo e seus objetivos
quedos para o dia das crianças. Como as guacho, era canário?”, conta o professor.
Vamos brincar de mapa auditivo?
crianças estavam bem encantadas com Em sala de aula, o trabalho com as aves
os pássaros, suas cores e cantos, surgiu foi ganhando asas. Cada criança escolheu Cada criança recebe uma folha sulfite com alguns círculos desenhados.
a ideia: usar as caixas de banana para uma espécie e ela própria encarnava o A criança está representada no centro da folha. De olhos fechados e
construir pássaros de madeira. A EMEIF pássaro ao se descrever: em silêncio, ela escuta os sons da mata: o vento nas folhas, a água do
José de Oliveira Santos fica ao lado do — Eu tenho peito vermelho e minhas rio, os pingos da chuva, os insetos e os pássaros. Ah, os pássaros! Tenta
Sesc Bertioga, também reserva natural, asas são pretas. perceber, por exemplo, se o pássaro cantou à sua frente, atrás, à direita
que pode ser alcançada a pé. Na escola Brincando, foram pesquisando e se ou à esquerda e marca a localização com um x na folha de papel. Pelas
há diversas árvores que são visitadas com familiarizando com diversas espécies da características do canto, ela tenta adivinhar qual é a ave.
frequência pelas aves. região, unindo ciências e língua portu-
Objetivos
Alguns professores haviam se progra- guesa nessa busca das singularidades de
mado a fazer, ao longo do ano, algumas cada pássaro. Partiram, então, para o Concentração, percepção e distinção de sons, reconhecimento das aves,
visitas ao Sesc, combinando a programa- trabalho de reaproveitamento das caixas sentir-se parte do ambiente, entregar-se e encantar-se com a natureza,
ção disponibilizada aos conteúdos curri- de banana. Marcelo pediu ajuda e alguns perceber com os ouvidos o que não se vê com os olhos.
culares ou mesmo realizando atividades pais vieram para cortar as caixas nos
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las ”
m e
“Foi muito fácil trazer as crianças para a Outros projetos ganhariam ainda “O c
éu br ad ei co
ideia da conservação da natureza, da visão corpo naquele ano. A vivência na natu- ilhou
, o ven io e eu n
do homem enquanto interdependente da
reza foi impactante. “Foi uma semana
de chuva, nosso passeio foi adiado por
to acalmou, as crianças entraram no r
natureza porque a proposta apresentada para os queda de árvores, a expectativa cresceu e
no dia em que nós fomos, tudo mudou, o
professores, a metodologia e toda a estrutura céu brilhou, o vento acalmou, as crianças
(do Meu Ambiente) foi encantadora.” puderam entrar no rio, eu nadei com elas. escola. Em sistema de rodízio, sempre O tema é sempre atual. Aqui na escola,
Foi um dia de encanto, como se elas tives- duas crianças ficavam incumbidas de estamos sempre trazendo esse tema à tona
sem entrado num outro mundo, num outro serem as vigilantes do desperdício durante com um novo viés ou novo enfoque.”
também participaram, ajudando a lixar universo. Naquele dia, a Terra girou mais as refeições. Elas usavam coletes especiais
as peças, que depois ganharam as cores devagar”, conta Marcelo. para a função, faziam um trabalho de veri-
do pássaro escolhido e previamente pes- As crianças voltaram da vivência aten- ficação de sobras, e conversavam com as
quisado. Cada criança pintou dois pássa- tas com a natureza e preocupadas com a outras crianças sobre evitar o desperdício. Caixas com asas
ros: um deles ficou com ela e o outro ela produção e o desperdício de alimentos. Em uma competição, a sala que produ- “Um dos objetivos do projeto
deu de presente para um colega de outra A horta da escola foi revitalizada e cres- zisse menos resíduos ganharia. “Antes, as foi fazer com que a criança
sala de aula. ceu, teve salada de frutas com a participa- crianças menores faziam pratos grandes e
tivesse a noção da importância
Trazer os pais e familiares para parti- ção de todos e Marcelo ajudou com sua descartavam. A partir desse trabalho redu-
de cuidar da natureza para
cipar do Programa e do cotidiano escolar turma na execução do projeto Vigilante do ziu-se consideravelmente o desperdício de
cuidar de si própria. Reutilizamos
foi muito enriquecedor. O Desperdício, que incentivava a alimentos na escola”, conta Marcelo.
as embalagens dos alimentos
aprendizado tornou-se consumir conscientemente Outro projeto desenvolvido pela turma
que vieram para a escola,
mais significativo e as os alimentos e cuidar dos do Marcelo foi o Cuidar da Ciclovia, que
aprendemos a doar o fruto
ações mais participati- restos e sobras. é muito usada na região e constantemente
vas e eficientes. A cola- Com o princípio está suja com lixo. “Mais tarde o Sesc
do nosso trabalho para outras
boração dos pais nos de que “comida não arborizou também o trajeto da ciclovia e crianças e pesquisamos pássaros
processos escolares é lixo” e não deve ser foi bacana”, conta. Para Marcelo, a par- da Mata Atlântica e sua
faz a criança sentir-se descartada, o projeto ticipação no Meu Ambiente não tem fim. dificuldade em sobreviver com
valorizada e incenti- se mostrou muito efi- Cada professor participante busca multi- a invasão do homem no espaço
vada. A comunidade ciente nas mudanças plicar os conhecimentos na sua unidade deles. Esse foi o foco do trabalho
escolar ganha força e de consumo dos ali- escolar. “Esse projeto não se fecha, ele de modo geral.” Marcelo Oliveira
novas ideias. mentos ser vidos na se expande e se multiplica a cada ano.
42 43
r
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o G u a r at u b a a b r a ç a
Q de quero-quero
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Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José Carlos
Ali, o
Buzinaro – Bertioga
Educadora: Mônica Martinez
44 45
Percu
rso: e
n tre a ca
sa e a escol
a mora um mundo
Q
uero-quero faz ninho lá perto do observações, o despertar dos sentidos foi
campinho de futebol. E a meni- ganhando corpo entre as crianças e virou
Caminhada com propósito
nada que se cuide! Se invadirem tema da classe. O objetivo da educa-
o gramado do pássaro, lá vem rasante! • Aguçar os sentidos dora era sensibilizar as crianças para
Quero-quero, tucano, a mata, a meni- • Perceber os desafios e conhecerem a riqueza do seu entorno,
nada e o Rio Guaratuba encontrando potenciais do entorno plantando o desejo de conservar.
o mar… Isso tudo cabe em Guaratuba, • Refletir sobre os impactos da Essas observações levaram a ati-
Ber tioga, onde fica a EMEIF José “nossa pegada” vidades bastante significativas, como
Carlos Buzinaro. o registro escrito. Na sala de aula,
Para despertar os sentidos das crian- foi colocada uma cartolina e algu-
ças para toda essa riqueza, Mônica mas vezes por semana as crianças
lançou um desafio. As crianças deve- a atenção: os tons de verde das árvores, escreviam lá o que haviam obser-
riam obser var algo uma joaninha pelo cami- vado de novo. Às vezes, acontecia de
que nunca haviam nho, o canto de um alguém escrever uma palavra errada e um
notado no seu per- pássaro diferente. colega colaborava com uma correção, tor- na chegada, às 7h30. Depois novamente
curso de casa até O comentário nando o processo de alfabetização mais às 10 horas, e outra vez, ao meio-dia.
