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Sexta-feira, 23 de Junho de 2023.

Vida e Cidadania

Consequências à saúde

Mercado da cannabis cresce na internet e


esconde riscos por trás do suposto uso
medicinal
Por Ana Carolina Curvello 20/02/2023 21:39 14COMENTÁRIOS

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Sites e redes sociais de empresas que comercializam produtos à base de cannabis exageram benefícios e omitem riscos
das substâncias| Foto: Reprodução

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Movimentos pró-maconha têm se expandido progressivamente com o


avanço da tecnologia. Pelas redes sociais, é possível encontrar uma
série de perfis que fazem apologia à droga de forma deliberada e sem
qualquer restrição. O comércio de produtos à base da planta, com
supostos efeitos medicinais, também cresceu – um levantamento feito
pela Kaya Mind, empresa brasileira especializada em dados e
inteligência de mercado no segmento da cannabis, mostrou que
o Brasil conta com mais de 80 empresas com CNPJ aberto que atuam
nesse mercado, mesmo sem regulamentação abrangente.

De acordo com uma dessas empresas, a Remederi, o número de


médicos que prescrevem o medicamento aumentou mais de 250% nos
últimos anos, saindo de 200 prescritores em 2019 para mais de 5 mil
atualmente.

Há sites que indicam o passo a passo para quem deseja adquirir a


prescrição necessária para a compra de produtos à base de cannabis e
que apontam os possíveis benefícios à saúde do canabidiol (CBD), uma
das substâncias da planta, mas sem mencionar os possíveis riscos da
maconha ao organismo.

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No site PangaiaCBD, de uma empresa norte-americana que atua no


mercado brasileiro como comerciante de produtos à base de cannabis, a
propaganda sobre os benefícios do CBD chama a atenção. Além de
apontar a substância como um analgésico natural capaz de aliviar
dores, até em casos mais graves como câncer e fibromialgia, a empresa
diz que o CBD reduz os sintomas de Alzheimer, Epilepsia e Parkinson e
ainda melhora o sono. Os estudos sobre o uso do canabidiol para essas
doenças, entretanto, ainda são de qualidade moderada ou baixa. Além
disso, o uso indiscriminado da substância pode apresentar efeitos
adversos e riscos ao usuário.

Por outro lado, a empresa também alega, em seu site, que não há
efeitos colaterais, nem qualquer contraindicação em relação ao seu uso
simultâneo com outros fármacos. A propaganda tendenciosa preocupa
especialistas e movimentos contrários às drogas.

Outro site que incentiva o tratamento médico com cannabis é o


PangoCBD. No portal, a empresa não esconde a tentativa de liberar o
uso recreativo da droga e dá até consultoria jurídica para quem desejar
cultivar a planta. Um artigo do site sobre o "boom do mercado
canábico" diz que "a desburocratização continua lenta, e a legalização
do uso recreativo não parece estar próxima de acontecer. De qualquer
forma, a onda é forte. Porque enquanto o uso recreativo não é
permitido, os brasileiros encontram outras oportunidades de investir
no mercado".

Não há evidências científicas robustas


sobre benefícios da cannabis
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Vários estudos e a própria Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) já


apontaram que não existem evidências científicas definitivas sobre os
supostos benefícios da substância para a maioria das doenças. Há
exceção nos casos citados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM),
como para pacientes com crises epiléticas relacionadas às síndromes de
Dravet, Doose e Lennox-Gastaut.

Em nova resolução que restringiu o uso de canabidiol, publicada em


outubro do ano passado, o CFM explicou que as conclusões de estudos
ainda são frágeis em relação à segurança e eficácia do canabidiol para o
tratamento da maioria das doenças. "O Conselho considera prudente
aguardar o avanço de estudos em andamento, evitando expor a
população a situações de risco", declarou o CFM na ocasião.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira


alertou sobre a ampla difusão de ideias falsas sobre o uso medicinal da
maconha, que desprezam as pesquisas científicas mais avançadas. “A
maconha não é uma mágica, como se o chá da erva pudesse fazer um
doente melhorar de uma doença complexa. Não é assim que a medicina
trabalha. A maconha não pode ser tratada como uma droga milagrosa,
que é só fazer um chá e vai dar certo. A medicina não funciona assim.
Não é seguro para ninguém virar curandeiro da maconha, e é isso que
tem acontecido no Brasil”, declarou.

