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DIREITO

EMPRESARIAL II

Fernanda Ribeiro Souto


Comissão de Valores
Mobiliários (CVM)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar no que consiste a Comissão de Valores Mobiliários.


 Analisar o papel da Comissão de Valores Mobiliários perante as so-
ciedades anônimas.
 Descrever a estrutura e as atribuições da Comissão de Valores Mobiliários.

Introdução
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), criada pela Lei nº. 6.385, de 7 de
dezembro de 1976, é, em síntese, uma entidade supervisora do sistema
financeiro nacional que fiscaliza as sociedades por ações, podendo ser
considerada o Banco Central do mercado mobiliário no Brasil.
A CVM tem como objetivos estimular investimentos, assegurar o
funcionamento da bolsa de valores, proteger acionistas contra emissão
fraudulenta e fiscalizar e fortalecer o mercado de ações. Por meio dessa
autarquia, são viabilizados diversos valores mobiliários, como ações,
debêntures e quotas de investimento.
Neste capítulo, você vai ler sobre a CVM, o seu papel perante as so-
ciedades anônimas, as suas atribuições e a sua estrutura.

No que consiste a Comissão


de Valores Mobiliários?
A CVM surgiu a partir de uma crise na Bolsa de Valores em 1971, em que
famílias perderam as suas aplicações. Houve um boom de investimentos a
partir dos anos 1960, e muitas companhias sem registro e sem fiscalização
colocaram as suas ações na Bolsa de Valores. Após esse choque, foi então
planejado um órgão que protegesse o consumidor (com regulação e punição).
2 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A CVM foi criada em pleno regime militar. Segundo Vidor (2016, p. 31):

Após a experiência traumática que se seguiu ao boom de 1970/1971, o mercado


estava carente de regulação. Até a criação da CVM, em 1976, essa missão era
atribuída, pela Lei do Mercado de Capitais, de 1965, ao Banco Central, que
também era uma instituição nova na estrutura governamental.

Para Chagas (2016), a CVM, inspirada na Securitis and Exchange Comission


do Direito norte-americano, é uma entidade auxiliar, autárquica em regime
especial, autônoma e descentralizada, vinculada ao governo, por meio do
Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios,
dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação
hierárquica, mandato fixo e estabilidade dos seus dirigentes, com autonomia
financeira e orçamentária.
O Quadro 1 apresenta as principais prerrogativas conferidas por lei à CVM.

Quadro 1. Prerrogativas da CVM

Poderes sancionatórios.
Poder de examinar e extrair cópias de registros contábeis,
livros ou documentos, de pessoas naturais e jurídicas que
Principais integram o sistema de distribuição de valores mobiliários e das
prerrogativas companhias abertas.
conferidas por Requisitar informações de órgão público, autarquia ou
lei à CVM empresa pública.
Poder de apurar, mediante processo administrativo, atos ilegais.
Suspender a negociação de valores determinados ou decretar o
recesso da Bolsa de Valores.

Fonte: Adaptado de Chagas (2016).

Assim, a CVM é uma entidade supervisora do sistema financeiro nacional,


que tem por objetivo principal fortalecer o mercado de ações. Segundo Chagas
(2016, p. 276), “Sua função é regular e fiscalizar as atividades do mercado de
valores mobiliário e também autorizar a constituição de companhias abertas
e a emissão e negociação de seus valores mobiliários”.
Conforme art. 1º da Lei nº. 6.385/1976, que criou a CVM, serão atividades
disciplinadas e fiscalizadas:
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 3

Art. 1º [...]
I — a emissão e distribuição de valores mobiliários no mercado;
II — a negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
III — a negociação e intermediação no mercado de derivativos;
IV — a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas de Valores;
V — a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas de Merca-
dorias e Futuros;
VI — a administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários;
VII — a auditoria das companhias abertas;
VIII — os serviços de consultor e analista de valores mobiliários (BRASIL,
1976, documento on-line).

Conforme mencionado por Tomazette (2017), em Curso de Direito Em-


presarial, a CVM tem basicamente cinco tipos de funções:

 consultiva;
 fiscalizadora;
 registrária;
 de fomento;
 regulamentar.