a escola, mesmo de um aluno agu- significativo e conectado com o cotidiano Registraram em desenhos e ficaram impres-
que percorressem çava a curiosidade das crianças. sionadas com a possibilidade da leitura
todos os dias o dos outros e, no Além da língua portuguesa, outras das horas por meio da observação do Sol.
mesmo trajeto. dia seguinte, tra- disciplinas entraram na roda das obser- Esse olhar chamou a geografia para
Ao chegarem ziam observações vações. A matemática das horas apa- falarem mais sobre o nascer e o pôr do
à escola, nasciam novinhas em folha, receu no quintal da escola, quando as sol e os pontos cardeais. Nessa aula, con-
os diversos rela- em árvore, em rio, e crianças começaram a observar a sombra versaram também sobre a vivência que
tos e registros do as ideias iam fermen- que as árvores faziam. Por alguns dias fariam na floresta. Qual seria a distân-
que havia chamado tando. Partindo dessas foram, então, visitar essa sombra logo cia? Onde ficava? O assunto se expandiu
46 47
Uma convers
a sobre a natureza puxa outra
Reg
istr
o esc
rito: rio
observaç e, em
ões novinhas em folha, em árvor
para uma exploração do globo terrestre
com um pouco de som para animar a pes- Mais que registros
quisa. A música escolhida foi Ora bolas,
• Aprimoramento da escrita
do Palavra Cantada.
• Trabalho coletivo
“Onde está a cidade?
• Ampliação do olhar a partir Mônica diz que aprimorou
Tá do lado da floresta! de observação cotidiana sua prática pedagógica
Onde está a floresta? • Multidisciplinaridade/ com o Meu Ambiente
A floresta é no Brasil! interdisciplinaridade
“Todas as ciências nasceram
Onde está o Brasil? da natureza e às vezes a gente
Tá na América do Sul, monta um planejamento e
no continente americano, não faz nenhuma referência
cercado de oceano e puderam ver a pegada da anta – traz uma à natureza. Por exemplo, se
das terras mais distantes leitura nova de pertencimento e comunhão. eu vou elaborar um problema
de todo o planeta. No Parque, as crianças puderam ver árvo-
de matemática, eu posso falar
E como é o planeta? res e insetos que também veem nos arre-
sobre o tamanho das árvores
O planeta é uma bola, dores da escola.
ou sobre o tempo de gestação
que rebola lá no céu.” “Uma coisa é a criança chegar na a ser utilizadas com mais cuidado e, em
dos animais da nossa floresta.
escola e ouvir que não pode desperdi- vez de começarem cada dia de aula numa
Então, eu estou trabalhando
A visita ao Parque trouxe a proximi- çar papel e outra coisa é ela sentir isso”, nova página, eles passaram a pular ape-
ciências, matemática e falando
dade com a linguagem da floresta. “A fala Mônica. Ao longo do ano, as crian- nas duas linhas. O cuidado com a água
da nossa Mata Atlântica. Se
vivência na natureza traz a verdade que ças foram sentindo e, no final, isso já se também pôde ser notado entre as crianças
as crianças costumam ler nos livros”, diz percebia na lata de lixo da sala de aula: na hora de lavar as mãos. “A mudança
vamos falar do abecedário, o A
Mônica. Em Guaratuba, a floresta faz parte mais vazia. As folhas das atividades eram de comportamento acontece devagar, é de anta, o L é de lontra, e o
do cotidiano de todos, mas reconhecer no reaproveitadas: leste, oeste, frente e verso. mas uma discussão sobre a natureza puxa Q é de quero-quero.”
chão a pegada de um animal – no Parque Também as folhas dos cadernos passaram outra”, garante Mônica.
48 49
abrigar a natureza
Ler a natureza
e sentidos para
caixa d
Escola Municipal de Ensino Infantil e
Ensino Fundamental José de Oliveira
U ma
Santos – Bertioga
Educadora: Renata Graziela de
Chechi Pereira Lanza
grande do
Escola Municipal Sérgio Hugo
A água
Pinheiro – Mogi das Cruzes
Educadora: Cecília Díaz Olmos
56 57
Marsup
ial:
nut
rir a
cria
na bo
lsa e gan
Silen har a simpatia da meninada
ciar para
não espantar a bicharada
s cantavam lá
As voze
Escola Municipal Sérgio Hugo Pinheiro –
Mogi das Cruzes
Educadora: Débora Ferraz
D
istante 12 quilômetros do centro Não se sabe se foram as vozes que de conversa em que valorizadas e compar-
de Taiaçupeba, a Escola Municipal cantavam lá da represa ou se foi o jeito de Débora falou sobre a tilhadas em rodas de
Sérgio Hugo Pinheiro tem trilha a professora dar asas, mas quando Débora visita ao Parque das conversa. Sempre que
sonora. A Represa Taiaçupeba banha a e seus alunos do Infantil 4 participaram Neblinas, próximo à encontravam uma pena,
vizinhança e chama a passarada a cantar. do Programa Meu Ambiente, as crianças escola, nos municípios vinham correndo mostrar
As crianças escutam. A professora também. escolheram os pássaros como tema para de Mogi das Cruzes e para a turma e a partir
Débora se lembra que, quando pesquisar. A escolha se deu numa roda Bertioga. Descobriram, daí, exploravam vários
criança, seu avô caçava passarinhos para ali na prosa, que tanto aspectos: textura, cor,
comer. José Cardoso dos Santos não caça o entorno da escola tamanho, elaborando
mais faz muito tempo. Ele e seus amigos como o Parque esta- uma hipótese sobre a
perceberam que os pássaros estavam Como objetivos, a professora vam dentro de áreas espécie da ave.
