Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Laura Aparecida Melo Vitt¹, Lúcia Allebrandt da Silva Ries², Bárbara Ribeiro Alencar³,
Emmanuel Damilano Dutra4
Abstract: Semiarid regions around the world exhibit limited agricultural biomass alternatives
for the production of biofuels due to water shortages. One of the solutions found for this
problem is the use of plants with CAM mechanism (Crassulacean Acid Metabolism), able to
absorb and store water more easily. In this context, the aim of this manuscript is to analyze the
use of cactus pear biomass (Opuntia) in thermochemical and biochemical routes, evaluating the
potential and relevance of this raw material for its conversion into biofuels, such as ethanol and
biogas, and biochar. For this, the characterization and productivity of this biomass were studied,
as well as its processing in a biorefinery in the aforementioned routes. The work developed is
an exploratory study, conducted through a literature review using scientific manuscripts in the
areas of bioenergy and biotechnology. The main results founded point to the need for further
research carried out in some countries, such as Brazil, as well as expose the advances in studies
of energy use of this biomass in countries such as Mexico. Although, challenges such as the
realization of a more complete and precise characterization, with an adequate methodology for
this biomass, make these estimates difficult. However, cactus pear shows great potential for the
production of biofuels, and could become a viable alternative for semi-arid regions.
Introdução
As regiões secas (áridas, semiáridas e subúmidas) ocupam cerca de 41% da superfície
terrestre do planeta, produzem mais de 40% das culturas agrícolas, abrigando metade do
rebanho pecuário e cerca de 2 bilhões de habitantes (UNCCD, 2017). Estas regiões, devido às
limitações hídricas, são muitas vezes consideradas terras marginais e de baixo valor.
Consequentemente, o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida das suas populações
são geralmente inferiores às das populações das zonas úmidas vizinhas. Em decorrência da
insuficiência de recursos hídricos e das características climáticas, nestas regiões, a biomassa
agrícola destinada à produção de biocombustíveis e bioprodutos acaba disputando espaço com
as cultivadas para consumo humano e animal. No entanto, existe um grupo de plantas que tem
evoluído nestas áreas, e que são adaptadas às condições de baixa disponibilidade hídrica. Estas
plantas usam um mecanismo fotossintético específico conhecido como metabolismo ácido das
crassuláceas (MAC). As plantas de metabolismo MAC, em geral, são altamente tolerantes a
temperaturas elevadas, radiação UV-B e condições de seca, devido à sua elevada capacidade
de absorver e armazenar água em tecidos suculentos acima do solo e de tolerar grandes perdas
de água (Yang et al., 2015). Tem-se observado que algumas espécies alcançam elevada
produtividade, sob condições de crescimento favorável, e destas, destaca-se a palma forrageira
(Buckland e Thomas, 2021).
No Brasil, os principais gêneros de palma forrageira cultivados são Opuntia e Nopalea,
com destaque para a Opuntia ficus-indica (variedades gigante, redonda e clone IPA-20) e
Nopalea cochenillifera (genótipo doce) (Edvan et al., 2020). Segundo Marques et al., (2017)
apud Lopes et al., (2012), a região Nordeste do Brasil corresponde à maior área de cultivo de
palma forrageira do mundo (estimada em 600.000 ha), sendo cultivada principalmente para
alimentação animal. Além disso, em alguns países como México e Itália, além de regiões como
o sul dos EUA, os cladódios e as frutas são consumidos pelas pessoas e comercializados em
suplementos alimentares, formulações cosméticas e para uso medicinal. Devido ao seu alto teor
de açúcar, as frutas podem ser consumidas in natura ou na forma de geleias, compotas, sucos,
xaropes e licores (Yang et al., 2015).
Embora a Opuntia (Cactaceae) seja originária do continente americano, sendo
encontrada desde a Patagônia até os Estados Unidos, diversas espécies foram introduzidas em
muitas outras áreas do mundo, podendo ser encontradas em abundância no México, Argélia,
África, Itália, Israel, EUA, Argentina, Bolívia, Chile e Brasil (Comparetti et al., 2017). Dessa
forma, sob boas condições de irrigação, são comumente relatados rendimentos médios de
matéria seca na faixa de 40-50 Mg.ha-1.ano-1 (Cushman et al., 2015). Essas taxas de produção
de biomassa são comparáveis a de outras matérias-primas bioenergéticas, como milho, cana-
de-açúcar, sorgo e álamo (Yang et al., 2015). Além disso, deve-se observar que a produção
desta biomassa não compete com as culturas agrícolas destinadas à produção de alimentos. As
plantas de metabolismo MAC demandam cerca de dez vezes menos água por unidade de massa
seca do que as culturas de metabolismo C3 e C4 (Mason et al., 2015). Este fato permite que
essas plantas sobrevivam em áreas onde a agricultura tradicional apresenta dificuldade em se
tornar uma atividade lucrativa.