A função consultiva se dá quanto à emissão de pareceres e consultas


aos investidores para que possam tomar as melhores decisões. A função
fiscalizadora e registradora permite à CVM zelar pelo mercado de ações em
observância ao descumprimento de normas pelas companhias e distribuidoras
de valores mobiliários, aplicando penalidades quando necessário.
Além disso, a CVM é competente para regulamentar as matérias previstas
na Lei nº. 6.385/1976 e na Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, por meio
de instruções normativas e, ainda, fomentá-las, promovendo eventos que
permitam ou auxiliem o seu desenvolvimento. A CVM pode ser considerada
o Banco Central do mercado mobiliário, já que, por meio dela, desenvolve-se
o mercado de valores mobiliários no Brasil.

Para conhecer o mapa estratégico da CVM, acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/pqCh7
4 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

Além disso, nos termos do art. 15, § 1º, da Lei nº. 6.385/1976, compete à
CVM definir (BRASIL, 1976):

 os tipos de instituições financeiras que poderão exercer atividades no


mercado de valores mobiliários;
 as espécies de operação que poderão realizar;
 os serviços que poderão prestar nesse mercado;
 a especialização de operações ou serviços a ser observada pelas socie-
dades do mercado;
 as condições em que poderão cumular espécies de operação ou serviços.

Com o fim de prevenir ou corrigir situações anormais do mercado e cumprir


o seu papel, a CVM pode adotar medidas como:

 suspensão de negociação de determinado valor mobiliário, com decreto


de recesso de Bolsa de Valores;
 suspensão ou cancelamento de registros;
 divulgação de informações ou recomendações com o fim de esclarecer
ou orientar os participantes do mercado;
 proibição de atos específicos prejudiciais aos participantes do mercado,
sob cominação de multa.

Ainda, a CVM será competente para apurar e punir condutas fraudulentas


no mercado de valores mobiliários sempre que seus efeitos ocasionem danos a
pessoas residentes no território nacional, independentemente do local em que
tenham ocorrido e que atos ou omissões relevantes tenham sido praticados
em território nacional.
A CVM poderá impor aos infratores das normas da Lei nº. 6.385/1976
(Lei da CVM), da Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Lei de So-
ciedades por Ações), de suas resoluções e de outras normas legais, cujo
cumprimento lhe caiba fiscalizar, as seguintes penalidades, isoladas ou
cumulativamente:

 advertência;
 multa;
 inabilitação temporária, até o máximo de 20 anos, para o exercício de
cargo de administrador ou de conselheiro fiscal de companhia aberta,
de entidade do sistema de distribuição ou de outras entidades que de-
pendam de autorização ou registro na CVM;
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 5

 suspensão da autorização ou do registro para o exercício das atividades


de que trata essa lei;
 inabilitação temporária, até o máximo de 20 anos, para o exercício das
atividades de que trata essa lei;
 proibição temporária, até o máximo de 20 anos, de praticar deter-
minadas atividades ou operações, para os integrantes do sistema de
distribuição ou de outras entidades que dependam de autorização ou
registro na CVM;
 proibição temporária, até o máximo de 10 anos, de atuar, direta ou
indiretamente, em uma ou mais modalidades de operação no mercado
de valores mobiliários.

O valor da multa deverá observar os princípios da proporcionalidade e da


razoabilidade, a capacidade econômica do infrator e os motivos que justifiquem
sua imposição, não devendo exceder o maior destes valores:

 R$ 50 milhões;
 o dobro do valor da emissão ou da operação irregular;
 três vezes o montante da vantagem econômica obtida ou da perda
evitada em decorrência do ilícito;
 o dobro do prejuízo causado aos investidores em decorrência do ilícito.

Um fato interessante é que, em 1980, houve tentativa do governo de manipular ações


da Vale do Rio Doce, quando a CVM, então, sendo um órgão do governo, tinha que
fiscalizar e punir o próprio governo, o que aumentou ainda mais a necessidade de
autonomia da referida autarquia. De acordo com Vidor (2016, p. 54), “Em abril de 1980,
o ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, soube por Jorge Hilário, presidente da CVM,
da venda em massa de ações da Vale. Hilário avisou que teria de cancelar a operação
e pegou um voo na mesma noite para Brasília”.