diminuindo e que, se não parassem com tinha em mente de Mata Atlântica e Em sala de aula, diver-
a caça, eles poderiam acabar. fizeram uma lista de coi- sas atividades antecederam a
• Proporcionar observação e
sas que eles imaginavam visita ao Parque. Em língua por-
contato das crianças com as
que poderiam ver na floresta. tuguesa, praticaram leituras e a escrita
aves da Mata Atlântica
Na lista, estavam as aves que foram esco- dos nomes das aves com letras móveis. Em
• Identificar e reconhecer algumas
lhidas em votação como tema preferido ciências, investigaram a vida e caracterís-
aves da Mata Atlântica
para estudo e aprofundamento. Débora ticas dos pássaros, compararam aves a
• Trabalhar a importância da
voou por dentro. outras classes de animais, refletiram sobre
conservação dos pássaros e, A partir da escolha do tema, pare- as relações entre aves e florestas. Em artes,
consequentemente, da floresta cia que os sentidos das crianças foram desenharam e pintaram os alados, carim-
• Perceber as relações entre despertados e a todo momento estavam bos dos pés das crianças se transforma-
floresta e aves (por exemplo, a atentas ao canto, às cores, ao tamanho ram em pássaros artísticos e carimbos das
dispersão de sementes) das aves que observavam em casa ou no mãos fizeram as vezes das folhas de uma
entorno da escola. As observações eram grande árvore coletiva. Também o senhor
64 65
Ali n inte iras
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zas capazes de mudar o conceito de
a intensa de s
A colet
Escola Municipal Rural Eunice de
Almeida – Mogi das Cruzes
Educadora: Rosemeire Aparecida de
Sousa Cardoso
68 69
Reflor
estar com aça
a ajuda dos pássaros tem outra gr
A
coleta de sementes era intensa… A Escola Municipal Rural Eunice de palmeira-juçara. Com barbante e madei-
um viveiro ia nascer. Tudo come- Almeida fica no bairro São Sebastião e ras, as crianças delimitaram espaço e mon-
çou com uma conversa sobre tem apenas duas classes de alunos. Por se taram um viveiro embaixo do pé de mimo
a Mata Atlântica e a futura vivência na tratar de um número pequeno de crianças, (conhecido também como hibisco). Nome
natureza. Além de participar do Meu muitos projetos são feitos em parceria com melhor de árvore para abrigar a semen-
Ambiente, Rosemeire fazia naquele ano as duas salas de aula. No ano em que teira não tinha.
um curso sobre recursos hídricos e, numa Rosemeire participou do Meu Ambiente, a O projeto do viveiro foi além daquele
conversa com a classe multisseriada de 3º professora que dava aulas na outra turma ano letivo. As mudas ganharam plaqui-
e 4º anos, chegaram à conclusão de que da escola era a Vanessa Dias, que também nhas, identificando as espécies. Pitangas
para se ter água é preciso ter floresta. Foi já havia participado do Meu Ambiente e palmeiras-juçara se desenvolviam bem.
assim que a turma lançou a ideia: “vamos com os alunos da Escola Municipal Luiz No decorrer do crescimento foi preciso
plantar árvores!” Só que ninguém tinha de Oliveira Machado. As duas professoras trocar as mudas de recipiente. Juntaram Vegetação de valor
árvores. E agora? eram bastante parceiras no desejo de ver sacos de arroz e fizeram os transplantes:
A mata ciliar é a vegetação que
a escola brotar. um aluno maior junto com dois menores,
se localiza nas proximidades
A partir da constatação de que do Infantil, faziam o transplante da muda.
de cursos d’água: rios, lagos,
precisavam de árvores, as crianças Depois de mais alguns meses, as plantas
nascentes, represas e reservas
fizeram uma pesquisa sobre a flora crescidas já tinham força para sair do
hídricas. Ela contribui com
nativa e, então, começou o movi- viveiro e ganhar o mundão. Assim, os
mento: crianças e comunidade esco- alunos plantaram as mudas nas margens
a quantidade e a qualidade
lar abriram os olhos para tudo o que da represa, perto da escola, fortalecendo da água disponível. Ao reter
era semente. Traziam sementes dos a mata ciliar. sedimentos e poluentes, evita
próprios quintais e dos caminhos Rosemeire conta que o objetivo do a poluição das águas. Protege
por onde passavam, a professora viveiro era reflorestar. “Queríamos ter ali- também o solo da erosão,
fez parcerias com conhecidos e mento para os animais e contar com eles evitando o assoreamento.
o Ecofuturo doou sementes de como ajudantes nesse reflorestamento. Os
70 71
Torta d
e espina
fre: da horta
para a mesa!
Composteira: essa horta
vai vingar!
Ao fazer o viveiro e plantar pássaros, por exemplo, ajudariam a dis- a separação, que foi se tornando algo bem
algumas mudas doadas, as persar sementes.” natural entre eles. Como na área rural não
crianças notaram que nem Enquanto o viveiro crescia, muitas há coleta seletiva, Rosemeire e Vanessa pas-
todas vingavam. Por que será? outras iniciativas vingavam: saram a levar o lixo reciclável com o próprio
• Aprofundamento sobre a Mata Atlân- carro até Taiaçupeba, para uma família que
Conversaram sobre o enigma,
tica e felinos na aula de ciências, separa e vende os materiais. A iniciativa
pesquisaram tipos de solo, e
• Atividades de língua portuguesa permanece até hoje e as mudas plantadas
chegaram à conclusão de que
com a temática dos animais da na escola e arredores continuam chamando
uma forma de enriquecer o solo
Mata Atlântica, os pássaros para o trabalho de semear.
para dar mais força às plantas
• Plantio de mudas doadas no terreno
seria fazer uma composteira. E
da escola,
assim foi! • Elaboração de composteira,
A merendeira passou a separar • Cultivo de horta com mudas e composto Objetivos
restos de frutas, cascas de orgânico doados pela comunidade,
legumes e verduras e outras • Conhecer para preservar
• Aproveitamento das iguarias colhidas
sobras da cozinha e as • Explorar a Mata Atlântica
na horta em atividade de culinária:
crianças pegavam essas sobras, e seus componentes: fauna,
torta de espinafre e torta de escarola
picavam em pedaços menores flora, rios e solo
e colocavam na composteira.
com frango!
• Apropriar-se do meio em que “Entendem-se por educação ambiental não
E foi ao estudar em geografia os desa-
Depois de um tempo, o material fios do lixo, os aterros, e as formas corretas vive, percebendo-o como vital formal as ações e práticas educativas voltadas à
orgânico passou a ser usado de descarte que as crianças tiveram a ideia e de responsabilidade de todos sensibilização da coletividade sobre as questões
numa horta, que rendeu • Descobrir que pequenas ações
alimentos para a merenda e
de implementar a separação de resíduos
fazem toda a diferença ambientais e à sua organização e participação
na escola. Duas latas foram colocadas em
também alimentos que foram cada sala de aula e, tratando-se de turmas • Tornar-se um cuidador na defesa da qualidade do meio ambiente.”
usados em atividade culinária. multisseriadas, os alunos mais antigos aju- do ambiente Política Nacional de Educação
davam os mais novos no compromisso com Ambiental (PNEA)
72 73
o?
ian
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scuta ativa a partir da obser
Música da natureza
citar a e
Escola Municipal Cecília de Souza
Lima Vianna – Mogi das Cruzes
o exer
Educadora: Solange Aparecida
Com
Gonzales Bassini
Q
ue música a natureza canta aí um grupo de tucanos que era mais fre- diversos: elementos da natureza como
na sua casa? E na sua escola? quente na escola.” A figura dos tucanos se sementes e conchas, papéis de vários tipos,
homem e da sociedade.”
Partindo desses sons, a arte- fez, então, bastante presente e cada grupo chaves, chocalhos, tubos de conduíte, cha- Hans-Joachim Koellreutter
-educadora Solange conversou com as tur- foi escolhendo uma técnica: desenho, tinta pas de raio X e outros.
mas do 1º ao 5º ano, nas quais leciona ou bordado. Os pais contribuíram com Com as experimentações e os sentidos
artes visuais e coral. A ideia era que as materiais e assim seguiram, uns ajudando afinados, professora e alunos elegeram a
duas aulas semanais em cada turma pudes- os outros na elaboração dos pássaros. música Passaredo, de Chico Buarque, para Unir música e meio ambiente
sem fazer coro com as vozes da natureza. Na aula de coral, todos começaram trabalharem com maior profundidade.
