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A CÚPULA DA AMAZÔNIA

Ao se reunirem em Belém na terça e quarta feira – dias 8 e 9 de agosto desse ano,2023 – para
a cúpula da Amazônia, os chefes de estados dos países da região amazônica devem assinar
uma declaração de intenções de cooperação regional, principalmente nas áreas de segurança
e mudanças climáticas.

Ao final da cúpula, o presidente Luís Inácio Lula da Silva encerrou a reunião dando o tom de
como deve ser a posição brasileira e de outros países detentores de florestas tropicais nas
negociações climáticas.

“ Nós vamos para a COP-28 com o objetivo de dizer ao mundo rico que se quiserem preservar
efetivamente o que existe de floresta é preciso colocar dinheiro não apenas para cuidar da
copa da floresta , mas para cuidar do povo que mora lá embaixo.”

A COP-28, a cúpula do clima da ONU, acontece em novembro, desse ano, em Dubai, nos
Emirados Árabes Unidos.

A declaração aconteceu após uma reunião com autoridades dos países amazônicos ( Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), República Democrática do
Congo, da República do Congo e da Indonésia, que também têm grande parte do seu território
coberto por matas úmidas e de São Vicente e Granadinas, que preside a CELAC (Comunidade
de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Junto à declaração do presidente, o governo federal publicou um comunicado conjunto que dá


direção ao posicionamento de países florestais em negociações do clima e da biodiversidade
da Onu.

Intitulado “ unidos por nossas florestas”, o texto tem dez parágrafos. Quatro deles cobram
responsabilidades dos países desenvolvidos, principalmente de cumprimento de promessas de
financiamento e também de mitigação das mudanças climáticas.

Reafirmando uma posição compartilhada pelos países em desenvolvimento, o texto menciona


a necessidade dos países desenvolvidos de liderar e acelerar a descarbonização de suas
economias.

O texto reforça a cobrança dos US$ 100 bilhões anuais para o clima, que os países
desenvolvidos haviam prometido desembolsar entre 2020 e 2025 mas estão prestes a anunciar
a concretização apenas da primeira remessa.

No mesmo parágrafo, o documento cita um compromisso anterior, com doações que deveriam
corresponder a compromisso de financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do
rendimento bruto.

A diferenciação entre o financiamento do desenvolvimento e o da agenda climática é um


pedido frequente dos países africanos nas negociações, com vistas a garantir como o
documento menciona, que os recursos para o clima sejam novos e adicionais e não apenas
uma nova etiqueta para o mesmo dinheiro.

O texto ainda cobra um compromisso conquistado no último ano, quando os países assinaram
o novo Marco Global da Biodiversidade, que prevê UR$ 200 bilhões anuais para a conservação
até 2030.
Outro recado ao bloco desenvolvido mira a União Europeia e repete a mensagem dada na
Declaração de Belém. Assinada na terça-feira- dia 8 – pelos países amazônicos:” condenamos a
adoção de medidas para combater as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente,
incluindo as medidas unilaterais, que constituam um meio de discriminação arbitrária ou
injustificável ou restrição disfarçada ao comércio internacional” – diz o texto do comunicado,
em crítica às novas exigências feitas pelo bloco europeu para um acordo comercial com o
Mercosul.

Em seu discurso, o presidente Lula disse que “medidas protecionistas mal disfarçadas de
preocupação ambiental” por parte dos países ricos não são o caminho a seguir.

O texto multinacional também menciona que a cooperação internacional é uma via eficaz para
apoiar o compromisso soberano de redução das causas do desmatamento e da degradação
florestal.

Ao anunciar o compromisso dos países signatários com a conservação das suas florestas e o
combate ao desmatamento, o texto cita a busca de uma “transição ecológica justa”,
emplacando uma visão de conservação aliada ao desenvolvimento econômico.

Esse é um dos alvos de disparidade entre o posicionamento dos blocos econômicos


desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento nas negociações de clima e biodiversidade.
Países ricos veem com desconfiança propostas de desenvolvimento sustentável e bioeconomia
em áreas protegidas.

O comunicado afirma que os países signatários estão “convencidos de que as nossas florestas
podem ser centros de desenvolvimento sustentáveis e produtoras de soluções para os desafios
de sustentabilidade nacionais e globais conciliando prosperidade econômica com a proteção
ambiental e bem-estar social”.

O texto é assinado pelos oito países-membros da OTACA ( Organização do Tratado de


Cooperação Amazônica) pelo país caribenho São Vicente e Granadinas, pela república do
Congo e ainda pelos dois países que o Brasil formou aliança no último ano pelas florestas:
Indonésia e República Democrática do Congo.

Com a ideia de testar a formação de um bloco de negociação de países florestais, o documento


convida outras nações ao diálogo.

( texto retirado e adaptado da reportagem do jornal “ Folha de São Paulo “ No fim da Cúpula
da Amazônia – 10-agosto de 2023)

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