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Aplicação da Análise de Sensibilidade e Medidas Corretivas

para Redução de Perdas em Sistemas Elétricos de Potência

I. INTRODUCÃO

A modelagem de um sistema tem como base determinar a influência de


variáveis de entrada nas variáveis de saída. Uma forma de se obter estes
modelos matemáticos é por meio da aplicação da análise de sensibilidade entre
as variáveis de entrada e saída de um sistema. Em estudos de sistemas de
potência, a análise de sensibilidade é aplicada para se determinar a relação
entre as variáveis de controle e variáveis controladas. As perdas nas linhas de
transmissão são uma das grandezas mais importantes para se realizar o
monitoramento, isso porque, elas provocam quedas de tensões ao longo das
linhas resultando em danos no perfil de tensão das barras do sistema.

A sensibilidade em sistemas elétricos é estudada há muito tempo, nesses


estudos poder-se-ia entender os mecanismos para calcular o ponto ótimo de
funcionamento do sistema através do fluxo de potência ótimo, é possível
determinar os coeficientes de alocação das perdas para os geradores e cargas
da rede, assim como o método de determinação das melhores posições de
inserção de unidades de geração distribuída em sistemas de distribuição,
buscando minimizar as perdas. Em outros estudos foi possível observar a análise
de sensibilidade, para redução de perdas em linhas de transmissão por meio da
injeção de potência nas barras do sistema, assim como, a utilização da análise
de sensibilidade para perturbar o ponto de operação e utilizando a matriz de
sensibilidade estimar um novo ponto, calcular a variação de tensões nas barras
e perdas por transmissão de acordo com a injeção de potência ativa nos nós do
sistema.

Neste trabalho é proposta a aplicação da análise de sensibilidade para


estimar as perdas de potência ativa e reativa globais do sistema. As variáveis de
controle consideradas neste trabalho são: a tensão nas barras de geração, a
injeção de potência ativa em todas as barras do sistema, e a injeção de potência
reativa nas barras de carga. O artigo também propõe técnica baseada na análise
de sensibilidade para identificar a melhor barra do sistema para conectar
unidades de geração distribuída, capacitores ou reatores shunts, com o objetivo
de reduzir as perdas ativa e reativa globais do sistema.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Análise de Sensibilidade pode ser representada por meio do fluxograma


mostrado na Fig.1.

Fig. 1. Etapas da análise de sensibilidade

A matriz 𝑆𝑥𝑢 é denominada Matriz de Sensibilidade, equação 1 que


determina a relação entre a variações nas variáveis de controle e nas variáveis
controladas. Cada elemento da matriz representa os fatores de sensibilidade
entre a variável controlada de acordo com a alteração de cada variável de
controle. O sinal de positivo indica que com o incremento do parâmetro de
controle, ocorre o incremento do parâmetro controlado, enquanto o sinal de
negativo indicará a redução.

−1
∂g (u0 , 𝑥 0 , 𝑝 ∂g (u0 , 𝑥 0 , 𝑝
𝑆𝑥𝑢 = −[ ] . [[ ]] 𝐸𝑞. 1
∂x ∂u

A matriz supracitada está relacionada com os vetores Δx e Δu pela


equação 2, esse vetor é utilizado na atualização dos valores das variáveis
controladas e o vetor Δu corresponde às variações que são impostas às variáveis
de controle. Após a determinação de Δx, o novo ponto de operação é obtido com
a atualização das variáveis.

Δx = 𝑆𝑥𝑢 . Δ Eq. 2

Considerando como variáveis controladas a fase da tensão de todas as


barras, exceto a barra de referência, e o módulo da tensão das barras de carga,
o vetor x pode ser definido tal como equação 3. Especificamente para este caso,
o vetor u, das variáveis de controle, será composto das tensões nas barras de
geração, equação 4.

𝜃
𝑥=[ ] 𝐸𝑞. 3
𝑉

𝑢 = [𝑉𝑔 ] 𝐸𝑞. 4

Aplicando-se esta metodologia na resolução de um problema de fluxo de


potência, em que suas equações são solucionadas pelo método iterativo de
Newton – Raphson. Sendo possível portanto determinar a sensibilidade das
Fases de Tensão das barras PV e PQ e Módulos de Tensão das barras PQ em
relação aos módulos das Tensões Geradas, pela equação 5.

𝜃 ∂g (u0 , 𝑥 0 , 𝑝
[ ] = 𝐽−1 [[ ]] 𝜟𝑉𝑔 (5)
𝑉 ∂𝑉𝑔

O diagrama mostrado na Fig. 2 representa uma linha de transmissão entre


as barras i e k. Onde 𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 são as perdas ativas na linha, equação 6 e
𝑄Perdas−ik são as perdas reativas, equação 7.