• Apreciar sons do ambiente e
“Vi a oportunidade de fazer um tra- a exercitar a escuta ativa: que sons fazem Usando a música como tema, colocaram
anotar: barulhos, sons musicais,
balho que contemplasse os sons de uma parte do nosso cotidiano? Na EM Cecília a criatividade para funcionar, ampliaram
sons da natureza, a respiração,
maneira aliada à beleza, à educação, à de Souza Lima Vianna tem uma amoreira, conhecimentos e habilidades artísticas.
as vozes, o som da mordida
preservação nossa e do lugar, aos cos- que vive chamando os passarinhos. Assim, O objetivo era apresentar o trabalho na
na maçã
tumes. Um trabalho que tucano, pica-pau e sabiá-laranjeira foram Semana Cultural, evento anual que envolve
• Escutar os sons dos pássaros e
pudesse ligar a forma- incluídos nas aulas. a escola inteira.
reconhecer os pios da região
ção deles à comu- Depois de exerci- O fechamento das atividades do ano
nidade em que tarem a escuta ativa, ocorreu na Semana Cultural, conforme pla-
• Brincar de imitar os sons dos
moram”, conta passaram a outras nejado. Todos os alunos da escola e os pais pássaros, o som do vento
Solange. Nas explorações sono- vieram apreciar a exposição. Lá, foi mon- • Criar paisagem sonora usando
aulas de artes, ras: expressão cor- tado um varal com os trabalhos de desenho, o próprio corpo e materiais
a professora poral e rítmica livre, pintura e bordado. E a música Passaredo ao redor
propôs dese- experimentação de ganhou novos acordes e cores com a meni- • Descobrir músicas que falam
nhos com a temá- sons com o próprio nada do coral. Coreografia, figurino e sobre a natureza, pesquisar
tica pássaros. “Alguns corpo e boca, cria- maquiagem misturaram elementos da flora fauna e flora que aparecem nas
alunos pesquisaram sobre ção de paisagem e dos alados. A música fez tanto sucesso músicas, tocar, encenar e cantar
as espécies, mas tínhamos sonora usando materiais que foi também apresentada na Escola
76 77
lora povoando as músicas qu
auna e a f e amam
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Desco Apreciar
o som da mordida na maçã
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ploração de espaços: certeza
Brincar com terra
campo e ex
Escola Municipal Luiz de Oliveira
Machado – Mogi das Cruzes
Educadora: Vanessa Adelina Dias
isas de
Pesqu
“Nós fazemos parte do meio ambiente. Tudo o
que está fora reflete dentro de nós. A água que
está fora também está dentro do nosso corpo.
Então, cuidarmos da água que está fora interfere
diretamente nas nossas vidas. E o solo? Quanto
do solo também tem no nosso corpo? Quando
fazemos um exame de sangue, vemos ferro,
cálcio… um monte de minerais. O ser humano
não está desconectado do meio ambiente.”
80 81
Serrapilheir
a que nutre a terra e faz brotar
A
horta plantada pelas trouxeram o tema joaninha portuguesa num trabalho transversal. Com
crianças no terreno para o centro das atividades a canetinha, as crianças registravam todos
da escola tornou- desenvolvidas. Em parceria os dias no calendário quantas joaninhas
-se espaço de observa- com a gestão escolar, pro- estavam em cada estágio: ovo, larva, pupa
ção intensa. Cada classe videnciaram para a escola e adulto.
tinha seu dia de cuidados. dois kits com larvas de joa- Assim, puderam verificar quantos dias criança chacoalhava a casa das joani-
Quando iam regar, leva- ninhas vermelhas de ver- levava cada estágio. Perceberam, ainda, nhas, as outras intervinham, pedindo mais
vam junto um saco para dade para serem obser- que havia uma variação entre as joani- cuidado. A escola toda estava envolvida
recolher lixos que apare- vadas, criadas, e depois nhas, elas mudavam de ciclo em dias dife- no projeto e no aprendizado da vida.
cessem pelo caminho. soltas na natureza. O kit rentes. Cada uma no seu tempo. Lidaram Cada joaninha que se tornava adulta
Nos finais de semana, um tinha um habitáculo de com o fato de que algumas morreram sem era solta pelas crianças na horta: deixar
vizinho da escola ajudava criação, uma lupa, um completar os ciclos todos. Quando alguma voar era uma arte. E soltar as joaninhas
a aguar. O jeitão escabe- jogo de perguntas e respos- na horta fazia todo o sentido porque elas
lado da rúcula, o rabanete tas e comida específica para tinham um papel fundamental: comer os
que crescia para baixo, algu- as joaninhas. pulgões. Saber que as joaninhas viveriam
Transversalidade
mas mudas que não vingavam… tudo era Diversas atividades com a temática cerca de seis meses após chegarem à fase
percebido e era motivo de levantamento de da joaninha entraram em cena. Nas aulas na educação adulta também foi uma descoberta impor-
hipóteses e prosa. E os insetos visitantes? de música e língua portuguesa, joaninhas Ação pedagógica que integra os tante. Quanto dura seis meses?
Ah, os insetos! Entre eles, havia um que apareceram em letras de música, poemas conteúdos escolares tradicionais Enquanto as joaninhas evoluíam, as
era o queridinho das crianças: a joaninha! e na leitura de livros como A joaninha que (matemática, língua portuguesa, crianças observaram também outros bichos
Um dia ela pousou na mão de uma perdeu as pintinhas, de Ducarmo Paes. história, geografia, ciências) que apareciam na horta, como as minho-
aluna e a meninada toda queria decifrar Para o trabalho com o kit, professo- aos conteúdos cotidianos da cas. Em ciências, estudaram o ciclo de
os mistérios do bichinho. Foi partindo ras e crianças elaboraram um calendário vida (meio ambiente, ética, vida de diversos deles. Ao pesquisarem
desse interesse que Kerollen e Milena, de registro do ciclo de vida da joaninha, diversidade, sentimentos). nos livros, os ovos dos sapos foram os que
professoras de duas turmas do 1º ano, que uniu matemática, ciências e língua fizeram mais sucesso.