Atualmente, a palma forrageira vem recebendo crescente atenção como importante
matéria-prima para a produção de biocombustíveis renováveis e de produtos químicos de
elevado valor agregado. Estudos publicados recentemente vêm demonstrando o potencial desta
biomassa para a produção bioenergética, principalmente para as regiões semiáridas e áridas do
planeta.
Dentro deste contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão
sobre os principais processos propostos na literatura para a conversão da biomassa da palma
forrageira em biocombustíveis e produtos químicos, bem como analisar os principais desafios
e perspectivas futuras.
Materiais e Métodos
Este estudo é uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo de analisar o potencial
da biomassa da palma forrageira para a produção de biocombustíveis e bioprodutos, por isso
não foram utilizados métodos estatísticos. A pesquisa bibliográfica foi realizada com base em
trabalhos científicos utilizando a base de dados Science Direct. Foram utilizados os seguintes
termos na pesquisa: opuntia, nopalea, cactus pear, biochar, biogas, bioethanol, bio-oil, biofuel,
biochar e CAM crops. A busca foi realizada entre maio de 2021 e outubro de 2022, com 25
artigos selecionados, referentes ao período de 2015 a 2023, e um site.
Resultados e Discussão
Componentes (%
Casca de Arroz Bagaço de Cana Palha de Trigo
base seca)
Produção de bioetanol
Produção de biogás
Conclusões
Referências
ALENCAR et al. Enzymatic hydrolysis of cactus pear varieties with high solids loading for
bioethanol production. Bioresource Technology. 250, 273-280, 2018.
BUCKLAND e THOMAS. Analysing the potential for CAM-fed bio-economic uses in sub-
Saharan Africa. Applied Geography. 132, 2021.
CALABRÒ et al. Effect of three pretreatment techniques on the chemical composition and on
the methane yields of Opuntia ficus-indica (prickly pear) biomass. Waste Management &
Research: The Journal for a Sustainable Circular Economy (WM&R). 36 (1), 17-29, 2018.
COMPARETTI et al. Potential production of biogas from prickly pear (Opuntia ficus-indica
L.) in Sicilian Uncultivated Areas. Chemical Engineering Transactions. 58, 559-564, 2017.
CROSS et al. Fast Pyrolysis of Opuntia ficus-indica (Prickly Pear) and Grindelia squarrosa
(Gumweed). Energy & Fuels. 32 (3), 2018.
CUSHMAN et al. Development and use of bioenergy feedstocks for semi-arid and arid lands.
Journal of Experimental Botany. 66 (14), 4177-4193, 2015.
EDVAN et al. Resilience of cactus pear genotypes in a tropical semi-arid region subject to
climatic cultivation restriction. Sci Rep. 10, 2020.
ELHLELI et al. Biocarbon derived from Opuntia ficus indica for p-Nitrophenol Retention.
Processes. 8 (10), 1242, 2020.
GOVARTHANAN et al. Emerging trends and nanotechnology advances for sustainable biogas
production from lignocellulosic waste biomass: A critical review. ScienceDirect, Fuel. 312,
2022.
GUPTA et al. Advances in upgradation of pyrolysis bio-oil and biochar towards improvement
in bio-refinery economics: A comprehensive review. Environmental Technology &
Innovation, 21, 2021.
KRÜMPEL et al. Suitability of Opuntia ficus-indica (L) Mill. and Euphorbia tirucalli L. as
energy crops for anaerobic digestion. Journal of Arid Environments. 174, 2020.
MAAOUI et al. Towards local circular economy through Opuntia Ficus Indica cladodes
conversion into renewable biofuels and biochars: Product distribution and kinetic modelling.
Fuel. 332, 2023.
MASON et al. The potential of cam crops as a globally significant bioenergy resource: moving
from fuel or food to fuel and more food. Energy & Environmental Science. 8, 2015.
RAJ et al. Physical and chemical characterization of various Indian agriculture residues for
biofuels production. Energy Fuels, 2015.
SANTOS et al. Potential for biofuels from the biomass of prickly pear cladodes: Challenges for
bioethanol and biogas production in dry áreas. Biomass and Bioenergy. 85, 215-222, 2016.
SEO et al. Recent advances of thermochemical conversion processes for biorefinery. Science
Direct, Bioresource Technology. 343, 2022.
YANG et al. Biomass characterization of Agave and Opuntia as potential biofuel feedstocks.
Biomass And Bioenergy. 76, 43-53, 2015.