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pesquisador da Unicamp
oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023/07/27/drogas-k-tem-cem-vezes-o-efeito-da-maconha-alerta-
pesquisador-da-unicamp.ghtml
Baixo custo, amplo acesso e alta potência. Eis três características preocupantes acerca
dos chamados canabinoides sintéticos, nome oficial das drogas K (K2,K4, K9 e spice,
conforme ficaram conhecidas após os relatos de uso). No Brasil, ainda há dificuldade de
determinar, por meio de laudos laboratoriais, a presença desse tipo de entorpecente, em
tempo real, no organismo. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a indicação de que
aquela pessoa pode estar sob efeito de uma droga desse gênero é realizada por meio de
perguntas ao usuário, quando possível, e com observações do especialista médico no
momento do atendimento.
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estudo ocorre meio de amostras da saliva, sangue e urina. Trata-se de um teste
desenvolvido pela própria Unicamp, conta José Luiz da Costa, coordenador do Centro de
Informação e Assistência Toxicológica (CIATox de Campinas). Em conjunto com a
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), vinculada ao Ministério da
Justiça e Segurança Pública, desde o ano passado, o laboratório abarca um estudo de
drogas K e deve fechar um acordo com a prefeitura da cidade de São Paulo para avaliar
as amostras da metrópole, onde já foram descritos casos suspeitos de morte por uso de
substâncias sintéticas do tipo. Ao GLOBO, o especialista falou sobre as dúvidas que
ainda cercam a droga e as semelhanças e diferenças entre esse tipo de entorpecente e
a maconha.
O que são exatamente as drogas K? Elas são parecidas com algum outro tipo de
entorpecente mais conhecido?
A semelhança que essa droga tem é com o THC (tetra-hidrocanabinol, o princípio ativo
da maconha). Ela atua no cérebro e na sua células no mesmo lugar que o THC atua. A
semelhança acaba aí. Porque os canabinoides sintéticos, que são os nomes corretos
das drogas K, são dezenas, centenas de vezes mais potentes que o THC. Do ponto de
vista molecular, quer dizer que ele liga nesse receptor da célula com uma intensidade
muito maior, o que o faz causar muito mais efeitos que a maconha causaria.
Temos que tomar cuidado ao dizer que é tão viciante. Não há estudos clínicos que
tragam essa confirmação. A própria dependência da cannabis é muito controversa. Não
há consenso sobre isso. Do canabinoide sintético menos ainda, pois são compostos
muito, muito, novos. Não sabemos dizer ainda se causa dependência, à luz dos achados
científicos atuais.
Sim, é pouco. Poucos laboratórios conseguem testar. Pode ser que não tenhamos
muitas mortes por conta do uso dessa droga porque não testamos muito. Como
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saberemos o número sem fazer essas análises? Aqui na Unicamp não fazemos o teste
de uso de drogas K no fio de cabelo (como ocorre na cracolândia), porque ele só mostra
se algum dia a pessoa usou aquela droga, não se estava sob o efeito. Aqui, por outro
lado, analisamos o sangue, a urina e a saliva dessas pessoas. Leva por volta de uma
hora para sair o material.
É preciso acompanhar esses casos (de uso e morte) mais de perto. Não são muitas
mortes em decorrência do uso dessas drogas. Elas matam, sim, mas a cocaína mata
mais, o número de overdoses são absurdamente maiores. Só que não podemos deixar
isso pra lá até que vire uma bola de neve e não consigamos resolver. É preciso educar e
informar as pessoas, explicar o que é, mostrar a diferença de maconha. É algo longe de
defender o uso de maconha, mas precisamos dizer que são coisas muito diferentes.
Podemos trabalhar com medidas desse tipo, é preciso acompanhar essas pessoas. Mais
importante que fazer análise de fio de cabelo é fazer acompanhamento com assistente
social e outros profissionais de saúde.
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