88 89
“As crian ature za”
ças têm o direito a essas experiência s co m a n
“Infelizmente ainda há a visão de que os aulas e gerou uma maquete, em que as
crianças mapearam os locais queimados
alunos não podem se sujar ou ter um contato e as áreas preservadas da floresta.
direto com a natureza e nós, professores, “Um dia cheguei cedo na escola e a
reproduzimos esses hábitos. O Meu Ambiente merendeira comentou: você sabia que isso
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ia das árvores para a alimen
Vai dar fruta nessa escola
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Escola Municipal Engenheiro Isaías
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Martinelli Gama – Suzano
Educadora: Michelle Nunes
Perce
Duraes Nogueira
M
ichelle convidou as crianças do “Fui criada numa chácara, brincava na
Contágio do bem
1º ano a fazerem um passeio terra, subia em árvore, tomava banho em
pelo bairro para reconhecimento O entusiasmo de Michelle ao
do entorno. A Escola Municipal Engenheiro
rio, rolava em barrancos… brincava com
participar do Meu Ambiente foi
Isaías Martinelli Gama, em Suzano, fica elementos naturais.” transformador. Sua construção
em região rica de Mata Atlântica e pró- coletiva com os alunos e
xima à represa Taiaçupeba. “O passeio comunidade escolar teve poder
impactou as crianças. Eles observaram Ganharam mudas do Programa Meu multiplicador. Não apenas
tanto a reserva de Mata Atlântica quanto Ambiente e plantaram dentro do terreno os alunos participaram do
a represa. Mas, viram também que tinha da escola. “A escola tem bastante espaço, Programa, mas os colegas
muito lixo e árvores cortadas”, conta não pode construir no terreno inteiro por- também se sentiram convidados
a professora. Michelle levou para os alunos áudios que fica em área de preservação ambien-
e sensibilizados. No ano
Numa roda de conversa, trocando do canto das aves e, com o tempo, eles tal e de proteção de mananciais”, conta
seguinte, fizeram questão de
impressões sobre o que tinham visto e escutavam a passarinhada cantando pela Michelle. As árvores, plantadas em 2018,
ingressar no Programa, dando
sentido, Michelle deu autonomia para as escola e já sabiam identificar qual era estão firmes e fortes, crescendo junto com
origem ao projeto Cuidando do
crianças decidirem que tema seria apro- a espécie. as crianças. Mas outras ideias ainda iriam
que é nosso. “Foi contagiante!
fundado e notou o grande interesse pelas — Olha professora, é um sabiá! frutificar por ali…
Em 2018 participei do Programa
aves, que frequentam em abundância a No dia da vivência na natureza, visi- Depois da participação do Meu
e em 2019 todo mundo da
represa Taiaçupeba. A professora usou a taram uma floresta e fizeram diversas ati- Ambiente, Michelle mudou algumas per-
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), vidades. Ao verem as palmeiras-juçara e cepções. “Descobri que a criança só vai
escola foi participar. Abraçamos
que prioriza as vivências práticas, levando o cambuci na trilha, as crianças percebe- cuidar daquilo que ama, e ela só vai amar a ideia e pensamos juntos o que
a maior participação dos alunos durante o ram a importância das árvores como fonte a natureza se ela se sentir parte.” Antes, podíamos fazer para melhorar a
processo de aprendizado. Todos estavam de alimento para os animais e decidiram: a professora não deixava as crianças se nossa escola. Foi encantador”,
muito interessados em estudar as diferentes queriam ter mais frutíferas na escola! O sujarem de terra e não incentivava brinca- conta a educadora.
aves, seus hábitos e o seu canto. objetivo? Atrair os alados! deiras com recursos naturais. “Hoje, faço
94 95
Mais d
o que
Palm as fr
e ira-j utas
uçara que
e cambu
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dia s o ol har
a um passar n ov
inho aqui! erão colhi
das, já frutificou um
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nar que ac
ria bem bonita de imagi
Manifestantes da poesia
a histó
Escola Municipal Ângela Martins de
Oliveira – Suzano
“É um
Educadora: Patrícia Árias
P
atrícia sentia já desde um tempo a “Na escola pública a gente lida, às vezes, com crianças. Semanalmente a turma exerci-
prática pedagógica um tanto acostu- tava a escuta e o olhar no pátio externo
mada. Pensava em mudar de área: a falta. Mas com o projeto eu descobri que da escola. Buscavam conhecer as espé-
quem sabe a contabilidade? Ela sentia não é falta porque a nossa escola é localizada cies da flora e da fauna ao redor. Também
algumas carências em relação aos mate- em ambiente rural. Então, a gente tem no assistiram a vídeos sobre a Mata Atlântica,
riais escolares disponíveis, pouco engaja- bioma onde estão inseridos, e vídeos sobre
mento dos alunos e suas famílias. Já tinha entorno tucanos, papagaios, gambás. Lidamos o Parque das Neblinas como preparo para
em seu cotidiano o hábito de chamar as com uma natureza muito diversa num espaço a visita futura.
crianças para o contato com a natureza, Assim, escolheram a Mata Atlântica correndo e gritando e espantou o pássaro.
era um privilégio tê-la tão perto da escola,
de cidade. Eu pude mostrar para as crianças que como tema para ser explorado. Para Era um tucano! As crianças ficaram bravas
mas nunca tinha experimentado a natureza as coisas estavam nas nossas mãos, que o fazer estudar o meio, as crianças perceberam com o colega e entenderam na prática o
com a ênfase e amplitude que viria a fazer. não precisa ser só tecnológico. A gente fala na prática que precisavam mudar o pró- exercício de observar”, conta Patrícia.
Começou com seus alunos a leitura prio comportamento. “Lembro do dia em Esse movimento de observação foi
da história Lúcia já vou indo, de Maria
de uma falta que às vezes representa o que vem que ouvimos um canto diferente. Fomos crescendo e ultrapassou os muros da
Heloísa Penteado. Quando iniciou sua sendo imposto. E a gente tem que retornar para andando até o pátio externo, mas uma escola. Todos os dias, as crianças chega-
participação no Meu Ambiente notou que um fazer mais primitivo. Existe um excesso da criança que estava no banheiro veio vam com novidades sobre sons de bichos,
o livro induzia as crianças à tomada de novas plantas e até a descoberta da Lua
consciência sobre o próprio ambiente e o folha, do papel, da xerox e do padrão. E essas no céu matinal. Partindo das observa-
próprio corpo. Na história, a lagarta Lúcia coisas acabam virando quantidade e não ções das crianças, a educadora introdu-
Despertar a curiosidade
tinha dificuldade em chegar a sua festa.
Então, durante a roda de leitura as crian-
qualidade de trabalho.” • Caminhada com propósito
zia reflexões sobre questões ambientais.
Para registrar as descobertas, os alunos
ças decidiram que iriam ajudá-la e senti- • Observação da fauna e flora escolheram fazer um “Diário do Mata
ram a necessidade de materializar isso em sobre os insetos e pararam para escutar • Aguçar a escuta Atlântica”, contando com a ajuda dos pais
uma encenação. Na preparação da peça, o colega. Ao exercitar a escuta descobri- • Vídeos sobre o bioma e familiares. “O essencial dessa pesquisa
trabalharam a escrita coletiva, pesquisaram ram outros sons: os pássaros, a batida do era interagir com as famílias, mostrando
100 101
brincando com a terra, a areia, a água, N in
guém
Registro das descobertas a lama, as pedras, e o direito de sentir os falto eriê ncia
• Diário da Mata Atlântica
gostos e os perfumes oferecidos pela natu- u às aulas.