Ademais, a educação do investidor é um dos pilares da CVM, sendo esta


uma espécie de guardião do mercado de capitais, que, se for saudável, contribui
para o desenvolvimento do País. A CVM considera que um dos seus maiores
desafios está relacionado à educação financeira. A CVM é responsável por
um centro de educação financeira na América Latina.
6 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A CVM ainda mantém um serviço para exercer atividade consultiva ou de


orientação junto aos agentes do mercado de valores mobiliários ou a qualquer
investidor, sendo possível conhecer melhor a entidade a que se investirá e,
inclusive, estudar mais sobre educação financeira, no Portal do Investidor,
mantido pela própria CVM.
A CVM ainda compõe a Estratégia Nacional de Educação Financeira
(Enef), cujo objetivo é contribuir para o fortalecimento da cidadania ao for-
necer e apoiar ações que ajudem a população a tomar decisões financeiras
mais autônomas e conscientes.
Além disso, a CVM tem um papel importante na atuação internacional, já
que faz parte da Organização Internacional de Valores Mobiliários (IOSCO),
presidindo um dos oito comitês.
É importante mencionarmos ainda que, a todo momento, a CVM busca se atu-
alizar, já que sempre surgem situações novas, como, por exemplo, a necessidade
de se regular o chamado investment-based crowdfunding, meio participativo de
captação de doações para financiar projetos, especialmente da área de cultura
e do mercado de fintechs, para alcançar uma inovação financeira no Brasil.

Papel da Comissão de Valores Mobiliários


perante as sociedades anônimas
Inicialmente, as pessoas interessadas em constituir uma sociedade anônima
devem tomar as seguintes providências preliminares, de forma geral:

 subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se


divide o capital social fixado no estatuto;
 realização, como entrada, de 10%, no mínimo, do preço de emissão
das ações subscritas em dinheiro;
 depósito, no Banco do Brasil ou em qualquer outro estabelecimento ban-
cário autorizado pela CVM, da parte do capital realizado em dinheiro.

Além disso, as sociedades anônimas podem ser constituídas por duas


modalidades, de acordo com o apelo ao público investidor:

 por subscrição pública (sucessiva);


 por subscrição particular.
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 7

A constituição da sociedade anônima por subscrição particular é simples,


não há apelo ao público, assim, ocorre por deliberação dos subscritores reunidos
em assembleia de fundação ou por escritura pública, iniciando-se com o projeto
do estatuto e posterior assinatura da escritura pública, que deverá cumprir os
requisitos da Lei de Sociedade Anônima. Após, os atos constitutivos devem
ser registrados e publicados para que possa ser dado início à exploração das
atividades comerciais, não se exigindo, consequentemente, o prévio registro
da CVM, nem a intermediação de instituição financeira.
Já a constituição da sociedade anônima por subscrição pública inicia-se com
o registro na CVM, em pedido instruído com estudo de viabilidade econômica
e financeira do empreendimento, além do projeto dos estatutos e do prospecto,
os quais serão analisados pela CVM, que poderá exigir alterações quando não
satisfatórios e depende de apelo ao público. Segundo Tomazette (2017, p. 522):

Pela possibilidade de negociação no mercado, a sociedade aberta deve ser


registrada e ter seus valores mobiliários registrados perante a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), que possui a função de resguardar a lisura da
negociação no mercado, tornando-o confiável e atrativo aos investidores.

O art. 19 da Lei nº. 6.385/1976 prevê que caracterizam a emissão pública:

Art. 19 [...]
I — a utilização de listas ou boletins de venda ou subscrição, folhetos, pros-
pectos ou anúncios destinados ao público;
II — a procura de subscritores ou adquirentes para os títulos por meio de
empregados, agentes ou corretores;
III — a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao
público, ou com a utilização dos serviços públicos de comunicação (BRASIL,
1976, documento on-line).

Assim, sempre que o fundador de um empreendimento desejar fazer emissão


pública, deverá observar as normas relativas à constituição sucessiva.
Inicialmente, para requerer o registro junto à CVM, uma instituição finan-
ceira deve ser contratada pela companhia para intermediar a colocação das
ações no mercado. Após a concessão do registro da emissão e da sociedade,
passa-se à subscrição das ações representativas do capital social, de forma que
o investimento é oferecido ao público pela instituição financeira intermediária.
Por fim, após a subscrição total do capital social, será convocada uma
assembleia de fundação para avaliar os bens oferecidos para integralização,
8 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

sendo proclamada sua constituição se estiverem de acordo mais da metade dos


representantes do capital social, com eleição dos administradores e fiscais.
Ademais, a Lei nº. 10.303, de 31 de outubro de 2001, tocando em temas
centrais para as companhias abertas, trouxe como alterações (BRASIL, 2001):

 maior detalhamento para o registro de Companhias Abertas na CVM;


 modificação do limite do total de ações emitidas por essas mesmas
companhias para ações preferenciais sem direito a voto;
 estabelecimento de mandatos fixos para os membros do colegiado
(presidente e diretores).

