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DA POPULAÇÃO NEGRA
ESCRAVIZADA EM
TERRITÓRIO COLONIAL
BRASILEIRO:
AS DENOMINAÇÕES
BANTO E IORUBÁ
p. 48-62
T-T-T
wevista Eletrônica: Este obra está licenciado com uma Licença Crea tive Commons
Tempo - Técnica - Território,
V.3, N.2 (2012), 48:62 Atribuição-NãoComercial 4.0 Inter nacional.
ISSN: 2177-4366
DOI: https://
doi.org/10.26512/
ciga.v3i2.15442
49 Localização e origem da população negra escravizada em território colonial brasileiro: As
denominações banto e iorubá
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If it is true that the language substance the identity space of a people, these facts do
not preclude the relevant research if this is redirected to the evidence revealed by
the African linguistic repertoire base that are in the form of currents lexical contributions in
Portuguese of Brazil, legitimized by Brazilian writers of various ages. His étimos probably
or precise may discover its language, hence the origin of its speakers.
In this plan of view, the data from our research, extended by the existing historical
information about the transatlantic slave trade, revealed the predominance of cultural and
linguistic of Bantu element, through all cycles of economic development of Brazilian
colonial territory, in relation to West African in fewer, but equally significant, localized
in mining and urban activities. However it should be noted that the terms Bantu
and Iorubá are not part of this story.
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É preciso notar que essa relativa predominância pode ser decorrente da limitação
das informações bibliográficas disponíveis até agora entre nós, o que determinou a
concentração das pesquisas nas principais línguas faladas na costa atlântica do Congo e
de Angola. Por sua vez, essas línguas podem ter sido as mais impressivas durante o
regime escravocrata no Brasil, em consequência do número majoritário e/ou de relativo
prestígio sociológico nas senzalas e plantações de um certo grupo etnolinguístico ante
vários outros (quiocos, libolos, jagas, anjicos, ganguelas
etc.) trazidos do sertão pelos pombeiros ou negociados
no outro lado do Atlântico (zulus, macuas, rongas,
shonas, etc.) na antiga Contra-Costa, em Moçambique.
O fato é que o povo banto ficou tradicionalmente
denominado no Brasil por congos e angolas ou congo-
angola simplesmente, como são denominados nos
candomblés da Bahia que cultuam os inquices
angolanos e utilizam uma linguagem litúrgica marcada por um sistema lexical de base
banto, notadamente quimbundo e quicongo (Cf. 2003).
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Nessa mesma época, o poeta Gregório de Matos e Guerra ( Bahia 1636- Recife
1695) comprova a influência notável de tradições religiosas do mundo banto na Bahia
de então, ao satirizar o que ele chama de mestres do cachimbo liderando calundus e
feitiços (V. MATOS, 1910, V.I:186).
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de palma, bunda por nádegas, marimbondo por vespa, carimbo por sinete, cachaça por
aguardente. Alguns já se encontram documentados na línguagem literária do século
XVII, a exemplo de calundu, cachimbo, quilombo na poesia satírica de Gregório de
Matos e Guerra.
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Os oeste-africanos
Sua concentração, no século XVIII foi de tal ordem em Vila Rica que chegou a
ser corrente entre a escravaria local um falar que identificamos de base ewe-fon,
registrado em 1731/41 por Antônio da Costa Peixoto em A obra nova da língua geral
de mina, só publicada em 1945, em Lisboa. Esse documento linguístico, o mais
importante do tempo da escravidão no Brasil, era para ser utilizado como um
instrumento de dominação, como o próprio autor confessa. Seu objetivo, fazer chegar
ao conhecimento dos garimpeiros o vocabulário, frases e expressões correntes entre a
população escrava local, a fim de que rebeliões, fugas, furtos e contrabandos
pudessem ser a tempo reprimidos e abortados. Também Nina Rodrigues, ao findar do
século XIX, teve oportunidade de registrar um pequeno vocabulário jeje-mahi (fon)
de que ainda se lembravam de alguns dos seus falantes na cidade do Salvador (Ver
CASTRO, 2002).
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Ao findar do século XVIII até a primeira metade do século XIX quando o tráfico
transatlântico foi declarado extinto, a cidade da Bahia passa a receber em levas
numerosas e sucessivas um contingente de povos procedentes da Nigéria atual, em
consequência das guerras interétnicas que ocorriam na região. Entre eles, a presença
iorubá foi tão significativa que o termo nagô na Bahia começou a ser usado
indiscriminadamente para designar qualquer indivíduo ou língua de origem africana
no Brasil. Nina Rodrigues mesmo dá notícia de um “dialeto nagô”, que era falado
pela população negra e mestiça da cidade do Salvador naquele momento e que ele
não documentou, mas definiu como “uma espécie de patois abastardado do
português e de várias línguas africanas”. Logo, não se tratava da língua iorubá (Cf.
Rodrigues 1942, 261).
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Rio de Janeiro
Zona de mineração
Ewe-fon ou Minas Gerais
XVIII
mina-jeje Zona fumageira
Bahia
OESTE AFRICANAS
KWA
Centro urbano –
Nagô-iorubá XIX
Salvador (Ba.)
Centro urbano –
Tapa ou nupe XIX Salvador (Ba.) –
minoritária
ATLÂNTICO Centro urbano –
OCIDENTAL Fulani XIX Salvador (Ba.) –
minoritária
Centro urbano –
GUR ou
Grunce XIX Salvador (Ba.) –
VOLTÁICO
minoritária
Centro urbano –
AFRO-
AFRO-ASIÁTICO Hauçá XIX Salvador (Ba.) –
ASIÁTICA
minoritária
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Desbravamento
Ocupação da terra
B B
Extravismo
Agricultura
Mineração
B/J B/J
Agricultura
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denominações banto e iorubá
Diante destes fatos, chegamos à conclusão de que banto e iorubá são termos
contemporâneos na própria história da África, consequentemente, também não fizeram
parte da nossa história colonial.
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