Todos queriam conversar sobr e a exp
reza, foi lido também o direito à natureza
• Apoio dos pais e familiares
selvagem: Toda criança tem o direito de
• Leituras coletivas
construir uma cabana nos bosques, de ter
• Diálogos e reflexões
um arbusto onde se esconder e árvores nas
quais subir.
Após a leitura, a roda se envolveu
a importância da Mata Atlântica para a numa conversa acalorada, em que as Para eles era importante registrar de forma
“Eu sei que no final do ano essas crianças
nossa região”, conta Patrícia. crianças falaram com liberdade se eram correta e coerente porque aqueles mate-
Algumas crianças escreveram sobre a ou não contempladas naqueles direitos. riais eram produções de autoria deles que saíram muito emocionadas e eu também. A gente
fauna no Diário, outros escolheram a flora. Alguns expressaram que não podiam brin- seriam compartilhados com a comunidade se despediu com vontade de voltar logo, sabe ?”
Na sala de aula, compartilhavam as leitu- car no quintal porque os pais tinham medo escolar. Treinaram a leitura em voz alta e a
ras e dialogavam sobre as descobertas. que se machucassem, outros tinham receio entonação. Fixaram os direitos pela escola
Para integrar a realização do projeto aos de brincar e se sujar porque a mãe não para chamar a atenção dos funcionários, ninguém faltou às aulas. Todos queriam
conteúdos das disciplinas, Patrícia asso- gostava. Surgiu entre as crianças a ideia pais e crianças. No dia da apresentação, conversar sobre a experiência.
ciou o tema aos gêneros textuais, como de apresentar o texto aos outros alunos os alunos entregaram panfletos com os Educadora e alunos passaram a
texto informativo, bilhete, texto instrucio- da escola. direitos impressos. Enquanto um colega ser protagonistas da própria história:
nal, cartaz, poema. As crianças pratica- Produziram cartazes, ilustrando cada lia determinado direito, outro erguia o car- se apropriaram dos espaços da escola,
ram também a escrita coletiva. Durante as direito natural e relacionaram o movimento taz. Assim se fez uma mobilização para compreenderam melhor o próprio bioma,
práticas de observação na área externa que faziam internamente ao movimento conscientizar a comunidade escolar sobre experimentaram a escuta, a observação e
registraram em cartazes a lista de animais de protestos que já tinham visto nas ruas. o uso dos espaços partilhados com todos a comunicação de formas novas. O pro-
vistos ou pesquisados e as novidades de os benefícios naturais. cesso de aprendizagem aconteceu repleto
observação do dia. Com grande entusiasmo de todos che- de significado. Patrícia considera que o
Numa roda de leitura Patrícia apre- gou o dia da visita ao Parque das Neblinas. processo ativou energias positivas nas
sentou às crianças o texto Dez Direitos “Eu vinha de um processo muito difícil de Lá, a oportunidade de experimentar coisas crianças. “Eu posso dizer que o projeto
Naturais das Crianças, trazido pelo escri- começar a olhar para a educação e me perguntar: novas ampliou os conhecimentos da Mata colaborou com o crescimento delas? Sim.
tor Rubem Alves de um congresso, e com- Atlântica: a trilha, a cachoeira, observar Mas, em primeiro lugar ele trouxe uma luz
partilhado pelo Meu Ambiente com os o que eu estou fazendo aqui? Esse projeto veio a pegada da onça, a alimentação com a que eu precisava para transformar a minha
professores. Entre o direito de sujar-se, para me despertar de novo como professora.” preocupação gastronômica. Após a visita, prática de ensino.”
102 103
mento
te do rio e nascer maravilha
Nascente de ideias
a nascen
Escola Municipal Engenheiro Isaías
Martinelli Gama – Suzano
Olhar
Educador: Randal de Souza Alves
N
as margens do Rio Una se reu- “É provável que uma criança ingresse na Parque. Para conseguir o cambuci,
niram alunos e professor. O rio Randal contou com a ajuda de uma
passa dentro do terreno da Escola
primeira série em uma escola ao lado de um professora, que tinha na casa do pai
Municipal Engenheiro Isaías Martinelli córrego poluído e saia de lá, ao cabo de alguns a fruta no pé. A escola se encheu
Gama e é testemunha de muita prosa. O anos, com o córrego ainda mais poluído. É de sabores. Outras turmas também
espaço ao ar livre é inspirador e ao iniciar visitariam o Parque das Neblinas
a conversa com a classe, Randal perguntou: bem provável que os seus professores atravessem pelo Programa Meu Ambiente
— O que é meio ambiente? décadas de aulas sem lançar um olhar sequer naquele ano e as crianças estavam
— É tudo isso que está em volta, as para além dos muros da escola… A Terra está imersas na expectativa.
árvores, o Sol, as nuvens, inclusive os pas- Com a mente na futura vivência na Chegando ao Parque, algumas crian-
sarinhos que estão cantando. Que maravi- doente porque nós estamos doentes.” natureza (ou) visita à floresta, Randal quis ças já anunciavam:
lha, né professor? – Respondeu uma aluna. José Pacheco despertar a curiosidade em relação aos — Olha, professor, o bico-de-papa-
Foi junto com o maravilhamento da animais que habitam a Mata Atlântica e gaio! – As crianças se referiam à helicônia
turma que Randal caminhou até uma das colocou registros dos sons dos bichos para bico-de-papagaio, que tinham visto no livro
nascentes do rio, ainda dentro da escola. a turma escutar. Foi grande o entusiasmo A Biodiversidade no Parque das Neblinas
— Professor, está saindo água Meio Ambiente de todos ao adivinhar as vozes da bicha- e agora viam ao vivo.
daquele buraco! “Conjunto de condições, leis, rada e o ânimo perdurou ao fazerem o Na visita, todos puderam reconhe-
Com essa frase de um dos alunos, influências e interações de ordem registro artístico dos animais na aula de cer plantas novas e se familiarizar com as
novas questões foram cutucadas e surgiram física, química e biológica, que artes e ao estudarem sobre suas caracte- partes das plantas, conteúdo que tinham
conversas sobre nascentes e a relação das permite, abriga e rege a vida em rísticas na aula de ciências. aprendido na aula de ciências. Ficaram
águas com a flora e a fauna. Daí nasceu todas as suas formas.” Ainda como preparo à visita, as maravilhados com a abundância da natu-
o projeto Cuidando do que é nosso, que Política Nacional do Meio Ambiente crianças manusearam publicações e assis- reza, a diversidade de árvores, animais, e
teve o nome escolhido por votação das (PNMA) brasileira, estabelecida pela tiram a vídeos sobre o Parque e provaram o Rio Itatinga.
crianças, com o propósito de conhecer e Lei 6938 de 1981. o suco de cambuci, fruta da família das Na volta, um dos alunos decretou:
valorizar o próprio entorno. mirtáceas que é abundante na região do — Foi o melhor passeio da minha vida!