Fig. 2. Representação da linha de transmissão

𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = (|𝑉𝑖 |2 + |𝑉𝑘 |2 − 2|𝑉𝑖 |2 |𝑉𝑘 |2 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖𝑘 ). 𝐺𝑖𝑘 (6)

𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = (|𝑉𝑖 |2 + |𝑉𝑘 |2 − 2|𝑉𝑖 |2 |𝑉𝑘 |2 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖𝑘 ). 𝐵𝑖𝑘 (7)


III. PROPOSTA

A variação instantânea das perdas com relação à tensão nas barras de geração, pode
ser dada pela equação 8 (na forma compacta equação 9) ela já leva em consideração a variação
instantânea das perdas com relação à tensão nas barras de geração.

0 0
∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 𝛥𝜃 −1 ∂g (u , 𝑥 , 𝑝
𝛥𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = − [ ][ ] 𝑥 𝐽 [ ] 𝜟𝑉𝑔 + ⋯
∂𝜃 ∂V 𝛥𝑉 ∂𝑉𝑔
∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘
+ 𝜟𝑉𝑔 𝐸𝑞. 8
∂V

𝛥𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = 𝑆𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑉𝑔 𝜟𝑉𝑔 𝐸𝑞. 8

Logo, a matriz de sensibilidade entre as perdas ativas nas linhas de


transmissão e as tensões nas barras de geração será dada por:

∂𝑃 ∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 𝛥𝜃 ∂g (u0 , 𝑥 0 , 𝑝
𝑆𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑉𝑔 = − {[ 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 −1
][ ] 𝑥 𝐽 [ ]
∂𝜃 ∂V 𝛥𝑉 ∂𝑉𝑔
∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘
− } 𝐸𝑞. 9
∂V

Desenvolvimento semelhante ao que foi aplicado para a determinação da


relação das perdas ativas pode ser feito para encontrar a relação das perdas
reativas com a tensão gerada. a matriz de sensibilidade entre as perdas reativas
nas linhas de transmissão e as tensões das barras de geração será dada pela
equação 10.

∂𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 𝛥𝜃 ∂g (u0 , 𝑥 0 , 𝑝


𝑆𝑄𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑉𝑔 = − {[ ] [ ] 𝑥 𝐽−1 [ ]
∂𝜃 ∂V 𝛥𝑉 ∂𝑉𝑔
∂𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘
− } 𝐸𝑞. 10
∂V

Quando optou-se por calcular as perdas ativas em função da injeção de


potência ativa, tem-se que o vetor x de variáveis controladas continua sendo
definido pela equação 3, já a variáveis de controle u será composto das injeções
de potência ativa nas barras PV e PQ do sistema, equação 11.

𝑃𝑃𝑉
𝑢 = [𝑃 ] 𝐸𝑞. 11
𝑃𝑄
A relação de sensibilidade entre as perdas ativas nas linhas e a injeção
de potência ativa nas barras PV e PQ, dada pela equação 12, na forma reduzida
equação 13.

∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 −1 𝑃𝑃𝑉


𝛥𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = − [ ] . 𝐽 . 𝐼𝑝 . [𝑃 ] 𝐸𝑞. 12
∂𝜃 ∂V 𝑃𝑄

𝛥𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 = 𝑆𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑃 . 𝛥𝑃 𝐸𝑞. 13

Ou seja, a matriz de sensibilidade das perdas ativas nas linhas de


transmissão e as injeções ativas nas barras PQ e PV será dada por:

∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 −1
𝑆𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑃 = − [ ] . 𝐽 . 𝐼𝑝 𝐸𝑞. 14
∂𝜃 ∂V

Analogamente a matriz de sensibilidade das perdas ativas nas linhas de


transmissão e as injeções reativas nas barras PQ será dada pela equação 15,
assim como a matriz de sensibilidade das perdas reativas nas linhas de
transmissão e as injeções reativas nas barras PQ será dada pela equação 16.

∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑃𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 −1
𝑆𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑄 = − [ ] . 𝐽 . 𝐼𝑞 𝐸𝑞. 15
∂𝜃 ∂V

∂𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 ∂𝑄𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑖𝑘 −1
𝑆𝑄𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠−𝑄 = − [ ] . 𝐽 . 𝐼𝑞 𝐸𝑞. 16
∂𝜃 ∂V

IV. RESULTADOS

Na Fig. 3 são mostradas as perdas nas linhas de transmissão para o


sistema de 3 barras. Observa-se que os maiores valores de perdas ativas e
reativas estão nas linhas 1-2 e 2-3.
Fig. 3. Perdas nas linhas de transmissão - Sistema teste de 3 barras

A. Sensibilidade das perdas nas linhas de transmissão em relação à tensão


gerada

Os resultados obtidos indicam que, no caso do controle de tensão, o


melhor procedimento para redução das perdas ativas do sistema de 3 barras é
o aumento da tensão na barra 3. De modo semelhante ao caso anterior tem-se
que, variando-se positivamente a tensão gerada na barra 3, tem-se uma redução
nas perdas reativas, já que o seu fator de sensibilidade é negativo. Já uma
variação positiva na tensão da barra 1, ocasionaria um aumento no valor total da
perda reativa no sistema. A partir dos resultados obtidos, observa-se que tanto
a perda de potência ativa quanto a perda de potência reativa do sistema podem
ser mais bem controladas por meio da tensão na barra 3, de maneira que, um
incremento na tensão desta barra proporciona uma redução na perda complexa
global do sistema.

B. Sensibilidade das perdas nas linhas de transmissão em relação à


injeção de potência ativa nas barras PV e PQ

Nesse caso as perdas reativas foi observado que a maior influência na


perda de potência ativa, advém da injeção de potência ativa na barra 2.
Variando-se positivamente a injeção de potência ativa na barra 3, tem-se uma
redução nas perdas ativas, já que o seu fator de sensibilidade é negativo. Já uma
variação positiva na injeção de potência ativa da barra 2, ocasionaria um
aumento, por seu fator ser positivo. A partir dos resultados obtidos, verifica-se
que, para a redução da perda ativa do sistema, o melhor resultado é obtido por
meio de um aumento da injeção de potência ativa na barra 3.

A partir dos resultados obtidos em relação às perdas reativas do sistema,


os fatores de sensibilidade que as relaciona a variação das perdas reativas com
a variação das injeções de potência ativa, verifica-se que, a redução da perda
reativa do sistema pode ser obtida por meio de um aumento da injeção de
potência ativa na barra 3. Por outro lado, um aumento da injeção de potência
ativa na barra 2 provocaria um consequente aumento da perda de potência
reativa do sistema.

C. Sensibilidade das perdas nas linhas de transmissão em relação à


injeção de potência reativa na barra PQ

Para uma variação na injeção de potência reativa desse sistema, verifica-


se que a única opção para a redução das perdas ativas será uma redução da
injeção reativa na barra 2, visto que o seu fator de sensibilidade tem sinal
positivo, o que indica que uma redução dessa injeção determina uma redução
das perdas ativas. Verifica-se que a redução das perdas reativas ocorreria em
caso de uma diminuição na injeção reativa na barra 2, visto que o seu fator de
sensibilidade tem sinal positivo.

D. Análise dos resultados

Tendo em vistas todos os fatos supracitado propôs para esse projeto


reduzir a tensão na barra de geração 1, e compensar esta redução de tensão
com o aumento de tensão na barra 3; conectar à barra 3 mais unidades
geradoras, de maneira que esta possa atender a maior quantidade possível da
demanda de potência ativa do sistema; reduzir a injeção de potência reativa na
barra 2, ou seja, reduzir a quantidade de potência reativa que esta barra solicita
ao sistema, por meio da alocação de capacitores shunt, diminuindo assim, a
circulação de reativos na rede, e reduzindo a perda complexa global.

Unindo as medidas corretivas propostas pela Análise de Sensibilidade,


tem-se como resultado uma redução maior da perda global do sistema do que
adotando as mesmas medidas de forma separada. Houve queda tanto na perda
de potência ativa, quanto de reativa, sendo, portanto, um resultado bastante
satisfatório. Desta forma, verifica-se que a técnica aplicada pode ser utilizada
não somente para uma única variável independente, mas também para uma
combinação de múltiplas destas variáveis de controle.

V. CONCLUSÕES

Sensibilidade aplicada a Sistemas Elétricos de Potência. Assim, os


resultados obtidos permitem observar a interdependência das grandezas
elétricas do sistema de potência, intuindo a possibilidade da elaboração de
estratégias de monitoramento e controle da perda complexa global. Mostrou-se
ainda que, a aplicação da técnica de análise de sensibilidade pode ser uma
importante ferramenta na identificação dos melhores pontos para a alocação de
unidades de geração distribuída e capacitores ou reatores shunt, quando se
objetiva a redução das perdas ativa e reativa na operação dos sistemas de
potência. Evidentemente, técnicas mais aprimoradas podem ser aplicadas com
este objetivo, tais como fluxo de potência ótimo, metodologias
heurísticas, dentre outras.

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