Lado outro, a CVM pode negar o registro da Sociedade Anônima em caso


de inidoneidade dos fundadores ou inviabilidade e temeridade da empresa.
Segundo Coelho (2014, p. 222):

Os interesses do governo federal no acompanhamento das sociedades anô-


nimas abertas — que justifica o regime de controle específico a que estas
se encontram submetidas — está relacionado com a proteção do investidor
popular em especial, e com o papel que tais entidades desempenham na eco-
nomia em geral. Em virtude desse interesse é que a legislação do anonimato
prevê determinadas regras de aplicação restrita a uma ou outra categoria de
sociedade anônima.

As sociedades anônimas devem cumprir rigorosamente, sempre, em cada


detalhe, as normas expedidas pela CVM. Assim, a CVM fiscaliza as compa-
nhias de capital aberto, exercendo um papel de suma importância perante as
companhias, em virtude do papel desempenhado por elas perante a sociedade.

Valores mobiliários
São valores mobiliários os títulos que a sociedade anônima emite para obtenção
dos recursos de que necessita, como:

 debêntures;
 partes beneficiárias;
 bônus de subscrição.
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 9

Coelho (2016, p. 179) afirma que os “Valores mobiliários podem ser defi-
nidos, inicialmente, como ‘títulos de investimento’ que a sociedade anônima
emite para obtenção dos recursos de que necessita”.
No início da década de 1970, eram poucos os valores mobiliários atin-
gidos pela CVM. A Lei nº. 6.385/1976 não trazia detalhes sobre o conceito
de valor mobiliário e consideravam-se apenas os títulos privados, emitidos
por sociedades anônimas e expressamente previstos pela Lei de Sociedades
por Ações (BRASIL, 1976). Segundo Silva ([20--?], documento on-line), “A
Lei nº. 6.385/76, em suas primeiras versões, não apresentava expressamente
um conceito de valor mobiliário, optando por estabelecer um rol de ‘valores
mobiliários sujeitos ao seu regime’”.
Porém, com o decorrer do tempo, passou-se a ampliar o conceito de valor
mobiliário, aumentando também a fiscalização pela CVM, de forma que a lei
não diz mais que os valores mobiliários são criados ou emitidos por sociedades
anônimas. A lei ainda reconhece expressamente como valores mobiliários
os títulos que podem ser emitidos por sociedades limitadas, como nas notas
comerciais, ou por entidades sequer constituídas sob a forma de sociedade,
como as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários.
Nos termos do art. 2º da Lei nº. 6.385/1976, são valores mobiliários:

Art. 2º [...]
I — as ações, debêntures e bônus de subscrição;
II — os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento
relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II;
III — os certificados de depósito de valores mobiliários;
IV — as cédulas de debêntures;
V — as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes
de investimento em quaisquer ativos;
VI — as notas comerciais;
VII — os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos
subjacentes sejam valores mobiliários;
VIII — outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subja-
centes; e
IX — quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos
de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou
de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendi-
mentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros (BRASIL, 1976,
documento on-line).
10 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

O Quadro 2 apresenta os principais valores mobiliários.

Quadro 2. Principais valores mobiliários

São valores mobiliários que representam uma unidade do


capital social e podem ser classificadas nos seguintes tipos.
 Ordinárias — são de emissão obrigatória e concedem
aos titulares direitos de acionistas comuns.
Ações
 Preferenciais — conferem complexo de direitos dife-
renciados, como prioridade na divisão de dividendos e
prioridade no reembolso de capital.
 De fruição — ações que foram amortizadas.

São títulos de dívida em que o investimento se torna um


empréstimo para a sociedade. Assim, o investidor se torna
Debêntures
um credor e recebe juros fixos ou variáveis ao final do perí-
odo pactuado.

São títulos negociáveis sem valor nominal e estranhos ao ca-


Partes
pital social, que podem ser criados a qualquer tempo pelas
beneficiárias
sociedades anônimas de capital fechado.