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Adiv
inhar
as vozes e
da bicharada e transformá-las em art
O projeto Cuidando do
que é nosso trabalhou a
Para além do passeio, adentrar a reuniram na Escola Municipal Engenheiro
natureza com propósito e com a curiosi- Isaías Martinelli Gama para uma comemo- diversidade da fauna de
dade despertada por prosas, pesquisas e ração de encerramento do projeto! forma multidisciplinar
atividades é muito enriquecedor. A união, que aqueceu e fortaleceu o • Em ciências, estudaram as
No decorrer do ano e após a visita ao movimento, trouxe: características dos animais (anfíbios,
Parque, muita coisa mudou. Todos estavam • Exposição dos trabalhos realizados mamíferos, répteis, aves, peixes)
engajados em cuidar do prédio da escola pelos alunos ao longo do ano; • Em artes, desenharam os animais e fizeram composições com folhas,
e do ambiente mais próximo. Envolvidos no • Apresentações de diversas turmas: sementes e galhos secos
projeto Cuidando do que é nosso, alunos, música, poesia, jogral; • Em língua portuguesa, fizeram leituras e registraram os nomes da
funcionários e gestores pintaram o muro • Plantio de árvores.
bicharada com o alfabeto móvel
externo da escola de branco e depois as A comunidade escolar prestigiou o
cores do professor de artes Flávio Chagas evento. “Desde que fizemos a pintura do Objetivo
colocaram a bicharada do Parque das muro e a comunidade presenciou a dedica- • Observar, conhecer e cuidar do ambiente ao redor
Neblinas e da Mata Atlântica a embele- ção dos alunos não houve mais nenhuma
Conquistas
zar a fachada. Floreiras com pneus velhos pichação”, conta Randal.
foram pintadas, ganharam mudas, e revi- • A comunidade escolar promoveu a revitalização:
talizaram a parte externa da escola. pintura do muro da escola com animais da Mata Atlântica,
As diversas escolas de Suzano, parti- “Para darmos uma boa aula sobre a natureza é elaboração de floreiras feitas com pneus usados
cipantes do Meu Ambiente naquele ano, se preciso irmos ao encontro dela.”
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tador
O espaço ao ar livre é liber
Abrir os portões
Escola Municipal de Ensino
Fundamental Ignez de Castro
Almeida Mayer – Suzano
Educadora: Rayssa Pereira da Silva
H
avia um portão fechado no quintal “A vivência na natureza foi maravilhosa, começou a sonhar: dos lixos, as crianças
da EMEF Ignez de Castro Almeida o que poderíamos foram descobrindo
Mayer. Do lado de cá do portão
quase todas as crianças da turma conseguiram fazer nesse espaço? gravetos, folhas soltas
estavam as crianças, o prédio da escola, ir e, após o passeio, ficaram lembrando disso Cada um trazia uma e outras preciosidades
uma quadra, um pátio para as atividades até o final do ano.” ideia: brincar, ler deixadas pela natu-
de educação física, e mais um espaço embaixo da árvore, reza, que renderiam
apertadinho e quente, sem sombra de correr, subir nas árvo- atividades artísticas.
árvore para testemunhar história. Do lado não havia opções de locais para as crian- res… Rayssa propôs, Tudo era motivo
de lá do portão podia-se ver uma área ças fazerem outras atividades ao ar livre. então, que cuidas- para ir para o lado
em declive com gramado, árvores, aqui Um dia, Rayssa olhou com mais atenção sem juntos daquele de lá: atividade de
e ali papéis jogados pelo chão e bitucas para o lado de lá, escutou o silêncio e viu lugar. E assim come- artes, roda de con-
de cigarro, muitas delas. O a sombra das árvores. Ela falou, então, çaram. Todos os dias, versa e até a caixa de
espaço, proibido para com a direção da escola e a classe de 2º ano ia um livros da classe ia junto na
as crianças, servia perguntou se poderia usar pouco para o lado de lá. “Chegávamos e hora da leitura. A atenção das crianças em
de fumódromo para aquele espaço. Mas limpávamos um pouquinho, depois brin- relação à limpeza dos espaços escolares
os funcionários. havia um problema: cávamos um pouquinho também”, conta foi ficando mais aguçada. Elas chamavam
A sala de aula o espaço estava sujo. a educadora. a atenção das pessoas sobre não jogar
de Rayssa ficava Será que isso era Rayssa notou que o espaço ao ar livre lixo no chão. “A justificativa repetida cons-
perto do pátio e por mesmo problema? era libertador. Passou a ir para lá com as tantemente por elas era: porque estraga a
isso era constante- Logo, a profes- crianças no início do período escolar. natureza”, conta Rayssa.
mente impactada sora convidou as Depois, na sala de aula, as crianças pare- Além de abrir o portão para a área
pelos sons que crianças para espia- ciam ficar mais calmas e concentradas. Aos arborizada da escola, outros portões foram
vinham das crian- rem o lado de lá poucos, o espaço foi ficando mais limpinho sendo abertos ao longo daquele ano de
ças em atividade pelo portão e, em e aconchegante, sem os papéis largados participação no Programa Meu Ambiente.
física. Praticamente conjunto com elas, e as habituais bitucas de cigarro. E, além Para despertar o interesse das crianças,
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Na h
ora
da l
eitu
ra, a
caixa
de livr
os passea
va até a sombra das árvores
sala que habitavam moradias de risco e a escola toda experimentou o lado de lá! “Durante aquele ano letivo, percebi a turma
estavam acostumadas a ter a casa ala- E, imaginem o que aconteceu? Começou
gada quando chovia. a haver disputa de horários para a utili-
mais unida e entrosada.”
Esse universo ligado à água foi cres- zação do local.
cendo na turma: a poluição, o desperdí- No final do ano, as crianças de toda a
cio, os alagamentos, o descarte do lixo nos escola apresentaram os trabalhos desenvol- Vida curiosa!
rios, água potável, moradias seguras, os vidos ao longo do ano para os colegas e Partir da experiência concreta das
estados e o ciclo da água. O tema estava os pais. O tema meio ambiente estava pre- crianças e trabalhar conteúdos:
Rayssa sugeriu que observassem as plan- também presente no livro didático e acabou sente nos diversos trabalhos, assim como
• A limpeza em conjunto da
tas que achavam pelo caminho diário até se transformando em jogo. Construíram no jogo temático da água. O 2º ano quis
área arborizada da escola
a escola. Não eram muitas. O bairro Boa em conjunto um tabuleiro e uma trilha. “As também apresentar uma música. “A minha
propiciou trabalhar os
Vista, em Suzano, é bastante urbanizado. crianças escolheram as situações do jogo. turma gostava de dançar”, conta Rayssa.