Os problemas do termo "maconha


medicinal"
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O advogado Roberto Lásserre, coordenador nacional do Movimento


Brasil sem Drogas, lamenta a abordagem usada por alguns sites que,
em sua avaliação, estão levando a sociedade ao erro. “Não existe
maconha medicinal. Estão tentando no Brasil uma forma de a sociedade
abaixar a guarda para que num futuro próximo, já que 'a maconha tem
efeitos medicinais', libere-se o uso recreativo. Tentam levar a
sociedade ao erro para daí para frente 'liberar geral'”, diz.
Segundo Lásserre, algumas decisões judiciais deram “brechas” para o
comércio de medicamentos à base de cannabis. Ele citou, inclusive,
uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que garantiu a três
pessoas a possibilidade de cultivar a planta da maconha com a
finalidade de extrair óleo para uso próprio. Segundo a legislação
brasileira, o cultivo da planta configura crime.

“Foi uma decisão extremamente mal formulada permitir a plantação de


maconha em casa para fins medicinais. E o pior é que vários juízes estão
tomando decisões desse tipo, abrindo precedentes para uma possível
liberação da droga”, explicou o advogado.

As decisões da Justiça, influenciadas por campanhas de desinformação


de empresas interessadas na liberação da droga, contribuem para elevar
a circulação de extratos clandestinos de canabidiol caseiro, muitos dos
quais não funcionam e podem oferecer efeitos colaterais nocivos para
quem os consome.
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No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou


apenas a importação dos extratos de canabidiol e tetrahidrocanabinol
(THC) para a fabricação de produtos no Brasil. Em 2019, a agência
definiu que esses compostos seriam marcados com tarja preta devido ao
risco de dependência, aumento de tolerância (necessidade de ingerir
quantidades cada vez maiores para obter o mínimo efeito desejado) e
intoxicação.

Os 20 produtos com esses elementos aprovados pela agência até o


momento (não são considerados medicamentos por falta de evidências
científicas consolidadas de eficácia) precisam ser prescritos com receita
amarela (índice de THC menor de 0,2%) ou azul (índice de THC maior
de 0,2%, maior risco).

O único medicamento à base de THC e canabidiol aprovado para ser


importado no Brasil é o Mevatyl, produzido no Reino Unido. Ele foi
aprovado pela Anvisa como remédio adjuvante no tratamento de
espasticidade na esclerose múltipla, causada por danos ou lesões na
parte do sistema nervoso central (cérebro ou medula espinhal) que
controla o movimento voluntário.

VEJA TAMBÉM:

Plantio de maconha: o que pensam os deputados que votaram projeto e tentam a


»
reeleição

» Legalização não é a solução para o mercado negro da maconha

» Maconha para uso medicinal é ilusão e ingenuidade, diz psiquiatra

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Uso medicinal para liberar uso recreativo

Conforme apontam fontes ouvidas pela reportagem, parte dos


apoiadores da chamada "cannabis medicinal" usam a bandeira do uso
medicinal da maconha para tentar viabilizar a legalização do uso
recreativo da droga.

O procurador da República Lucas Gualtieri, que é coordenador do Grupo


de Atuação Especial de Combate ao Crime (Gaeco) explica que apesar de
as enfermidades que podem ser tratadas com o CBD serem limitadas,
empresas que atuam no setor costumam se aproveitam de algumas
propriedades medicinais para alargar o chamado “uso recreativo” da
maconha.

"Há um desvirtuamento das propriedades medicinais da planta,


levando ao seu uso sem os controles necessários para a própria
proteção dos pacientes. Utiliza-se as propriedades medicinais da planta
como pretexto para incutir na sociedade a ideia de que o uso recreativo
é inofensivo, o que não é verdade, como demonstram consistentes
estudos técnico-científicos", declara.
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"Não há meios seguros de se controlar as doses do princípio ativo, e até


mesmo a falta de controle sobre a qualidade da droga passa a ser um
risco em potencial. Costumo dizer que, didaticamente, defender a
legalização ampla da maconha sob o argumento da finalidade medicinal
seria o mesmo que defender a legalização do ópio para viabilizar o uso
medicinal da morfina", disse.

A Gazeta do Povo já mostrou o enorme interesse do mercado financeiro


global na maconha. De acordo com uma análise da consultoria BDSA,
publicada em março do ano passado, as vendas globais cresceram 48%
em 2020 na comparação com 2019, alcançando US$ 21,3 bilhões. A
perspectiva é chegar a 2026 em US$ 55,9 bilhões, o que representaria
uma taxa de crescimento anual da ordem de 17%.

No Congresso Nacional, o lobby da maconha tenta a todo custo aprovar


o Projeto de Lei 399/2015, que libera atividades como cultivo,
processamento, armazenagem, transporte, industrialização,
manipulação e comercialização de produtos à base de maconha no país
e trata do uso medicinal de determinados componentes da planta. O
projeto foi aprovado por comissão especial na Câmara dos Deputados e
aguarda análise no Plenário da Casa.

VEJA TAMBÉM:

Assembleia do Paraná aprova lei que garante acesso a medicamentos à base de


»
maconha

» Canabidiol

» Uma erva natural pode te prejudicar: novos estudos apontam mais riscos da maconha

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