São títulos negociáveis que conferem o direito de subscre-


Bônus de
ver ações do capital social da companhia, dentro do limite
subscrição
de capital autorizado no estatuto.

Commercial Promessa de pagamento destinada à obtenção de recursos


papers a curto prazo, entre 30 e 180 dias.

Ressaltamos que as sociedades anônimas podem ser fechadas ou abertas. A


sociedade anônima fechada é aquela cujo valor mobiliário não é negociado no
mercado de valor mobiliário, não circulando na Bolsa de Valores, por exemplo.
Já a sociedade anônima aberta tem seus valores mobiliários emitidos para
negociação na Bolsa de Valores e no mercado de valores mobiliários como
um todo, devendo estar registrada na CVM para que possa se concretizar
essa negociação.
Somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na
CVM podem ser negociados no mercado de valores mobiliários, que poderá
classificar as companhias abertas em categorias, segundo as espécies e as
classes dos valores mobiliários por ela emitidos negociados no mercado,
especificando as normas sobre as companhias abertas aplicáveis a cada
categoria.
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Estrutura e atribuições da Comissão


de Valores Mobiliários
Segundo Vidor (2016, p. 17):

A primeira Bolsa de Valores do mundo foi criada em 1487, na cidade de Bruges,


na Bélgica. No Brasil, as negociações, feitas aos gritos por corretores que cami-
nhavam de praça em praça em busca de compradores e vendedores durou ainda
alguns séculos. Somente em 1845 foi criada a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro,
para a negociação de títulos públicos, ainda nas ruas da Cidade Maravilhosa. O
tempo passou e tornou-se necessário ter um lugar fixo para as negociações. Foi,
então, um edifício na Rua Direita, no Rio de Janeiro, atual Rua Primeiro de Março,
o endereço escolhido como a primeira sede de uma bolsa de valores no Brasil.

São atribuições da CVM, em conjunto com o Conselho Monetário Nacional:

 estimular a formação de poupanças e a sua aplicação em valores


mobiliários;
 promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado
de ações;
 proteger os titulares de valores mobiliários, os investidores do mercado
contra emissões irregulares de valores mobiliários, atos ilegais de ad-
ministradores e acionistas controladores das companhias abertas ou
de administradores de carteira de valores mobiliários sobre o uso de
informação relevante não divulgada no mercado de valores mobiliários;
 evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a
criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores
mobiliários negociados no mercado;
 assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários
negociados e as companhias que os tenham emitido;
 assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado
de valores mobiliários e assegurar a observância no mercado das condi-
ções de utilização de crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional.

Além disso, nos termos do art. 8º da Lei nº. 6.385/1976, compete à CVM:

Art. 8º [...]
I — regulamentar, com observância da política definida pelo Conselho Mo-
netário Nacional, as matérias expressamente previstas nesta Lei e na lei de
sociedades por ações;
II — administrar os registros instituídos por esta Lei;
12 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

III — fiscalizar permanentemente as atividades e os serviços do mercado de


valores mobiliários, de que trata o Art. 1º, bem como a veiculação de infor-
mações relativas ao mercado, às pessoas que dele participem, e aos valores
nele negociados;
IV — propor ao Conselho Monetário Nacional a eventual fixação de limites
máximos de preço, comissões, emolumentos e quaisquer outras vantagens
cobradas pelos intermediários do mercado;
V — fiscalizar e inspecionar as companhias abertas dada prioridade às que
não apresentem lucro em balanço ou às que deixem de pagar o dividendo
mínimo obrigatório (BRASIL, 1976, documento on-line).

A CVM é administrada por um presidente e quatro diretores, nomeados


pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado Federal,
entre pessoas de ilibada reputação e reconhecida competência em matéria de
mercado de capitais.
O mandato dos dirigentes da Comissão é de 5 anos, vedada a recondução,
devendo ser renovado a cada ano um quinto dos membros do colegiado,
sendo que os dirigentes da CMV somente perderão o mandato em virtude
de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado ou de processo
administrativo disciplinar.
Por fim, além do que preveem a lei penal e a lei de improbidade adminis-
trativa, será causa da perda do mandato a inobservância, pelo presidente ou
diretor, dos deveres e das proibições inerentes ao cargo, cabendo ao Ministro
de Estado da Fazenda instaurar o processo administrativo disciplinar, que
será conduzido por comissão especial, competindo ao Presidente da República
determinar o afastamento preventivo, quando for o caso, e proferir o julgamento.
No Brasil, a CVM se mantém como único órgão regulador, mas com
características que a diferenciam na estrutura do setor público. Segundo
Vidor (2016, p. 111):