temas: lixo, descarte correto,
A pouca vegetação foi chamando outros Casos de desperdício, como lavar a cal- A música escolhida foi Filhote do filhote:
reciclagem, reaproveitamento
assuntos, que surgiam naturalmente, de çada com a mangueira ligada, obrigava
e a importância da mata e
acordo com os acontecimentos. o jogador a voltar casas”, conta Rayssa. “Cuida do jardim pra mim
A água foi um tema que impactou as Naquele ano, a escola toda estava Deixe a terra florescer
das árvores
crianças. Próximo à escola há um córrego conectada com o tema meio ambiente e Pensa no filhote do filhote
• O córrego poluído perto da
bastante sujo. O assunto lixo, reaprovei- no final do ano haveria uma exposição Que ainda vai nascer.” escola e as moradias de risco
tamento e descarte correto era assunto com os trabalhos realizados pelas crian- inspiraram estudos sobre a
recorrente desde que haviam começado ças. Até o mês de outubro, o 2º ano de Assim como na letra da música, água: poluição, desperdício,
a recuperar o espaço escolar. Algumas Rayssa frequentava o lado de lá pratica- naquele ano as crianças estavam preo- alagamento, descarte de
crianças tinham visto até sofá boiando no mente sozinho. Mas, para o dia das crian- cupadas em deixar a terra florescer. lixo em rios, água potável,
córrego, que já não tinha nenhuma vege- ças, a direção da escola prendeu entre Cuidaram da área arborizada da escola e moradias seguras, os estados
tação ao redor: de um lado a avenida e duas árvores o slackline, fita elástica para puderam abrir novos portões de percepção e o ciclo da água
do outro as moradias. Havia crianças da brincadeiras e exercícios de equilíbrio. Aí, sobre o ambiente ao redor.
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Organizações e Iniciativas
Referências inspiracionais Instituto Alana • www.alana.org.br
Ser Criança é Natural • www.sercriancaenatural.com
Território do Brincar • www.territoriodobrincar.com.br
FNLIJ • www.fnlij.org.br
Instituto Romã • www.institutoroma.com.br
Programa Criança e Natureza • www.criancaenatureza.org.br
Livros
Atividades em Áreas Naturais • Instituto Ecofuturo
Baú de Histórias • Instituto Ecofuturo
Saber Cuidar • Instituto Ecofuturo
Vivências com a Natureza • Instituto Romã
Dedo Verde na Escola • Instituto 5 Elementos
Brincando e Aprendendo com a Natureza • Joseph Cornell
Última Criança na Natureza • Richard Louv
Desemparedamento da Escola • Instituto Alana
Criando Habitats na Escola Sustentável • Lucy Legan
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A árvore dos meus dois quintais A última árvore do mundo
Jonas Ribeiro Lalau e Laurabeatriz
Uma anta interessa-se por uma flor, Em seu primeiro livro infantil, Emicida
porém não consegue chegar até ela conta uma história cheia de simplici-
porque há muitos obstáculos. Faz vá- dade e poesia, que mostra a impor-
rias tentativas, sofre, chora por não conseguir chegar até tância de nos reconhecermos nos pequenos detalhes do
aquela flor tão linda… Roger Mello, inventivo como sem- mundo e nos orgulharmos de quem somos.
pre, cria um final inesperado, surpreendente.
Árvores do Brasil
Biblioteca da natureza
A primavera da lagarta
Ruth Rocha Lalau e Laurabeatriz
Bem no meio da clareira, debaixo da ba- O livro mostra algumas das árvores mais
naneira, os bichos da floresta resolveram importantes do nosso país. É uma home-
fazer uma festa. Mas não era festa não. nagem às maravilhas da natureza que nos dão sombra e
Era um comício do Sr. Camaleão. Todos protestavam con- frutas, evitam que a erosão acabe com nossos rios, ofere-
tra a feiura da lagarta. Só não contavam com a sabedoria cem abrigo e alimento aos passarinhos e outros bichos,
da mãe natureza que na primavera espalha sua beleza. ajudam a retirar poluentes do ar que respiramos.
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Bem brasileirinhos Folha Lolo Barnabé Para criar passarinho
Lalau e Laurabeatriz Stephen Michael King Eva Furnari Bartolomeu Campos de Queirós
Esta obra mostra às crianças alguns Folha conta a história de um garotinho, Lolo Barnabé era um sujeito inteligente e Em cada página, Bartolomeu nos fala
animais da fauna brasileira ameaça- como tantos outros, que simplesmente criativo. Ele nasceu há muito tempo, no o que é preciso para criar passarinho.
dos de extinção – aves, insetos, ma- odeia pentear os cabelos. Um certo dia, porém, ele des- tempo das cavernas. A família do Barna- Uma prosa poética que seduz pela beleza e magia das
míferos, entre outros. Inclui um jogo de memória para o cobre uma vantagem extraordinária em ter o cabelo todo bé queria um lugar melhorzinho para morar, com mais palavras, despertam a sensibilidade adormecida e os sen-
leitor brincar com os brasileirinhos. desarrumado e bastante embaraçado, quando uma semen- conforto. Só que, nessa busca, algo saiu errado. Você é tidos, convidando a pensar sobre a liberdade e a incon-
te cai bem na sua cabeça e ali mesmo começa a crescer. capaz de entender o que foi que aconteceu? veniência das prisões.
Há terras secas e alguns momentos O livro narra, em versos, a melancolia Quando o sol nasce se espalha sobre a E se eu fosse… um pássaro, uma
de fertilidade. Por meio do dia a dia do jardineiro Juvenal após ser obrigado vegetação. O dia aquece, enquanto os flor, um riacho? Com muita delicade-
do menino Tomás, os leitores poderão imaginar o que é a se aposentar. Mas eis que, de onde homens lavram a terra e as mulheres cui- za, este livro transforma o leitor em uma árvore. Uma árvo-
esperar pela chuva, fazer um carrinho de lata e apreciar menos se espera, surge a força motivadora que alegra – dam dos afazeres domésticos e das crianças. Ao anoitecer, re maluca, é verdade, mas também muito bonita e acolhe-
os frutos da terra generosa, que nos oferece a alegria de e rejuvenesce – o velho Juvenal. Assim como revelado no tudo se enche de vazio, e o silêncio negro se transforma dora. Vale a pena deixar de ser gente um pouquinho, para
saborear e cheirar uma manga dourada. subtítulo da obra, Júbilo é um romance. num ótimo companheiro para compartilhar boas histórias. atrair passarinhos e ter sementes que voam até alto-mar.
De forma encantadora e inovadora, o Lilás é uma menina que foge ao estereó O sapo Bocarrão é um divertido ani- Por meio de jogos e brincadeiras, o jo-
autor aborda a cadeia alimentar, da tipo convencional de comportamento. O mal que tem uma boca enorme, é vem Manhuari recebe os conhecimentos
pequena minhoca à gigantesca cobra. primeiro dia de aula de Lilás é diferente – ao invés de muito guloso e vive perguntando aos tradicionais, essenciais para crescer em
O autor buscou inspiração nas viagens que fez para a imitar os colegas, que presenteiam a professora com perfu- outros bichos o que eles gostam de comer. O livro tem do- sintonia com a cultura do seu povo e viver
Floresta Amazônica, quando registrou muito do que viu mes, lencinhos bordados e porta-joias, ela lhe oferece uma braduras-surpresa, brincadeiras gráficas e cores vibran- em harmonia com a natureza. Os Mundurukus celebram o
em cadernos de desenho. caixinha de papelão com sete pedrinhas e muito mais. tes, além de letras graúdas. cotidiano, os animais, as frutas e outros temas…
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