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11 ARCADISMO
SUMÁRIO
1. Arcadismo: origem e caracterização 226
2. Arcadismo e literatura no Brasil 226
HABILIDADES
• Apropriar-se do patrimônio artístico de
diferentes tempos e lugares, compreendendo
a sua diversidade, bem como os processos de
legitimação das manifestações artísticas na
sociedade, desenvolvendo visão crítica e histórica.
• Relacionar o texto, tanto na produção como na
leitura/escuta, com suas condições de produção
e seu contexto sócio-histórico de circulação
(leitor/audiência previstos, objetivos, pontos
de vista e perspectivas, papel social do autor,
época, gênero do discurso etc.), de forma a
ampliar as possibilidades de construção de
sentidos e de análise crítica e produzir textos
adequados a diferentes situações.
• Analisar efeitos de sentido decorrentes de
usos expressivos da linguagem, da escolha
de determinadas palavras ou expressões e da
ordenação, combinação e contraposição
de palavras, dentre outros, para ampliar as
possibilidades de construção de sentidos e de
uso crítico da língua.
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HAMZABEN/ISTOCKPHOTO.COM
ntre os séculos XVIII e XIX, as artes foram marca-
das pela retomada dos modelos clássicos, da estética
greco-romana e dos elementos mitológicos pagãos: a
arquitetura se encheu de colunas e frontões; a pintura foi
invadida por deuses, ninfas e sátiros; a música e a poesia
foram tomadas pela clareza e simplificação das formas.
LÍNGUA PORTUGUESA
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Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira.
Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Ed. Itatiaia, 1997.
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano: Foi com os árcades que nossa literatura começou a
ganhar contornos de um sistema literário, revelando
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Em 1789, foi encontrado morto na Casa dos Contos, cipiava a melhorar de gosto nas belas letras”, ou seja,
ainda não havia adotado as convenções árcades, mas
local onde fora encarcerado após ter sido acusado de
estava em época de transição ao Arcadismo.
participar da Inconfidência Mineira, movimento que se
Assim, apesar de procurar seguir o estilo neoclás-
desenvolveu a partir da divergência de interesses en-
sico, o poeta estava marcado, em sua formação, pelo
tre os colonos, que desejavam expandir seus horizontes
rebuscamento barroco.
no contexto da exploração aurífera em Minas Gerais, e
a Metrópole, que lhes impunha restrições. Ainda hoje, XXVI
não são claras as circunstâncias da morte do autor; al- Não vês, Nise, este vento desabrido,
guns defendem que cometeu suicídio na prisão, outros Que arranca os duros troncos? Não vês esta,
acreditam que foi assassinado antes da chegada dos
Que vem cobrindo o Céu, sombra funesta,
juízes independentes do poder do governador local.
Entre o horror de um relâmpago incendido?
CIC FILMES
Cláudio Manuel da Costa revela, em sua obra, a tran- Nesse soneto, evidenciam-se traços barrocos, como
sição do Barroco para o Arcadismo. De sua vivência no uso do hipérbato, ou seja, da inversão da ordem direta
ambiente europeu, trouxe o gosto pelo cultismo, no en- da oração: “Tudo cresta,/ Tudo consome, tudo arrasa, e
tanto, posteriormente, adotou o estilo simples neoclássi- infesta,/ O raio a cada instante despedido.”. Além dis-
co, como o próprio autor afirma no prefácio de seu livro: so, a paisagem é diferente do locus amoenus árcade, já
que é marcada por tempestade e escuridão: “Não vês
[...] Pudera desculpar-me, dizendo que o gênio me fez pro- esta,/ Que vem cobrindo o Céu, sombra funesta,/ Entre
pender mais para o sublime: mas, temendo que ainda nes- o horror de um relâmpago incendido?”.
te me condenes o muito uso das metáforas, bastará, para
te satisfazer, o lembrar-te que a maior parte destas Obras APRENDER SEMPRE
foi composta ou em Coimbra, ou pouco depois, nos meus
primeiros anos, tempo em que Portugal apenas principiava 1. No soneto XXVI, de Cláudio Manuel da Costa, com o que se
a melhorar de gosto nas belas letras. A lição dos gregos, compara a tempestade?
franceses e italianos, sim, me fez conhecer a diferença sen- Resolução
sível dos nossos estudos e dos primeiros mestres da poe- A terrível tempestade, com seus raios e pavores, é comparada
ao estado em que se encontra o eu lírico, tomado pelos efeitos
sia. É infelicidade que haja de confessar que vejo e aprovo
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COSTA, Cláudio Manuel da. XIV. In: Poemas de Cláudio Manuel da autênticas [...]
Costa. Introdução, seleção e notas de Péricles Eugênio
da Silva Ramos. São Paulo: Cultrix, 1966. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 9. ed.
Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Itatiaia Limitada, 2000, v. 1. p. 85.
Diversos poemas de Cláudio Manuel da Costa evi-
denciam identificação do poeta com os elementos da É por isso que o autor recorre com frequência à
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paisagem nativa, o que, segundo Antonio Candido, imagem da pedra, da rocha, do cenário rochoso das
talvez tenha relação com um traço constante em sua minas de ouro, como se buscasse um alicerce, um pon-
obra, “o relativo dilaceramento interior, causado pelo to de referência, que encontra na própria terra.
contraste entre o rústico berço mineiro e a experiência
intelectual e social da metrópole, onde fez os estudos B. Tomás Antônio Gonzaga
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superiores e se tornou escritor” (Formação da literatura Tomás Antônio Gonzaga nasceu no Porto, em Portu-
brasileira. 9. ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Itatiaia, gal, mas passou a infância na Bahia, onde estudou em
2000, v. 1. p. 86.). Leia o soneto a seguir e observe como um colégio de jesuítas. Era filho de um magistrado
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nante de linguagem figurada: não há uma só imagem, os É feito de uns alvos dentes,
60 versos são feitos com palavras usadas no sentido mais É feito de uns olhos belos,
despojadamente próprio. De umas faces graciosas,
De crespos, finos cabelos;
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. São Paulo: Ática, 2009.
E de outras graças maiores,
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Os versos de Tomás Antônio Gonzaga diferem bas- Que a natureza lhe deu:
Bens, que valem sobre a terra
tante dos de Cláudio Manuel da Costa (que contêm tra-
E que têm valor no céu.”
ços barrocos), por apresentarem linguagem simples,
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Anotações
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