Só o Colegiado da CVM tem mandato definido entre os órgãos nas áreas


relacionadas ao mercado financeiro. E mandatos intercalados. Como a cada
ano um dos diretores é substituído, não há perda de cultura. Há continuidade
administrativa, o que geralmente falta em outros órgãos. Nesse sistema, a
diretoria não passa por aquele primeiro ano em que é testada pela máquina
interna, pela corporação. A CVM tem, ainda, mais uma vantagem a seu favor:
como não fica em Brasília, fica esquecida para fins politiqueiros.

O primeiro presidente da CVM foi Roberto Teixeira Costa e o superinten-


dente-geral foi Francisco Gros, que, anos mais tarde, ocupou as presidências do
Banco Central, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e da Petrobras.
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 13

Para conhecer os componentes organizacionais da CVM, acesse o site a seguir.

https://qrgo.page.link/eBHun

Ao presidente, incumbe:

 planejar, dirigir, coordenar e controlar as atividades da CVM, em es-


treita consonância com as diretrizes traçadas pelo Conselho Monetário
Nacional;
 representar a CVM, ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, po-
dendo, em casos específicos, delegar essas atribuições a outros membros
do colegiado;
 convocar e presidir as reuniões do colegiado.

Ao colegiado, compete fixar a política geral da CVM e expedir os atos


normativos de competência da CVM. Compete à procuradoria federal
especializada:

 representar judicial e extrajudicialmente a CVM;


 exercer atividades de consultoria e assessoramento jurídicos aos órgãos
da CVM;
 realizar a apuração da liquidez e certeza dos créditos, de qualquer
natureza, inerentes às atividades da CVM, inscrevendo-os em dívida
ativa, para fins de cobrança amigável ou judicial.

Por fim, à superintendência-geral, compete:

 coordenar as atividades executivas da CVM, por intermédio das superin-


tendências a ela subordinadas, cumprindo as diretrizes e determinações
emanadas do colegiado;
 supervisionar as atividades executadas pelas superintendências;
 acompanhar e controlar o desempenho das áreas técnicas.

A CVM mantém-se por meio de dotações orçamentárias que lhe forem


consignadas no orçamento da União, bem como as receitas provenientes da
14 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

arrecadação da taxa de fiscalização do mercado de valores mobiliários e as


cobranças de multas previstas em lei e em instruções da CVM, além de outras
receitas eventuais.
Assim, como visto, a CVM é um órgão de extrema importância para a
população, trazendo confiança e segurança ao mercado de valores mobiliários
e negociações a ele relacionadas.

Por meio do Ofício Circular nº. 11, de 19 de setembro de 2018, a CVM diz quais fundos
podem investir indiretamente em criptomoedas no exterior. Veja mais a respeito
acessando o link abaixo.

https://qrgo.page.link/KK2Ay

BRASIL. Lei nº. 10.303, de 31 de outubro de 2001. Altera e acrescenta dispositivos na


Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações,
e na Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores
mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 1 nov. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/
L10303.htm. Acesso em: 24 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores
mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 9 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6385.htm.
Acesso em: 24 jun. 2019.
CHAGAS, E. E. Direito Empresarial esquematizado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial: direito de empresa. 26. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2014.
SILVA, P. F. D. A evolução da CVM e do conceito de valor mobiliário. [S. n., s. l.], p. 1-46,
[20--?]. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/menu/acesso_in-
formacao/serieshistoricas/trabalhos_academicos/anexos/A-evolucao-da-CVM-e-do-
-conceito-de-VM-Paulo-Ferreira-Dias-da-Silva.pdf. Acesso em: 24 jun. 2019.
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 15

TOMAZETTE, M. Curso de Direito Empresarial: teoria geral e direito societário. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2017. v. 1.
VIDOR, G. A história da CVM pelo olhar de seus ex-presidentes. Rio de Janeiro: ANBIMA;
BM&FBOVESPA, 2016.

Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto nº. 6.382, de 27 de fevereiro de 2008. Aprova a estrutura regimental e
o quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas da CVM,
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 fev. 2008. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6382.htm.
Acesso em: 24 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedade por Ações.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 24 jun. 2019.

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